Revista Bagual

53
Obras e atrasos O legado da Copa que ainda não chegou A crise hídrica no Rio Grande Você já sabe o que é Nomofobia ? Polícia busca combater os serviços de tele-entrega de drogas no RS

description

Publicação da Revista Bagual tem como objetivo abordar temas do dia a dia, visando um aprofundamento mais sobre os conteúdos selecionados. O Público alvo seria classe A e B, adultos ou adolescentes, numa faixa etária entre 16 e 50 anos. Tendo circulação no Rio Grande do Sul, com enfoque em Porto Alegre. As editorias são variadas; ambiental, comportamento, cultura, economia, esporte, política, polícia, popular, rural e tecnologia. Como se trata de uma revista com uma grande variedade de temáticas, separamos elas por cores, cada editoria tem sua cor predominante, assim o leitor poderá facilmente identificar sobre qual conteúdo esta lendo. Utilizamos uma coluna ou duas colunas em branco para dar sensação de leveza e limpeza nas publicações.

Transcript of Revista Bagual

Page 1: Revista Bagual

Obras e atrasos O legado da Copa que ainda não chegou

A crise hídrica no

Rio Grande

Você já sabe o que é

Nomofobia?

Polícia busca combater os serviços de tele-entrega

de drogas no RS

Page 2: Revista Bagual

Sumário Editorial

Bagual: 1. Cavalo que acabou de ser domado. 2. Animal selvagem, arisco. 3. Indica também uma coisa especial, muito boa ou muito grande, fora do

comum. Com esta definição, apresentamos a primeira edição da Revista Bagual. A constru-ção deste material que está em suas mãos foi feita com muito empenho e dedicação dos alunos da disciplina de Jornalismo Especiali-zado, do curso de Jornalismo da PUCRS.

Com orientação de professores experien-tes, as pautas aqui desenvolvidas expressam um olhar aprofundado sobre as editorias es-colhidas por cada repórter, revelando uma visão crítica e diferenciada de quem tem paixão pelas palavras. Falamos desde o co-tidiano porto-alegrense até a dura realidade da vida de quem vive próximo à presídios municipais. Mas escrever não foi o suficiente. Fomos além: fotografamos e diagramamos. Valorizamos também o trabalho de quem dá forma a todas ideias e transforma este con-junto de matérias em uma verdadeira revista.

O nosso objetivo é que, você leitor, se en-volva com a leitura e se sinta provocado a refletir sobre as questões abordadas. Mais do que isso, queremos que você entenda a dimensão que é planejar coletivamente e de modo ímpar. O que está por vir é resultado de um semestre inteiro focado na construção da Bagual. Boa leitura!

Carta ao leitor

REITORJoaquim Clotet

VICE-REITOREvilázio Teixeira

PRÓ-REITORIA ACADÊMICAMágda Rodrigues da Cunha

DIRETOR DA FAMECOSJoão Guilherme Barone Reis e Silva

COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMOFábian Chelkanoff Thier

REALIZAÇÃO DA DISCIPLINAJornalismo Especializado

PROFESSORES RESPONSÁVEISAlmir FreitasJuan Domingues

EDIÇÃOKim PereiraOtávio Daros

PROJETO GRÁFICOBetina CarcuchinskiMayara MedeirosRicardo Oliveira

REPORTAGEMAmanda Di GiorgioAntonio Henrique CollarBibiana FantinelCaio Da SilveiraCaio VenancioCamila FreitasCarlos Eduardo LandoCarolina WeberDaniely Medeiros Diego Rodrigues Dienifer AdamFellipe VargasFernando De CarvalhoGabriela De Barros Gabriela MilaneziGiovanni AndradeGuilherme HasstenteufelJoao Pedro LindemannJulia BernardiJuliana Lemos Leonardo RadaelliLeticia RechLucas FigueiroLuciano KaminskiLuiz Eduardo RochaMaria Fernanda Moog Mariana RamosMariana MurilhoMelissa Shen LeePamela Da CunhaPamella Priscilla Rodrigues,Paola RamosPedro Henrique GomesRodrigo MachadoSofia StoffelTarcila De FreitasVictoria Schwengber

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, PUCRSFaculdade de Comunicação Social, Famecos

COMPORTAMENTO4. Eles também podem ser os melhores amigos do homemSessões equoterápicas auxiliam no desenvolvimento de pessoas com problemas físicos e psicológicos

8. Nomofobia, a doença que afeta os jovens do século XXI

10. Troca de interessesEmpresas investem em blogueiras para a divulgação de produtos e serviços

14. O tabu do sexo traz consequências

92. Invasão pet friedlyOs animais de estimação ganharam o coração dos donos e a simpatia dos estabelecimentos comerciais

CULTURA18. Da frustração ao sonhoJovens vão em busca de profissões que tragam felicidade acima de dinheiro

22. Nova geração do underground gaúcho busca redenção

26. Eventos autônomos ocupam espaços públicos em Porto Alegre

POLÍTICA28. Mudar ou não?Projeto de lei quer acabar com as homenagens aos grandes nomes do regime militar

32. Rotina de violência em casa aterroriza mulheres

36. Redução da Mariodade Penal divide especialistas

ECONOMIA40. Poupar sem poupança

42. A crise hídrica no Rio Grande95. Tributação e o Robin Wood às avessas

RURAL46. Ferrugem na soja afeta produção no RS

50. Pelotão Esperança beneficia crianças da fronteira

52. Cavalo Crioulo: paixão, lazer e investimento

88. Da cidade para o campoA trajetória de um novo agricultor

POLÍCIA54. Do lado de fora das gradesA realiadade de quem vive ao redor dos presídios

58. Roubos a caixas eletrônicos tem aumento significativo em 2015

62. Polícia busca combater os serviços de tele-entrega de drogas no RS

ESPORTE68. WimBelemDon: uma virada no jogo da vidaProjeto social na Zona Sul de Porto Alegre usa o esporte para ajudar crianças e adolescentes em situação de risco

70. O país de outro futebolAscenção do futebol 7 traz rumos de profissionalização

74. Ou as coisas mudam ou tudo vai pararO futebol brasileiro passa por uma grande crise em 2015

AMBIENTAL76. Quem vai Fiscalizar?Lista extensa de leis ambientais faz com que a necessidade de fiscalização seja cada vez maior em Porto Alegre

80. Privatização pode prejudicar zoo gaúcho

90. Descarte via MobileAplicativos para facilitar o descarte de lixo

TECNOLOGIA82. Apps desafiam meios de comunicação

84. Tecnologia na ponta dos dedos A função dos aplicativos na sociedade atual

98. E-books ou papel: uma simples questão de gosto?

POPULAR64. Obras e atrasos

Page 3: Revista Bagual

E quilíbrio, melhora nos movi-mentos e até elevação da autoes-tima. Esses são alguns dos efei-tos que um método terapêutico, surgido há mais de cinco déca-das, consegue atingir. A Equo-terapia, como é chamada, busca favorecer o desenvolvimento das

capacidades e habilidades de pessoas com proble-mas físicos e/ou psicológicos de qualquer instân-cia através do contato com o cavalo. Ele é o prin-cipal objeto de trabalho da terapia, combinado com o auxílio de uma equipe de fisioterapeutas, psicólogos e equitadores. A prática é realizada em um ambiente que vai além do consultório, sem a intervenção de máquinas ou aparelhos médicos.

O tratamento começou nos anos iniciais de 1970, quando na Europa e nos Estados Unidos já estavam em andamento estudos sobre a equi-tação, utilizadas como terapia na reabilitação de soldados que possuíam alguma deficiência. Na época, estudiosos e pessoas ligadas ao animal, na sua maioria Oficiais da Reserva da Cavalaria do Exército Brasileiro, passaram a pesquisar sobre o assunto e elaboraram as principais linhas básicas da Equoterapia. No dia 10 de maio de 1989, então, fundaram a Associação Nacional de Equoterapia, a ANE, que mais tarde veio a ser a atual Ande--Brasil.

Quem conta essa história é a psicóloga clínica da ANDE-BRASIL, Vera Maria Horne da Cruz. Segundo ela, o tratamento equoterápico funciona exatamente como qualquer trabalho clínico, a atu-ação do cavalo que é o diferencial. “A Equoterapia não exclui nenhuma outra forma de tratamento mais convencional, mas através dela se observa benefícios em todas as áreas do desenvolvimento da pessoa”, explica.

Eles também podem ser os melhores amigos

do homem

Por Camila Freitas Oliveira

Foto

: Cam

ila O

livei

ra

Comportamento

Sessões equoterápicas auxiliam no desenvolvimento de pessoas com problemas físicos e psicológicos

5

Page 4: Revista Bagual

A psicóloga afirma que não há nenhum tipo específico de problema que não possa ser tratado por meio da terapia e que cada caso deve ser bem avaliado. Mas, reitera: “Existem algumas con-traindicações médicas relacionadas à condição física da pessoa, pelo fato de precisar permanecer sentada e ter certa abertura de pernas, no caso de fobias graves, quando se trata de pessoas com con-vulsões frequentes sem controle ou por ser muito grande ou pesada e não conseguir manter-se no animal”.

Hoje são cerca de 300 centros de Equoterapia espalhados pelo Brasil, onde já foram atendidos 60 mil praticantes, segundo a Associação Nacio-nal. Rubens Severo de Souza faz parte desse gru-po. O interesse pela Equoterapia é antigo e surgiu através do incentivo de um amigo. Depois de mui-tas pesquisas, um curso realizado em São Paulo, de trabalhar no ramo por alguns anos e adquirir experiência, ele concretizou o que antes era ape-nas uma ideia. Em 2006, o fisioterapeuta, em par-ceria com a psicóloga Taciana Lauermann, criou o centro Equoterapia Paraíso, localizado em Porto Alegre.

Eles realizam as sessões equoterápicas em dois centros equestres diferentes, o Centro Equestre PJ e o Regimento Osório. Em cada um deles Seve-ro conta com 25 praticantes que, segundo ele, já se tornam agentes do seu próprio tratamento no momento em que escolhem a Equoterapia como tratamento complementar. “Os cavalos e profis-sionais que estão em torno são apenas mediado-res. Nós procuramos transmitir através do cavalo a questão do prazer, mas quem vai determinar se a Equoterapia vai ser eficaz ou não é o praticante”, garante.

De acordo com o fisioterapeuta, o movimen-to do cavalo assemelha-se muito ao andar normal do homem. Com isso, é possível trabalhar estí-mulos na parte neurológica, fazendo com que os praticantes desenvolvam o caminhar. “As primei-ras conquistas são de parte psicológica, quando há uma melhora na desinibição e na autoestima. Logo depois, começam os resultados referentes aos estímulos mecânicos e físicos”, explica.

Para auxiliar no atendimento, um grupo de es-tudantes de psicologia integram voluntariamente a equipe da Equoterapia Paraíso. Daiane Dallaga-nol, que estuda no Centro Universitário do IPA, conta que além de cumprir com uma tarefa cur-ricular, aprende sobre uma área de seu interes-se. “Escolhi estar aqui por saber que essa terapia complementar consegue atingir diferentes sets da psicologia. Ela trata pessoas que possuem Síndro-me de Down, limitações físicas e até ajuda na re-cuperação da fala”.

As dificuldades de falar e de se expressar cita-das por Daiane estão presentes no dia a dia de Ana Carolina, uma menina de 4 anos que com 10 me-

ses de vida foi parar no hospital com uma gripe e, depois de 24 horas, precisou ser internada em coma na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Até hoje, a mãe, Jéssica Agliardi, não sabe o que de fato aconteceu com a filha, que permanece com sequelas. A menina recuperou o movimento da cintura para cima e a visão, mas perdeu a fala e parte do pulmão. “Minha filha está há um ano na Equoterapia e já consigo perceber que ela evoluiu muito. Mexer a boca e tentar falar algumas pa-lavras, ter equilíbrio e conseguir se segurar para não cair e mastigar os alimentos são coisas novas para todos nós”, diz Jéssica.

Outro caso, diferente do de Ana, é o de pesso-as com Paralisia Cerebral, que, segundo Vera, é

um dos quadros neurológicos mais atendidos nos centros equoterápicos, além dos transtornos do espectro autista e suas variações. A dona de casa Mara Freitas da Rosa conta que levou por cinco anos sua filha, Thaís, ao tratamento equoterápico. “Lá ela aprendeu a ser uma pessoa mais sociável e amigável. Nunca tinha pensado na Equoterapia como tratamento para o autismo, mas por indi-cação da escola resolvi colocá-la e sei que foi uma ótima escolha”.

Muitas Anas e Thais espalhadas pelo mundo transformam todos os dias de suas vidas através da relação do homem com o animal e, mesmo não sendo pequeno e peludo, o cavalo também pode ser um dos melhores amigos do homem.

Cada um é agente do seu próprio tratamento.Rubens Severo de Souza

Bruno (de casaco azul e bege) pra-tica a Equoterapia há três anos e

Lucas (de casaco preto com verde) desde o início de 2014

Foto

: Cam

ila O

livei

ra

76

Page 5: Revista Bagual

Dependência tecnológica pode estar ligada a transtornos

psicológicos como ansiedade e depressão.

Foto

: Mar

iana

Mur

ilho

Oque antigamente parecia absurdo, hoje está sendo visto como algo normal. Cada vez mais pessoas vêm buscando ajuda em tratamentos para depen-dências tecnológicas, que se agregam a vários aspec-

tos psicológicos recorrentes na atualidade, como depressão, fobias sociais e baixo autoestima. As-pectos esses, que se deram em função do forne-cimento e crescimento veloz do fácil acesso às tecnologias e a internet. Assim como também o aumento do sedentarismo e da reclusão emocio-nal. Posto isso, surge em 2008, no Reino Unido, o termo que denomina Nomofobia.

Originário do inglês “No Mobile Phobia”, a ex-pressão designa a dificuldade em desconectar-se ou ficar distante do aparelho celular. Segundo Sylvia Van Enck, psicóloga clínica e colaboradora do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clí-nicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, as novas tecnologias possibilitaram o acesso rápido e fácil para vários tipos de infor-mações e serviços. Por isso, está cada vez mais re-corrente, uma vez que muitas pessoas criaram o hábito de agendar todos os compromissos, gravar contatos e organizar seu planejamento diário nos telefones celulares. O que explica, a sensação de estarem isolados do resto do mundo, literalmen-te “desplugados” quando ficam sem o auxílio do aparelho.

Em média, 30 pessoas são atendidas por se-mestre, com os sintomas da fobia, no Instituto de Psiquiatria do Hospital de Clínicas, tendo em vis-ta que em 2006 eram apenas cinco. Os problemas são distintos: pessoas dependentes de todo tipo de tecnologia, com internet, mas principalmente aficionados em jogos online, que com a ausência

do computador de mesa, fazem o uso excessivo do celular, perdendo totalmente o limite e a razão.

Segundo Gustavo Lacerda, diretor de marke-ting da empresa Ipsos, que realizou o estudo “Mo-bilidade Brasil 2008”, no qual foi avaliado como o telefone celular mudou a vida e os costumes dos brasileiros.

Foram entrevistadas mais de mil pessoas, em 70 cidades brasileiras, sendo elas noves regiões metropolitanas, de ambos os sexos e de todas as classes sociais, com mais de 16 anos.

O resultado revelou que 18% dos entrevista-dos deram indícios de serem viciados em seus aparelhos celulares. 21% são representantes do sexo feminino, com idades variáveis entre 16 e 24 anos. Comparando essa pesquisa realizada há sete anos, Sylvia relata que a realidade encontrada atualmente é um pouco diferente. Em 2015, já há uma drástica mudança, que revela o uso mais fre-quente por parte de adolescentes e jovens do sexo feminino. Isso mostra que as tecnologias estão sendo usadas mais cedo e frequentemente.

Outro fator interessante, segundo psicóloga Sylvia, é de que o uso do celular e dos demais apa-relhos móveis também está vinculado ao status que os jovens adquirem e querem manter junto ao grupo de referência: “Quanto mais sofisticado e atualizado for o aparelho, mais destaque o jo-vem adquire junto aos seus pares. Com isso a de-pendência tende a aumentar”, conclui a psicóloga.

Fazendo parte desse universo dos jovens e da tecnologia desde quando nasceu, Emanuela Faes, estudante de Nutrição, 26, faz parte dessa porcentagem, e se assume como dependente. Ela confessa entrar em desespero quando esquece o aparelho em casa ou fica sem bateria: “Me sinto angustiada quando isso acontece. Minha vida in-teira está naquele aparelho. Se eu estou sem ele, me sinto perdida”.

Por Mariana Murilho

Comportamento

Nomofobia: A doença que afeta os jovens do século XXI

Problemas ligados à dependência da tecnologia vêm afetando jovens entre 16 e 24 anos

9

Page 6: Revista Bagual

Banc

o de

foto

s

Troca deinteresses

Empresas investem em blogueiras para a divulgação de produtos e serviços

Por Dienifer Adam

Comportamento

A internet está diariamente presente na vida da maior parte das pessoas. O acesso é rápido e fácil. É possível encontrar informações, re-alizar compras ou utilizá-la apenas para entretenimento. Por esse motivo, o marke-

ting digital está em alta nos dias de hoje. Empresas lançam ações de comunicação, via internet, para promover produtos ou serviços, a fim de chegar aos consumidores de forma rápida, personalizada e direta. A ideia é conquistar novos clientes e me-lhorar a sua rede de relacionamentos.

Outro fenômeno atual é a utilização de blogs para tratar e opinar sobre algo específico, onde nem sempre os colaboradores são especialistas no assunto. Uma onda de blogueiras de moda e be-leza atingiu o Instagram recentemente. Opiniões de roupas, calçados, acessórios são publicados. Tendo em vista os novos avanços comportamen-tais e tecnológicos, as empresas estão colocando as informações de publicidade, onde está o foco de atenção do público-alvo.

Os resultados são perceptíveis diante do e-commerce no setor. Segundo o último relatório divulgado pelo E-bit, o segmento de Moda e Aces-sório lidera as vendas, pelo segundo ano consecu-tivo, com 18% do volume total de pedidos. Sendo seguida por Cosméticos e Perfumaria (16%). Os eletrodomésticos aparecem com 11% na terceira posição. A pesquisa mostrou também que 57% dos consumidores são mulheres, sendo 64% da classe A e B.

Segundo o analista de comunicação da Asso-ciação dos Dirigentes de Marketing e Vendas do Brasil do Rio Grande do Sul e diretor-geral da Prospecta Comunicação e Marketing, Gabriel Barbosa, a divulgação de produtos através de blo-gueiras de moda e beleza trata-se de uma estraté-gia de relacionamento extremamente válida - e de

11

Page 7: Revista Bagual

resultados. “Essa iniciativa oportuniza assertivi-dade e uma comunicação dirigida”, explica ele. Apesar de não ser uma nova forma de marketing, é a utilização de novos meios e táticas para se con-solidar.

Barbosa acredita que utilizar a busca de pesso-as por informações e novidades para divulgar seus produtos com pequenos formadores de opinião é uma estratégia que alia conhecimento ao que você está vendendo: “Coloca os seus bens na vitrine, onde está o seu público de interesse; e divulga fu-gindo das ações tradicionais de comunicação web, como banners e links patrocinados”. Além de ser uma alternativa de baixo custo, gastando apenas com o relacionamento e envio de produtos.

Porém, alguns cuidados são necessários na hora de realizar a parceria. Segundo o analista de comunicação, é necessário que haja troca de in-formações entre os blogueiros e as empresas. Por isso, é comum que haja encontros e eventos que reúnam esses dois públicos, e não somente o en-vio de produtos. Afirma que é preciso entender o público-alvo, tratá-lo com atenção e monitorar a imagem pública.

Outro cuidado fundamental é com a lei. Se-gundo o Código Brasileiro de Autorregulamenta-ção Publicitária (Conar), “blogs não podem ten-tar disfarçar ou fazer com que o consumidor não perceba que se trata de propaganda comercial”. Toda publicidade deve ser claramente identificada e percebida como tal pelo consumidor. Algumas blogueiras utilizam as hashtags #publipost e #jabá para identificar o anúncio.

Ivana Rebeschini, publicitária e criadora do Verdade Feminina, sustenta-se há três anos ape-nas com os lucros recebidos via Google Adsense e anúncios de marcas e agências de publicidade no blog. O projeto começou em abril de 2010 com um perfil no Twitter, com o reconhecimento e o número de seguidoras aumentando ao longo do tempo, ela decidiu criar um canal onde pudesse ter um espaço maior para interagir com suas lei-toras.

Hoje, o Verdade Feminina reúne publicações diárias de moda feminina, beleza, maquiagem, looks, receitas e tudo que nós, mulheres, amamos. Considerado um dos maiores blogs de moda e be-leza do Rio Grande do Sul, recebe em média 10 mil acessos por dia, e mais de 750 mil por mês. Outras redes sociais são usadas também para a publicação de conteúdos. A página no Facebook conta com 135 mil likes, e o perfil no Instagram com mais de 25 mil seguidores.

Com o sucesso garantido, empresas que per-cebem uma relação com o veículo e seu público

Jamais vou falar de um produto que não testei ou não aprovei.Ivana Rebeschini

alvo, procuram Ivana para divulgar produtos através de publicações. Mas a publicitária não aceita trabalhar com qualquer marca e ação. Uma triagem das propostas é feita, procurando anun-ciar apenas as que estão alinhadas ao perfil dela e das leitoras.

O Verdade Feminina possui algumas marcas fiéis, que anunciam anualmente e a cada troca de coleção. O custo da divulgação varia conforme a publicação, que depende também da marca e da

campanha. Não existe um valor padrão. “Eu jamais vou falar no blog de um produto

que eu não testei ou não aprovei - seja pago ou não. Antes de falar eu realmente testo e dou a minha opinião sincera. Se eu não gostar, simples-mente não publico sobre isso”, afirma Ivana. Ela conclui que as parcerias são de interesse, onde, no fim, é bom tanto para a marca que anunciou quanto para a blogueira que ganhou uma porcen-tagem de lucros.

12 13

Page 8: Revista Bagual

A gravidez precoce traz muitos con-flitos, principalmente, na relação familiar. Existem diversos fatores que dificultam uma maternidade tranquila: uma delas é a ausência de apoio do pai da criança e a fal-

ta de informação adequada. Todo ano 7,3 milhões de meninas menores de 18 anos dão a luz, de acor-do com Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo o Instituto Brasileiro de Estatística, a gravidez entre os 15 e 19 anos caiu no Brasil de 19,97% em 2003, para 17,7% em 2012.

Ainda assim esses números são muito expres-sivos, na medida em que, o conhecimento para evitar uma gravidez é recorrente nas escolas do Brasil. O tema é trabalhado nas aulas de biolo-gia. De acordo com o currículo escolar, consta assuntos como métodos contraceptivos, doenças sexualmente transmissíveis (DST), sistema re-produtor e a fecundação, geralmente abordados a partir do sexta e sétimo ano. A professora de biologia Laura Luz acredita ser importante tra-balhar esses assuntos com os alunos, pois os pais não sabem como lidar com esses temas. “Ainda hoje, encontro mães que acham que proibindo os filhos, conseguem dominá-los. Sempre fui a fa-vor do diálogo aberto, franco e civilizado, tanto com os alunos quanto com a minha filha”, afirma. A professora diz ser impressindível que exista um limite de como serão abordados os assuntos, pois trata-se de um tema que ainda é tabu nas famílias. Uma das regras em aula era que todas as dúvidas fossem escritas em um papel e entregues para ela. Em seguida, cada questão era esclarecida em voz alta pela professora.

Em razão da vergonha ou buscando informa-ções por si mesmos, muitas vezes com amigos ou adolescentes mais velhos, que, por sua vez

O tabu do sexo traz

consequências

Foto

: Glo

ria B

elm

onte

Comportamento

Por Daniely Medeiros

Liziane Marques grávida aos 8 mes-ses sonha em ter uma maternidade

tranquila

Tema pouco trabalhado pode gerar má informações

15

Page 9: Revista Bagual

vez, buscaram conhecimento dessa forma. Isso forma um círculo vicioso de desinformação. O objetivo da professora era que seus alunos não participassem desse ciclo e que tivessem infor-mações seguras e bem orientadas. O ex-aluno de Laura, Josimar Rosa, recorda que as aulas foram muito importantes, pois esclareciam dúvidas que ele não tinha coragem de perguntar para seus pais. “A professora Laura mostrava que tudo aquilo era normal, que falar de sexo era normal”, disse.

A adolescência é tumultuada por uma série de mudanças físicas e psicológicas e a formação cognitiva e cerebral, pois ainda esta em desenvol-vimento. Assim, faz com que os jovens nessa fai-xa etária acreditem que uma gravidez indesejada nunca acontecerá com eles. Não podendo pensar e prever as consequências de suas ações, somada ao fato de ser impulsivo e de ter um pensamen-to onipotente, cria-se um contexto propício para comportamentos sexuais de risco e, com isso, a gestação. Ainda, adolescentes que bebem e usam substâncias psicoativas também acabam por ter suas possibilidades de pensamento e planejamen-to prejudicadas, o que aumenta a probabilidade do sexo inseguro.

De acordo com a Chefe do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Daniela Cen-tenaro Levandowski, os adolescentes acreditam que é tarefa da mulher preocupar-se com a con-tracepção: “Os adolescentes não se preocuparem tanto com a contracepção, deixando essa ‘tarefa’ ao encargo da menina. É como se coubesse ape-nas à mulher prevenir a gestação ou uma DST. Por outro lado, à medida que os relacionamentos amorosos avançam em estabilidade e compromis-so, vemos um decréscimo do uso de preservativo entre os adolescentes, o que aumenta o risco de uma gestação”, afirma.

Para Liziane Marques, a descoberta da gravi-dez aos 16 anos foi um susto. Namorando há um ano utilizava apenas como método contracep-tivo a pílula. “Por eu ser um pouco atrapalhada me esqueci de tomar alguns dias o comprimido, ai aconteceu...”, conta. O medo de uma gestação sempre existiu, mas a adolescente acreditava que não aconteceria tão cedo. Ela afirmou que conhecia o risco e sabia das formas de se preve-nir, pois, segundo ela, informação nunca faltou. Apesar da familia estruturada, ela teve receio em contar para a familia. Segundo Liziane, sua mâe teve o primeiro filho aos 15 anos e sempre alertava para que o mesmo não acontecece. Dian-te do inesperado teve todo o apoio da familia e do namorado. “Estamos bem, moramos juntos em nossa casa e cuidando da Antonia”, afirma. Liziane acredita ter tido muita sorte, pois co-nhece muitos casos que o namorado não assume

e deixa tudo para que a menina as tarefas da edu-cação da criança. Maycon Costa tinha 18 anos quando descobriu a gravidez de Liziane. “Em ne-nhum momento me senti desamparada tanto pela minha familia quanto pelo meu namorado”, disse. A responsabilidade de uma gravidez não pla-nejada é tanto da menina quanto do menino. Porém, na realidade existe desigualdade entre os deveres, deixando a mulher tendo que arcar com as consequências.

“A falta de maturidade emocional e a presença de estresses adicionais à transição precoce para a

paternidade podem ser aspectos difíceis para os adolescentes pais enfrentarem”, afirmou a psico-loga Daniela Levandowski.

O pisicologico do adolescente devido as difi-culdades para arcar com as despesas decorrentes do cuidado de um filho ou mesmo para realizar as tarefas de cuidado, por falta de preparo, pouca experiência com crianças ou mesmo vergonha de assumir um papel mais cuidador são alterados. Diante desses fatores, os jovens tendem a rejeitar a criança caso não tenha uma estrutura familiar sólída.

Apesar das dificuldades esse foi meu maior presenteLiziane Marques

Liziane e Maycon na casa novo com a Antonia aos 2 meses

Foto

: Dan

iely

Med

eiro

s

16 17

Page 10: Revista Bagual

Luiz Roberto Galetto era publici-tário. Hoje, ensina as pessoas a fazerem hambúrguer. Luciano Braga trabalhava em agências de propaganda. Agora, desenha his-tórias em quadrinhos. Bárbara Mattivy trabalhava com marke-ting. Hoje, tem a sua própria

marca de sapatos veganos.Galetto, Luciano e Bárbara tem algo em co-

mum: eles estavam insatisfeitos com o mercado de trabalho no qual estavam inseridos, e resolve-ram deixar o medo de lado para arriscar no que os deixa feliz de verdade. Eles ainda compartilham outra semelhança: os três pertencem à Geração Y – aqueles que nasceram de meados da década de 70 até meados da década de 90. Ou seja, foram criados por pais que batalharam muito para che-gar onde estão e, por isso, incentivaram os filhos a irem atrás de seus sonhos.

Galetto se formou em Publicado e Propagan-da na PUCRS e desde cedo trabalhou na área. Porém, sempre existiu algo que o incomodava na publicidade. “Muitas vezes me sentia mentindo ou fazendo um trabalho sem a menor relevância”, justifica. Foi quando o publicitário resolveu mo-rar um tempo em Vancouver e trabalhou em uma hamburgueria por seis meses. Ao retornar para o Brasil, a insatisfação com a carreira só aumen-tou. “Não tinha a menor vontade de fazer o que eu estava fazendo, faltava um senso de propósito

que eu só consegui encontrar na cozinha”, expli-ca. E foi assim que, em setembro de 2013, Galetto largou de vez a publicidade. “Só sabia que que-ria fazer algo que tivesse um propósito e que me permitisse aproveitar uma tarde de sol no meio da semana ou acordar mais tarde em algum dia”, conta. Uma semana depois, tomando cerveja em um bar, um amigo o aconselhou a ensinar as pes-soas a fazerem hambúrgueres.

Foi assim que o Burguer101 passou a existir e se tornou a nova profissão do ex-publicitário. Apesar do lucro não ser exorbitante, a qualidade de vida melhorou. Além das aulas, ele também vende o seu próprio molho e participa de even-tos, como o Comida de Rua. “Tem meses que dá certo, tem outros que não. Fico sempre pensando em mil coisas que posso fazer para melhorar meu negócio”, desabafa. Mas mesmo quando as contas não fecham, Galetto é mais feliz. “Só de lembrar de como era a minha vida antes, eu vejo que tudo valeu a pena, mesmo que não seja perfeito”, con-clui.

Já Bárbara Mattivy, formada em Marketing pela UFRGS, sempre foi empreendedora, mas se cansou do mundo publicitário. “Eu enxerguei muito rápido quando as oportunidades estavam acabando, por isso tentei criar algo novo para crescer junto comigo. Quis sair do mundo do Marketing e da Propaganda, o qual é uma eterna disputa de egos”, justifica.

Juntando determinação e com seu espírito de

A insatisfação com o modelo do mercado de trabalho publicitário atual tem feito jovens irem em busca de profissões inovadoras

e que tragam felicidade acima de dinheiro

Por Amanda Di Giorgio

Jovens têm deixado a preocupação com estabilidade financeira de lado

e investido em ser feliz.

Foto

: Am

anda

Di G

iorg

io

Cultura

Da frustraçãoao sonho

19

Page 11: Revista Bagual

empreendedora, Bárbara criou a Insecta Shoes, uma marca de sapatos feitos a partir de peças de brechó que são confeccionados sem utilizar ma-téria-prima animal. A ideia da loja surgiu pela união da marca de sapatos artesanais MAG-P, da designer Pamella Magpali, e de um brechó online da Barbara, o Urban Vintagers. “Nós duas fizemos uma colaboração entre as marcas e deu muito cer-to, e então resolvemos expandir o negócio para um conceito mais ecológico e inovador”, explica Bárbara. Pamella já trabalhava com excedentes da indústria nos calçados, e Barbara já se preocupava com o pós-consumo no seu brechó. A união des-ses dois fatores originou a Insecta Shoes. “Se não está feliz, tire o seu trabalho dos sonhos do papel e o coloque em prática logo!”, aconselha.

Luciano Braga também largou as agências de propaganda. Hoje, desenha quadrinhos e direcio-na o conhecimento da sua formação para fazer o que gosta: criar projetos sociais para marcas, atra-vés da Shoot The Shit (STS). A STS é um coletivo que busca causar impacto social, idealizado por Braga e outros dois publicitários, Giovanni Gro-ff e Gabriel Gomes, que estavam cansados das mesmices e burocracias do mundo publicitário e decidiram criar algo que fosse mudar a vida das pessoas.

Atualmente, Braga se considera feliz por estar envolvido em um trabalho de transformação so-cial e mudança de realidade. “Quando trabalhava em agências tradicionais eu era infeliz porque não gostava de vender clientes que não faziam parte dos meus valores”, destaca. Ao decidir largar o emprego estável, Braga sentiu medo do que viria em seguida, mas ficar anos em um trabalho que não fazia sentido era muito mais assustador para ele. “A vida é muito curta para se fazer o que não te faz feliz, por isso vá logo atrás dos seus sonhos”, aconselha.

Segundo pesquisa recente da Fecomércio-SP, Porto Alegre é a segunda capital no mapa de eco-nomia criativa, perdendo apenas para São Paulo. O Centro Cultural Vila Flores e a Casa Liberdade, um ambiente que incentiva o empreendedorismo, a cultura e a colaboração, são exemplos que expli-cam a quantidade de negócios criativos que tem tomado conta da capital gaúcha.

O Vila Flores é um centro cultural que incen-tiva negócios criativos e realiza diversas ativida-des, como apresentações musicais, espetáculos de teatro e dança, exibição de filmes, oficinas e encontros em parceria com artistas e coletivos. O espaço também acolhe 20 empreendedores cria-tivos – entre arquitetos, designers, artistas visuais e audiovisuais –, e realiza feiras que promovem a produção local e artesanal.

Para Aline Bueno, gestora cultural do Vila Flo-res, a liberdade de escolher a carreira é um privi-légio de uma faixa social. “Muitos jovens não têm essa opção, pois não podem largar seus empregos para investir em algo incerto”, enfatiza.

Segundo a gestora, o descrédito em instituições e a crise da velha economia são fatores de impacto na mudança de jovens empreendedores. “E é para fomentar a cadeia produtiva - criação, produção e distribuição dos bens – que os centros culturais buscam oferecer para a sociedade”, explica.

Muitas vezes me sentia mentindo ou fazendo um trabalho sem a menor relevância.Luiz Roberto Galetto

Foto

: Gab

riel L

uz

Foto

: pic

jum

bo

20 21

Page 12: Revista Bagual

Foto

: Bár

bara

Dah

len

Foto

: Mel

any

Tesc

he

Nova geração do underground gaúcho

busca redençãoPor Leonardo Radaelli

Cultura

Com base nos Beatles, passan-do pelo reggae e desembar-cando no rock britânicos dos anos 90, as bandas Bordines e Croquetes sonham com um lugar ao sol no cenário musi-cal de Porto Alegre. As duas bandas formadas por jovens

estudantes acreditam na sobrevida do rock, vivem intensamente o estilo e dificilmente abrem mãos de suas ideologias de sexo, drogas e rock n’ roll. Com pretensões de lançar EPs, pequenos discos com três faixas de seus trabalhos, os grupos traba-lham as imagens de suas bandas em redes sociais e seguem um conceito ideológicos com suas refe-rências.

A banda Bordines é formada por quatro mem-bros: João Carneiro (vocal e guitarra), Yan Wo-ehlert (baixo), Eduardo Comerlato (Guitarra) e Guilherme Boll (bateria); e trazem em sua essên-cia um rock sessentista, com influência da cultura mod, que foi o grande movimento social inglês dos anos 60 e 70, até chegar no cenário britpop dos anos 90. Desde as roupas que vestem, perfor-mances no palco e até o comportamento no dia a dia, eles trazem a tona suas referências. Camisas paisleys, calça jeans, chelsea boots e quando está frio a tradicional parka. Quem vê a banda, sem conhece-los, sabe destinguir muito bem seus esti-lo e seus mentores. “No palco, eu me inspiro mui-to no Paul Weller, no Noel e Liam Gallagher, no John Lennon... Enfim, em muitos caras na música em geral. Mas principalmente bandas dos anos 60, como Beatles, Stones, Small Faces, Kinks, Who e nos períodos dos anos 80 e 90 da Inglaterra. Ban-das como Happy Mondays, Stone Roses, Charla-

tans, Oasis, Blur”, conta Carneiro, líder da banda Bordines. Sobre o nome da banda, o vocalista re-trata o episódio que levou a banda decidir por esse nome: “Nós não tínhamos um nome definido. Por alguns meses, nós chamamos Supernova – refe-rência à música Champagne Supernova da banda Oasis - um dia, tomando umas cervejas, eu, Yan e um outro amigo, que não faz parte da banda, estávamos conversando sobre isso. Então, o Yan veio com o lance de “tem que ser algo que tenha a ver com a gente’’. Como, na época, ensaiávamos na casa da vó do Guilherme Boll (baterista), que fica na Rua Coronel Bordini, o Yan largou “Bordines’’. Nós curtimos e acabou ficando”, conta Carneiro.

A pretensão da banda é continuar com o tra-balho e, se tudo der certo, seguir vivendo da mú-sica. “Nós queremos viver disso. Nós queremos lançar nosso EP, fazer shows por estado inteiro, em qualquer lugar; se possível, até fora do esta-do. Até 2018, no máximo, queremos lançar nosso primeiro disco e, daí sim, atingir outro patamar. Fazer shows maiores, tocar em festivais grandes, de repente morar em São Paulo onde o negócio “borbulha’’ mesmo. Fazer disso a nossa vida, saca? Ter grana pra pagar o aluguel. Nos manter disso, sem aperto, e fazendo que isso seja a nossa profis-são mesmo”, conclui Carneiro.

Até setembro, a Bordines vai lançar seu pri-meiro EP. As gravações estão sendo produzidas pelo produtor João Augusto Lopes, o Jojô, no es-túdio Lado B.

Seguindo um gênero diferente, a banda Os Croquetes também busca o seu lugar ao sol. An-tes chamada de Experimerdas, a banda adotou o nome pelo costume de comer o salgado croquete no Bar e Restaurante Alfredo’s, depois dos ensaios

23

Page 13: Revista Bagual

na Avenida Cristóvão Colombo, no centro da Ca-pital. Com referências diferentes da banda Bor-dines, Os Croquetes se espelham no cenário de Nova Iorque dos anos 70. Não abrem mão das cal-ças jeans, o All Star sujo e a camisetas de banda. Em palco, o grupo tenta trazer a energia do punk rock, seguindo os passos dos Dead Boys, Stooges e Ramones. A banda formada por Rodrigo Oliveira (vocal e guitarra), Eduardo Guimarães (guitarra), Lucas Macedo (baixo) e Victor Silva (bateria) se entrega em palco em cada performance.

“Nós fazemos o som que a gente gostaria de ouvir. Nós criamos a banda porque achávamos que a cena de Porto Alegre tinha ficado muito bunda-mole. As bandas ou queria ser a banda como Tópaz, ou Los Hermanos. Parecia que todo mundo tinha esquecido os Cascavelletes e Repli-cantes e só lembravam do chato do Humberto Gessinger. Nossa única pretensão é tocar no má-ximo de lugares possíveis mesmo que a gente não ganhe nada de dinheiro e que vá três pessoas em cada show, a gente quer só se divertir”, relata Edu-ardo Guimarães.

Com atitudes fortes e sem receio do que as pes-soas vão achar de suas músicas, Guimarães des-taca os planos da banda para os próximos meses: “Nós estamos gravando um single agora que vai sair esse mês ainda. No próximo mês vai sair um clipe e até o final do ano vai sair uma fitinha K7 que a gente vai prensar na Argentina”, revela.

Sobre essas novas oportunidades que veículos como a Rede Globo estão dando para novas ban-das, as bandas Os Croquetes e Bordines não acre-ditam que seja o cenário ideal para seus grupos. Eles acreditam que o programa procura bandas que vão agradar os públicos, sem especificar e va-lorizar uma banda com ideologia própria.

“Nós achamos uma bosta. A personificação da morte da música e principalmente do rock. Como é que a Sandy pode julgar uma banda de rock se ela acha que Scalene é uma banda “muito rock” e que um baixo é uma “guitarrona”. A música que sai da TV parece que sai enlatada já com uma etique-ta. Parece tudo o mesmo lixo comercial. A mesma fórmula de fazer música que vende, mas que não é honesta e sincera. A gente jamais tocaria, ainda mais se fosse pra fazer playback”, desabafa Eduar-do Guimarães.

Por outro lado, João Carneiro, líder da Bor-dines, não critica tanto esses programas. Acredi-ta que eles dão chances para várias bandas boas, porém não vê sua banda nesse caminho: “Eu não vejo a Bordines nesse caminho, por dois motivos: nós fazemos a nossa arte da maneira que gosta-mos, acreditando em nós mesmos, pensando em, um dia, conquistar algo através dela e do nosso esforço e, também, porque, muitas vezes, os ar-tistas desses programas acabam sumindo e sendo

“ esquecidos. Isso não é o que queremos. Mesmo que a coisa demore um pouco, nós vamos con-seguir através do nosso esforço, da nossa arte, do nosso empenho. O Breakout Brasil, por exemplo, foi um baita reality show, só com bandas boas e que colocou uma galera foda em evidência”, con-clui Carneiro.

Muitos dizem que o rock está acabando, mas não é o que vemos com a dedicação dessas duas bandas. O ditado “sexo, drogas e rock n’ roll” con-tinua forte para muitas bandas. Com opiniões for-tes, som que foge os padrões modernos do novo cenário porto-alegrense, Bordines e Os Croquetes caminham em direção aos seus lugares ao sol.

Foto

: Joa

na B

erw

ange

r

Criamos a banda porque achávamos que a cena de Porto Alegre tinha ficado muito bunda-mole. As bandas ou queria ser a banda como Tópaz, ou Los Hermanos. Parecia que todo mundo tinha esquecido os Cascavelletes e Replicantes e só lembravam do chato do Humberto Gessinger.Eduardo Gumarães

Foto

: Mar

iana

Sol

etti

24 25

Page 14: Revista Bagual

Eventos autônomos ocupam espaços

Em outubro de 2011 foi organizado e realizado o primeiro Largo Vivo, even-to independente que conta com ativi-dades circenses, musicais e teatrais. A partir de então, a ocupação de espaços

públicos da cidade por grupos autônomos forma-dos pela internet vêm crescendo. A região central da cidade abriga semanalmente eventos e festas organizados sem o apoio da Prefeitura de Porto

Alegre. Muitos deles têm pautas políticas, como o “Ocupa Cais Mauá”, que propõe a participação popular na decisão sobre a reformulação do Cais do Porto da Capital. Outros visam principalmente incentivar a cena musical independente da cida-de, como o “Conexões FM”, que dá espaço às pe-quenas bandas da cidade. Existem, ainda, eventos diurnos destinados à gastronomia, como o “Co-mida de Rua”, e ao artesanato, como o “Me Gusta”.

Por Luiz Gonçalves

Cultura

Foto

: Gab

riel L

uz

O Largo Vivo, que pode ser considerado o primei-ro evento público noturno a mobilizar a juventude porto-alegrense através da internet, teve sua pri-meira edição no final de 2011. A partir de então, o grupo de jovens começou a reunir-se sema-nalmente ao final da tarde das terças-feiras para confraternizar e expor suas músicas, desenhos e artesanatos. O Largo Glênio Peres, em frente ao Mercado Público, foi escolhido em resposta à fala do hoje Secretário Municipal de Urbanismo, Val-ter Nagelstein, que à época disse acreditar que um estacionamento no local garantiria um público “mais qualificado” ao local. A atividade é frequen-te ainda hoje, e já contou com a participação de bandas como Apanhador Só e Conjunto Bluegrass Porto-Alegrense. Segundo o músico Márcio Pei-xe, que hoje ajuda a organizar os encontros, o Lar-go Vivo é o maior evento ao ar livre da cidade. “As pessoas já conhecem o Largo, pela imprensa, pela internet. É cada vez maior o número de pessoas interessadas em participar”, afirma. “Existe um perfil do frequentador do Largo Vivo. São jovens ligados à arte, à política. Apesar de grande, não é um evento necessariamente plural nesse sentido”, completa Márcio.

Só no mês de maio foram realizados mais de dez eventos noturnos abertos à comunidade. A “Serenata Iluminada”, que aconteceu no parque da Redenção, reuniu, segundo a organização, mais de dez mil pessoas. Com a proposta de incentivar a ocupação cultural em parques e praças, jovens se mobilizaram, em 2013, para promover, através da plataforma digital Porto Alegre.cecê, a participa-ção popular dos cidadãos na primeira edição do evento. Com grande adesão da população, a causa cresceu e hoje conta com eventos periódicos que levam milhares aos encontros nos espaços públi-cos da cidade. O designer Rudi Langer Geller, um dos organizadores, diz que a iniciativa é pioneira

e já está consolidada. “Os eventos na rua já entraram na rotina do jovem de Porto Alegre. A juventude daqui é hoje como uma vanguarda cul-tural: exportamos ideias para o centro do país. O que já fazemos há certo tempo só está chegando agora em São Paulo, por exemplo”, afirma. O gru-po, que também organiza o “Ocupa Cais Mauá”, não só promove o contato grupal quanto também a atuação política. “Com a “Serenata Iluminada”, levantamos questões como o cerceamento da Re-denção e a poluição. O “Ocupa Cais” propõe a participação no que se refere à transformação do cais em espaço privado”, completa Geller.

Por sua vez, o “Conexões FM”, que ocorre des-de 2013 e já está em sua 17ª edição, visa fomen-tar a cena independente da música da capital e da região metropolitana. Através de uma página no Facebook, o grupo Ectoplasma abre inscrições para bandas pequenas que desejam se apresentar no festival, que acontece todo o mês. O encontro geralmente ocorre no Largo Glênio Peres ou no Largo Zumbi dos Palmares. Alex Aquino, ideali-zador do projeto, acredita que atividades na rua são necessárias para o fortalecimento cultural da cidade. “A cada evento que acontece aparecem mais pessoas querendo tocar, expor a arte que fazem. São bandas que necessitam de eventos de livre participação e entrada franca, pois isso faci-lita a divulgação do trabalho”. O grupo também organiza outros eventos ao ar livre com o mesmo intuito, como o “Garajão Underground”, realizado em Canoas, e o “Usina a todo o Gás”, no pátio da Usina do Gasômetro. Inicialmente destinando-se à bandas de rock, os eventos hoje abrigam músi-cos de qualquer estilo musical. “Os artistas de rap e de reggae, principalmente, tem essa disposição natural de tocar na rua. Com isso, resolvemos agregar outros estilos musicais ao Conexões, que hoje abrange de tudo, da MPB ao punk. Só não pode sertanejo”, brinca Aquino.

Encontros diurnos de temática familiar tam-bém entram, aos poucos, na rotina do cidadão da capital. O “Festival da Boa Vizinhança”, realizado desde o final do ano passado, busca a celebração da relação entre as pessoas do 4º Distrito de Porto Alegre, que compreende bairros da Zona Norte da cidade. Mesas na rua, atrações musicais e bar-raquinhas de comida compõe o cenário do Festi-val, que já contou com três edições. O “Comida de Rua”, que reuniu mais de cem mil pessoas em 2014, acontece regularmente na Cidade Baixa e no Centro Histórico, e oferece foodtrucks e carroci-nhas aos visitantes do evento. O “Me Gusta”, feira de variedades destinada ao artesanato, já chegou a sua oitava edição e reúne cada vez mais partici-pantes.

“A cada evento que acontece aparecem mais pessoas querendo tocar, expor a arte que fazemAquino

26 27

Page 15: Revista Bagual

Três décadas após o fim da dita-dura militar, uma nova disputa ocorre dentro da Câmara Mu-nicipal de Porto Alegre. Desta vez, sobre a aprovação ou não de uma lei que mudaria os no-mes de todas as instituições, equipamentos, logradouros e

espaços públicos do Município - assim como de locais privados de caráter público - que prestam homenagem a governantes, agentes e apoiadores do regime implantado em 1964.

O projeto foi arquitetado pelo vereador Enge-nheiro Comassetto (PT) e está em tramitação. A proposta exibe 77 páginas extraídas do Relatório Final da Comissão Nacional da Verdade (CNV), com nomes ligados à repressão, tortura e morte de opositores do regime.

A CNV foi instalada em 2012 com o objetivo de apurar as violações de direitos humanos pra-ticadas de 1964 e 1988, período entre as duas úl-timas constituições democráticas brasileiras. Fo-ram colhidos mais de mil depoimentos durante o processo, sendo 132 deles de agentes públicos. Na lista do CNV estão presentes cinco presidentes militares da ditadura: Castelo Branco, Costa e Sil-va, Emílio Médici, Ernesto Geisel e João Figueire-do. Também compõem a lista todos os ministros das Forças Armadas do período, generais, almi-rantes, coronéis, médicos legistas, secretários de Estados, chefes de serviços, suboficiais, policiais e diplomatas. Comassetto é enfático ao afirmar que “a cidade de Porto Alegre precisa deixar de home-

Mudar ou não?

Por Leonardo Prodanov

Foto

: Leo

nard

o Pr

odan

ov

Política

Projeto de lei quer acabar com as homenagens aos grandes nomes do regime militar

A cidade de Porto Alegre precisa deixar de homenagear aqueles que estão listados pela Comissão da Verdade.Engenheiro Comasseto

29

Page 16: Revista Bagual

Outro projeto de lei semelhante foi aprovado em outubro do ano passado. O plano de autoria do deputado estadual Pedro Ruas e da vereadora Fernanda Melchionna, ambos do PSOL, mudou o nome da Avenida Castelo Branco para Avenida da Legalidade e da Democracia.

“Nós deixamos de ter a marca da morte, do exílio, da tortura representada pelo nome do ex--presidente Castelo Branco naquele local, para ter a Avenida da Legalidade da Democracia”, afirma Ruas.

Apesar da maior aceitação de todos os verea-dores, os projetos causam polêmica perante o pú-blico. O tenente da reserva Carlos Eduardo Rapo-so, que é formado em história, viveu na época do regime militar. Com mais de 30 anos de serviços prestados, Raposo afirma que “o que os brasileiros esquecem é que havia uma luta, e até certo ponto armada, pelo direcionamento do país com os ide-ais comunistas ou capitalistas, portanto, o mundo estava dividido”. O ex-oficial acredita que a mu-dança de nome das ruas serve para provar que um lado estava certo e o outro errado. “Querem mos-trar que só os militares estavam errados. Na época houve excessos de todos os lados. Trocar de rua não mudará a história verdadeira”, alega Raposo.

Raposo não é o único. A vereadora Mônica Leal (PP) criou um projeto de lei para que não pos-sam ser feitas homenagens a pessoas condenadas por subversão à ordem pública ou de pessoa que participaram de organização terrorista - como o Comando de Libertação Nacional e a Vanguarda Popular Revolucionária. O projeto também está em tramitação na Câmara e tem uma menor acei-tação dos vereadores. Mônica acredita que não se pode apagar a história do Brasil e afirma que fez o projeto para contrapor a proposta de Comassetto.

Incentivados pela mudança de nome da Aveni-da Castelo Branco, os alunos do colégio estadual Presidente Arthur da Costa e Silva, juntamente com os professores da instituição, levaram um pedido para a Associação do Bairro Sarandi para a mudança do nome da escola. A diretora do co-légio, Claudia da Silva Costa, revela que já foram feitas algumas reuniões para mudar o nome da escola. A professora aguarda a resposta da comu-nidade do bairro para levar o pedido à Secretaria de Educação de Porto Alegre. “Eu acho válido a mudança, porque o que todos nós conhecemos do Arthur da Costa e Silva é que ele não foi uma pes-soa muito legal”, relata Cláudia.

Segundo levantamento do jornal Zero Hora, o Rio Grande do Sul conta com pelo menos 78 lo-cais públicos, entre endereços e escolas, que ho-menageiam presidentes da ditadura militar. Ao todo são 33 logradouros e 45 escolas, sendo duas particulares.

Foto

: Leo

nard

o Pr

odan

ov

30

Page 17: Revista Bagual

O papel da mulher na so-ciedade vem mudando com o tempo. O Brasil, historicamente patriar-cal, vê o crescimento de mulheres chefiando as suas famílias. Em 2014, segundo o Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 37,3% dos lares brasileiros eram chefiados por elas. Se-gundo o IBGE, as mulheres negras são as que mais comandam os lares comparadas às brancas, tota-lizando 38,7%. Esses resultados, aparentemente, demonstram a força da mulher. Aparentemente. Apesar de chefiarem a casa e sustentarem famílias inteiras, as mulheres continuam sendo vítimas da violência de maridos, companheiros e familiares homens de uma maneira geral. Em muitos casos, são mortas dentro da casa que mantinham com o seu trabalho.

Segundo o Instituto Avante Brasil – Instituto da Prevenção do Crime e da Violência sem fins lucrativos - mais de 87 mil mulheres morreram no Brasil desde 1980. Hoje, uma mulher morre a cada hora no Brasil. Quase metade desses crimes são cometidos em casos de violência doméstica. Segundo o IBGE, em 2013, a violência cometida contra a mulher foi, majoritariamente, cometida por pessoas conhecidas da vítima.

Pensando na situação atual da violência con-tra a mulher vivida no país, a presidente Dilma Rousseff sancionou no dia 9 de março a Lei do Feminicídio. A lei altera o código penal em caso

Rotina de violência em casa aterroriza

mulheres

Por Letícia Rech

Política

Mudanças na lei do homicídio na tentativa de proteger mulheres vítimas de violência doméstica.

Foto

: Le

tícia

Rec

h

33

Page 18: Revista Bagual

de homicídios. Segundo a nova portaria, o crime cometido contra a mulher em razão da mesma ser do sexo feminino é considerado um agravante. A explicação da condição do termo “razão da con-dição do sexo feminino” se aplica a crimes ligados a violência doméstica ou menosprezo a condição da mulher. Se for praticado durante a gravidez, posterior aos três meses de parto, contra pessoas menores de 14 anos ou maiores de 60, mulheres com deficiência ou na presença de um descenden-te da família da vítima, a pena do autor do crime aumenta.

Muitas opiniões surgiram acerca da aprovação da lei, tanto no âmbito político quanto no âmbi-to jurídico. O advogado criminal Luís Francisco Carvalho Filho é contra a especificação do homi-cídio. Em coluna publicada no jornal Folha de São Paulo, logo após a aprovação da lei, ele se diz con-tra a alteração de lei. Filho acredita que “apesar de bem-intencionada, a lei cria uma distorção”. Para ele, a distorção está em criar um estabelecimento da condição da vítima para a qualificação do ho-micídio. “A lei cria espaço para tornar mais graves crimes praticados contra outros segmentos, como índios, homossexuais e policiais’”, diz.

Além disso, a advogado complementa que a definição do homicídio no código penal já basta. “A lei que estabelece o feminicídio não é adequa-da. O Código Penal já estabelece hipóteses sufi-cientes para a qualificação do homicídio contra a mulher por razões de gênero. A definição do cri-me é perfeita: matar alguém. Isso é independente da ‘condição’ da vítima”, complementa. Para ele, a lei não é necessária e não mudará nada. Filho acredita que o fundamental é atacar o preconcei-to de gênero, que permanecerá sendo combatido pelo poder judicial em relação à mulher.

Leis e punições em casos de violência contra a mulher já existem. Um desses casos é a Lei Maria da Penha. Em vigor desde 2006, a portaria criou mecanismos para coibir a violência doméstica. O diferencial entre as duas é que a Maria da Penha possui penas mais brandas aos agressores, como penas pagas em cestas básicas ou multas. “A lei Maria da Penha contém dispositivos inadequados do ponto de vista processual, mas cumpre uma missão importante no Brasil”, esclarece o advoga-do.

A violência contra a mulher não é novidade em algumas realidades sociais espalhadas pelo país. Entre 2001 e 2011, segundo o Instituto de Pes-quisa Econômica Aplicada (Ipea), 60% das mu-lheres assassinadas eram negras. Para a estudante de Políticas Públicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e voz do movimento negro feminino da universidade Agnes Amaro, a importância da lei do Feminicídio é indiscutível nesses casos: “A mulher negra é oprimida há sécu-los, sofre mais com a violência doméstica em

em função da sua posição social. A lei é impor-tante, pois pode frear esse comportamento opres-sivo”.

Apesar de existir um bom número de políticas públicas preventivas e de uma secretaria na esfera federal de políticas para as mulheres, o que temos, segundo Agnes, não é o bastante. “Precisamos de mais mecanismos para coibir a violência contra a mulher, principalmente negra. O preconceito racial e de gênero é real e está presente em todas as comunidades do Brasil, lugar que grande parte dessas mulheres vivem”, complementa. Os resul-tados da nova lei geram especulação por todos os lados. Enquanto o advogado Luís Francisco Car-

valho Filho entende a lei com caráter populista, a estudante vê um lado positivo na aprovação da nova portaria. “Colocar a mulher em uma posi-ção ‘especial’ nesses casos não é errado, é necessá-rio. Não é só a pobreza e a cor que mata a mulher, é a ignorância junto com o machismo que temos no Brasil”, explica Agnes.

Espera-se que a lei do feminicídio cumpra o seu papel necessário. É preciso ficar atento para que o judiciário aplique de forma necessária a lei. Um bom desempenho na eficácia da portaria pode ser importante para coibir futuros crimes. Todas as medidas devem ser tomadas para que a morte de mulheres tenha um basta.

Não é só a pobreza e a cor que mata a mulher, é a ignorância junto com o machismo que temos no Brasil Agnes Amaro

Foto

: A

lexi

s Si

lva

34 35

Page 19: Revista Bagual

A Proposta de Emenda Cons-titucional (PEC) que busca a redução da maioridade pe-nal de 18 para 16 anos é um tema atualmente bastan-te debatido e polêmico no cenário político brasileiro. Apresentado formalmente

em 1993, a PEC está aguardando a Constituição de Comissão Temporária pela Mesa e o parecer da Deliberação da Comissão Especial, e está dividin-do opiniões no país. Pesquisas apontam que mais de 80% dos brasileiros são favoráveis à mudança. Contudo, é importante atentar para as consequ-ências sociais e implicações jurídicas que a impu-tabilidade penal a partir dos 16 anos representa.

É inegável que essa postura do Brasil vai na contramão com o resto do mundo. 75% dos paí-ses, de acordo com pesquisas vinculadas à ONU, estabelecem a imputabilidade penal em 18 anos ou mais. Alemanha e Espanha, por exemplo, im-plementaram temporariamente a imputabilidade penal aos 16 anos e reverteram a decisão, voltan-do a aplicar a mesma aos 18 anos. Já no Japão, a responsabilidade penal de adultos se dá somente aos 21 anos.

A delegada de polícia Rejane Telles partilha da opinião da maioria dos brasileiros: “Acredito que, alterando a faixa etária de responsabilidade penal, haverá redução nos índices de criminalida-de, consequentemente, ocorrerá a diminuição do aliciamento de jovens no crime organizado e trá-fico de drogas”, explica Rejane. Ela aponta para o aumento da criminalidade praticada por menores de 18 anos nas estatísticas da Segurança Pública e relaciona a aprovação da PEC como uma possível

Redução da

Mariodade Penal divide especialistas

Por Melissa Shen Lee

Foto

: Thi

ago

Picc

oli

Política

37

Page 20: Revista Bagual

forma de combater isso. Contrariamente, o professor do curso de Ciên-

cias Sociais da Universidade Federal do Rio Gran-de do Sul (UFRGS), Alfredo Gugliano, defende que a PEC expressa um grande retrocesso. Além de ir contra os deveres e diretos estabelecidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em última instância, submeter jovens de 16 e 17 anos ao precário sistema carcerário brasileiro conduz à resultados sociais nefastos. Gugliano ressalta tam-bém os efeitos que isso tem para as populações de baixa renda: “No sentido de que a população submetida a essa condição é, majoritariamen-te, masculina, negra e oriunda das periferias das grandes cidades, a redução da maioridade penal tende a colocar, em grande medida, os adolescen-tes negros periféricos nesse ciclo vicioso, condi-cionando-os a uma situação permanente de priva-ção de direitos”, explica. Para ele, a solução passa pela educação e o fortalecimento das instituições voltadas para medidas socioeducativas e projetos de ressocialização, como a Fase no Rio Grande do Sul.

Tratando-se do cenário jurídico, o professor de Criminologia da Faculdade de Direito da Pontifí-cia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Augusto Jobim, defende também uma posição contrária à PEC e desmistifica alguns fa-tos. De acordo com Jobim, no Brasil existe uma concepção equivocada de que esses jovens são responsáveis por grande parte da violência que assola o país.

Cerca de 90% dos crimes cometidos por me-nores infratores são crimes contra o patrimônio (vandalismo, furto, tráfico de pequenas quantida-des de drogas etc.) e não envolvem violência. De forma complementar, partilha-se de uma noção errônea de que os menores infratores não são pu-nidos. As medidas socioeducativas existem jus-tamente para a finalidade de responsabilizar os jovens transgressores da lei. Tem-se, ainda, con-tradições entre os profissionais da área jurídica sobre a viabilidade da implantação da PEC. Al-guns alegam que ela não poderia proceder dado o fato de o tratamento especial conferido à criança e ao adolescente configuraria um artigo funda-mental, portanto uma cláusula pétrea, do texto constitucional. Outros acreditam que a proteção diferenciada não se vincula a uma faixa etária fixa e, portanto, poderia ser alterada.

Para Jobim, a questão central seria absurdo impacto carcerário que isso teria. “Submeter um contingente assombroso de jovens ao mesmo tra-tamento recebido pelos adultos é realmente uma solução?”, questiona o professor. Isso provavel-mente influiria em uma necessidade de expansão do sistema carcerário, o qual provavelmente se daria por meio da privatização dos presídios, visto

Submeter [...] jovens ao mesmo tratamento recebido pelos adultos é realmente uma solução?Augusto Jobim

que o governo carece de recursos para construir novas penitenciárias, e resultaria em um “merca-do prisional”.

Indubitavelmente, a questão é delicada. Nesse sentido, existem variáveis políticas, jurídicas e so-ciais que precisam ser devidamente ponderadas e analisadas antes de qualquer tomada de decisão. O cerne desse debate, em realidade, devia ser o aprimoramento do sistema educacional e não pe-nal.

O real avanço social está atrelado a medidas voltadas para evitar a entrada dos jovens no cri-me e não apenas em formas mais rigorosas de pu-nição. O momento político conturbado enfren-

tado pelo Brasil não é favorável a uma discussão construtiva acerca do assunto, os ânimos da po-pulação estão bastante exaltados e as pessoas se mostram bastante intransigentes. Existe, assim, a demanda por um uso mais consciente da demo-cracia e dos aparatos estatais na tentativa de pro-mover algum tipo de concenso acerca do assunto ou alguma medida que conjulgue melhor as dife-rentes vertentes de pensamento e que atenda às questões preventivas em detrimento de um foco puramente punitivo.

O presidente da Fase, Robson Luis Zinn, foi contatado pela reportagem e não respondeu a tempo do fechamento dessa edição.

Foto

: Vic

tor

Cas

ale

38 39

Page 21: Revista Bagual

Poupar sem poupança

Investimento mais popular do Brasil perde credibilidade com o brasileiro e sofre com o difícil cenário econômico mundial

Por Diego Rodrigues

Economia

A caderneta de poupança é o investi-mento mais popular que os bancos brasileiros oferecem aos seus clien-tes. Fácil de fazer e rápido de aplicar, a caderneta sempre foi um dos pro-

dutos mais procurados nos bancos. Para fazer uma, é só levar documento de iden-

tidade válido e um comprovante de endereço atualizado. Deixando o valor parado por 30 dias,

ele rende em média de 0,5%. Na década de 80, os comerciais de televisão vendiam a caderneta de poupança como a resolução de todos os proble-mas dos brasileiros.

Era com ela que os clientes podiam economi-zar dinheiro e comprar o carro do ano, a faculda-de para os filhos ou fazer a viagem dos sonhos. Nos tempos atuais, porém, o cenário é mais pes-simista.

Em 2012, em decisão histórica, o Comitê de Política Monetária (COPOM) aprovou a redução da taxa SELIC. A taxa é responsável por regular a economia do Brasil. Ela começou em 10,40% ao ano e terminou em 7,14% ao ano. Isso influenciou uma mudança drástica nas regras da poupança. Se antes o rendimento da poupança era fixado em 0,5% ao mês mais a taxa referencial, calculada diariamente, a nova regra atrela o rendimento da aplicação à taxa SELIC. Se a taxa tiver em 8,5% ou menos, a poupança rende 70% da SELIC e, quan-do a taxa tive acima, volta o rendimento antigo.

Os bancos atuais entendem que a Economia não está mais propícia para investir em poupan-ça. A inflação acumulada dos últimos 12 meses está em 8,47% contra o rendimento médio de 6% ao ano da poupança. Como a inflação refle-te a variação dos preços, a aplicação não rende o suficiente para lidar com o aumento dos pre-ços do país. Para o economista Sergio Vagner, apesar de a poupança ainda ser um investimen-to abaixo dos que o mercado pode oferecer, tem uma importância social maior do que se imagina. “Muitos bancos utilizam os recursos provenientes da poupança para investir em outros produtos, como crédito e fomento”, explica.

Em maio, a Caixa Econômica Federal aplicou cortes nas operações de habitação. Um dos maiores motivos foi a retirada histórica de valores da poupança no mês de março deste ano. O valor de saque de R$ 11,438 bilhões foi o maior desde 1995, que antes registrava o pior trimestre história do investimento no Brasil. No entanto, a Caixa destina os recursos da aplicação para o setor habitacional, tendo como consequência a redução de orçamento para as cartas de crédito imobiliário.

O funcionário da Caixa Fernando Roveda in-formou que um número elevado de clientes sacou os valores da poupança para investir em

outros tipos de investimentos, como fundos de renda fixa e letras de câmbio. “Em março, muitos clientes também ficaram assustados com as men-sagens divulgadas de que o governo confiscaria os valores das contas poupança”, disse Roveda. O fato a qual ele está se referindo são as várias mensagens espalhadas nas redes sociais de que o governo confiscaria os valores, como aconteceu quando o presidente Collor criou uma série de medidas que eclodiria no confisco.

Apesar do Ministério da Fazenda ter di-vulgado uma nota desmentindo os boatos, Ro-veda destacou que muitos clientes nem mesmo mudaram de investimentos, deixaram parados na conta corrente. Os outros bancos se aproveitaram da situação. O banco Safra, por exemplo, deci-diu por fazer criar os seus anúncios publicitários incentivando os clientes a migrarem os valores da poupança para outros investimentos como o CDB. Responsável por monitorar as contas de in-vestimentos dos clientes do banco Safra em Porto Alegre, Rodrigo Gonzalez vê com otimismo a mi-gração da poupança para outras aplicações. “Até pouco tempo atrás, os clientes viam com descon-fiança os outros tipos de investimentos, até pela questão da incidência de Imposto de Renda. Ago-ra está cada vez mais fácil de incentivar os clien-tes a aplicarem em outros tipos de investimentos”, disse.

Os saques da poupança, porém, podem ter um reflexo ainda pior no mercado financei-ro. “O perigo de a Caixa, por exemplo, alterar algumas regras do setor habitacional é o de so-brecarregar os outros bancos”, explica Vagner. Ele argumenta de que para financiar a habitação, os bancos necessitam retirar os recursos de algum fundo. Para o economista, é questão de tempo para que outras medidas de restrição sejam ado-tadas pelas instituições financeiras.

A perda de credibilidade da poupança refle-te a mudança de comportamento do brasileiro. “Está cada vez mais difícil para o cidadão con-seguir guardar dinheiro e, quando tem, ele quer um rendimento melhor”, argumenta Vagner. Ele ainda ressalta que um dos grandes motivos dos saques foi o aumento das dívidas da população. “A abertura de crédito fácil ao brasileiro deixou ele endividado com tudo que é banco. É natural que ele pegue os valores da poupança”, justifica.

Não se sabe quando a poupança deixou de ter crédito com a população nem se o patrimônio da carteira da aplicação vai recuperar as perdas de março. O fato é que, no cenário econômico atual, os brasileiros precisam pensar menos em crédito e mais em poupar, com ou sem poupança.

“Está cada vez mais difícil para o cidadão guardar dinheiro.Sergio Vagner

40 41

Foto

: Die

go R

odrig

ues

Page 22: Revista Bagual

E Em 2014 o estado de São Paulo enfrentou a maior crise hídrica dos últimos 80 anos no país. Milhares de ban-deirantes foram vítimas do problema que só foi solucio-nado (provisoriamente) com o uso do volume morto, que

fica embaixo da reserva da Cantareira e contem 300 bilhões de litros d’água. O Sistema Cantarei-ra, implantado completamente em 1978 é um dos maiores do mundo. Composto por 6 represas (Re-presas de Paiva Castro, Águas Claras, Cachoeira, Atibainha, Jaguari e Jacareí) interligadas foi feito para abastecer 8,8 milhões de paulistanos. Hoje, mais de 11 milhões de pessoas utilizam o sistema.

Um dos motivos apontados para a situação é a falta de investimentos e a perca de volume de água entre tratamento e consumo. Já em 2004, quando foi renovada a concessão para a Companhia de Sa-neamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) responsável pela Cantareira, o sistema estava so-brecarregado. E nenhuma obra para o aumento de coleta foi feita. Estima-se que 30% das águas que saem das reservas não chegam ao seu destino.

No Rio Grande do Sul não é diferente, embora o estado tenha uma das maiores disponibilidades hídricas do país contando com 18% do Aquífero Guarani em seu território. Dados divulgados em carta de conjuntura pela Fundação de Economia e Estatística (FEE) apenas 31% do esgoto é coletado e destes só 12,6% é tratado.

A crise hídrica no

Rio Grande Por Tarcila Mendes

Foto

: Rod

rigo

Bert

olin

o

Economia

43

Page 23: Revista Bagual

e destes só 12,6% é tratado. O artigo ressalva ain-da que 78% das águas do estado são utilizadas em plantações e lavouras, o que favorece a perda. Três dos dez rios mais poluídos do Brasil estão em solo gaúcho (Sinos, Gravataí e Caí) e juntos abastecem 1,5 milhão de pessoas. Para a Agencia Nacional de Águas (ANA) o estado está entre as áreas prioritá-rias de ação do Programa de Desenvolvimento do Setor Água (Interáguas).

Também em 2014, o Tribunal de Contas do Es-tado (TCE) lançou um relatório apontando a falta de investimentos pela Companhia Rio Grandense de Abastecimento e Saneamento (Corsan) para captação e fornecimento de água como um dos motivos para uma possível crise hídrica no esta-do. Só no último verão mais de 100 mil pessoas sofreram com a falta de abastecimento.

O documento constatou que o sistema de abas-tecimento das cidades de Gravataí e Cachoeirinha está saturado. E informa que a empresa só tomou providencias após o agravamento dos problemas que ocorreram em 2014, quando a população pas-sou por mais de dez dias sem água.

Ainda conforme a publicação houve insufici-ência nas soluções a longo prazo e nenhuma efici-ência na troca das redes antigas por novas. Con-forme o ranking de saneamento do Instituto Trata Brasil os municípios de Gravataí, Canoas e Santa Maria, tratados pela Corsan, estão entre as cida-des com pior sistema de água e esgoto.

O prefeito de Gravataí, Marco Alba, anunciou em coletiva, realizada em maio, que irá romper o contrato com a companhia. Segundo o governan-te a empresa investe 4,5 milhões na cidade e levará mais de 100 anos para atender a demanda confor-me o Plano de Saneamento. “O morador de Gra-vataí não pode esperar mais de 10 anos por um serviço baixo”, disse. Um documento feito pela prefeitura revela que só 25% do esgoto da cidade é coletado e desses 15% é tratado. A concessão para a Companhia deveria romper em 2034, após 25 anos de concessão.

“Um quarto da população residente na cidade não é atendida pela Corsan”, ressaltou. Isso signi-fica que em torno de 100 mil pessoas não recebem este serviço e nem tem previsão para receber, fina-lizou alba. O Plano de Saneamento do município prevê a meta de R$ 550 milhões em investimen-tos, destes R$ 150 milhões devem ser implanta-dos ainda nos primeiros quatro anos de concessão para a nova empresa.

O balanço social divulgado pela Companhia relata que 4,4 bilhões entre recursos próprios e Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foram investidos nos 320 municípios de conces-são. E que deve ampliar de 15% para 50% a cober-tura de tratamento de esgoto no estado.

Foto

: Lui

z G

adel

ha

44

Page 24: Revista Bagual

O clima do verão trouxe a expectativa de uma das maiores colheitas de soja no Rio Grande do Sul, pois o alto índice de chuva favoreceu o desenvolvimento da planta. Po-rém, o ataque da ferrugem asiática, conhecida como ferrugem da soja, que é causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizie, assustou os produtores.

Conforme o agrônomo Rodrigo Almeida, a ferrugem na soja foi relatada pela primeira vez no Brasil no ano de 2001, no estado do Paraná e no decorrer dos anos se alastrou por todos os estados produtores de soja. “O fungo produz esporos cha-mados uredosporos, que são disseminados pelo vento a quilômetros de distância, o que lhe con-fere rápida distribuição e infecção de novas áreas sojícolas”, explicou o agrônomo.

De acordo com o material disponibilizado pela Embrapa, além das condições ambientais que podem prejudicar a plantação, durante todo seu ciclo a soja tem sido atacada por diversas pragas, porém apenas dez causam prejuízos, as demais são consideradas de valor secundário. A ferrugem vem sendo uma das doenças de maior importân-cia da cultura da soja na atualidade, pelo grande potencial de perdas na produtividade.

Para evitar perdas de valores significativos, de acordo com Almeida, foram utilizadas duas estra-tégias: uso de cultivares resistentes e aplicação de fungicidas. “Nas lavouras semeadas com cultiva-res resistentes, a doença apresentou menor inten-sidade do que em cultivares suscetíveis.Para evitar perdas de valores significativos, de acordo com Almeida, foram utilizadas duas estra-tégias: uso de cultivares resistentes e aplicação de fungicidas. “Nas lavouras semeadas com cultiva-res resistentes, a doença apresentou menor inten-sidade do que em cultivares suscetíveis. No caso

Ferrugem na soja afeta produção no RS

Por Bibiana Fantinel

Foto

: Rod

rigo

Alm

eida

/arq

uivo

pess

oal

Rural

Apesar dos prejuízos, a safra 2014/2015 apresentou resultados positivos

47

Page 25: Revista Bagual

dos fungicidas, foram usados vários ingredientes ativos tendo grande variabilidade de controle en-tre eles. Como a safra 2014/2015 teve condições climáticas extremamente favorável ao desenvolvi-mento da doença , a escolha e os momentos de aplicação dos fungicidas foram decisivos para manter uma boa sanidade das plantas e alcançar altas produtividades”, explicou Almeida.

Almeida destacou ainda que as lavouras seme-adas com cultivares resistentes exigiram menos aplicações de fungicidas, por apresentarem menor intensidade da doença. Desta forma o custo com fungicidas foi menor, influenciando positivamen-te no custo e resultados de produção da lavoura. Já o controle em lavouras semeadas com cultivares suscetíveis foi baseado na aplicação de fungicidas. Estes tiveram eficiências variáveis que incorreram em diferentes níveis de controle, resultando em diferentes produtividades.

Apesar da diminuição do número de sacas em grande parte do Rio Grande do Sul, na colheita de 2015, conforme o Informativo Conjuntural divul-gado pela Emater-RS, o Rio Grande do Sul colheu uma safra recorde de soja. Com 98% da área co-lhida, o estado atingiu o volume histórico de 15,19 milhões de toneladas. Mesmo com o início do plantio preocupante, este saldo positivo ocorreu após o retorno de um clima favorável que permi-tiu a retomada de um bom processo de semeadura em todas as regiões, exceto no Sul do estado, onde a falta de chuvas mais abundantes no final do ciclo da soja a produção.

Em Tupanciretã, conhecida como a capital da soja, o resultado da colheita, segundo o produtor Antônio Carlos Malheiros, foi bastante variada: “A expectativa era uma produtividade de até 70 sacas por hectare (4200 kg/hectare), levando em consideração as condições climáticas que predo-minaram durante o desenvolvimento da cultura. O resultado foi muito variável, houve relatos de produtividades bem abaixo desse nível e produti-vidades até superiores a 70 saca por hectare”, re-latou Malheiros.

Em relação a compra e venda do grão, o Con-

sultor de Mercado da empresa Safras & Merca-dos, Luiz Fernando Gutierrez Roque, afirma que a soja continua sendo uma boa opção para os produtores, pois gera uma melhor remuneração se comparada a outros grãos, apesar de apresen-tar uma tendência de preço médio mais baixo em relação a anos anteriores. Além disso, Roque destacou que o dólar será um aliado do produtor brasileiro, devendo ser fator de sustentação dos preços, já que o mercado trabalha dentro de um consenso de uma maior desvalorização do real frente ao dólar ao longo de 2015.

A escolha e os momentos de aplicação dos fungicidas foram decisivos para manter uma boa sanidade das plantas e alcançar altas produtividadesRodrigo Almeida

Foto

: Rod

rigo

Alm

eida

/arq

uivo

pess

oal

Algumas propriedades de Tupanciretã superaram as expectativas para a colhei-

ta 2015.

48 49

Page 26: Revista Bagual

Pelotão Esperança beneficia crianças da fronteira

Vários alunos participam de atividades no turno integral ao das aulas

Por João Pedro Lindemann

Foto

: Dav

e C

atch

pole

Desenvolvido em parceria entre a Prefeitura Muni-cipal de Bagé e o Exército Nacional, o Projeto Pelotão Esperança beneficia estu-dantes entre 11 e 14 anos em situação econômica difícil. As atividades so-

ciais de integração acontecem no turno inverso às aulas, além disso, os jovens recebem apoio com materiais como uniformes, material escolar, entre outras necessidades.

Essas crianças seguem uma disciplina rígida. Para o aluno do 7º ano da Escola Estadual de En-sino Fundamental São Judas Tadeu, Iuri da Rosa, a mudança se reflete no amadurecimento pessoal. “Antes eu era bem mais atirado, agora eu sou mais comportado. Mudei da água para o vinho”, afirma. As atividades extracurriculares são ministradas pelos próprios professores das escolas estaduais da cidade. Para a coordenadora pedagógica da escola São Judas Tadeu, Maristela Macedo, o resultado é notável até no desempenho escolar. “Os alunos passam por uma fase inicial que é a de aprender a se auto impor regras e limites, e isso reflete dire-tamente no desempenho deles, nas próprias disci-plinas obrigatórias do currículo escolar. Uma vez que eles aprendem a se disciplinar, eles criam tam-bém um momento para o estudo dentro de casa”.

O resultado também é gratificante para as famílias, que se sentem confiantes com o projeto dando certo. “A gente fica sem palavras de grati-dão a eles pelo que eles estão fazendo não só pelo meu filho, mas por todas as crianças que estão lá”, afirma Elisângela Resende da Rosa, mãe de Iuri, que já participa do Pelotão Esperança desde o ano passado.

A música também é objeto de aprendiza-do dessas crianças e que coordenadas pelo Sargen-to Telmo Gomes, aprendem diferentes formas de se expressar através da arte. “Uma das coisas que mais realiza a gente aqui no projeto é o retorno, as respostas que os alunos dão, e a gente vê essa

resposta através do retorno que os pais nos dão”, afirma. Além disso, os estudantes aprendem lições militares de patriotismo e respeito aos colegas.

Mas não é apenas o patriotismo que pre-valece no Pelotão da região da fronteira do Rio Grande do Sul. Atividades regionalistas não po-deriam faltar na cidade dos pampas. Uma vez ao mês, durante a noite, os alunos que participam do Projeto Pelotão Esperança, em um momento de descontração e integração com os demais, têm a oportunidade de assistir a um show de danças tra-dicionalistas. O último evento que aconteceu no mês de maio contou com um público de aproxi-madamente 4 mil pessoas no ginásio Presidente Médici, que na cidade é conhecido carinhosa-mente como Militão. Durante a apresentação, os estudantes participaram de oficinas com diversas atividades que tinham o objetivo de entender me-lhor a tradição gaúcha, principalmente na região da fronteira.

Também são oferecidas no projeto, ativi-dades que visam identificar quais as habilidades profissionais dos alunos e quais são suas áreas de maior aptidão. Oficinas de matemática, artes e lín-gua portuguesa são os principais destaques. Uma oportunidade única que pode transformar a vida de quem participa com empenho e dedicação na tentativa de se descobrir através das atividades propostas.

Não são poupados esforços da equipe de pe-dagogos e coordenadores para que o projeto dê certo. Ao longo dos últimos anos, o Pelotão Espe-rança tem se tornado cada vez mais famoso na re-gião da fronteira. Essa visibiliade é fator decisivo na formação da vida das crianças e adolescentes engajados em atingir bons resultados. A previsão para os próximos anos é positiva. Basta olhar para o passado e ver o que já conseguiu em tão pou-co tempo. O sucesso é fruto da dedicação de cada um que participa. Todos têm papel importante no desenvolvimento do Pelotão Esperança. O projeto existe há mais de uma década e já formou cerca de 600 crianças apenas em Bagé.

Rural

51

Page 27: Revista Bagual

Com a economia aquecida e contemplando um ce-nário favorável atualmen-te, o mercado equestre se mantém estável em to-dos seus segmentos – re-produção, sela e esporte. Contrariando o bairrismo

dos gaúchos, a indústria equina mais desenvolvi-da do mundo é a americana. Entretanto, o seg-mento não perdeu suas origens e vem crescendo constantemente no Rio Grande do Sul. Histori-camente, o Cavalo Crioulo foi de grande impor-tância para a América do Sul. Em especial, para o Brasil. A raça chegou ao extremo sul do país no século XVI, originando-se através dos países vizinhos. Por sua introdução não ter sido causada pelo uso militar, acabou destacando-se somente mais tarde, na segunda metade do século XVIII, com a indústria do charque. A padronização da raça ocorreu em 1931, com alguns criadores no estado, um ano antes da criação da associação dos criadores da raça.

Nos últimos anos, sua relevância tem aumen-tado devido à grande expansão de quantidade e qualidade do plantel. Espalhados por todos os es-tados do Brasil, o Cavalo Crioulo ganhou o país, crescendo mais de 7% em 2014. Atualmente, são mais de 380 animais da raça habitando o territó-rio nacional, segundo a Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC). A ins-tituição foi fundada em 1932 com o objetivo de reerguer e padronizar o cavalo crioulo. Logo, seus fundadores começaram a fomentar o objetivo de constituir uma entidade dedicada exclusivamente à raça. A ABCCC reúne os criadores e organiza provas e eventos de integração e troca de expe-riências, defendendo os interesses do setor que atua nas esferas políticas.

Segundo a associação, a criação nacional de equinos é desenvolvida predominantemente em áreas próprias. Ainda de acordo com a entidade, a criação de cavalos crioulos geralmente é ativida-

de secundária na vida dos criadores. Em geral, os seus proprietários são profissionais com ativida-de principal desenvolvida no setor urbano, bem como médicos, advogados, empresários, entre outros. Portanto, o percentual de criadores que residem na propriedade onde ficam os cavalos é baixo. Rodrigo Garcia Simch, que atua como ge-rente comercial em Porto Alegre, é um exemplo disto. Natural de Alegrete, nunca deixou de ter contato com o campo. Aos 39 anos, administra, de longe, sua cabanha. Apaixonado pelo assunto, afirmou que assim que começou a criação, a par-ticipação em provas funcionais e morfológicas foi automática.

Simch acredita que o motivo pelo qual con-tinua desenvolvendo a atividade de criador é o amor pela raça crioula. Com uma rotina de tra-balho cansativa na capital porto-alegrense, o cria-dor vai a Alegrete todos os finais de semana para checar de perto os animais. Quando questionado em relação aos gastos da criação, salienta: “O que realmente importa para mim é manter a tradição familiar e continuar prosperando a raça”.

Segundo Simch, o investimento não é a única alternativa apresentada, além da venda de ser-viços, a atividade destaca-se pela alta competiti-vidade da raça, que possui seu forte em provas como o conhecido Freio de Ouro, por exemplo. “Possuir um cavalo premiado é sinônimo de destaque não somente para o animal, mas para o criador, além de satisfação pessoal”, destacou. De acordo com ele, é satisfatório chegar a um re-sultado positivo em uma competição de destaque e perceber a importância do tempo que dedicou à atividade. “Para quem ama o que faz, vencer é praticamente uma forma de alimentar o ego”, de-clarou.

Além da paixão, o criador da raça precisa en-xergar o cenário como uma atividade conside-rada fator impulsionador para o crescimento e desenvolvimento do setor, uma vez que a função exige desafios que não permitem encará-la ape-nas como hobby, mas sim como negócio.

Espalhados por todos os estados do Brasil, o cavalo crioulo ganhou o país, crescendo mais de 7% em 2014

Por Mariana Ramos

Foto

: Gab

riel L

uz

Rural

Cavalo Crioulo: paixão, lazer e investimento

53

Page 28: Revista Bagual

O município de Charque-adas está há apenas 57 km de Porto Alegre, e uma das marcas da ci-dade é a presença de penitenciárias. O com-plexo de Charqueadas possui seis presídios -

Instituto Penal Escola Profissionalizante de Char-queadas (IPEP), Penitenciária Estadual de Char-queadas (PEC), Penitenciária de Média Segurança de Charqueadas (antiga PASC), Penitenciária Es-tadual do Jacuí (PEJ), Penitenciária Modulada e Colônia Penal Agrícola.

A antiga PASC, já contou com crimes saindo de dentro dela, acesso à internet, grades já foram serradas e a serra sequer foi localizada, e inúmeras fugas. Fora casos como estes que fizeram com que a penitenciária fosse rebaixada de alta segurança para média segurança. E, com isso, a rotina da comunidade que vive ao redor desse complexo é afetada.

Roberto da Silva, é frentista no Posto Ipiranga que fica ao lado da entrada para as penitenciárias, e afirma que todo dia que vai trabalhar tem pensa se vai conseguir voltar para casa. “Já teve um caso de um preso que fugiu e veio para aqui no posto, estamos bem na beira da penitenciária, e esse que fugiu acabou sequestrando e matando o antigo gerente. O problema é que aqui pro lado tem mui-to mato, é fácil deles fugirem e se esconderem, e nós ficamos expostos, todo dia eu venho trabalhar com receio. ”, contou ele.

O delegado da Polícia Civil de Charqueadas, Rodrigo Reis, diz que entende o medo diário dos moradores, pois a criminalidade está crescendo muito no município, e afirma que nos últimos anos vários crimes que assustaram a comunidade.

Do lado de fora das grades

Polícia

Todos sabem como é a vida dentro dos presídios, mas a realiadade de quem vive ao redor também não é fácil

Por Carolina Weber

Fachada da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas,

que foi rebaixada para média no ínicio desse ano

Foto

: Div

ulga

ção

Suse

pe

55

Page 29: Revista Bagual

abertas. Agora que elas estã começando a ficar mais ligadas, porque é algo que vem crescendo principalmente nos últimos dez anos”, contou Schalmes.

Jamila Vergara é proprietária de uma loja no centro de São Jerônimo, e já sofreu com assaltos mais de uma vez. “Acredito que o comércio sem-pre seja alvo, mas n tenho receio, pois se não não teria porque manter as portas abertas e estar com medo, temos é que ser mais cuidadosos e prestar mais atenção, pois normalmente eles ficam cui-dando antes.”, afirmou.

O delegado Marco Schalmes acredita que as penitenciárias em Charqueadas podem refletir

em São Jerônimo também, mas não de forma di-reta. “Às vezes familiares ou conhecidos do preso podem ser membros da mesma quadrilha. Daí vão lá visitar, acabam passando pela nossa cidade, e olham locais que tem possibilidade de vir assal-tar, nesse sentido que eu vejo que possa afetar. ”, afirmou.

Schalmes diz que o que ele vê como maior problema é que não acontece uma inserção dos apenados de volta a sociedade. “Do jeito que tá hoje a situação dos presídios, eles saem de lá pior que entraram. Então isso acaba afetando quem mora ao redor, que é para onde esses caras vol-tam depois que são soltos”, desabafou o delegado.

O Presídio Municipal de São Jerô-nimo teve toda sua fachada refor-

mada no mês de maio

“Aqui nós temos um alto índice de tráfico, a ação da polícia está muito forte, estamos conseguindo prender os principais líderes, mas todo traficante preso, acaba deixando algum amigo ou parente na comunidade, que as vezes pode ser criminoso também”, falou o delegado.

Reis diz que afirmar que o aumento da crimi-nalidade está diretamente ligado às penitenciárias é errado, mas que isto é um fator no aumento da violência no município sim. “Não podemos igno-rar as diversas fugas que já tivemos aqui, e tam-bém tem a questão de conhecidos e até colegas de gangue que visitam os apenados e acabam ficando por aqui. ”, afirmou.

O delegado conta que a polícia está tomando medidas para conter esse aumento da criminali-dade na cidade, mas diz que é uma questão que leva tempo: “Vamos trabalhar para coibir estas ações. Os criminosos acham que ficarão impunes, mas as polícias estão atentas”, emendou Reis.

Há uma distância de 9 km de Charqueadas, está São Jerônimo. As penitenciárias também refletem no município vizinho, mas de uma ma-neira indireta. Além da proximidade com o com-plexo de penitenciárias de Charqueadas, a cidade conta com o Presídio Municipal de São Jerônimo, que tem hoje cerca de cem presidiários.

O Delegado da Polícia Civil de São Jerônimo, Marco Aurélio Schalmes, afirma que a existência do presídio na cidade tem grande influência no cotidiano da comunidade, mas tanto positiva-mente quanto negativamente. “Os pontos positi-vos que eu vejo é a geração de empregos, direta e indiretamente, a existência de mais agentes de se-gurança pública na cidade e a facilitação que nós temos na relação com o poder judiciário. Porém, com o presídio na comunidade, possibilita com que delinquentes, ou conhecidos destes tenham conhecimento da região, podendo encontrar pos-sibilidades de fácil assalto. ”, contou.

A criminalidade no município não tem tido um aumento exagerado, de 2007 para cá foi obser-vado uma estabilidade. Em 2014, o alvo principal de furtos foram as residências. Este ano, o alvo é mesclado, tanto comércio quanto residência. Po-rém os moradores vivem um medo diário, pois a cidade não possui um histórico violento. Esta preocupação é algo recente para a população que estava acostumada com a vida calma do interior. O delegado acredita que esse pensamento de que a cidade é tranquila é um fator que influenciou o crescimento da violência. “As pessoas não tinham receio ao sair nas ruas, deixavam janelas e portas

Do jeito que está hoje a situação dos presídios, eles saem de lá pior que entraram.Delegado Marco Schalmes

Reflexo na vizinhança

Foto

: Car

olin

a W

eber

56 57

Page 30: Revista Bagual

O Rio Grande do Sul contabiliza um ataque a banco a cada dois dias no ano de 2015. Desde janeiro foram registrados 99 casos no estado, sendo a maio-ria em cidades do inte-

rior, onde o contingente da segurança pública é menor. O ano de 2014 já havia sido o que mais teve ataques desde 2009. Foram 193 casos, mas, se a média dos primeiros cinco meses de 2015 for mantida, o Rio Grande do Sul deverá fechar com mais de 220 furtos.

Os ataques a caixas eletrônicos entraram 2015 em ritmo alucinante. Somente no feriadão de carnaval (entre 14 e 17 de fevereiro), ocorreram sete casos em seis cidades. Foram arrombamen-tos na capital, em Novo Hamburgo, um furto com maçarico em Taquara e tentativas em Paro-bé e Cachoeirinha.

Em Vale Verde, no Vale do Rio Pardo, uma quadrilha explodiu a agência do Banrisul e ten-tou dinamitar a do Sicredi. Em 1° de março,

ocorreram explosões em agências do Banco do Brasil e do Banrisul de Barão, no Vale do Caí. Em 20 de Dezembro do ano passado, a mesma agência do Banrisul, em Barão, já havia sido alvo de explosivos. Entre os dias cinco e oito, do mes-mo mês de março, quadrilhas arrombaram com maçaricos bancos em Planalto, Jaguarão, Ivoti, Riozinho, Guaíba e Santo Antônio da Patrulha e explosivos em Picada Café.

O que está por trás da ofensiva que, embora seja menor do que nos vizinhos Santa Catarina e Paraná, é igualmente preocupante? Por que essa modalidade de ataque se tornou rotina em solo gaúcho? Das entrevistas, algumas delas sob a condição do anonimato, surge uma constatação: os ataques proliferam no esteio de uma combina-ção de falhas. Entre elas, sistemas de segurança defasados, falta de efetivo policial e descontrole sobre explosivos.

Os estabelecimentos bancários são obri-gados (por determinação de legislação fe-deral) a submeter à Polícia Federal um pla-no de segurança para que possam funcionar. Os estabelecimentos bancários são obrigados

Roubos a caixas eletrônicos tem

aumento significativo em 2015

Por Lucas Figueiró

Polícia

Agência do Banrisul após um arrombamento no

caixa eletrtônico

Foto: Divulgação/Policia C

ívil

O Rio Grande do Sul contabiliza um ataque a banco a cada dois dias no ano de 2015. Desde janeiro, foram registrados 99 casos no esta-

do, sendo a maioria em cidades do interior

59

Page 31: Revista Bagual

(por determinação de legislação federal) a subme-ter à Polícia Federal um plano de segurança para que possam funcionar. Assim, observando-se o que é exigido pela legislação, cada instituição fi-nanceira determina os padrões de segurança para suas agências de acordo com as características de sua rede de atendimento.

Outra questão fundamental, ao eleger peque-nas cidades como alvo, as quadrilhas buscam um menor poder de reação da Brigada Militar e da Polícia Civil do que encontrariam na Região Me-tropolitana, onde forças policiais conseguem se articular com maior facilidade. Na maioria dos ataques, o efetivo da BM na cidade era inferior a cinco homens. Supondo três turnos de oito horas, quatro homens armados já teriam supremacia numérica durante um eventual confronto. Impor-tante também ressaltar, apesar das apreensões de dinamites e cordéis detonantes pelos organismos policiais e militares, o uso de explosivos por as-saltantes continua a preocupar as autoridades da Segurança Pública em todo o país. No Rio Gran-de do Sul, as quadrilhas têm utilizado cerca de 250 gramas — cerca de um quarto do peso total de uma banana de C3 — para mandar pelos ares agências inteiras. As pistas sobre a origem dos ex-plosivos não levam à fronteira, mas ao paiol de mineradoras. As atividades envolvendo fabrica-ção, importação, exportação, armazenamento, co-mércio e uso de explosivos são monitoradas pelo Serviço de Fiscalização de Produtos Controlados do Exército Brasileiro.

A questão é tão preocupante que policiais civis e militares de todo o Brasil, além de integrantes do exército, vem discutindo medidas de repressão desde o ano passado, em reuniões periódicas em Brasília. Uma das propostas é alterar o Código Penal, equiparando a pena de furto com o uso de explosivos à punição por roubo. Outra sugestão prevê criação de lei especifica para este tipo de cri-me e regras mais rígidas para quem armazena e trabalha com explosivos.

Hoje, segundo o delegado Joel Wagner da De-legacia de Repressão a Roubos e Extorsões do DEIC, acredita que grande parte das pessoas pre-sas desde 2013, esteja solta, e quem é preso com dinamite responde por porte ilegal de arma por uso restrito, com penas entre três e seis anos de prisão.

A punição para roubo varia de quatro 15 anos de prisão. E os ataques a caixas eletrônicos são en-quadrados como furto qualificado (chamado de arrombamento), porque não há ameaças a pesso-

cadeia. Se vier a ser condenado, o criminoso in-gressa no regime semiaberto. Como não há uni-dades com vaga, os apenados acabam voltando para casa, com tornozeleiras eletrônicas ou em prisão domiciliar, o que, na prática, pouco difere da liberdade absoluta.

Apesar das dificuldades e incessantes investi-gações, na tarde da última quarta-feira (10/06), cinco pessoas suspeitas de assalto a banco no Es-tado foram presas pelo DEIC. Com eles foram apreendidos quatro fuzis, três pistolas, um revól-ver, toucas ninjas, explosivos e coletes balísticos, além de duas camisetas da Polícia Civil. O bando estava sendo investigado há cerca de um ano. Os suspeitos estavam em uma casa alugada pelo gru-po no bairro São Cristóvão, em Caxias.

Quando os policiais chegaram no local, por volta das 13h, oito homens estavam na residência. Segundo o delegado Wagner, todos eram suspei-tos de ataques a bancos da região neste ano e se preparavam para roubar um carro-forte naquela quarta-feira. “Existe a suspeita de que o mesmo

grupo seja responsável pelos ataques simultâne-os ao Banco do Brasil e Banrisul, no bairro Ana Rech, em Caxias, ocorrido no dia 8 de maio”, con-tou o delegado. Os presos foram conduzidos para a Defrec de Caxias do Sul, onde foram autuados em flagrante. Após os procedimentos, os presos foram conduzidos ao sistema penitenciário. Ou-tra quadrilha já havia sido desarticulada no início do mês de maio, quando os suspeitos foram cap-turados em um sítio em Nova Hartz.

Os bancos garantem investir em tecnologia para dificultar a ação das quadrilhas, consideran-do que os prejuízos com arrombamentos causam extrema preocupação. “A Associação dos Bancos no RS (Asbancos), afirma que tem estudado alter-nativas junto a Secretaria de Segurança Pública e acompanha as diretrizes da FEBRABAN”, relata César Borges de Borges, Coordenador da Comis-são de Segurança Bancária junto à Asbancos.

Existe a suspeita que o grupo seja responsável por ataques simultâneos a bancos em CaxiasJoel Wagner

Foto

: Div

ulga

ção/

Pol

icia

Cív

il

Armas utilizadas pelos assaltantes na tentativa de furto em

caixas eletrônicos

Alvo fácil

Medidas de prevensão

60 61

Page 32: Revista Bagual

No lugar das tradicionais tele-entregas de pizzas, xis e pastéis, drogas das mais pesadas. É assim que criminosos de Porto Ale-gre espalham seus entor-pecentes para um público formado principalmente

por jovens de alto poder aquisitivo. Este sistema vem sendo combatido desde o começo de 2015 pela 1ª Delegacia de Investigação do Narcotráfico (1ª DIN) do Departamento Estadual de Investi-gações do Narcotráfico (Denarc) de Porto Ale-gre. Chamada de Operação Vip, a investigação já prendeu 11 pessoas no município.

A operação foi desencadeada após o Denarc receber denúncias de populares sobre uma su-posta tele-entrega de drogas na Zona Norte de Porto Alegre. As investigações policiais consta-taram um serviço personalizado oferecido pelos traficantes, onde uma série de entorpecentes de qualidade eram vendidos para usuários de alto nível econômico da Capital. Conforme o dele-gado Mário Souza, da 1ª DIN, “na maioria dos casos, os traficantes prometem aos clientes uma droga melhor, mas com preço mais elevado. Com serviço diferenciado, buscam atiçar jovens de maior poder aquisitivo da região”.

As investigações da polícia se baseiam na técnica de grampo telefônico, onde os agentes policiais utilizam escutas para gravar todas as conversas registradas no aparelho grampeado. Entretanto, de acordo com Souza, a técnica não é tão simples de ser aplicada, tendo em vista que os criminosos utilizam códigos e uma linguagem

própria para dificultar o trabalho da polícia: “Por vezes, as operações demandam mais tempo para serem finalizadas devido à linguagem utilizada pelos traficantes para a venda ilegal dos entor-pecentes. Isso dificulta o nosso trabalho porque precisamos decifrar estes códigos”, concluiu.

O curioso é que este tipo de tráfico, por tele--entrega, tem se tornado comum em todo o Rio Grande do Sul. Em Gramado, por exemplo, a De-legacia de Polícia Civil do município deflagrou, recentemente, um destes crimes, onde o gerente de uma fábrica de móveis foi preso. De acordo com o delegado Gustavo Barcellos, titular da de-legacia local, o criminoso estipulou, neste caso, diversos códigos junto aos seus clientes, que liga-vam para o estabelecimento, faziam a encomen-da das drogas e as recebiam em suas residências. Para Barcellos, “a facilidade de operação é que tornou este crime bastante comum no Estado”.

Para um estudante de uma universidade par-ticular de Porto Alegre, que preferiu não se iden-tificar, o serviço de tele-entrega é eficiente porque dá segurança aos usuários, tendo em vista que é preciso apenas uma ligação, ou até mesmo uma mensagem no aplicativo WhatsApp, para enco-mendar a droga desejada. Apesar disso, afirma que, com o fortalecimento da operação, deixará de usar o serviço para se resguardar.

O Denarc garante que deve intensificar as ações da Operação Vip no segundo semestre do ano. De acordo com o diretor e delegado do ór-gão, Emerson Wendt, as investigações terminarão apenas quando o departamento de polícia conse-guir desarticular todos os esquemas de tráfico de entorpecentes da região.

Chamada de Operação VIP e organizada pela Polícia Civil, força-tarefa reforça a luta contra o sistema que se tornou muito comum

entre jovens e adolescentes de alto poder aquisitivo do Estado

Por Luciano Kaminski

Desde março, Denarc prendeu 11 traficantes de drogas por tele-entrega em Porto Alegre

Foto

: Div

ulga

ção/

Políc

ia C

ivil

Polícia

Polícia busca combater os serviços de tele-entrega

de drogas no RS

63

Page 33: Revista Bagual

Todos os dias, Danusia Frei-tas da Silva, 51 anos acorda cedo, arruma suas coisas, toma um chimarrão para começar bem o dia e sai de casa por volta das 7h30 da manhã em direção a parada de ônibus para ir trabalhar.

Dona Danusia mora na vila Bom Jesus, zona leste de Porto Alegre e trabalha como acompanhante e cuidadora na residência de uma família no centro da capital, utilizando a avenida Protásio Alves, cujos corredores de ônibus estão em obras há 3 anos, complicando o trajeto diário da cuidadora. “Antigamente eu levava uns 10 minutos até o ser-viço e agora tem dias que eu levo uma hora pra fazer o mesmo caminho”, explica Danusia, que acredita que o tempo passado dentro dos ônibus ainda vai demorar para voltar à normalidade. Dona Danusia não está sozinha.

Milhares de pessoas usam diariamente a Ave-nida Protásio Alves, uma das principais rotas de acesso ao centro da capital e a terceira via mais movimentada de Porto Alegre, em seus mais de 12 quilômetros de extensão. Do caminho do meio que dá acesso aos municípios vizinhos de Viamão e Alvorada até o bairro Bom Fim onde se junta a Oswaldo Aranha, a avenida concentra grande parte do trânsito da cidade nos horários de pico,

sendo itinerário de mais de 30 linhas de ônibus.Toda essa demanda, chamou a atenção do

governo de Porto Alegre que em 2012 iniciou as obras para o novo corredor de ônibus, visando a implantação dos BRT’s (Bus Rapid Transit) um sistema de transporte público baseado no uso de linhas de tráfego rápido.

Seriam 7,5 quilômetros de nova pavimentação na avenida, além da adaptação das estações para os novos ônibus BRT e a construção do termi-nal Manoel Elias. A previsão inicial de término da obra foi datada para agosto de 2013, estando tudo pronto para então receber os turistas e pos-teriormente se tornar legado da Copa para a ci-dade. Acontece que nem os corredores, nem as estações chegaram a se tornar realidade a tempo para o mundial e ainda hoje, três anos depois do início das obras, toda a população que depende da Avenida Protásio Alves enfrenta diariamente o mesmo problema.

Entre passageiros irritados, desvios na pista e muita dificuldade para cumprir as tabelas de ho-rário, Egberto Feijó, 43 anos, motorista de ôni-bus a 12, afirma que vem sendo difícil ter um dia tranquilo de trabalho. Feijó, motorista da linha 494, Rubem Berta, cujo itinerário acompanha a Avenida Protásio Alves desde a saída da Manuel Elias até seu encontro com a Oswaldo Aranha, diz que o estresse virou rotina no trajeto e que

Obras e atrasos

O legado da Copa que ainda não chegou para a Avenida Protásio Alves

Por Fellipe Vargas

Corredores de ônibus em obras desde 2012 alteram o trânsito na Avenida Protásio Alves causando lentidão e congestionamento

Foto

: Fel

lipe

Var

gas

Popular

65

Page 34: Revista Bagual

o trânsito em horários de pico é um caos para os ônibus.

Para o rodoviário, as obras deveriam se con-centrar em um ponto da pista e só partirem para outros depois de terminadas, evitando que o ôni-bus precise sair e retornar ao corredor com tanta frequência. “O perigo de um acidente é constante, em um detalhe tu pode acabar batendo em alguém ou alguém batendo em ti com tanto entra e sai dos corredores”, comentou Feijó, enquanto com ajuda do cobrador do ônibus tentava conseguir espaço entre os carros para sair do corredor e entrar na pista com os demais veículos.

Entre britadeiras e caminhões, Elias Macha-do, 26 anos, faz sua parte para que os corredores fiquem prontos o mais rápido possível. Morador de Alvorada o auxiliar de pedreiro e funcionário da Contepa, empreiteira responsável pelas obras, afirma que não utiliza a via com frequência, mas que se sente orgulhoso de fazer parte de algo bom para a cidade. “É bom né? A gente trabalha, ganha nosso dinheirinho e está fazendo uma coisa boa para todo mundo”, afirmou Elias.

Trânsito lento, ônibus que entram e saem dos corredores a cada estação, travessias de pedestres bloqueadas e obras que parecem não andar, nem ter fim.

Os prazos de entrega já foram adiados mais de uma vez enquanto o custo da obra já passa dos 18 milhões de reais. Até o que poderia ser inima-ginável aconteceu: no final do ano passado, parte da pavimentação que já estava concluída apresen-tou problemas como rachaduras antes mesmo de qualquer veículo passar pelo local. O asfalto teve de ser quebrado para que o trabalho seja refeito, atrasando ainda mais a entrega dos corredores.

Luiz Cláudio Ribeiro, gerente do escritório MetrôPoa e coordenador dos projetos do metrô de Porto Alegre e dos BRT’s destaca a importân-cia da Avenida Protásio Alves no sistema de mo-bilidade urbana da cidade e analisa a situação da obras.

Segundo Ribeiro, todas as obras que vem acon-tecendo são frutos de um plano de transporte de-senvolvido entre 2003 e 2007, sendo finalizado em 2008, chamado Plano Integrado de Transporte e Mobilidade Urbana (PITMURB).Esse plano pre-via linhas em eixos de alta capacidade através de veículos como os BRT’s. Com a vinda da copa do mundo para a cidade, houve a possiblidade dos governos cadastrarem projetos e utilizarem essa verba destinada ao mundial para executar esse plano.

Em 2012 essas obras começaram, algumas fo-ram concluídas e outras ainda continuam em an-damento. “O processo de obras no Brasil é muito complexo, o que acaba criando todo um atraso na execução”, afirmou Ribeiro que cita que a Protásio

Alves foi uma das prioridades no plano de mobi-lidade desde o início, sendo o terceiro eixo com maior número de passageiros e veículos da capi-tal gaúcha.

Apesar dos transtornos, o gerente do escritó-rio do MetrôPoa acredita que o plano vem dan-do certo e que todo tipo de problema no trânsi-to devido as obras foi medido e estudado antes, visando causar o menor impacto possível consi-derando a capacidade das vias e os sistemas de transporte.

Ribeiro diz que os problemas no trânsito da avenida se devem ao grande número de carros circulando na cidade e a desaceleração natu-

ral que acontece devido aos desvios, mas que as obras não são o principal problema do trânsito na Protásio Alves. “Podemos terminar todas es-sas obras e vai continuar congestionando. Quan-to mais tu abre espaço mais as pessoas usam”, comentou Ribeiro que lamenta a forma como as informações chegam a sociedade e ressalta que o foco da EPTC é no transporte público.

A assessoria de imprensa da Secretaria Muni-cipal de Obras e Viação (SMOV) afirma que em relação aos problemas de rachaduras na pavimen-tação, a empreiteira responsável pela obra tomou as medidas necessárias. A previsão de entrega dos corredores é para o segundo semestre desse ano.

Quanto mais tu abre espaço mais as pessoas usam.Luiz Cláudio Ribeiro

Foto

: Fel

lipe

Var

gas

66 67

Page 35: Revista Bagual

WimBelemDon: uma virada no jogo da vida

Projeto social na Zona Sul de Porto Alegre usa o esporte para ajudar crianças e adolescentes em situação de risco

Por Antônio Henrique

WimBelemDon. Se o nome, que mistura o mais importante torneio da Associação dos Te-nistas Profissionais, o londrino Wimbledon, com o bairro Belém Novo, na Zona Sul de Porto Alegre, é de pronúncia difícil, seu sig-

nificado é fácil: um projeto transformador de realidades. Por

meio da prática do esporte e de atividades de complementação escolar, possibilita que jovens entre seis e 18 anos possam vislumbrar um futuro melhor. O nome, assim como sua criação, vem de muito tempo. No já longínquo ano de 2000, com o sonho de criar um projeto social que envolvesse crianças, o fotógrafo Marcelo Ruschel viu numa quadra abandonada no bairro onde vive a chance de fazer a diferença. Não teve dúvidas: mesmo sem nunca ter feito nenhum trabalho desse tipo, correu e, sozinho, alugou o espaço.A falta de apoio e o pouco conhecimento, porém, foram entraves no primeiro instante. Só em 2003, após reencontrar Suzana Bertoni dos Santos, amiga de infância que já mantinha um projeto parecido nos Estados Unidos, Ruschel pôde abrir as portas para a primeira turma do WimBelemDon. “Foi só assim, quase três anos depois, que nós conseguimos começar pra valer. Na época foram 40 crianças entre oito e 12 anos”, explica Ruschel.Apesar de ter o tênis como seu principal atrativo, o objetivo nunca foi formar nenhum grande atleta. Acreditando que o esporte pode ajudar no desenvolvimento físico e social, se preocupou desde o início em formar cidadãos que pudessem chegar tão longe seus sonhos permitissem. Para isso, tratou de montar uma equipe qualificada: contratou profissionais que vão da área da educação à psicologia. Mais do

que qualificados, Ruschel buscou profissionais que “vestissem a camiseta”, como a assistente administrativo Carolina Ribeiro. Com experiências anteriores em escritórios privados, tem agora a satisfação de fazer algo que ajude os outros. “Por pior que tenha sido o nosso dia, sempre sai daqui com a sensação de dever cumprido. Principalmente por lidar com gente tão jovem”, conta. E graças à dedicação de profissionais empenhados, as coisas deram certo. O grupo que começou com 40 alunos cresceu rápido e alguns meses depois já somava o dobro. Atualmente, são 105 beneficiados. Conseguiu também embaixadores com nome de peso, como os ex-tenistas Fernando Meligeni e Thomaz Koch, e com eles, patrocinadores.Para os jovens, os principais personagens nisso tudo, o envolvimento foi tão grande que o WimBelemDon acabou virando uma espécie de segunda casa e as pessoas de lá, uma segunda família. É a história de Jaleska Mendes. Hoje com 20 anos, conta que entrou no projeto aos oito, na vaga do seu irmão mais velho. “Ele teve alguns problemas de saúde e não pôde continuar, então o pessoal entrou em contato com a nossa família e perguntou se eu tinha interesse em ficar no lugar dele”, relata.A relação com o esporte foi tamanha que garota de família pobre, agora, faz faculdade para poder seguir trabalhando na área. Além disso, a aluna do curso de educação física da Sogipa, em Porto Alegre, vive a expectativa de deixar o país para estudar e jogar tênis nos Estados Unidos no próximo ano. Para isso, conta com o apoio do WimBelemDon e outros parceiros envolvidos. “Eu era muito nova quando entrei, não tinha noção da vida, mas acredito que sem o apoio do projeto seria quase impossível eu chegar onde hoje creio que tenho condições”, avalia. Para ela, que hoje vê o irmão de 15 anos – há oito no WimBelemDon –, trilhando caminho parecido com o seu, o mais importante do tempo vivido dentro da quadra não foi seu desenvolvimento como atleta. “O que eu vou levar comigo não é o fato de ser uma boa tenista ou não. Vou levar os valores que me foram passados, a amizade, o companheirismo, a acreditar que todo mundo é igual e pode sonhar. Isso é o mais importante”, destaca a jovem, que graças ao WimBelemDon, descobriu que com uma raquete na mão podia vencer na vida.

Esporte

Foto

: Div

ulga

ção

Vou levar os valores que me foram passados. A amizade, o companheirismo.Jaleska Mendes

68 69

Page 36: Revista Bagual

Qualquer semelhança não é mera coincidência. O esporte é praticamente o mesmo. Com algumas al-terações nas dimensões do campo e até nas regras, o futebol sete ganha destaque atualmente no Brasil. Com

equipes federadas, profissionais pagos e campe-onatos oficiais, o que antes era uma diversão de domingos para muitos torna-se uma realidade promissora para os adeptos de alguns Estados. No Rio Grande do Sul, pioneiro da modalidade, ainda não há uma profissionalização concreta, mas indí-cios de que o cenário irá melhorar. E essa projeção já motiva equipes de todo o Estado por um lugar de destaque.

Fundada em 20 de janeiro de 1987 por Antô-nio Aldinei Lemos Dias e outros dez fundadores, a Federação Gaúcha de Futebol Sete (FGF7) come-çava, naquele ano, os primeiros passos de um es-porte ainda pouco conhecido. Presidida por Dias, a entidade trabalhou para se firmar e divulgar a modalidade. Por anos, o Brasil teve duas confede-rações distintas, e o Rio Grande do Sul seguia essa prática. Em dezembro de 2012, optou-se pela uni-ficação das entidades visando ao desenvolvimento do futebol sete.

No início de 2013, após a unificação, a FGF7 ganhou um novo presidente. Jair Batistello, 45, empresário e ex-árbitro da modalidade, toma posse do cargo máximo da entidade e começa a planejar algumas mudanças. A primeira alteração

O país de outro

futebolPor Giovanni Andrade

Foto

: Leo

nard

o R

adae

lli

Esporte

Ascenção do futebol 7 traz rumos de profissionalização.

Partida realizada en-tre Balboa x Cristal

pela série Ouro

71

Page 37: Revista Bagual

foi unir a organização dos campeonatos da capital e do interior do Estado. A partir dessa medida, o crescimento do esporte começou a andar a pas-sos largos. Articulado com a federação, o interior possui 20 ligas de futebol sete, dando vagas para a disputa do campeonato gaúcho para os vence-dores: “Foi nesse momento que teve um grande crescimento. Sabíamos que o futebol sete existia no interior e que podíamos dar mais espaço na Grande Porto Alegre”, explica Jair.

Após dois anos à frente da FGF7, Jair vê a si-tuação cada vez mais tomando forma. Hoje, a Fe-deração conta com quatro campeonatos - Série Bronze, Prata, Ouro e Especial -, além de ligas e divisões de acesso. São 75 equipes, 2.200 atletas e 260 árbitros registrados na federação. Igual ao futebol, a modalidade conta com janela de trans-ferências, inscrições de atletas, patrocínios e até multa rescisória, caso o jogador queira atuar por outra equipe. Os valores da multa são divididos entre a federação e o clube formador do atleta, para ajudar nas finanças da equipe.

Apesar do desenvolvimento do futebol sete, a modalidade ainda não é totalmente profissio-nalizada no Rio Grande do Sul. Diferente de São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, que já contam com transmissões de rádio e televisão e salários aos jogadores. Aqui, apenas alguns clubes da série Especial e Ouro conseguem pagar salários. Para o presidente da federação gaúcha, o cenário não é diferente. Jair ainda mantém um emprego para-lelo ao cargo na entidade e, muitas vezes, teve de investir dinheiro do próprio bolso para financiar o esporte: “Quando vou para o interior acompanhar os torneios, vou sempre com meu carro. Já acon-teceu de clubes precisarem de ajuda e eu auxiliei quando foi preciso”, conta Battistelo.

Mesmo sem salários para os jogadores, a or-ganização nas equipes da Série Especial e Ouro já beira um padrão profissional. O Clube Atléti-co Horríver Plate, com cinco anos de história, se registrou como clube, conseguiu alcançar a série Ouro e disputar a Copa do Brasil de futebol sete, em Santa Catarina. Criada por um grupo de ami-gos no ensino médio, a equipe acabou tomando rumos inesperados até para os fundadores. O time hoje possui presidente, técnico, treinos marcados, caixa interno e até um departamento de marke-ting para a busca de novos apoiadores. Para o presidente do Horríver, Rennan Nunes, mesmo sem salário, a estrutura é similar a de um clube profissional: “Temos um treinador que procura se atualizar cada vez mais, um departamento de marketing que é cobrado diariamente para bus-car novos patrocinadores. Ainda não há salários, é tudo no amor, mas mesmo assim chegamos em outro patamar”, ressalta Nunes.

Ainda sem uma mídia forte para cobrir as

Depois de tudo que crescemos, a realidade de se profissionalizar está perto.Jair Battistelo

Foto

: Gab

riel L

uz

competições, o esporte tem conseguido um apoio devido aos jogadores de futebol e futsal conhe-cidos que migram para o futebol sete. Falcão, considerado o melhor jogador de futsal do mun-do, trouxe os holofotes para a modalidade após assinar com a equipe de futebol sete do Vasco da Gama. Além dele, atletas que já penduraram a chuteira também aderiram ao esporte. Nomes como Marcelo Labarthe, Rodrigo Mendes e Clay-ton participam de campeonatos federados da sé-rie Especial. Para Clayton, o Estado ainda perde em estrutura para outros Estados, pela questão financeira, mas ainda há muita organização por aqui. “Algumas equipes de São Paulo e Curitiba

dão até moradia para alguns jogadores. Além dis-so, eles treinam todo dia, recebem salários. Aqui, não chegamos a esse ponto, mas está um amador bem profissional”, explica Clayton.

Falta pouco para atingir outro patamar do es-porte. O grande apogeu do esporte foi conquista-do a partir de 2013 e desde então, o crescimento é constante e a atenção da mídia e patrocínioses-tão crescendo junto. O presidente da FGF7 Jair Batisttelo projeta que em dois anos o futebol sete do Rio Grande do Sul estará profissional, mesmo que seja complicado: “Sabemos que é difícil, mas, depois de tudo que crescemos, a realidade de se profissionalizar está perto”, afirma Battistelo.

Foto

: Leo

nard

o R

adae

lli

Disputando uma vaga na classifica-ção da série Ouro, Balboa x Cristal jogam no campo da MAP Sports.

72 73

Page 38: Revista Bagual

Ou as coisas mudam ou tudo vai parar

O futebol brasileiro passa por uma grande crise em 2015

Por Guilherme Ricacheski

No mundo inteiro o futebol tem a sua importância. É o esporte mais popular do planeta. No Brasil, essa mo-dalidade é realmente muito apreciada, chegando ao ponto de se dizer que esse é o país do futebol. O amor pelo esporte ultrapassa fronteiras e as barreiras, sejam

quais elas forem. Dentro do que se conhece como paixão, isso é vis-to e vivido de forma muito intensa no Brasil. Ao longo dos últimos anos, o futebol vem passando por uma grande crise financeira. O que antigamente era considerado como normal, hoje assusta e mui-to os clubes e os torcedores. As dívidas e os problemas com as ad-ministrações das instituições, ficam evidenciadas nas reclamações constantes de atletas e pessoas ligadas ao esporte, seja em qual for a

área. Em 2014, uma equipe tradicional do futebol brasileiro cogitou a possiblidade de fechar as por-tas, encerrar as atividades devido aos problemas envolvendo a questão financeira. O Paraná Clube, que hoje está na segunda divisão do Campeona-to Brasileiro, acumulou muitas dívidas, deixando em aberto inclusive os salários dos atletas. Lúcio Flávio, que atuou na equipe Paranaense até no iní-cio do ano, afirma que os problemas que afetam a instituição não são recentes. “Alguns clubes não têm responsabilidade, gastam mais do que tem em caixa. Os problemas que são vistos hoje, são só reflexos de alguns anos de exageros. O Paraná vem passando por dificuldades por pelo menos 9, 10 anos, eu acredito. Eu fiz um acordo com o clube que vai até fevereiro do ano que vem, assim, quitando o que eles me deviam.”, exemplifica o jo-gador que hoje veste a camisa do Coritiba. A falta de dinheiro somada à fragilidade na organização são reflexos dos resultados dentro de campo. Os técnicos, por exemplo, não entram no gramado, porém, enfrentam os problemas da mesma maneira. Lisca, treinador do Náutico, co-menta sobre as dificuldades de se trabalhar em um time de segunda divisão em meio à crise que ocorre no país. “É uma situação que vem crescen-do ano após ano, os clubes fazem contratos e não conseguem cumprir. Isso impossibilita investi-mentos e novos patrocínios. O Náutico não foge disso, o clube tenta contratar atletas com salários mais baixos para evitar dívidas futuras. Nós esta-mos trabalhando em uma situação que não nos permite grandes investimentos, projetamos as coisas de acordo com o que o clube pode arcar, sem sacrificar o futuro da instituição. “, salientou. As crises financeiras que ocorreram ao longo dos últimos anos culminaram e acumularam para que estourasse, o que vem ocorrendo em 2015. Os clubes no Brasil reclamam do descaso daqueles

que comandam e gerem o futebol. A CBF acumu-la críticas. Escândalos envolvendo a instituição estão se tornaram constantes nos noticiários, o que acarreta em protestos por parte das instituições e a falta de proteção, de alguém que comande os campeonatos no país. A desvincula-ção da CBF e a criação de uma liga própria é pau-ta debatida entre os clubes. As agremiações sofrem e tentam de variadas formas conseguir sanar e equalizar o que o clu-be ganha, realizando investimentos e tornando a equipe mais forte para as competições ao longo das temporadas. O Presidente da Chapecoense, Sandro Pallaoro, exemplifica o momento em um contexto geral, e as manobras que o clube catari-nense usa para tentar driblar a crise. “Esse mo-mento instável vem da irresponsabilidade dos di-rigentes do futebol. O primeiro objetivo é sempre ser campeão, fazer contratações absurdas, uma hora tudo isso estoura. Na Chapecoense, a gente vem administrando o clube como uma empresa, gastamos somente o que é arrecadado, dividindo uma parte para investir no time e outra parte para os honrar com os compromissos do clube. Hoje, a nossa folha salarial permite que seja pago no má-ximo 70, 80 mil reais para um jogador”, finalizou. Em ventura dos problemas enfrentados no futebol brasileiro, existe a possibilidade de uma ruptura dos clubes com a CBF, o que pode ocorrer em breve. Os presidentes e gestores das instituições, já se reuniram algumas vezes, po-rém, sem sucesso. Os recentes problemas da en-frentados pela instituição que comanda o futebol, pode acelerar o processo de criação de um novo campeonato, que seria gerido pelas próprias equi-pes. Novas reuniões devem ser feitas até o final da temporada. Romildo Bolzan, presidente do Grêmio e Eurico Miranda, presidente do Vasco, são dois dos mandatários que lutam por essas mudanças imediatamente no futebol brasileiro.

“Esse momento instável vem da irresponsabilidade dos dirigentes do futebol Sandro Pallaoro, presidente da Chapecoense

Esporte

Alguns clubes não tem responsabilidade, gastam mais do que tem em caixa Lúcio Flávio, meio-campo do Coritiba

Sandro Pallaroro, presidente da Cha-pecoense, em um congresso pelas

mudanças do futebol

Foto

: A

rqui

vo d

a A

ssoc

iaçã

o C

hape

coen

se d

e Fu

tebo

l

74 75

Page 39: Revista Bagual

“Quem é responsável pela fiscali-zação das leis ambientais de Porto Alegre?”, indaga a repórter. Em um jogo de empurra, as assessorias do Departamento Municipal de Lim-peza Urbana (DMLU) e da Secre-taria Municipal do Meio Ambiente

(SMAM) dão respostas vagas, com sites de ma-térias já existentes. Quando questionadas com mais ênfase, afirmam que a responsabilidade é de uma outra entidade, o que não resolve a ques-tão da Capital que possui crimes ambientais, de menor ou maior intensidade, acontecendo a todo momento.

O excessivo corte de árvores em decorrência de obras da Copa do Mundo de 2014 e ampliação do Hospital de Clínicas também no mesmo ano, reabriu discussão sobre controle e fiscalização de danos gerados ao meio ambiente. Mesmo tendo leis amplas e que respondem à preservação, mui-tas vezes, não há funcionamento e fiscalização.

Uma legislação qualificada tem função pri-mordial no funcionamento da sociedade. Nesse contexto, as de âmbito ambiental devem ter maior atenção na construção de uma cidade mais lim-pa e sustentável. Observando ao redor, em Porto Alegre encontramos muitas irregularidades, po-rém os decretos estão ali e deveriam ser fiscaliza-

dos com maior envolvido. É importante, portan-to, que se conheça as principais leis municipais. Além da monitoria em rua, a conscientização da população é a busca base dos órgãos do governo. A SMAM afirma que a maior responsabilidade sobre fiscalização de leis fica a cargo do DMLU. Além disso, a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM) é um órgão que atua como regulador para que desastres naturais não ocor-ram em função do mau uso do meio ambiente.

As principais leis ambientais da Capital gaú-cha, se dividem em: Lei Orgânica do Município de Porto Alegre, Código de Posturas, Plano Di-retor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental (PDDUA), Código Municipal de Limpeza Urba-na, Código Municipal de Saúde e Plano de Ava-liação do Impacto Ambiental.

Dentre essas, depois de mais de 20 anos, sem mudanças, houve a reformulação de um novo Código Municipal de Limpeza Urbana que ficou estampado nas manchetes. Entre suas atribuições está o controle do lixo jogado em local impróprio que prejudica o meio ambiente e causa um im-pacto arrasador, caso acumulado.

O Novo Código completou um ano de refor-mulação em 2015. As principais atribuições com-petem a um depósito correto do lixo, que influen-cia diretamente no meio ambiente local.

Quem vai

Fiscalizar?Lista extensa de leis ambientais faz com que a necessidade de

fiscalização seja cada vez maior em Porto Alegre

Por Júlia Bernardi

Foto

: Luc

iano

Lan

es/P

MPA

Ambiental

Colchões, latas de tinta, pedaços de móveis, e pneus são alguns dos resíduos que compõem o que pode-mos chamar de montanha de lixo formada no fim do percurso do

mutirão de limpeza das praias de Ipanema e do Guarujá.

77

Page 40: Revista Bagual

“Em contrapartida, o diretor da Associação

Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (AGA-PAN), Alfredo Gui Ferreira afirma que não há boa fiscalização e há muita liberalidade. “As orga-nizações comprometidas com o ambiente pode-riam ajudar a SMAM, inclusive a fiscalizar”.

Para ele, antigamente, havia mais respeito e efetividade na preservação dos recursos naturais. Além disso, a AGAPAN possuía fiscais volun-tários credenciados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Reno-váveis (IBAMA). Ferreira acredita que as multas

aplicadas deveriam ser reinvestidas na preserva-ção ambiental. Afirma, que poderia existir maior visualização da mídia sobre a efetividade das leis. “A Associação tem um trabalho limitado pois as autoridades não se preocupam muito”, conta. Para ele, as denúncias não funcionam com efetividade.

A instituição possui mais de 30 anos de exis-tência e ao longo dos anos percebeu brechas na legislação que por falta de atenção deveriam ser evitadas. “Muitas vezes, como nesse caso, há leis que não são cumpridas, inclusive pelos órgãos governamentais”, finaliza.

As organizações poderiam ajudar a SMAM, a fiscalizar”Alfredo Gui Ferreira

Foto

: site

eco

valo

r.com

/div

ulga

ção

Segundo dados do DMLU, foram feitas 700 ações de educação ambiental e de orientação a co-munidades, além do endurecimento das penalida-des em flagrantes de descarte irregular.

Assim, a Capital conseguiu reduzir em 35% os focos irregulares. Os agentes de fiscalização do DMLU, segundo dados mais recentes da as-sessoria, realizaram cerca de 5,1 mil abordagens e orientações a pessoas flagradas cometendo irre-gularidades. As denúncias pelo sistema Fala Porto Alegre (156) chegaram a 7.005. O valor arrecado pelas multas ultrapassou R$ 90 mil reais, porém a quantidade de lixos em ruas principais, como Avenida Ipiranga e Oswaldo Aranha, ainda fica evidente.

O diretor geral do DMLU, André Carús, afir-mou que além de endurecer a punição, um dos aspectos que funcionou nesse ano em vigência foi a qualificação das opções de descarte como uma forma de conscientizar a população. “Se cada um fizer a sua parte, teremos uma cidade mais limpa, maior geração de emprego e renda para quem vive da reciclagem. Este é o ciclo sustentável que bus-camos”, afirmou.

A assessoria da SMAM informou que a Secre-taria atua em duas frentes: Equipe de Fiscalização, que programa ações diárias a partir das denúncias da comunidade pelas pelo telefone 156 (FalaPoa) e a partir de licenciamento ambiental. O segun-do é o instrumento de gestão que orienta a loca-lização, a instalação, a ampliação e a operação de atividades que utilizem recursos ambientais po-tencialmente poluidores. Ou somente aqueles que possam causar qualquer degradação ambiental.

O foco do trabalho da SMAM está centrado nas licenças ambientais que são emitidas com base na Lei Municipal n 8.267/98, considerando a Re-solução nº 05/98 do Conselho Estadual de Meio Ambiente e o convênio firmado entre a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam/Secreta-ria Estadual do Meio Ambiente) com a Prefeitura de Porto Alegre.

Segundo a SMAM o trabalho é organizado tal que as licenças se dividem em prévia, licença de instalação, licença de operação e licença única, a qual depende da atividade final realizada. Na avaliação de viabilidade de atividades e empreen-dimentos, participam diversos órgãos, com com-petências específicas, como Secretaria Municipal de Planejamento (SPM), Secretaria Municipal de Obras e Viação (SMOV), Secretaria Municipal de Transportes (SMT), Secretaria Municipal de Pro-dução, Indústria e Comércio (SMIC), Departa-mento de Esgotos Pluviais (DEP), Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE), Departa-mento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) e Secretaria Municipal de Cultura (SMC), consti-tuindo, desta forma, uma comissão técnica.

Mesmo com as políticas de cuida-do com o lixo jogado nas ruas, as cidades ainda continuam com altos índices de poluição

7978

Page 41: Revista Bagual

Privatização pode prejudicar zoo gaúcho

Possível concessão do parque à iniciativa privada não agradou funcionários da fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul nem deputados na Assembleia Legislativa Oparque Zoológico de Sa-

pucaia do Sul, lugar de preservação ambiental e lazer para os gaúchos, pode deixar de ser respon-sabilidade do estado do Rio Grande do Sul e ser

passado para a iniciativa privada. Com foco na política de redução de gastos, o vice-governador do estado, José Paulo Cairoli (PSD), declarou no início de 2015 que estariam estudando a possível concessão do zoológico, administrado pela Fun-dação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, para algumas empresas. Segundo o próprio governo, várias delas já demonstrariam interesse no lo-cal, assim como em outras áreas verdes públicas, como o Parque de Itapuã.

Em função da notícia, foi convocada uma au-diência pública para debater o assunto, onde o governador José Ivo Sartori (PMDB) afirmou que o processo das concessões está em tramitação na Secretaria Estadual do Planejamento, aguardando apenas a decisão de qual será o modelo econômi-co ideal para a exploração comercial da unidade. Para o deputado Altemir Tortelli (PT), que pro-pôs o encontro, apenas os grupos corporativos in-teressados em lucros ganham com essa mudança. “O zoológico pertence a uma valorizada área de terra localizada nas proximidades da BR-116.

Por Paola Ramos

Seguramente, ela interessa à especulação imo-biliária, que pode dar múltiplas finalidades ao local, como shoppings, condomínios fechados, instalação de hotéis e empresas”, diz ele.

Uma das razões que teria motivado as con-cessões seria a cara manutenção do espaço para o governo. Atualmente mais de mil animais ha-bitam o zoológico, que gasta quase R$ 60.000,00 mensalmente para alimentá-los. Além dos bi-chos, são 78 funcionários no quadro, entre técni-cos, auxiliares, tratadores, atendentes e serventes que recebem seu salário do parque. No entanto, de acordo com o administrador do local, Marco Antônio Squeff, o zoológico consegue ter recei-ta suficiente para manter todo o seu custeio, pois arrecadam cerca de R$ 3.100.000,00, para uma despesa de custeio de R$ 3.200.000,00. “Outro re-ferencial importante é que as nossas receitas têm aumentado considerávelmente. Temos recebido uma média de 45 mil visitantes por mês aqui”, justifica Squeff.

A privatização incentivada pelo governo pare-ce não trazer vantagens para o zoológico segundo o biólogo responsável pelo setor de zoologia do parque, Eduardo Polanczyk da Silva. Como ele mesmo afirma, é difícil encontrar melhoria em algo na vida dos animais, como saúde e os cui-dados que são despendidos, na mudança. “Nós temos um centro de triagem de animais silvestres que recebe animais vítimas de tráfico e de maus cuidados. Eles têm um custo elevado de manu-

tenção e provavelmente a iniciativa privada não teria condições nem interesse em manter esse serviço, pois só traria prejuízo. Hoje quem as-sume este custo é o zoológico, com tratamentos, medicamentos e alimentação, algo que é muito importante para nós”, comenta Polanczyk.

Reforçando as palavras do biólogo, o diretor do parque, Marco Squeff, argumenta que o cará-ter público do local ficaria prejudicado: “Temos serviços voltados para comunidades de baixa renda e cursos de formação, por exemplo, que servem de multiplicadores em relação à educação ambiental, como o programa “Zoológico com es-paço educacional”.

Depois da primeira audiência sobre o assun-to, foi criada a Frente Parlamentar e Social em Defesa dos Parques Públicos Estaduais, que, por enquanto, se mostra contra a atitude até então tomada pelo governo e pronta para lutar contra ela. O objetivo da frente é mostrar a importância do zoológico e dos demais espaços verdes conti-nuarem sob a gestão pública, contribuindo com a conscientização ambiental, educação e lazer de baixo custo à população. Além disso, ela tam-bém visa trazer ao parlamento gaúcho o debate público sobre o tema, como afirma Deputado Tortelli: “Queremos que o governo estadual fir-me compromisso com o meio ambiente e as áreas de conservação da fauna e flora gaúchas, que não podem ser medidas por valor monetário, mas por sua importância ecológica, social e cultural”.

15

Ambiental

Foto

: Pao

la R

amos

Foto

: Arq

uivo

Fun

daçã

o Zo

obot

ânic

a do

Rio

Gra

nde

do S

u

80

Page 42: Revista Bagual

Apps desafiam meios de comunicação

Eles transcendem a web, exploram o máximo da interatividade e são um verdadeiro desafio de rentabilidade econômica para os meios

tradicionais de comunicação

Por Carlos Lando

Jornal Zero Hora criou aplicativo em 2011 e, desde então, acumula

mais de 100 mil downloads na Google Play.

Foto

: Car

los

Land

o No ano passado, o jornal americano The New York Times lançou um aplicati-vo pago para dispositivos móveis batizado de “NYT Now”. Aproximadamente um ano depois, a estra-tégia para atrair leitores

digitais por meio de assinatura não funcionou e, apesar dos mais de 10 milhões de downloads na loja de apps do Google, o jornal reconsiderou e liberou uma versão gratuita.

O Brasil despertou timidamente para esse nicho antes, com poucas iniciativas. Em 2011, o Zero Hora – jornal de maior circulação do RS – já havia criado um produto para esses aparelhos; hoje, quatro anos depois, todos os maiores meios de comunicação do país têm um aplicativo nas lojas do Google, iOS ou Windows para chamar de seu. Mas, a maioria deles ainda não encontrou um modelo de negócios rentável para a empresa. Mesmo assim, segundo a Associação das Empre-sas Brasileiras de Tecnologia da Informação de São Paulo (ASSESPRO-SP), o setor está se desen-volvendo acima da média da área de Tecnologia da Informação no país.

Para Tiago Lobo, especialista e referência do assunto no Rio Grande do Sul, mesmo com os altos índices de investimentos anunciados pela ASSESPRO-SP, para se sustentar, as revistas e jornais precisam compreender as características do segmento e elaborar planos de negócios mais eficientes. “Produzir para essa plataforma envolve muito mais retorno em termos de capital simbó-lico, no caso de se mostrar presente para o leitor em uma plataforma de vanguarda, do que um modelo de negócios realmente rentável”, explica. Lobo argumenta que a revista Wired – referência internacional em tecnologia – chegou ao total de 850 mil assinaturas pagas ao final de 2012, mas somente 102 mil delas vieram do meio digital. “Nos apps mobile se observa uma fragmentação ainda maior. Na edição interativa pra tablets e no site da revista são 20 milhões de usuários mensais que o acessam. Mas só 850 mil pagam por isso”, conclui.

Esse desafio foi percebido por Lobo ainda em 2009 quando ele desenvolveu um dos primeiros apps do segmento no Brasil, a Revista Pensamen-to. Praticamente não havia informações sobre a plataforma na época em que a Nokia ainda domi-nava o mercado de dispositivos móveis. “Minha iniciativa começou um ano antes, quando resolvi jogar um vídeo dentro do software de diagrama-ção pra ver o que acontecia. Definitivamente não foi tarefa fácil, faltavam informações, métodos e todo o tipo de conhecimento sobre o assunto”, conta. A ideia central da revista, lançada dois

anos depois, era criar um produto multiplatafor-ma que oferecesse ao usuário uma experiência rica em conteúdo e, ao mesmo tempo, em inte-ratividade.

A mobilidade, rapidez e personalização ofe-recidas pelos aplicativos têm impacto direto nos meios tradicionais de comunicação e, com o tem-po, tornaram-se um canal imprescindível de con-tato com o público. “Esse tipo de app ainda é um universo novo, cada vez mais relevante. Na web não existe proposta de notificação, por exemplo e essa peculiaridade faz com que a relação do jornal com o usuário seja ainda mais próxima e dinâmica”, diz Ana Cecília Nunes, mestre em Comunicação pela PUCRS. No caso do jornal Zero hora, foram necessários quatro meses de trabalho e quinze profissionais para desenvolver o app. Mas, independentemente do segmento, quando se fala em desenvolver um aplicativo, é imprescindível compreender o universo do usuá-rio e as suas necessidades, explica Ana Cecilia. “O verdadeiro sucesso de um produto, ao contrário de que a maioria acredita, não se mede somente pelo número de downloads, mas principalmente pelo número de usuários ativos e esse feito só é alcançado quando as empresas compreendem e suprem as necessidades de cada usuário”, finaliza.

Outra necessidade do mercado é evitar de-senvolver produtos que apenas reproduzam seu conteúdo da web nos dispositivos, a linguagem de programação dos aplicativos é completamente diferente da web, conforme explica o jornalista PhD pelo MIT em estudos comparados de mídia, André Pase. “Durante a trajetória da web, falamos em web 1.0, 2.0 e 3.0. Os aplicativos fazem parte de um outro universo, outra linguagem de pro-gramação que, inclusive, transcende a criação de Tim Berners-Lee”, explica o jornalista.

“Hoje, produzir para essa plataforma envolve mais capital simbólico do que negócios rentáveisTiago Lobo

Tecnologia

82 83

Page 43: Revista Bagual

Foto

: Gab

riel L

uzPI

XABA

Y Na fila do banco, esperando o ônibus, fazendo com-pras, seja onde e como for: estamos vidrados com um celular. O apa-relho que traz mil e uma utilidades promete fazer tudo – ou quase tudo –

por você. A verdade é que os aplicativos surgi-ram da necessidade de formas mais específicas para dispositivos móveis. A sua maior vantagem a ser observada é compilar diversas funções em um único lugar. Somente no Brasil, o número de aplicativos ultrapassa o número de habitantes. O perfil desses usuários é, na maior parte, masculi-no e com idade entre 18 a 34 anos, segundo o site G1. Os Estados Unidos são o país que mais con-somem aplicativos. O tempo diário gasto neles supera o tempo gasto com a navegação tradicio-nal pela internet Explorer e Firefox. Pelo celular você paga contas, acesse seus e-mails, confere a previsão do tempo: tudo isso sem precisar acessar um computador pessoal ou um notebook.

Hoje, você não precisa mais carregar uma câ-mera, um gravador, uma bússola, uma agenda com contatos telefônicos e um calendário: você carrega apenas um celular. As interações entre as pessoas também ficaram mais rápidas. A for-ma de comunicação mudou completamente. Em poucos segundos rolando o dedo pelo feed do Twitter, você fica sabendo das notícias em volta do mundo todo. A verdade é que eles revolucio-naram a nossa forma de comunicação e o nosso dia a dia. Além da comodidade de acesso, traz vantagem econômica e o alcance é ilimitado. Ge-ralmente, o custo do desenvolvimento é pago por patrocínios.

Uma cena comum é o típico almoço em um restaurante qualquer. As pessoas sentam, pedem a sua comida e, muitas vezes, ao invés de conver-sarem, ficam trovando através de grupos virtuais alheios. Atualmente, um dos aplicativos mais comuns é o Whatsapp, em que é possível enviar mensagens de texto simultaneamente. Líder no Brasil, é o quarto maior aplicativo da rede móvel, responsável por 13% o tráfego móvel de dados e tem cerca de 38 milhões de usuários.

Fabricio Paim é Analista de Infraestrutura no Senac. Um dos aplicativos mais utilizados por ele é o Waze. A ferramenta auxilia na localização ge-ográfica a partir de um pouco localizado por si-nal de GPS em como funcionalidade especifica o envio de informações compartilhadas, como por exemplo, status do tráfego na rota escolhida, blitz e obras. Questionado sobre por que o Waze é um dos seus aplicativos favoritos, Paim explica que o app substituiu o mapa físico e agrega outras novas funcionalidades a um mapa virtual. A respeito dos pontos positivos desse avanço no mundo dos aplicativos, Fabricio pondera o fato de auxiliar em rotina antes demoradas, diversas funções rea-lizadas em um banco por exemplo, que poderiam levar dias e necessitariam de recursos humanos para realizar. Já os pontos negativos, ele fala que com a inclusão da tecnologia no dia a dia temos a facilidade da informação, tendo assim nossa vida exposta de forma simples e fácil.

O analista ainda comentou o fato de que a in-clusão digital auxiliou no aumento do perfil de pessoas antissociais e muito desse reflexo se dá pelo aumento das redes sociais, em que o usuário perde o tato e/ou a experiência do contato social. “Já existem sátiras falando sobre isso, quando perguntado ao jovem como é relação interpessoal

Tecnologia na ponta dos dedos

Por Gabriela de Barros Silva

Tecnologia

A função dos aplicativos na sociedade atual e seus pontos positivos e negativos

85

Page 44: Revista Bagual

lotado!’. É claro que estamos falando de uma sá-tira, mas acredito que não estamos muito longes desta realidade.”

Paim continua: “Realmente estamos mais co-nectados, mas temos que enxergar isso de um ân-gulo diferente, temos que pensar que hoje temos mais acesso a informações úteis, podemos estudar online, realizar provas online com toda a seguran-ça. Fica aqui minha pergunta, hoje estamos 100% conectados ao mundo, mas será que sabemos uti-lizar este benefício?”

Cada dia que passa, estamos mais conectados. São 24 horas por dia em contato com a tecnologia, seja através da televisão, do rádio ou do celular. De fato, a tecnologia facilitou muito a nossa co-municação com o mundo. No entanto, até onde se encontram as vantagens e desvantagens nisso tudo? Alguns apontam a facilidade das pessoas se encontrarem, poupar tempo, economizar dinhei-ro. Porém, e o fato de termos nossa vida exposta o tempo todo? Será que a tecnologia representa tudo isso?

Felipe Pinto é Desenvolvedor de Software pela Tecnopuc. Formou-se em Licenciatura em Com-putação pela Feevale. Pinto diz que é difícil apon-tar um aplicativo mais utilizado atualmente, mas que essa utilização está ligada exatamente a qual cenário a pessoa está inserida no momento. Ele conta que: “Quando acordo, utilizo Google Now para ver questões de tempo e últimas notícias re-lacionadas aos meus interesses, como tecnologia, política e futebol (O Grêmio!). Durante o dia gos-to de ler algumas notícias regionais e nacionais para saber o que está acontecendo a minha volta. O site do Terra ou G1 são boas opções, eventu-almente quando há necessidade utilizo a app do banco para ver como está a minha saúde financei-ra (que tortura!). Final do dia, o ‘mais esperado’, vejo os lançamentos de cinema, eventos regionais pelo site de busca do Google Now.”

O desenvolvedor cita o GMail como uma boa ferramenta para gerenciamento do correio ele-trônico, mencionando ainda a suíte de app que a Google disponibiliza, como Google Drive, Goo-gle Docs (Office), entre outros. Ele acredita que alguns apps vieram para aposentar muitos objetos como por exemplo: calculadora, agenda de com-promissos, despertador, mapas de cidades, guia de melhores pontos turísticos, caderno de receitas culinárias, bloco de notas e listas de compras. So-bre as funções, ele acredita que ainda há muito o que melhorar, porque o ser humano tem o poder de decisão final e “temos muito a caminhar para termos algumas ações decididas pelo computa-dor.”

Questionado sobre os pontos positivos desse avanço, Pinto enaltece que a máxima é que temos tudo na ponta dos dedos. Qualquer informação

No Brasil, o número de aplicativos ultrapassa o de habitantes.Conectbenefício?Fabricio Gonçalves

pública na “nuvem” está disponível a qualquer pessoa. Isto é bom ou ruim, dependendo do uso de cada um. No lado negativo, Felipe observa que a sua vida fica exposta a toda e qualquer pessoa que pode fazer mau uso disto. Algumas informa-ções deveriam ter acesso controlado. Não restrito, mas controlado.

A respeito do que o avanço desses aplicativos implicou na cultura da sociedade no geral, Felipe comenta que a mudança foi na falta de interação física com os demais indivíduos. Exemplifica que ao invés de conhecermos novas pessoas através de amigos, colegas, conhecidos, instalamos um

app e “cutucamos”, “curtimos”, de maneira virtual, para chamar a atenção de outra pessoa. “Legal ou não, penso que muitas coisas se facilitaram, para melhorar esta “interação” e levar as pessoas a ter um maior círculo de amizades. Penso que essas novidades têm que amadurecerem mais, e não somente ser uma ideia nova, que logo cai no de-suso, por causa de um novo lançamento de app. Temos muitas opções e quando escolhemos algu-mas, logo aparecem mais e mais, bom ou ruim, ainda não sei, mas gosto de vivenciar essas expe-riências novas.”

8786

Page 45: Revista Bagual

Alexandre Silva. Não um Silva qualquer, um pai de família, gerente de banco há mais de 25 anos, um homem com sonhos diferentes do esperado para alguém com essas características.

Um novo agricultor. Todos os dias um terno diferente. Os sapatos pretos, de vez em quando são trocados por pares marrons. Uma rotina entre acordar muito cedo – cinco horas da manhã. Enquanto afeita a barba e coloca um perfume forte, mas discreto, pensa sempre nas mesmas atividades. Um beijo na esposa e nas filhas. Sobe na lotação às seis e meia da manhã e parte. Para muitos, essa rotina parece cansativa. Para outros, apenas monótona. Mas para ele, esse cotidiano estava cada dia mais perto do fim.

Segundo Censo do IBGE de 2010, a população urbana no Rio Grande do Sul cresceu 4%. Em contraponto, a população rural diminui cada vez mais. Neste mesmo apontamento, aproximadamente 15% da população gaúcha está ocupando zona rural. Todo esse estudo mostra como a falta de oportunidade no interior do estado faz os jovens acreditarem que seu crescimento profissional será efetivado em cidades grandes, ou seja, no meio urbano, com atividades urbanas, abandonando as origens rurais.

Um gerente de banco, com duas faculdades, muito aprendizado na bagagem nesses mais de 25 anos de carreira. Esse homem de 45 anos sonhava com outra vida, não desde sempre, mas a partir de um momento que decidiu mudar. O estresse cotidiano acabou por modificar sua maneira de ver a vida e suas tarefas diárias. A vontade de acordar cedo ainda existia, porém, não mais para ir ao banco, mas sim, para visitar suas terras, colher os frutos e tomar um chimarrão.

Tudo começou quando o pai de sua esposa veio a falecer, de maneira triste, suicídio. Foi deixado como herança um carro, dinheiro e algumas terras. Tudo fora dividido com seus três filhos. Ele viu ali a vontade de construir seu sonho repentino e futuro. Comprou as terras e começou a dar forma a seu tão sonhado sítio. O nome dele? Recanto das Marias. Por que esse nome? Uma homenagem.

Alexandre então começou a ver suas condições financeiras e passou a planejar como e por onde começaria a dar corpo e vida às suas vontades, nascidas assim, de repente. Primeiramente ele queria uma horta, inicialmente não tinha o propósito de viver disso, apenas um hobbie. Foi então que decidiu começar sua hortinha. Alface, tomate, bergamota, laranja, aipim, diversas verduras, legumes e frutas. Uma infinidade que começou a deixar de ser uma simples hortinha e começou a tomar tamanho a alimentar uma família inteira, e mais. Poderia inclusive se tornar um agricultor, por profissão.

Com a ajuda das filhas, aquele homem sem terno, com bombachas, e alpargatas nos pés, ia todo final de semana cuidar de sua pequena propriedade. Levava para casa tudo o que conseguia, partilhava com os familiares e sorria com a ideia de conseguir um dia viver apenas assim, tomando seu chimarrão matinal, colhendo seus frutos e tendo essa vida de campo.

Para muitos, isso até parece loucura. Como um bancário, com uma carreira muito conceituada e admirada poderia idealizar largar essa comodidade e praticidade, para passar a viver no campo, em uma casinha menor que a vontade de continuar trabalhando no banco, vivendo apenas da aposentadoria bancária? “Sempre quis uma vida tranquila, com uma casa simples, uma

Da cidade para o campoPor Maria Fernanda Moog

Foto

: Mar

ia F

erna

nda

Moo

g

Rural

A trajetória de um novo agricultor

cozinha grande, uma horta com tanta diversidade e muito espaço verde”, disse o bancário. Ele conta inclusive que entrar para o banco foi uma conse-quência. Começou como office boy, passou por diversos outros cargos, até conseguir o cargo atual de gerente administrativo.

A área do sítio conta com sete mil metros qua-drados, tendo uma casa de 56 metros quadrados, com dois quartos, uma sala, cozinha e banheiro. A horta é bastante extensa, chegando a medir apro-ximadamente três mil metros quadrados.

O novo agricultor conta que não há um gas-to exacerbado, devido ao pouco custo em manter o sítio. Apenas paga a conta de luz e as sementes que, são consideravelmente baratas. Contando com o fato de que Alexandre não mora no sítio, por enquanto, tendo sim em seus planos futuros, viver por lá. Ele se diz um homem realizado.

Recentemente o jornal Sul 21 levantou a hipó-tese de que aproximadamente 250 mil pequenos produtores gaúchos poderiam ficar sem assistên-cia técnica, devido à ameaça de perda de filantro-pia da Emater/Ascar. Porém, após discussões a respeito, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome devolveu a filantropia à Ascar até 2017. Publicado em nota, no site da empresa, pela assessoria de imprensa da Emater/Ascar. Essa exemplificação de um problema maior, referente à dependência dos agricultores e demais ruralistas, por uma assistência, mostra que existem dois la-dos da moeda.

O bancário e novo agricultor não sofre com falta de apoio, devido ao fato de ser o único res-ponsável por seu sustento. Ele não conta com ne-nhuma ajuda ou auxílio financeiro.

Não faz parte de nenhum grupo de agriculto-res ou beneficiados por associação. É um sonho arcado sozinho.

“Sempre quis ter uma vida tranquila, uma casa simples.Alexandre Silva

88 89

Page 46: Revista Bagual

O lixo em Porto Alegre sempre foi um proble-ma enfrentado pelos habitantes, seja nas ruas ou em casa. Pro-va disso são os dados disponibilizados pelo Departamento Munici-

pal de Limpeza Urbana (DMLU). A coleta domi-ciliar, mais a limpeza de focos de lixo e varrição das ruas, soma resíduos enviados para o aterro sanitário de Minas do Leão, todo esse material chega a cerca de 2.000 toneladas por dia. Já a co-leta seletiva, que são resíduos enviados para uma das 18 Unidades de Triagem, somam cerca de 110 toneladas por dia, em Porto Alegre

Além da quantidade de lixo, outro problema é o recolhimento dele diariamente. Quando vai passar o caminhão? Ou então, quando vai pas-sar a coleta seletiva? Para isso foram criados três aplicativos que ajudam e facilitam a vida de quem busca descartar corretamente os seus resíduos. LimPOA, Descarta.net e ColetaTri são aplicati-vos de coleta de lixo disponibilizados no Data-Poa, banco de dados da cidade de Porto Alegre, onde existem muitos outros apps de utilidade pública. Segundo o coordenador do #POADigi-tal, responsável pelo repositório de dados, Thiago

Ribeiro, “os apps não foram criados pelo nosso setor, mas foram desenvolvidos por pessoas que utilizaram os dados abertos, fornecidos via api no site www.datapoa.com.br”.

Marcia Freitas, 39 anos, costuma separar seu lixo em orgânico e seco, mas sempre encontra problemas na hora de descarta-lo corretamente. No condomínio onde mora, na zona norte de Porto Alegre, até existe a separação do lixo, mas no final das contas, tudo é recolhido e descartado junto. No último ano, Marcia esperaria pela co-leta seletiva dos resíduos recicláveis, aqueles que poderiam ser reaproveitados de alguma forma e não seriam apenas jogados nos lixões esperando que se degradassem (para alguns materiais leva muitos anos). Agora, ela utiliza o Descarta.net, que disponibiliza o local ideal para descartar o material procurado.

“Assim fica mais fácil de saber onde descar-tar o óleo de cozinha, as pilhas e até as baterias dos celulares velhos” – conta a dona de casa que prefere “manter a consciência limpa” e fazer o possível para preservar o meio-ambiente. Sobre os outros dois aplicativos, Marcia diz que ainda pretende experimentar, já que “tudo atualmente parece ser feito a partir do celular, fica bem mais fácil fazer muitas coisas do dia-a-dia, inclusive, descartar o lixo corretamente”.

Descarte viaMobile

Banco de dados de Porto Alegre disponibiliza três aplicativos para facilitar o descarte de lixo

Por Pâmela Soares

Ambiental

Se você precisa encontrar pontos de coleta se-letiva, postos recebimento de óleo de fritura, li-xeiras ou contêineres, o LimPOA pode te ajudar. É informado o horário de funcionamento dos pontos de coleta, o telefone para contato e ainda instruções sobre quais tipos de resíduos devem ser descartados em cada ponto. Esse aplicativo tam-bém possui recursos para traçar rotas que mos-tram ao usuário o caminho até o local correto para descartar o lixo. Ele está disponível apenas para o sistema operacional iOS, mas já existem iniciati-vas para uma versão compatível com Android.

O Descarta.net é um site que localiza os pon-tos de descarte correto de acordo com o tipo de resíduo. “Descubra onde descartar qualquer tipo de resíduo na cidade de Porto Alegre” é o lema do site. São 15 opções de classificação de materiais para o descarte como por exemplo: pilhas e bate-rias, pneus, remédios e latas de tintas com restos. É possível acessa-lo de seu computador (desktop),

celular ou tablet.O ColetaTri informar sobre horários, dias e

se a coleta for automatizada com a utilização de containers, ele te deixa sabendo também. Além de informações conforme o CEP na capital gaúcha, o aplicativo também oferece geolocalização pelo smartphone. Informando o nome da rua, conse-gue-se maior detalhes sobre a coleta. É possível criar alertas para lembrar os dias de coleta na sua localidade. Esse aplicativo também apenas se en-contra disponível para o sistema operacional iOS.

Os três aplicativos utilizam dados públicos, ce-didos pela Prefeitura de Porto Alegre e podem ser encontrados no site www.datapoa.com.br/apps. Nesse banco de dados também existem outros programas mobiles de utilidade pública, desen-volvidos para ajudar a facilitar tarefas do nosso dia-a-dia em Porto Alegre. Transporte, educação e até as últimas notícias da cidade são os temas de alguns aplicativos encontrados no site.

Foto

: Div

ulga

ção/

Lim

POA

• Saiba qual aplicativo utilizar:

9190

Page 47: Revista Bagual

Hotéis em todo o mundo aderiram à tendência pet friendly

Foto

: Hea

ther

Hol

man

from

Hot

els

of t

he R

ich

and

Fam

ous

O Brasil é o segundo país com maior popula-ção de animais de estimação no mundo, só per-de para os Estados Unidos, que contabiliza 146 milhões de mascotes. Hoje em dia, os pets fazem parte da família brasileira. Foi pensando nisso que bares, restaurantes, lojas de rua e shoppings de Porto Alegre estão criando espaços para cães e gatos. Conhecidos como “pet friendly”, esses es-paços fazem parte de um projeto difundido em várias partes do mundo, que adapta estabeleci-mentos comerciais para melhor receber os pets e seus donos.

Os estabelecimentos comerciais que seguem essa fisolofia amiga dos animais são tendência entre os gaúchos. A praticidade é a principal van-tagem destacada por Ivana Rebeschini, publicitá-ria e blogueira, que não abre mão de levar a sua buldogue francesa Demi nos lugares aonde vai. “Na maioria das vezes, eu e meu namorado esta-mos passeando com a Demi e acabamos indo a algum restaurante que recebe animais para não precisar voltar para casa e largar ela”, afirma Ivana que acredita que “quem não está por dentro da tendência vai perder bastante público”.

Ivana ainda adverte que muitos estabeleci-mentos que se dizem pet friendly mas que na verdade não recebem tão bem os cães. “Existem locais que não acolhem os cães, apenas recebem”, para ela os locais que seguem a tendência devem

estar preparados para receber os pets, sem recla-mações sobre latidos ou algum tipo de comporta-mento. Entre os locais preferidos de Ivana e Demi estão a lanchonete Nook – Sabores Especiais, que foi criada especialmente para receber cães e con-ta até com cardápio especial para os pets, como biscoitos, sorvetes e brigadeiros pet, produzidos com carne e vegetais, frutas, aveia e mel, e o Lola Tapas Bar.

O Lola Tapas Bar é um restaurante de Porto Alegre. O bar aceita pets desde 2012, quando foi fundado no bairro Rio Branco. A decisão de ser pet friendly teve como base uma questão pessoal, todos no restaurante são apaixonados por ani-mais. Ao unir a paixão por cachorros e um es-tabelecimento comercial que os receba, o Lola se tornou pioneiro e possui um diferencial no mer-cado.

A prova de que o Tapas Bar realmente acolhe os animais de maneira adequada é que ao chegar com o cão, o cliente recebe uma poltrona no ambiente externo e água para o mascote. Além disso, existe um mural onde são expostas as fotos dos cães que já visitaram o restaurante.

Em Porto Alegre, o Hotel Sheraton foi o pri-meiro hotel a receber animais nas suas suítes. Re-cebendo o cãozinho tão bem quando acolhe os hóspedes. A única restrição é quanto ao tamanho do pet, que só pode pesar até dez quilos.

Invasãopet friedly

Os animais de estimação ganharam o coração dos donos e a simpatia dos estabelecimentos comerciais

Por Victoria Schwengber

Comportamento

93

Page 48: Revista Bagual

Hotéis em todo o mundo aderiram à tendência pet friendly

Shoppings da capital também recebem os animais de estimação. No Barra Shopping Sul uma petshop é responsável por alugar carrinhos especiais para cahorros, com cinto de segurança e frauda para eventuais necessidades. O aluguel do carrinho custa dez reais e tem horário livre. O carrinho só não é permitido na praça de alimen-tação do shopping. Seguindo o sucesso do Barra Shopping, o Shopping Moinhos adotou o mesmo sistema no ano de 2014.

Além de espaços exclusivos para cães e gatos em estabelecimentos comerciais, os mascotes vêm ganhando cada vez mais lugares em parques e praças. Os “cachorródromos”, como são conheci-dos, foram construídos para que os donos possam levar seus cães para passear tranquilamente, tendo um lugar exclusivamente para eles. Esses espaços começaram a se popularizar na capital em 2013, quando o Parque Germânia inaugurou o primeiro da cidade. Logo depois, outras praças e parques em diferentes regiões começaram a fazer o mes-mo.

Frequentador assíduo dos cachorródromos de Porto Alegre, Matheus Zardo leva diariamente a sua border collie Lola para brincar no do Parque Germânia. Para ele, o espaço exclusivo para os animais melhorou muito as tardes de lazer para todos. “Como o cachorródromo é cercado, dá para deixar os cachorros soltos sem se preocupar com as pessoas que não querem ter contato com eles”, afirmou Zardo sobre a principal vantagem no espaço.

9

Foto

: Y N

akan

ishi

Tributação e o Robin Wood às avessas

Aumento no imposto das bebidas é pior para o mercado emergente e vendedores finais, enquanto as quatro grandes seguem dominando o Brasil

Cerveja é uma das preferências nacionais. As prateleiras dos supermercados permanecem sempre cheias com o produ-to - e não por falta de consu-midor, mas sim por boa re-posição. Marcas importadas e caras dividem espaço com

outras de menor valor. E também não significa que uma é maior do que a outra, que a mais en-corpada é superior economicamente a outra po-pular. Existem diferentes públicos-alvo que são contemplados basicamente por quatro grandes empresas no Brasil. A cerveja engloba todas as classes sociais sem jamais uni-las. O consumo não varia, mas sim o contexto. A bebida flutua entre o churrasco gourmet e a reunião na comunidade.

Esta bebida social, contudo, não tem vida tão simples no Brasil. O imposto sobre a cerveja (IPI/PIS/COFINS) no país é pesado. Em primeiro de maio desse ano foi decretado o aumento em torno de 14% da carga tributária efetiva - que é a tribu-tação com todos os descontos fiscais homologa-dos. Por outro lado, o Governo Federal concedeu descontos fiscais especiais, aplicados as alíquotas incidentes sobre as vendas aos comerciantes va-rejistas e consumidores finais. Dependendo dos produtos que uma cervejaria produz (cervejas es-peciais ou não) e da sua capacidade de distribui-

ção, o impacto da alteração tributária varia, atin-gindo entre 14% negativos até 9% positivos. As grandes empresas se beneficiam do ajuste. Ainda assim, a Receita Federal estipula um aumento médio de 10% nos preços de maneira geral.

A expectativa do Estado é arrecadar R$ 868 milhões a mais até o final de 2015, R$ 2,05 bilhões em 2016, R$ 2,31 bilhões em 2017 e R$ 3,26 bi-lhões em 2018 com o novo modelo de tributação. O contador João Carlos Campos, que atua na Microcervejaria Dado Bier, avalia que é grande a possibilidade de esta arrecadação se confir-mar. Entretanto, ele destaca que o aumento de impostos nunca é salutar para a economia como um todo. “Pode gerar um círculo vicioso, através do repasse aos clientes dos efeitos inflacionários medidos pelos diferentes institutos de pesquisas econômicas”, afirmou Campos. O preço deve es-tabilizar somente a partir de 2019 - caso não im-plementem nenhuma novidade tributária até lá.

O reflexo do aumento nos impostos é inevi-tavelmente nas pessoas, na medida que o cená-rio do mercado atual é levado em conta. O custo da cerveja aumenta. O consumidor é quem paga parte da diferença. O Governo, em nota oficial, deixou claro que cabe a cada empresa definir se irá aumentar ou não o preço final. João Carlos Campos, contudo, acredita que tal parecer tercei-riza o problema para as empresas e tira a respon-

Por Caio César Spillere

Economia

Foto

: Cai

o Sp

iller

e

95

Page 49: Revista Bagual

sabilidade do Estado de ter provocado um foco de efeito da inflação. “A maioria das empresas traba-lha dentro de margens de lucro apertadas. Desta forma, a menos que as mesmas decidam absor-ver um prejuízo temporário, é impossível deixar de repassar o aumento para os clientes”, analisa o contador.

A Cervejaria Riograndense - dona de marcas como a Província - é uma das empresas do ramo que enfrenta dificuldades com o aumento dos tri-butos. O sócio-gerente Júlio César Klimkowski é categórico ao afirmar que “existe um processo de Robin Wood às avessas, tirando dos pobres para dar aos ricos. Da maneira como foi estruturada a forma de cálculo, com descontos concedidos a quem abastece diretamente os pontos de venda fi-nais, o fisco beneficia quem possui rede própria de distribuição”. No Brasil, apenas Ambev, Heineken, Brasil Kirin e Cervejaria Petrópolis tem esse di-ferencial. Estas quatro dominam massivamente o mercado nacional. Micro, média e pequenas em-presas têm a rede de distribuição terceirizada.

“Evidencia o que é histórico no país: o governo fazendo favores aos grandes grupos empresariais, em detrimento dos emergentes. É a velha máqui-na de manutenção do status quo. Quem é grande fica maior; quem é pequeno não cresce”, sentencia Klimkowski. Segundo ele, o IPI chega a represen-tar 25% a menos de tributo para os grandes.

A questão é de mercado. Por mais que grandes marcas tenham vantagens, o preço das emergen-tes não pode ser maior do que as concorrentes. E este valor no segmento pilsen - tipo de cerveja mais consumido - é determinado pela marca líder. “Descolar do preço do líder fará com que o pro-duto não gire na prateleira, fazendo com que se utilize, no futuro, de promoções e descontos para evitar a proximidade do prazo de validade”, anali-sa o empresário da Cervejaria Riograndese.

Não há como evitar o aumento no preço nas prateleiras e bares afora. Júlio Klimkowski e João Campos verificam que não há margem para o em-presário consumir - o valor final sobe. O preço da cerveja no Brasil é mais de 70% impostos. Se o percentual de lucro é apertado para os fabrican-tes, talvez seja ainda maior para os vendedores. Os bares sentiram o aumento, e o reajuste chegou ao cardápio.

Jonathan Wodarski, dono do bar La Estacion, localizado no bairro Rio Branco, em Porto Ale-gre, trabalha com mais de vinte cervejarias, sendo algumas delas importadas. Segundo ele, todas já avisaram que irão aumentar o preço. A explica-ção dada pelas empresas foi justamente a nova tributação e o aumento do custo da matéria-pri-ma, como o lúpulo e o malte. Quando perguntado sobre a margem de lucro que obtém na venda de cerveja, Wodarski afirmou: “Minha margem de

lucro, mesmo reajustando os meus preços, di-minuiu”.

Toda alteração nos impostos chega ao povo de algum modo. O novo modelo de tributação das bebidas tem um efeito imediato no bolso do con-sumidor. “É inevitável, os preços novos já chegam inflacionados, o famoso efeito dominó até o copo de cada dia”, salienta o dono do bar La Estacion. A medida faz parte do plano do Governo para es-tabilizar a economia. A expectativa de lucro para os próximos anos com os impostos é grande. O resultado, entretanto, só poderá ser avaliado em 2019.

Mas a questão específica da cerveja chama

atenção pela falta de igualdade no mercado. Com somente quatro grandes, que dominam as prate-leiras nos supermercados, os emergentes poucas chances tem. Uma realidade dominada por pou-cos também reflete em uma falta de competitivi-dade. Novamente, o consumidor sente no bolso.

As prateleiras seguirão cheias, e com repo-sição em alta. Resta saber se será com variadas marcas ou semper as mesmas. Cervejaria Petró-polis, Ambev, Heineken e Brasil Kirin. Todo um modelo de tributação voltado para uma minoria, mas que se comporta como um gigante. Casual-mente, na foto acima os fardos empilhados não são de cervejarias menores. É o Brasil de fato.

Quem é grande fica maior; quem é pequeno não cresce”Júlio César KlimkowskiViliae

Foto

: Gab

riel L

uz

Foto

: Cai

o Sp

iller

e

96 97

Page 50: Revista Bagual

Todos já ouvimos alguma vez na vida algo sobre os benefí-cios que a prática da leitura pode causar na formação in-telectual, criativa e psicológica das pessoas. Há quem diga que ler ajuda no desenvolvimento da empatia, pois incentiva o

leitor a entrar em contato com sentimentos dos outros, a compreender as emoções e melhorar sua sociabilidade. Em outras palavras, os livros cons-tantemente transformam o indivíduo ao longo de sua vida. Porém, com o surgimento de aparelhos eletrônicos para a leitura e a desenfreada digitali-zação de inúmeras obras, o futuro dos livros im-pressos tem se tornado cada vez mais incerto.

Hoje a tecnologia ocupa grande espaço de im-portância nas atividades cotidianas do homem. De enviar um simples whats até realizar uma complexa transação bancária, todas essas opera-ções podem ser feitas a um toque da tela. O desen-volvimento de ferramentas que solucionam com rapidez e eficiência os nossos triviais problemas já fazem parte da realidade e, principalmente no meio da comunicação e informação o avanço tec-nológico não tem fim. Para complementar o ce-nário, o crescente aumento de usuários que utili-zam dispositivos móveis - como celulares, tablets e e-readers - têm ajudado a acentuar essa nova lógica de acesso ilimitado à informações e textos nesse imensurável ambiente online. O fato é que a modernidade é totalmente associada a tecnologia e, rapidamente, tornou-se símbolo de qualidade e

E-booksou papel: uma simples questão de gosto?

Foto

: Jul

iana

Lem

os

Tecnologia

Por Juliana Lemos

Impresso ou digital. O impasse sobre qual caminho os livros vão trilhar ainda não tem resultados definitivos

99

Page 51: Revista Bagual

desenvolvimen-to da sociedade, ou seja, é tida com positividade.

Contudo, em decorrência ou simplesmente pela mistura da pretensão científica misturada com uma desenfreada busca pelas novidades, em algum momento sempre se decreta o falecimento e obsoletismo de um objeto, pois finalmente foi inventado um melhor substituto, provavelmente no formato digital. O cinema e rádio já passaram por essa fase anúncio de morte prematura, porém, com a chegada de tecnologias como Kobe e Ki-dlle, a discussão foi transferida para os livros im-pressos que passam pela guilhotina dos digitais. Apesar disso, para o editor Paulo Flávio Ledur que trabalha há 39 anos na editora Assessoria Gráfica e Editorial (AGE) e já presenciou diferentes mu-danças no mercado editorial, acredita que ambos formatos têm suas qualidades e que podem ser exploradas do melhor jeito sem interferir no ou-tro. “O livro de consulta, como dicionários e livros técnicos, entre outros é mais prático na versão di-gital, em função da rapidez de localização do item de consulta. No entanto, os de narrativas, história e conhecimentos gerais, entre outros, é preferível ler na versão impressa, por ser mais confortável e menos cansativo. O livro eletrônico também tem a vantagem de poder ser condensado num meio menor, como e-book, pendrive, etc., facilitando sua condução em viagens”, comenta.

Entretanto, quando falamos entre as diferen-ças de livros digitais e convencionais é impossível não salientar as questões econômicas que envol-vem cada formato desde sua produção, preço final nas lojas e como o seu valor pode influenciar as preferências do seu público. Precisamente, Ledur afirma que na AGE ainda predominam edições de papel, são cerca de 40 novos títulos por ano enquanto 30 são oferecidos digitalmente. Quase não existem versões exclusivamente digitais, são anualmente produzidas apenas três obras e, nor-malmente, os autores preferem ter seus livros em um primeiro momento impressos e, quem sabe, mais tarde no modelo digital. O escritor Caio Ri-ter faz parte desse quadro, uma vez que mesmo tendo mais de 50 publicações não quis nenhuma em e-book. “Não julguei interessante. Creio que o livro tem mais sucesso em papel do que no forma-to digital”, afirma.

Além disso tudo, as despesas de fabricação, explica o Paulo, são iguais nas duas versões até o momento da multiplicação, quando ocorre a dife-rença: na versão digital não há consumo de papel, tinta e todo o processo de acabamento, reduzin-do significativamente o custo, algo em torno de 50%, dependendo da quantidade que se fizer na impressa. Ou seja, para as editorias valeria muito mais a criação de modelos digitais e seguindo o raciocínio também seria economicamente mais

Creio que o livro tem mais sucesso em papel do que no formato digital.Caio Riter

barato para os leitores, mas a demanda parece exi--gir o contrário. Apesar disso, segundo Graziela Freitas Gomes do setor de comunicação e marke-ting da Editora Universitária da PUCRS (EDI-PUCRS) a venda de e-books cresce lentamente e consideravelmente após a padronização do preço para R$ 9,90 cada - antes era definido conforme o valor do impresso.“Com relação a diferença nas vendas podemos afirmar que a saída de e-book é aproximadamente 3% sobre as vendas do livro de papel. Comparando este mesmo período no ano passado a venda de digitais significou 0,5% sobre o gênero convencional”, expõe Graziela. O cálculo foi com base na vendagem dos produtos

durante os últimos três meses - março a maio. Até o momento vimos que não é a tecnologia de e-readers que está substituindo os livros tradi-cionais, apesar da euforia tecnológica que a po-pulação alimenta. Muito menos são os aspectos mercadológicos, visto que mesmo as obras tra-dicionais tendo um preço superior aos digitais, os últimos não chegam nem perto do número de vendas do primeiro. Acessibilidade e pratici-dade são as marcas da nova geração de e-books, enquanto os impressos permanecem no gosto popular por pura nostalgia, pois, quem sabe eles conseguem evocar o sentimento de um passado mais simples e sem os exageros da contempora-

Foto

: Jul

iana

Lem

os

101100

Page 52: Revista Bagual

neidade e, claro, a possibilidade de emprestar e compartilhar com os outros facilita na sua perma-nência. Logo, parece que nenhum deles consegue suprimir significativamente a existência do outro, mas, os livros de papel detêm mais simpatia, como opina Riter: “Não vejo como melhores ou piores. O que muda é apenas o suporte. Porém, ainda não consumo tal tipo de livros. Prefiro os de papel, sinto-os como mais companheiros, talvez eu seja de uma geração que ainda vê o livro com certa sensibilidade”.

Entretanto, há um elemento que pode, sim, intervir na vida tanto dos impressos quanto nos digitais. Segundo a última pesquisa realizada ano passado pela Federação do Comércio do Rio de Janeiro, sete em cada dez brasileiros não leram nenhum livro em 2014 e, por consequência há de-créscimo nos hábitos de leitura, especificamente foi de 35% para quase 30%. A razão seria que es-tamos trocando a leitura por navegar na internet, assistir a filmes, televisão ou se reunir com família e amigos.

Logo, mais importante do que saber quem será o vencedor no duelo entre e-books e papel, deve-se primariamente focar em ampliar a forma-ção de leitores, pois ler é um exercício que só traz vantagens para as pessoas e sociedade. “O ideal é buscarmos práticas leitoras que visem à formação qualificada das pessoas. Quanto ao suporte, ele escolherá aquele que melhor satisfizer suas neces-sidades e desejos como leitor”, pondera o escritor

Foto

: Jul

iana

Lem

os

102

Page 53: Revista Bagual