Revista Arnaldo Danemberg
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r evi st a
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2011 3
R
EDITORAKathia [email protected] Responsável (17812-81)
EDITOR DE FOTOGRAFIAMarco Antônio [email protected]
PROJETO GRÁFICOConceito A
DIREÇÃO DE ARTECristiana [email protected]
REVISÃOAna Grillo
IMPRESSÃOBURTI Grá� ca
Reunir trinta anos de uma história carregada de muitas outras his-
tórias define o desafio de editar a trajetória profissional de Arnaldo
Danemberg. Personalidade de biografia talhada em inúmeros relevos
e que o tempo só fez aprimorar.
Uma tarefa estimulante, grati� cante em toda a sua dimensão, que resul-
tou da con� ança mútua e de pontos em comum que interligam nossos
trabalhos. “Nada é por acaso” é uma frase recorrente de Arnaldo, e esta
publicação se enquadra no conceito.
Tenho o mesmo tempo de profissão de Arnaldo Danemberg, e sou pu-
blisher de uma revista carioca que me levou a conhecer mais de perto
o universo de excelência construído com o selo AD. Escrever sobre o
antiquário cujo nome é referência no mercado sempre esteve na mi-
nha pauta. E, de matéria em matéria, chegamos aqui. O convite para
compor a edição foi uma honra, na mesma proporção da responsabili-
dade que a função requereu.
Foram meses ao lado de Arnaldo selecionando textos, fotos, memórias...
Um trabalho minucioso, conduzido por ele com o mesmo rigor pela qua-
lidade que aplica às peças de antiquariato que compõem seu rico acervo.
Percorri de forma imaginária seu Le Grand Tour, revivendo passagens me-
moráveis pelo mundo em busca da matéria-prima essencial ao seu trabalho.
Observei o arquivo bem organizado de seus muitos projetos, mostras,
exposições. Presenciei seus amigos e parceiros receberem esta publica-
ção de braços abertos, contribuindo com generosidade e talento para o
enriquecimento do conteúdo.
Da mesma forma, compartilhei seu entusiasmo e sua emoção diante
deste mosaico autobiográ� co que ganhou forma nas 112 páginas que
compõem a revista. Resumo de três décadas de conquistas, mas que cer-
tamente renderiam outros inúmeros volumes.
Começa, então, a viagem de volta ao passado de Arnaldo Danemberg,
que re� ete na expertise do seu tempo presente. Parabéns pelo trintená-
rio, e que façamos juntos os próximos capítulos de uma longa trajetória.
Kathia Pompeu, editora
Foto
s M
arco
An
ton
io R
ezen
de
editorial
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30anos
antiquariatode
“Que sorte você teve!”, exclamou minha mestra, a pes-
quisadora e autora Tilde Canti, papisa do mobiliário bra-
sileiro, ao ver as duas cadeiras Sheraton Brasileiro, pe-
ríodo Dona Maria I, em jacarandá, recém-adquiridas por
mim e uma delas capa desta revista. Tais quais aqueles
exemplares a que meses antes eu havia sido apresenta-
do por Tilde nos museus das Minas Gerais. E ainda por
cima o par! Sorte dupla.
Neste ano em que festejo trinta anos de antiquariato, meu
trintenário, celebro aqueles que me ajudaram a percorrer
este caminho. Levado pelas mãos de meu pai, lembro-me
perfeitamente do que senti em um leilão no Cosme Velho,
realizado por A� onso Nunes Leiloeiro, amigo da família,
quando constatei que poderia adquirir as toalhas de mesa
em linho com o dinheiro da minha mesada.
Lembro-me também de quando, ainda bem pequeno, em
outro leilão, sugeri a meu pai a compra de um conjunto de
sala estofado e em alguns dias estava em nossa casa o mo-
biliário Leandro Martins. Recordo ainda o acervo do Lloyd
Brasileiro, arrematado por meu pai e por ele revendido; as
faianças; o chute de bola que dei, não a gol, mas direto num
prato de parede francês da nossa casa... e meu pai me ensi-
nando o caminho, desde cedo, pela convivência.
Quando muito mais tarde ele me convidou para juntar-
me a ele na futura Antigualha, na hoje famosa Rua do
Lavradio, jamais imaginei que o que inicialmente seria
apenas uma alternativa à advocacia – da qual eu gostava
mas não amava – iria se tornar não apenas uma pro� ssão
como outra qualquer, uma compra e venda, mas sim um
caminho a seguir, um norte de vida.
Daí para o aprendizado técnico foi um pulo, depois as aulas com
minha mestra, a pesquisa. “Vá aos museus...”, aconselhou-me
ela. E assim � z, sempre aos sábados. Mais tarde, pesquisando
o móvel brasileiro do século XIX, percorremos juntos o Vale
do Paraíba, as Minas Gerais, nossos museus cariocas. E dali a
Salvador, onde pesquisei o acervo de toda a arquidiocese.
Contando com o apoio do nosso então cardeal primaz, Dom
Lucas Moreira Neves (“só pode ser paixão o que move esse
rapaz”, a� rmou), percorri conventos, igrejas, mosteiros;
enriqueci-me de informação e experiência. O gosto pela
pesquisa já estava impregnado em mim. Mais tarde a pes-
quisa se estendeu a Portugal, nossa pátria mãe. E não pa-
rei mais. A cada aula, a cada curso, em palestras diversas,
nas exposições realizadas, continuo mostrando a todos o
resultado de minhas buscas – os móveis históricos. É como
falar dos � lhos... sempre um motivo de júbilo e orgulho.
Mais tarde, a mudança para o AD/Chopin. Meu pai pen-
durando as chuteiras, se recolhendo e, em sua quietude
e discrição, colecionando recortes de jornais sobre a vida
pro� ssional do � lho, que ali no Chopin trocou a Antigua-
lha por Arnaldo Danemberg Antiquário, numa merecida
homenagem a ele – o Arnaldo original, já que sou o � lho.
Filho que se fazia maduro, adulto e pai. Tornei-me então,
sem perceber a princípio, o Arnaldo Danemberg. Prazer!
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Impossível festejar o antiquariato e o mobiliário sem
mencionar e louvar o trabalho de nossos restaurado-
res. Sempre acompanhei de perto, com grande alegria e
prazer, essa tão nobre arte, assim como a habilidade, o
esmero e a paciência de nossos humildes mestres. Agra-
deço a eles por estarem comigo neste caminho. Restau-
rando nossos móveis, nosso pequeno jardim, a gente se
restaura junto. Acreditem.
Na foto que ilustra este texto, volto à Bica da Rainha,
no Rio de Janeiro, onde, no início do século XIX, Dona
Maria I ia “com as outras” beber em sua fonte... passan-
do pelo histórico bairro das Laranjeiras, onde nasci e
estudei, onde minha família sempre esteve. Pois bem
ali, na mesma fonte, já no início do século XX, um imi-
grante português, Sr. Antônio Gomes, homem de bra-
ço forte, aguadeiro, com sua pipa puxada a burrico, se
abastecia daquela água e a distribuía nas residências
do Cosme Velho. Esse homem mal podia imaginar que
seu neto, o “homem de estudo”, sonhado e educado
por sua filha Alzira, minha mãe, justamente um século
depois, percorreria seu país de origem e boa parte da
Europa num caminhão – não distribuindo, mas em bus-
ca de tesouros... – com o mesmo braço forte e valente
herdado do avô português e extremamente feliz.
Assim inicio a revisão dos meus trinta anos de ofício.
Compartilhei excelentes momentos com nossa editoria, a
quem agradeço de coração pelo trabalho realizado.
Recebi com grande alegria os textos dos meus convi-
dados – amigos queridos e parceiros de trabalho, de
trajetória –, que muito me emocionaram. A eles, meu
profundo agradecimento.
Passamos pelo Profissionalizando o Futuro, gratíssima
experiência; pelo meu Le Grand Tour; pelas exposições
realizadas – uma mostra dos trabalhos de meus queri-
dos parceiros arquitetos e decoradores, aos quais sem-
pre agradeço a distinção.
Estou agora no AD/Chopin, bem ao lado do Copacabana
Palace, onde meu outro avô, Henrique Danemberg, tra-
balhou durante muitos anos como gerente-geral. Homem
elegante, de seriedade extrema e discrição ímpar, exem-
plo para os netos Danemberg, agora homens feitos.
De um lado, a família de Antônio, Maria da Conceição, Ma-
rio, Manoel, Antoninho, João e Alzira. De outro, a família
de Henrique, Deína, Teócrito, Teophilo, Auristela, Osíria,
Sidney, Oswaldo, Henrique e Arnaldo.
E hoje Katia, minha grande companheira e incentivado-
ra nesta caminhada e também coautora desta história;
Paloma e André; Nicole, Gabrielle (de saudosa memória),
Oncle Marcel, Tante Fernande, Claire, Celine e quem mais
o futuro nos trouxer. Que sejam todos bem-vindos.
E vamos em frente. Temos certamente mais trinta
anos para viver, trabalhar e festejar. Mais trinta anos
para ficar na memória.
Com a minha alegria.
Arnaldo Danemberg
Rio de Janeiro, agosto de 2011
De um lado, a família de Antônio, Maria da Conceição, Ma-
rio, Manoel, Antoninho, João e Alzira. De outro, a família
de Henrique, Deína, Teócrito, Teophilo, Auristela, Osíria,
Sidney, Oswaldo, Henrique e Arnaldo.
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6 2011
perfil // arnaldo danemberg
!AD.indb 6 27.07.12 18:54:49
2011 7
Devoção explícita em seu escritório, através da tela sacra
de procedência espanhola evocando a imagem do santo:
“Identi�co na fé uma beleza tão intensa quanto a que
contemplo na arte”.
É nesse espaço que Arnaldo Danemberg administra ne-
gócios com zelo admirável, o que só justi�ca seu prestígio
no mercado. A começar pelo endereço elegante do anti-
quário, há 18 anos instalado na galeria do Edifício Chopin,
na Avenida Atlântica, vizinho do Copacabana Palace.
Lá, em 300 metros quadrados, tudo corresponde a bom
gosto, em apresentação pensada em detalhes para reite-
rar o valor artístico e estético das peças com a chancela
AD. São móveis e objetos originais de época dispostos com
estilo pelo interior da loja, formando vitrines dinâmicas,
em constante mutação, conforme o entra e sai do acervo.
Uma das estratégias adotadas por Arnaldo nessa
configuração é convidar arquitetos ou decoradores
parceiros para assinarem as ambientações. Nomes ta-
rimbados como Paola Ribeiro, Márcia Müller, Dado Cas-
tello Branco e Lia Siqueira já exploraram o potencial
da grandiosa coleção de cadeiras brasileiras do sécu-
lo XIX, exemplares ingleses do Arts & Crafts, clássi-
cos austríacos com assinatura Thonet, mobiliário em
ELE NASCEU EM UM 19 DE MARÇO – MESMO DIA EM QUE CATÓLICOS FIÉIS CELEBRAM SÃO JOSÉ, O SANTO CARPINTEIRO E PADROEIRO DOS TRABALHADORES. DATA QUE ARNALDO DANEMBERG ENCARA COMO BÊNÇÃO PROTETORA AO SEU TRABALHO COMO ANTIQUÁRIO, QUE ALCANÇA TRINTA ANOS MUITO BEM-SUCEDIDOS
POR KATHIA POMPEU FOTOGRAFIA MARCO ANTONIO REZENDE
DA FORMAESTÉTICA
D evoto
!AD.indb 7 27.07.12 18:54:52
8 2011
É um exercício do olhar reconhecer a nobreza e o valor de uma peça através de suas características materiais.
“
“
Arnaldo Danemberg
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2011 9
!AD.indb 9 27.07.12 18:55:05
10 2011
Identifico na fé uma beleza tão intensa quanto a que contemplo na arte.“ “
Arnaldo Danemberg
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interpretações campesinas ou citadinas francesas e
seus “Luíses”, entre muitos itens catalogados com cri-
tério, compondo interessantes arranjos visuais.
Complementando essas cenas, nunca faltam �ores na-
turais, especialmente lírios, cujo simbolismo remete à
monarquia francesa, impregnando toda a loja de um per-
fume adocicado e marcante.
Ares de Europa que faz rima com as relíquias garimpa-
das graças ao faro experiente do antiquário, que viaja
em média quatro vezes ao ano para o Velho Continente
com fins de pesquisas e estocagem, na maioria das ve-
zes por pequenas cidades interioranas. “É um exercício
do olhar, identificar a nobreza e o valor de uma peça
através de suas características materiais”.
Habilidades do ofício passado de pai para �lho. Foi com o
patriarca Danemberg que o caçula Arnaldo aprendeu desde
muito garoto a traduzir o belo em madeiras, formas e cores,
frequentando leilões ou no exercício prático de apuração
artística na loja da família, na antiga Rua do Lavradio.
Percurso sólido que lhe confere excelência em nicho
seleto, no qual cada peça disponibilizada com seu aval
reitera o conceito de ser um dos mais credenciados an-
tiquários do país. t
!AD.indb 11 27.07.12 18:55:17
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convidados // hildegard angel
!AD.indb 12 27.07.12 18:55:21
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JJá lá se vão 25 anos. Na Rua do Lavradio não tinha samba,
havia lojas com móveis velhos, numa sucessão de porti-
nhas e portonas, que, se garimpadas direitinho, escon-
diam alguns tesouros fabulosos. Mas tinha que procurar
mesmo, muito, olhar debaixo dos tampos das mesas, abrir,
fuçar e até cheirar as gavetas, pra não levar gato por lebre,
as habituais "antiguidades" saídas de fábrica. Nesse con-
texto, uma loja com fachada estreita, onde se lia, com le-
tras brancas, na placa azul esmaltada, o nome Antigualha,
era praticamente um oásis. Nem acreditei quando entrei
naquela loja profunda e encontrei tudo arrumado, móveis
lustrados e limpos, diferente de todo o comércio da rua,
que praticava a �loso�a do "quanto mais bagunçado me-
lhor". Sabia, por uma das "antiquárias" da região, que aquela
bagunça era uma tática comercial para dar ao cliente a im-
pressão de que ali ele poderia fazer grandes descobertas,
que sequer os donos haviam percebido. Mas na Antigualha
era diferente. Além do bom estado de todos os móveis, o
atendimento era especial. Um senhor, senhor Danemberg,
muito educado, gentil, estava pronto a conversar e dar
informações sobre as peças, enquanto seu �lho, Arnaldo,
mais do que isso, des�ava conhecimento sobre estilo, épo-
ca, origem de cada um dos móveis à venda.
A sala de jantar pela qual me encantei, ele informou, era
da primeira metade do século XX, estilo art déco; e o ve-
ludo velho cor de mostarda que estofava as cadeiras de-
veria ser mantido, caso eu a adquirisse, aconselhava, pois
conferia antiguidade à peça. O quarto, com direito a pen-
teadeira e muitos metais dourados como detalhes, era do
mesmo período, e esta era uma boa oportunidade, pois os
móveis daquela época estavam com ótimos preços, já que
havia grande oferta. O armário inglês tinha um restauro
no �orão (praticamente imperceptível), porém as prate-
leiras eram novas, envelhecidas. En�m, um comerciante,
além de expert, honesto. Que preciosidade!
Tornei-me cliente. E quando eu desejava algum móvel
que ele não tinha, levava-me à loja próxima, onde eu po-
deria encontrá-lo, ou simplesmente me indicava o ende-
reço. Durante muito tempo namorei uma cadeira antiga
de barbeiro da loja ao lado, contando até com o empenho
de meu recente amigo Arnaldo para me ajudar a pechin-
char e chegar ao preço desejado. Mesmo assim, bobeei,
não comprei a cadeira, e até hoje me arrependo, apesar de
não ter a mínima ideia de onde iria colocá-la.
A cada ida minha à Antigualha, novas descobertas. Lá
no fundo, ele mantinha um marceneiro, para pequenos
reparos. Mas o grande achado foi o segundo andar, onde
havia praticamente uma o�cina de restauro e uma pare-
de que era um verdadeiro mostruário de cadeiras, todas
lindas, das mais variadas épocas. Ah, teve uma vez que
eu também descobri a Katia, aquela que, com Arnaldo,
forma um par adorável...
Não demorou para aquele jovem sabe-tudo alçar outros
voos. Em pouco tempo estava na mídia. Em alguns anos
trocou a Lavradio pelo mais nobre dos endereços: a gale-
ria do Edifício Chopin. Vieram as mostras Casa Cor, com
os móveis de Arnaldo sempre se destacando de modo
admirável. Vieram os projetos desenvolvidos por ele,
formando jovens restauradores. No contexto do Pro�s-
sionalizando o Futuro, houve até uma exposição inacre-
ditável, no BNDES, em que o curador Arnaldo Danemberg
ilustrava com um mobiliário precioso as maravilhas que
um trabalho criterioso de restauro pode produzir. Havia
um espaço para a restauração de tecidos, que exibia al-
guns clássicos da Coleção de Moda Zuzu Angel, inclusi-
ve os vestidos do famoso des�le de protesto político, de
1971, que emprestei com prazer.
O projeto foi depois levado até Brasília, com a bênção da pri-
meira-dama Marisa Letícia, não tivesse sido também o Ar-
naldo quem expertisou os móveis do Palácio da Alvorada!...
Somos amigos, e é com alegria que, a cada dia, vejo o nome
Arnaldo Danemberg consolidar-se na primeira linha do
antiquariato brasileiro, respeitado, elogiado e aplaudido
pelos colecionadores, decoradores, arquitetos de interio-
res. Prova de que a soma do trabalho com o conhecimen-
to, o empenho e os princípios éticos também dá certo em
nosso país. Do Arnaldo só reclamo de uma coisa: não ter
guardado a antiga placa esmaltada da Antigualha, como
um recuerdo de seus primeiros passos nesse mundo de
madeiras nobres, porcelanas e cristais delicados... t
FOTOGRAFIA MARCO ANTONIO REZENDE
Hild
egar
d A
ngel
do antiquariato brasileiroPrimeira linha
!AD.indb 13 27.07.12 18:55:23
14 2011
convidados // maurício nóbrega
!AD.indb 14 27.07.12 18:55:31
QQuando eu mando um “Fala, Arnaldão” e a resposta
“Fala, bacana” aparece no visor do celular é como uma
senha para o início de uma conversa franca e cheia de
humor. Certamente observações irônicas e pertinen-
tes, comentários engraçados e piadas vão me fazer rir
por alguns bons momentos no meio da minha rotina
de visitas a obras, reuniões de apresentação de proje-
tos e filas na ponte aérea. Este “Fala, bacana” mostra
bem quem é o Arnaldão.
O Danemberg que agora comemora trinta anos de anti-
quariato todos conhecem: profissional sério, competen-
te, capaz de descobrir tesouros a cada viagem à Europa.
Volta com peças únicas, lindas, todas com uma história
para contar. São todas peças e móveis de trabalho, de
ofício, peças fortes e com alma, porque o Arnaldo não
perde tempo com móveis sem vida. Dono de um olhar
preciso, busca e encontra raridades que fazem de seu
negócio o mais bacana do gênero no Rio.
FOTOGRAFIA MARCO ANTONIO REZENDE
Mau
ríci
o N
óbre
ga
ArnaldãoFala,
Mas coube a mim a feliz incumbência de comentar seu
lado amigo e brincalhão. Todos sabem do patrão exigen-
te que ele é, mas poucos sabem do zelo e da preocupa-
ção que ele tem pelo José, pelo Ribamar, pelo Nilton, pelo
Chiquinho, pelo Leandro, pela Monica, pela Claudia, pelos
dois Rodrigos, pelos dois Jorges e agora, por sua �lha Pa-
loma. Todos conhecem sua capacidade de explicar didati-
camente cada detalhe de cada um dos móveis que possui,
mas poucos veem sua vibração interna ao fazê-lo.
Todos sabem o valor de cada expertise que assina de suas peças
ao mandá-las para a casa de mais um felizardo, mas poucos per-
cebem a perda que ele sente ao preencher aquele certi�cado.
O convívio com o lado íntimo, pessoal, do pai de Paloma
e André, marido de Katia, amigo dos amigos, poucos têm
a felicidade de privar. Incrível é que esta faceta é bem
parecida com suas descobertas: homem do trabalho, do
ofício, da labuta, forte, com alma e histórias para contar.
Parabéns, Danemberg! t
2011 15
!AD.indb 15 27.07.12 18:55:32
Vitrine por Samira Leal, AD / Chopin
16 2011
convidados // samira leal
!AD.indb 16 27.07.12 18:55:36
AAlgumas das catedrais mais antigas do mundo levaram
séculos para serem concluídas. Quando as contempla-
mos, mal nos damos conta de que, por terem atravessado
muitas épocas, acabaram combinando partes de diferen-
tes estilos. E o mais impressionante é que nelas podemos
apreciar um conjunto inteiro, acabado.
Talvez por isso alguns estudiosos digam que uma obra de
arte é boa quando a ela não se pode acrescentar nem tirar
nada: é digna de ser apreciada do jeito que é, sem mais
nem menos. Boa sobretudo quando sentimos o ar mais
cheio de oxigênio ao contemplá-la.
O que se percebe com muita clareza em todas as magní-
�cas peças do antiquário, além de todo o conhecimento
e cultura que o Arnaldo possui, é a elegância do olhar,
do escolher. Sua sensibilidade e intuição. Procura justa-
mente a arte de combinar o passado com o presente. E
o resultado são ambientes aconchegantes. Já com uma
atmosfera de vivência. De paz.
O verdadeiro e o moderno são decididamente a melhor
forma de como o passado chegou até nós. Passado e pre-
sente têm muito a nos dizer.
Quando olhamos para as melhores expressões de cada
cultura, vemos que nativos asiáticos ou índios da Ama-
zônia possuem verdadeiros artistas do design. No Bra-
sil colonial existia uma palavra com o mesmo significa-
do: dizia-se que tal arquitetura de igreja ou escultura
era do risco do Mestre tal. Do risco, não do rabisco.
Se f izer mos uma pesquisa pa ra ver como um jo-
vem, um casa l ou uma pessoa que mora sozinha
dispõem a a rquitet ura e o mobi l iá r io e exa mi-
na r mos seus a mbientes, sem que conheça mos os
usuá r ios, é ma is do que cer to logo adiv inha r mos
quem habita o quê. É isso mesmo; aqueles que se
per mitem a r r uma r suas casas, mesmo sendo de
poucos recursos, sempre encontra rão um meio de
ex ter ior iza r seu mundo inter ior.
Encontrei no Antiquário AD o que buscava para transmi-
tir essa leveza de formas, relações, cores, conforto e luz
que dá vontade de simplesmente “estar”.
E que pertence a um público habituado a certo tipo
de lapidação do gosto, cujas ambiências causam um
conforto muito especial – mesmo pessoas que nunca
refletiram sobre a importância da arquitetura de in-
teriores percebem que nela existe qualquer coisa de
admiravelmente universal.
As peças do Arnaldo Danemberg ficam bem de qual-
quer ângulo, porque é esta coisa intangível que nos
transmite alma e vida. t
Sensibilidade
FOTOGRAFIA MARCO ANTONIO REZENDE
Sam
ira
Lea
l
intuição&
2011 17
!AD.indb 17 27.07.12 18:55:38
convidados // patricia mayer
!AD.indb 18 27.07.12 18:55:44
OO Le Grand Tour de Arnaldo Danemberg vai mais longe do
que ele mesmo planeja. Além de suas incontáveis viagens
mundo afora – de onde saem garimpos fascinantes – e das
ambientações criadas por pro�ssionais parceiros divulgadas
à exaustão em belos postais colocados em redes sociais, esse
tour passa a ser quilométrico de verdade quando se conta-
biliza o impacto dessas ações nos leitores de revistas e jor-
nais onde Arnaldo comumente é citado e fotografado, nos
visitantes dos eventos em que ele participa com cuidadosa
seleção de peças, nos ouvintes de suas palestras e, last but
not least, nos seus alunos, os aprendizes de restauração.
Arnaldo sabe ir longe. É um andarilho inquieto e sagaz. E
tem a plena noção de que não basta ser um (bom!) comer-
ciante – é preciso cultura e conhecimento, curiosidade e
empenho, amizades e boas parcerias para percorrer esse
Grand Tour, seu projeto de vida.
Particularmente acho que Arnaldo, nessa sua trajetória
que começou há trinta anos, vai se realizando a cada eta-
pa. Dele emana uma tranquilidade típica de quem ama o
que faz. Estar em sua presença é motivo de alegria para
quem a compartilha. Está sempre de bom humor. E trans-
mite o muito que sabe com segurança, mas com sutileza
e discrição. A qualquer hora, receber no antiquário do Edi-
fício Chopin é motivo de satisfação para ele, oferecer um
café e mostrar uma peça surpreendente, peculiar, que ele
descobriu numa viagem tal, restaurou... Sabe vender, mas
às vezes nem parece que quer vender de tanto que ele
gosta e se apega ao seu acervo.
Suas mesas, cadeiras, cômodas, baús, caixas, estantes,
de procedências variadas, em geral de madeiras nobres e
com interessantes formatos e detalhes, têm a rara quali-
dade de – apesar de complementar com leveza qualquer
ambiente, do mais clássico ao supercontemporâneo –
conseguir dar peso, conteúdo e referência ao espaço. Pa-
recem até livros.
Não é à toa que Arnaldo tem, entre seus muitos arquite-
tos parceiros, pro�ssionais com trabalhos arrojados e de
vanguarda, além dos mais tradicionais. E uma clientela
no eixo Rio-São Paulo da elite cultural brasileira.
Acaba sempre agradando a todos. Isso se torna mais �a-
grante numa Casa Cor, por exemplo. Nas edições cariocas,
não é exagero a�rmar que seus móveis e objetos, presen-
tes em muitos espaços, sempre são dos mais comentados
pelos visitantes da mostra, e também pelos pro�ssionais
e pela imprensa. É sempre um prazer, numa visita aos am-
bientes decorados do evento, poder mostrar e comentar
as mesas de ofício, os armários de farmácia, os bancos de
carteiro, as escadas e chaises de barcos, os antigos berços
de ninar... en�m, das “descobertas” de Arnaldo pelo seu
Grand Tour pelo mundo.
Vá, amigo, siga em frente. Mas mantenha esse dom que
lhe permite enxergar nos seus achados muito mais do
que os olhos podem ver, e depois ainda nos encantar com
uma mágica interferência, seja esta apenas um polimen-
to ou uma informação relevante sobre a peça. t
Andarilho
FOTOGRAFIA MARCO ANTONIO REZENDE
Patr
icia
May
er
inquietosagaz&
2011 19
!AD.indb 19 27.07.12 18:55:45
acervo // le grand tour
!AD.indb 20 27.07.12 18:55:49
POR KATHIA POMPEU FOTOGRAFIA MARCO ANTONIO REZENDE
ENTREMEADO ÀS PEÇAS QUE ATRAVESSAM SÉCULOS DA HISTÓRIA DO MOBILIÁRIO, O SELO DA MARCA AD AGRUPA VIVÊNCIAS NO ACERVO OBTIDO EM MUITAS VIAGENS PELO TEMPO E PELO MUNDO
Tudo é informação no espaço capitaneado por Arnaldo
Danemberg. Loja com alinho parisiense, envolvida pela
atmosfera copacabanense da galeria no Edifício Chopin,
é endereço chancelado no mercado de antiguidades. O
que não impede o investimento em novidades, mesmo
que apoiadas na passagem dos séculos. Assim surgiu a
coleção denominada Le Grand Tour.
São objetos inusitados recolhidos ao longo de três décadas
de antiquariato, comemoradas este ano por Arnaldo. O
olhar maturado, somado a muitas idas e vindas – especial-
mente pelo território europeu –, recolheu caixas, baús, bi-
cas de barris de vinho, azulejos pintados à mão... Bagagens
que ocupam os dois andares da loja e que, agrupadas com
estilo, formam instalações carregadas de valor histórico,
combinando tamanhos, funções e procedências.
Apreciar os pedaços de mundo trazidos por Arnaldo é, de
fato, uma viagem de ricas percepções. Apresentados por
ele, então, ganham ainda mais interesse. Impossível não
se deixar levar pela narrativa empolgante quando conta,
por exemplo, sua disposição em percorrer quilômetros
conduzindo um caminhão em busca do pitoresco pelo
interior da França; ou a vibração de identi�car no burbu-
rinho de feiras e empórios, que visita por ofício acrescido
da curiosidade pessoal, a diferença entre o raro e o banal.
Com retórica embasada, os contornos materiais do mais
simples objeto são conduzidos ao status da arte quando
descritos pelo antiquário.
Faz todo o sentido. Afinal, a grife AD é a exata ex-
tensão da personalidade de seu criador – um gentle-
man ao modo antigo, com a permissão do trocadilho
– em que o requinte flui com a descontração inerente
ao que é autêntico.
Não à toa, itens do seu acervo, em constante movimento
com o entra e sai das peças, certi�cadas na autenticidade,
comparecem na maioria dos projetos de interiores com
autorias consagradas.
2011 21
!AD.indb 21 27.07.12 18:55:49
Ambientação com caixas de correio fran-cesas, em carvalho, Paris, cerca de 1900. Trio de panteras em faiança francesa, Paris, cerca 1930. Em destaque, os vasos em opalina francesa, anos 1940/50
22 2011
!AD.indb 22 27.07.12 18:55:54
Ao lado coleção de miniaturas francesas em “bois fruitier”, França, cerca de 1900. Acima, braseiro francês, século XIX. Abaixo, baú francês em pinho acetinado e couro – móvel campesino, cerca de 1900, e, vaso em opalina francesa translúcida, Paris, cerca de 1900
!AD.indb 23 27.07.12 18:56:11
Ao lado, caixa francesa em thuya, “bois fruitier”, metal e mar� m, e tampo com centro em embutidos de ins-piração � tomorfa. Interior original. França, Napoleão III, século XIX
À direita, boucheuse
francesa em madeira torneada
– utensílio relacionado ao vinho, França,
Bordeaux, cerca de 1900
Acima, escritório francês, em “bois fruitier”, com tampo em esteira rolante, escaninhos e gavetinhas – espelho de fechadura em me-tal, é móvel citadino, França, cerca de 1900
À direita, azulejos portugueses e
caixa de chá in-glesa neoclássica, em marchetarias
diversas, Londres, século XIX
24 2011
!AD.indb 24 27.07.12 18:56:20
Prestígio apoiado na seriedade com que conduz seu tra-
balho. O zelo no tratamento prestado aos produtos sob a
sua chancela, o que inclui técnicas de restauração e ma-
nutenção, é uma das características marcantes do selo.
E como dita a linguagem contemporânea, que funde épo-
cas e estilos, Le Grand Tour evoca memórias nas ambien-
tações, sugerindo novas funcionalidades para antigos
objetos. Nada mais atual. t
Prestígio apoiado na seriedade com que conduz seu tra-
balho. O zelo no tratamento prestado aos produtos sob a
sua chancela, o que inclui técnicas de restauração e ma-
nutenção, é uma das características marcantes do selo.
E como dita a linguagem contemporânea, que funde épo-
cas e estilos, Le Grand Tour evoca memórias nas ambien-
tações, sugerindo novas funcionalidades para antigos
objetos. Nada mais atual.
Caixa francesa em palissandre e marchetarias di-
versas, em deco-ração romântica,
França, Napoleão III, do século XIX
segunda metade
Bonbonnes francesas em
vidro, utilitário de vinhedo,
Bordeaux
2011 25
!AD.indb 25 27.07.12 18:56:29
antiquárioÁLBUM doantiquárioantiquárioantiquário
À la route, na
Aquitânia,
França.
antiquárioCelebrando vinte anos de antiquariato, com os Danemberg.
Embaixador e Sra. De Vicenzi, RJ.
Maitê Proença, Lais Gouthier e o casal Danemberg.
Dom Antônio e dona Christine de Orleans e Bragança e o casal Danemberg.
26 2011
fotos // meu trabalho
!AD.indb 26 27.07.12 18:56:49
“Alguns dos bons momentos ao longo dos meus trinta anos de profi ssão, que incluem grandes parcerias e eventos marcantes.”
Palestra na Embaixada do Brasil, em Paris.
Salão do Antiquário, RJ, com Patricia Mayer.
Fazenda São
Fernando, inte-
rior do Rio, em
entrevista para
TV local.
Exposição
“A Restaura-
ção no Brasil”,
BNDES, RJ.
2011 27
!AD.indb 27 27.07.12 18:57:04
convidados // lia siqueira
!AD.indb 28 27.07.12 18:57:09
GGosto do olhar do Arnaldo na madeira, admiro a manei-
ra didática e vigorosa como ele fala de cada encaixe,
cada entalhe. As mãos explicativas deslizam sobre as
curvas trabalhadas do mobiliário como se revelando a
metodologia construtiva.
Arnaldo associa as características de cada móvel às
épocas, aos costumes, às culturas. Nos faz perceber
que esses elementos juntos, traduzidos na execução,
tornam as peças – através das mãos dos artífices, dos
artesãos – únicas. Nos ensina que o mobiliário conta a
nossa história e nos permite perceber e compartilhar
dela através do seu conhecimento. Nos revela que as
madeiras frutadas, utilizadas nos móveis campesinos,
são trabalhadas e entalhadas naturalmente e com sim-
plicidade, como na arte naïf. Coleciona ferramentas que
permitiram o desenvolvimento e evolução de técnicas
mais sofisticadas e transformaram o ofício da arte do
mobiliário na arte da perfeição.
Lembro-me da alegria com que compartilhou sua con-
quista quando se tornou responsável pela classi�cação do
mobiliário do Palácio da Alvorada a convite do Iphan. Com
a mesma alegria e entusiasmo criou o curso Pro�ssionali-
zando o Futuro, formando jovens nas o�cinas de marce-
naria, viabilizando o ofício e o conhecimento da história do
mobiliário através da conservação e do restauro.
Um mestre para todos nós. t
Um
FOTOGRAFIA MARCO ANTONIO REZENDE
Lia
Siq
ueir
a
mestre
2011 29
!AD.indb 29 27.07.12 18:57:10
acervo // cadeiras
!AD.indb 30 27.07.12 18:57:14
SENTE-SE, FIQUE À VONTADE. CONFORTO, BEM-ESTAR, DESCANSO. ASSIM VIVENCIAMOS A CADEIRA, MÓVEL ONIPRESENTE EM TODOS OS ESTILOS E ÉPOCAS, TRADUZINDO SUAS CARACTERÍSTICAS ESTILÍSTICAS, ESTRUTURAIS E DECORATIVAS. ANTERIORMENTE SÍMBOLO DE EXCLUSIVIDADE E PODER – VIDE O TRONO COM SEU IMPONENTE ESPALDAR (AS “COSTAS LARGAS” DE CADA UM...) –, O TEMPO FEZ COM QUE A CADEIRA SE DEMOCRATIZASSE, ATINGINDO TODAS AS CLASSES, DIVERSIFICANDO SEU USO.
cadeirasAS
Cadeira francesa em madeira clara, “faux bambou”, palhinha no assento. França, século XIX.
!AD.indb 31 27.07.12 18:57:16
Cadeira brasileira em jacarandá e palhinha, Hibridismo Brasileiro, dita “Mineira”. Móvel citadino. Brasil, Rio de Janeiro, terceiro quarto do século XIX.
Cadeira francesa em “bois fruitier/cerejeira” e palha rústica. Manufa-tura campesina, numa interpreta-
ção rural do estilo Diretório. França, primeira metade do século XIX.
32 2011
!AD.indb 32 27.07.12 18:57:24
Cadeira francesa em “bois fruitier/nogueira” e palhinha, espaldar curvilíneo, pernas torneadas. Manufatura campesina, período Luiz Felipe. França, meados a terceiro quarto do século XIX.
Cadeira francesa em “bois fruitier/nogueira” e palhinha, espaldar em forma de violão,
pernas curvilíneas. Manufatura campesina, período Luiz Felipe.
França, meados do século XIX.
!AD.indb 33 27.07.12 18:57:30
Cadeira francesa “bois fruitier/merisier” (árvore da cereja selvagem) e palhinha, espaldar em violão, pernas curvilíneas. Móvel campesino. França, período Luiz Felipe, meados do século XIX.
Cadeira brasileira em vinhático e palhinha.
Hibridismo Brasileiro, Escola Pernambucana,
Beranger. Entalhes °to-morfos. Móvel citadino.
Brasil, terceiro quarto do século XIX.
!AD.indb 34 27.07.12 18:57:36
Cadeira francesa em “bois fruitier/cerisier/cerejeira” e palha rústica, espaldar em arcos, dita “Catedral”. Móvel campesino. França, primei-ra metade do século XIX.
Cadeira brasileira em jacarandá e palhinha, neoclássica, Império Brasileiro, estrutura curvilínea. Móvel citadino. Brasil, primeira
metade do século XIX.
2011 35
!AD.indb 35 27.07.12 18:57:44
OFÍCIO FUNDAMENTAL À HISTÓRIA, A RESTAURAÇÃO PRESERVA MEMÓRIAS E TRANSPORTA A NOBREZA DAS PEÇAS ATRAVÉS DO TEMPOOr estaurador
Como antiquário e pesquisador, o mobiliário sempre foi
minha paixão, meu norte de estudos e pesquisas. Ex-
pressão direta da vida cotidiana, dos hábitos de cada
povo, o móvel re�ete a sua maneira de ser e se exprimir
através de seus mestres artesãos. Conserva em si a his-
tória, transmite memória, já que vivemos nossas vidas
rodeados por ele: mesas, cadeiras, berços, camas etc.
Para manter viva a memória histórica, precisamos
trabalhar na conservação do mobiliário assim como
em todos os nossos demais bens artísticos. E, quando
POR ARNALDO DANEMBERGFOTOGRAFIA MARCO ANTONIO REZENDE
necessário, restaurá-los. Importante perenizar nos-
sos bens e transmitir tais conhecimentos e técnicas
às novas gerações.
Ao me deparar com cada móvel tratado em nosso estú-
dio de restauração, lembro-me de quando, no primeiro
dia de aula do Profissionalizando o Futuro, mostrei aos
jovens um antigo baú em três fases diferentes: como
eu o encontrei, bastante castigado por sinal; numa fase
intermediária de restauração; e finalmente já restau-
rado. Tudo na mesma peça.
36 2011
restauração // ofício
!AD.indb 36 27.07.12 18:57:51
Mostrei a eles que o tempo não fora favorável àquele móvel,
que ele havia sido negligenciado, mas que, daquele momen-
to em diante, um novo tempo começava para ele, uma nova
experiência, um tempo de restauração e futura conserva-
ção, e não mais o tempo que negligencia e destrói. E pouco a
pouco, passo a passo, à medida que móveis são restaurados
e o bom tempo passa, restauramos a nós mesmos.
Ao �nal do curso, recebi de um dos alunos uma carta rela-
tando que, depois da primeira aula, foi dormir “pensando
no amanhã”. Este jovem hoje está estabelecido no Espíri-
to Santo, trabalhando numa marcenaria e se aperfeiço-
ando em restauração.
Ele, como outros jovens aprendizes, vive agora esse
“amanhã”, esse futuro já presente, inserido no mercado
de trabalho e ajudando na preservação de nossos valores,
de nossa história, de nossa memória. É esse pensamento
que norteia a restauração. O sentimento de aproximação
com o passado, no presente, visando o futuro. t
2011 37
!AD.indb 37 27.07.12 18:57:59
convidados // mary del priore
!AD.indb 38 27.07.12 18:58:03
AArnaldo Danemberg tem dois compromissos: valorizar
o mobiliário brasileiro e tudo o que ele significa como
história e memória de nosso passado, e o compromisso
com o Brasil, na forma de responsabilidade social. Em
ambos os casos, ele é um exemplo incomparável de
como articular centros de interesse até então desco-
nectados: a atenção ao detalhe e às situações concre-
tas do cotidiano, o interesse pelas questões humanitá-
rias e humanísticas, a exigência ética.
Sua coragem em propor soluções individuais a problemas co-
letivos, sua disposição em reunir pessoas em torno de inte-
resses comuns, sua generosidade em oferecer, permanente-
mente, igualdade de oportunidades àqueles que lhe solicitam,
fazem dele um amigo, cidadão e pro�ssional incomparável.
Seu trabalho à frente do projeto Pro�ssionalizando o Fu-
turo é uma resposta ao desa�o lançado pelo poeta fran-
cês, Rimbaud, quando nos propôs “Mudar a vida!”. Longe
de diagnósticos céticos frente a um mundo em plena
transformação, Danemberg nos convida a amar a vida, a
amar o belo, amar a história, pois esses sentimentos são
uma força vital que nos regenera.
E tudo o que não se regenera, degenera. A lição que ele
nos passa é que são necessários novos encontros com o
passado (o mobiliário) e o futuro (os jovens artesãos) para
nos iluminarmos e nos revigorarmos. Vida longa a tão
bom mestre e amigo! t
FOTOGRAFIA MARCO ANTONIO REZENDE
Mar
y D
el P
rior
e
futuropresente
O
2011 39
!AD.indb 39 27.07.12 18:58:04
40 2011futuro
ação social // profissionalizando o futuro
Pro�ssionalizando o Futuro é um projeto que se destina a
promover cursos de auxiliar de restauração e de conser-
vação de bens artísticos nacionais, através da capacita-
ção de jovens de baixa renda, de 15 a 19 anos, de ambos
os sexos, em o�cinas técnicas com professores e mestres
artesãos especializados, gerando, desta forma, a recupe-
ração de valores históricos e a formação de restaurado-
res-cidadãos para o mercado de trabalho.
A restauração e a conservação do mobiliário histórico,
inclusive molduras, são objeto de aprendizado, através
de o�cinas de marcenaria, lustração, empalhação e esto-
faria. Além da transferência de conhecimentos técnicos
especí�cos da área de restauro, também são ministradas
aulas de conteúdos complementares, tais como inglês e
francês técnicos, postura pro�ssional, ética, informática,
história da arte, contabilidade, direito e cidadania.
futuroprofissionalizando
oPROJETO DE INCLUSÃO SOCIAL, CAPITANEADO PELO SELO AD, DESENVOLVIDO EM BRASÍLIA E NO RIO DE JANEIRO
Turma de Brasília, 2009
Foto
s: D
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cerv
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anem
berg
!AD.indb 40 27.07.12 18:58:05
2011 41futuroRecebendo dona Marisa Letícia, madrinha da turma de Brasília, 2009.Abaixo, a turma de 2005, no Rio
Os alunos recebem acompanhamento psicológico
pontual , como forma de proporcionar o suporte indispen-
sável de integração, tanto ao ambiente quanto ao grupo
de trabalho de que farão parte, pela coordenação psico-
lógica do projeto. Participam também de palestras sobre
diversos temas, dentro da necessidade cultural do curso
dos jovens aprendizes, ministradas por pro�ssionais no-
táveis em suas áreas de atuação.
Os alunos fazem, ainda, visitas técnicas ilustrativas a di-
versas entidades culturais do Rio de Janeiro, tais como:
Museu Casa do Pontal, Museu Internacional de Arte Naïf
do Brasil, Museu Nacional de Belas Artes, Museu Históri-
co Nacional, Museus Castro Maya, Museu de Arte Moder-
na do Rio de Janeiro e Sítio Burle Marx. Nos meses �nais
do curso os alunos, orientados por seus professores, par-
ticipam de restauração de mobiliário histórico do acer-
vo de notória entidade pública a ser escolhida. No curso
ministrado no Rio de Janeiro em 2005, patrocinado pela
Prefeitura da Cidade, através da Secretaria de Desenvol-
vimento Social, o Convento de Santo Antonio teve signi-
�cativos itens de seu acervo histórico restaurados pelos
alunos. Nessa época o curso teve o seu mérito reconhe-
cido pela Unesco, órgão das Nações Unidas responsável
pela Educação, Ciência e Cultura, passando assim a ser
chancelado por essa organização.
!AD.indb 41 27.07.12 18:58:08
42 2011futuroEm 2009, o Pro�ssionalizando o Futuro desenvolveu em
Brasília o Projeto Alvorada, patrocinado e chancelado
pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacio-
nal/Superintendência do Distrito Federal, onde trinta jo-
vens aprendizes entraram em contato com técnicas em
restauração de mobiliário, sobretudo o mobiliário moder-
nista da época da inauguração da Capital Federal. Para
exames de avaliação, móveis da Câmara dos Deputados
e do Palácio da Alvorada foram restaurados com o auxílio
dos jovens aprendizes. Como madrinha do curso tivemos
a primeira-dama da República, Sra. Marisa Letícia Lula da
Silva. Formatura o�cializada em agosto de 2009.
O Pro�ssionalizando o Futuro também tem por �nalidade
gerar novas oportunidades, acompanhando o desenvol-
vimento dos jovens no mercado de trabalho, buscando
a sua inclusão efetiva, resgatando e valorizando pro-
�ssões quase extintas, ligadas às artes e ofícios, dando
aos aprendizes a oportunidade de entrar em contato com
técnicas preciosas no exercício de seu aprendizado, ele-
vando, desta forma, sua autoestima, fazendo deles cida-
dãos e contribuindo, simultaneamente, para o bem-estar
da comunidade e de sua própria cidade. Ao aprender o uso
adequado de técnicas de conservação e de restauração
de objetos, o jovem aprendiz estará preservando o patri-
mônio histórico do país e sua própria memória, intrínseca
em tais manifestações artísticas. t
Diplomação da turma de esto-faria, em 2005,
no Rio. O�cina de tra-
balho, praticado por alunos de
Brasília, em 2009
!AD.indb 42 27.07.12 18:58:09
2011 43futuro
Aprendizcarta ao jovem
Aqui está você, jovem aprendiz, diante de um novo caminho,
para um encontro com a História – o passado histórico, hoje
lembrado, revivido, restaurado.
Os móveis que lhe são con�ados dão testemunho do cotidiano
de cada família, cada povo, cidade, região, país.
Agora, jovem aprendiz, você passa a fazer parte do mundo da-
queles que conhecem o tempo, que acreditam nele; o tempo
que se restaura, o tempo restaurado.
Seja valente: persevere, aplique-se, dê ao tempo o seu tempo.
Conheça seus deveres e direitos, reconheça seus limites. Seja
�el aos compromissos assumidos.
Seu empenho e sua fé hão de levá-lo a um bom porto.
A você, jovem aprendiz, nossos votos de êxito e nossa melhor
acolhida a todos os seus sonhos.
Arnaldo Danemberg e companheiros
!AD.indb 43 27.07.12 18:58:09
convidados // maria josé de queiroz
!AD.indb 44 27.07.12 18:58:12
DDiante das mil e uma sutilezas que envolvem a amizade,
nada mais inapreensível que sua de�nição, justamente
porque obriga a situar e conceituar, na trivialidade do co-
tidiano, o enigma do afeto.
Buscar nas palavras toda uma coletânea de gestos, de ca-
ráter e sensibilidade do amigo, ou de um amigo, signi�ca
sacri�car o inefável à rotina social e às convenções que
regem, à luz da necessidade, o comportamento humano.
É, pois, à revelia dos riscos que tal desa�o implica que ten-
tarei escrever sobre Arnaldo Danemberg, meu amigo, que
comemora, neste ano, o trintenário de seu empenho na
defesa e preservação da memória.
Entenda-se: intimamente associado aos usos e costumes,
o mobiliário integra a essência mesma da vida doméstica,
na dimensão das relações do homem com o meio e com o
Outro, sublimadas no convívio e na partilha.
Eis, portanto, a hora e a vez do antiquário.
Infatigável, Arnaldo converte em vocação o domínio do
marketing, juntando as astúcias do garimpeiro ao olhar
do especialista, e, à paixão do colecionador, a perspicácia
e a competência do marceneiro... Tudo isso passado a lim-
po no repertório do memorialista.
E dizer que essa minuciosa metamorfose teve início em
meados da década de 80, no século passado, quando nos
mudamos — minha mãe e eu — para o Rio de Janeiro: pre-
tendíamos, mineiras que somos, dar à nossa casa um toque
carioca, elegante e, se possível, muito antigo e moderno...
Não, não era pedir demais.
Amadora de antiguidades, minha mãe logo rumou à
Rua do Lavradio.
da memóriaFOTOGRAFIA MARCO ANTONIO REZENDE
Mar
ia J
osé
de Q
ueir
oz
defesaA Ao divisar o vulto de um jovem no fundo de um cor-
redor, decidimos entrar para ver o que havia na loja:
sua pronta e amável acolhida nos levou a descobrir
seu inato don de gentes do fidalgo, apenas iniciado
no mercado da arte. . .
Assim é que, uma semana depois, minha mãe via realiza-
do o seu maior desejo: ter em casa a bela imagem da “tan-
to gentile e tanto onesta” Beatrice, musa e inspiradora da
Divina Commedia.
O tempo, que de si mesmo faz mudança, ir ia permitir
que melhor conhecêssemos o bacharel de Direito, e
pude então solicitar ao estudioso do móvel brasilei-
ro que me enviasse colaboração para o Suplemento
do Minas Gerais .
Isso, já em 1990. Não tivemos a ocasião de lê-lo em nos-
sas páginas. Mas o correr dos anos viria a emendar essa
falha: pude convidá-lo a ministrar, em Paris e adjacências,
uma série de conferências sobre o mobiliário brasileiro.
E agora? O trintenário.
Num constante ir e vir do transitório ao permanente,
Arnaldo capta no que busca, vê e descobre, no baú do
passado como no living da casa modernista, o código de
costumes, tempo em devenir, contra o efêmero do ser e
do estar, de herdeiros do factício e do perene...
Pouco a pouco, em suas “expôs” e “instalações”, nos ofe-
rece o quadro visível e palpável do gosto, do conforto e
do progresso, que se desvelam no espelho cambiante de
modas e modus vivendi.
Arnaldo Danemberg. Bacharel? Decorador? Antiquário?
Ou garimpeiro do raro, reinventor do espaço e do habitat
com uma mesa, uma cadeira, uma caixa... t
2011 45
!AD.indb 45 27.07.12 18:58:13
convidados // ivan rezende
!AD.indb 46 27.07.12 18:58:22
UUm convite, a princípio simples, me faz �car olhando para
a tela em branco: escrever um texto sobre o projeto de-
senvolvido para Katia e Arnaldo Danemberg.
Tantos projetos e tantos memoriais descritivos, justi�cativos
ou conceituais escritos e eu aqui, diante da tela, um branco.
Nosso envolvimento para elaboração e execução do pro-
jeto foi sedimentado em muitos valores aprimorados por
anos de amizade, sendo que a sutileza, a discrição, o re�-
namento do menos foram normas naturais, e eu aqui, a
ponto de macular a tela branca.
Porém, por esses cruzamentos que a vida nos propõe,
eu iniciava o texto quando meus olhos esbarraram em
um livro de Louis Kahn, arquiteto nascido na Estônia,
naturalizado americano.
Minhas primeiras palavras − casa, abrigo, sonho − vagas
como ideias que vão se construindo, concretas como pre-
missas urgentes para uma vida, encontraram substância
neste texto de 1960, “Forma e design”:
Sentimento e sonho não têm medida, não têm lingua-
gem, e o sonho de cada um é único.
Tudo que é feito, no entanto, obedece à lei da natureza. O
homem é sempre maior do que seu trabalho, porque ele
nunca pode expressar completamente suas aspirações.
casa, abrigo,
FOTOGRAFIA MARCO ANTONIO REZENDE
Ivan
Rez
ende
sonhos
2011 47
!AD.indb 47 27.07.12 18:58:28
Estava tudo ali. Já havia sido escrito. A con�ança não fora
traída. A tela toda escrita relatava nosso processo.
Dura nte nossos dias de projeto, trata mos do men-
surável e do imensurável . Tatea mos entre pro-
gra mas a rquitetônicos e configurações espacia is .
Pat ina mos em meio a croquis e projeções pa ra ,
enf im, chega r à mater ia l ização das possibi l idades.
Simples assim, como simples na sua ma ior d imen-
são é a casa .
(...) é bom para a mente voltar ao começo, porque o co-
meço de qualquer atividade estabelecida do homem é
o seu melhor momento.
48 2011
!AD.indb 48 27.07.12 18:58:38
2011 49
!AD.indb 49 27.07.12 18:58:47
50 2011
!AD.indb 50 27.07.12 18:58:53
Então fomos para a essência e encontramos convívio. Abri-
go para quem está, para quem chega e para quem vai.
Afastamo-nos da sedução, trazer do antiquário o lírico empi-
lhar de anos, a ampulheta revertida que não esvai o tempo,
mas acumula e sobrepõe épocas anarquicamente poéticas.
Lá (ou aqui?), o tempo passa; porque o tempo, vive-se.
Aproximamo-nos das vontades e das diferenças, porque
esta casa não é de um, ampla e generosamente preten-
siosa como os cimos do céu de Paul Éluard; é, para além
da forma e do design, o Lar segundo Kahn: "O Lar é a casa
e seus ocupantes. O Lar se torna diferente com cada pes-
soa que nele vive."
Gra�te, tijolo, papel, concreto, borracha, paisagem. De que
matéria são feitos os sonhos? A resposta eu agradeço a
Katia e Arnaldo Danemberg. t
2011 51
!AD.indb 51 27.07.12 18:59:03
convidados // paloma e andré danemberg
!AD.indb 52 27.07.12 18:59:11
FFomos educados ao som de uma canção rara e nobre.
As notas vinham do palpável, do concreto, da matéria-
-prima mais pura: a madeira.
A melodia, resultado da união de sabedoria, bom gosto e
zelo, foi cuidadosamente composta por um maestro úni-
co, que descobriu na história um ofício.
O carvalho claro ecoava notas em “lá”; o mogno, madeira es-
cura, em “dó”; a peroba, em “si”; e a madeira frutífera, em “sol”.
Essa combinação de sons, além de compor uma belíssima
música, conta a trajetória de quem chegou primeiro. Aquilo
que se passou e que se mantém presente até hoje, na vida
de cada um de nós, através dos móveis de nossa casa.
A história europeia e a história brasileira sempre nos
acompanharam; na hora do almoço, nos momentos de lei-
tura nas aconchegantes espreguiçadeiras, nas caixas de
charuto onde colocamos nossas miudezas, nos baús – lu-
gar perfeito para guardar casacos de inverno – e em tan-
tos outros móveis que fazem parte de nosso ambiente.
Aplaudimos de pé a orquestra que o nosso Pai Maestro
vem regendo durante esses trinta anos. Música para os
nossos ouvidos, para os nossos olhos; música que envol-
ve nossos sentidos. t
maestroFOTOGRAFIA MARCO ANTONIO REZENDE
O
Palo
ma
e And
réD
anem
berg
2011 53
!AD.indb 53 27.07.12 18:59:11
ÁLBUM defamíliaOs primos Danem-berg e Serzedelo Correia, no baile de carnaval do Copa, década de 1960.
Almoço de
domingo, ao
lado da minha
sogra Nicole.
Buenos Aires, com meu ° lho André.
década de 1960.
Casamento,
em 1984.
54 2011
fotos // minha família
!AD.indb 54 27.07.12 18:59:35
Graduação no Co-
légio São Vicente
de Paulo, RJ, com
minha mãe Alzira,
década de 1960
“Lembranças de vida e pessoas queridas fundamentais a minha plena felicidade”
Minha ° lha
Paloma, recém-nascida.
Família Danem-berg, na casa dos meus pais. MInha mãe grá-vida de mim.
Em Bordeaux,
cidade que
amamos.
Eu e minha
mulher Katia.
2011 55
!AD.indb 55 27.07.12 19:00:03
56 2011
projeto // fazenda são sebastião
!AD.indb 56 27.07.12 19:00:06
século XIX
Vai-se o tempo, �cam as memórias. Erguida na segunda
metade do século XIX, época ascendente da aristocracia
do café no país, a propriedade resgata um modo de viver
no passado através da ambientação reconstruída com re-
quinte e respeito histórico.
Imponente testemunha do passar dos anos, a sede de
1.200 metros quadrados passou por algumas restaura-
ções, revivendo todo o seu esplendor. Adquirida pelos
atuais proprietários na década de 1980, da arquitetura e
paisagismo à concepção de seus interiores, o projeto de
reforma buscou conservar ao máximo a linguagem do
período monárquico. E o resultado é admirável.
Na entrada da fazenda, dezenas de palmeiras-imperiais
foram replantadas, propiciando um cenário de beleza exu-
berante. Da mesma forma, na parte interna da casa, cuja
planta original foi mantida, apesar de alguns cômodos re-
ceberem novas funções − como os quartos frontais, trans-
formados em convidativas salas de convivência social −, a
atmosfera nostálgica domina em toda a sua concepção.
PRESERVADA NO INTERIOR PAULISTA, A FAZENDA SÃO SEBASTIÃO É CONSTRUÇÃO HISTÓRICA QUE ABRIGA UM ACERVO EM SINTONIA COM O BRASIL CAFEEIRO, ONDE PREDOMINA O MOBILIÁRIO DE ESTIRPE COM CHANCELA ARNALDO DANEMBERG
POR KATHIA POMPEU
Umaviagem ao
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Um resgate de memórias que recebeu a curadoria de Ar-
naldo Danemberg na reconstrução dos ambientes, atra-
vés de mobiliário datado em acordo com a época de cons-
trução da casa: “Todas as peças são relacionadas ao ciclo
do café.” Preciosismo do antiquário e historiador, que fez
o caminho de volta ao período monárquico para imprimir
com autenticidade o estilo da, então, casa brasileira.
Entre as peças selecionadas impera o estilo neoclássico
− um modismo em ascensão naquele período dentro das
moradas de estirpe, iniciado com a chegada da corte por
estas terras, em 1808.
Sobre o piso antigo de tábuas de peroba, que predomina
na sede, a linhagem e o apuro podem ser identi�cados,
por exemplo, nas cadeiras neoclássicas Dona Maria I/
Sheraton Brasileiro, nos canapés Império Brasileiro, nas
mesas Regência Inglesa no Brasil, nos louceiros ecléticos
de �nal do século XIX, nas cadeiras de balanço em jaca-
randá... “Elementos vividos que enriquecem a cena, ao
mesmo tempo que reiteram a personalidade de uma era
de grande importância na trajetória cultural-econômica
do país”, sublinha o antiquário.
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!AD.indb 60 27.07.12 19:00:24
Deferência também encontrada nos painéis pintados
sobre as paredes internas do casarão, assinados por
Lelli de Orleans e Bragança, Pimpa e Gogó Alcantara.
Com técnica de trompe l’oeil, recurso artístico que no
século XIX conquistou o gosto da elite, na fazenda São
Sebastião retrata os ciclos econômicos do Brasil, em
traços infundidos na obra do pintor alemão Rugendas e
suas famosas paisagens. Entre as imagens, a chegada
dos portugueses percorre o longilíneo corredor da casa,
onde baús de vários formatos compõem a decoração –
afinal, foi o primeiro móvel multiuso trazido com a ba-
gagem dos viajantes lusitanos. “Preciosismo estético na
reconstrução dos ambientes, tal e qual foi nos primór-
dios da fazenda, que gratifica o meu ofício no antiqua-
riato, resultado de um vasto trabalho de pesquisa e es-
pecialização”, encerra Arnaldo Danemberg. t
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!AD.indb 61 27.07.12 19:00:31
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exposições // móvel brasileiro
Aquarela de Dom Antônio
João de Orleans e Bragança
ilustrando o convite.
Produção Suraya Burlamaqui
!AD.indb 62 27.07.12 19:00:37
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O estudo do móvel brasileiro reserva para cada um de
nós, eternos e persistentes observadores, uma série
de gratas surpresas e constantes desa�os. Híbrido por si
só, vindo ao Brasil pelo colo de nossa pátria mãe Portugal,
daí a princípio luso-brasileiro, passa a ter feições próprias,
incorpora em si características ímpares que o distinguirão
para sempre. Re�exo do cuidadoso trabalho de artí�ces
em nossa terra continental, o móvel brasileiro sintetiza em
si toda a mescla de etnias que compõem nosso país, resul-
tando em um conjunto de extrema peculiaridade, além dos
naturais regionalismos.
Pesquisar tão instigante arte tem sido motivo de imen-
sas alegrias. Nessa inesgotável empreitada vejo agora,
com entusiasmo, concretizada nesta exposição que ora
lhes apresento, a oportunidade de mostrar a todos os
estudiosos e atentos interessados a história do móvel no
Brasil. Os móveis objeto da presente mostra abrangem os
estilos havidos neste país, obedecendo a sua cronologia e
tendo sempre como meta mostrar ao público exemplares
que melhor exprimam os estilos abordados.
O móvel no Brasil tornou-se arte decorativa independen-
te, com características próprias e marcantes. Um estudo
apurado e paciente nos leva a rea�rmar cada vez mais a
sua irreverência, a sua força instigadora. O móvel brasi-
leiro surpreende, desa�a.
Neste agradável passeio pela evolução do nosso móvel,
dos seus primórdios indígenas ao ecletismo do final do
século XIX, constatamos a sempre presente exube-
rância de nossas riquezas naturais aliada ao talento
de nossos artífices. O móvel brasileiro reflete em si
valores fundamentais do homem desta terra brasilis : a
liberdade e a alegria.
Arnaldo Danemberg Filho
Curador
Museu Histórico Nacional / Iphan / MinC – Rio de Janeiro, RJ•
Museu Nacional de Belas Artes / Iphan / MinC – •Rio de Janeiro, RJ
Museu da Cidade / Secretaria Municipal de Cultura / •Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, RJ
Museu do Índio – Funai – Rio de Janeiro, RJ•
Museu Imperial / Iphan / MinC – Petrópolis, RJ•
Museu da República / Iphan / MinC – Rio de Janeiro, RJ•
Museus Castro Maya / Iphan / MinC – Rio de Janeiro, RJ•
Irmandade do Divino Espírito Santo da Matriz de Santo •Antonio Além do Carmo, Salvador, BA
Palácio Episcopal da Arquidiocese de São Salvador, BA •
Irmandade da Conceição da Praia, Salvador, BA•
Móvel brasileiroS É C U L O S X V I A X I X
Esta exposição conta com peças do acervo das seguintes instituições:
Ana Heloisa Pascoli e Augusto Pascoli•
Constança Burity de Carvalho•
Cristina Burlamaqui•
Lily de Carvalho Marinho•
Arnaldo Danemberg Filho•
entre outros•
Coleções particulares:
BNDES, RIO DE JANEIRO, 1998
Dom Lucas Moreira Neves•
Srª Lily de Carvalho Marinho•
Dom Antônio João de Orleans e Bragança•
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro•
Agradecimentos especiais:
!AD.indb 63 27.07.12 19:00:38
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exposições // paralelos
Um paralelo entre o móvel histórico
brasileiro (séculos XVII a XIX) e o
mobiliário do século XX
“O resultado dessa exposição foi tão bom e importante, que sinto não termos feito um livro. Seria muito útil para todos os que gostam do mobiliário brasileiro.”
Chicô Gouvêa
!AD.indb 64 27.07.12 19:00:44
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ParalelosA R N A L D O D A N E M B E R GC H I C Ô G O U V Ê A
O encantamento, a paixão
pelo mobiliário, feliz parceria, em torno de tão
instigante arte decorativa –
o móvel brasileiro.
Híbrido por si só, de
profunda personalidade
e apuro, austero e exuberante,
o móvel histórico brasileiro
vem agora, nesta exposição,
ao encontro de seu par, o
moderno século XX, cuja
história começa a se esboçar,
indo um pouco além do
nosso tempo, através da arte
de nossos designers de
agora, os quais escreverão a
história do século XXI.
RIO DESIGN CENTER,RJ, 1999
!AD.indb 65 27.07.12 19:00:44
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exposições // a restauração no brasil
Produção Paluana Comunicação.
Uma homena-gem de Arnaldo Danemberg aos
nossos restaura-dores. BNDES, Rio
de Janeiro, 2002
!AD.indb 66 27.07.12 19:00:45
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A cultura brasileira muito tem a dever aos nossos
conservadores e restauradores que, incansáveis, vêm
realizando, silenciosa e prosseguidamente, o trabalho
de conservação e restauração do nosso patrimônio.
Num desvelo aturado e discreto, jamais pouparam
sacrifícios para transmitir às gerações futuras o rico
legado dos nossos antepassados.
Mercê desta rara e tão propícia ocasião, empenhei-me,
por isso, em apresentá-los ao público. No exercício do
antiquariato, tenho tido a alegria, e mesmo a surpresa,
de acompanhar, na sua áspera rotina, o renascimento
de peças fadadas à destruição, não fossem a habilidade
e a sensibilidade dos artistas, artífices e artesãos anô-
nimos, os nossos Josés e Marias.
Visto que a preservação do patrimônio passa, necessa-
riamente, pela pesquisa, cabe ao pesquisador informar
ao conservador e ao restaurador, ou ao conservador-res-
taurador, que por obra e graça das artes da restauração
se incumbem da difícil tarefa de resgatar o passado no
presente, afeiçoando ao meio e à circunstância de origem
os bens fadados à ruína. Nesta exposição alinham-se, em
diversos módulos, os bens móveis que são parte inte-
grante do acervo de respeitadas instituições brasileiras,
às quais agradeço a fé nesta iniciativa de vasta abran-
gência interdisciplinar.
A Imaginária, a Talha, a Indumentária, as Coleções
Etnográ�cas, o Papel – Obras Raras, Gravuras e Desenhos,
Manuscritos e Álbuns –, a Fotogra�a, a Pintura, a Cerâmi-
ca, o Gesso, as Molduras e o Mobiliário foram os módulos
escolhidos para divulgar e suscitar a conservação e a res-
tauração do nosso patrimônio cultural. Para completar a
mostra, um ateliê de conservação e restauração é teste-
munho atual de nosso passado recente.
Durante a preparação deste projeto presenciei, com cres-
cente apreço, o trabalho solitário, abnegado, e nem sempre
reconhecido, dos nossos mestres humildes. Dedico-lhes
esta exposição, na esperança de que recebam o merecido
reconhecimento de quantos hoje podem recuperar, num
olhar retrospectivo, este passeio pela nossa História.
Arnaldo Danemberg
Curador
Arquivo Nacional / Presidência da República / Casa Civil •– Rio de Janeiro, RJ
Centro de Conservação e Preservação Fotográ�ca / •Funarte / MinC – Rio de Janeiro, RJ
Fundação Casa de Rui Barbosa / MinC – Rio de Janeiro, RJ •
Instituto Feminino da Bahia – Salvador, BA •
Igreja do Santíssimo Sacramento da Rua do Paço – •Salvador, BA
Instituto Zuzu Angel de Moda – Rio de Janeiro, RJ •
Irmandade da Ordem Terceira do Carmo da Cachoeira – •Cachoeira, BA
Ordem de Malta de Brasília e Brasil Setentrional – •Salvador, BA
Museu Casa de Benjamin Constant / Iphan / MinC – •Rio de Janeiro, RJ
Museu Bispo do Rosário – Rio de Janeiro, RJ •
Museus Castro Maya / Iphan / MinC – Rio de Janeiro, RJ •
Museu Histórico Nacional / Iphan / MinC – •Rio de Janeiro, RJ
Museu do Índio / Funai – Rio de Janeiro, RJ •
Museu Nacional de Belas Artes / Iphan / MinC – •Rio de Janeiro, RJ
Museu Zuzu Angel de Moda – Rio de Janeiro, RJ •
Venerável Ordem Terceira dos Mínimos de São Francisco •de Paula / Arquidiocese do Rio de Janeiro, RJ
A Restauração no BrasilA R T I S T A S , A R T Í F I C E S , A R T E S Ã O S
Esta exposição conta com peças do acervo das seguintes instituições:
BNDES, RIO DE JANEIRO, 2002
!AD.indb 67 27.07.12 19:00:45
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“Quando Arnaldo nos convidou para trabalharmos nesta exposição, percebemos imediatamente que tínhamos em mãos um grande projeto. Um tema que foi se revelando abrangente e confirmando a sua importância tanto na área social quanto na cultural.
Antes de mais nada, foi um aprendizado que envolveu os aspectos mais profundos da compreensão da arte dos artífices e artesãos.
Artistas silenciosos que, através de seu talento e técnica, dedicam seu tempo à preservação de obras que falam da nossa memória cultural.
Esse cuidado e respeito foram a base por onde nosso trabalho se desenvolveu, numa tentativa de retribuir este aprendizado e dar visibilidade a esses artistas profissionais.
O trabalho de Arnaldo Danemberg, amigo e parceiro, é exatamente assim, um profissional repleto de talento e conhecimento, responsável fundamental pelo sucesso deste projeto.
Tínhamos a tarefa de criar a forma de uma exposição que representasse essa grande diversidade de técnicas e materiais utilizados. Foram muitos desafios, mas, talvez, criar a unidade que estivesse à altura dos produtos expostos tenha sido o maior. ‘A Restauração no Brasil’ apresentou ao público a riqueza das diferentes formas e técnicas do restauro, integrada à valorização dos artistas, artífices e artesãos.”
Por Patricia Sobral e Roberto Lacerda / Paluana ComunicaçãoA R
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!AD.indb 69 27.07.12 19:00:49
convidados // clarissa schneider
!AD.indb 70 27.07.12 19:00:53
AAlgumas pessoas surgem na vida da gente e, assim como
vêm, vão sem deixar vestígios. Outras �cam uma tempo-
rada e, de repente, sem aviso prévio, desaparecem. Mas
há aquelas �guras que um dia conhecemos e sentimos
imediatamente uma a�nidade de energia e de gosto, um
olhar parecido que vibra numa certa direção, o sentimen-
to por alguma coisa em comum e, assim, sem programa-
ção, uma amizade afável e natural vai se desenvolvendo,
um carinho bonito vai surgindo e os caminhos andam
paralelos, repletos de trocas intelectuais e uma cumplici-
dade na aventura que o trabalho vai desenhando.
Assim foi o encontro com Arnaldo Danemberg. A prin-
cípio eu o conhecia de nome, sempre com ótimas refe-
rências. Não lembro o que veio primeiro, se a troca de
e-mails ou os papos nos eventos de decoração. Mas lem-
bro perfeitamente a primeira vez que entrei em seu an-
tiquário no Rio de Janeiro. Minha reação foi instantânea:
“Nossa, aqui tem tudo o que eu gosto!” A madeira lavada
pelo tempo, a cor de mel em todos os móveis, cadeirinhas
de todos os tamanhos sempre com aquele ar de vividas,
texturas cruas transformadas em almofadas e forro
para poltronas despretensiosas e lindas. Muito lindas! E
um excesso de conforto provocado por um colecionismo
rico de histórias de bom gosto.
Peças que cruzaram a história do mobiliário, objetos re-
colhidos de muitas andanças pelo mundo, o olhar so�sti-
cado e despretensioso, a verdade de um amor maduro por
um ofício exercido ao longo de três décadas de antiqua-
riato em território europeu. “Este Arnaldo Danemberg é
um luxo!”, pensei eu, já refeita, tocando, sentando e ex-
perimentando cada objeto escolhido a dedo por este mes-
tre do garimpo. Associado a tudo isso, a �gura amável,
elegante e generosa de Arnaldo, um amigo muito querido
que veio para �car na vida daqueles que, como eu, conhe-
cem as seduções dos caminhos da estética. t
Histórias
FOTOGRAFIA MARCO ANTONIO REZENDE
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!AD.indb 71 27.07.12 19:00:53
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arquitetos // design de interiores
&bernardesjacobsen
residência | SP
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!AD.indb 72 27.07.12 19:00:54
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“““A simplicidade e a sofisticação dos móveis do Antiquário Arnaldo Danemberg são complementos naturais e indispensáveis aos interiores da nossa arquitetura.
Eza Viegas, designer de interiores
!AD.indb 73 27.07.12 19:00:55
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arquitetos // design de interiores
abranchescadas
residência | RJ
!AD.indb 74 27.07.12 19:00:57
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“““Ter um antiquariato com o nível do Arnaldo Danemberg é uma honra para qualquer arquiteto. Além de ser um homem superengajado no que faz, tem talento de sobra para a escolha dos inúmeros itens que vende em seu antiquário no Rio. São peças que ele garimpa cuidadosamente por aí, mundo afora, contribuindo de uma forma singular para o enriquecimento do meu projeto!
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arquitetos // design de interiores
castello brancoresidência | SPdadoFo
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!AD.indb 76 27.07.12 19:01:07
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“““Ele é o melhor do Brasil. O Arnaldo faz viagens pelo interior da França e compra móveis que ninguém viu e jamais achou que poderia ter alguma utilidade. Ele restaura, traz de volta essa madeira linda e as coisas ganham vida.
!AD.indb 77 27.07.12 19:01:14
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arquitetos // design de interiores
figueira de mellosala do viajante | casa cor, RJ
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!AD.indb 78 27.07.12 19:01:23
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“““Certa vez, ao ler o livro do marchand europeu Joseph Duveen, percebi que ele não citava os quadros pelo nome dos artistas, que logo iam formando as mais belas coleções dos Estados Unidos, mas sim como ‘Duveen’s’: este Duveen aqui, aquele Duveen ali, e por aí ia. O mesmo digo dos móveis do Arnaldo: um Arnaldo ali, um Arnaldo aqui... A seleção é fantástica e o olhar do Arnaldo ao garimpar verdadeiras joias é como o olhar de um marchand!
!AD.indb 79 27.07.12 19:01:38
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arquitetos // design de interiores
pessoa de queirozsuíte do hotel | casa cor, RJ
fernanda
!AD.indb 80 27.07.12 19:01:44
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“““É uma honra conhecer e conviver com o antiquário Arnaldo Danemberg. Estar ao seu lado é viajar no tempo... Conseguimos sentir o sabor, o cheiro, a cultura e a história de cada cantinho por onde ele passa nos seus garimpos...
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!AD.indb 81 27.07.12 19:02:01
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arquitetos // design de interiores
tarantogiseleresidência | RJ
!AD.indb 82 27.07.12 19:02:03
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“““Trabalhar com Arnaldo Danemberg é certeza de profissionalismo e parceria de sucesso. Especialmente em peças de antiquário, pois cada uma tem sua história e Arnaldo consegue transmiti-la de forma encantadora, envolvendo cliente e profissional.
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!AD.indb 83 27.07.12 19:02:08
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rezendeestufa | casa cor, RJivan
!AD.indb 84 27.07.12 19:02:09
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“““Trabalhar com
antiquariato é usar a minha história dentro de um projeto.
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!AD.indb 85 27.07.12 19:02:15
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arquitetos // design de interiores
garridojoyfamily room | casa cor, RJ
!AD.indb 86 27.07.12 19:02:20
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“““Para ambientar meus projetos, procuro mostrar aos clientes o grande valor de colocar peças de antiquário. No caso dele, então, ficam claras a categoria e a autenticidade que sua expertise dá ao móvel. Solidez e garantia de investimento certo.
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!AD.indb 87 27.07.12 19:02:25
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arquitetos // design de interiores
siqueiraresidência | RJ
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!AD.indb 88 27.07.12 19:02:28
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“““Um móvel com
história nos faz lembrar e perceber a nossa história.
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!AD.indb 89 27.07.12 19:02:44
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arquitetos // design de interiores
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hall de entrada | casa cor, RJ
!AD.indb 90 27.07.12 19:02:47
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““Em decoração, a peça antiga de boa qualidade funciona como um bom vinho na gastronomia: ela empresta qualidade, elegância e sabor ao ambiente. A meu ver, fica faltando substância ao espaço onde não exista ao menos um toque de antiquariato.
!AD.indb 91 27.07.12 19:02:52
arquitetos // design de interiores
kreimercasamento | parque lage, RJluciana
!AD.indb 92 27.07.12 19:02:57
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“““Trabalhar com o bom
antiquariato cobre de elegância e prestígio meus projetos de decoração.
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!AD.indb 93 27.07.12 19:03:06
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arquitetos // design de interiores
márciamüllerestúdio sustentável | casa cor, RJ
!AD.indb 94 27.07.12 19:03:08
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“““A finalização de um bom
trabalho de arquitetura é a escolha de objetos e móveis. O acervo do Arnaldo Danemberg dá a seriedade e a certeza dessa escolha correta e sofisticada!
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!AD.indb 95 27.07.12 19:03:16
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arquitetos // design de interiores
maurícionóbrega
lounge | casa cor, RJ
!AD.indb 96 27.07.12 19:03:18
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“““As peças de
antiquariato têm sempre uma história para contar.
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!AD.indb 97 27.07.12 19:03:22
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arquitetos // design de interiores
ribeiropaolaestúdio de um casal | casa cor, RJ
!AD.indb 98 27.07.12 19:03:23
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“““História, charme e personalidade são ingredientes que se tornam presentes através do uso de peças de antiquariato. O espaço ‘vivido’ traz em si essas características, que, acredito, fazem toda a diferença na decoração.
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!AD.indb 99 27.07.12 19:03:25
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arquitetos // design de interiores
&carvalhopatrícia
valleadriana
varanda do casal | casa cor, RJ
!AD.indb 100 27.07.12 19:03:28
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“““Há alguns anos, chegamos pela primeira vez ao antiquário AD. Procurávamos peças especiais, únicas, para um projeto. Mais do que objetos de sonhos ou a sensação de estarmos na Provence do fim do século XIX, saímos de lá impressionadas com a gentileza, a elegância, o savoir-vivre de uma pessoa muito especial, que, a partir daquele momento, passou a nos acompanhar em todos os nossos passos. Arnaldo é um luxo!
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!AD.indb 101 27.07.12 19:03:39
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arquitetos // design de interiores
&laurentmarinhopatrícia
sala de leitura | casa cor, RJ
croissandeau
!AD.indb 102 27.07.12 19:03:43
2011 103
“““A peça de antiquário, sempre única e especial, embeleza o espaço de arquitetura criando a atmosfera perfeita que imaginamos em nossos projetos.
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!AD.indb 103 27.07.12 19:03:52
104 2011
arquitetos // design de interiores
&figueiredoroberto
almeidaluiz eduardocorredor chopin | galeria tempo
OURIÇO ARQUITETURA
!AD.indb 104 27.07.12 19:03:55
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“““O trabalho de Arnaldo vai além da curadoria. Ele restaura e resgata o espírito das peças que seleciona, trazendo história para a casa da gente.
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!AD.indb 105 27.07.12 19:03:57
106 2011
arquitetos // design de interiores
lealsamiraAD | chopin
!AD.indb 106 27.07.12 19:04:01
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““
“Formas, cores, luzes e um não sei quê que é só dele.
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!AD.indb 107 27.07.12 19:04:12
convidados // andrea natal
!AD.indb 108 27.07.12 19:04:16
CCopacabana é um bairro cheio de histórias, onde sempre tem
algo interessante acontecendo. Algumas dessas histórias
ocorreram bem perto do Copacabana Palace, contribuindo
para a fama de pedaço de Rio chique que cerca o hotel onde
trabalho. Temos vizinhos dos bons, e nós do Copa sempre
mantivemos uma ótima relação com todos eles.
É o caso da galeria do Edifício Chopin, walking distance
que abriga um comércio voltado para a arte e a história,
e destaca o trabalho requintado de Arnaldo Danemberg,
instalado numa loja que é pura elegância. Quando pre-
ciso reciclar o foco do pensamento, dar uma volta não
muito longe, fujo até o antiquário ao lado. Só de olhar a
vitrine já fico encantada.
Tudo está sempre impecavelmente arrumado, com os
aromas do verniz que lustra as peças e dos lírios que or-
namentam os espaços, formando uma provocante sen-
sação olfativa. Uma delícia! O mobiliário de estirpe brilha,
seduz, e consigo sempre arrumar um local, mesmo que no
meu imaginário, para uma peça ou outra na ambientação
da minha casa. Quanto bom gosto!
Endereço onde todos os objetos têm uma história própria,
uma identidade agregada ao seu valor material. Ao entrar
na loja me sinto numa viagem pela França através do tem-
po. E se o Arnaldo estiver por lá, com seu cavalheirismo e
embasamento característicos, a visita se torna ainda mais
compensadora. Volto ao trabalho renovada, inspirada pela
beleza secular contida naquele mundo de memórias pre-
servado, e permaneço sonhando por algum tempo, com
aquelas reminiscências de Napoleão, Luíses e Marias...
Mas o carinho pela vizinhança é recíproco. Arnaldo é um
grande frequentador da Pérgula. Um hábito que, assim
como seu acervo, também vem do passado. Há pouco
tempo � quei sabendo que o avô dele trabalhou com o Dr.
Octávio Guinle nos anos 1950 e, como gerente-geral do
Vizinho
FOTOGRAFIA MARCO ANTONIO REZENDE
chique
Henrique Danemberg, recebendo, década de 1950, o presidente de Portugal, General Craveiro Lopes, no Copacabana. Meus avós, Henrique e Deina, e meus pais, Arnaldo e Alzira
hotel, circulava pelos salões do Copacabana Palace dos
anos dourados recepcionando as personalidades inter-
nacionais que já � zeram check-in no hotel.
A� nidade que justi� ca, quem sabe, a escolha de Danemberg
pelo endereço – onde história e glamour traçam parceria –
para instalar sua loja admirável. t And
rea
Nat
al
2011 109
!AD.indb 109 27.07.12 19:04:30
obrigadoO
meu
W W
Quero agradecer à minha família, aos amigos e parceiros com quem
convivi e aprendi ao longo desta caminhada que agora festejo. Foi
uma sorte poder contar com todos vocês.
Em primeiro lugar a meus pais, Arnaldo e Alzira, pela educação que
me deram, pela formação do meu caráter, e sobretudo por incutirem
em mim o desejo de sempre ir além. Meu carinho a ambos, assim
como à minha querida irmã Deina. Saudade de vocês.
À minha mestre, Tilde Canti, por tudo que me ensinou, por me con-
vidar e me acolher em sua pesquisa.
À editora desta revista, Kathia Pompeu, pela agradável convivên-
cia, pelas experiências trocadas, pelo bom tempo juntos. Ela e Marco
Antonio Rezende, com suas fotos e olhar apurado, vieram para acres-
centar e juntos temos caminhado.
Com o mesmo carinho agradeço a todos os meus convidados, pela
pronta resposta ao nosso pedido para participar desta edição. Vocês
me emocionaram.
Hildegard Angel, amiga de primeira hora, pelas referências presti-
giosas e constantes, pela publicidade e pelo incentivo. Merci!
Patricia Mayer e sua xará Quentel; vocês fazem um trabalho primo-
roso pela arquitetura de interiores no Rio de Janeiro. A amizade de
vocês, consolidada a cada parceria de sucesso, a cada empreitada,
muito me alegra e honra.
Maria José de Queiroz, que me levou para Paris. Lá, divulgando o mó-
vel brasileiro, descobri um novo ângulo da França, encantei-me, e ali
me estabeleci.
Clarissa Schneider, minha talentosa amiga, pela cumplicidade de
olhar, pelos ensinamentos que transmite com seu trabalho de su-
cesso e por toda a torcida, mútua.
Mary Del Priore, que me honrou com sua abordagem sobre o
Profissionalizando o Futuro, e também pelo interesse comum,
reforçado e renovado a cada dia: nossa memória, nossa história.
Obrigado, Mary, meu carinho sempre.
Lia Siqueira, por seu amor à madeira, à família, pelo carinho, por sua
letra incrível, sua amizade. Tudo isso me enche de alegria e satisfa-
ção. Amei o seu texto, obrigado.
Maurício Nóbrega, amigo, parceiro, nosso carioca da gema, mestre
do humor. Meu carinho a você e a sua suave Cecília. Obrigado.
Samira Leal: o tempo só solidi� ca nossa amizade, assim como minha
admiração por você. “Sensibilidade e intuição” é o título do seu texto
e, sem dúvida, da nossa convivência.
Ivan Rezende, arquiteto escolhido por mim e por Katia para o pro-
jeto de nossa casa. Nossa amizade a cada dia � ca mais fortalecida.
Nosso primeiro jantar deste ano foi em sua casa, onde fomos recebi-
dos pela querida Victoria, uma verdadeira consulesa do bem viver,
da boa conversa, da boa amizade. Obrigado aos dois.
Andrea Natal, de gratas vivências e recordações. Aquela que, com
charme, verve e competência, capitaneia o Copacabana Palace.
Obrigado por sua sempre gentil acolhida!
Aos arquitetos aqui retratados, e a todos aqueles com quem durante
esses anos convivi. Àqueles que me deram a chance de ser ouvido,
assim como aos que virão. Muitíssimo obrigado.
Meus queridos � lhos, Paloma e André, que tanto me alegram, com-
pletam e enchem de orgulho. Amo muito vocês.
Meus funcionários, restauradores, equipe administrativa. Fiquem
certos de que continuarei não apenas com a mesma exigência, mas
admirando-os cada vez mais.
E para fechar estes agradecimentos com chave de ouro, meu reconhe-
cimento àquela que junto comigo sonhou, perseverou e certamente
colheu frutos. Continuaremos colhendo cada vez mais. Obrigado, Katia,
por sempre estar ao meu lado. Para você, meu amor e meu carinho.
A todos aqueles que comigo estiveram e aos que virão, pela preser-
vação da memória. Com a minha alegria.
Arnaldo Danemberg
Agosto de 2011.
!AD.indb 110 27.07.12 19:04:31
W2011 111Arnaldo Danemberg | Chopin | Avenida Atlântica, 1782 Lojas G/H | Copacabana | Rio de Janeiro | 22021.001 | Telefax [21] 2255.0325
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