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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 3JULHO / AGOSTO 2013

EDITORIAL

ÍNDICE

ÁGUA SUBTERRÂNEA:ESTRATÉGIA CONTRA A SECAPROJETOS ESTRUTURANTES LEVAM ABAS-TECIMENTO DE ÁGUA AO SERTÃO E OUTRASREGIÕES DO NORDESTE POR MEIO DE PO-ÇOS TUBULARES

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O Nordeste brasileiro vive a maior seca das últimas dé-cadas. Milhares de cidades sofrem com falta de abaste-cimento, racionamento, contaminação e precariedadena distribuição da água. Para amenizar a sede dos nor-destinos, o Governo Federal através do Ministério daIntegração Nacional e de parcerias com o Serviço Geo-lógico do Brasil (CPRM), Exército Brasileiro, entre ou-tros, está investindo em ações estruturantes que leva-rão água às comunidades que mais precisam. Para con-seguir este feito, os projetos contam com a água subter-rânea como fonte estratégica para garantir água segurae de boa qualidade a toda população. Na matéria decapa “Água subterrânea: estratégia para a seca”, saibacomo estes projetos estão mudando a cara dos locaisque sofrem com a seca no Brasil e começam a resolverdefinitivamente essa grave questão.

Em meio às discussões sobre a seca, a dessalinizaçãoda água subterrânea para obtenção de água potável sur-ge como uma opção que pode ser viável, especialmen-te em áreas semiáridas. A dessalinização da água é umatécnica descoberta há pelo menos 40 anos, mas poucodifundida e utilizada no Brasil. Na matéria “Garantia deágua potável”, conheça os métodos disponíveis para re-alizar a dessalinização e saiba por que o assunto é pou-co discutido por aqui.

Sem vivenciar a seca, mas também trazendo muitos im-pactos para a população, as cidades industrializadas so-frem com passivos ambientais que afetam todo o meioambiente subterrâneo. A matéria “Passivo ambiental: de-safio a ser vencido” vai mostrar como o processo de in-dustrialização do Brasil comprometeu o meio ambiente sub-terrâneo devido à falta de legislações específicas sobre adisposição dos resíduos industriais no período anterior àdécada de 1980. Até os dias de hoje, eles são considera-dos grandes problemas urbanos e estão aos poucos sen-do gerenciados e reabilitados para novos usos.

A edição traz também novidades sobre o III CongressoInternacional de Meio Ambiente Subterrâneo (CIMAS), queacontece de 1 a 3 de outubro de 2013, o XVIII CABAS esobre o andamento da Rede Nacional de Monitoramentode Águas Subterrâneas (RENAMAS), da Agência Nacio-nal de Águas (ANA), que mapeará as águas subterrâne-as do Brasil, colaborando assim com a gestão e explora-ção dos recursos hídricos subterrâneos.

Desejamos a todos uma boa leitura.Um grande abraço,

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4 Agenda

5 Núcleos Regionais

6 ABAS Informa

8 Mercado das Águas

10 Hidronotícias

28 Perfuração

29 Remediação

30 Opinião

Waldir Duarte Costa Filho Presidente da ABAS

Marlene Simarelli, editora

COMEÇANDO A RESOLVER O PROBLEMA DA SECA NO NORDESTE

PRODUÇÃO DE ÁGUAÁGUA SALOBRA SE TORNA POTÁVEL ATRAVÉS DADESSALINIZAÇÃO, TÉCNICA QUE PRECISA GANHAR ES-PAÇO NO PAÍS

DESAFIO A SER VENCIDOINDUSTRIALIZAÇÃO GEROU PASSIVOS AMBIENTAIS QUEESTÃO SENDO GERENCIADOS E REABILITADOS, MAS AIN-DA HÁ UM LONGO CAMINHO A PERCORRER

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4 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO JULHO / AGOSTO 2013

AGENDA

EXPEDIENTE

EVENTOS PROMOVIDOS PELA ABAS

III CONGRESSO INTERNACIONAL

DE MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO

E FEIRA NACIONAL DA ÁGUA (FENÁGUA)

Data: 1 a 3 de outubro de 2013

Local: Centro FECOMERCIO de Eventos,

São Paulo – SP

Informações: Acqua Consultoria

Telefone: (11) 3868-0726

Email: [email protected]

Site: [email protected]

EVENTOS APOIADOS PELA ABAS

14º CBGE – CONGRESSO BRASILEIRO

DE GEOLOGIA DE ENGENHARIA E

AMBIENTAL

Data: 1 a 6 de dezembro de 2013

Local: Rio de Janeiro – RJ

Telefone: (11) 3868-0726

Email: [email protected]

DIRETORIA EXECUTIVAPresidente: Waldir Duarte Costa Filho (PE)1º Vice-Presidente: Claudio Pereira Oliveira (RS)2º Vice-Presidente: Maria Antonieta Alcântara Mourão (MG)Secretário Geral: Débora Perozzo (MT/CO)Secretário Executivo: Everton de Oliveira (SP)Tesoureiro: José Lázaro Gomes (SP)

CONSELHO DELIBERATIVOCarlos Alberto de Freitas (MG), Carlos Eduardo Dorneles Vieira (PR),Cláudio Luiz Rebello Vidal (RJ), Elisa de Souza Bento Fernandes (RJ),Francisco de Assis Matos de Abreu (PA), Humberto Alves Ribeiro Neto(BA), João Bosco de Andrade Morais (CE)

CONSELHO FISCALTitulares: Álvaro Magalhães Junior (SC), Suely Schuartz Pacheco Mestrinho(BA), Gustavo Alves da Silva (SP)Suplentes: Helena Magalhães Porto Lira (PE), Maria do Carmo Neves dosSantos (AM), Maria da Conceição Rabelo Gomes (CE)

CONSELHEIROS VITALÍCIOS/EX-PRESIDENTESAldo da Cunha Rebouças (in memorian), Antonio Tarcisio de Las Casas,Arnaldo Correa Ribeiro, Carlos Eduardo Q. Giampá, Ernani Francisco da RosaFilho, Euclydes Cavallari (in memorian), Everton de Oliveira, Everton Luiz daCosta Souza, Itabaraci Nazareno Cavalcante, João Carlos Simanke de Souza,Joel Felipe Soares, Marcílio Tavares Nicolau, Uriel Duarte, Waldir Duarte Costa

NÚCLEOS ABAS – DIRETORESBahia: Zoltan Romero Cavalcante Rodrigues - [email protected] -(71) 9611-7222Ceará: Carlos Borromeu de Passos Vale - [email protected] - (98)3227-1069 / (98) 8896-3595Centro-Oeste: Nédio Carlos Pinheiro - [email protected] - (65) 9222-7374Minas Gerais: Carlos Alberto de Freitas - [email protected] -(31) 3250-1657 / (31) 3309-8000Paraná: Jurandir Boz Filho - [email protected] - (41) 3213-4744Pernambuco: Fernando Feitosa - [email protected] - (21) 9415-5727Rio de Janeiro: Gerson Cardoso da Silva Junior - [email protected] -(21) 2598-9481 / (21) 2590-8091Santa Catarina: Heloisa Helena Leal Gonçalves [email protected] - (47) 3341-7821/2103-5000Rio Grande do Sul: Mario Wrege – [email protected] – (51) 3406-7330

CONSELHO EDITORIALEverton de Oliveira, Gustavo Alves da Silva e Rodrigo Cordeiro

EDITORA E JORNALISTA RESPONSÁVELMarlene Simarelli (Mtb 13.593)

DIREÇÃO E PRODUÇÃO EDITORIALArtCom Assessoria de Comunicação – Campinas/SP(19) 3237-2099 - [email protected]

REDAÇÃOGabriela Padovani, Larissa Stracci e Marlene Simarelli

COLABORADORESCarlos Eduardo Q. Giampá, Juliana Freitas e Marcelo Sousa

SECRETARIA E [email protected] - (11) 3868-0723

COMERCIALIZAÇÃO DE ANÚNCIOSSandra Neves e Bruno Amadeu - [email protected]

IMPRESSÃO E ACABAMENTOGráfica Silvamarts

CIRCULAÇÃOA revista Água e Meio Ambiente Subterrâneo é distribuída gratuitamente pelaAssociação Brasileira de Águas Subterrâneas (ABAS) a profissionais ligados ao setor.

Distribuição: nacional e internacionalTiragem: 5 mil exemplares

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem,necessariamente, a opinião da ABAS.Para a reprodução total ou parcial de artigos técnicos e de opinião énecessário solicitar autorização prévia dos autores. É permitida areprodução das demais matérias publicadas neste veículo, desde quecitados os autores, a fonte e a data da edição.

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 5JULHO / AGOSTO 2013

NÚCLEOS REGIONAIS

Eleita nova diretoriada ABAS Núcleo CODébora Perozzo, geóloga pela UFMT (Universida-

de Federal de Mato Grosso), foi eleita para a presi-

dência da ABAS Núcleo Centro-Oeste, durante o

biênio 2013/2014. A eleição, que teve a inscrição

de uma única chapa, ocorreu no dia 4 de julho.

Compõem também a nova diretoria, Lilian Fátima

Moura Apoitia, eleita com o vice-presidente, Nédio

Carlos Pinheiro, que assume a tesouraria do nú-

cleo e Renato Blat Migliorini, que ficou como se-

cretário. Fazem parte ainda do Conselho

Deliberativo José Roberto Ribeiro, José Morcelli e

Leonardo Almeida.

Anuncie na Revista Água e MeioAmbiente Subterrâneo

[email protected](11)3868-0724

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6 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO JULHO / AGOSTO 2013

ABAS INFORMA

Nomes de destaqueconfirmam presençaO grande destaque da terceira edição do CongressoInternacional de Meio Ambiente Subterrâneo (III CI-MAS), que ocorre de 1 a 3 de outubro deste ano nacidade de São Paulo (SP), é Jan Hellings, conceitua-do engenheiro civil do Reino Unido, que atuou comoresponsável pela execução do projeto Enabling Works(EW) para criação do Centro Olímpico de Londres.Hellings gerenciou equipes de especialistas e cons-trutores, para reabilitação de uma área de 250 hecta-res, antes ocupada por um parque industrial, e cons-trução de inúmeras obras de engenharia, dentro doorçamento e prazo estipulados, para que aconteces-sem as Olimpíadas de Londres, em 2012 (Veja maisdetalhes na ed. 33). Além de Jan Hellings, os outrosconferencistas confirmados são Carlos Tramontina,jornalista da TV Globo; José Eduardo Ismael Lutti, pro-motor de Justiça do Meio Ambiente no Ministério Pú-blico do Estado de São Paulo e Eduardo San Martin,diretor de Meio Ambiente da Federação das Indústri-as do Estado de São Paulo (FIESP).

De volta à BHA ABAS confirmou a realização do XVIII Congresso Bra-sileiro de Águas Subterrâneas (CABAS), do XIX Encon-tro Nacional de Perfuradores de Poços e da FENÁGUA(Feira Nacional da Água), no Minas Centro, em Belo Ho-rizonte (MG), de 14 a 17 de outubro de 2014. O temacentral a ser discutido no congresso também já foi defi-nido e será “Água nas Minas e nas Gerais: Uma RiquezaNacional”. A Comissão Organizadora é presidida porCarlos Alberto de Freitas e a Comissão Técnico-Científi-ca pelo Prof. Dr. Celso de Oliveira Loureiro. Mais infor-mações, em breve, no site da ABAS www.abas.org.

Conhecimento científico triplicadoPela primeira vez a revista científica Águas Subterrâneasterá três volumes num mesmo ano, desde sua criação. Etambém começará a ser publicada em inglês e espanhola partir deste ano. Com essas novidades, a revista cami-nha para melhorar ainda mais sua nota na CAPES (Coor-denação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Supe-rior), afirma Everton de Oliveira, secretário executivo daABAS e diretor da Hidroplan. Hoje a revista, que épublicada exclusivamente online, é classificada como B2no sistema Qualis da CAPES para Geociências.

RENAMAS deverá ser finalizada até 2020A Rede Nacional de Monitoramento de Águas Subterrâ-neas (RENAMAS), aprovada pelo Conselho Nacional deRecursos Hídricos (CNRH) através da Resolução 107/2010, que estabelece as diretrizes e critérios a seremadotados para o planejamento, implantação e operaçãodo projeto, encontra-se em fase de implementação e ar-ticulação com os estados. A proposta prevê a instalaçãode três mil pontos de monitoramento em todo o Brasilaté 2020, mesmo horizonte previsto para a finalização doPlano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH). ARENAMAS está sendo planejada e coordenada pela

Agência Nacional de Águas (ANA) e seráoperada e mantida pelo Serviço Geoló-gico do Brasil (CPRM) juntamente comórgãos gestores de recursos hídricos dosestados e do Distrito Federal.

Fernando Roberto de Oliveira, especi-alista em Recursos Hídricos e gerente deANA, explica que a implementação da

rede é um processocomplexo, compostopelas fases de plane-jamento, coordena-ção, implantação,operação e manuten-

ção. “É necessária a articulação entre as diversas entida-des do sistema em cada uma destas fases”, salienta.

A Resolução 107/2010 foi construída para dotar o Bra-sil de uma rede ampla e de abrangência nacional, coma finalidade de gerar dados dos principais aquíferos dopaís e preencher uma importante lacuna no setor deáguas subterrâneas.

Segundo Oliveira, o monitoramento das águas sub-terrâneas auxiliará para um maior conhecimento dosaquíferos, melhor gestão das águas subterrâneas emaior divulgação das informações para a sociedade.“Conforme previsto na Resolução CNRH 107/2010 de-verão ser gerados dados sobre qualidade, incluindouma vasta gama de parâmetros avaliados segundo pe-riodicidades específicas. Para quantidade, estão pre-vistas medidas contínuas de níveis”.

A ABAS participou do projeto de construção daRENAMAS desde as primeiras oficinas de construçãodo Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH). Tam-bém atuou no âmbito da condução dos trabalhos daCâmara Técnica de Águas Subterrâneas (CTAS).

Os dados recolhidos pela rede serão divulgados edisponibilizados para a sociedade através do SistemaNacional de Informações sobre Recursos Hídricos(SNIRH), plataforma disponível dentro do portal da ANA.

FernandoRoberto deOliveira, ANA

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 7JULHO / AGOSTO 2013

ABAS INFORMA

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Dedicação à águaA UNESP (Universidade Estadual Paulista “Júlio deMesquita Filho”) possui um podcast, um canal deáudio exclusivo sobre água. O PodAcqua permiteque os ouvintes conheçam um pouco do trabalhode pesquisadores dedicados ao tema.

Todas as quartas-feiras são disponibilizados trechosde entrevistas com especialistas da UNESP e de outras

instituições sobre água, nas mais diferentes áreas doconhecimento, com atenção especialmente voltada àgestão responsável dos recursos hídricos.

Cada edição tem cerca de 3min30s e pode ser baixa-da, reproduzida e veiculada livremente, desde que cre-ditada a fonte. O endereço para acessar o PodAcqua épodcast.unesp.br.

IN MEMORIAN

Fernando Flávio Marques de AlmeidaUm dos baluartes e expoentes da Geologia no Brasil,conhecido e respeitado internacionalmente, ProfessorFernando Flávio Marques de Almeida, faleceu dia 2 deagosto, aos 97 anos. O velório ocorreu no dia 03/08 noInstituto de Geociências (IGc) da USP (Universidade deSão Paulo), onde a comunidade científica pôde se des-pedir e prestar as últimas homenagens ao geocientista.

Fernando de Almeida nasceu em 1916 no Rio de Ja-neiro e formou-se em Engenharia Civil em 1938 pelaEscola Politécnica de São Paulo. Durante sua extensavida profissional publicou 176 trabalhos científicos ecapítulos de livros no Brasil e exterior, versando sobrevários temas das Geociências. Também foi autor de trêslivros, dois dos quais sobre petrologia.

Foi um dos fundadores da Sociedade Brasileira deGeologia e o primeiro editor-chefe da Revista Brasileirade Geologia.

Entre as distinções recebidas ao longo de sua vidadestacam-se: Biografia em Who’s Who in the World, daMarquis Who’s Who Inc., Chicago (1971-1972); Vice-Pre-sidente da Société Géologique de France (1971); Meda-lha José Bonifácio - Sociedade Brasileira de Geologia(1964), Diploma de Mérito Mineral - Departamento Nacio-nal de Produção Mineral(1984); Grã-Cruz da OrdemNacional do Mérito Científico - Presidente da Repúblicado Brasil (1995), Doutor Honoris Causa da UniversidadeEstadual de Campinas (1991); Medalha de Mérito doConselho Federal de Engenharia e Arquitetura (1995).

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8 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO JULHO / AGOSTO 2013

MERCADO DAS ÁGUASNOVASEÇÃO

Monitoramento da qualidade da água

Produto comcertificação NSFInternationalConstruído totalmente em aço inoxidável utilizado paraa extração de compostos orgânicos voláteis em águas,o air-stripper da multinacional americana QEDEnvironmental System, representada no Brasil pela CleanEnvironment, é o primeiro do segmento a receber acertificação NSF International. O certificado possui am-plo reconhecimento nos Estados Unidos para produtosque tenham contato com água potável. O produto pro-mete a remoção de 99% dos compostos orgânicos vo-láteis na água, além de ter capacidade de trabalho comvazões de até 45.400 litros por hora.

Eficiência energéticae produtividade emnovos produtosEmpresa do Grupo Atlas Copco, a Chicago Pneumaticacaba de lançar uma linha inteira de compressorescom diversos tipos de vazão e pressão para perfura-ção de poços. As pressões de trabalho disponíveissão de 7, 10, 12, 14, 17, 21 e 25 bar. Mas os lança-mentos não param aí. A Chicago Pneumatic tambémestá disponibilizando para o mercado os compresso-res a ar com acionamento de velocidade variável, deGA, que são 10% mais eficientes que a geração ante-rior, além dos compressores de ar 100% isentos deóleo e recuperação de energia.

Para atender às tendências do segmento

A Ag Solve traz ao Brasil a linha completa das mais mo-dernas sondas para qualidade da água existentes nomercado: as sondas multiparâmetros Aquaread. Os equi-pamentos AP-Lite, AP-2000, AP-5000 e AP-7000monitoram os parâmetros da qualidade da água doceou salina em profundidades de até 60 metros. Assondas Aquaread são destinadas para o monitoramento

portátil, fixo ou semi-fixo em estações de tratamento deágua e esgoto (ETA/ETE), indústrias, baciashidrográficas, represas, poços, aquíferos, entre outroslocais. Com funções inéditas e características exclusi-vas, a linha recebeu nova proteção para os sensores,possibilidade de instalação adicional de sensores óti-cos ou ISE.

Alto desempenho e resistência. Esses são os princi-pais aspectos atribuídos aos novos equipamentos daempresa Franklin Eletric. As séries motobombas cen-trífugas multiestágios, denominadas SUB 4" e SUB6" são ideais para o bombeamento em poços

tubulares, com diâmetro a partir de 4" e 6" em proje-tos que requerem maiores volumes de vazão. Osequipamentos foram desenvolvidos para funcionaracoplados a motores elétricos dentro da água, emgrandes profundidades.

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Colabore com notícias para esta seção enviando um email [email protected] ou para [email protected]

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10 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO JULHO / AGOSTO 2013

HIDRONOTÍCIAS

Carlos Eduardo Quaglia Giampá,diretor da DH Perfuração de Poços

A seção Hidronotícias/Recordar é Viver é de responsabilidade do autor.

A ÁGUA TAMBÉM É VERDE

A eficiência energética vem se consolidando como umadas principais diretrizes que norteiam a construção denovos empreendimentos no Brasil. Mas, aos poucos, aeconomia de água também tem ganhado os holofotesde projetos sustentáveis. Isso faz todo o sentido umavez que diariamente desperdiçamos litros e litros desserecurso. Uma simples torneira gotejando, por exemplo,é capaz de jogar fora mais de 32 litros em um dia. O quetambém aumenta a necessidade de ações preventivascontra o desperdício é o custo da água. Atualmente,paga-se entre R$ 16,00 e R$ 20,00 por metro cúbico deágua potável, incluindo o tratamento de esgoto.

Segundo dados da Associação Brasileira das Empre-sas de Serviços de Conservação de Energia (ABESCO),o mercado de eficiência energética pode movimentaraté R$ 2 bilhões por ano. A partir de um bom plano, asmédias de redução na conta de energia e água de umaindústria ficam entre 4% e 9%. No comércio, a econo-mia pode alcançar entre 10% e 30%.

Portanto, para se considerar um projeto “verde”, ouseja, ecologicamente correto, o consumo e as formasde controle da água não podem ser ignorados. Emoutras palavras, para ser “verde”, não se pode esque-cer o “azul”.

Uma das ações possíveis e de fácil aplicação é o con-trole de vazamentos, que pode ser feito por meio de ummonitoramento constante da curva de água do empre-endimento. A partir desse princípio, é possível entrar comcorreção imediata caso haja alguma alteração. Para umempreendimento médio, que chega a gastar cerca deR$ 110 mil mensais com água, o monitoramento cons-tante de vazamentos representa de 5% a 7% de redu-ção na conta mensal.

Outra prática importante é a adequação dos equi-pamentos. Isso envolve a troca por aparelhos maiseficientes ou a regulagem da vazão de água. Ospressurizadores nas torneiras, que distribuem melhora água que chega ao usuário, diminuem a pressão

Heloisa Bomfim

e, consequentemente, a água usada para lavar asmãos, por exemplo. Também já podem ser encon-trados mictórios a seco, e caixas de descarga comapenas seis litros, em vez dos 12 litros que se utiliza-

va há alguns anos.A captação de água também gera uma boa econo-

mia, principalmente porque materializa o conceito dereciclagem da água. O tipo mais indicado é a captaçãode águas pluviais. Captada por uma cisterna instaladano telhado do empreendimento, a água passa pelo pro-cedimento “first flush”, quando os primeiros 10 minutosde água são descartados, por serem geralmente maisácidos (especificamente na cidade de São Paulo). O sis-tema então armazena a água, que fica pronta para rece-ber um tratamento simples. O único inconveniente des-sa alternativa é o espaço para armazenar a água coleta-da. Se não for um problema para o edifício, a técnica sótraz bons resultados, com redução de 17% no consumode água.

Para se ter uma ideia do montante de economia que épossível fazer com o controle de água, tomemos comexemplo um shopping center da cidade de São Paulo.O empreendimento mantinha um consumo de águamensal de cerca de R$ 115 mil e após a adoção de umprograma para controle de água conseguiu reduzir osgastos em 20%, ou mais de R$ 22 mil. As mesmas me-didas, num empreendimento que gasta R$ 253 mil pormês com consumo de água, resultaram em economiade 24%, ou R$ 62 mil por mês.

Seja qual for o projeto, é importante ter em mente queuma ação aparentemente simples já é capaz de trazeruma economia interessante. Quando se fala de um re-curso tão indispensável quanto a água, todo e qualqueresforço para sua preservação torna a operação de umempreendimento mais inteligente e mais eficiente.

Fonte: O Estado de São Paulo

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 11JULHO / AGOSTO 2013

HIDRONOTÍCIAS

RECORDAR É VIVER

ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 11NOVEMBRO/DEZEMBRO 2012

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12 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO JULHO / AGOSTO 2013

PRODUÇÃO DE ÁGUA

A s primeiras experiências com a dessalinizaçãocomo técnica para aproveitamento de águas para

fins domésticos ou industriais no Brasil remonta aos anosde 1970. Porém a tecnologia naquela época era muitocara e ineficiente, por isso não prosperou. Novas experi-ências vêm sendo realizadas desde o início dos anos de1990, principalmente no Nordeste. “O custo e as dificul-dades de manutenção em áreas carentes têm tornadodifícil o êxito generalizado dessa tecnologia no Brasil”,afirma Gerson Cardoso, professor, chefe do Departamentode Hidrogeologia da Universidade Federal do Rio deJaneiro(UFRJ) e presidente da ABAS (Associação Brasi-leira de Águas Subterrâneas) Núcleo Rio de Janeiro. En-quanto isso, nos Estados Unidos, a primeira planta pilotode dessalinização por osmose reversa já funcionava des-

Garantia de água potávelApesar de não ser novidade nomercado, a dessalinização aindaé uma técnica pouco utilizada edifundida no BrasilGabriela Padovani

de 1962 e em 1964 foi incorporada ao sistema de abaste-cimento de água potável. O engenheiro industrial CíceroFranco, da Yporã Água Boa, empresa de dessalinizaçãode Florianópolis (SC), acredita que a dessalinização épouco usada no Brasil “por preconceito e desconheci-mento por parte das autoridades, exceto no Semiárido,onde é uma opção viável para obtenção de água potável.Essas áreas são dependentes da dessalinização por apre-sentarem poucos recursos hídricos de superfície e reser-vatórios subterrâneos salinizados e/ou população relati-vamente grande, demandando soluções radicais”.

Apesar de não ser considerada 100% eficaz, é possí-vel, através das modernas tecnologias existentes, levar aágua até a potabilidade com a dessalinização. EmílioGabbrielli, diretor e vice-presidente da América Latina eCaribe da IDA (International Desalination Association) re-lata que a quantidade de sais na água é variável de acor-do com o lugar em que o poço é perfurado. “É precisousar uma técnica que remova exatamente os sais e asimpurezas no nível necessário, porém nenhuma vai re-mover 100% de tudo”. Segundo Cardoso, em geral, adessalinização feita em poços com água salobra é maisbarata e eficiente que a água extraída diretamente do mar.

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 13JULHO / AGOSTO 2013

PRODUÇÃO DE ÁGUA

DISCUSSÃO DO TEMA É QUASEINEXISTENTE NO BRASIL

sediada na Espanha e organizadapela Elsevier, editora especializada napublicação de material científico, téc-nico e médico.

“Os únicos que conheço realizadosno Brasil foram organizados pelaABES (Associação Brasileira de Enge-nheiros Sanitários) e SABESP (Com-panhia de Saneamento Básico do Es-tado de São Paulo); por uma universi-dade no Rio de Janeiro e durante aFENASAN (Feira Nacional de Sanea-mento e Meio Ambiente)”, lembraGabbrielli. Rodrigo Cordeiro, diretorda Acqua Consultoria, afirma que aempresa já está trabalhando na orga-nização da primeira edição do Con-gresso Brasileiro de Dessalinização eReúso de Água, que será realizada nomês de maio de 2015.

Gerson Cardoso acredita que a dis-cussão do tema se faz urgente no Bra-sil, porque a dessalinização de águasubterrânea, principalmente pela insta-lação de dessalinizadores em poços, éuma relevante ferramenta para auxiliara gestão de recursos hídricos em áreascom carência aguda de água e comsubstrato salinizado. “Continua, porém,

sendo muitocara para aplica-ção em regiõese c o n o m i c a -mente deprimi-das”, salienta.

Justamente por ser uma técnica pou-co difundida, a discussão do temaainda engatinha no país, onde nãohá praticamente eventos especializa-do, somente show rooms ou confe-rências isoladas.

No exterior, há eventos como aAnnual Water Reuse DesalinationResearch Conference, que já está emsua 17ª edição e ocorreu em maiodeste ano nos Estados Unidos, sob acoordenação da Water Association,associação que engloba Austrália, Es-tados Unidos e os países do noroestedo Pacífico. Em abril de 2013, foi rea-lizada pela primeira vez a InternationalConference on Desalination usingMembrane Technology, conferência

OSMOSE REVERSA, A MELHOR OPÇÃOExistem vários métodos disponíveispara realizar a dessalinização da água:osmose reversa, compressão mecâ-nica de vapor, dessalinização térmica,congelamento, destilação multi-está-gios e por forno solar. Porém, aosmose reversa é considerada a me-lhor opção principalmente por usarmenos energia e liberar menosdióxido de carbono no ambiente.

De acordo com José Almir Cirilo, se-

cretário de Recursos Hídricos eEnergéticos (SRHE) do Estado dePernambuco, o custo de operação érazoável e a técnica e os equipamen-tos bem conhecidos. “A osmosereversa é o método mais barato e menosagressivo ao meio ambiente”, colocaFranco. “Há exatos 20 anos vi este pro-duto chegar ao Brasil em máquinas im-portadas, ser nacionalizado e seu preçodecrescer drasticamente”, acrescenta.

Emílio Gabbrielli,vice-presidente daInternationalDessalinizationAssociation (IAD)

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14 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO JULHO / AGOSTO 2013

PRODUÇÃO DE ÁGUA

cesso de baixo custo, a evaporação foi abandonada peloreduzido volume de água que proporciona.

Emílio Gabbrielli lembra que no passado a técnicada destilação foi muito usada. “Quanto mais a ciênciaavança, é possível concluir que somente com a aplica-ção de membranas típicas da tecnologia dedessalinização há segurança absoluta da água serperfeitamente potável”, finaliza.

O presidente da ABAS e pesquisador em Geociênciasdo Serviço Geológico do Brasil (CPRM), Waldir DuarteCosta Filho, explica como funciona a osmose reversa.“A água circula sob pressão no interior de tubos dota-dos de membranas semipermeáveis que “filtram” os saisque saem como rejeito concentrado e a água deriva poroutra tubulação completamente isenta de sais e de im-purezas”. Costa Filho afirma que apesar de ser um pro-

“A manutenção é achave da boafuncionalidade dossistemas e varia deacordo com ascaracterísticas da água”

CUSTOS DOS SISTEMAS VARIAM DE ACORDO COM VAZÃOo módulo do dessalinizador, os re-servatórios de acumulação, o tan-que de rejeito e demais equipa-mentos auxiliares, fica em tornode R$ 50 mil. A manutenção ficaem torno de R$ 8 mil por ano”,ressalta Costa Filho.

Para José Almir Cirilo, “a manu-tenção é a chave da boa funcio-nalidade dos sistemas”. EmPernambuco, o trabalho é feito poruma empresa contratada, que tro-ca membranas, realiza manuten-ção preventiva, conserta os siste-

mas de bombeamento e treina os operadores. “O custoé da ordem de R$ 800,00/equipamento/mês e é supridopelo Estado em sua maioria, com contrapartida das pre-feituras. A maior parte dos recursos provém do FundoEstadual de Recursos Hídricos”, coloca o secretário.

De acordo com Cícero Franco, osvalores variam em função do por-te e das características da água aser tratada e da água a ser produ-zida. “Há sistemas pequenos paracolocar sob a pia da cozinha quecustam cerca de R$ 1.000,00 pro-duzindo 8 l/h até sistemas de cen-tenas de metros cúbicos por horaque custam alguns milhões. Ocusto da produção da água, inclu-indo material consumido, manu-tenção, mão de obra de manuten-ção e, inclusive energia elétrica,gira em torno de R$ 0,50 por metro cúbico, o que tornao sistema bem vantajoso, considerando que na indús-tria se paga entre R$ 5,00 e R$ 10,00 por metro cúbicopara as concessionárias de água”, esclarece o enge-nheiro. “O custo atual de um equipamento envolvendo

1953 – 1959J.E. Breton e C.E.Reidfazem primeiras tentativasde dessalinização nosEstados Unidos, reconhe-cida como invenção daosmose reversa

1960S. Loeb e S. Sourirajanconfeccionam primeirasmembranas de acetato decelulose, material usadonas membranas atuais

1962Inauguração de planta-piloto de dessalinizaçãopor osmose reversa naCalifórnia (EUA)

1963U. Merten descreve o fluxode soluto e solvente atravésda membrana, fenômenoque explica o funcionamentoda osmose reversa

Segunda metadedos anos 1960Surgem empresas quepassam a dominar afabricação de membranas

4 jun 1965Planta-piloto da Califórnia éincorporada ao sistema deabastecimento de águapotável, que marca ofornecimento comercial deágua potável com tecnologiade dessalinização porosmose reversa

1968J. Westmoreland eDT Bray patenteiammembranas emespiral

1971Solicitada patenteda membrana deosmose reversaconstruída empoliamida aromática

Segunda metadedos anos 70Construídasprimeiras plantasindustriais paraproduzir águapotável por meio dadessalinização

1987EUA começa a produzir1.000.000 m³/dia de águapotável por osmose reversa

1996Governo brasileiro passa aexigir tratamento porosmose reversa emclínicasde hemodiálise dopaís, após acidente emtratamento de água quevitimou 65 pacientes emCaruaru (PE)

2008Espanha atinge a marca de86% do total da suaprodução de água potável apartir de águas marinhas esalobras por dessalinização

História da Dessalinização○

14 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO JULHO / AGOSTO 2013

Fonte: Cícero Franco – Iporã

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 15JULHO / AGOSTO 2013

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16 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO JULHO / AGOSTO 2013

PRODUÇÃO DE ÁGUA

Limpando a águaA falta ou excesso des-sas substâncias naágua pode ser prejudi-cial à saúde.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

E OS RESÍDUOS, PARA ONDE VÃO?

Depois de feita a dessalinização,o que resta é uma água com umaconcentração muito mais alta dossais que já estavam ali presentes.Gerson Cardoso diz que, de ma-neira geral, os resíduos são des-cartados no mar, quando e ondeisso é possível. ”As regulaçõesambientais estão tornando essaforma de descarte complicada. Atendência é o armazenamentoem terra firme ou uso industrialdo resíduo em longo prazo”.

Cícero Franco explica porqueessa devolução ao local de ori-gem é possível em alguns casos.”Como o resíduo tem as mesmascaracterísticas da água captada,exceto por estar mais concentra-do, não há riscos de se afetar o meio ambiente, desdeque o volume do curso de água - no caso o mar - sejamuito maior que o volume lançado. Há estudos cientí-ficos provando esta assertiva”.

Costa Filho alerta para as consequências de se lançar

Gerson Cardoso, presidente daABAS Núcleo Rio de Janeiro

A regulação ambientalexistente no Brasil parao descarte correto dosresíduos provenientesdos dessanilizadores

é incipiente e necessitade ampliação

para atender àdemanda existente

os resíduos na superfície de áreas próximas do local daexploração da água. “Devido à alta concentração de sais,poderão se infiltrar e salinizar os aquíferos ou aindasalinizar as águas superficiais e reservatórios que abas-tecem a população”.

De acordo com José Almir Cirilo, no Estado dePernambuco, onde a dessalinização de água de poço éuma das únicas maneiras de obtenção de água potávelem algumas cidades, o resíduo é acumulado em reser-vatórios. “Temos diversos experimentos para seu uso,principalmente na criação de peixes como a tilápia e nairrigação de atriplex, planta que assimila muito bem osal e é utilizada na alimentação de caprinos, ovinos ebovinos”, relata o secretário.

O Programa Água Doce (PAD), do Ministério do MeioAmbiente (MMA), que tem por objetivo reduzir asvulnerabilidades no que diz respeito ao acesso à águano Semiárido promovendo seu uso sustentável, têmalguns documentos que permeiam a instalação dossistemas de dessalinização. “Para permitir a continui-dade do programa existem os planos estaduais, do-cumento base do PAD, decretos estaduais de criaçãodo núcleo estadual e as portarias denominando os técni-cos que participam nos respectivos componentes”, ex-plica Renato Saraiva Ferreira, coordenador nacional doPAD. Além dessas especificações, existe a Portaria 2914,de 12 de dezembro de 2011, que determina o padrão depotabilidade, dentre outras providências.

Gerson Cardoso observa que a regulação ambientalexistente no Brasil para o descarte correto dos resíduosprovenientes dos dessanilizadores é incipiente e neces-sita de ampliação para atender à demanda existente.

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 17JULHO / AGOSTO 2013

PRODUÇÃO DE ÁGUA

José Almir Cirillo,secretário deRecursos Hídricos eEnergético (SRHE)de Pernambuco

PERNAMBUCO, UM CASO À PARTEO processo de dessalinização da água, principalmen-te da subterrânea extraída através de poços perfura-dos em rochas cristalinas, foi iniciado na década de1990 quando foram instalados de 6 a 7 dessalinizadoresem cada município do Estado de Pernambuco, em par-ceria com as prefeituras que seriamresponsáveis pela manutenção dosistema poço-dessalinizador-distribui-ção da água para a população.

“Infelizmente muitas das prefeiturasnão cumpriram o acordo quando mu-davam os prefeitos, resultando em per-da de grande número de equipamen-tos que foram completamentesucateados”, relata Costa Filho, pre-sidente da ABAS.

Nos últimos anos o governo estadualvem recuperando e instalando novosequipamentos de dessalinização que jácontabilizam 200. “A dessalinização daságuas acumuladas nas rochas cristalinas

é imprescindível”, coloca Costa Filho. “A finalidade é pro-porcionar condições de sobrevivência à população, poisas águas usadas são resultantes de acumulações em“barreiros” completamente infectados”.

José Almir Cirilo, Secretário de Recursos Hídricos eSubterrâneos, afirma que os planos doEstado são para a ampliação do nú-mero de sistemas. “Pretendemosuniversalizar o suprimento de águapara a população difusa por meio detecnologias, como a dessalinização.Cada sistema atende de 200 até 7500pessoas e temos planos para chegaraos 600 dessalinizadores em opera-

ção, para aten-der cerca de 200mil pessoas emnove municípi-os, em sua mai-oria, localizadosna zona rural”.

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18 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO JULHO / AGOSTO 2013

AMBIENTE

A industrialização do Brasil teve início na década de 1930,quando o então presidente Getúlio Vargas adotou uma

política industrializante e investiu forte na criação deinfraestrutura. O período chamado de Revolução IndustrialBrasileira impulsionou o aumento da população urbana, quefoi responsável por construir um mercado consumidor e demão de obra para as novas indústrias. Porém, essa industria-lização, ocorrida principalmente em São Paulo, Minas Gerais,Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, inseriu nestes estadosempresas que, durante muitos anos não se importaram coma questão do despejo correto de resíduos, já que não haviauma legislação específica sobre meio ambiente. Com o tem-po, o aumento das atividades poluidoras e a falta degerenciamento dessas atividades foram transformando a in-dustrialização em um grande problema ambiental. Hoje, essa

Passivo ambiental:desafio a ser vencidoA falta de legislação ambientalem tempos passados fez comque a industrialização gerassepassivos ambientais em áreas

urbanas. Hoje, parte delas estásendo gerenciada ou

reabilitada, mas ainda há umlongo caminho a percorrer

Larissa Straci

18 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO JULHO / AGOSTO 2013

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 19JULHO / AGOSTO 2013

AMBIENTE

herança indesejada, bem como outrospassivos ambientais mais recentes, pre-cisam ser gerenciados pelos órgãosambientais para que não se transfor-mem em problemas ainda maiores paraas próximas gerações.

Marilene Ramos, presidente do Ins-tituto Estadual do Ambiente do Rio deJaneiro (INEA) explica que o proces-so de industrialização levou a instala-ção de atividades econômicas e indus-triais que passaram décadas sem umcontrole ambiental adequado. “Essecontrole ambiental começa a ser for-talecido a partir da década de 1980.Entre a década de 40 e 50, o Brasilcomo um todo e principalmente asregiões metropolitanas experimenta-ram essa intensa industrialização.Esse fato gerou, em muitos casos,passivos ambientais”. Marilene dá oexemplo da Companhia SiderúrgicaNacional (CSN), instalada em VoltaRedonda na década de 40 e que du-rante muitos anos operou sem contro-les ambientais adequados. “A partir dadécada de 80, com maior controleambiental, além de reduzir a geraçãodesses passivos, começou-se a investi-gar essas áreas e buscar gerenciamento.Com a Resolução CONAMA Nº416/2009tivemos uma intensificação das investi-gações e do gerenciamento dos passi-vos ambientais”.

Para Luiz Tarcísio Mossato Pinto,presidente do Instituto Ambiental doParaná (IAP) toda e qualquer ativida-de gera impactos, mesmo as mais

simples. “O que ocorria era o atendi-mento às necessidades e o conheci-mento sobre o assunto era muito pe-queno. À medida que se conheciamais do tema, a legislação foi aplica-da e aprimorada”. Ele defende que aresponsabilidade quanto aos passi-vos ambientais não é só dos municí-pios, mas também do Estado e daUnião que como agentes f isca-lizadores devem ter um controle mai-or no momento do licenciamentoambiental das empresas.

Daniel Cardoso, geólogo daHidroplan, comenta que no Estado deSão Paulo a legislação ambiental con-solida-se a passos largos e firmes comatuação direta da CompanhiaAmbiental do Estado de São Paulo(CETESB), que nos últimos anos pu-blicou normas e procedimentosatualizados, aprimorando as ferramen-tas de gerenciamento ambiental depassivos. Exemplo disso é o decretonº 59.263, assinado em junho de 2013,que regulamenta a lei estadual nº13.577/2009, para gerenciamento deáreas contaminadas e que estabelecediretrizes e procedimentos para pro-teção da qualidade do solo e daságuas subterrâneas, tanto para pre-venção quanto para correção das áre-as existentes. Segundo ele, MinasGerais, Rio de Janeiro e Rio Grandedo Sul são outros exemplos de evolu-ção e consolidação de ferramentaspara o gerenciamento ambiental deáreas contaminadas”.

PROBLEMA SE ESTENDE POR TODO O BRASILSão muitos os possíveis tipos de passi-vos ambientais que podem ser geradospor atividades humanas, comerciais, in-dustriais e de construção civil. Este gra-ve problema se estende pela maioriados estados. Em Minas Gerais, porexemplo, a Fundação Estadual do MeioAmbiente (FEAM) possui cadastradas530 áreas contaminadas, a maioria pro-veniente de vazamentos em tanques depostos de combustíveis. “Além disso,nosso estado, conhecido pela vocação

minerária, possui inúmeros empreendi-mentos em atividade ou encerrados,desde pequenas extrações de areia agrandes complexos de extração de mi-nério de ferro, que podem gerar a de-gradação de extensas áreas e a conta-minação do solo e das águas. Cabe des-tacar o potencial de dano ambiental ine-rente às barragens de rejeitos e resídu-os, que podem gerar passivos decorren-tes de acidentes com vazamento doconteúdo armazenado nestas estrutu-

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20 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO JULHO / AGOSTO 201320 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO JULHO / AGOSTO 2013

AMBIENTE

ras”, detalha Zuleika Torquetti, presidente da FEAM.No Paraná, o acidente mais grave foi a contaminação

por chumbo ocorrida em Adrianópolis, pela empresaPlumbum Mineração e Metalurgia, que funcionou dadécada de 1930 até 1995, deixando um rastro de conta-minação com rejeitos de chumbo espalhados no ar, soloe água. “Com o acidente que ocorreu há 18 anos, oambiente foi contaminado, incluindo solo, alimentos,animais e outros. A maioria dos impactos causados jáfoi contida e recuperada. Porém, até hoje a Secretariade Estado de Saúde e outros órgãos do governo fazemum trabalho constante para a minimização dos impac-tos”, ressalta Mossato Pinto.

No Rio de Janeiro, há passivos ambientais originadosdos processos siderúrgicos e da mineração, da áreapetroquímica (refinarias), postos de combustíveis e de

lixões. “Da área de mineração,o passivo da empresa IngáMercantil, em Itaguaí, era um dos mais graves. Temostambém na área petroquímica as refinarias, onde mui-tos redutos apresentam problemas com a contamina-ção do subsolo, como a refinaria de Duque de Caxias ea refinaria de Manguinhos. Um passivo disseminado peloestado do Rio são os postos de combustíveis, muitosdeles com vazamento dos tanques. Também temos aquestão dos lixões. Hoje nós estamos encerrando coma construção de aterros sanitários, mas muitos deles pre-cisarão passar por um processo de remediação”, con-firma Marilene Ramos.

Em São Paulo, a maioria das áreas contaminadas éoriginada de postos de combustíveis, mas também háoutras fontes envolvendo agrotóxicos, setores industri-ais e de resíduos (Veja pág. 23).

AÇÕES PARA EVITAR A DISSEMINAÇÃO DOS PASSIVOSNo Paraná, bem como em outros estados, ações estãosendo implantadas para evitar que passivos ambientaisaumentem ainda mais. “Estamos realizando estudos emparceria com universidades, incentivando pesquisas naárea. Temos realizado um maior con-trole e fiscalização das atividades in-dustriais em parcerias com outras en-tidades do governo. Temos sido maisrígidos em relação aos estudos eavaliações de impacto ambiental,apresentados pelas empresas nomomento do licenciamentoambiental, o que pode contribuirpara evitar e minimizar possíveis aci-dentes ambientais”, garante MossatoPinto, do IAP.

Marilene Ramos ressalta que oINEA tem realizado um controleambiental estrito das atividades in-dustriais. “Além disso, fiscalizamosas atividades dos postos de gasoli-na. Hoje, para funcionar, os postosde gasolina do Rio devem ser licen-ciados, com base na licença de ope-ração e recuperação. O INEA criouuma modalidade de licenciamentoem que a atividade não precisa serparalisada, mas para continuar operando o posto preci-sa de um processo de recuperação”.

Minas Gerais vem sendo pioneiro em várias ques-tões concernentes aos instrumentos e procedimen-

tos adotados para regularização ambiental emonitoramento das atividades industriais, de minera-ção e de infraestrutura, visando à prevenção egerenciamento de passivos ambientais. “A FEAM é res-

ponsável pela execução de diversosprogramas e projetos que visam àsistematização de dados para o es-tudo dos cenários estaduais sobregerenciamento de passivos, comobase para tomada de decisão dasestratégias de governo”, pontuaZuleika Torquetti.

A FEAM também desenvolve pro-jetos que visam à classificação dasáreas mineradas pelo potencial deimpacto ambiental, buscando iden-t i f icar o nível de desempenhoambiental das mineradoras de pe-queno e médio porte para estabe-lecer novas estratégias de gestãopara a reabilitação e o uso futurodestas áreas. Minas Gerais é o úni-co estado no país com legislaçãoambiental que define os critériostécnicos para a fase de “fechamen-to de mina”. Este mecanismo esta-belece que a reabilitação de áreas

degradadas pela mineração é parte dos compromis-sos assumidos pelo empreendedor desde o início daexploração mineral e deve ser efetuada durante a la-vra e após a desativação da mina.

Luiz Tarcísio Mossato Pinto,presidente do IAP

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 21JULHO / AGOSTO 2013

AMBIENTE

PASSIVO: RESPONSABILIDADE É DE QUEM?A responsabilidade do passivo ambiental é de quem ogerou, seja a pessoa física ou jurídica. Segundo a Lei nº6.938/81 (Política Nacional do Meio Ambiente - Artigo 14)o poluidor é obrigado, independentemente de existên-cia de culpa, a indenizar ou reparar os danos causadosao meio ambiente e a terceiros afetados por sua ativida-de. “Outra lei de extrema importância é a de nº 9605/98- Lei de Crimes Ambientais. O texto diz respeito à Res-ponsabilidade Penal da Pessoa Jurídica e indica que aspessoas jurídicas serão responsabilizadas administrati-va, civil e penalmente, além de responsabilizar pessoasfísicas, coautoras do fato, tais como diretores e outroscom poder de decisão dentro das empresas poluidoras”,alerta Zuleika Torquetti.

Segundo Daniel Cardoso, o responsável legal é o pro-prietário do imóvel, mas isso não exclui a responsabilida-de solidária de quem deu causa ao dano ambiental ouutilizou o imóvel. “As punições vão desde advertências amultas. Em caso de reincidência ou ingerência as licençaspodem ser cassadas e o responsável pode responder porinquérito civil ou até ser condenado criminalmente”.

ZuleikaTorquetti,presidenteda FEAM

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22 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO JULHO / AGOSTO 2013

AMBIENTE

ÁGUA SUBTERRÂNEA: USO RESTRITO NAS PROXIMIDADES DE PASSIVOS

A construção de poços e a uti-lização de água subterrâneaem locais próximos aos passi-vos ambientais são tecnica-mente proibidas, na maioriados estados. No estado do Rio,por exemplo,a cidade de VoltaRedonda não utiliza água sub-terrânea em decorrência de umpassivo ambiental deixado pelaCompanhia Siderúrgica Nacio-nal (CSN), que contaminoucom substâncias químicascancerígenas um terreno de 10mil metros quadrados. Para fis-calizar o uso das águas subter-râneas em áreas restritas, oINEA afirma ter convênios comas empresas de saneamentodo estado, além de equipespróprias que realizam a fiscali-

zação. “Obviamente não é um trabalho simples, massempre que o uso em áreas que existam restrições éidentificado, a utilização passa a ser proibida”, garanteMarilene Ramos, presidente do INEA.

A presidente da FEAM , Zuleika Torquetti, explica quea perfuração de poços tubulares deve ser precedidado pedido para perfuração e da emissão de autoriza-ção por parte do órgão responsável pela regularizaçãoambiental. Obtida a autorização, o interessado deveobter a outorga de uso da água subterrânea. “A partirdo conhecimento da existência de passivo ambientalpróximo aos locais de captação, o técnico deverá con-siderar essa situação, inclusive condicionando o pro-jeto de forma a evitar o risco de o poço constituir-seem caminho para a contaminação do aquífero. Porém,nem todos os usuários estão cientes destas exigênci-as e o fazem sem a devida regularização. Isto impedea identificação do potencial de contaminação do re-curso hídrico”, complementa Zuleika. A engenheiraquímica ressalta que Minas Gerais não conta com umanorma específica sobre o assunto. “Entretanto, encon-tra-se em tramitação no âmbito do Sistema Estadualdo Meio Ambiente (Sisema) uma proposta de delibera-ção para diretrizes, critérios e procedimentos para o es-

tabelecimento de áreas derestrição e controle do usode águas subterrâneas”.

Daniel Cardoso aconse-lha: “Após a finalizaçãodas etapas de geren-c iamento de passivosambientais e a definiçãodas medidas de controleinst i tuc ionais , quandohouver interesse pela cap-tação da água subterrâneadeve-se promover a con-sulta aos órgãos responsá-veis para verificar a possi-bilidade de instalação deum poço de captação. O ór-gão deverá ser prontamen-te notificado sobre a pre-sença de áreas contamina-das e eventuais restrições”.

Marilene Ramos, presidente do INEA

O técnico deveráconsiderar essa situação,inclusive condicionando oprojeto de forma a evitaro risco de o poçoconstituir-se em caminhopara a contaminaçãodo aquífero. Porém, nemtodos os usuários estãocientes destas exigênciase o fazem sem a devidaregularização

22 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO JULHO / AGOSTO 2013

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 23JULHO / AGOSTO 2013

AMBIENTE

MINAS GERAISÁreas Contaminadas:530 áreas

335 sendo gerenciadas e acom-panhadas pela Fundação Estadu-al de Meio Ambiente (Feam) e195 pela Secretaria Municipal deMeio Ambiente (SMMA) daPrefeitura de Belo Horizonte.

Áreas reabilitadas: 84

Maioria são postos de combustí-veis do município de Belo Horizon-te (76) e seis áreas que tinhamatividades de mineração. Amaioria das áreas continua com omesmo uso, sendo que poucastiveram mudança de uso ou aindanão têm um uso definido.

Fonte: FEAM, 2012

RIO DE JANEIROÁreas Contaminadas:160 áreas

Das 160 áreas monitoradas,67 estão contaminadas,mas ainda não iniciaramalgum tipo de tratamentono local. Outras 64 estãoem tratamento.

Áreas reabilitadas: 6

Os postos de combustíveissão os responsáveis por maisda metade dos terrenoscontaminados do RJ. Asatividades industriais, osaterros sanitários e asatividades de transporteseguem na lista.

Fonte: INEA, 2013

SÃO PAULOÁreas Contaminadas:4.572 áreas

Desse total, 36%(1.646 áreas), estãona Região Metropolitanade São Paulo.

Áreas reabilitadas: 342

Os postos de combustí-veis destacam-se com3510 registros, seguidosde atividades industriaiscom 681; atividadescomerciais, 216; instala-ções para destinação deresíduos, 128, e aciden-tes, agricultura e fontesdesconhecidas, 37.

Fonte: CETESB, 2012

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24 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO JULHO / AGOSTO 2013

CAPA

Em meio a maior seca dos últimos 50 anos, o Nordeste brasileiro está sendo palcode ações estruturantes no combate à seca e conta com uma importante aliada: aágua subterrânea, cuja exploração pode mudar a vida de milhares de pessoas

Por Larissa Straci

ÁGUA SUBTERRÂNEA:estratégia contra a seca

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 25JULHO / AGOSTO 2013

CAPA

ais de 1400 cidades estão sendoafetadas pela seca severa no

Nordeste brasileiro, segundo levantamen-to feito pela Confederação Nacional dosMunicípios (CNM). No Ceará, 14 municí-pios estão em colapso e outros 21 deve-rão entrar em situação de emergência atésetembro. Na Bahia, há racionamento deágua em 53 municípios. Na Paraíba, pelomenos 22 cidades estão em colapso to-tal. Em Alagoas, 30 cidades enfrentamrodízio de água, inclusive a capital

Maceió. Dos 185 municípios dePernambuco, estado mais afetado, 151estão com déficit de água. Somente 16cidades do sertão pernambucano sãoabastecidas por carros pipas e a capitalRecife também faz racionamento. Em al-guns pontos dos nove estados nordesti-nos, a população chegou até mesmo aconsumir água contaminada, o que oca-sionou surto de diversas doenças relacio-nadas à má qualidade desta e levou in-clusive à morte de pessoas em Alagoas.

M

Primeiro poço concluídodo projeto da CPRM/MI,localizado no Município

de Euclides da Cunha, naBahia. Poço está

produzindo 110 mil l/h.

Hid

roco

n

Page 26: Revista - ABAS

26 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO JULHO / AGOSTO 2013

CAPA

Em meio a este cenário, o Governo Federal, por meiodo Ministério da Integração Nacional (MI), está inves-tindo em ações estruturantes para aumentar a ofertade água no Nordeste e em outras regi-ões do país, que enfrentam o mesmo pro-blema como o interior de Santa Catarinae o extremo sul do Rio Grande do Sul.Essas ações contam com um elementoestratégico para melhorar a qualidade devida de milhares de pessoas que sofremcom a seca: a exploração da água sub-terrânea por meio da perfuração de po-ços tubulares.

Thales de Queiroz Sampaio, diretor deHidrologia e Gestão Territorial do Servi-ço Geológico do Brasil (CPRM), observaque nas condições de escassez de águae seca como se encontra atualmente a região, a utiliza-ção da água subterrânea se reveste como uma alter-nativa complementar muito importante já que os reser-vatórios superficiais estão em níveis críticos. “No to-cante ao tratamento a água subterrânea leva uma gran-de vantagem, pois na maior parte dos casos só preci-

sa de cloração para ser distribuída de forma segura àpopulação”, complementa.

Em algumas localidades, a captação da água subter-rânea é a forma mais viável paraobter este acesso básico uma vezque, apesar de grande parte dosrios ser perene, a adução requerobras de grande porte para o des-locamento das águas. “O GovernoFederal tem investido fortementeem obras de infraestrutura hídricapara expandir a oferta de água noSemiárido. São obras estruturantescomo barragens, adutoras e ca-nais, que já estão transformando aregião. Pelo Programa de Acelera-ção do Crescimento (PAC), os in-

vestimentos em infraestrutura hídrica mais quetriplicaram, passando de R$ 7,2 bilhões no PAC 1 paraR$ 26 bilhões no PAC 2, nos eixos Oferta de Água, Seca,Irrigação, Drenagem e Revitalização”, explana SérgioDuarte de Castro, secretário de Desenvolvimento Regi-onal do MI.

REDE ESTRATÉGICA LEVARÁ ÁGUA A MUNICÍPIOS

Com o objetivo de garan-tir fontes seguras deágua de boa qualidadepara a população afeta-da pela seca, o ServiçoGeológico do Brasil(CPRM) está construindopoços tubulares em ba-cias sedimentares de to-dos os estados do Nor-deste, com profundida-des variáveis entre 400m

e 700m. Serão construídos 21 poços permanentes, pla-nejados para atender a cidade onde o poço está locali-zado e aproximadamente 52 municípios vizinhos. Os po-ços tubulares da Rede Estratégica de Poços noSemiárido Brasileiro (IREP) deverão ser entregues atédezembro de 2013.

Thales de Queiroz Sampaio, da CPRM, comenta queesta é uma parceria que envolve diversos ministérios sob

a coordenação da Casa Civil da Presidência da Repú-blica e a liderança do Ministério da Integração Nacional.“Estes poços serão construídos com urgência para au-mentar de imediato a oferta hídrica para o abastecimen-to humano, considerando que parte dos reservatóriossuperficiais do Semiárido está com níveis muito baixos.Além disso, servirão como fonte permanente de forneci-mento”, esclarece.

A água será distribuída inicialmente por meio de car-ros pipas. “No entanto, está se articulando com osestados para que assumam os poços e os utilizematravés de sistemas de distribuição de águas(adutoras). Uma rede eficiente e estratégica deadutoras, utilizando o potencial existente no Semiáridopara a produção de água subterrânea, poderá dimi-nuir a distribuição por carros pipas. Este recurso, po-rém, ainda deverá ser utilizado durante muito tempopara o atendimento da população nas épocas de esti-agem”, explana Thales Sampaio.

Distribuição dos poços e produção de águaSegundo Fernando Feitosa, assessor da Diretoria deHidrologia e Gestão Territorial da CPRM e presidente daABAS Núcleo Pernam-buco, a distribuição dos poços

Thales de QueirozSampaio, CPRM

26 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO JULHO / AGOSTO 2013

Obras deinfraestruturahídrica expandirãooferta de águano Nordeste

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 27JULHO / AGOSTO 2013

CAPA

mento. Considerando um bombeamento de 18 horas/dia seriam disponibilizados aproximadamente 36 milhõesde litros de água por dia, podendo atender cerca de 720mil pessoas a uma taxa de 50 litros/habitante/dia”,exemplifica Thales Sampaio.

Fernando Feitosa,presidente do núcleo

Pernambuco

foi pautada na ocorrência de áreas sedimentares emcada estado nordestino. “Alguns estados possuem gran-des áreas de bacias sedimentares e em outros pratica-mente não existem. Através dos mapas, foi possível ob-servar onde estavam as áreas de sedimento”, esclare-ce Feitosa. A distribuição dos poçosfoi feita considerando-se esse impor-tante critério. Assim, estados onde háuma área muito grande foram contem-plados com quatro poços e os esta-dos com áreas pequenas receberãosomente um poço. “Em Alagoas eSergipe, houve um esforço muitogrande para se alocar um poço emuma pequena área de sedimentos –uma operação tecnicamente arrisca-da do ponto de vista de produção deágua -, mas isso foi feito para queambos não ficassem sem poços tubulares”, detalha.

Os poços perfurados pelo projeto da CPRM estão sen-do projetados para produzir, dependendo das condi-ções geológicas, de 50 mil a 100 mil litros de água porhora. “O volume diário varia com o tempo de funciona-

Distribuição dospoços foi pautadana ocorrência deáreas sedimentares

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28 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO JULHO / AGOSTO 2013

CAPA

PROJETOS LEVAM ÁGUA ÀS ÁREAS SECAS DO PAÍScho IV do Eixão das Águas, que atende mais de 50% dademanda hídrica da região metropolitana de Fortaleza,beneficiando quatro milhões de pessoas, também noCeará; as adutoras do Algodão (BA) e do Oeste (PE); ossistemas Cafarnaum (BA), Seridó (RN), Agrestina (PE) eCongo (PB); além de ações de esgotamento sanitário,com a construção de 48 empreendimentos nos estadosde Alagoas, Bahia, Maranhão, Minas Gerais, Per-nambuco, Piauí e Sergipe.

“A meta de implantação é de 7.685 sistemas de abas-tecimento. Tendo em vista que o atendimento ocorre emrelação à quantidade do aglomerado de famílias e da va-zão de cada poço, estima-se que cada sistema atenderáde 30 a 40 famílias o que beneficiará, em média, 307.400pessoas”, garante Castro. Segundo o secretário, todosos sistemas estarão concluídos até o fim de 2014.

O Ministério da Integração Nacional executa e apoia maisde 250 grandes empreendimentos voltados à água no país,por meio do Programa de Aceleração do Crescimento(PAC), centenas de pequenas e médias obras de abaste-cimento de água, esgotamento sanitário e recuperação debacias hidrográficas, além do Projeto de Integração do RioSão Francisco. São obras estruturantes, como barragens,adutoras e canais, que visam transformar a realidade hídricado Semiárido brasileiro. “Os sistemas de abastecimentosão compostos por poços perfurados, estações de trata-mento e reservatórios elevados que possibilitam a distri-buição de água por meio de chafarizes, torneiras públicasou pequenas redes de distribuição nas comunidades”, in-forma Sérgio Duarte de Castro, do MI.

Dos empreendimentos já finalizados, destacam-se asbarragens de Figueiredo e Missi, ambas no Ceará; o tre-

OPERAÇÃO PIPA II CONSTRUIRÁ 200 POÇOSHoje, o projeto Operação Pipa II está distribuindo águapotável por meio de carros pipas para a população situ-ada em 763 municípios do Semiárido e ao norte de Mi-nas Gerais, numa parceria entre o MI e o Exército Brasi-leiro. Mas a situação deve mudar. De acordo com o De-partamento de Engenharia e Construção (DEC) do Exér-cito Brasileiro, serão perfurados 200 poços tubulares nosestados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Piauí eBahia. “Para tanto serão empregados efetivos dos bata-lhões de engenharia sediados no Nordeste. Em cada

estado serão perfurados 40 poços em diferentes locali-dades. A definição dos locais de perfuração ficou a car-go do Departamento Nacional de Produção Mineral(DNPM) e do Ministério da Integração Nacional”.

Segundo o DEC, a população beneficiada com a perfu-ração dos poços será significativamente favorecida pelaoportunidade de acesso à água para suprir suas necessi-dades. “Os serviços da Operação Pipa II estão planejadospara serem concluídos até o início de 2014. Contudo, oExército envida todos os esforços em antecipar o prazo”.

COMBOIOS DE PERFURAÇÃO ATENDERÃO 10 ESTADOS BRASILEIROSOutra iniciativa estruturante visando aredução do déficit hídrico permitirá adez estados brasileiros a compra deequipamentos para perfuração de po-ços tubulares, através de comboios deperfuração. Para isso, o Ministério daIntegração Nacional autorizou em janei-ro de 2013 a liberação de R$ 144,2 mi-lhões do Programa de Aceleração doCrescimento (PAC 2) - subprogramaPAC Equipamentos / Oferta de Água.

Serão beneficiados os estados daBahia, com R$ 25 milhões; Sergipe, R$10 milhões; Maranhão, R$ 10 milhões;Minas Gerais, R$ 7,8 milhões; Paraíba,R$ 10,5 milhões; Paraná, R$ 16,5 mi-lhões; Piauí, R$ 19,5 milhões; Rio Gran-

de do Norte, R$ 6,2 milhões; Rio Grandedo Sul, R$ 22,2 milhões; e Santa Catarina,R$ 16,5 milhões.

José Lazaro Gomes, diretor deMarketing da Prominas, empresa vence-dora da licitação que fornecerá os equi-pamentos para os estados contemplados,comenta que o fornecimento dos comboi-os de perfuração levará de 60 a 270 diase a água será distribuída à população deacordo com o projeto específico de cadaestado. “Os comboios de perfuração queestão sendo fornecidos através da ata deregistro de preços do Ministério daIntegração Nacional são compostos desonda, compressor, caminhões munck epipa, ferramental e acessórios”.

José Lazaro Gomes, Prominas

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 29JULHO / AGOSTO 2013

CAPA

CONTRIBUIÇÕES DA ABAS PARA RESOLVER O PROBLEMA DA SECA NO NORDESTEquirir um melhor conhecimento das obras hídricas sub-terrâneas possíveis para ser implantadas no sertão, vi-sando um ordenamento das ações quanto aos tipos deobras, localizações de implantação e quem (ou qual ór-gão) as fariam. “Além do conhecimento adequado a cadaórgão/estado, contribuiríamos também para reduzir odesperdício de dinheiro público”, ressalta. A ABAS tam-bém possui um portfólio de cursos que poderão ser apli-cados à capacitação dos recursos humanos, que opera-rão as máquinas perfuratrizes,bem como aos profissionais egestores dos órgãos estaduais efederais. “Uma terceira frente deatuação de nossa entidade estána área da educação ambientalda população que receberá osbenefícios do Governo, por meiode cartilhas e palestras”,complementa Costa Filho.

As iniciativas do Governo Federal para resolver o proble-ma da seca no Nordeste coincidem com os projetos einiciativas da Associação Brasileira de Águas Subterrâne-as (ABAS). Um exemplo disso é o projeto “Água Subterrâ-nea – Minimização das Consequências da seca no Nor-deste”, também conhecido como “Sede Zero”, desenvol-vido pela ABAS, em 2003. À época, o projeto incentivou aperfuração de poços tubulares para um melhor aproveita-mento do potencial hídrico subterrâneo local e apontouos rumos técnicos e científicos para resolver o problemada seca no Nordeste do Brasil. O estudo propôs aindasubsídios para um programa racional de perfuração depoços tubulares para o abastecimento de cidades de pe-queno, médio e grande porte. Além deste projeto, a ABASdefendeu também a implantação de Campos de Produ-ção de Água Subterrânea, semelhante a campos de pro-dução de petróleo, programa intensivo de perfuração depoços tubulares para a produção de água com a finalida-de de minimizar os efeitos das estiagens, na gestão deHumberto Albuquerque.

Segundo Waldir Duarte Costa Filho, presidente daABAS, atualmente, a associação está trabalhando paraviabilizar um fórum de debates, envolvendo órgãos dosgovernos federal e estaduais, com a finalidade de ad-

Waldir Duarte Costa Filho,presidente da ABAS

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30 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO JULHO / AGOSTO 2013

CAPA

PR3 ComboiosInstituto das

Águas do Paraná

SC3 Comboios

Secretaria deAgricultura e Pesca

RS4 Comboios

SDR - Secretaria doDesenvolvimento

Rural, Pesca eCooperativismo

AL2 Comboios

SEMARH -Secretaria do

Meio Ambientee dos Recursos

Hídricos

CE4 Comboios

SOHIDRA - Superintendênciade Obras Hidráulicas

PB3 ComboiosCDRM - Companhiade Desenvolvimentode Recursos Mineraisda Paraíba

PE6 ComboiosSARA – Secretariade Agricultura eReforma Agrária

RN2 Comboios

SEMARH - Secretariado Meio Ambiente e

dos Recursos Hídricos

MA2 Comboios

SEDES - Secretaria deDesenvolvimento

Social e AgriculturaFamiliar

PI4 Comboios

SDR - Secretaria doDesenvolvimento Rural

BA6 ComboiosCERB - Companhia deEngenharia Ambientale Recursos Hídricosda BahiaMG

3 ComboiosCOPASA - Companhiade Saneamento deMinas Gerais

SE3 ComboiosCOHIDRO -Companhia deDesenvolvimentode RecursosHídricos

Estados beneficiados

Órgão/ instituição responsável peladistribuição da água em cada estadoFonte: Prominas

Bahia Euclides da Cunha*, Tucano, Macureré e Canudos*

Sergipe Poço Verde

Alagoas Mata Grande

Pernambuco Ibimirim** – 2 poços, Serra Talhada e Mirandiba

Paraíba Souza

Rio Grande do Norte Apodi**, Baraúna e Pendências

Ceará Quixeré, Araripe e Juazeiro do Norte

Piauí São Braz, Vera Mendes, Pedro Laurentino eSão João da Canabrava

(*) Poços já perfurados – vazões superiores a 100 metros cúbicos por hora (data -15/07/2013)(**) Poços em perfuração (data -15/07/2013)

IMPLANTAÇÃO DE REDE ESTRATÉGICA DE POÇOS NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO

COMBOIOS DE PERFURAÇÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Font

e: C

PR

M

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 31JULHO / AGOSTO 2013

CAPA

Má distribuição: água subterrânea pode ser a solução?A região Nordeste possui 28% da população brasilei-ra e apenas 3% da disponibilidade de água, o queprovoca grande irregularidade na distribuição dos re-cursos hídricos. “As bacias do Semiárido Setentrionaltêm uma oferta hídrica per capita bem inferior à consi-derada como ideal pela Organização das NaçõesUnidas (ONU), que é de 1.500 m3/habitante/ano. A dis-ponibilidade nesta região por habitante ao ano é de450 m3, em média”, garante Sérgio Duarte de Castro,do Ministério da Integração Nacional.

O Nordeste possui cerca de 70 mil represas queacumulam em torno de 37 bilhões de metros cúbi-cos de água superficial. Este é o maior volume deágua represada em regiões semiáridas no mundo,mas a distribuição da água para a população é umdos maiores desafios que a região enfrenta.

O fato de o Brasil dispor de uma parcela significa-tiva de água doce do planeta não isenta o país deenfrentar problemas de disponibilidade hídrica emseu território. A realidade nacional mostra alta con-centração na região Amazônica e quantidades in-suficientes no Nordeste, Sudeste e inclusive no Sul.

Os fatores que definem esta condição de abundân-cia de água dependem de condicionantes/limitaçõesque se apresentam nas regiões brasileiras, tais como:

natureza geológica (cristalino e sedimentar); regimehidrológico (abundância e escassez de água); políticae planejamento territorial (uso desordenado do solo);concentração populacional (grandes cidades) deman-das da água para usos múltiplos (abastecimento, irri-gação, hidroeletricidade, etc.). “Para uma melhor ex-ploração da água no Brasil é necessário aprimorar agovernança dos recursos hídricos, através do aperfei-çoamento dos mecanismos de gestão da água e suaefetiva aplicação. Considero, ainda, ser fundamental oentendimento sistêmico do ciclo hidrológico, principal-mente, no sentido de integrar as águas superficiais esubterrâneas traduzido em políticas e planos que privi-legiem este entendimento holístico do ciclo da água”,opina o diretor da CPRM, Thales Sampaio.

Na opinião de José Lázaro Gomes, da Prominas, amelhor exploração dos mananciais subterrâneos po-deria amenizar os efeitos da má distribuição da águano país. Isso seria possível “através de investimentosdos governantes em estudos hidrogeoló-gicos, levan-tando o potencial de exploração de água subterrâneade cada região, comparando com a necessidade e uti-lizando o poço tubular profundo para abastecimentoparcial ou total da necessidade, dentro de critérios téc-nicos para não comprometer os aquíferos”, ressalta.

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32 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO JULHO / AGOSTO 2013

PERFURAÇÃO

I

Gustavo Sturion Codo,geólogo e diretor da MGASondagens Ltda.

nvestigações ambientais em áreas urbanizadas e in-dustriais requerem certos cuidados, principalmente

no que se refere à proteção das pessoas diretamenteenvolvidas nas atividades de perfuração e também àproteção dos níveis mais profundos dos aquíferos.

Essas áreas contêm inúmeras utilidades subterrâne-as, nem sempre identificadas em planta, muitas vezessequer conhecidas e podem vir a se tornar objetos deacidentes. Redes elétricas, dutos de combustíveis líqui-dos, dutos de gás, tubulações de ar comprimido, linhasde vapor, linhas telefônicas, redes de água e outras tan-tas modalidades de interferências subterrâneas, podemse constituir em perigos à integridade física dos traba-lhadores em serviços de sondagem, além dos prejuízosmateriais causados pelo rompimento acidental de tubu-lações enterradas.

Os procedimentos comumente empregados no Bra-sil não contemplam medidas de segurança que evitemo contato das ferramentas de perfuração com asindesejadas interferências, nem tão pouco o contatohumano com as ferramentas citadas, criando a possibi-lidade de conexão direta entre o corpo dos sondadorescom as tubulações enterradas.

Algumas empresas adotam em escala global proce-dimentos adicionais de segurança, relacionados em pro-tocolos denominados de Subsurface Clearence Protocol(SCP). Tal protocolo prevê a execução de trabalhos an-teriores à execução do “pré-furo”.

Primeiramente, elege-se um responsável, com expe-riência comprovada em trabalhos de sondagem para in-vestigação ambiental. Esse profissional realiza o pré-re-conhecimento de campo, utilizando-se de equipamen-tos localizadores de tubulações, denominados de CAT(cable avoidance tool). Esses equipamentos permitemdetectar com segurança e elevado grau de confiabilidadea presença de tubulações nos locais de perfuração. Casoseja constatada a presença de tubulações sob os pon-tos de sondagem, os mesmos devem serreposicionados, adotando-se como margem de confi-ança o raio mínimo de três metros de distância da tubu-lação detectada. Após a utilização do CAT, deve-se en-tão partir para a execução do “pré-furo”.

A condição de trabalho ideal é a utilização de airknife, para a execução da perfuração dos dois pri-

SUBSÍDIOS PARA PERFURAÇÕESMAIS SEGURAS E MAIORPROTEÇÃO AOS AQUÍFEROS

meiros metros em cada sondagem. Sabemos que adisponibilidade de equipamentos de air knife no Bra-sil, ainda é extremamente limitada. Desta forma, re-comenda-se que a equipe de sondagem utilize luvasde alta tensão e os primeiros dois metros sejam exe-cutados manualmente, com emprego de trados defiber glass, eliminando qualquer risco de contato di-reto com as interferências, principalmente redes elé-tricas subterrâneas.

Outro ponto de proteção importante diz respeito aoimpedimento do transporte de contaminantes a partir deníveis rasos do aquífero para níveis mais profundos atra-vés de migração ao longo de furos de sondagem e po-ços de monitoramento “abertos”.

Em investigações ambientais detalhadas faz-se neces-sária a instalação de poços de monitoramentomultiníveis, que tem por finalidade investigar a presençade contaminantes em níveis mais profundos dosaquíferos subterrâneos. Ocorre que, caso não sejamadotadas medidas cautelares, existe a possibilidade dageração de contaminações cruzadas através da migra-ção vertical de contaminantes e a interconexão hidráuli-ca entre diferentes níveis de um aquífero, geradas nointerior de um poço multinível.

Uma solução capaz de impedir essa situação é a ado-ção de revestimento e isolamento das partes rasas doaquífero, evidentemente contaminadas, anterior à insta-lação do poço de monitoramento multinível. Algumas em-presas adotam a utilização de double casing, para garan-tir a vedação do aquífero raso e impedir que contaminantesmigrem verticalmente ao longo de uma sondagem.

O procedimento consiste em executar a perfuraçãocom diâmetro maior e instalar tubulação de revestimen-to de 10”, 8”, 6” ou 4”, dependendo de cada caso, nosprimeiros horizontes do aquífero. O espaço anular entrea parede da perfuração e a parede externa do revesti-mento é preenchida com calda de cimento e betonita,injetada com bomba e tubulação auxiliar.

Após a cura do selo de cimento é então executada aperfuração para a instalação do poço de monitoramentodo nível de profundidade desejado, caracterizando as-sim o double casing. Este procedimento deve ser ado-tado também para a instalação de poços demonitoramento em aquíferos fraturados.

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 33JULHO / AGOSTO 2013

REMEDIAÇÃO

Marco A. F. Locatelli 1,2, Wilson F. Jardim1,2

pesar de utilizado há mais de umséculo, o reagente de Fenton, um

dos mais conhecidos dentre os chama-dos Processos Oxidativos Avançados(POA), ainda traz algumas dificuldadespara suas aplicações. Mais especifica-mente, na remediação de áreas contami-nadas no Brasil, seu uso sem o devidoconhecimento tem provocado baixa efi-ciência na remoção dos contaminantes,gerando elevação nos custos deremediação, além de alguns acidentes,aspectos estes que ajudaram a criar umafalsa ideia a respeito da eficácia deste pro-cesso oxidativo.

O reagente de Fenton é caracteriza-do pela sua simplicidade, pois combi-na o peróxido de hidrogênio com sais de Ferro (II) ou(III). Ocorre que seu poder oxidante é função da combi-nação correta desses dois insumos, bem como do ajus-te adequado do pH, porque somente em condiçõesácidas é que o catalisador metálico permanece em so-lução, mantendo assim a produção da espécie oxidanteativa, que é o radical hidroxila (•OH). Concentraçõeselevadas de peróxido causam o efeito de autoconsumodeste reagente, o que diminui a eficiência e aumenta ocusto do tratamento. Além disso, a relação correta entretodos os reagentes controla a velocidade de reação e atemperatura do meio reacional. Como mostrado no grá-fico, a temperatura do meio reacional pode facilmentese elevar acima de 50oC dependendo das condições em-pregadas e, quando isso ocorre, o peróxido de hidrogê-nio se decompõe cerca de 10 vezes mais rápido do quea 20oC, diminuindo drasticamente a produção de •OH,o que resulta em uma redução da eficácia deste POA.Ou seja, temos uma maneira muito cara de gerar calor!

Devido à sua propagação acelerada, os erros nas apli-cações da reação de Fenton levam a uma elevação rá-pida da temperatura da mistura formada por solo, águasubterrânea e reagentes. Esse cenário descontrolado

provoca danos aos poços de monitoramento e de inje-ção, criação de caminhos preferenciais para migraçãodos reagentes, acidentes com pessoal envolvido no pro-cesso de tratamento e, eventualmente, combustão defase livre presente na área, com consequências inco-mensuráveis. Todas essas consequências somadas àenorme elevação da taxa de decomposição do peróxidode hidrogênio impactam negativamente o orçamento deum tratamento, criando a falsa concepção de que a rea-ção de Fenton é cara e ineficiente. Segundo a Agênciade Proteção Ambiental dos Estados Unidos (USEPA),os POA são a técnica que mais cresce em aplicação naremediação de áreas contaminadas, indicando a efici-ência desse tratamento.

Resumindo, o reagente de Fenton, uma excelenteopção de POA, tem sido largamente utilizado de modoinadequado na remediação de áreas contaminadas, poispara muitos se apresenta como uma tecnologia rápida,de poucas aplicações em campo, o que quase sempreleva ao uso de condições equivocadas. Nesta prática, aeficiência diminui, os riscos e os custos aumentam e, opior, cria uma falsa imagem deste excelente processofrente aos órgãos de controle ambiental.

O BOM USO DO REAGENTEDE FENTON NA REMEDIAÇÃODE ÁREAS CONTAMINADAS

1 – Laboratório de Química Ambiental, Instituto de Química, UNICAMP; 2 – Redox Ambiental

A

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34 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO JULHO / AGOSTO 2013

OPINIÃO

A

João Jerônimo Monticeli, geólogoe mestre em Geotecnia pela USP,conselheiro do CRH-SP epresidente da ABGE

Geologia de Engenharia e Ambiental (GEA) uti-liza a hidrogeologia para o estudo do compor-

tamento do fluxo de água subterrânea em obras comotaludes, túneis e barragens. Um capítulo especial dehidrogeologia faz parte do livro “Geologia de Enge-nharia”, editado pela ABGE (Associação Brasileira deGeologia de Engenharia e Ambiental) em 1998, umgrande marco da GEA no Brasil. A hidrogeologia, ou ahidrogeotecnia, acepção mais restrita, tem sido obje-to de seminários e publicações da ABGE desde a suafundação em 1968. Associados da ABGE, da ABAS(Associação Brasileira de Águas Subterrâneas) e deentidades próximas, como a ABMS (Associação Bra-si leira de Mecânica dos Solos e EngenhariaGeotécnica), ABES (Associação Brasileira de Engenha-ria Sanitária e Ambiental), ABRH (Associação Brasilei-ra de Recursos Hídricos) e CBDB (Comitê Brasileirode Barragens) atuam conjuntamente em estudos, pro-jetos e obras envolvendo o meio ambiente subterrâ-neo. As ciências e as profissões evoluem e cada vezmais se entrelaçam, exigindo que as entidades acom-panhem este processo. Neste sentido, torna-se impor-tante a realização de eventos técnicos conjuntos e atu-ação em parceria em políticas públicas, em particularna gestão de recursos hídricos (RH), resíduos sólidos,saneamento e planejamento urbano. Em São Paulo,ABAS, ABGE e ABES atuam com relativa articulaçãode seus representantes no Conselho de RecursosHídricos (CRH-SP), mas falta uma maior integraçãoentre a direção das entidades.

Temos notado, em todo o Brasil, o aumento da impor-tância da gestão de recursos hídricos para o planeja-mento do uso das águas superficiais e subterrâneas ena ampliação do mercado de trabalho, se bem que len-to e com avanços e recuos no processo. Em 2013, háprevisão de R$ 158,4 milhões para investimentos, sobdeliberação dos respectivos comitês, nas 21 baciashidrográficas de São Paulo e mais R$ 45 milhões em

ATUAÇÃO DA ABAS E ABGE EMRECURSOS HÍDRICOS

trabalhos de interesse geral, deliberados no âmbito doCRH-SP. São recursos provenientes da cota parte quecabe a São Paulo dos royalties do sistema elétrico. Aestes valores se juntam os provenientes da cobrançapelo uso das águas - implantada nas bacias dos riosParaíba do Sul e Piracicaba/Capivari/Jundiaí e em im-plantação em várias outras - da ordem de R$ 50 mi-lhões anuais no estado paulista.

Os investimentos provenientes do sistema de recur-sos hídricos sozinhos não permitem sucesso em ter-mos de gestão da qualidade e quantidade das águassuperficiais e subterrâneas, mas podem atuar comocatalisadores de parcerias. Para contribuir com amelhoria da gestão de recursos hídricos, a ABGE temsugerido que as entidades se juntem para debater gran-des temas, como:• revisão da Lei Estadual de Recursos Hídricos de SãoPaulo e sua adequação à Lei Nacional de modo a facili-tar a integração dos sistemas estaduais e nacional;• prioridade ao sistema de gestão da Bacia do Alto Tietêenvolvendo não só a reorganização do comitê e da agên-cia, mas todo o arcabouço institucional desta importan-te bacia;• fortalecimento das entidades públicas outorgantes douso das águas, para que exerçam seu papel indelegávelde ente público, ao mesmo tempo em que abdiquemde outras funções que possam ser delegadas e assu-midas pelas agências de bacias ou entidades a elasequiparadas;• melhorias no funcionamento do fluxo financeiro dosrecursos, proveniente dos royalties e da cobrança, parapermitir facilidades aos tomadores públicos, incitar ointeresse de captação pelos usuários privados e daragilidade operacional às agências.

Assim, além de temas técnicos, é importante queABAS, ABGE e demais entidades citadas estreitem par-cerias visando o avanço da gestão de recursos hídricosno Estado de São Paulo e em todo país.

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