Revista 12

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AMAZONAS FAZ CIÊNCIA I 1 | | Ufam Conheça a história do centenário da primeira universidade brasileira | | Museus Mudança conceitual implica em pesquisa e modernização para conquistar o público | | Entrevista O ecossocialismo de Michel Löwy traz à tona a crítica marxista ao ambientalismo INTERIORIZAÇÃO Educação, ciência e tecnologia renovam esperança no interior do Amazonas

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INTERIORIZAÇÃO: Educação, ciência e tecnologia renovam esperança no interior do Amazonas

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amazonas faz ciência I 1

| | Ufam Conheça a história do

centenário da primeira universidade brasileira

| | museus Mudança conceitual implica

em pesquisa e modernização para conquistar o público

| | Entrevista O ecossocialismo de Michel

Löwy traz à tona a crítica marxista ao ambientalismo

INTERIORIZAÇÃOEducação, ciência e tecnologia renovam esperança no interior do Amazonas

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|| editor ial

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Interiorizar Compromisso com o futuro

A realidade científica do Estado do Amazonas teve uma modificação ex-ponencial nos últimos seis anos. Desde o início primordial dos trabalhos, em 2003, até hoje, foram quase 75 meses de atividades em que foi registrada a aplicação de aproximadamente R$ 159 milhões em financiamentos para pesquisas básicas e aplicadas, além de estudos para a geração de processos e produtos regionais. Os dados, sobretu-do quando relacionados ao tempo em que as ações foram implementadas, mostram que existe a preocupação manifesta da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) em gerar benefícios sociais a partir desses investimentos.Ao longo dos últimos seis anos, os investimentos da Fapeam beneficiaram mais de 100 instituições, sendo que 76% das verbas foram destinadas às três maiores do Estado: Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Além do mais, as parcerias com as agências nacionais foram decisivas para a ampliação de verbas em ciência, tecnologia e ino-vação (CT&I), representando 12% do

total executado no período de 2003 a 2008.É nesse contexto que a Revista nº 12 da Fapeam, a Amazonas Faz Ciência, apresenta algumas pesquisas que vem sendo realizadas atualmente, na tenta-tiva de registrar, em parte, o panorama científico estadual da atualidade. É evi-dente que a quantidade de trabalhos sistemáticos hoje realizados é muito grande e impossível de ser abarcada em apenas uma edição da revista. Todavia, cabe destacar a todos que atuam a partir de auxílios da Fundação, a relação profícua com a qual as ativi-dades se estabeleceram e vem sendo divulgadas nesses seis anos.A visão de inclusão social a partir da ciência continua presente junto à socie-dade. A Fapeam, nesse contexto, tem apostado no diálogo, trabalhado para fortalecê-lo e incrementá-lo cada vez mais, para que não apenas pesquisa-dores com mestrado e/ou doutorado possam ter vez e voz no âmbito dos investimentos, mas também graduados e estudantes, em diversos níveis.Assim, a palavra “interiorizar” ganha um sentido todo especial e necessá-rio de ser pensado. A Fapeam tem se estruturado também no sentido de

apontar seus esforços para os diferen-tes municípios que margeiam a capital amazonense. Eles são fundamentais para a questão de agregar valor às atividades que já estão consolidadas a partir do fomento a pesquisadores sediados na cidade de Manaus. Isso significa que novos olhares estão sendo direcionados para cientistas com base no interior, o que fortalece os vínculos entre capital e municípios vizinhos.É importante avaliar ainda que o setor de CT&I enfrenta o impacto da crise mundial, que está afetando em escala o Brasil. Entretanto, servindo-se das palavras do diretor-presidente da Fape-am, Odenildo Sena, “o problema está sendo administrado com toda a cautela necessária, a partir de propostas estra-tégicas de ação”. Desta feita, tanto o processo de interiorização quanto o de incentivo às pesquisas propostas por profissionais sediados na capital irão continuar, pois são prioridade para a Fapeam.

mirna fEitoza, Editora-chEfE

rEnan albUqUErqUE, Editor ExEcUtivo

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Publicação quadrimestral da Fapeam desenvolvida pelo Departamento de Difusão do Conhecimento - Decon

EDITORA-CHEFEmirna feitoza (drt 169/am)

EDITOR EXECUTIVOrenan albuquerque

PROjETO gRáFICO rômulo nascimento

EDITORAçãO ELETRôNICAtito fernandes

FOTOS DA CAPAmichelle Portela

REVISãOEdilson de souza soares

COLABORADORESGrace soares, michelle Portela, cher lima, Janaína Karla, anselmo d’affonsêca, luana ribeiro, Yana lima, anne mello, Wilson nogueira, andré moreira, bruce Willas, florên-cio mesquita e larissa santiago

IMPRESSãOGráfica ziló FAPEAMav. mario Ypiranga, n.º 3220 Parque dez.cEP 69057-002, manaus - am.tel.: (92) 3878 4000e-mail: [email protected]@fapeam.am.gov.brwww.fapeam.am.gov.bros artigos assinados não refletemne ces sariamente a opinião da fapeam.É proibida a reprodução total ou parcial de textos e fotos sem a prévia autorização.

6 fala lEitor

7 canal ciência

9 mUsEUs nova fase é marcada

pela pesquisa e revitalização dos acervos

14 inovação Produtos financiados

com recursos do Pappe subvenção chegam ao mercado

17 Piradados Pesquisadores

associam pesquisa a diversão para educar

20 PcE Estudantes descobrem

o prazer da pesquisa aplicada ao cotidiano

24 oPortUnidadE sect lança serviço

de atendimento e orientação a empresários

26 Ufam cem anos da primeira universidade brasileira

32 EntrEvista michel löwy debate o

ecossocialismo como alternativa de vida na amazônia

CiênciaAMAZONAS

FAPEAM

FAZ

fotos: acErvo faPEam / divUlGação

govErno do EstAdo do AMAzonAs

carlos Eduardo de souza bragagOVERNADOR

SECRETARIA DE ESTADO DE CIêNCIA E TECNOLOgIA – SECTJosé aldemir de oliveiraSECRETáRIO

FUNDAçãO DE AMPARO à PESqUISA DO ESTADO DO AMAzONAS – FAPEAModenildo teixeira senaDIRETOR-PRESIDENTE

Elisabete brockiDIRETORA TÉCNICO-CIENTíFICA

ana lúcia mendes DIRETORA ADMINISTRATIVO-FINANCEIRA

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36 rEdE malária Edital terá r$

30 milhões para investimentos em 2009

38 caPa integração de

municípios do amazonas à cadeia de c&t do Estado amplia oportunidades de educação, emprego e renda

44 institUtos

nacionais implantação de

seis incts amplia perspectiva para a realização de pesquisas de ponta no amazonas

47 a ciência rEsPondE

48 artiGo a análise de ivânia

vieira sobre o fórum social mundial e as possibilidades para um mundo melhor

CiênciaAMAZONAS

FAPEAM

FAZ

n. 12, ano 5 [distribuição gratuita] ISSN 1981 31980

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I n.° 12, JanEiro a abril dE 20096

O

espaço do leitorEnvie sugestões e críticas para [email protected]. Sua opinião é muito importante.

As cartas enviadas podem ou não ser publicadas. A redação se reserva ao direito de editá-las, buscando preser-var a ideia geral do texto.

Palavras em destaque“Para que a produção em ciência e tecnologia alcance visibilidade é necessária a difusão dos saberes produzidos. Seminários, exposições, simpósios são ótimos, mas ainda pertencem a um determinado segmento, o acadêmico. É preciso dialogar com estudantes do ensino fundamental, com as donas de casa, com os trabalhadores. A publicação de “Amazonas Faz Ciência” preenche essa lacuna, a do espaço dedicado a falar com os que mais precisam de ciência e tecnologia”.

Gabriel albuquerque é doutor pela Universidade de São Paulo, professor do DLLP-Ufam e do Programa de Pós-graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia (PPgSCA)

foto: agência fapeam

José lagesSupervisor de núcleo de rede da TV AmazonasA Revista Amazonas Faz Ciência é tudo o que mais necessita o ser humano; elatraz algo diferente e interessante, que é a informação comunicativa. Trata aciência amazônica com muita serieda-de e presteza. É algo que estava faltan-do no meio estudantil. Parabéns.

Gaitano antonaccioAdvogado e contabilistaA revista está excelente. Muito bem produzida, com matérias interessantís-simas sobre comportamento alimen-tar, notícias de interesse do mundo amazônico e completa nas reportagens publicadas. Dou os parabéns aos diri-

gentes e espero que esse entusiasmo amazônico jamais desapareça para o bem de nossa tão cobiçada região.Indiscutivelmente o mundo necessita cada vez mais de pesquisas, a fim de que a tecnologia não fique tão à frente da ciência. Esta revista, no seu décimo primeiro número e no quarto ano de edição, tem muito a ver com o nosso desenvolvimento cuidadoso, seja sustentável ou com novas técnicas de preservação. Mas não se pode parar no tempo. Com um grande abraço e os parabéns.

henrique nascimentoPesquisador da Coordenação de Pes-quisa em Silvicultura Tropical doInstituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa)Esclarecedora a entrevista com o meteorologista Dr. Prakki Satyamurty, mostrando o avanço científico sobre o conhecimento do clima da Terra frente às mudanças climáticas globais. O que mais me chamou a atenção foi que esses conhecimentos estão sendo gerados através de instituições e uni-versidade brasileiras, formando novos cientistas nacionais atuantes num tema altamente necessário, auxiliando no delineamento de políticas públicas para a preservação da região amazô-nica.

márcia PeralesReitora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) destaca os produtos de comunicação da FapeamEles são importantes porque ajudam no processo de difusão da ciência. Além disso, há a questão da popu-larização que precisa ser prioridade. Na Ufam, por exemplo, temos vários produtos, mas não são socializados da forma adequada, pois se poderia fazer muito mais. Retrata apenas uma parte de toda a produção científica. A revista da Fapeam tem uma qualidade muito boa, bem como as reportagens. Sem-pre consulto o site para ver os editais. Ouço dos colegas bons comentários. O problema é quando temos espaço para divulgação e temos dificuldades em manusear, o que não ocorre com o site da Fapeam, e as notícias estão sempre atualizadas. Tínhamos esse problema quando queríamos preencher o Lattes. Eram muitas janelas, e caia a conexão.

ERRATAA jornalista Lisângela Costa assina como autora a reportagem “água Negra”, publicada na Revista Amazo-nas Faz Ciência, edição nº 11, inclusa na pág. 27.

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amazonas faz ciência I 7

canal ciênciasaiba o qUE foi notícia Em c&t no País

ii redebio O edital da Rede Amazônica de Pesquisa e Desenvolvi-mento de Biocosméticos (RedeBio) foi disponibilizado para cientistas que deseja-rem apresentar propostas. O documento pode ser acessado por meio do portal da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Ama-zonas (Fapeam). O prazo para submissão de propos-tas vai de 22 de junho a 22 de julho de 2009. ii Pappe subvençãoO resultado do edital 017/2008, referente ao Pro-grama Amazonas de Apoio à Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação em Micro e Pequenas Empresas na modalidade de Subven-ção Econômica (Pappe Sub-venção Finep Amazonas), foi divulgado no último dia 15 de maio. A lista com-pleta com os contemplados está no portal da Fapeam. Informações sobre editais futuros também podem

ser acessadas no endereço eletrônico da Fundação.

ii sbPc 1A reunião anual da So-ciedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) acontecerá em Manaus de 12 a 17 de julho. É o 61ª encontro da Sociedade e terá como tema “Amazônia: Ciência e Cultura”. Universi-dade Federal do Amazonas (Ufam), Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e Instituto Nacional de Pes-quisas da Amazônia (Inpa) são algumas das instituições que participarão da SBPC na capital amazonense.

ii sbPc 2E por falar em SPBC, uma das mesas mais aguardadas do evento é a de Luiz Mo-lion, Carlos Nobre e Paulo Artaxo. Isso porque Molion é um dos cientistas que não concordam totalmente com a tese de que o aquecimen-to global é fruto da ação dos seres humanos. Nobre

e Artaxo são opostos a essa ideia e defendem que as mudanças climáticassão oriundas de atividades do homem. A programação está no site http://www.sbpc.net.br/manaus

ii rede malária A Fapeam disponibilizou edital para concorrência pública a recursos destina-dos à formação da Rede de Pesquisas em Malária. (Rede Malária). Os recursos em-pregados para a atividade são de R$ 30 milhões para o financiamento das primeiras pesquisas integradas sobre a doença. A ação ocorreu a partir de uma iniciativa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas em conjunto com as FAPs do Pará (Fapespa), Maranhão (Fapema), Mato grosso (Fapemat), Minas gerais (Fapemig), Rio de janeiro (Faperj) e São Paulo (Fapesp).

ii r$ 5 milhões para periódicos científicosO Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientí-fico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) lançaram edital para apoiar a editoração de periódicos científicos brasileiros em todas as áreas do conheci-mento. Foram disponibili-zados R$ 5 milhões, sendo 50% provenientes do CNPq e 50% da Capes. As propos-tas foram encaminhadas até 10 de novembro de 2008, por meio do preenchimento do formulário de propostas on-line do CNPq, disponí-vel na Plataforma Carlos Chagas (http://carloschagas.cnpq.br).

ii fapeam lança ProsipamA Fapeam, em parceria com a Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Amazonas (Sect) e o Comitê gestor e Operacional do

ii fapeam recebe Prêmio amazônia e cidadania e Prêmio nilton lins de JornalismoA Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) foi

uma das instituições homenageadas na primeira edição do Prêmio Amazô-

nia e Cidadania, do Centro Universitário Nilton Lins. A entrega do prêmio

aconteceu dia 5 de novembro de 2008, no auditório Nina Lins, na Unidade

Parque das Laranjeiras, zona Norte de Manaus. Na mesma ocasião, o jorna-

lista Valmir Lima venceu, na categoria jornalismo impresso, o 4º Prêmio Nil-

ton Lins de jornalismo, com a reportagem “Mudanças Climáticas globais”,

publicada na sétima edição da revista Amazonas Faz Ciência.

foto: divUlGação

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canal ciência

Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), está investindo R$ 2 milhões no desenvolvimento de pesqui-sas científicas, tecnológicas e de inovação nos Centros Técnicos e Operacionais do Censipam (CTO). A meta é fortalecer atividades desse segmento científico no Amazonas.

ii Pronex ampliado para mais pesquisadoresRatificando o que as mais importantes Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs) do Brasil decidiram na últi-ma reunião dos Conselhos Nacionais dos Secretários de C&T e das Fundações de Amparo à Pesquisa (Consec-ti e Confap) do país, reali-zada no início de abril, em Curitiba (PR), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fape-am) decidiu que irá dispo-nibilizar a livre concorrência para editais do tipo Pronex a pesquisadores classifica-dos como “Nível 2” junto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).De acordo com o diretor-presidente da Fapeam,

Odenildo Sena, com a nova proposta de expansão do Pronex, as possibilidades de pesquisa aumentam com a requalificação da concorrên-cia ao Programa de Apoio a Núcleos de Excelência. “Para o próximo edital, serão seis níveis de concorrência, con-siderando que cada nível, 1 ou 2, possui subníveis A, B e C, conforme as áreas de pesquisa. Desta feita, mais pessoas poderão disputar recursos para pesquisas no Estado do Amazonas”, avalia Sena.

ii am foi campeão na semana de c&tO Amazonas foi o Esta-do que registrou o maior número de eventos na 5ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, realizada no mês de outubro de 2008, com o tema “Evolução e Diversidade”. Foram 1.644 eventos no total, sendo 662 na capital e 882 no interior.

ii contra a mortalidade infantilO governo federal vai inves-tir R$ 110 milhões, até o fim deste ano, nas ações para a redução da mortalidade

infantil na Amazônia Legal e no Nordeste. A meta é reduzir, no mínimo, em 5% o número de óbitos em 38 municípios prioritários da região.

ii mct assina convênios do Programa Primeira EmpresaO ministro de C&T, Sérgio Rezende, e o presidente da Finep/MCT, Luis Fernandes, assinaram em dezembro, no Rio de janeiro (Rj), os con-vênios do Programa Primeira Empresa (Prime). As 18 incubadoras-âncora selecio-nadas serão as responsáveis pelo lançamento dos editais destinados aos empreendi-mentos beneficiados pelo Prime. Cada instituição vai operar com verba entre R$ 9 milhões e R$ 14,4 milhões.

ii formação de docentesO presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, lançou em maio o “Plano Nacional de Formação dos Professores da Educação Básica”. Representando a Universidade do Estado do Amazonas, a reitora Marile-ne Corrêa assinou o termo de convênio do Plano, que

tem como meta para a UEA a formação de 2,8 mil pro-fessores a partir de 2010, no Amazonas. Cinquenta e três instituições, sendo 26 estaduais e 27 federais, já aderiram ao Plano, articula-do pelo Ministério da Edu-cação via Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal Superior (Capes).

ii relatório 2003-2008A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Ama-zonas (Fapeam), por meio do seu diretor-presidente, Odenildo Sena, apresentou, no fim do mês de abril, o Relatório de Atividades 2003-2008 da Fapeam, durante reunião ordinária de seu Conselho Superior. O documento informa sobre as verbas investidas pela instituição ao longo dos últimos seis anos.No período de junho de 2003 até o fim do ano de 2008, a Fapeam investiu R$ 158.987.078,01 em de-senvolvimento de pesquisas e capacitação de recursos humanos. Desse total, R$ 57.781.927,82 foram exe-cutados no pagamento de bolsas para estudantes.

ii cientistas e pesquisadores nacionais fundam a associaçãodo museu da amazôniaO presidente da SBPC, Marco Antonio Raupp, o diretor de Popularização da Ciência do Ministério

da Ciência e Tecnologia (MCT), Ildeu Moreira de Castro, e o cientista Otávio Velho (UFRj) são al-

guns dos nomes que se tornaram sócios fundadores do Museu da Amazônia (Musa). A Associação

sem fins lucrativos foi constituída em janeiro, na sede administrativa do museu, no bairro Morada

do Sol, em Manaus. Atual coordenador do Musa, o físico Ennio Candotti foi eleito por aclamação

diretor presidente da Associação.

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museus

amazônia resguardada

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quando falamos em museus, a primei-ra ideia que vem à mente são lugares onde encontramos coisas velhas, estáticas e sem graça. Mas, por trás dessa primeira impressão, podem se esconder verdadeiras descobertas e informações valiosas que o passar do tempo insiste em deixar esquecidas. Dependendo da área estabelecida, esses locais proporcionam verdadeiras aulas de história, geografia, biologia, economia, tecnologia.Assim como as grandes capitais do país e do mundo afora, Manaus também possui museus de vários tipos, para agradar diversos gostos ou interesses. Ao todo, são 15 espaços públicos e privados, além de dezenas de ambientes culturais estruturados para quem gosta de aliar diversão a conhecimento.Nos museus, é possível encontrar diversos acervos, mas uma tendência desses espaços em Manaus é retratar a Amazônia, uma região no planeta que abriga ecossistemas com espécies únicas da flora e fauna e uma popu-lação que aprendeu a viver próxima à natureza. Entre eles, destacam-se o Museu do Homem do Norte, administrado pela Prefeitura de Manaus, na rua quinti-no Bocaiuva, Centro da cidade, que, como o próprio nome diz, leva o visi-tante a uma viagem sobre o universo amazônico, retratando o modo de vida dos caboclos, ribeirinhos, índios e o conhecimento sobre artefatos históri-

Espaços em Manaus são

dedicados a mostrar e

preservar a identidade

cultural dos povos

amazônicos

PoR ULySSES VARELA

cos que fazem o indivíduo compreen-der a relação dos povos com a região amazônica. Reinaugurado em 2008, o museu reúne, em um prédio de três pisos, fragmentos reais que remontam a rica diversidade social e cultural encontrada na região, representada por indígenas, seringueiros, quilombolas, pescadores e outros, com cerca de 2 mil peças. Segundo a museóloga Regina Vascon-celos, carioca que há 16 anos mora em Manaus, dos quais 15 à frente do Museu do Homem do Norte, esses am-bientes sofreram transformações nos últimos anos. Durante muito tempo, eles estiveram ligados somente a “coi-sas” históricas, antigas, e mais volta-dos para pessoas ditas “intelectuais”, ou turistas e estudantes, ocasionando um distanciamento da população local. “De uns anos para cá, a própria muse-ologia tem se diversificado e questio-nado sobre o papel social dos museus, tentando descobrir o que eles podem acrescentar para a população onde estão inseridos. Isso tem causado uma revolução nos museus com a amplia-ção das atividades e serviços oferecidos à população”, revela.No Museu do Homem do Norte, o visitante pode encontrar exposições fotográficas, artefatos de cerâmica, cocares e esculturas indígenas, além de paineis gigantes que retratam a migração de vários povos ao longo da história da região amazônica.

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Pesquisa Outro importante local em Manaus é o Museu Amazônico da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), que atua com o objetivo de apoiar a pesquisa, o ensino e a extensão nas áreas funda-mentais para o conhecimento da Ama-zônia e de suas culturas. Localizado na rua Ramos Ferreira, 1036, Centro, seu principal objetivo é resgatar e recons-tituir acervos e informações acerca da região, por meio de exposições perma-nentes, temporárias e itinerantes.Além dessas exposições, o ambiente compreende os setores de Museologia e Documental, além de uma biblioteca e divisões de Difusão Cultural e Cien-tífica, mais laboratórios – fato inédito na história dos museus no Amazonas e que permitiu a inclusão da pesquisa científica no Museu Amazônico.Dirigido atualmente pelo prof. Dr. Almir Diniz de Carvalho júnior, o prédio ocupa uma área física de 63,87m² dividida entre Museologia, Museografia e Reserva Técnica, com 3.278 peças et-nográficas e 219 peças de artesanato e arte popular, algumas de cunho históri-co. Para a prática da pesquisa, o museu mantém um laboratório no mini-cam-pus da Ufam destinado à realização das atividades de Muselogia/Museo-grafia, como registro, identificação e classificação das coleções do acervo, higienização, conservação e pequenos restauros dos objetos, planejamento de exposições, pesquisa e seleção, além de atendimento a pesquisadores.“O acervo do Museu Amazônico é composto basicamente por artefatos cerâmicos (urnas funerárias, vasilhas, adornos, utensílios rituais); material lítico (machados, afiadores, lâminas de corte, pontas de projéteis); ossos humanos e sedimentos que podem conter vestígio de ocupação humana, uma fonte constante de pesquisas”, lembra Almir.Segundo o professor, a evolução do acervo é recente e tem se beneficia-

do de uma importante decisão da 1ª Superintendência Regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), no sentido de fomen-tar a permanência local dos artefatos arqueológicos descobertos e prospec-tados no Amazonas. “O museu tem se beneficiado também da ampliação da pesquisa arqueológica na Amazônia, principalmente a partir dos trabalhos realizados pelo Projeto Amazônia Cen-tral, parceria entre a Ufam, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e a Universidade de São Paulo (USP), que já identificou e catalogou mais de 150 sítios arqueológicos no Estado do Amazonas”, afirmou o professor.Por estar ligado à Ufam, o Museu Ama-zônico funciona a partir de um tripé que envolve três importantes projetos: a) modernização e ampliação dos equi-pamentos para a guarda e preservação do acervo e atendimento ao público, que consiste na aquisição de equipa-mentos e mobiliários adequados para o acondicionamento das coleções; b) pre-servação e conservação do acervo do museu, que visa resguardar o mesmo, realizando o inventário, a avaliação do estado das coleções, além de manter e ampliar a publicação dos periódicos e obras que divulguem os resultados de pesquisas relacionadas direta ou indire-tamente ao acervo; c) projeto Amazô-nia dos Viajantes, que visa estimular o público em geral, mediante exposições e atividades educativas, as quais visam aprofundar o conhecimento sobre his-tória da ciência e cultura da Amazônia, estas expressas por meio dos olhares dos viajantes.

centro cultural com cara de museuApesar de não ser considerado ou não estar enquadrado na categoria de mu-seu, o Centro Cultural Povos da Ama-zônia, administrado pela Secretaria de Cultura (SEC) do governo do Estado, é um espaço que mais se aproxima do

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| | Acervos do Museu do Homem do Norte e do Centro Cultural Povos da Amazônia

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novo conceito da museologia. Instalado na Praça Francisco Pereira da Silva, co-nhecida como Bola da Suframa, possui uma área de 68.268 m2 e perímetro de um quilômetro, onde estão instalados um pavilhão cultural, com cerca de sete mil m2 de área construída, e uma arena de espetáculos, com capacidade para 17 mil pessoas.Como o próprio nome diz, o raio de suas ações se estende por nove países da América do Sul que compõem a região amazônica: Brasil, Colômbia, Bolívia, Peru, Equador, Venezuela, guiana Inglesa, Suriname e guiana Francesa, distribuídos por uma área de mais de 7 milhões de km2. O Centro Cultural Povos da Amazônia visa iden-tificar, valorizar, difundir e popularizar a cultura e os conhecimentos dos povos da floresta, em âmbito regional e inter-nacional, além de pesquisar, identificar e processar os conhecimentos gerados mundialmente sobre a Amazônia, disponibilizando-os às populações locais e aos turistas. Na área de visitação pública, o centro cultural disponibiliza dois pavilhões de exposições: um denomindo Curt Nimuendajú, que abrigou a expo-sição “Os Sentidos da Amazônia”, na qual o visitante explorou os cinco sentidos (visão, audição, paladar, tato e olfato) para desvendar os mistérios e as peculiaridades da Amazônia, e o espaço Nestor Nascimento, destinado a exposições de grande porte, como a atual, que explora a arte rupestre na Amazônia ocidental via inscrições antigas em pedras. Há ainda o Espaço Criança, área des-tinada a atividades educativas voltadas ao público infantil e a Passarela dos Arcos, que simboliza, por meio de fotos em paineis gigantes, a constitui-ção étnica de cada país amazônico, ca-racterizando os povos tradicionais que

compõem a Amazônia, acompanhados por totens com explicações audiovisu-ais em três idiomas.Segundo a diretora técnica do centro cultural, Kátia Calderaro, o acesso é uma das dificuldades para atrair o público ao local, que está instalado numa rotatória de grande tráfego, pró-ximo ao Distrito Industrial de Manaus. Entretanto, o problema deverá ser re-solvido em 2009 com a construção de passarelas. “O fato de trabalharmos a cultura amazônica em múltiplas frentes voltadas para a comunidade local nos difere dos museus tradicionais. Além das exposições, dedicamo-nos a outras práticas, como mini-cursos e ativida-des educativas externas, ou seja, há um diálogo maior com a comunidade. Por isso, a preocupação com o acesso do público às atividades”, informou a diretora.Como o objetivo do centro é ofere-cer aos estudantes, pesquisadores e comunidade em geral um banco virtual de dados técnico-científicos sobre a Amazônia, contribuindo para a difusão cultural da região para o mundo, a administração já trabalha nas próxi-mas exposições que irão substituir as atuais. “Apesar de ainda ser segredo, podemos garantir que o público vai se surpreender da mesma forma como acontece com a exposição ‘os Sentidos da Amazônia’. O certo é que estamos em busca de parceiros para a execução do trabalho e um deles é a Fapeam, por meio da apresentação de projetos nos programas que incentivam a pes-quisa e valorização da cultura local”, explica Kátia.

EntrevistaAtuando há 15 anos em Manaus, no Museu do Homem do Norte, a museóloga carioca Regina Vasconcelos, formada pela Universidade Federal do

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Estado do Rio de janeiro (UniRio), fala sobre a realidade, as dificuldades, os desafios e perspectivas para a área de museus no Amazonas.

Amazonas Faz Ciência - Como está o campo de trabalho da museologia em Manaus?Regina Vasconcelos - Os museus es-tão se modificando muito nos últi-mos anos, principalmente quanto à revisão do seu papel social. Reven-do esse papel, a museologia está se expandindo, indo além da formata-ção tradicional com exposição das peças, manutenção, catalogação, pesquisa etc. Os novos museus estão partindo para a ampliação de serviços como cafés, lojas, cinemas, teatros e atividades ao público para tentar cativar as pessoas para dentro deles, independente do seu tipo: histórico, de arte, etnográfico, de ciências etc.

Amazonas Faz Ciência - Como a senhora avalia a abordagem das questões humanas pelos museus? Regina Vasconcelos - A maioria dos museus guarda informações sobre determinadas localidades ou assuntos específicos. Como vivemos numa região única do planeta, a Amazônia, tentamos mostrar essa realidade aos visitantes, até porque os visitantes que vêm conhecer nossa região querem informações sobre o que somos e como vivemos. É por isso que o Museu do Homem do Norte é um museu etnográfico que representa a cultura de uma população indígena, não indígena, cabocla, ribeirinha etc.

Amazonas Faz Ciência - A museu-ologia é uma área tão específica quanto escassa na oferta de cursos superiores, o que provoca uma de-fasagem na entrada de profissionais qualificados no mercado. Como é administrar a falta de profissionais em Manaus?Regina Vasconcelos - Na verdade, esse é um problema nacional, mas, por causa dessa deficiência, alguns museus não cumprem seu papel. Sem pessoas qualificadas, eles tornam-se carentes de público

e acervos, chegando ao ponto de não se enquadrarem na categoria de museus. Por causa disso, muitos fecham as portas, mas isso é algo que deve ser corrigido a partir de um trabalho desenvolvido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que está fazendo um levantamento minuciosos sobre os museus hoje existentes, para que eles se enqua-drem ao novo formato de museus estipulado pelo recém criado Insti-tuto Brasileiro de Museus (Ibram), a partir de um estatuto cuja meta será reger o funcionamento do setor em todo o território nacional.

Amazonas Faz Ciência - Quais as maiores dificuldade enfrentadas hoje?Regina Vasconcelos - A falta de profissionais especializados para atuar em museus é, sem dúvida, um dos maiores problemas, pois a preservação dos acervos em Manaus (sementes, peles, penas e cerâmicas) necessita de um constante acom-panhamento, e isso é um proble-ma, sem falar nas pesquisas sobre o material exposto para subsidiar o visitante que também busca informações. A reformulação das exposições e interação dos museus com o público também são compli-cadas de se tornarem realidade, pois requerem investimentos.

Amazonas Faz Ciência - Qual é a re-lação entre os museus e a pesquisa científica?Regina Vasconcelos - Em Manaus, podemos dizer que o Museu Amazônico, por ser universitário, é o único que realmente consegue interagir com a pesquisa, porque possui locais próprios para isso (como laboratórios), estudantes e pesquisadores. O ideal é que a pesquisa auxilie na ampliação do acervo, aprofundando dados sobre o material exposto, como datas, for-mas, modo de produção e relação do material com outras culturas etc.

Amazonas Faz Ciência - Como se dá a visitação do público aos museus de Manaus?

|| c o n h e c i m e n t o

| | Para a museóloga Regina Vasconcelos, mu-seus precisam de maiores investimetos para ampliar acervo e realizar pesquisas

| | Acervo do Museu do Homem do Norte em exposição permanente

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Regina Vasconcelos - Os meses de janeiro, julho e agosto são as épo-cas dos visitantes estrangeiros. No restante dos meses, a maior procura pelos museus é por parte de estu-dantes em busca de informações para trabalhos escolares, de acordo com datas comemorativas (índio, água, meio ambiente etc.). Já os demais visitantes do próprio territó-rio brasileiro, costumamos dizer que são pinga-pinga, não têm uma frequência certa e vêm durante todo o ano. No Museu do Homem do Norte, nós fazemos um trabalho direto com as escolas para promo-ver o interesse dos estudantes pelo espaço e tem dado certo.

Amazonas Faz Ciência - Há algum re-torno dos visitantes quanto ao que eles encontram nos museus?Regina Vasconcelos - Aqui nós analisamos o registro de visitantes e as sugestões deixadas por eles. Nós percebemos que o público gosta de ver sempre exposições novas sobre temas como Manaus antiga, danças folclóricas ou a produção de farinha, por exemplo. Com essas informações, estamos tentando sempre dinamizar as exposições temporárias. Além disso, temos feito um trabalho constante de modernização, abolindo a figura do museu estático no tempo.

1 - MUSEU Do HoMEM Do NoRTE Funcionamento: de 2ª a 6ª, das 9h às 17h.Endereço: Rua quintino Bocaúva, 626, Centro.Fone: (92)3633-1074,

2 - MUSEU Do ÍNDIo Funcionamento: de 2ª a 6ª, das 8h30 às 11h30 e das 14h às 16h30. Aos sábados, das 8h30 às 11h30. Endereço: Rua Duque de Caxias, 356, conjunto Praça 14 de janeiro, zona Centro-Sul. Fone: (92) 3635-1922 / 3234-1422.

3 - MUSEU AMAZÔNICo Funcionamento: Horário: de 2ª a 6ª feira, das 8h às 12h e das 14h às 17h. Endereço: Rua Ramos Ferreira, 1036, Centro. Fone: (92) 3234-3242 - Fax: 3233-7223

4 - MUSEU DA REDE AMAZÔNICA DE RÁDIo E TELEVISÃo Funcionamento: Horário comercialEndereço: Praça Francisco Pereira da Silva, 149, Distrito Industrial. Fone: (92) 3216-3084.

5 - MUSEU DE CIÊNCIAS NATURAIS DA AMAZÔNIA Funcionamento: de segunda a sábado, das 9h às 17h. Endereço: estrada de Belém, conjunto Colônia Cachoeira grande, Aleixo, zona Centro-sul. Fone: (92) 3644-2799 6 - MUSEU DE NUMISMÁTICA Do AMAZoNAS Funcionamento 2ª a 6ª das 8h às 12h e das 13h às 17h. Vila Ninita: avenida 7 de Setembro, Centro. Fone: 622 4927, quartel da Polícia Militar do Amazonas, na praça Heliodoro Balbi (Pça. Polícia). Fone: (92) 3633-2850 / 3633-3041 / 3622-4922

7 - MUSEU Do PoRTo Endereço: Boulevard Vivaldo Lima, Centro.CEP 69.005-440. Fone: (92) 3633-3433.Manaus, Amazonas.

8 - MUSEU MoACIR ANDRADE Endereço: Escola Técnica Federal do Amazonas. Rua Visconde de Porto Alegre, 270, Centro. CEP 69.020-120. Fone: (92)3 621-6714 Manaus, Amazonas.

9 - MUSEU TIRADENTES (Polícia Militar) Endereço: Praça Heliodoro Balbi, Centro, CEP 69.005-260. Fone: (92) 3621-9900 Manaus, Amazonas.

10- MUSEU Do SERINGAL VILA PARAÍSo Endereço: Vila Paraíso, margem direita do Rio Negro, avenida Sete de Setembro, Centro. Telefone: (92) 234-8755 / 633-2850 (r. 205).

11 - MUSEU DE MINERAIS E RoCHAS GEÓLoGo CARLoS ISoTTA Funcionamento: Horário: de 2ª a 6ª feira, das 8h às 12h e das 14h às 18h. Endereço: avenida André Araújo, 2150, Aleixo. Telefone: (92) 3644-2799.

12 - MUSEU DA IMAGEM E Do SoM Do AMAZoNAS - MISAM Funcionamento: De 3ª a 6ª feira, das 10h às 17h. Sábado e domingo, de 16h às 21h. Endereço: avenida Sete de Setembro, CCPRN, Centro (em processo de mudança para Praça Heliodoro Balbi). Telefone: (92) 3234-8755.

13 - MUSEU CRIZANTHo JoBIM - IGHAFuncionamento: Horário: de 2ª a 6ª feira, das 15h às 17h. Endereço: rua Frei josé dos Inocentes, 117, Centro. Telefone: 3232-7077.

14 – MUSEU Do TEATRo AMAZoNAS Endreço: Rua josé Clemente com a Praça São Sebastião, Centro. Manaus, Amazonas.

15 – PINACoTECA Do ESTADo Do AMAZoNAS Endereço: Av. Sete de Setembro, anexo ao CCPRN, Centro. Manaus, Amazonas (em processo de mudança para Praça Heliodoro Balbi, s/n). Telefone: (92) 633-2850 / 1357 (r. 216).

MUSEUS Em manaUs

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|| tecnologia aplicada

Inovar para progredir||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||

Projetos do Pappe

Subvenção fazem

a diferença no

desenvolvimento

socioeconômico do

Estado

POR CRISTIANE BARBoSA

Inovação tecnológica, desenvol-vimento sustentável e competiti-vidade. São as palavras-chave que norteiam os projetos contempla-dos pelo Programa Amazonas de Apoio à Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação em Micro e Pequenas Empresas, na modali-dade Subvenção Econômica (Pappe Subvenção Finep Amazonas), uma ação executada, regionalmente, pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), em parceria com a Financiadora de Es-tudos e Projetos (Finep), do Ministé-rio da Ciência e Tecnologia (MCT).

Com recursos da ordem de R$ 6 milhões, o Pappe beneficiou, na sua última edição, 23 Micro e Pequenas Empresas (MPEs) do Estado com interesse em colocar os seguintes produtos no mercado: biojóias, fitoterápicos, bombons com polpa de frutas regionais, hambúrguer de peixes amazônicos, aplicação de pet para telhado, entre outros.

O objetivo do Pappe é incentivar o desenvolvimento de projetos de

inovação tecnológica, com recur-sos não-reembolsáveis, visando ao aumento da cultura da pesqui-sa científica nas MPEs sediadas no Amazonas. Para participar do Pappe, é preciso que as empresas tenham faturamento anual de até R$ 10,5 milhões, de acordo com o critério utilizado pela Finep.

Contemplada com o aporte de R$ 98 mil, a Amazon Rose (nome fan-tasia) teve seu projeto selecionado, propondo um trabalho que objetiva transformar desperdício em negó-cio. A ideia é associar resíduos de madeira certificada a sementes de espécies regionais, gemas orgânicas e até mesmo escamas de peixes da bacia Amazônica a metais nobres, como ouro, prata e ródio. “Vamos fortalecer nossa marca, trabalhando peças com a identidade amazôni-ca”, frisou a engenheira florestal Rose Dias, que é a coordenadora do projeto.

Para o desenvolvimento da pes-quisa em biojóias e aprimoramento

fotos: divUlGação/EmPrEsas

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de protótipos, a empresa pretende contar com recursos humanos espe-cializados, com previsão de contrato a ser firmado ainda este ano. “Isso será possível por meio do Programa Pesquisadores nas Empresas do Esta-do do Amazonas (PPE) da Fapeam e do Conselho Nacional de Desenvol-vimento Científico e Tecnológico (CNPq), que vai possibiltar a troca de experiências e a descoberta de novas alternativas”, destacou Rose. O PPE, por sua vez, tem o objetivo de apoiar atividades de pesquisa tecnológica e inovação de empresas sediadas no Amazonas, com a in-serção de mestres e doutores nesses espaços. “A pesquisa tem que estar dentro da empresa, não pode ser separada”, ressaltou a empresária.

Ainda esse trimestre, espera-se incrementar o volume de peças pro-duzidas, saltando de 500 por mês para 1 mil mensais. Atualmente, a empresa está na fase de contratação de novos profissionais, tais como ourives, joalheiros e assistentes. “Trabalhamos com matérias-primas regionais e as transformamos em produtos de alto valor agregado, com destaque no cenário nacional e internacional”, afirmou.

comida comgosto de pescado

Em fase bem avançada, o projeto de desenvolvimento de hambúrguer de peixe defumado da Laushner Alimentos já está sendo testado. Segundo o administrador de em-presas e diretor de produção, Braz Laushner, os experimentos feitos com espécies de baixo valor comer-cial, tais como jaraqui, branquinha, aracu, aruanã e curimatã, acrescidos de pirarucu defumado, apresenta-ram resultados satisfatórios e agora é o momento de desenvolver em-balagens adequadas para a entrada no mercado. “Estamos pesquisan-do este produto há cerca de três anos, sem recursos. A aprovação do projeto representa um pontapé para impulsionar essa inovação no mercado alimentício”, explicou. O desenvolvimento e a pesquisa do

hambúrguer estão sendo acompa-nhados pelo engenheiro de pesca Domingos de Oliveira.

A pretensão é que, ao final do projeto, cuja duração está estima-da em 18 meses, segundo consta no edital, a capacidade produtiva atinja a faixa de 5 mil quilos por mês. Parte desse volume deverá ser exportada para países da Europa, como Itália, Portugal e Alemanha.

Laushner explica ainda que o grupo está à procura de parcerias para a construção de um frigorífico. Mas isso requer um volume muito alto de inves-timentos. “Há grupos estrangeiros, como um italiano e outro português, interessados em fechar parcerias, mas nada está definido ainda”, disse.

Laushner anunciou que o ham-búrguer de peixe será lançado neste primeiro semestre. “Estaremos com uma produção de pelo menos 200 quilos por mês”, informou. Sobre o Pappe, o empreendedor afirmou que sem o apoio do programa seria ainda mais difícil introduzir o pro-duto no mercado. “É fantástica essa iniciativa, pois um país que quer desenvolver a economia tem de incentivar novas ideias”, opinou.

Contando com um aporte de recursos no valor de R$ 171 mil, a fábrica alimentícia não quer parar as novas criações por aí. “Futura-mente iremos desenvolver o caldo de peixe (líquido) e, se possível, em tabletes ou em pó. O mercado é muito promissor para esse produ-to”, previu.

Bioplástico: ambientalmente correto

A viabilidade de um plástico gerado a partir do amido da man-dioca e do babaçu, conhecido como bioplástico, é o desafio da Ecopack Embalagens Recicláveis. Além da redução do impacto ambiental, o

produto será levado ao mercado por um preço bem inferior ao seu equivalente fabricado com resina proveniente do petróleo. O empre-sário Renato Isuji anuncia que o projeto deve terminar antes dos 18 meses previstos inicialmente. “An-tecipamos a pesquisa e estamos em fase adiantada do projeto”, disse.

O bioplástico pode ser uma van-tagem para a indústria de embala-gens. Ele é utilizado também como acessório de outros subprodutos, tais como calços para eletroeletrôni-cos e carcaças de telefones celula-res. “A tecnologia é viável. Vamos regionalizar a cadeia produtiva com a matéria-prima amazônica”, comemora. A proposta do projeto é desenvolver formulações, consi-derando a combinação de diferen-tes matrizes poliméricas, uso de aditivos, plasticizantes (compostos usados para aumentar a flexibilida-de de alguns materiais plásticos para embalagens) e agentes de reforço.

Para atender às exigências de ofer-ta dos novos materiais biodegradá-veis ao mercado consumidor, serão estabelecidos também métodos de ensaio e certificação. Assim, o bio-plástico estaria funcionando dentro das normas e padrões criados para essa nova classe de materiais.

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Tendo em vista a parceria firmada com a Universidade Federal de São Carlos, em São Paulo, a Ecopack pri-ma pela especialização de quadro de recursos humanos, atraindo pesqui-sadores para a empresa. “A parte do desenvolvimento de um projeto é muito custosa”, disse Isuji. Por isso, ele considera o acompanhamento de um pesquisador fundamental no desenvolvimento do trabalho na própria indústria.

Litiara: alternativa viável para construção civil

A substituição do seixo e da pedra brita por um agregado sintético de argila, na construção civil, é mais uma inovação proposta por outra empresa selecionada no Pappe. Desenvolvida pela Litiara Indústria de Cerâmica da Amazônia, locali-zada no município de Itacoatiara, a 175 km de Manaus, em linha reta, a ação conta, há três anos, com o apoio de pesquisadores da Universi-dade Federal do Amazonas (Ufam), do departamento de Engenharia Civil.

O pesquisador Ênio Souza ex-plicou que o projeto envolve três tipos de argila, todas extraídas em Itacoatiara. “Estamos, atualmente,

estudando qual formulação cerâmi-ca é mais adequada e qual teor cada um dos tipos de argila deve compor a mistura”, informou. Segundo ele, o grupo de estudo está verificando a fórmula mais adequada para uso em ambiente de fábrica, identificando o método de industrialização. “A ideia não é britar, mas fazer cubinhos com a argila e levá-los ao forno”, apontou.

Após essa fase, ainda no primeiro semestre, a empresa pretende partir para o trabalho de campo e iniciar a produção piloto. “A Fapeam permi-tiu que o projeto saísse do laborató-rio e fosse viabilizado na indústria”, destacou.

aBn Poliedro Com o projeto “Estações de Tra-

tamento Ecológico de Esgotos”, a ABN/Poliedro Engenharia objetiva pesquisar novas espécies vegetais que possam ser utilizadas no pro-cesso de tratamento de efluentes. “A introdução da inovação deverá tornar a empresa mais competitiva, oferecendo uma forma de tratamen-to de efluentes ecológica e de custo sensivelmente mais interessante, pois nossas estações funcionam por gravidade, dispensando funcioná-rios para monitoramento, sem uso de produtos químicos e instalações elétricas, painéis e bombas”, infor-mou o engenheiro civil, especialista

edição atuaL do PaPPePara o edital de 2009, o Pappe Subvenção Finep dispôs recursos da ordem de R$ 2,54 milhões, sendo R$ 1,92 milhão proveniente da Finep e R$ 619,2 mil da Fapeam e Secretaria de Estado de Planejamento (Se-plan). “O valor solicitado como subvenção econômica será de até R$ 200 mil, por proposta, voltados exclusivamente ao cumprimento das atividades estabelecidas no Plano de Trabalho aprovado”, explicou jonas gomes da Silva, chefe do Departamento de Análise de Projetos (Deap) da Fapeam. As áreas preferenciais para serem apoiadas por meio do edital são: artesanato, castanha-do-Brasil, construção naval, fitoterápicos e fito-cosméticos, fécula e farinha de mandioca, madeira, móveis e artefatos, pólo cerâmico-oleiro, polpa, extratos e concentrados de frutas regionais, produção de pescado, produtos e serviços ambientais e turismo ecológi-co e rural nas mesorregiões do Estado.

em meio ambiente, Antônio Bento Neto.

Atualmente, a empresa já utili-za, na construção de estações de tratamento ecológico de esgostos, a espécie regional Bombacaceae pseudo bombax, popularmente conhecida como munguba. A partir do apoio de R$ 110,96 mil, disponibilizado pelo Pappe Subvenção, a empresa pretende ampliar o trabalho, estu-dando novas espécies, como oirana (Salix martiana) e mata-pasto (Senna obtusifolia).

A partir de julho, está prevista a implantação de uma estação piloto no campus III do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). “No momento, contamos com o apoio de Luiz Antonio de Oliveira, pesquisador do Inpa, que parti-cipará do estudo e deverá levar a ideia à diretoria, para deliberação”, afirmou.

Com o aporte e desenvolvimen-to das pesquisas, a empresa espera otimizar o processo e incrementar a qualidade dos parâmetros físicos, químicos e biológicos dos efluentes. “Nossa perspectiva é otimista, tendo em vista a nova legislação ambien-tal, que proíbe despejos de poluen-tes em cursos d’água [Resolução Conama nº 357/2005 e Resolução Comdema nº131/2006]”, frisou.

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Educação ambiental e científica com jogo de tabuleiro

As grandes reservas de água doce e a abundância de recursos naturais permi-tem que a Amazônia tenha uma ictio-fauna (peixes) diversificada, distribuída em igarapés, lagos e rios. Além disso, as grandes extensões de várzeas refor-çam o potencial pesqueiro da região. O reflexo é a pesca industrial na foz do rio Amazonas, em Belém (PA) - consi-derada evasiva, pois faz uso de grandes barcos e redes de arrasto - tida como prejudicial aos grandes bagres: Piramu-taba (Brachyplatystoma vaillantii), pira-íba (Brachyplatystoma filamentosum), piraíba negra (Brachyplatystoma capapretum) e dourada (Brachypla-tystoma rousseauxii) são consideradas espécies de valor comercial. Outro problema que também já está afetando os cardumes é a pesca arte-sanal nos afluentes do rio Amazonas. Apesar de serem pescados nos Estados do Amazonas e Pará, cerca de 70% dos peixes são vendidos para Peru e Colômbia. Os peixes têm como via de saída os municípios de Tabatinga, Tefé e Letícia. Uma região fronteiriça, onde brasileiros, peruanos e colombianos fazem uso dos mesmos recursos. O re-sultado da pressão é a pesca realizada

durante o período de reprodução, além da captura de peixes pequenos e com menor valor comercial. Então, o que fazer para solucionar o problema? A resposta vem da pesquisadora do Labo-ratório Temático de Biologia Molecular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (LBTM/Inpa), Kyara Formiga, que diz ser fundamental um trabalho de base para conscientizar a população sobre a necessidade de preservação dos recursos pesqueiros, caso contrário, não haverá mais o que pescar. O primeiro passo desse processo de conscientização foi dado por meio do projeto “Pirada”, que iniciou com o objetivo de entender o processo migra-tório dos grandes bagres da Amazônia. Todavia, durante as pesquisas, foi percebida a importância de se levar a informação para os principais atores envolvidos no processo de migração: os pescadores, filhos de pescadores e as comunidades ribeirinhas. “Os bagres fazem parte do cotidiano deles”, res-salta Kyara. Mas havia um problema a ser supera-do: como fazer para que a população compreendesse a importância de pes-quisas científicas cheias de termos téc-

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Ação visa conscientizar es-

tudantes do ensino médio e

fundamental, além de pesca-

dores e ribeirinhos, sobre a

importância de se conservar

os grandes bagres migrado-

res da Amazônia

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nicos e códigos? Foi então que nasceu o “Piradados”, um jogo de tabuleiro no qual são utilizadas informações científicas de maneira didática, levanta-das pelo projeto “Pirada”. O jogo foi a forma encontrada pelos pesquisadores para aproximar a ciência da sociedade. Hoje, consolida-se como um trabalho de popularização das atividades e pesquisas feitas no âmbito do LBTM. Em seu terceiro ano, pode-se dizer que o “Piradados” ainda é jovem, mas os resultados chegam a dez municípios do Amazonas, incluindo Manaus. O termo “Piradados” corresponde à junção do nome dos grandes bagres migradores: piramutaba, piraíba, piraí-ba capa preta e dourada. “O jogo tem sido uma ferramenta importante no processo de difusão das informações sobre a genética dos bagres. Por meio de um método divertido, os estudantes aprendem brincando como ocorre a migração desses peixes”, comemora Kyara, mas reconhece que o trabalho é de base, de médio a longo prazo. quando começaram as atividades, em 2006, a pesquisadora aplicava o jogo apenas em colégios estaduais e munici-pais da capital. Mas ela sentiu neces-

sidade de chegar a outros municípios e, hoje, com as parcerias da Secretaria Estadual de Educação (Seduc) e das Secretarias Municipais de Educação (Semeds), foi possível alcançar Tabatin-ga, Tefé, Coari, Manacapuru, Iranduba, Itacoatiara, Eirunepé, Lábrea e Humai-tá. Para isso, foram alocados recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). A pesquisadora e a equipe do LBTM agora sonham com voos mais altos. Eles desejam levar as informações sobre os grandes bagres até Santa-rém (PA), Porto Velho (RO) e Cruzeiro do Sul (AC), o que provavelmente será possível por meio de recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Isso porque os peixes percorrem em torno de 5 mil quilômetros para completar seu ciclo de vida, em uma área que in-clui o território de mais de cinco países amazônicos. Sobre a experiência de socializar a informação científica com estudantes do ensino médio e fundamental dos municípios visitados, Kyara conta que foi gratificante e espera que as ativida-des passem a fazer parte do calendário das escolas.

“Em meio a olhares atentos e curiosos, falamos sobre área de migração, ciclo de vida, importância da pesca e como os estudos genéticos podem contribuir para a preservação dos bagres, subsi-diar planos de conservação e manejo. Apesar de ser uma atividade longa, muitos permanecem em sala de aula após o término do horário”, ressalta. O mais importante, segundo ela, é que os jovens repassarão as informações para os pais, amigos, vizinhos e nunca mais esquecerão o que foi explanado. Durante as palestras, os alunos também têm oportunidade de ver a extração do DNA (ácido desoxirribo-nucleico). A ideia é demonstrar que a genética não é algo distante da reali-dade dos estudantes e pode ser feita nas próprias casas a partir de materiais como manga ou tomate, detergen-te, álcool ou sal. “Eles conseguem visualizar o DNA. Na ocasião, é dito que o ácido desoxirribonucleico é uma molécula invisível, por isso o que eles veem são milhões de moléculas juntas. Como há um protocolo para extração, é entregue uma cópia para que eles possam testar em casa”, salienta.

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| | Escola Estadual Maria Ivone Leite. Itacoatiara

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Fotos: Projeto Piradados

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Estoques pesqueirosem sobrepescaDesde o início da década de 1970, os grandes bagres sofrem com a pesca industrial e artesanal. Todavia, até hoje, poucas foram as ações para regula-mentá-las. Isso tem comprometido o estoque pesqueiro. “A pressão sobre os peixes é alta. Segundo estudos científicos, a dourada, a piramutaba e a piraíba estão em sobrepesca”, explica Kyara. Segundo a cientista, há quatro contex-tos distintos que devem ser observa-dos. No caso da dourada, há uma di-ferenciação genética a qual indica que uma parte da população de peixes essa espécie tem preferência por afluen-tes, utilizado-os para se reproduzir. Contudo, não são todos os peixes. Ela diz que assim como a população sofre

com as mudanças ambientais, os peixes também sentem e isso é refletido na genética. “O resultado é que, nos afluentes, a população está diferente geneticamente, o que pode ser preju-dicial frente às mudanças ambientais”, lamenta. Ela acrescenta que a dourada é mais pescada na calha principal.A piramutaba, de acordo com Kyara, é a que mais está em sobrepesca, devido a retirada realizada no estuário. Entretanto, quando analisada genetica-mente, não há indícios de variabilidade. A cientista diz que há outra forma de interpretar a informação: das qua-tro espécies ela é a única que forma cardumes, sendo a distribuição ao longo do rio homogênea. Ou seja, não há preferência por rio. “Isto apesar da baixa no estoque”, explica a pesquisa-dora do Inpa.

Em relação à piraíba, a especialista res-salta que a espécie está em sobrepesca, mas avisa que não se sabe qual, se a piraíba ou o filhote capa-preta (possui o dorso mais escuro). Além disso, a espécie também possui uma diferencia-ção genética entre os rios. Todas estas questões constatadas durante a pesquisa com os grandes bagres, para ela, só reforçam a neces-sidade de se intensificar o trabalho nos municípios onde a pesca e a comercia-lização são mais intensas, por exemplo em Tabatinga e Tefé. “São locais que precisamos sempre visitar durante o projeto”, lembra Kyara.

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Se for verdade que a educação científica de base pode fazer a diferença no desenvolvimento científico e tecnológico de um país ou de um Estado, o Amazonas pode estar se tornando um terreno fértil para a criação de futuros cientis-tas. Isso se traduz na empolgação, envolvimento e, sobretudo, brilho nos olhos das crianças e adolescen-tes que participam de projetos de pesquisa do Programa Ciência na Escola (PCE), iniciativa pioneira da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), que tem estimulado professores e estudantes do ensino fundamental e médio, da rede pública do Estado e do município, a tomarem gosto pela ciência.

Com o apoio das Secretarias de Educação Estadual (Seduc) e Muni-cipal (Semed), o programa chega em 2009 à sua terceira edição. Os in-vestimentos somam um montante de R$ 3,4 milhões, que deverão ser destinados ao pagamento de auxílio à pesquisa, no valor de até R$ 4.840 por projeto, e de bolsas de estudos – nas modalidades de Professor Jovem Cientista (PJC/A), no valor de R$ 461, para o professor coordenador do projeto; Apoio Técnico (AT/A), no valor de R$ 360, para um pro-

Como fazerciência na escola

Resultados de investimentos

na educação científica

de base no Amazonas

ultrapassam as fronteiras

das escolas, envolvendo

estudantes e comunidade

nesse trabalho

POR MIRNA FEIToZA

fessor pesquisador da escola, e de Iniciação Científica Junior (IC Jr), no valor de R$ 120, para até cinco estudantes do ensino fundamental (a partir do 6º ano), do ensino mé-dio, da educação profissional ou de jovens adultos durante seis meses, período da vigência do projeto.

A expectativa é que em 2009 o programa incentive até 230 proje-tos. Em 2008, ano em que o PCE tomou vulto, foram financiados 76 projetos, sendo 46 em escolas da Seduc e 30 da Semed, com recursos da ordem de R$ 987.067,86. Os resultados impressionam a todos que tomaram conhecimento das experiências implantadas nas esco-las, especialmente pelo alcance das transformações em curso na vida dos estudantes, no ambiente escolar e na própria comunidade.

“A experiência que tivemos não vai acabar aqui, vai seguir conosco para o resto de nossas vidas e nos ajudar a entrar na faculdade. Não há nada que recompense o que aconteceu este ano em nossas vi-das”, afirmou Luana Sousa Félix, 12, estudante da 7ª série e bolsista de IC JR, após a apresentação dos resulta-dos de seu projeto, “Àanhee. Rituais e lendas do povo Waimiri Atroari”, executado na Escola Municipal Pro-

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|| educação

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fessora Francisca Mendes de Araújo, durante o Seminário de Avaliação Final do PCE.

Se o sonho de entrar na universi-dade se tornou mais provável para Luana, para a estudante Daiane Ketlen Chaves dos Santos, 18, da Es-cola Estadual Mirtes Rosa de Lima, de Itacoatiara (AM), e bolsista de IC Jr do projeto “Ver para Crer”, ele já se realizou. A jovem faz parte do grupo de estudantes do ensino mé-dio oriundos do PCE que obtiveram êxito, entre os primeiros colocados, no vestibular da Universidade Fede-ral do Amazonas (Ufam), conforme anunciou a secretária-executiva da Seduc, professora Marly Ho-landa Nascimento, na abertura do Seminário de Avaliação Final, em dezembro. Daiane passou em tercei-ro lugar para o curso de Sistemas de Informação da Ufam.

O deslocamento geográfico do estudante Daniel Bezerra, 14, aluno da Escola Estadual Professor Djalma da Cunha Batista e bolsista de IC Jr do projeto “Rádio na Escola”, será ainda maior. Ele passou no processo seletivo da Escola Sesc de Ensi-no Médio do Rio de Janeiro (RJ), referência em ensino integral do país, que oferece 12 cursos tecnoló-gicos. As atividades de pesquisa no

currículo chamaram a atenção dos avaliadores, tornando-se decisiva para a seleção do estudante.

integraçãocom a comunidade

Os frutos do PCE podem ser observados não apenas nos vôos individuais dos estudantes bolsistas. As ações dos projetos do programa estão colaborando também para reforçar os laços entre as escolas e as comunidades a que pertencem.

Foi o que aconteceu na execução do projeto “Universo mítico ama-zônico. Resgatando a arte de contar histórias”, realizado na Escola Mu-nicipal Professora Francisca Pereira de Araújo, no Parque das Nações, bairro de Flores. Um dos principais resultados alcançados pela pesquisa, a organização de um livro com his-tórias fantásticas amazônicas, só se tornou possível com a participação da comunidade.

Partindo da necessidade de colocar os alunos em contato com a leitura literária e como estratégia para lidar com a baixa frequência à biblioteca, o projeto propôs o res-gate da arte de contar lendas, velho costume entre os amazônidas. Para isso, identificou na comunidade, através de questionário aplicado na

escola, as pessoas que sabiam contar histórias sobre seres lendários da região.

“Na pesquisa, 91% dos alunos responderam que já tinham ouvido histórias de mitos, lendas ou contos amazônicos e 83% disseram que gostavam de ouvi-las. Então, logo vimos que não se tratava de res-gatar as histórias, porque elas não estão perdidas ou esquecidas. Elas continuam a fazer parte da vida das pessoas dentro da própria cidade”, disse a professora de Letras Darcley Abreu dos Santos, coordenadora do projeto.

Identificados os contadores de histórias, a equipe de pesquisa-dores – formada pelos bolsistas de IC Jr André dos Santos Belém, Francisca Selma Pereira Tibúrcio, Márcia dos Santos Costa, Marciane Silva da Silva e Renato dos Santos e Santos, além da professora Ivy Caroline Melo Bastos, bolsista de AT/A –, saiu a campo para coletar as histórias dos moradores, entre eles, vigilantes, ajudantes de pedreiro, empregadas domésticas, professores e estudantes. Pessoas jovens, adultas e idosas.

Após a coleta dos dados, os alunos passaram à transcrição dos registros, feitos com câmeras filmadoras, e à

fotos: acErvo dos ProJEtos

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redação dos textos, através de ofici-nas realizadas na escola, procurando preservar a estrutura da narrativa contada pelo narrador.

Os resultados foram apresentados em primeira mão para a comuni-dade, em edições individualizadas de algumas das histórias publica-das em pequenos livretos, feitos e impressos na própria escola, num momento de grande integração entre escola e comunidade. “Um dos contadores de histórias, que trabalha como ajudante de pedrei-ro, ao saber que sua história havia sido publicada, procurou a escola emocionado, dizendo-se realizado por poder colaborar com os alunos, com aquilo que ele sabia, mesmo sendo analfabeto”, conta a profes-sora.

Agora a equipe de pesquisadores prepara-se para um voo ainda mais alto: publicar um livro com uma seleção das histórias coletadas. O volume já está pronto, com direito a ilustrações das lendas feitas pelo professor de Artes Denis José Pi-nheiro Ribeiro. Só falta a editora.

àanhee combate preconceitoEm outra experiência desenvolvi-

da na mesma escola com incentivo do PCE, apostou-se na valorização da cultura indígena como forma de combater o preconceito. O projeto “Àanhee. Rituais e lendas do povo Waimiri Atroari”, coordenado pela professora Lucilene dos Santos Pacheco, nasceu de uma situação de discriminação ocorrida dentro da sala de aula.

Durante uma aula da professora Lucilene sobre a história dos povos nômades da Amazônia pré-colonial, alguns alunos passaram a se chamar uns aos outros de “índio”, como forma de ofenderem-se mutua-mente, levando uma das crianças a chorar por se sentir diminuída com o tratamento. A partir desse dia, a professora decidiu investir mais em conteúdos sobre a história e a cultu-ra dos povos indígenas do Amazo-nas. “Quando abriram as inscrições para o PCE, em 2008, vi que era a oportunidade de desenvolver um trabalho de pesquisa diferenciado sobre o assunto com os alunos”, disse a professora.

O projeto foi feito de julho a dezembro do ano passado, utili-zando o método da história oral, com a coleta dos relatos dos índios sobre seus rituais e suas lendas, realizada em visita ao Programa Waimiri Atroari (PWA), mantido pela Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A. (Eletronorte) e geren-ciado pela Fundação Nacional do Índio (Funai).

Na visita, a equipe de pesquisado-res conheceu o ritual e as lendas de Maryba (a festa de iniciação mas-culina) e o ritual dos mortos-vivos, chamado Irikwa Maryba, realizado na inauguração de moradias novas, para que Irikwa, entidade que não traz bons agouros, não chegue perto da nova maloca.

A equipe – composta pelas bolsis-tas de IC Jr Andressa Sousa Ferreira, Dayla Corrêa Campos, Luana Sousa Felix, Rayanny, Flávia Amorim dos Reis e Vanessa Nascimento Mendes, que têm entre 11 e 13 anos – tam-bém se interessou em aprender palavras do dialeto Kinja, sistema linguístico falado pelos Waimiri Atroari.

“Àanhee, em português, significa ‘conhecimento’; wiripanã, ‘sauda-ção’; wiripakana, ‘obrigado’. A pa-lavra kinja também é o modo como os Waimiri Atroari se autodenomi-nam”, ensina a bolsista Andressa Sousa Ferreira, 11 anos, estudante da 6ª série.

Para atingir o objetivo do projeto – a valorização da cultura indígena no espaço escolar –, os pesquisado-res compartilharam o conhecimen-to adquirido junto aos índios com os colegas da escola. “Passamos de sala em sala exibindo vídeos sobre a vida dos Waimiri Atroari, seu artesa-nato e seus rituais. Percebemos uma diferença muito grande em relação ao preconceito. Todos queriam aprender as palavras indígenas”, disse a bolsista Dayla.

Conforme a bolsista Luana, 12, da 7ª série, hoje muitos colegas querem conhecer a cultura indí-gena. “Não deveria haver racismo contra os índios no Amazonas, eles contribuem muito com a cultura amazonense. O Estado é conhecido lá fora pelo artesanato, açaí, pela fa-rinha de tapioca, pela tapioca, que

são elementos da cultura indígena”, analisa Luana.

grandes desafios As temáticas abordadas pelos

projetos do PCE, via de regra, mobilizam pesquisadores experien-tes e a própria sociedade, numa demonstração de que as pesquisas desenvolvidas inserem as escolas e seus alunos em discussões de gran-de relevância em nosso tempo. O projeto executado pelos estudantes do ensino médio da Escola Estadual Reinaldo Thompson, localizada no bairro do Coroado, zona sul de Manaus, é exemplo disso.

Com o projeto “Balbina: os desa-fios de produzir energia na Amazô-nia”, tendo como objeto a Usina Hidrelétrica de Balbina, localizada em Presidente Figueiredo (AM), os alunos enfrentaram uma discussão

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ainda hoje polêmica, em razão das questões ambientais envolvidas na implantação da hidrelétrica, em que pese sua produção energética tenha se tornado imprescindível ao desenvolvimento econômico da cidade.

“Com essa pesquisa tivemos uma visão mais ampla sobre a produção de energia e a questão ambiental. Sempre ouvimos críticas à Balbi-na, por causa do grande impacto ambiental que causou, mas, se não fosse ela, precisaríamos de mais parques termoelétricos em Manaus, que também causam grande impac-to”, pondera Giselle Cascaes, 17, aluna do 3º ano do ensino médio e bolsista de IC Jr.

A equipe de pesquisadores – co-ordenada pelo professor Antônio Ednelson e formada pela professora Danielle Coelho, bolsista de AT/A, e também pelos estudantes bolsis-tas de IC Jr Cecília Ferreira, Jarina Albuquerque, Thiago Rodrigues e Washington Souza – visitou Balbina duas vezes, uma com recursos do auxílio à pesquisa do PCE e outra custeada pelos próprios estudantes.

Na pesquisa, descobriram que o Brasil tem 24% do potencial iden-tificado e inventariado do poten-cial hidrelétrico do mundo, sendo que a Amazônia detém 41% desse potencial, embora contribua com apenas 1,5% da energia gerada no país atualmente.

O trabalho envolveu ainda pes-quisa bibliográfica, com técnicas de leitura, fichamentos e discussão dos

resultados, processo destacado pelos alunos como sendo preparatório para a futura vida universitária que eles pretendem ter. Envolveu ainda a produção de um jornal, de um do-cumentário e de VCD de fotos sobre a pesquisa, colocando os estudantes diante de desafios e conhecimentos técnicos absolutamente novos.

“O maior desafio foi fazer o jor-nal. Levamos um mês para produzi-lo. A redação dos textos jornalís-ticos e a diagramação das páginas foi toda feita com informação dos bolsistas”, disse o estudante bolsista de IC Jr Washington Souza, 18, responsável pela diagramação do jornal e edição do documentário.

A importância de participar de um trabalho científico já na educa-ção básica também é reconhecida por eles. “O aluno está acostumado a ter só sala de aula. Ao participar de um projeto de pesquisa, você sai e tem novas experiências de apren-dizagem. É muito importante para o aluno”, declara Cecília Ferreira, 16, estudante do 2º ano e bolsista de IC Jr.

RepercussãoAs experiências bem-sucedidas

que têm estimulado alunos das escolas públicas do Amazonas já repercutem nacionalmente, a ponto de tornar o PCE uma referência brasileira no que toca à introdu-ção da ciência na educação básica, despertando até mesmo o interesse de Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs) de outros Estados.

“Cada vez que falamos sobre o PCE, como programa pioneiro da Fapeam, as pessoas ficam entusias-madas. Daí os colegas da Faperj e Fapemig (FAPs do Rio de Janeiro e de Minas Gerais) terem manifestado interesse em criar programa similar nesses Estados”, alegra-se Odenildo Sena, diretor-presidente da Fapeam, que vê na possibilidade de repli-cação do PCE em outros Estados uma larga e positiva contribuição à ciência no Brasil, ainda que em longo prazo.

O diretor-presidente da Fapeam é, ele mesmo, um dos maiores entusiastas do programa, desta-cando-o como uma das ações mais importantes da fundação. “Primeiro pelo que representa de inovador, ao envolver professores e alunos das escolas públicas municipais e estaduais no fazer ciência. Segundo, porque contribui decididamente para a formação de novos cientis-tas na base”, pontua, sem esquecer daquilo que impressiona a todos. “As avaliações do programa tem demonstrado o encantamento, principalmente dos alunos bolsis-tas, com a execução dos projetos”, destaca.

Os resultados são tão animado-res que a FAP amazonense deve apresentar, em breve, uma proposta de parceria para o programa com o Ministério da Educação. Os futuros cientistas do Amazonas já estão na torcida. Com brilho nos olhos.

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A importância de investir em inovação está se tornando uma realidade cada vez mais próxima para o setor de micro e pequenos empresários e o Amazonas apresenta um cenário promissor na promoção e fortalecimento da cultura da inovação para a realidade do setor. Ao lado da situação propícia, algumas estratégias devem ser concretizadas para sensibilizar os empresários sobre a importância da inovação na gestão empresarial, e, com isso, permitir que as micro e pequenas empresas aumen-tem seus níveis de desenvolvimento e competitividade.O que o sistema de inovação local aguarda é uma governança que venha a assegurar um ritmo constante e forte da promoção da inovação.Nesse contexto, como um dos meca-nismos de incremento à difusão de possibilidades de inovação em empre-sas, a Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia (Sect) acaba de inaugurar o serviço Radar de Oportunidades – Ino-vação, espaço que tem como objetivo principal oferecer uma estrutura de monitoramento e difusão sistemática

de oportunidades de investimentos e outras ações voltadas para empresas. O serviço é gratuito e consiste no aten-dimento e orientação ao empresariado para acessar tais oportunidades, além do acompanhamento da execução de projetos oriundos desses processos e divulgação de resultados de maneira a difundir a cultura da inovação no Estado.Com o Radar, será possível identificar e acompanhar as oportunidades de fo-mento e apoio à inovação, bem como divulgar, sistematicamente, editais, eventos, cursos e outros mecanismos de investimento para o empresariado amazonense.“Esse é um exemplo efetivo de política pública, coordenada pela Sect, voltada ao benefício do setor produtivo. Difundir a cultura da inovação e seus benefícios para a economia local refle-tirá, em última instância, no aumento de emprego e renda e melhoria da qualidade de vida para os que vivem no Amazonas”, afirma o secretário de Estado de Ciência e Tecnologia, josé Aldemir de Oliveira. “Por meio de um

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|| tecnologia aplicada

uma alternativa para a promoção da inovação ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||

Difundir a cultura da inova-

ção e seus benefícios para a

economia local, refletirá, em

última instância, no aumento

de emprego e renda e melho-

ria da qualidade de vida para

os que vivem no Amazonas

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atendimento personalizado, que é o diferencial do projeto, poderemos prestar uma assessoria aos empresários para melhoria das propostas de projeto a serem apresentadas nos editais ou orientar sobre questões que eles apre-sentem sobre formas de financiamen-to”, informa o secretário. Além do serviço de atendimento, serão identificados possíveis parceiros para a realização de eventos de divulgação da cultura de inovação e participação do grupo em fóruns e espaços de discus-são dos temas ligados à inovação.josé Aldemir informa que, na fase pos-terior, o Programa Radar de Oportuni-dades oferecerá serviços às instituições de ensino e pesquisa do Estado, de forma que todos os interessados das diversas áreas do conhecimento sejam contemplados.

disseminando oportunidades Atualmente, uma equipe formada por três servidores realiza o atendimento aos empresários. De acordo com o técnico responsável pelo projeto na Sect, Sabino Rodrigues, desde que começou a funcionar, ainda enquanto

experiência-piloto, o Radar tem cha-mado a atenção dos empresários. “Eles agendam a visita por telefone ou via e-mail e são atendidos por, no máximo, uma hora a cada entrevista, e nesse tempo expõem dúvidas e pedem sugestões para participar de editais de financiamentos a projetos na sua área específica”, explica. Durante o atendi-mento, os interessados também adap-

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EdITAIs cOm fOcO NA INOvAÇÃO

PROGRAMA PESQUISADORES NAS EMPRESAS NO ESTADO DO AMAZONAS – PPE/AM –

EDITAL MCT/CNPq/FAPEAM N. 009/2008 - Fluxo Contínuo – MCT/CNPq/FAPEAM (alocação

de mestres e doutores para desenvolvimento de processos inovadores em empresas através

de bolsas)

PROGRAMA AMAZONAS DE APOIO À PESQUISA, DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO E INO-

VAÇÃO EM MICRO E PEQUENAS EMPRESAS NA MODALIDADE SUBVENÇÃO ECONÔMICA -

PAPPE SUBVENÇÃO FINEP AMAZONAS - EDITAL N. 017/2008 - MCT/FINEP/FAPEAM/SEPLAN/

AFEAM/IEL-AM/IDAM/SEBRAE-AM/SECT-AM (R$ 200 mil em recursos não reembolsáveis

para despesa de custeio para desenvolvimento de produtos e processos inovadores nos

APLs);

SUBVENÇÃO ECONÔMICA À INOVAÇÃO – SELEÇÃO PÚBLICA MCT/FINEP/FNDCT 01/2009

tam projetos de acordo com os termos do edital de interesse, conferem prazos e documentações exigidas. “Os empre-sários se sentem satisfeitos por terem a chance de ser atendidos pessoalmente, pois se torna mais simples adequar os formulários, preencher proposta e tirar dúvidas sobre financiamento de forma direta”, acrescenta Sabino.

ServiçoPara agendar atendimentos, entrar em contato com:Sabino Rodrigues Augustus Radamés Ariffe

Telefone: (92) 4009 8112e-mail: [email protected]

| | Atendimento ocorre na sede da Secretaria de C&T e oferece informações privilegiadas a empresários

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Ufamcem anos de história

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quem hoje entra e observa, admirado, a extensão do Campus Universitário da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), em Manaus, instalado em 6,7 milhões de m2 - considerada a maior área verde urbana do país - e toma pé do gigantismo da estrutura da instituição não imagina a história dos desbravadores que ousaram criar, em 17 de janeiro de 1909, há cem anos, a primeira universidade brasileira, a Escola Universitária Livre de Manáos, da qual a Ufam descende, bem como daqueles que trabalharam para a sua retomada, em 1962, com a criação da Universidade do Amazonas, a saudosa UA, e batalharam por seu desenvol-vimento e atual expansão, já sob a alcunha de Ufam. Uma história cujos baluartes, no mo-mento de celebração dos cem anos, são justamente homenageados, mas que não teria sido construída sem a participação efetiva de seus professo-res, alunos, técnico-administrativos e, sobretudo, da sociedade amazonense, seja por meio de seus representantes

A herdeira da primeira

universidade brasileira

comemora, em 2009, o

centenário de sua criação,

em uma história de ousadia,

conquistas e desafios

Por MIRNA FEIToZA

legais, de seus intelectuais ou de seus cidadãos comuns. Isso porque nem sempre a universidade foi mantida pela União Federal. “Em seus primórdios, a Universidade foi financiada, na prática, por doações pessoais e subvenções municipais, apesar de ser mantida oficialmente pelo governo do Estado”, afirma a filósofa Rosa Mendonça de Brito, professora da Ufam e autora do livro que a instituição lançou, em março deste ano, contando a história de seu centenário.Não que os primeiros anos tenham sido fáceis. A Escola Universitária Livre de Manáos, transformada, em 1913, em Universidade de Manáos, enfrentou o descrédito da sociedade local e nacio-nal. “Conforme é possível verificar na documentação, a grandiosa emprei-tada foi quase sempre revestida de incredibilidade por parte da sociedade local e nacional. Tudo indica que isso devia-se ao ceticismo e desamor pelas coisas produzidas no Brasil e principal-mente na Região Norte”, assegura a professora.

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No entanto, há que se destacar que o funcionamento da Universidade, em seus primeiros anos, só se tornou possível através do apoio de médicos, engenheiros, advogados, odontólo-gos e outros profissionais com ensino superior, atuantes na capital amazo-nense, que colocaram seus consultórios e escritórios à disposição das aulas práticas, bem como do governo do Estado do Amazonas, então coman-dado pelo coronel Antonio Clemente Ribeiro Bittencourt, que cedeu para a universidade o grupo Escolar Saldanha Marinho, no Centro de Manaus, onde veio a funcionar até 1913. Na grade, estudos de latim, alemão e francês, com livros e conteúdos das disciplinas ministradas quase todos importados da Europa. Os resultados logo apareceram. Em 1º de janeiro de 1912, dois anos após a instalação de seus cursos – na Facul-dade de Ciências jurídicas e Sociais, na Faculdade de Medicina, Faculdade de Engenharia, Faculdade de Ciências e Letras e Faculdade Militar –, colavam grau as primeiras turmas, formadas por dez odontólogos, oito farmacêuticos e três agrimensores, entre os quais sete mulheres, em cerimônia no salão nobre do ginásio Amazonense, o Colégio Estadual, reunindo dezenas de famílias,

autoridades civis e militares, jornalistas, corpo consular, representantes dos diversos departamentos da ciência, das corporações e inúmeros cavalheiros, conforme noticiou o jornal Diário do Amazonas de então. “A sociedade inteira participou da solenidade. A ce-rimônia representou a consolidação da instituição e superação das resistências a que seus fundadores foram expos-tos”, conta Rosa.Dois anos depois, em 1914, já como Universidade de Manáos, colavam grau os 20 primeiros bacharéis em Ciências jurídicas e Sociais, em outra disputada cerimônia no ginásio Amazonense, com milhares de pessoas concentradas nas imediações do edifício, atestando a importância do ato e da atuação da universidade na capital amazonense. Até aquele ano, a instituição efetivou 605 matrículas, sendo 222 requeren-tes do Amazonas, 54 do Pará, 78 do Maranhão, 55 do Piauí, 116 do Ceará, sete do Rio grande do Norte, quatro da Paraíba, 31 de Pernambuco, 12 de Alagoas, 14 da Bahia, quatro do Rio de janeiro, três de Minas gerais, três de Portugal e duas da Itália.

Herança militarAqueles que desconhecem a história da primeira universidade brasileira jamais

poderão imaginar que a sua criação só se tornou possível pela atuação dos militares no Amazonas. No início do século passado, a elite intelectual do Amazonas era formada pelos milita-res do Clube da guarda Nacional do Amazonas, entidade fundada em 5 de setembro de 1906 e que possibilitou a criação da Escola Universitária Livre de Manáos, em 1909, conforme atesta a filósofa. “Os militares do Clube da guarda ti-nham curso superior e precisavam criar uma escola para formar seu pessoal e dar continuidade a essa elite. Sem eles, não existiria a Escola Universitária Livre de Manáos, porque não é possível criar uma Universidade sem pessoas forma-das”, assevera a professora.Entre os militares do Clube da guarda Nacional do Amazonas, um tornou-se o mentor da Escola, o tenente-coronel mineiro joaquim Eulálio gomes da Silva Chaves. Engenheiro de formação, ele foi o idealizador da Escola Universitária Livre de Manáos, sendo responsável pela elaboração e publicação de seus estatutos e por todo seu processo de reconhecimento junto aos órgãos competentes. “Todos os documentos, todas as atas eram feitos por ele. Até mesmo as reuniões eram realizadas em sua casa”, disse Rosa.

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Eulálio Chaves, de fato, fez a diferença. Isso porque a motivação original do Clube da guarda Nacional do Amazo-nas era criar uma escola prática militar que propiciasse o desenvolvimento profissional de seus associados e cultivasse as ciências auxiliares da arte da guerra. A fundação da Escola Militar Prática do Amazonas se deu em 10 de novembro de 1908, em sessão presidi-da por Eulálio Chaves. Seis dias depois, o tenente-coronel reuniu a diretoria do clube para reformular a instituição, transformando-a em Escola Livre de Instrução Militar do Amazonas, cuja instalação ocorreu em 28 de novembro de 1908, com dois cursos, sendo um preparatório e outro superior, destina-dos à instrução militar de oficiais da guarda Nacional e de outras milícias. Os cursos, contudo, já eram abertos a todos os brasileiros. Pouco mais de dois meses depois, novamente por indica-ção de Eulálio Chaves, a escola militar se transformaria na Escola Universitária Livre de Manáos, tendo como diretor-geral, cargo equivalente ao de reitor, o capitão Pedro Botelho da Cunha.Pelos serviços prestados à instituição, o tenente-coronel joaquim Eulálio go-mes da Silva Chaves foi homenageado com o título de Diretor Honorário Perpétuo da Universidade de Manáos. Os registros de sua história na institui-ção, conforme levantado pela profes-sora, terminam em 1913, quando ele pede exoneração de suas funções, ato recusado pela Congregação do Clube

da guarda Nacional. “Imaginamos que ele deve ter ido embora de Manaus, pois não encontramos mais registros seus. É possível que tenha havido um mal estar entre ele e Pedro Botelho da Cunha, interpretação permitida a partir da leitura das atas, mas não podemos afirmar”, especula a professora.

velha Jaqueira,o elo do centenárioNesses cem anos de universidade, a Faculdade de Direito representa o elo entre a Escola Universitária Livre de Ma-náos e a Ufam. Mantida por doações, a Escola Universitária Livre de Manáos, transformada em 1913 em Universida-de de Manáos, passou a sofrer grave crise com o declínio do período áureo da borracha, esfacelando sua estrutura universitária aos poucos. Em virtude disso, sua congregação geral concedeu, em 1917, autonomia didática à Facul-dade de Ciências jurídicas e Sociais, antecessora da Faculdade de Direito, que passou a funcionar isoladamente e buscar sua autonomia e estadualiza-ção, desligando-se definitivamente da Universidade de Manáos em 1921.Em seu livro “Da Escola Universitária Livre de Manáos à Universidade Federal do Amazonas”, lançado em 2004 pela Edua, por ocasião dos 95 anos da Ufam, a professora Rosa Mendonça assegura que a saída da Faculdade de Ciências jurídicas e Sociais da Universi-dade de Manáos suscitou dúvidas e dis-sabores, levando à desestruturação da

instituição como sistema universitário. “A partir desse episódio, outras facul-dades foram fechadas e a universidade ia, cada vez mais, desestruturando-se, até extinguir-se em 1926, mesmo ano de falecimento de Astrolábio Passos, seu reitor durante quase toda a exis-tência da instituição”, destaca.No momento crucial da extinção da Universidade de Manáos, somente três estabelecimentos permaneceram funcionando como unidades isoladas de ensino superior: a Escola Agronô-mica de Manáos (antiga Faculdade de Engenharia), extinta em 1943; a Faculdade de Farmácia e Odontologia (antiga Faculdade de Medicina), extinta em 1944, e a Faculdade de Direito (antiga faculdade de Ciências jurídicas e Sociais). Em 1936, já de posse do prédio situado à Praça dos Remédios, doado pelo governo do Estado do Amazonas, e após amplo processo de adequação a normas e a adaptações em sua estru-tura, a Faculdade de Ciências jurídicas e Sociais foi transformada em estabe-lecimento oficial de ensino superior do Amazonas, tornando-se, em 1940, Faculdade de Direito do Amazonas. Assim, a “Velha jaqueira”, como seus estudantes carinhosamente a chama-vam, foi a única unidade originária da Escola Universitária Livre de Manáos que não parou de funcionar nesses cem anos de história. Com a criação da Fundação Universi-dade do Amazonas (FUA), por meio

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1906: Fundação do Clube da guarda Nacional do Ama-zonas.1908: Fundação da Escola Militar Prática do Amazonas, criada pelo Clube da guarda Nacional. No mesmo ano passou a se chamar Escola Livre de Instrução Militar do Amazonas.1909: Escola Livre de Instrução Militar do Amazonas transforma-se em Escola Universitária Livre do Amazonas, por inspiração do tenente-coronel Eulálio Chaves.- 1º diretor-geral, Pedro Botelho da Cunha (1909-1910).

Linha do tempo 19

00

| | joaquim Eulálio Chaves.Idealizador e Diretor Honorário

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da lei federal 4.069-A, assinada pelo presidente joão goulart, a partir de projeto elaborado pelo então depu-tado federal Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Filho, a Faculdade de Direito do Amazonas foi incorporada à estrutura da instituição de ensino superior que a FUA tinha como missão criar e manter: a Universidade do Amazonas. Esta última, por sua vez, seguindo de-terminação de seu Conselho Diretor, foi instalada no dia 17 de janeiro de 1965, em homenagem à Escola Universitária Livre de Manáos, da qual a Faculdade de Direito era originária, assumindo a data de fundação da primeira universi-dade brasileira, bem como seu selo de identificação, o mesmo usado até hoje, salvo alguns ajustes no nome e layout.Assim, por seu funcionamento ininter-rupto nesses cem anos, a Faculdade de Direito constitui o elo entre a Escola Universitária Livre de Manáos e a Universidade do Amazonas, que, em 2002, a partir da lei federal 10.468, proposta pelo senador Bernardo Ca-bral, passou a se chamar Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

a retomadaNa história do centenário, o caráter de Universidade, perdido com a extinção da Universidade de Manáos, em 1926, só foi retomado com o surgimento da UA, que já em 1962, com a criação da FUA, previa uma estrutura com-posta pela Faculdade de Direito do

Amazonas, Faculdade de Engenharia, Faculdade de Farmácia e Odontologia, Faculdade de Filosofia, Ciências e Le-tras e a Faculdade de Ciências Econô-micas do Amazonas. A UA, desta vez como fundação mantida pela União, tinha, na ocasião, o professor Aderson Andrade de Menezes como reitor. Renascia, assim, uma história que novamente mobilizaria professores, intelectuais, políticos, governantes, beneficiando a sociedade amazonense. A instalação das Faculdades de Medici-na, Farmácia e Odontologia, em 1966, ilustra bem a ligação da Universidade com a população do Estado. “É que o Amazonas está carecendo, urgentemente, de médicos, dentistas e de farmacêuticos para atender à população que se localiza no interior e vive ali, sem assistência regular ou mesmo irregular daqueles profissionais. Sinto na carne, como governador, a gravidade desse problema.”. Conforme atestado em “Da Escola Universitária Livre de Manáos à Universidade Federal do Amazonas”, tais palavras iniciavam a justificativa do pedido do governador de então, Arthur César Ferreira Reis, enviado em 1964 ao reitor da UA, professor Aderson de Menezes, para que fossem criadas as Faculdades de Medicina, Odontologia e Farmácia, oferecendo-lhe todas as condições para isso, entre elas, o Hospital getúlio Vargas, para que nele funcionassem escolas, enfermarias e centro médico.

Em 1966, as referidas faculdades passavam a funcionar no grupo Escolar Plácido Serrano, em terreno contínuo do Hospital getúlio Vargas, cedido, mediante convênio, pelo governo do Estado. No parecer favorável à insta-lação dessas faculdades e também da Faculdade de Engenharia, apresentado por André Vidal de Araújo ao Conselho Universitário, após solicitação enviada já pelo reitor jauary guimarães de Souza Marinho, visando adequar a UA às Diretrizes e Bases da Educação da época, argumentava o conselheiro: “Uma Universidade está ligada à vida de uma comunidade, à sua sociedade, ao seu mundo vital e cultural. Tudo o que se fizer para que a Universidade do Amazonas seja uma realidade concreta, faremos certos de estar construindo para a grandeza do Amazonas”. Em 1968, com a incorporação da Escola de Serviço Social André Araújo, a estrutura da Universidade do Ama-zonas passou a ser a seguinte: Facul-dade de Direito do Amazonas, com o curso de direito; Faculdade de Estudos Sociais, com os cursos de economia, contabilidade e administração; Facul-dade de Filosofia, Ciências e Letras, com os cursos de filosofia, matemática, pedagogia, química, letras e serviço social; Faculdade de Engenharia, com o curso de engenharia civil; Faculdade de Medicina, com o curso de medicina; Faculdade de Farmácia e Odontologia,

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1910: Instalação dos cursos, em sessão solene presidida pelo governador Antônio Clemente Ribeiro Bittencourt. - 2º diretor-geral, Dr. Astrolábio Passos (1910-1926).

1910

| | grupo Escolar Saldanha Marinho, local de instalação da Escola Universitária Livre de Manáos, 1910.

| | Solenidade de colação de grau dos primeiros bacharéis em Ciências jurídicas e Sociais 1914.

1912: Colação de grau da primeira tur-ma de formandos, composta por dez odontólogos, oito farmacêuticos e três agrimensores. Entre os 21 formandos, sete eram mulheres.1913: Mudança de nome para Univer-sidade de Manáos.

1914: A Faculdade de Direito, en-tão Faculdade de Ciências jurídicas e Sociais, forma seus 20 primeiros bacharéis.

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com os cursos de farmácia e odonto-logia.

Ufam hojeAtualmente composta por 18 unida-des acadêmicas, sendo cinco delas no interior, a Ufam reúne mais de 25 mil alunos, distribuídos em 96 cursos de graduação na capital e 31 no interior, em 39 cursos de pós-graduação, sendo 31 mestrados, nove doutorados e mais de 30 especializações, além dos cursos de educação à distância. A universida-de mantém cerca de 343 projetos de pesquisa, com 163 grupos de pesquisa reconhecidos pelo Conselho Nacio-nal de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e 394 de extensão, beneficiando aproximadamente 850 mil pessoas da comunidade. Presente no interior do Estado desde 1976, quando implantou seu primeiro Pólo no município de Coari (Pólo Mé-dio Solimões), a partir de 2005 passou a desenvolver o programa Ufam Multicampi, com ações sistemáticas que levaram à implantação de cinco unidades acadêmicas permanentes no interior do Estado, com corpo docente e administrativo próprios e 31 cursos de graduação assim distribuídos:Instituto Natureza e Cultura de Benjamin Constant: antropologia,

administração, ciências agrárias e am-bientais, pedagogia, licenciatura dupla em química e biologia e licenciatura dupla em letras (português e espanhol);Instituto de Agronomia e Ambiente de Humaitá: engenharia ambiental, agronomia, licenciatura dupla em ma-temática e física, licenciatura dupla em biologia e química, licenciatura dupla em letras (língua portuguesa e inglesa) e pedagogia;Instituto de Saúde e Biotecnologia de Coari: nutrição, fisioterapia, en-fermagem, biotecnologia, licenciatura dupla em química e biologia e licencia-tura dupla em matemática e física;Instituto de Ciências Exatas e Tec-nologia de Itacoatiara: engenharia de produção, sistemas de informação, ciências farmacêuticas, química indus-trial, licenciatura dupla em matemática e física e licenciatura dupla em biologia e química;Instituto de Ciências Humanas, Edu-cação e Zootecnia de Parintins: zoo-tecnia, comunicação social, pedagogia, administração, serviço social, educação física e artes plásticas.O crescimento da instituição nesta década, sobretudo na pós-graduação (que saiu de cinco cursos stricto sensu credenciados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

1920

1960

1970

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1926: Desativação da universi-dade. As faculdades de Direito, Odontologia e Agronomia passa-ram a funcionar como unidades isoladas mantidas pelo Estado. Destas, somente a Faculdade de Direito continuou.

1962: Surgimento da Universi-dade do Amazonas (UA), por meio da criação da Fundação Universidade do Amazonas (FUA).1963: Instalação do primeiro Conselho Diretor da FUA.1964: Conselho Diretor da FUA decide que a data de instalação da UA seria a mesma da de criação da Escola Universitária Livre de Manáos, adotando também seu selo de identifica-ção original.1965: Instalação da UA.

1972: Incorporação da Escola de Serviço Social, fundada em 15 de janei-ro de 1941, doação do Dr. André Vidal de Araújo e de sua mulher, Milbur-ges Bezerra de Araújo.1975: Instalação do Campus Universitário, no bairro do Aleixo, em Manaus.1976: Implantação do primeiro Pólo no municí-pio de Coari (Pólo Médio Solimões).

Galeria de reitores

Pedro Botelho da Cunha: 1909-

1910

Astrolábio Passos: 1910-1926

Aderson Andrade de Menezes:

1964-1965

Jauary Guimarães de Souza

Marinho: 1965-1970

Aderson Pereira Dutra: 1970-1977

Octávio Hamilton Botelho

Mourão: 1977-1984

Roberto dos Santos Vieira: 1985-

1989

Marcos Luis Barroso Barros:

1989-1993

Nelson Abrahim Fraiji: 1993-1997

Walmir de Albuquerque Barbosa:

1997-2001

Hidembergue Ordozgoith da

Frota: 2001-2005 e 2005-2009

Page 31: Revista 12

amazonas faz ciência I 31

Superior (Capes/MEC), no início de 2001, para os atuais 39), foi atribu-ído pelo atual reitor, Hidembergue Ordozgoith da Frota, ao investimento sistemático da universidade, desde os anos 70, em seu quadro docen-te (composto atualmente por 400 doutores). “Nos últimos 10 anos, a Ufam mudou significativamente seu perfil acadêmico, com maior participa-ção nas atividades de pós-graduação, pesquisa e extensão. Devemos esse resultado ao retorno dos professores à Ufam, após formação em programas de doutorado de outros Estados”, disse Frota, na abertura da solenidade que celebrou o centenário, em 17 de janeiro deste ano.Ao longo de sua história, a instituição de ensino já teve 11 reitores. Como Escola Universitária Livre de Manáos e posteriormente Universidade de Mana-ós, foi administrada por Pedro Botelho da Cunha (1909-1910) e Astrolábio Passos (1910 a 1926). Como Univer-sidade do Amazonas (UA), e poste-riormente Ufam, foram nove reitores, sendo cinco bacharéis em direito, dois em medicina, um em comunica-ção social e um em engenharia civil. O professor Roberto Vieira (1985-1989) foi o primeiro reitor eleito pela comunidade acadêmica, no início da

1990

2000

1997: Incorporação da Escola de Enfermagem.

2002: Universidade do Amazo-nas passa a se chamar Univer-sidade Federal do Amazonas, (Ufam).2005: Implantação das unidades acadêmicas do interior. 2009: Comemoração do cente-nário.

Primeiras universidades brasileiras

1909: Escola Universitária Livre de Manáos

1911: Universidade de São Paulo

1912: Universidade do Paraná

1920: Universidade do Rio de janeiro (primeira universidade federal brasileira)

Ufam hojeUnidades Acadêmicas 18

Órgãos Suplementares 14

Cursos de graduação 96

Cursos de graduação no interior 31

Cursos de Mestrado 31

Cursos de Doutorado 8

Vagas nos cursos de graduação 4.812

Alunos de graduação (presencial) 22.200

Alunos de graduação (EaD) 1.741

Alunos de Mestrado e Doutorado 1.100

Professores com Doutorado 400

grupos de Pesquisa (CNPq) 163

Projetos de pesquisa 343

Projetos de extensão 394

Público alcançado pelos projetos de extensão 850.000

Profissionais formados no interior 6.545

área construída e em construção 200.000 m2

redemocratização do país, seguido por Marcus Barros, Nelson Fraiji, Walmir de Albuquerque Barbosa e Hidembergue Ordozgoith da Frota. à comunidade universitária só nos resta dar os parabéns!

| | Construção da Escola de Enfermagem

a n i v e r s á r i o ||

Page 32: Revista 12

|| e n t r e v i s t a

Da utopia à realidade

As organizações e governos preci-sam incorporar as experiências dos diversos movimentos sociais, em especial o indígena e o camponês, protagonistas nas lutas sociais na Amazônia, se quiserem contribuir efetivamente para a construção de um novo modelo de civilização, para isso processando a fusão do pensamento marxista às carac-terísticas particulares dos povos do mundo, em uma nova cultura chamada ecossocialismo. A análise é do professor Michael Löwy, cientista social brasileiro graduado pela Universidade de São Paulo (USP) e radicado na França, que dirige o Centre National de la Recherche Scientifique. O cientis-ta concedeu entrevista à Agência Fapeam, em Manaus, em atividade pré-Fórum Social Mundial, cuja

nona edição foi realizada em Belém (PA), de 27 de janeiro a 1° de feve-reiro de 2009. Para Löwy, a esquerda precisa encontrar o ponto de convergência entre as mobilizações camponesas, indígenas e o movimento urba-no para atacar o capitalismo. Se, porém, até agora, o socialismo fracassou nessa meta, tampouco o ambientalismo alcançou algo parecido.

Agência Fapeam - Quando começou a

estruturar o ecossocialismo como uma

nova corrente de pensamento teórico

marxista?

Michael Löwy - O ecossocialismo é uma

corrente de pensamento e de ação, ao

mesmo tempo, que apareceu já nos

anos 1970 e 1980, mas que tem se

O cientista social

Michael Löwy, do Centre

National de la Recherche

Scientifique, em Paris, veio

ao Brasil para o Fórum Social

Mundial (FSM), no intuito de

discutir com os movimentos

sociais presentes perspectivas

reais de um novo modelo de

civilização

POR MICHELLE PoRTELA

I n.° 12, JanEiro a abril dE 200932

Page 33: Revista 12

amazonas faz ciência I 33

Da utopia à realidade

desenvolvido mais na última década.

Parte da ideia de que uma ecologia que

não seja socialista, isto é, que não colo-

que a questão de superar as estruturas

fundamentais do sistema capitalista, é

um beco sem saída. Ao mesmo tempo,

um socialismo que não é ecológico, que

ignora a questão do meio ambiente,

não está à altura dos desafios do século

XXI.

O projeto do ecossocialismo é de

desenvolver uma síntese teórica e

prática entre os objetivos históricos do

movimento operário, do movimento

dos trabalhadores, a luta pelo socialis-

mo e a movimentação em defesa do

meio ambiente, do equilíbrio ecológico

do planeta. Se trata de associar esses

dois elementos e colocar perspectivas

de uma nova sociedade, ou melhor, de

um novo paradigma de civilização, em

que se encontram, ao mesmo tempo,

as ideias fundamentais do socialismo

– a propriedade coletiva dos meios de

produção, a planificação democrática

da produção e consumo – e a ideia fun-

damental de ecologia – a planificação e

gestão democrática feitas em função de

critérios ecológicos.

Há alguns anos, eu e Joel Covel, outro

pesquisador marxista, publicamos

o primeiro Manifesto Ecossocialista

Internacional, posteriormente assina-

do por pessoas de vários países. Daí

nasceu a ideia de um encontro inter-

nacional, que ocorreu em Paris, há um

ano, com a participação de europeus e

americanos, sobretudo norte–america-

nos. Naquela ocasião, foi decidido por

uma nova carta de Belém, em função

do Fórum Social Mundial.

Agência Fapeam - Qual a crítica marxis-

ta dos ecossocialistas?

ML - Para (Karl) Marx e (Friedrich)

Engels, a questão do meio ambiente

não estava colocada da mesma maneira

dramática como no século XXI. Mas

aparece. A ideia deles indica que o

progresso capitalista é destruidor do

meio ambiente, destruidor do solo, em

particular. A principal crítica que nós,

marxistas ecológicos, fazemos é que,

para eles, o socialismo era, sobretudo,

uma transformação das relações de

propriedades e de produção, enquanto

que as forças produtivas, o maquiná-

rio, a técnica de produção, as fontes

de energia e os aparelhos criados pelo

capitalismo seriam as mesmas dentro

do socialismo. Simplesmente sua

gestão não seria privada do capitalismo

em função do lucro, mas coletiva e

democrática em função dos interesses

da sociedade. Nós acreditamos que a

transformação revolucionária neces-

sária implica em mudar não somente

as relações de produção e propriedade,

mas as próprias estruturas do aparelho

produtivo.

As transformações são muito mais glo-

bais. O que precisa mudar é a relação

de propriedade, o aparelho produtivo,

as fontes de energias, o sistema de

transporte, a estrutura urbana, os

padrões de consumo. O que está em

jogo é mudar o paradigma de civiliza-

ção. A civilização industrial, capitalista,

moderna e ocidental chegou a um beco

sem saída, está conduzindo a huma-

nidade a uma catástrofe inimaginável.

Então, o desafio colocado é imenso:

mudar um paradigma de civilização.

Para isso, Marx e Engels nos dão mui-

tos elementos, mas obviamente, eles

não tinham respostas para tudo.

Agência Fapeam - Há avanços concre-

tos na construção dessa nova civiliza-

ção?

ML - Os países de capitalismo avança-

do são os principais responsáveis pela

destruição ambiental. Os governos

europeus propuseram soluções, porém

ineficazes. O Protocolo de Kyoto tem

uma grande virtude de introduzir a

ideia de que são necessários acordos

internacionais baseados em objetivos

claros, com cifras precisas, para as

reduções de emissões. É um passo

adiante ao método dos Estados Unidos.

No Protocolo, há algumas restrições.

Obrigações tão tímidas e fracas que não

enfrentam o problema. Não conseguem

impor aos empresários a necessidade

de cumprir com suas obrigações. Cada

governo pede concessões em nome

do princípio da competitividade, que

é o novo dogma capitalista. Cada um

defende sua indústria e as metas de

redução não são cumpridas. O acordo

de Kyoto é muito fraco, é como dizer

“daqui a 30 anos vamos fazer coisas

extraordinárias”. É sempre melhor um

discurso positivista. Já vencemos a

batalha científica de que o efeito estufa

existe e o aquecimento global está se

acelerando. É consenso, à exceção de

grupos ligados à indústria petroleira. E

o governo americano, que era reticente,

foi obrigado a reconhecer. A batalha foi

ganha, mas existem cientistas famo-

sos que publicam teses marginais. A

batalha não é sobre a realidade dos

fatos, mas sobre o que fazer. Nos países

da periferia, como a China, não se

fazia nada com a desculpa que os EUA

não se comprometiam. Isso vai mudar

porque o novo governo vai assinar o

Protocolo e os demais países devem

acompanhar. Com isso, os outros

países de terceiro mundo vão participar.

Com diferenças, claro, porque se sabe

que os principais responsáveis são os

países do Norte. Isso seria um progres-

so, naturalmente.

Agência Fapeam - Como está organiza-

do o movimento ecossocialista?

ML - Existem as pessoas que estão

organizadas em movimentos ecosso-

cialistas, como no Brasil e na Grécia,

onde existe uma rede, além da rede

internacional. São coisas pequenas, que

agrupam algumas centenas de pessoas.

O mais importante é que os movimen-

tos sociais estão tomando consciência

Page 34: Revista 12

das questões colocadas pelo ecossocia-

lismo. Por exemplo, a rede camponesa

internacional está discutindo ques-

tões próximas ao que chamamos de

ecossocialismo e já há quadros que se

posicionam como tal. O mais importan-

te é que não se usa o termo ecossocia-

lismo, mas as pessoas estão se colocan-

do às questões socialistas, solidárias,

diferentes do socialismo real, da União

Soviética, que foi um fracasso total.

Também no ponto de vista ambiental,

é uma proposta que está começando a

fazer seu caminho, mas ainda temos

muito trabalho pela frente.

Agência Fapeam - Como o professor vê

a conjugação dos movimentos sociais

com a luta ambiental para a construção

política, especialmente considerando o

debate sobre a Amazônia?

união entre os povos indígenas e cam-

poneses. Cada combate, por exemplo,

de lutar contra o que as multinacionais

estão fazendo nas florestas, é parte

da luta ecossocialista. Sabemos que o

transporte rodoviário é um dos maiores

poluidores do planeta. A questão que

se coloca é desenvolver o transporte

público gratuito como alternativa ao au-

tomóvel. Há uma relação entre a utopia

socialista e as lutas concretas que vão

se dando no campo e na cidade.

Agência Fapeam - A Amazônia seria

o terreno mais fértil para a construção

dessa nova experiência?

ML - Viemos trazer nossa mensagem:

as soluções capitalistas para o meio

ambiente fracassaram. Às questões

ambientais mais dramáticas, como o

aquecimento global, as respostas dos

governos e das empresas são inefica-

mental para o Brasil, a humanidade e

os povos. É o que chamamos de poço

de carbono. Se não fosse por ela, já

teríamos entrado num processo de

aquecimento global catastrófico. A des-

truição da Amazônia coloca em perigo

o conjunto da humanidade. É de inte-

resse direto das populações que vivem

na Amazônia. O problema é conjugar o

interesse concreto com o universal.

Os inimigos são os interesses do agro-

negócio, das multinacionais, para os

quais a floresta é fonte de mercadoria

ou, simplesmente, para criar gado ou

plantar soja, o que seja. Há um enfren-

tamento fundamental e, infelizmente,

o progresso destrutivo do capitalismo

está ganhando. A destruição da floresta

não apenas não se reduz como avança,

e a avidez destruidora é muito mais

agressiva e eficaz do que as tentati-

vas limitadas de proteger e defender

a região. Infelizmente, há apoio dos

governos locais nesse aspecto, como

ocorre no Mato Grosso, que dá ajuda

oficial ao processo de destruição. Se

continuar desse jeito, daqui a alguns

anos boa parte da floresta vai acabar e

vamos ter de tirar o verde da bandeira e

colocar cinzento, que é a cor da fumaça.

Agência Fapeam - Em vários países

foram eleitos presidentes com origem

|| e n t r e v i s t a

I n.° 12, JanEiro a abril dE 200934

Ecossocialismo divulgado pelo pesquisador radicado na França indica que novos paradigmas ambientais devem ser pensados a partir de vieses coletivistas, pautados em interesses de populações rurais, ribeirinhas e indígenas

ML - A experiência do Chico Mendes

(líder seringueiro assassinado em

1989) e da Aliança dos Povos da Flores-

ta (articulação entre índios, seringuei-

ros e ribeirinhos em defesa da floresta)

é apaixonante. Foi um exemplo de

como partimos de uma questão muito

concreta até conseguir articular uma

aliança entre indígenas, seringueiros e

outros para defender a floresta contra

a destruição. O próprio Chico e seus

companheiros tinham uma visão socia-

lista, claramente. Por isso é importante

compreender que o ecossocialismo não

é uma visão de futuro, mas que está

nas lutas concretas de agora, como essa

de se defender a floresta a partir da

zes. Nosso primeiro objetivo é elevar

a consciência anticapitalista, fazer en-

tender que o capitalismo é um sistema

intrinsecamente perverso e leva à des-

truição do meio ambiente, promovendo

catástrofes. Outro objetivo é mostrar

que existem alternativas, como o ecos-

socialismo. Agora, é uma discussão que

não pode ser abstrata, tem que partir de

movimentos concretos, reivindicações

concretas. Queremos dialogar com

movimentos indígenas, campesinos

e outros, para, por um lado, trazer a

nossa visão, por outro, aprender com

eles. Sobretudo escutar para aprender e

se enriquecer com o conhecimento do

outro. A questão amazônica é funda-

Page 35: Revista 12

amazonas faz ciência I 35

na esquerda. Como o professor vê esse

novo quadro?

ML - Em geral, alguns desses governos,

como Venezuela, Bolívia, Equador, têm

avançado na reflexão sobre a questão

ecológica. Na prática, é mais difícil. A

Venezuela depende do petróleo. Há

uma contradição que é a mesma de

Evo Morales, na Bolívia. Quem está

colocando a proposta mais interessante

é Rafael Corrêa, no Equador. Desco-

briu-se uma bacia de petróleo em uma

reserva indígena e o presidente sugeriu

que, se os países do norte indenizas-

sem o país, não exploraria. Mas muitas

nações não aderiram e as discussões

continuam internamente.

Os países da Europa são os que mais

colocaram a questão ecológica. De

certa maneira, as castas europeias são

mais sensíveis, até que se prejudiquem

os seus interesses. Isso mostra os limi-

tes da consciência ecológica das classes

dominantes.

No último encontro do G8 discutiu-se

a questão ambiental. A Europa se pro-

pôs colocar cifras concretas na redução

de gás carbônico e outros países, como

os Estados Unidos, aceitaram apenas

discutir a questão. Nicolas Sarkozy,

presidente da França, incluiu a palavra

“seriamente” e ficou por isso. A visão

deles é determinada pela lógica do

sistema. Isso não quer dizer que se

houver uma pressão social forte, os

países não precisam responder.

Agência Fapeam - E sobre a experiência

concreta no Brasil? O governo brasi-

leiro tratou a questão ambiental com a

devida seriedade?

ML - A luta do movimento ecológico é

para tentar defender a floresta contra

o processo de destruição. O objetivo é

esse, de diferentes formas. Não posso

fazer um balanço da política brasileira.

Só posso constatar que a Marina Silva,

ex-ministra do Meio Ambiente, que

era a pessoa que levava esse tema mais

a sério, fez um balanço e pesou que

não tava dando, por isso se demitiu,

inclusive, num momento simbólico

em que a gestão da Amazônia foi

tirada dela e entregue a um tecnocrata

chamado Roberto Mangabeira Ünger,

ministro de Assuntos Estratégicos e

coordenador do Plano Amazônia Sus-

tentável (PAS), que está interessado no

desenvolvimento capitalista. Portanto,

a ecologia é uma preocupação menos

importante. Passar de Marina para

Mangabeira é um retrocesso, no ponto

de vista ecológico, espetacular. É uma

luta que vai depender da capacidade de

mobilização dos movimentos sociais.

Agência Fapeam - Como a questão

árabe toca ao senhor, que além de ser

um estudioso de Walter Benjamin teve

a oportunidade de trabalhar em Israel,

seu país de origem, no momento em

que a Faixa de Gaza está sob ataque?

ML - Sou de origem judaica, tenho

família lá e acho muito preocupante

o que acontece. Não tenho simpatia

pelos fundamentalistas islâmicos, mas

o que Israel fez foi um crime. Um

massacre em que centenas de crianças

e inocentes foram vítimas. O que re-

solve o problema é respeitar os acordos

que foram fechados e não cumpridos,

permitindo aos palestinos terem seu

Estado. Mas, infelizmente, as políticas

não têm caminhado nesse sentido.

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Page 36: Revista 12

|| s a ú d e

Avanços e desafios para 2009

Em dezembro do ano passado, após assinatura de convênio entre Conselho Nacional de Desenvol-vimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ministério da Saúde (MS) e sete Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (FAPs) do país, estava finalizada a primeira tarefa para a consolidação da Rede de Malária no Brasil, uma estratégia interestadual de combate à doença, cujo edital foi lançado no início de abril de 2009. A ação ocorreu a partir de uma iniciativa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) em conjunto com as FAPs do Pará (Fapespa), Maranhão (Fape-ma), Mato Grosso (Fapemat), Minas Gerais (Fapemig), Rio de Janeiro (Faperj) e São Paulo (Fapesp).

Em 30 de janeiro de 2009, aconte-ceu em Manaus a entrega da minuta para a concretização do edital de formação dos Núcleos de Excelência em Pesquisa (Pronex) em Malária, em cada um dos sete Estados. O objetivo dos núcleos é a pesquisa em torno da doença. Atualmente, após a recente aprovação do edital da Rede, notou-se um forte indica-tivo de que a pesquisa acerca dessa questão na Amazônia está prestes a avançar de forma significativa e decisiva.

“Agora é esperar pelas sugestões de ação via edital. Cada proposta deverá incluir pesquisadores de

quatro Estados, envolvendo pelo menos três Estados da Amazônia Le-gal”, afirma o diretor-presidente da Fapeam, Odenildo Sena. “Vivemos um momento único no tocante ao fomento de pesquisas sobre a malá-ria na Amazônia e 2009 será crucial para formarmos a Rede”, completou ele.

O Comitê Gestor do CNPq en-cerra em 30 de junho o julgamento para a formação de Núcleos de Excelência na área da Malária no País. Com isso, pesquisadores que apresentarem propostas até a data poderão integrar a Rede, a qual será estabelecida após esse prazo. Para os especialistas que almejarem partici-par do grupo, a documentação es-pecificando detalhes sobre seu grupo deve ser enviada até antes do primeiro semestre. A perspectiva é que a partir de 1º de agosto deste ano, os trabalhos teóricos e práticos se iniciem de fato, levando em con-sideração a articulação interestadual sugerida.

Todas as atividades aqui descritas, delimitadas desde fins de 2008, dão uma mostra de que a Rede de Malá-ria será uma importante iniciativa no enfrentamento da doença, que em 2007 atingiu mais de 200 mil pessoas no Brasil, de acordo com dados da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS). “Estamos em cons-tante contato com o vetor. Todos

||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||

Rede Malária

Rede Malária tem R$ 30

milhões para financiar as

primeiras pesquisas integra-

das sobre a doença, segundo

números do edital de abril

de 2009. As pesquisas serão

prioritariamente voltadas ao

desenvolvimento de vacinas

e mapeamento genético dos

vetores da doença, além do

aprimoramento de serviços

de atendimento à população

POR RENAN ALBUQUERQUE

I n.° 12, JanEiro a abril dE 200936

Page 37: Revista 12

amazonas faz ciência I 37

nós aqui da Amazônia. Por isso, essa Rede irá ajudar a fortalecer as pesquisas para combater a doença”, diz Wanderli Pedro Tadei, cientista do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), que há mais de duas décadas estuda o tema.

Tadei é enfático na afirmativa porque em todas as suas apresen-tações sobre a doença, seja em simpósios, seminários ou encon-tros menos formais, não se furta a divulgar que a malária, uma doença infecciosa potencialmente grave, é o mal parasitário mais importante do mundo, pois acomete mais de 500 milhões de indivíduos por ano, com 120 milhões de casos clínicos e de 1,5 a 2,7 milhões de óbitos, no mesmo período. Do total de casos de malária notificados no país todos os anos, 99% são registrados na Amazônia, segundo dados do Minis-tério da Saúde (MS).

Para o diretor-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Pará (Fapespa), Ubira-tan Bezerra, a iniciativa da Rede de Malária deve ser trabalhada em escala nacional. “A ideia com a qual trabalhamos é a da ampliação de esforços”, disse.

O diretor-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Maranhão (Fapema), Sofiane Labidi, destacou que na área de ações con-tra a malária já existem iniciativas bem sucedidas, como a do Progra-ma Pesquisa em Saúde – Gestão Compartilhada (PPSUS), e a Rede vem a ser um instrumento a mais para alavancar os estudos em saúde no Estado.

Financiamento e regras do editalO período de financiamento aos

projetos selecionados será inicial-mente de três anos, podendo ser estendido de acordo com os resul-tados apresentados, após avaliação. No quadro acima, o detalhamento sobre os recursos financeiros previs-tos para o período de 2009 a 2011.

As propostas devem conter os seguintes requisitos: 1) ser apre-sentada sob a forma de projeto de caráter interregional e interinstitu-cional com objetivos e metas claras que envolvam melhoria de infra-estrutura; 2) prever a formação de novos pesquisadores e profissionais; 3) criar novo conhecimento e/ou tecnologia; e 4) contribuir para a formação de recursos humanos.

fontEs dos rEcUrsos (Em r$ milhõEs)

Fonte 2009 2010 2011 Total – R$

FapeamFapespaFapemaFapematFapemigFaperjFapesp

Total FAPs

300.000300.000300.000100.000500.000500.000500.000

2.500.000

300.000300.000300.000100.000500.000500.000500.000

2.500.000

400.000400.000400.000300.000500.000500.000500.000

3.000.000

1.000.0001.000.0001.000.000500.0001.500.0001.500.0001.500.000

8.000.000

CNPq 3.500.000 3.500.000 4.500.000 11.500.000

Ministério da Saúde

3.000.000 3.000.000 4.000.000 10.000.000

TOTAL 9.000.000 9.000.000 11.500.000 29.500.000

Rede Malária

Segundo aponta documento re-gistrado junto ao CNPq, que orienta as Fundações a receberem sugestões de pesquisa, cada FAP lançará seu edital convocando os pesquisadores interessados em participar da Rede de Malária e orientará os proponen-tes na apresentação das propostas.

Os temas gerais de pesquisa são: 1) Estudos sobre a biologia, ecolo-gia e controle de vetores potenciais da malária; 2) Biomarcadores para avaliar susceptibilidade e resistência à infecção malárica no hospedeiro humano; 3) Vacinas; 4) Caracteri-zação molecular das populações de parasitos circulantes no hospedeiro vertebrado e no vetor; 5) Quimiote-rapia antimalárica; 6) Clínica, epi-demiologia e controle da malária; e 7) Diagnóstico.

Page 38: Revista 12

I n.° 12, JanEiro a abril dE 200938 I n.° 12, JanEiro a abril dE 200938

Aproximando sonhos da realidade

|| i n t e r i o r i z a ç ã o

fotos: michEllE PortEla

Page 39: Revista 12

amazonas faz ciência I 39amazonas faz ciência I 39

Aproximando sonhos da realidade

Oferta de cursos de nível superior

no interior do Amazonas inspira

jovens a transformarem suas vidas,

quebrando paradigmas sociais e

superando estigmas e preconceitos

POR MICHELLE PoRTELA

||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||

O sol estava a pino na cidade de Benjamin Constant, sede do município localizado a 1.116 quilômetros de Manaus, capital do Amazonas, próximo à tríplice fronteira com o Peru e a Colômbia, no Alto Solimões, quando fogos de artifício animaram a cidade no dia 3 de fevereiro de 2008. O burbu-rinho comum em época de festejos de santos e padroeiros tomou conta das ruas e residências. Porém, ninguém se dirigia à igreja ou praças, mas ao porto, onde chegavam, de recreio, embarcação comum ao transporte fluvial na Amazônia, Francisco Olímpio de Souza e Ciderjânio Farling Salvador da Costa, os primeiros “filhos da terra” a conquis-tarem a posição de professores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), com a distinção de um nobre adjetivo: concursados. Ao desembarcarem, foram recebidos com sorrisos e abraços por familiares, amigos, trabalhadores das embarcações, autoridades e “um ou outro desconhecido”, como gostam de contar em tom de brincadeira. Tudo ao som de “Los Dál-matas”, a banda de carnaval que eles mantêm com amigos e para a qual compõem marchinhas, atividade interrompida sequer pelos estudos para o concurso universitário. Tamanha distinção é resultado de um sonho. “Desde criança só pensamos em contribuir para o progresso do nosso município e em sermos professores universitários. Aqui nós vivemos. queremos que esse seja um lugar melhor para todos, com melhor distribuição de renda, onde haja respeito aos direitos e à democracia”, diz Francisco. A trajetória dos dois jovens professores universitários se confunde. Os pais não concluíram o ensino básico, mas sustentaram suas famílias em meio às dificuldades. “Meu avô trabalhava como serviços gerais em uma escola e meu pai passou a vida cubando madeira. Me tornei o orgulho da família quando fui aprovado no vestibular da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) para o curso de ciência polí-tica”, recorda Francisco, numa afirmação que também serve a Ciderjânio.

| | Professores indígenas buscam diploma de nível superior na UEA, em Tabatinga, enquanto ex-alunos Ciderjânio Farling Salvador e Francisco Olímpio comemoram aprovação no concurso para professores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam)

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Uma vez no curso, ambos decidiram não desistir, mesmo diante da neces-sidade de suas famílias por ampliar a renda, muitas vezes suprida pela dedicação dos familiares. Precisavam se deslocar de Benjamin Constant ao município vizinho, Tabatinga, a 1.110 quilômetros de Manaus, onde está ins-talado o pólo da UEA na região, o que aumentava as despesas. A atitude, eles acreditam, se deve ao fato de terem plena fé de que a busca pelo diploma de nível superior é um investimento irreversível. “Tentamos inspirar a juven-tude com a ideia de que a educação ainda é o caminho, principalmente para longe da pressão que o narcotrá-fico exerce na região onde vivemos”, avalia Ciderjânio. No caminho para o diploma, insistiram no trabalho com jovens em pastorais católicas na cidade, sem esquecer o objetivo principal. Com o diploma em mãos, o sonho estava mais perto. Com a abertura de vagas para o curso de Administração no Instituto de Natureza e Cultura (INC) da Ufam em Benja-min Constant, ele se tornou possível. “Estudamos com dedicação e tivemos êxito. Além de sermos um orgulho para nossas famílias, no dia em que retor-namos, já aprovados, nossa recepção mostrou que também somos um orgu-lho para o município. Foi comovente ver a comunidade vibrar com nosso sucesso”, destacou Ciderjânio. Além de professor, Francisco já alcan-çou a posição de vice-coordenador do INC, sem esquecer a administração de Los Dálmatas e as pastorais voltadas à juventude. Afinal, a ideia é tornar a vida acadêmica parte da vida social e comunitária, e vice-versa. “Por isso não nos permitimos perder os laços com a UEA, escola que nos proporcionou a grande chance de nossas vidas”, reco-nhece Ciderjânio, que segue na carreira de professor. Como acadêmicos, começam a se des-cobrir pesquisadores. já almejam cursar mestrado e doutorado, mesmo que

signifique não morar no município por alguns anos. A realização da reunião regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em Ta-batinga (ver matéria, p. 43), para eles, demonstra reconhecimento ao esforço realizado na região. “Os trabalhos apresentados foram desenvolvidos com o mesmo rigor acadêmico. Em nada deixamos a desejar aos outros centros de estudos do Amazonas ou do País”, avalia Chico. O sucesso profissional tem inspirado os professores a alçar novos voos. Se era para tornarem-se líderes a partir do curso de Ciência Política, por que não se candidatar a cargos eletivos? Foi exatamente o que fez Francisco Olímpio nas últimas eleições, quando não foi eleito a vereador por apenas 42 votos. “Ainda não desisti. Pelo contrá-rio, comecei. Ainda vamos administrar essa cidade”, avisa. Diante de tamanhas conquistas, Francisco se permite uma reflexão, com olhos de quem enxerga um futuro cheio de realizações. “Só estamos estreitando o sonho da realidade”.

futuro Sonhar não é uma atitude incomum no Alto Solimões. Aluna do curso de licenciatura em Biologia da UEA em Tabatinga, Carina Maciel Ocampo, 23, está de olho em alguns dos mestrados e doutorados oferecidos pelo Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa). “É um grande sonho cursar pós-graduação no Inpa”, afirma. A estreia no campo da pesquisa cien-tífica se deu no âmbito do Programa Amazonas de Iniciação Científica (Paic), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). Somente na UEA de Tabatinga, há 14 projetos de pesquisa sendo desenvolvi-dos pelos acadêmicos, orientados pelos professores dos cursos de licenciatura em: letras, biologia, pedagogia, mate-mática e geografia. Na edição anterior, foram oito pesquisas, já concluídas.

Orientada pela professora Maria Del Pilar, médica veterinária e doutora em ciência veterinária, ela pesquisou o potencial de plantas nativas usadas para tingir fibras encontradas na região da comunidade ticuna Bom Caminho, em Benjamin Constant. As fibras, por sua vez, são usadas na produção de artesanato. “A comunidade onde tra-balhei abriga as últimas mulheres que ainda preparam suas tintas para tingir as fibras. De modo geral, já se usa tinta industrializada”, diz Carina. O estudo foi bem recebido pela comu-nidade, que vê na informação sobre saberes, documentada por Carina, a oportunidade de registrar elementos de sua tradição para gerações futuras. “Disseram que será bom para mostrar para os jovens, no futuro, porque os de agora já não guardam essa prática”, avalia a jovem pesquisadora. Para os professores interessados em descobrir novos talentos para a pesqui-sa, o cenário no Alto Solimões é para-disíaco. “Oportunidades como o Paic são fundamentais para que os alunos descubram o prazer da pesquisa e do próprio potencial”, afirma a professora Maria Del Pilar. Mais do que se descobrir “pessoas de laboratório”, os estudantes podem influenciar transformações sociais, mesmo que de longo prazo. Uma das pesquisas orientadas por Pilar revela o quanto essa relação é possível. O estudo identificou plantas tóxicas encontradas na área urbana de Ta-batinga, muitas vezes, nos jardins da

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| | Carina e a pesquisadora Maria Del Pilar investigaram saberes indígenas

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casa. “Comigo-ninguém-pode”, por exemplo, é um tajá tão nocivo quanto frequente, apesar dos inúmeros relatos pessoais sobre queimaduras e irritações na pele. “quando dizemos que essas plantas são tóxicas, as pessoas não percebem a gravidade da situação. A questão cultu-ral ainda é um fator decisivo no modo de vida das pessoas”, explica Pilar, ressaltando que há 12 espécies tóxicas encontradas regularmente na cidade. Ao revelar aspectos culturais, as pesqui-sas apresentam novos elementos sobre o modo de vida na região, que podem orientar as políticas públicas desenca-deadas nos municípios. César Augusto Melo Moreira, 21, e Wellington Fernando Ribeiro de Moura, 32, ambos estudantes de biologia, desenvolveram trabalhos distintos, porém complementares, sobre hábitos alimentares na várzea e na terra firme, respectivamente. Para isso, adquiriram e aprenderam a manusear equipamen-tos específicos, como gPS e google Earth, usado para localizar e identificar aspectos ambientais e ecológicos da região. Descobriram, por exemplo, que há um intenso comércio entre as comu-nidades “da beira” e as “do centro”. “Direcionado para suprir o que não se encontra em uma área ou outra, como peixe ou caça”, explica César Augus-to, que desembarcou em Tabatinga, vindo de Amaturá, município a 1.046 quilômetros de Manaus, após passar no vestibular. Além disso, identificaram como restri-ções alimentares afetam a vida nessas comunidades. “Na terra firme já não há mais caça e o comércio é uma das poucas saídas para eles. Em algumas épocas, a alimentação fica mais difícil porque não se come peixe-liso, pois a superstição diz que eles dão doença de pele. Por isso, precisam esperar a piracema para voltar a pescar”, explica Wellington.

Uma outra pesquisa desenvolvida pela estudante de biologia Helen Rodrigues da Silva, 24, mostra como as mudanças de comportamento podem afetar a economia do município. Ela e outros colegas realizaram palestras de edu-cação ambiental nas escolas do bairro Dom Pedro I, um dos mais populosos de Tabatinga, para tentar reduzir o despejo de lixo na orla da cidade. No decorrer do trabalho, percebeu-se que, para conquistar mentes, era pre-ciso provar que o desperdício poderia ser transformado em lucro. “Identifica-mos na comunidade uma pessoa que reciclava garrafas PET para transformar em flores artificiais e cortinas. quando começamos a mostrar o trabalho nas palestras, o número de pessoas pre-sentes cresceu e o interesse também”, ressalta Helen Rodrigues. Para a coordenadora do Comitê Cien-tífico da UEA em Tabatinga, Iatiçara Oliveira da Silva, a oportunidade de iniciar na pesquisa pode ser decisiva na vida dos estudantes. “É perceptível a mudança na postura acadêmica dos alunos quando ingressam num projeto de pesquisa, pois tornam-se mais comprometidos e entusiasmados, algo muito bem vindo na universidade”, avalia. Para o diretor-presidente da Fapeam, Odenildo Sena, a transformação social no Alto Solimões é reflexo da revolu-ção silenciosa em curso no Amazonas. “Com a oferta de cursos pela UEA e Ufam, mudamos a correlação de forças nesses municípios. Estamos formando profissionais que podem contribuir para o desenvolvimento da região, come-çando a fazer ciência e transformando conhecimento em produtos”, avalia. Outro aspecto ressaltado por Sena é quanto aos investimentos realizados pela Fapeam, por meio de projetos de pesquisa e fixação de doutores, a partir de programas específicos, direciona-dos ao interior do Amazonas. “Temos recursos aplicados em todos os mu-nicípios do Estado. Fazemos isso com

a certeza de que esses investimentos tem um propósito visívil e apresentam resultados observáveis na prática. Essa é uma cadeia que vai trazer desenvol-vimento qualitativo ao Amazonas”, indicou.

Educação indígena “Sabíamos que o projeto faria a univer-sidade crescer”. Com a frase, Cons-tantino Ramos Lopes, 43, presidente da Organização geral dos Professores Ticunas Bilíngues, resume os resultados obtidos para a Universidade do Estado do Amazonas com a realização da Licenciatura para Professores Indígenas do Alto Solimões, em parceria com o Ministério da Educação, via Programa de Formação Superior e Licenciaturas Indígenas (Prolind). Este é o único curso de graduação para professores indíge-nas ministrado no Brasil dentro de uma aldeia, a Aldeia Filadélfia, no município de Benjamin Constant. O próprio projeto do curso foi uma proposta da OgPTB, apresentada à reitoria da UEA ainda em 2004. Após um ano, com a resposta de que o curso seria finalmente oferecido, recebeu 800 cópias da ficha de inscrição, sem devolver uma delas sequer sem estar preenchida. “Eu recebia ligações de todo o Estado me pressionando sobre o curso e foi uma felicidade quando foi aprovado”, diz Constantino. A graduação, atualmente na sexta etapa, é ministrada por professores da

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| | Para Constantino, curso de Licencitura Indígena fez UEA crescer

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Universidade do Estado do Amazonas, da Organização geral dos Professo-res Ticunas Bilíngues (OgPTB) – que também atuam como tradutores - e de diversas universidades do Brasil con-tratados pelo programa. No período das férias escolares, professores índios dos seis municípios do Alto Solimões mudam-se temporariamente para a aldeia Filadélfia, alguns com a família, onde participam do curso durante um mês, em um Centro de Formação de Professores conhecido como “Torü Nguepataü”, que significa “Nossa Casa de Estudo”.“Nada é imposto pelo pensamento acadêmico. A cooperação entre as competências da UEA e as indígenas forma um processo que se articula entre as políticas de ensino, propician-do uma ampla discussão e inovação dos processos de pesquisa que incluem educação diferenciada”, explica a reito-ra Marilene Corrêa.Participam 250 alunos das etnias ticu-na, cocama, caixana e cambeba, todos professores nos municípios de Benja-min Constant, Tabatinga, São Paulo de Olivença, Amaturá, Santo Antônio do Içá e Tonantins. As primeiras cinco etapas representa-ram a formação básica. A partir desta sexta etapa, os alunos já estarão sepa-rados por habilitação. O curso é divido em três áreas, que compreendem seis habilitações. Na área de Estudos de Linguagem, as habilitações são: Licen-ciatura em Língua Indígena, Língua Portuguesa, Espanhol e Literatura; na área de Ciências da Natureza e Mate-mática, as habilitações são: Licenciatura Plena em Biologia e química, Licencia-tura Plena em Física e Matemática; na área de Ciências Humanas, as habilita-ções são: Licenciatura Plena em História e geografia e Licenciatura Plena em Antropologia, Sociologia, e Filosofia.“Pensamos em um currículo que aliasse os nossos saberes tradicionais aos acadêmicos, por isso entendemos que antropologia e filosofia são disciplinas

que nos ajudam a pensar nosso mun-do, assim como em todas as outras culturas. queremos que os professores sejam capazes de apresentar, nos seus planos de ensino, uma metodologia que incorpore a realidade da aldeia ao conteúdo programático”, explica Constantino. Ao associar saberes, Constantino acredita que superou barreiras antes consideradas intransponíveis, mas reco-nhece que ainda há muito a construir. “Se antes as escolas eram dirigidas por militares, atualmente todas as escolas indígenas são dirigidas por professores indígenas. Essa turma que se formará na universidade é história e vai contri-buir decisivamente para o progresso no Alto Solimões”. Cerca 15 mil alunos indígenas da região do Alto Solimões serão benefi-ciados diretamente com a qualificação desses professores. O curso de Licencia-tura para Professores Indígenas do Alto Solimões reforça o compromisso assumido pelo governo do Estado (Lei 2.894 de 31/05/2004) quanto à forma-ção superior da população indígena e visa atender à necessidade de profis-sionais capacitados e habilitados para o exercício da docência nas séries finais do Ensino Fundamental e Médio, em escolas indígenas.Somente no “Torü Nguepataü”, que foi construído em 1993, com recursos do Fundo Indígena da Bacia Amazônia (Fida), foram realizados cursos que formaram 242 professores no Ensino Fundamental e outros 212 no Ensino Médio. Entre eles, os professores indí-genas que logo serão diplomados no nível superior.

mudança de cursoDe acordo com josé Roberto Faria, novas expectativas surgem para a UEA no Alto Solimões. “O objetivo é mudar. Oferecer novos cursos que atendam às necessidades da população, como Turismo e Administração, que, acredita-mos, serão muito bem recebidos”, ava-

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| | Salas de aula lotadas por professores indígenas no Torü Nguepataü, “nossa casa de estudo”

lia. Mais do que uma simples mudança curricular, Faria explica que a proposta é reunir um time de profissionais com perfil para além da docência, aplicados também à pesquisa. “queremos tornar a UEA de Tabatinga o centro mais pro-dutivo da universidade”, ressalta. Em se tratando de um município cos-mopolita, por onde passam brasileiros, colombianos, peruanos, indígenas de vários grupos étnicos, a busca pelo nível superior começa a determinar os rumos das oportunidades profissionais. “É importante alimentar esse desejo social numa cidade que sofre influência nacional e internacional”, finaliza Faria.

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Com o tema “Conhecimento na fronteira”, a Reunião Regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada entre os dias 17 e 20 de março de 2009, no município de Tabatinga, reuniu a comunidade acadêmica do Amazonas, em especial a dos municípios do Alto Solimões, e contou com a parti-cipação de pesquisadores e estudantes do Peru e da Colômbia, países que fazem fronteira com o Brasil na região. O evento foi preparatório para a 61ª Reunião Anual da SBPC, que será realizada de 12 a 17 de julho, em Manaus. Desde dezembro do ano passado, a equipe de organização do evento realizou uma série de visitas ao município e reuniões para a preparação do encontro, sediado no campus da Universidade Federal do Ama-zonas (Ufam). A programação científica foi composta por conferências, mesas-redondas e minicursos voltados aos diversos públicos (estudantes, professores, pesquisadores e sociedade). Para a reitora da UEA, Marilene Corrêa, a reunião representou uma oportuni-dade para que as comunidades interioranas pudessem tratar, com o auxílio do conhecimento científico, de assuntos que dizem respeito ao seu cotidiano. “Essa reunião revestiu-se de uma importância estratégica, em função da interação com as instituições de pesquisa da tríplice fronteira. É a contribuição da UEA e da comunidade científica para a interiorização do conhecimento”, sintetizou. De acordo com a secretária adjunta da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnolo-gia (Sect) e membro da comissão organizadora do evento, Maria Olívia Ribeiro, a Sect articulou-se com representantes institucionais de modo a garantir a partici-pação das instituições locais na realização da reunião científica. Ela destacou que ao visitar os municípios envolvidos na preparação do evento constatou o interesse dos prefeitos pelo tema do evento e o seu conteúdo. “Foi de suma importância o envolvimento que aconteceu por parte das prefeitu-ras. Isso nos impulsionou a aumentar a integração, mostrando para os dirigentes locais a relevância que ciência e tecnologia tem para alavancar o desenvolvimento dos municípios, o que, aliás, fez parte do debate durante a reunião regional”, acrescentou. Maria Olívia destaca que a Reunião Regional de Tabatinga teve a marca de ser o primeiro evento de um conjunto de atividades que acontecerão este ano ligadas à C&T, tanto na capital quanto no interior. “Ela antecedeu a Reunião Anual da SBPC, que vai acontecer em Manaus e a Semana Nacional de C&T no Amazonas, cujo mote principal é a interiorização das atividades”, disse, fazendo referência ao fato de em 2008 terem sido realizadas, durante a Semana, atividades diretas em 31 municípios do Estado, além da capital, e outros 30 envolvidos com pro-gramação indireta. “A meta é ampliar sempre mais a participação dos municípios por meio de ações diretas”, avaliou. O evento foi organizado pela Sect, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), além das prefeituras de Tabatinga, Benjamin Constant e Amaturá. (Com informações da Ascom/UEA/Fapeam/SECT)

União para o progresso da ciênciaPara o secretário de Estado de Ciência e Tecnologia, josé Aldemir de Olivei-ra, interiorizar ciência e tecnologia é expressão de ordem no processo de consolidação de políticas públicas para o Amazonas. “Se não interiorizarmos as políticas, elas demoram muito mais para chegar àqueles a quem realmente devem atingir: o povo. Algumas ações já foram feitas e vêm obtendo suces-so, como a ampliação da UEA para o interior, a criação dos campi da Ufam, os projetos financiados pela Fapeam e a capacitação tecnológica pelo Cetam. Na prática, além do estreitamento de relações com as prefeituras, mere-ce destaque o programa Amazonas Digital, que melhorou a comunicação com as cidades do interior. Na ação a Sect participou junto com Secretaria de Estado do Planejamento (Seplan), Centro de Processamento de Dados do Amazonas (Prodam) e os Centros de Vocação Tecnológica. A atividade gera informação científica, articula as já existentes na comunidade, e foca no modelo produtivo”, avalia Oliveira.

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A Amazônia é um imenso laboratório que precisa ser explorado. Na floresta, há promessas de encontrar princípios ativos e proteínas que prometem mudar a forma atual de se tratar as doenças que afetam a humanidade. Diversas pesquisas científicas têm de-monstrado o potencial que a biodiversi-dade amazônica possui e os benefícios que podem ser proporcionados não param por aí, uma vez que a floresta presta grandes serviços ambientais, como o armazenamento do carbono e a distribuição de chuvas, sendo que esta afeta todo o país. Contudo, ações antrópicas vem ameaçando tais benefícios. Ao longo dos anos, a floresta amazônica tem sofrido com queimadas, derrubadas de árvores para pastagem, grilagem de terras, grandes empreendimentos sem licença ambiental e agroindústria, os quais apontam para a tomada de medidas urgentes que demonstrem a importância da conservação da floresta em pé. O governo federal, por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), apro-vou seis Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) para o Amazonas – um deles em parceria com a UFSC – que prometem ajudar no processo. Elaborados por cientistas renomados da Universidade do Estado do Ama-zonas (UEA), da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), os projetos são denomina-dos: Brasil Plural - Novas Realidades

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Amazonas dá salto em qualidade na

pesquisa científicaEstado teve seis propostas

de Institutos Nacionais de

Ciência e Tecnologia (INCTs).

Investimentos chegam

a R$ 30 milhões

POR LUÍS MANSUÊTo

Brasileiras: a Amazônia e o Sul do País; INCT de Energia, Ambiente e Biodiver-sidade; Centro de Estudos de Adap-tação da Biota Aquática da Amazônia (Adapta–Amazônia); Centro Nacional de Pesquisas e Inovação de Madeiras da Amazônia; Centro de Estudos Inte-grados da Biodiversidade Amazônica (Cenbam); e Instituto Nacional de Servi-ços Ambientais da Amazônia (Senvam). Os institutos tentarão demonstrar o quanto a floresta é valiosa em pé. Os INCTs receberão R$ 30 milhões, sendo R$ 11,6 milhões da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Ama-zonas (Fapeam) e o restante do CNPq. Os recursos poderão ser implemen-tados em um período de três anos e serão aplicados em questões científicas importantes para a região e o Brasil: os serviços ambientais da floresta, a exploração sustentável da madeireira, a biodiversidade e a busca de subs-tâncias que possam ajudar na cura de doenças, além da formação de mestres e doutores. Com isso, o Estado dará um salto em qualidade na produção do conhecimento científico. Segundo o diretor-presidente da Fape-am, Odenildo Teixeira Sena, a aprova-ção só foi possível porque os pesqui-sadores da região alcançaram um nível elevado de competitividade na área de Ciência e Tecnologia (C&T).

os incts O INCT de Energia, Ambiente e Biodiversidade será coordenado pelo professor josé Carlos Verle Rodrigues,

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da Universidade do Estado do Ama-zonas (UEA), e estará focado em três áreas principais. A primeira é a produ-ção de derivados de microorganismos, uma vez que se tem estudado muito a Amazônia, ou seja, a fauna e flora, sendo a microbiologia ainda uma área de interesse fortíssima. A segunda é entender as causas da poluição e mini-mizar os problemas gerados por ela à saúde humana. Por último, os cientistas que fazem parte do grupo trabalharão com a questão da educação ambien-tal, dentro do contexto das mudanças climáticas. O novo INCT foi selecionado, segundo informações do CNPq, após a análise dos pedidos de recursos das propostas não aprovadas anteriormente. O Con-selho recebeu 56 pedidos de recursos que passaram por uma avaliação interna e pelas fundações estaduais de apoio à pesquisa, sendo elaborada uma proposta para o Comitê de Coorde-nação, que levou em consideração os argumentos apresentados pelos coordenadores, dentro dos termos do edital, e a disponibilidade de verbas para financiar os projetos.“Considero que os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia representam hoje os investimentos mais ousados do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) para o avanço da C&T no país. Eles envolvem muitos recursos. E isso vai representar para o Estado a conso-lidação da pesquisa”, avalia Odenildo Sena.

INCT Brasil Plural – Nesse mesmo contexto, Sena lembra a aprovação do Instituto coordenado pela professora Esther-jean Langdon, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o qual será gerenciado regionalmente por Deise Lucy Montardo (Ufam).O INCT Brasil Plural - Novas Realidades Brasileiras só foi possível devido à ar-ticulação de pesquisadores e das FAPs do Amazonas e Santa Catarina (Fapesc) e contará com um investimento de R$

2,4 milhões, sendo R$ 1,2 do CNPq, R$ 600 mil da Fapeam e R$ 600 mil da Fapesc. “O Brasil Plural resultou de um esforço nosso. Por que nos empenhamos? Por-que nele estão envolvidos pesquisado-res do Amazonas na área de antropo-logia. Vai representar um peso enorme essa parceria entre Fapesc, Fapeam e CNPq”, ressalta Sena.

Alinhado com temas prioritários – Centrada nas Diretrizes da Política Nacional de Biodiversidade, o Cenbam possui cinco componentes: conheci-mento da biodiversidade, conservação, uso sustentável, monitoramento e avaliação e mitigação dos impactos causados pelo homem. De acordo com a vice-coordenadora da proposta, Regina Luizão, é preciso conhecer para conservar, o que será possível por meio de uma rede de instituições do Acre, Rondônia, Mato grosso, Roraima e Amazonas. “Não é uma proposta do Inpa. É uma proposta para a Amazônia. A ideia é consolidar as pesquisas sobre biodiversidade, tornando-as mais com-petitivas, nacionalmente, para captação de recursos”, explica ela, acrescentan-do que é preciso quebrar o ciclo de que poucos na Amazônia conseguem recursos para seus projetos. Para o coordenador do Cenbam, William Magnussom, o problema da captação dos recursos ocorre porque as pesquisas biológicas não acontecem em cadeias de produção científica e tecnológica.“A produção do conhecimento está centrada no entorno dos maiores am-bientes populacionais do Norte. Neste caso, Belém e Manaus. Há um círculo vicioso no qual a falta de financiamen-to desestimula a fixação de recursos humanos qualificados em centros menores. Por isso, é preciso atuar em parceria com os núcleos regionais do Inpa, por exemplo, em Roraima, Ron-dônia e Acre, além das universidades e

órgãos de pesquisa do Amapá e Mato grosso”, afirma. O objetivo é capacitar pessoal em diversos níveis: assistentes de campo, alunos do ensino médio, básico e de pós-graduação e técnicos de laborató-rios. A infraestrutura também será re-adequada (via implemento de museus, herbários e coleções vivas) bem como a instalação e recuperação de equipa-mentos e laboratórios. O planejamento e execução das atividades serão reali-zados em colaboração com os usuários das informações, como os gestores de reservas biológicas, áreas de produção madeireira e órgãos responsáveis pela avaliação de impactos ambientais e monitoramento de áreas de influência de grandes obras.A valoração dos serviços ambientais prestados pela floresta é uma das gran-des questões discutidas atualmente por cientistas que trabalham com mudan-ças climáticas, por isso não poderiam ficar de fora dos estudos do Senvam, coordenado pelo cientista Philip Fearn-side. Ele ressalta que o problema é que, hoje, não há mecanismos institucionais para transformar os serviços ambientais em fluxos monetários para ocupar o lugar da destruição da floresta. Fearnside afirma a existência de iniciati-vas neste sentido, que são distantes de resolver a questão, pois faltam dados. A saída é a elaboração de políticas públicas voltadas para a contenção dos processos de desmatamento, gerados a partir da abertura de estradas ou mediante a criação de gado. Estas amenizariam o problema e seriam aplicadas diretamente à questão da biodiversidade. Ele salienta que esses cenários são trabalhados por seu grupo de pesquisa, com ênfase em aque-cimento global, papel da floresta no armazenamento do carbono e ciclagem de água, os quais afetam o planeta em larga escala. Para o vice-coordenador do Senvam, Paulo Maurício graça, o objetivo cen-

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tral é tentar entender o impacto do uso da terra nos serviços ambientais. Neste caminho, ele cita como exemplo um modelo desenvolvido pelo cientista da Universidade Federal de Minas gerais (UFMg), Britaldo Soares Filho, que permite avaliar os custos e benefícios das políticas públicas. “queremos aprimorá-lo para a região e, com isso, saber as vantagens da criação de uma Unidade de Conservação, o impacto da abertura de estradas e da construção de hidrelétricas”, destaca ele, adian-tando que dessa forma os recursos arrecadados poderão ser investidos em atividades sustentáveis. Em relação aos recursos humanos, graça diz que o novo instituto agre-gará cerca de 90 pesquisadores, entre estudantes de mestrado, doutorado e bolsistas de institucionais nacionais e internacionais (Panamá, Inglaterra, Peru, Bolívia, entre outros). Valorar o conhecimento foi um problema comum a todos os projetos submetidos ao CNPq, conta o vice-coordenador do Instituto que traba-lhará com a questão da inovação do uso da madeira, Estevão Monteiro de Paula. Ele explica que, quando se fala em gerar conhecimento, há variáveis relacionadas ao tempo de duração da pesquisa que vem sendo realizada e isto influencia diretamente no desen-volvimento de técnicas de processa-mento de madeira e equipamentos. Hoje, segundo Monteiro de Paula, o baixo rendimento da madeira dificulta a exploração e o manejo sustentável. Ele lamenta que quase 70% de uma tora seja desperdiçada após processa-da. Por isso, é fundamental aumentar a capacidade volumétrica para garantir a sustentabilidade do ecossistema. A atividade passa pela criação de um centro de treinamento e o fomento de parcerias com instituições públicas e empresas privadas para testar as tecno-logias que serão desenvolvidas.

No período de cinco anos, o Centro pretende dobrar o aproveitamento da madeira amazônica, uma das metas inseridas no objetivo número um do Plano Amazônia Sustentável (PAS), do governo federal. A informação é do coordenador do centro de estudos de inovações madeireiras, Niro Higuchi. O local será utilizado para desenvol-vimento de teses e dissertações de instituições como o Inpa, aulas práticas dos cursos de graduação em Engenha-ria Florestal das universidades Federal do Amazonas (Ufam) e do Estado do Amazonas (UEA), além do treinamento de técnicos de nível médio e superior da região amazônica. O espaço pode ser a última chance de aplicar as leis florestais brasileiras e consolidar o manejo florestal susten-tável na Amazônia, de acordo com Hi-guchi. “É a hora de recuperar o tempo perdido, caso contrário as previsões de desmatamento tendem a aumentar”, alerta.

Em buscado Eldorado O grande desafio atual dos cientistas que trabalham na Amazônia é encon-trar enzimas que possam ser usadas comercialmente e, dessa forma, com-pensar todo o investimento realizado. Avançou-se muito na pesquisa básica, por exemplo, com o levantamento dos tipos de organismos existentes em uma determinada região. Contudo, conhece-se pouco sobre a função dos organismos.Um exemplo é como eles respondem aos desafios ambientais naturais e aos impostos pelo homem. Também quem explica é o coordenador do Adapta Amazônia, Adalberto Luis Val. Ele salienta que há espécies de plantas, peixes e camarões que sobrevivem sob pressões ambientais. A teoria é que esses organismos possuem algo em comum que lhes permite viver nesses ambientes. “Precisamos descobrir o que é produzido por esses organis-mos que os protegem contra fungos, bactérias e vírus”, ressalta.

Os resultados da pesquisa já têm um destino certo: as informações serão utilizadas para criar novos produtos ou processos de forma a atingir o uso sustentável da biodiversidade. Para isso, o cientista explica que é preciso identificar a capacidade adaptativa e sensitiva face aos desafios ambientais, ou seja, se uma espécie possui alguma proteína, enzima ou hormônio que possa ser utilizado como indicador de mudança ambiental. Os dados serão armazenados em um banco de dados para identificação de produtos de valor comercial. Uma rede será formada para possi-bilitar a comunicação dos cientistas que contribuirão com o Adapta. Está prevista a participação de cerca de 60 pesquisadores, a maioria da Amazônia, além de Estados como Minas gerais, Rio de janeiro, São Paulo, Rio grande do Sul e Pernambuco, e de outros paí-ses como Austrália, Reino Unido, Espa-nha, Colômbia, Argentina, Alemanha e EUA. “Alguns já vinham trabalhando de forma isolada, mas agora aglutina-remos esforços para gerar informações de interesse comum”, explica. De acordo com Val, caso os pesqui-sadores consigam chegar ao final dos três anos com um produto, será um grande avanço. Ele diz que, no passa-do, descobriam-se remédios e enzimas pela obra do acaso. Hoje, precisa-se de propostas competentes. “quem sabe não descobriremos uma proteína nova em um camarão que vive na várzea durante o período da vazante”, espera.

EquipamentosmodernosOs INCTs permitirão avanços também em relação aos equipamentos utiliza-dos nas pesquisas científicas. Exemplo disso é o aparelho que será adquirido pelo Inpa para sequenciar o genoma de bactérias em 24 horas. Existem apenas dois desses na América do Sul, em São Paulo e no Pará. Outro avanço será em relação à instalação de um laboratório de bioinformática para manusear mi-lhões de genes simultaneamente.

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|| o leitor pergunta

a ciência responde

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Como surgiu a bomba atômica?lucas Phillipe

Durante o desenvolvimento da tecnologia nuclear, percebeu-se que dois isótopos (átomos com o mesmo número atômico e diferentes números de massa) eram físseis, ou seja, sua fissão nuclear produzia reações em cadeia, o 235U e o 239Pu. Um dos desafios dos cientistas envolvidos no projeto Manhattan, cujo objetivo era construir a bomba atômica, consistia em produzir uma grande quantidade de 239 Pu (plutônio) e obter urânio com maior taxa de 235 U. Em 16 de julho de 1945, o mundo conhecia a mais poderosa arma de guerra produzida pelo ser humano até então, fabricada pelos Estados Unidos da América. Em um deserto no Novo México, uma bomba contendo apro-ximadamente 6 kg de plutônio foi detonada gerando uma explosão equivalente a 20 000 toneladas de TNT (Trinitrotolueno, que é um explosivo). Nos dias 6 e 9 de agosto de 1945, as cidades japonesas de Hiroshi-ma e Nagasaki foram arrasadas por bombas atômicas semelhantes à detonada no deserto do Novo México, lançadas por bombardeiros norte-americanos. Cer-ca de 66 000 pessoas morreram imediatamente em Hiroshima. Respondeu: gutemberg Ferraro RochaProf. de química e Esp. em Educação Ambiental

Como o pirarucu consegue respirar fora da água? Kedma Cristine, 32, engenheira de pesca.

O pirarucu (Arapaima gigas) é um dos maiores peixes de água doce do mundo e considerado uma espécie pré-histórica. A palavra pirarucu é de origem indígena, onde pira significa peixe e urucu, vermelho. A maioria dos peixes respira pelas guelras (brânquias) dentro da água, entretanto o pirarucu respira o ar atmosférico, ou seja, vem à superfí-cie da água para respirar. O fato de respirar o ar atmosférico é possível por que o pirarucu possui a sua bexiga natatória modificada/adaptada, onde a mesma funciona semelhante a um pulmão humano. Após respirar o ar atmosférico, o pirarucu adulto (maior que 1,50m) consegue ficar debaixo d’água aproximadamente 20 minutos e o pirarucu jovem respira em intervalos de tempo menores.

Respondeu: gelson da Silva BatistaEngenheiro de Pesca, Mestre em Biologia de água Doce e Pesca Interior

foto: ansElmo d’affonsEca

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tarefas além do fórum social mundial 2009

|| artigo

A ‘marcha da abertura’ do 9° Fó-rum Social Mundial (FSM), nas ruas de Belém (PA), na tarde de 27 de janeiro, confirmou-se como largada triunfal de uma semana de ativismo global. Uma multidão de aproxima-damente 100 mil pessoas ostentou bandeiras e fez parceria animada com o calor e a chuva para produzir uma espetacular mistura das causas progressistas mundiais reunidas em um território transformado em possibilidade planetária de construir um outro mundo.

Até o dia 1° de fevereiro, os gran-des dilemas e desafios da humanida-de foram revisitados e discutidos em diferentes tons – dos mais ásperos aos mais serenos, mas todos com a marca da determinação. Para as delegações de 142 países represen-tantes de 5.808 organizações houve um indicador comum: a humanida-de vive um momento crítico. Está diante de dois caminhos, atender à nova proposta ou integrar o capitalismo global ou neoliberal. O

FSM de Belém tornou-se o lugar-referência para esse debate. Foram produzidos como resultado desse exercício três dezenas de documen-tos, resultantes das reflexões sobre os temas. São ideias animadoras para a tomada de posição a partir das cidades, das vilas, distritos, dos países e de segmentos. Todas com a possibilidade de serem articuladas com outros espaços e outras regiões do planeta. Não são receitas prontas e sim posições críticas compartilha-das por pessoas incomodadas com o atual modelo de vida neste planeta.

Em 2011, o Fórum Social Mundial acontecerá no continente africano. Falta definir qual o país sede. Será também um grande balanço dos dez anos de FSM e do seu futuro. A versão de Belém reforçou as críticas em andamento quanto a forma de condução desse laboratório social planetário, advertindo para o risco de ser transformado em ‘encontrão de intercâmbio’. Afinal, sua tarefa é outra. É promissor ver fundadores e

Ivânia Vieira *

“A construção permanente

desse protagonismo social

exige crítica e autocrítica. É o

que está sendo feito, embora

para uma parcela expressiva

da população participante

esse ato ainda seja difícil,

imperceptível, mas necessário

acontecer”

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tarefas além do fórum social mundial 2009

observadores do FSM intensificando o debate sobre o protagonismo des-se movimento. Nessa ação resiste a semente do grito da não acomoda-ção das coisas, do não aparelhamen-to e oficialização do fórum, que tem sido mais uma instância burocrática e previsível.

A construção permanente desse protagonismo social exige crítica e autocrítica. É o que está sendo feito, embora para uma parcela expressiva da população participante esse ato ainda seja difícil, imperceptível, mas necessário acontecer. Em paralelo, a série de cartas produzidas durante o FSM e aprovadas na assembleia das assembleias constitui um acervo à espera de ser conhecido por uma maioria e de ser transformada em eixo de luta do presente. Do Fórum Mundial Ciência e Democracia saíram algumas questões relevantes para o debate mais localizado, tais como:

- Reafirmar o conhecimento, inclusive a ciência, como herança comum da humanidade;

- O conhecimento e os métodos de sua produção podem resultar

tanto na emancipação e no bem de todos, quanto em dominação e opressão;

- Apoio aos regimes que garantam e promovam os sistemas de bens públicos e outros sistemas de re-compensa à inovação que não tem como premissa a criação de mono-pólios e a rentabilidade;

- O impacto da ciência e da tecno-logia forma uma parte importante das crises que assolam o mundo hoje: a crise econômica, a crise ecológica, a crise da segurança ali-mentar, da democracia e da guerra. É necessário aprofundar nossa com-preensão a respeito de como ciência e tecnologia são parte tanto dos problemas criados por essas crises, quanto de sua solução;

- É necessário reconhecer que os valores das comunidades científicas são moldados por processos his-tóricos e sociais. A autonomia e a responsabilidade social dos pesqui-sadores, bem como o caráter públi-co e universal da ciência, precisam ser preservados. Devem-se levar em conta, porém, as diversidades sociais de cidadãos nos processos

de tomada de decisões a respeito da ciência e da tecnologia, em todos os níveis;

- É absolutamente necessário mu-dar a situação de hoje, em que os interesses do mercado, o lucro das empresas, a cultura consumista e os usos militares são os principais ele-mentos que determinam os rumos da pesquisa científica e tecnológica;

- Sistemas de pesquisa colaborati-vos e participativos, de baixo para cima, precisam ser promovidos;

Por fim, o Fórum Mundial de Ci-ência e Democracia está nesse mo-mento trabalhando na construção de uma rede baseada na Internet e na realização de fóruns regionais em 2010 e na versão mundial de 2011. Eis uma pauta de agora do FSM para o universo da C&T. E, se pelo me-nos parte dela for encampada, uma ciência mais democrática começa a ter a sua base organizada.

*jornalista e professora do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), partici-pante do FSM-Belém

amazonas faz ciência I 49

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projetos concluídos

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PROgRAMA INTEgRADO DE PESqUISA

CIENTíFICA E TECNOLÓgICA

Projeto: Validação do manejo comuni-

tário da pesca extrativista em lagos

no município de Itacoatiara, Amazo-

nas.

Coordenadora: Maria gercilia Mota

Soares

Um dos principais resultados do projeto,

realizado em Itacoatiara, foi a geração de

uma base de dados integrados sobre a

composição da ictiofauna, das arbó-

reas da floresta de várzea, das macró-

fitas aquáticas/capins flutuantes e do

zooplâncton, a qualidade da água e as

práticas de exploração do manejo comu-

nitário da pesca. Os resultados se cons-

tituem em bases de informações sólidas

e caracterizam, em termos ecológicos,

a função desses lagos de várzea, tanto

daqueles que estão sob a ação do manejo

comunitário participativo (subsistência

de Comandá, Praia e Araçá; preservação

de Tracajá, Acari e Babaçu) como sobre

aqueles que não sofreram essa interven-

ção (Pucu e Purupuru).

PROgRAMA INTEgRADO DE PESqUISA

CIENTíFICA E TECNOLÓgICA

Projeto: Manejo de sementes de espé-

cies amazônicas

Coordenadora: Isolde Dorothea Koss-

mann Ferraz

A exploração dos recursos florestais

amazônicos, sob regime de rendimen-

to sustentável, requer multiplicidade

de investigações para consubstanciar

propostas viáveis de manejo. A deman-

da de informações sobre o cultivo das

espécies, a situação atual e perspectiva de

mercado, além do emprego na recupera-

ção de áreas degradadas são crescentes.

Diante disto, o projeto visou disponibilizar

informações sobre o manejo e uso de

sementes nativas da Amazônia (frutíferas

e florestais), bem como atuar na capaci-

tação de recursos humanos, em diversos

níveis de formação.

PROgRAMA INTEgRADO DE PESqUISA

CIENTíFICA E TECNOLÓgICA

Projeto: Lugar e cultura: a produção da

vida no Careiro da Várzea – AM

Coordenadora: Amélia Regina Batista

Nogueira

Compreender como e em quais condições

vivem os homens e mulheres do municí-

pio do Careiro da Várzea (AM), levando

em conta suas experiências locais. Esse foi

o objetivo da pesquisa “Lugar e Cultura:

A produção da vida no Careiro da Várzea

– AM”. Financiado pelo Programa Inte-

grado de Pesquisa Científica e Tecnológi-

ca (PIPT) da Fapeam, o projeto teve como

resultado a geração de conhecimento

sobre a organização das comunidades

que residem ao longo do município e a

caracterização das técnicas de constru-

ção de moradias, meios de transportes,

produção de alinhamentos e pesca.

PROgRAMA INTEgRADO DE PESqUISA

CIENTíFICA E TECNOLÓgICA

Projeto: Manejo sustentável e criação

de quelônios (Podocnemis sp.) por

comunidades no Estado do Amazonas

Coordenador: Henrique dos Santos

Pereira

O projeto teve como objetivo estudar os

parâmetros da dinâmica de populações

de tartaruga (Podocnemis expansa), tra-

cajá (Podocnemis unifilis) e iaçá (Podoc-

nemis sextuberculata) da região do Médio

Amazonas e rio juruá (AM), através de

experimentos de manejo extensivo de

ovos, filhotes e adultos e criação de que-

lônios por comunidades.

Por meio desse estudo, foi possível

promover a conscientização ambiental na

região do Médio Amazonas e estimu-

lar as comunidades a desenvolverem

alternativas economicamente viáveis e

sustentáveis de uso do meio ambiente,

diminuindo a falta de opção que leva

à depredação dos estoques naturais da

fauna.

PROgRAMA jOVEM CIENTISTA AMAzôNIDA

Projeto: o campo alimenta a cidade:

pesquisa sobre a produção agrícola

comercializada na feira de Tefé

Coordenadora: Ana Claudeise Silva do

Nascimento

O projeto teve como premissa identificar

os produtos agrícolas que são comer-

cializados na feira pública da cidade de

Tefé (AM), envolvendo os estudantes do

ensino fundamental no entendimento do

sistema de abastecimento alimentar da

cidade.

Entre as atividades do projeto, destacam-

se o monitoramento dos preços dos

produtos, inicialmente identificados em

períodos de seca e cheia ao longo de um

ano; e o encontro de professores e alunos

das escolas rurais e urbanas para o de-

senvolvimento de atividades de educação

ambiental. As reuniões tiveram como

objetivo promover a mudança de atitude

e o desenvolvimento do pensamento

crítico e reflexivo através da disseminação

das informações e conhecimentos cientí-

ficos básicos sobre o uso sustentável dos

recursos naturais.

PROgRAMA TEMáTICO

Projeto: Dinâmica da transmissão da

Leishmaniose Tegumentar Americana

(LTA) no Estado do Amazonas, Brasil

Coordenadora: Antonia Maria Ramos

Franco

O projeto teve como meta principal tentar

esclarecer a dinâmica de LTA em diversas

áreas do Estado do Amazonas, estudando

a composição faunística de flebotomíneos

vetores, bem como a caracterização da

circulação parasitária na área. O estudo fo-

cou a dinâmica da transmissão da doença

no assentamento Iporá, em Rio Preto da

Eva, uma vez que são escassas as infor-

mações sobre a epidemiologia na região,

considerada área endêmica em LTA.

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