Retrospectiva & Perspectiva
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A Revista Retrospectiva & Perspectiva é umapublicação especial lançada no XV SeminárioRegional do Educador, realizado de 14 a 18de março de 2010, como parte das comemo-rações dos 50 anos do curso de Pedagogia, 10anos da Faculdade de Educação (FACED) e 1ano do curso de Comunicação Social – Habi-litação em Jornalismo da Universidade Fede-ral de Uberlândia (UFU).
Universidade Federal de UberlândiaReitorAlfredo Júlio Fernandes NetoVice-ReitorDarizon Alves de AndradePró-Reitor de Pesquisa e Pós-GraduaçãoAlcimar Barbosa SoaresPró-Reitor de GraduaçãoWaldenor Barros de Moraes FilhoPró-Reitor de Desenvolvimento e SocialSinésio Gomide JuniorPró-Reitor de PlanejamentoValder Steffen JúniorPró-Reitor de Extensão, Cultura eAssuntos EstudantisAlberto Martins da CostaDiretora da Faculdade de EducaçãoMara Rúbia Alves MarquesCoordenadora do Curso de PedagogiaMaria Irene MirandaCoordenadora do Curso de ComunicaçãoSocial – JornalismoAdriana Cristina Omena dos SantosCoordenador do Programa de Pós-Gra-duação em EducaçãoCarlos Henrique de CarvalhoSecretária GeralRosane Cristina Oliveira Santos
EditoresGerson de SousaSônia Maria Santos
RedaçãoDiélen dos Reis Borges Almeida, FausienePereira Resende Victor, Francklin Vinicius deB. Tannús, Gabriela Mendonça Martins,Gabrielle Carolina Silva, Gustavo OliveiraSilva, Lucas Felipe Jeronimo, Maria ClaraSouza Parreira, profa. Mirna Tonus, PaulaArantes Martins, Paula Graziela, StellaVieira, Talita Martins dos Reis, TassianaNascimento Tavares.
RevisãoMirna Tonus
Foto CapaRicardo Ferreira de Carvalho
Foto Contra-capaMaria Clara Souza Parreira
Projeto GráficoRicardo Ferreira de Carvalho
Tiragem1.500 exemplares
ImpressãoImprensa Universitária da UniversidadeFederal de Uberlândia
Uberlândia, março de 2010Faculdade de EducaçãoAvenida João Naves de Ávila, 2121 –Campus Santa Monica – Sala 1G 156CEP 38400-902 – Uberlândia (MG)Site: www.faced.ufu.br
CARTA DO EDITOR
A proposta de lançar uma revista comemorativa aos 50 anosdo curso de pedagogia, 10 anos da Faculdade de Educação(FACED) e 1 ano do curso de Comunicação Social – Habilitaçãoem Jornalismo se fez como desafio para os estudantes dos cursosde pedagogia e de jornalismo. O objetivo era ir além do meroregistro histórico. Cada tema definido na pauta para a entrevistadeveria valorizar o testemunho de vida de homens e mulheresenvolvidos na história da fundação e desenvolvimento daUniversidade Federal de Uberlândia (UFU). O trabalhocertamente exigiu aplicação e esforço dos estudantes. E oresultado não poderia ser diferente.
A principal experiência de todo o processo para os jovensjornalistas e educadores em início de formação intelectual estáno seguinte diagnóstico: não se pode levar alguém aotestemunho sobre o passado sem evitar o mergulho dele naemoção. Recordar é trazer o sentimento de volta para o coração,no sentido etimológico da palavra. Engana-se quem afirma ser aentrevista somente um aspecto técnico no trabalho jornalístico.Ela se constitui no diálogo e na troca de sentimentos entre aspessoas que se propõem a exercitar a comunicação em todo oprocesso. No momento em que alguém é levado a exteriorizarparte da sua vida para o outro, ele deposita a confiança de que otestemunho será compartilhado de forma íntegra com asociedade. A prova está nos textos distribuídos nas 64 páginasdesta revista. É a história da UFU sendo desvelada em narrativasmergulhadas ora em sorrisos, ora em lágrimas, ora em conflitos,ora na esperança de futuro melhor.
A principal mudança para esses homens e mulheres é osignificado da história vivida. Os entrevistados elucidam comoconstruíram os fatos no passado, sempre empenhados e com todaa existência mergulhada na luta travada nas décadas finais doséculo XX. As mudanças sócio-econômicas em Uberlândiaseguiam consoantes as alterações na história do Brasil. A leitura,no novo contexto, exige nova análise no limiar da primeiradécada do século XXI. A mediação dessa leitura, comocontraponto aos valores do passado e do presente, écontextualizada pela experiência de vida e subsidiada pelamemória. E a luta travada para construir uma educação demelhor qualidade pública ressurge no testemunho comoindagações para avaliar o estado presente da própriauniversidade.
Será que os novos homens e mulheres conseguemcompreender o esforço e sacrifício realizados por muitos para afederalização da então Universidade de Uberlândia? Quais sãoos atuais desafios para a formação do pedagogo? Como traçar osdesafios da Faculdade de Educação com a implantação do cursode Jornalismo? As perguntas vão sendo encadeadas na mesmavelocidade em que as problemáticas desafiam novos olhares paraos campos de comunicação e educação. No movimento contínuoe circular da história, a Revista Retrospectiva & Perspectivaapresenta as faces da realidade da formação da UFU. Se o leitorconseguir reviver a luta desses sujeitos no decorrer da leitura dostextos nas páginas seguintes, o valor histórico dos testemunhos játerá sido alcançado.
Gerson de Sousa
Um Traço Histórico pelo Olhar PedagógicoDécada de 60 idealizava figura do“mestre” como reserva deconhecimento e modelo de moral.
Tassiana Nascimento Tavares Pág. 4-7
De aluna a coordenadora
Maria do Rosário atuou em várias áreas na Faculdade em quenasceu a Pedagogia.
Diélen dos Reis Borges Almeida Pág. 8-9
A idealização da FAFI
Ir. Ilar Garotti explica os acontecimentos que nortearam aautorização da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras emUberlândia.
Gustavo Oliveira Silva Pág. 10-12
A Pedagogia como realizaçãoLucia Helena Borges conta a experiência e dificuldades de estudarnos anos 60 a 70.
Gustavo Oliveira Silva Pág. 13-14
Compromisso com a EducaçãoMarly Bernardes Araújo testemunha desafiosvivenciados nos anos 80.
Paula Graziela Pág 15-17
‘Ser pessimista em Educação é um absurdo’Historiador José Carlos Araújo fisgado pela Educação analisa aPedagogia.
Francklin Vinicius Tannus Pág. 18-19
Carlos e FACED:uma mesma trajetória na UFU
“Faço Artes na rua, Economia em casa e Filosofia nos butecos”,brinca um dos funcionários mais antigos da Pedagogia.
Gabrielle Carolina Silva Pág. 20-21
A experiência de lidar com o ensino na escolaMaria Beatriz Vilela: a mudança, hoje,está na qualificação acadêmica: muitosdoutores sem pé no ensino
Gabriela Mendonça Martins Pág. 22-23
A complexidade de ser cordial
Desafio de Robson França era suprir ausência de envolvimentoefetivo entre docentes e discentes.
Paula Graziela Pág. 24-25
Viver com simplicidade e realizar sonhosDepoimento de Cândida Rosa revelamomentos de alma: quando o coração estáno leme.
Fausiene Pereira Resende Victor Pág. 26-27
As mudanças no perfil do alunoGuilherme Saramago: As alterações nas formas de ingresso exigemnovas práticas pedagógicas.
Maria Clara Parreira Pág. 28-29
RevistaRevistaRevistaRevistaRevistaRevistaRevistaRevistaRevistaRevistaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectivaRetrospectiva & Perspectiva & Perspectiva & Perspectiva & Perspectiva & Perspectiva & Perspectiva & Perspectiva & Perspectiva & Perspectiva & Perspectiva
A necessidade de formar educadores
Olga Damis: “consegui vivenciar no curso a relação teoria eprática”.
Talita Martins dos Reis Pág. 30-31
Faces da UFU: ontem e hoje
Pág. 32-33
Educação em debateEntrevista da Profª. Dra. Mara RúbiaAlves Marques – Diretora da FACEDpara o Prof. Dr. Geraldo Inacio Filho –Primeiro Diretor da FACED.
Pág. 34-37
Além do conteúdo: uma visão de mundoProfessora Flaviane Reis se torna canal de educação, quebra depreconceitos e paradigmas.
Talita Martins dos Reis Pág. 38-39
Reconstruindo a educaçãoPrimeiro diretor Geraldo Filho analisa os avanços obtidos com acriação da FACED.
Stella Vieira Pág. 40-41
Coerência para reestruturarMaior desafio de Maria Irene: quatro anos para mudar uma culturade cinquenta.
Fausiene Pereira Resende Victor Pág. 42-43
Empreendedorismo e educaçãoEx-diretora da Faculdade de Educação, Conceição Maria conta osegredo de suas gestões na UFU.
Gabrielle Carolina Silva Pág. 44-45
O norte da educação da UFU está na Faced
Reitor Alfredo Julio Neto atribui à unidade a responsabilidade deoferecer à instituição os métodos para enfrentar os desafiospedagógicos contemporâneos.
Mirna Tonus Pág. 46-47
Primeira Diretora eleita da FACED
Sônia Maria dos Santos: Um mandato dequatro anos exigiu dos diretores eleitos umanova concepção de gestão
Maria Clara Souza Parreira Pág. 48-50
Os caminhos da Pós-graduação
Coordenador Carlos Henrique Carvalho analisa comopotencializar o programa para colocar a produção emdebate.
Lucas Felipe Jerônimo Pág. 51-52
Destino ou acaso?
A publicitária Adriana Omena que se entregou à docência porpaixão às salas de aula e à comunicação.
Paula Arantes Martins Pág. 53-54
Jornalismo e a Educação: encontro
Diálogo contribui para formação do indivíduo e permite ainterdisciplinaridade, analisa Mirna Tonus.
Lucas Felipe Jerônimo Pág. 55-56
Um inovador
Professor Marcelo Soares Silva analisa o gestor público e sua gestãona FACED.
Francklin Vinicius Tannús Pág. 57-58
Sucesso acadêmico na maturidadeAos 52 anos, a aluna Geracilda Silva sedestaca na Pedagogia não pela idade,mas pela capacidade.
Diélen dos Reis Borges Almeida Pág. 59-60
Quatro anos e um desafioMara Rúbia conta como a FACED procura garantir a formação deprofessores.
Paula Arantes Martins Pág. 61-62
História do curso de Pedago-
gia no Brasil passa a existir
formalmente com a organiza-
ção da Faculdade Nacional de Filosofia da
Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro,
em 1939. Sua tra-
jetória, até ex-
pandir
para
Minas
Gerais
e, mais
especi-
fica-
mente,
Uberlân-
dia, é re-
sultado de
uma suces-
são de pro-
cessos eco-
nômicos e políticos.
A
Uberlândia, na década de 1950, era
marcada por acelerado desenvolvimento
produtivo e intensa industrialização. Com
sua expansão, cresce a necessidade e a
vontade da criação de uma escola de ensi-
no superior. O comércio, o transporte e a
pecuária foram
fatores que de-
terminaram
as particulari-
dades da ci-
dade.
A Uni-
versidade
de Uber-
lândia
(UNU)
tem seu
início
na música, com o
Conservatório Musical de Uberlândia,
criado em 1957. Na década de 1960, vêm
outras faculdades para completar: Filoso-
4 - XV Seminário Regional do Educador
PEDAGOGIA50 ANOS
FACED10 ANOS
JORNALISMO1 ANO
Prédio onde funcionou a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras
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Um traço histórico peloolhar pedagógico
Década de 60 idealizava figura do “mestre” como reserva de conhecimentoe modelo de moral
Tassiana Nascimento Tavares
fia, Ciências e Letras (1960); Direito
(1960); Economia (1962); Engenharia
(1965). E, ao longo da década de 1970,
vêm outras: Odontologia; Medicina Vete-
rinária; Educação Física; e a Escola de
Medicina e Cirurgia. Em 1978, era criada
a Universidade Federal de Uberlândia
(UFU).
Com todo esse progresso no ensino su-
perior, vários cursos são transferidos para
o campus Santa Mônica. Aí se fundamenta
o verdadeiro sentido da Universidade (uni
= um + versus = voltado), todos os cursos
voltados para o mesmo objetivo: aprender,
trocar experiências e adquirir melhores
condições intelectuais. Esta convergência,
em busca da verdade, é que resulta da
multiplicidade de saberes.
A Faculdade de Filosofia (FAFI) tem
início com os intelectuais da época. Preo-
cupados com os destinos culturais da cida-
de, eles pensaram em fundar uma faculda-
de na área de Humanas. Uma comissão
composta por padres procurou as irmãs do
Colégio Nossa Senhora para que elas as-
sumissem a responsabilidade da faculda-
de. E a ideia foi acolhida pela diretora e
pelas irmãs. O ensino superior da cidade,
então com o Conservatório de Música e a
Faculdade de Direito, se expande com a
FAFI. E assim, na década de 1960, o ensi-
no superior cresce e se torna essencial
para o desenvolvimento de Uberlândia.
Com a Faculdade de Filosofia vem o
curso de Pedagogia, no Colégio Nossa Se-
nhora das Lágrimas; desde 1960, com a
supervisão das madres. É, somente em
1965, que o curso se transfere para a
UNU. A Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras de Uberlândia, em 1965, contava
com os cursos de Letras e Pedagogia.
A década de 1960 contava com grandes
dificuldades para o curso de Pedagogia.
Dentre elas: a falta de aluno. Em 1963, já
em seu quarto ano, havia 39 alunos matri-
culados, embora a capacidade fosse 150.
Em 1964, houve uma redução de vagas
oferecidas. A dificuldade financeira tam-
bém era grande obstáculo ao curso. Cinco
anos depois, seria necessário suspender as
atividades (27 de março de 1969) por tem-
po indeterminado. Após acordos com o
governo, as aulas voltam em 24 de abril
de 1969, com o aumento necessário para a
sustentação da Faculdade.
Cultura religiosa e familiarE os aspectos históricos, curriculares?
Ou a questão docente e discente do curso
de Pedagogia? Será que podem estar rela-
cionados com a formação do curso tal
XV Seminário Regional do Educador – março 2010 - 5
PEDAGOGIA50 ANOS
FACED10 ANOS
JORNALISMO1 ANO
Irs. Maria Lázara, Ilar Garotti e Odelcia Leão: três diretoras da Faculdade
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como conhecemos hoje? O curso durava
quatro anos, assim como atualmente. As
primeiras disciplinas eram mais gerais e as
mais específicas da educação, deixadas
para segundo e terceiro anos. No último
ano, eram concentrados os esforços para o
estágio. E, de acordo com a filosofia cristã
que o orientava, o currículo tinha a disci-
plina de Cultura Religiosa Superior nos
três anos e Pedagogia Catequética para o
último. É preciso considerar que não era
tratada a diversidade de crenças e sim o
ensino do catolicismo.
O currículo do curso, em seu início,
tem o foco no aspecto religioso e na for-
mação das alunas para atuar na sociedade.
Sua posição é baseada na educação do-
méstica e na educação familiar. São estru-
turas com enfoque no papel da mulher, en-
quanto base da família. Uma educação
que visa à mulher “senhora do lar”. A
maioria das estudantes é feminina e de fa-
mílias tradicionais da cidade. No primeiro
vestibular – na época chamado de “Curso
de Habilitação” – de dez candidatos ins-
critos, apenas um homem. Os exames, es-
critos e orais, são de Língua Portuguesa,
Língua Estrangeira (Latim, Inglês ou
Francês), Historia Geral, Psicologia e Ló-
gica. Exigem-se do aluno médias acima de
cinco em cada um dos exames para ser
apto a frequentar o curso superior.
As alunas, muitas vezes, deixavam de
sair de sua cidade e optavam por estudar
Pedagogia e/ou vinham do curso Normal
oferecido pelo Colégio Nossa Senhora.
Logo no primeiro ano, as alunas eram in-
centivadas a formar o Diretório Acadêmi-
co. Para os participantes, o período era de
muito debate e contato com o movimento
estudantil estadual e nacional. Há a criação
do jornal Alvorada, fundado em 7 de junho
de 1960, utilizado como meio de comuni-
cação da faculdade com a comunidade.
A mulher da década de 1960 é por si só
alvo de discussão. A pílula anticoncepcio-
nal e a possibilidade de trabalhar fora de
casa mudam a visão e a rotina feminina. A
6 - XV Seminário Regional do Educador
PEDAGOGIA50 ANOS
FACED10 ANOS
JORNALISMO1 ANO
1963: Dr. João Goular, Presidente da República em sessão solene (centro)
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Formandos primeira turma Pedagogia e Letras (Neo-latinas)
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“vocação natural” de ser mãe e professora
é posta à prova. E o que hoje existe de li-
berdade feminina provém dessa época.
A visão dos alunos em relação aos pro-
fessores é de respeito e estima. Há a ideali-
zação de “mestre”, como reserva de conhe-
cimento e modelo de moral. Os alunos
veem os professores como exemplo
de cidadãos e competência profissio-
nal. E recorrem ao mestre por moti-
vos extracurriculares como proble-
mas particulares e orientação pessoal.
Acima de tudo, há a confiança.
A formação do corpo docente,
nos primeiros anos do curso, priori-
za aqueles com orientação confes-
sional e/ou próximos da Igreja, de-
vido à dificuldade de encontrar di-
ploma e capacitação para ministrar
aulas no ensino superior. Na primei-
ra turma de Pedagogia, dos sete
professores, três eram membros da
Igreja, dois católicos e os outros cargos
eram ocupados por pessoas com seus tra-
balhos acompanhados e/ou reconhecidos
pelos diretores. A educação laica no curso
de Pedagogia tem espaço com a inclusão
da FAFI na UNU. Em 1974, já não possui
disciplina no currículo para tratar especifi-
camente de assuntos religiosos.
No currículo do curso sempre houve
contradições - e ainda possui: anuidade
versus semestralidade; relação do aluno
com a prática; carência de algumas maté-
rias e/ou optativas que preencham as lacu-
nas da formação Pedagógica. A certeza é
que não há previsão de resolver todas es-
sas questões em curto prazo.
O curso de Pedagogia completa cinco
décadas. São anos de caminhada em busca
do aprimoramento do ensino superior.
Olhar para trás é permitir visualizar toda a
construção de um sonho em busca do
aperfeiçoamento da educação. É preciso
buscar nos detalhes as respostas, para che-
gar o dia em que a educação seja a solução
sofisticada para um mundo de melhores
condições.
XV Seminário Regional do Educador – março 2010 - 7
PEDAGOGIA50 ANOS
FACED10 ANOS
JORNALISMO1 ANO
Dezembro 1963 - Colação de grau da primeira turma Letras
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Professores de Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, em cerimônia de colaçãode grau
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luna, professora, coordena-
dora e técnica-administrativa.
Muitos foram os papéis de-
sempenhados por Maria do Rosário Cura-
do, 74, na história da Faculdade de Filoso-
fia, na qual foi criado o cinquentenário
curso de Pedagogia da Universidade Fede-
ral de Uberlândia (UFU).
A
A professora fez o curso Normal no
Colégio Nossa Senhora e Licenciatura em
Geografia na recém-criada graduação da
Faculdade de Filosofia, em 1971. Ela la-
menta o fato de não ter na época, a possi-
bilidade de se engajar em pesquisas: a úni-
ca opção no universo acadêmico era dar
aula. Afinal, as décadas de 60 e 70 marca-
ram o surgimento das universidades no
Brasil, ao passo que os anos 80 e 90 con-
solidaram as graduações e só então surgi-
ram as pós-graduações.
Em 1975, Maria do Rosário já havia se
tornado coordenadora dos cursos fora da
sede, oferecidos em Monte Carmelo, onde
fica até 1981. Essa expansão ocorre a pe-
dido do prefeito da cidade: ele queria evi-
tar que alunos mudassem para Uberlândia
para estudar. Lá foram oferecidos os se-
guintes cursos: Pedagogia, Letras, Estudos
Sociais e Ciências, voltados para os pro-
fessores carmelitanos que ainda não ti-
nham o diploma de Ensino Superior. Ma-
ria do Rosário também ministrou algumas
aulas nesses cursos durante o período em
que foi coordenadora.
Ela trabalhou ainda no Colégio Nossa
Senhora, durante oito anos, como professora
8 - XV Seminário Regional do Educador – março 2010
Aposentada volta às salas de aula para trabalhar com idosos
Dié
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Bo
rge
s
De aluna a coordenadoraMaria do Rosário atuou em várias áreas na Faculdade em que nasceu aPedagogia
Diélen Borges
de Geografia. Já nos últimos anos antes de
se aposentar, estava na secretaria do curso
de Geografia da UFU. E por que deixou as
salas de aula? “Opção pessoal”, responde.
Atualmente, Maria do Rosário realiza
trabalhos com a terceira idade e vive num
residencial no bairro Mansões Aeroporto,
onde convive com idosos. “Eu já idosa
convivendo com os mais idosos”, conta
ela, entre risos. Em 2009, a professora foi
convidada pela Prefeitura Municipal de
Uberlândia para trabalhar “Espiritualida-
de” com os
idosos do
Centro Edu-
cacional de
Assistência
Integrada
(CEAI). No
segundo se-
mestre do
mesmo ano,
ela trabalhou
com esses
alunos o cro-
chê de gram-
po.
Depois da aposentadoriaO professor esquece as salas de aula
depois que se aposenta? Com Maria do
Rosário, isso não aconteceu. Além de ser
convidada para trabalhos especiais, como
o que realiza no CEAI, a eterna professora
continua debatendo com ex-colegas ques-
tões referentes à educação. “Eu sinto, atra-
vés do que eu escuto, principalmente da
Vera Salazar, como os alunos hoje são
muito mais interessados pela pesquisa na
Geografia”, comenta.
A professora conta que escolheu a pro-
fissão por vocação, mas preferiria ter tra-
balhado mais com crianças. Ela compara a
época em que trabalhou com os dias de
hoje, considerando que houve uma evolu-
ção, pois antigamente, a educação infantil
se restringia ao ambiente da sala de aula,
enquanto que, agora, há mais possibilida-
des com o uso da tecnologia.
E por falar em tecnologia, Maria do Ro-
sário revela
que gosta
muito de
computador e
internet. Ela
utiliza a web
para mandar
e receber e-
mail e, prin-
cipalmente,
para fazer
pesquisas, in-
clusive, utili-
zadas em seu
trabalho com
idosos. “Mui-
ta coisa que eu vejo na internet eu passo
pra eles”.
Dos tempos da academia, ficaram as
memórias e as boas amizades, como a que
mantém com a Irmã Ilar Garotti, 76. Aliás,
nossa entrevista com Maria do Rosário foi
feita no apartamento da amiga. Décadas
depois de terem trabalhado juntas, as duas
mantêm o vínculo e se encontram periodi-
camente para colocar o assunto em dia.
XV Seminário Regional do Educador – março 2010 - 9
Irmã Ilar e Maria do Rosário mantêm a amizade dos tempos de graduação
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ideia da fundação da Facul-
dade nasceu do desejo de um
grupo de intelectuais de
Uberlândia: preocupados com o destino
cultural da cidade, eles idealizaram a cria-
ção da Faculdade. A comissão era com-
posta por Padre Mário Forestan, André
Fonseca, Moacir Lopes de Carvalho e
Saint-Clair Netto. Eles procuraram as Ir-
mãs do Colegio Nossa Senhora para que
elas assumissem a responsabilidade da
fundação. Esta comissão foi ouvida pela
superior da Casa, Madre Emilia Ribeiro e
pela Irmã Maria Lázara Fioroni, diretora
do Colégio. A ideia foi acolhida com gran-
de entusiasmo e interesse por todas as Ir-
mãs do Colégio que acompanhavam o de-
senvolvimento sócio-cultural da cidade de
Uberlândia.
A
Era preciso obter a licença de Dom
Alexandre Gonçalves do Amaral, Bispo
Diocesano de Uberaba. Assim, o Padre
Mario Forestan, superior dos salesianos,Madre Emilia Ribeiro e Irmã Lázara Fio-
roni, em audiência previamente marcada,
10 - XV Seminário Regional do Educador – março 2010
Ir. Ilar Garotti: nomeada diretora da Faculdade pela Me. Maria Vilac
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A idealização da FAFIIr. Ilar Garotti explica os acontecimentos que nortearam a autorização daFaculdade de Filosofia, Ciências e Letras em Uberlândia
Gustavo Oliveira Silva
expõem a Dom Alexandre o desejo de
abrir uma faculdade de Filosofia, anexa ao
Colégio Nossa Senhora. Com agradável
surpresa, responde-lhes o Sr. Bispo “Não
só aprovo, mas ordeno que se abra esta
Faculdade. Ela já estava no meu pensa-
mento há muitos anos. Esta é a hora de
realizar os desígnios de Deus bem patente
nos acontecimentos em Uberlândia”.
No dia 11 de dezembro de 1959 chega
a magnífica notícia transmitida pelo Dr.
Jacy de Assis, através de telefonema do
Rio de Janeiro: as Faculdades de Direito e
Filosofia de Uberlândia haviam alcança-
do esplendida vitória. Os processos de ob-
tenção e autorização de funcionamento
haviam sido unanimemente aprovados
pelo Conselho Nacional de Educação. A
primeira aula inaugural é realizada em 11
de março de 1960, proferida pelo Prof.
Francisco Ribeiro Sampaio, da cadeira de
Língua Portuguesa da PUC de Campinas.
O tema abordado é “Santa Tereza de Ávi-
la- Sua mística- Seu estilo”.
Transferida de Campinas, interior de
São Paulo, chega Ir. Ilar Garotti, nomeada
Diretora da Faculdade pela Fundadora da
Congregação das Irmãs Missionarias, Me
Maria Vilac Ilar vem em substituição à Ir.
Maria Lazára Fioroni.
O paraninfo da primeira turma foi o
Prof. Osvaldo Vieira Gonçalves, que, mais
uma vez, destacou os benefícios da funda-
ção da Faculdade. Suas palavras finais fo-
ram as seguintes:
“Segui, meus amigos, vosso destino.
Ao vosso lado, tendes vossa juventude e
vossa fé. De nossa vida fazei um exemplo
de trabalho construtivo. Reparti com vos-
sos semelhantes, o que levais desta escola.
E, certamente, amando Deus sobre todas
as coisas e ao próximo como a vós mes-
mos, estarei pondo em prática os mais sá-
bios ensinamentos da Sagrada Escritura e
que refletem simplesmente, normais
oriundos de uma sabedoria que transcende
os homens e o tempos”. O ano de 1964 foi
marcado pelo reconhecimento da Faculda-
de de Filosofia, Ciências e Letras de Uber-
XV Seminário Regional do Educador – março 2010 - 11
Um novo olhar para a educação: fraternidade como prática pedagógica
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lândia e de seus cursos de Letras: Neo-La-
tinas e Pedagogia, pelo Decreto nº 53.477,
de 12 de janeiro assinado pelo Presidente
João Goulart.
Alem dos dois cursos já existentes: Le-
tras e Pedagogia foram criados os cursos de
História, Matemática, Ciências, Geografia,
Estudos Sociais, Ciências Biológicas, Quí-
mica e Psicologia. E também cursos fora
da sede: Monte Carme-
lo-MG, coordenadas
pela Profª Maria do Ro-
sário Curado: Pedago-
gia, Letras Português-
Inglês, Estudos Sociais,
Ciências.
Ir. Ilar explica que a
fraternidade como práti-
ca pedagógica possibilita
a incorporação de valo-
res como: diálogo, soli-
dariedade recíproca que
constituem o fundamento
do novo olhar sobre a
educação. “O espírito
mútuo, a aceitação do
outro, enfim, o desenvol-
vimento do amor-doa-
ção, constroem o alicerce
de todo trabalho de equi-
pe, porque: a inteligên-
cia sem amor, te faz per-
verso; o êxito sem amor,
te faz arrogante; a beleza
sem amor, te faz fútil; o
trabalho sem amor, te faz escravo; a autori-
dade sem amor, te faz tirano; a lei sem amor,
te escraviza; a politica sem amor, te deixa
egoísta; a fé sem amor te deixa fanático; en-
fim a vida sem amor não”. E Ilar finaliza:
“Tudo isso sempre constituiu a tônica dos
trabalhos realizados na Faculdade de Filoso-
fia, Ciências e Letras da Universidade Fede-
ral de Uberlândia”.
12 - XV Seminário Regional do Educador – março 2010
"O espírito mutuo e a aceitação do outro constroem o alicerce do trabalho em equipe
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ucia Helena Borges é uma dasprimeiras alunas do curso dePedagogia da Faculdade de
Filosofia Ciências e Letras de Uberlândia.Ela ingressou no curso em 1960 e, quatroanos depois, era parte da primeira forma-tura do curso de Pedagogia.
LLucia diz que alguns professores eram
religiosos, outros leigos. E inclusive tive-ram um curso intenso de matemática:“muitos conteúdos não eram necessáriosnaquele momento como a grande carga dematemática, aritmética e estatística”. Elaanalisa que os professores tinham certa di-ficuldade para incentivarem os alunos abuscarem informação. Nesse período ain-da era pouco os lugares com acesso a in-formação: as bibliotecas da cidade erampequenas e não eram voltadas para o co-nhecimento acadêmico; e a Faculdade deFilosofia Ciências e Letras em Uberlândiatinha uma pequena biblioteca. Os profes-sores da época, considera Lúcia, erambem qualificados e cultos e nutriam entu-
siasmo pela Faculdade de Filosofia Ciên-cias e Letras. “Eles empenhavam ao máxi-mo para que o curso fosse de qualidade”.
O curso de Pedagogia acontecia dentroda Faculdade de Filosofia Ciências e Le-tras em Uberlândia. Entre as disciplinasque Lúcia Helena cita como as mais mar-cantes da grade curricular se destaca Psi-cologia com uma carga bem grande de au-las, História da educação, Didática, Socio-logia, Filosofia. Lúcia Helena conta“caminhamos até chegar na didática quenaquela época menos organizada que hoje,a gente estuda o que era didática mais nãotivemos uma pratica efetiva durante o cur-so, tivemos aulas que a gente lecionava eque os professores avaliaram na própriaescola do Colégio Nossa Senhora ondefuncionava Faculdade de Filosofia Ciên-cias e Letras em Uberlândia ”. O curso dePedagogia oferecia bastantes subsídiospara as futuras professoras e pedagogasinteressadas em autuar no campo escolar.
A entrevistada conta que a relação entre
XV Seminário Regional do Educador – março 2010 - 13
A pedagogia comorealização
Lucia Helena Borges conta a experiência e dificuldades de estudarnos anos 60 a 70.
Gustavo Oliveira Silva
aluno e professor pode ser considerada deforma excelente. Com professores cultos einstruídos para ministrar as disciplinas,muitos deles nem eram especialistas decertas áreas, e no entanto detinham conhe-cimento. “Conversávamos muito com osprofessores naquela época tínhamos liber-dades com eles e também um grande res-peito com o professor”.
Como era estudar na Faculdade de Fi-losofia Ciências e Letras? “Foi uma expe-riência diferente. Tinha acabado de chegarem Uberlândia, eu sempre tinha estudadoem colégio de freiras, sinto que era comoum aluno que entra na faculdade hoje.Pois, ao entrar, se depara com uma liber-dade escolar não vista antes. Tínhamosatividades culturais, palestras e eventos delazer dentro da Faculdade”. Para ingres-sar na Faculdade era necessário passar poruma prova escrita oral com um vestibular.Só poderia fazer o teste quem acabasse ocurso normal.
Qual era o caminho percorrido pelasalunas do curso ao deixar a Faculdade. Aex-aluna esclarece: “Nós íamos sair com odiploma basicamente para dar aulas, inclu-sive lecionar no ensino superior, tanto queeu entrei na Faculdade Federal de Uber-lândia com o diploma da Faculdade de Fi-losofia Ciências e Letras”. No curso dePedagogia as alunas poderiam aprofundarem certas disciplinas, o que se nominahoje como especialização. Outro caminhoera entrar no campo da pesquisa.
A Faculdade de Filosofia Ciências e Le-tras sempre teve como fim o aluno. E quan-do se fala de aluno, duas vertentes são im-portantes: o interesse e a necessidade. Oaluno tem interesse e a instituição tem desatisfazer-lhes as necessidades. Se o fim detodo processo de ensino da Faculdade é oaluno, ele deve ser o centro das atenções: aFaculdade de Filosofia Ciências e Letras fezisso o tempo todo na busca do conhecimen-to acadêmico.
14 - XV Seminário Regional do Educador – março 2010
Colação de Grau da primeira turma de Letras: Neo-latinas. Lucia Helena Borges - segunda da esquerda para a direita
Arq
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omo compreender a Universi-
dade Federal de Uberlândia –
UFU nos anos 80? A resposta
a esta questão pôde ser compreendida com
alguns minutos de conversa com a profes-
sora, aposenta-
da da UFU,
Marly Bernar-
des de Araújo.
O testemunho
dela revela os
desafios viven-
ciados por al-
guns professo-
res daquela
época. O mo-
mento era real-
mente especial:
Marly convive
no período em que a UFU ainda não era
federalizada e descreve a importância de
muitas pessoas que se empenharam para
esta conquista pública.
C “Para mim, o principal trabalho realiza-
do foi no magistério. Sempre gostei muito
também da parte administrativa, mas, mes-
mo ocupando cargos administrativos, nun-
ca deixei a sala de aula.” Essa é uma das
afirmativas fei-
tas por Marly
para traduzir os
22 anos dedica-
dos ao ensino.
Em 1969, a
ex-docente se
forma em Peda-
gogia pela Fa-
culdade de Filo-
sofia, Ciências
e Letras - FAFI,
uma das facul-
dades que se
uniram para constituir a UFU. Por mérito e
escolha de seus colegas Marly se torna a
oradora da turma. Naquela época, assim
como hoje, o curso de Pedagogia prezava
XV Seminário Regional do Educador – março 2010 - 15
Compromisso com aEducação
Marly Bernardes Araújo testemunha desafios vivenciados nos anos 80
Paula Graziela
Marly Bernardes: oradora da turma por mérito e escolha dos colegas
Pa
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Gra
zie
la
por formar alunos fundamentados na ques-
tão humana ao oferecer disciplinas tais
como: Filosofia, Sociologia, História da
Educação, Filosofia da Educação e Psicolo-
gia da Educação. O objetivo do curso de Pe-
dagogia era formar professores para atua-
rem no curso Normal, como também nas se-
ries iniciais do ensino fundamental. Marly
afirma que naquele período “Nós tivemos
uma formação básica, muito profunda”.
Antes da federalização, os professores
eram convidados a serem docentes no en-
sino superior, não havia concurso. No caso
da FAFI, o convite era feito, prioritaria-
mente, aos ex-alunos que mais se destaca-
vam no curso. Cabia a indicação aos do-
centes e a própria administração da facul-
dade. É o que ocorre com a professora
Marly que em 1970 é convidada pela Di-
retora da Faculdade, Ilar Garotti, a inte-
grar o corpo docente. Ela assume naquele
período a disciplina de Estrutura e Funcio-
namento do Ensino, no Curso de Pedago-
gia e nas demais licenciaturas.
Para suprir a falta de professores em
determinadas disciplinas, a diretora da
FAFI trouxe, de Campinas, as professoras
Mafalda Januzzi Cunha e Marilena Said.
Elas deram grande suporte ao curso, por
vários anos, tendo a professora Mafalda
ocupado também o cargo de chefe do De-
partamento de Pedagogia.
O currículo do curso de pedagogia so-
fre modificação em 1970. As turmas desse
período fizeram com as adaptações apro-
vadas por Resolução do então Conselho
16 - XV Seminário Regional do Educador – março 2010
Centros da UFU(década de 80)
Ciências Exatas e TecnologiaEngenharia CivilEngenharia ElétricaEngenharia MecânicaEngenharia QuímicaMatemáticaFísicaQuímica
Ciências BiomédicasMedicinaMedicina VeterináriaCiências BiológicasEducação FísicaOdontologia
Ciências Humanas e ArtesAdministraçãoCiências ContábeisCiências EconômicasDecoraçãoDireitoEducação Artística (Artes Plásticas e Música)GeografiaHistóriaLetras Português – FrancêsLetras Português – InglêsMúsica – Bacharelado - InstrumentoPedagogiaPsicologia
Centros da UFU (década de 80)
Marly: "federalização é uma conquista pública pelo empenho de muitaspessoas"
Pa
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Gra
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la
federal de Educação, em 1969. Os profis-
sionais escolhiam, no máximo, duas habi-
litações por vez. Entre as quais estão Ori-
entação Educacional, Supervisão Escolar,
Administração Escolar, Inspeção Escolar,
Magistério das Matérias Pedagógicas do
Ensino de 2º grau e Exercício do Magisté-
rio nas Séries Iniciais do Ensino de 1º
grau (nomenclaturas dadas à época). Pos-
teriormente, a universidade cria a habilita-
ção especifica em Educação para a Pré-
Escola, que também foi extinta.
A federalização da universidade ocorre
em 1978, tendo como reitor o professor
Gladstone Rodrigues da Cunha Filho. As-
sim, deixa de existir as faculdades e são
criados os Centros (ler texto abaixo) que
passaram a congregar os diversos cursos
da Universidade: Centro de Ciências Exa-
tas e Tecnologia, Centro de Ciências Bio-
médicas e Centro de Ciências Humanas e
Artes, no qual era inserido o curso de pe-
dagogia. “Muitos não têm idéia do que foi
constituir a Universidade Federal de Uber-
lândia (UFU): foi uma questão de traba-
lho, de abnegação, de doação”.
A professora exerce o cargo de Diretora
do Centro de Ciências Humanas e Artes
no período de 1984 a 1988, sendo tam-
bém, neste momento, reitor da universida-
de, o Prof. Ataulfo Marques Martins da
Costa. Ela também atua em outros cargos
administrativos como: vice-chefe, chefe
de departamento de Pedagogia e coorde-
nadora do mesmo curso.
“Excelente”. É assim que Marly consi-
dera a experiência de fazer parte da histó-
ria do Curso de Pedagogia da UFU. “De-
dicando-me incansavelmente ao trabalho,
era feliz e sabia. Amei a experiência vivi-
da, de modo pleno”, declara emocionada.
Em 2000, os Centros são extintos e o Cur-
so de Pedagogia passa a integrar a Facul-
dade de Educação, cujo primeiro Diretor
foi o professor Geraldo Inácio Filho.
A professora Marly se aposenta em 1992,
e, na entrevista, percebe-se o quanto o amor
e a dedicação são importantes para a reali-
zação de um bom trabalho fazendo-o frutifi-
car. “O curso de Pedagogia da UFU é hoje
uma referência nacional, graças àqueles que
participaram das primeiras horas”, como a
professora e aos que continuam, hoje, se de-
dicando a ele.
XV Seminário Regional do Educador – março 2010 - 17
Marly é enfática: "Curso de Pedagogia é hoje uma referência nacional"
Pa
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Gra
zie
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m 1978, a Universidade Fede-
ral de Uberlândia (UFU) pre-
parava-se para a federaliza-
ção. Todos os patrimônios que pertenciam
ao setor privado estavam sendo reunidos.
O campus Santa
Mônica tinha
poucos prédios e
praticamente toda
a estrutura se
concentrava no
Umuarama. A
institucionaliza-
ção jurídica esta-
va por vir e a es-
truturação con-
creta, com a
construção de
prédios e a contratação de docentes, já
acontecia.
E
Nesse ínterim chega a Uberlândia, José
Carlos Souza Araújo. Historiador por for-
mação, após uma breve passagem pelo
curso de Direito é convidado para minis-
trar a disciplina Filosofia da Educação, no
então Departamento de Pedagogia. Um
desafio enfrentado sem susto.
Araújo já convivia em suas leituras e re-
flexões com auto-
res ligados à área
da Educação, em
especial Paulo
Freire. “Quando
eu cheguei aqui
na UFU já mexia
bem com Freire.
Tinha feito curso
em Campinas
com freirianos no
fim dos anos 60.”,
relembra.
Realmente, essa foi uma mudança bem
sucedida aos longos dos 25 anos no curso
de Pedagogia. Nesse período doutora-se na
área de Filosofia e História da Educação e
torna-se professor também da pós-gradua-
18 - XV Seminário Regional do Educador – março 2010
José Carlos Araújo: proposta de levar alunos a uma reflexão profunda
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“Ser pessimista emEducação é um absurdo”
Historiador fisgado pela Educação analisa a Pedagogia
Francklin Vinicius Tannús
ção, com a disciplina Epistemologia e Edu-
cação.
Araújo sempre busca “levar seus alu-
nos a uma reflexão profunda sobre a Peda-
gogia, a Educação e a Didática”. E reflete
sobre o que diferencia aqueles que buscam
o curso de Pedagogia nos dias atuais da-
queles que o buscavam na década de 80.
O graduando em Pedagogia, oimediatismo e as TIC’s
Não há dúvida alguma de que, na con-temporaneidade, vivemos a cultura doimediatismo. As noções de tempo tem-semodificado. Paira no senso-comum a sen-sação de que o único tempo possível é oagora. Lidar com processos e procedimen-tos que exijam qualquer mediação torna-se cada vez mais oneroso.
O pedagogo em formação não estáimune a essa realidade, como constataAraújo. “A preocupação é com o mercadode trabalho e não com o estudo e com apesquisa em si.”. E acrescenta. “Há umafluidez. Para eles tudo tem que ser novo.Como diria Marx. ‘Tudo que é sólido pa-rece desmanchar no ar.’”
Essa também é a “Era da Informação”,caracterizada, dentre outros fatores, pelapresença extensiva das Tecnologias da In-formação e Comunicação (TIC’s) – chat,e-mail, CD’s, bancos de dados, sites – nocotidiano das pessoas. Elas têm sido apon-tadas por muitos especialistas e vistas pormuitos alunos como a solução para osproblemas contemporâneos no processode ensino-aprendizagem. Mas não paraJosé Carlos, que enxerga uma supervalori-zação das TIC’s. “Nelas só tem comunica-ção, não tem conhecimento. A comunica-
ção sem conteúdo torna-se apenas umaconversa corriqueira.”
O professor acrescenta: “O problema do
ensino reside na relação professor-aluno, o
restante é mediação. Conteúdo, avaliação,
método, técnica, espaço, tecnologia, tudo
isso é mediação.” E conclui. “As tecnolo-
gias não têm ética. Ela está na utilização
que você faz das tecnologias. E por isso
elas têm que estar a serviço do conheci-
mento que é elaborado na relação.”
“Educação é acreditar no futuro”Muitas são as críticas feitas aos profis-
sionais e ao sistema educacional brasileiro.Porém, quando perguntado sobre o futuroda Educação, José Carlos Araújo se mostraum eterno otimismo. “Quem trabalha comEducação não investe no passado nem nopresente. Educação é acreditar no futuro,ainda que seja difícil de realizar as aspira-ções, de superar os desafios ou de ficarconstruindo ideais.”, diz. “Ser pessimistaem Educação é um contra senso. É umabsurdo.” E finaliza “A única opção é sersempre otimista.”
XV Seminário Regional do Educador – março 2010 - 19
"O problema do ensino reside na relação professor aluno"
Arq
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soa
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alvez, para os colegas de pro-
fissão, o mais peculiar em sua
personalidade seja o costume
de chegar ao trabalho às cinco horas da
manhã. Para os alunos e para aqueles ou-
tros que, não tão esporadicamente, solici-
tam algum serviço ou informação, a sua
aparente postura severa e o caráter intran-
sigente são impressões que se dissipam
nos primeiros dez minutos de quase uma
hora de conversa. Mineiro, de Conquista,
e descendente de uma família tradiciona-
lista e puramente italiana, Carlos Antônio
Bizinoto, 61, relata com certa dificuldade
uma humilde parte dos tortuosos cami-
nhos que levaram a sua chegada ao cargo
de técnico administrativo da Faculdade de
Educação há quase três décadas. Na épo-
ca, “era o Departamento de Pedagogia”.
T
Pai de quatro filhos e casado há 33
anos, Carlão constantemente é respeitosa-
mente considerado pelos colegas a memó-
ria viva da instituição. Ao contar parte da
história de formação da FACED, tal como
ela é hoje, ele deixa claros os entrelaces
dessa formação com sua própria vida.
Carlos chegou a Uberlândia aos 18,
quando seus pais arrendaram parte de suas
terras a uma usina de cana. O quinto filho
20 - XV Seminário Regional do Educador – março 2010
A maior realização de Carlos Bizinoto foi ter entrado na UFU
Ga
brie
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Ca
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Carlos e FACED: umamesma trajetória na UFU“Faço Artes na rua, Economia em casa e Filosofia nos butecos”, brinca umdos funcionários mais antigos da Pedagogia
Gabrielle Carolina Silva
de sete irmãos da família Bizinoto – em
suas palavras, “uma família pirracenta” –
perdeu seu apoio ao desafiar as tradições e
se casar com uma moça filha ilegítima de
uma família não-italiana. Viu-se obrigado
a enfrentar o emprego de fiscal de linha de
ônibus, em que, muitas vezes, encarava 15
horas de viagem sentado ao capô do mo-
tor: “passei o que o diabo amassou com o
rabo, mas, graças a Deus, eu venci”.
Sem hesitar, a maior realização de sua
vida foi “ter entrado na UFU”. Começou
com uma vaga na xerox, mas, como o De-
partamento de Pedagogia demandava um
funcionário, coube a ele ocupar a função.
Com modéstia, Bizinoto, grato, lembra da-
queles que o ajudaram a conseguir o cargo
em 1981. “Quando
era Departamento de
Pedagogia, trabalhava
demais. Meu horário
era de manhã e noite,
mas, como era muito
serviço, eu fazia hora extra. Às vezes, saía
de casa às cinco e meia da manhã e chegava
meia-noite todos os dias. Os filhos todos pe-
quenos, chuva que Deus mandava, barrão, e
quando não era barro, era poeira”, explica.
E ressalta: “era só mato, tinha que pular as
pedras para passar para cá”.
Apesar de se mostrar inabalável frente
aos acontecimentos, o Sr. Carlos conta que
as mudanças ocorridas na instituição –
como o aumento de funcionários –, nas
coordenações e até mesmo com a chegada
da informatização foram as mais desafia-
doras em sua carreira. E, antes de relatar
muitas delas, reforça, modestamente:
“Tem muitas coisas que a gente não lem-
bra” No período do Departamento de Pe-
dagogia, eram apenas três funcionários na
secretaria e quase 80 professores. Hoje,
“sai gente, entra gente, gente que você não
conhece, não sabe quem é, e, às vezes,
fico até com vergonha”. No entanto, afir-
ma que, apesar de tudo, hoje é melhor do
que antes: “não tenho nada para reclamar
dos meus amigos”.
A história do Sr. Carlos é um perfeito
exemplo da edificação de uma vida junto à
construção da história do curso de Pedago-
gia e da FACED. Tendo em casa nada me-
nos que 14 gatos, entre tantos outros cachor-
ros e pássaros, ele cuida hoje com satisfação
do famoso gato da Faculdade, Fred. Fala as-
sim, contente, ao vê-
lo saudável: “hoje eu
estou aqui, cuido do
Fred, que ‘tá’ gordi-
nho, todo mundo fe-
liz”.
Apesar de abrir os dedos da mão, e ne-
les contar três cursos de “formação”, brin-
ca: “faço Artes na rua, Economia em casa
e Filosofia nos butecos”. Depois de tanto
chão, prevê dois anos para a aposentado-
ria, mas acrescenta: “se sair, saiu, eu não
‘tô’ com pressa não”. Dá ainda a receita de
vida, orgulhoso de nunca ter adoecido. E
com a pouca modéstia, que é clara e lhe é
gratamente concedida, enche o peito, olha
para o passado, como se estivesse vendo o
curso crescer de novo; junto a isso, a sua
vida ser modificada. E brinca mais uma
vez: “um funcionário exemplar”. Ri e sus-
pira satisfatoriamente.
XV Seminário Regional do Educador – março 2010 - 21
“Passei o que o diabo amassou
com o rabo, mas graças a Deus
eu venci”.
ual a principal diferença entre o
curso de Pedagogia de hoje e o
de há 30 anos? A resposta de
Maria Beatriz tem como base a experiência
dos professores. Na década de 1980, o cur-
so podia ser menos aprofundado teorica-
mente, mas instrumentalizava melhor os
alunos. Isso porque os professores vieram
da escola básica e do ensino médio. “Todo
mundo tinha experiência longa de lidar no
Q dia a dia com o ensino na escola”, explica.
A mudança no ensino, hoje, está na qualifi-
cação acadêmica: “são doutores, mas mui-
tos deles não têm esse pé no ensino. Então,
eu acho que é como um médico que vai dar
aula na faculdade e não tem experiência em
consultório e hospital”.
Maria Beatriz acredita que os pedago-
gos, atualmente, não querem atuar como
professores: “o pessoal que faz Pedagogia
hoje quer é uma salinha na supervisão”. A
educação é desafiadora, porque nunca o
educador tem o conhecimento completo e
sempre há necessidade de ter diferentes sa-
beres. “Quem trabalha com educação vive
a educação”, argumenta.
A professora leciona na Universidade Fe-deral de Uberlândia, durante 13 anos, as dis-ciplinas de Metodologia da Língua Portugue-sa e MTP (Métodos e Técnicas de Pesquisa).Nesse período participa de diversas ativida-des: conselheira e revisora de revistas; coor-denadora de congressos e seminários; alémde fazer parte de inúmeras equipes de estudo
22 - XV Seminário Regional do Educador – março 2010
"Quem trabalha com Educação vive a Educação"
Ga
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la M
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A experiência de lidar com oensino na escola
A mudança, hoje, está na qualificação acadêmica: muitos doutores sem péno ensino
Gabriela Mendonça Martins
de vários assuntos relacionados à educação.A revista Ensino em Re-vista foi criada pelaequipe de metodologia do Departamento dePedagogia. No princípio, o interesse erapublicar artigos dos professores da UFU edos graduandos. O objetivo era melhorar aqualidade da educação e propiciar aos edu-candos possibilidades de, ao publicar seustrabalhos, aprender mais. E, com isso, se tor-narem profissionais mais competentes.
Maria Beatriz se aposenta em 1993. Em1996, monta, com Stela Carrijo, uma escolaem que acompanha de perto a Educação In-fantil, o Ensino Fundamental e até mesmo oEnsino Médio. A proposta era aplicar tudoque ambas haviam aprendido na vida profis-sional. Antes, nos anos 1980, as duas já tra-balharam juntas na alfabetização no ProjetoMaravilha – também participaram MarluceMartins de Oliveira Scher e Carmelita Viei-ra, essa última como coordenadora. Ali, im-plantaram uma forma de ciclo básico e con-seguiram alfabetizar todas as crianças emdois anos.
Nasceu em Belo Horizonte e, desde a in-fância, reside em Uberlândia. Graduou-seem Letras (Português-Inglês), na UFMG.Sempre ligada à educação, Maria Beatriz le-ciona na rede pública estadual: primeira-mente em Tupaciguara, onde morou quandose casou. E, a partir de 1970, na E. E. JoséIgnácio de Souza – na época, consideradareferência –, tendo aí ingressado por umconcurso interno que havia nas escolas. Pos-teriormente, ocupa a então existente cátedrade Língua Portuguesa, cargo a que ascendepor concurso público em Belo Horizonte.No José Ignácio Beatriz, atua como profes-sora de Português, diretora de turno, coorde-nadora da área de Português. Ela explicaque os professores eram muito dedicados ecompetentes. E acrescenta: “Naquele tem-
po, nos éramos construtivistas sem saber onome”.
Carmelita Vieira, então coordenadora docurso de Pedagogia da UFU, a convida paraser professora de Metodologia da Língua
Portuguesa nessa instituição. O convite é re-cebido com algumas incertezas por MariaBeatriz, pois era concursada no estado e osalário era o mesmo. Contudo, o desafio desuperar barreiras foi o fator que a leva a daraula no curso superior. Aceito o desafio,veio a necessidade de suprir as lacunas desua formação. A superação das diferençasentre o conteúdo estudado duas décadas an-tes e o que era necessário saber então paraformar pedagogos exige esforço e estudo,com grande dificuldade para encontrar fon-tes bibliográficas ou ter acesso a pessoas te-oricamente mais atualizadas.
Ao falar sobre a educação em geral e osdesafios dos processos de ensino e de apren-dizagem, a professora Maria Beatriz alerta:“Você encontra situações inesperadas commuita frequência e, se for seguir as linhaspedagógicas mais modernas, dentro do queé necessário para que o aluno aprenda, en-tão, a coisa fica bem mais complexa”.
XV Seminário Regional do Educador – março 2010 - 23
"Naquele tempo, nós éramos construtivistas sem saber o nome"
Ga
brie
la M
art
ins
professor Robson Luiz de
França, doutor em Educa-
ção, exerceu a difícil tarefa
de ser coordenador do curso de Pedagogia
em 2003. Docente na Universidade Fede-
ral de Uberlândia (UFU) desde 1996, teve
a oportunidade de ocupar o complicado e
importante cargo administrativo dentro da
instituição.
O
Robson defende que o curso de Pedago-
gia é fundamental para a formação do pro-
fessor e de outros profissionais que atuam
na escola. “A superação das contradições no
exercício da profissão, bem como do reco-
nhecimento social desse profissional, deve
ser meta constante da luta do pedagogo. Por
outro lado, o reconhecimento social perpas-
sa também pela organização da classe e da
valorização pelos professores, que pode se
dar pelo exercício profissional pautado na
ética e na garantia da atuação com um cam-
po definido. E, por outro lado, pela organi-
zação social e política desse trabalhador”,
afirma Robson.
Há dois pontos mais marcantes destaca-
dos por Robson no período de coordenação.
Primeiro, a participação nos debates para re-
formular os Projetos Pedagógicos dos Cur-
sos de Licenciatura. E, segundo, perceber a
reação de outros institutos ou faculdades
que possuíam a licenciatura e resistiam à
formação de professores nos seus cursos.
Entre as medidas implantadas como co-
24 - XV Seminário Regional do Educador – março 2010
O reconhecimento social perpassa pela valorização dos professores
Pau
la O
live
ira
A complexidade de sercordial
Desafio era suprir ausência de envolvimento efetivo entre docentes ediscentes
Paula Oliveira
ordenador, pode-se destacar: organização de
um seminário do Curso de Pedagogia; con-
tinuação do debate com o objetivo de refor-
mular o Projeto Pedagógico do Curso de
Pedagogia; análise das diretrizes curricula-
res do curso de Pedagogia no congresso rea-
lizado na Universidade Federal de São João
Del Rey; representação do curso e da FA-
CED no CONSUN (Conselho Universitá-
rio) – durante o
CONSUN,
Robson foi in-
dicado como re-
lator da resolu-
ção que imple-
mentou a
reforma dos
Projetos Peda-
gógicos dos
Cursos de Li-
cenciatura da
UFU.
Desafio
Coordenar
um curso no
Ensino Supe-
rior requer res-
ponsabilidades
complexas e de-
pende do auxílio de outros. Para realizar
um bom trabalho, é necessário manter boa
relação com os seus coordenados. Objeti-
vidade e cordialidade. Assim define Rob-
son seu relacionamento com os funcioná-
rios administrativos, professores e alunos.
“Cabe ao coordenador mobilizar o corpo
docente e discente para pensar alternativas
de mudança e construir uma proposta para
a melhora do curso”. No entanto, a maior
dificuldade encontrada por Robson estava
na ausência de envolvimento efetivo entre
docentes e discentes nas discussões e de-
bates relacionados a essa melhora.
Atuar como coordenador não está, ape-
nas, em ser mediador entre corpo docente
e discente. Co-
ordenar é per-
ceber as neces-
sidades do cur-
so, obedecer às
exigências le-
gais, avaliar
professores,
atender alunos,
resolver prob-
lemas e ainda
pensar em so-
luções visando
a melhorias no
curso. Robson
reconhece a
importância do
cargo e acredita
ser essa uma
experiência que
todos os pro-
fessores deve-
riam vivenciar em algum momento da car-
reira acadêmica. “Diria que ser coordena-
dor é, acima de tudo, ser um organizador
do trabalho acadêmico de um curso, tendo
em vista a característica de apoio e supor-
te ao desenvolvimento das atividades de
ensino e de aprendizagem”, enfatiza.
XV Seminário Regional do Educador – março 2010 - 25
Maior dificuldade era a ausência de envolvimento efetivo entre docentes e discentes
Pau
la O
live
ira
Pau
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live
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e for observada pela estatura, elanão chama atenção. Se o quesitofor sorriso, Cândida Rosa Neta
esbanja. Arisca! Como se esquivou da reali-zação da entrevista! O que dá trabalho é quetem valor. A palavra é esta, valor. Melhor di-zer: VALORES. Éticos, morais, relacionais.Conceitos que tempo e espaço consolidam.
S
A coragem dedar a entrevista sefez em quatro mo-mentos, ao mes-mo tempo daspausas. Pausa: queefeito tem essa in-terrupção tempo-rária do som! Équando o silênciofala mais alto; ditaregras; substituipalavras. Em cadauma, um dique que se rompe... Comoção!Que mais dizer? Trinta anos de trabalho.Tempo suficiente para forjar no cadinho docoração belas recordações!
E se fez uma pausa. No emaranhado devivências de trinta anos, Cândida sente suahistória “bem próxima e semelhante” coma história da Universidade. “O ser humanose faz pelas suas relações sociais, entreelas, a do trabalho. E tudo é uma constru-ção permanente... sempre buscando um ho-rizonte maior, mais pleno e mais bonito”.
Desde que veiode Sacramento,MG, em busca deuma vida melhorpara ajudar a fa-mília, encontrouna UFU um portoseguro, onde co-nheceu o mundodo trabalho epôde vivenciar re-lações mais am-plas entre as pes-
soas. De lá para cá, a Universidade, comoespaço acadêmico, afinal é a “Federal deUberlândia”, cresceu e ampliou os horizon-tes. Como antes era “orgulho pra quem já
26 - XV Seminário Regional do Educador – março 2010
Trinta anos de trabalho: história de vida próxima da Universidade
Fau
sien
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icto
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Viver com simplicidade erealizar sonhos
Depoimento revela momentos de alma: quando o coração está no leme
Fausiene Pereira Resende Victor
estava, e um sonho para quem queria en-trar... continua tendo o respeito e a admira-ção de todos, sendo referência pelo traba-lho que realiza, pelos produtos que apre-senta à comunidade”.
E outra pausa. Desafios. A palavra em sia provoca. Sensação que deixa escapar narespiração é que sempre está em duelo comeles. O que faz “é tentar desempenhar me-lhor cada tarefa, cada função”. A entrevis-ta? Desafiadora! Diante dos problemas queincitam à luta, sua resposta é: enfrentá-los.A maioria foi relacionada às mudanças decurrículo, que acarretaram dificuldades:adaptação de turmas, horários, muita docu-mentação e providências diversas.
E mais uma pausa. Emoção é aconteci-mento que escapa do tempo das horas. Cha-mada para discorrer sobre um momento es-pecial, as lágrimas antecipam a resposta...“Na minha vida pessoal, um momento espe-cial foi a chegada da minha filha...”. Nesteinstante, alegrias do passado se fazem pre-sentes entre o silêncio e as lágrimas, paradepois concluir. “... que representou um so-nho realizado”. Na vida profissional: reco-nhecimento do trabalho pelos alunos, con-fiança dos coordenadores, carinho dos cole-gas e apoio nos momentos difíceis.Lembranças que insistem em não desapare-cer. Quanto à realização pessoal, ela esclare-ce que ser secretária não fazia parte dos pla-nos, foi oportunidade que surgiu... Com de-dicação e responsabilidade, buscou aprendermais e através do tempo foi gostando do quefazia. Hoje, sente-se realizada.
E, depois de dois minutos, a pausa sefaz. Revela simplicidade e sabedoria, ao fa-lar de suas expectativas de vida. “Uai, con-
tinuar vivendo em paz, sempre me relacio-nando bem com todos. Procurando desem-penhar da melhor forma os papéis que avida nos impõe, ou que a gente escolhe”.Perante esta resposta, senti que exemplosde vida nos ensinam a ser mais alma!
Enquanto aguardo, as lágrimas tornamexplícito o que não poderia ser outra respos-ta no decorrer da entrevista. Momento cul-minante se dá ao ser indagada sobre algoque eternizou na memória. Posso percebercomo o temor da perda amedronta. Talvezseja por isso que ao, falar em sua filha, Cân-dida se comove tanto! “É... não é tão longe,mas, alguns anos atrás, quando eu estavagrávida... (grande pausa – lágrimas – emo-ção) eu rodei da escada do bloco... (outrapausa) e o professor Marcelo me socorreucom todo o carinho... (pausa) e me atendeucom todo o carinho (e mais uma pausa).Graças a Deus ocorreu tudo bem... E hojeela está aí, rindo com a gente.” Certos acon-tecimentos criam fios invisíveis... Urdidosatravés do carinho e tecidos na gratidão!
E assim foi a noite de conversa comCândida Rosa Neta, secretária do Curso dePedagogia. Cognome, Candinha. Casualida-de? Talvez...
XV Seminário Regional do Educador – março 2010 - 27
Candinha e sua filha Joana Carla: momento especial da vida
Fau
sien
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icto
r
uando entra na Universidade
Federal de Uberlândia em 1992,
o professor Guilherme Sarama-
go de Oliveira encontra uma realidade bem
diferente do retrato de hoje. Os alunos, que
já eram, em sua maioria, profissionais da
rede de ensino, buscavam na Universidade
aperfeiçoamento, qualificação e habilita-
ção. Saramago comenta que era um pes-
soal, do ponto de vista prático, mais prepa-
rado. Com a experiência deles, o professor
expandia o conhecimento a partir do pro-
cesso de ensino aprendizagem.
Q
O quadro é diferente na atualidade.
Saramago explica que mais de 90% dos
alunos não têm experiência profissional.
Esse fator exige do professor o desen-
volvimento de uma prática pedagógica
que vincule uma realidade educacional
com fundamentação teórica efetiva.
E não foi só o perfil do aluno que mu-
dou nesses 18 anos. A forma de ingresso,
que até então era só por meio do vestibu-
lar, passou a ser também pelo PAIES (Pro-
grama Alternativo de Ingresso ao Ensino
Superior). “A nova forma de ingresso mu-
dou um pouco a clientela do curso, no
PAIES ingressam pessoas mais jovens, e
isso acaba beneficiando aqueles que já es-
tão no sistema, e no processo de ensino
regular constante”, explica Saramago.
28 - XV Seminário Regional do Educador – março 2010
Saramago:mais de 90% dos alunos sem experiência profissional
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As mudanças no perfil doaluno
As alterações nas formas de ingresso exigem novas práticas pedagógicas
Maria Clara Parreira
Metodologia usada na sala de aulaSaramago ressalta que no caso específi-
co da metodologia do ensino da matemáti-
ca, o professor pro-
cura trabalhar de ma-
neira envolvente com
o objetivo de au-
mentar a participação
do aluno. A proposta
é que o estudante assuma responsabilida-
des no processo ensino aprendizagem e te-
nha um papel ativo.
O estudante recebe orientações para adisciplina, e com isso são estabelecidas di-retrizes, metas a serem cumpridas e ativi-dades a serem realizadas. O professor ex-plica que é necessário o envolvimento eparticipação dos alunos das aulas no dia adia. Só assim, o estudante alcançará for-mação mais sólida. O principio norteadordessa proposta é que o ser humano apren-de quando se envolve, tem desejo deaprender e valoriza a aprendizagem. “En-tão nós trabalhamos com essa perspectivade que o aluno é ativo, é capaz, tem inte-resse e para tal, devemos possibilitar seuenvolvimento em diretrizes que forambrevemente estabelecidas e combinadas,inclusive com eles.”
Guilherme Saramago de Oliveira entrana Universidade Federal de Uberlândia,por concurso publico de provas e títulos.Ingressou como auxiliar. Ao concluir omestrado torna-se professor assistente eapós o doutorado, em julho de 2009, passaa ser professor adjunto I. Entra por con-curso público e ministra a disciplina, Prin-cípios e Métodos da Prática Pedagógica.Com a aposentadoria da professora que
ministrava a disciplina de Metodologia doEnsino da Matemática, o professor assumea cadeira e se transfere para a área do ensi-no da matemática.
Perspectivas deensino
A tecnologia e osmeios de se adquiririnformação são ou-
tros desafios que acabam impactando so-bre o acesso ao saberes. Saramago desta-ca que atualmente, há mecanismos quedisponibilizam informação. Com isso, auniversidade e a sala de aula se tornam lo-cais próprios para a troca de ideias e paradiscutir detalhes, temas e conteúdos. Tra-ta-se de saberes essenciais para a forma-ção do indivíduo na sociedade. “Dessaforma, o aluno tem acesso a inúmeras in-formações e com o auxílio do professor,ele as esquematiza, transformando em co-nhecimento através de debates e discus-sões”, analisa Saramago. E finaliza: “Masé fundamental entender que a questão dasmudanças vem desde que muito bem esta-belecidas, direcionadas e orientadas paramelhorar, cada vez mais, o processo ensi-no aprendizagem”.
XV Seminário Regional do Educador – março 2010 - 29
“Trabalhamos com a perspectiva
de que o aluno é ativo, capaz e
tem interesse”
“O ser humano aprende quando tem desejo de aprender”
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maior de-
safio da
educação
é fazer com que a teoria
se incorpore à prática.
Formar profissionais
capazes de assimilar o
conteúdo programático
com o dia a dia da car-
reira sempre foi o obje-
tivo de toda a Universi-
dade, e não é diferente
com a Faculdade de
Educação. Com 35 anos
de atuação na UFU,
Olga Teixeira Damis
acredita que a união
dessas duas frentes é a
melhor forma de crescimento e amadureci-
mento do ensino.
O
Na década de 1990, Olga Damis atuou
como coordenadora do curso de Pedagogia,
e, até hoje, mesmo após se aposentar, parti-
cipa ativamente das dis-
cussões e pesquisas so-
bre a educação e a for-
mação de educadores
no país. Durante sua co-
ordenação, sempre teve
o objetivo de reformar o
currículo do curso para
integrar as várias for-
mações antes oferecidas
pela Faculdade. O novo
foco era formar um
educador, não um espe-
cialista em educação
apenas. “Nós reformu-
lamos por conta própria
– a Universidade tinha
autonomia para isso –,
porque, do ponto de vista da legislação, a
mudança só ocorreu em 2005. Nós ficamos
de 1986 até 2005 trabalhando e experimen-
tando nova formação”, declara.
Com a determinação de transformar o
30 - XV Seminário Regional do Educador – março 2010
Coordenadora reformulou o currículo do curso nos anos 90
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A necessidade de formareducadores
Olga Damis: “consegui vivenciar no curso a relação teoria e prática”
Talita Martins Reis
curso de Pedagogia em referência de ensi-
no, Olga e todos os que a apoiavam tive-
ram de vencer muitos desafios. Era neces-
sário superar o pensamento anterior e fo-
car na nova forma de ensino. Infelizmente,
não se pode fazer tudo o que se deseja.
Nesta situação, é difícil “conseguir viven-
ciar, no curso, a relação teoria e prática”,
relata. E isto não é característico apenas
do curso de Pedagogia, pode ser conside-
rado como uma defasagem geral do ensino
superior.
Busca pelo melhor
As mudanças estruturais que corres-
pondem à formação pela Universidade Fe-
deral de Uberlândia estão acontecendo.
Seus reflexos podem ser vistos nos resul-
tados do curso. Em âmbito nacional, para
que o ensino possa contribuir com a trans-
formação social, Olga acredita que “é pre-
ciso que os professores se envolvam mais,
que tenham compromisso com a educa-
ção”. As pesquisas e investimentos nessa
área também são fundamentais. Deste
modo, é possível obter maiores soluções
para as deficiências de ensino.
“Os projetos que existem para a educa-
ção são bons, apesar de distantes da reali-
dade particular de cada escola ou núcleo
de ensino”. Esta situação de distanciamen-
to entre teoria e prática foi o objetivo de
mudança durante os anos de coordenação
de Olga. É consenso que a situação é com-
plexa. Por isso, a Universidade reformula-
se em busca de melhores condições e for-
mações para os futuros profissionais.
As transformações ocorridas no curso
de Pedagogia foram muitas... as conquistas
também. E, mesmo assim, “a gente nunca
está satisfeita. Sempre depois que faz, a
gente acha que podia ter sido diferente,
mas eu acho assim, que, com isso, nós con-
seguimos avançar”, comemora. A socieda-
de está em modificação constante, transfor-
mando os referenciais de educação, agre-
gando mais conhecimentos e tecnologias.
“Nós não estamos prontos para esta escola
do futuro, da tecnologia, que é outro mode-
lo de conhecimento”, completa Olga.
Mesmo em constante transformação e
com algumas limitações naturais, o curso
de Pedagogia possui os melhores concei-
tos em nível nacional. Olga Damis, que se
formou na UFU na década de 1960, com
toda sua experiência na área de educação,
classifica o curso como um dos melhores
do país. E declara: “o curso atual é o que
tem de mais completo em termos de for-
mação. Agora, eu sou suspeita pra falar”.
XV Seminário Regional do Educador – março 2010 - 31
A escola do futuro da tecnologia é outro modelo do conhecimentoD
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XV Seminário Regional do Educador – março 2010 - 33
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Geraldo Inácio Filho - Mara, como vocêvia a existência de dois departamentos deEducação (Dpopp e Depfe) e o Programa dePós-Graduação ser criado e mantido noâmbito da Direção do Cehar?
Mara Rubia Alves Marques - A princípio,
ambas as características me parecem muito pe-
culiares à forma como se organizou o trabalho
e as relações político-acadêmicas, ou seja, à di-
nâmica de constituição dos grupos que poderia
ser melhor explicada pelos colegas que viven-
ciaram o processo à época – vale ressalvar que
entrei na Universidade Federal de Uberlândia
(UFU) em 1992, como docente da equipe de
Metodologia de Ensino do Departamento de
Princípios e Organização da Prática Pedagógi-
ca (DEPOPP), e como mestranda do Programa
de Pós Graduação em Educação. De todo
modo, a identidade do Departamento de Fun-
damentos da Educação (DEPFE), do DEPOPP
e de suas respectivas equipes era muito signifi-
cativa. Num sentido amplo, entretanto, penso
se tratar de um modelo justificável dos pontos
de vista histórico, epistemológico e pedagógi-
co, de vez que era dominante nas instituições
de ensino superior tanto a estrutura de departa-
mentos como a clássica separação entre os fun-
damentos e as práticas da educação (entre a te-
oria e a prática, digamos), expressa mais am-
plamente na separação entre alta cultura e
cultura de massas, entre universidade e escola
básica, entre bacharelado e licenciatura etc. –
oposições hoje amplamente questionadas. Es-
pecificamente quanto à ligação entre o Progra-
34 - XV Seminário Regional do Educador – março 2010
Educação em debate
Profa. Dra. Mara Rúbia Alves Marques – Diretora atual daFACED
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ou
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Prof. Dr Geraldo Inacio Filho – Primeiro Diretor da FACED
Ge
rso
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ou
sa
ma de Pós-Graduação em Educação/Curso de
Mestrado e a Direção do Centro de Ciências
Humanas e Artes (CEHAR) – o que, tenho que
admitir, até agora ignorava, penso que pode ser
explicada não só pelas peculiaridades das rela-
ções entre os departamentos de educação, mas
também pelo fato de que os mesmos não pode-
riam arcar por si mesmos com a criação, manu-
tenção e desenvolvimento inicial do Programa,
há vista não haver então um corpo docente su-
ficientemente titulado; o que exigiu, como aliás
é ainda comum por outras razões, a colabora-
ção de professores de outros departamentos do
CEHAR da UFU.
G.I.F. - Como você via o envolvimentodos professores naquele tempo de “vacas-magras”, quando não havia recursos se-quer para manutenção das unidades, e hojequando isso não é problema?
M.R.A.M. - É uma questão complexa por-
que envolve o estilo da gestão do ensino supe-
rior em geral, inaugurado nos anos 1990, no
que tange a variáveis como o relacionamento
do Estado com as instituições, o financiamento,
a profissão e o trabalho docentes, entre outras.
Entendo que a tendência das “vacas magras” de
Fernando Henrique Cardoso perdura inalterada
pelo menos até meados da metade da década de
2000, já que no primeiro mandato da gestão
Lula da Silva a preocupação foi com a afirma-
ção da governabilidade do partido do Presiden-
te – comprometida pela crise de 2005 e 2006.
Somente a partir deste ponto, a meu ver, inicia-
se a fase propriamente lulista, marcada pelo au-
toproclamado planejamento estratégico, inte-
grado e sistêmico, por meio da instituição do
Programa de Aceleração do Crescimento/PAC
e da criação do então Ministério de Assuntos
Estratégicos. No ensino superior, mediante o
lançamento em 2007 do Plano de Desenvolvi-
mento da Educação/PDE ou “PAC da Educa-
ção”, relacionado à Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (Lei n. 9.394/1996), e às
metas de ampliação da oferta de educação su-
perior indicadas no Plano Nacional de Educa-
ção/PNE (Lei n. 10.172/2001). A despeito das
fortíssimas continuidades entre os estilos de
gestão de FHC e Lula, há evidentes rupturas no
sentido de alterações do comportamento gover-
namental com o setor das universidades públi-
cas, sobretudo pela instituição do Banco de
Professores-Equivalente, do Programa de
Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão
das Universidades Federais (REUNI), e da
Universidade Aberta do Brasil (UAB). Há ex-
pansão de instituições, reposição e ampliação
de vagas docentes e discentes, bem como au-
mento de recursos obviamente condicionados –
um período de relativas “vacas gordas”. Na
UFU e na Faculdade de Educação (FACED),
em decorrência, temos um processo de expan-
são de cursos/vagas e de um corpo docente al-
tamente qualificado; mas também a tendência,
há muito verificada, de diversificação e apro-
fundamento do trabalho – não é um dado me-
nor o fato de que fomos adquirindo crescente
protagonismo inclusive na captação de recursos
orçamentários via atividades acadêmicas (e
aqui não me atenho ao argumento do mercado
ou do “quase-mercado”, mas às demandas pró-
prias do clássico âmbito público). Entendo en-
tão que, relativamente ao início desta década,
teria mudado não tanto o grau, mas a natureza
do envolvimento dos professores. Se antes a
ênfase recaía sobre as atividades de ensino e
extensão, por exemplo, a tendência atual seria a
recorrência de atividades de ensino, pesquisa e
prestação de serviços. Sem contar o fato de que
o financiamento, a profissão e o trabalho dos
professores estão intimamente cindidos pela ar-
XV Seminário Regional do Educador – março 2010 - 35
gamassa da avaliação institucional e pessoal-
profissional. Trata-se, como percebo, de uma
nova subjetividade forjada sob diferentes cam-
pos de disputa.
G.I.F. - Antes do ano 2000 havia três uni-dades na UFU: Cehar, Cebim e Cetec. Dizia-se naquele tempo que os conselhos superio-res seriam pouco representativos e que sóhaveria democracia na Base, isto é, nos de-partamentos. Comente isso e compare com asituação dos conselhos nos dias que correm.Temos mais democracia hoje? Como você vêa democracia na universidade? Comente emrelação a cada segmento (docente, discente etécnico) e em relação à comunidade externa(inclusive a nação brasileira).
M.R.A.M. - Tive pouquíssima experiência
no interior dos conselhos superiores da UFU à
época, mas não creio que qualitativamente
possamos hoje falar em mais democracia, em-
bora do ponto de vista acadêmico, as relações
para o desenvolvimento de projetos entre os
departamentos das três grandes áreas fossem
mais intensas. Posteriormente, a situação mu-
dou bastante. A organização em 28 unidades
acadêmicas fragmentou a estrutura e o traba-
lho interno, levando a uma competição por re-
cursos, bem como a uma diferenciação cres-
cente entre as unidades, de modo que a orga-
nicidade, a meu ver, ficou mais difícil. Do
ponto de vista quantitativo os conselhos supe-
riores ficaram como que “inchados”, dificul-
tando, por vezes, a agilidade nas decisões e
nos encaminhamentos administrativos. Mas os
processos democráticos, a despeito, permane-
cem por força das representações devidamente
proporcionais entre docentes, técnicos, estu-
dantes e comunidade externa. A importância
dos conselhos das unidades acadêmicas, à se-
melhança dos antigos conselhos departamen-
tais, continua inquestionável mesmo com a di-
nâmica de representações, sendo esta cada vez
mais necessária mediante a ampliação do nú-
mero de professores. Em geral, penso que es-
tamos a assistir um significativo esgotamento
dos mecanismos da moderna democracia re-
presentativa em grande parte do mundo, mes-
mo sob regimes parlamentaristas, entre outros
fatores – manipulação, corrupção etc., pelo
surgimento de novos protagonistas políticos e
modos de participação. Mas penso ser ainda o
que temos de melhor em termos de ação polí-
tica formal no âmbito do Estado de Direito.
G.I.F. - O Plano de Desenvolvimento daUnidade, de seis anos, foi cumprido há qua-tro anos e precisamos elaborar outro plano.Como vê a capacidade de coesão do atualcorpo docente e técnico da FACED e aspossibilidades de elaborar e executar umplano com sucesso?
M.R.A.M. - Paradoxalmente, após a insti-
tuição dos novos Estatuto e Regimento da
UFU no final da década de 1990 algumas uni-
dades acadêmicas, inclusive a FACED, elabo-
ram seus planos de desenvolvimento sem que
a própria Universidade tivesse elaborado seu
plano institucional. O atual Plano Institucional
de Desenvolvimento da UFU (PIDE), iniciado
na gestão anterior e no momento em processo
de aprovação nos conselhos superiores, vem
cobrir esta lacuna de mais de dez anos. Enten-
do que com o planejamento da UFU as unida-
des acadêmicas terão mais condições de se
planejarem internamente. Atualmente, a FA-
CED não só tem contribuído para a conclusão
do PIDE, como tem uma comissão interna tra-
balhando efetivamente na elaboração de seu
plano de desenvolvimento por meio dos pro-
fessores organizados nos Núcleos Temáticos
da Faculdade. Ressalvo, entretanto, como pes-
quisadora e por evidências empíricas viven-
36 - XV Seminário Regional do Educador – março 2010
ciadas na gestão, que o sentido do planeja-
mento institucional tem mudado radicalmente
nos últimos dez anos. As ações de política pú-
blica tem sido definidas e condicionadas pela
metodologia de Editais/Projetos e Programas
datados, por adesão coletiva, das instituições,
ou individual, dos servidores, mediante finan-
ciamentos focalizados e direcionados confor-
me determinações muito variadas de setores
oficiais com vistas a resultados mensuráveis.
O REUNI pode ser interpretado como expres-
são deste processo diferenciado de gestão e fi-
nanciamento das Instituições Federais de En-
sino Superior (IFES) pelo MEC, com signifi-
cativo impacto no planejamento interno das
universidades, pautada em programas focali-
zados e com exiquibilidade financeira condi-
cionada pela relação metas/cronograma/ de-
sempenho/avaliação; o que se expressou, já de
início, na possibilidade de opção de adesão ou
não ao Programa pelas instituições ou por
suas unidades acadêmicas. Em síntese, em lu-
gar de políticas universais minimante previsí-
veis, na administração pública tem havido
uma hipertrofia de propostas que tornam o ato
de planejar por vezes confuso – o que, contra-
ditoriamente, indica maior necessidade de pla-
nejamento ágil, responsável e, resistentemen-
te, autônomo. O proselitismo político e ideo-
lógico perde terreno neste âmbito e o ritmo da
mudança tende a ceder cada vez mais ao ritmo
dos decretos.
G.I.F. - Compare as dificuldades da épocade instalação da FACED com os dias de suagestão. A que atribui o esgotamento dos pon-tos propostos naquele tempo mesmo com adificuldade de recursos? Quais são os pontosde estrangulamento nos dias de hoje? Quaissão os pontos promissores na sua gestão?
M.R.A.M. - Minha limitação em apontar
as dificuldades de origem da FACED passa
por dois aspectos. Primeiro, porque de 1997 a
2000 estive liberada para o doutoramento, o
que me impediu de acompanhar o processo
mais imediato de instalação da Faculdade,
embora tenha integrado a primeira comissão
estatuinte. Segundo, porque se estabelece um
distanciamento entre duas posições de sujeito,
ou seja, perspectivas diferentes que se tem
como professor e como professor gestor – daí
que não costumamos atentar para os colegas
que estão à frente da administração. Em mo-
mentos de confluência, porém, pude sentir di-
nâmicas de gestão próprias aos que me ante-
cederam na Direção da FACED e as respeito
porque quero crer que fizeram o melhor a seu
tempo. Mas me arrisco a indicar possíveis
“pontos de estrangulamento” caso não se aten-
te para a necessidade de forte ética pessoal,
honesta visão institucional, espírito público
não demagógico, responsabilidade fiscal e
ampla noção das relações intra e interinstitu-
cionais. Neste aspecto uso ainda o REUNI
como exemplo, de vez que este pode ser inter-
pretado também como um processo de mu-
dança político-cultural no interior das IFES,
pelo desafio colocado em termos de transpa-
rência de debates e decisões quanto à alocação
de vagas de servidores docentes e técnicos, de
recursos orçamentários, e quanto à racionali-
zação da estrutura física no âmbito de tensões
como quantidade e qualidade, particular e co-
letivo, demandas históricas e demandas proje-
tadas etc. Percebo, portanto, que no paradig-
ma de gestão atual não há espaço para narci-
sismos, voluntarismos, autoritarismos e
quaisquer privilégios. Quanto à minha gestão,
caso eu seja fisiológica e psicologicamente re-
sistente em perseguir os princípios acima indi-
cados, penso ser promissora.
XV Seminário Regional do Educador – março 2010 - 37
educação é sempre questio-
nada em nosso país. Qual a
melhor forma de educar? De
ensinar? Qual a maneira de alcançarmos
os objetivos da educação? Seria pratica-
mente impossível querer responder a esses
questionamentos. Quando se fala de dedi-
cação ao ensino, há um primoroso exem-
plo. Flaviane Reis possuía um sonho, e
conquistou. “Sempre quis lecionar e faço
isso desde os 19 anos”, diz a mestre em
Educação.
A
A professora de Língua Brasileira de
Sinais (LIBRAS) da UFU conta um pouco
de sua história e de sua relação com a edu-
cação. Em nosso país, existem, em média,
5 milhões de surdos, e apenas 300 profes-
sores surdos. Quando se pensa em mestres
e doutores, os números caem drasticamen-
te. E é nesse contexto que Flaviane dedica
sua vida à educação. Não apenas de Li-
bras, e sim de uma cultura surda. Cultura
da qual é nítido seu orgulho e satisfação. A
professora se tornou um canal de educa-
ção, quebra de preconceitos e paradigmas.
38 - XV Seminário Regional do Educador
Flaviane Reis: exemplo de superação e determinação
Além do conteúdo: umavisão de mundo
Professora se torna canal de educação, quebra de preconceitos eparadigmas
Talita Martins ReisTa
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A educação vai além do ensino do con-
teúdo curricular. É a forma de ver o mun-
do e a troca de experiências que cons-
troem o processo educacional. O ensino
no Brasil é um desafio constante. É neces-
sário empenho como o de Flaviane. Sua
forma de instrução concentra-se na ex-
pressão e contextualização do conteúdo.
Para a maioria dos alunos, aprender com
uma professora surda é novidade, é uma
quebra de paradigmas. O necessário é mu-
dar alguns conceitos de metodologia em
sala de aula para que o ensino seja com-
pleto.
Desafios do ensinoO sistema de ensino é formado para
alunos ouvintes, que são maioria. Assim, o
surdo, nesse contexto, é excluído. “É esse
o nosso pedido, pelas escolas bilíngues,
com espaços específicos para os surdos”,
diz Flaviane. A inclusão nos contextos so-
cial e educacional é importante para o de-
ficiente auditivo. O ideal é uma escola que
ensine e preserve a cultura surda. Algumas
tecnologias podem apoiar os surdos, mas
nada substitui a construção da identidade
da cultura surda. Esse é o desafio da edu-
cação. “Eu acredito que vai mudar a vi-
são”, completa a professora.
O objetivo de todo professor é a forma-
ção de profissionais da educação consci-
entes e capazes de lidar com os desafios
diários da profissão. E não é diferente com
Flaviane. Seus objetivos são alcançados a
cada novo aluno inscrito na disciplina de
Libras, tornando realidade um sonho de
sua juventude. Muitas coisas, na educação
em geral, precisam de mudanças... mas al-
guns passos importantes já foram dados.
XV Seminário Regional do Educador – março 2010 - 39
Caminhos da capacitaçãoFlaviane, sem dúvidas, é uma guerreira.
Enfrentar as barreiras do preconceito em
busca de um desejo e de realização é uma
conquista diária. É nítida a paixão desta pro-
fessora por sua profissão, exercida desde os
19 anos, e conquistada com empenho. “No
curso de Pedagogia, eu tive muita dificulda-
de. No início foi muita luta para conseguir
um intérprete durante dois anos. Acredito
que perdi muita coisa nesse período”, co-
menta. Flaviane, porém, não parou por aí.
Após sua formação, queria mais, e conse-
guiu. Fez mestrado na Universidade Federal
de Santa Catarina, agora com melhores con-
dições, professores bilíngues e surdos.
Prof. Flaviane e Prof. Keli Maria, intérprete
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criação da Faculdade de
Educação (FACED), há uma
década, possibilitou inúmeras
melhorias em relação aos cursos regidos
por ela, à administra-
ção da unidade e ao
sistema burocrático.
Esta é a avaliação do
primeiro diretor da FA-
CED Geraldo Inácio
Filho, 58. Ele explica
que, na antiga organi-
zação, existiam várias
reclamações das condi-
ções de trabalho e da
burocracia, que atrapa-
lhavam principalmente
a publicação de traba-
lhos e artigos. “Quando
nós chegamos aqui, levamos sete anos para
criar uma revista chamada Educação e Fi-
losofia. Nós conseguimos. A revista se fir-
mou e hoje é respeitada no mundo inteiro”,
comenta.
A Geraldo ingressou na Universidade
Federal de Uberlândia (UFU), em 1979,
e atualmente é docente e membro do Nú-
cleo de Pesquisa de
História e Historio-
grafia da Educação.
Há mais de 30 anos,
participa de ativida-
des relacionadas à ad-
ministração e organi-
zação nas áreas de
História e Educação.
No processo de cria-
ção e idealização da
FACED, coube a ele
o posto de primeiro
diretor.
A instalaçãoA FACED foi fundada a partir da união
dos antigos departamentos de Fundamen-
tos da Educação e Princípios e Organiza-
ção da Prática Pedagógica. O processo
trouxe dificuldades. Geraldo explica que o
40 - XV Seminário Regional do Educador
“Sete anos para criar a revista Educação e Filosofia”
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Reconstruindo a educaçãoPrimeiro diretor analisa os avanços obtidos com a criação da FACED
Stella Vieira
maior problema era conciliar os interesses
diversos, principalmente devido ao fato de
que os departamentos se encontravam em
diferentes blocos.
Após as instalações, Geraldo assumiu a
direção da FACED e, durante um ano,
ocorreram modificações. Entre elas, a
criação de um novo regimento, do plano
de seis anos, e a implementação do pro-
grama de doutorado na área de Educação.
Outra realização foi o Caderno de História
da Educação, em 2002, que, então com
periodicidade anual, passou a ser publica-
do por semestre.
Realizando projetosUma das principais atividades da Fa-
culdade no momento é o Programa de
Pós-Graduação, que possui três linhas
para mestrado e duas linhas para doutora-
do. O programa, que pretende atingir nota
seis na avaliação da CAPES, precisa da
participação de mais doutores da área.
Apesar disso, o programa funciona e os
primeiros mestrandos e doutorandos de-
fenderam suas teses ainda no ano de 2009.
A Faculdade oferecerá também um Dinter,
que é um Doutorado Interinstitucional e
que estará vinculado com a Universidade
Federal do Amapá.
Somado às melhorias possibilitadas pela
criação da FACED, vários congressos im-
portantes foram e serão realizados na uni-
dade. Entre eles, o famoso Congresso
Luso-Brasileiro de História da Educação –
a sexta edição foi realizada em Uberlândia,
em 2006 – e o antigo Encontro dos Pesqui-
sadores em Educação do Centro-Oeste
(Epeco), atualmente denominado Anpedi-
nha, que terá sua segunda edição em 2010.
No futuroExistem outros projetos previstos: a re-
forma do bloco, no qual se encontra a FA-
CED, e a mudança das salas de aula para
um novo bloco. Geraldo afirma também
que, na atual unidade, as condições de tra-
balho nunca foram melhores e que não
existe mais impedimento na realização de
projetos e publicações de artigos.
“Eu penso que nós já demos um grande
passo nesses nove anos e foi um cresci-
mento muito importante. Foi um cresci-
mento que possibilitou todas essas con-
quistas a que já me referi”, comenta. A
mudança das salas de aula para outro blo-
co aumentou as expectativas de melhores
condições de trabalho e haverá mais espa-
ço para abrigar os professores e os dois
cursos regidos pela FACED.
XV Seminário Regional do Educador – março 2010 - 41
Diretor implementou programa de doutorado na área de Educação
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ua fala ésincroni-zada com
segurança e tranquili-dade. É do tom melde seus olhos que dei-xa escapar a visãoperspicaz de futuro.As mãos inquietasdenotam energia e de-terminação. No tomde voz, sanciona asinceridade. Dedica-ção e sabedoria sãoatributos que se in-corporam à sua per-sonalidade para fluire revelar seu papel de Coordenadora doCurso de Pedagogia. Assim é Maria IreneMiranda. Desafios? Aí estão. Experiência?O que, a seu tempo, ainda não conquistou...“corre atrás do prejuízo”. É assim que, em2006, um ano após sua volta do doutorado(São Paulo), assume a coordenação.
S
As raízes, Ribeirão Preto; as amarras,Uberlândia. Trinta anos para abarcar gradua-
ção, especialização,mestrado, doutorado,família, amigos... Nacorrida da vida, largadae chegada convergem.“Minha família é mi-nha referência”. Assim,a união impõe-se sobrea carência material quetransmuta em supera-ções e realizações.
É imprescindíveladquirir conhecimen-to profundo para fazerjus ao cargo ocupado.A implementação denovo projeto do curso
gera transtornos administrativos: vivenciar,por quatro anos, dois currículos ao mesmotempo. Muda o projeto e altera a grade cur-ricular: aumento da carga horária do curso einserção de componentes curriculares obri-gatórios. Forma-se uma comissão avaliativado projeto que não consegue um envolvi-mento efetivo: há resistência, indisposição efalta de entrosamento de boa parte dos pro-
42 - XV Seminário Regional do Educador
"Na corrida da vida minha família é minha referência"
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Coerência para reestruturarMaior desafio: quatro anos para mudar uma cultura de cinquenta
Fausiene Pereira Resende Victor
fessores ao projeto. É preciso romper com adicotomia das disciplinas teóricas com aspráticas e, para isto, o maior desafio é: mu-dar em quatro anos uma cultura de 50 anosde curso! Hoje: professores e alunos maisreceptivos e dispostos à discussão.
Irene exerce atividades multíplices: do-cência nas áreas da graduação e pós, nosprogramas de mestrado e doutorado; alu-nos bolsistas e produção de artigos e livros.Quando um aluno fala que não quer serprofessor... Irene não titubeia na resposta:“Pô, então tá no curso errado! ... A base docurso é a docência!”. Ela é categórica aofalar que Pedagogia “não é um curso fácil,não é uma função que exige menos do pro-fissional depois, só porque ele vai trabalharmeio período”.
Maria Irene é paulista que incorporou ojeito mineiro de ser! Ao observar, sabe cap-tar as nuances do que não está explícito. Istose faz nítido ao levantar a questão da EAD(Educação a Distância). Cautela: denota ocompromisso com a excelência; consciên-cia: nova frente que se abre e não foge dosavanços que o mundo passa... Mas nem porisso deve-se mergulhar sem reservas. A mi-núcia ao examinar permite formular ques-tionamentos: será que os alunos acostuma-rão com a cultura da autodisciplina? Os pro-fessores saberão conciliar aula não-presencial sem detrimento da aula presen-cial? Um suspiro escapa de Irene para de-clarar: “Ai! Eu tenho medo do que a gentepode viver aí nesses próximos anos. Vamosaguardar para ver!”.
Arrebatamento. É assim que a coorde-nadora se sente ao enumerar a privilegiadaposição ocupada pelo Curso. ENADE: notaA- sempre. Avaliações da Abril: cinco es-
trelas. No âmbito da Universidade, a FA-CED toma a dianteira em publicações epesquisas. Há ex-alunos ocupando cargosimportantes, como a diretora do CEMEP; oprofessor Marcelo Soares Pereira da Silvaestá cedido ao MEC; os eventos abrangemesfera internacional.
A meta deste ano é a reestruturação deum projeto pedagógico para 2011, com pro-posta coerente com o que os professoresacreditam e os alunos merecem. Celebrar 50anos de curso é de grande responsabilidade:“A gente mostra a cara do curso todo dia,mas acho que esse é o momento especial” e“estar à frente não significa a gente estar le-vando tudo sozinha”. Ao dar sua contribui-ção na história do curso, sente que muitomais recebeu.
Talvez seja justamente por mesclar serie-dade e simplicidade, comprometimento ecompanheirismo, determinismo e dinamis-mo que o buril do tempo e das experiênciasmoldaram a marcante personalidade. Acei-taria novamente a coordenação? O rosto seabre em um sorriso: “Sim”. Um dos enig-mas do sucesso? Fazer o que gosta!
XV Seminário Regional do Educador – março 2010 - 43
Meta deste ano é reestruturar projeto pedagógico para 2011
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Moralidade, coerência, inte-gração e responsabilidade”.
Essa é a cartilha seguida e afirmada porConceição Maria Cu-nha em sua trajetóriaprofissional. Durante aconversa, Conceiçãojamais perde o focoempreendedor que, de-finitivamente, mantémintrínseco. Com 20anos de UFU, a direto-ra da FACED, em 2001e 2002, demonstra cla-reza em suas concep-ções administrativas:Conceição já foi ge-rente da Divisão deOrientação Psico-peda-gógica, coordenadorado curso de Pedagogiae vice-diretora do Cen-tro de Ciências Huma-nas e Artes, no período em que a universi-dade era dividida em Centros.
“A professora reafirma que o retorno da
vida em sala de aula não tem preço. No en-tanto, há outros fatores que ditaram a sua
vida profissional. Otato, talvez, para identi-ficar os problemas exis-tentes em uma gestão.E, a destreza e a habili-dade em corresponder eequilibrar as demandasda vida profissional. Éfácil perceber o gostoda professora por desa-fios. Por isso ela se inti-tula como uma “nôma-de” e afirma não tercerteza do futuro: “Eusempre mantenho umaresidência fixa, mas dorestante, eu estou nomundo”.
Conceição inicia suacarreira na UFU em
1982. De origem mineira, nascida emBelo Horizonte, ela teve experiência de
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Trajetória profissional seguida com moralidade e coerência
Da
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Empreendedorismo eeducação
Ex-diretora da Faculdade de Educação, Conceição Maria conta o segredo desuas gestões na UFU
Gabrielle Carolina Silva
quatro anos em São Carlos ao ser aprova-da na única vaga do concurso do MECpara consultoria educacional. A aposenta-doria, acontece dez anos depois de ingres-sar na UFU. Conceição consegue ficarafastada da vida acadêmica por apenastrês meses e retorna à Uni-versidade como professora eposteriormente como coor-denadora do curso de Peda-gogia. Com extrema tranqui-lidade e clareza, a ex-direto-ra explica que a fórmulapara gerir é a mesma: “é ne-cessário estar na ‘ponta’para compreender as neces-sidades”.
Conceição lembra comorgulho das melhorias con-quistadas em todos os seuscargos. E, a respeito das di-ficuldades, calma, afirma: “eu não vejocom tanta confusão não. Acho que o maiorproblema da gestão, de um modo geral, évocê ter uma direção nítida sobre aquiloque pretende fazer”. Ao valorizar os proje-tos que atingiam os alunos no Centro deCiências Humanas e Artes, ela reavalia adistribuição orçamentária e aumenta o nú-mero de projetos aprovados - assim comofez em seus dois mandatos de coordena-ção do curso de Pedagogia. Apoia a inte-gração entre professores; reestrutura a gra-de do curso que mantinha os dois primei-ros anos em ensinamentos teóricos; e entreoutras conquistas, de três alunos fazendopesquisa, com apenas três anos de gestão,Conceição aumenta esse número para 27.
Porém, ela lembra: “eu digo “eu” por-
que estava à frente, mas sempre conteicom o apoio de vários professores... Agente tinha uma equipe que acreditava queaquilo era possível”. Como esperado dealguém compromissado com o retorno so-cial, Conceição explica que todas suas
conquistas, calcadas natransparência, a persistênciana eficácia, e a responsabili-dade com seus cargos, estãobaseadas em uma responsa-bilidade ainda maior com asala de aula e o aluno.
Foi com essa coerênciacom a verdade que Concei-ção Maria consegue, em suagestão como diretora, apro-var o Projeto Veredas e ain-da em seu tempo de profes-sora, com muita dificuldade,implantar a pós de Pedago-
gia Empresarial. “Quando eu falei nissoeles queriam me comer viva, foi um Deusnos acuda”. Para manter a moralidade, quelhe é tão fundamental, ela corta ponto deprofessores que faltavam sem avisar; masse orgulha: “e não deixei de ser eleita paracargo nenhum não ‘hein’”.
Como definir a sua experiência aqui naUFU? “Foram os anos áureos da minhavida, principalmente a partir de 92, emmatéria de ensino superior e por tudo”. Ecom tudo isso, ficou claro o porquê detantos abraços que deveriam ser enviadosà professora em nossa breve entrevista portelefone. Seu espírito de integração deixasaudades na FACED. Orgulhosa então, elapôde lembrar: “Graças a Deus, é por issoque o pessoal ainda lembra de mim”.
XV Seminário Regional do Educador – março 2010 - 45
UFU: “os anos áureos de minha vida”
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Nada mais significativo para aUFU que a criação da Facul-
dade de Educação”. A frase do reitor Alfre-do Júlio FernandesNeto, dita ao retomar ahistória da criação docurso de Pedagogia,justifica-se: “Somosuma instituição de ensi-no, de educação”. Des-ses 50 anos, ele destacamuitos fatos marcantes.“Houve reformas admi-nistrativas e do estatuto,criando-se as unidadesacadêmicas”, sintetiza,enfatizando a atividadeda Faced, tanto na gra-duação, quanto em suapós-graduação, por ser“referência, o melhorconceito Capes daUFU”.
“
Ele, que participa frequentemente doseventos da unidade – contabiliza “quaseum por semana” –, deposita na Faced “a
convicção do desenvolvimento da universi-dade pela educação”, atribuindo à unidadea responsabilidade de formar didática e pe-
dagogicamente os pro-fessores. “Quando meformei cirurgião den-tista, para a clínica, fuiconvidado e me torneiprofessor. Aprendi comum grande orientador eguru, que dizia: ‘Nós,dentistas, engenheiros,advogados, médicos,que nos dizemos pro-fessores, estamos emexercício ilegal da pro-fissão, porque nenhumteve uma formação pe-dagógica, uma licen-ciatura. Nós nos forma-mos profissionais demercado e, de repente,
viramos professores, mas qual é o métodode ensino?’. No mestrado, fizemos especia-lização; no doutorado, viramos pesquisado-res, mas, em momento nenhum, viramos
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Pós graduação precisa ter viés didático-pedagógico
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O norte da educação daUFU está na FACED
Reitor atribui à unidade a responsabilidade de oferecer à instituição osmétodos para enfrentar os desafios pedagógicos contemporâneos
Mirna Tonus
professores”, explica.
Para o reitor, é preciso que, no mestrado,quem não teve licenciatura seja formadoprofessor, com orientações e métodos. “Nos-sos programas de pós-graduação precisamter esse viés de formação didático-pedagógi-ca. Tenho cobrado isso da Faced. Se não te-mos oportunidade para isso, quando vamostransformar esses profissionais em professo-res? Tenho certeza de que a qualidade do en-sino melhorará muito em todas as áreas, masesse profissional precisa ter capacitação. So-zinho, é difícil aprender a ser professor”.
DesafiosO reitor destaca que a educação tem en-
frentado diversos desafios desde a décadade 1960: “A pedagogia evoluiu muito, nãosó no conteúdo, mas em métodos científi-cos, trabalhos, experimentos. Nesse meio,apareceu um grande brasileiro chamadoPaulo Freire, que mudou o modo de pensar,propondo uma educação cidadã, problema-tizadora. Nossos professores tiveram que secapacitar, e só professor mesmo é capaz,com a abnegação que tem, de mudar todauma concepção, uma convicção, para atuarde forma diferente”.
O desafio atual, na visão de FernandesNeto, é lidar com as ferramentas, como a in-ternet. “Isso está nos levando a pensar emoutro momento da educação, outra práticapedagógica. Hoje, o professor é mais um ori-entador, sinaliza, oferece oportunidade. Nãotem mais tanto aquela presença física, pelosinstrumentos que temos, mas o instrumentonão fala nem executa sozinho. Precisa de umprofessor pensador para elaborar o projeto”,valoriza.
Nesse momento de expansão da educaçãoa distância, fundamental, em sua opinião, ele
considera importante a atualização: “Houveuma evolução no pensamento, no método e,agora, nas ferramentas. Nossos alunos estãocada dia melhores, mais críticos, cobrammais. A vida do professor é uma inquietação,ele tem que estar em formação constante”.
Ainda em termos de transformações, umanovidade foi a instalação do curso de Jorna-lismo na Faced, o que, segundo o reitor, pre-encheu uma lacuna que havia na UFU e me-rece solidariedade na questão do diploma.“Sabemos da abrangência da profissão. Serjornalista não é só escrever página de jornal.É mídia, e precisamos capacitar jovens paraque a sociedade tenha notícias claras, comresponsabilidade, dos acontecimentos quefazem o dia a dia do nosso planeta. Para isso,precisamos de profissionais formados comcompetência técnica, científica e ética”, re-força.
Neste sentido, de uma formação compe-tente, a Faced precisa, como diz FernandesNeto, ser “o carro-chefe da universidade, daro norte da educação, pois educação é sua es-pecialidade”.
XV Seminário Regional do Educador – março 2010 - 47
Desafio atual é saber lidar com as ferramentas como a internet
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a
om a criação da FACED-Fa-
culdade da Educação a Uni-
versidade Federal de Uber-
lândia trouxe para o curso de Pedagogia e
para o mestrado em Educação possibilida-
des de crescer no ensino, pesquisa e exten-
são. A criação da FACED proporcionou
também outras melhorias, aproximou do-
centes, projetos e trabalhos dos antigos
departamentos o DPOPP denominado de
Princípios e Organização da Prática Peda-
gógica e o DEPFE conhecido como depar-
tamento de Fundamentos da Educação, ou
seja, a articulação entre as questões teóri-
cas e práticas. A professora Sônia Maria
dos Santos, a primeira diretoria eleita da
FACED, acompanhou de perto esta e tan-
tas outras transformações.
C
Antes da criação da FACED o curso de
Pedagogia era mantido por dois Departa-
mentos: Fundamentos da Educação em
que eram lotados os professores das áreas
de Filosofia, História da Educação, Psico-
48 - XV Seminário Regional do Educador
Desejo de construir uma faculdade de Educação forte
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Primeira diretora eleita daFACED
Um mandato de quatro anos exigiu dos diretores eleitos uma novaconcepção de gestão
Maria Clara Souza Parreira
logia e Estrutura e Funcionamento do En-
sino; o outro departamento era conhecido
como Prática Pedagógica cabia a ele cui-
dar e manter as áreas das metodologias e
da didática. “Quando a FACED foi criada
entendemos já na sua concepção que nesta
unidade acadêmica, não caberia mais as
antigas divisões, assim entendíamos na-
quela época que deveríamos acabar com
os Departamentos, pois nosso desejo era
construir uma Faculdade de Educação for-
te e conhecida nacionalmente” explica a
professora Sônia Maria dos Santos. Para
ela, essa junção foi muito importante para
o curso, antes, os trabalhos eram muito in-
dividuais nos depar-
tamentos, fragmenta-
dos, e essa união na
estrutura administra-
tiva auxiliou no sen-
tido de dar visibilida-
de ao grupo de pro-
fessores e a seus projetos.
Antes de a professora Sônia assumir
como Diretora, a FACED teve dois Dire-
tores pró-tempores, Geraldo Inácio Silva e
Conceição Maria da Cunha. Nesta época,
o Conselho se reunia para organizar o re-
gimento da Faculdade que previa eleições
com quatro anos de mandato.
Sônia Maria concorreu com uma pro-
fessora conceituada, conhecida e com
muitos anos de trabalho, lembra que o
processo foi rico, inovador e democrático
o qual participaram alunos, professores e
técnicos-administrativos. “Minha decisão
por candidatar foi respalda por um grupo
que tem projetos semelhantes aos meus e
acreditaram assim como eu na possibilida-
de de construir uma unidade acadêmica
mais humana. Uma das marcas deixadas
do período que eu administrei foi a de não
ter privilégios, o grupo tinha poder e tinha
voz. Era assim que eu acreditava, era as-
sim que eu via, perante o individual. Pro-
fissionalmente foi muito importante co-
nhecer como a Universidade se organiza,
como os recursos públicos chegam na
UFU e como eles são administrados. A
grande contribuição que eu acredito que
deixei, que alguns professores até hoje co-
mentam, e que é uma característica muito
pessoal minha, e é o
exercício que me
acompanha cotidia-
namente, acreditar na
capacidade do ser
humano e nos traba-
lhos em grupo”.
FACED faz opção por ter um ConselhoPleno
Mesmo com a possibilidade que a FA-
CED tinha de funcionar administrativa-
mente com um conselho por representa-
ção, optou-se pela continuação do Conse-
lho Pleno. Os professores da FACED
participam de todas as reuniões convoca-
das pela direção. “Nós entendemos que a
representação não era uma forma demo-
crática e assim decidimos funcionar com o
conselho pleno em todas as reuniões. Na
FACED todos os professores são convoca-
dos, para participar de todas as reuniões”.
XV Seminário Regional do Educador – março 2010 - 49
“A grande contribuição que deixeiao longo dos anos de docência está
no exercício cotidiano derecomeçar, sacudir a poeira,acreditar no grupo enfim no
homem”
Pontos importantes da época que foidiretora
Da época que foi diretora, a professora
Sônia destaca diversos pontos positivos,
para ela, pessoalmente e para a faculdade.
Para ela, a possibilidade de dirigir a facul-
dade fez com que ampliasse seu olhar e
sua compreensão para o que entendia
como gestão pública e trabalho coletivo.
Foi um período de muito trabalho para to-
dos os docentes uma vez que todos foram
envolvidos em diferentes equipes afim de
estabelecer metas para que a faculdade pu-
desse crescer e ter visibilidade dentro e
fora dos muros da UFU.
No período em que foi diretora criou um
setor de eventos, atualmente assumido pela
secretária do Laped (Laboratório Pedagógi-
co) esse setor organizou as propostas dos
docentes e a formação continuada passou a
ser prioridade na FACED. O Forumdir (Fó-
rum Nacional de Diretores da Faculdade de
Educação do Brasil), FORUM que reúne
todos os diretores de Faculdade de Educa-
ção das universidades publicas do Brasil,
realizou duas importantes reuniões na FA-
CED durante sua gestão.
Para a professora Sônia Santos “O pro-
fissional que ela é resulta da soma dos lu-
gares que estudou, dos professores que co-
nheceu, de sua família e de sua religião
apesar das pedras que encontrou no cami-
nho, construiu concepções, é formadora
de professores, por isso defende firme-
mente o coletivo. Ela acredita que sua ges-
tão, auxiliou vários professores, alunos e
técnicos a repensarem tanto a
vida pessoal quanto a vida profis-
sional no que diz respeito a soli-
dariedade e respeito ao homem
essencialmente humano portado-
res de defeitos e qualidades. Nos
dias atuais a professora coordena
vários projetos importantes, com
financiamento do MEC e da pró-
pria UFU.
A Faculdade da Educação da
época em que a professora Sônia
foi Diretora, aos dias de hoje,
cresceu muito tanto em termos
quantitativos como qualitativos é
uma Faculdade em processo de
crescimento e consolidação de suas metas.
Antes havia apenas o curso de Pedagogia
e o mestrado. Atualmente tem o doutora-
do, pós-doutorado e o curso de Comunica-
ção Social com habilitação em Jornalismo,
com possibilidades de crescer mais.
50 - XV Seminário Regional do Educador
Gestão auxiliou professores e alunos a repensarem vida pessoal e profissional
Arq
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ma das maiores necessida-
des da pós-graduação da Fa-
culdade de Educação (FA-
CED) atualmente é o intercâmbio interna-
cional. Como potencializar o programa
nesta área? Carlos Henrique Carvalho, 48,
que coordena a Pós-Graduação atualmen-
te, sugere: “Precisamos ampliar os conta-
tos na América Latina, América do Norte
e reafirmar alguns contatos que já existem
na Europa”. Uma alternativa é que a Coor-
denação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (Capes) disponibilize o
valor de uma bolsa para motivar os alunos
na participação de um intercâmbio. “É es-
sencial que haja uma política de valoriza-
ção de programas no exterior”, reforça.
U
Para a Pós-Graduação, é fundamental
que os projetos sejam aprovados junto às
agências de fomento. Carlos considera im-
portante direcionar os trabalhos para peri-
ódicos mais bem-avaliados e para editoras
mais conceituadas em termos de corpo
editorial. “A construção teórica do progra-
ma é variada devido à pluralidade teórica.
Essa construção depende de cada grupo e
núcleo de pesquisa”.
XV Seminário Regional do Educador – março 2010 - 51
Os caminhos daPós-Graduação
Coordenador analisa como potencializar o programa para colocar aprodução em debate
Lucas Felipe Jerônimo
Precisamos ampliar os contatos na América Latina e América do Norte
Luca
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rôn
imo
A FACED conta com as seguintes li-nhas de pesquisa: no Mestrado, História eHistoriografia da Educação; Saberes ePráticas Escolares; Política e Gestão daEducação; no Doutorado, História e Histo-riografia da Educação; Políticas e SaberesEscolares. Uma importante linha de pes-quisa, que integra, atualmente, 16 docen-tes, é Saberes e Práticas Educativas. Essalinha pode ser definida como um campode investigação científica com o objetivode produzir novos conhecimentos e envol-
ver estudos sobre, entre outros tópicos,currículo, culturas, saberes e práticas es-colares, formação docente, ensino supe-rior, metodologias de ensino, cotidiano es-colar, aspectos psicológicos do processode ensino e aprendizagem e da relaçãoprofessor-aluno.
Comunicação SocialCarlos espera que o curso de Comuni-
cação Social possa direcionar algumaspesquisas para o campo educacional. “Namedida em que as pesquisas do curso de
Jornalismo estejam relacionadas com aquestão educacional, é possível firmaruma boa parceria com o curso, inclusiveabrindo linhas de frente que possam viabi-lizar uma integração maior do curso noâmbito da pós-graduação”, afirma o coor-denador. Sobre a relação das atuais linhasde pesquisa e o curso de Jornalismo, Car-los reforça: “As pesquisas focam seus es-tudos em Educação brasileira, dessa for-ma, o curso de Jornalismo terá que se ade-quar, o contrário seria mais difícil no quetange à competência, visto que o Jornalis-mo é uma área bem específica”.
Divulgação científicaO coordenador analisa como razoável a
divulgação científica e aponta que o pro-grama ainda tem desafios de colocar emevidência aquilo que produz. “Há traba-lhos diferentes que poderiam ser maisbem-aproveitados”, destaca, salientandoque talvez falte maior divulgação pela uni-versidade, evidenciando para os outrosprogramas e para a comunidade científica.Carlos ressalta que é importante destacar aprodução volumosa, qualificada e que, àsvezes, não é ponto de discussão no meioacadêmico brasileiro. “Um grande desafioda pós-graduação é colocar a nossa produ-ção para debate”, reforça.
Carlos Henrique Carvalho faz parte daCoordenação do Programa de Pós-gradua-ção em Educação, mestrado e doutoradoda Faculdade de Educação (FACED).Com formação voltada para a educação,Carlos é graduado em Direito; em Histó-ria, possui graduação, mestrado e doutora-do; e, em Educação, mestrado, doutoradoe pós-doutorado.
52 - XV Seminário Regional do Educador
Grande desafio da pós-graduação é colocar nossa produção para debate
Pa
ula
Gra
zie
la
Eu acho que a única alterna-
tiva que o mundo tem de
mudança é pela educação”. São essas as
palavras que Adriana Omena, coordenado-
ra do curso de Comunicação Social: Habi-
litação em Jornalismo da UFU, encontra
para traduzir o diferencial da graduação
oferecida pela universidade: uma preocu-
pação com a sociedade. Publicitária por
vocação e professora por paixão, a douto-
ra em comunicação se entregou à publici-
dade por querer o jornalismo. Foi na sala
de aula, porém, que Adriana se encontrou.
Depois de experimentar a vida de uma
agência de propaganda e presenciar o
crescimento dos alunos na faculdade, ela
não teve dúvidas: continuou a estudar, fez
mestrado e doutorado e, há dez anos, lida
com estudantes de comunicação.
“
Adriana trabalhou com pesquisa e con-
seguiu estágio em uma agência de publici-
dade durante a graduação em Publicidade
e Propaganda na Universidade Metodista
de Piracicaba. Ao vivenciar a rotina de
uma agência, a coordenadora brinca: “é
insana, publicitário não tem vida”. O gos-
to pela pesquisa e a dificuldade em conci-
liar a família com o trabalho foram funda-
mentais na decisão pelo mestrado. E foi aí
que surgiu o convite para lecionar. Desti-
no? Não, somente o caminho certo: a uni-
ão entre ser graduada em Publicidade e a
possibilidade de trabalhar com as outras
habilitações da Comunicação Social.
A chegada à UFU veio pela redistribui-
ção da Universidade Federal do Tocantins.
XV Seminário Regional do Educador – março 2010 - 53
Destino ou acaso?A publicitária que se entregou à docência por paixão às salas de aula e àcomunicação
Paula Arantes Martins
Ensino superior deve ter foco em uma formação teórico-humanística
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Adriana ainda trabalhou por um ano no
curso de Artes da UFU, ministrando a dis-
ciplina de Metodologia de Pesquisa, en-
quanto trabalhava na proposta de criação
do curso de Jornalismo. A publicitária
conta que o maior desafio de ser coorde-
nadora é intermediar as relações entre pro-
fessores, alunos, instituição, e que sua
principal função é fazer o curso acontecer.
A proposta de criar um curso de gradua-
ção nasce com a proposição de uma unida-
de acadêmica. Entretanto, com o curso de
Jornalismo, aconteceu o contrário: a pro-
posta veio da reitoria, na época, sob o co-
mando do professor Arquimedes Ciloni –
ele tinha o curso como um sonho. Enquan-
to, na maioria das universidades, cria-se o
curso para depois montar a estrutura, na
UFU, todo o aparato para a Comunicação
Social já existia. Arquimedes viu o sonho
virar realidade em 2009: ano de ingresso da
primeira turma de Jornalismo.
O curso está implantado na Faculdade
de Educação. A proposta se destaca em re-
lação à de outras faculdades, pois tem o
olhar dos profissionais da educação.
Adriana esclarece que a intenção não é
formar jornalistas educadores. O objetivo
é formar jornalistas atentos a essa causa.
Ao vincular comunicação e educação, o
desafio, no ensino superior é trabalhar a
interdisciplinaridade com foco em uma
formação teórico-humanística. Mesmo em
trabalho com reportagens, notícias e maté-
rias. Em última instância, o jornalismo é
uma profissão que lida com as pessoas.
É neste segmento, de formar bons pro-
fissionais, que Adriana se apresenta como
defensora intransigente da monografia e do
projeto experimental, processos pelos quais
os alunos da UFU passarão para concluí-
rem o curso. A coordenadora ressalva que,
em um curso de bacharelado em uma uni-
versidade federal, bancada pelo dinheiro da
sociedade, os alunos não podem sair para o
mercado de trabalho sem produzir uma
monografia. “Essa etapa é fundamental
para compreender o que é fazer ciência e
apresentar projeto experimental”. Por isso,
ela está estudando, juntamente com os ou-
tros professores, a possibilidade de os alu-
nos apresentarem um mix de três produtos:
“um jornal, uma revista e um documentário
ou um minidocumentário, um site e um jor-
nal de bandeja. “Às vezes, você quer fazer
um projeto de educomunicação, às vezes
você quer fazer um website, um blog jorna-
lístico, a gente não vai prender”.
A maior gratificação ou realização da
coordenadora é ver os alunos, depois dos
quatro anos, com seus caminhos delinea-
dos e escolhas feitas. O crescimento ob-
servado em sala de aula é absurdamente
maior do que em uma agência. Adriana re-
vela ainda que a Faced recebeu bem o cur-
so e o resultado obtido em um ano por
professores e alunos é surpreendente: pro-
jetos aprovados, alunos bolsistas, artigos
publicados e alguns fatores que já apre-
sentaram necessidade de mudanças. O sal-
do tem sido positivo, devido à feliz junção
entre o empreendedorismo dos professores
e a animação dos alunos. As expectativas,
agora, aumentam com a chegada dos ca-
louros.
54 - XV Seminário Regional do Educador
m grande desafio dos temposatuais surge do ambiente co-mum criado na interação da
área da comunicação com a educação. Odiálogo entre es-sas duas áreastrabalha contex-tos importantesna formação doindivíduo, naeducação formale informal. Paraefetivar a partici-pação dos meiosde comunicaçãona formação doindivíduo, é im-portante a suaimplantação nasescolas para o fo-mento do debate.
U
A comunica-ção em um cursode educação pro-move abertura
para a interdisciplinaridade. Na prática, háprofessores que trabalham com os meios decomunicação, mas é um uso desprovido dodebate da interdisciplinaridade. No curso
de Comunicação,no caso de efeti-va união com aeducação, pro-fessores e alunos– ao trabalhar oJornalismo nessaperspectiva –tendem a valori-zar a função edu-cativa dos meios.
“No contextodas tecnologiasdigitais, a Webtem aberto espa-ços para a con-cretização dessainterdisciplinari-dade, com asfuncionalidadesde uma nuvem
XV Seminário Regional do Educador – março 2010 - 55
Jornalismo e a Educação:Encontro
Diálogo contribui para formação do indivíduo e permite ainterdisciplinaridade
Lucas Felipe Jerônimo
Trabalho com meios de comunicação deve-se ater à interdisciplinaridade
Luca
s Je
rôn
imo
de comunicação que abrange a internet edispositivos como celular, TV e rádio digi-tal, computador e até mesmo relógio”,afirma Mirna Tonus, professora especiali-zada em tecnologias digitais.
Professora adjunta da Faculdade deEducação no curso de Jornalismo, MirnaTonus possui 22 anos de experiência pro-fissional em mercado, tendo atuado em as-sessoria de imprensa e jornalismo especia-lizado na área agropecuária. É mestra emeducação com estudos dos processos deensino-aprendizagem. Em seus estudos demestrado –Educação – e doutorado – Mul-timeios –, consegue promover um diálogoentre as duas áreas: comunicação e educa-ção. Como foco de pesquisa, Mirna dedi-ca-se às tecnologias da comunicação e dainformação, sobretudo às digitais. O traba-lho acadêmico no Jornalismo se inicia em2000, ao ministrar disciplinas para cursosde Comunicação Social: Jornalismo,Publicidade e Relações Públicas.
Pesquisa e docência
Mirna desenvolve atualmente pesquisa
sobre as implicações das tecnologias naformação, no perfil e na atividade profis-sional do jornalista. A proposta inclui veri-ficar as implicações tecnológicas no ensi-no-aprendizagem. “Sua importância veri-fica-se na atual exigência de umaformação mais complexa devido às modi-ficações nas técnicas jornalísticas”, resu-me a professora.
No âmbito da sala de aula, Mirna mi-nistra, para o curso de Pedagogia, a disci-plina optativa Introdução à Educação aDistância, na qual desenvolve diversas ati-vidades com os alunos. Ao usar ferramen-tas de interação, ela promove encontrosvia chat, aula em conferência e a produçãode mídias que podem vir a ser usadas emcursos à distância. No curso de Jornalis-mo, leciona Comunicação e Educação,Projeto Interdisciplinar em Comunicaçãoe Técnicas de Reportagem, Entrevista eRedação Jornalística.
Ensino-aprendizagemMirna possui uma visão interacionista e
construcionista para a área da educação, eacredita que o ensino-aprendizagem temdesafios frente às tecnologias. Um deles éser compreendido como um processo noqual a interação é fundamental; outro, usarferramentas e dispositivos de interaçãopara potencializar o ensino e a aprendiza-gem. Entretanto, à medida que a tecnolo-gia se aprimora, demanda reflexões sobrenovas metodologias. “É preciso usar mé-todos e procedimentos diferentes ao se in-gressar em outro ambiente tecnológico”,afirma a professora. Nesse sentido, o de-bate se torna questão fundamental para apromoção de uma avaliação crítica dasmetodologias usadas.
56 - XV Seminário Regional do Educador
Pesquisa deve verificar implicações tecnológicas no ensino-aprendizagem
Luca
s Je
rôn
imo
gestão pública é feita de de-
safios. Burocráticos, finan-
ceiros, administrativos,... eles
são incontáveis. Lidar com o espaço pú-
blico e com o público que utiliza esse es-
paço constitui-se numa tarefa verdadeira-
mente complexa.
AMarcelo Soares Pereira da Silva esteve à
frente da Faculdade de Educação (FACED)
no período de 2004 a 2008. Conhecedor
dessa realidade e, com a autoridade de
quem a viveu, aponta as principais caracte-
rísticas que devem nortear o trabalho do
gestor. “Ele deve se pautar pelos princípios
da transparência, da gestão democrática e
participativa, do fortalecimento do trabalho
coletivo e das instâncias colegiadas.” E
continua. “Ao ocupar qualquer cargo, o
gestor deve fazê-lo com a consciência e o
compromisso de fazer com que sua atuação
se desenvolva no sentido de tornar os bens
e serviços públicos cada vez mais acessí-
veis a todos.” Para Marcelo, a gestão públi-
ca é, acima de um grande desafio, uma
grande oportunidade de contribuir para o
fortalecimento do espaço público.
Uma Faculdade de Educação, um cursode Comunicação.
Vivia-se na UFU um longo processo
marcado por várias dificuldades. A criação
e implantação do curso de Comunicação
Social: habilitação Jornalismo, um sonho
de muitos dentro e fora da comunidade
acadêmica, não saía do papel. Problemas
estruturais e internos impediram outras
Unidades Acadêmicas de assumirem o
projeto.
XV Seminário Regional do Educador – março 2010 - 57
Um inovadorProfessor analisa o gestor público e sua gestão na FACED
Francklin Vinicius Tannús
Gestor deve se pautar pelos princípios da transparência
Arq
uiv
o p
ess
oa
l
O então reitor, Arquimedes Diógenes
Ciloni, numa reunião do Conselho Diretor,
expôs o problema em toda sua amplitude.
Marcelo Soares sinalizou informalmente,
naquela ocasião, o desejo de levar o proje-
to para a FACED. “A UFU possuía condi-
ções muito favoráveis para que esse curso
fosse criado e implantado.”, defende. E
explica. “A Universidade possuía uma in-
fra-estrutura básica de TV, rádio e mesmo
jornal. Muitos campos de saberes e disci-
plinas ligadas ao campo da Comunicação
Social já estavam consolidados em dife-
rentes Unidades Acadêmicas da UFU. A
ampliação de espaço físico para salas de
aula já era uma realidade.”
Mas o que justificaria um curso de Co-
municação em uma Faculdade de Educa-
ção? Era essa a pergunta que deveria ser
respondida. O Conselho da Faculdade de
Educação (CONFACED) precisaria ser
convencido. E foi.
Ao olhar para trás Marcelo relembra.
“Eu entendia que uma articulação entre a
área da Comunicação Social e a área da
Educação poderia ser algo muito rico e
inovador para a UFU, para a FACED e
para uma área nova que se constituiria na
instituição.” E afirma. “Educação é antes
de tudo comunicação. E toda comunicação
é em sua essência processo educativo.”
O curso de Comunicação Social foi
contemplado no aporte de recursos finan-
ceiros e de pessoal que a UFU obteve por
meio do Plano de Expansão e Reestrutura-
ção Acadêmica. Esse plano foi submetido
ao Ministério da Educação (MEC) no âm-
bito do Plano de Reestruturação e Expan-
são das Universidades Federais (REUNI).
“Orgulho-me de ter tido a iniciativa, e
mesmo a ousadia, de levar essa ideia
adiante em uma Faculdade de Educação.”,
diz o professor Soares, sem desdenhar dos
desafios que se colocam. “Certamente
deve faltar muita coisa, muitos laborató-
rios, infra-estrutura, pessoal. Mas para
mim esse é o tipo do bom problema para o
gestor público, pois agora se trata de me-
lhorar o que já existe.”
Por fim, propõe. “Quem sabe, até, já
não está na hora de ao invés de falarmos
em Faculdade de Educação começarmos
em Faculdade de Comunicação Social e
Educação (nem precisa mudar a sigla FA-
CED), ou em Faculdade de Educação e
Comunicação Social.”
58 - XV Seminário Regional do Educador
“Toda comunicação é, em sua essência, processo educativo”
Arq
uiv
o p
es
soa
l
eracilda, ainda criança, fez
uma promessa à mãe: for-
mar-se no Ensino Médio, na
época, o colegial. Parecia que a jura não
tinha sido verdadeira, pois ela evadiu da
escola por dificuldades de acesso e neces-
sidade de trabalhar. Aí vieram casamento
e três filhos. Até aqui, a história de Gera-
cilda Maria da Silva, 52, se assemelha à
de muitos brasileiros. A diferença é que,
passados 30 anos sem estudar, ela reso-
lveu cumprir a promessa de concluir o En-
sino Médio. E acabou indo muito além.
G
Geracilda terminou seus estudos no
CESU (Centro de Exames Supletivos) e,
incentivada pelos professores, decidiu que
não pararia por aí: faria o curso superior
de Administração – pois já trabalhava nes-
ta área – e, para isso, começou a se prepa-
rar para o vestibular no cursinho alternati-
vo Futuro. “Era uma meninada e eu lá no
meio daquele povo”, relembra, entre risos.
Onde entra a Pedagogia nesta história?
Sincera, a aluna revela que acreditava que
sua nota no vestibular não seria suficiente
para passar em Administração. Um profes-
sor do cursinho sugeriu o curso de Pedago-
gia e recomendou a especialização em Pe-
dagogia Empresarial. No vestibular, uma
surpresa: Geracilda se saiu tão bem que sua
nota teria sido suficiente para passar em
XV Seminário Regional do Educador – março 2010 - 59
Sucesso acadêmico namaturidade
Aos 52 anos, a aluna se destaca na Pedagogia não pela idade, mas pelacapacidade
Dielen dos Reis Borges Almeida
Geralcina participa de diversas atividades na Universidade
Tali
ta M
art
ins
Administração. É... mas a escolha estava
feita e ela ingressou no curso de Pedagogia
entre os alunos mais bem-colocados.
Vida acadêmicaNa Universidade, Geracilda continuou
chamando a atenção. “No começo, acho
que eles [alunos e professores] se assusta-
ram. Primeiro, por causa da propaganda:
‘a aluna mais experiente’, estava ali um
rótulo”, conta. Ela faz questão de lembrar
que foi a única aluna a ser cumprimentada
pelo reitor na ocasião.
A aluna teve alguns obstáculos a serem
superados. “No começo, as pessoas acha-
vam que por causa da minha idade eu pode-
ria ter muita dificuldade para aprender”,
conta. “Teve alguns professores que falaram
assim: ‘você poderia, como mãe dessa tur-
ma...’. E eu respondia: ‘não quero esse pa-
pel de jeito nenhum’. Eu quero ter com eles
uma relação de colegas de turma”, revela.
O tempo passou e alunos e professores
puderam enxergar Geracilda para além
dos estereótipos, pois ela se revelou aluna
brilhante. Victoria Cheruli, 30, aluna do
curso de Pedagogia, não economiza elo-
gios à colega: “Ela passa uma sabedoria
de vida, é muito participativa em sala de
aula. Não ‘caxias’, mas ela é presente, ela
discute”, conta.
Geracilda aproveita ao máximo o que a
Universidade tem a oferecer. Fez discipli-
nas optativas na Psicologia, Artes e Teatro
e planeja matricular-se em mais algumas
na Filosofia. Faz parte do grupo de estu-
dos da Educação de Jovens e Adultos
(EJA), da formação continuada, no eixo
Gênero, Raça e Etnia, e estuda sobre Edu-
cação à Distância. No currículo, participa-
ções em eventos e publicações. Agora ela
está envolvida com a monografia, cujo
tema é “como os adultos aprendem e
como ensiná-los”.
Fica fácil perceber que os planos da
aluna para o futuro já não incluem mais a
Administração – como ela mesma diz, foi
“seduzida” pela Pedagogia –, mas sim, a
carreira acadêmica. “Preparando-me para
isso eu estou. Eu não acredito na sorte, eu
acredito na preparação”, afirma.
A conversa não poderia se encerrar sem
falar da educação no Brasil. Geracilda
opina: “eu posso estar ainda muito conta-
minada pelos professores de política, mas
o que acontece é que as leis são muito bo-
nitas; na hora de implementar essas leis,
porém, há interesses eleitoreiros”. Ela de-
fende a necessidade de haver um planeja-
mento sólido para a educação, mantido
nas alternâncias de governo. E quanto a
ser professor? Para Geracilda, é impres-
cindível “gostar de gente e respeitar a di-
versidade humana”.
60 - XV Seminário Regional do Educador
Ao lado da foto de Paulo Freire, ela brinca que muitas são apaixonadas por ele
Tali
ta M
art
ins
com orgulho que a professora e
Diretora da Faculdade de Edu-
cação (FACED) da UFU, Mara
Rúbia Alves
Marques, se re-
fere à consoli-
dação do curso
de Pedagogia,
que completa
50 anos, e à no-
vidade que o
curso de Co-
municação So-
cial representa
para a universi-
dade e a comu-
nidade externa.
“Agora, nós formamos profissionais da
educação e profissionais da comunicação.
Os dois têm uma dimensão pedagógica
imensa. O grande desafio, hoje, na facul-
dade é isso... é um processo de construção
muito desafiador”, revela.
É
Mara, com quase 30 anos de docência e
18 de UFU, completa, em 2010, dois anos
à frente da direção da FACED – metade de
seu mandato. Sua função representa um de-
safio múltiplo: manter boas relações com
as outras unida-
des acadêmicas
e com os conse-
lhos superiores,
além de ter uma
participação
muito ativa nos
processos aca-
dêmicos e polí-
ticos da UFU.
Isso permite
compreender os
processos de
mudança e ex-
pansão pelos quais a universidade passa.
Doutora em educação, a diretora traba-
lha com questões relacionadas ao corpo
docente, aos técnicos administrativos, aos
cursos de Pedagogia – presencial e à dis-
tância – e Comunicação Social e ao Mes-
trado e Doutorado. Ao descrever seu cargo
como desafiador, a professora se desdobra
XV Seminário Regional do Educador – março 2010 - 61
Quatro anos e um desafioMara Rúbia conta como a FACED procura garantir a formação deprofessores
Paula Arantes Martins
Mara Rúbia: disposição para assumir diferentes compromissos
Ge
rso
n S
ou
sa
para conciliar suas múltiplas funções, al-
ternar atividades, sejam as de pesquisa,
ensino, extensão, prestação de serviços,
sejam as administrativas.
Para assumir essas funções, é preciso
estar preparado e ter disposição para assu-
mir diferentes compromissos. Em deter-
minados momentos, é preciso priorizar al-
gumas atividades; em outros, assumir no-
vas responsabilidades. Diante de um
trabalho complicado, porém enriquecedor,
Mara se desafia quando declara: “Espera-
mos que estejamos fazendo um bom traba-
lho à altura do que a faculdade merece”.
Campo de disputaA Faculdade de Educação tem participa-
ção fundamental na formação de professo-
res. Vários docentes da FACED estão pre-
sentes em outros cursos de licenciatura, mi-
nistrando disciplinas pedagógicas como
História da Educação, Política e Gestão em
Educação, Didática Geral e Práticas de En-
sino. Essa participação pode mudar de acor-
do com os projetos pedagógicos dos cursos.
A principal preocupação é garantir a presen-
ça dos professores de Pedagogia em cursos
que formarão futuros professores.
A diferença de valores entre bacharela-
do e licenciatura e a concepção que se tem
da formação de professores representam
um campo de disputa. A FACED tenta
preservar, ao máximo, sua presença nessa
formação. A diretora acredita que “essa
questão, hoje, é um calcanhar de Aquiles
em termos de política educacional no Bra-
sil”. O curso de Pedagogia forma profes-
sores para a educação básica e a superior,
o que amplia o perfil de atuação no merca-
do de trabalho. O alcance às escolas, orga-
nizações não-governamentais e empresas
é uma relação muito intensa, sempre ha-
vendo uma ligação entre os profissionais e
os órgãos de educação.
Comunicação SocialMara descreve Uberlândia como amplo
parque midiático, pois além de ser um
polo de geo-educação, a cidade é um polo
de geo-comunicação. A forma como a fa-
culdade passa a se relacionar com esse ni-
cho da comunicação mediado pelo curso
de Comunicação Social amplia o contato
da universidade com a comunidade. Ter
este curso dentro da Faculdade de Educa-
ção é motivo de orgulho para a diretora:
“Eu acho que foi muito arrojo da faculda-
de assumir o Jornalismo”, e ela acredita
que, em um ano, “as expectativas quanto a
um curso que está no início serão supera-
das”. Em 2010, a ordem é dar sequência
aos trabalhos já desenvolvidos pela FA-
CED com o curso de Pedagogia e obser-
var o crescimento e os caminhos que o
Jornalismo trilhará.
62 - XV Seminário Regional do Educador
Mara Rúbia: “foi muito arrojo da faculdade assumir o Jornalismo”
Ge
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ou
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