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Análise de articuladores discursivo-argumentativos em textos opinativos produzidos por alunos do Ensino Médio Jessica Tomimitsu Rodrigues (PICV/CNPq/Unioeste), Alcione Tereza Corbari (Orientadora), e-mail: [email protected] / [email protected] Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Centro de Educação, Comunicação e Artes/Cascavel, PR 8010100 3 TEORIA E ANÁLISE LINGUÍSTICA Palavras-chave: Linguística Textual, articuladores discursivo-argumentativos, textos opinativos. Resumo: O presente trabalho é resultado de uma pesquisa qualitativa, fruto de um Projeto de Iniciação Científica Voluntária, proposta a partir do mapeamento de articuladores discursivo-argumentativos em textos opinativos produzidos por alunos do ensino médio. Objetiva- se analisar o percurso da reescrita com relação ao uso dos articuladores mapeados e o reflexo desse uso na argumentatividade do texto, considerando que os articuladores discursivo-argumentativos norteiam a construção de um possível sentido para o texto (KOCH, 2001). O corpus da pesquisa é constituído de vinte redações elaboradas em sala de aula a partir da proposta de produção do ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio/2008. As redações analisadas são constituídas da primeira e da última versão de artigos de opinião escritos por dez alunos. As análises foram fundamentadas nas teorias da Linguística Textual que

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Análise de articuladores discursivo-argumentativos em textos opinativos produzidos por alunos do Ensino Médio

Jessica Tomimitsu Rodrigues (PICV/CNPq/Unioeste), Alcione Tereza Corbari (Orientadora), e-mail: [email protected] / [email protected]

Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Centro de Educação, Comunicação e Artes/Cascavel, PR

80101003 TEORIA E ANÁLISE LINGUÍSTICA

Palavras-chave: Linguística Textual, articuladores discursivo-argumentativos, textos opinativos.

Resumo:

O presente trabalho é resultado de uma pesquisa qualitativa, fruto de um Projeto de Iniciação Científica Voluntária, proposta a partir do mapeamento de articuladores discursivo-argumentativos em textos opinativos produzidos por alunos do ensino médio. Objetiva-se analisar o percurso da reescrita com relação ao uso dos articuladores mapeados e o reflexo desse uso na argumentatividade do texto, considerando que os articuladores discursivo-argumentativos norteiam a construção de um possível sentido para o texto (KOCH, 2001). O corpus da pesquisa é constituído de vinte redações elaboradas em sala de aula a partir da proposta de produção do ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio/2008. As redações analisadas são constituídas da primeira e da última versão de artigos de opinião escritos por dez alunos. As análises foram fundamentadas nas teorias da Linguística Textual que entende o papel ativo do produtor no processo de reescrita textual (GERALDI 1991; FIAD, 1992), o dos articuladores discursivo-argumentativos na orientação de sentido do texto (KOCH 2004) e o da força argumentativa da linguagem (KOCH, 2009).

Introdução

Esta pesquisa parte do entendimento de que, segundo Koch (2009):

A maioria das relações existentes entre os enunciados componentes de um texto só podem ser detectadas por meio de uma gramática textual ou macrossintaxe do discurso.

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Encadeando-se uns sobre os outros, de acordo com as intenções do falante e, por consequência, com o sentido que se pretende dar ao discurso, os enunciados trazem em seu bojo relações de ordem pragmática, que se revelam, na maioria das vezes, através dos operadores do discurso – ou operadores discursivo-argumentativos – os quais, por meio desse encadeamento, estruturam os enunciados em um texto verbal linear. (KOCH, 2009, p.31-32).

Parte-se do princípio de que a análise dos articuladores mapeados permite entender como a posição argumentativa é construída no texto opinativo, concomitante com o papel da refacção. Entende-se, também, que a reescrita possibilita ao produtor ver sob uma nova perspectiva o seu próprio texto, e, numa atitude reflexiva, estabelecer a orientação argumentativa que quer dar ao texto: “A hipótese de trabalho aqui assumida é a de que os gestos de auto-correção, nos diferentes níveis em que se manifestam, revelam na atividade do eu a presença do OUTRO, típica de toda ação da linguagem”. (GERALDI, 1991, p. 5).Considerando a perspectiva da Linguística Textual e da Semântica Argumentativa, será utilizada neste trabalho a classificação de articuladores proposta por Koch (2004).

Materiais e métodos

Esta pesquisa é desenvolvida dentro do Projeto de Iniciação Científica Voluntária intitulado “Os articuladores textuais na tessitura do texto: observando a progressão textual produzidos por alunos de Ensino Médio”. Na primeira fase da pesquisa, fez-se mapeamento dos articuladores discursivo-argumentativos em textos opinativos produzidos por alunos de Ensino Médio. Nesta segunda fase, propõe-se uma análise qualitativa dos dados levantados nas vinte redações elaboradas em sala de aula a partir da proposta de produção do ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio/2008. O corpus é composto pela primeira e a última versão de artigos de opinião escritos por dez alunos, produzidas a partir de uma proposta do Exame Nacional do Ensino Médio por alunos do 3º ano, de uma escola pública de Cascavel. A coleta dos textos, feita em 2010, está amparada por projeto apresentado ao Comitê de Ética da Universidade Estadual do Paraná e disponível como um banco de dados constituído para pesquisas na área da Linguística. Os textos foram selecionados a partir do critério de maior expansão textual entre a primeira e a última versão entregue, partindo da hipótese de que o aumento da extensão textual indicaria uma maior recorrência dos articuladores. O objetivo da análise

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qualitativa é apresentar um padrão de uso dos articuladores nas redações, bem como analisar o papel desses elementos na orientação argumentativa dos textos, considerando o processo de refacção textual. Para o mapeamento dos articuladores, foi considerada as classes propostas por Koch (2004); um recorte metodológico foi necessário, considerando apenas as classes de conjunção, conclusão e explicação/justificativa devido à sua grande recorrência nas últimas versões consideradas, mapeadas em pelo menos sete das dez últimas propostas de reescrita. Desconsideram-se, porém, as classes de contrajunção, contraste, especificação/exemplificação, comprovação, correção/redefinição, comparação e disjunção, por serem pouco recorrentes nos textos investigados.

Resultados e Discussão

Dentre as vinte redações mapeadas, ressaltaram-se alguns resultados recorrentes na maioria das redações analisadas. A diversificação no uso da classe de diferentes articuladores na última versão foi um dado ressaltado, padrão em todos os textos mapeados. Ao comparar, muitas vezes, dois trechos do mesmo texto, notou-se que, ao elencar seus argumentos, o produtor, na reescrita, distanciou semanticamente a terceira da primeira versão do texto, o que pode indicar que, ao reescrever seu texto, o produtor reformulou toda a argumentação anteriormente usada, elencando, muitas vezes mais argumentos, e dispondo os argumentos antigos em diferentes parágrafos de seu texto. Tal dado foi ressaltado em aproximadamente oito dos dez textos analisados. Foi destacado, também, o fato de que, no processo de reescrita, os textos foram desmembrados em mais parágrafos, sendo que o parágrafo de conclusão pareceu ter, quase sempre, uma atenção maior, apresentando-se mais trabalhado na questão da argumentação, o que refletiu, muitas vezes, no uso de vários articuladores discursivo-argumentativos. Outro dado, padrão ao longo de todas as versões analisadas, foi o uso recorrente de um articulador específico para cada classe, o articulador “e” na conjunção, o articulador “então” na conclusão, e o articulador “pois” na explicação/justificativa. Nota-se, também, uma tentativa para uma adequação formal ao padrão da língua, possível resultado do processo de reescrita.A classe de conjunção, em especial, foi mapeada em todos os textos, entre primeira e última versão. No texto, o uso de um articulador pode significar um produtor desatento à articulação de argumentos, dando ideia de sequência, exaustivas e pouco convincentes para o leitor. Por outro lado, o uso desse articulador pode significar também uma tentativa do produtor de encadear vários argumentos tentando tornar o texto mais convincente. O uso cotidiano

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dessa classe de articulação, na fala, pode ser um dos motivos pelos quais os produtores apresentaram um uso expressivo desse tipo de conjunção.De modo geral, na análise da última construção do mesmo texto, tem-se configurado uma argumentação mais clara, bem como mais atenta à forma sintática formal da língua, resultando num parágrafo claro e articulado, com argumentos que se inter-relacionam e são mais convincentes ao leitor, fato importante nos textos opinativos.

Conclusões

O estudo e a análise do texto, fundamentados na Linguística Textual, transpõem os limites gramaticais e as relações transfrásticas para uma análise voltada ao todo textual. É nesse sentido que, em um texto opinativo, os articuladores discursivo-argumentativos são analisados quanto à relação de argumentatividade expressa na conexão entre os argumentos. A partir dos vinte textos opinativos analisados, observou-se, que a reescrita pode ter contribuído para a construção de uma relação semântica mais clara. Entende-se que isso é reflexo do emprego mais adequado dos articuladores discursivo-argumentativos e uma diversificação desses elementos, dentre outros aspectos, como a própria seleção do conteúdo proposicional relacionados no texto. Tal diversificação, dado relevantemente ressaltado, ocorreu tanto em textos que se distanciaram semanticamente de sua primeira versão proposta quanto dos que mantiveram seu conteúdo proposicional após a reescrita. À luz da análise dos dados levantados, atenta-se para o processo de reescrita, que possibilita ao aluno, na releitura, a melhora de seu texto, considerando aspectos textuais e pragmáticos. Atenta-se, também, para a importância do estudo de coesão na produção textual. Dos elementos de coesão, foca-se, neste trabalho, o papel dos articuladores discursivo-argumentativos, que exerce papel relevante na orientação argumentativa dos enunciados.

Referências

GERALDI, J. W. A escrita como trabalho: operações e meta-operações de construção de textos. Campinas: IEL/UNICAMP, 1991.

KOCH, I. V. A coesão textual. 19. ed. São Paulo: Contexto, 2004.

_____, I. V. Argumentação e linguagem. 12 ed. São Paulo: Cortez, 2009.