RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA E CIDADANIA …convibra.org/2004/pdf/126.pdf · decisões dos...

15
1 RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA E CIDADANIA Márcia Adriana BARBOSA Curso de Administração – Faculdade Novos Horizontes – Belo Horizonte/MG – Brasil

Transcript of RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA E CIDADANIA …convibra.org/2004/pdf/126.pdf · decisões dos...

1

RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA E CIDADANIA

Márcia Adriana BARBOSA Curso de Administração – Faculdade Novos Horizontes – Belo Horizonte/MG – Brasil

2

RESUMO As configurações e habil idades organizacionais, tais como, a capacidade de interagir de forma cooperativa com outras empresas e com a sociedade é fundamental para a sobrevivência, a legitimidade e a competitividade no mercado. Neste contexto, o conceito de responsabilidade social apresenta-se sistêmico e multidimensional e enfatiza a busca pela vantagem competitiva empresarial. A ética corporativa vem sendo adotada por muitas empresas e implica em uma conduta que objetiva a ampliação da reflexão sobre ações de cidadania à esfera empresarial. Busca-se, como objetivo, a análise da Fundação Bradesco e de suas ações, como exemplo, determinando-se a amplitude, desta iniciativa empresarial, com reconhecimento internacional, referência para outras instituições. PALAVRAS-CHAVE: Responsabil idade Social, Conduta Empresarial, Cidadania, Ética Corporativa, Ação Social. ABSTRACT The organizational configurations and abili ties and the capacity of the cooperation with other enterprises and the society is fundamental for the survival, legitimacy and competitive in the market. In the context, the concept of the social responsibili ty is systemic and multi-dimensional and focalize la competitive advantage business. The corporate ethic adopted for the much enterprises implicate in the objective conduct and the ample reflection over the citizenship actions in the enterprise scope. The objective paper is to analyze the Bradesco Foundation actions, for example, their amplitude with international acknowledgment and the reference for the other institutions. KEY WORDS: Social Responsibili ty, Business Behavior, Citizenship, Corporate Ethic, Social Action.

3

1. INTRODUÇÃO

A empresa privada parece começar a girar o foco de sua atuação, antes essencialmente voltada para o lucro, passando a voltar-se para questões sociais e para as necessidades dos stakeholders. Surge, assim, uma ‘nova’ configuração empresarial, socialmente responsável e inserida numa perspectiva mais ampla, no dizer de LIMA (2002), que implica em uma mudança em sua concepção e percepção das variáveis sócio-econômicas.

A filosofia da Responsabil idade Social se incorpora, desta forma, ao diálogo empresarial, trazendo benefícios diretos e indiretos para as organizações socialmente responsáveis que desenvolvem práticas que as classificam como empresas cidadãs. Tal conduta que envolve a transparência dos princípios organizacionais os torna mais que fatores de diferenciação; são fatores determinantes para a sobrevivência das organizações no mercado e para a manutenção de uma imagem institucional positiva.

A redefinição dos papéis organizacionais resulta da percepção empresarial do poder que o cliente detém e dos aspectos considerados por estes para aquisição de produtos e ou serviços. Os fatores que influenciam o processo de decisão de compra dos consumidores são diversos. Para KOTLER (1998) o comportamento de compra é influenciado por fatores culturais (costumes, subcultura, classe social); sociais (grupos de referência, família, papéis e posições sociais); pessoais (idade, ocupação, condição econômica, estilo de vida, personalidade); e psicológicos (motivação, percepção, aprendizagem, crenças e atitudes).

A consciência e a percepção desses aspectos torna-se fundamental para os profissionais de marketing que lidam com as várias influências. Estas interferem nas relações desenvolvidas junto aos clientes influenciando-os nos fatores decisivos no momento da compra. Considerando-se os fatores enumerados anteriormente como determinantes para as decisões dos consumidores e levando-se em conta que a realidade sócio-econômica-cultural tem sofrido alterações nos últimos anos, pode-se perceber que o comportamento dos compradores evolui e valoriza a questão social que passa a ser vista e praticada como uma responsabil idade coletiva do Estado, das empresas e da sociedade civil organizada. Antes encarada como missão exclusiva do Estado (primeiro setor), a promoção do bem estar social vem sendo adotada como bandeira também pelas empresas (segundo setor) que se unem ao governo na luta contra as crescentes diferenças sociais e danos causados à natureza.

O fortalecimento das entidades denominadas do terceiro setor – como fundações, institutos, organizações não governamentais e associações que desenvolvem ações socialmente responsáveis –, também influencia a sociedade. Esta cobra ações para diminuição da desigualdade social e a eliminação de prejuízos à natureza. Com isso, uma nova ordem social tem-se formado, baseada no exercício da cidadania responsável, conforme expresso a seguir:

Empresas socialmente responsáveis estão mais preparadas para assegurar a sustentabil idade a longo prazo dos negócios, por estarem sincronizadas com as novas dinâmicas que afetam a sociedade e o mundo empresarial. A empresa é socialmente responsável quando vai além da obrigação de respeitar as leis, pagar impostos e observar as condições adequadas de segurança e saúde para os trabalhadores e faz isso por acreditar que assim será uma empresa melhor e estará contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa (INSTITUTO ETHOS, 2000).

Como resposta global, atualmente verifica-se um movimento de reorganização das

forças da sociedade brasileira. Esse processo resulta de diferentes fatores como a abertura das fronteiras comerciais, a nova estruturação econômica, entre outros. Tais mudanças trouxeram benefícios e prejuízos, favoreceram o acesso de produtos de qualidade a preços atrativos e

4

concorreram para o aumento da miséria, do desemprego e da intensificação da exclusão social. Neste contexto, a sociedade desperta para a necessidade de alcançar uma nova cultura empresarial em que as organizações além de responderem às exigências de competitividade no mercado global, atuem localmente assumindo uma postura socialmente responsável em que a sobrevivência transpassa as condições mercadológicas vigentes.

A última proposição, mais incisivamente, motiva a sociedade a cobrar das diversas forças do macro ambiente uma posição para superação das deficiências sociais do país e oferecer condições mais dignas à população. Tal redefinição da filosofia empresarial decorre, entre outros fatores, do reconhecimento das limitações do Estado e abre possibilidades de parcerias na área social. Em contrapartida a sociedade civil se mobiliza para a criação de organizações não governamentais que passam a exigir do setor empresarial uma ação no sentido de conciliar os interesses econômicos e sociais na promoção do desenvolvimento sustentável.

As iniciativas no campo da responsabilidade social corporativa, além de auxil iarem o Governo a superar uma deficiência do sistema educacional, podem proporcionar maior competitividade para as empresas, ao integrarem objetivos institucionais e necessidades sociais. Assim, as organizações identificam, através desse mecanismo, uma nova estratégia para aumentar os lucros e potencializar o crescimento. Tal preocupação desperta maior conscientização do consumidor, que por conseqüência, exige práticas empresariais que gerem melhorias à comunidade.

A sociedade passou por diversas transformações nas últimas décadas. O fim das barreiras nacionais, a globalização e a reorganização dos blocos políticos-econômicos traçaram novos desafios ao mundo. Assim, embora se verificou maior acessibilidade a produtos mais baratos e com graus de tecnologia avançados, por outro lado, estes mesmos fatores promovem a ampliação da desigualdade social. Conseqüentemente, expandiu-se o volume de pessoas excluídas das condições básicas necessárias para o desenvolvimento e dificultou o acesso de muitas pessoas ao estudo e à assistência social. Esse fator torna-se crítico ao resultar da precariedade do Estado em atender as demandas sociais. Assim, o Governo deixa de exercer o seu papel e em contrapartida a sociedade passa a se mobil izar para superar tais limitações e promover maior dignidade a todos como prerrogativa de crescimento coletivo.

Como resposta a essas desigualdades sociais e segundo DRUCKER (1977) ocorre na sociedade civil uma reorganização dos agentes sociais para superação das limitações que assolam toda a comunidade. Tais organizações são representadas pelas instituições, fundações ou entidades sem fins lucrativos cujos objetivos são a transformação e valorização do ser humano enquanto cidadão.

Assim o desenvolvimento de uma postura ética diferenciada das empresas de engajamento alicerçada com as necessidades sociais determina um novo horizonte empresarial que se delineia respaldado na responsabilidade social. Esse mecanismo enfatiza que as organizações podem desenvolver seus objetivos econômicos em consonância com os interesses sociais e, com isso, analisar a prática de responsabilidade social desenvolvida.

Tal modelo vem sendo desenvolvido pelo Banco Bradesco no qual se torna relevante a significativa contribuição à sociedade através de ações empresariais focadas na comunidade. O banco desenvolve práticas sociais a mais de quatro décadas por meio da Fundação Bradesco. Essa instituição foi fundada no final da década de 50 na cidade paulista de Marília e demonstra uma experiência brilhante de concil iar os interesses organizacionais com as necessidades sociais. Ação, essa, desenvolvida junto à parcela carente da sociedade, constituindo-se na maior rede de ensino gratuito mantida por uma empresa privada no país.

A magnitude desse empreendimento proporciona desenvolvimento pessoal e assistência social a milhares de pessoas e demonstra uma consciência ética em relação à

5

comunidade. Valorização da vida e o respeito ao ser humano são prerrogativa da filosofia da Fundação Bradesco que atua em todo o Brasil . Assim, o objetivo desse estudo é retratar a prática de responsabil idade social desta instituição que se pauta em ações éticas vislumbrando o desenvolvimento sustentável. 2. ÉTICA CORPORATIVA

Segundo o conceito VÁZQUEZ (1995), o conceito de ética define-se como ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. Para HARTMANN (1935) deve-se ter consciência que a ética é uma disciplina normativa, não por criar normas, mas por descobri-las e elucidá-las. Assim, ao compatibilizar estes autores, o entendimento das razões que levam as empresas a buscarem o desenvolvimento sustentável por meio da integração dos seus interesses com os sociais fica evidente observando o pensamento a seguir sobre ética social.

A sociedade é uma união moral estável de uma pluralidade de pessoas propostas ao atendimento de finalidades comuns, mediante utilização de meios próprios. É um agrupamento permanente, não transitório. É uma união moral, vinculada por laços fortes de solidariedade, não meramente acidental. A sociedade surge de maneira natural, pois o homem é um animal político por excelência e só realiza seus objetivos individuais se conseguir aliar a própria força à dos demais (NALINI, 1999, 139).

Uma visão integradora como a anterior demonstra a importância da atividade humana

e grupal como forma de inserção social e de sobrevivência. Assim, na sociedade brasileira esse fator torna-se mais relevante em função da limitação do Estado em suprir as necessidades sociais. Logo, tem-se não apenas o desenvolvimento de ações de grupos de indivíduos, mas a sinergia entre estes e os organismos empresariais, pois juntos têm maior poder de superação das dificuldades sociais.

MOREIRA (1999) confirma essa proposição ao propor que a ética corporativa consiste em um comportamento ético da empresa ou a regra ética a ela aplicável. Logo a sociedade espera um comportamento ético empresarial positivo que possibilite a obtenção de lucro com respaldo da moral. Para ele a moral é responsável por impor à empresa uma ação ética em todos os seus relacionamentos – clientes, fornecedores, competidores, mercado, empregados, governo e público em geral.

O entendimento da ética sob este enfoque empresarial contribui para a compreensão das razões que levam as organizações a auxiliarem o Governo a superar o problema educacional. Desta forma, as empresas se mostram solidárias, pois elas se reconhecem como agentes sociais, portanto, passíveis de conciliarem objetivos institucionais e auxílio à comunidade. Isso demonstra o desenvolvimento de uma mentalidade que evidência a responsabil idade de todos pelos descaminhos da sociedade, mas, também determina aos atores sociais uma atuação pró-ativa, passível de mudanças sociais por meio de ações conjuntas e de desenvolvimento sustentável. 3. RESPONSABILIDADE SOCIAL

Desde os primeiros estudos sobre o tema, foram travados debates sobre a legitimidade e importância da Responsabilidade Social. Paralelamente aos trabalhos desenvolvidos na direção de se afirmar a importância de sua implantação nas organizações, alguns autores apresentam pontos que desestimulam a prática das ações sociais por parte das empresas, como

6

apresentado por FRIEDMAN (1977). Ele defende que os objetivos das organizações se restringem à alocação eficiente de recursos escassos na produção e distribuição de produtos/serviços numa economia de mercado livre e que só há uma e apenas uma Responsabil idade Social empresarial: utilizar recursos – para produção – e colocá-los em atividades a fim de maximizar os lucros organizacionais.

Este posicionamento compreende um comportamento de antimaximização de lucros assumido para beneficiar outros que não são acionistas da empresa. A partir deste entendimento a organização ao praticá-la estará se auto–tributando e, ao invés de ser elogiada, deveria ser processada. Contudo a percepção de outros estudiosos e entidades é bem diferente desse autor ao valorizarem a prática de ações sustentáveis.

O INSTITUTO ETHOS (2002) ressalta a importância de incluir a Responsabilidade Social no âmbito das estratégias empresarias, definindo-a como:

(...) uma forma de conduzir os negócios da empresa de tal maneira que a torne parceira e co-responsável pelo desenvolvimento social. A empresa socialmente responsável é aquela que possui a capacidade de ouvir os interesses das diferentes partes (acionistas, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio-ambiente) e conseguir incorporá-los no planejamento de suas atividades, buscando atender às demandas de todos e não apenas dos acionistas ou proprietários (INSTITUTO ETHOS, 2002).

Outros autores afirmam que:

Responsabilidade social pode ser definida como o compromisso que uma organização deve ter para com a sociedade, expresso por meio de atos e atitudes que a afetem positivamente, de modo amplo, ou a alguma comunidade, de modo específico, agindo proativamente e coerentemente no que tange a seu papel específico na sociedade e a sua prestação de contas para com ela (CARDOSO e ASHLEY, 2002, 7).

VELOSO (2002) se atém às atitudes e atividades que as organizações necessitam

desenvolver com vistas ao atingimento da Responsabilidade Social corporativa:

- preocupação com atitudes éticas e moralmente corretas que afetam todos os públicos/stakeholders envolvidos (entendidos da maneira mais ampla possível); - promoção de valores e comportamentos morais que respeitem os padrões universais de direitos humanos e de cidadania e participação na sociedade; - respeito ao meio ambiente e contribuição para sua sustentabil idade em todo o mundo; - maior envolvimento nas comunidades em que se insere a organização, contribuindo para o desenvolvimento econômico e humano dos indivíduos ou até atuando diretamente na área social, em parceria com governos ou isoladamente (VELOSO, 200 , 53).

OLIVEIRA (1984) afirma que a Responsabil idade Social tem recebido muitas

significações e interpretações, embora seja um tema em crescente discussão nos ambientes acadêmicos, empresarial e governamental, a definição do que compreende a Responsabilidade Social não é um consenso:

7

Para uns, é tomada como responsabilidade legal ou obrigação social; para outros é o comportamento socialmente responsável em que se observa a ética, e para outros, ainda, não passa de contribuições de caridade que a empresa deve fazer. Há também os que admitem que a Responsabilidade Social é exclusivamente, a responsabil idade de pagar bem seus funcionários e dar-lhes um bom tratamento. Logicamente, Responsabilidade Social das empresas é tudo isto, muito embora não o seja isoladamente (OLIVEIRA, 1984, 204).

O mesmo autor define a Responsabilidade Social das empresas como:

(...) a capacidade de a empresa colaborar com a sociedade, considerando seus valores, normas e expectativas para o alcance de seus objetivos. No entanto, o simples cumprimento das obrigações legais, previamente determinadas pela sociedade, não será considerado como comportamento socialmente responsável, mas como obrigação contratual óbvia, aqui também denominada obrigação social (OLIVEIRA, 1984, 205).

As empresas podem contribuir para que os governos elaborem estruturas normativas e

institucionais destinadas a eliminar obstáculos para o investimento responsável do setor privado e desenvolvimento econômico local, emprego e meio ambiente.

URAS (1999) afirma que, mesmo num momento de crise, a Responsabilidade Social deve ser enfocada na gestão empresarial com mais ênfase, não somente por “considerações de natureza ética, mas também porque é um bom negócio” (URAS, 1999, 58) e cita os benefícios advindos de uma orientação empresarial ética e com Responsabilidade Social:

Uma organização ética ganha confiança do mercado e, no cenário atual globalizado a reputação e confiança são grandes vantagens competitivas. As organizações confiáveis atraem a lealdade de clientes, que deve ser um dos fatores mais procurados em qualquer relacionamento. Internamente uma organização ética e com Responsabil idade Social possibilita a criação de um ambiente que suporta e estimula a criatividade e a ausência de medo para assumir responsabilidades, podendo responder mais rápida e eficientemente às demandas dos clientes. Quanto as organizações estão perdendo com as táticas que seus funcionários usam para proteger-se motivados pela falta de transparência da alta direção e de confiança na gestão empresarial?(URAS, 1999, 59).

Pode explicitar também uma relação de proximidade que traz confluências e

interligações entre os termos Responsabili dade Social Empresarial e Empresa-Cidadã. Para RICO (2000):

Cidadania Empresarial vem sendo um conceito adotado por uma parcela do empresariado que discorda de benemerência, da doação de recursos com objetivo da prática do humanitarismo. Ao contrário, entende que, como qualquer segmento da sociedade civil, o empresariado possui uma responsabilidade cidadã diante do agravamento do quadro de miséria do país. A empresa cidadã é aquela que se insere na comunidade, investindo recursos próprios, tendo o cuidado de monitorar o seu investimento, acompanhando projetos que possam trazer resultados concretos para a população local e que tenham possibilidade de auto-sustentabilidade e multiplicação (RICO, 2000, 139).

8

De acordo com o INSTITUTO ETHOS (2000) comumente no Brasil a restrição ao conceito de cidadania empresarial engloba doações, sejam realizadas em forma de dinheiro ou de produtos. No entanto, há que se observar que o conceito de Responsabilidade Social é muito mais amplo, implicando, acima de tudo, em um modelo de gestão que vai além da lei e da simples filantropia.

O conceito de ética aparece, com freqüência, associado ao termo Responsabilidade Social. De acordo com o INSTITUTO ETHOS (2000) ética constitui a base dessa conduta responsável e se expressa através dos princípios e valores adotados pela organização.

Não há Responsabilidade Social sem ética nos negócios. Não adianta uma empresa, por um lado pagar mal seus funcionários, corromper a área de compras de seus clientes, pagar propinas aos fiscais do governo e, por outro lado, desenvolver programas junto a entidades sociais da comunidade. Essa postura não condiz com uma empresa que quer trilhar um caminho de Responsabilidade Social. É importante seguir uma linha de coerência entre ação e discurso (INSTITUTO ETHOS, 2000).

De acordo com este conceito, as empresas despertam para uma reorganização da

filosofia empresarial que estabelece uma nova mentalidade alicerçada em ações sociais concil iadas com os objetivos institucionais. Esse realinhamento do pensamento corporativo resulta da conscientização que a missão das organizações é gerar valor econômico atrelado ao valor solidário. Ou seja, as empresas devem realizar esforços direcionados para projetos de cunho social de modo a promover a melhoria da imagem corporativa perante a sociedade e satisfazendo os desejos dos acionistas.

As empresas que atendem aos princípios da Responsabil idade Social praticam e desenvolvem políticas de cidadania ao respeitarem os diversos agentes sociais aos quais estão interligadas direta ou indiretamente – os stakeholders.

Assim, a Responsabilidade Social empresarial pode ser entendida como o relacionamento ético da organização com todos os grupos de interesse que influenciam ou são impactados pela sua atuação – clientes, acionistas, fornecedores, comunidade, concorrência, etc. –, bem como o respeito ao meio ambiente e investimento em ações sociais.

Apesar da existência de inúmeras definições para o termo responsabili dade social, ele resulta do questionamento e críticas às empresas nas últimas décadas. No campo social, ético e econômico foram adotadas, até então, políticas baseadas estritamente na economia de mercado.

Em contrapartida a este modelo, as organizações são cobradas pelo cultivo e prática de um conjunto de valores que, geralmente, são explicitados em um código de ética. Este instrumento formador do caráter organizacional determina a cultura interna própria da empresa e funciona como referência de ação para todos os dirigentes em suas transações.

MEGGINSSON at all (1998, 93) relata que a Responsabilidade Social “ representa a obrigação da administração em estabelecer diretrizes, tomar decisões e definir rumos de ação que são importantes segundo o conjunto de valores e objetivos aceitos pela sociedade” .

Contrapondo este pensamento, uma crescente percepção do empresariado brasileiro os identifica como representantes e agentes importantes para a construção de um novo pacto social em que a parceria entre Estado e iniciativa privada contribui para o desenvolvimento social.

Essa visão resulta de fatores do macro ambiente o qual as empresas se inserem. Entre eles:

9

Exigências de consumidores e investidores, espontâneas ou organizadas por grupos de pressão e com alcance ampliado pela mídia; A própria situação social e ambiental que, vista de uma perspectiva estratégica, será, por si mesma, fator limitante da atividade empresarial; A necessidade de redefinir os papéis do Estado e da empresa (CORULLÓN & FILHO (2002, 34).

Aliado aos fatores mencionados, verifica-se que a crescente atuação da iniciativa

privada consiste em um reflexo da competição internacional baseada em princípios éticos, por exemplo, definidas pelo global compact que determina políticas de trabalho mais dignas, como erradicação do trabalho infantil, escravo e outras formas de sub-emprego. Embora se possa pensar que tal medida não interfira de sobremaneira, e integralmente, na imagem da instituição que pratica ações negativas, a realidade demonstra que o consumidor tem um pensamento bem definido sobre ética organizacional. Dados de pesquisas demonstram que o público em geral se sente atingido por muitas atitudes da empresa, sem que estes fatores estejam ligados diretamente com a relação consumo, como por exemplo:

63% dos entrevistados consideram o tratamento dados aos funcionários e a ética nos negócios o principal fator de avaliação de uma empresa; 51% criticaram empresas que apresentam condutas socialmente irresponsáveis; 30% recusaram-se a adquirir um produto ou serviço dessas empresas; 16% prestigiaram uma empresa socialmente responsável (INSTITUTO ETHOS, 2001).

Demonstra-se, desta forma, que os consumidores estão atentos às ações empresariais e

como tais preocupações se refletem no comportamento diante delas. É oportuno salientar, que não basta estabelecer políticas sociais, mas também as ações sociais a serem desempenhadas, além de se fazer uma avaliação dos objetivos sociais mais amplos propostos pelas mesmas.

ASHLEY (2002) salienta em seu estudo que a avaliação do desempenho de uma empresa, quanto à sua responsabil idade corporativa, precisa estabelecer e implementar um conceito de organização que equilibre as ações econômicas, sociais e ambientais que resulte em uma relação circular entre elas.

CORULLÓN & FILHO (2002), com base em dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) salientam que no Brasil se percebe uma expansão crescente das organizações em promover ações de Responsabilidade Social. Em uma pesquisa desenvolvida por este órgão, em dezembro de 2001, evidenciou-se que, em uma amostra de 47 grandes empresas entrevistadas nas regiões metropoli tanas do Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, 80% pretendiam expandir sua atuação social. Estes dados são importantes, pois na região Sudeste mais de dois terços das empresas têm algum tipo de atuação voltada à comunidade. Mais surpreendente é o percentual de organizações em Minas Gerais que realizam ações sociais, superior a 80%.

Assim, pode-se concluir que as estimativas demonstram uma preocupação das instituições em ampliar a inclusão e atuação em assuntos de interesse público, ligados ou não ao âmbito de seus negócios. Nas últimas décadas, a satisfação dos interesses públicos, por parte da iniciativa privada, teve maior participação em eventos na área cultural. Mas a partir de meados da última década o Programa Voluntários do Conselho da Comunidade Solidária de Betinho começou a despertar nas empresas a necessidade de estruturarem programas de voluntariado. Esses programas visam suprir necessidades sociais em ações conjuntas e integradas com o Governo de modo a proporcionar mais benefícios à sociedade.

10

Atualmente, a intervenção dos diversos atores sociais exige das organizações uma nova postura, calcada em valores éticos que promovam o desenvolvimento sustentado da sociedade como um todo. Para muitas empresas, no entanto, exercer Responsabilidade Social é simplesmente fazer doações e desempenhar ações de filantropia. Em tais empresas verifica-se apenas a prática de ações sociais e, em muitos casos de forma esporádica e casual.

Mas a verdadeira empresa cidadã exerce sua responsabilidade social em caráter permanente com programas e projetos sociais próprios através de ações de filantropia, assistência social e de fomento ao desenvolvimento social. 4. UMA ANÁLISE PRÁTICA: O CASO DO BANCO BRADESCO

O Banco Bradesco surgiu na década de 40 e se consagrou pelo pioneirismo ao criar hábitos de poupança, desenvolver instrumentos de créditos e de investimento. O banco, pela sua representatividade, está entre os maiores bancos privados do país e se caracteriza por estender o atendimento bancário a regiões remotas do território brasileiro e levar o progresso para regiões distantes dos centros urbanos.

Com mais de meio século de existência, a Organização Bradesco contribui de várias maneiras para o desenvolvimento e o aprimoramento da sociedade brasileira. Como instituição financeira, uma de suas funções é colaborar continuamente para a integração regional brasileira, estendendo os serviços financeiros a um grupo crescente de cidadãos e ajudar a ampliar a presença de produtos e serviços brasileiros no exterior por meio de apoio às empresas nacionais.

Mas um dos maiores méritos dessa instituição é a sua preocupação em desenvolver cidadãos. Prática essa desenvolvida por meio da Fundação Bradesco que é o seu marco em Responsabil idade Social. Por meio dessa entidade todos os anos são dados contribuições significativas para a sociedade, com prioridade para o desenvolvimento de práticas de inclusão social da parcela mais carente.

Os testemunhos de pessoas beneficiadas pela Fundação demonstram a relevância das ações assistenciais e a gratidão das mesmas pelos serviços prestados.

“ O Bradesco abre o horizonte e faz com que a gente seja de fato pessoas, cidadãos e exerça isso na sociedade, no cotidiano. Eu acho isso muito importante e é um trabalho social de um valor imensurável. A Fundação Bradesco sem sobra de dúvida tem prestado esse serviço à comunidade. A comunidade carente, à pobreza mesmo, que é aqui, é grande” (Aloísio C. de Oliveira – Pai de aluno da Fundação).

O auxílio do Bradesco à comunidade carente não se restringe às atividades da

Fundação. Ele, também, pratica a Responsabil idade Social por meio de outras empresas que compõem o grupo. Assim, o BCN, banco que integra a Organização Bradesco desde 1997, mantém há 15 anos no município de Osasco, em São Paulo, um programa de estímulo ao esporte.

Além, desse espaço o BCN mantém mais de 40 núcleos de formação esportiva nos quais meninas com idade de 9 a 14 anos recebem aulas de basquete e vôlei, além de equipamento esportivo, alimentação, orientação psicológica e assistência médica. O objetivo do projeto é ocupar o tempo livre do aluno de maneira sadia, fornecendo-lhe além de ensinamentos esportivos, noções de cidadania, trabalho em grupo, solidariedade e relacionamento com a sociedade (FUNDAÇÃO BRADESCO, 2003b).

O Bradesco, por meio da Fundação, oferece ampla e diversificada contribuição à comunidade. As Escolas da Fundação Bradesco constituem a maior rede de ensino gratuito

11

mantida por uma organização privada no país. É interessante que as pessoas envolvidas nas atividades da instituição se sentem estimuladas e participam ativamente dos projetos. Isso pode ser percebido no depoimento dos profissionais à frente desse projeto:

“ A gente pode estar interferindo de forma positiva na formação de um indivíduo mais consciente, crítico, mais participativo, e, que ele possa intervir na sociedade de forma positiva, se sentindo bem e fazendo bem aos outros” (Maurício Ramos – Professor de Educação Física).

Mas, as ações da Organização Bradesco não se restringem apenas a ensinar. A

Organização desenvolve e participa de projetos que abrangem o patrocínio de exposições de artes, espetáculos de música e dança; apoio a obras assistenciais relevantes, a atividades esportivas e as diversas manifestações culturais em todo o Brasil (FUNDAÇÃO BRADESCO, 2003c). 4.1. Fundação Bradesco

A Fundação Bradesco surgiu a mais de 45 anos e iniciou suas atividades com a criação de uma escola em Osasco, São Paulo, para atender aos filhos dos funcionários do banco que trabalhavam na sede da Cidade de Deus. Hoje, ela constitui-se num complexo de 38 escolas distribuídas em diversas localidades do país. A mais nova unidade localiza-se em Boa Vista, Roraima (FUNDAÇÃO BRADESCO, 2003b)

“ A Fundação Bradesco é uma entidade sem fins lucrativos, que atende crianças, jovens e adultos através de projetos educacionais, com o objetivo de contribuir para a redução das desigualdades socioculturais da população de baixa renda” (FUNDAÇÃO BRADESCO, 2003b).

Assim, a filosofia difundida pela Fundação permeia nos pensamentos de:

- Educação para todas as idades - Desenvolver vocações - Ampliar horizontes - Inovar com tradição - Aprender com liberdade - Atender à comunidade carente - Facil itar o acesso à educação - A arte de ensinar o adulto - Investir no desenvolvimento de seus profissionais

A preocupação dessa instituição é atender a parcela carente da população oferecendo em todos os seus segmentos avançados recursos pedagógicos. Assim, ela visa oferecer aos alunos as condições necessárias para que encontrem soluções, envolvidos em uma nova linguagem, que expressem a sua reconstrução do conhecimento.

Para desenvolver e formar cidadãos a entidade oferece aos trabalhadores e donas de casa a chance de concluir o ensino fundamental e ensino médio, proporcionando aos mesmos a preparação para ingressar na faculdade e melhorar o nível de emprego.

Além da educação básica – ensino infantil , fundamental, médio e médio-profissionalizante, 103 mil alunos recebem gratuitamente uniforme, material, merenda escolar e assistência médico-odontológica. Mantendo, ainda, cursos de educação profissional básica, especialização rápida, informática para deficientes visuais e alfabetização de adultos.

12

A preocupação em oferecer maior oportunidade à população de menor poder aquisitivo e com maiores dificuldades de acesso à educação define uma estratégia na qual a Fundação desenvolve através das Escolas-Fazendas em Canuanã-TO e Bodoquena-MS programas de apoio educacional. Nestas unidades, os alunos vivem e estudam para se formar no Ensino Médio e Profissional Técnico (FUNDAÇÃO BRASDESCO, 2003a).

As ações da Fundação, também, apoiaram instituições de reconhecido valor filantrópico, como a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e a Associação dos Amigos da Criança com Câncer (AACD) que de acordo com Relatório Anual 2002 foram beneficiadas. Isso demonstra a preocupação da Fundação em contribuir para o bem-estar de parcelas excluídas de assistência social decorrentes das limitações do Estado. Demonstra, também, que ações empresariais éticas podem contribuir significativamente para melhoria da condição de vida de muitos Brasileiros.

A mentalidade de auxílio à população carente se reflete em sua política organizacional que salienta:

“ Ao oportunizar aos alunos, em geral oriundos de classes sociais menos favorecidas, a participação em cursos cujos curr ículos propiciam a inserção e a reinserção profissional no mercado de trabalho, a Fundação Bradesco possibil ita uma travessia mais digna para o emergente e mutável mundo do trabalho” (Revista Fundação Bradesco, 2003).

A preocupação em praticar ações sociais à comunidade carente resultou na

participação, desde 1997, no projeto Canal Futura. Assim, a Fundação Bradesco é sócia-fundadora desse projeto que integra as ações de Responsabilidade Social de 14 empresas. Esse canal constitui-se no primeiro canal de TV privado do país voltado exclusivamente para a educação e a Fundação já investiu mais de 7,5 milhões de reais nessa parceria (FUNDAÇÃO BRADESCO, 2003b).

A amplitude das práticas sociais da instituição se confirma ao se vislumbrar outros projetos, em fase de funcionamento, dentre os quais: Programa Alfabetização Solidária, “ Ilha Rá-Tim-Bum” , Escola Virtual, Inclusão Digital, Intel Educação para o Futuro, Cisco CCNA, etc. (FUNDAÇÃO BRADESCO, 2003b).

Os alunos da Fundação, também, têm uma educação ambiental. No caso da unidade de Gravataí, Rio Grande do Sul, receberam materiais educativos e orientações com o intuito de despertá-los para uma consciência ambiental e a importância da reciclagem de lixo em uma área onde não havia coleta seletiva.

O Bradesco, também, é reconhecido entre as melhores empresas para se trabalhar ao oferecer diversos benefícios aos seus trabalhadores. Além de seguro-saúde e de assistência odontológica, os funcionários do Bradesco têm acesso a um plano suplementar de previdência. Deve-se salientar que a repercussão de práticas de Responsabil idade Social se evidencia no comprometimento dos agentes internos organizacionais – colaboradores. Isso se confirma nos dados do balanço social. Em 2002 registrou-se que cerca de 39% da equipe de empregados do Bradesco têm mais de 11 anos de organização. Destes aproximadamente 9% têm mais de 20 anos de empresa (FUNDAÇÃO BRADESCO, 2003b).

A importância dos dados demonstra que os funcionários se adaptam às políticas da empresa e tecem uma parceria duradoura com a mesma. Deve-se considerar que a política de seleção de profissionais busca recrutar e selecionar indivíduos em início de carreira e lhes oferece condições de desenvolvimento e ascensão hierárquica.

Assim, além de se preocupar com gerar melhorias para a comunidade a Organização Bradesco, também, cativa seus colaboradores pelos diversos benefícios e ações que pratica. Isso se confirma ao se observar que o Bradesco se destaca entre as 100 melhores empresas para se trabalhar.

13

5. REFLEXÕES FINAIS

Diversos são os exemplos que evidenciam a preocupação social da Organização Bradesco por meio de suas políticas de incentivos a novos talentos, participação em campanhas solidárias entre outros auxílios de cunho social.

Mesmo em áreas longínquas ou que não apresentem um significado político para a organização ou para suas ações, os programas institucionais da Fundação Bradesco evidenciam a existência de pessoas carentes de assistência educacional. E, principalmente, para esse público, é possível desenvolvê-los desde que se respeitem as peculiaridades geográficas, econômicas e culturais dos assistidos as quais a Fundação busca realizar por meio dos seus diversos projetos e ações.

O projeto da Fundação não atende, desta forma, única e exclusivamente a jovens e adolescentes, mas, também a trabalhadores e donas-de-casa que não puderam estudar no período certo. A extensão dessa oportunidade aos trabalhadores ocorre graças aos convênios criados entre a Fundação e a sede de muitas empresas as quais os profissionais encontram-se vinculados. Assim, os indivíduos conciliam a atividade laboral com a disponibilidade de horários de estudo. Isso se faz necessário para conciliar as necessidades dos agentes envolvidos, dispensando, também, o deslocamento dos interessados causando menor fadiga.

Em quase meio século de auxílio à comunidade carente as escolas da Fundação Bradesco já formou meio milhão de alunos. Seus padrões educacionais são referência nacional ao concil iar conhecimento, flexibil idade, criatividade e superação de fatores culturais. Com isso possibili ta-se aos alunos discussões e informações que lhes forneçam uma base para o exercício integral da cidadania. Ao mesmo tempo, existe a preocupação em criar nos mesmos a consciência de que o desenvolvimento da sociedade será o resultado do trabalho de todos.

Assim, diante de seu papel exemplar de promover ações de responsabil idade social com transparência e equidade muitos foram os prêmios concedidos à Fundação. Tais méritos resultam do reconhecimento da sua postura ética que auxilia inúmeras pessoas carentes a se desenvolverem e vislumbrarem novas perspectivas.

Os dados e informações apresentados nos relatórios da Organização Bradesco também demonstram que há um investimento no treinamento de seus colaboradores. Diversos são os recursos utilizados para o desenvolvimento profissional, assim, os treinamentos se baseiam em cursos presenciais, vídeos e pelo TreiNet – sistema de capacitação pela Internet.

O TreiNet possibilita que o funcionário faça a sua própria programação de modo a organizar-se de acordo com as suas disponibil idades de tempo. Para o banco é um recurso moderno e eficiente, pois pode ser utilizado por diversas pessoas distribuídas nas diversas unidades do Bradesco em todo o Brasil .

O estudo, portanto, demonstra que as ações do Bradesco são de suma relevância para reflexão das diversas empresas que compõem o nosso cenário mercadológico. Esse magnífico exemplo de cidadania e compromisso social confirma que é possível estabelecer um desenvolvimento sustentável pautado na ética e em políticas sociais que conciliem interesses econômicos e coletivos.

A filosofia da Organização Bradesco, no entanto, chama a atenção por se tratar de uma empresa financeira, mas com projetos de extensão à área social. Além, disso, outro fator dignificante dessa política é a sua predisposição de atuar em áreas cujo interesse de outros agentes sociais em investir é nulo.

A postura definida pelo Bradesco ao perceber a precariedade de assistência social nas localidades onde situam as Escolas-Fazendas permite o desenvolvimento de ações que visem um planejamento que concil ie educação às crianças, bem como, magistério e estudo profissionalizante aos jovens e adulto em respeito a suas necessidades regionais.

14

Com base nessas ações o Bradesco flexibil iza a sua estrutura para atender as prerrogativas que caberiam aos dirigentes governamentais. Ao mesmo tempo, demonstra a estratégia que se pauta no desenvolvimento de uma política mais justa e visa facili tar a inclusão de diversas pessoas em um mundo mais digno. As diversas ações do Bradesco demonstram, portanto, os meios concretos de se desenvolver o exercício da cidadania e beneficiar à sociedade.

A filosofia pró-ativa adotada pelo Banco Bradesco, como instituição financeira, é benéfica e impulsionadora para outras instituições atuantes nessa área adotarem. ZEEGERS (2001, 156) defende que “os bancos deveriam, com os recursos que dispõem, ser instrumentos de mudanças na sociedade, agindo eticamente, favorecendo negócios que beneficiem as comunidades e rejeitando aqueles que venham a prejudicá-las” .

Deve-se esclarecer, no entanto, que, embora não se possa atribuir a eles o papel de árbitro das escolhas da sociedade, tais instituições deveriam atentar-se às transações igualmente aos dizeres no que se refere ao espírito das leis, lembrando, por outro lado, que os mesmos não devem interferir nos negócios privados de seus clientes.

Contudo SCHUSTER (2001, 161) afirma que “as instituições bancárias há muito não concentram suas atividades visando apenas o interesse dos proprietários, do mercado e de seus clientes, mas também têm atentado para o ambiente social onde se inserem” .A Fundação Bradesco é um exemplo positivo de ação corporativa social ao desenvolver uma preocupação contínua com a educação de crianças, adolescentes e adultos. Iniciativa, essa, presente a mais de quatro décadas e que resultou em um reconhecimento internacional. 6. BIBLIOGRAFIA ASHLEY, Almeida Patrícia. Ética e responsabilidade social nos negócios. São Paulo: Saraiva, 2002. CARDOSO, Alexandre Jorge Gaia; ASHLEY, Patrícia Almeida. A responsabilidade social nos negócios: um conceito em construção. In: ASHLEY, Patrícia Almeida. (Coord). Ética e Responsabil idade Social nos Negócios. São Paulo: Saraiva, 2002. CORULLON, Mônica Beatriz Galiano & FILHO, Barnabé Medeiros. Voluntariado na empresa: gestão eficiente da participação cidadã. São Paulo, Petropólis, 2002. DRUCKER, Peter. A revolução invisível. São Paulo: Pioneira, 1977. FRIEDMAN, Milton. Capitalismo e Liberdade. São Paulo: Artenova 1977. FUNDAÇÃO BRADESCO. O futuro passa pela escola. Fundação Bradesco: Maio, 2003a. FUNDAÇÃO BRADESCO. Relatório social 2002. Fundação Bradesco: Janeiro, 2003b. FUNDAÇÃO BRADESCO. Relatório anual 2002. Fundação Bradesco, Abril , 2003c. HARTMANN, Nicolai. Ethik. Berlin, 1935, 2ª ed. INSTITUTO ETHOS. Responsabil idade social empresarial: perguntas e respostas. (citado em 25/05/00). Disponível na internet http://www.ethos.org.br/pri/princ/prespostas/index.asp. INSTITUTO ETHOS. Percepção do Consumidor Brasileiro. São Paulo: Instituto Ethos, 2001. LIMA, Paulo Rogério dos Santos. Inserindo a responsabilidade social das empresas ao contexto brasileiro. In: ASHLEY, Patrícia Almeida. (Coord). Ética e Responsabilidade Social nos Negócios. São Paulo: Saraiva, 2002. KOTLER, Phil ip. Administração de Marketing: Análise, Planejamento, Implementação e Controle. São Paulo, 1998. MEGGINSON, Leon C.; MOSLEY, Donald C., PETRI, Paul H. Jr.. Administração: conceitos e aplicações. São Paulo: Harbra, 1998. MOREIRA, Joaquim Manhães. A ética empresarial no Brasil . São Paulo: Pioneira, 1999.

15

NALINI, José Renato. Ética Gera e Profissional. RT: São Paulo, 1999. OLIVEIRA, José Arimatés de. Responsabil idade social em pequenas e médias empresas. Revista de Administração de Empresas. v. 24, n. 4, p. 203-210, out./dez. 1984. RICO, Elizabeth de Melo. A filantropia empresarial e sua inserção no Terceiro Setor. In: Caderno de Administração PUC-SP, São Paulo, (3), mar., 2000. SCHUSTER, Leo. The societal responsibility of commercial and social savings banks. In: GUENE, Christophe; MAYO, Edward. (Org). Banking and Social Cohesion. Charlbury: Jon Carpenter Publishing, 2001. URAS, Francisco Paulo. A Responsabilidade Social é um bom negócio? "O Estado de São Paulo", em 25.08.1999. VÁSQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. Rio de Janeiro: Civil ização Brasileira, 1995, 15ª ed. VELOSO, Letícia Helena M. Ética, valores e cultura: especificidades do conceito de responsabil idade social corporativa. In: ASHLEY, Patrícia Almeida. (Coord). Ética e Responsabil idade Social nos Negócios. São Paulo: Saraiva, 2002. ZEEGERS, Jacques. What should be the social responsibili ty of banks? In: GUENE, Christophe; MAYO, Edward. (Org). Banking and Social Cohesion. Charlbury: Jon Carpenter Publishing, 2001.