Resenha Alves-Mazzotti

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Resenha de leitura. No. 1. Referência bibliográfica: ALVES, Alda. A “revisão da bibliografia” em tese e dissertações: meus tipos inesquecíveis – o retorno. In: BIANCHETTI, Lucídio; NETO, Ana María (Orgs.) A bússola do escrever, desafios e estratégias na orientação e escrita de teses e dissertações. Florianópolis: Editora da UFSC, 2002, p. 25 – 43. Este artigo está inspirado em dois textos anteriores referenciados pela autora Alda Alves 1 . Dez anos depois da escrita do seu primeiro artigo (ALVES 1992) sobre o papel da revisão bibliográfica em trabalhos de pesquisa, a autora faz uma revisão do estado atual dos problemas que se apresentam na hora de fazer esse primeiro exercício de busca bibliográfica sobre um tema, e conclui que os estudantes e as estudantes de pós-graduação continuam tendo as mesmas dificuldades. É assim que ela introduz seu artigo justificando que a “revisão da bibliografia” é uma reflexão que tem que ser feita a consciência, e não é um assunto que se faz automaticamente ou sem previsão. Utilizando como fundamento pesquisas feitas sobre a qualidade das dissertações defendidas em Rio de Janeiro (ALMEIDA 1977) e em Rio Grande do Sul (CASTRO e HOLMESLAND 1984) a autora assinala, como um ponto a melhorar, a falta de atualização das dissertações, devido a que a maioria dos estudantes de mestrado consultam geralmente mais livros (que podem não dar conta dos avanços do conhecimento na área) do que artigos acadêmicos e trabalhos de pesquisa (que tem um maior fluxo de produção, e portanto de atualização). No meu parecer, neste ponto, a autora mesma cai no erro de não atualizar sua própria pesquisa, porque cita os mesmos textos que ela tinha utilizado no seu primeiro artigo há dez anos. A continuação, a autora menciona as funções básicas que cumpre a revisão bibliográfica: Contextualização do problema dentro de uma área de estudo (lograda a través de leituras 1 ALVES, Alda Judith. Revisões bibliográficas em teses e dissertações: Meus tipos inesquecíveis. Cadernos de Pesquisa. São Paulo, Fundação Carlos Chagas/ Cortez, No. 81, p. 53 – 61, maio de 1992. ALVES-Mazzotti, Alda Judith & GEWANDSZNAJDER, Fernando. O método nas ciências naturais e sociais: pesquisas quantitativa e qualitativa. São Paulo: Pionera, 1998 (1ed.).

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Resenha de leitura de ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith. "A 'revisão da bibliografia' em teses e dissertações: meus tipos inesquecíveis - o retomo" in: BIANCHETI, L. & MACHADO, A. M. N. (orgs.). A Bússola do Escrever. Florianópolis: EDUFSC; São Paulo: Cortez, 2006. Pp. 25-41.

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Resenha de leitura. No. 1.

Referência bibliográfica: ALVES, Alda. A “revisão da bibliografia” em tese e dissertações: meus tipos inesquecíveis – o retorno. In: BIANCHETTI, Lucídio; NETO, Ana María (Orgs.) A bússola do escrever, desafios e estratégias na orientação e escrita de teses e dissertações. Florianópolis: Editora da UFSC, 2002, p. 25 – 43.

Este artigo está inspirado em dois textos anteriores referenciados pela autora Alda Alves 1. Dez anos depois da escrita do seu primeiro artigo (ALVES 1992) sobre o papel da revisão bibliográfica em trabalhos de pesquisa, a autora faz uma revisão do estado atual dos problemas que se apresentam na hora de fazer esse primeiro exercício de busca bibliográfica sobre um tema, e conclui que os estudantes e as estudantes de pós-graduação continuam tendo as mesmas dificuldades.

É assim que ela introduz seu artigo justificando que a “revisão da bibliografia” é uma reflexão que tem que ser feita a consciência, e não é um assunto que se faz automaticamente ou sem previsão. Utilizando como fundamento pesquisas feitas sobre a qualidade das dissertações defendidas em Rio de Janeiro (ALMEIDA 1977) e em Rio Grande do Sul (CASTRO e HOLMESLAND 1984) a autora assinala, como um ponto a melhorar, a falta de atualização das dissertações, devido a que a maioria dos estudantes de mestrado consultam geralmente mais livros (que podem não dar conta dos avanços do conhecimento na área) do que artigos acadêmicos e trabalhos de pesquisa (que tem um maior fluxo de produção, e portanto de atualização). No meu parecer, neste ponto, a autora mesma cai no erro de não atualizar sua própria pesquisa, porque cita os mesmos textos que ela tinha utilizado no seu primeiro artigo há dez anos.

A continuação, a autora menciona as funções básicas que cumpre a revisão bibliográfica: Contextualização do problema dentro de uma área de estudo (lograda a través de leituras exploratórias) e análise do referencial teórico (p. 26). Deste modo, um bom trabalho de revisão bibliográfica serve como eixo transversal da pesquisa, desde o recorte do problema de pesquisa até a análise dos resultados. Alves é clara em advertir que a revisão bibliográfica está ao serviço do problema de pesquisa, por isso, não é possível estabelecer fórmulas a seguir, mas sim é possível fazer orientações gerais para contribuir a melhorar a qualidade do trabalho. A continuação, a autora expõe o processo de contextualização do problema.

Em primeiro lugar, Alves fala da importância de que a pesquisadora/pesquisador se posicione dentro de um campo de conhecimento e situe o seu problema de pesquisa respeito aos avanços feitos pela comunidade científica sobre esse tema. Esse “estado atual do conhecimento” requer uma posição crítica do pesquisador/pesquisadora, tal como a autora explicita: “comparando e contrastando abordagens teórico-metodológicas utilizadas e avaliando o peso e a confiabilidade de resultados de pesquisa, de modo a identificar pontos de consenso, bem como controvérsias, regiões de sombra e lacunas que merecem ser esclarecidas” (p. 27). Esta fase de descoberta das “lacunas” de conhecimento pode mudar a trilha do pesquisador/pesquisadora

1 ALVES, Alda Judith. Revisões bibliográficas em teses e dissertações: Meus tipos inesquecíveis. Cadernos de Pesquisa. São Paulo, Fundação Carlos Chagas/ Cortez, No. 81, p. 53 – 61, maio de 1992. ALVES-Mazzotti, Alda Judith & GEWANDSZNAJDER, Fernando. O método nas ciências naturais e sociais: pesquisas quantitativa e qualitativa. São Paulo: Pionera, 1998 (1ed.).

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para orientá-la/lo para um tema que lhe resultou mais interessante. Em consequência, as leituras exploratórias ajudam na delimitação do projeto de pesquisa. Em seguida, a autora lamenta que no Brasil não sejam feitos frequentemente exercícios minuciosos de “Estado da Arte”, prática que resulta muito rica para aprofundar em uma área de conhecimento, além disso, ela faz uma crítica sobre a falta de divulgação das dissertações e teses. Enfim, a autora recomenda começar a pesquisa pelas revisões bibliográficas que já foram publicadas sobre o tema de interesse da pesquisadora/pesquisador.

Em segundo lugar, como produto das leituras exploratórias, a pesquisadora/ pesquisador poderá estabelecer as leituras nas quais é preciso aprofundar. Uma dica que oferece Alves é que, além de procurar revisões bibliográficas, a pesquisadora/pesquisador consulte as referências bibliográficas de artigos recentes, as obras de referência, os sistemas e redes de informação e as bibliografias selecionadas, no Brasil, publicadas na Internet por instituições como o CNPq, o INEP e a Fundação Carlos Chagas. No final desta seção, a autora esclarece que a pesquisadora/pesquisador deve basear-se em primeiro lugar na revisão de fontes primarias e não citar a través de terceiros (p. 29).

A análise do referencial teórico dirige ao pesquisador/pesquisadora para repensar seu problema de pesquisa. Enquanto no trabalho prático, essa análise vai orientar o tipo de procedimentos que devem ser utilizados na etapa de observação e coleta de dados. Também, serve como um tipo de previsão, para não repetir os erros cometidos em outras pesquisas. Quando a autora faz referência à importância da escolha de teorias adequadas aos contextos locais onde é feito o estudo, é notável que ela fase ênfase na possibilidade de gerar teorias próprias, o qual se aparta da tendência de copiar modelos de análise dos teóricos estadunidenses e europeus, isso não significa que não sejam consultados os teóricos clássicos, mas motiva à criação de outras formas de construção do conhecimento. Consequentemente, a autora recomenda que seja qual seja a escolha teórica da pesquisadora/pesquisador ela/ele integre o referencial teórico na análise de resultados da coleta de dados, fazendo um escrito harmonioso desde a introdução, passando pelo corpo do texto e estabelecendo as conclusões do estudo.

Imediatamente, a autora apresenta sua tipificação dos diferentes jeitos de fazer a revisão bibliográfica, argumentando que se trata de uma forma caricaturada do que deve ser evitado, a continuação, vou fazer uma breve descrição desse conteúdo:

Revisão tipo summa: consiste na ilusão de “fazer um resumo de toda a produção científica” sobre o tema de pesquisa. (p.34)

Revisão tipo arqueológico: pretende uma busca exaustiva sobre o tema sob uma visão diacrônica.

Revisão tipo patchwork: é quando a pesquisadora/pesquisador intenta fazer “uma colagem de conceitos, pesquisas e afirmações de diversos autores sim um fio condutor. ” (ibid.)

Revisão tipo suspense: neste caso, a ligação dos fatos com o tema de estudo não é clara.

Revisão tipo rococó: a autora outorga esta característica aos trabalhos acadêmicos que tem “conceituações teóricas rebuscadas”. (p. 35)

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Revisão tipo caderno B: ocorre quando a tendência da pesquisadora/pesquisador é tomar com ligeireza assuntos complexos.

Revisão tipo coquetel teórico: sucede quando a pesquisadora/pesquisador tenta explicar diversos aspectos de sua exposição por meio de uma fundamentação teórica que não está articulada.

Revisão tipo apêndice inútil: neste caso, a revisão teórica parece desconexa do resto do corpo do trabalho.

Revisão tipo monástico: aqui, a pesquisadora/pesquisador leva o leitor pela mesma trilha cansativa que ela/ele fez, caracteriza-se por serem uma análise cumprida, porém, nada interessante.

Revisão tipo cronista social: a pesquisadora/pesquisador simplesmente faz citações dos autores que estão na moda.

Revisão tipo colonizado versus xenófobo: a pesquisadora/pesquisador colonizado só faz referência a autores estrangeiros, entanto a/o xenófobo só aceita a produção acadêmica nacional.

Revisão tipo off the records: a pesquisadora/pesquisador tem a falência de omitir a autoria das afirmações colocadas nos seus argumentos.

Revisão tipo ventríloquo: consiste em repetir ideias de outros autores sem uma análise crítica.

Em suma, da tipologia apresentada podem ser inferidas as seguintes sugestões: fazer uma escolha rigorosa das leituras que constituem o referencial teórico, analisar e não só descrever o que diz a teoria, ser claro com o leitor desde o início sobre o roteiro da pesquisa, tentar fazer simples (porém, não fraca) a explicação de teorias complexas e demonstrar unicidade na construção da pesquisa.