Renault FT-17 - O Primeiro Carro de Combate do Exército Brasileiro

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56 páginas, o livro resgata os principais acontecimentos que envolveram a operação do primeiro carro de combate do Exército Brasileiro, desde 1921 até a sua desativação em 1942. A pesquisa realizada impressiona pela riqueza de detalhes, com o resgate de muitos documentos da época e dezenas de imagens históricas. Engloba desde aspectos técnicos do projeto e construção no blindado na França até particularidades sobre a sua aquisição e operação no Brasil. Também foram mapeados todos os exemplares atualmente preservados no país.

Transcript of Renault FT-17 - O Primeiro Carro de Combate do Exército Brasileiro

Renault FT-17 com torre octogonal Renault e metralhadora Hotchkiss de 7mm

Companhia de Carros de Assalto

1921-1925

Renault FT-17 com torre fundida Berliet e canhão Puteaux de 37mm

Companhia de Carros de Assalto

1921-1925

À memória do meu tio-avô,Walter Gassenferth Júnior(23/04/1906 - 27/01/1978),tanquista entre 1925 e 1929.

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PREFÁCIO

Como comandante do Centro de Instrução de Blindados (CIBld), sinto-me honrado ao prefaciar esta obra, tão importante para o resgate de umaparcela da história dos carros de combate no Brasil, particularmente nestemomento em que comemoramos os 90 anos de sua introdução em nossopaís e os 15 anos de existência deste estabelecimento de ensino.

Quando se fala de blindados no Brasil, o Professor Expedito emergecomo autoridade, fruto de mais de 30 anos de estudos, ao longo dos quaisministrou inúmeras palestras em organizações militares, particularmenteneste Centro, onde foi agraciado, em 2002, com o Diploma de IntegranteHonorário do Corpo Docente. É um pesquisador incansável na busca doconhecimento e na divulgação das suas descobertas, como pode ser notado noprimeiro volume do livro Blindados no Brasil - Um longo e Árduo Aprendizado.

A viatura Renault FT-17 tem uma profunda ligação com o CIBld. Suaintrodução no Brasil serviu de base para a evolução dos blindados e foi a“mola propulsora” para a criação, alguns anos mais tarde, de um centro deinstrução específico, para ser um dos vetores de modernização e um fator deprofissionalização de oficiais e sargentos da tropa blindada do Exército Brasi-leiro e de nações amigas. Além disso, o modelo está em destaque no brevêdeste estabelecimento de ensino, ostentado com muito orgulho no peito dosconcluintes dos nossos cursos e estágios.

O INGRESSO DO BRASIL NA ERA DOS BLINDADOS

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RENAULT FT-17

Nas páginas a seguir, o leitor tomará conhecimento de importantesfatos históricos, esquecidos por uns, desconhecidos por muitos. Será possívelacompanhar o FT-17 desde a sua origem, passando pela chegada ao Rio deJaneiro, seu emprego, as diferentes versões, até chegar aos exemplares atual-mente preservados.

Esta viagem no tempo, conduzida pelo autor de uma forma muitoagradável, traz-nos interessantes observações sobre episódios que envolve-ram o então jovem Capitão José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, que foio responsável maior pelo ingresso do Brasil na era dos blindados, no papelde precursor do emprego dessa máquina de guerra em nosso continente.

Em um dos episódios, por exemplo, é narrado um incidente ocorridodurante uma inspeção para o recebimento dos veículos na França, realizadapelo General Leite de Castro, acompanhado do Major Eduardo Lima e doCapitão José Pessoa. Tal incidente possibilitou o envio de blindados recém-fabricados, em substituição às viaturas usadas pelos franceses em combate.

Em outro momento, o Professor Expedito transcreve uma das afir-mações do Capitão José Pessoa: “Ao deixar essa escola, após ver o valor dos carrosde assalto (nome primitivo dado aos carros de combate pelos franceses), a minha fé nofuturo desses engenhos e a convicção de sua eficiência crescente na guerra modernatornaram-se inabaláveis”.

A leitura das obras e artigos do autor, bem como a consulta ao portaleletrônico UFJF/Defesa, tem sido uma constante na vida dos instrutores emonitores do Centro de Instrução de Blindados. Certamente este novo livro,pelos motivos anteriormente mencionados, também será de grande valia.Em nossa biblioteca, ocupará um lugar de destaque e constará do programade leitura do nosso estabelecimento de ensino.

Por fim, acredito que registrar a trajetória do Renault FT-17 no ExércitoBrasileiro contribuirá em muito para a continuidade do processo de trans-formação do espírito do blindado. Conhecer o passado é fundamental para seinterpretar o presente e, assim, planejar o futuro, em face de novos desafios.

Santa Maria, 17 de agosto de 2011.

Coronel Giovany Carrião de FreitasComandante do CIBld “General Walter Pires”

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Homenagens prestadas ao pioneiro Renault FT-17pelo Centro de Instrução de Blindados (CIBld),

onde é preservado como o símbolo da instituição.

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Os carros de combate foram desenvolvidos durante a Primeira GuerraMundial (1914-1918). O primeiro modelo funcional foi criado na Inglaterrapelo Tenente-Coronel Ernest Dunlop Swinton, sendo utilizado em massa apartir de novembro de 1917. Além dos ingleses, alemães e franceses tambémse dedicaram à produção de blindados durante o conflito.

Na França, um projeto de grande sucesso foi levado adiante por LouisRenault em colaboração com o General Jean-Baptiste Eugène Estiene. Levee muito avançado para a época, o pequeno FT-17 era uma máquina extraor-dinária. Foi projetado, fabricado em série e colocado em serviço num prazorecorde. Os testes com os protótipos começaram em abril de 1917, apenascinco meses após os seus desenhos ficarem prontos.

Além das versões de combate, o chassis contemplava uma famíliaampla, formada pelo carro projetor, unidade de telegrafia sem fio, tracionadorde balão para observação, transportador de ponte, fumígeno e lança-chamas.

Seu batismo de fogo ocorreu em 31 de maio de 1918 e o primeiroemprego em massa foi realizado em 18 de julho, quando o General CharlesMangin lançou uma grande ofensiva em Villers-Cotterêts. No confronto,300 Renault FT-17 (apoiados por uma esquadrilha de 600 aviões) realizarama primeira de uma série de campanhas vitoriosas, as quais foram decisivaspara a rendição alemã em 11 de novembro.

ORIGEM

UM PROJETO REVOLUCIONÁRIO E VITORIOSO

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RENAULT FT-17

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LEÇÃ

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ACIMA, BLINDADOS RENAULTCOM AS FORÇAS FRANCESASDURANTE A PRIMEIRA GUERRA.

AO LADO, UMA COLUNA DEMODELOS FT-17 NA FESTA DAVITÓRIA, OCORRIDA EM PARIS.

ABAIXO, ESSA COMEMORAÇÃOFRANCESA FOI REALIZADAEM 14 DE JULHO DE 1919.

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Antecipando a importância que os carros de combate teriam no futuro,um comandante alemão chegou a afirmar na época que a derrota das suastropas na frente ocidental foi mérito do “General Tanque”.

O FT-17 foi um modelo revolucionário por uma série de razões:

- Possuía uma torre com giro de 360º e duas opções de armamento em sua versãooriginal: um canhão Puteaux de 37mm ou uma metralhadora Hotchkiss de 8mm;- Sua arquitetura de construção se tornou uma referência entre os blindados: motorna traseira, torre no centro e sistema de direção à frente;- Ao utilizar uma estrutura monobloco, ao invés de longarinas, antecipou não apenaso futuro dos veículos militares como o padrão dos automóveis civis;- Foi fabricado segundo as técnicas de produção em massa, com a mesma rapidez equalidade de um modelo de carro ou caminhão;- O projeto contemplou, desde o início, a criação de uma diversificada família demodelos sobre o mesmo chassis.

ORIGEM

ALGUNS DESENHOS DE SISTEMAS MECÂNICOS E ARMAMENTOS QUE INTEGRAM O PROJETO DO FT-17.

S.P. UFJF/D

EFESA

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RENAULT FT-17

O CANHÃO PUTEAUX (À ESQUERDA) ERA OPERADO MANUALMENTE DE DENTRO DO CARRO, APOIADONO OMBRO DO ATIRADOR. A MIRA ERA FEITA GIRANDO-O PARA ENQUADRAR O ALVO, A EXEMPLO DEUMA ARMA COMUM. A METRALHADORA HOTCHKISS (À DIREITA) ERA UTILIZADA DA MESMA FORMA.

S.P. UFJF/D

EFESA

RENAULT FT-17 EM CORTE

1 - Chefe do carro e operador dos armamentos

2 - Metralhadora ou canhão

3 - Condutor do veículo

4 - Escotilha de acesso do motorista

5 - Alavanca de direção

6 - Alavanca da caixa de marchas

7 - Pedal do freio

8 - Pedal do acelerador

9 - Escotilha de acesso do chefe do carro

10 - Manivela de partida do motor

11 - Transmissão

12 - Reservatório de combustível

13 - Ventilador

14 - Radiador

15 - Motor

16 - Reservatório de óleo

17 - Barra de sustentação para transposição

18 - Torre giratória

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