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    UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIA E TECNOLOGIA AMBIENTAL

    CURSO DE MESTRADO EM CINCIA E TECNOLOGIA AMBIENTAL

    AVALIAO DO IMPACTO AMBIENTAL DO FORMICIDA MACEX: UTILIZAO

    DE UMA BATERIA DE BIOTESTES AQUTICOS PARA ANLISE

    TOXICOLGICA

    Renan Chiprauski Testolin

    Itaja, SC, julho 2013

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    UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIA E TECNOLOGIA AMBIENTAL

    CURSO DE MESTRADO EM CINCIA E TECNOLOGIA AMBIENTAL

    AVALIAO DO IMPACTO AMBIENTAL DO FORMICIDA MACEX: UTILIZAO

    DE UMA BATERIA DE BIOTESTES AQUTICOS PARA AVALIAO

    TOXICOLGICA

    Renan Chiprauski Testolin

    Dissertao apresentada Universidade do Vale

    do Itaja, como parte dos requisitos paraobteno do grau de Mestre em Cincia eTecnologia Ambiental.

    Orientador: Claudemir Marcos Radetski, Dr.

    Itaja, SC, julho 2013

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    AGRADECIMENTOS

    Ao professor Dr. Claudemir Marcos Radetski, pela orientao, confiana, amizade e

    disponibilidade para o desenvolvimento deste trabalho.

    A minha famlia, em especial aos meus pais Sergio e Iris, meu irmo Alexandre e a

    minha companheira Tatiane, pelo apoio incondicional.

    A colega de curso e grande amiga, Albertina.

    Aos colegas do Laboratrio de Remediao Ambiental.

    A Universidade do Vale do ItajaUNIVALI.

    A todos aqueles, que direta ou inderatamente, contriburam para este trabalho.

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    RESUMO

    As formigas desempenham um papel fundamental na ecologia dos ecossistemas. No

    entanto, quando as formigas se tornam indesejveis causam prejuzos econmicos, sendo

    ento combatidas com aplicao de formicidas. Por outro lado, o aumento da conscinciaambiental e um maior rigor na legislao ambiental conclamam por uma diminuio da

    toxicidade dos agrotxicos para minimizar/eliminar os impactos ambientais causados por

    estes produtos. Uma alternativa para este problema a utilizao de formicidas naturais em

    substituio aos produtos mais txicos disponveis atualmente no mercado. Para a

    comercializao dos agroqumicos exige-se testes prvios para avaliar possveis impactos

    ambientais sobre os organismos terrestres e aquticos no-alvos. Assim, o objetivo deste

    estudo foi o de avaliar o impacto ambiental no ecossistema aqutico causado pelo formicida

    natural Macex. Testes ecotoxicolgicos com algas, peixes, bactrias e dfnias, bem como

    testes de fitogenotoxicidade com Vicia faba e de hidrlise do diacetato de fluorescena

    (atividade microbiolgica) foram usados na avaliao, sendo que os resultados permitiram

    estabelecer a concentrao mxima deste formicida que no causa toxicidade significativa

    nas espcies testadas. Os resultados dos testes de ecotoxicidade, com as concentraes

    testadas de 0,03 at 2,0 g L-1, apresentaram valores de CE50(ou CI50) variando de 0,49 (P.

    subcapitata)a > 2,0 g L-1 (D. rerio).J para o teste de fitogenotoxicidade com V. faba, as

    concentraes testadas foram de 0,06 a 2,0 g L-1, onde se observou a formao de

    microncleos somente na concentrao mais alta.

    Palavras-chaves:Formigas; Agrotxicos; Ecotoxicologia aqutica, Vicia faba.

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    ABSTRACT

    Ants play a key role in the ecology of the terrestrial ecosystems. However, when ants

    become undesirable, these organisms can cause economic losses and are then counteredby the application of insecticides. But increased environmental awareness and more

    stringent environmental legislation calls for a reduction in the toxicity of pesticides, in order to

    mitigate the environmental impacts caused by these products. An alternative to this problem

    is the use of natural insecticides that can replace the currently commercialized toxic

    pesticides. Prior to marketing, agrochemicals must undergo testing to assess possible

    environmental impacts on aquatic and terrestrial non-target organisms. Thus, the objective of

    this study was to assess the environmental impact on the aquatic ecosystem caused by the

    natural pesticide Macex. For this purpose, ecotoxicity tests with algae, fish, daphnids and

    bacteria, as well as tests with Vicia faba and fluorescein diacetate hydrolysis (microbial

    activity), were performed in this evaluation. The results enabled us to establish that the

    maximum concentration of this pesticide that does not cause significant toxicity to the tested

    species. The EC50 (or IC50) values ranged from 0.49 (Pseudokirchneriellasubcapitata) to >

    2.0 g L-1(Danio rerio). In the phytogenotoxicity test with Vicia faba, the tested concentrations

    ranged from 0.06 to 2.0 g L-1

    , but micronuclei formation was observed only at the highestconcentration.

    Keywords: Ants; Pesticides; Aquatic biotests, Vicia fabatest.

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    SUMRIO

    LISTA DE FIGURAS ................................................................................................... 8LISTA DE TABELAS .................................................................................................. 9SIGLAS E ABREVIAES ...................................................................................... 101 INTRODUO ................................................................................................... 112 OBJETIVOS ....................................................................................................... 14

    2.1 Objetivo Geral ........................................................................................................ 142.2 Objetivos especficos ............................................................................................. 14

    3 REVISO BIBLIOGRFICA .............................................................................. 153.1 Formigas................................................................................................................ 153.2 Aspectos Econmicos-Ambientais Relativos s Formigas ..................................... 173.3 Agrotxicos ............................................................................................................ 203.4 Testes ecotoxicolgicos ......................................................................................... 29

    4 MATERIAIS E MTODOS.................................................................................. 334.1 Preparao do Txico ............................................................................................ 334.2 Testes de Ecotoxicidade ........................................................................................ 33

    4.2.1 Teste Lumistox com a bactriaAliivibrio fischeri.................................................. 344.2.2. Teste de inibio do crescimento das algas Pseudokirchneriella subcapitata. 344.2.3 Teste de imobilidade com Daphnia magna.......................................................... 354.2.4. Teste com peixe Danio rerio........................................................................... 354.2.5. Determinao da atividade enzimtica pela hidrlise da FDA. ........................ 36

    4.3 Teste de Genotoxicidade ....................................................................................... 36

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    4.2.6 Teste de genotoxicidade com Vicia faba......................................................... 364.4. Anlise estatstica dos dados dos testes de ecotoxicidade .................................... 37

    5 RESULTADOS ................................................................................................... 385.1 Teste de estabilidade toxicolgica do macex ......................................................... 385.2 Teste de toxicidade comAliivibrio fischeri.............................................................. 395.3 Teste de toxicidade com Pseudokirchneriella subcapitata. .................................... 405.4 Testes de Ecotoxidade do Macex com Daphnia magna. ........................................ 425.5 Testes de Ecotoxidade do Macex com Danio rerio................................................ 435.6 Teste da Hidrlise Enzimtica do FDA ................................................................... 445.7 Teste de Genotoxicidade com Vicia faba............................................................... 45

    6 DISCUSSO ...................................................................................................... 487 CONCLUSO ..................................................................................................... 528

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .................................................................. 54

    9 ANEXOS............................................................................................................. 66

    9.1 Artigos ................................................................................................................... 66

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    LISTADEFIGURAS

    Figura 1 Ingredientes ativos mais comercializados no Brasil em 2009 em toneladas.

    FONTE: IBAMA, 2010. ......................................................................................................... 22

    Figura 2Locais potenciais de ao dos inseticidas sobre o axnico e o terminais pores

    do nervo. Fonte: ECOBICHON, 2001................................................................................... 24Figura 3 - Clculo da rea total de um formigueiro. FONTE: ZANETTI et al. 2005............... 27Figura 4 Fluxograma dos testes usados na avaliao ecotoxicolgica e genotxica do

    formicida Macex. .................................................................................................................. 33Figura 5 Valores de luminescncia para as bactrias Aliivibrio fischeri expostas

    diferentes concentraes do formicida Macex durante 30 minutos. ..................................... 39Figura 6 - Valores mdios da variao da fluorescncia da alga Pseudokirchneriella

    subcapitataexposta diferentes concentraes de Macex durante 72 h. ............................ 41Figura 7 - Valores mdios de Daphnia magna imobilizada aps 48 h de exposio a

    diferentes concentraes de Macex. .................................................................................... 42Figura 8 - Valores mdios da variao da absorbncia devido hidrlise do FDA por

    microorganismos presentes nas guas expostos diferentes concentraes de Macex

    durante 72 h......................................................................................................................... 44Figura 9 - Mdia ( DP) da frequncia de microncleos (Mcn/1000 clulas) e ndice mittico

    (IM, %) em razes de Vicia fabaexpostas 48h ao formicida Macex HM (hidrazida maleica):

    controle positivo. .................................................................................................................. 46

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    LISTADETABELAS

    Tabela 1reas de plantio florestal com Eucalyptus e Pinus nos Estados do Brasil. FONTE:

    ABRAF capturado em 2012 ................................................................................................. 19

    Tabela 2 - Formicidas, dosagens e pocas de aplicao de alguns formicidas

    comercializados no Brasil. FONTE: GALLO et al. 2002. ...................................................... 26Tabela 3 - Valores de CSEO, CCEO e CI50 para as algas P. subcapitata expostas

    diferentes concentraes do formicida Macex. Os valores so de 4 testes iniciados com 24 h

    de intervalo usando a mesma soluo estoque de Macex no preparo das diluies. ........... 38

    Tabela 4 - Valores de CSEO, CCEO e CI50 para as bactrias Aliivibrio fischeriexpostas diferentes concentraes do formicida Macex. .................................................................... 40Tabela 5 - Valores de CSEO, CCEO e CI50 para as algas P. subcapitata expostas

    diferentes concentraes do formicida Macex. .................................................................... 41Tabela 6 - Valores de CSEO, CCEO e CI50 para Daphnia magna expostas diferentes

    concentraes do formicida Macex. ..................................................................................... 43

    Tabela 7 - Valores mdio de letalidade de Danio rerio, aps 96 h de exposio diferentesconcentraes de Macex. .................................................................................................... 43Tabela 8 - Valores de CSEO, CCEO e CI50 para microorganismos aquticos expostos

    diferentes concentraes do formicida Macex. .................................................................... 45Tabela 9 - Ecotoxicidade do Macex obtidos atravs de quatro espcies de organismos- teste

    e outros dados de ecotoxicidade para formicidas comercializados a base de sulfluramida,

    fipronil e clorpirifos. .............................................................................................................. 49

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    SIGLASEABREVIAES

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    ABRAF Associao Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas

    CCEO Concentrao Com Efeitos Observveis

    CE50 Concentrao Efetiva (para 50% dos organismos expostos)

    CI50 Concentrao Inibidora (para 50% dos organismos expostos)

    CL50 Concentrao Letal (para 50% dos organismos expostos)COT Carbono Orgnico Total

    CSEO Concentrao Sem Efeitos Observveis

    DBO Demanda Bioqumica de Oxignio

    DQO Demanda Qumica de Oxignio

    FDA Diacetato de Fluorescena

    IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

    ISO International Organization for Standardization

    MCN Microncleos

    USEPA United States Environmental Protection Agency

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    1 INTRODUO

    As formigas so um dos grupos de organismos que apresentam grande diversidade

    de espcies na Terra e esto presentes em todos os ecossistemas terrestres, exceto emregies polares, algumas ilhas ocenicas e grandes altitudes (WARD, 2006). Com relao a

    diversidade, abundncia relativa e impactos ecolgicos, as formigas desempenham um

    papel importante em muitas comunidades, exibindo vrias funes como organismos

    detritvoros, predadores e herbvoros. Nos ecossistemas tropicais as formigas so um

    componente notvel, constituindo mais de 15% da biomassa animal total desses

    ecossistemas (BEATTIE & HUGHES, 2002).

    Com relao aos insetos que se apresentam em sociedade, as formigas so as que

    mais se adaptaram s cidades, sendo que no Brasil estima-se que das 2000 espcies de

    formigas existentes, aproximadamente 50 espcies so pragas urbanas causando prejuzos

    na jardinagem e nas plantaes urbanas (e.g., nos parques alimentando-se de sementes e

    desfolhando plantas) (CAMPOS-FARINHA et al., 2002). J na agricultura, os prejuzos

    econmicos podem ser tanto na produo como no armazenamento. Tambm causam

    problemas em locais onde se manipulam alimentos, instituies de pesquisa, biotrios,

    zoolgicos, museus, cabines de eletricidades e centrais telefnicas, pois so portadores de

    grmens que podem contaminar estes diferentes locais.

    Visando a proteo das culturas, o atual sistema de produo agrcola faz uso de

    produtos qumicos estranhos s condies naturais dos agroecossistemas. Esta utilizao

    de produtos qumicos visa controlar populaes de organismos em desequilbrio, plantas

    daninhas e doenas que proliferam de maneira desordenada em funo de ambientes

    favorveis ao desenvolvimento destes organismos que so popularmente denominados de

    pestes (MOREIRA et al., 1996)

    Dentre os produtos qumicos estranhos aos ecossistemas naturais esto os

    pesticidas que tambm recebem a denominao de produtos agrotxicos ou fitosanitrios,

    os quais so molculas sintetizadas para afetar determinadas reaes bioqumicas de

    insetos, microrganismos, animais e plantas que se quer controlar ou eliminar. Busca-se

    desenvolver agrotxicos com efeito especfico em um dado organismo a ser eliminado, e

    assim, evitar que o efeito se manifeste nos outros seres que compem os ecossistemas.

    Contudo, a introduo de agrotxicos no ambiente agrcola pode provocar perturbaes ou

    impactos ambientais, pois podem exercer uma presso de seleo nos organismos e a lterar

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    a dinmica do ecossistema natural, tendo como conseqncia, mudanas na estrutura e na

    funo do ecossistema (SPADOTTO et al., 2004). Por outro lado, Tiepo et al. (2010)

    definiram Pesticidas Verdes como biocidas naturais ou sintetizados produzidos de acordo

    com os princpios da qumica verde e que agem de forma especfica sobre um alvo preciso,com o mnimo de efeitos prejudiciais ou nocivos sobre os componentes no-alvos presentes

    no ecossistema onde o produto foi aplicado. O Pesticida Verde na verdade uma

    concepo ideal de um agrotxico.

    Enquanto as indstrias qumicas se esforam para desenvolver agrotxicos menos

    impactantes para o meio-ambiente, os governos exigem, alm dos estudos toxicolgicos

    visando a proteo da sade humana, estudos ecotoxicolgicos que mostram a previso de

    impacto ambiental destes produtos no ambiente antes de autorizar a comercializao dosmesmos. Nesse contexto, os testes ecotoxicolgicos tem se consolidado como ferramenta

    importante para a compreenso dos impactos potenciais provocados por agentes qumicos

    nas comunidades biolgicas. Em decorrncia da possibilidade de estender/extrapolar

    resultados da ecotoxicidade obtido com um organismo-teste para um grande nmero de

    organismos presentes no meio natural, esses biotestes tem sido empregados no

    gerenciamento, manejo e monitoramento do meio-ambiente. Assim, para o planejamento de

    polticas ambientais, criao de legislao especfica e controle das emisses de efluentes,

    procede-se avaliao de riscos ambientais e, para tanto, dados ecotoxicolgicos egenotoxicolgicos precisam ser gerados e usados nos setores de vigilncia ambiental e de

    sade publica (LOURENO, 2006).

    Existe no mercado um formicida de composio natural denominado Macex e que,

    teoricamente, no deveria causar impacto ambiental significativo. Pelo fato deste produto

    ser usado no ecossistema terrestre, os poucos dados ecotoxicolgicos existentes na

    literatura cientfica privilegiam este compartimento. Assim, Tiepo et al. (2010) sugeriram que

    o formicida Macex seja classificado como pesticida verde com base em testes de toxicidadecom organismos terrestres: vegetais (Brassica oleracea, Lactuca sativa , Mucuna aterrima),

    aneldeo (Eisenia fetida) e colmbolas (Folsomia cndida). A literatura no

    registra resultados de ecotoxicidade aqutica e nem de genotoxicidade do Macex e sabe-se

    que a maioria dos agrotxicos usados nos ecossistemas terrestres acabaro por atingir o

    ecossistema aqutico, entrando em contato com os microorganismos e com os

    macroorganismos que compem este ecossistema. essa falta de dados ecotoxicolgicos

    em organismos do meio aqutico que justifica a escolha deste pesticida como objeto de

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    estudo nesta dissertao. Um teste de fitogenotoxicidade de importncia fundamental,

    visto que as alteraes genticas so efeitos parte, no sendo observados nos testes

    ecotoxicolgicos clssicos. A gerao de dados preliminares servir de base para futuras

    avaliaes de risco ecolgico que busquem um gerenciamento otimizado deste produtousado no controle das formigas que causam danos s culturas vegetais. Assim, o presente

    trabalho est vinculado ao laboratrio de Remediao Ambiental UNIVALI, onde o mesmo

    realiza estudos cientficos nos diagnsticos ambientais e nas avaliao dos efeitos

    ecotoxicolgicos e genotoxicolgicos dos compostos qumicos liberados no meio ambiente.

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    2 OBJETIVOS

    2.1 OBJETIVO GERAL

    Utilizar uma bateria de biotestes aquticos para avaliao preliminar da ecotoxicidade

    e genotoxicidade potencial do formicida Macex.

    2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS

    Determinar as concentraes letais, efetivas ou inibidoras (ao nvel de 50%)

    do formicida natural Macex para as espcies Danio rerio,Daphnia magna,

    Scenedesmus subspicatus eAliivibrio fischeri;

    Determinar se o formicida natural Macex genotxico ou no com o uso da

    espcie Vicia faba;

    Determinar a concentrao efetiva (ao nvel de 50%) do formicida Macex nos

    microorganismos presentes nas guas naturais;

    Estabelecer as ConcentraesSem Efeito Observado (CSEO) para todas as

    espcies testadas a fim de basear futuros estudos de anlise de risco

    ecolgico, permitindo o estabelecimento de valores-limites legais para este

    produto no meio-ambiente;

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    3 REVISO BIBLIOGRFICA

    3.1 FORMIGAS

    As formigas so um dos grupos de maior sucesso na histria dos metazorios

    terrestres. Em mdia, as formigas apresentam de 15% a 20% da biomassa terrestre animal,

    e em regies tropicais onde as formigas so especialmente abundantes, podem chegar a

    25% ou mais. A famlia Formicidae soma mais de 9.500 espcies descritas e com nmero

    estimado de 3.000 a 9.000 espcies desconhecidas para a cincia (SCHULTZ, 2000).

    Constituem importantes componentes dos ecossistemas, no s por apresentarem uma

    grande biomassa animal, mas tambm porque as formigas agem como engenheiros dos

    ecossistemas (HOLLDOBLER & WILSON, 1986). Essa alta biodiversidade torna esses

    organismos altamentes sensveis aos impactos ambientais, podendo reduzir essa

    biodiversidade (FOLGARAIT, 1998)

    As formigas cortadeiras, pertencentes tribo Attini, famlia Formicidae e subfamlia

    Myrmicinae, representando um grupo especial de formigas associadas vegetao. Neste

    grupo encontram-se os gnerosAttae Acromyrmex. Embora existam outros gneros, estes

    assumem pouca importncia no forrageamento de plantas cultivadas (GIESEL, 2007). A

    tribo Attini (Hymenoptera: Formicidae) compreende 14 gneros com aproximadamente 230

    espcies de formigas descritas, que se especializaram em uma dieta essencialmente

    fungvora (SCHULTZ & BRADY, 2008).

    Um formigueiro tpico formado internamente por dezenas ou centenas de cmaras

    (panelas) subterrneas ligadas entre si e com a superfcie por meio de galerias (canais).

    Nas diversas panelas, as formigas cultivam o jardim de fungo, criam suas larvas e

    depositam lixo. Externamente, o formigueiro apresenta um monte de terra solta, formado

    pelo acmulo de terra extrada das cmaras, alm de pequenos montculos e numerosos

    orifcios, denominados olheiros, os quais servem para ventilao, limpeza ou entrada dematerial vegetal coletado (HOLLDOBLER & WILSON, 1986). Dos olheiros de trabalho saem

    trilhas ou carreiros, que so os caminhos externos percorridos pelas formigas operrias

    procura de material vegetal. As trilhas geralmente so superficiais e limpas (facilmente

    notadas) e muitas vezes bastante longas; terminam em olheiros que nem sempre indicam a

    localizao das panelas do formigueiro (DELLA LUCIA & MOREIRA, 1993; ANJOS et al.,

    1998).

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    A populao do formigueiro constituda por indivduos morfologicamente distintos,

    de acordo com suas funes na colnia. Estas formigas possuem castas permanentes e

    temporrias. As castas permanentes emAtta so compostas por uma fmea ptera (rainha)

    fundadora do sauveiro (casta reprodutiva) e por operrias (fmeas estreis) querepresentam a maior parte da populao e executam as mais variadas tarefas necessrias

    ao funcionamento do formigueiro. Nas castas temporrias, esto os machos (bitus) e

    fmeas aladas (ias ou tanajuras), que aparecem nos formigueiros adultos anualmente,

    garantindo a reproduo das espcies (DELLA LUCIA et al., 1993a; GALLO et al., 2002). As

    operrias do gnero Atta so facilmente identificadas pela presena de trs pares de

    espinhos no dorso do trax (ANJOS et al., 1998; GALLO et al., 2002).

    Devido aos vrios efeitos que podem causar na cadeia trfica, as consequncias

    ecolgicas da ao das formigas sobre um ecossistema pode ser muito variado. No caso

    das espcies herbvoras, isto , cortadeiras que cultivam um fungo simbionte, conhecido

    que sua atividade cortadora nem sempre negativa sobre a flora. Como estas espcies

    cortam geralmente partes especficas de plantas, podem regular o crescimento diferencial

    em uma mesma planta ou entre diferentes espcies de plantas, acelerando o crescimento

    de flores, por exemplo, ou de espcies vegetais especficas. Por sua vez, estas formigas

    acumulam grande quantidade de nutrientes em um s lugar, permitindo o crescimento de

    certos vegetais que no podem sobreviver em solo pobre dos arredores, exercendo destaforma, o papel de recicladores de nutrientes (BRASIL, 2012).

    Outro efeito importante das formigas sobre um ecossistema a predao sobre

    outros insetos e artrpodos (HOLLDOBLER & WILSON, 1986). Algumas espcies so muito

    eficientes como predadoras. o caso das formigas-de-correo que arrasam com toda a

    fauna de uma zona, obrigando a colnia a migrar continuamente em busca de novos

    ambientes. A presso depredadora destas e de outras formigas to importante que muitos

    organismos tm desenvolvido, durante sua evoluo, mecanismos de defesa especficos

    contra formigas. o caso de muitas vespas, cupins, mariposas e plantas (BRASIL, 2012).

    Algumas espcies de formigas encontram-se associadas s atividades antrpicas

    causando incmodo, infestando aparelhos eletrnicos e podendo ainda causar srios

    problemas na sade pblica quando a infestao se d em hospitais (CAMPOS-FARINHA et

    al, 2002)

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    Segundo Boaretto & Forti (1997), para o controle de formigas cortadeiras de folhas

    pode-se usar mtodos mecnicos, culturais, biolgicos e qumicos. O controle mecnico (ou

    manual) praticamente no utilizado, em virtude de ser de viabilidade restrita a pequenas

    reas e ninhos com at 4 meses de idade. Mtodos qumicos para controle de formigascortadeiras so os mais frequentemente utilizados, sendo o produto qumico aplicado

    diretamente nos ninhos, nas formulaes em p, lquido ou lquidos nebulizveis, ou

    apresentado na forma de iscas granuladas que so aplicadas nas proximidades das

    colnias. J o controle biolgico certamente uma rea promissora de pesquisa, mas

    atualmente est clara a necessidade de conhecimentos biolgicos bsicos para que

    estratgias de controle para formigas cortadeiras possam ser de fato aplicadas. O preparo

    do solo como arao e gradagem podem ser importantes na eliminao de sauveiros iniciais

    e quenquenzeiros.

    Entre os fatores comportamentais que podem influenciar no controle das formigas

    cortadeiras destacam-se: a comunicao qumica, a sensibilidade olfativa, a capacidade de

    aprendizagem, a seletividade e a produo de substncias antibiticas. A comunicao

    qumica (via odores) muito importante na defesa e na agressividade, na seleo de

    plantas, nas atividades sociais, corte e acasalamento e em outros tipos de comportamento.

    Essa comunicao qumica essencial no sucesso das colnias de cortadeiras (MARINHO

    et al., 2006), sendo que estas causam impactos econmicos significativos, o que abordadona seo seguinte.

    3.2 ASPECTOS ECONMICOS-AMBIENTAIS RELATIVOSS FORMIGAS

    No Brasil existem muitas reas reflorestadas que apresentam problemas com as

    formigas. Por exemplo, as formigas cortadeiras esto entre as pragas mais importantes em

    fazendas brasileiras, porque seus ataques vorazes ocorrem durante o ano todo, seespalhando pelo pas. O dano imenso, trazendo prejuzos s culturas pequenas e

    grandes, culturas de frutas e legumes e pastos, sendo assim consideradas tambm como a

    praga "nmero 1entre as empresas de reflorestamento (BRASIL, 2012), o que se tem se

    verificado tambm com outras espcies de formigas em outros pases (GUTRICH et al.,

    2007).

    Entre os problemas silviculturais dessas florestas implantadas, sobressaem as

    formigas cortadeiras dos gneros Atta (savas) e Acromyrmex (quenquns), que

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    alcanaram o nvel de praga pela magnitude dos prejuzos que causam aos plantios de

    pastagens ou florestais (MACARONI et al., 1963; NICKELE et al., 2009). Os danos das

    formigas cortadeiras so mais expressivos nas plantas exticas do que nas nativas, isso se

    deve provavelmente devido baixa co-evoluo existente entre esses grupos (DELLALUCIA & VILELA, 1993).

    Assim, as pastagens tm seu desenvolvimento prejudicado, pois o ataque de

    formigas leva morte das plntulas e m formao do pasto. Alm do mais, as formigas

    competem diretamente com o gado pelo recurso forrageiro da rea. Estudos demonstram

    que 10 sauveiros adultos ocupam uma rea de 715 m e consomem em mdia 21 kg de

    capim por dia, o equivalente a um boi em regime de pasto (GALLO et al., 2002).

    No Brasil, as espcies vegetais mais usadas nos reflorestamentos so o Pinus e o

    Eucalyptus, sendo que as formigas cortadeiras destacam-se como as principais pragas,

    principalmente nas fases de pr-corte (reas de reforma ou conduo da floresta) e aps o

    plantio ou no incio da conduo de brotao.

    Segundo a Associao Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas (ABRAF,

    2013), a rea ocupada de plantios em 2011 de Eucalyptus e Pinus no Brasil totalizou

    6.515.844 h sendo 74,8% correspondente rea de plantios de Eucalyptuse 25,2% aos

    plantios de Pinus. A Tabela 1 apresenta os valores das reas de plantio das respectivas

    espcies acima citadas nos diferentes estados do Brasil. Percebe-se na Tabela 1 que os

    estados do Paran e Santa Catarina se destacam em reas reflorestadas por Pinus por

    causa do clima predominante, pois a espcie rende mais em climas temperados, suportando

    melhor temperaturas mais baaixas.

    As formigas cortadeiras causam danos significativos em plantios homogneos, os

    quais favorecem o desenvolvimento dessas pragas pela falta de predadores naturais nas

    reas de plantio. Assim, essas formigas so consideradas como fatores limitantes ao

    desenvolvimento da cultura, causando tanto perdas diretas, como a morte e a reduo do

    crescimento de mudas e rvores; quanto indiretas, como a diminuio da resistncia das

    rvores a outras pragas (ANJOS et al., 1993).

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    Tabela 1reas de plantio florestal com Eucalyptus e Pinus nos Estados do Brasil. FONTE:ABRAF capturado em 2012

    Florestas Plantadas no Brasil (Km2)

    UF Eucalyptus Pinus Total %MG 1.401.787 75.408 1.477.195 22,70%

    SP 1.031.677 156.726 1.188.403 18,20%

    PR 188.153 658.707 846.860 13,00%

    BA 607.440 21.520 628.960 9,70%

    SC 104.686 538.254 642.941 9,90%

    RS 280.198 164.806 445.004 6,80%

    MS 475.528 11.871 487.399 7,50%

    ES 197.512 2.546 200.058 3,10%

    PA 151.378 - 151.378 2,30%

    MA 165.717 - 165.717 2,50%

    GO 59.624 10.760 70.384 1,10%

    AP 50.099 445 50.543 0,80%

    MT 58.843 - 58.843 0,90%

    TO 65.502 850 66.352 1,00%

    PI 26.493 - 26.493 0,40%

    RJ 8.844 - 8.844 0,10%

    OUTROS 470 - 470 0,00%TOTAL 4.873.951 1.641.893 6.515.844 100,00%

    Segundo Zanetti et al. (2002), o ataque realizado pelas formigas cortadeiras de

    maneira intensa e constante, podendo ocorrer danos em qualquer fase do desenvolvimento

    da planta, ocasionados por cortes de folhas, brotos, ramos finos e flores, os quais so

    carregados para o interior de ninhos subterrneos, dificultando o seu controle.

    Zanetti et al. (2002; 2004) descrevem dados quantitativos sobre o impacto das aesdas formigas sobre plantas. Assim, estudos com Eucalyptus salignademonstraram que as

    rvores desfolhadas 100 % deixaram de produzir cerca de 40% da madeira no ano

    seguinte desfolha e que as rvores com 50% de desfolha reduziram a produo da

    madeira em 13,2% no ano seguinte, comparativamente s rvores no desfolhadas. J para

    o caso da espcie Pinus caribaea atacada pelas formigas, o crescimento em altura das

    rvores diminuiu em 12%, enquanto o dimetro diminuiu de 17,4% e a mortalidade mdia

    aumentou em 11,7%. Quando rvores de Eucalyptus grandis de 6 meses de idade so

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    desfolhadas, elas tem 99,3% de probabilidade de morrerem, enquanto diminuem seus

    crescimentos de altura e dimetro em 31,7% e 25,1%, respectivamente, provocando uma

    reduo de 61,6% na produo da madeira, comparativamente s rvores no desfolhadas.

    As rvores com idade de 1 a 3 anos so as mais susceptveis aos ataques das formigas,sendo que um desfolhamento total retarda significativamente o crescimento das mesmas,

    mas dois ou trs desfolhamentos consecutivos geralmente levam as plantas morte. Ainda

    segundo Zanetti et al. (2002), estudos demonstraram que a perda de rendimento em volume

    de madeira na espcie Pinus spp provocada por 5 formigueiros de Atta sexdensficou em

    14% e que quando a densidade de formigueiros da espcie Atta laevigata for maior que

    30/ha em plantios de Pinus caribaeacom menos de 10 anos de idade, h uma reduo de

    mais de 50% na produo de madeira/ha. De uma maneira geral, h uma perda anual de

    0,87% na produo do volume de madeira de Eucalyptuspara cada 2,76 m2de sauveiro/ha

    (ZANETTI et al., 2004).

    Para evitar todas estas perdas produtivas, as empresas de reflorestamento tem

    empregado o controle qumico de formigas cortadeiras de forma sistemtica, atravs de

    iscas, termonebulizao e fumigantes, sendo o aspecto econmico das operaes de

    grande importncia, em virtude dos altos custos envolvidos (FORTI & BOARETTO, 1997).

    Nesse sentido, 75% dos custos e do tempo gasto no controle de pragas florestais dizem

    respeito ao combate das formigas cortadeiras (ZANETTI et al., 2002)

    Algumas consideraes sobre o uso de agrotxicos so abordadas nas seo

    seguinte.

    3.3 AGROTXICOS

    Os agrotxicos e afins so definidos como os produtos originrios de processosfsicos, qumicos ou biolgicos que so destinados ao uso nos setores de produo, no

    armazenamento e beneficiamento de produtos agrcolas, nas pastagens, na proteo de

    florestas (nativas ou implantadas) e de outros ecossistemas, e tambm de ambientes

    urbanos (jardins e indstriais), cuja finalidade seja alterar a composio da flora ou da fauna,

    a fim de preserv-las da ao danosa de seres vivos considerados nocivos, podendo ser

    ainda substncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores

    e inibidores de crescimento (BRASIL, 2002).

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    Segundo Pope (2005), agrotxicos so substncias ou mistura de substncias

    destinadas a prevenir, destruir, repelir ou mitigar qualquer praga (roedores, insetos,

    nematides, fungos, plantas daninhas, de outras formas de planta terrestre ou aqutico ou

    vida animal ou vrus, bactrias ou outros microorganismos, exceto os vrus, bactrias, ououtros microrganismos sobre ou dentro do homem. Pode ser tambm qualquer substncia

    ou mistura de substncias destinadas utilizao de um regulador de crescimento de

    planta, desfolhantes, dessecantes. No termo agrotxico esto includos os termos

    herbicidas, inseticidas, nematicidas, fungicidas e fumigantes do solo, sendo que estas

    substncias representam um grupo diversificado de produtos qumicos inorgnicos e

    orgnicos (IMFELD & VUILLEUMIER, 2012).

    De uma forma resumida, os agrotxicos tm como objetivo o controle dos seres vivosconsiderados indesejveis para a conservao de outros seres vivos, produtos ou do meio

    ambiente. Os agrotxicos possuem em sua composio substncias qumicas txicas,

    denominadas ingredientes ativos, que interferem na atividade biolgica normal dos seres

    vivos alvos de controle. O ingrediente ativo o agente qumico, fsico ou biolgico que

    confere eficcia aos agrotxicos e afins (BRASIL, 1989).

    A Figura 1 apresenta os ingredientes ativos para os quais h maior comercializao

    de agrotxicos no Brasil. No entanto, no levantamento desses dados foi utilizado apenas

    valores declarados em marcas comerciais de produtos formulados.

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    Figura 1Ingredientes ativos mais comercializados no Brasil em 2009 em toneladas. FONTE:IBAMA, 2010.

    Quando aplicados diretamente no solo, os agrotxicos podem ser degradados por

    vias qumicas, por fotlise ou por ao de microorganismos. Contudo as molculas com alta

    persistncia, ou seja, baixas taxas de degradao podem permanecer no ambiente sem

    sofrer qualquer alterao por um longo perodo (AMARANTE JUNIOR et al., 2006). Essas

    molculas podem ser adsorvidas pelas partculas do solo, dessorvidas a partir dessas

    mesmas partculas, sofrer lixiviao e atingir os lenis subterrneos ou sofrer carreamento

    e atingir guas superficiais (VIJVER et al., 2008). J nos ambientes aquticos, os

    agrotxicos podem sofrer adsoro ou dessoro das partculas de sedimentos, ser

    degradados por vias qumicas, biolgicas ou fotlise, bem como ser volatilizados. No ar, as

    molculas na forma de gs ou de vapor podem ser transportadas por muitos quilmetros,

    atingindo reas a grandes distncias da regio de aplicao (AMARANTE JUNIOR et al.,

    2006).

    Para o presente trabalho, o interesse sobre agrotxicos recai mais especificamente

    sobre os inseticidas, os quais so produtos base de substncias qumicas ou agentes

    biolgicos, de ao direta ou indireta, que provocam a morte dos insetos. Quimicamente,

    podem ser classificados de diferentes modos, sendo que uma delas a diviso dos

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    inseticidas em trs grandes grupos: os organoclorados; os inibidores da colinesterase

    (fosforados orgnicos e carbamatos) e os piretrides naturais e sintticos (IBAMA, 2010).

    Segundo Costa (2008), os inseticidas desempenham um papel mais relevante no

    controle dos insetos (como pragas), particularmente nos pases em desenvolvimento. Todos

    os inseticidas qumicos em uso hoje so neurotxicos e agem por interferncia no sistema

    nervoso dos organismos-alvo. O sistema nervoso central dos insetos altamente

    desenvolvido e no to diferentes dos mamferos, bem como o sistema nervoso perifrico

    que tambm apresenta semelhanas com os organismos superiores (ECOBICHON, 2001).

    Desta maneira os inseticidas no so seletivos em relao a espcie alvo no que diz

    respeito a toxicidade e os mamferos, incluindo os humanos, so altamente sensveis a sua

    toxicidade. Quando essa seletividade existe, esta muita vezes, devido as diferenas na viade desintoxicao existentes entre insetos e humanos (COSTA 2008).

    Muitos inseticidas afetam o sistema nervoso em diferentes locais. O desenvolvimento

    desses compostos tem sido baseado em relaes especficas estrutura/atividade

    requerendo a manipulao de uma estrutura qumica bsica com intuito de se obter uma

    forma ideal que afeta uma reao bioqumica especfica em um organismo alvo. Esses

    locais ou reaes especficos e/ou mecanismo de ao pode ser semelhantes em todas as

    espcies, no entanto, a dosagem (nvel de exposio e durao) ir ditar a intensidade dos

    efeitos biolgicos. Os locais potencias de ao dos inseticidas e suas interferncias no

    transporte de ons de sdio, potssio, clcio e cloretos nas membranas celulares podem ser

    visto na Figura 2 onde ocorre a inibio das atividades enzimticas especificas ou a

    contribuio para a liberao e/ou a persistncia dos transmissores qumicos nas

    terminaes nervosas (ECOBICHON, 2001).

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    Figura 2Locais potenciais de ao dos inseticidas sobre o axnico e o terminais pores donervo. Fonte: ECOBICHON, 2001.

    Entre a diversidade de produtos em que os invertebrados podem ser expostos, os

    inseticidas so o grupo com os maiores efeitos, seguido dos fungicidas. Isto em parte

    devido presena de receptores especficos bioqumicos (e.g., colinesterases, canais de

    ons) que so os alvos da ao inseticida e que so encontradas em todas as espcies de

    insetos (STRAALEN, 2004).

    Os efeitos dos inseticidas (ou de qualquer agrotxico) sobre a microflora do solo so

    de suma importncia, devido ao fato de que muitas funes microbianas so fundamentais

    para a produo agrcola, sustentabilidade do solo e da qualidade ambiental (TOPP, 2003).

    O mecanismo de ao dos inseticidas em organismos microbianos pode ser diferente do

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    que os apresentados para os organismos alvos (i.e., insetos). Em microorganismos, os

    inseticidas tem apresentado interferncia na respirao, na fotossntese, em reaes de

    biossntese, bem como no crescimento, diviso e composio molecular (DELORENZO et

    al., 2001).

    A literatura registra dados sobre a eficcia dos formicidas atualmente mais

    comercializados no Brasil, os quais so: sulfluramida, fipronil e clorpirifs. A sulfluramida (N-

    etilperfluoroctano sulfonamida) o ingrediente ativo da isca granulada de Mirex-S Max,

    Dinagro-S, AttaMax e Pikapau sendo esses os produtos mais comercializadas no Brasil.

    Para esses produtos de isca granulado (0,6% de ingrediente ativo), Cameron(1990) relatou

    que 1,8 g.m-2de formigueiro foi suficiente para controlar a formiga A. texana. O metablito

    perfluoroctano sulfonamida (DESFA), atua no organismo no processo de fosforilaooxidativa, em nvel mitocondrial, interrompendo a produo de ATP (SCHNELLMAN &

    MANNING, 1990).

    O clorpirifos (O, O-dietilo O-3 ,5,6-tricloro-2-piridil fosforotioato) como formicida em

    isca comercializado no Brasil como Fersol 480 EC e Landrin-F, entre outros. Oliveira &

    Zanuncio (1997) testaram este produto a base de clorpirifos para o controle da formigaAtta

    laevigata, mas as iscas so eficazes apenas quando a aplicao realizada

    simultaneamente com um processo de fumigao (FORTI et al, 2003; TOMLIN, 2000). O

    Clorpirifs age por contato e ingesto. Como todo inseticida organofosforado, o clorpirifs

    liga-se ao centro estersico da acetilcolinesterase (AChE), impossibilitando-a de exercer sua

    funo, ou seja, hidrlise do neurotransmissor acetilcolina (ACh), em colina e cido actico.

    Nos insetos, interfere com a transmisso dos impulsos nervosos, levando-os paralisia e

    morte (TOMLIN, 2000).

    O fipronil, comercializado como Blitz, Frontline, Regent 800 WG e outros, apresenta

    ao txica retardada na colnia de formigas, sendo eficaz em testes de laboratrio a uma

    concentrao de 5 ppm (FORTI & BOARETTO, 1997). O fipronil pertence famlia dos

    fenilpirazis. Seu mecanismo de ao baseia-se no bloqueio pr e ps-sinptico da

    passagem dos ons cloro pelos neurotransmissores (cido gama amino butrico GABA),

    matando os organismos por hiper-excitao (TOMLIN, 2000).

    A Tabela 2 nos mostra as dosagens de alguns inseticidas comumentemente usados

    no combate de formigas cortadeiras.

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    Tabela 2 - Formicidas, dosagens e pocas de aplicao de alguns formicidas comercializados noBrasil. FONTE: GALLO et al. 2002.

    Formicida Dosagem/m2Compasso (rea mdia

    de uma aplicao)

    poca

    aconselhvel

    Lquido

    fenitrotion(Sumithion 50 E)

    5 ml + 0,5 L gua 2 m2 Chuvosa

    clorpirifs (Lorsban480)

    5 ml + 0,5 L gua 2 m2 Chuvosa

    P

    fipronil (Reagente

    800 WG)

    0,25 g + 0,5 L

    gua

    50 ml/olheiro (aplicar em

    2 olheiros) -

    permetrina (K-Othrine 2%)

    30 g 3 m2 Seca

    Iscas

    fipronil (Blitz) 10 g - Seca

    sulfuramida (Mirex-s) 10 g - Seca

    A rea do formigueiro que determina a dosagem da maioria dos formicidas. Dentreas formas de calcular essa rea, destaca-se a seguir o mtodo da rea total de terra solta.

    Por meio desse mtodo, a rea obtida atravs da multiplicao do maior comprimento pela

    maior largura da rea ocupada pelos montculos de terra solta (ZANETTI et al., 2005). Para

    economizar na quantidade de formicida usado, pode-se calcular rea individual de cada

    ninho. As dimenses podem ser medidas com o auxlio de uma trena, ou com passadas

    largas de aproximadamente 1 metro.

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    rea Total = comprimento AB x comprimento CD () = olheiro de abastecimento.

    Figura 3 - Clculo da rea total de um formigueiro. FONTE: ZANETTI et al. 2005.

    Forti et al. (2003) compararam a eficincia formicida de iscas formulados com

    sulfluramida 0.3% (Mirex-S Max e Dinagro-S), fipronil 0.003% (Blitz) e clorpirifos

    0.125% (Pikapau) no controle da formiga Atta capiguara, cortadora de gramneas. Foram

    avaliados a frequncia de transporte das iscas, a devoluo das iscas, a frequncia de corte

    e cargas, a quantidade de formigas e a quantidade de solo solto nos ninhos. Estes

    parmetros foram avaliados durante 232 dias aps o tratamento e os autores concluram

    que as iscas dos produtos Blitz e Pikapau no foram adequados para o controle de Attacapiguara, enquanto que Mirex-S Max (8 g m-2) e Dinagro-S (10 g m-2) apresentaram alta

    eficincia no controle das formigas.Atualmente, o controle de formigas cortadeiras em reas reflorestadas tem sido feito

    quase que exclusivamente com a aplicao de inseticidas convencionais, que podem

    provocar impactos negativos ao ambiente e ao homem. Alternativamente ao uso de

    inseticidas sintticos, surgem outros produtos e mtodos de controle, como o uso de

    produtos naturais, os quais tm sido utilizados para controlar pragas animais, doenas de

    plantas e ervas daninhas, desde os tempos antigos. As plantas tm sido as mais

    importantes fontes de pesticidas naturais durante sculos e preparaes padronizadas para

    o ingrediente(s) ativo(s) atravs de mtodos analticos modernos tornou-se disponvel nas

    ltimas dcadas, tornando possvel a fabricao de produtos confiveis(UJVRY, 2010).

    Um produto considerado alternativo por sua composio natural o formicida Macex,

    fabricado pela Macex do Brasil, localizada na cidade de Caador, SC. A empresa afirma em

    seu site (www.macex.com.br) que este formicida eficaz contra as formigas cortadeiras dos

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    gnerosAtta eAcromyrmex, os quais so os gneros que causam maior impacto nas

    plantaes brasileiras. A composio qumica do Macex a seguinte: cafena (0,04%),

    cidos graxos (palmtico -1.5%, oleico -1.9%, linoleico6.2% e esterico -0.4%), sendo que

    polpas de ma e de ctricos agem como agentes atraentes.

    Uma reviso da literatura no mostrou dados toxicolgicos para os cidos graxos

    concluindo-se que deve ser a cafena o ingrediente ativo deste formicida. A cafena um

    alcalide da famlia metilxantina, agindo como um produto qumico de defesa em certas

    plantas e mostrando propriedades repelentes ou txicas (ARAQUE et al., 2007). As

    metilxantinas, incluindo a cafena e a teofelina, so naturalmente produzidas em frutos,

    sementes e folhas de certas espcies de chs, caf, cacau e cola. Entretanto, as

    metilxantinas naturais e sintticas inibem a alimentao dos insetos e tambm sopesticidas, nas concentraes encontradas nas plantas. Esses efeitos so ocasionados

    principalmente pela inibio da atividade de fosfodiesterase e um aumento no ciclo

    intracelular do monofosfato de adenosina. J em concentraes mais baixas, as

    metilxantinas so sinrgicos potentes de outros pesticidas por ativar a adenilato ciclase, a

    qual cataliza a converso de ATP AMPc em insetos (NATHANSON, 1984).

    Enquanto a cafena pode ser considerado um inseticida (ARAQUE et al., 2007), seria

    interessante avaliar se o produto Macex apresenta um impacto ecotoxicolgico quando em

    contato com diferentes organismos que compem os ecossistemas. O conhecimento pelo

    diagnstico ecotoxicolgico dos problemas causados pelo uso de agrotxicos de suma

    importncia para uma viso prospectiva na avaliao do impacto ambiental das atividades

    relacionadas agricultura, incluindo o uso de inseticidas. Essa informao pode subsidiar o

    desenvolvimento de alternativas que conduzem sustentabilidade dos agroecossistemas

    (MOREIRA et al., 1996).Assim, com respeito s caractersticas do Macex, no se tem dados

    ecotoxicolgicos deste formicida no ecossistema aqutico, mas Tiepo et al. (2010)

    publicaram um artigo abordando a ecotoxicidade deste produto sobre organismos terrestresincluindo plantas (Brassica olaracea, Lactuca sativa eMucuna aterrima), aneldeos (Eisenia

    foetida), colmbolas (Folsomia candida) e microorganismos (hidrlise do diacetato de

    fluorescenaFDA). O estudo mostrou que a maior concentrao testada (i.e., 50 g kg-1de

    solo seco) no apresentou toxicidade para os organismos testados. Esta ausncia de

    toxicidade para estes diverssos organismos fez com que os autores sugerissem que o

    formicida Macex fosse considerado um formicida ambientalmente correto, isto , com baixo

    impacto sobre os organismos no-alvos (TIEPO et al., 2010).

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    3.4 TESTES ECOTOXICOLGICOS

    Segundo Loureno (2006), os testes ecotoxicolgicos constituem o elemento

    fundamental da Ecotoxicologia, os quais permitem avaliar o efeito da relao entre dose,

    tempo de resposta e efeitos dos organismos em teste, possibilitando estimar o potencial

    txico do agente qumico testado. O mesmo autor ainda cita que o potencial txico de uma

    substncia calculado por meio de vrios parmetros que caracterizam sua ao, no em

    um individuo isolado, mas em uma populao. Os organismos vivos podem exibir diferentes

    reaes a uma mesma substncia txica, dependendo do metabolismo prprio da espcie,

    das quantidades absorvidas e do tempo de exposio. Desta forma, os parmetros de

    avaliao de toxicidade podem compreender desde alteraes fisiolgicas, bioqumicas e

    histolgicas e at a letalidade. Os testes de toxicidade so divididos basicamente em doistipos, o agudo e o crnico, podendo ainda estes serem estticos (sem renovao do meio) e

    dinmicos (com renovao do meio).

    A ecotoxicidade, assim como a toxicidade humana, seja crnica ou aguda, muito

    varivel entre os agrotxicos. Produtos muitos txicos para um organismo podem no ser

    para outros e vice-versa. Entretanto, organismos muitos sensveis a um dado agrotxico

    podem no ser expostos a ele em concentraes ou doses superiores aos nveis txicos

    sendo que a exposio funo da biodisponibilidade do agrotxico ao organismo-teste

    (SPADOTTO, 2006).

    A mensurao da sensibilidade (resposta) de um organismo frente qualidade do

    seu ambiente em funo do tempo pode ser denominada de biomonitoramento, o qual pode

    ser a nvel bioqumico, fisiolgico, morfolgico e comportamental (KNIE & LOPES, 2004).

    Toda essa sensibilidade depende no somente do fator a ser monitorado, mas tambm do

    nvel nutricional, idade do organismo, sexo, fase de desenvolvimento, caractersticas

    genticas, competio entre indivduos ou espcies, alm de fatores laboratoriais/ambientais

    como luminosidade e temperatura do local onde o organismo exposto (MAGALHES &

    FERRO FILHO, 2008).

    A escolha dos organismo-testes geralmente segue alguns critrios, tais como:

    abundncia e disponibilidade; representao ecolgica; cosmopolitismo da espcie;

    conhecimento da sua biologia, fisiologia e hbitos alimentares; estabilidade gentica e

    uniformidade de suas populaes; baixo ndice de sazonalidade; sensibilidade constante e

    apurada; importncia comercial; facilidade de cultivo em laboratrio e, se possvel, a espcie

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    deve ser nativa para a melhor representatividade dos ecossistemas estudados (KNIE &

    LOPES, 2004).

    Varias espcies de organismos vem sendo empregadas internacionalmente em

    testes de toxicidade, gerando subsdios importantes para uma melhor avaliao e

    caracterizao dos efeitos agudos e crnicos de diversos agentes txicos por si s ou

    quando presentes em corpos receptores. Em outros termos, os testes de ecotoxicidade so

    ferramentas muito importantes nas avaliaes de riscos ecolgicos provocados por produtos

    qumicos. Dentre os principais grupos de organismos utilizados em ensaios laboratoriais,

    destacam-se: microalgas, microcrustCCEOs, equinides, poliquetas, oligoquetas, peixes e

    bactrias, representando os mais diversos ecossistemas e nveis trficos (MAGALHES;

    FERRO FILHO, 2008).

    Assim, os testes de toxicidade so ferramentas desejveis para avaliar a qualidade

    das guas e/ou a carga poluidora de efluentes, uma vez que somente as anlises fsico-

    qumicas tradicionalmente realizadas (e.g., DQO, DBO, COT, concentraes de metais e de

    outras substncias de carter orgnico ou inorgnico), cujos limites encontram-se

    estabelecidos nas legislaes ambientais, no so capazes de distinguir entre as

    substncias que afetam os sistemas biolgicos e as que so inertes no ambiente e, por isso,

    no so suficientes para avaliar o potencial de risco ambiental dos contaminantes

    (BOUDOU & RIBEYRE, 1989; FERRARI et al., 2004; PANDARD et al., 2006).

    Segundo Warne (2003), em uma mistura, trs tipos de efeitos combinados so

    referenciados: potenciao, sinergismo e antagonismo. A potenciao descreve os casos

    em que a toxicidade da mistura igual esperada por adio do efeitos txicos de cada um

    dos elementos da mistura. J o sinergismo descreve casos em que a toxicidade da mistura

    est mais elevada do que o esperado se a mistura fosse aditivo. Por ltimo, o antagonismo

    de uma mistura realada quando a sua toxicidade menor do que a soma das toxicidades

    do substncias que compem a mistura (WANE, 2003; PANOUILLRES et al., 2007).

    Um outro tipo de resposta paralela toxicidade clssica a genotoxicidade, a qual

    so agresses ao material gentico. H muito tempo j se conhece que no meio-ambiente

    existem muitos agentes fsicos e qumicos capazes de provocar alteraes no material

    gentico dos seres vivos (KIHLMAN, 1956), definidos aqui como agentes genotxicos. O

    interesse maior de estudar os agentes genotxicos que esta classe de poluentes ameaa

    a integridade dos ecossistemas, pois estes dependem da sobrevivncia e reproduo das

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    espcies/populaes. Nesse sentido, a proteo das espcies/populaes depende do

    desenvolvimento de sistemas eficazes de deteo de agentes genotxicos no ar, na gua e

    no solo. Uma abordagem mais pragmtica do ponto de vista ambiental a realizao de

    testes in vivo e/ou in situ, os quais durante suas execues experimentais integram asmuitas variveis ambientais que podem influenciar no potencial genotxico de uma

    substncia qumica (KLEKOWSKI, 1982; SANDHU et al., 1994). Entre os organismos que

    podem ser usados nestas avaliaes genotxicas, os vegetais ocupam um lugar de

    destaque (GRANT, 1994, COTELLE et al., 1999)

    Dentre os vegetais que podem ser utilizados, o teste com a espcie Vicia fabapode

    ser considerado um dos mais simples (MA, 1982), permitindo variaes experimentais

    maiores, o que de interesse para o presente projeto. O teste com V. faba geralmente baseado em aberraes cromossmicas e/ou formao de microncleos que podem ter

    origem clastognica (quebra de cromossomos pelo txico) ou aneugnica (no-migrao de

    algum cromossomo durante a diviso celular), sendo inclusive padronizado por

    organizaes como a Associao Francesa de Normalizao (AFNOR) e Organizao

    Internacional de Padronizao (ISO) para o caso da deteco de guas e solos

    contaminados (AFNOR, 2004; ISO, 2010).

    Com relao ao impacto do formicida sobre os micro-organismos aquticos, a

    hidrlise de FDA um mtodo que avalia a atividade hidroltica indiscriminada e tem sido

    correlacionada positivamente com a respirao dos micro-organismos no solo (SCHNRER

    & ROSSWALL, 1982). Em particular, a atividade enzimtica proporciona catlise de diversas

    reaes que so necessrias ao ciclo de vida dos microrganismos, na decomposio de

    resduos orgnicos durante o ciclo de nutrientes e na formao da matria orgnica e na

    estrutura do solo (BURNS, 1978). Diversas pesquisas utilizando FDA para determinar a

    atividade enzimtica j foram evidenciadas. As atividades enzimticas (FDA, urease e

    glicosidase) serviram como indicadoras do potencial da funcionalidade dos ecossistemas e,aliadas aos demais atributos biolgicos, tornam-se boas indicadoras da qualidade

    microbiolgica de uma amostra (CARVALHO, 2005).

    Por outro lado, as alteraes de comportamento podem ser resultantes dos efeitos

    txicos e o comportamento dos organismos intoxicados permite explorar os possveis

    mecanismos de intoxicao envolvidos na ao dos txicos (HODGSON, 2010). As

    formigas, sendo organismos eussociais (vivendo em comunidades), podem ter suas

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    mobilidades, comportamento e percepes alteradas pela influncia do txico absorvido,

    pois sabe-se que mudanas de comportamento podem ter bases fisiolgicas e/ou

    neurolgicas (HODGSON, 2010). Qualquer mudana de comportamento nos organismos

    que vivem em comunidade pode inviabilizar a cooperao entre os organismos e destruir acomunidade (AYASSE et al., 2001).

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    4 MATERIAIS E MTODOS

    A Figura 4 apresenta a sequncia metodolgica utilizada neste trabalho para a

    avaliao do formicida. Os testes de ecotoxicidade foram realizados no Laboratrio Ecotec,localizado no municpio de Balnerio Camburi. J os testes de genotoxicidade e hidrolise

    do FDA foram realizados no laboratrio de Remediao Ambiental da UNIVALI. As

    metodologias empregadas no presente estudo foram baseadas em trabalhos publicados e

    so descritas a seguir.

    Preparao do

    Macex

    Teste de

    estabilidade

    toxicolgica

    Testes

    ecotoxicolgicos

    Teste da hidrlise

    enzimtica do

    FDA

    Teste de

    GenotoxicidadeResultados

    Figura 4 Fluxograma dos testes usados na avaliao ecotoxicolgica e genotxica doformicida Macex.

    4.1 PREPARAO DO TXICO

    Como o formicida Macex comercializado na forma de pequenos gros (iscas),

    este foi macerado usando um almofariz e pilo, obtendo assim um p que foi

    homogeneizado em gua destilada levemente aquecida, com intuito de facilitar a diluio e

    com uma temperatura mxima de 45 C para que no ocorra a degradao trmica dos

    compostos, em um perodo de duas horas, sob agitao na concentrao de 5 g L -1. Em

    seguida houve a diluio desta soluo em diferentes concentraes que foram usadas na

    exposio dos organismos-testes.

    4.2 TESTES DE ECOTOXICIDADEPara a realizao dos testes ecotoxicolgicos foram utilizados neste trabalho cinco

    organismos testes, sendo eles: Danio rerio, Daphnia magna, Scenedesmus subspicatus,

    Aliivibrio fischeri e Vicia faba e uma mistura de microorgaanismos presentes nas guas

    naturais.

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    4.2.1 Teste Lumistox com a bactria Ali iv ibr io f ischeri

    O teste bacteriano de inibio de luminescncia utilizando Aliivibrio fischeri

    (anteriormente conhecido comoAliivibrio fischeri) como organismo-teste (Lumistox, Dr.Bruno

    Lange, Dsseldorf, Alemanha) foi realizado de acordo com a norma ISO (1996), seguindo as

    condies protocolares (23C 2C, com pH igual a 7 e tempo de exposio de 30 min.). O

    reagente bacteriano liofilizado foi obtido a partir da Deutsche Sammlung von

    Mikroorganismen und Zellkulturen (DSM # 7151 N, Braunschweig, Alemanha). Executou-se

    trs ensaios diferente em duplicata a fim de avaliar a variabilidade do processo, onde o

    composto 3,5 diclorofenol a 6 mg L-1 foi utilizado com controle positivo. A diluio da

    amostra de formicida que causou 50% de inibio de luminescncia das bactrias com

    relao s bactriascontroles (CI50) foi calculada pelo programa acoplado ao equipamento(Luminmetro), usando a interpolao grfica.

    4.2.2. Teste de inibio do crescimento das algasPseudokirchneriel lasubcapitata

    A espcie de alga utilizada foi a Pseudokirchneriella subcapitata (no passado

    conhecida por Selenastrum capricornutum) Chodat (cepa 86.81 SAG, Gttingen, Alemanha).

    Realizaram-se trs testes com as algas de acordo com a ISO (1990), tendo, em cada teste,trs replicas para cada concentrao e controle. Como controle positivo utilizou-se

    dicromato de potssio. A densidade da mistura foi ajustada para 10.000 clulas.mL-1atravs

    de diluio com meio ISO. J os frascos do ensaio foram incubados em um agitador (100

    rpm), com iluminao contnua de 70 mE m-2s-1com lmpadas brancas fluorescentes (luz

    fria) e temperatura de 23 2C. Aps 72 h de incubao, realizou-se a medio do efeito

    inibidor com base na atividade fluorescente (excitao/emisso foram fixados em

    comprimentos de ondas 488/685 nm) com um espectrofotmetro Shimadzu RF-551 (Kyoto,

    Japo).

    Alm disso, com intuito de verificar a estabilidade txica do Macex, foram realizados

    4 ensaios com algas colocadas em microplacas (96 poos) em dias consecutivos de acordo

    com o procedimento descrito no Radetski et ai. (1995), usando sempre a soluo de agente

    txico preparada no primeiro dia. Nestes testes com as microplacas, a pr-cultura de algas

    com idade de 3-d foi preparada de meio ISO concentrado 2 vezes. A densidade celular da

    mistura foi ajustada a 40.000 clulas.mL-1 e 110 L dessa soluo de algas foi micro

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    pipetado em 60 poos da microplacas (os poos exteriores no foram usados), onde

    tambm foram acrescentados 110 L das solues txicas concentradas 2 duas vezes

    (gua para os controles). Aos se misturarem, as solues de algas e de txico caem pela

    metade pela diluio entre elas. Antes da incubao, cada microplaca foi selada em sacosplsticos transparente para minimizar a evaporao durante o perodo de exposio. Ao fim

    de 72 h, os contedos das microplacas foram novamente suspensos e o volume total de

    cada poo foi micro-pipetado para uma frasco contendo 20 ml de uma soluo eletroltica

    (Isoton II, Coulter-Frana, Paris, Frana). O fator de diluio foi estimado em 20/0,22, tendo

    a evaporao sido inferior a 5%. As algas foram enumeradas com um contador Coulter

    (modelo ZM, a abertura da clula de 70 mm). A determinao da porcentagem de inibio, a

    rea sob a curva de crescimento foi calculada com apenas dois tempos de exposio

    (exemplo 0 e 72 h). A determinao da concentrao inibidora de 50% do crescimento

    (CI50) foi determinada pelo mtodo Probit.

    4.2.3 Teste de imobilidade com Daphnia magna

    O teste de imobilizao de Daphnia magnacom durao de 48 horas foi realizado

    em conformidade com a norma ISO (1999) 232C, utilizando 5 indivduos para cada

    rplica (com menos de 24 horas de vida) em copos de vidro de 50 mL com 30 mL do meio

    teste contendo o txico. Dois ensaios diferentes (em triplicatas) foram realizados para cada

    concentrao do formicida e controle a fim de avaliar a variabilidade do processo, tendo o

    dicromato de potssio com controle positivo 0,9 mg L-1. Aps 48 h de exposio foi

    verificado o nmero de indivduos imobilizados, o que permitiu a determinao do valor de

    CE50 atravs do teste de Fischer.

    4.2.4. Teste com peixe Danio rerio

    Os testes de toxicidade estticos foram conduzidos de acordo com a norma ISO

    (1993) utilizando Danio rerio. As amostras de peixes zebras Danio rerioHamilton Buchanan,

    foram obtidos a partir de um fornecedor comercial (indivduos jovens, recm eclodidos) e

    aclimatados s condies de teste com gua sem cloro (pH: 8,1; condutividade: 56 mS.cm-1;

    OD: 10,5 mg L-1; dureza total: 88 mg mg L-1de CaCO3; alcalinidade: CaO 71 mg mg L-1) 9

    dias antes da experincia. A concentrao de oxignio dissolvido nas solues-teste foi

    medida no incio e no fim da experincia utilizando um eletrodo de Oxignio. Os peixes

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    foram expostos diferentes concentraes de Macex durante 96 h, com trs replicas de

    quatro indivduos por diluio e colocados em frascos de 2,5 L de soluo de teste

    ligeiramente arejadas sob 232C, onde para os controles foi utilizado gua da torneira sem

    cloro. Realizaram-se dois diferentes testes para cada concentrao do txico a fim deverificar a variabilidade do processo, sendo que para o controle positivo utilizou-se

    dicromato de potssio (concentrao de 97 mg mg L-1). Aps 96 h de exposio foi

    verificado o nmero de indivduos mortos, o que permitiu a determinao do valor de CI50

    atravs do teste de Fischer.

    4.2.5. Determinao da atividade enzimtica pela hidrlise da FDA.

    O mtodo consiste em quantificar o Diacetato de Fluorescena [3,6-

    diacetilfluoresceina (FDA)] hidrolisada em amostras que contm microorganismos. O teste

    foi iniciado com a preparao de uma soluo tampo de fosfato de sdio 60 mM, pH 7,6

    (8,7 g de K2HPO4+ 1,3 g KH2PO4para 1 L de gua), sendo que o pH foi ajustado com o HCl

    0,01M. As amostras de gua coletadas em campo foram distribudas em tubos de ensaios (5

    mL de amostra) em trs repeties para cada amostra. Concluda esta fase, acrescentou-se

    0,2 mL da soluo de FDA (concentrao final no tubo del 2 mg.mL -1). A preparao da

    soluo de FDA foi feita pela dissoluo de 40 mg de Diacetato de Fluorescena (FLUKA)

    em 1 mL acetona p.a. e 15 mL gua destilada. Posteriormente a esta etapa os frascos sem

    formicida e com diferentes concentraes do formicida foram fechados com folhas de

    alumnio e incubados na temperatura de 27C por at 72 h. As amostras foram analisadas

    no espectrofotmetro 490 nm (Espectrofotmetro INSTRUTHERM, Modelo UV 1100). Os

    resultados foram expressos de forma bruta, em valores de variao das unidades de

    absorbncia. A determinao da concentrao inibidora de 50% da colorao (CI50) foi

    determinada pelo mtodo Probit.

    4.3 TESTE DE GENOTOXICIDADE

    4.2.6 Teste de genotoxicidade comVicia faba

    Para os testes de genotoxicidade foram utilizadas sementes secas de

    Vicia faba. Um protocolo j publicado foi adotado com pequenas modificaes para este

    teste (AFNOR, 2004). As sementes foram deixadas em gua deionizada durante 24 h

    e depois se colocar as sementes entre duas camadas de algodo molhado a 22 C para

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    durante 3 dias para que a germinao pudesse ocorrer. Aps a remoo das pontas das

    razes primrias, as plantas foram colocadas em soluo nutritiva Hoagland a 22 C durante

    4 dias para promover o desenvolvimento de razes secundrias. O formicida foi diludo

    em soluo de Hoagland em uma srie de diluio partindo da concentrao de 5 g.L -1,tendo como controle negativo uma soluo de Hoagland e controle positivo a hidrazida

    maleica (10 M) (HM; CAS No. 123-33-1) diludo em soluo nutritiva de

    Hoagland. Colocou-se 3 plantas de Vicia faba em cada recipiente contendo 100 mL da

    soluo-teste em triplicatas por concentrao, sendo que a exposio ocorreu em

    lugar escuro e com durao 72 horas sem renovao do meio de exposio. Aps a

    exposio, as razes secundrias foram lavadas com gua deionizada em abundncia. Para

    o teste de microncleo, a ponta de cada raiz foi cortada e fixada durante a noite em soluo

    de Carnoy (25% de cido actico glacial: etanol 75%, v:v) a 4 C e armazenada, se

    necessrio, em etanol a 70% a 4 C. Em seguida, as pontas de razes foram

    hidrolisadas em HCl 1 N a 60 C durante 6 minutos e esmagadas entre uma lmina e uma

    lamela, sendo coradas com soluo a 1% de aceto-orcena. As frequncias de

    microncleos foram numeradas com 1.000 clulas por ponta de raiz (duas razes por rplica)

    em um microscpio com aumento de 400X. Ao mesmo tempo, houve a anotao do nmero

    de clulas mitticas. A razo entre o nmero de clulas na mitose e do nmero total

    de clulas chamado o ndice mittico (IM), sendo este indicador de citotoxicidade,

    enquanto que o nmero de microncleos indicador de gentoxicidade.

    4.4. ANLISE ESTATSTICA DOS DADOS DOS TESTES DE ECOTOXICIDADE

    A anlise estatstica foi realizada atravs de um microcomputador utilizando o

    programa TOXSTAT 3.0. Utilizou-se o teste de William (P 0,05) para obter a concentrao

    sem efeitos observveis (CSEO) e menor concentrao com efeitos observveis (CCEO),aps a verificao da normalidade pelo teste de Shapiro-Wilk e a homogeneidade da

    varincia pelo teste de Hartley. Em alguns casos (peixe e dafndeos) foi utilizados o teste de

    Fischer (P 0.05). Por fim, os valores de CI50 ou CE50 foram calculados por interpolao

    grfica ou anlise Probit.

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    5 RESULTADOS

    5.1 TESTE DE ESTABILIDADE TOXICOLGICA DO MACEX

    Em virtude da durao dos testes ecotoxicolgicos, procurou-se conhecer a

    estabilidade txica do formicida Macex em soluo em funo do tempo. Assim, um

    experimento foi concebido para verificar se os compostos sofriam degradao em soluo, o

    que se poderia perceber pela diminuio de sua toxicidade em funo do tempo. Os

    resultados dos testes realizados com a mesma soluo estoque do formicida, mas com

    idades diferentes, so mostrados na Tabela 3.Tabela 3 - Valores de CSEO, CCEO e CI50 para as algas P. subc apitataexpostas diferentesconcentraes do formicida Macex. Os valores so de 4 testes iniciados com 24 h de intervalo

    usando a mesma soluo estoque de Macex no preparo das diluies.

    Dia CSEO (g L-1) CCEO (g L-1) CI50 (g L-1)Intervalo deConfiana

    (95%)

    1 0,06 0,12 0,63

    0,520,60

    2 0,03 0,06 0,49

    3 0,06 0,12 0,59

    4 0,06 0,12 0,55

    As leituras para os testes foram realizadas durante 4 dias com intervalo de 24 horas,

    totalizado para o ultima leitura um total de 7 dias aps o preparo da soluo estoque. Os

    resultados da Tabela 3 mostram que o Macex em soluo estvel para o perodo testado,

    pois se contarmos desde o dia do preparo da soluo estoque at o ltimo dia do ltimo

    teste. Assim, no conjunto dos dados obtidos, a CI50 mdia dos 4 testes foi de 0,56 g L-1 com

    um desvio-padro de 0.06 g L-1e um coeficiente de variao de 10.6%. Esta estabilidade

    txica do Macex assegura que os resultados dos testes no sofreram nenhum vis devido

    degradao intrnseca do produto em soluo. A estabilidade da toxicidade do produto pode

    ser explicada pela composio do formicida, pois os cidos graxos e a cafena no so

    facilmente degradados ou hidrolisados em soluo com pH prximo do neutro. Entretanto,

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    no se realizou analise qumica para cada leitura e sim, s para a soluo estoque a qual

    mostrou valor similar concentrao nominal com variao de concentrao menor do que

    10 % entre a concentrao medida e a concentrao nominal.

    5.2 TESTE DE TOXICIDADE COMALIIVIBRIO FISCHERI.

    O teste de ecotoxicidade mais realizado no mundo em termos de custo e rapidez o

    que utiliza a bactria marinha bioluminescente Aliivibrio fischeri, o qual recebe o nome de

    Microtox ou Lumistox. Nesse teste medida a reduo da luminescncia emitida

    naturalmente pela bactria quando ela posta em contato com um agente txico, o qual

    inibe a atividade da enzima luciferase. O tempo de durao do teste varia entre 15 e 60 min.

    Este teste considerado rpido, sensvel, fcil de executar e de baixo custo que pode ser

    utilizado no controle da poluio das guas e efluentes industriais, tendo este teste o maior

    banco de dados ecotoxicolgicos. Em termos de amostras testadas. Apesar dessas

    vantagens um teste criticado por empregar uma bactria marinha de pouco significado

    ecolgico (ZAGATTO e BERTOLETTI, 2006), no entanto, o metabolismo e o comportamento

    daA. fischeri parecido com os das bactrias heterotrficas presentes no meio ambiente.

    Conforme mostra a Figura 4, houve diferena significativa na luminescncia

    bacteriana entre os microrganismos controles e os que foram expostos ao formicida Macex.

    Figura 5Valores de luminescncia para as bactrias Ali iv ibr io f ischer iexpostas diferentesconcentraes do formicida Macex durante 30 minutos.

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    Assim, para A. fischeri, o valor de CI50 foi de 0,89 g L -1, enquanto os valores de

    CSEO e CCEO foram de 0,12 g L-1e 0,25 g L-1, como podem ser vistos na Tabela 4. Os

    valores dos coeficientes de variao, geralmente menores que 15%, so aceitveis, visto

    que a literatura preconiza como valor aceitvel de at 20%. Baseado nesses valores obtidosnos testes, o Macex apresenta baixa toxicidade, podendo assim concluir que a quantidade

    solubilizada do formicida no meio ambiente no afetar significativamente a atividade

    bacteriana dos ecossistemas aquticos. O nico estudo de ecotoxicologia aqutica sobre o

    Macex encontrado na literatura e que usouA. fischeri, mostrou uma CI50 de 0,98 g L-1, com

    CSEO e CCEO de 0,25 e 0,50 g L-1, o que so valores muito prximos daqueles obtidos no

    presente trabalho (BURGA-PEREZ et al., 2013).

    Tabela 4 - Valores de CSEO, CCEO e CI50 para as bactrias Ali iv ibr io f ischer i expostas diferentes concentraes do formicida Macex.

    Macex(g L1)

    LuminescnciaCV(%)

    CSEO(g L1)

    CCEO(g L1)

    CI50(g L1)

    Intervalo deconfiana (95%)

    0 1,23 15,2

    0,12 0,25 0,89 0,87-0,91

    0,03 1,21 12,80,06 1,28 9,5

    0,12 1,19 13,7

    0,25 1,04 10,6

    0,5 0,89 12,31 0,4 15,9

    5.3 TESTE DE TOXICIDADE COM PSEUDOKIRCHNERIELLA SUBCAPITATA.

    Quando se trata de um teste crnico em meio aqutico relativamente rpido, as algas

    ocupam lugar de destaque, pois a cada cerca de 20 h, uma nova gerao de algas

    formada. Os ensaios com algas tambm possibilitam determinar o potencial de eutrofizao

    que os outros organismos aquticos no medem. A Figura 5 mostra os resultados dosensaios de inibio do crescimento das algas P. subcapitata expostas diferentes

    concentrao de Macex.

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    Figura 6 - Valores mdios da variao da fluorescncia da alga Pseudokirchneriellasubcapitataexposta diferentes concentraes de Macex durante 72 h.

    Aps anlise estattica obteve-se um valor de CI50de 0,49 g L-1, CSEO de 0,06 g L-1e

    CCEO de 0,12 g L-1 (tabela 5) O estudo de Burga-Prez et al. (2013) com Macex e P.

    subcapitata encontrou um valor de CI50 de 0,79 g L-1, com valores de CSEO e CCEO de

    0,25 e 0,50 g L-1, respectivamente. Estes valores no so to prximos aos encontrados

    neste trabalho realizado em Erlenmeyers, pois os testes realizados por Burga-Prez et al.

    (2013) foram realizados em microplacas.

    Tabela 5 - Valores de CSEO, CCEO e CI50 para as algas P. subc apitataexpostas diferentesconcentraes do formicida Macex.

    Macex(g L1)

    FluorescnciaCV(%)

    CSEO(g L1)

    CCEO(g L1)

    CI50(g L1)

    Intervalo deconfiana (95%)

    0 1,49 13,5

    0,06 0,12 0,49 0,44-0,54

    0,03 1,54 14,9

    0,06 1,42 10,8

    0,12 1,21 13,50,25 1,09 18,10,5 0,71 11,5

    1 0,31 20,3

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    5.4 TESTES DE ECOTOXIDADE DO MACEX COM DAPHNIA MAGNA.

    Na Ecotoxicologia, o uso de espcies de pequeno porte e ciclo de vida no muito

    longo se mostram ideal nos estudos em laboratrios. A espcie Daphnia magna (entre

    outros cladceros) tem o protocolo de cultivo em laboratrio bem estabelecido e no

    apresenta muitas dificuldades para sua manuteno (ZAGATTO & BERTOLETTI, 2006). As

    dfnias so importantes nas cadeias alimentares e so fonte significativa de alimento para

    peixes, como tambm so sensveis a vrios contaminantes do ambiente aqutico (COSTA,

    2008). Alm disso, a reproduo assexuada desses crustCCEOs por partenognese

    garante a produo de organismos geneticamente idnticos permitindo, assim, a obteno

    de organismos-teste com sensibilidade constante.

    A Figura 6 mostra os resultados dos ensaios de mobilidade do cladcero Daphnia

    magnaexpostos diferentes concentrao de Macex.

    Figura 7 - Valores mdios de Daphnia m agnaimobilizada aps 48 h de exposio a diferentesconcentraes de Macex.

    Os resultados da Tabela 5mostram uma baixa toxicidade do formicida Macex face

    ao cladcero Daphnia magna, uma vez que os valores CE50foi de 0,68 g L-1e para o CSEO

    o valor foi de 0,12 g L-1 e CCEO de 0,25 g L-1, sendo esses valores prximos aos obtidos

    para A. fischeri e P. subcapitata. No estudo de Burga-Perez et al. (2013), os valores de

    CE50 encontrados para D. magnafoi de 0,82 g L-1, enquanto os valores de CSEO e CCEO

    foram respectivamente de 0,25 e 0,50 g L-1.

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    Tabela 6 - Valores de CSEO, CCEO e CI50 para Daphnia magna expostas diferentesconcentraes do formicida Macex.

    Macex(g L1)

    ImobilidadeCV

    CSEO(g L1)

    CCEO(g L1)

    CE50(g L1)

    Intervalo deconfiana (95%)(%)

    0 0 -

    0,12 0,25 0,68 0,61-0,75

    0,03 0 -

    0,06 0 -0,12 6,7 12,3

    0,25 20 13,1

    0,5 43,3 15,81 80 14,6

    5.5 TESTES DE ECOTOXIDADE DO MACEX COM DANIO RERIOOs principais representantes dos consumidores secundrios nas cadeias alimentares

    so os peixes (GHERARDI-GOLDSTEIN et al., 1990). Diversas espcies de peixes so

    utilizadas como bioindicadores. No Brasil a espcie mais utilizada o Danio rerio, o qual

    vulgarmente conhecido como peixe paulistinha ou peixe zebra. Outra espcie recomendada

    pela ABNT Pimephales promelas(ABNT, 2004). Os peixes, por serem considerados como

    importante recurso alimentcio, podem ser a principal via de contaminao de produtos

    qumicos txicos para o homem, via bioacumulao, da a sua importncia como

    organismos indicadores.

    A Tabela 7 mostra os resultados dos ensaios de letalidade do peixe Danio rerio

    expostos diferentes concentrao de Macex.

    Tabela 7 - Valores mdio de letalidade de Danio rerio, aps 96 h de exposio diferentesconcentraes de Macex.

    Macex(g L1) Letalidade(%) CV CSEO(g L1) CCEO(g L1) CL50(g L1) Intervalo deconfiana (95%)

    0 0 -

    1 2 >2 -

    0,06 0 -

    0,12 0 -

    0,25 0 -0,5 0 -

    1 0 -

    2 12,5 16,9

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    Os valores obtidos no teste de ecotoxicidade para Danio rerio nas diferentes

    concentraes do Macex no foram suficiente para calcular uma CL50. Entretanto os valores

    obtidos para CSEO e CCEO foram de 1,00 g L-1 e 2,00 g L-1 respectivamente. Assim os

    resultados sugerem uma baixo impacto ambiental do Macex para peixes aps exposioaguda.

    5.6 TESTE DA HIDRLISE ENZIMTICA DO FDA

    O impacto do Macex sobre a atividade hidroltica dos microorganismos presentes nas

    guas naturais foi analizada pela variao da absorbncia relativa hidrlise do FDA, a qual

    forma a fluorescena, deixando a soluo com colorao verde. Assim, a Figura 8 mostra osresultados dos ensaios de variao da absorbncia provocada pela hidrlise da FDA quando

    exposta aos microorganismos aquticos expostos diferentes concentrao de Macex.

    Figura 8 - Valores mdios da variao da absorbncia devido hidrlise do FDA pormicroorganismos presentes nas guas expostos diferentes concentraes de Macex durante72 h.

    Assim, para ahidrlise do FDA pelos microorganismos apresentados na Tabela 8, o

    valor de CI50 foi > 1,0 g L-1, enquanto os valores de CSEO e CCEO foram de 0,25 g L -1e

    0,50 g L-1. Estes valores podem ser comparados com os valores obtidos com o outro

    microorganismo usado neste trabalho, a bactria A. fischeri, cujo valor de CI50foi de 0,89 g

    L-1, enquanto os valores de CSEO e CCEO foram de 0,12 g L -1e 0,25 g L-1. Poder-se-a

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    concluir que os microorganismos naturais so um pouco mais resistentes toxicidade do

    Macex, mas mesmo assim, o valor da CI50 foi relativamente alto, com baixa probabilidade

    de causar efeitos nefastos aos microorganismos, pois dificilmente encontraremos situaes

    no meio ambiente onde o Macex estar em concentraes to elevadas quanto estas.

    Tabela 8 - Valores de CSEO, CCEO e CI50 para microorganismos aquticosexpostos diferentes concentraes do formicida Macex.

    Macex(g L1)

    AbsorbnciaCV(%)

    CSEO(g L1)

    CCEO(g L1)

    CI50(g L1)

    Intervalo deconfiana (95%)

    0 0,95 15,8

    0,25 0,5 >1 -

    0,03 0,99 16,9

    0,06 0,88 17,8

    0,12 1,02 16,5

    0,25 0,87 17,00,5 0,71 14,91 0,61 14,2

    5.7 TESTE DE GENOTOXICIDADE COM VICIA FABA

    A Figura 3 apresenta o ndice mittico e as frequncias de microncleos obtidos na

    exposio de Vicia faba em diferentes concentraes do formicida. As concentraes de

    Macex at 0,25 g L-1 no promoveram efeitos no ndice mittico da Vicia faba, mas as

    concentraes de 0,5 e 2,0 g L-1apresentaram uma diminuio estaticamente significativa

    no ndice mittico.

    Em relao as frequncia de microncleos, foi observado a no-induo para

    concentraes inferiores de 2,0 g L-1, enquanto que, o controle positivo (isto , B2) mostrou

    um aumento significativo na frequncia de microncleos em comparao com o controle

    negativo, ou seja, B1 (soluo Hoagland).

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    Mcn/1000 clulas

    Figura 9 - Mdia ( DP) da frequncia de microncleos (Mcn/1000 clulas) e ndice mittico (IM,%) em razes de Vicia fabaexpostas 48h ao formicida Macex HM (hidrazida maleica): controle

    positivo.* diferena estatisticamente significativa com relao ao controle (P 0.05)** diferena estatisticamente significativa com relao ao controle (P 0.01).

    Na literatura no h relatos sobre a genotoxicidade/mutagenicidade dos ingredientes

    do Macex nas concentraes utilizadas para este estudo. A cafena, possvel ingrediente

    ativo do Macex, foi relatada como sendo fracamente mutagnica em alguns modelos

    animais no mamferos. Nos ensaios de Salmonella (teste de Ames), no houve

    mutagenicidade e este composto (cafena) no teve efeitos significativo na frequncia deinduo nas trocas de cromtides irms (KIHLMAN & STURELID, 1978)

    Apesar do nmero pequeno de ensaios utilizados neste estudo, esses resultados so

    promissores em relao aos impactos ambientais a partir da genotoxicidade, pois enquanto

    o Macex no apresenta este efeito, o formicida clorpirifos tem sido relatado como genotxico

    para a espcie de peixe da espcie Channa punctatuse em leuccitos de ratos (ALI et al.,

    2008; PORICHHA et al., 1998; RAHMAN et al., 2002.). Tambm h estudos relatando este

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    Formicida (g L-1)

    12

    IM (%)

    Mcn

    0 0.125 0.25 0.5 2 HM0

    2

    4

    6

    8

    10IM *

    *

    **

    ***

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    produto como genotxico para clulas de razes das plantas Crepis capilares,Allium cepae

    para ensaio de microncleo com Tradescantia (ASITA & MAKHALEMELE, 2008; DIMITROV

    & GADEVA 1997; RODRIGUES et al., 1998).

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    6 DISCUSSO

    A crise de biodiversidade que se observa atualmente devido, entre outras causas,

    presena de substncias qumicas txicas liberadas no meio ambiente. No caso dosagrotxicos, um estudo recente analizou os ndices de biodiversidade de invertebrados em

    riachos da Frana, Alemanha e Austrlia (BEKETOV et al., 2013). Estes autores

    constataram perdas de at 42% para certas famlias e espcies, mesmo em regies onde o

    uso de agrotxicos est bem regulamentada, obedecendo aos padres de proteo

    ambiental. Para se evitar este tipo de problema, de fundamental importncia o uso dos

    testes de ecotoxicidade antes de se liberar o produto para o mercado e mesmo depois de

    ser liberado, pois pode haver casos em que as transformaes ambientais deixam os

    metablitos do produto mais perigosos. Tambm podem existir espcies de organismos notestados previamente que possam ser sensveis a este produto e/ou metablitos.

    A Tabela 9mostra baixos efeitos a curto prazo (testes agudos) de ecotoxicidade em

    diferentes espcies de organismos aquticos. Com base nesses valores, possvel

    descrever a toxicidade do Macex como no sendo altamente txico, apresentando CE(CI)50

    maiores que 0,1 g L-1, limite aceito como sendo no txico (KAMRIN, 1977). Essa baixa

    ecotoxicidade pode ser explicado pelo fato que os ingredientes do Macex no so txicos e

    tambm pelo fato que o produto comercializado mostra baixa solubilidade em gua. Nesse

    sentido, alguns estudos realizados em vrias regies do mundo mostram que a

    porcentagem dos produtos utilizados na agricultura que atingem os ambientes aquticos

    geralmente baixa (JURY et al., 1987; SOLOMON et al., 1996).

    Deve-se salientar que os bioensaios utilizados para este estudo incluem organismos-

    testes requeridos pela Diretiva 91/414/CEE para os novos produtos qumicos industriais

    (MARTINS et al. 2007).

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    Tabela 9 - Ecotoxicidade do Macex obtidos atravs de quatro espcies de organismos- teste eoutros dados de ecotoxicidade para formicidas comercializados a base de sulfluramida,fipronil e clorpirifos.

    OrganismosTeste

    Parmetros

    (CI, CL ouCE50)

    Produto (mg L-1)

    Macex Sulfluramida Fipronil Clorpirifos

    BacteriaInibio de

    luminescncia890 (30

    min)-

    > 100(30 min)

    2,8(30 min)

    Microorganismos Hidrlise FDA>1000(72 h)

    - - -

    AlgaInibio decrescimento

    490(72 h)

    68,1 (96 h) 0,16 (96 h) 3,0 (96 h)

    Dafnia Imobilidade680

    (48 h)0,39 (48 h) 0,19 (48 h) 0,0017 (48 h)

    Peixe Letalidade > 2000(96 h)

    9,9 85 0,43

    Segundo a classificao de toxicidade aguda da Organizao Mundial da Sade

    (OMS), a sulfluramida classificada como pouco perigoso, enquanto finopropil e clorpirifos

    so classificados como moderadamente perigosos. Entretanto, de acordo com os dados

    publicados, a ecotoxicidade destes inseticidas diferente, com finopropil e clorpirifos sendo

    classificados como altamentes ecotxicos (BARRON & WOODBURN 1995; GUNASEKARA

    et al. 2007) e enquanto sulfluramida e considerando como ligeiramente ecotxico

    (KRIEGER, 2001).

    No caso do Macex, a classificao