Relatório Final ISABEL... · 2019. 9. 18. · Mestrado Integrado em Medicina | Relatório Final 3...
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Relatório Final
Mestrado Integrado em Medicina
REGENTE DA UNIDADE CURRICULAR | Prof. Dr. Rui Maio
ORIENTADOR |Doutor Diogo Albergaria
Marta Isabel Loureiro Ribeiro | 2013287
Julho de 2019
Mestrado Integrado em Medicina | Relatório Final
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ÍNDICE
1. Introdução e Objetivos .......................................................................................................................... 3
2. Síntese das Atividades desenvolvidas ................................................................................................... 4
2.1 Estágio Parcelar de Ginecologia e Obstetrícia ................................................................................... 4
2.2 Estágio Parcelar de Saúde Mental ..................................................................................................... 4
2.3 Estágio Parcelar de Medicina Geral e Familiar .................................................................................. 5
2.4 Estágio Parcelar de Pediatria ............................................................................................................. 5
2.5 Estágio Parcelar de Cirurgia Geral ..................................................................................................... 6
2.6 Estágio Parcelar de Medicina Interna ................................................................................................ 7
3. Reflexão Crítica ...................................................................................................................................... 8
4. Anexo 1 | Organização dos estágios parcelares e trabalhos realizados ............................................. 11
5. Anexo 1 | Experiência Clínica Nacional: PECLICUF – Enfermagem e Neonatologia ............................ 12
6. Anexo 3 | Experiência Clínica Internacional: Programa Erasmus + ..................................................... 14
7. Anexo 4 | Experiência Clínica Internacional: IFMSA............................................................................ 15
8. Anexo 5 | Cargos Exercidos: Comissão Organizadora do Hospital da Bonecada ................................ 16
9. Anexo 6 | Cargos Exercidos: iMED Crew ............................................................................................. 17
10. Anexo 7 | Cargos Exercidos: Contact Person - Programa de Intercâmbios Científicos e Clínicos ...... 18
11. Anexo 7 | Voluntariado ....................................................................................................................... 19
12. Anexo 8 | Conferências ....................................................................................................................... 20
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1. Introdução e Objetivos
“He who studies medicine without books sails an uncharted sea, but he who studies medicine without
patients does not go to sea at all”.
Sir William Osler
O estágio profissionalizante do 6º ano é um momento crucial no percurso de qualquer aluno de Medicina,
constituindo-se como o elo de ligação entre a formação médica pré-graduada e o exercício da profissão.
Possibilita a consolidação e aplicação prática dos conhecimentos e competências adquiridos ao longo dos
anos precedentes, naquelas que são as especialidades base da arte médica: Medicina Interna, Cirurgia Geral,
Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia, Saúde Mental e Medicina Geral e Familiar. Estas 6 áreas clínicas
abrangem todo o espetro de faixas etárias, géneros e uma multiplicidade de patologias agudas e crónicas,
que, do ponto de vista académico, proporcionam uma fonte ímpar de conhecimento. Recordo uma das
primeiras apresentações, em contexto hospitalar, a que assisti, onde, citando-se William Osler se recordava,
como que relembrando subtilmente todos os presentes, o potencial infinito da relação médico-doente: “He
who studies medicine without books sails an uncharted sea, but he who studies medicine without patients
does not go to sea at all”. A competência científica, com atualização constante, é fundamental para
assegurar qualidade, na prestação dos cuidados de saúde à população. No entanto, a competência clínica,
a capacidade de gerir emoções e expetativas daqueles que em posição de maior vulnerabilidade, procuram
os cuidados médicos, desenvolve-se na relação diária com o outro. Num ano em que a vontade de
mergulhar, com motivação e responsabilidade, no mar de desafios que nos são diariamente colocados,
caminha em paralelo com a ansiedade e incerteza em relação ao que o futuro nos reserva, é fundamental
parar e traçar alguns objetivos para este período: (1) colmatar lacunas no conhecimento teórico e
procedimentos práticos, especialmente na área do diagnóstico diferencial e terapêutica (2) adquirir maior
autonomia e responsabilidade no desempenho das diversas tarefas da rotina hospitalar (3) desenvolver
competências de trabalho em equipa (4) promover a relação médico-doente, com foco em populações
específicas: grávidas, crianças, doente idoso, doente com patologia psiquiátrica e doente em fim de vida,
assim como nas respetivas famílias.
O presente relatório não é mais do que o relato da imensa aventura que foi navegar, pela última vez,
enquanto aluna da FCM-UNL, pelos diferentes serviços hospitalares, sintetizando as atividades desenvolvidas
e refletindo, posteriormente, não só acerca do impacto do estágio profissionalizante na minha formação,
como de todo o Mestrado Integrado em Medicina per se, recordando atividades não consignadas ao plano
de estudos, mas que de alguma forma contribuíram para a minha formação clínica, profissional e humana.
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2. Síntese das Atividades desenvolvidas
2.1 Estágio Parcelar de Ginecologia e Obstetrícia
O estágio de Ginecologia e Obstetrícia é, no Hospital de Vila Franca de Xira, organizado de forma a que, na
mesma semana, os alunos estejam 3 dias com a tutora de Obstetrícia e 2 com a tutora de Ginecologia. Pude
assim explorar valências da especialidade com as quais nunca tinha contactado. No âmbito da Ginecologia
tive a oportunidade de assistir à consulta de Uro-Ginecologia, onde contactei essencialmente com patologia
do pavimento pélvico, nomeadamente prolapsos e incontinência urinária; consulta de Patologia do Colo, útil
para a revisão de conceitos associados à infeção pelo Vírus do Papiloma Humano e, por fim, acompanhar a
atividade da tutora em contexto de bloco operatório. Por seu turno, na área da Obstetrícia, a prática diária
estendeu-se desde a atividade na enfermaria que englobava a avaliação diária das puérperas/grávidas; a
consulta onde acompanhei maioritariamente grávidas com moderado/alto risco obstétrico e o bloco
operatório. Saliento ainda a possibilidade de assistir à consulta de interrupção voluntária da gravidez, bem
como à realização de ecografias ginecológicas/obstétricas e outras técnicas de diagnóstico pré-natal,
atividades nas quais pude participar ativamente. Transversal às 4 semanas de estágio, foi a realização
semanal de um turno no Serviço de Urgência (SU) - balcão de admissão e bloco de partos - momento de
maior autonomia no contacto com a utente. Valorizo ainda a apresentação da sessão Prevenção primária e
secundária em Ginecologia, tema que, independentemente da especialidade, qualquer médico deve
dominar, pois todos os momentos de contacto com a mulher devem ser aproveitados para modificação de
comportamentos e prevenção em saúde.
2.2 Estágio Parcelar de Saúde Mental
Analisando retrospetivamente este período, concluo que tive a oportunidade de explorar uma área da
especialidade com a qual nunca tinha contactado - a Psicogeriatria do Centro Hospitalar Psiquiátrico de
Lisboa (CHPL). No ano letivo anterior, o estágio de Psiquiatria realizou-se na Equipa de Psiquiatria
Comunitária de Caxias, onde a população alvo e patologias observadas eram completamente distintas.
Contactei assim, pela primeira vez, com um serviço de internamento de Psiquiatria, compreendendo a
logística diária associada à gestão dos utentes idosos (média de 77anos), com patologia psiquiátrica -
maioritariamente síndrome demencial com sintomatologia psicótica associada – e outras comorbilidades
médicas que, em virtude da polimedicação, necessitam de gestão sensível e eficaz. Diariamente participei na
avaliação do estado mental e bem-estar geral dos doentes, realizei diários clínicos, notas de alta e
acompanhei a gestão da terapêutica dos utentes internados. Semanalmente realizei a avaliação da função
cognitiva de alguns idosos, através da aplicação da ferramenta Mini Mental State Examination. Assisti a
entrevistas familiares, compreendendo a importância das mesmas no esclarecimento de dúvidas relativas à
história do doente e planeamento da intervenção no período pós internamento. Na minha opinião, é no
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âmbito da Psiquiatria que a relação médico-doente atinge o expoente máximo de confiança e empatia, o
que por mim foi confirmado aquando da colheita da história clínica. Paralelamente, assisti ainda a algumas
consultas externas de Psiquiatria, onde contactei com uma população mais jovem, com patologia aditiva,
depressiva e do espetro da esquizofrenia. Realizei um turno no SU do Hospital de São José, onde pude rever
as indicações de referenciação por parte de outras especialidades e a abordagem de alguns quadros
psiquiátricos agudos. O estágio de Saúde Mental é ainda complementado por sessões teóricas,
nomeadamente os seminários iniciais e, no caso do CHPL, semanalmente, ocorrem aulas destinadas a
internos da especialidade, às quais os alunos são gentilmente convidados a assistir. No serviço de
Psicogeriatria, assisti ainda à apresentação semanal do Journal Club, onde foram abordados temas atuais e
direcionados para a área.
2.3 Estágio Parcelar de Medicina Geral e Familiar
O estágio de Medicina Geral e Familiar (MGF), realizado na USF LoureSaudável, foi, sem dúvida, fundamental
na minha formação prática. Depois de um estágio prévio de MGF maioritariamente observacional, tive agora
a oportunidade de pôr em prática, de forma independente, mas supervisionada, competências
desenvolvidas ao longo dos últimos seis anos. A integração do aluno na equipa foi um elemento chave no
sucesso deste período. Orientei consultas de adultos, saúde infantil, planeamento familiar e consulta
aberta. Na consulta de adultos a maioria dos doentes, idosos, tinha patologia crónica (doença
cardiovascular, alterações metabólicas e patologia psiquiátrica), era polimedicado e o foco da abordagem
passava por prevenir interações medicamentosas, garantir adesão terapêutica e assegurar a realização de
rastreios e modificação de comportamentos. Por outro lado, na consulta aberta observei adultos jovens,
com patologia aguda, ou que necessitavam de solucionar problemas burocráticos. As consultas de saúde
materna, planeamento familiar e saúde infantil permitiram-me complementar estágios prévios, recordando
a importância da regular vigilância da saúde na prevenção em Medicina. Assisti ainda a sessões clínicas, de
cooperação entre a USF e o Hospital Beatriz Ângelo (HBA), no âmbito da Endocrinologia e Psiquiatria. Tendo
por base os temas abordados, surgiu a ideia de aplicar os conhecimentos adquiridos, a uma ferramenta útil
para o doente - realizei então um folheto informativo, acerca dos cuidados a ter com o pé, em doentes
diabéticos.
2.4 Estágio Parcelar de Pediatria
A Pediatria centra-se numa população específica, permitindo a compreensão da medicina da
criança/adolescente nas diversas fases da sua vida. Neste período tive a oportunidade de explorar uma área
da especialidade com a qual nunca tinha contactado, a Endocrinologia Pediátrica do Hospital Dona Estefânia,
complementando assim o estágio de Pediatria, que realizei no departamento de Reumatologia do mesmo
hospital no ano anterior. A minha atividade assistencial condensou-se no momento da consulta (e como tal
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considero que a experiência prática neste estágio foi inferior à esperada), quer de Endocrinologia Geral, onde
hipotiroidismo e baixa estatura foram as patologias mais observadas, quer de patologias específicas -
Obesidade e Diabetes Mellitus. Estas últimas realizam-se em paralelo com a consulta de Nutrição e de
Enfermagem tendo como objetivo intervir profundamente, no estilo de vida das crianças e famílias.
Acompanhei ainda a colocação de bombas infusoras de insulina em contexto de Hospital de Dia. Saliento a
oportunidade de contatar, pela primeira vez, com entidades clínicas raras, como a Síndrome de Noonan,
Síndrome de Turner e Hiperplasia Congénita da Suprarrenal. Realizei um turno semanal no SU, altura em que
pude observar um maior leque de patologias pediátricas, principalmente do foro respiratório, em fase aguda.
Participei ainda, durante uma manhã, na Consulta de Imunoalergologia, especialidade com a qual temos
pouco contacto durante a formação médica pré-graduada. Ressalto a realização do Workshop de
Emergências Pediátricas, sem dúvida uma mais valia, que me permitiu compreender a dificuldade que é agir,
sob pressão e em equipa, recordando a necessidade de uma abordagem metódica. Acompanhar diariamente
crianças com patologias crónicas, compreendendo o impacto das mesmas na sua qualidade de vida, aliado
ao facto de cada vez mais as novas tecnologias – mHealth - serem elementos fundamentais na modulação
da adesão terapêutica e modificação de comportamentos, serviu de mote à apresentação do seminário
APPS na Doença Crónica.
2.5 Estágio Parcelar de Cirurgia Geral
Ao longo das 8 semanas do estágio de Cirurgia apenas 4 são exclusivamente dedicadas à especialidade (o
que dificulta o alcance de todos os objetivos definidos para o estágio), distribuindo-se as restantes pelo
Estágio Opcional, SU e formação teórico prática, onde se inclui o curso TEAM. No âmbito da Cirurgia Geral a
minha atividade assistencial repartiu-se entre (1) bloco operatório onde, pela patologia endocrinológica ser
a área de especialização da minha tutora, assisti (para além das cirurgias em contexto de urgência)
fundamentalmente a cirurgias às glândulas tiroide e paratiroide. Observei, pela primeira vez, a realização de
ecografia intraoperatória, para avaliação de lesões hepáticas e tive a oportunidade de participar numa
cirurgia -totalização de tiroidectomia total, com disseção ganglionar central e lateral esquerda- como 2º
ajudante (2) enfermaria onde o acompanhamento dos doentes nos período pós-cirúrgico me permitiu
recordar os principais parâmetros a atentar na gestão do doente em pós-operatório imediato (3) consulta
externa, fundamental na preparação prévia ao ato cirúrgico e no follow-up de doentes submetidos a
cirurgias. A escolha da especialidade de Anestesiologia para a realização de estágio opcional recaiu, para
além do meu interesse na mesma, no facto de considerar que esta apresenta características e conteúdos
pouco abordados ao longo da formação médica pré-graduada. O global da atividade pratica decorreu no
bloco operatório onde, para além de observar a realização de diversos procedimentos invasivos, pude
praticar de forma autónoma a pré-oxigenação do doente, ventilação com máscara facial, laringoscopia,
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colocação de máscaras laríngeas, tubos oro-traqueais e sondas naso-gástricas. Por fim, durante a semana
no SU, tive a oportunidade de rodar pelas diversas valências do SU-HBA, desde a pequena cirurgia aos postos
de observação rápida/estadia curta. Desenvolvi assim a vertente mais prática do estágio, através da
condução autónoma de várias consultas de Medicina Interna. Contudo, e sendo este um estágio de Cirurgia,
considero que, apesar do contacto com a Pequena Cirurgia, as oportunidades existentes não permitiram a
aquisição da autonomia prevista e ambicionada ao nível das técnicas cirúrgicas. A nível formativo, realço o
trabalho apresentado no Mini-Congresso de Cirurgia, intitulado Doutor, posso engravidar?
2.6 Estágio Parcelar de Medicina Interna
A Medicina Interna é pilar clínico de qualquer hospital, devendo ser encarada como uma especialidade fulcral
na formação médica. Foi, sem dúvida, o estágio que mais desafios me colocou e aquele onde senti uma maior
evolução pessoal e profissional ao longo das 8 semanas. Diariamente fiquei encarregue da avaliação de 2-3
doentes, com o objetivo de realizar o respetivo diário clínico e se necessário, nota de alta/entrada. A
atividade na enfermaria implicava não só o levantamento de intercorrências junto do doente e equipa de
enfermagem, realização do exame objetivo orientado e interpretação de exames complementares de
diagnóstico, como também a posterior discussão de eventuais ajustes terapêuticos com a equipa. Observei
maioritariamente com doentes do género masculino, com uma média de 67 anos de idade. As patologias
cardiovasculares e respiratórias foram as mais observadas, sendo a maioria dos internamentos motivados
por intercorrências infeciosas, que agudizam os quadros crónicos. Durante o período de estágio contactei
ainda com vários casos de Síndrome Febril Indeterminado, o que motivou a escolha deste tema para a
apresentação da única sessão clínica que o serviço teve neste período. Para além da atividade na enfermaria
assisti ainda a consultas externas, de seguimento, cujo principal objetivo era o acompanhamento de
patologias crónicas e primeiras consultas, a maioria agendada online, cujos motivos de consulta teriam
maioritariamente indicação para avaliação por MGF. Acompanhei ainda, a meu pedido, Consultas de
Pneumologia - Cessação Tabágica - estou certa de que algumas das intervenções discutidas serão úteis para
a minha prática clínica futura, independentemente da especialidade. Semanalmente participei na reunião de
serviço, momento útil de discussão da abordagem e gestão das diferentes comorbilidades dos doentes
internados. Inserida no estágio de Medicina Interna do Hospital CUF Descobertas está a rotação, durante 1
semana, pela Unidade de Cuidados Intensivos. Neste período assisti, pela manhã, à reunião de serviço, na
sequência da qual me era atribuído um doente pelo qual, em semelhança ao que ocorria no internamento,
ficava responsável por realizar a avaliação clínica, discutindo depois o seu caso com um membro da equipa.
Transversal a todas as semanas foi a realização de um turno no SU, onde os diagnósticos mais observados
foram a Gastroenterite e a Infecção Respiratória Alta, sendo a maioria de fácil resolução e não necessitando
de internamento.
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3. Reflexão Crítica
Concluído este ano letivo, é tempo de refletir sobre alguns dos pontos mais importantes desta viagem, que
se iniciou em 2012, ano em que ingressei pela primeira vez no ensino superior, em Engenharia Biomédica.
Se há data Física e Matemática eram duas grandes paixões, rapidamente compreendi que eram as unidades
curriculares ministradas na Faculdade de Medicina de Lisboa, Anatomia e Fisiologia, que cativavam a minha
atenção. Chegar ao fim do Mestrado Integrado em Medicina é um misto entre a alegria de terminar esta
viagem ingressando, finalmente, no mundo profissional e o receio e incerteza acerca do que o futuro me
reserva.
Dos médicos de hoje espera-se que sejam altamente diferenciados e diversificados, que adquiram
competências clínicas e científicas, mas também aptidões transversais, que os distingam dos seus pares e
da homogeneidade do ensino médico pré-graduado. Esta tentativa de valorização pessoal, que nunca
dispensei, foi, sem dúvida, um desafio à minha capacidade de gestão de tempo. É inegável a exigência do
currículo médico, as horas despendidas entre hospitais, faculdade e espaços de estudo, contudo, acredito
que serei tão melhor e mais completa no exercício da minha profissão, quanto mais vasto o meu leque de
experiências e mais variada a minha formação. Como tal, estive durante 4 anos ligada a um projeto de
voluntariado no Centro Social do Campo Grande, no qual prestava apoio ao estudo de jovens entre os 12-
14 anos. Contactar semanalmente com uma população adolescente, à qual tinha de transmitir uma
mensagem, permitiu-me desenvolver técnicas de comunicação que certamente aplicarei no meu futuro
profissional. Procurei ainda desenvolver competências organizacionais e de gestão de equipa, envolvendo-
me nos projetos da faculdade, tendo feito parte da Comissão Organizadora do Hospital da Bonecada [Anexo5],
onde fui responsável pelo departamento de Patrocínios, da Crew do iMED Conference [Anexo 6] e do Programa
de Intercâmbios Científicos e Clínicos da AEFCM[Anexo7], como Contact Person. Paralelamente, investi na
minha formação em línguas estrangeiras, tendo realizado cursos de Alemão e Italiano. Procurei ainda
adquirir experiência clínica, fora do programa de estudos da FCM-UNL. Em Portugal, através do programa
de Estágios Clínicos em Hospitais e Clínicas CUF[Anexo2], realizei um estágio de Enfermagem e outro de
Neonatologia, no Hospital CUF Descobertas. Porém, um dos meus objetivos pessoais foi, desde sempre,
adquirir experiência clínica internacional - atividade que planeio manter após o término do curso - perceber
não só a realidade do ensino médico e da prestação de cuidados de saúde noutros países, como também
conhecer outras culturas e desenvolver competências pessoais inerentes à vivência longe do conforto
familiar. Como tal, no segundo semestre do quarto ano, através do programa de mobilidade Erasmus+ [Anexo
3], estive 6 meses em Bologna (Itália). Em Itália encontrei um ensino mais teórico, alunos mais interventivos
e competitivos e um método de avaliação substancialmente diferente, uma vez que a aprovação na grande
maioria das unidades curriculares depende de um exigente exame oral. Comparativamente à formação
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médica portuguesa, os alunos adquirem autonomia mais tardiamente, realizando muitos deles estágios em
Portugal na tentativa de colmatar esta lacuna. Ressalto ainda a oportunidade de realizar o estágio de
Reumatologia no Instituto Ortopedico Rizzoli, hospital europeu de referência na área de Reumatologia.
Ainda no âmbito da formação internacional realizei, no verão de 2018, inserido no programa de intercâmbios
clínicos da International Federation of Medical Student’s Associations [Anexo4], um estágio de 1 mês, em
Emergência Médica, em Arequipa (Peru). No Hospital de Yanahuara, público-privado, encontrei doentes
ventilados há 3 meses num corredor do SU, uma unidade de cuidados intensivos onde a maioria dos doentes
acabou por falecer porque a família não tinha possibilidade de cobrir os custos inerentes à sua terapêutica,
casos clínicos peculiares e uma população ainda envolta em mitos Incas, que nega qualquer base orgânica
para a doença mental e que apresenta uma imensa resistência a abordagens terapêuticas fora da medicina
alternativa. Foi um choque cultural, mas uma experiência que jamais esquecerei. Deparei-me com um
serviço de saúde com pouquíssimos recursos, mas repleto de profissionais empenhados em ensinar– e
também advertir (por trocar de luvas entre doentes, era um desperdício…) – que todos os dias me
relembravam que a semiologia será sempre o meu melhor aliado.
Regressei da América do Sul para o primeiro dia de estágio do 6º ano, aquele que tem como função ser uma
ponte suave entre duas realidades díspares - o mundo académico e o mundo laboral. Recordando os
objetivos inicialmente definidos, considero que o estágio de Medicina Geral e Familiar e Medicina Interna,
pela autonomia que me foi concedida e pela completa integração numa equipa multidisciplinar,
possibilitaram amplamente o cumprimento da grande maioria dos mesmos, sendo a prescrição terapêutica
a área onde, invariavelmente, me continuo a sentir menos apta. Não posso deixar de referir que, em ambos
os estágios, a frequência de sessões formativas ficou aquém do esperado. Não obstante, participei, ao longo
do ano, em algumas sessões externas sobre temas que considerei relevantes, em diferentes áreas.[Anexo 8] Se
inicialmente a ideia de realizar o estágio de Medicina Interna num hospital privado me deixou insegura, em
relação à possibilidade de cumprir as expetativas que tinha para este período, reconheço agora que foi de
todos os estágios profissionalizantes do sexto ano, o mais gratificante. A possibilidade de acompanhar de
forma tão próxima o doente, com uma multiplicidade de patologias, avaliando diariamente a sua evolução,
permitiu-me praticar aspetos basilares da formação médica. Paralelamente, pude conhecer a prática clínica
num hospital privado, obtendo uma visão ampla acerca dos cuidados de saúde em Portugal. Algumas
disparidades foram facilmente identificadas, nomeadamente no que diz respeito às condições físicas,
relação família-médico, participação de seguradoras, estruturação de serviços e facilidade de acesso a
exames complementares, bem como a celeridade na obtenção de resultados. Contudo, considero que estes
últimos pontos conduzem a alguma displicência no pedido de meios complementares de diagnóstico,
principalmente em contexto de SU. O rácio 1 aluno:1 tutor dos estágios supracitados, bem como nos estágios
de Ginecologia e Obstetrícia e Saúde Mental, é sem dúvida um privilégio que facilita o ensino orientado para
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a prática. Contrariamente, o rácio de 3:1, em Cirurgia Geral é uma limitação clara à autonomia e
desenvolvimento de competências. Concomitantemente, o facto de o serviço ter muitos internos, diminui a
possibilidade dos alunos de 6ºano desenvolverem uma atividade interventiva e autónoma no dia a dia da
enfermaria cirúrgica, ficando este ponto bastante aquém das expetativas e objetivos iniciais. Ainda neste
estágio, apesar de útil para a nossa formação, a semana no SU reduz o tempo de contacto com a
especialidade cirúrgica e como tal a sua calendarização deveria ser repensada. Ainda dentro da organização
dos estágios, seria benéfico que, em Pediatria e Saúde Mental – onde invariavelmente ficamos alocados à
subespecialidade de um tutor - os alunos pudessem alternar, pelo menos 1 semana, com outra
subespecialidade, enriquecendo assim o período de aprendizagem. Desenvolver a relação médico-doente
em populações específicas -grávidas (em obstetrícia e cuidados primários), crianças (pediatria e cuidados
primários), idosos e população com doença mental, presente de forma transversal dos cuidados primários à
prática hospitalar - foi um objetivo globalmente cumprido. Algumas das limitações identificadas neste
âmbito foram (1) dificuldade em enquadrar a agenda médica, invariavelmente mais objetiva e sistematizada,
na agenda do doente, para cumprir os limitados tempos de consulta (2) imaturidade dos mecanismos de
coping na abordagem do doente em fim de vida. Relacionar-me, ao longo deste ano, com populações tão
heterogéneas permitiu-me refletir sobre algumas problemáticas dos cuidados de saúde em Portugal:
excesso de peso/obesidade infantil, espelhando a necessidade premente de investir na modificação de
comportamentos/estilos de vida das famílias portuguesas; motivos injustificados de recurso ao SU, que
traduzem gastos facilmente alocáveis a outras carências; número alarmante de utentes dependentes de
benzodiazepinas, para sintomatologia ansiosa ou patologia do sono; dificuldade em criar soluções pós-
internamento para a população idosa, principalmente com doença mental- apesar do esforço feito, em
contexto hospitalar, para abordar multidisciplinarmente o doente, aplicando-se uma medicina centrada no
mesmo, com o objetivo de recuperar a sua funcionalidade, a rede de cuidados continuados é de muito difícil
acesso e muitas famílias não têm poder económico para sustentar um lar - ou não têm qualquer interesse
em cuidar de um familiar com doença psiquiátrica - o que culmina em longos internamentos sociais.
Globalmente esta foi uma experiência muito positiva e enriquecedora. Concluo com a certeza de que esta
viagem, que agora termina, é apenas o começo de outra. Ver o que não foi visto, ver outra vez o que já se
viu. Resta-me agradecer a todos os que, de alguma forma, se cruzaram comigo ao longo deste período e que
com simpatia e generosidade, contribuíram para a minha formação pessoal e profissional.
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4. Anexo 1 | Organização dos estágios parcelares e trabalhos realizados
Organização dos estágios parcelares
1
º Se
me
stre
Especialidade Tutor Local Período
Ginecologia e Obstetrícia
Dr.ª Luciana
Patrício Dr.ª Adriana Franco
Hospital de Vila Franca de Xira
10.09.2018
a
05.10.2018
Saúde Mental Dr. João Reis Centro Hospitalar
Psiquiátrico de Lisboa
08.10.2018
a
02.11.2018
Medicina Geral e Familiar
Dr.ª Fernanda Fonseca
USF LoureSaudável
05.11.2018
a
30.11. 2018
Pediatria Dr.ª Catarina Diamantino
Hospital de Dona Estefânia
03.12.2018 a
11.01.2019
2
º Se
me
stre
Cirurgia Geral Dr.ª Rita Roque Hospital Beatriz
Ângelo
21.01.2019 a
15.03.2019
Medicina Interna
Dr.ª Inna Kozyar Hospital CUF Descobertas
18.03.2019 a
17.05.2019
Trabalhos realizados e autores
Ginecologia e Obstetrícia
Prevenção Primária e Secundária em Ginecologia | Revisão Teórica Filipa Pereira, Inês Santos, Marta Ribeiro
Saúde Mental Episódio de Psicose aguda em contexto de demência | História Clínica
Medicina Geral e Familiar
Pé Diabético | Folheto para o Utente
Pediatria Pneumonia adquirida na Comunidade | História Clínica APPS na Doença Crónica | Revisão Teórica Inês Santos, Maria Inês Paulo, Marta Ribeiro, Sofia Bragança
Cirurgia Geral Doutor, posso engravidar? | Revisão Teórica e Caso Clínico Ana Carolina Antunes, Marta Ribeiro, Pedro Riesenberger
Medicina Interna Linfoma de Hodgkin | História Clínica Síndrome Febril Indeterminado | Revisão Teórica e Caso Clínico Inês Pires, Marta Ribeiro
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5. Anexo 1 | Experiência Clínica Nacional: PECLICUF – Enfermagem e Neonatologia
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6. Anexo 3 | Experiência Clínica Internacional: Programa Erasmus +
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7. Anexo 4 | Experiência Clínica Internacional: IFMSA
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8. Anexo 5 | Cargos Exercidos: Comissão Organizadora do Hospital da Bonecada
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9. Anexo 6 | Cargos Exercidos: iMED Crew
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10. Anexo 7 | Cargos Exercidos: Contact Person - Programa de Intercâmbios Científicos e
Clínicos AEFCM
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11. Anexo 7 | Voluntariado
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12. Anexo 8 | Conferências
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