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Universidade de Brasília
Núcleo de Direito Setorial e Regulatório
Grupo de Estudos em Direito das Telecomunicações
Carlos Moraes de Jesus
RELATÓRIO: SEMINÁRIO
POLÍTICAS DE
(TELE)COMUNICAÇÕES
2017
(Tele)Communications Policy is an event organized since 2006 by Teletime News and the University of Brasilia Communications Policy Research Center (CCOM/UnB). It opens the political discussions season on telecommunications in Brasilia, catalyzing Brazil's federal agenda in an environment of selected government/industry/nonprofit/academic audience.
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Contents
O SEMINÁRIO: Samuel Possebon 5
Mesa de Abertura 5
As prioridades e a agenda políííítica para 2017 6
André Borges - Secretário de Telecomunicações MCTIC
A Agenda Regulatóóóória para 2017 8
Juarez Quadros – Presidente da Anatel
Os ajustes regulatóóóórios ao novo modelo 11
Igor de Freitas – Conselheiro da Anatel
As polííííticas para a conectividade plena na era digital 15
Carlos Blanco – VP global da Telefônica
Conteúúúúdos e infraestrutura: universos em consolidaçãçãçãção 19
Alexander Patêz – Superintendente de Análise de Mercado da Ancine
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Programa - Seminário Políticas de (Tele)comunicações 2017
Terça-feira, 14/02/2017
09h00 – 09h30
Abertura
9h15 – 10h30
As prioridades e a agenda política para 2017 Nesta sessão, o Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações apresenta a agenda política e responde a questionamentos do setor empresarial, academia e sociedade civil sobre temas como as políticas públicas para a banda larga, a agenda política para o setor, a transição para a TV digital e as políticas de radiodifusão, as abordagens regulatórias para a Internet e a política industrial do setor.
Palestrante Ministro Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações)
Debatedores Prof. Murilo César Ramos (pesquisador, CCOM/UnB) Samuel Possebon (editor, TELETIME)
11h00 – 11h30
A agenda regulatória de 2017 Nesta apresentação, serão abordados os projetos prioritários da Anatel para o ano de 2017 e a agenda de regulamentos a serem alterados.
Palestrante: Juarez Quadros (presidente, Anatel)
11h30 – 12h30
Os ajustes regulatórios ao novo modelo Para a implantação do novo modelo de telecomunicações, há a necessidade de uma regulamentação da Anatel sobre o novo marco legal, a definição dos critérios de cálculo dos valores decorrentes da transformação das concessões em autorizações e a definição sobre o tratamento a ser dados às obrigações legadas. O que esperar?
Palestrante: Igor de Freitas (conselheiro, Anatel)
Debatedores Márcio Iório (CCOM/UnB) Ivan Pacheco Rogedo (diretor da Seinfra, TCU) Arthur Coimbra (diretor de banda larga, MCTIC) Marco Schroeder (presidente, Oi) Mário Girasole (VP assuntos regulatórios, TIM Brasil) Representante do TCU
14h00 – 15h30
As políticas para a conectividade plena na era digital Como ficam as políticas de massificação ou universalização do acesso à Internet com o fim do regime público? De que maneira os formuladores de políticas podem conciliar seus planos nacionais de banda larga com um ambiente em que os investimentos privados prevalecem?
Palestrantes: André Borges (Secretário de telecomunicações, MCTIC) Carlos Blanco (VP global de assuntos regulatórios, Telefônica) Marcos Dantas (Pesquisador, Universidade Federal Rio de Janeiro)
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Programa - Seminário Políticas de (Tele)comunicações 2017
Terça-feira, 14/02/2017
Ana Valadares (diretora de políticas de infraestrutura, Facebook) Representante do setor de Internet Representante da academia
16h00 – 17h30
Conteúdos e infraestrutura: universos em consolidação Em muitos países empresas de infraestrutura de telecomunicações estão se consolidando com empresas de conteúdo. É esta uma resposta ao avanço das empresas de Internet? É uma tendência global ou um movimento localizado de alguns grandes players? De que maneira isso se reflete no Brasil?
Palestrantes Carlos Baigorri (superintendente executivo, Anatel) Paulo Tonet (presidente, Abert) Representante da Ancine
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O SEMINÁRIO: Samuel Possebon
O Seminário Políticas de (Tele)Comunicações é um evento que a Converge realiza há 16
anos em parceria com a TELETIME e o Centro de Estudos de Políticas de Comunicações da
Universidade de Brasília (CCOM-UnB). Por isso mesmo, é um evento independente, mas um
evento que traz uma perspectiva crítica, uma perspectiva analítica para além daquilo que se debate
normalmente nos eventos setoriais que congregam aqueles que fazem o dia-a-dia do setor de
comunicações. É um evento que consegue reunir no mesmo ambiente não só empresários, mas
também representantes da sociedade civil, pesquisadores e analistas do setor, que estão interessados
em debater com formuladores de políticas e com reguladores quais são as perspectivas para o setor
de telecomunicações e a agenda regulatória para o ano que se abre naquele momento do evento.
Na edição de 2017, enfocou-se uma reflexão sobre o novo modelo de telecomunicações, os
desafios que se colocam à regulação dos serviços digitais e políticas públicas com foco na
conectividade, as referências internacionais, a agenda político-regulatória do ano e a tendência de
consolidação entre empresas de mídia e infraestrutura.
Mesa de Abertura
A mesa de abertura foi composta por Márcia Abrahão, reitora da Universidade de
Brasília, Professor Doutor Márcio Iório, Diretor do Centro de Políticas, Direito, Economia e
Tecnologias das Comunicações da UnB (CCOM/UnB) e do Núcleo de Direito Setorial e
Regulatório (NDSR/FD/UnB) e Samuel Possebon, Diretor Editorial da Teletime. Na oportunidade,
a reitora destacou a Unb como espaço social neutro de debate sobre as políticas de
telecomunicações e o Professor Iório destacou a relevância dos desafios para o setor que se
anunciam já nesse ano e enalteceu o Professor Murilo Cesar Ramos, que foi o idealizador original
desse projeto a que hoje damos continuidade.
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As prioridades e a agenda política para 2017 Nesta sessão, o Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações apresenta a agenda política e responde a questionamentos do setor empresarial, academia e sociedade civil sobre temas como as políticas públicas para a banda larga, a agenda política para o setor, a transição para a TV digital e as políticas de radiodifusão, as abordagens regulatórias para a Internet e a política industrial do setor.
Possebon convidou o Secretário de Telecomunicações, André Muller Borges, para
representar o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. O Secretário iniciou
agradecendo em nome do Ministro Gilberto Kassab, passando a apresentar a agenda do Ministério
para esse ano.
Destacou a diretriz de orientar a conectividade em banda larga, sem perder na conectividade
de voz. Afirmou que os mecanismos da LGT foram bem sucedidos na universalização do Sistema
de Telefonica Fixa Comutada – STFC, mas trouxe números da PNAD apontando que 98% dos
domicílios possuem celular, havendo progressiva redução da participação da telefonia fixa. Citou o
PLC 79/2016 como materialização da necessidade de fomentar a conexão de banda larga, fazendo
referência ao valor econômico de conversão do regime de prestação, corresponde à diferença entre
o valor esperado pelo regime de autorização e de concessão. Essa estratégia eliminaria o risco de a
União ter efetuar desembolsos par manter o equilíbrio econômico dos contratos de concessão e
arcar com recursos próprios para prestação do serviço.
Quanto às políticas de investimentos, destacou as redes de acesso de alta capacidade em
todas as sedes municipais até 2019, com redes backhaul compartilhadas. Estações rádio base em
municípios não sede para conexão à internet, sendo diretriz a instalação de ERBs para atender
comunidades e não mais para cobrir áreas. Priorização de redes 3G ou superior disponíveis em
todas as cidades do país até 2019 e instalação do 4G em sedes municipais com menos de 30 mil
habitantes, tecnologias cujo acesso tipicamente realizado por telefones celulares as torna mais
acessíveis à população. Investimento de redes de fibra óptica para acesso fixo, priorizando redes de
alta densidade populacional e cobertas por estruturas de alta capacidade de dados em fibra óptica.
Nesse ponto destacou que o Ministério já implantou 71 cidades digitais e migrará para um novo
modelo previsto chamado Cidades Inteligentes, de modo a expandir o uso das redes por serviços
inteligentes, a exemplo de serviços de vigilância. Expansão do programa prevista a partir de
emendas parlamentares ou contratações diretas pelo Ministério, sendo o VPL – Valor Presente
Líquido desses projetos (somatório de fluxos de caixa descontados) de R$ 20 Bi negativos.
Destacou a possibilidade de prorrogação das outorgas no PL 79/2016 e a substituição por
metas, o que evitaria que os investimentos sejam reduzidos ao final da outorga. Anunciou também
que o fim da licitação para uso de satélites facilitará o acesso ao direito de uso das órbitas junto à
UIT (o mais comum mundialmente seria a simples cobrança de taxa administrativa).
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Tratou de passagem sobre redução das taxas do Fisttel e sobre a necessidade de eliminar a
onerosidade excessiva da regulação sobre as empresas de telefonia, após avaliação do impacto
regulatório. Citou a importância de criar ambiente adequado ao desenvolvimento de IOT - internet
das coisas, a exemplo do roaming permanente e a adequação das normas governamentais a essa
realidade que se anuncia. Fez referência a revisão das regras do FUST para assegurar a expansão do
investimento em banda larga.
Em relação à Telebrás, ela continuará a receber investimento e assumirá a posição de
carrier-of-carriers além de assumir a infraestrutura passiva dos órgãos de governo, havendo
expectativa de lucro a partir de 2019.
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A agenda regulatória de 2017 Nesta apresentação, serão abordados os projetos prioritários da Anatel para o ano de 2017 e a agenda de regulamentos a serem alterados.
Esse Painel buscou trazer a visão do regulador e do setor regulado para a agenda regulatória
de 2017, de modo que a discussão esteve polarizada em torno do PLC 79/2016. Participaram os
Presidentes da Anatel, Juarez Quadros, da Telefônica, Eduardo Navarro, da OI, Marco Schroeder, e
o Professor Doutor Murilo ramos (CCOM/UnB)
Samuel Possebon iniciou questionando ao Presidente da Anatel, Juarez Quadros, se não
houve erro da Agência ao não esclarecer para a sociedade as vantagens do PLC 79/2016. O
Presidente descontraiu brincando que só possui telefone fixo porque ficava mais caro o pacote de
TV a cabo. Disse isso para exemplificar que esse serviço já não seria mais tão necessário. Além
disso, relatou empiricamente que as reclamações que são apresentadas à Anatel por intermédio dos
parlamentares são demandas de cobertura 4G em seus municípios, o que ilustraria a prioridade que
tem sido à banda larga. Na opinião de Quadros, a revisão deveria ter sido feita ainda em 2010,
quando da antepenúltima revisão, mas defendeu que ainda está em tempo. Destacou que houve
acidente de percurso no fluxo de aprovação, mas que não abordaria aspectos de outros Poderes,
bastando afirmar que a equipe da Anatel estava integralmente compenetrada na necessidade de
revisão do modelo.
Destacou que a LGT, em seu tempo, foi uma legislação bastante progressista e que sinalizou
uma série de políticas públicas do governo federal para o setor. Após a aprovação do PLC, faltará a
definição pelo Ministério - e não pela Anatel - de definição das políticas públicas decorrentes da
Lei. Deu exemplo sobre uma hipotética política pública para assegurar cobertura nas rodovias do
país.
Quadros afirmou que não gosta de tratar conjuntamente o instrumento do Termo de
Ajustamento da Conduta - TAC e a proposta da mudança do modelo. Segundo ele, costuma-se
compreender equivocadamente que o TAC é perdão, na verdade as companhias seriam penalizadas
(exemplo: multas de 2,2 Bi e acréscimo de 2,7 Bi). Quanto ao número de 100Bi anunciado na
mídia, não seria verdadeiro e tem atrapalhado o andamento do projeto. O critério a ser adotado
consistirá no fluxo de caixa descontado e não no valor patrimonial, cujos cálculos serão feitos por
grandes empresas de consultoria e apresentado para o TCU para apreciação, do mesmo modo como
feito quando da alienação das ações do Sistema Telebrás. O essencial é encontrar o preço justo para
a transição e atratividade para migração das operadoras.
Samuel Possebon passou a palavra para Marco Schroeder, Presidente da OI, e provocou
questionando se esse ambiente de recuperação judicial, acrescido de mais 100 Bilhões, resolveria o
problema da empresa. Schroeder afirmou que essa questão dos 100 Bi criou uma ficção. O que há é
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a relação de bens reversíveis, que são das empresas e podem ser adquiridos pelo Estado ao final
para nova concessão, existindo o acompanhamento desses bens conforme legislação, mas
certamente não é isso que vale. Na visão da empresa, a futura Lei não interfere da renegociação da
dívida no âmbito da recuperação judicial, existindo benefício na migração, mas deve-se discutir a
rentabilidade do setor, que não gera o retorno apropriado para o capital aplicado.
Samuel: - Navarro, você acompanhou como consultor da McKinsey o processo da
privatização, os pilares da competição e da universalização podem ser mantidos fora do regime
público?
Navarro respondeu que é uma falácia a afirmação de que “agora as licenças serão dadas de
forma perpétua”, o que existe é a previsão de prioridade ao atual detentor da licença, que pode ser
renovada após nova definição do valor mínimo pelo governo. Essa mesma sistemática é adotada na
Inglaterra, no Canadá e em outros países de reconhecida austeridade regulatória. Com relação à
pergunta, avançou-se muito mais com suporte no regime privado do que no regime público, devido
a uma série de aspectos, inclusive tecnológicos. Destacou, ainda, que acredita na universalização
como metas estabelecidas ao setor privado, enquanto a competitividade passa por um adequado
PGMC – Plano Geral de Metas de Competição e não por um modelo público.
Agora, um pilar que não foi tratado é a sustentabilidade do modelo de negócio. Passados 20
anos, uma concessionária está com problemas financeiros, as demais com baixas margens de
rentabilidade e baixos níveis de investimento, agravados por obrigações no STFC desnecessárias.
Samuel: - Secretário André Borges, existe essa possibilidade de que os fundos possam ser
geridos pelo setor privado em vez de pelo governo?
Secretário André disse que isso está no radar e que, segundo estimativas iniciais, os recursos
hoje disponíveis não serão suficientes para custear as políticas, o que indica a necessidade de criar o
fundo ou revisar o FUST (o que está encaminhado mas vai demandar um Projeto de Lei).
Samuel: - Professor Murilo, fazendo uma retrospectiva, o que deu certo e o que deu errado
para esse modelo? O que fazer para não repetir os mesmos erros?
Murilo respondeu que o modelo deu certo em muitas coisas e começou a dar errado a partir
da regulamentação do Serviço de Comunicações Digitais – SCD para aplicação dos recursos do
FUST, ao propor transformar um Fundo em um serviço e tentar construir uma realidade
completamente nova sobre as bases do regime público. Em 2009, nesse mesmo seminário, foi
discutido o futuro do regime público e já especulamos que seria um serviço móvel turbinado
prestado em regime privado (ou público). O PNBL era uma gambiarra regulatória, com baixa
chance de sucesso. Quanto ao novo modelo, discussão começou formalmente em uma consulta
pública, os acadêmicos chegaram a ser convidados para apresentar contribuições, mas o PL foi um
atalho que pode se tornar um estorvo.
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Ano passado a Divisão DTIN(?) promoveu um debate sobre bens reversíveis, sendo
evidente que não são os R$ 100 Bilhões. O problema do modelo está na necessidade de dialogar
com a sociedade, de explicar e convencer a sociedade, isso vai resultar em problema devido ao
atropelo do PLC 79/2016. Nesse ponto a batalha está perdida mas pode sofrer ajustes, a exemplo de
trabalhar para que seja regularmente votada em Plenário, para ter legitimidade mínima na aprovação
e certamente será aprovado. Evidente que deveria ter passado antes na Comissão de Infraestrutura
do Senado e da Comissão de Ciência, Tecnologia e Inovações, pelo menos para explicar melhor
para a sociedade o que se passa. Navarro destacou que atribui a mancha pela falta de comunicação
com a sociedade ao setor de telefonia como um todo e não a terceiros.
Samuel problematizou afirmando que não tem segurança de que o novo modelo de banda
larga daria certo, porque o atual não demonstra que deu. De que maneira o governo pode convencer
a sociedade de que essa mudança é salutar e interessante à sociedade? O Presidente da Anatel
destacou que veio debater as 7 prioridades entre os 56 temas da agenda regulatória para 20017, cuja
consulta pública se encontra encerrada. No entanto, assim como no Audiências Públicas de que
participou no Senado, o foco naturalmente mudou para o PL 79/2016. Disse que há anos entende
que deveria haver a mudança do modelo, pelas razões expressas na exposição de motivos da Lei,
que vale a pena ser lida. Aprendeu a não acreditar em fundos setoriais e sugeriu ler o livro do
Professor Iório que resgata bem esse histórico, mas que acredita no Fust dos Estados Unidos, que é
gerido por uma administradora privada.
O Secretário André destacou que não sabe como mudar a narrativa, mas que as
contribuições das Audiências Públicas foram compiladas, o grupo de trabalho encerrado e estão
disponíveis na Internet. Além disso, o resultado da compilação fora disponibilizado aos Senadores e
Deputados, e que o principal é se manter vinculado aos dados e fatos demonstrados.
Já os representantes das empresas destacaram que a mudança da narrativa deve primar pela
transparência, discutindo os pontos que não estão claros, inclusive que os que defendem possam
demonstrar a metodologia que chega nos 100 bilhões, buscando em última instância a criação de um
ambiente em que as regras sejam claras para investimento pelas teles.
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Os ajustes regulatórios ao novo modelo Para a implantação do novo modelo de telecomunicações, há a necessidade de uma regulamentação da Anatel sobre o novo marco legal, a definição dos critérios de cálculo dos valores decorrentes da transformação das concessões em autorizações e a definição sobre o tratamento a ser dado às obrigações legadas. O que esperar?
Participou como palestrante pela Anatel o Conselheiro Igor de Freitas, também integrando a
mesa de discussões o Vice-Presidente de Assuntos Institucionais e Regulatórios da TIM Brasil,
Mário Girasole, o Diretor do Departamento de Banda Larga do MCTIC, Artur Coimbra, além de
Carlos Eduardo Meirelles, do Grupo OI, e o Professor Doutor Márcio Iório, Diretor do Centro de
Políticas, Direito, Economia e Tecnologias das Comunicações da UnB (CCOM/UnB) e do Núcleo
de Direito Setorial e Regulatório (NDSR/FD/UnB)
O Conselheiro Igor iniciou afirmando que a Anatel tem acompanhado as necessidades da
sociedade, mas não de um modo consolidado em um plano coeso e em documento único para ser
amplamente discutido. Quanto à mudança do modelo, o debate não deve estar centrado em quem
está ganhando com essa mudança, mas em deixar claras as vantagens para a sociedade, valorar
quanto custa essa mudança e esclarecer quem vai pagar por ela. Citou também uma parceria
desenvolvida com o IPEA para avaliar os efeitos do investimento em banda larga.
Comentou que esteve na Itália para conhecer o acesso aos recursos de infraestrutura de
comunicações, destacou que lá são 58 mil regiões para detalhamento dos investimentos.
Atualização da regulamentação dos contratos são prioridades para os próximos 12 meses no
trabalho da Anatel, que investiu em estrutura para melhorar o processamento das informações.
Destacou também os TACs quanto ao amadurecimento dos critérios de reinvestimento das multas.
Samuel questionou ao Artur, representante do MCTIC, se o Ministério trabalha com uma
conta de chegada ou de partida para precificar a mudança do modelo de banda larga. Artur que um
pouco dos dois, que o modelo ideal sairia muito caro, cabendo ao Executivo estabelecer as
prioridades da política, daí sim fazer uma conta de chegada para assegurar o resultado pretendido.
Nesse ponto, retomou o que o Secretário comentou de 20 Bi negativos de fluxo de caixa descontado
(VPL), já alinhados com valores dos TACs e obtidos com as outorgas.
Samuel questionou que papel cabe a cada um dos perfis de empresas entre OI (maior
concessionária) e TIM (quase exclusivamente móvel). Na visão de Mário Girasole, representante da
TIM, o PL 79/2016 é um texto legislativo bem escrito, por ser um texto suficientemente geral, com
ductibilidade legislativa suficiente para estabelecer as diretrizes sem amarrar as soluções de
mercado. É uma evolução legislativa, que pode atualmente ser traduzida em “PL e VPL-Valor
Presente Líquido”. O valor fica condicionado à clara definição dos gaps de serviços e respectivos
valores a serem assumidos pelas autorizatárias, contrapondo-os aos valores das renovações. É
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necessário separar as áreas com atratividade econômica e sem atratividade econômica, porque as
com atratividade as empresas naturalmente investirão. Retomou a fala do Secretário sobre implantar
infraestruturas em comunidades carentes, destacando que deve haver uma previsão de
compartilhamento de estruturas sem prever feriados regulatórios (períodos sem a exigência de
metas e compromissos), com investimento em projetos sistêmico. Ressaltou a necessidade de
neutralidade competitiva da transição, isso porque pode haver ganhadores e perdedores desse
processo e que a reversão em investimentos – incluídos os TACs - pode gerar uma vantagem
competitiva que prejudique o equilíbrio de mercados, embora existam instrumentos regulatórios
para que isso não aconteça. Destacou também que a renovação de radiofrequências deveria entrar
nessa conta, e que ninguém está dizendo que seria de graça (na primeira é por renovação, embora a
segunda seja leilão).
Por fim, sugeriu que elaborar projetos em termos setoriais pode ajudar a criar a nova
narrativa solicitada pelo professor Murilo.
Samuel: - Carlos Eduardo, o que entra e o que não entra nessa conta, qual a visão da Oi
sobre essa discussão?
Carlos Eduardo iniciou por uma analogia afirmando que o Brasil hoje possui 30 mil km de
trilhos, 130 mil km de cabo de energia em alta tensão, 1,7 milhões quilômetros de estrada, dos quais
apenas 200 milhões são pavimentados. Só a Oi em rede de transporte possui 275 mil quilômetros de
fibra óptica, subindo para 350 mil se incluirmos regiões metropolitanas. Reforçou a fala do
presidente Quadros de que já perdemos o timing e outra fala no evento de que mesmo a mudança
ocorrendo já estamos 10 anos atrasados. Leu trecho do Acórdão TCU 464/98, que trata da
metodologia de cálculo do valor presente de resultados futuros da empresa, e do Acórdão
2275/2009, que afirmaria que a reversibilidade de bens não tinha função de garantir ressarcimento
ao estado, mas de assegurar a prestação do serviço, e que os bens reversíveis eram privados e foram
trazidos ao regime de concessão para garantir a prestação dos serviços, devendo seu valor ser
calculado pela vida útil.
A Oi fez um modelo de clusterização alinhado ao da Anatel e propõe utilizar o saldo da
concessão no Cluster 3 da Anatel, utilizando o fundo público para alcançar áreas mais remotas. O
Brasil hoje anda a passos largos em modelos de custos, mas existe um pêndulo regulatório entre
incentivar investimentos em novas redes (citou IPMGM na OI) e estimular a concorrência, não
afastados meios para regular espaços de não competição. O equilíbrio desse pêndulo resulta na
sustentabilidade do modelo. Os bens reversíveis em si entram como um ajuste dos valores as serem
obtidos no futuro.
Samuel: Professor Iório, quais os pontos a serem tratados inicialmente, por onde começar?
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O Professor Iório manifestou a necessidade de iniciar esclarecendo a proposta de modelo.
Que modelo é esse? Falamos dele como se fosse algo claramente identificado. Um dos
pesquisadores consultados é defensor das concessões e o outro possui verdadeira aversão ao modelo
público. A dita ductibilidade é possível até o ponto em que passa a ser discutido o STFC. O engasgo
está em como o modelo será baseado na confiança no mercado, um dos problemas da narrativa é
que propriamente não há um modelo de regulação para STFC, pois está embasado em um
regulamento rígido sem espaço para regulação enquanto o serviço móvel encontra-se suportado pela
evolução regulatória. Quando já partimos no nosso discurso dizendo que estamos implementando
uma revisão de modelo, pressupomos que existiria efetiva regulação no STFC.
Outro ponto é que não temos fé nesse modelo. O papel do parlamento é de definir políticas
gerais, mas compete à agência adotar as soluções para os casos específicos, inclusive quanto a
mudanças de regime. Se realmente o modelo regulatório fosse bem percebido pela sociedade, a
notícia dos 100 bilhões de bens reversíveis seria bem recebida pela sociedade. Destacou que os bens
reversíveis significam um custo para o público, mas patrimônio para o privado. Isso porque há o
custo de indenizar no caso de efetiva reversão ao estado, o que consiste em outra falha na atual
narrativa. Afirmou que um dos artigos do PLC 79/2016 inverte a lógica do artigo de obrigatoriedade
de prestação de serviços essenciais em regime públicos, de onde vem a crítica de inversão do
modelo. No entanto, isso nunca foi aplicado porque vários serviços que podem ser facilmente
caracterizados como essenciais à sociedade são hoje prestados em regime privado. A narrativa
apresenta contradições intestinas.
Samuel retomou a palavra afirmando que o modelo que prevalecer, dentro das contradições
intestinas citadas, deve ajustar as pontas que ficaram soltas. Segundo ele, Prêmio Nobel em
economia afirmou que uma intervenção estatal é sempre essencial, mas deve se apoiar em um leque
de opções regulatórias. Se é retirado um dos instrumentos, o contrato de concessão, retiro um dos
instrumentos da Agência Reguladora segundo parâmetros estabelecidos pela própria Agência.
Intervindo na fala, o Conselheiro Igor destacou que é necessário entender o que seria revisão do
modelo. Para uma pesquisa conceitual pode não ser propriamente uma revisão, mas falar em revisão
do modelo é importante do ponto de vista do debate público, visto que consistem em uma
abordagem bastante distinta da atuação da Agência Reguladora em relação ao modelo definido em
1997.
Prosseguiu o Conselheiro afirmando que a Anatel não perdeu a competência para revisão do
modelo e para que Poder Executivo e Anatel conduzam o processo. No entanto, a contribuição do
PL não é evitar a ilegalidade, mas existe uma dificuldade em transformar as normas legais em
projetos concretos. Se o PL não existisse, a mudança poderia acontecer de qualquer modo, mas é
uma questão de legitimidade do modelo e que a Anatel deve estar atenta para implanta-lo.
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Discordou da interpretação conferida ao artigo 66, com relação a essencialidade e a escolha
discricionária do Estado de se tornar responsável por executar serviços de banda larga diretamente.
Portanto, discordou que o serviço de banda larga seria um ato vinculado do poder público. A Anatel
precisa definir o espaço de mudança e submeter a legitimação conforme necessário.
Samuel: - Artur, o que se espera dessa infraestrutura que está sendo construída? Segundo
Artur, o primeiro objetivo é levar banda larga onde não existe, isso porque estudos econométricos
do IPEA mostram que chegar com banda larga em novas localidades representa um ganho muito
maior do que aumentar a banda em localidades onde já existia. Essa é a diretriz da política. O
Instrumento regulatório ficará a cargo da Agência, ótimo se o PGMC atender, mas se entender
necessário um regulamente específico, isso caberá a ela. Já teve vários contatos com representantes
da FCC sobre acesso ao fundo de universalização, sendo impostas regras de compartilhamento para
que estejam essencialmente à disposição do público.
Segundo Carlos Eduardo, a posição da OI é simples, não existe transferência de recursos
entre empresas, mas podem existir práticas para regulamentar o uso compartilhado de redes, de
abertura das fibras. O FCC estabeleceu desinvestimentos durante 3 anos e depois retornou. Grécia e
Itália são as mais atrasadas em termos de compartilhamento das redes. Para fomentar o crescimento
de novas redes, já considerando as políticas de competição da Anatel, são necessárias regras de
atacado mais claras.
Segundo Mário Girasole, representante da TIM, o PGMC, ao separar a regulação entre
atacado e varejo, é o começo do fim, por ser incompatível do ponto de vista regulatório com ideais
de regular por camadas em regime público e privado. Citou também a gestão público-privada como
uma das possibilidades normativas da União Europeia para expansão das redes, garantida a
competição. Destacou como maior prioridade levar banda larga em lugares não alcançados, seguida
pela universalização do 3G e depois pela expansão do 4G. Além da análise integrada do diagnóstico
do que está faltando (citada pelo conselheiro Igor), porque não ir além e pensar no Planejamento
Integrado da expansão da cobertura? Quando governo e setor privado planejam em conjunto, não
tem como não ser obtida excelência. O representante da TIM destacou que a equação com recursos
públicos é completamente diferente daquela com recursos privados.
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As políticas para a conectividade plena na era digital Como ficam as políticas de massificação ou universalização do acesso à Internet com o fim do regime público? De que maneira os formuladores de políticas podem conciliar seus planos nacionais de banda larga com um ambiente em que os investimentos privados prevalecem? Participaram desse painel André Muller Borges, Secretário de Telecomunicações do
MCTIC, Carlos López Blanco, VP global de assuntos regulatórios da Telefônica, e o Professor
Doutor Marcos Dantas Loureiro, da Universidade Federal Rio de Janeiro - UFRJ, Erich Rodrigues,
Presidente da Abrint (provedores regionais) e Gilberto Souto Mayor, Diretor de Regulação do
Grupo América Móvil.
Carlos Blanco iniciou destacando que a pergunta que se impõe é se podemos chamar essa
mudança que está ocorrendo de uma verdadeira revolução digital. Entende que sim, porque a
revolução está em alcançar a todos e influenciar na vida de todos, sejam as nações ricas ou em
desenvolvimento. Para ser competitivo no século XXI, é necessária estrutura de comunicações
suficiente e o Brasil a possui.
Nos último anos são vistos 4 modelos fundamentais de regulação, destacando-se o Modelo
Americano (a partir de 2013 decide estimular a infraestrutura) e o modelo europeu (competência,
maior regulação).
A nova administração americana deve dar um giro na política regulatória, convergindo com
a União Europeia. Sem querer adentrar no debate brasileiro do papel fundamental do estado
regulador na opção entre concessão e autorização, destacou que todo o processo de
desenvolvimento das comunicações na Europa tem a ver com a substituição das concessões pelas
autorizações. A comissão europeia do ano 2000 estabeleceu como prioridades políticas a Agenda
Digital e mercado digital único, para tentar recuperar a força da União Europeia no
desenvolvimento das telecomunicações. O novo objetivo após revisão dos Códigos das
Telecomunicações passou a ser impulsionar as redes de alta capacidade. Já os objetivos políticos
incluem incentivos à inovação, simplificar e harmonizar o espectro, visão global da economia
digital. Como principais medidas: fomentar redes de fibras, definir conceito de comunicações
eletrônicas, entre outras. Para isso é necessário entender a ambição regulatória, de modo que uma
mudança radical na regulação do acesso supõe uma troca de filosofia: da competição para o
investimento. A partir daí, é possível introduzir mecanismos de flexibilização da regulação
orientados ao incentivo a redes de fibra.
Quais as chaves do bem-sucedido modelo espanhol e português? Marco regulatório flexível.
Na Espanha, quando um operador chega a um edifício não atendido, ele podia servir a todo o
prédio. Mas se um outro operador quer entrar naquele prédio, ele pode pagar metade do
investimento, o mesmo para o terceiro e assim por diante. É importante que os operadores cheguem
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a acordos entre eles, sem necessidade de estabelecer mecanismos de mediação pelo regulador. Isso
resultou em um avanço incrível na expansão das infraestruturas de fibra óptica na Espanha.
O segundo elemento que gostaria de destacar reside no fato de que essa é primeira vez que o
mesmo regulamento se aplica às empresas de telefonia e as empresas de internet, isso passa pela
definição do conceito de comunicações eletrônicas.
Outros dois elementos: para o espectro foi definido um novo regime com a racionalização
das condições de licenças, homogeneização e com serviços básicos regidos por pressupostos
públicos. O resultado de todo esse modelo responde ao desafio do desenvolvimento da sociedade
digital. É possível enxergar daí uma política para a América Latina, possuindo o Brasil um papel
essencial nessa sinalização regional. Reforçou que não sabe emitir opinião sobre o caso específico
do Brasil, mas a experiência Europeia é de que a migração para a autorização foi um passo essencial
para o bom resultado na expansão da rede de fibra óptica.
O Secretário André destacou a necessidade de conferir segurança para atrair datacenters para
o país, de buscar simetria regulatória entre empresas de telefonia e de internet, mas a premissa é
trazer a infraestrutura do país para o século XXI.
O Professor Marcos Dantas registrou que possui uma narrativa, um local de fala acadêmico,
que lhe permite observar os vários atores, interesses por trás das mais diversas narrativas, sendo
relevantes a questão da infraestrutura e da universalisação (assegurar o direito de acesso). Um
segundo debate é a característica que a internet está adquirindo para formação da opinião, mas
avançando também sobre a própria visão de mundo profunda. Portanto, precisamos pensar na
internet para além do simples tráfego de dados em massa, mas como o substituto da televisão e do
rádio como o grande comunicador social. Ela nasceu de um ponto de vista acadêmico, cartesiano,
de engenharia. Antigamente nós entrávamos na internet, hoje em dia estamos na internet assim que
acordamos, pessoas postando, lendo, compartilhando, sendo um vasto espaço de mercado. Ao
mesmo tempo em que esse é o espaço comunitário e colaborativo, as grandes entidades da internet
lucram definindo o melhor conteúdo, a melhor música, o melhor filme, o melhor livro.
Os atores sociais e econômicos vão moldando esse processo, taxistas e motorista de Uber,
netflix desregulado e canais de televisão regulados, whatsapp com sistema de mensageria eletrônica
e empresas de telefonia sem receberem por isso. Em uma visão por camadas, temos a Camada de
Telecomunicações, Camada de Internet e uma terceira camada (OTT – camada de conteúdos.
Audiovisual típico sobre o streaming, plataformas de redes sociais, mecanismos de buscas). É
necessário estar atento ao poder de mercado dessas entidades.
Samuel: - Gilberto, para onde as políticas deveriam apontar na visão de um grande operador
como a América Móvil? Samuel, a verdade é que a internet nunca foi a prioridade. A carga
tributária é de 50%, equivalente à de cigarros. Outros exemplos são o estabelecimento de metas de
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cobertura rural, as situações em que a concessionária quer vender um prédio vazio e não pode
mesmo que seja para investir em internet. Depois do marco civil da internet, um dos problemas das
startups brasileiras são a carência de instrumentos de funding. O Fust possui bilhões e bilhões pagos
mas nunca alterada a finalidade para investir em estrutura de internet.
Já Erich destacou um estudo para acesso a pequenos provedores em cidades de até 30 mil
habitantes, o testemunho é de que nos último 3 anos não conseguimos avançar na universalização
da banda larga no país. As 230 maiores cidades concentram 77% das conexões de banda larga do
país. Essas outras pessoas estão ao largo do nosso desenvolvimento. A meta era cobrir 95% da
população de fibra óptica, antes eram 48% das cidades cobertas, hoje já são 53% com a expansão
atribuída aos provedores regionais. O único pedido é a criação de um fundo garantidor para permitir
que tomassem empréstimos do BNDES. Independente do fundo garantidor, as provedoras regionais
têm avançado. Mais de 40% das conexões em banda larga fixa tem sido feitas pelos provedores
regionais. A posição sobre o PLC 79/2016 é de cautela na aplicação desses recursos, de não haver
subvenções diretas ou indiretas para cobertura em localidades já atendidas por provedores regionais.
Além disso, é importante que o regulamento de compartilhamento seja compatível com as práticas
hoje já adotadas, porque já existem algumas experiências de compatilhamento de infraestrutura.
Possebon: - Carlos, na realidade europeia, você vê a possibilidade de que as empresas de
internet invistam em infraestrutura de telecomunicações? Apesar de existirem alguns projetos de
compatilhamento de infraestrutura com provedores, ele não vê nenhuma dessas empresas se
envolver com infraestrutura. Estamos em um momento fundacional do mundo digital e estamos nos
perguntando que regras devem ser seguidas. Dentro de 5 a 10 anos, o mundo digital será o único
mundo, para além do analógico. A questão não é como regular o mundo digital, mas como
preservar os princípios individuais da democracia, constitucionais, no mundo digital.
Possebon: - André, qual a perspectiva vista pelo governo brasileiro? A perspectiva é de
fomentar novos entrantes, mas não acredita em provedores de internet investindo em infraestrutura.
Isso é o negócio das empresas de telecomunicações. Com a revisão do modelo e a junção do plano
de conectividade, cidades inteligentes (será editado em substituição ao Cidades Digitais. O
município contratará esse serviço de um provedor). Existia a expectativa de criar fundos de baixa
liquidez, mas chegou à conclusão de que precisa de recursos financeiros. O fundo garantidor de
infraestrutura já foi aprovado no Ministério e segue para aprovação.
Samuel: - Gilberto e Marcos, no cenário da internet das coisas, as empresas de
telecomunicações vão ter um papel relevante? Gilberto respondeu que Google, facebook, nunca
vão entrar em infraestrutura. Pequenos provedores são realmente necessários para cobrir as lacunas
das grandes empresas. Mas para as teles possuírem um papel relevante, precisa haver priorização da
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internet, e com essa carga tributária é impossível. Youtube é a coisa mais ultrapassada do mundo, é
um repositório de vídeos gigantesto, mas de difícil reprodução pela estrutura de datacenters que
possui. O Professor Marcos respondeu que as teles ainda têm um papel relevante para cobrir a
infraestrutura do país. Nesse ponto, a pergunta fundamental seria sobre o papel futuro das teles no
nosso país: vão continuar num papel de integração nacional ou vão concentrar mais o que já está
concentrado?
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Conteúdos e infraestrutura: universos em consolidação Em muitos países empresas de infraestrutura de telecomunicações estão se consolidando com empresas de conteúdo. É esta uma resposta ao avanço das empresas de Internet? É uma tendência global ou um movimento localizado de alguns grandes players? De que maneira isso se reflete no Brasil?
Samuel iniciou falando sobre eventos de consolidação entre empresas de conteúdo e de
telecomunicações. Citou o caso da Vivendi, que adquiriu a GVT, que depois adquiriu participações
na Telecom Itália e passou a controlar a TIM. Participaram dessa mesa de discussão, o
Superintendente de Competição da Anatel, Carlos Baigorri, o Superintendente de Análise de
Mercado da Ancine, Alexander Patêz Galvão, o Presidente da Abert, Paulo Tonet Camargo,
Michael Hartman, deputy general counsel da DirecTV e o Professor e Advogado Marcos Bitteli.
Alexander iniciou falando sobre a teoria econômica da expansão das empresas. As empresas
buscam ganhos de escala e ganho de escopo (produzir dois produtos distintos juntos), ambos
extremamente presentes nas empresas de conteúdos, que podem ser empacotados em diferentes
formatos, gerando diferentes produtos. Integrações diagonais são características da indústria de
mídia, permitindo entregar o mesmo conteúdo por diferentes canais. Os mercados compartilham a
cadeia de produção do conteúdo, havendo uma cadeia de valor ramificada, de modo que as maiores
empresas de mídia do mundo são maiores que todo o mercado brasileiro de audiovisual.
Nem sempre a estrutura de mercados com muitos agentes econômicos são os de melhor
alocação econômica, citou setores de petróleo, gás e comunicações. No setor de mídia existe essa
concentração, mas existe uma série de complicadores do ponto de vista da política, para
fortalecimento das empresas nacional. O Telecom Act, que trata da política norte americana de
desregulação do setor de mídia, permitiu que se agigantassem e chegassem no ponto de hoje. Outro
ponto de atenção do regulador é de que a concentração em determinados setores de mídia pode
gerar a inovação.
O pluralismo foi bastante importante na política norte-americana, ocorrendo nas década de
50 com a indústria do cinema e na década de 70 nas emissoras abertas de televisão. Já os
instrumentos de segundo tipo são menos intervencionistas, sendo exemplo a distribuição dos
direitos de acesso a campeonatos esportivos europeus. Existe um processo de desintermediação da
cadeia, enxergando a produção do conteúdo como o núcleo. O terceiro movimento envolve os
novos intermediários, interfaces e curadoria.
No Brasil, temos o sistema brasileiro de defesa da concorrência e possuímos regras que
proíbem integrações verticais (TV paga) e concentrações horizontais (TV aberta).
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Samuel: - Baigorri, como a Anatel vê esse processo de convergência entre mídia e
telecomunicações? Baigorri respondeu que hoje existem previsões em termo de controle cruzado,
de participação acionária (de verificação mais simples, apenas um percentual), mas a questão do
controle deve ser avaliado à luz da Resolução 101/1999 e esse conceito tem que ser analisado no
caso concreto.
Outro negócio de mídia, que é por exemplo um negócio para o Yahoo, é a publicidade na
rede. Nesse sentido, existe impossibilidade das fusões relacionadas ao uso dessas informações de
navegação para oferecer propaganda. Questionado, Alexander afirmou que a Ancine utiliza a IN
91/2010 como referencial de controle.
Samuel: - Tonet, ainda faz sentido a proibição de fusão entre plataformas de comunicação e
de conteúdo? Tonet respondeu que essa resposta deve retroagir ao período de redemocratização, em
que houve o contrato social de garantir essa separação. Naquele momento, o espírito do constituinte
foi criar uma série de regras para produção e distribuição do conteúdo. A Lei 12485/2011
estabeleceu uma série de regras sobre a plataforma e conteúdo, mas a constituição não estabeleceu
as mesmas regras para telecomunicações. Alertou que, enquanto estamos discutindo essa
convergência, já há empresas que estão fazendo produção, distribuição e pouco estão se
preocupando com os órgãos reguladores.
Algumas das empresas de tecnologia permitem o acesso a todo tipo de conteúdo sem
qualquer tipo de preocupação com a regulação. Respondendo a pergunta, Tonet afirmou: A
radiodifusão brasileira, os produtores de conteúdo e distribuidores brasileiros cumprem regras. Mas
e os agentes que não cumprem regras? Nunca a produção profissional de conteúdo foi tão relevante
para separar a comunicação séria das falácias online. É importante que seja feito o debate sobre a
regulação dos novos veículos.
Existe o desafio do novo competidor que surge sem regulação. A realidade regulatória é de
que todas as empresas que estão no setor têm que cumprir, mas é importante enxergar o que está
acontecendo no mundo. Do ponto de vista do usuário, estamos na idade de ouro da produção de
conteúdo. Nunca houve tanta diversidade para consumir as obras de conteúdo audiovisual. Netflix
começou como uma empresa de distribuição, aproveitando a possibilidade de fazer isso sem pagar
tarifa, depois passaram para a internet e são empacotadores, por utilizarem a predição de conteúdos.
Agora, passaram a produtores de conteúdo, gastaram ano passado 800 milhões de dólares. Então
existe um processo de verticalização, que pode ser inclusive prejudicial para a inovação. Isso
precisa ser estudado no Brasil e no mundo.
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Professor Bitteli: Tenho uma visão diferente sobre as regras da constituição, não concordo
que a constituição tenha adotado uma solução com relação a conteúdo. Os veículos de comunicação
são verticalizados. A convergência entre tecnologias foi uma discussão no passado, a convergência
entre tecnologias e mídia é algo mais novo. Quando surge uma tecnologia disruptiva, a baixa
atuação do regulador acaba gerando a morte prematura de mercados, a exemplo do que ocorreu com
a distribuição de conteúdos por Bluray.
A ductibilidade da legislação não deve ser levada ao ponto de ruptura, sendo natural uma
confusão entre regulação e regulamentação, esta última devendo estar limitada aos parâmetros
legais. No caso da propriedade cruzada, ela possui três setores de avaliação: Ancine, Anatel e
Congresso. No caso da propriedade cruzada, existe uma preocupação com o mercado interno.
Quanto à questão internacional, essa legislação não se aplica às programadoras internacionais.
Tonet: Existe um escalonamento da cadeia de valor. Ancine regulando conteúdo e Anatel
regulando plataforma.
Baigorri: As falhas de mercado são o que justificam a regulamentação. A solução não é
regular whatsapp, netflix. Quando a tecnologia reduz o custo e permite novos entrantes, isso não é
um problema.
Hartman: No entanto, o desafio é que não se crie um ambiente de assimetria de competição,
porque estão submetidos a regras distintas.
Alexander: Pela plasticidade do produto da indústria de mídia, ele chega nos mercados
locais a preços muito baixos, o que gera, sim, falhas de mercado. É uma característica econômica do
produto, que pode simplesmente inviabilizar a produção local. Vídeo por demanda não é regulado, é
competência do Congresso, mas foi colocado em consulta pública para compilar relatório e
encaminhar ao Congresso. Entende não haver sobreposição: Ancine regulamenta produção
(credenciamento) e empacotamento, já a Anatel atua na atividade de distribuição.
Professor Bitteli: Não dá para dizer que existe um dumping, isso em função da
impossibilidade de comparar custo de licença e custo de produção. O viés não deve ser econômico.
Também não concorda que não haja sombreamento entre as agências, citando como exemplo as
sanções da Ancine para empresas de telecomunicação, o que seria uma fuga a sua competência.
Aceitar a programação internacional no país não é uma liberalidade, está previsto na lei. Manifestou
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sua opinião de que o conceito de empacotadoras foi uma jabuticaba criada pela Ancine para que
pudesse regular as teles.
Baigorri: Relembrou que auando a Telco foi comprada pela Telecom Itália, a análise
abrangeu mesmo a configuração de controle configurada mesmo no exterior, que foi submetida à
Anatel para análise do caso concreto. Em resposta a questionamento feito pelo Samuel, no caso da
TV Alphaville, o grupo Silvio Santos não participava do controle diretamente, mas pessoas físicas
da família dele. Não existe o conceito de coligação aplicável a para pessoas físicas da mesma
família.
Samuel: Em que a segregação entre produção e distribuição beneficia o mercado nacional?
Alexander respondeu que o legislador optou por implantar essa barreira, não cabendo à Ancine
discutir esse aspecto.
Hartman: Afirmou que quem quer de alguma forma distribuir conteúdo no Brasil sabe que o
público que ver principalmente produtos brasileiros. Apenas alertou que é importante que isso não
vire um tema nacionalista, a questão fundamental é se o consumidor brasileiro vai se beneficiar da
forma como se aplica a lei.
Samuel encerrou o evento agradecendo a presença de todos.