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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UnB FACULDADE DE EDUCAÇÃO FE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO PPGE LINHA DE PESQUISA: POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR REGULAR E/OU INDUZIR QUALIDADE? OS CURSOS DE PEDAGOGIA NOS CICLOS AVALIATIVOS DO SINAES Claudia Maffini Griboski Brasília Outubro 2014

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UnB

FACULDADE DE EDUCAÇÃO – FE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – PPGE

LINHA DE PESQUISA: POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

REGULAR E/OU INDUZIR QUALIDADE?

OS CURSOS DE PEDAGOGIA NOS CICLOS AVALIATIVOS

DO SINAES

Claudia Maffini Griboski

Brasília

Outubro – 2014

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UnB

FACULDADE DE EDUCAÇÃO – FE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – PPGE

LINHA DE PESQUISA: POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

Claudia Maffini Griboski

REGULAR E/OU INDUZIR QUALIDADE?

OS CURSOS DE PEDAGOGIA NOS CICLOS AVALIATIVOS DO

SINAES

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação

em Educação da Faculdade de Educação da

Universidade de Brasília (UnB) como requisito

parcial para a obtenção do grau de Doutor em

Educação sob a orientação do Professor Dr. José

Vieira de Sousa.

Brasília

Outubro – 2014

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REGULAR E/OU INDUZIR QUALIDADE?

OS CURSOS DE PEDAGOGIA NOS CICLOS AVALIATIVOS DO

SINAES

Claudia Maffini Griboski

Tese defendida sob a avaliação da Comissão Examinadora constituída por:

___________________________________________________________

Professor Dr. José Vieira de Sousa

(Orientador – Universidade de Brasília – UnB)

____________________________________________________________________

Professor Dr. Almerindo Janela Afonso

(Examinador Externo – Universidade do Minho)

____________________________________________________________________

Professora Dra. Marília Costa Morosini

(Examinadora Externa – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS)

______________________________________________________________________

Professora Dra. Marília Fonseca

(Examinadora Interna – Universidade de Brasília – UnB)

____________________________________________________________________

Professora Dra. Katia Augusta Curado Pinheiro Cordeiro da Silva

(Examinadora Interna – Universidade de Brasília – UnB)

______________________________________________________________________

Professora Dra. Maria Abadia da Silva

(Suplente – Universidade de Brasília – UnB)

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Dedico este estudo ao meu esposo, Rogério, com carinho especial,

pelo amor, incentivo, paciência, cumplicidade e incansável

apoio ao longo dessa caminhada.

Aos meus filhos Fellipe, Pablo e à minha nora, Juliana,

pela compreensão da ausência nos momentos familiares únicos

e importantes em nossas vidas.

À minha mãe Margarida e a meu pai Roque (in memorian),

que, por meio do amor incondicional, sempre me apoiaram,

fortaleceram e equilibraram.

A(os) amigas(os) pelas palavras de estímulo,

sabedoria e aconchego nas horas difíceis.

À minha família, que soube entender a minha ausência

desde que ingressei no doutorado,

até a conclusão desta Tese.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela força, energia e disposição para enfrentar e superar todos

os obstáculos à conclusão desta Tese.

Ao professor e orientador Prof. Dr. José Vieira de Sousa, pela dedicação,

paciência, compreensão, amizade e direcionamento dos estudos necessários à

elaboração da Tese.

Aos meus colegas da UnB e do INEP, pelas aprendizagens e apoio na

conciliação das atividades profissionais e acadêmicas.

Aos colegas do Grupo de Estudos e Pesquisas de Avaliação da Educação

Superior (GEPAES) e do Grupo de Trabalho de Políticas de Educação Superior da

Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação GT 11/ANPEd, pela

cumplicidade e trabalho conjunto, amizade, produção de novos conhecimentos, desafios

e conquistas.

A todas as pessoas que contribuíram significativamente durante minha

trajetória profissional e que souberam compartilhar experiências sobre meu objeto de

estudo – avaliação da educação superior.

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As ideologias se desenvolvem com um algum grau de

autonomia, de acordo com a matéria tradicional específica

acumulada, exercem influência retroativa sobre a base

econômica e

condicionam as formas

de desenvolvimento histórico.

Karl Marx

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RESUMO

Esta tese trata dos cursos de Pedagogia nos ciclos avaliativos do Sistema Nacional de

Avaliação da Educação Superior (Sinaes) e teve como objetivo interpretar o uso dos

resultados da avaliação e analisar se estes têm se caracterizado como forma de

regulação do Estado e/ou como instrumento de indução à qualidade da educação

superior. A seleção dos cursos foi realizada a partir dos critérios de região, organização

acadêmica e categoria administrativa. O estudo buscou identificar o percurso avaliativo

dos cursos de Pedagogia e as transformações produzidas pela gestão acadêmica,

decorrentes das avaliações do Sinaes realizadas no período de 2005 a 2011. O texto foi

estruturado de forma a contemplar a discussão sobre o papel do Estado e das IES na

gestão da educação superior, a interpretação do Sinaes como política pública, as formas

de institucionalização da avaliação e sua relação com a regulação da educação superior,

a evolução dos cursos de Pedagogia em relação à promoção da qualidade e o percurso

dos cursos de Pedagogia nos ciclos avaliativos do Sinaes. Com a orientação do método

materialista histórico-dialético, foi possível compreender situações e fatos históricos que

concorreram para a construção da política de avaliação da educação superior. As

categorias totalidade, mediação e contradição possibilitaram realizar a análise do objeto

contemplando as partes do processo e sua visão geral, os consensos e os dissensos em

torno do tema e as variações entre o pensamento e ação dos atores. A construção dos

elementos da pesquisa foi permeada pela análise das categorias de conteúdo (qualidade

da educação superior e avaliação como política pública), ambas definidas pela

aproximação temática e segundo a visão histórica dos acontecimentos. O discurso dos

coordenadores foi utilizado ao longo da pesquisa para ilustrar as concepções subjacentes

à prática docente e de gestão, evidenciando o uso ou o não uso dos resultados da

avaliação para fins de indução da qualidade da educação superior. Com base na

interpretação dos resultados do conjunto de informações da avaliação dos cursos de

Pedagogia nos ciclos avaliativos do Sinaes, formulou-se a tese deste estudo, na qual os

objetivos da avaliação estiveram, ao longo dos anos, ajustados aos princípios da

regulação na forma de controle da qualidade, em detrimento da avaliação formativa e

emancipatória voltada para garantir e induzir à qualidade.

Palavras-chave: Ciclos Avaliativos do Sinaes. Curso de Pedagogia. Avaliação.

Regulação. Qualidade.

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ABSTRACT

This thesis analyses the undergraduate courses in Pedagogyin the evaluation cycles of

the National System of Higher Education Assessment (Sinaes) and aimed to interpret

the use of evaluation results and examine whether these have been characterized as a

form of state regulation and / or as a tool induction of the quality of higher education.

The selection of courses took into account the criteria of the geographic region, and

academic organization. The study intended to identify the evaluative trajectory of

undergraduate courses in Pedagogy and the changes produced by academic management

arising from the evaluations of Sinaes in the period 2005-2011. The text is structured to

include a discussion of the role of the State and Institutions of higher education in the

management of higher education, interpretation of Sinaes as public policy, the forms of

institutionalization of evaluation and its relationship to the regulation of higher

education, the evolution of undergraduate courses in Pedagogy in relation to the

promotion of quality and the trajectory of the Pedagogy courses in the evaluation cycles

of the Sinaes. With the guidance of materialist historical-dialectical method it was

possible to understand situations and historical events that contributed to the

construction of the evaluation of higher education policy. The categories entirety,

mediation and contradiction made possible to perform the analysis of the object

covering parts of the process and its overview, the consensus and dissent about the

theme and variations between thought and action of the actors. The construction of the

elements of the research was permeated by analyzing the content categories (quality of

higher education and evaluation as public policy), both defined by the thematic

approach and historical view of events. The reasoning of coordinators was used

throughout the research to illustrate the underlying to the teaching practice and

management concepts, showing the use or non-use of assessment results for the purpose

of inducing the quality of higher education. Based on the interpretation of the results of

the assessment information of undergraduate courses in Pedagogy in the evaluation

cycles of the Sinaes, was formulated the thesis of this study, in which the objectives of

the evaluation have been over the years, adjusted to the principles of regulation as

quality control, rather than formative assessment and emancipatory focused at ensuring

and inducing quality.

Keywords: Cycles of evaluative Sinaes. Pedagogy course.Evaluation.

Regulation.Quality.

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RÉSUMÉ

Cette these a pour thème les cours de Pédagogie dans les cycles d’évaluation du

Système National d’Evaluation de l’Enseignement Supérieur. (Sinaes).Ses objectifs

sont: interpréter l’usage des résultats de l’évaluation; analyser si ceux-ci se caractérisent

comme une forme de régulation de l’Etat et/ou comme un instrument inducteur de

qualité dans l’éducation supérieure. La sélection des cours a été établie selon les critères

suivants : régions, organisation académique et catégorie administrative. L’étude vise à

identifier le parcours des cours de Pédagogie en terme d’évaluation et les

transformations résultant de la gestion académique dans le cadre des évaluations du

Sinaes réalisées entre 2005 et 2011. Le texte a été structuré de manière à garantir: le

débat entre l’Etat et des IES dans la gestion de l’éducation supérieure, la reconnaissance

du Sinaes en tant que politique publique, les formes d’institutionnalisation de

l’évaluation en relation avec la régulation de l’enseignement supérieur, l’évolution des

cours de Pédagogie au regard de la promotion de la qualité et du parcours des cours de

pédagogie dans les cycles d’évaluation du Sinaes. Grâce à l’orientation matérialiste

historico dialectique, il a été possible de comprendre des situations et des faits

historiques qui ont contribué à la construction d’une politique d’évaluation de

l’enseignement supérieur. Les catégories, totalité, médiation et contradiction ont rendu

possible: la réalisation de l’analyse de l’objet en prenant en compte les parties du

processus et la vision générale de cette analyse, les consensus et les dissensions au sujet

du thème, les variations entre le projet et la réalisation. L’analyse des catégories du

contenu (qualité dans l’éducation supérieure et évaluation en tant que politique

publique) a permis la construction des éléments de recherche. Ces catégories sont

définies par l’approximation thématique et la vision historique des faits. Cette recherche

permet d’illustrer les conceptions subjacentes dans la pratique professorale et

gestionnaire, mettant en évidence l’usage ou le non-usage des résultats de l’évaluation

au service de la qualité de l’enseignement supérieur. L’analyse des résultats de

l’évaluation des cours de Pédagogie dans les cycles d’évaluation du Sinaes permet de

montrer que les objectifs de l’évaluation, au long des ans, ont été ajustés aux principes

de régularisation sous forme de contrôle de qualité au détriment de l’évaluation

formative et émancipatoire qui induit et garantit la qualité.

Mots clés: Cycle d’évaluation du Sinaes, Cours de Pédagogie, Evaluation, Régulation,

Qualité

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Abruc Associação Brasileira de Universidades Comunitárias

Abruem Associação Brasileira dos Reitores das Universidades

ACE Avaliação das Condições de Oferta

Andes Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior

Andifes Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino

Superior

BASis Banco de Avaliadores do Sinaes

BI Bacharelado Interdisciplinar

Bird Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

BNI Banco Nacional de Itens da Educação Superior

CAA Comissão Assessora de Área

Capes Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CC Conceito do Curso

CC-Pares Conselho Consultivo do Programa de Aperfeiçoamento dos Processos de

Regulação e Supervisão da Educação Superior

CEA Comissão Especial da Avaliação

CEE Conselho Estadual de Educação

Cefet Centro Federal de Educação Tecnológica

Ceres Cadastro de Elaboradores e Revisores da Educação Superior

CES Câmara de Educação Superior

CF Constituição Federal

CFE Conselho Federal de Educação

CI Conceito Institucional

Colaps Comissão Local de Acompanhamento e Controle Social do ProUni

Conap Comissão Nacional de Acompanhamento e Controle Social

Conae Conferência Nacional de Educação

Conaes Comissão Nacional de Avaliação Superior

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Contee Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de

Ensino

CNE Conselho Nacional de Educação

CNRES Comissão Nacional de Reformulação do Ensino Superior

CTAA Comissão Técnica de Acompanhamento da Avaliação

CPA Comissão Própria de Avaliação

CPC Conceito Preliminar de Curso

CPLP Comunidade dos Países de Língua Portuguesa

Daes Diretoria de Avaliação da Educação Superior

DCN Diretrizes Nacionais Curriculares

Dieese Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos

Enade Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes

ENC Exame Nacional de Curso

Enem Exame Nacional do Ensino Médio

e-MEC Sistema de Fluxo dos Processos de Regulação e Avaliação da Educação

Superior

Fies Fundo de Financiamento Estudantil

FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

FMI Fundo Monetário Internacional

Geres Grupo Executivo para Reformulação do Ensino Superior

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IES Instituição de Educação Superior

IESALC Instituto Internacional da Unesco para a Educação Superior na América

Latina e no Caribe

Ifet Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia

Inep Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC Ministério da Educação

NC Nota dos Concluintes

NDE Núcleo Docente Estruturante

NDP Número de Professores Doutores

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NF Nota de Infraestrutura

NI Nota dos Ingressantes

NIDD Nota do Indicador da Diferença entre os Desempenhos Esperado e

Observado

NO Nota de Organização Didático-Pedagógica

NR Nova redação

NPM Número de Professores Mestres

NPR Número de Professores com Regime de Dedicação Integral ou Parcial

OMC Organização Mundial do Comércio

Paideia Processo de Avaliação Integrada do Desenvolvimento Educacional e da

Inovação de Área

Paiub Programa Nacional de Avaliação Institucional das Universidades

Brasileiras

Pares Programa de Aperfeiçoamento dos Processos de Regulação e Supervisão

da Educação Superior

Parfor Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica

Paru Programa de Avaliação da Reforma Universitária

PC Protocolo de Compromisso

PDI Plano de Desenvolvimento Institucional

PIB Produto Interno Bruto

Pibid Programa de Iniciação à Docência

Pnad Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

PNE Plano Nacional de Educação

PNG Plano Nacional de Pós-Graduação

Pnud Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

Poge Políticas Públicas e Gestão da Educação

PPC Projeto Pedagógico do Curso

PR Presidência da República

Prodocencia Programa de Consolidação das Licenciaturas

Proies Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento das

Instituições de Ensino Superior

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Pronatec Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego

ProUni Programa Universidade para Todos

Reuni Programa de Apoio aos Planos de Reestruturação e Expansão das

Universidades Federais

Seed Secretaria de Educação a Distância

Seres Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior

Setec Secretaria de Educação Tecnológica

SESu Secretaria de Educação Superior

Sinaes Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior

Sisu Sistema de Seleção Unificada

SisUAB Sistema da Universidade Aberta do Brasil

SPNG Sistema Nacional de Pós-graduação

SUS Sistema Único de Saúde

TSD Termo de Saneamento de Deficiências

UAB Universidade Aberta do Brasil

UnB Universidade de Brasília

UNE União Nacional dos Estudantes

Unesco Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a

Cultura

Unila Universidade Federal da Integração Latino-americana

Unilab Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira

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FIGURA

Figura 1 – Fluxo do processo de avaliação, supervisão e regulação dos cursos de

graduação em fase de renovação de reconhecimento – Brasil (2013).... 283

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Exigência dos conceitos e indicadores nas políticas de educação

superior Brasil (2013)........................................................................ 197

Gráfico 2 – Taxas de Escolarização na Educação Superior................................... 210

Gráfico 3 – Distribuição do IGC das IES selecionadas, por região e categoria

administrativa – Brasil (2009, 2010, 2011, 2012).............................. 286

Gráfico 4 – Distribuição do IGC das IES selecionadas, por região e organização

acadêmica e região – Brasil (2009, 2010, 2011, 2012)...................... 290

Gráfico 5 – Distribuição do CI das IES selecionadas, por região e categoria

administrativa – Brasil (2005-2011)................................................... 294

Gráfico 6 – Distribuição do CI das IES selecionadas, por região e organização

acadêmica – Brasil (2005-2011)......................................................... 296

Gráfico 7 – Distribuição do conceito Enade nos cursos de Pedagogia

selecionados, por região e categoria administrativa – Brasil (2005,

2008, 2011)...................................................................................... 298

Gráfico 8 – Distribuição do conceito Enade dos cursos de Pedagogia

selecionados, por região e organização acadêmica – Brasil (2005,

2008, 2011)........................................................................................ 300

Gráfico 9 – Distribuição do CPC dos cursos de Pedagogia selecionados, por

região e categoria administrativa – Brasil (2008, 2011)..................... 302

Gráfico 10 – Distribuição do CPC dos cursos de Pedagogia selecionados, por

região e organização acadêmica e região – Brasil (2008, 2011)........ 305

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Gráfico 11 – Situação de trabalho dos estudantes de Pedagogia durante o curso –

Brasil (2005, 2008, 2011)............................................................... 342

Gráfico 12 – Bolsa de estudos/financiamento para os estudantes do curso de

Pedagogia – Brasil (2005, 2008, 2011)............................................. 345

Gráfico 13 – Frequência de uso da biblioteca da IES pelos estudantes de

Pedagogia – Brasil (2005, 2008, 2011).............................................. 349

Gráfico 14 – Dedicação aos estudos pelos estudantes de Pedagogia – Brasil

(2005, 2008, 2011).......................................................................... 351

Gráfico 15 – Situação do acervo da biblioteca das IES que ofertam curso de

Pedagogia – Brasil (2005, 2008, 2011)............................................. 355

Gráfico 16 – Envolvimento dos estudantes do curso de Pedagogia em projeto de

pesquisa – Brasil (2005, 2008, 2011)................................................. 358

Gráfico 17 – Situação das instalações físicas para oferta do curso de Pedagogia –

Brasil (2005, 2008, 2011)................................................................. 362

Gráfico 18 – Estruturação dos planos de ensino do curso de Pedagogia – Brasil

(2005 – 2008, 2011)......................................................................... 365

Gráfico 19 – Percentual de respostas satisfatórias dos estudantes aos insumos de

qualidade dos cursos de Pedagogia – Brasil (2005, 2008, 2011)....... 368

Gráfico 20 – Tempo de coordenação nos cursos de Pedagogia – Brasil (2005,

2008, 2011).................................................................................... 374

Gráfico 21 – Primeira experiência como coordenador do curso de Pedagogia –

Brasil (2005, 2008, 2011).................................................................. 377

Gráfico 22 – Tempo de atividade na IES – Brasil (2005, 2008, 2011)................... 378

Gráfico 23 – Tempo semanal dedicado à coordenação do curso de Pedagogia –

Brasil (2005, 2008, 2011)................................................................. 380

Gráfico 24 – Vínculo do coordenador com a IES – Brasil (2005, 2008, 2011)...... 382

Gráfico 25 – Estímulo e condições de trabalho para os docentes do curso de

Pedagogia – Brasil (2005, 2008, 2011)............................................. 383

Gráfico 26 – Maior titulação dos coordenadores dos cursos de Pedagogia –

Brasil (2005, 2008, 2011)................................................................. 385

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Gráfico 27 – Condições gerais das instalações físicas de salas de aula,

bibliotecas e ambientes de estudo para o funcionamento do curso

de Pedagogia– Brasil (2005, 2008, 2011).......................................... 387

Gráfico 28 – Instalações de laboratórios, equipamentos e serviços de apoio do

curso de Pedagogia – Brasil (2005, 2008, 2011)................................ 388

Gráfico 29 – Condições do acervo da biblioteca que atende aos alunos do curso

de Pedagogia – Brasil (2005, 2008, 2011)......................................... 391

Gráfico 30 – Organização acadêmico administrativa para o funcionamento do

curso de Pedagogia – Brasil (2005, 2008, 2011)................................ 392

Gráfico 31 – Participação dos discentes nas decisões sobre o curso de Pedagogia

(2005, 2008, 2011)........................................................................... 395

Gráfico 32 – Cursos de Pedagogia avaliados in loco, no 2º ciclo e 3º ciclo

avaliativo do Sinaes (2008, 2012)...................................................... 401

Gráfico 33 – Cursos de Pedagogia dispensados da avaliação in loco, no 2º e 3º

ciclo avaliativo do Sinaes (2008, 2012)............................................. 404

Gráfico 34– Processos de cursos de Pedagogia arquivados/cancelados no 2º e 3º

ciclo avaliativo do Sinaes (2008, 2012)............................................ 405

Gráfico 35 – Quantidade de processos de cursos de Pedagogia avaliados no

Enade e na avaliação in loco e processos de avaliação institucional

nos ciclos avaliativos do Sinaes (2005 – 2012).................................. 410

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Situação dos cursos de Pedagogia no Brasil por ano de ingresso no

sistema educacional (2004 – 2012).................................................. 190

Tabela 2 – Total de instituições de educação superior no Brasil por

organização acadêmica (2001 – 2012)............................................... 201

Tabela 3 – Evolução do número de instituições de educação superior por

categoria administrativa – Brasil (2001 - 2012)................................ 203

Tabela 4 – Evolução das taxas de escolarização bruta e líquida na educação

superior – Brasil e regiões (2001 - 2011)....................................... 209

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Tabela 5 – Estatísticas básicas da graduação (presencial e a distância) por

categoria administrativa – Brasil (2011)............................................ 214

Tabela 6 – Cursos de graduação com maior número de matrículas – Brasil

(2011)............................................................................................. 215

Tabela 7 – Número de estudantes dos cursos de licenciatura participantes na

condição de ingressantes e concluintes do Enade 2005, 2008 e

2011– Brasil (2012)........................................................................ 248

Tabela 8 – Número de cursos de Pedagogia participantes do Enade 2005, 2008

e 2011, segundo a organização acadêmica das IES, por região –

Brasil (2012)................................................................................. 252

Tabela 9 – Número de cursos de Pedagogia participantes do Enade 2005, 2008

e 2011, segundo a categoria administrativa das IES, por região –

Brasil (2012)................................................................................. 253

Tabela 10 – Expansão dos cursos de Pedagogia – Brasil (2004 – 2012)............... 256

Tabela 11 – Evolução do número de cursos avaliados pelo Enade e in loco –

Brasil (2004 – 2013)....................................................................... 257

Tabela 12 – Conceitos dos cursos de Pedagogia no Enade 2005, 2008, 2011 –

Brasil (2012)................................................................................... 259

Tabela 13 – Número de cursos de Pedagogia, segundo a categoria

administrativa – Brasil (2003 – 2012)............................................... 261

Tabela 14– Situação dos cursos de Pedagogia, segundo o ano de ingresso no

sistema federal de ensino – Brasil (2004 – 2012).............................. 263

Tabela 15 – Distribuição do CC dos cursos de Pedagogia, por categoria

administrativa – Brasil (2005 – 2011)............................................. 264

Tabela 16 – Distribuição do CPC dos cursos de Pedagogia por categoria

administrativa– Brasil (2008 – 2011)................................................. 265

Tabela 17 – Número de cursos de Pedagogia, segundo a região geográfica e

categoria administrativa – Brasil (2003 – 2012)................................ 266

Tabela 18 – Percentuais da expansão de cursos de Pedagogia, segundo a região

geográfica – Brasil (2004 – 2012)................................................... 268

Tabela 19 – Número de cursos de Pedagogia, segundo a região geográfica e

categoria administrativa – Brasil (2003 – 2012)................................ 270

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Tabela 20 – Distribuição geográfica do quantitativo de CC atribuído aos cursos

de Pedagogia por categoria administrativa - Brasil (2004 – 2012).... 271

Tabela 21 – Distribuição geográfica do CC atribuído aos cursos de Pedagogia,

por organização acadêmica – Brasil (2004 – 2012)........................... 272

Tabela 22 – Grupo de cursos de Pedagogia selecionados para a pesquisa, por

região, categoria administrativa, organização acadêmica e maior

número de matrículas – Brasil (2012)............................................. 282

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xix

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 21

CAPÍTULO 1 – O PAPEL DO ESTADO NA GESTÃO DA EDUCAÇÃO

SUPERIOR ................................................................................. 56

1.1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 56

1.2. A CONCEPÇÃO DE ESTADO E AVALIAÇÃO 57

1.3. ASPECTOS LEGAIS DA AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

NO BRASIL ................................................................................................... 79

1.4. EXPERIÊNCIAS DE AVALIAÇÃO E IMPLICAÇÕES NA GESTÃO DA

EDUCAÇÃO SUPERIOR .............................................................................. 113

1.5. A REGULAÇÃO: CONCEITOS E PRÁTICAS ............................................ 136

1.5.1 Tipos de Regulação ................................................................................. 138

1.5.1.1 Regulação transnacional ............................................................ 140

1.5.1.2 Regulação nacional ............................................................. 146

1.5.1.3 Microrregulação local ................................................................ 148

1.5.1.4 Metarregulação ........................................................................... 150

1.5.2 Regulação e avaliação: controle ou emancipação?................................. 155

1.6. CONCLUSÃO ............................................................................................... 162

CAPÍTULO 2 – POLÍTICAS, DIRETRIZES E PRINCÍPIOS DO SINAES ... 165

2.1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 165

2.2. A AVALIAÇÃO COMO POLÍTICA PÚBLICA ........................................... 167

2.3. DIRETRIZES DA AVALIAÇÃO E REGULAÇÃO ...................................... 178

2.4. AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A PARTIR DE

2004 .............................................................................................................. 185

2.5. USOS DA AVALIAÇÃO: EMBATES E DEBATES .................................... 196

2.6. CONCLUSÃO ................................................................................................. 215

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xx

CAPÍTULO 3 – PROMOÇÃO DA QUALIDADE E AVALIAÇÃO DA

EDUCAÇÃO SUPERIOR .......................................................... 219

3.1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 219

3.2. REFERENCIAIS SOBRE A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO ,,,,,,......,,,,,,,,. 220

3.3. O SINAES E A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO SUPERIOR ..................... 236

3.4. CENÁRIOS E CONTEXTOS DA AVALIAÇÃO DOS CURSOS DE

PEDAGOGIA ............................................................................................... 245

3.5. CONCLUSÃO ............................................................................................... 273

CAPÍTULO 4 – OS CURSOS DE PEDAGOGIA NOS CICLOS

AVALIATIVOS DO SINAES .................................................... 276

4.1. INTRODUÇÃO .......................................................................................... 276

4.2. OS CURSOS DE PEDAGOGIA: TRAJETÓRIA DA POLÍTICA DE

AVALIAÇÃO .............................................................................................. 278

4.3. AVALIAÇÃO E REGULAÇÃO: MEDIAÇÕES SÃO POSSÍVEIS? ........... 306

4.4. CONCLUSÃO .............................................................................................. 333

CAPÍTULO 5 – O PROCESSO DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO

SUPERIOR BRASILEIRA: REGULAR E/OU INDUZIR

QUALIDADE........................................................................... 336

5.1. INTRODUÇÃO .............................................................................................. 336

5.2. O ENADE E A VISÃO DOS ESTUDANTES SOBRE OS CURSOS DE

PEDAGOGIA ............................................................................................... 339

5.3. O ENADE E A VISÃO DOS COORDENADORES SOBRE OS CURSOS

DE PEDAGOGIA ......................................................................................... 370

5.4. A AVALIAÇÃO IN LOCO: UM OLHAR SOBRE OS CURSOS DE

PEDAGOGIA ............................................................................................. 397

5.5. CONCLUSÃO .............................................................................................. 412

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 415

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 425

ANEXOS ............................................................................................................. 450

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INTRODUÇÃO

A presente tese é apresentada ao Programa Pós-Graduação em Educação da

Universidade de Brasília (UnB), na Linha de Pesquisa Políticas Públicas e Gestão da

Educação (Poge), eixo Avaliação Institucional e suas Implicações na Gestão da

Educação Superior. Inscreve-se, portanto, no campo das políticas públicas de avaliação

da educação superior, promovendo reflexões sobre o processo de avaliação dos cursos

de Pedagogia em fase de renovação de reconhecimento1 e os participantes do Exame

Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) nos anos de 2005, 2008 e 2011, como

componente do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes).

De acordo com o ciclo avaliativo do Sinaes,2 as instituições de educação

superior (IES) com cursos de graduação na fase de renovação de reconhecimento devem

protocolizar, a cada três anos, novo pedido de ato regulatório junto à Secretaria de

Regulação e Supervisão da Educação Superior (Seres)3 do Ministério da Educação

(MEC), com processo devidamente instruído, no prazo previsto no artigo 10 do Decreto

nº 5.773/20064 (BRASIL, 2006).

1 Conforme artigo 46 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), a autorização e o

reconhecimento de cursos, bem como o credenciamento de instituições de educação superior, terão prazos

limitados, sendo renovados, periodicamente, após processo regular de avaliação (BRASIL, 1996). A renovação

de reconhecimento é uma fase posterior ao reconhecimento e marca a entrada dos cursos no ciclo avaliativo. A

pesquisa dos cursos de Pedagogia em fase de renovação de reconhecimento possibilitou analisar o seu

desempenho no Enade nos ciclos avaliativos do Sinaes. 2 O ciclo avaliativo, de acordo com o artigo 33 da Portaria nº 40/2007, republicada em 29 de dezembro de 2010,

“compreende a realização periódica de avaliação de instituições e cursos superiores, com referência nas

avaliações trienais de desempenho de estudantes, as quais subsidiam, respectivamente, os atos de

recredenciamento e de renovação de reconhecimento” (NR) (BRASIL, 2010). 3 A Seres é a unidade do Ministério da Educação responsável pela regulação e supervisão de IES, públicas e

privadas; de cursos superiores de graduação do tipo bacharelado, licenciatura e tecnológico; e de pós-graduação

lato sensu, todos na modalidade presencial ou a distância. Foi criada em 17/04/2011 pelo Decreto nº 7.480/2011,

absorvendo competências da Secretaria de Educação Superior (SESu), da Secretaria de Educação Tecnológica

(Setec) e da extinta Secretaria de Educação a Distância (Seed) (BRASIL, 2011). As atribuições da Seres estão

previstas nos artigos 26 a 29 do Decreto nº 7.690/2012 (BRASIL, 2012). 4 Os atos regulatórios da educação superior são: i) Autorização – para iniciar a oferta do curso de graduação. As

faculdades privadas dependem de autorização do MEC, enquanto as universidades e os centros universitários com

prerrogativa de autonomia não precisam de autorização para iniciar a oferta de um curso de graduação, exceto

Medicina, Odontologia, Psicologia e Direito, e em casos de cursos oferecidos em endereços fora do município

sede da IES; ii) Reconhecimento – o ato deve ser solicitado pela IES quando o curso completar 50% de sua carga

horária (e antes de completar 75%); iii) Renovação de Reconhecimento – a IES deve solicitar a cada ciclo

avaliativo (BRASIL, 2006).

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Esta periodicidade atribuída ao ciclo avaliativo do Sinaes motivou a pesquisa,

ora apresentada, sobre o desempenho dos cursos de Pedagogia em fase de renovação de

reconhecimento. O estudo objetivou interpretar o uso dos resultados da avaliação e

analisar se estes têm se caracterizado como forma de regulação do Estado e/ou como

instrumento de indução da qualidade da educação superior.

Nessa perspectiva, analisaram-se os resultados da avaliação do Sinaes a partir

de uma base documental e empírica. A opção de investigar o processo de avaliação dos

cursos de Pedagogia resultou do interesse em aprofundar o conhecimento sobre a

qualidade dos cursos na área. Esse interesse está diretamente vinculado à experiência da

pesquisadora como docente na rede pública de educação básica e educação superior, e

no exercício da função de gestão do Sinaes no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Anísio Teixeira (Inep).5

Nesse contexto, foram muitas as expectativas em relação às contribuições deste

estudo para o desenvolvimento da formação acadêmica e profissional da pesquisadora,

tendo em vista a inserção dessa temática na atividade docente por ela desenvolvida.

Sobretudo, porque realizar o estudo sobre avaliação da educação superior se criou

oportunidades de ampliar os conhecimentos na área, desenvolver pesquisas em

avaliação, construir novos referenciais de gestão e enriquecer a formação para o

exercício das atividades de coordenação do Sinaes.

A trajetória de pesquisa justifica, portanto, o interesse na temática relacionada

à avaliação da educação superior e seu significado para a política educacional.

Especialmente, porque na ótica dos cursos de Pedagogia a avaliação tem mostrado um

sentido amplo para regular a qualidade, porém um significado restrito para induzir à

qualidade.

A partir dessas experiências, tornou-se eminente desenvolver a investigação

sobre o sistema de avaliação da educação superior, especialmente, na ótica da

compreensão do Sinaes como uma política pública com a finalidade de orientar a

5 O Inep, criado pela Lei nº 378, de 13 de janeiro de 1937, transformado em autarquia federal vinculada ao

Ministério da Educação, nos termos da Lei nº 9.448, de 14 de março de 1997, alterada a sua denominação pela Lei

nº 10.269, de 29 de agosto de 2001, tem por finalidades: II – planejar, orientar e coordenar o desenvolvimento de

sistemas e projetos de avaliação educacional, visando ao estabelecimento de indicadores de desempenho das

atividades de ensino no País; e VI – coordenar o processo de avaliação dos cursos de graduação, em

conformidade com a legislação vigente(BRASIL, 1937, 1997, 2001, grifo nosso).

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qualidade da oferta dos cursos de graduação e a expansão da educação superior. Assim,

na definição do estudo, foram considerados os aspectos qualitativos do desenvolvimento

da política de educação superior. Notadamente, os cursos de Pedagogia têm relevância

na área da formação de professores e constitui ponto estratégico para o país.

Destaca-se, que nos últimos anos, houve um aumento de oportunidades de

formação docente com o investimento em ações de expansão da educação superior. No

Capítulo 2, essas ações serão detalhadas à luz das políticas educacionais e sua relação

com a avaliação.

Conforme dados do Censo da Educação Superior (INEP, 2013), havia 1.785

cursos de Pedagogia em atividade no ano de 2012, dos quais 117 eram ofertados na

modalidade a distância. Os cursos de Pedagogia apresentavam um total de 598.375

matrículas, constituindo-se como o terceiro curso no país com maior número de

estudantes. A área das licenciaturas somava 1.366.559 (19,4%) do total de 7.037.688

matrículas na educação superior, no mesmo ano. O curso de Pedagogia apresenta,

portanto, a maior representatividade na área das licenciaturas, registrando 43,8% do

total das matrículas. A partir dessa compreensão, definiu-se o curso de Pedagogia como

objeto de estudo da presente pesquisa.

Para a seleção dos cursos de Pedagogia, foram acrescidos os critérios de região

(Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul), organização acadêmica (faculdade,

centro universitário e universidade) e categoria administrativa (pública e privada). A

caracterização dessa seleção segundo as regiões do país ficou assim definida: i) Norte –

seis cursos; ii) Nordeste – quatro cursos (não se localizou nenhuma faculdade da esfera

pública municipal e não há registro de curso de Pedagogia estadual com conceito de

avaliação do Sinaes); iii) Centro-Oeste – cinco cursos (não se identificou centro

universitário da esfera pública); iv) Sudeste – cinco cursos (também não se localizou

centro universitário no setor público); e v) Sul – cinco cursos (um centro universitário

municipal não registra conceito de avaliação no Sinaes). Aplicados os critérios de

exclusão que limitavam a possibilidade de análise, foi selecionado um total de 25 cursos

de Pedagogia.

Assim estruturado, o estudo buscou identificar o percurso avaliativo dos cursos

de Pedagogia e as transformações produzidas pela gestão acadêmica decorrentes das

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avaliações do Sinaes realizadas no período de 2005 a 2011. Com essa finalidade,

utilizaram-se como fonte de informações para a pesquisa os dados produzidos pela

avaliação6do Sinaes nos cursos investigados.

Para melhor contextualização dos ciclos avaliativos dos cursos de Pedagogia,

analisaram-se as medidas de regulação quando aplicadas aos cursos selecionados. Para

obter mais informações qualitativas sobre o processo avaliativo, aplicou-se um

questionário específico desta pesquisa aos coordenadores, visando compreender o

contexto das práticas de avaliação na gestão acadêmica e o uso dos resultados da

avaliação: se para regular e/ou para induzir à qualidade dos cursos.

A discussão representa o ponto focal da pesquisa, tendo em vista o pressuposto

da prevalência da regulação nos processos de avaliação, caracterizado por meio de uma

postura controladora do Estado, quando estabelece normas e reformas educacionais para

o alcance de suas metas de gestão. Essa visão considera a supremacia dos valores do

Estado e do mercado sobre os princípios formativos da avaliação.

Analisadas no âmbito de cada IES e em uma visão sistêmica e global, essas

informações permitiram revelar o contexto histórico da avaliação e a ação do Estado.

Com esse objetivo, o discurso dos coordenadores7 foi utilizado ao longo da pesquisa

para ilustrar as concepções subjacentes à prática docente e de gestão, evidenciando o

uso ou o não uso dos resultados da avaliação para fins de indução da qualidade da

educação superior. Paradoxalmente, de um lado, se defende que a avaliação impõe

mudanças internas a partir do uso dos seus resultados, e de outro lado, a regulação

atribui limitações a essas transformações, quando legitima o uso dos resultados da

avaliação para reforçar a reprodução das práticas de controle.

Esse paradoxo expressa um pensamento para o qual a tomada de decisão a

partir do uso dos resultados da avaliação pode ser uma opção da gestão. Nesse caso,

assume-se o pressuposto de que a avaliação, se utilizada como subsídio à tomada de

6 Os resultados do Sinaes são expressos na forma de Relatórios: i) do Enade: Boletim de desempenho do estudante,

Relatório do curso, Relatório da área, Relatório da IES, Resumo técnico; ii) da avaliação in loco: Relatório de

curso e institucional. Os Relatórios do Enade são disponibilizados nosite do Inep (<http://portal.inep.gov.br>) e

os Relatórios da avaliação in loco podem ser consultados pelo responsável da IES por meio do sistema e-MEC

(<http://emec.mec.gov.br>). O Sistema e-MEC é o cadastro da educação superior e tem por finalidade

acompanhar o fluxo dos processos de avaliação e regulação (BRASIL, 2010). 7 Optou-se por uma distribuição aleatória das falas dos coordenadores, numerando-se a informação textual obtida

de modo não ordenado, a fim de impossibilitar a identificação dos sujeitos da pesquisa.

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decisão da gestão, pode representar um amadurecimento da compreensão da política

regulatória8 em relação ao conceito de qualidade.

Por isso, o conceito de qualidade precisa ser problematizado à luz da relação

estabelecida entre os processos de avaliação e regulação. Para Enguita (1995), a

qualidade pode ser entendida sob diferentes lógicas: i) associada à ideia de “bem-estar”;

ii) vinculada à eficácia dos processos; iii) ligada à competição de mercado. Com essa

compreensão, a qualidade pode ser mais ou menos valorizada, a depender do contexto

social, político, econômico e educacional.

Com o predomínio das ações de regulação e suas intervenções, as concepções

de qualidade e de emancipação não podem ficar reduzidas a um modelo ideal, pois na

dinâmica da realidade são gerados espaços de participação para a construção de

processos de mudança dessa realidade. Esse é um significado que atribui à gestão, de

forma contextualizada, a responsabilidade pela transformação do conceito de qualidade.

Para Dourado, Oliveira e Santos (2007), a qualidade da educação é um conceito

polissêmico e representa

[...] um fenômeno complexo, abrangente, e que envolve múltiplas

dimensões, não podendo ser apreendido apenas por um

reconhecimento de variedade e das quantidades mínimas de insumos

considerados indispensáveis ao desenvolvimento do processo ensino-

aprendizagem e muito menos sem tais insumos (p. 9).

No sentido expresso pelos autores, a qualidade na educação superior precisa ser

debatida entre os atores institucionais e sociais que tenham responsabilidade com o

processo educacional. A qualidade pode ser definida a partir dos resultados da

avaliação, desde as políticas públicas, as condições de ensino até o desempenho dos

estudantes.

8 A política regulatória consiste em ferramentas que a autoridade reguladora dispõe para fazer cumprir as diretrizes

estabelecidas pelo gestor. Segundo Marques Neto (2003), a política regulatória “envolve a escolha dos meios e

instrumentos que, no âmbito das competências regulatórias, melhor se coadunam para, de forma eficiente, ensejar

o atingimento das políticas públicas setoriais” (p. 39).

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Assim, tão importante quanto os resultados são os aspectos da gestão

financeira, administrativa e pedagógica, bem como a visão dos atores institucionais

sobre o compromisso da IES, a formação e o perfil dos estudantes. Portanto, não se trata

de uma adequação de ideias e práticas a uma norma estabelecida, mas de um conceito

atual e em permanente transformação. As condições para a oferta de um curso de

qualidade são fundamentais para a construção de uma boa formação de estudantes,

sobretudo, se essas condições estiverem articuladas à gestão e a valorização dos

envolvidos no processo educacional. Segundo Sousa (2009), a qualidade indica a

centralidade das coisas e dos seres, aquilo que essencialmente caracteriza algo e que o

marca.

Em razão da complexidade que esse conceito envolve, refletir a

respeito dele significa lidar com o contraditório e o provisório,

reconhecendo que a educação, no mundo atual, recorre

constantemente a ele, identificando-o como seu principal objetivo (p.

245).

Compreende-se, então, que a concepção de mundo, de sociedade e de

educação é que define os elementos para qualificar e avaliar os atributos desejáveis

nos cursos, para promover uma formação de qualidade aos estudantes. Desse modo,

ressalta-se que a qualidade está vinculada à trajetória histórica e cultural do projeto

educacional do país.

Nesse nível de entendimento, pode-se dizer que o conceito de qualidade é

historicamente construído e considera as condições e contradições da sociedade. Essa

visão fundamenta a ideia de que usar ou não os resultados da avaliação para orientação

de melhoria da qualidade pode ser uma ação opcional que segue o pensamento dos

indivíduos ou dos grupos políticos. No caso da avaliação, a contradição pode estar

representada na aplicação de seus resultados em diferentes instruções normativas

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emanadas da regulação, que dispõem sobre o padrão decisório dos atos regulatórios,9

caracterizados como atos de gestão do Estado.

Na presente pesquisa, esse movimento em busca da qualidade é analisado sob o

olhar do método materialista histórico-dialético.10 Com essa orientação metodológica,

foi possível compreender situações e fatos históricos que concorreram para a construção

da política de avaliação da educação superior. As informações dos cursos de Pedagogia

nos ciclos avaliativos do Sinaes possibilitaram compreender os resultados, os processos,

as concepções existentes, além das inovações concebidas no desenvolvimento da

pesquisa.

É condição indispensável para a constituição de um objeto de estudo ou

qualquer conhecimento que envolva as relações entre o homem e a sociedade que se

organize um caminho, um procedimento, um instrumento para pesquisar. Acrescenta-se

como importante reconhecer a relação dos envolvidos na temática, a teorização do

conhecimento e a possibilidade de encontrar outros elementos que venham a ser

agregados ao estudo, a fim de aprofundar a temática e obter melhores resultados.

Compreendendo a avaliação da educação superior em um contexto social que

influencia e é influenciado por situações históricas, referenda-se que essa política se

constrói a partir das mediações realizadas nas relações de produção da sociedade

capitalista. Dada a necessidade de movimento que requer essa interpretação, o

materialismo histórico-dialético foi o método aderente à realização desta pesquisa. Para

apreensão do método, foi preciso reconhecer a especificidade trazida pelas obras

marxistas, que discutem como problema central a gênese, a consolidação, o

desenvolvimento e as condições de crise da sociedade burguesa, fundada no modo de

produção capitalista. Sobre o método dialético, Marx (1998) destaca:

9 A Nota técnica nº 786/2013/ Diretoria de Regulação (Direg/Seres/MEC) sistematiza os parâmetros e os

procedimentos para a renovação de reconhecimento de cursos, tomando como referência os resultados do ciclo

avaliativo 2012, divulgados por meio do Conceito Preliminar de Curso (CPC) 2012, em conformidade com o

Decreto Federal nº 5.773, de 9 de maio de 2006, e suas alterações, e na Portaria Normativa MEC nº 40, de 12 de

dezembro de 2007, republicada em 29 de dezembro de 2010. 10 O materialismo histórico-dialético designa um conjunto de doutrinas filosóficas que, ao rejeitar a existência de

um princípio espiritual, liga toda a realidade à matéria e às suas modificações. É uma tese do marxismo segundo a

qual o modo de produção da vida material condiciona o conjunto da vida social, política e espiritual. É um

método de compreensão e análise da história, das lutas e das evoluções econômicas e políticas (FERNANDES,

1984).

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Meu método dialético, por seu fundamento, difere do método

hegeliano, sendo a ele inteiramente oposto. Para Hegel, o processo do

pensamento [...] é o criador do real, e o real é apenas sua manifestação

externa. Para mim, ao contrário, o ideal não é mais do que o material

transposto para a cabeça do ser humano e por ela interpretado (p. 16).

Nessa perspectiva, três pilares que fundamentam a obra marxista apoiaram a

pesquisa realizada: i) o método dialético que dá sustentação à concepção, ao afirmar que

a matéria (ambiente) mantém a relação com o social; ii) a perspectiva da revolução, que

torna indispensável o protagonismo do sujeito histórico, que é o proletariado; iii) a

teoria do valor e do trabalho, que possibilita compreender que a ordem burguesa se

apoia na exploração.

Nesse sentido, é possível afirmar que há uma relação entre realidade e

conhecimento, pois este se constrói no espaço e tempo histórico dos sujeitos que, na

ação de conhecer, dão significado para as informações e os fatos pesquisados. Os

homens estabelecem relações sociais de acordo com a sua produtividade material e

produzem, também, os princípios, as ideias e as categorias de acordo com as suas

relações sociais. A ação de conhecer exige do pesquisador a explicitação de uma

determinada ordem, certa coerência na relação que estabelece com o objeto pesquisado.

Assim, a ação investigativa em educação não depende somente de

considerações técnicas, mas corresponde a uma representação social e a uma visão de

ciência com a intencionalidade para a construção de uma política educacional. Na

realidade, a construção do conhecimento em educação caracteriza-se pela criação de

uma matriz conceitual sobre os resultados das intervenções pontuais nos processos

avaliativos. Frente a estes resultados, o pesquisador procura comparar e analisar as

variáveis intervenientes na construção da prática educacional e social, nas múltiplas

relações e formas que a constituem.

Santos Filho e Gamboa (2009), ao analisarem os critérios de cientificidade e de

verdade adotados nas pesquisas em educação, fazem uma leitura do caminho percorrido

pela ciência, procurando elucidar e interpretar os paradigmas científicos como lógicas

reconstituídas que contém pressupostos metodológicos para o pesquisador. Para os

autores, é possível, no espaço pesquisado, desenvolver uma constante “vigilância

epistemológica” (p. 80). Nesse sentido, os paradigmas científicos, longe de exercerem

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uma função normativa no fechamento de um caminho metodológico, podem se

constituir novas alternativas, capazes de ultrapassar as diferentes formas de

interpretação atribuídas a um determinado fato ou situação.

Justifica-se, portanto, a escolha do método materialista histórico-dialético nesta

pesquisa, para melhor compreensão do processo de avaliação da educação superior, já

que auxilia o pesquisador a descrever o mundo como em permanente construção e

transformação. Exatamente por esse dinamismo, Paulo Netto (2011), afirma que esse é

um método muito difícil de ser utilizado

[...] porque os homens não pensam em abstrato: pensam a partir dos

problemas, dos impasses, dos dilemas que são postos na vida cotidiana

– com a sua heterogeneidade e a sua necessária imediaticidade. E

nenhum homem pode suspender sua relação com a vida cotidiana

senão por momentos (p. 335).

Nessa concepção, a sociedade se modifica a partir da estrutura econômica,

social e cultural, determinada pela ação provocada pelo indivíduo, que não se encontra à

parte do processo, mas que está inserido no próprio contexto histórico. Portanto, o

conhecimento produzido não é apresentado apenas no final do processo; ao contrário,

tem dinâmica própria que se constitui no ambiente social e que se manifesta tanto no

indivíduo quanto no objeto pesquisado.

Seguindo essa lógica, tem-se como pressuposto deste estudo que, em uma

sociedade de classes, a avaliação pode adequar-se mais aos interesses de uns do que de

outros, e que, nesse sentido, dificilmente encontrará harmonia aos interesses de todos,

uma vez que a contradição é um elemento constitutivo da sociedade em geral. Para

tanto, a apreensão e a interpretação precisam ocorrer na totalidade que constitui o

objeto, buscando captar as contradições que se manifestam em relação a ele.

Dada a abrangência do estudo, a concepção de totalidade defendida por

Kuenzer (2007) contribui para a compreensão do movimento histórico do processo de

avaliação. Para a autora, o conhecimento

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[...] resulta do processo de construção da totalidade, que nunca se

encerra, pois há sempre algo novo para conhecer. Nesta concepção,

evidencia-se que conhecer a totalidade não é dominar todos os fatos,

mas as relações entre eles, sempre reconstruídas no movimento da

história (p. 86-87).

O objetivo geral do estudo, consiste em analisar em que medida o Sinaes tem

preconizado sua característica de induzir à qualidade ou se, em outra direção, vem se

institucionalizando como forma de poder do Estado na função precípua de regular o

sistema federal de educação superior.

A estrutura da pesquisa de natureza qualitativa garantiu o protagonismo do

coordenador do curso sobre avaliação, ação na qual ele é usuário e também gestor,

contribuindo para a sua construção. As informações do coordenador no questionário

específico desta pesquisa, em conjunto com a análise documental dos instrumentos do

Sinaes, elevou o potencial de reflexão sobre o uso dos resultados da avaliação na gestão,

em condições de realizar uma evolução histórica da qualidade dos cursos de Pedagogia

com contribuições ao estudo.

A partir da análise qualitativa dos dados, aprofundou-se a compreensão sobre

os fatos históricos da avaliação, entre eles, as ações dos coordenadores de cursos

investigados em seu ambiente social, a interpretação do processo avaliativo e o percurso

dos cursos de Pedagogia nos ciclos avaliativos do Sinaes, já mencionado anteriormente.

Nessa perspectiva, o uso da abordagem qualitativa desempenhou o papel de

descrever conceitos socialmente construídos, a partir da análise da relação entre

avaliação e regulação. As falas dos coordenadores de curso, inseridas na discussão dos

capítulos, possibilitaram evidenciar as diferentes posições da gestão no que se refere ao

uso dos resultados da avaliação. Contudo, ainda que não seja de modo integral, a análise

dos dados remete a uma política de avaliação da educação superior centrada na visão de

controle do Estado e distanciada da concepção formativa e emancipatória11, voltada à

proposição de melhoria da qualidade dos cursos e orientação da expansão da oferta.

11 Na avaliação formativa, o produto passa a ser apenas um componente do processo da avaliação e está direcionado

à melhora do objeto e à transformação da realidade e do contexto em que este se encontra. A proposta

emancipatória parte da colaboração, do comprometimento com a mudança de paradigmas, com a formação de

novos sujeitos para transformar a realidade. Assim, é necessário um trabalho planejado e executado com a

participação de todos, que tenha resultados significativos e concretos (DIAS SOBRINHO, 2000).

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As informações de caráter público sobre avaliação foram acessadas, na sua

grande maioria, por meio do portal do Inep, e os documentos considerados em situação

de sigilo12 (relatórios de avaliação in loco e o questionário do estudante e do

coordenador dos cursos de Pedagogia) foram solicitados formalmente ao órgão, que

após análise das intenções do projeto, disponibilizou-os à pesquisadora.

O uso da abordagem qualitativa propiciou analisar: i) a compreensão dos

coordenadores de cursos sobre o processo de avaliação, evidenciada nas respostas dos

questionários do Enade; ii) o reconhecimento das práticas de gestão e o entendimento

do Sinaes como política de Estado, circunstanciados no questionário da pesquisa; iii) a

evolução dos cursos nos ciclos avaliativos do Sinaes, com base no referencial teórico e

na dinâmica interna dos processos de avaliação.

Com essas características e apesar de a pesquisa centrar-se na abordagem

qualitativa, não se dispensou a análise quantitativa das informações dos ciclos

avaliativos do Sinaes. Os dados quantitativos foram tomados como ponto de partida e

tiveram o papel de ampliar a perspectiva de análise qualitativa, quando inseridos no

contexto da relação processual entre avaliação e regulação. Assim, foi possível analisar

as opiniões dos coordenadores dos cursos de Pedagogia sobre a concepção de avaliação

e gestão e relacioná-las com as informações contidas nos relatórios, estatísticas e

insumos dos conceitos sob a perspectiva dialética e na visão de totalidade do processo.

O estudo contou, também, com o levantamento do registro de informações em

documentos relevantes sobre a política de avaliação da educação superior. Esses dados

somados às informações dos questionários tornaram complexo o processo de análise,

principalmente pela associação dos diferentes elementos do Sinaes com a finalidade de

garantir a coesão dos resultados. Com a análise de conteúdo foi possível avançar na

análise qualitativa dos dados, situando que as operações de comparação e classificação

partem da relação e do entendimento entre as semelhanças e diferenças do material

coletado. Toda a análise de conteúdo implica comparações contextuais (FRANCO,

2008). Nos Capítulos 4 e 5, revelaram-se, de modo abrangente, as análises dos

respectivos instrumentos.

12 O Inep disponibiliza os dados das avaliações da educação básica e superior aos pesquisadores que intencionam

desenvolver estudos, após análise da proposta de pesquisa e com assinatura de Termo de Confidencialidade.

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Assim, alcançou-se o objetivo de compreender o processo de avaliação da

educação superior como uma política pública de Estado, que deveria estar orientada

para induzir à qualidade. Entretanto, pelos diferentes olhares dos atores, os resultados

dos cursos de Pedagogia nos ciclos avaliativos do Sinaes parecem estar associados às

políticas de regulação e controle da qualidade.13 A crítica, na vertente qualitativa,

contribuiu para interpretar as informações à luz da perspectiva dialética e no contexto

histórico da ação. Articulada ao método materialista histórico-dialético, possibilitou a

reinterpretação e a compreensão dos significados desde sua forma mais particular até a

mais complexa.

Nessa dimensão, a construção dos elementos da pesquisa envolveu a discussão

do conceito de avaliação como política pública e seu propósito diante do contexto social

da busca da qualidade dos cursos de graduação. Na dinâmica de análise do Sinaes,

permeada pela abordagem crítico-dialética, percebeu-se a existência de preocupações

das IES quanto ao uso dos resultados da avaliação voltados à política regulatória, bem

como inquietações da comunidade acadêmica quanto à necessária orientação da

melhoria da qualidade.

Com base nessa observação e na interpretação dos resultados do conjunto de

informações da avaliação dos cursos de Pedagogia nos ciclos avaliativos do Sinaes,

formulou-se a tese deste estudo, na qual, os objetivos da avaliação estiveram, ao longo

dos anos, ajustados aos princípios da regulação na forma de controle da qualidade, em

oposição à avaliação formativa e emancipatória, para garantir e induzir à qualidade.

Dessa forma, buscou-se perceber a existência de reformulação das práticas

internas para a melhoria da qualidade como efeito da avaliação dos cursos. Essa

concepção, assinalada na Lei nº 10.861, de 14 de abril de 2004,14 que instituiu o Sinaes,

13 Controle da qualidade, garantia da qualidade e gestão da qualidade são conceitos medidos por indicadores

relacionados a normas de qualidade utilizadas em relação a serviços, que não deveriam se aplicar à gestão da

educação (ex.: International Organization for Standardization – ISO 9001, ISO 14000). Em serviços são

enfatizadas as relações diretas com os clientes, e o processo deve ser flexível, porque o cliente participa do

processo produtivo de forma efetiva (PALADINI, 1995). 14 O Sinaes tem por finalidades a melhoria da qualidade da educação superior, a orientação da expansão da sua

oferta, o aumento permanente da sua eficácia institucional e efetividade acadêmica e social e, especialmente, a

promoção do aprofundamento dos compromissos e responsabilidades sociais das instituições de educação

superior, por meio da valorização de sua missão pública, da promoção dos valores democráticos, do respeito à

diferença e à diversidade, da afirmação da autonomia e da identidade institucional (BRASIL, 2004).

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investe no entendimento da educação como bem público e de direito e, portanto,

compreende a avaliação como uma prática de gestão formativa e emancipatória.

Entretanto, ao analisar o uso da avaliação pela vertente da gestão dos cursos de

Pedagogia e do Estado, percebeu-se que, de modo geral, mesmo que se refutem tais

práticas, não seria possível negar a existência da centralidade nos resultados. Essa

centralidade fica demonstrada nas diferentes formas de uso da avaliação que apontam

técnicas de ranqueamento e competição, orientadas pela lógica capitalista da oferta de

serviços educacionais. Nesse cenário, Sousa (2012a) diz que a avaliação pode se

concretizar como a principal engrenagem da gestão educacional:

A partir da aplicação de provas padronizadas e de prestação de contas

dos resultados das IES, o Estado pode fomentar e melhorar a formação

dos indivíduos de acordo com as demandas do mercado de trabalho,

oferecer uma relação mais eficiente de custo x benefício dos

investimentos na educação e ainda compartilhar responsabilidades

pela gestão (p. 156).

Essa compreensão torna plausível o argumento da dissociação dos exames

padronizados à dimensão competitiva. Sobretudo, porque no Sinaes o Enade é um dos

elementos do processo avaliativo, e seu uso não deveria ter sentido desagregado dos

demais instrumentos. Em tese, pode-se dizer que o resultado do Enade, quando não

associado aos demais instrumentos do Sinaes, traz uma visão equivocada da avaliação

do curso e pode se caracterizar como uma forma de “não uso” da avaliação.

Problematizando a natureza da avaliação, Cunha (2004) também aponta a

emancipação como elemento intrínseco ao processo avaliativo. Para o autor, quando

ocorre um distanciamento dessa função, reconhece-se a avaliação “como um processo

colonialista e autoritário, que desconsidera os sujeitos e as culturas, impondo padrões

externos definidos longe dos protagonistas e seus valores” (p. 26).

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Esse movimento de reconhecer o antagonismo das práticas de gestão que

refletem, por sua vez, uma ou outra concepção de avaliação, se ajusta ao método

materialista histórico-dialético. O distanciamento entre a concepção de avaliação

formativa e emancipatória proposta pelo Sinaes e a realidade dos cursos revela o papel

dos sujeitos envolvidos, neste caso, os coordenadores de cursos com suas ideias, crenças

e também limitações. Em meio a esse debate, Fonseca (2010) questiona a possibilidade

de executar uma proposta de avaliação que concretize as informações e que estimule a

melhoria da qualidade da educação superior, sem agredir a autonomia institucional,

pois, para a autora, as diferentes modalidades e os mecanismos de avaliação implicam

mudanças peculiares na cultura acadêmica, no trabalho docente, na gestão das

instituições, nas definições curriculares e, sobretudo, na estruturação do campo da

educação superior.

Devido a essa complexidade, a avaliação tem gerado reações

diferenciadas ou mesmo conflitantes por parte da sociedade brasileira.

Alguns afirmam o seu impacto positivo no redimensionamento do

ensino superior15 por meio de adequações curriculares e da melhoria

da formação do corpo docente (geralmente aferida pela quantidade de

professores titulados em cursos de mestrado e doutorado). Outros

apontam para o efeito negativo da sua dimensão competitiva e

discriminadora, na forma de classificação interinstitucional ou se

reportam à sua mera função reguladora, ao dar centralidade aos

resultados de exames padronizados. Enfim, o que se coloca em pauta é

a própria finalidade da avaliação (p. 4-5).

Partindo da necessidade de se estabelecer a finalidade da avaliação, em uma

lógica emancipatória, questiona-se o seu papel transformador. Somente uma proposta

institucional pode dar valor e significado aos processos de avaliação, portanto, essa

visão implica discutir as formas de uso dos resultados da avaliação para induzir

processos de melhoria acadêmica, assim como para subsidiar os atos regulatórios.

Para Afonso (2005), a avaliação é quase sempre um instrumento fundamental

em termos de gestão, mas é também “um instrumento importante de controlo e de

15 Na formulação do Sinaes, a expressão “ensino superior” foi substituída por “educação superior”, visando destacar

a dimensão formativa e educativa inerente à formação nesse nível, além de ressaltar o compromisso com o uso

social do conhecimento, na perspectiva de aprofundamento da construção da cidadania e da democracia. Esse

trecho foi extraído do documento referencial do Sinaes para explicar a substituição da expressão “ensino

superior” por “educação superior” (WEBER, 2012, p. 268).

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legitimação organizacional” (p. 28). A centralidade da avaliação para as ações de

regulação do Estado parece contrariar os princípios do Sinaes, quando assume uma

atitude cartorial, destituída do compromisso com a melhoria da qualidade. Volta-se,

portanto, ao entendimento sobre o “não uso da avaliação”, já que a seleção de um dos

seus instrumentos pode não estar produzindo a visão global do curso, reduzindo a

possibilidade de orientar a gestão para a melhoria da qualidade na totalidade das

dimensões avaliadas.

Na intenção de expandir o conhecimento sobre a finalidade da avaliação, o

estudo dos cursos de Pedagogia nos ciclos avaliativos do Sinaes pautou-se pelo exame

da realidade dos cursos selecionados e a partir do movimento das ações concretas do

processo de avaliação. Esse movimento dialético de alimentação do processo a partir do

diagnóstico da avaliação e do uso dos resultados na melhoria dos cursos justifica o uso

de categorias analíticas para ampliar a compreensão histórica da teoria da avaliação e

sua relação com a base empírica investigada. As categorias totalidade, mediação e

contradição possibilitaram realizar a análise do objeto contemplando as partes do

processo e sua visão geral, os consensos e dissensos em torno do tema e as variações

entre o pensamento e a ação dos atores.

Kuenzer (1998) define as categorias analíticas como aquelas que dão suporte às

relações entre o pesquisador e o objeto investigado e as de conteúdo como “recortes

particulares, sempre definidos a partir do objeto e da finalidade da investigação” (p. 66).

As categorias analíticas e de conteúdo cumprem, nesta pesquisa, o objetivo de iluminar

o estudo dos cursos de Pedagogia nos ciclos avaliativos do Sinaes e dar significado ao

tema, possibilitando uma leitura crítica da realidade, subsidiada na análise dos fatores

internos e externos que podem ter impactado a gestão dos cursos pesquisados.

Na dialética marxista, o conhecimento é parte de um todo, por isso a categoria

da totalidade propiciou estudar o processo de avaliação a partir da visão do conjunto e a

dimensão de cada parte, reconstruindo a ideia sobre o processo, de modo geral. Para

aprofundar a análise das finalidades da avaliação (regular e/ou induzir qualidade) foi

preciso, então, chegar a um nível de maior conhecimento do processo, objetivando

conseguir uma visão mais abrangente dos seguintes elementos sociais e

epistemológicos: i) os pressupostos capitalistas – a expansão da educação superior pode

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ser dar pelo viés econômico, dissociada do contexto social e político do país; ii) a

avaliação como política pública – a política regulatória pode estar voltada aos interesses

da gestão do Estado e, ao mesmo tempo, se constituir sobre preceitos da política de

autorregulação preconizada pelo mercado; iii) a evolução histórica – os usos e efeitos da

avaliação podem refletir a dinâmica da avaliação, independente da e complementar à

política de regulação; iv) os princípios e os propósitos do Sinaes – a avaliação pode

induzir a melhoria de qualidade e também servir à política de regulação.

Nesse sentido, o método dialético na lógica da teoria marxista apresenta

importantes indicações em relação à totalidade. A síntese do conhecimento produzido

pode refletir as contradições e as mediações concretas desencadeadas durante o

processo. Isso porque, no pensamento de Marx e Engels (1963), “não se pode conceber

o mundo como um conjunto de coisas acabadas, mas como um conjunto de processos”

(p. 195). Esta ideia destaca a conexão entre o processo de desenvolvimento e a

transformação, permeada por relações às vezes conflituosas que requerem a

compreensão da origem e do desenvolvimento dos processos que envolvem as

instituições sociais, reconhecendo, portanto, que estas são produtos históricos.

Com essa configuração, buscou-se a compreensão dos resultados da avaliação

e os seus efeitos regulatórios. Em um modelo de prática avaliativa que visa à superação

de problemas, apoio e orientação nas instituições, as mediações surgem como resposta

às demandas e como subsídios para o desenvolvimento das ações e atitudes dos

envolvidos. Assim, foi possível conhecer como se constrói o processo de avaliação e

quais os fatores intervenientes e facilitadores para interpretar o significado da avaliação

na visão dos estudantes, dos cursos, das IES e do Estado.

Acrescenta-se que, ao analisar as relações da gestão dos cursos e do Estado,

tornou-se inevitável refletir sobre as contradições da realidade. Existiram aspectos do

processo de avaliação que para entendê-los não seria suficiente realizar uma análise

isolada dos elementos que compõe o Sinaes (autoavaliação, avaliação externa de IES, de

cursos e do Enade), sobretudo porque desconstituiria sua finalidade. Por isso, como

princípio básico da existência do lugar que o conhecimento ocupa, a dialética tornou-se

fundamental para a interpretação da realidade estudada. A partir das categorias

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analíticas, o materialismo histórico-dialético denota tanto uma concepção científica na

interpretação das leis quanto aponta um método de transformação da sociedade.

Inspirado nesse método, o estudo dos cursos de Pedagogia nos ciclos

avaliativos do Sinaes ancorou-se na abordagem crítico-dialética, que, segundo Santos

Filho e Gamboa (2009), reconhece a ciência como produto da história, da ação do

próprio homem inserido no movimento das formações sociais. Nesse sentido, a ciência é

uma construção. Essa abordagem defende uma visão materialista de mundo, pois

concebe o conhecimento como construído na relação dialética entre o pesquisador e o

objeto, inseridos em uma realidade histórica. O processo de construção do

conhecimento vai do todo para as partes e, ao mesmo tempo, das partes para o todo,

realizando um círculo de síntese de acordo com o contexto e exigindo uma relação que

passa do subjetivo para o objetivo, com necessidade de aproximação e, às vezes, de

afastamento16.

Com o objetivo de conferir maior organização ao trabalho, a construção dos

elementos da pesquisa foi permeada pela análise das categorias de conteúdo (qualidade

da educação superior e avaliação como política pública), ambas definidas pela

aproximação temática e pela visão histórica dos acontecimentos. Essas categorias

constituem elementos teórico-práticos básicos que fundamentam a construção dessa

análise na relação com o objeto de investigação.

Na perspectiva crítico-dialética, o estudo ampliou a compreensão do contexto

do Sinaes, reconhecendo na fala dos coordenadores de cursos sua efetividade como

política pública. Com essa compreensão, a avaliação traz informações descritivas,

analíticas, reflexivas e inovadoras para promover o desenvolvimento de novas ações

16 Para Santos Filho e Gamboa (2002), existem outras duas abordagens do método que merecem ser consideradas:

a) a abordagem empírico-analítica, que segue os princípios válidos para as Ciências Físicas e Naturais, com uma

concepção de ciência relacionada à causalidade (explicação pelo procedimento experimental). Essa abordagem

apresenta uma visão idealista do mundo, ao defender que o conhecimento ocorre a partir de um objeto já

existente, que para ser conhecido é preciso ser inserido em uma realidade, cabendo ao homem apenas identificá-la

e interpretá-la. A construção do conhecimento a partir da abordagem empírico-analítica implica a representação

de um processo que parte do todo para as partes e que exige necessariamente o distanciamento do pesquisador em

relação ao objeto ou fenômeno estudado; b) a abordagem fenomenológico-hermenêutica, que consiste na

compreensão e interpretação (hermenêutica) dos fenômenos, em suas diversas manifestações, mediadas pela

comunicação (denuncia os limites, procurando superá-los pela interpretação do contexto, captando a

subjetividade). Essa abordagem também apresenta uma visão idealista de mundo, na qual o conhecimento não

está centralizado no objeto e sim no sujeito a priori, que o interpreta e explica ao seu modo. Diferentemente da

abordagem empírico-analítica, na abordagem fenomenológica o processo de construção do conhecimento vai das

partes para o todo e exige a aproximação do pesquisador em relação ao objeto e ao fenômeno estudado.

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mais abrangentes e inclusivas. Sobretudo, porque se trata de uma realidade analisada em

suas contradições (fatos e processos em constante interação) e mediações realizadas

para compreender a sociedade.

Dessa compreensão, pode-se apreender que a sociedade ainda luta pela

ampliação do acesso à educação superior, à informação qualitativa do sistema

educacional e à implementação de políticas sociais mais abrangentes. Assim, o

estabelecimento da avaliação como política pública pode colaborar para o debate das

reais finalidades do Sinaes nesse cenário educacional, principalmente, porque interessa

saber sob qual lógica se desenvolve o sistema: na perspectiva indutora de qualidade e/ou

na forma de controle do Estado para fins de regulação.A resposta a esse questionamento

parece estar relacionada diretamente à visão da política educacional do país.

Para Catani (2002), um sistema de avaliação da educação superior deve estar

associado à visão de mundo que se pretende implantar na política educacional, pois “o

sistema de avaliação deve vincular-se à definição de projetos emancipatórios que

tenham por base um projeto de justiça social, em contraposição ao reducionismo

pragmatista da lógica mercantil” (p. 115).

Corroborando esse pensamento, poder-se-ia dizer, ainda, que, de fato, avaliar

visando melhorias requer ultrapassar toda e qualquer visão maniqueísta17 da educação e

propor a realização de um diagnóstico da realidade que subsidie o planejamento das

ações com metas de avanços em curto, médio e longo prazo. A avaliação, nessa

perspectiva, torna-se uma dimensão da gestão social e pressupõe um caráter ético18 que

visa à melhoria da qualidade da educação superior brasileira.

Para Dias Sobrinho (2004), nenhuma avaliação é neutra, tampouco nenhuma

concepção de educação superior está isenta de visões de mundo e de ideias sobre

sociedade ideal;19 por isso, é preciso compreender que podem existir na sociedade

17 O uso da expressão maniqueísta tem o sentido de apresentar a dualidade da avaliação quando utilizada como mero

instrumento para aprovar ou desaprovar, sem que se tenha um olhar sobre o processo e as melhorias que poderão

advir do diagnóstico realizado pela avaliação. 18 A questão ética aponta para a dimensão social dos processos avaliativos, pois estes não têm um fim em si mesmo.

O caráter ético é subjacente a toda e qualquer ação que se queira transformadora no campo social. A dimensão

ética do desenvolvimento social é responsabilidade e compromisso do Estado democrático e da sociedade civil

organizada (CURTY, 2000). 19 No marxismo, o fim justifica os meios. O marxismo defende a ação coletiva para alterar as condicionantes

econômicas, com vistas à construção da sociedade ideal, enquanto que a sociedade ideal na perspectiva weberiana

seria aquela na qual o homem valeria mais do que as coisas.

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concepções de mundo e interesses individuais e coletivos bastante diferenciados. Assim,

“a avaliação carrega consigo a problemática sempre plural dos valores e, então, da ética

e da cultura, e que a educação superior tem igualmente um sentido fortemente social,

portanto, também, ético, cultural e político” (p. 705).

Ressalta-se, nesse pensamento, a importância do caráter ético da avaliação e a

influência deste na confiança do processo avaliativo. São dilemas e conflitos sociais que

resultam da interação entre as pessoas e, sobretudo, que interferem na organização e no

uso das informações pelos agentes envolvidos no processo avaliativo, entre eles, os

avaliadores, as IES e o Estado. Como realidade social, a educação superior e a avaliação

cumprem papéis dinâmicos que se alteram a depender das situações históricas

vivenciadas. E, por isso, os processos precisam ser analisados e compreendidos em cada

situação e na sua totalidade.

As ideias de Marx (1978) auxiliam na compreensão da totalidade do processo

avaliativo. Um processo que não é a soma dos distintos momentos, mas que tem sentido

no movimento dialético. As ideias de Marx (1978) sobre a importância de analisar as

partes do processo nos auxiliam na compreensão do processo avaliativo. Para o autor,

“o curso do pensamento abstrato, que se eleva do mais simples ao mais complexo,

corresponde ao processo histórico efetivo” (p. 118). É assim que se chega ao

conhecimento do todo. A visão de conjunto, elaborada por meio de síntese de cada

processo, não pode pretender esgotar a realidade, pois esta é sempre maior do que o

conhecimento que se tem da realidade, mas permite a visão de totalidade. No Sinaes,

por exemplo, os elementos que o constituem20 agregam valor ao curso e à IES, quando

vistos de forma articulada e para fins de proposição de melhoria. Para Martins (2005),

“é necessária a existência de avaliação contínua que considere a totalidade das

dimensões envolvidas nas IES, dos seus programas e cursos de formação, bem como

das demais atividades por elas desenvolvidas” (p. 42).

Nesse caso, a integração dos instrumentos produz mais do que a soma dos

resultados de cada avaliação, ao contrário do que se esperaria se fossem considerados

isoladamente. No modo de se articularem e de constituírem uma totalidade, os

20 Os componentes do Sinaes (autoavaliação, avaliação externa de cursos e de IES e o Enade) serão detalhados no

Capítulo 2, que trata da dinâmica da avaliação da educação superior no país.

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processos individuais assumem características que não teriam, caso permanecessem fora

do conjunto. Esse aspecto é relevante na pesquisa que analisa os elementos da avaliação

do Sinaes de forma articulada e que pretende revelar a qualidade da oferta dos cursos de

Pedagogia em todos os seus aspectos (organização didático-pedagógica, infraestrutura e

corpo docente).

E, ainda que se possa ter como subsídio a particularidade, segundo Oliveira

(2005), é somente “pela análise dialética da relação entre o singular e o universal que se

torna possível a construção do conhecimento concreto, ou seja, é apenas por essa via

que a ênfase conferida ao particular não se converte no abandono do saber na

perspectiva da totalidade” (p. 12). Portanto, ainda que se quisesse analisar, por exemplo,

o Enade do curso de Pedagogia, sem considerar os demais instrumentos de avaliação,

seria necessário ponderar a limitação desse instrumento no que se refere à participação

dos estudantes. Além disso, seria preciso mensurar os efeitos sobre o desempenho dos

estudantes como elemento que pode prevalecer sobre os demais indicadores de

qualidade (objetos de avaliação).

A contribuição teórico-metodológica do materialismo histórico-dialético para

esta pesquisa centrou-se na produção do conhecimento sobre a avaliação da educação

superior e a intrínseca aproximação desse conhecimento para fortalecer as relações

humanas, a gestão das IES e do Estado, com significado para a transformação social. A

epistemologia marxista possibilitou analisar o Sinaes como parte de um processo

histórico de construção de uma política pública de avaliação da educação superior.

Nesse contexto, não se pode descartar que o uso dos resultados da avaliação, em

oposição aos princípios éticos e legais preconizados na origem do Sinaes, pode colocar

a avaliação a serviço da manutenção das ações de controle e poder do Estado sobre a

sociedade, a depender da tomada de decisão sobre o uso dos seus resultados. Essa

possibilidade pressupõe a manutenção de práticas históricas geradas em bases

capitalistas da sociedade, sobretudo, pela resistência à mudança social.

O exercício da regulação pelo Estado tem o objetivo de zelar para que a

legislação educacional do país seja cumprida. Neste sentido, a atividade de avaliação,

que deveria induzir à qualidade da educação superior e orientar a expansão da oferta dos

cursos de graduação em consonância com as diretrizes curriculares nacionais e

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parâmetros de qualidade de cursos e instituições, passa a ser vista de forma

descontinuada, em decorrência das concepções e dos procedimentos de regulação

adotados pelo Estado.

Este pensamento reconhece a supremacia da concepção de avaliação apenas

como verificação e controle dos aspectos imprescindíveis para regular, mas que não

induz à qualidade pela sua característica pontual. Refere-se ao distanciamento dos

processos de avaliação e de regulação do objetivo pedagógico esperado das políticas

educacionais. Convive-se, portanto, com um misto de socialismo e neoliberalismo em

suas orientações políticas. Dá-se ênfase à avaliação dos resultados (e produtos) e,

consequentemente, desvaloriza-se a avaliação dos processos, como é o caso dos exames

nacionais, que reduzem a complexidade do processo educativo apenas ao que é

mensurável. É preciso definir se a avaliação será instrumento de controle ou de

desenvolvimento, de promoção do ser humano e da escola (AFONSO, 2005).

Nesse sentido, tem-se como pressuposto que a avaliação, em vez de propiciar

um diagnóstico das reais condições de oferta dos cursos para a superação das

dificuldades e a indução de qualidade, tem servido às práticas de controle e de punição

com base em resultados e padrões mínimos.21 Percebe-se, na análise dos resultados da

avaliação dos cursos de Pedagogia nos ciclos avaliativos de 2005, 2008 e 2011, a

inexistência de formas instituídas para resistir à força emanada da política regulatória.

O uso dos resultados da avaliação para a superação das dificuldades

diagnosticadas ou mesmo para a promoção de melhorias é percebido nas falas dos

coordenadores dos cursos pesquisados em apenas algumas circunstâncias, mas sempre

em decorrência de um processo organizado para atender à lógica regulatória. Esse

processo ocorre, portanto, sem que se analisem os processos de avaliação e de regulação

em sua relação de interdependência e complementaridade.

A construção dos processos de avaliação e regulação interdependentes e

complementares requer o compartilhamento decisório da política de educação superior e

a definição de compromissos educacionais que respeitem a autonomia de cada processo.

21 A Constituição Federal (CF) de 1988 no seu artigo 4º define que o dever do Estado com a educação escolar

pública será efetivado mediante a garantia de: “IX – padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a

variedade e a quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de

ensino-aprendizagem” (BRASIL, 1988).

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A estrutura de funcionamento deve apresentar várias formas de conexão, a fim de

produzir as combinações dos saberes (avaliativos e regulatórios) para a análise das

situações que envolvem elementos objetivos, subjetivos e sociais. Percebe-se que a

natureza da organização do sistema de avaliação coordenado pelo Inep e pela Comissão

Nacional de Avaliação da Educação Superior (Conaes)22 e da regulação sob a gestão da

Seres permite a formação de variados olhares e perspectivas de abordagem e

intervenção, o que pode impulsionar o potencial de inovação na resolução de problemas

concretos de cada processo. A atuação complementar da avaliação e regulação, ao

articular questões concretas, potenciais e saberes de cada um dos processos, pode

intensificar a capacidade de organização, superando o olhar segmentado e estagnado da

realidade da educação superior.

Portanto, a compreensão sobre a relação existente entre a avaliação e a

regulação passa pelo conhecimento histórico da organização da estrutura de gestão do

Estado. Nesse caminho, pela complexidade de execução do processo de avaliação da

educação superior, desde instituído, o Sinaes esteve coordenado por diferentes

instâncias no MEC: i) sob a responsabilidade da SESu, que até o ano de 2005

operacionalizava as avaliações in loco e decidia pelos aspectos regulatórios; e ii) sob a

responsabilidade do Inep, que realiza o exame de desempenho dos estudantes da

educação superior, passando a incorporar as atividades de avaliação in loco em 2005 e

disponibilizando os resultados para as secretarias do MEC, a fim de proceder aos atos

regulatórios.

Entretanto, a ação regulatória sempre esteve sob a responsabilidade das

Secretarias do Ministério da Educação: SESu, Setec e Seed, sem que se questionassem

as decisões de quem o faz, o modo como faz e as implicações da sua atuação. Mais

recentemente, o processo de regulação passou a ser centralizado na Seres e, nesse

22 A Conaes é o órgão colegiado de coordenação e supervisão do Sinaes, instituído pela Lei nº 10.861, de 14 de abril

de 2004. Possui as seguintes atribuições: I – propor e avaliar as dinâmicas, procedimentos e mecanismos da

avaliação institucional, de cursos e de desempenho dos estudantes; II – estabelecer diretrizes para organização e

designação de comissões de avaliação, analisar relatórios, elaborar pareceres e encaminhar recomendações às

instâncias competentes; III – formular propostas para o desenvolvimento das IES, com base nas análises e

recomendações produzidas nos processos de avaliação; IV – articular-se com os sistemas estaduais de ensino,

visando a estabelecer ações e critérios comuns de avaliação e supervisão da educação superior; V – submeter

anualmente à aprovação do Ministro de Estado da Educação a relação dos cursos a cujos estudantes será aplicado

o Enade; VI – elaborar o seu regimento, a ser aprovado em ato do Ministro; VII – realizar reuniões ordinárias

mensais e extraordinárias (BRASIL, 2004).

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sentido, parece ter fortalecido o papel regulatório com a criação de uma Secretaria

voltada especificamente à condução da política regulatória da educação superior no

país. No Capítulo 1, são aprofundadas as concepções atribuídas aos tipos de regulação,

bem como as implicações desta quando exerce função preponderante à avaliação,

induzindo a uma interpretação de forma de controle do Estado, que contraria as práticas

de indução de políticas de melhoria da qualidade.

A intenção de estabelecer possíveis relações e interfaces entre avaliação e

regulação contribuiu para a compreensão dos processos que visam à construção de uma

educação superior de qualidade. Nessa lógica, reitera-se o pressuposto marxista de que a

realidade não se apresenta na forma acabada, mas em constante transformação. Assim,

além de discutir o modo de operacionalização do processo de avaliação e o uso dos seus

resultados, o presente estudo analisou as relações sociais que originaram o processo

avaliativo, os argumentos teóricos, os subsídios gerados para compreender, explicar e

transformar a realidade.

Para ampliar a visão do uso dos resultados do Sinaes (regular e/ou induzir

qualidade), realizou-se a revisão teórica da avaliação como política pública, com vistas

a reduzir, no diálogo crítico da avaliação dos cursos de Pedagogia, o desconhecimento

sobre o processo de avaliação e regulação por parte de cada um dos envolvidos no

processo avaliativo: i) da IES, pela busca constante para atender às exigências e

condições impostas pelo Estado-Avaliador;23 ii) do Estado, que se fragiliza, política e

tecnicamente, devido à ação de controle inerente ao processo regulatório e ao

acompanhamento da qualidade, naturalmente contrário aos interesses privados; e iii) do

mercado, que pretende ampliar a oferta de novos cursos de forma massificada, dada a

sustentabilidade orientada mais pelos critérios de lucro e competitividade e menos pelo

investimento nas condições necessárias para uma educação de qualidade.

23 O Estado-Avaliador consiste numa racionalização e redistribuição das funções de modo estratégico, permitindo o

controle com mecanismos reduzidos de poder central (NEAVE, 2001). Sinaliza, portanto, uma transição da forma

de regulação burocrática fortemente centralizada para uma forma de regulação híbrida que conjuga o controle

pelo Estado com estratégias de autonomia e autorregulação das instituições educativas. Um trabalho recente

define que a característica do Estado-Avaliador “reside exatamente na ênfase simultânea, por um lado, na

desregulação e na autonomia institucional, e, por outro, no desenvolvimento de um corpo regulatório

condicionando a ação institucional” (SEIXAS, 2001).

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A partir da configuração da realidade da educação superior, constatou-se a

necessidade de analisar a relação entre o papel do Estado e as políticas de avaliação e

regulação. Como uma política pública, o Sinaes tem importância pela sua característica

indutora de qualidade, e o processo de regulação agrega valor aos resultados da

avaliação com informações que podem subsidiam as suas práticas. Portanto, alguns

fundamentos da política educacional são contextualizados a seguir, visando

compreender como a concepção de Estado, de avaliação e de regulação, no período

analisado, tem influenciado a gestão da educação superior.

Autores como Dias Sobrinho (1998) e Belloni (1998) dizem que no processo

de avaliação, de um lado, está o Estado e, de outro, a comunidade acadêmica.

Permeando essa relação, insere-se o mercado com mecanismos, às vezes, punitivos e

excludentes. Essa polarização entre Estado e comunidade acadêmica permite que a

avaliação se configure apenas em um instrumento de prestação de contas à sociedade,

tornando-se necessária para a eficiência da gestão centrada nos resultados, que, por sua

vez, podem ser seguidos de medidas punitivas. Outrossim, tem-se o sentido da avaliação

como um processo que possibilita a conquista de maior autonomia por meio da melhoria

das IES e da democratização da educação. A partir da compreensão de avaliação como

processo, estabelece-se a articulação entre a missão24 da IES e seus objetivos, pois esses

elementos integrantes do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) direcionam sua

posição social e configuram a sua identidade, elevando seu grau de comprometimento

com a qualidade da educação.25

24 A missão estabelece qual a razão de existir da instituição, diferenciando-a da concepção de visão, que mostra para

onde a instituição se desloca em longo prazo (SANTOS, 1997). 25 Conforme o Glossário do Instrumento de avaliação institucional externa homologado em janeiro de 2014 e

fundamentado no Decreto nº 5.773/2006, o “PDI é o instrumento de planejamento e gestão. Ele considera a

identidade da IES no âmbito da sua filosofia de trabalho, da missão a que se propõe, das estratégias para atingir

suas metas e objetivos, da sua estrutura organizacional, do Projeto Pedagógico Institucional, com as diretrizes

pedagógicas que orientam suas ações e as atividades acadêmicas e científicas que desenvolve e visa desenvolver.

Abrangendo um período de cinco anos, deverá contemplar ainda: o cronograma e a metodologia de

implementação dos objetivos, metas e ações da IES, observando a coerência e a articulação entre as diversas

ações; a manutenção de padrões de qualidade; o perfil do corpo docente; a oferta de cursos de graduação, pós-

graduação, presenciais e/ou a distância; a descrição da infraestrutura física e instalações acadêmicas, com ênfase

na biblioteca e laboratórios, e o demonstrativo de capacidade e sustentabilidade financeiras” (BRASIL, 2014).

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Contraditoriamente ao entendimento da avaliação como um processo, tem-se a

concepção de avaliação denominada meritocrática. Segundo Belloni (1998), esta é

orientada pela lógica da regulação e do controle e “está voltada para a identificação e

seleção dos ‘melhores’, com vistas a políticas de incentivos e financiamento, assim

como ao estabelecimento de padrões de status e excelência, traduzidos em listas

hierárquicas ou rankings” (p. 53).

O uso da avaliação meritocrática pode expressar uma concepção de avaliação

que encontra sentido na lógica da regulação. Entretanto, a tendência de uso da avaliação

na concepção transformadora, segundo a mesma autora, visa à “construção da qualidade

e da excelência não excludentes, mediante a identificação dos acertos e das dificuldades,

com a finalidade de melhoria institucional e construção de uma universidade

comprometida com o desenvolvimento científico e social” (p. 53).

Sob essa ótica, tem-se como pressuposto que, quando o uso dos resultados do

Sinaes se distância do objetivo indutor de qualidade, a avaliação da educação superior

passa a ser orientada pela forma meritocrática, sobressaindo a ênfase nos resultados, que

favorece a comparação e a hierarquia das funções. Essa forma de uso dos resultados da

avaliação maximiza as ações de regulação e controle do sistema e reduz o potencial da

avaliação para as funções sociais e de melhoria da qualidade.

Essa prática histórica pode ter origem no Estado capitalista, que, conforme

Ianni (1982), “deve revelar, sob uma luz especial, a forma pela qual se organizam as

forças produtivas, as relações de produção; ou seja, as classes sociais, em seus

movimentos e antagonismos” (p. 75). Isso porque, com base no materialismo histórico-

dialético, se busca identificar as determinações do Estado que podem fazer emergir as

contradições e os conflitos sociais. Esse movimento dialético fundado na realidade

histórica caracteriza o método de análise marxista, que parte sempre da investigação

preliminar do real, opção feita na realização desta pesquisa (MARX, 1983).

Como todo processo, a avaliação da educação superior, analisada pelo viés do

movimento da sociedade, faz emergir muitas contradições, descontinuidades e até

mesmo propostas de mediação construídas no confronto de posições entre o Estado e a

sociedade. Dessa forma, na análise dos cursos de Pedagogia, percebeu-se a existência de

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duas concepções de avaliação antagônicas: alguns cursos com práticas de gestão de

cunho meritocrático e outras de cunho transformador.

Essa caracterização foi obtida a partir dos dados coletados nos questionários do

estudante e do coordenador de curso. Com essas informações, revelaram-se

consonâncias e divergências entre os objetivos do curso, propostas pedagógicas e perfil

dos estudantes que mais se aproximavam de uma ou de outra tendência. A concepção de

qualidade expressa pelos coordenadores dos cursos de Pedagogia, detalhada no Capítulo

3, foi fundamental para a identificação das relações que permeiam uma ou outra prática

de gestão. Somando-se a isso, a análise sobre o uso dos resultados da avaliação do

Sinaes possibilitou reconhecer se as práticas de gestão foram orientadas para atender à

política regulatória ou se visavam promover melhorias internas no curso.

O caráter nacional da pesquisa, evidenciado na abrangência de cursos de

Pedagogia das cinco regiões do país, possibilitou distinguir a qualidade dos cursos de

Pedagogia. Percebeu-se, também, que a educação superior apresenta diferenças que

podem servir para qualificar o processo de avaliação e não para justificar práticas

reducionistas do potencial indutor de qualidade da avaliação.

Com esse delineamento, os conhecimentos sobre o processo de avaliação

foram sendo construídos no decorrer da pesquisa, ao mesmo tempo que revelaram a

necessidade de maior aprofundamento sobre as especificidades das IES e o contexto

regional em que estavam inseridas. Ratifica-se, portanto, que o projeto pedagógico é um

elemento de construção da identidade do curso, e com essa ênfase a qualidade está posta

como um desafio para uma faculdade, da mesma forma em que está para um centro

universitário ou para uma universidade.

Nessa perspectiva, o estudo buscou abarcar todas as dimensões que envolvem o

sistema de avaliação da educação superior: a sua concepção, as origens de possíveis

contradições e evoluções da política educacional, as mediações realizadas e o

desenvolvimento de práticas transformadoras da realidade. Nesse aspecto, evidenciou-se

que, para compreender o processo de avaliação instalado no país, seria necessário

conhecer, de forma mais aprofundada, o sistema de educação superior, no qual as

políticas públicas podem ser influenciadas e também influenciar a implementação do

Sinaes.

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Esse esforço, realizado no decorrer da construção deste estudo, foi essencial

para analisar o incremento da função diagnóstica da avaliação, pois contribuiu para o

mapeamento das condições das IES e para o reconhecimento do modo como se efetivam

a gestão acadêmica, a organização pedagógica dos cursos, a infraestrutura, os

investimentos na produção científica e a responsabilidade com o desenvolvimento

social. Todas essas informações foram relevantes para a valorização do projeto

pedagógico dos cursos e sua ênfase na construção do conhecimento e na formação

profissional dos estudantes. Esse caráter retoma o propósito dos objetivos atribuídos ao

Sinaes de, por meio da avaliação, induzir à melhoria da qualidade da educação superior.

Nesse sentido, são questionadas as práticas acadêmicas que geram

desenvolvimento de processos internos nas IES, de planejamento, de ação e de

avaliação. A qualidade passa a ser um projeto que parte dos objetivos da sociedade e do

entendimento da comunidade acadêmica sobre a missão da IES e a formação dos

estudantes no desenvolvimento de um mundo melhor.

Para contextualizar o Sinaes em relação à postura de indução de qualidade,

ressalta-se que somente a partir de 2012 os instrumentos de avaliação começaram a

dialogar com novas temáticas, constituindo indicadores para avaliar as políticas para

egressos, os processos de internacionalização26 e as características de inovação na

gestão. Esses temas são aprofundados a seguir, pois constituem referenciais importantes

para a qualidade.

É nesse cenário que se constrói a política de avaliação da educação superior,

em estado de permanente evolução. O crescente interesse pelo estudo da política de

avaliação entendida como processo condicionante da gestão dos sistemas e das IES

demanda a ampliação de pesquisas empíricas que contribuam para o melhor

entendimento da temática.

26 Internacionalização da educação superior é um conceito complexo, com uma diversidade de termos relacionados,

apresentando diversas fases de desenvolvimento: a) dimensão internacional – presente no século 20, que se

caracteriza por ser uma fase incidental mais do que organizada; b) educação internacional – atividade organizada

prevalente nos Estados Unidos, entre a Segunda Guerra Mundial e o término da Guerra Fria, preferentemente por

razões políticas e de segurança nacional; e c) internacionalização da educação superior, posterior à Guerra Fria e

com características de um processo estratégico ligado à globalização e à regionalização das sociedades e seu

impacto na educação superior” (MOROSINI, 2006).

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Os estudos elaborados por Verhine, Dantas e Soares (2006), reconhecem a

importância de se analisar os resultados da avaliação, inclusive com o apoio formal do

Estado.

A sociedade, de maneira geral, continua apenas sendo informada dos

resultados do exame, agora com menos alarde. No entanto, é

importante mencionar os planos do Inep de envolver, ainda mais, a

comunidade científica no processo de discussão sobre a qualidade do

Ensino Superior, através de convites formais para submissão de

projetos de pesquisa baseados na utilização dos dados do Enade (p.

298).

Apesar dessa orientação de investimento em pesquisas sobre os processos de

avaliação da educação superior, observa-se que os bancos de dados do Inep, instância

oficial de coordenação do Sinaes, ainda são timidamente consultados para a realização

de estudos de acompanhamento da qualidade, haja vista o reduzido número de

publicações sobre o tema. O baixo nível de acesso aos dados ou mesmo o pouco

interesse em realizar estudos e pesquisas sobre a avaliação de forma sistemática podem

ser mais um indicador do não uso dos resultados da avaliação pelas IES. Acredita-se

que a importância do tema cresce na mesma medida em que se passa a utilizar a base

empírica para o diagnóstico e a proposição de futuras ações para a melhoria dos cursos

de graduação.

Com esse sentido, a presente pesquisa dialoga com outros estudos que

buscaram compreender o processo de avaliação, suas origens e finalidades, as possíveis

lacunas e as contribuições para a educação superior brasileira. Desses estudos,

destacam-se alguns que analisam os usos da avaliação e que abordam: i) considerações

sobre a elaboração e a implantação do sistema nacional de avaliação da educação

superior (BARREYRO; ROTHEN, 2006, 2008); ii) a avaliação como garantia pública

de qualidade versus avaliação para a melhoria da qualidade (STUBRIN, 2005); iii) a

qualidade na educação superior (MOROSINI, 2009, 2011), o estudo do 1º ciclo

avaliativo do Sinaes (INEP, 2011), a avaliação institucional como instrumento de gestão

(MARBACK NETO, 2007); iv) a autoavaliação e as comissões próprias de avaliação

(LEITE, 2008); a relação entre teoria e prática na avaliação institucional (FONSECA,

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2010; SANCHES, 2011); v) a avaliação e a regulação da educação superior (AFONSO,

2005, 2007, 2009; BARROSO, 2005; WEBER, 2010; SOUSA, 2012).

Os estudos apontam para uma ênfase na situação de funcionamento dos cursos,

muito mais próxima dos critérios exigidos da política de controle do Estado, centrada

nos resultados necessários à regulação, do que do percurso da avaliação na função

emancipatória, a favor da concepção formativa que subsidia o processo de melhoria das

IES.

Cabe ressaltar que os estudos realizados até então empregam os elementos do

Sinaes de forma desarticulada. Alguns apresentam foco no Enade, outros se referem aos

processos de autoavaliação e/ou de avaliação institucional e de cursos: Weber (2010);

Fonseca (2010); Peixoto (2009); Leite (2008); Limana e Brito (2005); Polidori,

Marinho-Araujo e Barreyro (2006); Verhine, Dantas e Soares (2006); BARREYRO,

2004; Dourado, Catani e Oliveira e (2003). Mais recentemente, aparecem estudos sobre

os indicadores de qualidade: Morosini (2009) e Barreyro e Rothen (2008). Tais estudos,

sobre os elementos do Sinaes e/ou indicadores de qualidade que extraem insumos dos

processos de avaliação, parecem divergir da proposta do Sinaes, quando analisam os

resultados da avaliação de modo isolado, sem se reportar ao conjunto dos instrumentos

do sistema.

Dessa forma, os estudos sobre os processos de avaliação parecem fortalecer a

lógica imposta pela política regulatória, distanciando-se da proposta do Sinaes. As

críticas aos instrumentos parecem revelar a incompreensão sobre a representatividade

destes no ciclo avaliativo e, assim, podem reduzir o potencial da avaliação da educação

superior como indutora de qualidade. Destaca-se que na construção desse estudo foi

possível perceber, em alguns cursos, um misto da relação entre a avaliação para fins

regulatórios e a avaliação formativa, contextualizada na sobreposição dos indicadores

de qualidade da educação superior aos elementos do Sinaes. Com esse sentido, o

significado desta pesquisa é relevante para discutir um novo modo de análise dos

resultados da avaliação que fortaleçam a visão global e sistêmica dos instrumentos de

avaliação. Essa perspectiva pressupõe uma análise da relação entre o uso dos resultados

da avaliação e as melhorias indicadas em todas as dimensões práticas e teóricas do

Sinaes.

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Muitas vezes, os estudos buscam atribuir um consenso de qualidade ao curso

por apenas um dos resultados do Sinaes: o Conceito Enade ou Conceito de Curso

(CC).27 E como se não bastasse a ocorrência da análise independente dos elementos do

Sinaes, o Conceito Preliminar de Curso (CPC),28 aplicado como subsídio para fins de

dispensa de visita de avaliação, parece estar associado a diferentes interpretações, a

depender do interesse de cada instância interlocutora: i) para a instância reguladora, tem

efeito burocrático com a agilização dos atos regulatórios e a redução do número de

processos a serem analisados em cada ciclo avaliativo; ii) para a instância avaliadora,

tem efeito de descontinuidade processual, quando não se aplicam integralmente os

instrumentos previstos no ciclo avaliativo do Sinaes, e dificulta a análise sistêmica e

global; e iii) no âmbito da IES, tem efeito redutor das informações sobre a qualidade do

curso, que permite o acompanhamento das ações e o planejamento de melhoria contínua

em cada ciclo avaliativo.

Construído como indicador de qualidade para atuar de forma preditora à

avaliação do Sinaes, o CPC culminou em sua interpretação como um conceito final do

Sinaes, por sua aplicabilidade na forma substitutiva ao CC, resultante da dispensa da

avaliação in loco. Essa interpretação do uso do resultado da avaliação representa uma

contradição ao objetivo do Sinaes, que pressupõe considerar a análise global do

conjunto dos elementos que compõem a política de avaliação da educação superior

vigente no país. Nessa direção, a análise dos elementos do Sinaes pode indicar um baixo

desempenho do curso em um dos instrumentos, por exemplo, no Enade, e um melhor

resultado na avaliação in loco.29 Como ambos os instrumentos apresentam objetivos

distintos, mas visam ao mesmo propósito de avaliar a qualidade da oferta do curso, não

poderiam ser considerados separadamente para fins de regulação. Sobretudo, porque

esse uso separado dos resultados do Sinaes pode comprometer seu objetivo de promover

melhoria da qualidade. O modus operandi da regulação pode indicar, mais uma vez, o

27 O CC é a nota final de qualidade dada pelo Sinaes aos cursos de graduação, depois do relatório da avaliação in

loco. 28 O CPC foi criado e divulgado por meio da Portaria nº 4, de 5 de agosto de 2008, com o intuito de avaliar a

qualidade dos cursos de educação superior e servir como indicador de qualidade dos cursos de graduação em

âmbito nacional (BRASIL, 2008). 29 O Enade tem como objetivo avaliar o desempenho do estudante, e a avaliação in loco visa informar sobre as

condições de oferta do curso.

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“não uso” da avaliação, ao tempo que o uso dos seus resultados na forma parcial pode

desqualificar a análise sistêmica e global, pressuposto da política de avaliação.

Com essa compreensão, realizou-se neste estudo a análise dos elementos e

instrumentos constitutivos do Sinaes, relativos à avaliação dos cursos de graduação.

Essa configuração visou garantir a devida atenção a cada um dos processos e às

respectivas comparações, observando-se a totalidade das informações sobre a qualidade

dos cursos e as especificidades de cada componente nesse conjunto. A característica de

análise conjugada dos instrumentos de avaliação dos cursos foi, portanto, introduzida

como elemento inédito nesta pesquisa, tendo em vista que, conforme mencionado

anteriormente, não há evidências anteriores de estudos dessa natureza. Desse ponto de

vista, o interesse da pesquisa é centrado na análise do conjunto de elementos que

compõem o sistema nacional de avaliação da educação superior, tendo por finalidade

realizar uma análise global e sistêmica da avaliação no grupo selecionado de cursos de

Pedagogia.

Na trajetória metodológica da pesquisa, foram consideradas as transformações

que contribuíram para o processo de avaliação da educação superior, desde a criação do

Sinaes em 2004. Assim, todos os instrumentos, elementos e indicadores utilizados na

avaliação dos cursos foram analisados (Enade, indicadores de qualidade e resultado da

avaliação in loco), não apenas na forma de resultado final, mas como elementos de um

mesmo ciclo avaliativo. Polidori (2009) reitera a ideia de que esses elementos são os

pilares da avaliação e, por isso, a necessidade de realizar o ciclo avaliativo completo

para, então, ser possível reconhecer o mérito e o valor de cada curso e respectiva IES.

A proposta do Sinaes compreende a necessidade das IES passarem por

um ciclo completo de avaliação. Esse ciclo envolve os três pilares do

Sistema, ou seja, a avaliação institucional, a avaliação de cursos e a

avaliação de desempenho dos estudantes. No entanto, o ciclo desse

Sistema não pode ser considerado como uma dinâmica linear. Cada

pilar compreende vários estágios e atuações que diferem de IES para

IES. Aliás, este é um dos grandes princípios do Sinaes: “respeitar as

diferenças e as especificidades de cada IES” (p. 446).

No sentido exposto pela autora, os resultados da avaliação oportunizam

reconhecer a qualidade dos cursos em seus diferentes elementos. O ciclo completo da

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avaliação ocorre quando todas as informações da avaliação (de cursos e de desempenho

dos estudantes) forem obtidas à luz do conjunto dos instrumentos aplicados. O desafio é

respeitar as diferenças e as especificidades de cada IES na implementação do Sinaes e

dinamizar o ciclo avaliativo definido a cada três anos, a partir das áreas avaliadas pelo

Enade.

Finalmente, a conjuntura nacional discutida no presente estudo amplia o

universo das pesquisas sobre o uso da avaliação e a qualidade dos cursos de graduação

de Pedagogia, trazendo um olhar sobre a avaliação dos cursos nas diferentes regiões do

país. A relevância do estudo está, portanto, na possibilidade de analisar o impacto da

gestão das IES e do Estado na implementação do Sinaes, já que a análise do uso dos

resultados da avaliação pode revelar elementos congruentes ou mesmo antagônicos nos

cursos.

Nessa perspectiva, a avaliação da educação superior passaria a ser entendida

pelas IES como um diagnóstico das ações para a sustentação do projeto pedagógico dos

cursos, além da possibilidade de indicar melhoria da qualidade de forma sistemática.

Corroborando esse pensamento, Dias Sobrinho (2000) define que a avaliação é uma

construção coletiva de questionamentos,

[...] é uma resposta ao desejo de ruptura de inércias, é um pôr em

movimento um conjunto articulado de estudos, análises, reflexões e

juízos de valor que tenham alguma força de transformação qualitativa

da instituição e de seu contexto, através da melhoria dos seus

processos e das relações psicossociais (p. 102).

A avaliação, quando emancipatória e democrática, envolve toda a comunidade

e constitui a função formativa como um ato político e pedagógico do qual decorrem

ações de transformação da IES. O entendimento do uso da avaliação para fins de

melhoria dos cursos amplia essa articulação entre a dimensão formativa da avaliação e a

emancipação das IES e, portanto, está associada a uma proposta de construção da

cultura de avaliação impulsionada pelo Sinaes. Como um processo permanente de busca

da qualidade, a instituição deve perceber a avaliação para além do atendimento aos

parâmetros regulatórios, mas, sobretudo, se encontra aproximações para o

desenvolvimento institucional, profissional e de relações pessoais.

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Entretanto, mesmo que se invista em ações de aproximação da avaliação no

espaço acadêmico,30 percorrendo o caminho investigativo, estas parecem ter a intenção

de minimizar o impacto da política regulatória para avançar na indução da qualidade,

mas de modo muito incipiente, pois o foco permanece no resultado e não no processo.

Assim, a concepção proposta pelo Sinaes parece estar constantemente ameaçada por

ações cotidianas de fiscalização e controle utilizadas pelo Estado, com o objetivo

primordial de estabelecer rankings, configurando uma atitude voltada para a

competitividade, e não para o vínculo com a qualidade, uma ação voltada para o

mercado e não para a sociedade.

A fim de contextualizar essa realidade, o estudo sobre os cursos de Pedagogia

nos ciclos avaliativos do Sinaes teve como objetivo geral analisar se o uso dos

resultados dos cursos de Pedagogia nos ciclos avaliativos do Sinaes, em 2005, 2008 e

2011, esteve orientado para regular e/ou induzir à qualidade da educação superior. Entre

os objetivos específicos, buscou-se analisar e caracterizar: i) o papel do Estado e das

IES na gestão da educação superior; ii) o Sinaes como política pública; iii) as formas de

institucionalização da avaliação e sua relação com a regulação da educação superior; iv)

a evolução dos cursos de Pedagogia em relação à promoção da qualidade; iv) o percurso

dos cursos de Pedagogia nos ciclos avaliativos do Sinaes.

Para o alcance desses objetivos, a pesquisa foi estruturada em cinco capítulos.

No primeiro capítulo, enfatiza-se, entre outros aspectos, o papel do Estado na gestão da

educação superior, o contexto legal da educação superior, bem como as experiências de

avaliação implementadas no Brasil, desde a criação do Sinaes.

Ressalta-se nessa reflexão a relação entre avaliação e regulação no campo das

políticas de educação superior, com significado nos movimentos éticos e políticos,

realizados pelos atores institucionais.

No segundo capítulo, aprofunda-se a discussão teórica referente às políticas,

diretrizes e princípios da avaliação. Nessa construção, destaca-se o aprofundamento

temático sobre a dinâmica do Sinaes e a compreensão da avaliação como política

30 A recente alteração do Decreto nº 5.773/2006 aborda as providências acauteladoras que podem ser adotadas pelo

MEC para assegurar a rigidez dos programas federais de acesso e incentivo à educação superior por meio do

Programa Universidade para Todos (ProUni), do Programa de Financiamento da Educação Superior (Fies) e do

Programa de Apoio aos Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni).

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pública. Os ciclos avaliativos são caracterizados sob a ótica da gestão da política de

educação superior, relacionando-se às iniciativas e às ações decisórias tomadas em

decorrência do uso ou do não uso dos resultados da avaliação. Para tanto, são analisadas

as políticas implementadas a partir de 2004 em relação à finalidade da avaliação como

indutora da qualidade e/ou como forma de controle estatal.

No terceiro capítulo, são realizadas aproximações entre a teoria e a prática em

relação ao objeto estudado, com o aprofundamento temático da avaliação como

promotora da qualidade da educação superior. Discutem-se, portanto, os cenários de

participação dos cursos de Pedagogia nos ciclos avaliativos do Sinaes e a relação destes

com os processos de avaliação e regulação da educação superior. A evolução dos cursos

de Pedagogia é contextualizada nas falas dos coordenadores sobre qualidade, concepção

de avaliação e de regulação, e concorrem para dar resposta à indagação que perpassa a

construção desta pesquisa: avaliar para regular e/ou para induzir à qualidade.

O quarto capítulo é dedicado a compreender a dinâmica do Sinaes e refletir

sobre o panorama dos cursos de Pedagogia. Abrange as adequações realizadas no

processo de avaliação e o significado dos resultados desses cursos nos ciclos avaliativos

de 2005, 2008 e 2011. Os cursos são caracterizados a partir dos instrumentos Enade,

CPC e CC, denotando a vinculação do uso dos resultados à avaliação nos processos de

regulação da educação superior.

O quinto capítulo analisa as expressões dos atores envolvidos nos processos de

avaliação, com vistas a subsidiar a compreensão sobre o uso da avaliação para regular

e/ou para induzir à qualidade. Nesta parte, analisaram-se as respostas dos estudantes ao

questionário do Enade, possibilitando conhecer o perfil dos estudantes, a opinião sobre

o ambiente acadêmico, a organização do curso e a relevância para sua formação

profissional. De modo complementar, foi analisada, a partir do questionário do Enade, a

visão dos coordenadores de curso sobre os aspectos acadêmicos, o perfil e a opinião

sobre a estrutura e o funcionamento dos cursos de Pedagogia.

Nessas análises, foram realizadas comparações entre as informações dos ciclos

avaliativos do Sinaes em 2005, 2008 e 2011, com vistas a identificar a evolução da

qualidade do curso de Pedagogia. De forma dialética, as categorias analíticas qualidade

e avaliação como política pública foram preponderantes na estruturação do estudo e

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possibilitaram identificar a concepção de avaliação subjacente às ações da gestão das

IES e do Estado. Como uma política pública de avaliação com reconhecimento

nacional, a avaliação é configurada sob os diferentes olhares dos atores institucionais na

direção de consolidar a sua atitude na promoção da qualidade.

A partir dessa estrutura, pressupõe-se que a avaliação conviva com um forte

exercício de atendimento à política regulatória praticada pelo Estado, embora possa

cumprir o papel de revelar a existência de aspectos de melhoria na gestão dos cursos. A

coexistência do uso dos resultados da avaliação para regular e/ou para induzir à

qualidade pode demonstrar a forte vertente política do Sinaes, configurada por atos

legais que valorizam a prática de regulação da educação superior mais do que a política

de avaliação, em que pese sua constituição e finalidade.

Por isso, a tese defendida neste estudo é de que os objetivos do Sinaes,

estiveram, nesses dez anos de implementação, mais ajustados aos princípios da

regulação na forma de controle da qualidade, em oposição à avaliação formativa e

emancipatória preconizada por esse sistema avaliativo, voltada à indução da qualidade.

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CAPÍTULO 1 – O PAPEL DO ESTADO NA GESTÃO DA EDUCAÇÃO

SUPERIOR

A origem dos Estados se perde num mito em

que se deve crer, mas que não se pode

discutir (MARX, 1980).

1.1. INTRODUÇÃO

No desenvolvimento da presente pesquisa foi realizado o aprofundamento

teórico dos aspectos estruturantes da política definida para o sistema de educação

superior no país, uma tarefa complexa devido à diversidade da sua composição e

organização. O que se pretende, portanto, neste capítulo é esclarecer alguns conceitos e

refletir sobre a forma como se apresenta historicamente esse sistema. Nesse contexto,

discutem-se as tendências e os caminhos da gestão do Estado no que diz respeito aos

rumos da educação superior no Brasil, com o propósito de ampliar o conhecimento

temático.

Dessa forma, analisa-se a relação estabelecida entre avaliação e regulação, com

base nas mudanças ocorridas nesses processos, depois da implantação do Sinaes em

2004 e a partir dos seguintes temas: i) a concepção de Estado e avaliação; ii) os aspectos

legais da avaliação da educação superior no Brasil; iii) as experiências de avaliação e

implicações nas gestão das IES e do Estado; iv) a regulação: seus conceitos e práticas.

A aproximação das definições de Estado, seja por meio da teoria weberiana (o

domínio pelo uso legítimo da força) ou marxista (divisão social do trabalho e acúmulo

do capital), subsidiam a compreensão sobre a evolução da concepção de avaliação da

educação superior implementada no país.

Esse pensamento oportuniza a reflexão sobre o papel do Estado na gestão de

um sistema nacional de avaliação, que ora serve à regulação, ora à própria avaliação. Ao

cumprir seu papel de regulador, o Estado não pode perder de vista a essência do

processo formativo da avaliação sob pena de submeter à sociedade um plano de poder e

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renúncia dos espaços de construção das políticas sociais. Assim entendido, o Sinaes

ocupa uma posição estratégica no planejamento e no desenvolvimento do sistema de

educação superior e se fortalece na medida em que dialoga com a sociedade

(comunidade acadêmica e outros setores interessados na área). Com essa configuração,

explicita-se, ao longo da pesquisa, quem define “o uso ou o não uso” dos resultados da

avaliação.

A abordagem histórica da avaliação e regulação da educação superior tratada

neste capítulo visa, portanto, refletir sobre as iniciativas, experiências e ações decisórias

tomadas em decorrência da orientação conceitual da avaliação: regular e/ou induzir à

qualidade à educação superior.

1.2. A CONCEPÇÃO DE ESTADO E AVALIAÇÃO

O Estado é o intermediário entre o homem e

a liberdade humana (MARX, 2011, p. 20).

As definições em relação à concepção de Estado auxiliam na compreensão da

avaliação como política necessária para a garantia da qualidade da educação superior.

Por isso, tornou-se fundamental nesta pesquisa discutir o conceito de Estado que

perpassa a construção das políticas educacionais no país e suas intervenções no processo

de avaliação e regulação da educação superior. É comum se afirmar que a função do

Estado é promover o bem-estar da sociedade e, nessa condição, não resta dúvida que a

avaliação como política pública tem destacada importância pelos princípios

democráticos que representa. Nesse sentido, já que não é possível convergir para uma

única concepção sobre o Estado, buscaram-se no estudo das teorias, marxista e

weberiana, as referências básicas para a formulação do conceito de Estado.

Na visão marxista, o Estado cria as condições necessárias para o

desenvolvimento das relações capitalistas. O Estado moderno funcionaria como um

comitê executivo das classes dominantes, a chamada burguesia. Já a concepção

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weberiana de Estado, inspirada na estrutura política alemã, se relaciona ao controle do

poder estatal mediante uma burocracia militar e civil e nas formas de ação social:

tradicional, carismática e legal.

Discutir o Estado em Marx é uma questão complexa, visto que não há uma

obra específica desse autor que sintetize a sua teoria do Estado. Assim, a concepção de

Estado em suas obras vai se explicitando à medida que discute o regime capitalista de

produção e as ações de dominação. Esses pensamentos estão, portanto, intimamente

ligados à concepção de Estado. Diferentemente da visão marxista, preocupada com as

relações sociais estabelecidas sob bases capitalistas, a ótica weberiana enfatiza seus

estudos na ação social, na conduta humana dotada de sentidos. Dessa forma, pode-se

dizer que ambos os autores estudam o fenômeno capitalista, mas o interpretam de modo

distinto.

Das ideias pesquisadas sobre o conceito de Estado se apreende que existem

divergências e diferentes interpretações nos pressupostos marxistas e nas obras

weberianas. É justamente nesse ponto de contradição das teorias que este estudo busca

apoio para interpretar a concepção de Estado que pode estar presente nas relações de

gestão da política de avaliação da educação superior. Nesse sentido, é possível concluir

que, para ambos os autores, o conceito de Estado é algo abstrato e, por isso, ganha

significado para a definição do papel da gestão em qualquer circunstância que se tenha

necessidade de uma tomada de decisão frente às políticas e aos programas educacionais.

Essa percepção do caráter abstrato e limitado da política frente às verdadeiras condições

para a emancipação humana ganha concretude a partir da própria crítica do mercado, do

dinheiro e do capital.

Não há dúvida de que esses dois autores contribuíram para a discussão teórica,

já que a institucionalização do Estado, para eles, se funda em características básicas do

homem como indivíduo, fazendo dele um membro efetivo da comunidade. Assim, de

modo preliminar à construção do conceito de Estado para esta pesquisa, discutem-se os

princípios que fundamentam os pensamentos marxista e weberiano.

Para Marx e Engels (2011), “a igualdade é a consciência do homem a respeito

de si mesmo no elemento da práxis, quer dizer, portanto, a consciência do homem a

respeito do outro homem como seu igual e o comportamento do homem em relação ao

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outro homem como seu igual” (p. 51). Na crítica sobre a ausência de direitos nas

políticas e ações de Estado, os autores revelam sua concepção, pois nessa definição o

princípio da igualdade é uma condição para a relação social do homem com o homem.

Quando inexiste o tratamento igualitário nas ações do Estado, pouco avança o

desenvolvimento da sociedade, pois a relação dos homens estará pautada pelo

individualismo e pelas vantagens que um pode ter sobre o outro.

Seguindo essa interpretação, Marx e Engels (2011) acrescentam que “a

profissão de fé da maior parte dos Estados começa, ao contrário, por considerar

desiguais perante a lei, o alto e o baixo, o rico e o pobre” (p. 70). O ponto de partida

essencial, para compreender esse conceito, é a afirmação de que o Estado somente pode

ser compreendido a partir de seu fundamento real, qual seja: a sociedade civil e as

relações sociais reais que são o alicerce da existência humana, portanto, do modo de

produção da vida, que tem como base a produção da vida material. Assim, segundo

Marx e Engels (2007), é a sociedade civil que cria o Estado e não o contrário.

A sociedade civil é o verdadeiro lar e cenário da história. Abarca todo

o intercâmbio material entre os indivíduos, numa determinada fase do

desenvolvimento das forças produtivas. A fim de evitar sua dissolução

pelas contradições de classe, a sociedade civil deve se condensar no

Estado e se apresentar enquanto Estado (p. xxxi).

Nesse caso, a função do Estado seria a de avalizar a segurança jurídica, criar

mecanismos político-econômicos corretivos e estabelecer a ordem por meio do controle.

Essas funções competem entre si na busca de uma posição mais favorável de

acumulação e expansão, ao mesmo tempo que compartilham a necessidade de garantir

condições sociais, políticas e econômicas (a partir das relações de forças) de atuação e

reprodução destas condições.

Para Marx (1998), o Estado pode ser definido como um processo de trabalho

que “ocorre entre coisas que o capitalista comprou, entre coisas que lhe pertencem. O

produto deste processo pertence-lhe, do mesmo modo que o produto do processo de

fermentação em sua adega” (p. 219). Nesse contexto, o Estado seria o responsável por

criar as condições necessárias para o desenvolvimento das relações capitalistas.

Segundo esse pensamento, a contribuição teórica do marxismo está justamente em

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denunciar a ideologia política que defende os privilégios e os interesses da burguesia em

detrimento da classe trabalhadora, pois para Marx (1998),

[...] além do atributo de que “a produção é inseparável do ato de

produzir”, o produto da atividade educacional não tem “forma

autônoma” em relação aos seus “produtores”, isto é, não existe

independente do ato da sua produção, pois a produção e o consumo

são indissociáveis, ocorrendo simultaneamente (p. 398).

No pensamento dialético, a realidade educacional é contraditória, visto que a

avaliação como política pública pode estar privilegiando as ações regulatórias do Estado

voltadas aos interesses das grandes organizações educacionais e não à melhoria de

qualidade da formação de estudantes preparando-os para a transformação social.31

Nessa perspectiva, a dialética marxista postula a correspondência entre o

pensamento e a realidade, sendo que a dialética é pensamento e realidade a um só

tempo, a partir do seu conteúdo histórico. Para Marx (1975), as transformações do

trabalho na maneira de produção capitalista decorrem da necessidade de produção da

mais-valia,32 de modo que, para o capitalista, o relevante no processo produtivo é o

tempo em que é realizado o trabalho.

31 Segundo a mediação teórica de Marx e Engels (2007), “o ponto de partida da história não pode ser a ideia, nem

qualquer conceito. [...] A premissa de toda a história humana é a existência de indivíduos humanos viventes.

Neste fato concreto se funda o materialismo histórico (p. xxiv)”. Partindo desse pensamento, o debate sobre as

políticas de educação superior passa pela necessidade de articular-se à igualdade social e à universalidade, visto

que as relações transformam a realidade e também o pensamento dos homens. Quanto à oferta da educação

superior, percebem-se visões antagônicas: i) se houver redução do acesso ao sistema educacional em

determinadas áreas, mas com uma ampla oferta de trabalho, se coloca em risco o desenvolvimento da produção

pela falta de profissionais formados para atender à demanda; e ii) se a oferta de trabalho em determinadas áreas

forem contingenciadas, mesmo que se tenha uma grande demanda de estudantes formados na área, pode-se

comprometer o atendimento das necessidades da profissão. Assim, a relação entre a oferta da educação superior e

a formação dos estudantes para atender às necessidades de desenvolvimento da profissão pode estar representada

no modo de organização do sistema educacional. Exemplo disso são os cursos de educação superior na área

tecnológica, instituídos com carga horária menor do que a dos cursos de graduação, buscando formar em menor

tempo os estudantes para atender à demanda do mercado em constante evolução. 32 Segundo o pensamento econômico marxista, a expressão “mais-valia” é a de “mais-valia absoluta”.

Paralelamente a esse tipo de exploração, poderia ocorrer a “mais-valia relativa”, instalada pelo processo de

modernização tecnológica em que o trabalhador adequava o exercício de suas funções ao uso de um novo

maquinário capaz de produzir mais riquezas em um período de tempo cada vez menor (MARX, 1975).

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Se compararmos o processo de produzir valor com o processo de

trabalho, verificaremos que este consiste no trabalho útil que produz

valores de uso. A atividade neste processo é considerada

qualitativamente, em sua espécie particular, segundo seu objetivo e

conteúdo. Mas, quando se cogita da produção do valor, o mesmo

processo de trabalho é considerado apenas sob o aspecto quantitativo.

Só importa o tempo que o trabalhador leva para executar a operação

ou o período durante o qual a força de trabalho é gasta utilmente (p.

220).

A partir dessa compreensão, o Estado pode ser visto como uma instituição a

serviço da burguesia, para manter, validar e proteger seus interesses, que nada mais são

do que o lucro, a propriedade privada e a exploração do trabalho assalariado. Nesse

sentido, Marx (2009) afirma que

[...] se todos os membros da burguesia moderna têm o mesmo

interesse, enquanto formam uma classe frente a outra classe, eles têm

interesses opostos, antagônicos, enquanto se defrontam entre si. Essa

oposição de interesses decorre das condições econômicas de sua vida

burguesa (p. 139).

Com o fundamento do modo de produção capitalista, a gestão do Estado pode

apresentar contradições no que se refere à condução da política de educação superior: i)

de um lado, busca formar os estudantes para atuarem no mundo do trabalho em

condições plenas de exercício da atividade profissional; e ii) por outro lado, estabelece

relações capitalistas de produção com a formação profissional, gerando mais-valia e

consequentemente o acúmulo de riquezas. Esse paradoxo tem respaldo na própria

concepção de Estado explorada por Marx (2011). Para ele, o Estado

[...] elimina, a sua maneira, as distinções estabelecidas por

nascimento, posição social, educação e profissão, ao decretar que o

nascimento, a posição social e a profissão são distinções não políticas;

ao proclamar, sem olhar a tais distinções, que todo o membro do povo

é igual parceiro na soberania popular, e ao tratar, do ponto de vista do

Estado, todos os elementos que compõem a vida real da nação. No

entanto, o Estado permite que a propriedade privada, a educação e a

profissão atuem a sua maneira, da seguinte forma: como propriedade

privada, como educação e a profissão, e manifestem a sua

característica particular (p. 21, grifos do autor).

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Nessa compreensão, Marx (1980) parte da lógica dialética e busca desvendar as

leis da constituição da sociedade moderna, tendo como premissa que o movimento está

contido na realidade histórico-social tomada como uma totalidade estruturada.

Adversamente, Weber (1968) tem como ponto inicial o indivíduo e busca

compreender o sentido de suas ações na realidade histórico-social, sob a premissa da

separação entre sujeito e o objeto e as causas da ação social, em vez de totalidade

estruturada. Segundo os pressupostos weberianos, a ação afetiva é aquela ditada pelas

atitudes de consciência ou humor do sujeito e definida por uma reação emocional da

pessoa em determinadas circunstâncias e não em relação a um objetivo ou a um sistema

de valor.

Nessa compreensão, o conceito de Estado está refletido nas estruturas de

burocratização e racionalização, na qual o Estado é uma relação de homens que

dominam seus iguais, mantida por uma violência considerada legítima. O Estado é uma

manifestação histórica da política e pode usar a violência com legitimidade. Isso não

significa que apenas o Estado fará uso da força, mas também que as pessoas e as

instituições poderão eventualmente fazer uso da violência física, entretanto, somente o

Estado deve possuir o poder de utilização da força para colocar em prática as suas ideias

(WEBER, 1968).

Dessa forma, o Estado legitima a existência da violência, sob a condição de

que os homens se submetam à dominação. As leis só existem enquanto produzem

efeitos pelo uso da força, com a intenção de impor sanções aos homens pela violação da

ordem. Segundo Weber (1968), “se só existissem estruturas sociais de que a violência

estivesse ausente, o conceito de Estado teria também desaparecido” (p. 56).

Com essa visão, os temas burocratização e racionalização ganham importância

na ótica weberiana. A racionalização é tida como um processo ascendente de

naturalização da vida, com vistas à maior eficácia obtida por meio da especialização

científica e diferenciação técnica, organização da vida e coordenação das atividades,

com base nas relações entre os homens. Já a burocratização é ocasionada pela ampliação

intensiva e qualitativa das condições de vida por meio do desdobramento interno das

tarefas administrativas alcançadas pela aplicação das leis. Assim, segundo os princípios

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weberianos, a burocracia só tem sentido como instrumento técnico e não como um

agente elaborador de política. Nessa compreensão, Weber (1968) define Estado como

[...] um agrupamento de dominação que apresenta caráter institucional

e que procura monopolizar, nos limites de um território, a violência

física legítima, como instrumento de domínio e que, tendo esse

objetivo, reúne nas mãos dos dirigentes os meios materiais de gestão

(p. 62).

A partir dessa conceituação, o Estado é, portanto, uma instituição econômica

que gere as finanças públicas e que intervém nos domínios da educação, saúde,

economia e outros. Dessa forma, o pensamento weberiano não se opõe ao materialismo

histórico completamente; ao contrário, aceita a dialética marxista entre a economia e as

outras atividades humanas, mas nega a determinação das esferas da vida social pela vida

econômica. Para Weber (2006), o que define o capitalismo, portanto, não é a busca por

lucro, mas sim a acumulação. Nesse sentido, o conceito de Estado moderno existe “onde

a cobertura das necessidades de um grupo humano, mediante atividades industriais e

comerciais, realiza-se pelo caminho do empreendimento, não importando a

necessidade” (p. 13).

Nessa definição, o ponto de encontro entre as obras weberianas e marxianas é a

acumulação de capital, que é capaz de gerar mais capital e que explica um momento de

ruptura: quando o homem deixa de guardar seu dinheiro e começa a aplicá-lo. Enquanto

para o marxismo a economia moderna é basicamente irracional e resulta de uma

contradição entre o progresso tecnológico racional das forças produtivas e as cadeias da

propriedade privada, lucro e concorrência de mercado, no pensamento weberiano essa

lógica não é irracional.

Segundo Gerth e Mills (1971), o pensamento weberiano negligencia que esse

“a priori tecnológico é um a priori político”, ao identificar “racionalidade formal” com

capitalismo, e se distancia de seu diálogo com Marx, visto que este enfoca o oposto, ou

seja, que a economia contemporânea é basicamente irracional. Para eles, a

irracionalidade “resulta de uma contradição entre o progresso tecnológico racional das

forças produtivas e as cadeias da propriedade privada, do lucro privado e da anarquia da

produção” (p. 66). Se, por um lado, Marx e Weber divergem em relação ao conceito de

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capitalismo e racionalidade, por outro lado, partilham da tentativa da correlação entre os

fenômenos ideológicos e os interesses materiais de ordem econômica e política.

De modo central, as ideias dos autores cumprem o objetivo de caracterizar e

discernir os pressupostos conceituais por meio dos quais se constrói o debate teórico

sobre o Estado e suas responsabilidades sociais. Uma das aproximações desses

pensadores se refere à posição estratégica que o Estado ocupa na condução das políticas

sociais, compreensão essa que iluminou a reflexão sobre o objeto pesquisado em relação

à concepção política da avaliação da educação superior, assumida pela gestão.

O pensamento de Marx e Weber contribuíram para a Sociologia de várias

formas. A referência marxista considera a divisão social em classes relacionada com os

meios de produção. Seu pensamento é monocausal, tudo tem relação com uma base, que

é a material. Diferentemente, o pensamento sociológico weberiano explica a estrutura

burocrática do Estado, situando sua importância na função regulatória. A burocracia

moderna funciona por meio de atividades regulares de organização do sistema

educacional; obrigação e deveres instituídos por normas; e, medidas para a realização

regular de deveres e garantia de direitos correspondentes.

Percebe-se, portanto, que os dois teóricos em questão apresentam fundamentos

epistemológicos no modo capitalista da economia do país, porém utilizam pressupostos

distintos para abordar o tema, o que contribui para explicar possíveis contradições

acerca de suas posturas e de sua colaboração para a sociedade.

Com relação à organização do trabalho, Marx e Engels (2011) defendem que o

Estado se desenvolve com a divisão social do trabalho e este é um reflexo da base

econômica da sociedade. É a forma como a classe dominante ajusta seus interesses

comuns; portanto, o Estado se faz necessário para moderar os conflitos entre classes

antagônicas e mantê-las dentro dos limites da ordem social.

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A abstração de toda a humanidade, até mesmo da aparência de

humanidade, praticamente já é completa entre o proletariado instruído;

porque nas condições de vida do proletariado estão resumidas as

condições de vida da sociedade de hoje, agudizadas do modo mais

desumano; porque o homem se perdeu a si mesmo no proletariado,

mas ao mesmo tempo ganhou com isso não apenas a consciência

teórica dessa perda, como sob a ação de penúria absolutamente

imperiosa – a expressão prática da necessidade– , que já não pode

mais ser evitada nem embelezada, foi obrigado à revolta contra essas

desumanidades; por causa disso, o proletariado deve libertar-se a si

mesmo (p. 49).

Dessa forma, o Estado preserva os interesses da classe dominante, reprimindo

de forma impessoal e anônima, por meio das leis que o fazem parecer um poder que não

pertence a ninguém. Assim sendo, o Estado diz respeito a um sistema de governo,

separado do controle imediato do povo sobre o qual exerce autoridade. É um poder

público que se desenvolve a partir da divisão social do trabalho que, às vezes, requer

mudanças na estrutura do Estado.

Diferentemente do pressuposto weberiano, segundo Marx (2011) a burocracia

apenas reproduz o antagonismo da sociedade civil dentro do Estado. O conceito do

Estado na tradição marxista demonstra a disposição em refletir sobre as questões

clássicas do materialismo histórico (as transformações do capitalismo, a máquina do

Estado burguês e as estratégias das lutas sociais). Esse movimento tenta extrapolar, ao

menos no plano teórico, a fragmentação entre o pensamento e as práticas de gestão.

A análise do objeto de pesquisa acompanhada da reflexão teórica do

materialismo histórico-dialético, na visão marxista do Estado, não pode ignorar as

conexões entre a política educacional e as ações do Estado. Para reforçar os

fundamentos já explorados, importa conhecer as definições de Estado elaboradas por

outros estudiosos da teoria marxista: i) o Estado é uma forma de dominação de classe;

portanto, oferece as bases materiais para a prática política e ideológica da burguesia,

mantendo separadas a luta econômica e política dos trabalhadores como pré-condição

da dominação burguesa (HOLLOWAY; PICCIOTTO, 1978); ii) o Estado é um

conjunto de estruturas organizacionais e constitucionais, cuja especificidade é a de

reconciliar e harmonizar a economia privadamente regulada com os processos de

socialização originados dessa mesma economia. Esse conjunto está diretamente ligado

aos três subsistemas fundamentais de qualquer sociedade: econômico (relações de

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troca), político (relações administrativas e coercitivas) e normativo (relações

valorativas) (OFFE, 1984); iii) o Estado é um complexo de atividades por meio das

quais a classe dominante justifica e mantém sua dominação; portanto, há dois tipos de

dominação, aquela que ocorre pela força e outra que ocorre através da hegemonia

(GRAMSCI, 1989); iv) o Estado tem como principal função organizar a hegemonia

dentro do bloco de poder em que ele reflete e condensa todas as contradições na divisão

de classes e em que o poder do Estado é sempre o poder de uma classe definida cujos

interesses são correspondidos pelo Estado (POULANTZAS, 1978).

Com base no pensamento marxista, buscou-se, portanto, compreender o papel

do Estado na organização da sociedade, o que gera a expectativa eminente da mudança,

da superação das condições vigentes implícitas no processo histórico. Nessa condição, o

Estado garante e mantém a reprodução do sistema capitalista, via mediação das relações

de interdependência e antagonismo que caracterizam a produção capitalista.

A reflexão weberiana, entretanto, funda-se numa perspectiva oposta. Refere-se

às condições de persistência das formas de ordenação social. Seu interesse está em

descobrir as razões da continuidade das ações por uma pluralidade de agentes

individuais. De acordo com Weber (1968), “devemos conceber o Estado contemporâneo

como uma comunidade humana, dentro dos limites de determinado território – a noção

de território corresponde a um dos elementos essenciais do Estado” (p. 56).

Com base no pensamento dos autores, o Estado é uma instituição organizada,

em sua forma política, social e jurídica, ocupando um lugar definido e reconhecido,

devido a sua responsabilidade pela organização e pelo controle social,33 já que detém o

monopólio legítimo do uso da força (coerção, especialmente a legal). O controle social

pode ser visto como um instrumento democrático no qual há a participação dos cidadãos

no exercício do poder. Por isso, o controle social é constantemente permeado por

contradições, conflitos e tensões, criados para obter direitos sociais, em todas as etapas

da vida social, em especial na política educacional.

33 Controle social pode ser entendido como a integração da sociedade com a administração publica, com a finalidade

de solucionar os problemas e as deficiências sociais com mais eficiência. O controle social tem a vontade social

como fator de avaliação para a criação de metas a serem alcançadas no âmbito de algumas políticas públicas

(SANTOS e FILHO, 2008).

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Para garantir a qualidade da educação superior, a concepção que se tem de

controle social pode dimensionar tanto a intenção do Estado em manter controle sobre a

sociedade como o exercício pleno, legítimo e consciente da cidadania. Define-se,

portanto, que o controle social pode auxiliar no acompanhamento da aplicação não

somente de recursos financeiros utilizados para a implantação do Sinaes, mas também

da fidedignidade dos resultados produzidos pela avaliação da educação superior.

Acrescenta-se que o conceito científico de Estado defendido por Weber

(2009)34 constitui uma síntese realizada para determinados fins do conhecimento. Nessa

compreensão, o Estado é um instrumento de dominação do homem pelo homem. Só o

Estado pode fazer uso da força, e essa violência é válida, pois se apoia num conjunto de

normas expressas na Constituição Federal/1988. Quando pensada sob a ótica das

políticas educacionais, essa definição de Estado é a que parece ter sido utilizada no

decorrer da história por grupos políticos para se legitimar. Entretanto, a moderna

concepção de Estado pressupõe a existência de poderes independentes e com equilíbrio

de forças, estabelecido por meio da distribuição de competências no exercício da função

pública. Por isso, o controle social se torna uma medida necessária para a manutenção

das características democráticas no Estado de direito vigente. Na burocracia weberiana a

relevância do Estado está na estrutura tanto legal quanto racional.

A contribuição das ideias marxistas e weberianas sobre a concepção de Estado,

ainda que expressas sob matizes diferentes, era instrumentalizar a sociedade para

garantir direitos sociais, culturais e econômicos. A burocracia, preconizada pela teoria

weberiana, defendia a ideia de uma administração racional-legal, cujos atos deveriam

sempre levar em consideração os fins planejados.

Com esse pensamento, diante dos princípios constitucionais, dos atos da

administração pública,35 o controle da eficiência passou a ganhar ênfase a partir da

34 Quando Weber elabora seu conceito de Estado baseado no uso do constrangimento físico legítimo sobre um

território, é possível entender as relações que alguns autores fazem entre sua obra e a obra O Príncipe, de

Machiavelli. A obra de Machiavelli é dominada pela ideia de formação e manutenção do domínio de um

território; nela diversas formas para que um príncipe conquiste e mantenha os territórios conquistados são

estudadas. Nesse contexto, é destacado o uso da força para garantir a posse de um território dominado. No Estado

de Machiavelli, as boas instituições também são elementos importantes que baseiam e garantem suas ações

através das próprias leis, estas de suma importância na garantia da ordem no território dominado

(MACHIAVELLI, 1998). 35 Os três princípios constitucionais (moralidade, eficiência e publicidade) dos atos da Administração Pública nas

suas mais diversas esferas de atuação encontram-se no art. 37, caput, da CF/88 (BRASIL, 1988).

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década de 1990. Nesse período, começa a se consolidar no Brasil a crítica a um Estado

intervencionista. Reativamente busca-se a minimização da atuação do Estado no tocante

às políticas que são entendidas como a possibilidade para a retomada do

desenvolvimento econômico por meio de reformas do Estado. A reforma do Estado é

entendida, então, como uma superação da visão do Estado assistencialista e paternalista

por meio das transferências à sociedade. Esse movimento político e econômico, no caso

brasileiro, implicou concentração de riquezas, incremento da corrupção, privatização da

esfera pública e, como consequência, propiciou um alargamento das injustiças sociais,

culminando na própria exclusão social (DOURADO, 2002).

Em 1995, ocorre a Reforma Gerencial do Estado, promovida pelo Ministério

da Administração Federal e Reforma do Estado (Mare). Nesse contexto, vários

dispositivos legais passaram a compor o ordenamento jurídico com o escopo de impor

maior eficiência, transparência e controle das ações e gastos públicos.

Consequentemente, houve um aprimoramento dos mecanismos da

accountability,36em substituição ao modelo burocrático. Desde então, o foco do controle

nos procedimentos, característico do modelo anterior, deslocou-se para o controle dos

resultados. Os elementos básicos da accountability são a confiança e a transparência das

ações governamentais, que possibilitam criar relações democráticas entre o Estado e a

sociedade civil. Segundo Przeworski (1998), se o povo se define como tutelado pelo

Estado, não há condição para a accountability, pois,

[...] mesmo que todas as instituições democráticas clássicas estejam

funcionando bem, elas não são suficientes para garantir a

accountability e para capacitar os cidadãos a obrigarem os governos a

cumprir com o seu dever, pois estes sempre terão informações

privadas sobre seus objetivos e sobre as relações entre as políticas e

seus resultados (p. 67).

Portanto, são redimensionados os motivos pelos quais a legislação brasileira

chama a atenção para a necessidade de mecanismos de controle político do Estado pelos

cidadãos. Na Reforma gerencial, o Estado passa a ser entendido como uma estrutura que

36 O advento da CF/88 assegurou o direito à impetração da denominada ação popular, instrumento fundamental para

o exercício da accountability, uma vez que, além de viabilizar a defesa dos interesses públicos, destaca a

possibilidade de o cidadão comum agir em defesa do interesse coletivo (MOTA, 2006).

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reivindica o domínio legal, sendo parte de um caráter racional que tem por fundamento

a crença na validade dos regulamentos estabelecidos nos termos da lei.

Em princípio, pode parecer contraditório um Estado que busca a eficiência se

concentrar no seu poder normatizador. Porém, como afirma Bresser-Pereira (2008), “é

impossível não ser normativo em questões que envolvem teoria política e políticas

públicas – especificamente a reforma da organização do Estado” (p. 394).

Dessa forma, embora conservando e, se possível ampliando a ação do Estado

na área social, o princípio fundamental da Reforma era o de executar as tarefas

exclusivas de Estado, por meio de descentralização, para agências executivas e agências

reguladoras autônomas. Nessa conjuntura, os serviços providos com os recursos dos

impostos não deveriam ser cumpridos no âmbito da organização do Estado por

servidores públicos, mas serem contratados para realização por terceiros. Os serviços

sociais e científicos deveriam ser contratados por organizações públicas não estatais de

serviço, as “organizações sociais”,37 enquanto que os demais seriam contratados por

empresas privadas (BRESSER-PEREIRA, 1996).

A Reforma do Estado de 1995 abrangeu, portanto, três dimensões: a primeira

voltada à descentralização da estrutura organizacional do Estado (agências executivas,

regulatórias e organizações sociais); a segunda com foco na gestão (maior autonomia e

responsabilização dos gestores); e a terceira com finalidade cultural, visando à mudança

de paradigma e maior confiança na administração gerencial.

Entre as tarefas de responsabilidade do Estado ficaram as centralizadas na

formulação e no controle das políticas públicas e da lei, executadas por secretarias ou

departamentos do Estado. Essa concepção parece ter sido utilizada na criação do Sinaes,

pois, considerado uma política pública, é executado sob a responsabilidade do

Ministério da Educação. Formado por um conjunto de regras e procedimentos, o Sinaes

impõe sua força legal com o objetivo de assegurar a sua utilização pelas IES. Na ação

do Estado, pressupõe avaliar e garantir a qualidade da educação superior em patamares

37 As Organizações Sociais (OS) são um modelo de organização pública não estatal destinada a absorver atividades

publicizáveis mediante qualificação específica. Trata-se de uma forma de propriedade pública não estatal,

constituída pelas associações civis sem fins lucrativos, que não são propriedade de nenhum indivíduo ou grupo e

que estão orientadas diretamente para o atendimento do interesse público. As OS são um modelo de parceria entre

o Estado e a sociedade (BRASIL, 1997).

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de desenvolvimento nacional e internacional. No Capítulo 2, os princípios e as diretrizes

do Sinaes serão objeto de discussão e aprofundamento temático.

O Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado tinha como proposta

identificar setores de atividades do Estado com diversificadas formas de propriedade e

diferentes papéis que o Estado deveria exercer em cada uma delas: i) núcleo estratégico

do Estado (atividades de tomada de decisões e formulação de políticas); ii) atividades

exclusivas do Estado (presença do poder de Estado: arrecadação, fiscalização, emprego

da força policial, previdência básica, regulamentações diversas, etc.); iii) serviços não

exclusivos ou competitivos (prestação de serviços sociais, que são oferecidos pelo

Estado por proporcionarem economias externas ou por não serem adequadamente

remunerados pelo mercado); iv) produção de bens e serviços para o mercado (defende a

privatização das empresas existentes) (BRESSER-PEREIRA, 1996).

Nessa ótica, a depender da concepção sobre a qualidade e o papel atribuído à

gestão do Estado, a avaliação como política pública poderia ser vista a partir de pontos

opostos: da regulação da qualidade e da gestão de resultados. Sob a perspectiva da

regulação da qualidade, a avaliação se enquadraria nas atividades exclusivas do Estado,

no padrão de “Agências Executivas”, que poderiam ser organizações estatais, com

autonomia administrativa no modelo de administração gerencial. Do ponto de vista da

gestão de resultados, poderia ser entendida como atividade de produção de bens e

serviços, sendo eficaz para controlar a expansão pela via privada de educação superior,

inclusive com incentivos para a instalação de novos cursos. Entretanto, o processo de

avaliação, se concebido à luz da concepção indutora de qualidade, pode ser estruturado

como uma atividade estratégica, a fim de subsidiar a tomada de decisão da gestão das

IES e do Estado na definição de políticas educacionais.

Assim, a política educacional pode ser definida como papel do Estado, já a

política social como parte de um projeto de reforma. Logo, se o Estado não pode

executar as políticas, repassa-as para a sociedade civil, que focaliza sua ação para o

atendimento das necessidades dos mais pobres, para evitar o caos social. O Estado

apenas gere os recursos, com papel mais avaliador do que executor. Por isso, a questão

central desse debate passa a ser o acesso à educação com qualidade. Mas qual a

qualidade pretendida?

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Nas palavras de Otranto (2006), o Estado brasileiro reforça o papel de ente

regulador e avaliador das ações federais. Portanto, sem diferenciar as finalidades de

regulação e avaliação, por meio do Sinaes, o Estado poderia estar perseguindo o

objetivo de “regular e ajustar a educação superior brasileira às exigências de avaliação

inseridas nos documentos emanados dos organismos internacionais, de forte cunho

quantitativo e competitivo entre as instituições” (p. 51).

Nesta compreensão, a política de avaliação implementada pelo Estado visaria

cumprir exigências externas do mercado, a serviço de uma concepção de avaliação

contrária ao que pressupõe a concepção de avaliação do Sinaes. Entretanto, parece

incoerente uma concepção de avaliação intrínseca à política de Estado, com o

pressuposto de que se avalia e supervisiona para controlar e fazer fluir as relações

capitalistas. Essa visão da política pública parece estar diretamente relacionada ao

entendimento desta como qualquer atividade em que o Estado tome parte e que resulte

em uma distribuição relativa de força.

Nessa situação, a força do Estado estaria representada na condicionalidade

exclusiva do resultado da avaliação à expedição dos atos autorizativos de cursos ou no

cancelamento do funcionamento de uma IES ou de um curso, caso não fossem atendidas

as orientações emanadas pelo setor de regulação do Estado. Amplia-se, portanto, a

necessidade de compreender conceitos e referenciais metodológicos aplicáveis ao

entendimento da avaliação como uma política pública, dada a força do Estado e a

importância que a regulação assume nessa interdependência dos resultados da avaliação.

Para Ball e Mainardes (2011), o Estado é um dos principais lugares da política

e um dos principais atores políticos. Por isso, os autores definem que em seu sentido

mais simples, “a política é uma declaração de algum tipo – ou ao menos uma decisão

sobre como fazer coisas nos sentido de ‘ter’ uma política – , mas que pode ser

puramente simbólica, ou seja, mostrar que há uma política ou que uma política foi

formulada” (p. 14).

Contudo, o referencial teórico-analítico do conceito de política não é estático,

mas, sim, dinâmico e flexível. Nesse sentido, os referidos autores buscaram caracterizar

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o processo político a partir da abordagem do “ciclo de políticas”.38 Eles destacam a

natureza complexa e controversa da política educacional, com a definição de política em

três tipos de contexto: o contexto da influência, da produção de texto e da prática.

Posteriormente acrescentaram-se o contexto de resultados e o de estratégia política, os

quais podem ser incorporados, respectivamente, pelos contextos da prática e de

influência. Os ciclos de políticas enfatizam os processos micropolíticos e a ação dos

profissionais que lidam com as políticas no nível local, indicando a necessidade de se

articularem os processos macro e micro na análise de políticas educacionais.

Esta abordagem se constitui um referencial analítico importante para a política

de avaliação da educação superior, pois permite uma análise crítica da ação em cada um

dos contextos: i) de influência – quais os discursos sobre o Sinaes e os avanços para a

consolidação da cultura da avaliação? ii) de produção do texto – como evoluíram as

pesquisas, os documentos oficiais e a produção técnica dos processos de avaliação?; iii)

de prática – quais as intervenções realizadas a partir do uso dos resultados da avaliação?

iv) de resultados – qual o nível de confiança da sociedade e do Estado para com os

resultados da avaliação do Sinaes e quais os impactos na política educacional?; e, v) da

estratégia política – em que medida os resultados da avaliação têm orientado as políticas

de desenvolvimento da educação e induzido à qualidade?

Segundo os autores, Mainardes e Marcondes (2009), parte do ciclo do processo

através do qual as políticas são mudadas pode ser mudada ou, pelo menos, o

pensamento sobre as políticas muda ou pode ser mudado. “O pensar sobre as políticas e

o discurso das políticas podem ser mudados pela ação política. Assim, eles podem ser

subsumidos e integrados ao contexto de influência” (p. 306).

Para auxiliar na compreensão sobre o termo “política” e contextualizá-lo no

âmbito do objeto estudado, buscou-se nos pressupostos de Weber (1968) a definição.

Para o autor, política é um “conjunto de esforços feitos com vistas a participar do poder

ou a influenciar a divisão do poder, seja entre Estados, seja no interior de um único

Estado” (p. 56). Portanto, a melhor forma de exercer a política é transformá-la em

38 Os autores propuseram um ciclo contínuo constituído por três contextos principais: o contexto de influência, o

contexto da produção de texto e o contexto da prática. Esses contextos estão inter-relacionados, não têm uma

dimensão temporal ou sequencial e não são etapas lineares. Cada um deles apresenta arenas, lugares e grupos de

interesse, além de envolver disputas e embates (BALL; MAINARDES, 2011).

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objetivo de vida, seja porque encontra alegria na simples posse de poder ou porque essa

atividade permite achar equilíbrio interno, colocando-se a serviço de uma causa.

A busca pela qualidade sugere o repensar da função social do Estado e sua

participação nas políticas e ações. No que se refere à política de avaliação da educação

superior, o Estado brasileiro institui, em 2003, uma Comissão Especial de Avaliação

(CEA)39 com a finalidade de analisar, oferecer subsídios, fazer recomendações e propor

critérios e estratégias para a reformulação dos processos e políticas de avaliação da

educação superior. Essa comissão, além de elaborar a revisão crítica de seus

instrumentos, metodologias e critérios utilizados, apresentou uma proposição para a

política de avaliação da educação superior (BRASIL, 2003c).

O Relatório da CEA propôs a criação da Conaes como o órgão autônomo de

coordenação e supervisão do Sinaes. Instituída pela Lei nº 10.861/ 2004, esta instância

seria composta por 13 membros, majoritariamente do governo ou indicados por ele.

Assim, entre outras atribuições correlatas, coube à Conaes o objetivo de acompanhar “o

adequado funcionamento da avaliação, o respeito aos princípios e orientações gerais, o

cumprimento das exigências técnicas e políticas e as metas de consolidação do sistema

avaliativo e de sua vinculação à política pública de educação superior” (p. 97). Essa

estruturação da Conaes pode sugerir certo domínio na decisão das ações de avaliação,

sobretudo, porque a sua forma de organização parece contraditória à estrutura

participativa e representativa da sociedade preconizada na lei.

Quanto à participação e ao controle social da avaliação da educação superior, o

entendimento do Sinaes como política pública impõe a necessidade de submeter os

instrumentos de cursos de graduação e de avaliação interna e externa ao debate público

com as IES e à aprovação pela Conaes.

O marco legal citado estabelece como competência dessa instância a

deliberação anual sobre a relação dos cursos para a aplicação do Enade. Dessa forma, a

39 A CEA foi designada pelas Portarias MEC/SESu nº 11, de 28 de abril de 2003, e nº 19, de 27 de maio de 2003, e

instalada em 29 de abril do mesmo ano. A Comissão contextualizou seu trabalho numa visão abrangente do papel

dos processos avaliativos, sem dissociar estes da necessária regulação do Estado para fomentar e supervisionar o

sistema em seu conjunto. Com essa ação, o Estado reconheceu a importância de uma política capaz de refundar a

missão pública do sistema de educação superior brasileiro, respeitando sua diversidade e tornando-a compatível

com as exigências de qualidade, relevância social e autonomia. Fundada no princípio de que a educação é um

direito e um bem público, orientou a missão da educação superior para formar cidadãos, profissional e

cientificamente competentes, e, ao mesmo tempo, comprometidos com o projeto social do país.

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contribuição da referida Comissão, como uma instituição com representatividade na

área de avaliação, é a de avaliar as dinâmicas, procedimentos e mecanismos da

avaliação institucional, de cursos e de desempenho dos estudantes; estabelecer diretrizes

para a organização e a designação de comissões de avaliação; analisar relatórios e

elaborar pareceres com recomendações às instâncias competentes (BRASIL, 2004).

Contudo, embora a Conaes tenha exercido, no decorrer da história da

avaliação, um papel importante no processo de avaliação, há de se refletir, depois de

uma década da implementação do Sinaes, sobre sua gestão e incidência no processo de

evolução da política de avaliação da educação superior. As atividades da Conaes

estiveram em destaque na fase de formatação dos processos e dos fluxos da avaliação e

do necessário diálogo com a comunidade acadêmica e a SESu, para a aceitação da

proposta de avaliação. Entretanto, a partir da designação da condução do Sinaes para o

Inep (órgão responsável pela organização do processo de avaliação, com perfis

profissionais técnicos para a orientação dos processos de avaliação), parecem ter sido

reduzidas as finalidades da Conaes como instância de coordenação do sistema e

ampliadas as suas atribuições de controle social.

Nessa perspectiva, para o presente estudo, a noção de controle social está

intimamente relacionada à ideia de participação. Pressupõe, portanto, que, por meio da

participação na gestão pública, os cidadãos podem intervir na tomada da decisão

administrativa, orientando a administração para que adote medidas que realmente

atendam ao interesse público e, ao mesmo tempo, possam exercer controle sobre a ação

do Estado, exigindo que o gestor público preste contas de sua atuação (BRASIL, 2012).

No âmbito do Sinaes, exercer o controle social quer dizer direito e dever da

sociedade de participar do debate e da decisão sobre a formulação, a execução e a

avaliação da política pública do Estado, a partir do acompanhamento da Conaes. Dessa

forma, define-se, neste estudo, que controle social tem a ver com a qualidade expressa

principalmente nas informações da avaliação disponibilizadas à sociedade. Essa

perspectiva de análise coloca em evidência as responsabilidades institucionais com a

qualidade da educação superior e a estreita relação do Sinaes com a regulação do

Estado.

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Cabe ressaltar que induzir ação de controle social não se contrapõe à

autonomia das IES, uma vez que essa prerrogativa não pode implicar independência das

políticas públicas e da regulação do Estado, ou a desobrigação de prestar contas sobre a

forma com que respondem aos interesses públicos e à responsabilidade social de formar

os futuros profissionais. Por isso, é indispensável que ocorra a associação da avaliação

aos processos de regulação do Estado, sobretudo em IES com autonomia, haja vista que

a avaliação tem a intenção de demonstrar para a sociedade a qualidade da educação

superior.

Santana (2007) discute a relação entre o papel do Estado e a avaliação,

ressaltando o uso do termo qualidade. Para ele, o papel de Estado como avaliador da

educação superior

[...] se consolidou com a utilização mais incisiva do termo qualidade

na legislação e no discurso oficial sobre ensino superior. A legislação

educacional brasileira, no artigo 206 da Constituição e no artigo 4º da

LDB, determina que a “garantia de padrão de qualidade” é um dos

princípios da educação. Mas [...] não deixa claro o que significa

“padrão de qualidade”. Qualidade do quê? Para quê? Para quem?

Como? (p. 83).

A necessidade de haver um padrão de qualidade aproxima-se da ideia de um

valor médio, um standard, um patamar mínimo previamente estabelecido ou resultado

esperado. A expressão “padrão de qualidade” vinculada aos instrumentos de avaliação

pode deslocar a questão da melhoria da qualidade entendida como reconhecimento dos

avanços obtidos na avaliação (desde o ponto de partida até o ponto de chegada de um

planejamento), para saber quais são os standards, qual a origem, como e quem os

definem. Essa classificação de IES e de cursos que atendem ou não ao padrão de

qualidade pode estar representada no uso do resultado da avaliação sob a forma de

controle da gestão e não da indução da melhoria da qualidade, fato explorado nesta

pesquisa.

Apesar de a qualidade ser um tema de relevância no Sinaes, não existe um

consenso ou uma concepção única de qualidade, pois esta só pode ser concebida no

contexto das relações que se estabelecem na sociedade. Nessa direção, para Dias

Sobrinho (2000), a qualidade da educação é “um juízo valorativo que se constrói

socialmente. É um atributo ou um conjunto de propriedades que definem uma coisa e a

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distinguem das demais, de acordo com julgamentos de valor praticados num

determinado meio” (p. 212).

O desafio passa a ser a descrição de elementos, critérios e procedimentos

reconhecidos por quem avalia e por quem é avaliado. Por meio da avaliação destacam-

se importantes aspectos da vida acadêmica, assim como se pode revelar a existência de

uma relação de causa e efeito entre a formação e o desempenho. As condições de acesso

à educação superior, por exemplo, pode ser um dos elementos de legitimação do

processo histórico de exclusão educacional e que tem sérias implicações na qualidade da

educação superior. Não são raras as IES que apresentam como justificativa da obtenção

de resultados da avaliação insatisfatórios o baixo desempenho dos estudantes, fruto de

um ensino médio considerado “fraco” na visão da IES, como se esse fosse o único ou o

mais relevante elemento a ser considerado no processo avaliativo. Essa visão

desconsidera as três dimensões de avaliação de um curso, definidas pelo Sinaes

(organização didático-pedagógica, corpo docente e infraestrutura) e atribui ao estudante

a responsabilidade de ser o produto desse processo.

Sob essa perspectiva, a trajetória da avaliação dos cursos de Pedagogia nos

ciclos avaliativos do Sinaes (2005, 2008 e 2011), objeto da presente pesquisa, contribui

para reconhecer: i) o padrão de qualidade dos cursos investigados; ii) as implicações da

política regulatória na qualidade dos cursos; e iii) a concepção de avaliação, regulação e

qualidade pelos gestores, bem como sua importância na opção de uso dos resultados da

avaliação: regular e/ou induzir qualidade.

A análise do processo de avaliação dos cursos e do papel desempenhado em

um período de grande expansão da educação superior permitiu perceber a correlação

existente entre o modo de produção capitalista e a finalidade da educação. Como

política pública, a avaliação pode ter influenciado fortemente as políticas de promoção

do aumento da escolaridade obrigatória, de combate ao analfabetismo, de crescimento

do ensino médio e a acelerada expansão da educação superior, em especial nas áreas

técnicas e tecnológicas. Portanto, convém destacar que as alterações estruturantes do

processo educativo e do processo produtivo somente podem ser compreendidas como

histórias dependentes, já que o funcionamento de um tende a reproduzir o

funcionamento do outro.

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Considerando as relações sociais e a construção do trabalho educacional,

Frigotto (1989) afirma que as contradições inerentes à sociedade capitalista

[...] é ou pode ser um instrumento de mediação na negação dessas

relações sociais de produção. Mais que isto, pode ser um instrumento

eficaz na formulação das condições concretas da superação dessas

relações sociais que determinam uma separação entre capital e

trabalho, trabalho manual e trabalho intelectual, mundo da escola e

mundo do trabalho (p. 24).

Dessa forma, o modo de produção capitalista do Estado incorporado ao

ambiente educacional pode afastar o diálogo da qualidade na educação superior. Por

isso, a concepção de qualidade das IES pode ser um dos obstáculos enfrentados pelo

sistema de avaliação. Essa visão acaba por justificar o marco legal estabelecido a partir

do Sinaes e as políticas públicas voltadas a ampliar o número de profissionais e

promover maior competência para atuar no mercado de trabalho.

Nesse contexto, a organização do sistema de educação pode conduzir a uma

atitude reflexiva e crítica sobre as características gerais da gestão do Estado e das IES,

perante o desempenho dos cursos de Pedagogia no ciclo avaliativo do Sinaes. Portanto,

valendo-se das categorias marxistas contradição, mediação e totalidade, que

perpassaram o desenvolvimento deste estudo, a pesquisa analisou de forma dialética as

informações dos cursos de Pedagogia em âmbito nacional, buscando perceber a relação

existente entre a avaliação e a qualidade.

A dialética situa-se no plano da realidade e no plano histórico, sob a forma de

trama de relações contraditórias, conflitantes, de leis de construção, de desenvolvimento

e transformação dos fatos. Essa compreensão implica reconhecer a mudança constante

da realidade, portanto não impede sua compreensão objetiva, o que pode ocorrer a partir

da lógica dialética para se chegar à totalidade e às partes do movimento histórico em

todas as contradições que o integram.

Por todo esse movimento dinâmico, a avaliação assume um papel

preponderante como política pública e, dessa forma, o Estado não pode ser visto como

mero solucionador de problemas, já que o mercado não é, por si só, a fonte deles.

Teoricamente, a ação estatal interventora, em particular a ação econômica, dá

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sustentação à proposta de um Estado-Avaliador.40 Nesse contexto, há espaço para uma

gestão transformadora que promova a necessária qualidade da educação superior?

Como política de Estado, o Sinaes pode se tornar uma importante ferramenta

de gestão para a implementação de reformas educacionais. Corroborando esse

pensamento, Dias Sobrinho (2010) tece considerações sobre o sistema de avaliação

Realizando-se como um sistema coerente, a avaliação poderia

efetivamente contribuir para o alcance dos objetivos da política de

Educação Superior. Por isso, o Sinaes propôs-se como política de

Estado, e não simplesmente de um governo, na perspectiva da

construção de um sistema. Como política de Estado, o Sinaes deveria

ter âmbito nacional e envolver todas as IES, públicas ou privadas,

grandes ou pequenas, respeitando o pacto federativo (o regime de

colaboração entre o sistema federal e os estaduais), bem como a

identidade e as especificidades de cada Instituição. O fato de que parte

das IES estaduais e municipais não se submeterem ao regime do

Sinaes não anula seu caráter nacional (p. 195).

Com efeito, a avaliação contribuiu no sentido de fazer avançar a educação

superior no país. Sobretudo porque, devido à diversidade e à grandiosidade do sistema

educacional, os princípios e objetivos constitutivos do Sinaes devem ser perseguidos

também pelas IES. Mais um motivo para que a gestão do Estado tenha a avaliação como

subsídio para a formulação de ações, programas e políticas, responsáveis por muitas das

reformas educacionais que ainda estão por vir. Por meio da avaliação, podem ser

produzidas mudanças nos currículos, na concepção de formação, na gestão, na tomada

de decisão, nos modelos institucionais, nas estruturas educacionais, nas prioridades e

também nas ações de responsabilidade social.

É papel do Estado assegurar uma educação de qualidade. Por esse motivo, a

avaliação é um instrumento poderoso não só para valorar o desenvolvimento do sistema

educacional, como também para induzir a práticas e fortalecer estratégias e políticas

coerentes com os grandes objetivos sociais. É, portanto, essencial pôr em questão e

produzir significados sobre a pertinência e a relevância social dos conhecimentos e da

40 Conforme explicitado na introdução deste trabalho, a expressão “Estado-Avaliador” enfatiza uma transição da

forma de regulação burocrática e fortemente centralizada para uma forma de regulação híbrida que conjuga o

controle pelo Estado com estratégias de autonomia e autorregulação das instituições educativas.

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formação dos estudantes no que se refere aos valores primordiais da vida e às

prioridades da sociedade na qual e para a qual são produzidos.

Enfim, esta parte do capítulo pretendeu introduzir o debate sobre a avaliação da

educação superior a partir da ação do Estado frente a esse tipo de política. A concepção

de Estado foi discutida com base nos pressupostos marxistas e weberianos, constituindo

subsídio para a compreensão das ações de gestão no período antes e depois do Sinaes.

Nesse contexto, foi importante conhecer as estruturas promovidas pela Reforma do

Estado, que deram os contornos institucionais para a implantação da política

educacional na qual se situa o objeto desta pesquisa.

Essa aproximação entre o papel do Estado e o modo de gestão tem a ver com as

transformações realizadas com o intuito de promover, por meio de uma política

estruturada de avaliação (Sinaes), a qualidade na educação superior, favorecendo o

desenvolvimento da sociedade. Para tanto, com vistas ao aprofundamento do tema, na

parte seguinte, discutem-se os aspectos legais do processo de avaliação, visando dar

concretude ao papel do Estado na gestão da educação superior.

1.3. ASPECTOS LEGAIS DA AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO

BRASIL

Debatida a concepção de Estado e sua relação com a política pública de

avaliação da educação superior, busca-se aprofundar, nesta parte do estudo, o

conhecimento sobre a legislação da educação superior que subsidia a implementação do

Sinaes. Na construção do texto, optou-se por seguir a ordem cronológica dos

acontecimentos, situando o contexto histórico dos marcos normativos referentes à

avaliação da educação superior. Nesse contexto, a fim de compreender a trajetória da

educação superior no Brasil, registra-se que um marco importante sobre qualidade da

educação foi ampliado por ocasião da Lei nº 5.540, de 1968, que instituiu a Reforma

Universitária.

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Segundo Vieira (1982) é conveniente refletir sobre os objetivos pretendidos

com uma inovação proposta como, em princípio, se mostrava aquela subjacente aos

princípios da referia Reforma. “Ao pretender mudar o sistema educativo, deve o

Governo saber por que e para que mudar, do contrário, as alterações propostas correm o

risco de não resistirem ao teste da realidade (p. 56)”. Neste sentido, a análise do projeto

de Reforma revela um conjunto de propostas acerca de temas bastante atuais: gestão;

organização; e atividades-fim: ensino, pesquisa e extensão. Temas que sem dúvida são

indutores de qualidade, entretanto, segundo a autora, naquele período não se efetivaram

porque “em lugar de criar novas formas, o projeto de reforma contribuiu para a

manutenção de padrões conservadores e de uma estrutura de poder autoritária, onde foi

diminuta a possibilidade de inovação” (p. 138).

Assim, embora tenha causado muita polêmica devido aos diferentes interesses

envolvidos, a Reforma Universitária se constituiu um debate importante para o

desenvolvimento da educação superior. Considerando sua característica transformadora,

não se poderia esperar que obtivesse muitos consensos em torno do texto produzido.

Segundo Saviani (2010), o projeto que originou a Lei nº 5.540/68 buscava atender a

dois tipos de demandas contraditórias:

De um lado, a demanda dos jovens estudantes ou postulantes a

estudantes universitários e dos professores que reivindicavam a

abolição da cátedra, a autonomia universitária e mais verbas e mais

vagas para desenvolver pesquisas e ampliar o raio de ação da

universidade; de outro lado, a demanda dos grupos ligados ao regime

instalado com o golpe militar que buscavam vincular mais fortemente

o ensino superior aos mecanismos de mercado e ao projeto político de

modernização, em consonância com os requerimentos do capitalismo

internacional (p. 24).

Para atendimento a essas demandas, as propostas da Reforma Universitária

visavam promover uma mudança na organização das IES, a fim de articular ensino e

pesquisa e racionalizar a sua estrutura e o funcionamento.

Analisando as propostas dessa Reforma Universitária, percebeu-se que a

intenção desta foi promover a organização acadêmico-administrativa das instituições.

Nesse sentido, segundo Fávero (1977), destacaram-se as seguintes propostas:

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a) Organização das universidades sob a forma de autarquia,

fundação ou associação, ficando assegurada em qualquer um dos

regimes adotados a autonomia universitária;

b) Estruturação de um primeiro ciclo geral na graduação, com

tríplice função: recuperar falhas evidenciadas pelo vestibular,

orientar para a escolha das carreiras e proporcionar estudos básicos

para ciclos ulteriores;

c) Substituição do regime seriado pelo de matrícula por disciplina,

introduzindo o sistema de créditos;

d) Expansão do ensino superior, mediante a definição de metas e

critérios para um crescimento integrado dos sistemas de ensino;

e) Atenção à integração e à participação dos estudantes na

universidade por meio de efetiva representação nos órgãos

acadêmicos e administrativos;

f) Instituição do sistema departamental (p. 65-66).

No esforço em prover as condições necessárias à viabilização das propostas,

foram publicados os Decretos nº 53/1966 e nº 252/1967, que fixaram princípios e

normas de organização para as universidades federais e apontaram alterações

significativas na Lei de 1968.41 Esses decretos influenciaram as concepções

educacionais que fundamentaram a organização acadêmica, a partir de um conjunto de

medidas, ideias e proposições da Reforma Universitária.

Nesse contexto, Dias Sobrinho (2005) define que as “reformas educativas são

construções de um quadro legal e burocrático, geralmente proposto por políticos, para

responder a determinados problemas e produzir efeitos mais ou menos coerentes com

projetos mais amplos de um governo ou de um sistema de poder” (p. 168). Com efeito,

no que diz respeito à temática da ampliação e democratização do acesso à educação

superior, assistiu-se, na prática, a uma expansão que contrariou o próprio texto do

projeto de reforma. O Estado passou a ter a iniciativa privada como parceira na oferta, o

41 O Decreto nº 53/1966 trouxe as seguintes mudanças em relação à lei de 1968: i) a proibição da duplicação de

meios para fins idênticos; ii) a indissociabilidade entre ensino e pesquisa; iii) a separação do ensino profissional e

da pesquisa em unidades distintas; iv) a extinção das faculdades de filosofia, ciências e letras; e v) a suspensão

das garantias de vitaliciedade, inamovibilidade e estabilidade dos funcionários públicos das universidades

federais. O Decreto nº 252/1967 estabeleceu normas complementares ao Decreto nº 53/1966, que orientou a

criação do departamento como a menor fração da estrutura universitária (TRINDADE, 2004).

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que potencializou a diferenciação42 entre o público e o privado e originou a necessidade

do acompanhamento da qualidade da educação por meio da avaliação.

Passados quarenta e cinco anos da Reforma Universitária de 1968, esta ainda

se encontra em andamento e com propostas não implementadas. Segundo Léda e

Mancebo (2009), além das ações e programas, a Reforma de 1968

[...] vem “suavemente” tomando forma através de diversas leis e

decretos, aprovados desde a legislatura anterior pelo Congresso

Nacional, num processo semelhante ao vivido quando da discussão e

implantação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB,

Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, p. 50).

Diante dos avanços da legislação, percebeu-se que, embora com modificações,

as propostas da Reforma, foram sendo consolidadas nas ações e políticas da educação

superior.43 A forma pela qual se deu a expansão da educação superior desde o período

da Reforma torna evidente que a simples ampliação de vagas no setor privado não

ofereceu nenhuma garantia para sua democratização.44 Conforme dados do Censo da

Educação Superior/Inep (2012), o acesso à educação superior brasileira continua restrito

a, aproximadamente, 18% dos estudantes na faixa etária de 18 a 24 anos, o que contrasta

com o alcance das políticas e propostas da Reforma.

Entretanto, a implementação das propostas da Reforma ganhou sentido com as

políticas de avaliação que trouxeram um caráter mais pedagógico e de contribuição para

a melhoria da qualidade. De acordo com essa concepção e seguindo os eixos da

Reforma, a política de avaliação seria a responsável por estabelecer um padrão de

qualidade.

42 Essa diferenciação ocorreu a partir de alguns fatores: “Por um lado, insistiu-se no discurso da introdução do

ensino pago nas instituições mantidas pelo governo federal, sob o argumento da necessidade de se fazer justiça

social. Por outro, favoreceu-se francamente o crescimento do ensino superior privado de modo a que, na prática, a

privatização acontecesse por mecanismos não previstos no próprio discurso dos dirigentes da política

educacional” (VIEIRA, 1991, p. 157). 43 De maneira geral, as propostas da Reforma de 1968 foram sintetizadas em ações emergências para a superação da

crise da educação superior: i) reposição do quadro de professores; ii) incorporação do potencial de aposentados e

doutores; iii) recomposição do quadro de funcionários técnico-administrativos; iv) recursos para manutenção; v)

investimentos; vi) pós-graduação. E ações de fortalecimento da autonomia das universidades: i) autonomia

didático-científica; ii) autonomia administrativa; iii) autonomia de gestão financeira e patrimonial; iv) autonomia

participativa e transparente; v) autonomia das relações entre as universidades e as fundações de apoio. 44 De acordo com dados do Censo da Educação Superior/Inep, entre os anos de 1996 a 2006, houve um aumento da

oferta de ensino superior no Brasil de 150%, sendo que 64% das vagas foram registradas em IES públicas e 206%

em IES privadas.

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Nessa direção, a autonomia seria um privilégio a ser conquistado, subordinado

a um projeto institucional e vinculado a um processo de autoavaliação e de avaliação

externa. Essa perspectiva se coaduna com o Sinaes, objeto de estudo desta pesquisa.

A questão da autonomia institucional expressa no orçamento global da IES foi

o ponto central da resistência no meio acadêmico. As resistências associadas a novas

formas de controle público imputaram ao MEC a fixação de critérios para a distribuição

de recursos com base na avaliação de desempenho e eficiência na aplicação de tais

recursos, devendo haver a ampliação de atendimento à população (CUNHA, 1997).

Segundo essa concepção, o financiamento público das universidades estaria

condicionado à avaliação de desempenho. As IES receberiam um orçamento fixo e

outro variável, de acordo com seu desempenho, e deveriam assumir a responsabilidade

de geri-lo.

Para viabilizar tal proposta, o MEC elaborou em 1997 um pré-projeto, a fim de

iniciar uma consulta para a construção de projeto definitivo de reforma constitucional.

Na proposta, a autonomia dependeria de lei complementar e, em acordo com a

Associação Nacional de Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior

(Andifes), seria criado um Fundo para a educação superior, com verbas da União

destinadas ao financiamento das universidades federais. Entretanto, as dificuldades

acabaram por interromper a discussão da proposta. Em 1999, foi lançada mais uma

proposta de autonomia destinadas às IES federais, na forma de “contrato de

desenvolvimento institucional”. Com muita resistência, esta última proposição também

foi retirada de pauta.

O desdobramento da reforma educacional da década de 1990 para a educação

superior pública se expressa, segundo Mancebo (2009), por meio de um paradoxo, em

que:

A adoção da máxima racionalização de recursos para as instituições

federais, com o governo informando para as instituições que

“mantém” sobre a necessidade de elevar os níveis de “eficiência” e de

responsabilidade social” (expansão da matrícula, dos indicadores da

relação professor/aluno), mas contendo gastos com o consumo,

equipamentos e obras e com a contratação de pessoal docente e

técnico-administrativo, conduziu as instituições federais a viverem a

mais drástica política de corte e ajuste de sua história (p. 17, grifos do

autor).

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Sob o ponto de vista histórico pode ser apreciada, no conjunto desses decretos

e normativas interministeriais, a Lei nº 9.192/95, que se refere à escolha de dirigentes

das IES federais, e a Lei nº 9.131/95, que cria o ENC para os alunos concluintes dos

cursos de graduação. Com o passar do tempo, percebe-se que muitas das orientações

previstas pela Reforma Universitária de 1968 se transformaram em políticas e ações do

Estado. A própria Constituição Federal de 1988 incorporou várias dessas

reivindicações;45 entretanto, para Vieira (2005), a legislação não foi capaz de deter um

sistema marcado pela heterogeneidade:

[...] de um lado, se colocaram as instituições de primeira linha

orientadas em sintonia com este padrão: universidades federais,

algumas estaduais (de modo especial as paulistas) e particulares. De

outro lado, se inseriram as instituições de segunda linha, a grande

maioria das quais particulares, somente responsáveis pela oferta de

ensino, muitas vezes de baixa qualidade. Embora regido por uma

legislação comum, o sistema abrigou diferenciações internas

profundas (p. 18).

Nos anos 2000, as ações de expansão da IES da esfera federal ocorreram por

meio de mecanismos de gestão gerencial e contratos de gestão, em que as universidades,

para obter recursos adicionais para sua manutenção, pactuaram metas com o poder

público, a fim de ampliar a oferta de vagas e, em contrapartida, garantir recursos. Essa

reforma não rompeu com os pressupostos neoliberais; ao contrário, os aprofundou no

âmbito da administração pública, por meio da racionalidade financeira e a adoção de

critérios quantitativos para as decisões administrativas.

A questão parece ter se materializado em 2007 com a aprovação do Programa

de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni)

por meio do Decreto n° 6.096/2007. O Reuni possibilitou a ampliação das condições de

autonomia financeira das IES, ao mesmo tempo que induziu a expansão via criação de

novos cursos. Devido à necessidade da expansão na rede pública, o tempo foi

insuficiente para o planejamento da oferta e muitos foram os problemas de estruturação.

45 A CF/1988 consagrou a autonomia universitária, estabeleceu a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e

extensão; garantiu a gratuidade nos estabelecimentos oficiais; assegurou o ingresso por concurso público e o

regime jurídico único.

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Essa situação gerou, de certa forma, uma desarticulação dos processos de regulação e

avaliação, pois os novos cursos iniciaram o funcionamento quando ainda não reuniam

as condições necessárias que expressassem qualidade para uma avaliação satisfatória

nos prazos previstos dos atos regulatórios de reconhecimento e renovação de

reconhecimento.

E assim, com o objetivo de construir um projeto de reforma para a educação

superior, realizaram-se debates que culminaram em quatro anteprojetos de Lei da

Reforma da Educação Superior.46 A proposta original de autoria do MEC foi debatida

internamente no governo e encaminhada ao Congresso Nacional na sua terceira versão

para aprovação. Segundo Nogueira (2008), é preciso estar atento para o fato de que

documento encaminhado pelo executivo ao legislativo

[...] não foi a última versão resultante dos debates entre o governo e a

sociedade civil, ou seja, a terceira versão do Anteprojeto de Lei da

reforma. O Projeto de Lei difere da terceira versão do Anteprojeto de

Lei em vários aspectos, apresentando tanto inclusões quanto exclusões

consideráveis de temas (p. 64).

No Projeto de Lei nº 7.200/2006, o processo de avaliação passou a ganhar

maior visibilidade. Entretanto, diante da impossibilidade de aprová-lo, no que se refere

à política de avaliação da educação superior, instituída na Lei nº 10.861/2004, foi

publicado o Decreto nº 5.773/2006, a Portaria nº 40/2007 e os instrumentos de

avaliação, por meio dos quais foram introduzidos na sistemática avaliativa vários

critérios que haviam sido contemplados pelo Projeto de Lei da Reforma Universitária.

A Reforma se caracterizou, portanto, pela expansão da educação superior

brasileira e pela ampliação das competências das IES. Além das atividades de ensino,

incluíram-se as de pesquisa e extensão, aliadas a fatores de mudanças em relação à

qualidade. Ganhou relevância também, no projeto de reforma da educação superior, a

discussão sobre o financiamento das instituições públicas. O tema se destacou pela

implantação de formas adicionais para garantir verbas de custeio e de capital necessárias

ao bom funcionamento das IES, entretanto, ainda insuficientes devido à expansão

46 A primeira versão tinha 35 páginas, a segunda 23, a terceira 57 e a quarta 23 páginas e referências a outras leis,

entre elas, as da criação do Prouni e do Enade, a Lei de Inovação Tecnológica, o Decreto das Fundações e a

Universidade Nova.

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ocorrida de forma concomitante à sua implantação. Essa questão permanece em

discussão, a fim de estabelecer uma referência de qualidade baseada nas avaliações para

compor a matriz orçamentária das IES públicas. Para Dourado (2008), destaca-se nessas

políticas uma rediscussão da função social da educação superior, pois são

[...] sinalizações mais efetivas no tocante ao financiamento do

ensino público, expansão das instituições federais (que associadas à

reforma e a outros dispositivos legais – decretos, portarias, resoluções

– vem se efetivado por meio de criação de novas Universidades

Federais, transformação de Cefets em Ifets, criação de novos cursos,

expansão por meio da modalidade educação a distância e, mais

recentemente, pela edição do Reuni), ênfase no Plano de

Desenvolvimento Institucional e nos processos de avaliação

(implementação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação

Superior – Sinaes), entre outros (p. 21).

Sob a égide da compreensão da educação como um bem público, o Sinaes

tornou-se necessário para a promoção da qualidade da educação superior, com a

perspectiva de maior articulação da avaliação, da supervisão e da regulação. O Art. 1o

do Decreto nº 5.773/2006 dispõe sobre o exercício das funções de regulação, supervisão

e avaliação de instituições de educação superior e de cursos superiores de graduação e

sequenciais no sistema federal de ensino: “§ 1o A regulação será realizada por meio de

atos administrativos autorizativos do funcionamento de instituições de educação

superior e de cursos de graduação e sequenciais; § 2o A supervisão será realizada a fim

de zelar pela conformidade da oferta de educação superior no sistema federal de ensino

com a legislação aplicável; § 3o A avaliação realizada pelo Sistema Nacional de

Avaliação da Educação Superior – Sinaes, constituirá referencial básico para os

processos de regulação e supervisão da educação superior, a fim de promover a

melhoria de sua qualidade” (BRASIL, 2006).

A finalidade era ampliar a autonomia47 com o respectivo acompanhamento do

Estado, para subsidiar os atos de credenciamento e recredenciamento das IES. Portanto,

para analisar a educação superior a partir das políticas governamentais, deve-se

47 De acordo com a autonomia das universidades ou a prerrogativa de autonomia concedida pelo Estado, devido ao

resultado satisfatório no Índice Geral de Cursos (IGC) dos centros universitários e faculdades, os cursos podem

ser dispensados da avaliação in loco para fins de autorização. Entretanto, quando avaliados para o ato seguinte de

reconhecimento dos cursos, alguns podem apresentar estruturas ainda em implantação e sem condições de

qualidade, podendo comprometer a formação dos estudantes matriculados ou já formados na IES.

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ultrapassar a etapa de descrição dos fatos e contextualizar as práticas. Somente com essa

análise, poderiam se revelar elementos presentes nos discursos e documentos que

proclamam o crescimento da educação superior pública em todo país, em prol da justiça

social e sem a necessária contrapartida financeira que acaba por comprometer a

qualidade da educação superior e das funções por ela desenvolvidas.

Reconhecendo a abrangência do processo de avaliação da educação superior e

seu fortalecimento como uma política pública sob a responsabilidade do Estado, a

Constituição Federal (CF), em seu artigo 206, fixa os princípios do ensino, entre os

quais prevê, no inciso VII, a “garantia do padrão de qualidade” (BRASIL, 1988). De

forma complementar, no artigo 205, estabelece a educação como

[...] direito de todos e dever do Estado e da família será promovida e

incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno

desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania

e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988).

Ao instituir a garantia do princípio à educação como dever do Estado, a

CF/1988, no seu artigo 209, se refere às condições que devem ser atendidas pela

iniciativa privada para a oferta da educação superior: “I – cumprimento das normas

gerais da educação nacional; II – autorização e avaliação de qualidade pelo poder

público”. O artigo 213 da CF/1988 diferencia as escolas não lucrativas das estritamente

privadas, quais sejam: as comunitárias, filantrópicas e confessionais.48 As escolas

privadas com fins lucrativos são reguladas por acordos entre as partes, baseados no

sistema contratual de mercado, respeitadas as normas gerais da educação nacional e sob

a condição de funcionar com autorização e avaliação de qualidade pelo poder público.

Com essa iniciativa por parte do Estado, parece não restar dúvidas quanto à

importância da avaliação da educação superior. A CF/1988 afirma o dever do Estado em

realizar a avaliação da qualidade da educação ofertada pelas IES públicas e privadas.

48 O artigo 213 da CF/1988 prevê que “os recursos públicos serão destinados às escolas públicas, podendo ser

dirigidos a escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, desde que: I) comprovem

finalidade não lucrativa e apliquem seus excedentes financeiros em educação; II) assegurem a destinação de seu

patrimônio a outra escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao poder público, no caso de encerramento

de suas atividades” (BRASIL, 1988).

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Nesse entendimento, a Carta Magna expressa a responsabilidade do MEC com

a avaliação e fortalece o Sinaes como política pública. Entretanto, o que se discute é se,

de fato, o Sinaes tem sido interpretado dessa forma pela gestão do Estado e das IES ou

se tem servido apenas como legitimação da intenção do Estado de controlar a oferta da

educação superior.

De modo complementar, o artigo 9º da LDBEN nº 9.394/1996 explicita a

finalidade da avaliação do sistema educacional brasileiro e as atribuições da União:

[...]

V – coletar, analisar e disseminar informações sobre a educação;

VI – assegurar processo nacional de avaliação do rendimento escolar

no ensino fundamental, médio e superior, em colaboração com os

sistemas de ensino, objetivando a definição de prioridades e a

melhoria da qualidade do ensino;

VIII – assegurar processo nacional de avaliação das instituições de

educação superior, com a cooperação dos sistemas que tiverem

responsabilidade sobre este nível de ensino;

IX – autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar,

respectivamente, os cursos das instituições de educação superior e os

estabelecimentos do seu sistema de ensino (BRASIL, 1996).

Esse dispositivo legal ratifica as competências da União expressas na

Constituição Federal (BRASIL, 1988), a partir da compreensão da educação como

direito social. A Lei cria, portanto, a vinculação entre o processo avaliativo e o processo

regulatório, indicando a realização de exames para aferir o desempenho dos estudantes

em todos os níveis de ensino. Essa parece ser a origem, na educação superior, do Exame

Nacional de Cursos (ENC), também chamado de “Provão”, realizado entre os anos de

1996 a 2003.

Na sequência das disposições legais, o Plano Nacional de Educação (PNE),

instituído pela Lei nº 10.172/2001, em relação à educação superior, definiu no artigo 4º:

“A União instituirá o Sistema Nacional de Avaliação e estabelecerá os mecanismos

necessários ao acompanhamento das metas constantes do Plano Nacional de Educação”

(BRASIL, 2001). Com esse dispositivo, depois de três anos de vigência do PNE,

justifica-se a proposta de criação do Sinaes, por determinação da LDBEN, nos termos

do artigo 9º, inciso VIII (BRASIL, 1996).

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Dias Sobrinho (2010) valoriza nessas ações e estratégias a intenção de

promover a qualidade da educação via políticas públicas de aprimoramento do sistema

educacional brasileiro:

É justo reconhecer as iniciativas que o governo brasileiro vem

empreendendo para expandir o setor público federal, seja pela criação

de novas instituições e extensão de campi fora da sede, pela

implantação de cursos tecnológicos, seja pela criação de vagas

prioritariamente para estudantes de baixa renda, especialmente os

afrodescendentes e oriundos da rede pública (p. 1.236).

O PNE (2001-2010) buscava articular a ação das três esferas

governamentais em prol da continuidade das políticas educacionais, visando à

expansão e à melhoria da educação no país. Segundo Moreira e Todescat (2008),

por meio do PNE, o MEC

[...] estabelece prioridades que contemplam a diminuição das

desigualdades sociais e regionais, a universalização da formação

escolar mínima compatível com as necessidades da sociedade

democrática moderna, a elevação global do nível de escolaridade da

população e a melhoria geral da qualidade do ensino, baseado numa

nova pedagogia do sucesso escolar (p. 13).

Passado o período de implementação do PNE (2001-2010), e com base debate

promovido na Conferência Nacional de Educação (Conae),49 construiu-se um amplo

diagnóstico da educação nacional, que balizou a proposta do PNE para os próximos dez

anos. Sem dúvida, a Conferência constituiu-se um fato social e político que aglutinou

todas as expressões da educação brasileira. Entre os seus resultados, destaca-se a

evolução da comissão organizadora da Conae à condição de Fórum Nacional de

49 A Conae/2010 se fundamentou nas seguintes premissas: a) universalização da educação básica pública, por meio

do acesso e permanência na instituição educacional; b) expansão da oferta da educação superior, sobretudo a

pública, por meio da ampliação do acesso e permanência na instituição educacional; c) garantia de padrão de

qualidade em todas as instituições de ensino, por meio do domínio de saberes, habilidades e atitudes necessários

ao desenvolvimento do cidadão, bem como da oferta dos insumos próprios a cada nível, etapa e modalidade do

ensino; d) gratuidade do ensino para o estudante em qualquer nível, etapa ou modalidade da educação, nos

estabelecimentos públicos oficiais; e) gestão democrática da educação e controle social da educação; f) respeito e

atendimento às diversidades étnicas, religiosas, econômicas e culturais; g) excelência na formação e na

valorização dos profissionais da educação; h) financiamento público das instituições públicas (CONAE, 2010).

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Educação,50 instituído pela Portaria nº 1.407, de 17 de dezembro de 2010, e o Projeto de

Lei nº 8.035/2010, que fixa as diretrizes, metas e estratégias do Plano Nacional de

Educação (PNE) para o período de 2011 a 2020.

Foram muitos os embates travados entre representantes de entidades da

sociedade civil, governo e parlamentares para aprovar o novo PNE, que deveria estar

vigorando desde 2011, logo depois de expirar o plano decenal anterior. Depois de

disputas entre Câmara dos Deputados e Senado, que apresentavam versões diferentes

para o projeto, depois de quatro anos de discussão no Congresso Nacional, foi

sancionada, em 25 de junho de 2014, a Lei nº 13.005/14, que aprova o texto do PNE

(2014-2024). Do seu artigo 2º, extraem-se as seguintes diretrizes:

I – erradicação do analfabetismo;

II – universalização do atendimento escolar;

III – superação das desigualdades educacionais;

IV – melhoria da qualidade do ensino;

V – formação para o trabalho;

VI – promoção da sustentabilidade socioambiental;

VII – promoção humanística, científica e tecnológica do País;

VIII – estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em

educação como proporção do produto interno bruto;

IX – valorização dos profissionais da educação; e

X – difusão dos princípios da equidade, do respeito à diversidade e à

gestão democrática da educação (BRASIL, 2014).

Além do financiamento, o novo PNE (2014-2024) considera a formação dos

professores, a remuneração e a valorização da carreira como questões centrais para o

cumprimento das demais metas. No que se refere à educação superior, são discutidas no

PNE as Metas 12, 13 e 14, que evidenciam o esforço pela melhoria da qualidade e

também certo antagonismo em relação às suas metas.

i) Meta 12: “Elevar, de forma qualificada, a taxa bruta de matrícula na

educação superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos”

(BRASIL, 2014). Esta Meta representa um desafio, já que reconhece o potencial

substancial de crescimento do acesso à educação superior. O Brasil apresenta um

50 O Fórum, de caráter permanente, tinha a finalidade de coordenar as conferências nacionais de educação,

acompanhar e avaliar a implementação de suas deliberações e promover as articulações necessárias entre os

fóruns de educação dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios.

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panorama em que 23% das matrículas são de instituições públicas, enquanto os outros

77%, de instituições privadas. Nessa realidade, a taxa de escolarização já ajustada,

considerando não só as matriculas de 18 a 24 anos, no caso da taxa líquida, mas

considerando aqueles estudantes de 18 a 24 anos que já estão formados, tem-se 18,8%.

Para aumentar a taxa líquida de matrículas na educação superior, levando-se em conta

as projeções relativas ao tamanho da população brasileira traçadas pelo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), será necessário, segundo dados da

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), que cerca de quatro milhões

desses jovens tenham ingressado ou concluído esse nível de ensino em 2020.

ii) Meta 13: “Elevar, de forma consistente e duradoura, a qualidade da

educação superior, pela ampliação da atuação de mestres e doutores nas instituições de

educação superior para 75%, no mínimo, do corpo docente em efetivo exercício, sendo

35% doutores” (BRASIL, 2014).51 A meta 13 associa a melhoria da qualidade à

participação de mestres e doutores na educação superior. Ressalta-se que o país tem,

segundo os dados do Censo da Educação Superior/2012, 70,2% de mestres e doutores

na educação superior. Essa Meta guarda relação com a proposta da avaliação do Sinaes,

pois a proporção de titulação de doutores e mestres na educação superior se caracteriza

como um indicador do instrumento de avaliação e insumo do indicador de qualidade da

educação superior, o CPC. O aumento do percentual de docentes com qualificação em

nível de pós-graduação pressupõe atender à prerrogativa do Sinaes e consequente

melhoria de qualidade.

51 A Meta 13 depende das estratégias da política de avaliação: 1) Aprofundar e aperfeiçoar o Sistema Nacional de

Avaliação da Educação Superior – Sinaes, de que trata a Lei nº 10.861, de 14 de abril de 2004, fortalecendo as

ações de avaliação, regulação e supervisão; 2) Ampliar a cobertura do Exame Nacional de Desempenho de

Estudantes – Enade, de modo a que mais estudantes, de mais áreas, sejam avaliados no que diz respeito à

aprendizagem resultante da graduação; 3) Induzir processo contínuo de autoavaliação das instituições superiores,

fortalecendo a participação das comissões próprias de avaliação, bem como a aplicação de instrumentos de

avaliação que orientem as dimensões a serem fortalecidas, destacando-se a qualificação e a dedicação do corpo

docente; 4) Induzir à melhoria da qualidade dos cursos de pedagogia e licenciaturas, por meio da aplicação de

instrumento próprio de avaliação aprovado pela Conaes, de modo a permitir aos graduandos a aquisição das

competências necessárias a conduzir o processo de aprendizagem de seus futuros alunos, combinando formação

geral e prática didática; 5) Elevar o padrão de qualidade das universidades, direcionando sua atividade de modo

que realizem, efetivamente, pesquisa institucionalizada, na forma de programas de pós-graduação stricto sensu;

6) Substituir o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes – Enade, aplicado ao final do primeiro ano do

curso de graduação pelo Exame Nacional do Ensino Médio – Enem, a fim de apurar o valor agregado dos cursos

de graduação; 7) Fomentar a formação de consórcios entre universidades públicas de educação superior com

vistas a potencializar a atuação regional, inclusive por meio de plano de desenvolvimento institucional integrado,

assegurando maior visibilidade nacional e internacional às atividades de ensino, pesquisa e extensão.

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iii) Meta 14: “Elevar gradualmente o número de matrículas na pós-graduação

stricto sensu de modo a alcançar a titulação anual de 60 mil mestres e 25 mil doutores”

(BRASIL, 2014). O Brasil apresentou um crescimento importante nos últimos dez anos,

no que diz respeito ao aumento do número de matriculas na pós-graduação stricto sensu,

alcançando em 2012, segundo coleta Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Nível Superior (Capes), a marca de 47 mil mestres e 13 mil doutores. A Meta 14 requer

maior articulação entre os órgãos federais e estaduais para garantir que os estudantes

concluam os estudos, bem como um maior número deles seja estimulado a ingressar na

carreira acadêmico-científica. Além disso, exige o crescimento do investimento dos

setores públicos e do setor empresarial na pós-graduação, aplicando recursos em

treinamento e capacitação de mestres e doutores.

Sob esse cenário, para o alcance das três Metas do PNE (2014-2024) e suas

respectivas estratégias voltadas a melhorar a qualidade da educação superior, requer-

se/é preciso, primeiro, a realização da Meta 14, proporcionando um contingente de

professores com mestrado e doutorado. A Meta 14 poderá levar ao sucesso da Meta 13,

obtendo bons resultados nas ações de avaliação e, consequentemente, poder-se-á

alcançar a Meta 12, com a expansão do número de vagas nos cursos de graduação com a

garantia de qualidade da oferta da educação superior.

Em uma análise crítico-propositiva do PNE (2014-2024), Dourado (2014)

esclarece que o entendimento da educação em articulação com o conjunto das demais

políticas é fundamental para que ela ocorra enquanto política de Estado. Para o autor,

“repensar a educação no Estado Brasileiro é fortalecer a sociedade civil, política e

social” (p. 55).

Entendida como política pública, a avaliação é uma das iniciativas para

assegurar a qualidade da educação, visando ao processo nacional de avaliação das IES,

dos cursos de graduação e do desempenho acadêmico de seus estudantes. Dessa forma,

o Sinaes ganha centralidade no processo de implantação de políticas e a sua

concretização, por ato legal em 2004, denota a importância da sua institucionalização

nas políticas de educação superior.

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Conforme o documento institucional sobre o Sinaes (INEP. 2009),52 utilizado

para informação à comunidade acadêmica sobre a organização do sistema de educação

superior em âmbito nacional, a avaliação visa promover a

[...] melhoria da qualidade da educação superior, a orientação da

expansão da sua oferta, o aumento permanente da sua eficácia

institucional e efetividade acadêmica e social e, especialmente, a

promoção do aprofundamento dos compromissos e responsabilidades

sociais das instituições de educação superior, por meio da valorização

de sua missão pública, da promoção dos valores democráticos, do

respeito à diferença e à diversidade, da afirmação da autonomia e da

identidade institucional (p. 151).

Nessa perspectiva, o Sinaes tem representatividade nacional, e todas as IES do

sistema federal de ensino, independentemente da categoria administrativa ou

organização acadêmica, devem participar, para fins de acompanhamento, da qualidade

da educação superior ofertada no país. Segundo a LDBEN no seu Art. 16, o sistema

federal de ensino compreende: “I – as instituições de ensino mantidas pela União; II –

as instituições de educação superior, criadas e mantidas pela iniciativa privada; III – os

órgãos federais de educação” (BRASIL, 1996).

Com esse ordenamento, a LDBEN vinculou a esse sistema as instituições de

educação superior, criadas e mantidas pela iniciativa privada, e aos sistemas estaduais

de ensino as instituições de educação superior mantidas pelo Poder Público (artigo 17,

inciso II). Essa interpretação da lei tem fundamento em seu artigo 19, que classifica as

instituições por categoria administrativa.53

A LDBEN esclareceu, ainda, no artigo 54, que: “As Universidades mantidas

pelo Poder Público gozarão, na forma da lei, de estatuto jurídico especial para atender às

peculiaridades de sua estrutura, organização e financiamento pelo Poder Público, assim

como dos seus planos de carreira e do regime jurídico do seu pessoal” (BRASIL, 1996).

52 O documento elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)

contém o histórico da implantação do Sinaes, servindo de fonte de estudos e pesquisas na área da avaliação da

educação superior. Essa publicação institucional reúne o marco legal e as orientações técnicas do Sinaes (INEP,

2009). 53 As instituições de ensino dos diferentes níveis classificam-se nas seguintes categorias administrativas: I –

públicas, assim entendidas, as criadas ou incorporadas, mantidas e administradas pelo Poder Público; II –

privadas, assim entendidas as mantidas e administradas por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado

(BRASIL, 1996).

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Verifica-se, então, que as IES mantidas pelo poder público estadual ou

municipal são submetidas à regulação do respectivo Poder Público, recebendo destes os

devidos estatutos jurídicos especiais, incluindo planos de carreira e regime de pessoal.

Essa parece ser uma especificação legal referente aos propósitos da regulação

da educação superior, entretanto não se questiona nessa norma o papel da avaliação da

qualidade como dever do Estado, preconizado no artigo 206 pela própria CF/1988.

Nessa compreensão, os processos de avaliação e regulação são entendidos como

dependentes entre si: se cabe ao Poder Público fazer a regulação, também cabe conduzir

os processos de avaliação. Para afirmar essa integração e definir a responsabilidade de

cada processo, dois anos depois da sanção da lei que estabeleceu o Sinaes, foi

promulgado o Decreto nº 5.773/2006, que explicita procedimentos para atender às

funções de regulação, supervisão e avaliação das instituições e dos cursos de graduação.

Segundo o Decreto, a regulação se realiza “por meio de atos administrativos

autorizativos do funcionamento de instituições e cursos”; a supervisão, com a finalidade

de “zelar pela conformidade da oferta de educação superior com a legislação aplicável”.

E a avaliação como “referencial básico para os processos de regulação e supervisão da

educação superior”, para promover a melhoria de qualidade (BRASIL, 2006).

Com esse texto, a norma explicita o significado de cada um dos processos,

inclusive a interdependência entre eles. Ao mesmo tempo, estabelece a aproximação

com a avaliação, a regulação e a supervisão, com vistas à construção de uma educação

superior de qualidade e à necessidade de maior articulação da gestão do MEC e Inep

com as IES e demais agentes envolvidos no processo.

Com base no texto da legislação, embora pareça estar definida a relação entre

avaliação e regulação, muitas vezes, essa relação pode estar sendo confundida na

atuação estatal, pois, a depender do uso dos resultados da avaliação, essa relação pode

ser mais ou menos intensa. Por exemplo: se a avaliação for concebida na forma de

controle do Estado, estará com um nível muito grande de dependência; entretanto, se a

avaliação for aplicada no seu aspecto formativo, pode ser concebida em momentos

distintos e interdependentes, e quase sempre com a avaliação antecedendo a regulação, a

fim de subsidiá-la nos seus atos autorizativos.

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Nessa configuração, se os processos de avaliação e regulação são conceituados

como independentes e complementares, e se o primeiro serve como subsídio ao

segundo, o dispositivo legal deveria ser aplicado a todas as IES e aos cursos (mesmo

aquelas sob a jurisdição do Poder Público estadual, do Distrito Federal ou municipal),

integrando o processo nacional de avaliação, para assegurar a qualidade. À luz dessa

diretriz, não poderia ficar apenas o processo de regulação sob a responsabilidade do

Poder Público, o qual a IES representa? Dessa forma, a avaliação dos cursos pelo Sinaes

seria universal e os resultados subsidiariam os processos de regulação nos níveis

federal, estadual e municipal.

Entretanto, essa definição de competências regulatórias, ou mesmo de poder,

fica clara na forma descrita na Portaria Normativa nº 40/2007, republicada em 2010, que

prevê a participação de todas as IES no Sinaes, porém destaca a responsabilidade dos

sistemas estaduais:

Art. 61-L A realização de avaliações no sistema nacional não elide as

atribuições de regulação e supervisão das instituições e cursos

superiores, que permanecerão no âmbito das autoridades do sistema

estadual ou do Distrito Federal, observados os limites de sua

competência territorial (BRASIL, 2010).

Com essa referência, a participação no Sinaes ficou sendo opcional aos Estados

que podem, segundo seu interesse, firmar acordos de cooperação54com o Inep e a

Conaes. A norma dispõe, ainda, que na ausência de acordo de cooperação, as IES

poderão submeter-se à avaliação no sistema nacional voluntariamente, por adesão.55

Nota-se que a adesão das IES ao Sinaes, mesmo que em parte dos seus instrumentos,

tem se constituído sem acordo formal do Estado. É cada vez maior o número de IES que

participam do Enade, por critérios próprios, para reflexão interna.

Nesse aspecto, ressaltam-se outras motivações externas para a participação dos

cursos das IES estaduais no Enade. A Deliberação do Conselho Estadual de Educação

54 A cooperação com os sistemas de ensino superior dos Estados e do Distrito Federal, para os processos de

avaliação de instituições e cursos, no âmbito do Sinaes, com base no artigo 1°, § 2° da Lei n° 10.861, de 2004,

será realizada nos termos desta Portaria Normativa (Art. 61-I da Portaria Normativa nº 40/2007, republicada em

29 de dezembro de 2010) (BRASIL, 2010). 55 A adesão da instituição do sistema estadual ou do Distrito Federal ao Sinaes implica a avaliação institucional e a

avaliação de todos os cursos da instituição. Na hipótese de denúncia do acordo de cooperação, as instituições do

sistema estadual ou do Distrito Federal que o desejarem poderão permanecer submetidas às avaliações do Sinaes,

na forma do caput (§1º e §3º do Art. 61-M da Portaria Normativa nº 40/2007, republicada em 29 de dezembro de

2010) (BRASIL, 2010).

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de São Paulo (CEE nº 99/2010) dispõe sobre o uso dos resultados do Enade para

subsidiar a decisão sobre a renovação do reconhecimento de cursos e habilitações

oferecidos por IES vinculadas àquele Conselho. Essa condição pode ser caracterizada

como uma dessas formas de incentivo.

Segundo a Deliberação CEE nº 99/2010 no seu artigo 10, a Renovação do

Reconhecimento será solicitada pela IES ao Conselho Estadual de Educação, no

primeiro trimestre do último ano da validade do Reconhecimento do Curso, com a

seguinte orientação:

[...]

§ 2º – Cursos com avaliação igual ou superior a 4 no Exame Nacional

de Desempenho dos Estudantes (ENADE) [sic], terão prorrogado o

seu Reconhecimento enquanto perdurar esse desempenho.

§ 3º – Na divulgação dos resultados do ENADE [sic], a cada ano, a

Câmara de Educação Superior listará os Cursos das Instituições

ligadas ao CEE-SP. que atendem ao disposto no parágrafo anterior,

para fins de expedição de ato próprio da Presidência do Conselho que

efetive a prorrogação de Reconhecimento de cada Curso (CEE/SP.

2010).

A disposição do CEE/SP em utilizar o resultado do Enade para subsidiar os

atos regulatórios acaba por admitir que o Sinaes, tendo alcance para subsidiar a política

de regulação nacional, ganha a confiança dos sistemas estaduais. Nesse caso, o uso dos

resultados da avaliação do Sinaes para a regulação dos sistemas estaduais, mesmo que

acrescidos de critérios próprios no âmbito de cada esfera estatal (estadual, municipal,

federal e do Distrito Federal), legitima a participação dos Estados no processo nacional

de avaliação.

Em que pese o uso de apenas os resultados do Enade para regular, sabe-se que

o uso dos demais instrumentos de avaliação do Sinaes é, muitas vezes, questionado

pelos conselhos estaduais que justificam a não adesão integral pela necessidade de

terem maior confiança na designação dos avaliadores locais para compor as Comissões

in loco. Essa confiança está atrelada à necessidade de indicação do profissional pelos

gestores do sistema. Entretanto, essa situação é superada pelo disposto no Art. 17,

subseção II, da Portaria nº 40/2007, na atual redação, que trata dos avaliadores e dos

instrumentos de avaliação. Essa subseção orienta a gestão do Banco de Avaliadores do

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Sinaes (BASis)56 e regulamenta a seleção, a capacitação e a designação dos avaliadores

com critérios aleatórios e sistêmicos, para garantir transparência e fidedignidade ao

processo. A utilização do Sistema e-MEC57 na gestão do BASis visa garantir o

estabelecimento de critérios a fim de gerar a confiança no processo de avaliação.

Considerados os avanços na operacionalização do Sinaes, coexistem críticas

positivas e negativas ao modelo de avaliação. As críticas negativas são motivadas

principalmente por ser um sistema de avaliação coordenado pelo Estado, com forte

representatividade pública, o que faz com que a iniciativa privada desconsidere os

esforços de melhoria do sistema para a garantia de qualidade pública e privada. Em uma

dessas críticas, Schwartzman (2011) argumenta sobre a necessidade de retirar a

avaliação do MEC e colocá-la em uma ou mais agências reguladoras independentes58

constituídas com legitimidade:

Para um país como o Brasil, com a pluralidade de cursos e instituições

que existem, poderia haver espaço para a criação de diversas agências

de avaliação, de tipo regional e temática, e que possam inclusive

competir entre si por reconhecimento e pela adesão das instituições e

cursos a seus procedimentos (p. 1).

56 O BASis foi regulamentado pela Portaria nº 1.027, de 15 de maio de 2006. Foi revogado pela Portaria Normativa

nº 40/2007, com redação consolidada pelo DOU de 29/12/2010. No artigo 2º da referida Portaria, define-se o

BASis como um cadastro nacional e único de avaliadores para a constituição das comissões de avaliação in loco:

“§ 1º O funcionamento do BASis obedecerá aos seguintes princípios: I – legalidade; II – impessoalidade; III –

moralidade; IV – publicidade e transparência; V – eficiência e economicidade; VI – segurança jurídica; VII –

interesse público; VIII – melhoria da qualidade da educação superior, IX – os compromissos, as

responsabilidades sociais e a missão pública das instituições de educação superior; e X – o respeito à identidade e

à diversidade das instituições de educação superior e dos cursos superiores”. Estabelece, ainda, os critérios para

inscrição e seleção dos avaliadores no sistema e-MEC (BRASIL, 2006, 2010). 57 O Sistema e-MEC é uma ferramenta que permite ao Inep implementar critérios de designação segundo os perfis

de avaliadores necessários a cada processo de avaliação e de modo automático, fazendo uma escolha aleatória dos

perfis de avaliadores para a participação nas comissões in loco. Além de ser uma fonte de consulta de dados sobre

instituições de educação superior e seus cursos, o Cadastro e-MEC informa dados da situação de regulação das

instituições e dos cursos por elas oferecidos, endereços de oferta e indicadores de qualidade obtidos nas

avaliações do MEC (BRASIL, 2010). 58 O modelo de regulação por meio de agências reguladoras independentes, que sucedeu a privatização das estatais

prestadoras de serviços públicos no Brasil, previu determinadas características institucionais aos entes

reguladores, particularmente independência política e especialização técnica, visando prover um ambiente

propício à atração de investimentos (GOMES, 2006).

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Sabe-se que em outros países, com organização, estruturas e dimensões

regionais diferentes das do Brasil, existem agências independentes responsáveis pela

avaliação da educação superior; todavia, o assunto requer mais do que uma simples

importação de modelos. Em Portugal, por exemplo, o fato de o empregador principal ter

deixado de ser o Estado permitiu descartar a avaliação da função de controle e substituir

essa função pela função de supervisão do Estado-Avaliador. No Brasil, considerando

que 88% das IES são privadas, segundo o Censo da Educação Superior (INEP. 2012), o

modelo do Estado-Avaliador se desenvolve pelo uso da avaliação como elemento da

regulação. Há, portanto, necessidade de uma reflexão sobre essa relação, partindo da

análise das tendências da gestão do Estado e do movimento da política de avaliação da

educação superior aplicada à gestão das IES.

Ressalvadas as diferenças do sistema brasileiro em relação às experiências de

outros países, o modelo de supervisão do Estado resulta do reconhecimento, da

dificuldade e da ineficiência da realização do controle a priori. A esse reconhecimento

de um sistema de educação superior que se massificou e que está em constante mutação

associou-se a ideia de competição “tipo mercado”, que levaria as instituições a terem

um comportamento mais eficaz e a responderem melhor às demandas da sociedade

(NEAVE, 2001).

Contestando a lógica que insurge na proposta de criação de agências

reguladoras independentes ou mesmo nas práticas de avaliação com foco na regulação,

afirma-se a concepção de avaliação da educação superior como uma política pública que

orienta a qualidade da educação superior no Brasil. Juntamente com os dispositivos

legais pertinentes à avaliação, a implementação do Sinaes indica a necessidade de um

planejamento estatal para acompanhar o desenvolvimento da educação, o que se tornaria

inviável, caso o Brasil adotasse a forma descentralizada de gestão dos processos de

avaliação.

Nesse contexto, a criação de agências reguladoras independentes diverge da

proposta do Sinaes, que atribui ao Estado o papel de avaliar a qualidade da educação

superior sob a perspectiva formativa e emancipatória, e que poderia instaurar no país um

processo de desconsideração de seu marco legal. Entretanto, para sua consolidação, o

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Sinaes necessita realizar uma meta-avaliação que possibilite demonstrar a efetividade do

sistema de avaliação da educação superior no Brasil e do modelo que o caracteriza.

Esse debate acende uma discussão importante acerca dos interesses e das

finalidades da avaliação. Quais os benefícios de serem descentralizados os processos de

avaliação da educação superior e, mais ainda, de desresponsabilizar o Estado pelo dever

constitucional de zelar pela qualidade da educação, ou então, de transferir a

competência da avaliação para agências independentes, de caráter privado? Haveria

uma meta-avaliação do Sinaes que indicasse a necessidade de mudança na sua forma de

implementação dos processos avaliativos? Qual a contribuição que esse novo modelo de

gestão da avaliação traria para a qualidade da educação superior do país?

Em resposta a esses questionamentos, posto que o Sinaes é desenvolvido de

modo centralizado pela gestão do Estado, mas com instâncias de participação bem

definidas, as críticas positivas da sua implementação dizem respeito à forte presença do

marco legal na constituição de todos os elementos e procedimentos de avaliação e,

consequentemente, a uma gestão compartilhada entre o Estado e os atores envolvidos.

Pode-se destacar, ainda, a isenção e a objetividade dos avaliadores externos

que, pelo conhecimento e expertise na área avaliada e por não se encontrarem

diretamente implicados com o processo, têm condições de aferir à qualidade do curso e

da IES. É relevante, ainda, o princípio formativo e processual da avaliação. O processo

sistemático e contínuo de análise de gestão, funcionamento e desempenho de programas

e projetos, possibilita uma avaliação situacional e uma intervenção oportuna para

corrigir ou confirmar ações da gestão da IES e do Estado.

Essas e outras questões perpassam o estudo em tela. Por se tratar de um sistema

que conjuga a avaliação de estudantes, de cursos e de IES, o estudo dos resultados de

todos os elementos da avaliação dos cursos de Pedagogia é fundamental. A realização

dessa análise conjunta indica caminhos possíveis de operacionalização da avaliação com

a finalidade indutora de qualidade. Ao contrário da avaliação subjugada à política de

regulação da educação superior, que se mostra associada às finalidades de controle da

qualidade.

Do ponto de vista do Estado, a avaliação é vista como uma estratégia útil para a

gestão. A centralidade da avaliação do Enade pela regulação da educação superior

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parece buscar a recomposição do poder político e operacional do Estado e é vista como

uma estratégia de garantia da qualidade. Além disso, representa uma forma de uso do

resultado da avaliação pela gestão que promove o desenvolvimento da área social, aqui

representada pelas demandas de ampliação do acesso à educação superior via expansão

das IES e dos cursos de graduação.

Nessa perspectiva, para ter viabilidade como objeto da regulação nacional, é

necessário que se tenha um sistema de informações educacionais conjugado ao Sinaes.

Os elementos da avaliação são, então, considerados uma ferramenta importante para a

melhoria da gestão da educação superior no país. A gestão do Estado, sob essa ótica,

ocorre por meio do exercício de supervisão, que implica capacidade de coordenação,

liderança e credibilidade. Esse modelo de supervisão caracteriza-se por possuir uma

baixa intervenção nas decisões diárias das instituições, pois estas possuem uma

autonomia ampla, e o governo centra-se numa atividade de dirigir, supervisionar e

avaliar as “performances” das instituições numa fase posterior (AMARAL;

MAGALHÃES, 1999).

Ao fixar as normas de organização e funcionamento do sistema federal de

ensino e o seu fiel cumprimento, o poder público exerce sua função de controle.

Portanto, no processo de regulação, estão envolvidas as dimensões normativa,

verificadora e controladora. Na primeira dimensão, a normativa, se estabelece o

contexto e as condições gerais nas quais serão desenvolvidas as outras duas. Nesse

sentido, o peso da dimensão normativa é intenso, pois determina a realização dos

processos de verificação e controle. Em contraposição às dimensões do processo de

regulação, figuram as da avaliação (diagnóstica, formativa e emancipatória). Segundo

Martins, 2005:

A verificação e controle são insuficientes para assegurar a qualidade

ou fomentar a sua melhoria permanente. Para tanto, é necessária a

existência de avaliação contínua que considere a totalidade das

dimensões envolvidas nas IES, dos seus programas e cursos de

formação, bem como das demais atividades por ela desenvolvidas (p.

42).

Essa definição aponta para mudanças significativas nas atribuições do Estado,

quais sejam: i) investir em políticas de acompanhamento do processo de gestão da

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educação superior; ii) realizar ações de supervisão e orientação para a melhoria no

Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) e no Projeto Pedagógico do Curso (PPC)

e na ação institucional da IES; e para complementar, iii) analisar os aspectos da

avaliação interna e externa (relatórios de autoavaliação e avaliação de estudantes, de

cursos e de instituições).

É relevante destacar nas políticas de acompanhamento do Estado a publicação

da Portaria nº 1.006, de 10 de agosto de 2012, que cria o Programa de Aperfeiçoamento

dos Processos de Regulação e Supervisão da Educação Superior (Pares). Para executar o

programa foi instituído o Conselho Consultivo do Programa de Aperfeiçoamento dos

Processos de Regulação e Supervisão da Educação Superior (CC-Pares). Segundo a

Portaria: “a coordenação, supervisão e execução do Pares caberá à Secretaria de

Regulação e Supervisão da Educação Superior do Ministério da Educação – Seres”

(BRASIL, 2012).

Ratificando a estruturação de um Estado-Avaliador que se legitima nos seus

aspectos legais, o Decreto nº 5.773/2006 foi alterado pelo Decreto nº 8.142, de 21 de

novembro de 2013, após discussão no CC-Pares. Essa alteração permitiu o

credenciamento de “unidades acadêmicas”59 e a abertura de cursos em áreas

estratégicas, em caráter extraordinário, inclusive com a prerrogativa de dispensa da

avaliação in loco, com base na avaliação da unidade-sede.

O referido Decreto exclui do seu texto o período para a protocolização do

pedido de reconhecimento e direciona o estabelecimento desses prazos para a Portaria

própria do MEC. Para consecução do disposto na norma, em 25 de novembro de 2013,

foi publicada a Portaria Normativa nº 24,60 que altera a Portaria Normativa MEC nº 40,

de 2007, republicada em 29 de dezembro de 2010, com nova redação no seu Art. 30-A:

“A instituição deverá protocolar pedido de reconhecimento de curso no período

compreendido entre metade do prazo previsto para a integralização de sua carga horária

e setenta e cinco por cento desse prazo” (BRASIL, 2013).

59 O Decreto nº 8.142, de 21 de novembro de 2013, denomina de “unidades acadêmicas” as IES e os cursos fora de

sede (BRASIL, 2013). 60 A Portaria Normativa nº 24, de 25 de novembro de 2013, regulamenta o Decreto nº 8.142, de 21 de novembro de

2013, que altera o Decreto nº 5.773, de 9 de maio de 2006 (BRASIL, 2013).

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Com essa característica, o Estado-Avaliador desenvolve uma ação regulatória

condicionada à ação institucional. O Estado abandona suas antigas funções educacionais

e passa a regular a totalidade do sistema por meio de avaliações periódicas, vinculadas

ao financiamento público, conforme metas e objetivos a serem atingidos. Nessa direção,

a discussão centra-se na redefinição do papel do Estado, com vistas a contemplar a

ideologia do mercado. Contempla-se, então, uma avaliação estandardizada com

publicização dos resultados, em contraposição a uma ação menos reguladora e mais

emancipatória, por meio da avaliação formativa. O Estado não dispensa a avaliação,

pois o poder de controle desta está diretamente vinculado aos processos de

reconhecimento e recredenciamento de cursos de graduação e das instituições, bem

como o subsídio aos programas de financiamento (AFONSO, 1999).

Assim, percebe-se que a avaliação está presente em todas as formas de

evolução da educação superior e, muito frequentemente, nos instrumentos legais que

geram mudanças, sejam elas econômicas ou ideológicas. A quantidade de normas sobre

o mesmo assunto, alteradas em um curto período de tempo, parece fazer com que as IES

já não saibam mais como e quando devem solicitar os atos autorizativos dos cursos e

também qual o prazo de validade deles. As constantes mudanças no marco legal podem,

então, dificultar o acompanhamento das ações regulatórias pela IES e pelo Estado. De

modo proposital ou não, impacta a dinâmica caracterizada pelo “uso ou não uso” dos

resultados de avaliação.

Enfim, sabe-se que, a cada mudança do extrato legal, prazos podem não ser

cumpridos, prorrogados ou priorizados, a fim de beneficiar o Estado e/ou as instituições

pelo não cumprimento da lei. Contudo, o texto do Decreto dá maior ênfase aos aspectos

do controle estatal, reforçando a ação de supervisão do Estado, com o acréscimo do Art.

69-A:

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O Ministério da Educação, no exercício das funções de regulação e

supervisão de instituições de educação superior, poderá,

motivadamente, em caso de risco iminente ou ameaça aos interesses

dos estudantes, adotar providências acauteladoras nos termos do art.

45 da Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999 (BRASIL, 2013).61

Notadamente, a inserção desse artigo parece ter o objetivo de resguardar o

MEC das medidas cautelares implementadas às IES em decorrência dos resultados

insatisfatórios obtidos no CPC e no IGC. Resta saber se a expressão “risco iminente” se

aplica aos resultados dos indicadores de qualidade, sem o conceito da avaliação in loco,

considerado como subsídio à regulação e à supervisão, nos termosdo Decreto nº

5.773/2006.

Nesse sentido, o uso dos indicadores de qualidade para decisão regulatória, em

substituição ao resultado da avaliação in loco,pode descaracterizar a concepção do

Sinaes e configurar uma atitude de gestão do Estado centrada em resultados com

elementos de uma concepção associada a uma prática cartorial da regulação. Tal

distorção vai de encontro à compreensão da avaliação como política pública, garantida

por lei e gestada para proporcionar a transformação da educação.

Esclarecendo sobre o tema avaliação e a quem serve, Dias Sobrinho (2003)

afirma que a avaliação

[...] deve pôr em questão o conceito de sociedade que fundamenta a

ciência e a prática nos diversos setores institucionais;

fundamentalmente e, utilizando-se de várias análises particulares, deve

pôr em linha de consideração crítica a missão de cada instituição e sua

realização (p. 109-110).

A fim de que o significado de cada um desses conceitos (avaliação e regulação)

pudesse ser detalhado com o objetivo de auxiliar na compreensão das práticas históricas

de avaliação do sistema federal de ensino, identificaram-se nesta pesquisa as influências

da regulação sobre as políticas de avaliação, bem como as ações nos cursos de

Pedagogia que participaram do Enade em 2005, 2008 e 2011.62

61 O Art. 45 da Lei nº 9.784 diz que: “em caso de risco iminente, a administração pública poderá motivadamente

adotar providências acauteladoras sem a prévia manifestação do interessado” (BRASIL, 1999). 62 Antes do Sinaes, registra-se a participação dos cursos de Pedagogia na avaliação em apenas uma edição do ENC,

no ano de 2003.

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Nessa direção, buscou-se responder à tese de que não há como resistir à força

emanada da política regulatória do Estado, quando a avaliação fica subjugada ao

processo de regulação e tem reduzido papel voltado aos aspectos, formativo e

emancipatória do Sinaes com a finalidade de induzir a qualidade. Portanto, a análise dos

cursos de Pedagogia nos ciclos avaliativos do Sinaes responde à seguinte questão:

mesmo com a concepção formativa do Sinaes, há alguma possibilidade de que aconteça

a avaliação excluída da força regulatória do Estado?

Na dinâmica dos processos analisados, observou-se que o uso dos resultados da

avaliação para a superação de dificuldades diagnosticadas ou mesmo para a promoção

de melhorias pode ocorrer, mas são sempre em decorrência de um processo que foi

especialmente organizado para atender à lógica regulatória.

Nessa perspectiva, a opinião dos coordenadores de curso no desenvolvimento

da pesquisa63 foi importante para iluminar a compreensão da gestão do curso de

Pedagogia sobre avaliação e regulação. A análise dos diferentes entendimentos dos

coordenadores de curso, como objeto concreto da pesquisa, contribuiu para elucidar se

as ações resultantes da avaliação no âmbito dos cursos têm se voltado majoritariamente

para fins regulatórios, de modo adverso à orientação do Sinaes.

Essa situação contraditória à perspectiva do Sinaes foi atribuída pelos

coordenadores nas respostas a uma das questões que buscava elucidar a relação entre

avaliação e regulação.64 Nesses interlocutores percebeu-se uma tendência de relacionar a

atitude regulatória à falta de formação pedagógica do pessoal que atua na direção das

IES:

Se existe cobrança aos mantenedores, tem mais investimento para a

qualidade pedagógica. Penso que seria necessário a exigência de uma

formação em nível de stricto sensu na área da educação para os

dirigentes das IES. Assim, pensariam duas vezes antes de não permitir

qualquer tipo de investimento na formação continuada e nas

produções científicas. E pensariam mais na qualidade das bibliotecas

para cada curso (COORDENADOR 4, informação textual, 2013).

63 Para contextualizar o uso do questionário na pesquisa ora desenvolvida, as questões analisadas durante a

elaboração do texto estarão descritas nas notas de rodapé, facilitando ao leitor a sua compreensão. 64 A questão a ser respondida pelos coordenadores era a seguinte: Você percebe relação entre os resultados do

Sinaes e as medidas de regulação do MEC? Se positivo, como você avalia essa relação?

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Diante desse contexto, está presente a preocupação do objeto estudado com a

inexistência da abordagem formativa da avaliação. Do ponto de vista regulatório, a

legislação65 orienta uma formação para a docência na educação superior, com exigência

mínima de pós-graduação. Fica implícito nessa fala o não atendimento ao requisito legal

por parte da formação dos docentes que exercem cargos de gestão na IES, ou o não

exercício da docência por eles (o que faz com que não haja aderência ao projeto

pedagógico).

Por si só, a não observância desses aspectos pode significar que não há

preocupação com esse requisito e tampouco o reconhecimento dos aspectos necessários

à infraestrutura e à organização pedagógica para garantir a qualidade da formação dos

estudantes. No posicionamento do coordenador, fica evidente que as melhorias

pedagógicas, quando efetivadas pelas IES, estão direcionadas ao cumprimento de metas

regulatórias. As mudanças ocorrem, portanto, forçadamente. Não obstante isso,

traduzem-se em melhores resultados no processo de avaliação e podem induzir à

qualidade na oferta dos cursos.

Nesse contexto, o sistema de avaliação pode atuar como indicador de medida

de controle da qualidade, tensionando a relação do Estado com as IES, devido aos

seguintes fatores: i) a imposição de critérios e limites do Estado para a atuação da

gestão e ii) o dever da IES de cumprir padrões mínimos de qualidade para garantir a

autorização de funcionamento dos cursos.

Para Dias Sobrinho (2000), “a avaliação deve colocar como foco central de

suas preocupações a questão fundamental do sentido social de uma instituição” (p. 109).

Com essa afirmação, o autor ratifica a importância de se analisar o envolvimento da

gestão do Estado e das IES no processo avaliativo, a relação entre a avaliação e a

regulação e as mudanças promovidas no contexto institucional a partir dos resultados da

avaliação.

No posicionamento de um dos coordenadores entrevistados ficou evidente que

há conhecimento sobre o objetivo do Sinaes como indutor de qualidade, porém, mesmo

65 O artigo 66 da LDBEN afirma que “a preparação para o exercício do magistério superior far-se-á em nível de

pós-graduação, prioritariamente em programas de mestrado e doutorado” (BRASIL, 1996).

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que seja para justificar a ineficiência na gestão dos cursos, sobressai o discurso da

necessidade de atender à demanda da regulação, conforme depoimento a seguir:

Embora a finalidade do Sinaes possa, no projeto, estar vinculada à

avaliação emancipatória, diagnóstica, construtiva, pedagógica e toda a

gama de adjetivos que possa ter, percebemos que essa avaliação é

vinculada automaticamente à regulação e também à legitimidade do

Estado para usar os resultados para o controle e a punição das

estruturas educacionais (COORDENADOR 8, informação textual,

2013).

Dessa forma, mesmo havendo ciência de que a regulação tem legitimidade para

usar os resultados da avaliação, o que surpreende é o modo positivo como esse

coordenador de curso interpreta a punição (medidas cautelares) aplicada pelo MEC.

Segundo o entendimento desse coordenador, a avaliação gera uma imposição à gestão

de investimento na melhoria da infraestrutura para o desenvolvimento do trabalho

pedagógico. Contraditoriamente a esse entendimento, parece que os gestores

desconsideram o resultado da avaliação para produzir melhorias. Na visão institucional,

o grande problema é que a avaliação traz implicações na comunicação com a sociedade,

provocando desconfiança sobre a qualidade da oferta do curso e consequente redução na

demanda de estudantes.

Quando questionados sobre a adoção de alguma medida da coordenação para

acompanhar ou melhorar os resultados da avaliação externa do Sinaes,66 os

coordenadores afirmaram que algumas ações podem ser feitas e outras não. Essa

resposta justifica uma possível inércia na gestão, devido ao tempo necessário para a

assimilação dos resultados e a fatores externos ao curso.

Essa coordenação recebeu, pela primeira vez, o resultado do Enade.

Estamos procurando diagnosticar o resultado e depois propor ações.

Entendemos que o resultado inclui fatores que são externos à ação da

coordenação e outros passíveis de interferência pela ação dos

dirigentes das IES (COORDENADOR 8, informação textual, 2013).

66 Nesse quesito, a pergunta do questionário a ser respondida pelos coordenadores era a seguinte: A coordenação do

curso tem adotado alguma medida para acompanhar e/ ou melhorar os resultados da avaliação externa do

Sinaes? Quais?

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O não uso da avaliação para a indução de qualidade pode não se tratar apenas

de desconhecimento do processo avaliativo pela gestão do curso. O coordenador admite

a importância da análise dos resultados da avaliação para proposição de melhorias,

entretanto, alega que muitas vezes a implementação dessas ações depende de

posicionamento da direção da IES. Essa atitude pode afastar a possibilidade de o ciclo

avaliativo do Sinaes estar contido no planejamento de todas as IES e pode ser

compreendida como uma negação de alguns dirigentes sobre a importância da avaliação

ou uma compreensão restrita da avaliação como subsidio à tomada de decisão pela

gestão.

Ao analisar a atitude e a opinião dos coordenadores dos cursos de Pedagogia,

buscaram-se fontes reais para dar sentido à pesquisa. A contribuição do método está

justamente na possibilidade de interpretar a ação, a partir da realidade. Marx (2003)

aponta em seu método que o concreto

[...] é concreto por ser a síntese de múltiplas determinações, logo a

unidade da diversidade. É por isso que ele é para o pensamento um

processo de síntese, um resultado, e não um ponto de partida, apesar

de ser o verdadeiro ponto de partida e, portanto, igualmente o ponto de

partida da observação imediata e da representação (p. 248).

Para dar consequência ao método que pressupõe a reflexão sobre a realidade,

analisou-se a trajetória da avaliação dos cursos de Pedagogia como um dado concreto,

partindo-se do marco legal e evolutivo que impactou a construção do sistema de

avaliação no país. Nesse sentido, destaca-se a importância de conhecer as ações

avaliativas anteriores aos Sinaes, as influências de orientações nacionais e

internacionais e as políticas, as diretrizes e os princípios do Sinaes que serão abordadas

no Capítulo 2.

Situar a avaliação como uma política pública significa reconhecer, também, os

avanços obtidos a partir da vinculação da avaliação à regulação. Esses avanços dizem

respeito, principalmente, à motivação do processo. A protocolização da solicitação de

ato regulatório justifica a necessidade de submeter o curso à avaliação do Sinaes.

Entretanto, mesmo havendo motivação, percebe-se no estudo realizado poucos

benefícios dessa articulação, quando vistos sob a ótica do uso dos resultados da

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avaliação. Nesse sentido, pode-se dizer que a finalidade de orientar a tomada de decisão

pela gestão e a melhoria da qualidade dos cursos de graduação tem ficado subjugada às

exigências da política de regulação do Estado.

Com a intenção de revelar o panorama da educação superior sobre o tema, a

pesquisa procurou abranger a diversidade dos sistemas: federal (incluindo as IES

públicas federais e as IES privadas), estadual e municipal de cada região do país. Nesse

contexto, revelaram-se diferenças nos resultados da avaliação quanto à estrutura de

regulação e avaliação por categoria administrativa e, em especial, no âmbito do Poder

Público. Um dos coordenadores de IES vinculado ao sistema estadual acrescenta como

informação relevante67 a ausência de uma política regulatória para melhorar a qualidade

e, nesse sentido, reclama da falta de atitude punitiva do Estado:

Estamos bem distantes de realizar realmente um ensino de qualidade.

Discute-se a teoria na academia e se tem uma prática ainda muito no

senso comum. [...] Muitos cursam Pedagogia, mas o curso não passa

por eles. [...] se fosse cobrada a postura do profissional e punições

para quem não cumprisse com o combinado, talvez ajudasse para que

menos pessoas descomprometidas tivessem atuando na formação das

crianças (COORDENADOR 1, informação textual, 2013).

Ao justificar a falta de qualidade da educação pela ausência de uma regulação

mais próxima da realidade das IES, o coordenador de curso expressa um conceito de

avaliação que valoriza a atitude regulatória fundada na avaliação como punição e

incentivo à desvalorização da atuação formativa da avaliação. Percebe-se, portanto, uma

possível alienação68 dos processos de avaliação em relação aos de regulação,

desconhecimento do que representa a avaliação para a gestão da IES, além de

caracterizar um descomprometimento com a melhoria da formação em andamento no

curso. É como se inexistisse a necessidade de avaliar a qualidade, desde que os

problemas da formação pudessem ser resolvidos com a regulação da profissão.

67 Ao final do questionário, foi proposta uma questão aberta para ampliar o diálogo como os coordenadores: Você

gostaria de acrescentar outras informações relevantes da coordenação do curso para a pesquisa? 68 De acordo com a dialética marxista, a alienação é resultante do processo de produção capitalista. Nessa

concepção, o trabalho do homem se processa de modo a produzir coisas que são separadas dos seus interesses e

do alcance de quem a produziu, para se transformarem, indistintamente, em mercadorias.

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De modo diverso, um dos coordenadores, quando questionado sobre as

vantagens e/ou desvantagens do entendimento do Sinaes como uma política pública,69

manifesta compreensão do processo avaliativo e conhecimento dos instrumentos que

compõem o Sinaes. Em sua manifestação, critica o foco da política de regulação no

Enade e intui a avaliação in loco com possibilidades de indução de qualidade.

O Sinaes propõe o olhar sob as perspectivas da instituição, dos cursos

e do aluno. As avaliações são regulatórias e seus indicadores

quantitativos. É dito que o Enade é a avaliação do aluno, mas os seus

resultados são atribuídos ao curso. Há casos de cursos com baixo

desempenho no Enade, mas que tiveram alunos premiados em eventos

internacionais. Por isso acredito que o Enade, na forma que é aplicado

atualmente, muitas vezes, não reflete a real qualidade de um curso.

Por outro lado, a avaliação de curso, realizada por comissão de

avaliadores, pode aferir a qualidade de um curso, porque permite aos

avaliadores a verificação in loco da infraestrutura do curso e vivência

no ambiente acadêmico, no qual está inserido o aluno e o docente

(COORDENADOR 2, informação textual, 2013).

A visão fragmentada dos instrumentos de avaliação pode levar a estimar o

resultado da avaliação por apenas um dos instrumentos que integram o Sinaes e

erroneamente compará-los entre si, como se um instrumento pudesse ser melhor do que

o outro. Entretanto, cada instrumento de avaliação tem um objetivo e, juntos, perseguem

a finalidade de mostrar as possibilidades de melhorias no âmbito da IES, do curso e da

formação dos estudantes.

No mesmo sentido, outro gestor demonstra seu conhecimento sobre o marco

referencial e científico da avaliação, manifestando claramente sua opinião de que o

Sinaes é uma política pública,

[...] porque se caracteriza como um programa desenvolvido pelo

Estado, que visa assegurar determinado direito de cidadania. [...] as

políticas públicas correspondem a direitos assegurados

constitucionalmente. Se afirmam graças ao reconhecimento por parte

da sociedade e/ou pelos poderes públicos enquanto novos direitos das

pessoas, comunidades, coisas ou outros bens materiais ou imateriais”.

(COORDENADOR 6, informação textual, 2013).

69 A questão a ser respondida pelos coordenadores era: Na sua percepção, o Sinaes se caracteriza como uma

política pública? Quais as vantagens e/ou desvantagens da sua implementação?

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Entretanto, o simples fato de o Sinaes ser desenvolvido pelo Estado não

garantiria o reconhecimento como política pública. O que pode consolidar o Sinaes

como uma política pública é o grau de intensidade da participação dos docentes: i) na

formulação dos instrumentos de avaliação, mediante a discussão das dimensões e

critérios da avaliação in loco em audiências públicas; ii) nas comissões de especialistas

como avaliador do BASis; iii) como integrante das Comissões Assessoras de Área

(CAA); iv) como elaborador e revisor de itens das provas do Enade no Cadastro de

Elaboradores e Revisores da Educação Superior (Ceres) e, ainda, v) no

acompanhamento dos processos de avaliação da própria IES. Com essa participação, de

fato, há um reconhecimento da importância do Sinaes, confiança e legitimidade do

processo. Nessa compreensão, a avaliação como política pública representa uma

atividade desenvolvida diretamente pelo Estado com vistas a assegurar a qualidade da

educação superior. A qualidade da formação dos estudantes desse nível educacional

corresponde a um direito assegurado pela legislação e pelo Estado brasileiro.

Para outro coordenador, o Sinaes traz evidências de uma política criada para

enriquecer o planejamento das IES e subsidiar a construção de políticas internas de

desenvolvimento de oferta de uma educação superior de qualidade, além de subsidiar

políticas públicas educativas. Nesse sentido, para ele, os desafios, são

[...] articular as necessidades regulatórias com os tempos requeridos à

construção de uma cultura da avaliação nas instituições; o peso dado

ao Enade, que concentra a avaliação em resultados de aprendizagem

com instrumentos externos; o controle e indução de currículo; a visão

de controle e regulação da avaliação (COORDENADOR 8, informação textual, 2013).

Os desafios elencados pelo gestor refletem a preocupação com a sobreposição

da ação da regulação à da avaliação como indutora de qualidade. Essa conclusão,

geralmente, vem precedida de um juízo de valor voltado ao uso regulatório do conceito

Enade, que acaba por caracterizá-lo como um instrumento de avaliação materializado na

ação de controle e punição.

Partindo-se, portanto, do pressuposto de que o Sinaes representa uma política

pública, percebe-se neste estudo que, para além do aspecto regulatório, a prática

acadêmica parece estar distante da função diagnóstica e formativa inerente ao processo

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de avaliação. A orientação no sentido de investir na indução de qualidade da formação

por meio da avaliação pressupõe o fortalecimento do diálogo entre Estado e sociedade,

aspecto fundamental para a consolidação da concepção emancipatória da avaliação.

Entretanto, segundo Ristoff (1995), ultrapassar esse ponto parece ser um dos

maiores desafios da avaliação, visto que “somos uma sociedade em que o humor

punitivo, apesar dos seus inúmeros e óbvios fracassos, conseguiu distorcer o que há de

mais precioso na avaliação, a sua capacidade de construir, tornando-a um mero

instrumento de classificação” (p. 47).

O entrelaçamento das ações e dos programas sob a responsabilidade do Estado

está relacionado à dinâmica dos interesses sociais, econômicos e políticos. As

implicações têm se refletido na distorção da finalidade da avaliação, pois enquanto esta

deveria subsidiar a tomada de decisão da gestão para a criação das políticas, fica muitas

vezes estagnada, pelo não uso dos seus resultados.

Dessa forma, entende-se que, na gestão da IES e do Estado, a avaliação não

tem ocupado o espaço de criação e inovação previsto no Sinaes. Nessa condição, dois

elementos seriam essenciais para a gestão: i) o empoderamento,70 advindo da formação

e do fortalecimento das suas práticas com base na avaliação e ii) a responsabilidade, a

partir do comprometimento com a qualidade da educação e prestação de contas à

sociedade. O empoderamento pressupõe a aquisição não apenas da emancipação

individual, mas da consciência coletiva para a superação da dependência social e da

dominação política.

A expressão “empoderamento” embora já existisse na língua inglesa,

significando “dar poder” a alguém para realizar uma tarefa sem precisar da permissão

de outras pessoas, segundo Schiavo e Moreira (2005), segue uma lógica diferente.

Citando o educador Paulo Freire, os autores afirmam que a pessoa, grupo ou instituição

empoderada é aquela que realiza, por si mesma, as mudanças e ações que a levam a

evoluir e a se fortalecer. Portanto, é um movimento que ocorre internamente e não de

fora para dentro.

70 O empoderamento representa a obtenção de informações adequadas, com vistas a um processo de reflexão e de

tomada de consciência quanto à situação atual (SCHIAVO; MOREIRA, 2005).

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Implica, essencialmente, na [sic] obtenção de informações adequadas,

um processo de reflexão e tomada de consciência quanto a sua

condição atual, uma clara formulação das mudanças desejadas e da

condição a ser construída. A estas variáveis, deve somar-se uma

mudança de atitude que impulsione a pessoa, grupo ou instituição para

a ação prática, metódica e sistemática, no sentido dos objetivos e

metas traçadas, abandonando-se a antiga postura meramente reativa ou

receptiva (p. 54).

Nesse caso, o empoderamento se torna um importante elemento para a

autonomia e indispensável na tomada de decisão sobre o uso dos resultados da

avaliação. Na síntese de Friedmann (1996), o objetivo do empoderamento é

“reequilibrar a estrutura de poder na sociedade, tornando a ação do Estado mais sujeita à

prestação de contas, aumentando os poderes da sociedade civil na gestão dos seus

próprios assuntos e tornando o negócio empresarial socialmente mais responsável” (p.

32-33).

Portanto, a participação crítica e ativa das IES nos processos de avaliação

possibilita fomentar estratégias de transformação social. Esse nível de participação

potencializa as oportunidades de autonomia, inovação, identidade institucional,

superação de limites e obstáculos ao seu desenvolvimento.

Finalmente, os aspectos abordados nesta parte do estudo possibilitaram

conhecer os aspectos legais da avaliação da educação superior e sua referência histórica

para a política do Sinaes. Nessa construção, foram explorados os princípios, as

concepções, os critérios e as regras elaboradas, a fim de possibilitar as condições para

um convívio harmônico entre os envolvidos no processo.

Nesse sentido, o movimento de reforma da educação superior, a posição da

gestão do Estado e das IES baseada na experiência prática da avaliação, bem como as

ações políticas e os programas em desenvolvimento explicitam a urgência de um debate

sobre a articulação das atividades regulatórias e avaliativas.

Sem a reflexão sobre a prática, tais marcos orientadores, legislação e ações,

parecem terem sido concebidos apenas como discurso, com o sentido de articular os

agentes sociais em disputa pela supremacia de um projeto social, em determinado

espaço e tempo sociopolítico. A relação entre as concepções de avaliação, qualidade e

regulação, anunciadas pela coordenação dos cursos de Pedagogia, revelaram conquistas

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que poderiam ter tido impacto positivo na indução da qualidade, mas que em razão da

força regulatória parecem descaracterizar a finalidade da avaliação.

Portanto, a análise dos documentos legais produzidos no país sobre a avaliação

da educação superior e das normas operacionais emanadas da gestão do Estado

possibilita a reflexão para superar os desafios do Sinaes, sem negar a importância da

ação regulatória do Estado.

Depois de terem sido debatidos os aspectos legais referentes, a próxima parte

deste capítulo se propõe a refletir sobre as experiências de avaliação implementadas no

país, a partir do Sinaes. Dialogando sobre o papel do Estado, destaca fatos que podem

ter impactado o desenvolvimento das políticas de educação superior e, na sequencia,

analisa os tipos de regulação e seus efeitos na política de avaliação da educação

superior.

1.4. EXPERIÊNCIAS DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA

As primeiras experiências de avaliação no Brasil foram desenvolvidas em nível

de pós-graduação pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(Capes), com foco na qualidade do ensino nos cursos de mestrado e doutorado. Nessa

ação, destaca-se a elaboração, em 1976, do Plano Nacional de Pós Graduação (PNG),

que possibilitou: i) intensificar as atividades de pesquisa e, em consequência, propiciar o

desenvolvimento científico e tecnológico do país; e ii) capacitar o corpo docente das

universidades.

O sistema de avaliação da pós-graduação, desde então, vem cumprindo papel

de desenvolvimento da pesquisa científica e tecnológica no Brasil, dando cumprimento

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aos seus objetivos.71 Segundo Menezes (2012), a contribuição da avaliação na pós-

graduação é reconhecida indiscutivelmente pelo estabelecimento da pós-graduação. A

exigência da pesquisa promoveu

[...] consistência e produtividade em atividades essenciais à academia,

e isso se deve em muito às exigências estabelecidas essencialmente

pelas avaliações externas, que computam número e qualidade das

publicações decorrentes das pesquisas, número das titulações

produzidas e seu prazo de conclusões nas pós-graduações (p. 263).

Essa visão de sistema de avaliação, ampliada nos anos de 1980 para a

graduação, teve como objetivo orientar para o credenciamento do funcionamento das

IES com caráter genuinamente regulatório e em cenários conflituosos. Decorrente de

um período de greve nas IES públicas e com algumas inquietações sobre a qualidade da

educação superior, realizou-se, nessa época, um grande movimento docente coordenado

pelo Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes).

Desse processo surgiram propostas de educação superior que visavam à melhoria da

política de avaliação existente. Para este estudo, importa saber a função e/ou a

concepção de avaliação ocupada por essas propostas.

A primeira proposta de avaliação da graduação, denominada Programa de

Avaliação da Reforma Universitária (Paru), ocorreu por meio de questionários aplicados

a estudantes, dirigentes e docentes de universidades. O Paru visava à identificação de

subsídios concretos para a formulação de alternativas de melhoria da educação superior.

71 O sistema de avaliação da Capes abrange dois processos conduzidos por comissões de consultores do mais alto

nível, vinculados a instituições das diferentes regiões do país: a Avaliação dos Programas de Pós-graduação e a

Avaliação das Propostas de Cursos Novos de Pós-Graduação, com os seguintes objetivos: i) estabelecer o padrão

de qualidade exigido dos cursos de mestrado e de doutorado e identificar os cursos que atendem a tal padrão; ii)

fundamentar, nos termos da legislação em vigor, os pareceres do CNE sobre autorização, reconhecimento e

renovação de reconhecimento dos cursos de mestrado e doutorado brasileiros – exigência legal para que estes

possam expedir diplomas com validade nacional reconhecida pelo MEC; iii) impulsionar a evolução de todo o

Sistema Nacional de Pós-Graduação (SNPG), e de cada programa em particular, antepondo-lhes metas e desafios

que expressam os avanços da ciência e tecnologia na atualidade e o aumento da competência nacional nesse

campo; iv) contribuir para o aprimoramento de cada programa de pós-graduação, assegurando-lhe o parecer

criterioso de uma comissão de consultores sobre os pontos fracos e fortes de seu projeto e de seu desempenho e

uma referência sobre o estágio de desenvolvimento em que se encontra; v) contribuir para o aumento da

eficiência dos programas no atendimento das necessidades nacionais e regionais de formação de recursos

humanos de alto nível; vi) dotar o país de um banco de dados eficiente sobre a situação e a evolução da pós-

graduação; vii) oferecer subsídios para a definição da política de desenvolvimento da pós-graduação e para a

fundamentação de decisões sobre as ações de fomento dos órgãos governamentais na pesquisa e pós-graduação

(BRASIL, 2013).

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Classificado como uma avaliação formativa, o programa teve início em 1983 e

consolidou-se por iniciativa do extinto Conselho Federal de Educação (CFE).72 Como

anunciado antes, a partir da experiência da Capes na avaliação da pós-graduação, é que

se estabeleceu a adesão voluntária das universidades e a priorização da realização de

processos de autoavaliação (CUNHA, 1997).

O Paru pretendia realizar estudos sobre a realidade tanto da implementação das

propostas da Reforma Universitária de 1968 como das particularidades institucionais e

regionais. Considerava necessário diagnosticar a situação desse momento, de forma a

“avaliar o sistema de educação superior, em seu conjunto, nele incluídas as

universidades e instituições isoladas, públicas e privadas” (p. 84).

Os temas pesquisados nesse programa eram relacionados à gestão, à produção

e à disseminação de conhecimentos, todos lançados por meio de estudos e pesquisas e a

partir da apreciação crítica da realidade da educação superior nacional. A finalidade era

realizar uma avaliação comparativa da educação superior ofertada pelo sistema federal

de ensino.

Embora reconhecido por sua importância na mobilização e na sensibilização

das IES para a avaliação institucional, o Paru foi desativado em 1986 devido à

compreensão de que a avaliação deveria ser um instrumento essencial de controle da

educação superior. Nesse momento, o programa deixava inconclusos os estudos

institucionais iniciados, inclusive com financiamento público, pois diferentes

concepções de educação superior começavam a aparecer (BARREYRO; ROTHEN,

2008). Em 1985, foi criada a Comissão Nacional de Reformulação da Educação

Superior (CNRES), instituída pelo Decreto nº 91.177, de 29 de março.

72 Fato relevante foi a extinção do CFE (instituído pela LDB nº 4.024/61) em 1994. Um ano depois, retorna por

meio da Lei nº 9.131, de 24 de dezembro de 1995, com nova orientação de atuação. Seu funcionamento,

disciplinado por regimento de 20/2/1996, foi superado pelo novo regimento aprovado pelo Parecer CNE/CP n°

84/99 e alterado pelo Parecer CNE/CP n° 99/99, este homologado pela Portaria MEC n° 1.306/99, que o

transformou em CNE (criado por meio de Medida Provisória nº 661, de 18 de junho de 1994). O novo CNE foi

instalado com a intenção de ser um órgão menos credenciador e mais avaliador, menos decisório e mais assessor

e, finalmente, mais representativo do conjunto da sociedade e não apenas das corporações do segmento da

educação. Uma das inovações foi o credenciamento periódico das instituições de educação superior, de acordo

com avaliações de qualidade do ensino – o Provão (MENEZES; SANTOS, 2002).

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A CNRES ficou conhecida como a Comissão de Notáveis, formada por 24

(vinte e quatro) membros, e tinha a finalidade de propor soluções urgentes para os

problemas da educação superior, a partir de consultas à sociedade e, em particular, à

comunidade universitária. Na visão da Comissão, a avaliação da educação superior era

concebida como um contraponto à autonomia, e seus resultados a vinculariam ao

financiamento das IES. Portanto, defendia que, para a superação da crise, dever-se-ia

aumentar significativamente a autonomia universitária, que seria acompanhada por um

processo externo de avaliação baseado na valorização do mérito acadêmico. Para

Barreyro e Rothen (2008), a Comissão Nacional compreendia que a contrapartida da

autonomia universitária seria o desempenho das instituições. “O controle do

desempenho se daria pela avaliação efetivada pelos pares, e, a partir desta, seria criado

um sistema meritrocrático que nortearia o financiamento estatal da educação superior”

(p. 141).

O resultado do trabalho da Comissão materializou-se no relatório intitulado

Uma nova política para a educação superior brasileira,73 que defendia aumentar a

autonomia universitária, acompanhada por um processo externo de avaliação baseado

na valorização de mérito acadêmico. A Comissão apontou no documento sete princípios

norteadores da proposta: i) responsabilidade do poder público; ii) adequação à realidade

do País; iii) diversidade e pluralidade; iv) autonomia e democracia interna; v)

democratização do acesso; vi) valorização do desempenho; e vii) eliminação dos

aspectos corporativos e cartoriais.

Nesse processo, destaca-se que as atividades de avaliação seriam de

responsabilidade do CFE, órgão com voz ativa na política de financiamento público,

que deveria fazer o reconhecimento do status universitário para garantir a autonomia

das IES. A autonomia seria uma concessão da sociedade em troca de altos padrões de

qualidade no desempenho institucional. A sociedade, que financia a educação superior,

teria o direito de exigir a prestação de contas da aplicação dos recursos e do

desenvolvimento do ensino e da pesquisa (BARREYRO; ROTHEN, 2008).

73 O documento foi constituído de: i) princípios norteadores da proposta; ii) ideias gerais de reformulação; iii)

sugestões de ações pontuais para operacionalização das ideias gerais; iv) declaração de voto de alguns membros

da Comissão sobre aspectos pontuais de divergência com o relatório; e v) proposta de algumas ações de

emergência (BARREYRO; ROTHEN, 2008).

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A Comissão apresentava várias críticas à organização proposta para a

avaliação, principalmente a de que a autonomia poderia ser afetada pelo controle social

e que o CFE não teria legitimidade para esse controle. Discutia de quem seria a

responsabilidade pela avaliação: se das IES, por meio da autoavaliação, ou dos órgãos

do governo, por meio da avaliação externa. Chegou a apontar o CFE como “agência de

avaliação” para fins de conduzir o debate sobre a implantação da avaliação.

Depois dessa discussão, a Comissão propôs a criação de um sistema de

acreditação. Nessa proposta, Barreyro e Rothen (2008) visualizaram duas

possibilidades:

a) as faculdades isoladas deveriam passar por um processo de

acreditação pelas Universidades próximas. Assim, as Universidades,

ao supervisionarem o trabalho dessas instituições, teriam a condição

de garantir a qualidade dos diplomas emitidos por elas; b) as

instituições isoladas poderiam formar redes por áreas de conhecimento

com abrangência nacional ou regional e estariam sujeitas à supervisão

e à acreditação por órgãos normativos (p. 141).

Desse ponto de vista, a autonomia seria conferida de acordo com o

desempenho das instituições, a partir de uma avaliação concebida em um sistema

meritocrático que nortearia o financiamento. Finalmente, o relatório propunha que o

status universitário fosse atribuído somente a instituições que demonstrassem

capacidade de autogestão administrativa e que apresentassem a pesquisa de alto nível

como um dos seus traços. Dirigia críticas à ênfase excessiva dada à pesquisa no sistema

de educação superior, que poderiam comprometer as atividades pedagógicas e de

formação profissional. Como uma iniciativa que sinalizava a diversificação do sistema

de educação superior e do fim da exigência de indissociabilidade entre ensino, pesquisa

e extensão nas instituições, a política foi muito criticada.

Com a justificativa de sistematizar as questões suscitadas nos trabalhos da

CNRES, foi criado em 1986 o Grupo Executivo para a Reformulação da Educação

Superior (Geres).74 O objetivo do Geres, formado por cinco pessoas que ocupavam

cargos no MEC, era implementar as mudanças propostas e colaborar no processo de

74 Criado pela Portaria n° 100, de 6 de fevereiro de 1986, e instalado pela Portaria n° 170, de 3 de março de 1986

(BRASIL, 1986).

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avaliação institucional, visando ao estabelecimento de estratégias de controle e

supervisão pelo Estado. Conforme Barreyro e Rothen (2008), o Geres fez ressurgir a

proposta da política. Retomou o fio condutor do documento da Comissão Nacional para

a Reformulação da Educação Superior, Uma nova política para a educação superior

brasileira, discutindo

[...] o aumento da autonomia universitária e a avaliação da

responsabilidade social mediante processos públicos com critérios

estabelecidos pela própria comunidade acadêmica. A ideia do binômio

autonomia/avaliação referendada pela comunidade acadêmica seria

um dos pontos nevrálgicos da argumentação. O controle das

instituições não seria mais burocrático e ritualista e passaria a ser

realizado pelos processos de avaliação institucional, deixando de

verificar o cumprimento da legislação e averiguando o desempenho

institucional (p. 143).

Os principais pontos destacados pelo Geres foram o uso de instrumentos

objetivos, indicadores de eficiência e de produtividade que orientassem a distribuição,

gestão dos recursos, avaliação dos cursos feita por especialistas e novos critérios para o

credenciamento das IES. Tratava-se essencialmente, segundo Tramotim (1998), “de um

anteprojeto de lei que dispunha sobre a sua natureza jurídica, a organização e o

funcionamento das instituições federais de ensino superior” (p. 89). O Grupo sugeria um

processo de avaliação feito sob a responsabilidade do MEC, abrangendo a avaliação do

desempenho institucional e a qualidade dos cursos de cada IES.

Essa proposição assumiu a concepção de avaliação para fins de regulação e

atribuiu ao MEC, por meio da SESu, a competência não só para avaliar o começo do

funcionamento institucional, mas para o acompanhamento da qualidade das IES. Nesse

período, também ocorreu uma propagação de IES, criadas majoritariamente pela via

privada, que confirmou a exigência de maior controle do Estado sobre a qualidade da

oferta.

Entretanto, o Geres compreendia que o sistema deveria ser flexibilizado tanto

nos seus objetivos como na sua estrutura organizacional. A avaliação teria a função

primordial de controlar a qualidade da educação superior, especialmente a pública. No

caso do setor privado, o próprio mercado faria a regulação, pois esse setor depende do

desempenho do seu produto para obter os recursos para a sua manutenção e expansão.

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Nessa lógica, o financiamento da educação superior cumpriria, para o setor público, o

mesmo papel que o mercado em relação ao setor privado (BARREYRO; ROTHEN,

2008).

Como resultado do seu trabalho, o Geres apresentou um projeto de lei para as

universidades federais, que enviado pelo Poder Executivo ao Congresso Nacional,

entrou em pauta em regime de urgência. Entretanto, sua aprovação foi impedida pela

forte resistência que o projeto encontrou em associações sindicais e acadêmicas, as

quais demonstraram força política suficiente para pressionar o governo e torná-lo sem

efeito.

Dessa forma, o Geres, contrariamente à posição da CNRES, defendia que o

CFE não poderia se tornar uma agência de avaliação. Para garantir a unidade do

sistema, a avaliação deveria ser realizada pela SESu, e os resultados das avaliações

subsidiariam a ação normativa do CFE. Surgiram, então, as primeiras iniciativas de

autoavaliação, criando um espaço de comunicação entre o MEC e as instituições

federais, mediadas pela Associação das Instituições Federais do Ensino Superior

(Andifes). Essa etapa foi essencial para estabelecer diretrizes e viabilizar o processo de

avaliação institucional nas universidades brasileiras. Depois de intensos debates, a

Andifes e a Associação Brasileira de Universidades Comunitárias (Abruc), por

iniciativa voluntária, criaram em 1993 um programa de apoio à avaliação do sistema de

educação superior, denominado Programa Nacional de Avaliação Institucional das

Universidades Brasileiras (Paiub).

Tendo como pressuposto da avaliação formativa e emancipatória, o Paiub75

instituiu a autoavaliação da IES como etapa inicial do processo de avaliação, seguida

pela avaliação externa por comissões formadas de especialistas, sob a coordenação da

SESu.

75 Na proposta de atingir o objetivo de promover a permanente melhoria da qualidade da educação superior, o Paiub

era dividido em quatro etapas: 1ª) diagnóstico: construído a partir de dados quantitativos sobre o curso em análise;

2ª) avaliação interna: contemplando a autoavaliação, realizada pela comunidade acadêmica do curso; 3ª) avaliação

externa: realizada pela comunidade acadêmica de várias IES, profissionais de áreas, representantes de entidades

científicas e profissionais e empregadores, entre outros; 4ª) reavaliação interna: feita a partir dos resultados

avaliativos produzidos, propiciando uma análise com a comunidade do curso (POLIDORI; MARINHO-

ARAÚJO; BARREYRO, 2006).

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A proposta central desse programa era a prestação de contas à sociedade, por

meio de instrumentos que pudessem comparar a globalidade, a comparabilidade, o

respeito à identidade institucional, a não premiação ou punição, a adesão voluntária, a

legitimidade e a continuidade do processo de avaliação. Como a adesão era voluntária,

tinha como intenso desafio a legitimidade da avaliação e a continuidade do processo.

O princípio básico do Paiub se encontrava na forma global e sistêmica em que

a IES deveria ser avaliada. Nesse sentido, foi a política que mais se aproximou dos

princípios do Sinaes, por valorizar a avaliação como indutora de qualidade. A esse

respeito, Dias Sobrinho (2001) afirma que

[...] as IES deveriam ser avaliadas, de forma que todos os elementos –

ensino, pesquisa, extensão, qualidade das aulas, laboratórios, titulação

dos docentes, serviços,etc., que compõem a vida universitária,

deveriam fazer parte da avaliação, para que a mesma seja a mais

completa possível (p. 79).

Nessa perspectiva, o Programa manteve a avaliação de credenciamento de

instituição sistematizado em períodos quinquenais e criou a avaliação das Condições de

Oferta do Ensino (ACE) para fins de autorizar, reconhecer e renovar o reconhecimento

de cursos, bem como para o credenciamento e o recredenciamento de instituições. As

avaliações realizadas in loco teriam o propósito de aferir a qualidade em relação a três

dimensões dos cursos: perfil do corpo docente, organização didático-pedagógica e

instalações físicas.

Uma característica que se destaca no Paiub e também no Sinaes se refere ao

uso dos resultados da avaliação, pois estes podem ser de extrema importância para a IES

na revisão do projeto institucional e na promoção de ações internas. Nesse sentido, o

Paiub ganhou credibilidade interna, todavia o Sinaes, pela dependência dos resultados à

regulação, embora não apenas com essa finalidade, tem demonstrado dificuldade em

manter essa compreensão.

No Paiub, a confiança na avaliação advinha do uso dos seus resultados no

projeto da IES, portanto todos os cursos precisariam ser avaliados com vistas à melhoria

da qualidade. Esse fato se modifica no Sinaes a partir de 2008, haja vista a criação dos

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indicadores de qualidade (CPC e IGC)76 e seu uso nos critérios de dispensa de avaliação

in loco, orientados pela política regulatória.

No mesmo período de implementação do Paiub, foi aprovada a Lei nº

9.131/1995, que instituiu o Exame Nacional de Cursos (ENC), denominado de

“Provão”, obrigatório para todos os estudantes do último ano dos cursos de graduação

do país e caracterizado pela aplicação anual. O ENC foi um exame destinado aos

formandos, no período de 1996 a 2003, com o objetivo de avaliar os cursos de

graduação, no que tange aos resultados do processo de ensino-aprendizagem (INEP.

2013).

Por meio do Decreto nº 2.026/1996, houve uma reorganização da avaliação da

educação superior e o financiamento do Paiub foi retirado. Nessa ocasião, outras

estratégias de avaliação da educação superior foram sendo apresentadas, esvaziando o

espaço antes atribuído ao programa. Diante desse cenário, pode-se concluir que o Paiub

não conseguiu cumprir, em sua curta existência, o objetivo de servir como um

instrumento efetivo de medida sobre a produtividade do sistema de educação superior.

Como política de avaliação que antecedeu o Sinaes, por meio do Decreto n.º

3.860/2001, o Paiub passou a ser desconsiderado pelo MEC como programa de

avaliação institucional, sendo substituído principalmente pelo ENC e pela ACE, ambos

em vigor desde o ano de 1996 (BERTOLIN, 2004).

O objetivo do ENC era medir as aprendizagens dos estudantes do último ano

dos cursos de graduação, com base nos conteúdos mínimos de cada curso, divulgando

seus resultados para fins de comparar os cursos de graduação em âmbito local, regional

e nacional, além de apresentar medidas de melhorias àqueles cursos considerados com

baixo aproveitamento. Nesse caso, contraditoriamente à alusão dos resultados da

avaliação para orientar melhorias no curso, já naquele período, o não atendimento às

orientações do MEC poderia ser motivo de encerramento da oferta dos cursos.

Corroborando esse pensamento, Cunha (2003) assinala que a principal oposição ao

Provão veio do setor privado, que preferiu não expor o baixo desempenho dos seus

estudantes, comparativamente aos do setor público.

76 A partir de 2008, os cursos com CPC satisfatório passaram a ser dispensados da visita por decisão da regulação,

permanecendo a avaliação in loco com caráter obrigatório para os que obtivessem conceitos inferiores a 3.

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Por distintas razões, os estudantes das instituições públicas de ensino

superior igualmente a rejeitam. Para eles, a avaliação individual tem

sido considerada um procedimento intrinsecamente condenável. Os

empresários do ensino têm sido vitoriosos, pois conseguiram que os

resultados de cada instituição não fossem divulgados (p. 52).

Essas posições contrárias das IES sobre a exposição da imagem institucional na

divulgação dos resultados da avaliação devem ter contribuído para a negação da

avaliação como um processo de orientação da qualidade acadêmica. Essa visão do

processo avaliativo se aproxima da compreensão da educação superior como

mercadoria, o estudante como produto de um serviço educacional e pressupõe

influências competitivas na construção da sociedade, sem o devido acompanhamento da

qualidade pelo Estado.

Com o passar do tempo, aumentaram as críticas sobre o ENC, já que se

constituía um exame de caráter obrigatório. Diante de tantas negações dessa avaliação,

ainda que não tivesse a função formativa, o ENC constituía um instrumento de pressão

da cultura acadêmica, que, por meio da opinião pública, acabava por interferir nas

atividades das IES e do próprio Estado.

O ENC foi, então, considerado por Belloni (1996) uma ação antipedagógica

que não correspondia ao objetivo fundamental da avaliação, qual seja o de melhoria e

aperfeiçoamento das instituições ou do sistema.

Trata-se de uma simples medição de resultado final, um procedimento

tradicional e insuficiente de avaliação, pois não considera fatores do

processo de aprendizagem e das condições institucionais. Não oferece

elementos para a melhoria da instituição e do sistema, pois não

identifica as causas das dificuldades; não beneficia o estudante, pois

nada poderá ser feito retroativamente (p. 9).

Esse discurso parece que enfraqueceu o entendimento da avaliação como

política pública e a vinculou aos princípios de controle, simples comparação, rankings e

perspectivas mercadológicas isoladas, contrárias aos princípios da autonomia. Pode-se

dizer, então, que à exceção do Paiub e da CNRES, os demais grupos formados para

alavancar a discussão sobre um processo de avaliação ficaram distantes do

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entendimento desta como política pública e, mais ainda, da sua ação indutora de

qualidade.

Um dos confrontos desses modelos de avaliação tem origem na experiência

histórica e afirmativa da avaliação da pós-graduação da Capes em relação à avaliação da

graduação, em especial por meio do ENC, tão questionado e criticado pela comunidade

acadêmica. Nas propostas de avaliação até aqui descritas (Paru, Geres, Paiub e o ENC),

há um consenso de que a avaliação da pós-graduação brasileira realizada pela Capes

seria determinante para a qualidade da educação superior (POLIDORI; MARINHO-

ARAÚJO; BARREYRO, 2006).

Em razão dessas críticas, principalmente da comunidade acadêmica, o governo

propôs a substituição do “Provão” e da ACE por um novo modelo de avaliação.

Foi sugerido pelo MEC a formação da Comissão Especial da Avaliação

(CEA),77 com o objetivo discutir o processo de avaliação da educação superior com a

sociedade. A Portaria MEC/SESu nº 11, de 28 de abril de 2003, expressa no Art. 1º suas

atribuições:

[...] analisar, oferecer subsídios, fazer recomendações, propor critérios

e estratégias para a reformulação dos processos e políticas de

avaliação do ensino superior e elaborar a revisão crítica dos seus

instrumentos, metodologias e critérios utilizados (BRASIL, 2003).

Do resultado dos trabalhos dessa Comissão, foi instituído o Sinaes pela Lei nº

10.861 de 2004 e, no mesmo ano, publicada a Portaria Ministerial nº 2.051, de 9 de julho

77 A CEA foi composta por acadêmicos e membros do MEC. Coordenada pelo Secretário de Educação Superior,

Carlos Roberto Antunes, teve como objetivo elaborar um diagnóstico e uma proposta de avaliação da educação

superior brasileira, que posteriormente veio a ser denominada Sinaes. Os membros da CEA foram convocados

nas Portarias MEC/SESu nº 11/2003 e nº 19/2003. A Comissão foi composta por José Dias Sobrinho, da

Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) (presidente); Dilvo Ristoff, da Universidade Federal de Santa

Catarina (UFSC); Edson Nunes, da Universidade Cândido Mendes (Ucam); Hélgio Trindade e Maria Beatriz

Moreira Luce, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Isaac Roitman (Capes), Isaura Belloni e

Ricardo Martins, da Universidade de Brasília (UnB); José Ederaldo Queiroz Telles e Maria Amélia Sabbag

Zainko, da Universidade Federal do Paraná (UFPR); José Geraldo de Sousa Junior (SESu); José Marcelino de

Rezende Pinto e Raimundo Luiz Silva Araújo (Inep); Júlio César Godoy Bertolin, da Universidade de Passo

Fundo (UPF); Maria Isabel da Cunha, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos); Maria José Jackson

Costa, da Universidade Federal do Pará (UFPA); Mario Portugal Pederneiras (SESu); Nelson Cardoso Amaral, da

Universidade de Goiás (UFG); Silke Weber, da Universidade de Pernambuco (UFPE); Stela Maria Meneghel, da

Fundação Universidade Regional de Blumenau (Furb); e pelos estudantes Giliate Coelho Neto, Fabiana de Souza

Costa e Rodrigo da Silva Pereira, representando a (UNE).

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de 2004,78 com o objetivo de regulamentar os procedimentos de avaliação propostos por

essa política de Estado. O Sinaes foi estruturado com três componentes: a avaliação das

instituições (autoavaliação, avaliação externa), a avaliação in loco dos cursos e o

desempenho dos estudantes, além de sinalizar o uso dos instrumentos de informação

(Censo da Educação Superior e cadastro) como indicadores de qualidade.

A coleta de informações estatísticas, por meio do Censo da Educação

Superior,79 já ocorria desde 1996. Ao agregar os dados do Censo da Educação Superior

como parte do sistema de avaliação, foi possível aumentar consideravelmente a

capacidade avaliativa do Sinaes e garantir maior fidedignidade ao levantamento de

dados. O levantamento estatístico periódico causou um reordenamento do modelo de

avaliação no Brasil, e suas informações técnicas (quantitativas e qualitativas) passaram

a subsidiar a avaliação externa das IES, além de dar maior organicidade às políticas

educacionais.

Essas informações foram consideradas no relatório conclusivo da CEA,

denominado Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes): bases para

uma proposta da educação superior(BRASIL, 2003c). O documento discute uma visão

mais abrangente do papel dos processos avaliativos, sem dissociá-los da necessária

regulação do Estado para fomentar e supervisionar o sistema em seu conjunto.

Para aprofundar a relação entres os conceitos “regulação e controle”, o

relatório da CEA descreve, em capítulo próprio, que para superar a concepção e a

prática da regulação como mera função burocrática e legalista, é necessário que a

regulação não se esgote em si mesma e, principalmente articulada à avaliação educativa,

que seja também uma prática formativa e construtiva. O Relatório dispõe que o Estado e

a comunidade educativa cada qual com suas especificidades, têm responsabilidades

quanto à regulação e à avaliação propriamente dita.

78 A Portaria Ministerial nº 2.051, de 9 de julho de 2004, ressalvados os efeitos jurídicos já produzidos, foi revogada

pelo Art. 70 da Portaria Normativa nº 40/2007, republicada em 29 de dezembro de 2010. 79 Desde 1996, o Inep realiza a coleta de dados sobre a educação superior, com o objetivo de oferecer informações

detalhadas sobre a situação atual e as grandes tendências do setor, tanto à comunidade acadêmica quanto à

sociedade em geral. O Censo reúne informações sobre as IES, seus cursos de graduação, presencial ou a

distância, vagas oferecidas, inscrições, matrículas, ingressantes e concluintes, além de informações sobre

docentes, nas diferentes formas de organização acadêmica e categoria administrativa (BRASIL, 2013).

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O Estado supervisiona e regula a educação superior para efeitos de

planejamento e garantia de qualidade do sistema.Para isso, precisa

estabelecer clara e democraticamente a sua política e, para viabilizá-la,

os seus aparatos normativos de controle, fiscalização, supervisão, bem

como os meios para implementá-los. Seu papel não se limita à

regulação no sentido do controle burocrático e ordenamento;

compete-lhe também avaliar a educação superior de modo a fornecer

elementos para a reflexão e propiciar melhores condições de

desenvolvimento(p. 85, grifos nossos).

Em decorrência dos limites e possibilidades da relação entre regulação e

controle, o relatório da CEA recomendou que a avaliação se diferenciasse do mero

controle. Caberia aos organismos de governo e às IES elaborar diagnósticos gerais sobre

a qualidade, a relevância social e científica, a equidade, a democratização do acesso, o

desenvolvimento da produção científica, artística e tecnológica, a formação segundo os

critérios do trabalho e da cidadania etc., no âmbito da educação superior (BRASIL,

2003c). Com essa compreensão, os processos de questionamento, conhecimento e

julgamento sobre os resultados da avaliação se propuseram a melhorar o cumprimento

dos compromissos institucionais. Dessa forma, a avaliação poderia subsidiar a produção

de conhecimentos e a análise crítica das dinâmicas institucionais, por meio da elevação

da consciência pedagógica e da ampliação da capacidade profissional dos docentes.

Entretanto, o relatório observou que a avaliação também deveria se pautar em

critérios quantitativos e remeteu à questão de as IES se adaptarem às exigências sociais.

Essa perspectiva concedeu à avaliação um caráter predominantemente técnico, que

busca medir os resultados produzidos pelo ensino, pesquisa e prestação de serviços à

comunidade. Em função dessa concepção, a avaliação pode ser denominada regulatória:

avaliação de regulação, ou com vistas à regulação.

Por outro lado, a Comissão ressaltou a tendência da avaliação que pretendia ir

além da medição propondo a discussão do sentido ou da existência das IES na

sociedade. Defendeu que o conhecimento elaborado nas IES, além da força produtiva,

também poderia ser um instrumento de cidadania em sua pluralidade e na diversidade.

Nessa concepção, a avaliação foi denominada emancipatória: avaliação para a

qualidade, ou com vistas à promoção de reflexão sobre a prática, o objeto e os efeitos da

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avaliação, por meio de juízo de valor. Alguns registros feitos pela CEA destacam que o

ENC,80 diferentemente do Enade, estava a serviço da regulação e do controle.

Assim, analisadas as legislações, metodologias, relatórios e exames (ENC e

Enade), é possível estabelecer pontos convergentes e divergentes entre os modelos

avaliativos existentes antes e a partir do Sinaes. Entretanto, não é possível afirmar que

um ou outro esteja destituído das noções de controle. Infere-se apenas que o Paiub,

assim como Sinaes, indica maior ênfase na qualidade.

Na transição do ENC para o Sinaes, foi proposto o Processo de Avaliação

Integrada do Desenvolvimento Educacional e da Inovação de Área (Paideia), conhecido

como um critério do novo sistema de avaliação. Uma das oposições do Paideia ao ENC

como modelo de avaliação era a aplicação única deste, ao final do curso, o que não

permitia correção e superação das dificuldades do estudante avaliado, tampouco induzia

qualidade ao curso. Dessa forma, ao contrário do ENC, que avaliava cursos, o Paideia

seria realizado por áreas: ciências humanas, sociais, letras e artes; exatas; tecnológicas;

e biológicas e de saúde. Cada área seria avaliada de dois em dois anos.

A proposta previa que seriam avaliados apenas os aspectos formativos, dado

que ele se destinava a avaliar uma área do conhecimento e não o curso.

O fato de a aplicação ser por área e não por curso gerou preocupação, pois essa

abordagem dificultaria a identificação e a localização de problemas nas IES, que se

organizam por curso. O teste incluiria também a opinião do aluno sobre a instituição em

que estuda. O texto chegou a passar por consultas públicas e teve a aprovação da União

Nacional dos Estudantes (UNE), que considerou a proposta melhor do que o “Provão”,

porém a proposta para o MEC, à época, significava o fim do sistema de avaliação.

Com diferenças no modelo de avaliação proposto pelo ENC, surge o Enade

como um instrumento de avaliação que agrega resultados de desempenho de

ingressantes e concluintes, questionários dos alunos e dos coordenadores, e que

possibilita fazer a correção e a superação das dificuldades particulares do aluno e do

curso (LIMANA; BRITO, 2005). Portanto, no conjunto da proposta do Sinaes, o Enade

80 O ENC tem como foco o curso, em sua dimensão de ensino, e tem função classificatória, com vistas a construir

bases para uma possível fiscalização, regulação e controle, por parte do Estado, baseada na lógica de que a

qualidade de um curso é igual à qualidade de seus alunos (BRASIL, 2003, p. 18).

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trouxe uma nova metodologia de avaliação, com um olhar dinâmico do processo

avaliativo.

Nessa perspectiva, a passagem do ENC para o Enade, com o objetivo de medir

a trajetória de aprendizagem dos estudantes e não mais para conferir o desempenho

individual, deu visibilidade a um processo avaliação para a melhoria da qualidade.

Verhine, Dantas e Soares (2006) destacam essa diferença e afirmam que “em contraste

com o sistema anterior de avaliação, a abordagem do Sinaes foi pensada como

verdadeiramente sistêmica e com foco na instituição” (p. 295). E complementam que

[...] enquanto o Provão se prestava a ser um mecanismo de regulação,

o ENADE [sic] passaria a fornecer não só um indicador com esse fim,

mas principalmente seria uma ferramenta de avaliação, através do

diagnóstico de competências e habilidades adquiridas ao longo de um

ciclo de 3 anos de escolarização superior, cruzado com a visão do

aluno sobre sua instituição e com seu conhecimento sobre aspectos

mais gerais, não relacionados a conteúdos específicos (p. 296).

Todavia, mesmo com a clareza de uma mudança de concepção da avaliação do

ENC para o Enade, o uso dos resultados da avaliação pelo Estado parece não ter se

transformado. Mesmo com objetivos distintos, esses exames apresentam similaridades

quanto à utilização dos resultados da avaliação sob a vertente regulatória.

Conforme a lei do Sinaes, os resultados da avaliação constituem referencial

básico dos processos de regulação e supervisão da educação superior, contextualizados

a partir da obtenção do conceito de curso (CC) ou do conceito institucional (CI) oriundo

das avaliações in loco. Os conceitos 1 e 2, considerados insatisfatórios podem ensejar a

celebração de Protocolo de Compromisso (PC), a ser firmado entre a IES e o MEC. O

cumprimento do PC, depois de uma reavaliação com conceito satisfatório, demonstra

um perfil aceitável de qualidade do curso. Entretanto, seu descumprimento, constatado

depois da avaliação com conceito insatisfatório de qualidade, pode ensejar penalidades,

tais como: suspensão temporária da abertura de processo seletivo de cursos de

graduação; cassação da autorização de funcionamento da IES ou do reconhecimento de

cursos; advertência, suspensão ou perda de mandato do dirigente responsável.

A leitura de tais disposições devem observar o artigo 46 da LDBEN, que

determina que as penalidades somente podem ser aplicadas “após um prazo para

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saneamento de deficiências eventualmente identificadas pela avaliação” (BRASIL,

1996). Nesse sentido, os conceitos do Sinaes refletem um diagnóstico do aprendizado

dos estudantes para orientar readequações curriculares e de infraestrutura e organização

didático-pedagógica para ações de melhoria no âmbito da própria IES.

Contudo, a criação do CPC e do IGC em 2008, ambos indicadores de qualidade

constituídos, em grande parte, por insumos extraídos do Enade, tem colocado os

resultados da avaliação in loco de cursos (CC) e de instituições (CI) em situação de

descaso pela regulação. O uso da avaliação como resultado que serve à punição,

sustentada na aplicação de medidas regulatórias, acaba por enfraquecer o processo de

avaliação como preditor da qualidade.

Essa situação poderá destituir o tripé que orienta a constituição do Sinaes:

avaliação de desempenho dos estudantes, de cursos e de IES, ficando esse processo

subjugado a resultados de indicadores quantitativos. Por sua vez, cursos com resultados

satisfatórios no Enade podem não ser mais avaliados por comissões externas, reduzindo

o potencial indutor de qualidade da avaliação in loco e desconsiderando o processo

como um elemento que integra o conjunto de instrumentos de avaliação do Sinaes.

A atividade regulatória a partir dos indicadores de qualidade, sem que se possa

investir em um plano de melhorias, pactuado entre as IES e o Estado, cria uma

vinculação da avaliação com diferentes formas de punição. Nesse caso, desconsidera-se

a avaliação como um processo de construção de possibilidades de melhoria da qualidade

e de verificação das propostas implementadas.81

Exemplifica-se tal situação a partir da aplicação, em 2008, de medidas de

regulação sobre os cursos de Pedagogia que alcançaram resultados insatisfatórios na

avaliação.82 Analisando a base empírica da pesquisa, verifica-se que os resultados dos

ciclos avaliativos do Sinaes foi motivo de aplicação de medidas cautelares (redução de

vagas, suspensão de ingresso e até mesmo encerramento da oferta). No mesmo sentido,

81 Tomam-se por base os atos de supervisão do Estado, publicados no Diário Oficialda União. O Despacho do

secretário da Seres/MEC nº 234, de 17 de novembro de 2011, suspendeu 514 vagas oferecidas em 16 cursos de

bacharelado em medicina que tiveram resultados insuficientes no Enade (BRASIL, 2011). 82 Do total de 60 cursos de pedagogia e normal superior que foram submetidos ao processo de supervisão do MEC,

17 estavam em fase de extinção de oferta. Os 49 cursos de pedagogia e 11 cursos de normal superior sob

supervisão apresentaram conceitos insatisfatórios no Enade 2005. Para a verificação das condições de oferta,

foram examinados, pela Comissão de Supervisão, aspectos como o projeto pedagógico do curso, a infraestrutura

da instituição e a composição do corpo docente.

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verificou-se a automaticidade da relação entre as avaliações do Sinaes e a função de

supervisão do MEC, sem qualquer perspectiva de análise da evolução histórica.

Nesse cenário de aplicação de medidas regulatórias com base nos resultados no

Enade, conclui-se que pouco ou nada mudou com a implementação do Sinaes em 2004,

já que o exame de desempenho de estudantes continua sendo visto de forma isolada,

como instrumento de avaliação que serve para regular a educação superior. Se o Enade

pode orientar atitudes punitivas sem que se analise o conjunto dos instrumentos

avaliativos que integram o Sinaes (autoavaliação, avaliação in loco), o potencial

formativo e indutor de qualidade da avaliação acaba sendo reduzido. Considerando os

princípios constitutivos do Sinaes, a orientação indutora de qualidade deveria ser sua

principal característica; entretanto, parece que ainda causa estranheza à comunidade

acadêmica.

Analisada a realidade dos cursos de Pedagogia, confirma-se a tese deste estudo,

de que a avaliação, tal como vem sendo utilizada pelo Estado, tem reforçado a sua

função precípua de regular a educação superior. Questiona-se, portanto, se há

possibilidade de a avaliação ocorrer destituída da força regulatória do Estado.

Contudo, não foi possível perceber relação significativa entre a forma de uso

da avaliação para fins de controle e punição e as contribuições para a melhoria da

qualidade, sobretudo, pelo uso pontual dos resultados destituídos de uma análise sobre a

evolução histórica da participação nos ciclos avaliativos do Sinaes.

A visão sistêmica da avaliação de cursos e de IES que se estabeleceu a partir

do Sinaes e seu arcabouço legal deveria ter fortalecido o processo de avaliação e

possibilitado o acompanhamento da evolução da qualidade em cada ciclo avaliativo.

Entretanto, a prática de cunho regulatório, que sustenta a necessidade de utilizar parte

dos elementos constitutivos do Sinaes, desconsidera o processo sistêmico que envolve o

processo de avaliação e o justifica pelo princípio da racionalidade.

Sobre as consequências da avaliação, tomadas pelo órgão regulador, Afonso

(2013) destaca que nem sempre foi assim. Tem-se um período de ausência da avaliação

nas agendas das políticas

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[...] até a fase atual em que a sua presença é muitas vezes obsessiva e

indutora de mudanças, com conseqüências, por vezes bastante

questionáveis, podemos identificar conjunturas e momentos diversos.

Em alguns deles se ensaiaram processos avaliativos (sem

consequências ou com consequências meramente simbólicas), tendo a

sua génese na iniciativa autónoma das próprias instituições de ensino

superior (p. 49).

É com essa perspectiva que a política de avaliação da educação superior foi

analisada na presente tese, para além da superação de falsas dicotomias presentes no

sistema educacional brasileiro: de um lado, a concepção de avaliação diagnóstica e

formativa e de outro, a concepção de regulação, autoritária e punitiva ou, ainda, a

oposição entre avaliação qualitativa e quantitativa.

Com toda a complexidade e abrangência de um sistema nacional, o Sinaes

precisa ser conhecido em todas as suas dimensões (organização pedagógica,

infraestrutura e corpo docente e administrativo) e atores envolvidos (estudantes,

docentes, gestores, técnicos e pais). Qualquer construção do conhecimento que se paute

por uma análise crítica e dialética, seja sobre os indivíduos ou sobre a sociedade, tem de

ser realizada a partir da totalidade, mesmo que se analisem as partes separadamente.

Portanto, embora o Enade traga resultados significativos do desempenho dos estudantes

para demonstrar a qualidade do curso, é uma parte do processo de avaliação. E somente

com uma análise global e sistêmica da avaliação e de sua implementação será possível

reconhecer se a finalidade é regular a e/ou induzir à qualidade, discussão feita na

realização da pesquisa ora relatada.

A análise dos ciclos avaliativos do Sinaes nos cursos de Pedagogia, quando

considera os resultados de forma esparsa e em tempos distintos, evidencia na sua

maioria apenas a finalidade regulatória. Nessa perspectiva, as políticas de avaliação

podem ter ficado restritas ao ato de avaliar, concebido como monitoramento e

verificação, uma vez que desagregou o diagnóstico produzido pela avaliação in loco e

os resultados obtidos pelo ENC, do planejamento de propostas de melhoria, deixando às

instituições a tarefa de saneamento dos problemas detectados.

Utilizando a nota dos estudantes concluintes para avaliar o curso, o exame

poderá ter tido muito mais ênfase nas bases competitivas na educação superior do que

na indução do aspecto formativo da avaliação. De modo crítico, essa situação representa

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um alerta para o Sinaes, pois a meta-avaliação desse sistema deverá oportunizar uma

reflexão quanto às diferenças que podem ter sido produzidas no contexto da avaliação

depois da sua implementação em 2004. Essa discussão recai sobre as relações

produzidas entre avaliação em regulação, porque enquanto concepção de avaliação pode

ficar clara a visão diagnóstica, formativa e emancipatória. Entretanto, na forma de uso

dos resultados do Sinaes pela regulação, pode estar sendo revelado o contrário.

O relatório da CEA, no item 5, denominado: “O Sinaes e as funções

regulatórias do Poder Público”, chama a atenção para o seguinte limite da proposição da

avaliação:

No entendimento desta Comissão, separam-se claramente as funções

de avaliação e de regulação da Educação Superior. A avaliação, foco

central da proposta ora apresentada, orienta-se para a missão

institucional da educação superior. Sendo a missão das instituições de

educação superior matéria de Estado – e não de governo, concebe-se a

avaliação como um processo que procede sem desdobramentos de

natureza controladora ou de fiscalização (p. 123, grifos nossos).

A partir da compreensão do documento, infere-se que pode haver distinção

entre a regulação e avaliação, a primeira como uma política de governo e a segunda

como uma política de Estado. Assim, toda vez que a avaliação se submeter a uma

política de governo que desconsidera o seu potencial formativo e indutor de qualidade,

pode se desconstituir enquanto política pública de Estado.

Com a reflexão sobre o papel do Estado na gestão da educação superior,

realizada neste capítulo, entende-se que o desenvolvimento desta pesquisa, à luz dos

princípios e diretrizes do Sinaes, deveria sinalizar para o reconhecimento da avaliação

como política pública com a finalidade de induzir qualidade à educação superior. Ao

que parece, uma tarefa complexa pela proximidade das formas de controle imputadas ao

Estado, seja por orientações dos organismos internacionais, seja pelo mercado ou até

mesmo advindas de concepções éticas e políticas individuais daqueles que participam

dos processos de avaliação.

É preciso, portanto, reconhecer as origens do processo de avaliação e voltar aos

seus princípios e diretrizes, refletindo sobre cada um dos seus processos de modo

pormenorizado, sob a pena de o Sinaes se consolidar pelo uso na forma de controle do

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Estado. Nesse sentido, inverter a lógica do uso dos resultados da avaliação na forma

emancipatória requer investir nos elementos qualitativos e indutores de qualidade,

ampliando a compreensão sobre a política de avaliação e o que esta representa para a

IES, para os estudantes, para as famílias e para o Estado.

Esse movimento de análise segue o curso do pensamento abstrato, que se eleva

do mais simples ao mais complexo e que corresponde ao processo histórico efetivo.

Dessa forma, o conhecimento não é um ato, mas um processo que resulta de um

trabalho de análise e síntese (MARX, 1978).

Articulado ao campo empírico, possibilita avançar na análise dos princípios

formativos e do olhar indutor de qualidade do Sinaes, levando-se em conta os ciclos

avaliativos do Sinaes (2005, 2008 e 2011) nos cursos de Pedagogia. Essa interpretação

se apoia, em parte, nos achados da pesquisa. Os coordenadores de curso, quando

solicitados a se manifestarem sobre a avaliação do Sinaes,83 responderam que a

avaliação do Sinaes está: i) centrada na visão de controle do Estado (87%); ii) subsidia

exclusivamente a política de regulação da educação superior (62%); iii) subsidia a

política de regulação, ao mesmo tempo que induz à qualidade (37%); iv) contribui para

a melhoria da qualidade dos cursos (37%); v) orienta a expansão da oferta (37%); vi)

está fundamentada na concepção diagnóstica, formativa e emancipatória (25%). Nesse

entendimento surgiram outros apontamentos pelos coordenadores: um deles afirmou

que a avaliação do Sinaes “subsidia a qualidade, em termos” e outro disse que “não

considera os perfis dos estudantes”.

Ressalta-se que a informação sobre a inexistência de relação entre a avaliação e

os perfis dos estudantes revela o desconhecimento do coordenador sobre a construção

das matrizes das provas do Enade. As matrizes são construídas à luz das DCN para

avaliar as habilidades, os conhecimentos e os saberes fundamentais que compõem o

perfil profissional. Desse modo, segundo Rabelo (2013), considera-se que o foco do

Enade é

83 A questão a ser respondida pelos coordenadores de curso era a seguinte: Na sua percepção, a avaliação do Sinaes

(marcar todas as opções que considerar verdadeiras): (a) subsidia exclusivamente a política de regulação da

educação superior; (b) está centrada na visão de controle do Estado; (c) está fundamentada na concepção

diagnóstica, formativa e emancipatória; (d) contribui para a melhoria da qualidade dos cursos; (e) subsidia a

política de regulação, ao mesmo tempo, que induz a qualidade; (e) orienta a expansão da oferta; e (f) outros;

Quais?

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[...] o perfil profissional que se deseja formar e a trajetória acadêmica

da formação da formação dos estudantes. A ênfase da avaliação inclui

o desenvolvimento de competências necessárias ao aprofundamento

da formação profissional e à compreensão, integrada, critica e

contextualizada, de temas diversos àqueles específicos da formação

(p. 86).

Portanto, as matrizes contemplam os perfis profissionais esperados, com a

intenção de deslocar o foco da avaliação do domínio dos conhecimentos técnicos para o

desenvolvimento de perfis adequados às demandas de formação.

Todavia, é majoritária a compreensão de que a avaliação do Sinaes subsidia

exclusivamente a política de regulação da educação superior e que está centrada na

visão de controle do Estado, o que confirma a tese de que a avaliação tem servido para

regular e que não é significativa, na visão dos coordenadores de curso, para induzir à

qualidade. Essa resposta pode ter associação com o desempenho dos cursos de

Pedagogia nos ciclos avaliativos, que serão detalhado nos Capítulos 4 e 5, voltados para

a análise dos resultados do Sinaes e das impressões dos coordenadores e estudantes.

A reflexão sobre a concepção de avaliação nos cursos pesquisados se deve

também à análise do uso da avaliação como orientadora da expansão da educação

superior. Nessa perspectiva, constata-se que a qualidade tem sido pouco considerada

para a decisão da expansão dos cursos de Pedagogia, pois essa deliberação tem se

constituído a partir de uma prerrogativa da IES orientada, muitas vezes, por uma

determinação do mercado. Do contrário, se houvesse uma concepção diagnóstica,

formativa e emancipatória à luz dos princípios do Sinaes, seus resultados seriam

considerados na tomada de decisão regulatória sobre a expansão de novos cursos e IES.

As respostas dos coordenadores de curso sobre a relação da avaliação com a

expansão84 revelaram uma aproximação com a expectativa da demanda, mas não com a

avaliação. Um dos coordenadores expressou conclusivamente que entre a expansão e a

avaliação “não há relação. A oferta de vagas do curso foi discutida em colegiado interno

e no colegiado da instituição e se mantêm estável” (COORDENADOR 8, informação

textual, 2013). Sobre o mesmo tema, outro coordenador manifestou que “o curso teve

84 A questão a ser respondida pelos coordenadores de curso era a seguinte: Como você concebe a relação entre a

avaliação do curso e a criação de novas vagas? O curso teve ampliação de vagas? Se positivo, como foi o

planejamento? Se negativo, o que seria necessário para projetar a ampliação da oferta?

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ampliação de vagas. [...] há acompanhamento da demanda nos processos seletivos

semestralmente e projeções para investimentos pedagógicos e em infraestrutura”

(COORDENADOR 2, informação textual, 2013).

A relação com a expansão é analisada por esses coordenadores sob o ponto de

vista interno da IES, priorizando o acompanhamento das ações pedagógicas e a

organização da infraestrutura para a oferta dos cursos. Entretanto, houve coordenadores

de curso que analisaram a relação da expansão com a avaliação no seu aspecto mais

amplo, em âmbito externo às IES. Um deles afirmou que em sua IES

[...] não houve ampliação de vagas, porque há muita competitividade e

cada IES tenta encontrar uma forma de buscar o aluno. Algumas

conseguem mantê-los até o final, outras não. Mas com as vagas

autorizadas, tem sido essencial para a quantidade de alunos que são

aprovados no vestibular. Ampliar o número de vagas demanda mais

professores qualificados e não existe por parte do governo nenhum

incentivo para os títulos de doutores e mestres. Apenas são

valorizados quando vão receber comissão do MEC, no sentido de

garantir o emprego, mas não para continuarem seus estudos. Pois

precisam trabalhar e os cursos têm um custo muito alto

(COORDENADOR 7, informação textual, 2013).

Esse entendimento revela a relação da expansão com a força do mercado.

Nesse caso, a expansão parece estar relacionada à relação de competitividade existente

entre as IES. O valor da mensalidade e a possibilidade de continuidade dos estudos

pelos estudantes parece sobreposto a qualquer fator relacionado à qualidade.

A titulação docente, indicador de qualidade nos instrumentos de avaliação do

Sinaes e no CPC, é vista pelo coordenador como um fator de difícil atendimento,

valorizando-se os aspectos relacionados à gestão financeira da IES e o esforço pessoal

para obter a titulação, desconsiderando a importância dessa formação para a valorização

profissional e o desenvolvimento do perfil docente.

Com o mesmo entendimento, outro coordenador informa que

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[...] em virtude da grande oferta de vagas do curso de Pedagogia na

cidade, foi necessário diminuir o número das vagas em nossa IES.

Neste momento criamos um programa integrado de licenciaturas, num

preço menor, mediante a diminuição de custos, numa tentativa de

incrementar a demanda, considerando nossa credibilidade junto à

sociedade (COORDENADOR 15, informação textual, 2013).

A fala desse coordenador representa a intenção de relacionar a expansão à

competitividade, sem qualquer referencia à avaliação ou à dimensão que essa atitude

pode assumir em relação à qualidade do curso. O fator de mercado parece ganhar mais

visibilidade do que o contexto da formação e não indica reflexão sobre os resultados da

avaliação e com reduzido o impacto da qualidade na demanda de estudantes.

Ressalta-se nesse entendimento a necessidade de conexão e mediação entre a

parte e o todo. Para Kosik (2002), “o real é entendido e representado como um todo que

não é apenas um conjunto de relações, fatos e processos, mas também a sua criação,

estrutura e gênese” (p. 51). Para o autor, o conhecimento dialético da realidade não é

uma sistematização dos conceitos que procede por soma fundada em uma base imutável

e encontrada algumas vezes; é um processo

[...] de mútua compenetração e elucidação dos conceitos, no qual a

abstratividade (unilateralidade e isolamento) dos aspectos é superada

em uma correlação dialética, quantitativo-qualitativa, regressivo-

progressiva. A compreensão dialética da totalidade significa não só

que as partes se encontram em relação de interna interação e conexão

entre si e com o todo, mas também que o todo não pode ser petrificado

na abstração situada por cima das partes, visto que o todo se cria a si

mesmo na interação das partes (p. 50).

Nessa compreensão, o conhecimento dialético da realidade se materializa na

análise da evolução das políticas de avaliação e de regulação da educação superior dos

cursos de Pedagogia nos ciclos avaliativos do Sinaes. Assim, buscou-se captar nesta

pesquisa a totalidade da base empírica em suas diversas formas de desenvolvimento. A

descoberta da relação interna e externa entre os processos de avaliação e regulação dos

cursos pode expor o movimento geral da política de avaliação e revelar casos bem-

sucedidos de uso dos resultados dela. Porventura, pode expor também o não uso dos

resultados da avaliação na implantação das ações, por decisão da gestão que opta por

tomar uma decisão ou outra, a depender dos interesses públicos e privados.

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A pesquisa com os coordenadores dos cursos de Pedagogia sobre a relação da

avaliação com a indução de qualidade e/ou com a prática de regulação, aliada à análise

de relatórios e resultados do ciclo avaliativo no período pós-Sinaes, possibilita ampliar o

olhar sobre o objeto, que para o marxismo é o concreto.

Dessa forma, visando dar continuidade à análise sistêmica e global do sistema

de avaliação da educação superior e depois de terem sido discutidas as experiências

promovidas antes e depois do Sinaes, aprofunda-se na próxima parte deste capítulo a

relação entre avaliação e regulação da educação superior. Nesse cenário, torna-se

imprescindível ampliar o conhecimento sobre a dinâmica das relações produzidas no

âmbito da macro e da microrregulação, para garantir a efetividade dos princípios e

diretrizes da avaliação do Sinaes e a compreensão da política que orienta as ações da

gestão das IES e do Estado.

1.5. A REGULAÇÃO: CONCEITOS E PRÁTICAS

Depois de ter situado a avaliação como política de Estado, refletido sobre os

aspectos legais da avaliação e debatidas as experiências de avaliação da educação

superior desenvolvidas no país, esta parte do capítulo traz como objetivo central discutir

a concepção de regulação e as implicações desta na gestão das IES e do Estado. O

interesse em ampliar os conhecimentos sobre a regulação tem fundamento no

entendimento da necessária relação com avaliação da educação superior para

impulsionar as ações de melhoria da qualidade.

A utilização do termo “regulação” tem origem na avaliação educacional

quando aplicada no campo da avaliação institucional e assume significados diferentes85

(INEP. 2009). Por isso, os documentos do Sinaes que concebem a avaliação como

85 A atual difusão, no domínio educativo, do termo “regulação” está associada, em geral, ao objetivo de consagrar,

simbolicamente, outro estatuto à intervenção do Estado na condução das políticas públicas. Muitas das

referências que são feitas ao papel regulador do Estado servem para demarcar as propostas de “modernização” da

administração pública das práticas tradicionais de controle burocrático pelas normas e regulamentos que foram (e

são ainda) apanágio da intervenção estatal (BARROSO, 2005) (tradução livre).

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formativa, conforme explicitado anteriormente, ressaltam o papel conflitante da

avaliação utilizada sob a forma de controle do Estado e os princípios de autonomia e

emancipação.

No campo educacional, a regulação parece mais flexível na definição dos seus

processos e rigorosa no uso dos resultados da avaliação, sob a perspectiva dos princípios

da eficiência e eficácia dos resultados. Nesse sentido, a regulamentação seria o oposto

da regulação, já que se centra na definição dos procedimentos e se distancia das

questões da qualidade. Essa distinção pode não traduzir o significado original do termo

“regulação”, nem o sentido com que é utilizado na linguagem científica, entretanto pode

indicar um fator importante de tensão entre avaliação e regulação (BARROSO, 2005).

Visando ampliar o conhecimento da ação da regulação exercida pelo Estado,

Kells (1999) contribui para a definição desse processo, apresentando seu caráter

sistêmico e estabelecendo sua relação com o pensamento da sociedade. Nessa

compreensão, regulação pode ser compreendida como um

[...] processo informado e periódico através do qual um sistema, uma

instituição, um programa ou procedimento é, com o passar do tempo,

colocado em sintonia com suas expectativas (intenções, padrões,

normas), através de escolhas e ações julgadas necessárias pelo(s)

regulador(es), tendo como base o resultado de uma avaliação

formativa ou somativa (p. 9).

A partir dessa definição, destaca-se a referência do Sinaes com orientação para

uma avaliação de natureza processual e formativa e padrões de referência indutores de

melhoria da qualidade. Entretanto, no campo da regulação, é cada vez mais comum o

uso da avaliação centrada em resultados que não expressam ou mesmo não determinam

o comportamento do futuro das instituições.

A avaliação parte de uma referência mínima de critérios e condições sem os

quais não se pode permitir o funcionamento dos cursos. Essa perspectiva traz um olhar

da avaliação para a sua função diagnóstica, a fim de que produza elementos para a

regulação na elaboração de políticas que responsabilizem o Estado pela oferta da

educação superior de qualidade. A avaliação como subsídio para a regulação pretende

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que a melhoria dos cursos fique demonstrada sempre que alcançar patamares superiores

ao padrão de qualidade estabelecido nos instrumentos e procedimentos de avaliação.

Ao dar ênfase ao caráter formativo e emancipatório da avaliação, o Sinaes pode

se constituir como uma nova forma de regulação, pois impulsiona o desenvolvimento

institucional. Nesse sentido, passa a representar um avanço, se comparado aos processos

anteriores de avaliação, que estavam ainda muito ancorados nas formas de controle e

coerção do órgão estatal.

1.5.1 Tipos de Regulação

De acordo com Barroso (2005), a regulação pode ser entendida como um

processo constitutivo de qualquer sistema e tem por principal função assegurar o

equilíbrio, a coerência, mas também a transformação desse mesmo sistema. Quando se

refere à organização do processo de regulação, o autor afirma que compreende “não só a

produção de regras (normas, injunções, constrangimentos, etc.) que orientam o

funcionamento do sistema, mas também o (re)ajustamento da diversidade de ações dos

atores em função dessas mesmas regras” (p. 733-734).

Para o autor, a complexidade do processo de regulação é devida aos elementos

integrantes da sociedade em que o sistema de educação superior se desenvolve, já que

existe uma pluralidade de finalidades e modalidades de regulação, em função da

diversidade dos atores envolvidos, das suas posições, dos seus interesses e estratégias.

Além disso, refere-se à regulação como “um processo compósito que resulta mais da

regulação das regulações, do que do controlo directo da aplicação de uma regra sobre

acção dos ‘regulados’” (p. 65). É importante destacar dessa afirmativa que a fonte

essencial de regulação é o próprio sistema; entretanto, não se constitui como única, nem

a mais decisiva para os resultados finais alcançados.

Na mesma linha de pensamento, a estruturação do Sinaes compreende a

regulação como parte essencial do funcionamento e do desenvolvimento da educação

superior. Portanto, o Estado, como responsável pela sua implementação, não deve

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entendê-lo como único processo, mas ampliar a sua relação com os resultados advindos

de outros componentes do sistema. Cita-se como fundamental, nessa ação, os

indicadores de qualidade que podem ser obtidos seja por meio das avaliações internas

realizadas nas instituições (processos próprios de regulação), das informações coletadas

pelo Censo da Educação Superior, da divulgação do CPC pelo Inep. das avaliações

externas e de outros dados que possibilitam identificar o contexto da educação superior.

Barroso (2006) aborda, também, as relações de poder do Estado no exercício

da regulação das políticas de educação e apresenta os níveis diferentes em que essa

relação pode se estabelecer: regulação transnacional, regulação nacional,

microrregulação local e metarregulação. A amplitude em que se operam estas atividades

regulatórias define o caráter do processo de regulação, que, no caso do Sinaes, pode ser

dado como um ato de regulação nacional.

Como consequência do contexto social do país, a regulação se fortalece a partir

da criação de dispositivos técnicos e informações, além das normas legais e sociais.

Com esses elementos de regulação, constrói-se uma nova relação entre a sociedade civil

e o Estado. É o momento em que o Estado já não consegue mais regular a sociedade

apenas pela imposição, mas também e principalmente pela utilização de estratégias

indutoras da ação. É a denominada “metarregulação”, da qual o Estado passou a se

utilizar para a regulação de dispositivos técnicos institucionais e situacionais

(DELVAUX, 2004).

partir desses conceitos, questiona-se no presente estudo se a meta-regulação

pode ser considerada um tipo de regulação ou se esta se caracteriza como um processo

de avaliação dos tipos de regulação instalados no país. A avaliação da eficácia das

normas e dos elementos técnicos utilizados para regular determinada ação e sua

efetividade no sistema educacional brasileiro poderia ser considerada um processo de

metarregulação. Nesse sentido, a meta-avaliação seria aquela que avalia a aplicação dos

três tipos de regulação transnacional, nacional e microrregulação nas políticas

educacionais em âmbito nacional e internacional.

A partir dessa caracterização, a evolução da regulação coloca em evidência

cada um dos tipos de regulação em relação à gestão do Estado. Entendendo que a

política de avaliação constitui tarefa essencial para elevar a qualidade da educação

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superior, as contribuições advindas dos tipos de regulação foram fundamentais neste

estudo, a fim de reconhecer se o uso dos resultados dos ciclos avaliativos do Sinaes tem

servido para induzir qualidade dos cursos de Pedagogia.

1.5.1.1 Regulação transnacional

Com a intenção de elucidar as formas de regulação do Estado, discute-se nesta

parte do estudo como a regulação transnacional pode dar significado à política de

avaliação da educação superior no país. Na forma de regulação transnacional são

percebidas as influências dos acordos de cooperação com organismos internacionais que

passam a ter efeito regulador no sistema de ensino. Entende-se nesse conjunto as

normas, os discursos e os instrumentos produzidos em âmbito internacional, decididos

por especialistas e gestores governamentais, que, de forma representativa, legitimam o

funcionamento de políticas a serem implementadas pelo setor educacional do país.

Vários estudos comparados têm vindo a pôr em evidência a existência

de uma convergência na alteração dos modos de regulação dos

sistemas educativos nacionais que traduz, em si mesma, como foi dito,

um processo de “regulação transnacional”. Isso significa que grande

parte da influência externa se centra mais no processo de tomada de

decisão política e controlo [sic] de sua execução, do que propriamente

na imposição de modelos e soluções comuns para a organização e

funcionamento dos sistemas educativos (p. 48).

As influências desses modelos internacionais fazem parte da história de

implantação do sistema educacional no Brasil e evidentemente são percebidas nas

políticas de educação superior. Inicialmente, como influência da regulação

transnacional, destaca-se a análise das políticas educacionais orientadas pelo Banco

Mundial,86 que ao comparar o Brasil com aos países em desenvolvimento manifestou

que as IES não estariam cumprindo a missão de promover o crescimento econômico.

86 O Banco Mundial é uma instituição financeira internacional que fornece empréstimos para os países em

desenvolvimento. Os empréstimos que marcaram os anos 1980 foram as políticas de ajuste estrutural que visavam

à racionalização da economia de nações.

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Segundo Afonso (2001), em uma época de transição entre o apogeu do Estado-

Nação e a emergência de novas instâncias de regulação global e transnacional, alguns

dos desafios que se colocam às políticas educativas remetem

[...] para a necessidade de se inscreverem na agenda política e

educacional os processos e as consequências da reconfiguração e

ressignificação das cidadanias,87 resultantes, entre outros factores, do

confronto com manifestações cada vez mais heterogéneas e plurais de

afirmação de subjectividades e identidades, em sociedades e regiões

multiculturais, e aos quais os sistemas educativos, as escolas e as

práticas pedagógicas não podem ser indiferentes (p. 21).

Assim, os processos de regulação podem ser entendidos como causa e

consequência das mudanças ocorridas na gestão do Estado influenciadas pelas

orientações internacionais e supranacionais. A avaliação, que deveria incidir sobre o

conhecimento na indução de pesquisas para a melhoria da qualidade, passa a ter mais

força como um instrumento de regulação central das políticas e programas.

Devido às políticas neoliberais, são tomadas decisões estratégicas voltadas ao

financiamento da educação, oriundas de acordos firmados por organismos

internacionais, a exemplo das diretrizes do Banco Mundial para reformar a educação

superior no país. As orientações mundiais são direcionadas para estimular a

diversificação das IES públicas e provocar a competitividade entre elas; estimular a

ampliação das IES privadas que devem buscar fontes alternativas de financiamento,

incluindo a cobrança de taxas dos alunos; vincular o financiamento do Estado ao

aumento de produtividade da IES; e redefinir o papel do Estado em relação à educação

superior, para que atue de forma vinculada à melhoria da qualidade acadêmica e

institucional.

87 No seu sentido mais restrito, a cidadania pressupõe o reconhecimento de uma relação jurídica de pertença a uma

determinada comunidade política e, como consequência, o acesso a alguns direitos elementares diretamente

decorrentes da posse legal de uma nacionalidade tutelada por um determinado Estado. Nesse sentido, se

recuarmos um pouco no tempo, verificaremos que esse reconhecimento político foi, e ainda continua a ser muitas

vezes, um ato arbitrário e extremamente seletivo (AFONSO, 2001).

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Cada uma dessas diretrizes trouxe influências significativas para o

desenvolvimento da educação superior no país e orientaram concepções políticas

estruturantes do sistema educacional. Em decorrência da regulação transnacional,

criaram-se políticas nacionais para seguir as determinações internacionais pactuadas em

acordos para o desenvolvimento do país. Entre essas orientações podem ser destacadas

aquelas com a finalidade de promover a diversificação institucional e de estimular à

expansão das IES privadas.

Na forma de regulação transnacional, a Organização das Nações Unidas para a

Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco)88 propõe em seus documentos, políticas e

estratégias a reforma da educação no âmbito mundial, causando um impacto na política

educacional brasileira. Segundo Catani e Oliveira (2000), essas diretrizes estão

presentes no cenário da educação superior no país com a finalidade de:

[...] diversificar as instituições e os sistemas de ES, tornando-as mais

flexíveis; promover a avaliação quantitativa e qualitativa; diversificar

as fontes de financiamento e reforçar a gestão e o financiamento da

ES; promover maior adaptação dos sistemas e das universidades às

necessidades da sociedade, da economia, expressas em nível nacional

e regional, sem perder de vista a universalidade do conhecimento (p.

49).

Destaca-se nas orientações da Unesco a ênfase na avaliação centrada nos

resultados, tendo como referência a eficácia, sem muito refletir sobre as condições do

processo. Essa visão acaba por reforçar o controle da gestão estatal nas formas de

fiscalização e intervenção, e se constitui por um período em que se instalam as

primeiras experiências de avaliação organizadas pelo Estado.

A proposição da Unesco sobre a flexibilização da contratação docente e a

redução do tempo de formação profissional pode ser entendida como uma das

estratégias políticas, característica da regulação transnacional, que deixa clara a opinião

de que o Estado e a sociedade civil devem se comprometer com o investimento na

88 A Unesco foi criada em 16 de novembro de 1945 com o objetivo de contribuir para a paz e a segurança no mundo,

mediante a educação, a ciência, a cultura e as comunicações.

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educação superior89 e, por meio da avaliação, prestar contas desses investimentos à

sociedade.

Todas essas orientações caracterizadas por regulação transnacional, seja do

Banco Mundial, da Unesco, do Fundo Monetário Internacional (FMI), da Organização

Mundial do Comércio (OMC)90 e de quaisquer outros organismos internacionais,

acabaram por priorizar a lógica do mercado e o saber como bem privado, em detrimento

da qualidade da educação superior, como máxima prioridade nos países em

desenvolvimento.

Essa lógica é facilmente percebida nas formas de financiamento

implementadas pelo Estado. Segundo Lima (2003), a situação financeira de um país

representa o principal vetor do desenvolvimento no setor educacional. Para o autor, a

atuação dessas organizações está ligada

[...] ao aspecto financeiro, ao fornecimento de empréstimos aos países

periféricos, mas, sobretudo, ao controle econômico, cultural e político

que exercem com os países credores a partir da exigência de

cumprimento de condicionalidades, travestidas pela imagem de

assessorias técnicas (p. 145).

O discurso desses organismos internacionais para a educação superior, segundo

o autor, é voltado à racionalização dos recursos e à diversificação da oferta por meio da

expansão das IES privadas, fazendo parte, portanto, do conjunto de propostas que atuam

em contraposição à política de democratização do acesso. No setor público, a cobrança

de matrícula e mensalidades para os estudantes e a contenção de investimentos estatais

para gastos não relacionados com a educação são exemplos dessas propostas de

regulação transnacional com fortes influências na política educacional no país.

Com relação à organização acadêmica, nota-se em 2004 e 2005, a migração da

oferta dos cursos de Pedagogia para os institutos superiores de educação,91 visando a

89 A questão do financiamento é uma dos assuntos mais polêmicos dentro do Anteprojeto de Reforma Universitária,

proposto pelo governo Luís Inácio Lula da Silva em particular e, de um modo geral, pelos organismos

internacionais do capital (BRASIL, 2004). 90 A OMC é uma organização internacional que trata das regras sobre as moedas e seu preço no mercado mundial

entre as nações. Os membros da organização negociam e assinam acordos que depois são ratificados pelo

parlamento de cada nação e que passam a regular o comércio internacional com a ordem parlamentar. 91 A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, ao criar os Institutos Superiores de Educação e o Curso Normal

Superior, tornou a questão da identidade legal do curso de Pedagogia um dos temas mais polêmicos e de

complexa regulamentação na área da graduação (BRASIL, 1996).

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uma formação mais técnico-profissional e, em alguns casos, com conclusão dos cursos

entre três e quatro anos de formação. Acrescenta-se a essa orientação, o período longo

que transcorreu para a aprovação das DCN dos cursos de Pedagogia em discussão desde

1996 até o ano de sua publicação pelo CNE em 2006. A morosidade da decisão

normativa fez permanecer por um período de dez anos a indefinição do papel da

Pedagogia no sistema educacional e abriu espaço para o incentivo à oferta do curso

preferencialmente na modalidade educação à distância.

De acordo com essa concepção, a democratização da educação superior visaria

proporcionar oportunidades iguais de participação na sociedade e, na medida em que os

ensinos, primário e secundário, se expandissem para a universalização, a educação

superior também estaria aberta para todos, estabelecendo um sistema de igualdade de

oportunidades onde as únicas diferenças a vigorar seriam aquelas do mérito pessoal.

Esse conceito é ampliado por Ribeiro (1975), quando diz que:

[...] apenas o sistema educacional e, especialmente, a Universidade,

cuja função é adestrar quadros, poderá conferir legitimidade ao

exercício do poder nas sociedades futuras, cujos gestores serão

obrigatoriamente diplomados em cursos universitários (p. 18).

Para o autor, além dos ideais de democratização e seleção dos mais aptos, a

educação superior com caráter universal eliminaria as diferenças entre o culto e o

inculto, entre o saber científico e o saber pré-científico. Para Ribeiro (1975), “A

promessa de superar a dicotomia entre a cultura erudita e a cultura vulgar, substituindo-

a por uma cultura de base científica”, teria de ser difundida, necessariamente, por “um

novo sistema formal de educação” (p. 20).

A compreensão da dinâmica na organização das IES depende da relação que se

estabelece entre o que se espera da educação superior para a transformação da sociedade

e o grande desafio de construir uma proposta de educação superior inclusiva, fundada

nos princípios da ética e que possibilite repensar os valores da formação e a importância

do conhecimento como bem público.

Considerando que o trabalho é um dos grandes vetores para o desenvolvimento

social, ético e político, o papel da educação superior deve estar balizado na definição de

diretrizes que combinam as funções de formação profissional e as necessidades do

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mercado e da sociedade. Portanto, a educação superior deve ampliar as capacidades de

desenvolvimento da produção científica e cultural da sociedade. Enquanto a IES estiver

voltada para a política de mercado, estará fortalecendo a crise de identidade

institucional que a tem distanciado das suas funções sociais e culturais, para as quais

essa instituição foi criada.

Nesse contexto, o significado das avaliações externas passou a ser questionado,

principalmente quanto à finalidade de: i) prestação de contas que justifique a avaliação

dos padrões de qualidade na educação superior e pressione maiores investimentos no

setor; e ii) acreditação,92 prevalecendo o rótulo de qualidade outorgado pelo MEC.

Com relação ao objeto do estudo, existem influências mundiais na política de

formação de professores e na organização da oferta dos cursos de Pedagogia. Trata-se

de identificar em que medida essas orientações impactam a qualidade dos cursos no

Brasil. A relação das políticas internacionais pode ser percebida desde os avanços no

marco legal, como a Conferência Mundial de Educação para Todos, até as políticas de

racionalização trazidas pela Reforma do Estado, que impactaram o financiamento da

educação e por isso desconstituem a valorização dos professores.

Essas questões podem ser percebidas pelo Sinaes, no momento em que a

formação docente se constitui em indicador de qualidade dos cursos de graduação e, por

isso, são elementos que podem ser contraditórios como políticas educacionais

coordenadas e reguladas pelo Estado.

Pode-se dizer, portanto, que essa estrutura de regulação transnacional formaliza

o poder de decisão da educação, controlando e coordenando os sistemas de

financiamento e as políticas de desenvolvimento da educação. Nesse contexto, as

referências mundiais podem cumprir, concomitantemente, as funções de legitimação e

de justificação, seja por sucesso ou por eventuais fracassos nas propostas de cunho

principalmente político.

92 A acreditação se refere à avaliação, com a finalidade de conferir ao Estado resultados sobre a qualidade

acadêmica dos cursos e das IES.

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1.5.1.2 Regulação nacional

A aplicação do conceito de regulação nacional remete à compreensão dos

limites estabelecidos na organização do Sinaes, com a concretização do uso da

avaliação, sua burocracia e formalidade necessária e instituída para servir à regulação da

educação superior, nos seus aspectos de controle e intervenção do Estado sobre a oferta

da educação superior no país. Com essa finalidade, Barroso (2006) afirma que o

conceito de “regulação nacional” tem sentido de

[...] “regulação institucional” e serve para descrever o papel do Estado

na “coordenação, controlo [sic] e eficiência sobre o sistema educativo,

orientando através de normas, injunções e constrangimentos o

contexto da ação dos diferentes actores [sic] sociais e seus resultados

(p. 50).

Servindo a avaliação para a finalidade regulatória, tem-se ampliado o poder do

Estado e, por conseguinte, reduzidos os critérios de análise que tenham por ênfase

avaliar a inovação e a qualidade do projeto pedagógico dos cursos de graduação. Para o

referido autor, as estratégias de intervenção do Estado podem ter significados diferentes.

De um modo geral, pode-se dizer que coexistem nos diferentes países

(e no mesmo país em diferentes momentos) estratégias de regulação,

desregulação, privatização, recentralização, descentralização,

autonomia e controlo, mas os referenciais destas estratégias têm, por

vezes, sentidos diferentes (em função dos países, das ideologias

políticas, dos interesses convocados) e exercem-se em domínios

distintos (p. 55).

Como subsídio às atividades de regulação, supervisão e da própria avaliação da

educação superior, o Sinaes precisa se constituir como uma ação independente, mas

extremamente interligada ao processo de regulação, para que seus resultados possam

produzir efeito formativo na gestão das IES e efeito orientador nas políticas públicas de

educação implantadas no país.

É importante destacar que, nesse processo de discussão sobre avaliação,

inúmeros confrontos e tensões se apresentam até que se definam os papéis e limites do

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Estado como agente avaliador e da instituição avaliada como condição para o seu

funcionamento. A ênfase nos processos de regulação nacional é imprescindível para

garantir o diálogo e a participação dos envolvidos no processo avaliativo, desde a

construção dos instrumentos e medidas de avaliação até a definição de estratégias de

financiamento e investimento na organização do sistema federal de educação superior.

Entretanto, devido ao regime descentralizado existente no país, que confere a

autonomia aos estados e municípios para regular a oferta da educação superior,

percebem-se movimentos distintos nas formas de controle e acompanhamento da

qualidade da educação superior. A implicação dessa forma de organização e a influência

estabelecida pela lógica do mercado podem gerar competição entre instituições,

inclusive fortalecendo o entendimento da educação mais como um serviço destinado à

população do que um direito instituído e constitucionalmente garantido.

Aplica-se nessa forma de regulação nacional, implementada por meio do

Sinaes, uma forma híbrida de regulação, que ora se aproxima da coordenação de

políticas educacionais e, por vezes, se aproxima mais do conceito de regulação

institucional, já que ocorre a partir da coordenação e do controle dos resultados da

avaliação e da ação do Estado no sistema de educação superior. Esse conceito permite

considerar a inter-relação entre os processos de globalização e de regionalização como

resultado de uma relação linear e hierárquica produzida por forças estruturais.

Nesse contexto, o presente estudo analisou a relação da regulação nacional

estabelecida perante o Sinaes, já que seus instrumentos voltados aos processos de gestão

da IES não podem ser exclusivos desta, e devem demonstrar o potencial de evolução da

avaliação como política pública que influencia a melhoria da qualidade da educação

superior. Realizou-se, portanto, uma análise do processo de avaliação nacional que

impulsiona as políticas educacionais em confronto com as contribuições do próprio

sistema educacional.

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1.5.1.3 Microrregulação local

Complementando os conceitos anteriores de regulação transnacional e

regulação nacional, Barroso (2006) define o conceito de microrregulação local,

compreendido como “processo de coordenação da acção dos actores no terreno que

resulta do confronto, interacção, negociação ou compromisso de diferentes interesses,

lógicas, racionalidades e estratégias” (p. 56).

A partir dessa compreensão, pode-se dizer, então, que todo processo de

regulação deverá estar pautado nos objetivos da avaliação, incluindo os procedimentos,

os instrumentos e a forma de utilização dos resultados. Esse processo envolve a

participação, a conscientização e a preparação de todos os envolvidos, visando obter

informações claras e confiáveis sobre o contexto sociopolítico e as possíveis

necessidades de transformação da realidade. Somente dessa forma, os processos de

avaliação poderão se fundar em uma concepção formativa e emancipatória, em

detrimento da concepção de avaliação autoritária que pode gerar dependência do

controle e alienação dos participantes.

Diante da complexidade desse processo, evidenciou-se a necessidade de uma

ruptura da visão estruturalista e burocrática que tem permeado os processos de

regulação da educação superior, passando a se valorizar mais o funcionamento do

sistema de avaliação, incluídas todas as instâncias de decisão que de alguma forma

contribuem ou participam do Sinaes: as comissões técnicas, as representações do CNE e

dos órgãos de classe, os docentes das IES (seja na função de ensino, gestão ou mesmo

de avaliadores do BASis), os estudantes e suas famílias como usuários, o MEC como

órgão regulador e demais membros da comunidade acadêmica.

Para Barroso (2006), a microrregulação, diferentemente da regulação nacional,

pode ser definida como um processo de coordenação da ação dos diferentes atores e por

isso envolve diálogo e negociação dos diferentes interesses, lógicas e racionalidades:

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Se a regulação nacional remete para formas institucionalizadas de

intervenção do Estado e da sua administração na coordenação do

sistema educativo, a “microrregulação local” remete para um

complexo jogo de estratégias, negociações e acções, de vários actores,

pelo qual as normas, injunções e os constrangimentos da regulação

nacional são (re)ajustados localmente, muitas vezes de modo não

intencional (p. 24).

A influência da microrregulação local situa-se no permanente debate com as

associações e entidades representativas das IES públicas ou privadas com ou sem fins

lucrativos e os conselhos profissionais, entre outras instituições brasileiras organizadas

de acordo com os interesses individuais e/ou coletivos dos respectivos integrantes.

Pode-se destacar igualmente nessa esfera pais, alunos, docentes, funcionários, gestores,

entre outros atores e instâncias que podem interferir no funcionamento do sistema

educacional.

Nesse cenário, o desafio está em construir um sistema de avaliação coerente

com o projeto nacional de educação e que tenha significado no coletivo das IES. Os

princípios de justiça, equidade e democracia são fundamentais para analisar a relação

que pode existir entre o desenvolvimento de um projeto que almeja a qualidade da

educação superior e a satisfação das necessidades das IES, lembrando-se que,

contraditoriamente, podem estar priorizando os interesses do capital e sem a satisfação

das necessidades de educação da população.

Cabe situar que, embora todas as formas de regulação aqui estudadas tenham

sentido para a compreensão do Sinaes como política pública de avaliação, a

microrregulação pela abrangência dos seus instrumentos e procedimentos se aproxima

dos objetivos do estudo pela importância na organização dos processos de melhoria da

qualidade nas IES. Essa proposição ganha significado pela relevância do debate em

torno dos resultados da avaliação dos cursos e pelo alcance das metas dos projetos

pedagógicos dos cursos e das IES.

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1.5.1.4 Metarregulação

O conceito trazido por Barroso (2006) de metarregulação remete à

possibilidade de analisar os processos de regulação do Estado e evidenciar a sua

importância:

[...] o Estado deve assumir a função essencial de “regulador das

regulações”, isto é, de uma “metarregulação” que permite não

só equilibrar a acção das diversas forças em presença, mas

também continuar a garantir a orientação global e a

transformação do próprio sistema (p. 65).

Importa considerar que essa visão pode alterar a definição do papel e do poder

do Estado diante dos processos de avaliar, regular e supervisionar a oferta da educação

superior, que ocorrem nem sempre nessa mesma ordem, haja vista que os processos se

relacionam e se entrelaçam, valorizando mais os resultados do que as normas do

sistema, para garantir a qualidade dos cursos de graduação.

Com esse modelo de controle exercido por meio da supervisão, o Estado

confere autonomia às IES e coloca a ênfase nas experiências que oportunizam a criação

de novas condições de gestão da IES, voltada ao desenvolvimento de propostas

institucionais a partir da comunidade acadêmica e não de decisão regulatória do Estado,

na forma de controle.

Entretanto, o conceito de supervisão, colocado na prática pelo Sinaes, parece

não estar ocorrendo de forma a induzir à qualidade dos cursos. Isso porque a função de

supervisão deve ser a de acompanhar o processo, e este não pode se confundir com

resposta imediata aos aspectos e às decisões regulatórias.

Dessa forma, embora pareça simples, essa inversão da proposta da avaliação

com a finalidade de regulação do Estado para a finalidade de desenvolvimentos

institucional, na verdade, não se constitui assim. Para Clímaco (2005), associar a

atividade de avaliação à gestão de um projeto é um fato comum apenas na teoria, mas

que na prática se revela uma atividade bastante complexa. O autor contribui para a

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discussão sobre metarregulação ao abordar as normas da avaliação como uma atividade

bastante complexa.

A associação da actividade de avaliação ao desenvolvimento e à

gestão de qualquer projecto é hoje um facto comum, pelo menos em

termos de discurso e de intenções. Mas perde-se muitas vezes a noção

de que a avaliação desempenha um papel instrumental no

aperfeiçoamento dos projectos e nas tomadas de decisão dos gestores.

Tal facto significa que a avaliação não é algo cujos resultados são só

conhecidos no fim de um percurso ou de um processo de trabalho,

mas tem resultados de intermédios e finais para assegurar a função

instrumental de informação e orientação da acção (p. 8).

De acordo com fontes oficiais (BRASIL, 2010), todas as medidas adotadas no

processo de supervisão dos cursos têm como finalidade garantir que as IES ofereçam

uma educação superior de qualidade. A supervisão pode determinar medidas de enfoque

corretivo e preventivo dos problemas, com a determinação de medidas de saneamento e

de medidas cautelares de defesa do interesse dos alunos, e até penalidades, se a

instituição sob supervisão deixar de adotar as ações de saneamento de deficiências

apontadas pelo MEC.93

Essas penalidades vão desde a suspensão temporária de prerrogativas

de autonomia, no caso de universidades e centros universitários, até o

encerramento de cursos ou descredenciamento da instituição pelo

MEC. Quando um processo de supervisão é aberto, a lei determina

que o MEC conceda prazo para as instituições recorrerem. Nos casos

mais graves, no entanto, o ministério tem determinado medidas

cautelares administrativas (regulamentadas pelo Decreto nº

5.773/2006) para proteger os interesses de estudantes e da sociedade.

Redução de vagas e suspensão de ingresso de novos alunos são

algumas dessas medidas (p. 9).

Analisar os resultados do ciclo avaliativo do Sinaes, sem a devida atenção às

medidas de supervisão aplicadas aos cursos, mesmo que tenham sido superadas na

reavaliação dos cursos com conceito satisfatório, pode despotencializar as contribuições

da concepção diagnóstica e formativa da avaliação para o aprendizado acadêmico.

93 O MEC produziu o documento informativo, a cartilha Qualidade na educaçãosuperior: avaliação, regulação e

supervisão, a fim de esclarecer a comunidade acadêmica sobre a importância e as finalidades de cada um desses

processos (BRASIL, 2010).

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Devido à importância de se analisar o processo de supervisão no contexto do

conjunto de elementos que integram o Sinaes, buscou-se identificar nos cursos de

Pedagogia as justificativas e as tendências dos cursos, quando submetidos a processos

de supervisão, na forma de saneamento de deficiências estabelecidas entre a IES e o

MEC.

Neave (2001) considera que: “el estado avaluador es um nuevo concepto em la

esfera de la política de enseñanza superior refleja uma situación que había alcanzado um

punto critico”(p. 216).94 O ponto crítico a que se refere o autor pode estar expresso em

um modelo que, ao mesmo tempo que garante a autonomia às IES, quando assume o

papel de supervisor, assume outro sentido, o de um Estado que se desresponsabiliza

pelos processos e que avalia somente os resultados, voltando a centrar-se na questão de

controle do Estado. Nessa perspectiva, o autor chama a atenção para a importância que

assume a avaliação externa:

La sola presencia de agencias de evaluación de lacalidad no garantiza,

por supuesto, que una relación basada em aquel control evolucione sin

más hacia outra relación basada en esta supervisión. Porque lo que

cuenta es el grado de evaluación externa presente em un sistema de

enseñanza superior o en los subsectores – universidad y no

universitarios – que lo componem. Y lo que es igualmente

significativo es el grado de evaluación externa que acompaña la

creación de tales organismos (p. 178).95

Fica evidente, portanto, que há uma contradição entre a teoria e a ação, entre o

que está sendo proposto como política de governo e a ação estatal que sofre implicações

burocráticas e, em consequência, que pode gerar dificuldades na implementação da

avaliação. A proposta do Sinaes sugere a mudança de postura do Estado, de controlador

para um Estado-Avaliador, no qual as IES são responsáveis pelos processos de melhoria

da qualidade da educação superior.

94 “O Estado-Avaliador é um novo conceito na esfera política de ensino superior que reflete uma situação que tem

alcançado um ponto crítico” (tradução livre). 95 A mera presença de agências de avaliação da qualidade não garantirá, portanto, que uma relação baseada apenas

no controle evolua para outra relação, baseada na supervisão, porque o que conta é a força da avaliação externa

em um sistema de ensino superior ou nas instituições – universidades e faculdades – que o compõe. O que é

igualmente significativo para a força da avaliação externa que acompanha a criação de tais agências (tradução

livre).

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Sob o ponto de vista do método do materialismo histórico-dialético, negar a

contradição do movimento histórico é desacreditar da realidade da política educacional,

que passa a ser vista de uma única dimensão, sem dar espaço à criação inerente a um

processo em construção, como é a característica do Sinaes.

A partir disso, o presente estudo realizou a análise do conjunto de elementos e

associações políticas que ocorreram a partir do Sinaes, especialmente no uso dos

resultados da avaliação do grupo de cursos de Pedagogia selecionados. Nessa

interpretação, foi percebido que há, de fato, uma mudança de postura da gestão das IES

e do Estado na organização da política de educação superior, entretanto, com maior

ênfase nas formas de controle e menos impacto na relação da avaliação como indutora

de qualidade.

Com essa visão, os instrumentos e procedimentos avaliativos devem ser

constantemente adequados para estar em consonância com as estruturas institucionais,

as inovações, as metas e os objetivos da educação superior. Para Neave (2001), “el

estado evaluador ‘conduce’ la educación superior precisamente através de los

mecanismos y los múltiples procedimientos de negociación – entre el establecimiento y

los organismos de control, entre los organismos de supervisión y elgobierno – que

acompañan el processo del contrato” (p. 231).96

Nessa perspectiva, a forma como o Sinaes se institucionaliza como política de

Estado representa a valorização da autonomia das IES na implementação do projeto

pedagógico dos cursos. Assim como avaliar significa também comparar, trata-se de uma

oportunidade de revelar, no caso dos cursos de Pedagogia, a situação atual da formação

de professores no país e de subsidiar o aprimoramento da política educacional. Com

esse pressuposto, percebem-se evidências de uso impróprio dos resultados da avaliação,

que podem ocorrer quando se tem um olhar menos para os princípios democráticos e

mais para o ranking de instituições, com exclusiva finalidade mercadológica e de

padronização da qualidade.

96 "[...] o Estado-Avaliador ‘conduz’ a educação superior precisamente através dos mecanismos e dos

múltiplosprocedimentos de negociação – entre o estabelecimento e os órgãos de controle, entre os órgãos de

supervisão e governo – que acompanham o processo de contrato” (tradução livre).

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No âmbito da regulação, frente ao controle das políticas educacionais, sem

dúvida, há contradições nos tipos de regulação quando associadas ao desenvolvimento

da política de avaliação. A avaliação desempenha um papel político voltado à

socialização e à democratização e assume, portanto, no âmbito da regulação nacional,

um papel pedagógico voltado para a transformação da realidade social por meio de

ações emancipatórias.

No que se refere à regulação transnacional, o contexto internacional revela

modelos dissociados da necessidade nacional, mas que se aplicam a outros contextos,

muito possivelmente. Por exemplo, a instalação de um sistema nacional de avaliação

conduzido por órgão governamental, como é o Sinaes, coordenado pelo Inep. Existem

países que optaram por agências privadas de avaliação e de caráter voluntário,

desvinculadas dos atos regulatórios.

A regulação nacional é própria de um contexto construído por agentes sociais

comprometidos e vincula-se, muitas vezes, aos processos de gestão do Estado.

A regulação nacional pode se caracterizar pelas mudanças na

operacionalização do Sinaes e respectivos instrumentos, visando definir aspectos

formativos para a indução de qualidade e/ou atender plenamente ao ordenamento

regulatório do país.

Acrescenta-se o caráter da microrregulação como um contexto mais dinâmico e

orientador dos projetos institucionais. As orientações emanadas da política regulatória,

eventualmente com mais força do que as orientações contidas nos marcos referenciais

do Sinaes, podem ser interpretadas a partir do esforço coletivo das CPAs nas IES para o

reconhecimento do trabalho cientifico contido nos instrumentos de autoavaliação.

O contexto da metarregulação aponta, então, para a avaliação dos atos e

instrumentos regulatórios, a eficácia da política educacional e a relação com a meta-

avaliação do Sinaes, que pretende demonstrar a necessidade de novas ações para a

consolidação da cultura da avaliação no ambiente das instituições.

Sob esse ponto de vista, os vários tipos de regulação podem ser entendidos

como mediações necessárias para entender o objeto estudado: os cursos de Pedagogia

nos ciclos avaliativos do Sinaes. Para essa análise, tornou-se necessário fazer uma

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reflexão sobre quem serve à avaliação e como esse instrumento pode, ao mesmo tempo,

atender aos aspectos de indução da qualidade e de controle.

Dessa forma, considerando que um sistema de avaliação necessita ter objetivos

claros e finalidade explícita quanto ao uso dos seus resultados, para ilustrar a pesquisa,

buscaram-se nas falas dos coordenadores de curso os atributos da avaliação para medir a

qualidade em todas as dimensões: didático-pedagógica, corpo docente, pesquisa e

produção acadêmica e infraestrutura necessária.

1.5.2 Regulação e avaliação: controle ou emancipação?

Aprofundando a discussão sobre os conceitos de regulação e emancipação

como característica imprescindível para a indução de qualidade, a partir das falas dos

coordenadores dos cursos de Pedagogia pesquisados, buscou-se conhecer o papel

desempenhado pelos gestores no uso dos resultados da avaliação e a relação dessa

prática com a política regulatória.97 Optou-se por privilegiar a perspectiva de análise

teórico-prática da avaliação com o objetivo de problematizar e dar visibilidade não

apenas à lógica conceitual, mas, sobretudo, às dimensões da relação do objeto com os

eixos estruturantes da gestão.

O esforço, portanto, dentro dos limites de obtenção das informações dos cursos

de Pedagogia, foi para articular e problematizar a relação da avaliação como subsídio à

regulação. Esta análise propiciou a constatação de que a avaliação pode ser considerada

mais como uma reação às medidas regulatórias que uma intenção formativa em conexão

com os princípios e as diretrizes do Sinaes.

Nesse cenário, o Estado-Avaliador pode significar um retrocesso, porque, entre

outras razões, promove a recuperação, a atualização e o predomínio de muitos dos

pressupostos e instrumentos positivistas e quantitativistas em avaliação. Esse sentido da

97 A questão respondida pelos gestores era a seguinte: Você percebe relação entre os resultados do Sinaes e as

medidas de regulação do MEC? Se positivo, como você avalia essa relação?

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avaliação favorece a desvalorização social e a política da complexidade dos processos

sociais e educativos (AFONSO, 2000).

Confirma-se, então, que as formas de avaliação estão diretamente relacionadas

à política educacional adotada no país. Na análise das falas dos coordenadores de curso,

qualifica-se a relação entre os processos de avaliação e regulação, quando um deles

afirma que é

[...] totalmente favorável a toda avaliação externa com sentido para a

regulação, desde que essa avaliação seja de fato apreciada em seu

todo, e não de forma estanque, sem considerar as peculiaridades locais

e regionais (COORDENADOR 6, informação textual, 2013).

Nesse contexto torna-se urgente resgatar a avaliação formativa como

dispositivo emancipatório, destacando as possibilidades de reconstruir novos espaços

pedagógicos destituídos de cerceamentos produzidos por atores passivos coordenados

por uma gestão autoritária. O uso dos resultados da avaliação pelos coordenadores de

curso pode revelar práticas que conduzem a diferentes juízos avaliativos: i) a

problematização da relação da avaliação com mudanças requeridas no âmbito

pedagógico, institucional e de gestão; ou ii) a acomodação às diferentes formas de

accountability.

O modelo de accountability legitima o uso dos resultados da avaliação e

confirma a relação destes com a regulação. Segundo Afonso (2012), o modelo tem

como componentes fundamentais três pilares:

[...] “um processo de autoavaliação e um processo de avaliação

externa” (pilar da avaliação); a “publicidade dos relatórios de

avaliação” e o respectivo contraditório; “um diálogo mais transparente

entre as instituições de ensino superior”; “informar e esclarecer a

comunidade educativa” (pilar da prestação de contas); e acentua ainda,

de forma inequívoca, as conseqüências ou “resultados da avaliação”

(pilar da responsabilização) (p. 43).

Nessa configuração, a avaliação pode remeter a diversos enquadramentos

legais, que podem servir a conjunturas sociais concebidas na dialética do governo ou ser

vetor estruturante de uma política pública, sem desconsiderar a possibilidade de

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mudanças nas formas de regulação do sistema educacional. Os efeitos da avaliação

acabam por institucionalizar as formas de gestão, pois os resultados são aplicáveis como

incentivo ou punição. Em quaisquer dos pilares (avaliação, prestação de contas ou

responsabilização), denota-se a importância do sistema de avaliação.

Os resultados da avaliação, conforme Afonso (2012), podem ser positivos por

meio do “reforço do financiamento público” ou do “estimulo à criação de novos

cursos”, como, ao contrário, podem ser negativos, mediante “a redução ou suspensão do

financiamento público” ou da “a suspensão do registro de cursos” (p. 43).

Com esse sentido regulatório, entretanto não autorregulatório, a avaliação

realiza apenas a verificação das condições de oferta de um determinado curso em

relação a um ideal esperado (padrão de qualidade), o qual é orientado pela eficácia e

pela eficiência, estritamente relacionada à produção e aos resultados. Assim, a exigência

do controle faz com que avaliação seja autoritária, representando um instrumento

disciplinador de atitudes, regras e modelos, inviabilizando a construção de formas de

superação.

Essa lógica associa-se ao pensamento de Luckesi (2010), quando afirma que a

avaliação está a serviço de uma pedagogia dominante que, por sua vez, serve a um

modelo social dominante. Para ele, a regulação, em muitos aspectos,

[...] estará em conformidade com a norma, porém não há de se

constranger a um mero cumprimento acrítico e burocrático das

determinações exteriores. A regulação deve guardar rica relação com a

autorregulação, isto é, com as oportunidades e possibilidades que se

produzem no exercício criativo da autonomia (p. 204-205).

A opinião de um dos coordenadores dos cursos investigados reforça o

pensamento de que a avaliação na ótica da regulação inibe as ações de melhoria da

qualidade:

Embora a finalidade do Sinaes possa estar vinculada à avaliação

emancipatória, diagnóstica, construtiva, pedagógica, e toda gama de

adjetivos que possa ter, percebemos que essa avaliação vinculada

automaticamente à regulação legitima o Estado para usar os resultados

das avaliações do Sinaes para o controle e punição das estruturas

educacionais (COORDENADOR 8, informação textual, 2013)

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Com base no significado de regulação como ajustamento aos padrões

socialmente aceitos, se o ato regulatório estiver balizado apenas em um instrumento de

avaliação (exame), pode estar mantendo o controle sobre o desempenho dos estudantes

do ponto de vista apenas da classificação. Essa atitude regulatória supervaloriza o

aspecto quantitativo em detrimento do qualitativo, diferentemente do que poderia ser se

fossem analisados no conjunto dos demais instrumentos que compõem o Sistema.

Entretanto, Dias Sobrinho (2008, p. 202) afirma que a avaliação pode ser um

bem comum a serviço da formação dos indivíduos para a vida social, do

desenvolvimento institucional e dos projetos do Estado; entretanto, os exames como

instrumentos para induzir à qualidade “não são suficientes para a compreensão de uma

realidade tão complexa como a educação e, se exclusivos, tampouco são instrumentos

capazes de levar a grandes transformações pedagógicas” (p. 202).

Nessa lógica, a instituição com qualidade só pode ser democrática e com

possibilidades de propiciar aprendizagens efetivas em termos científicos, técnicos e

humanísticos. A avaliação dessas qualidades não pode se resumir à aplicação de testes

estandardizados ou a outras formas idênticas de avaliação externa; enfim, deve

pressupor a análise de um conjunto de significados e ações de melhoria.

Portanto, identificar a que interesses serve a avaliação implica aceitar que esta

é uma atividade influenciada pela força do Estado e com efeitos para além do

pedagógico, qual seja, político. Entretanto, nas IES pesquisadas, pode-se dizer que

quase sempre a avaliação é um instrumento de gestão. Avaliar a competência

acadêmica, promover a competição, fazer a seleção de pessoas e relacionar conteúdo

com avaliação são funções da avaliação destacadas pelos coordenadores de curso. Um

deles destaca que no âmbito do seu curso acredita que “a avaliação realizada por meio

de avaliação in loco mostra-se efetiva; por outro lado, o Enade, nem sempre, é capaz de

aferir o desempenho real dos alunos de um curso” (COORDENADOR 2, informação

textual, 2013).

São julgamentos que impõem unilateralmente uma interpretação da realidade e

que têm como base um contexto. Assim, pode-se dizer que os instrumentos de avaliação

têm impactos muito diferentes a depender do conhecimento que se tem de cada um dos

processos de avaliação. A superficialidade teórica do Sinaes e do conjunto de elementos

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que o compõem, por parte de quem regula, pode levar à ausência da problematização

sobre os objetivos que cada um desses elementos busca alcançar.

Nesse sentido, é difícil estabelecer a relação entre exame de desempenho de

estudante e sistema educacional. Entretanto, quando o resultado do desempenho dos

estudantes é enriquecido com informações do questionário ou mesmo das dimensões

(organização didático-pedagógica, corpo docente e infraestrutura) do instrumento de

avaliação in loco, a configuração do processo de avaliação passa a ser outra.

Complementando esse pensamento, Afonso (2005) afirma ainda que nas

instituições “a avaliação é quase sempre um instrumento fundamental em termos de

gestão. Particularmente importante na estruturação das relações de trabalho [...] a

avaliação é também um instrumento importante de controlo e de legitimação

organizacional” (p. 28).

Nesse contexto, faz-se necessário relacionar avaliação emancipatória com

atitude de compromisso e transformação da realidade. Conforme Ana Maria Saul

(1991), essa avaliação se caracteriza como

[...] um processo de descrição, análise e crítica de uma dada realidade,

visando transformá-la. Destina-se à avaliação de programas

educacionais ou sociais. Ela está situada numa vertente político-

pedagógica cujo interesse primordial é emancipador, ou seja,

libertador, visando provocar a crítica, de modo a libertar o sujeito de

condicionamentos deterministas. O compromisso principal desta

avaliação é o de fazer com que as pessoas direta ou indiretamente

envolvidas em uma ação educacional escrevam a sua “própria

história” e gerem suas próprias alternativas de ação (p. 61).

Assim, a concepção de avaliação do Sinaes, como diagnóstica, formativa e

emancipatória, pretende ser um instrumento pedagógico efetivo para o exercício da

democracia frente aos desafios da sociedade. Nessa abordagem, a educação superior é

responsável pela formação de sujeitos mais democráticos, dignos, solidários, justos, que

saibam respeitar as diversidades e que ajudem a construir uma sociedade com valores e

princípios segundo os parâmetros e orientações das leis. Para que seja construída uma

sociedade mais democrática, que promova justiça, liberdade, solidariedade, é necessário

que a instituição tenha produções científicas de qualidade e que sejam voltadas para os

interesses da população (DIAS SOBRINHO, 2008).

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Coincidentemente, não se pode duvidar do papel indutor da política de

avaliação para a transformação social no país, mesmo que esse pensamento esteja mais

em consonância com a voz do Estado do que com as expectativas da sociedade, ou vice-

versa. Se avaliar pode ser um ato para racionalizar as formas de ensino, o conteúdo e o

próprio currículo também podem significar um controle sobre a qualidade da formação

dos estudantes, algo desejável.

Nesse sentido, não se pode duvidar que a educação brasileira sofra diretamente

os efeitos da nova ordem mundial. Segundo um dos coordenadores, “A referência

regulatória está contida em diversas resoluções e portarias. Não vejo com bons olhos

essa relação uma vez que muitas são inflexíveis. O que de mais positivo podemos

apontar é a dupla vigilância que nos cabe” (COORDENADOR 5, informação textual,

2013).

Essa perspectiva do gestor traz um contexto de avaliação fortemente

normativa, adequada aos modelos de avaliação competitiva. Nesse modelo, os exames

são suficientes e as informações qualitativas são dispensáveis, o que implica uma visão

reducionista do sistema de avaliação. A dupla vigilância apontada pelo coordenador se

refere aos objetivos de ambos os processos, revelando uma visão de independência da

avaliação e da regulação. Essa independência pode indicar modos distintos de tomada

de decisão sobre o uso ou não uso dos resultados da avaliação.

Para Afonso (2005), a avaliação, quando aplicada pelo Estado, é uma atividade

política que, através de alguns procedimentos, procura manter o controle e a

organização de uma instituição. Então, a avaliação pode ser entendida como uma

relação de dominação que “contribui para fabricar imagens e representações sociais

positivas ou negativas” (p. 21).

Dessa forma, o Estado, por meio do sistema de avaliação, revela-se um

regulador das ações desenvolvidas, a fim de alcançar a equidade, a eficiência e a

qualidade da educação, metas essas quantitativas, exigidas por vezes pelos agentes

financeiros. Destaca-se que o papel do Estado e do mercado nas políticas educacionais

tem influenciado para tornar estas mais permeáveis às ideologias contemporâneas,

sobretudo, devido à instabilidade política e social vivenciadas pelos países.

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Seguindo esse pensamento, o Estado não deixou de reforçar o seu poder

coercitivo, nem afrouxou substantivamente o exercício do seu papel de regulação social,

tendo, simultaneamente, e de uma forma aparentemente paradoxal, continuado a

promover a própria retração como Estado e favorecer a expansão do mercado

(AFONSO, 2000).

A concretização dessa ideologia no âmbito educacional se revela, entre outras,

nas ações de privatização da escola pública, ampliação do número de avaliações

externas, desvalorização da profissão docente e processos de gestão centrados em

resultados. Entretanto, persistem nesse cenário formas de resistência ao modelo

neoliberal, preconizadas pelos movimentos sociais, de valorização da autonomia em

confronto com as formas de accountability que fortalecem os modos de regulação, por

meio da avaliação

Fazendo uma breve alusão a algumas dimensões do Estado-avaliador

(evaluative state), Afonso (2001) ressalta que essa qualificação, inicialmente proposta

por Guy Neave (2001), visa, sobretudo, sinalizar o fato de “estar em curso a transição de

uma forma de regulação burocrática e fortemente centralizada para uma forma de

regulação híbrida que conjuga o controlo pelo Estado com estratégias de autonomia e

autorregulação das instituições educativas” (p. 25).

Associada à concepção ideológica de que todos têm direito a educação,

verifica-se que o Sinaes como princípio orientador da política de regulação tem se

constituído como uma política pública imprescindível para o Estado. Essa perspectiva

pressupõe a organização de um Estado democrático de direito que contempla as

diferenças e que no âmbito da organização da educação superior propõe a diversidade

da oferta da educação superior no país, com qualidade.

Nesse sentido, Sousa (2012) manifesta que, se a regulação estatal se apoiasse

nessa concepção de avaliação,

[...] os desempenhos e indicadores mensuráveis produzidos tenderiam

a ultrapassar o mero controle administrativo e burocrático do Estado,

para gerar uma reflexão permanente das consequências pedagógicas e

do papel das instituições de educação superior frente à sociedade (p.

156).

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Dessa forma, a pesquisa assumiu um conceito próprio de regulação, definido,

então, como um processo que se desenvolve a partir de um conjunto de ações

previamente definidas e acordadas entre os atores envolvidos, que objetivam garantir a

organização da educação superior com base em padrões de qualidade evolutivos,

referenciados no sistema nacional de avaliacão.

1.6. CONCLUSÃO

A tarefa de reconhecer o papel do Estado na gestão da educação superior não

se esgota nesta parte; continua a se afirmar na sequência do estudo, e em todo o

trabalho, reconhecendo a importância de dar atenção às partes do processo, para se

chegar à visão global da ação no contexto geral da política de avaliação.

Afonso (2001) chama a atenção para as características do Estado-Avaliador,

mostrando a evolução desse conceito em fases distintas e com impactos diferenciados

nos países: i) a primeira, nos anos 1980, coincide com uma autonomia relativa do

Estado nacional e, nesse sentido, a avaliação promovida pelos governos era entendida

como dispositivo interno de controle sobre a educação, os professores e as escolas, ao

mesmo que viabilizava a expansão de lógicas de mercado, mediante a divulgação de

rankings; ii) a segunda, nos anos 1990, surge com a crescente iniciativa das

organizações internacionais, com garantia e financiamento dos respectivos Estados; iii)

a terceira fase, que se poderia chamar de pós-Estado-Avaliador, se caracteriza pela

forma de atuação voltada ao processo de acumulação do capital, caracterizando um

Estado-Competidor, que repele as iniciativas anteriores do Estado no campo da

avaliação.

No modelo de Estado-Competidor, pode-se inferir que as escolas são

destituídas de autonomia, sendo responsabilizadas pelos maus resultados obtidos, e o

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Estado, por sua vez, se ausenta do dever de zelar pela qualidade da oferta da educação

superior.98

Por isso, a responsabilidade sobre os resultados do desempenho dos estudantes

deve ser amplamente discutida, bem como o controle do Estado e os currículos

formativos. Para tanto, a avaliação deve ser voltada para o avanço do conhecimento, a

construção e a reconstrução das ações que não mostraram resultados satisfatórios e a

valorização das boas práticas (autorregulação).

Nesse processo, todos os atores educacionais precisam participar desde a

formulação até a implementação dos projetos pedagógicos e das políticas educacionais

mais amplas. Conforme Dias Sobrinho (2008): “cabe à educação superior desenvolver,

afirmar, consolidar ou mesmo construir a cidadania. Essa formação de cidadãos e

consolidação da cidadania é, ao mesmo tempo, construção da sociedade democrática”

(p. 195).

A avaliação realizada por meio do Sinaes implica, portanto, conhecer a origem

dos processos, o desenvolvimento da ação e os atos decisórios da gestão do Estado e das

IES. Dessa forma, pressupõe uma análise dos fatores relacionados com a natureza

política, as condições de autonomia, a evolução dos processos de transnacionalização,

os processos de regulação e de avaliação e a mediação entre Estado e mercado, entre

outros aspectos. Nesse sentido, para construir uma cultura de avaliação, a avaliação

institucional precisa ser mais valorizada e praticada por meio da autoavaliação.

Ressalta-se que a característica processual dessa atividade de regulação prevê,

sobretudo, a permanente atualização conceitual, em consonância com as mudanças

sociais. Assim, revela-se neste capítulo o significado do papel do Estado na gestão da

educação superior.

Debatidos os aspectos legais da avaliação da educação superior e as

experiências vivenciadas no âmbito da política intenacional, nacional e local, sobressai

a relação entre avaliação e regulação da educação superior como processos necessários

para o desenvolvimento do país. Entretanto, essa relação é permanentemene questionada

98 A denominação Estado-Competitivo (competition state) se define, conforme Cerny (1997), “em referência a um

processo onde os atores do Estado e do mercado procuram reinventar o Estado como uma ‘associação quase

empresarial’, num contexto mundial” (AFONSO, 2001, grifos do autor).

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sob a suspeita de que um dos processos (o da regulação) tem mais poder sobre o outro

(o da avaliação).

Depois de ter explorado até aqui os conceitos referentes aos processos de

avaliação e regulação e dicutido as possiveis implicações destes no desenvolvimento

Sinaes, no capítulo seguinte, faz-se a reflexão sobre os princípios e as diretrizes do

Sinaes. A proposta é avançar na qualificação da avaliação como política pública e

discutir a dinâmica do Sinaes em uma década de implementação.

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CAPÍTULO 2 – POLÍTICAS, DIRETRIZES E PRINCÍPIOS DO SINAES

Os homens fazem sua própria história, mas

não o fazem como querem; não fazem sob

circunstâncias de sua escolha e sim sob

aquelas com que se defrontam diretamente,

ligadas e transmitidas pelo passado (MARX,

1974, p. 17).

2.1. INTRODUÇÃO

Este capítulo tem o objetivo de delinear a política de avaliação da educação

superior implementada no país a partir 2004 e discutir no âmbito dos processos

avaliativos a relação com os instrumentos e procedimentos regulatórios99 sob a gestão

do Estado no mesmo período. Para tanto, a análise dos cursos de Pedagogia dos ciclos

avaliativos do Sinaes,100 que perpassa a construção deste estudo, contribui para a

compreensão da evolução do processo de avaliação como indutor de qualidade e/ou para

fins de regular a educação superior. O interesse em discutir a avaliação dos cursos de

Pedagogia, com representação da totalidade dos cursos no país, tem relação com a meta-

avaliação do Sinaes, expressa na Lei nº 10.861/2004.

Definido por legislação, o Sinaes, como política de Estado, é constituído de

princípios e diretrizes que envolvem a permanente organização dos instrumentos,

dimensões e indicadores para avaliar a qualidade dos cursos de graduação e de IES.

99 A atividade regulatória pauta-se em critérios quantitativos e remete à questão da eficiência ou ineficiência das

IES em se adaptarem às novas exigências sociais. Nessa visão, a educação superior funciona como fator de

incremento do mercado de trabalho. A avaliação, por sua vez, apresenta caráter predominantemente técnico e

busca a mensuração dos resultados produzidos em termos de ensino, de pesquisa e de prestação de serviços à

comunidade (INEP, 2009). 100 O Sinaes é constituído por três componentes: i) avaliação institucional: por meio da autoavaliação, sob a

coordenação das Comissões Próprias de Avaliação (CPA) e avaliação externa realizada pelos avaliadores do

BASis; ii) avaliação de curso: realizada pela Comissão de avaliadores; e iii) avaliação do desempenho dos

estudantes por meio do Enade e seus instrumentos agregados: questionário do estudante, questionário dos

coordenadores de curso e questionário de percepção da prova (BRASIL, 2009).

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Envolve, também, a organização de uma estrutura de Estado para coordenar e

implementar as ações, contando com a representação da sociedade para realizar a

mediação necessária entre a instituição que avalia e a instituição avaliada.

Nessa perspectiva, cabe lembrar que a pesquisa tem como objetivo reflexionar,

por meio do materialismo histórico-dialético, o processo concreto de avaliação da

educação superior, com base na análise dos resultados da avaliação do Sinaes. Significa,

sobretudo, buscar na compreensão da política pública as contribuições para a qualidade

da educação superior.

No âmbito das ações implementadas, destaca-se o uso dos resultados da

avaliação para orientar o desenvolvimento da educação superior no país. Com esse

entendimento, a avaliação e a regulação têm a função de zelar pelo cumprimento das

metas para a educação superior no país, estabelecidas no PNE desde 2001-2010 e

retomadas no PNE 2014-2024, das quais ressaltam: i) expandir as matrículas; e ii)

garantir a qualidade. Em consonância com a meta de expansão das matrículas, a diretriz

para a avaliação seria garantir a qualidade e para a regulação seria planejar a expansão

com qualidade.

Assim, com o objetivo de ampliar o reconhecimento da avaliação da educação

superior como vetor de mudanças na gestão das IES, investigou-se sobre a organização

das instituições e a efetividade das diretrizes da avaliação na gestão do Estado. Nesse

contexto, foi possível refletir sobre: i) o processo de gestão situado no entendimento da

avaliação como uma política pública; ii) o contexto da dinâmica do Sinaes e suas

implicações na transformação da realidade; iii) as políticas públicas de educação

superior a partir de 2004; e iv) as formas de gestão implementadas para incentivar o uso

dos seus resultados para a indução e/ou controle da qualidade.

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2.2. A AVALIAÇÃO COMO POLÍTICA PÚBLICA

Esta parte do estudo objetivou a realização de um movimento de análise sobre

a estruturação das IES, orientada por princípios de uma gestão democrática e com uma

composição formalizada pela existência de órgãos representativos internos. Com

caracterizada contradição, percebeu-se que, mesmo diante desse arranjo institucional,

são reduzidas as possibilidades de autonomia da gestão por consequência de uma

hierarquia administrativa e categorias funcionais que a integram.

Mesmo diante dessa situação, que é contrária ao ideal das IES de se

constituírem produtoras do conhecimento, ainda se pode perceber a capacidade

institucional instalada nas instituições que buscam metas de racionalidade instrumental,

totalmente estranha às expectativas de uma instituição formadora mais humana e menos

técnica. Em virtude dessa organização e estrutura de controle do Estado, parece haver

um distanciamento em relação aos processos avaliativos e ao uso dos seus resultados, já

que a avaliação expressa pelo Sinaes tem consequência nas medidas regulatórias

implementadas pelo MEC.

Nesse sentido, o Estado amplia o acesso dos estudantes e, ao mesmo tempo,

realiza o acompanhamento da qualidade da oferta. Talvez seja por esse motivo que, sob

a ótica da CF/1988, para se efetivar o direito de todos à educação, a democratização do

acesso é tida como um dever do Estado que deve garantir que a oferta ocorra em

consonância com a demanda de crescimento da população.

Entretanto, é preciso voltar ao conceito de Estado desenvolvido no Capitulo 1,

visto que o papel da gestão estatal somente tem sentido frente às decisões que são

tomadas. A relação dialética entre a estrutura da ação do Estado desenvolvida à luz do

pensamento weberiano e o objeto social discutido na perspectiva marxista, está situada

na superestrutura, e não na estrutura da sociedade. De acordo com Magalhães (2001),

[...] as instituições sociais, políticas e culturais, as ideologias

predominantes e a própria consciência da coletividade são modeladas

pelas relações econômicas e pelas condições materiais – ou, em

termos marxistas, a superestrutura social é sustentada por uma base

econômica (p. 75).

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Essa superestrutura representa a força coercitiva que ocorre, muitas vezes, em

relação aos aspectos de mudança e que faz com que a história seja construída a partir

das relações dos agentes sociais que têm interesse nos temas em desenvolvimento. Isso

faz ampliar o papel do Estado na função de mediador da construção das políticas. O fato

concreto é que na construção do Sinaes muitos foram os instrumentos de articulação que

com o passar dos anos precisaram evoluir para relações sólidas e de confiança que

consolidassem a função correspondente aos seus princípios constitutivos.

O estudo centrou-se, portanto, na análise do contexto histórico da educação

superior no Brasil, que teve fortes influências do modo de produção capitalista,

principalmente a partir da segunda metade do século 20, período em que ocorreu forte

expansão da educação superior. No exercício da função de supervisionar e fiscalizar a

educação superior, percebeu-se a reprodução das práticas de avaliação centradas no

modelo de regulação na forma de controle do Estado. É nessa perspectiva neoliberal que

se situa o novo papel atribuído ao Estado, no que se refere à educação nas suas relações

com a sociedade, e as mudanças nas categorias conteúdo, método, espaços, atores e

formas de controle (KUENZER, 1998).

A possibilidade de estruturar o sistema de regulação e avaliação da educação

superior, sob o ponto de vista contrário aos interesses do capital, acaba por aproximar a

realidade dos princípios orientadores defendidos pelo Sinaes. O materialismo histórico-

dialético relaciona o sujeito e o objeto na base real em que eles são unificados na

história; por isso, Kuenzer (2011) afirma que o movimento do pensamento

[...] ocorre através da atividade histórica do homem em seu conjunto,

havendo uma consciência plena entre sujeito e objeto; através da

prática, no transcurso da história, vão se constituindo, através da

relação, o sujeito enquanto objetivado e o objeto enquanto

subjetivado, deixando de ser objeto em si. Assim, o pensamento torna-

se objetivo, e as leis do pensamento coincidem com as leis do objeto

(p. 60).

Com a expectativa de realizar a interação entre o pensamento e o objeto, o

estudo visou à análise crítica do Sinaes, compreendendo as contradições presentes na

concepção de avaliação e regulação que integra a política de avaliação. O método

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histórico-dialético teve, portanto, a finalidade de estabelecer as relações significativas

da sociedade, no próprio dinamismo da realidade.

Dessa forma, se compreendido como política pública de avaliação, o Sinaes se

consolida na finalidade de dar sustentação aos processos de regulação e supervisão da

educação superior. Com relação à visão externa à IES, tem a intenção de dar

visibilidade e responder aos constantes questionamentos sobre o papel destas e, mais

ainda, sobre a organização da oferta da educação superior pelo Ministério da Educação.

Segundo Sousa (2012), a regulação da educação superior, concebida em sua

estreita relação com a avaliação como política pública,

[...] precisa legitimar as funções de supervisão do Estado. Para tanto,

demanda a intensificação da comunicação entre os elementos que

constituem o processo de avaliação que, por sua vez, pressupõem sua

validação pela participação plural e democrática da comunidade

acadêmica. Entendida dessa forma, a avaliação terá a função de

produzir estratégias e políticas coerentes com os objetivos e princípios

estabelecidos, por exemplo, pelo Sistema Nacional de Avaliação da

Educação Superior (Sinaes), que propõe avaliar um campo formado

por instituições dotadas de grande complexidade e diversificação (p.

167).

Essa interpretação é fundamental para a gestão do Estado e das próprias IES,

que ao analisarem essa ação sob a perspectiva da avaliação diagnóstica, formativa e

emancipatória,101 percebem a necessidade de mudança da avaliação como instrumento

de regulação nacional para uma política pública de avaliação, coerente com os

princípios do Sinaes.

Nesse contexto, além instituir o acompanhamento das políticas educacionais, o

Estado cria exigências na busca pela qualidade, que sugerem o estabelecimento de

padrões mínimos a serem atendidos por todas as instituições que compõem o sistema

federal de educação superior no Brasil. Considerando o percurso histórico das IES e dos

cursos, a avaliação se caracteriza, então, como uma ação que ultrapassa diretrizes

governamentais e que passa a se constituir uma política pública de Estado.

101 A avaliação emancipatória não se apresenta somente como prática produtora de juízos de fatos, de coleta de

informação, medida e controle de desempenho; seu processo requer reflexão sobre a prática, sobre o objeto e os

efeitos da avaliação, o que só pode ser feito através de juízos de valor (INEP, 2009).

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Como sugere Azevedo (2004), “o conceito de políticas públicas implica

considerar os recursos de poder que operam na sua definição e que têm nas instituições

do Estado, sobretudo na máquina governamental, o seu principal referente” (p. 5). Nessa

perspectiva, consideram-se não somente as propostas dos governos, mas a definição e a

prioridade dada às políticas públicas, bem como as repercussões do não atendimento das

demandas sociais.

Um dos motivos do interesse pela avaliação de qualquer atividade sob a gestão

do Estado seria a preocupação com a efetividade,102 dada pelo alcance ou não dos

resultados esperados pelos programas, projetos e ações. Outro motivo poderia ser

entender os resultados e os problemas concretos das ações e interpretá-los à luz da

dinâmica da intervenção do Estado, com o olhar do que pode ser feito para a resolução

dos problemas. Além disso, a relevância da avaliação pode estar na necessidade de

conhecer as atividades desenvolvidas pelo Estado para a tomada de decisão sobre a

continuidade ou não dos programas. Por fim, destaca-se o interesse pela avaliação para

responsabilizar a gestão pelas ações, caracterizadas pela transparência, qualidade e

accountability no uso dos recursos públicos103 (SILVA, 1999).

Essa análise traz várias possibilidades para diagnosticar a efetividade das

políticas educacionais implementadas na forma de programas sob a gestão do Estado,

que requerem o permanente acompanhamento das suas ações por meio da avaliação.

Diante da abrangência dos instrumentos de avaliação do Sinaes, sua análise possibilita

ao Estado refletir sobre as ações de supervisão e regulação, ao mesmo tempo que,

enfatiza o comprometimento da gestão com a avaliação voltada à melhoria da qualidade

da educação superior.

102 Efetividade é neste estudo entendida como a relação entre os resultados e o objetivo. “É a medida do impacto ou

do grau de alcance dos objetivos” (COHEN; FRANCO, 2004). 103 Como questão de Estado, a avaliação vem sendo utilizada como regulação com vistas à restrição da autonomia e

ao controle de resultados. Assim, a concepção de avaliação do Estado gestor atrela-se ao accountability, que

significa prestação de contas e responsabilização (DIAS SOBRINHO, 2003).

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Para garantir a efetivação do processo de avaliação que subsidie o

acompanhamento da qualidade da educação superior, surgiu a necessidade de debater

questões centrais, tais como: i) os avanços da vinculação da avaliação à regulação; ii) os

benefícios da avaliação para a tomada de decisão pela gestão; e iii) as formas de uso dos

relatórios e informações da avaliação para orientar a qualidade dos cursos de graduação.

A avaliação torna-se, portanto, uma necessidade para o processo educativo e precisa ser

reconhecida em suas dimensões técnica, política e social como uma possibilidade de

transformação.

Dias Sobrinho (2003a) destaca a importância da avaliação, principalmente a de

caráter interno na instituição (autoavaliação), dada a sua característica diagnóstica,

fundamental para dar sustentação aos processos educacionais que requerem o

acompanhamento da qualidade. Para o autor, “a avaliação é um instrumento essencial da

reforma do Estado. Nenhum Estado moderno desenvolvido pode abrir mão da

avaliação” (p. 98). A avaliação como responsabilidade do Estado deve ser utilizada para

ampliar as potencialidades de desenvolvimento da educação superior, estender a

autonomia e subsidiar o investimento dos recursos públicos nas IES (públicas e

privadas).

As reformas educacionais desenvolvidas pelo Estado e em curso, debatidas no

capítulo anterior, criam a necessidade de fortalecer a avaliação como política pública

que oriente as ações de melhoria da qualidade. É nesse contexto, embasado pelo

paradigma ético e político da sociedade, que as ações da avaliação da educação superior

devem ser pensadas, sem negar o movimento instalado pela política nacional e

internacional, mas com vistas a superá-lo na sua forma tradicional de submissão ao

controle do Estado.

Cabe ressaltar que o aumento no número de matrículas se deu majoritariamente

pela expansão acelerada das IES privadas, ocorrida principalmente nos anos 1990, por

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meio da discussão promovida no âmbito dos projetos da Reforma Universitária,

abordada no capítulo anterior.104

Esse período foi marcado, portanto, não apenas pela competitividade, mas

também pela oportunidade de ingresso de uma parcela de estudantes excluídos da forte

seletividade das instituições públicas.

Devido à criação de novos cursos de graduação, a ampliação das matrículas foi

ocorrendo, mesmo que de forma elitizada, devido à falta de políticas de inclusão para o

acesso de estudantes com renda mensal incompatível com o valor das matrículas

praticadas pela IES. Corroborando com a ideia, Nunes e Molhano (2004), em

documento para o Observatório Universitário, afirmam que a educação superior exige

expansão igualitária, mas

[...] os próprios limites de expansão, igualitária ou não, parecem estar

próximos. O que nos traz de volta ao Estado, à urgência de políticas

públicas que encarem de frente a imperiosa necessidade de

financiamento às famílias. A alta idade média de estudantes e

concluintes indica que a expansão beneficiou-se de demanda

reprimida, tendo apenas moderado sucesso em trazer aos estudos a

coorte na idade adequada (p. 22).

Essa orientação à expansão das vagas nas IES privadas não garantiu o acesso à

educação superior para toda a população e evoluiu para a crítica da sociedade quanto ao

não comprometimento do Estado com a expansão de instituições públicas que pudessem

atender às demandas regionais. Por isso, a discussão centra-se na forma como ocorre ou

ocorreu essa expansão. E, ainda, se há privilégios ou prioridade do mercado como

grande regulador. A expectativa de que alguns programas da educação superior

pudessem assumir parte das responsabilidades do Estado estiveram presentes em

iniciativas criadas no âmbito da extensão.

104 Segundo Oliveira (2002), a expansão começou a se constituir a partir de 1968, com a criação de várias faculdades

isoladas na periferia das grandes metrópoles e em algumas cidades do interior dos estados mais desenvolvidos,

como decorrência, sobretudo, da Reforma Universitária implantada pela Lei nº 5.540/1968.

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Tomando, por exemplo, as políticas da extensão universitária, Nogueira (2008)

explica que elas foram implementadas no período da ditadura militar, com o objetivo de

constituir uma estratégia para “minimizar o assistencialismo, os efeitos negativos das

políticas macroeconômicas sobre o emprego, os salários, as condições de vida do povo,

os investimentos em infraestrutura, etc.” (p. 7).

Considerando a evolução histórica das políticas de acesso e de expansão da

educação superior, sob o ponto de vista da relação dialética e crítica da realidade, este

estudo apresenta uma relação dinâmica, histórica, contraditória, totalizante e

transformadora da avaliação. Dessa forma, aproximando-se da síntese feita por Kuenzer

(2002), “evidencia-se que conhecer a totalidade não é dominar todos os fatos, mas as

relações entre eles, sempre reconstruídas no movimento da história” (p. 310).

Assim, a vinculação entre as políticas de expansão da educação superior e a

qualidade possibilitou analisar quais os limites e as perspectivas dessa relação nos

cursos de Pedagogia. Uma das políticas promovidas pelo Estado com vistas à expansão

da educação superior, e que pode ser destacada, nesse percurso histórico, é a UAB.

Segundo Gatti, Barreto e André (2011), a UAB foi concebida para ser uma ação

indutora da ampliação dos cursos e, consequentemente, facilitadora do acesso à

educação superior.

A UAB tornou-se um dos principais instrumentos de execução das

políticas de formação em nível superior do MEC, ao lado do Programa

de Apoio aos Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades

Federais (Reuni), que se propõe a criar condições de ampliação do

acesso aos cursos de graduação públicos e de permanência neles,

mediante melhor aproveitamento da infraestrutura física e de recursos

humanos existentes nas universidades (p. 64).

No contexto das políticas de incentivo à expansão da educação superior, na

rede pública, além da UAB, se destaca o Parfor, que articula um conjunto de ações do

MEC em colaboração com as Secretarias de Educação dos estados, municípios e IES

públicas. Houve a expansão de vagas nos cursos de licenciatura existentes para formar

os professores que trabalham nas redes públicas e que ainda não têm a formação

superior exigida pela LDB nº 9.394/96.

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O Parfor pressupõe a formação docente centrada na escola, realizada a partir de

uma estrutura de IES organizada em centros de formação, pesquisa e desenvolvimento

profissional de professores por meio de estudos investigativos do processo educativo. O

programa foi constituído com o objetivo de estabelecer ações para a qualificação dos

600 mil professores brasileiros que ainda não possuíam a formação considerada

adequada ao trabalho que exerciam (BRASIL, 2009).

Contudo, o desafio está na questão do regime de colaboração entre os entes

federados, para dar consequência às medidas tomadas, já que a concretização requer a

valorização docente, por meio de uma formação mais articulada e planejada dos quadros

para o magistério. Acrescenta-se que o processo de oferta dos cursos permite inferir que

as condições de formação dos professores, por meio dos cursos de Pedagogia, de modo

geral, ainda estão distantes de serem satisfatórias, pela ausência de um desenho mais

claro do perfil profissional a ser atingido, vinculado de forma mais orgânica ao campo

da prática docente (GATTI; BARRETTO, 2009).

Com o surgimento de novos cursos de graduação a cada ano, as mudanças

ocorridas nos processos de avaliação têm tido, por parte do Estado, a intenção de

garantir a qualidade da educação superior. Entretanto, devido às transformações que se

operam na política de avaliação, é necessário que as informações estejam disponíveis

para facilitar o acompanhamento e garantir às instituições a confiança no processo,

indispensável para a legitimação dos princípios do Sinaes.

Para Azevedo (2004), a política pública é motivada por um problema que tem

relevância dentro da sociedade.

Com efeito, pode-se afirmar que um setor ou uma política pública para

um setor, constitui-se a partir de uma questão que se torna socialmente

problematizada. A partir de um problema que passa a ser discutido

amplamente pela sociedade, exigindo a atuação do Estado (p. 61).

A avaliação como política pública deve estar articulada ao projeto de sociedade

que se pretende implantar, que está em curso em cada momento histórico ou em cada

conjuntura social. Esse projeto corresponde ao referencial normativo global de uma

política. Nesse nível de compreensão, cabe indagar: como identificar a eficiência de

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uma política pública? Pode-se dizer que a eficiência de uma política está relacionada ao

seu modo de implementação e de seus respectivos resultados.

Todavia, de nada adiantaria realizar um movimento de interação entre os

procedimentos técnicos da avaliação e o uso dos resultados pela regulação se não

existissem dados e informações confiáveis para a análise por diferentes pesquisadores e

pelo próprio Estado. Essa dinâmica requer permanente estudo sobre os dados

produzidos pela avaliação que revelem a consistência das informações do Sinaes. De

fato, essa pode ser uma grande contribuição desta pesquisa para a gestão do sistema

pelo Estado (instância de avaliação e de regulação), pelas IES, pelos estudantes e pela

comunidade acadêmica em geral.

Nesse contexto, por meio das políticas regulatórias, o Estado tem o papel

essencial de garantir a confiabilidade das informações e, por isso, requer que a avaliação

seja vista como um processo dinâmico que não ocorre apenas no final de cada etapa,

projeto ou programa, mas uma ação que se institucionaliza como política pública.

Constituir um sistema de avaliação que subsidie a tomada de decisão pela gestão amplia

as possibilidades de intervir no replanejamento ou no aprimoramento das ações

pedagógicas em curso e de produzir resultados da ação educacional. A divulgação dos

resultados tem a finalidade de informar a sociedade sobre a qualidade da oferta, seja

como parte da prestação de contas da gestão ou como forma de comprometer os

envolvidos, tanto com o sucesso obtido, como com as fragilidades identificadas nos

resultados e nas metas não alcançadas (INEP, 2009).

Entretanto, grande parte dessas informações está na própria instituição, que,

devido à escassez de condições técnicas e operacionais ou a outros fatores, precisa

priorizar a avaliação com toda a sua complexidade para o alcance das metas. Por falta

dessas condições estruturais a IES pouco se modifica internamente a partir dos dados

que produz. Essa situação pode ser aplicada ao Inep, órgão coordenador dos processos

de avaliação no país, que possui um grande número de informações para serem

pesquisadas e deveria ter ampliada a capacidade de investigação sobre esses resultados.

Com essa envergadura, o presente estudo contribui para identificar se as

informações produzidas pelos cursos de Pedagogia no ciclo avaliativo do Sinaes têm

servido para induzir à qualidade na educação superior e/ou orientado para a política de

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regulação. De maneira geral, o processo de avaliação da educação superior tem

considerado os objetivos e as diretrizes do Sinaes para determinar a qualidade da

educação superior. Além disso, o estudo demonstra permanente aprendizado das

instâncias envolvidas pelo conhecimento do processo de avaliação e pela relevância das

suas ações para a regulação. Em relação às IES, o PDI e o PPC dos cursos denotam a

elaboração e a reelaboração realizada nem sempre de forma participativa, quando essa

ação deveria possibilitar o uso dos subsídios da avaliação para a (re)construção de

propostas, a fim de colaborar para a melhoria da educação superior brasileira.

A avaliação tem como finalidade identificar o percurso da IES para alcançar a

qualidade da gestão acadêmica e desenvolver um processo de pesquisa e extensão. Esse

diagnóstico da qualidade da educação superior pretende sensibilizar a comunidade

acadêmica a respeito da importância de refletir sobre a institucionalização do processo

avaliativo. Essa é uma questão fundamental que diz respeito ao objetivo do Sinaes no

desafio a ser enfrentado pelo Estado, dada a estreita relação que tem esse processo com

a política econômica e social do país. Questiona-se, portanto: como consolidar a cultura

da avaliação da educação superior e buscar seus fundamentos nos processos de

autoavaliação de responsabilidade da IES?

Nessa perspectiva, a cultura da avaliação cria condições de mudança na política

educacional e poderá superar os paradigmas tradicionais de avaliação. Segundo Dias

Sobrinho (2000), avaliar requer, além da concepção diagnóstica e formativa, a visão de

caráter emancipatório que

[...] examina os acertos e erros burocráticos e administrativos, verifica

a vitalidade e o exercício democrático das instâncias institucionais,

questiona os delineamentos políticos, as propostas pedagógicas e os

compromissos sociais, tematiza as relações de trabalho e a qualidade

de vida, enfim, tenta compreender para transformar toda a instituição.

É, portanto, uma empreitada que a todos concerne e que produz

efeitos em toda a estrutura social da universidade (p. 71-72).

A pesquisa sobre os cursos de Pedagogia no ciclo avaliativo do Sinaes

pressupõe avançar na qualificação da educação superior, além de ser um importante

instrumento de valorização dos processos de regulação e supervisão da educação

superior. O problema parece estar centrado na distinção do exercício das funções de

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avaliação e regulação. Para clarear essa diferença, tem-se que a primeira subsidia a

segunda e que não poder haver sobreposição de nenhuma dessas funções, sob a pena de

descaracterizar o Sinaes e subsumir um processo ao outro.

Considerando os resultados da avaliação, por vezes insatisfatório, criam-se

resistências ao processo avaliativo, pelo temor de se restringir a autonomia das IES,

principalmente porque ao conceber o tripé “avaliação – regulação – supervisão”, a

avaliação envolve ações distintas que são intrinsecamente interligadas. E é justamente

no acompanhamento do processo, na qualificação e inovação dos instrumentos e na

produção de indicadores, que se instala o maior desafio. Como construir e validar

indicadores confiáveis capazes de orientar as políticas públicas de educação superior e,

ao mesmo tempo, fazer o uso dos resultados da avaliação para fins de supervisão e

regulação dos cursos de graduação e das IES, com um olhar menos de controle e mais

de contribuição para a qualidade da educação superior?

Com essa compreensão, o estudo sobre os cursos de Pedagogia nos ciclos

avaliativos do Sinaes realizou aproximações entre os processos de avaliação e regulação

e encontrou orientações para fortalecer as ações dos cursos, das IES e da própria política

educacional. A análise comparativa entre os cursos de Pedagogia implicou a utilização

das categorias de análise totalidade, mediação e contradição. A partir dos resultados da

avaliação, articulados aos mecanismos regulatórios do Estado, decorreram medidas de

natureza saneadora, bem como orientações qualificadas para os projetos pedagógicos

dos cursos. Essa ação visa assegurar o desenvolvimento da educação superior em

patamares compatíveis com os padrões de qualidade, nacionais e internacionais.

Diante de tais possibilidades encontradas nesse estudo, têm-se cada vez mais

clareza das razões para avaliar o desempenho da educação superior. Essas razões podem

ter origens internas e externas aos sistemas de educação. Externamente, os governos

necessitam direcionar a aplicação dos recursos; internamente, a gestão institucional

precisa ter critérios para a concentração dos esforços, os estudantes precisam reconhecer

o status de qualidade dos cursos ofertados. As IES, os professores e os programas mais

envolvidos com o trabalho acadêmico de qualidade desejam ter seus esforços

reconhecidos e o seu empenho valorizado.

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Não se sabe, entretanto, em que medida a sociedade percebe a importância de

adotar critérios de qualidade e de relevância social para avaliar o desempenho da

educação superior. Nem fica evidente o esforço do Sinaes, como política pública de

avaliação, para encontrar o equilíbrio entre a transparência nacional e a comparabilidade

das IES, bem como a qualidade dos cursos e a formação dos egressos.

Nesse cenário, acrescenta-se a necessidade de analisar o comprometimento

social das políticas educacionais inovadoras implementadas no período e as

consequências do uso dos resultados da avaliação pela gestão das IES e do Estado. O

debate principal, nessa evolução, é a formação do aluno, por isso o interesse de que a

oferta educacional seja de qualidade.

Conforme Bobbio (1997), “a função das instituições políticas é de dar respostas

às demandas provenientes do ambiente social ou, segundo uma terminologia corrente,

de converter as demandas em respostas” (p. 60). E a resposta pode estar justamente no

processo de mudança contínua dos instrumentos do Sinaes, visando aferir tanto a

qualidade acadêmica dos cursos, como a capacidade profissional dos estudantes,

apresentando índices de acompanhamento do processo avaliativo.

Visando ao aprofundamento teórico sobre os ciclos avaliativos do Sinaes,

discute-se, a seguir, a dinâmica do processo avaliativo que o caracteriza como política

pública, constituindo esse movimento uma variável ou indicador imprescindível para a

compreensão da avaliação como política pública.

2.3. DIRETRIZES DA AVALIAÇÃO E REGULAÇÃO

Avaliar não significa controlar, nem apenas verificar um conjunto de elementos

e aspectos de forma desordenada e desarticulada, que podem gerar resultados parciais,

superficiais e momentâneos, que não retratam a totalidade da realidade institucional e

dos cursos de graduação. Nesse sentido, conhecer a dinâmica dos processos de

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avaliação e regulação é fundamental, pois, a depender do nível de independência e

articulação, podem demonstrar a finalidade da política pública.

A qualidade da formação acadêmica oferecida pela IES somente pode ser

reconhecida a partir dos resultados da totalidade dos instrumentos de avaliação, o que,

para os objetivos do Sinaes, implica construir uma prática sistêmica, dar autonomia e

acreditar no potencial dos resultados da avaliação para a orientação da qualidade.

Portanto, analisar a ação regulatória instaurada em alguns cursos de Pedagogia sobre os

resultados do Enade pode caracterizar uma posição contrária aos princípios do Sinaes, já

que evidencia o uso isolado de um dos conceitos e, portanto, traduz apenas um recorte

da realidade da IES.

Para relativizar, o presente estudo contextualiza, nos Capítulos 4 e 5, os

resultados da avaliação dos cursos de Pedagogia, demonstrando que, muitas vezes, se os

cursos foram submetidos a medidas de supervisão em decorrência de um CPC

insatisfatório, obtiveram na avaliação in loco resultados expressivos que dispensariam

as medidas anteriormente aplicadas, caso os resultados do Sinaes tivessem sido usados

na sua forma original pela regulação.105

A visão daquelas IES que “sofreram”106 medidas saneadoras baseadas na

divulgação de resultados da avaliação, em especial do Enade, indica um uso da

avaliação de cunho regulatório, situação divergente dos princípios e diretrizes do

Sinaes. Corroborando esse pensamento, Ristoff e Giolo (2006) afirmam que o Enade,

[...] por si só, não tem implicações regulatórias, ou seja, o resultado do

desempenho dos estudantes na prova não é considerado igual à

qualidade do curso e, portanto, não é suficiente para reconhecer ou

deixar de reconhecer um curso. O “provão” previa sanções a cursos

cujos conceitos na prova fossem repetidamente insuficientes (p. 208).

105 O Sinaes prevê, na sua origem, os conceitos Enade, o Conceito de Curso e o Conceito Institucional. O CPC é um

conceito preliminar que deveria ser substituído pelo CC depois do processo de avaliação in loco. As medidas de

supervisão deveriam ser implementadas apenas posteriormente ao CC. Quando aplicadas depois do CPC, podem

não condizer com a realidade dos cursos, dado que este último se compõe de insumos e não de uma verificação

da oferta. 106 A expresão “sofreram” foi usada de modo proposital nesse texto, a fim de identificar um sentimento derivado de

uma ação com caráter punitivo. De modo diverso, a ótica de avaliação do Sinaes, com caráter formativo, sugere o

uso da expressão “participam” às IES integrantes do processo de avaliação.

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Esse movimento demonstra desarmonia entre a concepção indutora de

qualidade do Sinaes e o uso da avaliação para fins regulatórios pelo MEC, na maioria

das vezes, definidos inclusive em marco legal específico. Portanto, analisar o uso dos

resultados dos cursos de Pedagogia pode servir para confirmar se existe consonância ou

não entre a política de avaliação e a melhoria da qualidade das IES. Um diagnóstico que

não aponta caminhos para melhoria, ao contrário dos princípios do Sinaes, reduz o

potencial indutor de qualidade da avaliação e amplia a visão regulatória do Estado.

Conforme Garcia, Vianna e Suñé (2012), o conjunto dos elementos que

integram o processo avaliativo precisa ser acompanhado de forma permanente, pois

[...] o mais importante em uma avaliação é identificar a capacidade de

a instituição se autoanalisar para corrigir seus rumos, ou seja, a

capacidade de planejar e se desenvolver utilizando os subsídios

fornecidos pelos resultados da autoavaliação (p. 14).

O processo avaliativo visto, portanto, na sua totalidade, e sob as diretrizes do

Sinaes, poderá contribuir para dimensionar a qualidade da educação superior, sem

interpretações equivocadas sobre avaliação e regulação.

Nessa perspectiva, pode-se equiparar a situação vivenciada pelo Estado-

Avaliador, sinalizando, sobretudo, a transição de uma forma de regulação burocrática e

fortemente centralizada para uma forma de regulação híbrida, que conjuga o controle

pelo Estado com estratégias de autonomia e autorregulação das instituições de educação

superior. Segundo Neave (2001), o Estado-Avaliador consiste numa racionalização e

redistribuição das funções de modo estratégico, permitindo o controle com mecanismos

reduzidos de poder central. Esse conceito introduz no sistema de avaliação a lógica

capitalista, própria do setor produtivo, e se aproxima de um modelo de gestão pública

orientado não pelos processos, mas pelos resultados alcançados em uma IES que é

também beneficiária dos recursos financeiros do Estado.

Dias Sobrinho (2003b) afirma que sob o domínio do “Estado avaliador”, “a

avaliação da educação superior tem sido praticada como instrumento privilegiado de

regulação. Portanto, vem exacerbando sua dimensão burocrática legalista de controle,

modelação, ajustamento e fiscalização” (p. 35).

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Nesse processo, o Estado passa a atuar como regulador do mercado

educacional privado e abandona suas antigas funções educacionais, fundadas no

conceito de educação como bem público, para regular a totalidade do sistema com

avaliações periódicas em uma lógica de serviços para os cidadãos que são os

consumidores. Nessa perspectiva, o órgão responsável pela avaliação passa a

representar uma instância de relação entre o Estado e as IES, com o objetivo de

implementar os procedimentos de auditoria e avaliação externa, com função

predominantemente técnico-burocrática e com uma finalidade economicista.

O referido autor é um dos estudiosos no Brasil que utiliza a categoria “Estado-

avaliador” para compreender a relação entre Estado e sociedade civil com destaque para

o papel técnico, ético e político da avaliação em relação à educação superior. Para ele,

existem dois paradigmas na função avaliativa: i) a visão de controle na lógica de

mercado; e ii) a visão de bem público, vinculada à formação dos cidadãos.

A configuração do Estado-avaliador fortalece o poder do Estado na função de

fiscalização e intervenção sobre o sistema federal de educação superior, determinando

os modos e as condições de produção, a disseminação dos resultados, o tratamento

midiático dos sistemas de financiamento atrelado aos resultados, além do envolvimento

ético e político dos especialistas e servidores, entre outros aspectos.

Emerge, portanto, uma contradição entre as forças produtivas e as relações de

produção, responsáveis por criar um ambiente propício para transformações. Segundo as

contribuições marxistas, a sociedade é como uma totalidade na qual a estrutura

econômica exerce um profundo condicionamento sobre a superestrutura.

Assim, o presente estudo discute dois enfoques ou duas epistemologias de

avaliação: uma, conservadora, que tem a avaliação como controle com o objetivo de

verificação, e outra, que concebe a avaliação como uma atribuição de valor que produz

sentidos à educação. Essa conceituação emerge na pesquisa a partir do questionamento

dos significados das ações avaliativas, tendo como referência a construção do futuro.

Nesse cenário, a participação da comunidade acadêmica e a opinião dos

envolvidos na avaliação e nas políticas institucionais se apresentam como um

importante elemento de análise da categoria mediação. Destaca-se, neste processo, a

Comissão Técnica de Acompanhamento da Avaliação (CTAA), uma instância

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consultiva da avaliação e deliberativa dos recursos dos resultados da avaliação

institucional e dos cursos. Cabe à Comissão subsidiar a tomada de decisão pelo Estado,

por ocasião de quaisquer divergências do processo avaliativo de cada uma das partes

(IES ou Seres/MEC), sendo suas competências previstas em Regimento próprio:

I – julgar, em grau de recurso, os relatórios das comissões de

avaliações in loco nos processos de avaliação institucional externa e

de avaliação dos cursos de graduação do Sinaes; II – realizar a seleção

final dos avaliadores do banco; III – decidir casos de exclusão de

avaliadores do banco; IV – zelar pelo cumprimento das diretrizes do

Sinaes; e V – assessorar o Inep sempre que necessário (BRASIL,

2008).

Com essas atribuições, merece destaque a composição da Comissão por

docentes de IES, representantes de cada uma das oito grandes áreas do conhecimento,

além da participação dos diferentes setores do Ministério da Educação (Seres, Inep,

Capes e Conaes). Essa constituição garante a participação, a eficiência, a lisura e a

qualidade do processo de avaliação do Sinaes.

O Estado, no seu papel de avaliador,107 parece estar presente no país, desde o

momento em que assume a tarefa de definir as normas legais e administrativas para o

desenvolvimento das IES e as políticas de financiamento estudantil, a exemplo do

Fies108 e do ProUni. Ambos os programas se destinam a ampliar o acesso à educação. O

Fies, na forma de um empréstimo a ser pago pelo estudante depois da conclusão do

curso, com regras próprias, e o ProUni, condicionado a vagas nas IES em troca de

isenção de imposto público e, portanto, com gratuidade total ou parcial aos estudantes.

Aliada a isso, pode estar havendo a sobreposição do papel do Estado,

referenciado na associação dos resultados da avaliação aos atos regulatórios de cursos

(autorização, reconhecimento, renovação de reconhecimento), e das IES

107 Os cursos com resultados insatisfatórios na avaliação passam a ser desconsiderados pelas políticas de

financiamento estudantil, impactando a gestão. Segundo as orientações do Fies, podem recorrer ao financiamento

os estudantes matriculados em cursos superiores que tenham avaliação positiva nos processos conduzidos pelo

Ministério da Educação. Dessa forma, é possível antecipar que as IES, ao não encontrarem meios para o

cumprimento das exigências regulatórias processadas após a avaliação insatisfatória e por falta de condições de

financiamento, podem decidir pela desistência da oferta dos cursos. 108 O Fies é um programa do Ministério da Educação destinado a financiar a graduação na educação superior de

estudantes matriculados em instituições não gratuitas. Em 2010 o Fies passou a ser coordenado pelo Fundo

Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), e os juros caíram para 3,4% ao ano. Além disso, passou a

ser permitido ao estudante solicitar o financiamento em qualquer período do ano.

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(credenciamento e recredenciamento). Na análise da base empírica selecionada na

pesquisa, percebeu-se a existência de pedidos de arquivamento de cursos de Pedagogia

em fase de renovação de reconhecimento, feitos de forma voluntária pela IES ou por

força regulatória do MEC, que serão mais detalhados no Capítulo 5. Supostamente,

nesse cenário, pode haver indícios de que cursos com pouca qualidade são fechados, a

pedido da própria IES, depois de processos de supervisão.

Sob a lógica de que a avaliação ocorre com centralidade no viés regulatório,

outros cursos podem estar sendo solicitados pela mesma IES, entretanto com a

vantagem de estarem desprovidos do histórico de avaliações com resultados

insatisfatórios de cursos anteriormente arquivados. Dessa forma, o novo curso, que

deveria ter se utilizado dos resultados da avaliação para a continuidade das suas ações

de melhoria depois dos resultados insatisfatórios, recomeça suas atividades e reduz as

possibilidades de desenvolvimento da dimensão formativa da avaliação.

Nessa perspectiva, o Estado, ao mesmo tempo: i) financia total ou parcialmente

a educação superior; ii) regula as políticas educacionais por meio de programas de apoio

e, ainda, o mercado educacional por meio do credenciamento e recredenciamento de

IES; e iii) avalia o desempenho institucional por meio de avaliações da Capes109e do

Sinaes, entre outras ações.

Essa questão tem significância no movimento dialético dos ciclos avaliativos

do Sinaes, que se organizam para refletir a partir do panorama da educação superior no

país. As situações de descumprimento dos ciclos avaliativos, entre outros, impacta

diretamente o ato de recredenciamento institucional, já que, muitas vezes, a única

possibilidade encontrada pelas IES que tem cursos com resultados insatisfatórios no

Sinaes é a transferência de mantença110 para outras que estejam em melhores condições

de sustentabilidade, ocasionando um movimento chamado de unificação de IES.

Segundo a Portaria nº 40/2007, republicada em 29 de dezembro de 2010, no seu art. 58,

109 A Capes desempenha papel importante na expansão e na consolidação da pós-graduação stricto sensu (mestrado e

doutorado). As atividades da Capes também se estendem na graduação com a responsabilidade nos programas de

formação docente para a educação básica. 110 O artigo 11, da Resolução CNE nº 10, de 11 de março de 2002, estabelece que a transferência de mantença

dependa de autorização prévia do MEC, consubstanciada em ato ministerial publicado no Diário Oficial da

União.

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O pedido de transferência de mantença será instruído com os

elementos referidos no art. 15, I, do Decreto nº 5.773, de 2006, do

adquirente da mantença, acrescido do instrumento de aquisição,

transferência de quotas, alteração do controle societário ou do negócio

jurídico que altera o poder decisório sobre a mantenedora, sem

qualquer vínculo com a avaliação (BRASIL, 2010).

Para além da avaliação, a questão é de cunho mercadológico. A expansão da

educação superior também se caracteriza pelo fenômeno do processo de unificação, que

não ocorre apenas no Brasil, mas que alavanca a criação de redes exclusivamente com

fins comerciais, com unidades educacionais vinculadas a uma mesma mantenedora,

situadas em diferentes locais do país.

Havendo transferência dos cursos de Pedagogia pelos motivos já explicitados,

a demanda de formação profissional que deu origem à IES ou ao curso pode não mais

existir, se não houver um olhar sobre a inserção regional.

A organização acadêmica que, porventura, tinha como foco ofertar ensino para

uma mesma elite social precisa ser repensada para atender estudantes que vivenciaram

processos de socialização distintos. Nesa perspectiva, o uso de um projeto pedagógico

de curso, em realidades diferentes (vários locais de oferta), pode fragilizar a dimensão

da responsabilidade social atribuída à educação superior. Essa configuração padroniza o

ensino ao não contemplar o contexto educacional e social como indicador importante

para a qualidade dos cursos e da IES.

Esta reflexão se propõe a analisar os processos de avaliação em todas as suas

formas, estruturas e usos relativamente complexos, como anunciado no início deste

capítulo. As referências políticas, teóricas e conceituais auxiliam na compreensão da

realidade social. Do ponto de vista da política educacional, é um importante exercício

de crítica construtiva. É preciso, portanto, ir além, construir políticas públicas

transformadoras e consoantes com a visão de mundo que deriva de um esforço da

coletividade dos sujeitos envolvidos.

Com efeito, assumir o materialismo histórico-dialético como pressuposto

epistemológico para a interpretação da realidade possibilita compreender a evolução do

pensamento teórico e do movimento da prática da avaliação. Sem dúvida, evidenciam-

se críticas e contradições do Sinaes relacionadas às condições sociais e históricas da

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realidade, na análise proposta. Isso para Kosik (2002) mostra o caráter sincrônico e

diacrônico dos fatos, a relação sujeito/objeto, ou seja, o caráter histórico dos objetos

investigados.

Com esse pensamento, a avaliação da educação superior, a partir dos conceitos

construídos, precisa ser implementada como diretriz orientadora da expansão e da

qualidade. Além de interpretar os procedimentos de gestão do Estado no

desenvolvimento das políticas educacionais e sua relação com os processos de avaliação

e regulação da educação superior, requer refletir sobre o caminho percorrido e a

percorrer na construção do Sinaes.

2.4. AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A PARTIR DE 2004

A avaliação faz parte de um conjunto de políticas públicas voltadas para a

expansão, a qualidade e a democratização do acesso à educação superior. Nessa

perspectiva, conquistou espaço na legislação que derivou consequência efetiva sobre os

processos e mecanismos de funcionamento dos cursos e das IES, adquirindo

legitimidade institucional.

Para avançar no desenvolvimento do país, o Estado propõe, por meio da

avaliação, acompanhar a qualidade de forma ordenada e articulada, gerando resultados

no conjunto do processo educacional. Assume, portanto, o compromisso com conceitos

fundamentais, a integração e a participação, além de indicar a responsabilidade social

das IES e do próprio Estado com a formação dos estudantes.

Na presente pesquisa, a política de avaliação da educação superior foi analisada

a partir dos cursos de Pedagogia nos ciclos avaliativos do Sinaes. A seleção dos cursos

possibilitou retratar a totalidade das realidades institucionais e a relação da avaliação e

da regulação com a expansão. Refletindo sobre a proposição do método dialético, cabe

contextualizar os períodos históricos da gestão do Estado da educação superior no Brasil

e os avanços com relação à sua expansão. Segundo Dourado (2001), à expansão é

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[...] inerente à relação estabelecida entre o Estado brasileiro e políticas

de estruturação das instituições de ensino superior, em três recortes

espaço-temporais: 1º) a estruturação e a expansão do ensino superior

no Brasil de 1930 a 1964; 2º) a crescente privatização do ensino

superior no regime militar; 3º) a expansão do ensino superior na

década de 1980 e as políticas de privatização do público (p. 23).

De fato, a concepção que permeia a expansão da educação superior, se não for

acompanhada por processos avaliativos de qualidade, dissociados da prática punitiva e

restritiva tradicional, pouco avançará na lógica do direito à educação, do respeito à

identidade institucional e da construção da cidadania. É somente por meio da reflexão,

da confiança e da participação que os sujeitos serão envolvidos no processo de reforma

do Estado e de decisão sobre as políticas de educação superior.

Aprofundando o tema da expansão da educação superior e sua relação com as

políticas implementadas a partir de 2004, quando se estabeleceu o Sinaes, percebeu-se

que as relações do Estado se modificaram quanto à orientação do financiamento e da

forma como a qualidade foi imposta nas ações educacionais. Segundo Morosini (2008),

as relações do Estado e das IES se transformam quando

[...] o Estado reduz seu papel em relação às universidades,

principalmente quanto ao financiamento, mas fortifica sua presença

como Estado-Avaliador, baseado no princípio de que a educação é um

bem público e consequentemente [sic] deve ter qualidade para que

tenha impacto sobre a sociedade (p. 290).

Sobre essa aproximação entre avaliação e expansão, há muito que falar, já que,

no caso das IES privadas, o ato de entrada no sistema federal de ensino (autorização dos

cursos) é solicitado por interesse da própria instituição e em algumas situações com

autonomia. A Portaria nº 40/2007, republicada em 29 de dezembro de 2010, traz

informações relativas ao fluxo de dispensa da avaliação in loco, a partir da prerrogativa

de autonomia concedida pelo Estado para a autorização dos cursos, e no artigo 11-A

dispõe:

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Nos pedidos de autorização de cursos presenciais, a avaliação in loco

poderá ser dispensada, por decisão do Diretor de Regulação

competente, após análise documental, mediante despacho

fundamentado, condicionada ao Conceito Institucional (CI) e Índice

Geral de Cursos Avaliados da Instituição (IGC) da instituição mais

recentes, iguais ou superiores a 3 (três), cumulativamente (BRASIL,

2010).

O fato de os indicadores de qualidade da IES (IGC) subsidiarem a tomada de

decisão sobre a criação de novos cursos de graduação pode ser um exemplo da expansão

orientada pela avaliação, embora seja discutível a associação do IGC aos instrumentos

de avaliação do Sinaes.111 Com base nos resultados desse indicador de qualidade, a

Seres, Secretaria do MEC responsável pela regulação da educação superior, poderá

considerar supridos os critérios de análise da qualidade e conferir a prerrogativa de

autonomia para o início do curso. Assim, o ato de autorização é publicado sem a

avaliação in loco prevista no Sinaes.

Com a dispensa da avaliação in loco para a autorização de cursos, a gestão da

IES se responsabiliza com a qualidade da oferta dos novos cursos, obrigatoriamente

avaliados posteriormente, na fase do reconhecimento do curso. Ora, se a prerrogativa de

autonomia112 condicionada aos resultados satisfatórios do IGC permite que a regulação

autorize um curso, tem-se a avaliação como orientadora da expansão da educação

superior, o que denota a efetividade de cumprimento desse objetivo do Sinaes.

Entretanto, essa regra de solicitação voluntária pode comprometer a análise da

demanda de oferta dos cursos por região, unidade federada ou municipal. O interesse da

IES pela criação de novos cursos pode nem sempre guardar relação com a expectativa

de formação daquela região, muitas vezes, já provida naquele local.

111 O CPC e o IGC são indicadores de qualidade utilizados a partir de 2008, para a dispensa da avaliação in loco de

cursos (CC) e de instituições (CI) a depender da decisão da regulação. Nesse caso, cumpriria melhor o papel da

avaliação subsidiar a regulação se, em vez do IGC, se utilizasse o CI, conceito resultante de um processo de

avaliação in loco do Sinaes. 112 A prerrogativa de autonomia, a partir dos resultados da avaliação, aplica-se exclusivamente às IES da rede

privada de educação superior, já que a rede pública, por concentrar a organização acadêmica na forma de

universidade, tem garantida a autonomia para a criação de novos cursos por dispositivo constitucional.

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De outro modo, ressalta-se que, em 2013, o Estado inaugura uma nova

modalidade de autorização de cursos, exclusivamente para Medicina, em IES privadas.

São abertos editais do MEC, inicialmente direcionados aos municípios que estiverem

interessados na oferta. Os municípios deverão comprovar condições de realização da

prática acadêmica na rede pública de saúde. Depois, são abertos editais para a

apresentação de propostas de cursos pelas IES nos municípios selecionados. Essa é uma

nova forma de estabelecer a relação entre a oferta e a demanda, incluindo o atendimento

das condições e os critérios de qualidade estabelecidos pelo MEC para o funcionamento

do curso.

Essa nova modalidade pode ser interessante, entretanto preocupa o fato da

distinção de práticas de regulação para cursos de diferente categoria administrativa. Para

as IES privadas, a regulação estabelece a modalidade de edital; para as IES públicas,

segue a forma tradicional de abertura de cursos sem envolvimento da esfera municipal e

segundo demanda e pertinência analisada a partir do estado. Um dos princípios

constitutivos do Sinaes é a igualdade de condições para a avaliação. Utilizam-se os

mesmos instrumentos, as mesmas regras e os mesmos procedimentos. Contudo, não há

nessa nova disposição (edital) orientação para a avaliação desses cursos pelo Sinaes. O

que se espera, portanto, é que sejam avaliados a partir da política pública de avaliação

do país.

No entanto, esses cursos deixaram de ser orientados pelo Decreto nº

5.773/2006 e passaram a ser orientados pela Lei nº 12.871, de 22 de outubro de 2013,113

que institui o “Programa Mais Médicos” para o Brasil e cujo objeto principal é a

implementação de política pública voltada ao desenvolvimento da área médica em

regiões deficitárias de profissionais.

Cabe registrar que a justificativa de apenas autorizar cursos de medicina em

locais considerados prioritários pode abrir um precedente para outros cursos de

graduação. Da mesma forma, a adoção de novos critérios deve ser acompanhada de

113 A Lei nº 12.871, de 22 de outubro de 2013, instituiu ainda, no seu Art. 9º, a avaliação específica para o curso de

graduação em medicina, a cada 2 (dois) anos, com instrumentos e métodos que avaliem conhecimentos,

habilidades e atitudes, a ser implementada no prazo de 2 (dois) anos, conforme ato do Ministro de Estado da

Educação. A lei definiu, de modo complementar, que as avaliações serão implementadas pelo Inep no âmbito do

sistema federal de ensino. O que se questiona é a repercussão que esse novo exame pode ter no Sinaes, já que o

Enade foi criado com o mesmo objetivo.

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supervisão pelo MEC, a fim de não transformar o discurso da prioridade em uma

locução meramente política. Para resolver a situação da profissão, inclui-se a

necessidade de um debate permanente sobre a fixação dos profissionais nos locais mais

necessitados, evitando a migração para os grandes centros.

O exemplo dos cursos de medicina, em que pese não ser o objeto de análise do

estudo em tela, traz uma referência de que a regulação pode modificar a forma de

regular a qualquer tempo, por meio de instruções normativas, impactando o uso da

avaliação. Entretanto, como política pública, o Sinaes deve atuar, de modo a avaliar

também essa nova forma de regulação.114

Todavia, centrando o debate nos cursos de Pedagogia e visando contextualizar

a expansão nesses cursos, sabe-se que em 2006 e 2007, com o advento da publicação

das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) de Pedagogia115 (BRASIL, 2006),

extingui-se o Curso Normal Superior, destinado à formação de professores. Registram-

se, em 2006, 313 cursos e, em 2007, 270 na situação “em extinção” (e-MEC, 2013).

Esse movimento parece ter sido originado pela transformação do “Curso Normal

Superior” para a antiga denominação “Pedagogia”, aparecendo no sistema como: curso

extinto, o primeiro e curso novo, o seguinte. As ações desencadeadas a partir das DCN

114 O MEC, traçou novo marco regulatório para a autorização de cursos de medicina, que deixou de seguir as

orientações do Decreto nº 5.773/2006, uma excepcionalidade entre as demais graduações. Entre as diretrizes

propostas, está a de estabelecer mais recursos humanos na área médica, destinados aos seguintes objetivos:

atender a regiões prioritárias com carência de médicos, fortalecer a prestação de atenção básica de saúde,

aprimorar a formação médica, inserir os médicos no SUS, contatando-os com as políticas públicas nacionais,

promover a troca de conhecimentos entre profissionais de saúde brasileiros e estrangeiros e estimular a área de

pesquisa aplicada ao Sistema Único de Saúde. O programa estimula as instituições privadas para a abertura de

novos cursos de medicina em áreas ainda em desenvolvimento potencial, desde que sejam capazes de ofertar

campo de prática suficiente e com os instrumentos necessários aos alunos. Para a seleção dos municípios, onde

serão instalados os cursos de medicina, o MEC instituiu alguns requisitos, assim como a estrutura dos

equipamentos públicos e os programas de saúde existentes e disponíveis e um edital de chamamento público que

elegerá as melhores propostas educacionais das IES para a abertura dos cursos de medicina. 115 As DCN dos cursos de Pedagogia publicadas por meio da Resolução nº 01/Conselho Nacional de

Educação/Conselho Pleno/2006 parecem ter motivado mudanças significativas na organização curricular dos

cursos de Pedagogia. Verifica-se a existência de cursos de formação de professores com ênfases diversificadas

(formação de professores para educação infantil, para os anos iniciais e anos finais do ensino fundamental e para

o ensino médio), todos coexistindo em universidades, centros universitários e faculdades. Essa diversificação de

currículos e perfis de formação profissional docente passa a constituir um desafio também para a avaliação da

qualidade dos cursos de Pedagogia. A mesma resolução que aprovou as DCN de Pedagogia com ênfase na

formação para a docência da educação básica afirma, em seu artigo 14, que esse curso será voltado também à

formação para a gestão da educação e em nível de pós-graduação. O Parecer CNE/CP nº 5/2005 e a Resolução

asseguram a formação de profissionais da educação prevista no art. 64, em conformidade com o inciso VIII do

art. 3º da Lei nº 9.394/96. § 1º: “Esta formação profissional também poderá ser realizada em cursos de pós-

graduação, especialmente estruturados para este fim e abertos a todos os licenciados” e § 2º: “Os cursos de pós-

graduação indicados no § 1º deste artigo poderão ser complementarmente disciplinados pelos respectivos

sistemas de ensino, nos termos do Parágrafo único do art. 67 da Lei nº 9.394/96” (BRASIL, 2006).

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de Pedagogia em 2006, se analisadas à luz dos resultados da avaliação, podem

descortinar a formação do pedagogo e trazer implicações aos demais profissionais da

educação, pois deixam clara a identidade do pedagogo como licenciado. Critica-se,

portanto, se essa definição da identidade docente é a mais pertinente e consistente para o

pedagogo, seja pelo acúmulo da produção teórica na área ou pela realidade

socioeducacional.

Evidencia-se, portanto, a necessidade de ampliar as vagas nas IES, para a

formação de professores para a educação infantil e os anos iniciais do ensino

fundamental. Por mais esse motivo, ganha destaque a avaliação dos cursos de Pedagogia

e o devido acompanhamento da sua qualidade.

Na Tabela 1, analisa-se o total de 8.257 cursos de Pedagogia desde o ano de

implementação do Sinaes e a respectiva situação da oferta desses cursos no sistema

educacional. Verifica-se que, no período de 2004 a 2012, do total de 2.783 cursos

autorizados, 230 foram extintos, 966 estiveram com status de “em extinção”116 e 1.785

estão em atividade.

Tabela 1 – Situação dos cursos de Pedagogia no Brasil por ano de ingresso no sistema

educacional (2004 – 2012)

Ano Em atividade Em extinção Extinto Total geral Total cumulativo de cursos

por ano 2004 731 151 87 969 6.443

2005 185 205 40 430 6.873

2006 203 313 53 569 7.442

2007 308 270 15 593 8.035

2008 96 24 6 126 8.161

2009 37 3 5 45 8.206

2010 11 0 24 35 8.241

2011 16 0 0 16 8.257

2012 198 0 0 198 8.455

Total 1.785 966 230 2783 8.455

Fonte:MEC/Inep/Daes (2013).

116 Curso “em extinção” é aquele para o qual não se abre mais edital de seleção, mas ainda tem estudantes que não

concluíram. A mudança para curso “extinto” somente ocorre quando todos os estudantes vinculados ao curso

forem diplomados.

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Na construção do objeto pesquisado, quais sejam os cursos de Pedagogia, o uso

da categoria da totalidade mantém a coerência com o método materialista histórico-

dialético, pois possibilita compreender as dimensões estruturantes da avaliação

estabelecendo as mediações necessárias. Ao mesmo tempo, possibilita realizar

aproximações na avaliação dos cursos de Pedagogia, não apenas interpretar e

reinterpretar o mundo de maneiras diferentes, mas transformá-lo, como pressupõe o

pensamento marxista.

Uma das questões analisadas é que, obtida a prerrogativa de autonomia para a

abertura dos cursos de Pedagogia, na forma do art. 11-A da Portaria nº 40/2007,

(BRASIL, 2010), a avaliação desses cursos para fins de reconhecimento pode não ter

sido satisfatória. E, considerando que o ato de reconhecimento do curso é condicionado

ao resultado da avaliação, a continuidade da oferta do curso quando insatisfatório pode

se manter atrelada a medidas de supervisão, evitando o encerramento imediato das

atividades de formação dos estudantes matriculados.

Essa perspectiva de análise pressupõe a validade do uso dos resultados da

avaliação para a concessão de prerrogativa de autonomia pelo Estado às IES privadas.

Ressalta-se que o uso da avaliação para orientar a abertura de novos cursos pode ter, por

um lado, o objetivo de reduzir o número de comissões de avaliação in loco, para

garantir o fluxo dos inúmeros processos avaliativos do Sinaes, e, por outro, assumir o

papel de Estado-Avaliador nas propostas de expansão da educação superior.

Diferentemente das IES privadas, a rede pública demonstra iniciativas de expansão da

educação superior coordenadas pelo Estado. Assim como o Sinaes, as políticas de

expansão representam as novas tendências da educação superior no Brasil.

Entretanto, embora haja investimento na rede pública para a expansão, esta não

ocorre de forma harmônica. As críticas da comunidade acadêmica sobre a expansão

recaem, entre outros motivos, sobre a: i) seleção dos estudantes, amparada em uma base

classificatória por meio dos vestibulares e que passa a se modificar com a adesão das

IES ao processo seletivo do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), com base no Exame

Nacional de Ensino Médio (Enem); ii) contratação docente e iii) política de valorização

profissional. Essas e outras questões apontam para uma situação de resistência à

expansão nas IES públicas.

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É mister reconhecer a importância da organização do Estado na seleção dos

profissionais por meio de concursos, priorizando a qualificação no ingresso e os planos

de carreira dos profissionais, garantindo a efetivação destes e a continuidade das ações.

Entretanto, as contratações são permanentemente questionadas, como se novas

contratações relacionadas à expansão pudessem gerar uma redução do incremento

salarial pela divisão do montante com novos profissionais necessários para atender o

aumento da demanda da oferta de cursos.

Entre as iniciativas de expansão no contexto das IES públicas, destacam-se a

criação do ProUni,117 em 2005; da Universidade Aberta do Brasil (UAB),118 em 2006; do

Reuni,119 em 2007; e do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação

Básica (Parfor), instituído a partir da Política Nacional de Formação de Professores, em

2009.120

A expansão das vagas de caráter público, nas recentes políticas de Estado, a

exemplo, do ProUni, Reuni, UAB e ampliação da rede federal de educação profissional

e tecnológica,121 aumentaram significativamente o número de matrículas na educação

superior, contribuindo para a democratização do acesso. A ampliação de vagas

117 O ProUni, criado pela Lei nº 11.096, de 13 de janeiro de 2005, oferece bolsas de estudos a estudantes brasileiros

sem diploma de nível superior em cursos de graduação ofertados por IES privadas. Com a gratuidade integral ou

parcial de vagas em cursos de licenciatura, o Estado apoia a política de formação docente para o magistério na

educação básica (BRASIL, 2005). 118 O programa UAB foi instituído pelo Decreto nº 5.800/2006, para o desenvolvimento da modalidade de educação a

distância. Segundo dados do Sistema da Universidade Aberta do Brasil (SisUAB), em 2011, 48 IES ofertam o

curso de Pedagogia na modalidade a distância e, considerando a oferta nos polos de apoio presencial, tem-se 429

cursos de Pedagogia em diferentes locais (BRASIL, 2006). 119 O Reuni foi instituído pelo Decreto nº 6.096/2007 com o objetivo de criar condições de ampliação de acesso e

permanência na educação superior. 120 Instituída pelo Decreto nº 6.755/2009, a Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da

Educação Básica tem por finalidade organizar, em regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito

Federal e os Municípios, a formação inicial e continuada dos profissionais do magistério para as redes públicas da

educação básica. Essa política compreende as seguintes ações: i) Plano Nacional de Formação de Professores da

Educação Básica (Parfor), instituído pela Portaria Normativa n° 9/2009; ii) Programa de Iniciação à Docência

(Pibid), instituído pelo Decreto 7.219/2010; e iii) Programa de Consolidação das Licenciaturas (Prodocencia),

instituído pela Portaria n° 119/2010. O vínculo entre os resultados da avaliação da avaliação da educação superior

e a Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica está contemplado no Art.

12, §3° do Decreto n° 6.755/2009: “os programas de iniciação à docência somente poderão contemplar cursos de

licenciatura com avaliação positiva conduzida pelo Ministério da Educação, nos termos da Lei n º 10.861, de 14

de abril de 2004”. 121 Foram reestruturados 33 Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefets), que mudaram o foco do ensino

médio para o superior, tornando-se Institutos Federais de Educação de Ciência e Tecnologia (Ifets). Todavia, a

Lei autorizou a criação de 38. Os Ifets, na elaboração do seu PDI, devem se aproximar de entidades de

trabalhadores e empresários locais, de modo a contribuir com cooperativas e empresas para os arranjos produtivos

locais. Acrescenta-se a criação, por meio da Lei nº 12.513, de 16 de outubro de 2011, do Programa Nacional de

Acesso ao Ensino Técnico e Emprego. Institucional (Pronatec), que, embora esteja situado em nível pós-médio,

incentiva a continuidade dos estudos e a profissionalização futura em nível de graduação.

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possibilitou a interiorização por meio da criação de novos campi em municípios em que

não havia oferta. Esse movimento da expansão pode justificar o aumento significativo

no número de matrículas na educação superior que, em 1990, era de 1.540.080

estudantes passando para 7.037.688, em 2012 (INEP, 2013).

Os programas Reuni e UAB se caracterizam por promoverem a expansão na

rede pública e, notadamente, um incentivo às políticas de inclusão e democratização do

acesso à educação superior. A criação da Universidade Aberta do Brasil (UAB), por

meio de parceria entre instituições formadoras (IES federais, Cefets e IES estaduais) e

sistemas de ensino (estaduais e municipais), tem gerado a expansão via ensino a

distância em diferentes regiões e municípios do país. Do mesmo modo, o estímulo à

oferta dos cursos na modalidade a distância gerou um crescimento de vagas

predominantemente no setor privado.

Todavia, a expansão representa um desafio à política de avaliação, pois implica

um redimensionamento do financiamento e da gestão para fins de promoção da

infraestrutura física e de pessoal para atender a essa nova demanda. Essa parece ser uma

das principais questões que podem afetar o desempenho dos cursos no ciclo avaliativo

do Sinaes.

Como política de ampliação do acesso à educação superior, o ProUni pode

revelar uma relação importante entre a regulação e o uso articulado dos resultados da

avaliação. O Sinaes está presente nas regras, para que as mantenedoras de IES possam

aderir e permanecer no Programa122 e, de modo afirmativo, assevera que:

[...] o Ministério da Educação desvinculará do Prouni o curso

considerado insuficiente, sem prejuízo do estudante já matriculado,

segundo critérios de desempenho do Sistema Nacional de Avaliação

da Educação Superior – Sinaes, por duas avaliações consecutivas,

situação em que as bolsas de estudo do curso desvinculado, nos

processos seletivos seguintes, deverão ser redistribuídas

proporcionalmente pelos demais cursos da instituição (BRASIL,

2005).

O pressuposto é de que duas avaliações consecutivas, como mencionado na

Lei, seriam correspondentes a dois ciclos avaliativos do Sinaes. Considerando esse

122 Art. 7°, §4o da Lei nº 11.096/2005.

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critério no momento da adesão, em 2007, não houve nenhuma restrição à participação

de quaisquer IES no ProUni. É importante destacar a criação da Comissão Local de

Acompanhamento e Controle Social (Colaps).123 É atribuição da referida Comissão

analisar os casos em que cabe desvincular a IES do ProUni, porque não atendem às

normas fixadas pelo programa, observando-se que o acompanhamento se dá por meio

do Sinaes. Em 2009, conforme disposto na Portaria nº 1.132, de 2 de dezembro, cada

IES deveria instituir uma Comissão Nacional de Acompanhamento e Controle Social

(Conap), de natureza consultiva, com a função de acompanhamento, averiguação e

fiscalização do ProUni nas IES participantes do Programa:

Art. 2º Compete às Comissões Locais: I – exercer o acompanhamento,

averiguação e fiscalização da implementação do PROUNI nas

Instituições de Ensino Superior (IES) participantes do Programa; II –

interagir com a comunidade acadêmica e com as organizações da

sociedade civil, recebendo reclamações, denúncias, críticas e

sugestões para apresentação, se for o caso, à Comissão Nacional de

Acompanhamento e Controle Social do PROUNI – CONAP; III –

emitir, a cada processo seletivo, relatório de acompanhamento do

PROUNI; e IV – fornecer informações sobre o PROUNI à CONAP

(BRASIL, 2009).

Dada a necessidade de verificar o cumprimento da norma, em 2013, por

ocasião da revisão do instrumento de avaliação institucional, essa norma passou a fazer

parte dos requisitos legais. A verificação é comprovada por meio da formalização desse

órgão colegiado nas IES e sua forma de implementação por meio de atas de reunião e

outros registros.

Diante da análise destes programas, é fato que o ciclo avaliativo do Sinaes

requer tempo para que seus efeitos de acompanhamento da qualidade dos cursos sejam

suficientes para subsidiar todos os programas. A adoção dos indicadores preliminares

(CPC e IGC) acabou por ser uma alternativa, mesmo que às vezes contraditória, para

que o MEC buscasse aprimorar sua capacidade de controle da adesão aos programas de

financiamento e de acesso à educação superior e para a própria política de expansão e

123 A Colaps é um órgão colegiado de natureza consultiva com a finalidade de promover a articulação entre a Conap e

a comunidade acadêmica.

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avaliação da qualidade. Entretanto, a facilidade de uso dos indicadores de qualidade fez

com que a regulação dispensasse o uso dos resultados do Sinaes: Enade, CC e CI.

Destacam-se, ainda, outros programas vinculados ao apoio à expansão da

educação superior. São eles: o protocolo do MEC e do Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Programa de Estímulo à

Reestruturação e ao Fortalecimento das Instituições de Ensino Superior (Proies),

destinados às IES públicas e privadas,124 cujo escopo visa assegurar condições para a

continuidade das atividades de entidades mantenedoras de educação superior com

dificuldades financeiras. Em suma, esses programas de incentivo ao acesso à educação

superior representam, assim como o ProUni, uma política de compensação tributária de

impostos por meio de bolsas de estudo a estudantes de baixa renda. Todos esses

programas estão, em termos legais, vinculados aos resultados do Sinaes.

Nesse sentido, a análise da expansão dos cursos de Pedagogia pode auxiliar a

evitar a reprodução da realidade, pois não se investiga o fenômeno por ele mesmo; a

crítica se faz a partir da concepção de avaliação que se assume diante dos processos de

expansão. Considerando que esse fenômeno não é isolado em relação ao movimento

mais amplo da sociedade, busca-se compreender a realidade na totalidade histórica dos

processos de transformação e como pode modificar a realidade de uma forma geral

(KOSIK, 2002).

Os argumentos podem justificar a necessidade de institucionalização da

avaliação como atividade governamental e política pública de estado. Entretanto, há que

se considerar nessa discussão que. por meio do Sinaes, pode-se avaliar várias ações e

programas direcionados à qualidade da educação superior (acesso, permanência e

sucesso). Essa perspectiva anuncia que a avaliação como política pública pode ser

definida como uma atividade destinada a: i) analisar os resultados do sistema em cada

124 Por meio da Portaria Normativa n° 14, de 24 de setembro de 2009, o MEC e o Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) firmaram protocolo de atuação conjunta viabilizando a

concessão de financiamento a IES públicas e privadas que apresentassem bom desempenho acadêmico. Por “bom

desempenho acadêmico” entendem-se as IES que atendem aos requisitos de qualidade do Sinaes (BRASIL,

2009). O Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento das Instituições de Ensino Superior (Proies)

foi instituído pela Lei n° 12.688, de 18 de julho de 2012, com o objetivo de assegurar condições para a

continuidade das atividades de entidades mantenedoras de IES integrantes do sistema federal de ensino. Ocorre

por meio de plano de recuperação tributária e de concessão de moratória de dívidas tributárias federais, com

contrapartida de bolsas integrais concedidas em cursos de graduação presenciais com avaliação positiva nos

processos conduzidos pelo MEC (BRASIL, 2012).

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ciclo avaliativo; ii) discutir elementos para identificar fragilidades e potencialidades do

sistema de educação superior; iii) definir novas intervenções do Estado para

aprimoramento dos instrumentos e resultados da avaliação; iv) utilizar os resultados do

Sinaes como indutor de qualidade; e v) reconhecer o uso da avaliação como elemento

central da accountability, na forma de prestação de contas à sociedade, e

responsabilização da gestão das IES e do próprio Estado com a qualidade da oferta da

educação superior.

Seguindo esse caminho metodológico, o entendimento da avaliação da

educação superior como política pública traz contribuições importantes para a

cidadania, pelos elementos constitutivos da avaliação e pelos instrumentos de

participação social. Para tanto, é necessário acompanhar as respostas obtidas no

processo de avaliação, a exemplo do Enade, que convoca os estudantes a expressarem

sua percepção sobre os cursos de graduação, bem como as mudanças que podem

decorrer da adequação dos instrumentos e das medidas de avaliação à política

educacional em vigor. Comparar o desempenho dos cursos por meio do Enade pode

facilitar a compreensão das transformações curriculares que devem ocorrer em nível de

gestão dos cursos, além de contribuir para o desenvolvimento da gestão institucional e

orientar a implantação de novos cursos.

2.5. USOS DA AVALIAÇÃO: EMBATES E DEBATES

As políticas públicas de educação superior analisadas nesta parte da pesquisa

indicam que há um reconhecimento por parte da gestão do Estado, da importância da

avaliação da qualidade como subsídio e orientação das suas ações. Esse direcionamento

das políticas a partir do uso da avaliação, ao contrário do que se esperava de uma

repercussão em direção à consolidação do Sinaes, parece que tem mais fortalecido a

política regulatória.

Dos programas destacados – ProUni, Fies, UAB, Parfor, Pibid, Prodocência,

Reuni, Proies, Pronatec, Expansão dos Ifets – , apenas dois não consideram o Sinaes no

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respectivo marco legal, o que denota a relevância atribuída à avaliação. Entretanto, no

que concerne à política regulatória, sabe-se que são privilegiados os resultados do

Enade e os indicadores de qualidade (CPC e IGC), não obstante a Lei do Sinaes (CI,

CC, Enade), o Decreto nº 5.773/2006 e a Portaria nº 40/2007, republicada em 2010,

entre outros marcos legais, apontarem para o uso dos resultados do Sinaes, com

primazia para a autoavaliação, como subsidio à regulação da educação superior.

Observa-se que as avaliações do Sinaes e os indicadores de qualidade estão

inseridos nas políticas destacadas desde a sua formulação. Algumas dessas políticas

consideram, direta ou indiretamente, os conceitos e indicadores, a exemplo do ProUni,

outras parecem desconsiderar integralmente a existência da avaliação. No Gráfico 1,

analisa-se, a partir dos documentos legais, a observância dos conceitos da avaliação do

Sinaes e dos indicadores de qualidade para fins de inserção e permanência das IES e

cursos nas políticas de expansão da educação superior.

Gráfico 1 – Exigência dos conceitos e dos indicadores nos programas de expansão da

educação superior – Brasil (2013) Fonte: Legislação específica das políticas de educação superior.

Um estranho paradoxo ganha sentido nesta análise das políticas orientadas pela

avaliação. Os programas de expansão na rede pública e privada, aqui mencionados:

UAB, Parfor, Reuni, Prodocencia e Pronatec, tiveram por parte do Estado a

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

Conceitos e indicadores considerados nas políticas de educação

superiorIndicadores considerados na

formulação da política CI

Indicadores considerados na

formulação da política CC

Indicadores considerados na

formulação da política

ENADE

Indicadores considerados na

formulação da política CPC

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preocupação com a avaliação dos cursos, para a respectiva ampliação daqueles já

existentes? Por que os programas com investimentos bancários utilizam como critério o

bom desempenho dos cursos e das IES? Por que somente do ProUni e Fies é exigido o

resultado da avaliação para fins de permanência no programa?125 O que pode acontecer

com essas políticas se não se mantiver a qualidade esperada?

No caso dos programas de expansão da rede pública federal, pode ser

questionável a qualidade da oferta, já que houve a criação de novos cursos, muitas

vezes, iniciados sem avaliação para fins de autorização, amparados na autonomia das

IES, devido à organização acadêmica de universidade. Esses programas de expansão,

em que pese terem começado sem avaliação, não registram relação futura com a

avaliação dos cursos na fase do ato regulatório de reconhecimento.

Na UAB o financiamento pode ser entendido pelas IES como investimento em

equipamentos e infraestrutura física, além da possibilidade de aumento do salário

docente por meio da disponibilização de bolsas. Esse fato aumenta a preocupação sobre

a não vinculação dos programas ao Sinaes. Os cursos criados no âmbito da UAB são

compreendidos como programas especiais e têm sido avaliados pela Capes; portanto,

não são submetidos aos processos de regulação e, consequentemente, à avaliação do

Sinaes.

O Parfor, com expressa determinação de atendimento ao Plano de Ações

Articuladas (PAR),126 ampliou as vagas, principalmente as dos cursos de licenciatura,

para atuar em regime de colaboração com os estados e municípios e formar a demanda

de docentes em exercício na rede pública e sem a formação adequada. Da mesma forma,

esses cursos são entendidos como programas especiais e não têm sido estruturados a

partir dos resultados da avaliação dos cursos já existentes nas IES.

125 No ProUni e no Fies, a cada ciclo avaliativo do Sinaes, a depender do resultado da avaliação, a IES privada poderá

ter o seu curso descredenciado do programa, sob a alegação de redução da qualidade. 126 O Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), apresentado pelo Ministério da Educação em abril de 2007,

colocou à disposição dos estados, municípios e Distrito Federal, instrumentos eficazes de avaliação e de

implementação de políticas de melhoria da qualidade da educação, sobretudo da educação básica pública. A partir

da adesão ao Plano de Metas, os estados, os municípios e o Distrito Federal passaram à elaboração de seus

respectivos Planos de Ações Articuladas (PAR) (BRASIL, 2007).

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As políticas de expansão, UAB e Parfor, são gestadas na Capes, que tem por

competência avaliar a pós-graduação. Na Capes esses cursos são tratados no âmbito da

avaliação de programas e podem acabar por não cumprir, na sua maioria, a exigência da

avaliação do Sinaes, que é obrigatória para o reconhecimento da qualidade da oferta do

curso e para subsidiar os atos de regulação da educação superior.

Qual lógica teria orientado a gestão do Estado quando responsabilizou o órgão

do MEC que atua com a pós-graduação para conduzir programas de expansão da

graduação? Isso se considerando que essas políticas coordenadas pela Capes são

submetidas à avaliação de programas, voltada ao cumprimento de objetivos, metas e

prazos, de acordo com o repasse financeiro efetuado pela gestão do Estado, e que se

diferenciam da avaliação do Sinaes. A não participação desses cursos no Sinaes, com

grande vulto na área da Pedagogia, representa, portanto, uma contradição em relação à

área estratégica que eles representam e à compreensão da avaliação como política de

Estado.

O Sinaes tem o objetivo de avaliar a qualidade para fins de cumprimento de

critérios, normas e padrões de exigência regulatória, como todos os demais cursos de

graduação ofertados pelo sistema federal de ensino. A justificativa para que esses cursos

sejam avaliados pelo Sinaes é que, mesmo sendo ofertados como programas especiais,

se espera que cumpram as DCN e que possam diplomar os seus alunos de acordo com o

perfil profissional esperado em cada área de formação. Assim, o que se pode esperar do

perfil do egresso dos cursos vinculados a programas especiais senão a mesma

competência dos demais cursos de graduação avaliados pelo Sinaes?

O Reuni, como possibilidade de expansão, ganha visibilidade pelo incremento

financeiro na capacidade instalada da IES e de seus cursos (organização didático-

pedagógica, infraestrutura e corpo docente). A ação repercutiu em grande mobilização

na rede federal de educação superior; entretanto, não teve relação com o Sinaes. O

Reuni motivou o processo de interiorização nas universidades públicas e propiciou a

expansão com a abertura de cursos de Pedagogia noturnos com acesso a novas vagas.

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Portanto, a criação dos novos cursos de Pedagogia127 em ambas as modalidades,

presencial e a distância, no âmbito das políticas elencadas, é plenamente justificada pela

destacada demanda social. O desafio é acompanhar a qualidade por meio de uma

avaliação sistemática, como se pretende que seja o Sinaes, e demonstrar a necessidade

de uma permanente ligação com o que apregoa o Estado nas relações entre público e

privado.

É válido lembrar que o presente estudo se engaja no campo da dialética

materialista e que utiliza as categorias analíticas contradição, mediação e totalidade.

Por esse motivo, as reflexões sobre a relação entre avaliação e regulação são

permanentemente mediadas, com o intuito de perceber a essência da realidade concreta

e não apenas as idealizações que podem ocorrem no plano do pensamento abstrato. Com

esse pressuposto, as categorias de conteúdo: avaliação como política pública e

qualidade da educação superior auxiliaram na compreensão do objeto analisado.

Assim, a influência do pensamento marxista sobre a realidade social atual

parece mais forte do que nunca. Nesse sentido, o marxismo como a unidade de dois

movimentos, um teórico e outro prático, contribui para a compreensão da história das

sociedades, que consiste, em última análise, na existência social que determina a

consciência, e não o inverso.

A partir dessa discussão, o estudo buscou conhecer os conceitos, as

contradições e as possibilidades da avaliação como indutora de qualidade. Pode-se dizer

que a política de ampliação do acesso e expansão da educação superior representa uma

contradição, quando o objetivo está associado mais ao alcance de metas internacionais e

menos à possibilidade de formação humana e perfil profissional adequado. Portanto,

faz-se necessário discutir a avaliação como política pública, tema abordado neste

estudo, a fim de construir referenciais teórico-metodológicos que oportunizem a

realização de uma crítica transformadora.

Visando à consistência da análise, os dados da expansão da educação superior

serão explorados a seguir. Conforme Censo da Educação Superior (INEP, 2013), em

127 O Censo da Educação Superior/Inep, no período de 2004 a 2011 registra o aumento em mais de 55% das

matrículas nos cursos de Pedagogia. De 388 mil matrículas, em 2004, passou para 602 mil em 2012. Todavia, se

essa expansão não estiver aliada ao processo de avaliação, como preconiza o Sinaes, poderá ter comprometida a

qualidade da sua oferta (BRASIL, 2012).

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2012, das 2.416 IES existentes, 84,6% são faculdades, 8% universidades, 5,7% centros

universitários e 1,7 % institutos federais de educação, ciência e tecnologia (Ifet) e

centros federais de educação tecnológica (Cefet).

Esses dados mostram harmonia com o PNE (2001-2010), que previa a

expansão da oferta de educação superior e a diversificação do sistema para atender às

demandas específicas de formação e não se manifesta diferente no novo PNE (2014-

2024). O PNE 2014-2024 tem diante de si um conjunto de grandes temas na educação

superior, entre eles, a expansão do setor público, a qualidade do sistema, a formação e a

qualificação docente. Segundo Peixoto (2012), a educação superior

[...] é hoje desafiada a inovar, a se transformar e a participar da

transformação da realidade local e nacional. Ao mesmo tempo que a

internacionalização e sociedade do conhecimento demandam maior

competitividade em pesquisa e tecnologia, aumenta a competitividade

da economia e a demanda pela formação de profissionais mais

qualificados (p. 89).

Tabela 2 – Total de instituições de educação superior no Brasil por organização acadêmica

(2001-2012)

Fonte: MEC/Inep/Deed (2013).

Nota: Foram consideradas em faculdades: faculdades, faculdades integradas, institutos ou escolas superiores,

faculdades de tecnologia.

Dito isso, utilizar os resultados da avaliação do Sinaes é uma das maneiras de

mensurar a qualidade para orientar a expansão da educação superior. A partir de uma

análise histórica dos ciclos avaliativos (2005, 2008 e 2011), perceberam-se divergências

Ano Total Universidades % Centros

Universitários % Faculdades % Ifet %

2001 1.391 156 11,2 66 4,7 1.143 82,1 26 2 2002 1.637 162 9,7 77 4,7 1.367 83,6 31 2 2003 1.859 163 8,8 81 4,3 1.576 84,8 39 2,1 2004 2.013 169 8,4 107 5,3 1.703 84,6 34 1,6 2005 2.165 176 8,1 114 5,3 1.842 85,1 33 1,5 2006 2.270 178 7,8 119 5,2 1.940 85,5 33 1,5 2007 2.281 183 8,0 120 5,3 1.945 85,3 33 1,4 2008 2.252 183 8,1 124 5,5 1.911 84,9 34 1,5 2009 2.314 186 8,0 127 5,5 1.966 85,0 35 1,5 2010 2.378 190 8,0 126 5,3 2.025 85,2 37 1,5 2011 2.365 190 8,0 131 5,5 2.004 84,8 40 1,7 2012 2.416 193 8,0 139 5,7 2044 84,6 40 1,7

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entre os processos de avaliação e de regulação do grupo de cursos de Pedagogia e as

diretrizes e princípios do Sinaes. Nessa compreensão, pode-se anunciar, mesmo de

forma genérica, que os dissensos e os consensos se referem à concepção da avaliação e

a seu uso e/ou des(uso), que pode decorrer da relação entre a teoria e a prática.

O cenário de expansão nos setores público e privado (Tabela 3) também

alcança, em 2012, um percentual bastante significativo. São 304 IES públicas (12%) e

2.112 IES privadas (88%), fato que confirma a trajetória histórica do acesso à educação

superior pela via privada do ensino, com dados relativamente constantes durante o

período analisado (INEP, 2013).

Ora, se há uma política de expansão atrelada à avaliação, não se deveria

expandir vagas nos cursos avaliados pelo Sinaes e com a garantia da qualidade para

atender à demanda de formação docente? Com esse fundamento, analisou-se a expansão

da educação superior, a partir das informações sobre o crescimento do número de IES128

no período compreendido entre 2001 e 2012. Nesse período, o numero de IES se

ampliou de 1.391 para 2.416, representando um crescimento de 73%. Se realizar um

recorte de oito anos contados no período compreendido entre 2004 a 2012, período em

que se estabeleceu o Sinaes, o crescimento foi de 20%, representando, portanto, uma

redução de 53% na expansão das IES em relação ao período de 2001 a 2003. Nesse

contexto, a expansão precisa ser analisada a partir dos resultados da avaliação, a fim de

propiciar uma melhor compreensão da educação superior em tempos de diversificação.

A proposta consiste em incentivar a diversificação da educação superior, ao diferenciar,

entre as instituições privadas, as que não têm finalidade lucrativa e classificar as

instituições de educação superior por organização acadêmica (BRASIL, 2006).

No período de 2005 e 2006, conforme os dados do Censo da Educação

Superior (INEP, 2012), houve um crescimento de 95 novas IES e, coincidência ou não,

esse aumento ocorreu justamente no ano da orientação para a criação dos Institutos

Superiores de Educação para formar professores.

128 A LDB/1996 estabelece que “a União incumbir-se-á de coletar, analisar e disseminar informações sobre a

educação” (art. 9°, inciso V). A Lei nº 9.448/1997 define que o Inep será o órgão responsável por “organizar e

manter o sistema de informações e estatísticas educacionais” (Art. 1º, inciso I). A Portaria n° 971/1997 tornou

obrigatório o encaminhamento anual da relação dos dados sobre a IES e sobre seu corpo docente e discente,

dando início à coleta pelo Censo da Educação Superior.

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Outra situação que merece destaque é a relação do número das IES existentes

em 2008, menor do que em 2007. Já que não se teve notícia sobre medidas aplicadas a

29 IES naquele ano, pela diferença estimada, essa redução pode estar relacionada aos

cursos Normal Superior, que podem ter finalizado suas atividades e ter sido reabertos

como novos cursos depois de transformados em Pedagogia.129

Dessa forma, os dados da expansão da educação superior precisam ser

contextualizados pela política educacional e, mais ainda, estar amparados nos critérios

de qualidade.

Tabela 3 – Evolução do número de instituições de educação superior por categoria

administrativa – Brasil (2001-2012)

Fonte: Mec/Inep/Deed (2013).

129 A Resolução CNE nº 1, de 15 de maio de 2006, que Institui as DCN para o Curso de Graduação em Pedagogia

determina que não se abram mais turmas de curso Normal Superior. No art. 11 da mesma Resolução: “As

instituições de educação superior que mantêm cursos autorizados como Normal Superior e que pretenderem a

transformação em curso de Pedagogia e as instituições que já oferecem cursos de Pedagogia deverão elaborar

novo projeto pedagógico, obedecendo ao contido nesta Resolução” (BRASIL, 2006).

Ano Total de IES

Pública Privada

Total Federal Estadual Municipal

2001 1.391 183 67 63 53 1.208

2002 1.637 195 73 65 57 1.442

2003 1.859 207 83 65 59 1.652

2004 2.013 224 87 75 62 1.789

2005 2.165 231 97 75 59 1.934

2006 2.270 248 105 83 60 2.022

2007 2.281 249 106 82 61 2.032

2008 2.252 236 93 82 61 2.016

2009 2.314 245 94 84 67 2.069

2010 2.378 278 99 108 71 2.100

2011 2.365 284 103 110 71 2.081

2012 2.416 304 103 116 85 2.112

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204

Considerar o crescimento no número de IES como dado absoluto da expansão,

pode não significar que todas as IES tenham se mantido no universo do sistema federal

de ensino. Isso porque, depois de relacionar ou aprofundar o estudo, pode significar que

algumas tenham tido suas atividades encerradas e outras novas tenham iniciado as

atividades no mesmo período ou, ainda, algumas podem ter se unificado. No caso do

presente estudo, analisou-se o movimento de forma dialética, a fim de compreender as

relações que se estabeleceram no grupo dos cursos de Pedagogia pesquisados, não

apenas na sua realidade institucional, mas na totalidade da realidade social.

O materialismo histórico-dialético, como fundamento metodológico da

pesquisa, propõe-se a conhecer e a intervir na realidade educacional. Trata-se, portanto,

de compreender os princípios de uma sociedade capitalista, universalizadora do valor de

troca e alienada, que precisa ser superada. A análise dos dados da avaliação dos cursos

de Pedagogia é feita a partir de uma perspectiva crítica, que caracteriza um processo de

conhecimento da realidade diversa e autônoma das IES.

Marcando essa realidade das IES que apresentam vocações distintas, Sousa

(2006) expressa preocupação com a evolução do sistema de educação superior e a

diversidade de IES:

Na realidade, a evolução do sistema de ensino superior no País mostra

que esse sistema tem se constituído em um campo acadêmico de

extrema complexidade, envolto por uma expressiva heterogeneidade

institucional. Em função disso, a compreensão da diversidade de

estabelecimentos de ensino demanda uma análise, dentre outros, do

papel e alcance assumidos na rede privada em sua configuração (p.

144).

Com essa tendência histórica de expansão da educação superior, cresce a

necessidade de se estudar o desenvolvimento do sistema de avaliação, a fim de que este

possa garantir padrões de qualidade necessários ao desenvolvimento da educação

superior no país. De modo diverso ao que se espera da avaliação entendida como

política pública, representada pela participação no Sinaes, os programas de formação

docente implementados para atender às demandas da educação básica, especialmente a

Pedagogia, têm sido criados em caráter temporário, como é o caso do Parfor, que

desconsidera os resultados da avaliação para início da oferta.

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205

Também as pesquisas educacionais passaram a demonstrar que o avanço do

conhecimento e da formação de profissionais para enfrentar os desafios do

conhecimento pode ser entendido por meio da flexibilização e da implantação de

programas de formação, em consonância com as necessidades da sociedade. Esse

pensamento se caracteriza por meio de uma nova relação das pessoas com a ciência,

pois os conhecimentos científicos, tecnológicos e sócio-históricos ganham particular

destaque nas formas de comunicação e gestão dos processos sociais e produtivos

(KUENZER, 2002).

Esse tem sido um dos motivos geradores de conflito entre o relacionamento das

instituições públicas e privadas que dificulta a compreensão do papel e do lugar de cada

uma dessas instituições. Conforme Souza Santos (1995), a função mercadológica da IES

privadas é exacerbada a partir da centralidade na questão econômica, pois seu papel

consiste

[...] em conceber o produto universitário como um produto industrial,

ainda que de tipo especial, e consequentemente em conceber a

universidade como uma organização empresarial. Este viés está hoje

muito difundido e a sua vigência incontrolada representa um perigo

importante para a autonomia institucional universitária (p. 216).

Este é um dos grandes problemas da educação: o fato de a concepção

regulatória ganhar força no sistema de educação superior, em uma mera ideologia

reprodutivista. Nessa perspectiva, as concepções desarticuladas da materialidade das

relações sociais podem cair em abstrações. Sem uma objetividade correspondente a

estrutura social de fato, parecem mais concepções idealistas.

Considerando a necessidade de democratização do acesso, a ampliação das

vagas na rede pública de educação superior passou a fazer parte da agenda política.

Foram estabelecidas metas para a ampliação do acesso à educação superior, bem como

para a qualidade dos cursos de graduação, por meio do Sinaes. Os documentos oficiais

do Sinaes (INEP, 2009) ratificam essa orientação e expressam que

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206

[...] o enfoque a ser adotado considera a Avaliação Institucional não

como um fim em si, mas como parte de um conjunto de políticas

públicas, no campo da educação superior, voltadas para a expansão do

sistema pela democratização do acesso, para que a qualificação do

mesmo faça parte de um processo mais amplo de revalorização da

educação superior como parte de um projeto de desenvolvimento da

nação brasileira (p. 31).

Cabe identificar, nesse contexto, que a avaliação da qualidade dos cursos de

Pedagogia nos ciclos avaliativos do Sinaes tem causado pouco efeito na expansão. A

criação de novos cursos tem representado mais um atendimento à demanda de formação

docente localizada, independentemente da qualidade da formação oferecida, atendendo

ao caráter legal de necessidade da formação dos professores em nível superior.

Ball (2002), Mainardes (2006), Mainardes e Marcondes (2009), conforme

detalhado na introdução deste estudo, trazem importantes contributos para o

entendimento das políticas públicas. Ball (2002) propôs um Ciclo de Políticas contínuo,

constituído por cinco contextos: Contexto de Influência, Contexto da Produção de

Texto, Contexto da Prática, Contexto dos Resultados (efeitos) e Contexto da Estratégia

Política. Neste estudo, os cinco contextos são inter-relacionados.130

Para Ball (2011), o foco da análise de políticas deveria incidir sobre a formação

da política educacional e sobre o pensamento dos profissionais que atuam no contexto

da prática, fazendo-os relacionar os textos da política à prática. No contexto da

influência, os grupos de interesse (comissões, associações e entidades representativas da

educação superior, órgãos internacionais, redes sociais e outros) podem influenciar a

definição das finalidades sociais das políticas nacionais de educação, legitimar os

conceitos e as políticas públicas construídas. No âmbito do texto, os marcos legal e

político (documentos legais, oficiais, comentários formais ou informais), resultados de

disputas e de acordos, são articulados com o interesse público e, portanto, representam a

política.

No caso deste estudo, no âmbito do texto está a política pública de avaliação,

que, por meio da Lei do Sinaes, estabelece o processo de avaliação como diretriz

orientadora da qualidade (seus instrumentos de avaliação in loco e provas). Os

130 Cada um desses contextos apresenta arenas (lugares de discussão, disputas) e grupos de interesses (que desejam

influenciar as políticas) e cada um deles envolve embates.

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207

procedimentos utilizados para avaliar conduzem ao contexto da prática, em permanente

construção e reconstrução, acompanhando o movimento dinâmico da sociedade. É nesse

contexto que se desenvolve a política, que se analisam seus efeitos e os resultados, a

partir da atuação dos profissionais da educação no interior das próprias IES. A

abordagem do Ciclo de Políticas oferece instrumentos para a análise da trajetória do

Sinaes (sua formulação, sua produção textual, sua implementação e seus resultados) e

possibilita compreender melhor a política pública de avaliação. Segundo Ball (2011), as

políticas envolvem

[...] confusão, necessidades (legais e institucionais), crenças e valores

discordantes, incoerentes e contraditórios, pragmatismo, empréstimos,

criatividade e experimentações, relações de poder assimétricas (de

vários tipos), sedimentação, lacunas e espaços, dissenso e

constrangimentos materiais e contextuais (p. 13).

A educação superior, portanto, tem sentido pressões de diferentes segmentos

para romper com a ideia tradicional de organização, que fez por muito tempo restringir

os espaços ocupados pela rede pública de educação. Na expansão dos cursos de

Pedagogia, a realidade ainda é mais preocupante, pois a oferta desses cursos tem sido

majoritariamente em faculdades da rede privada de educação superior.

Ao problematizar a relação do público e do privado, Sousa (2009) compara a

qualidade da educação superior às políticas de privatização implementadas pelo governo

desde a década de 1990. O autor destaca que

[...] na referida década, bem como na atual, o Estado brasileiro não

conseguiu garantir à população, de forma satisfatória, o acesso à

educação superior pública. A saída adotada pelo governo foi estimular

a expansão da educação superior, pela via da rede privada, na

perspectiva de garantir aos alunos maior opção, em termos de novos

cursos e de IES (p. 248).

Essa afirmação se caracteriza como resposta ao estímulo do Estado à expansão

da educação superior privada, a partir da flexibilização dada pela LDB nº 9.394/96131 e

pelo Plano Nacional de Educação (PNE) para o período de 2001 a 2010, aprovado pela

131 Os artigos 44 e 45 da LDB nº 9.394/96 trazem a possibilidade de outros tipos de instituições oferecerem novas

modalidades na educação superior.

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Lei nº 10.172/2001, que previa elevar a oferta da educação superior para, pelo menos,

30% a população brasileira na faixa etária de 18 a 24 anos (BRASIL, 2001).

Complementando o argumento do autor, o novo PNE para o período de 2014 a

2024, aprovado pela Lei nº 13.005/2014, traz a mesma lógica do anterior e ainda eleva,

em pelo menos 50%, a taxa bruta de matrícula na educação superior.

Assim, o documento do PNE em discussão define em sua meta nº12: “Elevar a

taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% e a taxa líquida para 33% da

população de 18 a 24 anos, assegurando a qualidade da oferta” (BRASIL, 2014).132

Com essa perspectiva, Sousa (2006) chama a atenção para a “taxa de

escolarização universitária bruta dos brasileiros matriculados no ensino superior que,

em 2001, girava em torno dos 15% e, se considerada a população de faixa etária entre

20 e 24 anos, o percentual de alunos matriculados (taxa líquida) era de 9%” (p. 145).

Segundo o Censo da Educação Superior (INEP, 2012), incluindo-se no cálculo

da taxa de escolarização líquida o percentual da população da faixa etária de 18 a 24

anos graduada e que está fora da escola, o acesso à matricula corresponde a 14% no ano

de 2011. As taxas de escolarização bruta e líquida relativas ao período de 2001 a 2011

(Tabela 4) mostram a expansão do acesso à educação superior. Em 2011, continua em

evolução e a taxa de escolarização bruta nacional passa para 27,8%.

Para atingir a Meta 12 do PNE (2014-2024), na escolarização superior bruta, a

matrícula deverá atingir cerca de 12 milhões de pessoas. Considerando que a taxa média

de crescimento da matrícula nos últimos dez anos foi de 8,3% ao ano, tem-se o desafio

de superar o cenário, já que 22.497.453 pessoas têm de 18 a 24 anos idade, com uma

taxa de escolarização bruta de 14,6% e líquida de 27,8% e mais de sete milhões de

estudantes matriculados.Embora os números indiquem que a Meta tende a ser

alcançada, a importante reflexão se volta para a implementação da expansão com

orientação da qualidade, que possibilite as assimetrias regionais (microrregiões) e a

integração com os desafios e as metas do desenvolvimento nacional.

132 Taxa de escolarização bruta – número total de matrículas de estudantes independentemente da idade recomendada

para cada um dos níveis e/ou etapas da educação em relação à população total da mesma faixa etária – e Taxa de

escolarização líquida – número de matrículas de estudantes que se encontram na idade recomendada para cada

um dos níveis e/ou etapas da educação em relação à população total da mesma faixa etária.

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Tabela 4 – Evolução das taxas de escolarização bruta e líquida na educação superior –

Brasil e Regiões (2001-2011)

Brasil/ Regiões

Educação Superior (18 a 24 anos)

Escolarização Bruta

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011

Brasil 15,1 16,6 18,6 18,6 19,9 22,6 24,3 25,5 26,7 27,8

Centro-Oeste 18,2 21,8 23,6 23,2 25,9 27 28,8 31,1 32,6 37,3

Nordeste 9,1 9,5 10,9 11,1 11,9 14,3 15,9 16,9 18,4 21,4

Norte 11,3 15,3 14,7 12,2 14,6 17 19,3 21,7 23,7 23,6

Sudeste 17,3 19 21,2 22 23,3 26,7 28,6 29,4 30,1 29,3

Sul 21,3 22,8 26,7 26,5 27,8 29,7 30,8 32,9 33,5 34,2

Brasil/ Regiões

Escolarização Líquida

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011

Brasil 8,9 9,8 10,6 10,5 11,2 12,6 13,1 13,7 14,4 14,6

Centro-Oeste 9,7 11,9 12,3 12,2 14 14,8 15,6 16,3 17,9 19,7

Nordeste 5,1 5,1 5,8 5,9 6,1 7,1 7,7 8,3 9,4 10,6

Norte 5,2 6,7 6,1 5,7 7 7,6 9 9,9 11 10,4

Sudeste 10,9 12 12,8 13 13,8 15,7 16,4 16,6 16,8 16,1

Sul 12,7 13,7 15,9 15,3 16,2 17,1 16,8 18,7 19,2 18,6 Fonte: IBGE/Pnad; elaborado por MEC/INEP (2012).

Nota: Para os anos 2001, 2002 e 2003, foi excluída a população rural de RO, AC, AM, RR, PA e AP.

Mesmo com a evolução nas taxas de escolarização do Brasil, parece haver,

ainda, a necessidade de maior investimento em políticas públicas de democratização do

acesso à educação superior. Dessa forma, muito há de se fazer para dar consequência à

Meta 12 do PNE: “Elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% e a

taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos, assegurando a qualidade da oferta”

(BRASIL, 2014).

Considerando que são 25 milhões os brasileiros na idade universitária (de 18 a

24 anos) para uma matrícula de sete milhões (INEP, 2012), muito ainda há de se

ampliar na rede privada. Entretanto, a maioria das 16 estratégias, definidas no texto do

PNE, voltam-se à expansão da educação superior. Se essas estratégias forem analisadas

sob o ponto de vista histórico das políticas de acesso à educação superior na rede

pública, tornar-se-á quase impossível o alcance do previsto na estratégia 12.3:

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Elevar gradualmente a taxa de conclusão média dos cursos de

graduação presenciais nas universidades públicas para 90% (noventa

por cento), ofertar um terço das vagas em cursos noturnos e elevar a

relação de estudantes por professor para 18 (dezoito), mediante

estratégias de aproveitamento de créditos e inovações acadêmicas que

valorizem a aquisição de competências de nível superior (BRASIL,

2012).

O Gráfico 2, a seguir, mostra a projeção que devem ter as taxas de

escolarização na educação superior, para alcançar as metas estabelecidas no PNE (2014-

2024). Significa que há muito trabalho a fazer em termos de expansão e democratização

do acesso para se chegar aos 33% da taxa de escolarização líquida e 50% da taxa de

escolarização bruta. A questão é bastante desafiadora, já que se trata de uma meta

ambiciosa, de praticamente dobrar a matrícula na educação superior até 2024.

Para fins de implementação das metas do PNE, a sociedade passou a requerer

políticas de ampliação de vagas na educação superior. Entretanto, essa compreensão

permite reconhecer que o Estado, de igual forma, deveria ter assumido a função de

acompanhamento da qualidade e ter criado critérios de análise dessa demanda, evitando

uma expansão desordenada que colocasse em risco a formação dos estudantes.

Gráfico 2 – Taxas de Escolarização na Educação Superior Fonte: MEC/Inep/Deed/(2012).

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A proposição de avaliar a qualidade da oferta por meio da análise dos

resultados dos cursos de Pedagogia no ciclo avaliativo do Sinaes pode gerar um forte

impacto. É justamente nas políticas de incentivo à formação docente que muitas vagas

foram ampliadas e novos cursos foram criados com o objetivo de atendimento à

demanda de formação docente para a educação básica. Tem-se como pressuposto que,

salvo melhor juízo, como não houve exigência de avaliação com vistas ao

reordenamento, qualificação e expansão dos cursos de Pedagogia, haveria qualidade de

padrões mínimos para a oferta desses cursos.

As orientações do PNE e as demais políticas educacionais, algumas delas já

elencadas, definem a compreensão da educação brasileira como um bem público.

Apesar das distorções conceituais ocorridas em razão da supervalorização do mercado

em detrimento da qualidade da formação do estudante, essa preocupação tem estado

presente na agenda das políticas públicas no Brasil e no mundo.

Contudo, algumas contradições aparecem sempre que se deseja ampliar o

acesso à educação: i) como bem público, a educação é ofertada no sentido pleno da

qualidade e as condições para sua estruturação passam por exigências legais e de

organização que podem reduzir o potencial de oferta pelas IES; ii) como serviço, a

educação é ofertada segundo padrões mínimos de qualidade e com incentivos nas

condições para sua estruturação, ampliando o potencial de oferta pelas IES.

Com uma análise crítica sobre as informações dos coordenadores de curso

relativas às concepções de educação como um bem público e de educação como serviço,

percebe-se que elas podem coexistir no sistema educacional, situação que precisa ser

pensada no desenvolvimento dos cursos de graduação, já que fortalece a necessidade de

ampliar o escopo da avaliação da qualidade do sistema federal de ensino. A existência

de ambas as concepções pode ser um indicativo de que a avaliação tem servido à prática

regulatória, posto que uma avaliação indutora de qualidade não serviria a um curso com

missão e princípios da lógica do mercado.

Articulada à diretriz de elevação da meta de acesso à educação superior por

meio da expansão do sistema federal de educação superior, previstos em ambos os

documentos do PNE, reconhece-se a concepção de educação como um bem público.

Define-se, então, que o Estado tem o dever de institucionalizar um amplo e

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diversificado sistema de avaliação interna e externa. Um sistema que englobe os setores,

público e privado, a fim de promover a melhoria da qualidade do ensino, da pesquisa, da

extensão e da gestão acadêmica.

Se o Sinaes foi implementado a partir das orientações do PNE (2001-2010) por

que, então, os resultados dessa instância oficial de avaliação do Estado não foram

investigados como diagnóstico para a criação das metas do novo PNE (2014-2024)?

Essa situação constitui, portanto, uma contradição. Se um dos objetivos do Sinaes é

orientar a expansão, por que os seus resultados foram desconsiderados para orientar as

metas de expansão do novo PNE? Seria uma falácia dizer que a avaliação orienta as

políticas de educação superior? Esse cenário de rápidas e importantes transformações na

educação superior, segundo Dias Sobrinho (2010),

[...] não poderia ter ocorrido sem a participação central da avaliação.

Por outro lado, as concepções e práticas de avaliação também se

alteram em conformidade com as mudanças de contexto, posto haver

relação de mútua implicação entre avaliação e reformas da educação

superior. Nesse contexto de expansão do setor empresarial, as IES e os

serviços que prestam são induzidos a se tornarem úteis e aderentes aos

interesses e necessidades da produção privada (p. 201).

Considerando o crescimento do número de vagas oferecidas na educação

superior e as políticas de preenchimento dessas vagas, com ampliação do Fies e do

ProUni, o desafio está em ampliar cada vez mais o acesso às vagas em IES privadas, já

que muitas delas não são preenchidas. Essas vagas não preenchidas, segundo Sousa

(2010), representam uma situação de ociosidade que poderá comprometer o

planejamento das IES. Nesse sentido, o autor faz um alerta, dizendo ser

[...] preciso lembrar que o crescente número de vagas ociosas na

educação superior privada no país poderá comprometer, sobremaneira,

a principal atividade dessas instituições – o ensino – que,

historicamente, tem se constituído, na maioria dessas IES, no cerne

dos seus planejamentos estratégicos. Nesta perspectiva, é razoável

supor que as vagas ociosas presentes em sua quase totalidade no setor

privado podem comprometer, a médio e longo prazo, a sobrevivência

de um considerável número de IES vinculadas ao setor, ainda que o

governo sinalize com políticas que, em última instância, tendem a

prestar certo socorro à saúde financeira de um grande número delas,

como é o caso do ProUni (p.12).

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Essa é uma questão que precisa ser mais contextualizada, para que se possa

identificar em qual situação ocorre essa sobra de vagas e por que sobram vagas depois

de estimada a demanda e autorizado o curso. A partir da análise dos cursos de

Pedagogia, esse fato pode ser explicado por uma demanda de vagas superestimadas para

aquela região e pelas condições socioeconômicas dos estudantes, que, mesmo com a

gratuidade no pagamento das mensalidades ou financiamento, ainda encontram

dificuldades para a continuidade dos estudos.

Um dos motivos para o não preenchimento das vagas pode ser decorrente, por

exemplo, da falta de complementaridade do financiamento estudantil para subsidiar

alimentação, material didático, transporte, ou mesmo moradia para o estudante, para

garantir a permanência dele no curso de graduação pretendido. Todos os dados

apresentados nesta pesquisa são debatidos a partir de associações com a política de

avaliação, fazendo as correlações necessárias para dar sentido à realidade da educação

superior no país. Os aspectos essenciais do Sinaes, seus fundamentos históricos e

conceituais, as categorias analíticas deste estudo (avaliação como política pública e

qualidade da educação superior) permitem uma leitura histórica das relações sociais e

podem ser consideradas possibilidades para o conhecimento do objeto nos seus aspectos

gerais (MINAYO, 2008).

A dialética do método possibilita transformar em realidade o que se pensa ou

projeta. Os dados são o conhecimento abstrato daquilo que se pretende realizar na

pesquisa e traz o significado que esses dados podem assumir no contexto estudado.

Dessa forma, fazer a crítica em tempo real constituiu importante contribuição para o

debate a respeito das tendências da política de avaliação. Em uma análise fundamentada

na prática do uso dos resultados da avaliação pelo Estado, foi fundamental reconhecer

as correlações de força entre a regulação e a avaliação nos rumos dessa política.

Nesse contexto, conforme os dados do Censo da Educação Superior de 2012

(INEP, 2013), a expansão é apresentada de forma ascendente (Tabela 5), tanto na esfera

privada como na pública. Registra-se o funcionamento de 31.816 cursos de graduação e

destes, 1.446 cursos (4,5%) criados no último ano.

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A situação da expansão da educação superior não é diferente quando se trata do

número de cursos ofertados e de matrículas dos estudantes. De acordo com o Censo da

Educação Superior (INEP, 2013), os 7.037.688 milhões de estudantes matriculados em

2012, na modalidade presencial e a distância, estudam em 31.866 cursos de graduação.

Destes, 10.905 cursos são de IES públicas (34,2%) e 20.961cursos são de IES privadas

(65,8%). Corroborando essa distribuição dos cursos, apenas 1,8 milhões de estudantes

(27%) estão matriculados na rede pública de ensino e 5,1 milhões de estudantes (73%)

na rede privada.

Parece haver, portanto, uma tendência de expansão, com relevância ainda

maior quando se trata de cursos de licenciatura e, em especial, nos cursos de Pedagogia,

objeto deste estudo. Do total de 31.866 cursos de graduação no país, em 2012, 1.684 são

de Pedagogia. O total de matrículas nos cursos de Pedagogia nesse mesmo ano é de

603.266 estudantes, o que representa 8,6% das matrículas dos cursos de graduação do

país (BRASIL, 2013).

Tabela 5 – Estatísticas básicas da graduação (presencial e a distância) por categoria

administrativa – Brasil (2012)

Fonte: MEC/Inep/Deed (2013).

A expansão da educação superior tem sido demonstrada principalmente nos

dez maiores cursos de graduação ofertados pelo sistema educacional brasileiro (Tabela

6). Juntos, esses cursos representam a maioria das matrículas no país, 66% do total.

Entre esses dez cursos com maior número de matrículas, dois são de licenciatura:

Pedagogia e Letras. Destaca-se, portanto, que esses dados justificam a escolha dos

cursos de Pedagogia para a presente pesquisa.

Categoria Administrativa

Total Geral Pública Privada

Total Federal Estadual Municipal

Instituições 2.416 304 103 116 85 2.112

Cursos 31.866 10.905 5.978 3.679 1.248 20.961

Matrículas 7.037.688 1.897.376 1.087.413 625.283 184.680 5.140.312

Ingressos 2.747.089 547.897 334.212 152.603 61.082 2.199.192

Concluintes 1.050.413 237.546 111.165 96.374 30.007 812.867

Funções

docentes 378.939 160.374 95.615 52.494 12.265 218.565

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Tabela 6– Cursos de graduação com maior número de matrículas – Brasil (2012)

Fonte: MEC/Inep/Deed (2013).

Com estes dados, justifica-se a pesquisa dos cursos de Pedagogia pela sua

representatividade em termos de quantidade de matrículas e também pela importância

de interpretar a qualidade da oferta para a formação dos egressos dos cursos. Portanto,

uma realidade estratégica pela relevância da área no desenvolvimento do país.

No movimento de expansão dos cursos de Pedagogia, registram-se avanços em

termos de quantidade de cursos, notada principalmente no âmbito da organização da sua

oferta. Como efeito da análise dos cursos de Pedagogia nos ciclos avaliativos do Sinaes,

pode-se inferir, portanto, que a avaliação tem pautado a política regulatória e

desconsiderado a avaliação como principio indutor de qualidade.

2.6. CONCLUSÃO

Nas últimas décadas, como parte do objetivo de garantia da qualidade na

educação superior, ampliou-se o conceito de cidadania, que tem a ver com as condições

básicas de participação, o que extrapola as questões educacionais. É com essa

configuração que o Sinaes passou a ser estruturado. Por meio dos conceitos atribuídos

às IES e aos cursos de graduação, a gestão acadêmica e institucional acompanha a oferta

Curso Matricula 2012 % Administração 1.325.374 18,8% Engenharia 802.454 11,4%

Direito 737.271 10,5% Pedagogia 603.266 8,6% Ciências Contábeis 313.174 4,4%

Computação e Sistemas de Informação 278.138 4% Enfermagem 234.714 3,3% Comunicação Social 217.159 3,1%

Educação Física 186.276 2,6% Letras 181.007 2,6% Outros Cursos 2.158.855 30,70

Total de Matrículas na graduação 7.037.688 100,00

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da educação superior, podendo identificar pontos que precisam ser aperfeiçoados ou

mesmo medidas a serem implementadas com a finalidade indutora de qualidade.

Iluminando o objeto estudado, tem-se a totalidade como ponto de partida do

processo dialético. Por um lado, existiram ganhos consideráveis em direção ao uso dos

resultados da avaliação em uma sociedade capitalista. Entretanto, o mais importante

parece ser a preocupação com os aspectos constitutivos do Sinaes para as estruturas

sociais objetivas do que para superar a herança burguesa e avançar numa proposta

transformadora da sociedade por meio da indução da qualidade na educação. As

relações econômicas segundo Marx (1968) são baseadas

[...] nas relações de produção, fundamentais na estrutura social, as

relações econômicas são relações sociais porque não são relações

entre coisas, mas entre homens que se relacionam socialmente entre si

através de grupos fundamentais (p. 81-82).

Cabe considerar, entretanto, que no percurso da avaliação dos cursos de

Pedagogia, mesmo que tenha sido cumprido o papel da avaliação para fins de subsidiar

o aspecto regulatório, ainda assim, se a visão da avaliação estiver ancorada na atitude

formativa e emancipatória, poderão existir diversos elementos para se analisar e

melhorar a qualidade do curso. Nesse ponto, encontra-se a mediação como aproximação

do método marxista.

Por esse motivo, inclui-se como atribuição da avaliação oportunizar o

diagnóstico da realidade e promover a reflexão sobre os resultados da avaliação, além

de favorecer a melhoria da qualidade da formação dos estudantes. Cabe ao Estado

supervisionar a oferta da educação superior de qualidade, entendida como bem público

destinado a toda a população brasileira.

Caracterizando o movimento realizado no estudo, surgiram algumas limitações

do processo de avaliação para atender aos desafios de gerar e impulsionar mais

qualidade. Destaca-se, nesta análise, que as bases conceituais que sustentam a avaliação

emancipatória estão pautadas na avaliação formativa e que a atividade regulatória está

centrada na avaliação de resultados. Essas diferenças conceituais, historicamente

compreendidas como dicotômicas, foram percebidas no processo avaliativo, entretanto

de modo a serem complementares e com proposta de análise integrada.

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Para se chegar a tais evidências, foi necessária a constatação fática advinda: i)

das transformações ocorridas nos dez anos de implementação do Sinaes; ii) da análise

do contexto histórico de usos dos resultados da avaliação; e iii) do dinamismo da

prática, com todas as contradições que se operam no âmbito social. Enfim, como

contribuições desse trabalho, foram estudadas as tendências e as possíveis dicotomias

existentes no processo de avaliação dos cursos de Pedagogia e os instrumentos

regulatórios. Quando observados de modo sistematizado, todos os processos de

avaliação do Sinaes, e na ordem em que foram implementados, os respectivos

instrumentos de avaliação, caracterizaram-se na medida de qualidade da oferta desses

cursos.

Até aqui, o processo de avaliação vem se definindo como um instrumento de

regulação e de melhoria da gestão do Estado e de qualquer outra instituição ou pessoa

envolvida na coordenação da ação avaliada. Como política pública de avaliação, deveria

oferecer à sociedade informações descritivas, analíticas, reflexivas e inovadoras, no

sentido de propiciar o desenvolvimento de novas ações mais abrangentes e inclusivas.

Todavia, a avaliação tem tido baixa representação no âmbito interno da IES e não tem

avançado na configuração de uma ação indutora de qualidade. Essa situação pode

refletir a invisibilidade do uso dos resultados da avaliação, e por isso, a desvalorização

como agente de melhoria da gestão.

Com essa intenção, na análise dos cursos de Pedagogia, procurou-se

estabelecer a relação entre a avaliação e a expansão ocorrida nos últimos anos. Embora

possa haver, nessa comparação, certo tensionamento entre as IES públicas e as IES

privadas pelas diferenças na forma de financiamento, a proposta do Sinaes visa

constituir um efetivo sistema integrador. Nessa perspectiva, os resultados da avaliação

poderão servir para a instalação de políticas educativas de abrangência nacional e,

também no âmbito institucional, formuladas no interior de cada instituição.

Feitas as ponderações acerca das políticas, princípios e diretrizes do Sinaes,

analisados os efeitos da avaliação sobre a expansão da educação superior e a dinâmica

das práticas de gestão do Estado, realiza-se, no próximo capítulo, o aprofundamento

temático sobre a qualidade da educação superior. Ressalta-se, portanto, a necessidade de

conhecer os conceitos de qualidade em educação, construídos pela sociedade, bem

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como a responsabilidade atribuída à comunidade acadêmica no seu desenvolvimento, a

fim de compartilhar as ideias e os projetos educacionais com o propósito de permitir o

aprofundamento teórico sobre avaliação da educação superior.

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CAPÍTULO 3 – PROMOÇÃO DA QUALIDADE E AVALIAÇÃO DA

EDUCAÇÃO SUPERIOR

Em que consistia a qualidade característica

do Estado, até então? A sociedade tinha

criado originalmente os seus órgãos

próprios, por simples divisão do trabalho,

para cuidar dos seus interesses comuns. Mas

estes órgãos, cuja cúpula é o poder de

Estado, tinham-se transformado com o

tempo, ao serviço dos seus próprios

interesses particulares, de servidores da

sociedade em senhores dela (MARX;

ENGELS, 1984, p. 21).

3.1. INTRODUÇÃO

Explorando os aspectos do objeto em discussão, já se analisaram, nos capítulos

anteriores do estudo, o papel do Estado na gestão da educação superior e as políticas,

diretrizes e princípios do Sinaes. Assim, no intuito de reconhecer a finalidade da

avaliação, para regular a e/ou induzir à qualidade, aprofundam-se, na sequência desta

pesquisa, a análise sobre a relação entre a promoção da qualidade e a avaliação da

educação superior.

Nesse sentido, torna-se essencial refletir sobre os referenciais de qualidade da

educação superior na evolução dos padrões nacionais, com base em evidências de

melhoria no desenvolvimento da formação dos estudantes, de seus conhecimentos,

habilidades, perspectivas, atitudes e valores essenciais para a sua profissão. Agrega-se a

essa compreensão o significado desses referenciais de qualidade na formulação de

metas, estratégias, ações, programas e políticas da educação superior.

À luz de movimentos internacionais que se tornam comuns pelo processo de

globalização, a qualidade orienta a política pública de avaliação e se constitui um

objetivo a ser alcançado por todos os países. Dessa forma, é necessário aprofundar o

conhecimento sobre qualidade da educação pelos atores institucionais e analisar os

aspectos da gestão que podem influenciar o desenvolvimento da qualidade. Com base

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nos conceitos de qualidade construídos, analisam-se, portanto, os efeitos no contexto

dos cursos de Pedagogia.

3.2. REFERENCIAIS SOBRE A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO

Considerando as mudanças que se sucederam na política educacional desde a

implementação do Sinaes, a análise dos cursos de Pedagogia nos ciclos avaliativos,

desenvolvida nesta pesquisa, propicia discutir a concepção de qualidade presente na

gestão do Estado e dos cursos. O conceito de qualidade atribuído à gestão reflete as

influências na sua organização pedagógica e o impacto da política de avaliação no

panorama dos cursos, em especial com relação às necessidades da formação docente.

Relembrando o papel do Estado, o documento do Sinaes (INEP, 2009) afirma

que não se limita à regulação no sentido do controle burocrático e ordenamento;

compete-lhe também

[...] avaliar a educação superior de modo a fornecer elementos para a

reflexão e propiciar melhores condições de desenvolvimento. Cabe

aos organismos de governo e às instituições educativas elaborar

diagnósticos gerais sobre a qualidade, a relevância social e científica,

a equidade, a democratização do acesso, o desenvolvimento da

produção científica, artística e tecnológica, etc., no âmbito da

educação superior. Para superar a concepção e a prática da regulação

como mera função burocrática e legalista, é necessário constituir uma

outra lógica, com um outro sentido filosófico, ético e político: que a

regulação não se esgote em si mesma, e, principalmente, articulada à

avaliação educativa propriamente dita, seja também uma prática

formativa e construtiva (p. 60).

Com essa compreensão, a qualidade da educação superior impulsionada pelo

Sinaes assume maior importância nas políticas públicas implementadas sob a gestão do

Estado. No patamar das IES, a qualidade tem o objetivo de melhorar a formação dos

estudantes para garantir pleno exercício profissional, além de responder às necessidades

do desenvolvimento humano, social, econômico e cultural do país. Essa perspectiva

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exige um olhar da avaliação para a superação das dificuldades e o impulso na melhoria

da qualidade.

Nas referências elaboradas sobre qualidade, identificaram-se aspectos

contraditórios que estão subjacentes às concepções dos atores institucionais e que se

revelaram na forma de uso dos resultados da avaliação pela gestão. Evidencia-se,

portanto, que mesmo havendo um discurso da promoção qualidade, por meio da

regulação se mantém, em muitas situações, a tradicional forma de controle do Estado,

que pune as IES que não alcançam o padrão mínimo de qualidade, sem analisar o

processo desenvolvido em cada um dos instrumentos de avaliação aplicados aos cursos

e aos estudantes.

Para compreender a noção de qualidade empreendida na gestão dos cursos de

Pedagogia em relação aos processos avaliativos e regulatórios do sistema educacional

brasileiro, tomaram-se como referência para análise os resultados do desempenho no

Enade, os insumos atribuídos ao CPC e também o relatório da avaliação in loco em

todas as suas dimensões. Essas análises possibilitaram compreender a totalidade do

processo de avaliação e o impacto do uso dos resultados do Sinaes para a qualidade. As

análises estarão circunstanciadas nos capítulos seguintes, dedicados à discussão do

processo de avaliação e dos cursos de Pedagogia nos ciclos avaliativos do Sinaes.

O desempenho dos estudantes como parte integrante do Sinaes tem sido cada

vez mais utilizado para medir a qualidade da educação superior, uma vez que a

experiência de ingresso no mundo do trabalho será o reflexo de sua própria formação.

Para tanto, é fundamental registrar a importância do Sinaes para verificar a consonância

das DCN dos cursos de Pedagogia em relação à formação profissional do egresso, que

possibilite compreender a concepção de mundo, a história da humanidade e a realidade

em que se vive.

Ao avaliar um projeto de curso que se propõe a ampliar a visão de mundo

realizada pela ação prática do estudante no desenvolvimento da sociedade, faz-se

referência aos estudos embasados na filosofia socrática,133 ressaltando que uma vida

extremamente vivida passa pelo conhecimento da forma de entender o mundo. Ao

133 Sócrates foi um homem de ação: um prático. Seu pensamento foi o de uma moral orientada para a vida, um

sistema acima de tudo prático (PESSANHA, 1980).

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mesmo tempo, menciona a relação dialética do pensamento e da prática de ensinar e

aprender, fazendo menção à crítica que se apresenta à educação como uma atitude de

permanente procura do saber, aliada a um compromisso com esse saber (PESSANHA,

1980).

O que se manifesta a partir dessa ideia é a relação que pode existir entre a

avaliação e a busca constante pela qualidade da educação superior, já que o desafio está

na ação mediada entre a aprendizagem e o desenvolvimento, tendo em vista ser a

educação o principal produto relacionado à formação do estudante.

Nessa compreensão, se é a formação do estudante que se caracteriza como uma

boa medida de qualidade do processo de avaliação, evidenciar a qualidade das IES e dos

cursos de graduação é uma experiência que mobiliza as famílias e os estudantes.

Ampliando essa visão, torna-se importante destacar que, para evidenciar a qualidade da

educação superior, deve-se buscar, em primeira instância, analisar as informações da

avaliação com referência na eficiência, eficácia, efetividade e relevância134 que a

educação adquire no contexto regional e local, sempre com a perspectiva de

desenvolvimento pessoal, profissional e social.

Nesse entendimento, a aplicação do Enade tem ganhado cada vez mais

significado no processo de avaliação, já que tem o firme propósito de avaliar a

qualidade dos cursos, a partir do desempenho dos estudantes. De modo geral, ao

analisar os dados resultantes do exame e divulgar se um curso de educação superior tem

qualidade, está se explicitando um juízo sobre o valor do curso.

Portanto, considerando os objetivos do Enade, analisou-se neste estudo o

desempenho dos cursos de Pedagogia, a fim de verificar as contribuições da avaliação

na melhoria de qualidade da formação dos estudantes. O que se pretendeu, portanto, foi

identificar em que medida o Enade, como componente do Sinaes, interage na política de

avaliação como atividade processual e indutora de qualidade, ou se é considerado um

mero resultado atribuído ao curso, com conceitos utilizados para fins de comparação e

134 A eficiência é o critério econômico que revela a capacidade administrativa de produzir o máximo de resultados

com o mínimo de recursos, energia e tempo. A eficácia é o critério institucional que revela a capacidade

administrativa para alcançar as metas estabelecidas ou os resultados propostos. A efetividade é o critério político

que reflete a capacidade administrativa para satisfazer as demandas concretas feitas pela comunidade externa. A

relevância, por sua vez, é o critério cultural que mede o desempenho administrativo em termos de importância,

significação, pertinência e valor (SANDER, 1995).

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incentivo à competição. Por sua vez, se o Enade for visto apenas como um resultado da

prova individual dos estudantes, estará conferindo ao Estado poder para regular, porém

essa ação se contrapõe à concepção diagnóstica e formativa da avaliação e inviabiliza

um processo de melhoria contínua.

Nessa perspectiva, é fundamental reconhecer que, como ciência social, a

Pedagogia está atrelada aos aspectos da constituição da sociedade e também às normas

educacionais do país. Portanto, o desenvolvimento de um projeto pedagógico deve ter

como objetivo principal a melhoria da qualidade da formação dos estudantes, por meio

da reflexão, sistematização e produção de conhecimentos.

Sob essa lógica, a qualidade dos cursos de Pedagogia somente pode ser

compreendida na relação entre o projeto pedagógico e a expectativa dos seus estudantes.

Essa relação é explicitada por Demo (2001), quando define os conceitos de qualidade

formal como “habilidade de manejar meios, instrumentos, formas, técnicas,

procedimentos diante dos desafios do desenvolvimento” e de qualidade política como

“condição básica a participação do indivíduo, relacionando-se a fins, valores e

conteúdos” (p. 14). Para o autor, a qualidade se aproxima da ideia de projeto realizado e

bem avaliado, sobretudo porque a qualidade está diretamente ligada à ação humana e,

por assim ser, fica condicionada ao modo de fazer em consonância com a quantidade:

Quantidade, para qualidade, é base e condição. Como base, significa o

concreto material, de que também é feita a vida. É corpo, tamanho,

número, extensão. Como condição, indica que toda pretensão

qualitativa passa igualmente pela quantidade, nem que seja como

simples meio, instrumento, insumo. [...] Qualidade, por sua vez,

aponta para a dimensão da intensidade. Tem a ver com profundidade,

perfeição, principalmente com participação e criação. Está mais para

ser do que para ter (p. 10).

Mais um conceito importante para a educação é o de qualidade acadêmica,

social e educativa. A qualidade acadêmica definida como a capacidade de produção

original de conhecimento, da qual depende intrinsecamente a docência; a qualidade

social como a capacidade de identificação comunitária, local e regional, bem como com

relação ao problema; e a qualidade educativa como a formação da elite, no sentido

educativo (DEMO, 2001).

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Outro autor que conceitua qualidade em educação é Scriven (1991). Para ele, a

qualidade é definida pelos atributos de valor e mérito. Nesse contexto, um curso tem

valor quando os seus recursos são aplicados para atender às necessidades dos

estudantes; e tem mérito quando faz bem o que se propôs a realizar.

Aliado aos critérios de eficiência, eficácia, efetividade e relevância, que devem

estar em permanente articulação com o conceito de qualidade na gestão da educação,

acrescentam-se as dimensões instrumentais (econômica e pedagógica), subsumidas nas

dimensões substantivas (política e cultural). Assim como as dimensões extrínsecas

(política e econômica) são subsumidas pelas dimensões intrínsecas (cultural e

pedagógica). Para o autor, esses critérios são características fundamentais de uma boa

gestão e devem estar intrinsecamente relacionados com o processo de avaliação

(SANDER, 1995).

Em seu estudo, Sander (1995) fundamenta o conceito de qualidade em

educação na dinâmica do processo que ocorre “na desconstrução e reconstrução dos

conhecimentos acumulados historicamente, constituindo-se uma tentativa de síntese

teórica da experiência latino-americana de administração no contexto internacional” (p.

40).

Articulando os conceitos de qualidade em educação, trazidos por Sander

(1995), Demo (2001) e Scriven (1991), e fazendo uma analogia com a qualidade de um

curso de educação superior, pode-se inferir que qualidade da educação é um assunto de

muitas pessoas em um mesmo sistema, conforme exemplificado a seguir: i) para o

estudante, mais do que um diploma, significa uma profissão; ii) para a IES, mais do que

produzir conhecimento, significa informar como se faz pesquisa e disponibilizar a

todos; e iii) para o Estado, mais do que autorizar o funcionamento dos cursos e registrar

a expansão das matrículas, significa informar a sociedade e orientar formas de tomar

conta dos problemas da educação superior no país.

Alinhado aos autores mencionados, Davok (2007) argumenta que “valor e

mérito são condições necessárias para um objeto educacional exibir qualidade, sendo a

efetividade e a relevância condições necessárias para ele ter valor, eficiência e eficácia,

condições necessárias para ele ter mérito” (p. 512). A partir desses conceitos de

qualidade em educação e respectivos critérios de avaliação, quando um curso não tem

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relevância e efetividade, é porque não tem valor. De igual forma, se não tiver eficácia e

eficiência, é porque não tem mérito. Portanto, para um curso de graduação ser de

qualidade, terá de demonstrar, por meio da avaliação, sua relevância, efetividade,

eficácia e eficiência acadêmica, nos termos explicitados anteriormente.

A apropriação desses conceitos de qualidade em educação é indispensável à

compreensão das finalidades do Sinaes. Em uma análise das dimensões que o

constituem, ressalta-se a necessária articulação entre: i) avaliação educativa de natureza

formativa, voltada à atribuição de juízos de valor e mérito, com o objetivo de aumentar

a qualidade e as capacidades de emancipação; e ii) regulação, em suas funções de

supervisão, fiscalização, decisões concretas de autorização, credenciamento,

recredenciamento, descredenciamento, transformação institucional, entre outras funções

próprias da constituição do Estado (INEP, 2009).

Nessa perspectiva, muitos desafios precisam ser superados para promover a

articulação entre avaliação formativa e regulação da oferta e estabelecer uma sólida e

verdadeira cultura de avaliação que contribua para o processo de melhoria da qualidade.

Nas dimensões operacionais da avaliação, destacam-se análises críticas que

ocorreram ao longo deste estudo e que impactaram a qualidade da gestão: a

burocratização, os espaços de reflexão sobre o processo de avaliação, a permanente

capacitação de avaliadores e avaliados, a estrutura de avaliação voltada à diversificação

e inovação dos projetos pedagógicos e a investigação sobre avaliação. A análise desses

temas constituiu-se uma meta-avaliação e são fundamentais para retroalimentar o

Sinaes.

Para avaliar a avaliação, Worthen, Sanders e Fitzpatrick (2004) afirmam que é

preciso estabelecer diretrizes de análise da qualidade do próprio processo de avaliação,

quanto à: i) utilidade (se atende às necessidades de informação da sociedade); ii)

viabilidade (se está de acordo com a realidade); iii) propriedade (se tem confiabilidade

ética para influenciar a sociedade e legitimidade para validar os resultados); e iv)

precisão (se traz informações técnicas de valor ou mérito do que está sendo avaliado).

Esses indicadores são essenciais para revelar a validade do processo de avaliação.

Seguindo a lógica da avaliação para subsidiar os processos de supervisão e

regulação da educação superior, as normas básicas devem estar presentes, e os

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instrumentos de avaliação devem ser revisados periodicamente, visando alcançar o

objetivo de garantir a qualidade da educação superior.

Assume-se, portanto, que os referenciais de qualidade fazem parte da

organização no Sinaes, tornando evidente a preocupação com o papel das IES e do

Estado para a sociedade, bem como as necessidades e as lacunas identificadas para

avançar na finalidade de formar profissionais para atuarem no mercado em constantes

transformações sociais.

Apoiando essa discussão, Clímaco (2005) agrupa quatro categorias de análise

da qualidade da avaliação: utilidade, propriedade, viabilidade, precisão. Essas

categorias, depois de definidas, funcionam para a avaliação como critérios de qualidade:

a) Normas de utilidade – a avaliação deve dirigir-se para aqueles

que estão implicados no programa ou situação educativa em

causa, nomeadamente os que têm responsabilidades de gestão

ou capacidade decisória. [...];

b) Normas de exiquibilidade [sic] ou viabilidade – um programa

de avaliação tem de ser de execução simples, para ser eficiente

e não ficar preso nos problemas que cria e que podem decorrer

dos métodos que utiliza, quer do controlo político que pode

atrair sobre o próprio processo avaliativo. [...]

c) Normas de ética – a condução do processo avaliativo deve

assentar em metodologias explicitas, donde conste claramente

em que pontos se espera a colaboração entre avaliadores e

avaliados, como se protegem os direitos das partes interessadas

e se garante equidade na análise dos resultados.

d) Normas de exactidão [sic] – a avaliação tem de descrever com

clareza a relação do objecto [sic] em avaliação com o contexto

em que se insere a sua evolução (p. 109).

Dessa forma, investir no desenvolvimento dos cursos é entender que a

educação superior pode se constituir um instrumento estratégico da política econômica,

se o nível da atividade profissional for elevado tanto em quantidade quanto em

qualidade. Além disso, se for abordada do ponto de vista da formação contínua e da

política de emprego, a educação superior oportunizará dinamizar o trabalho numa

perspectiva de desenvolvimento dos indivíduos.

Ter essa visão é essencial, sobretudo, quando na prática, têm-se desafios a

serem conhecidos e superados a partir das informações coletadas nos processos de

avaliação. Por isso, não se justifica a concepção pragmática da avaliação como

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instrumento de prestação de contas em detrimento de um processo reflexivo, crítico,

formativo e/ou emancipador.

Dias Sobrinho (2002) ressalta que o termo “formativo” não raro é utilizado

apenas para mencionar que a avaliação deve promover reflexão e revisão de atividades,

direcionando os próximos passos para a melhoria e a correção dos problemas e

dificuldades ou mesmo para afirmar o êxito obtido. Entretanto, quando a questão é o

desenvolvimento de valores tais como os de justiça social, paz, pertinência, cidadania,

independência intelectual, felicidade, solidariedade, liberdade, fraternidade, igualdade,

respeito à alteridade e outros, o termo “formativo” reforça a posição do Sinaes enquanto

espaço de articulação social.

Nessa perspectiva, destacam-se algumas contribuições para a definição do

conceito de qualidade, produzidas na Conferência Mundial sobre Ensino Superior,

realizada em 1998, na cidade de Paris, na França. A reunião teve como objetivo

encontrar soluções para os desafios da globalização e criar um amplo movimento de

reforma na educação superior. Dessa reunião, foi publicado o documento Declaração

Mundial sobre Educação Superior no Século XXI: visão e ação, que apresenta a

educação superior como sendo o centro do sistema educacional e um bem público de

importante valor na sociedade. Nesse debate, a melhoria da qualidade da educação

superior incluiu-se como estratégia para exigir da gestão do Estado atitude e

responsabilidade com a expansão e a formação profissional em nível superior.

Essa orientação internacional transformou a política de avaliação em foco de

debates, análises, estudos e políticas nas últimas décadas, identificando fortemente a

função de controle que o Estado pode exercer na educação superior. Como

consequência desse movimento, tem-se o marco legal, para determinar a

responsabilidade social com o desenvolvimento da cidadania, a ser cumprida pelas IES

a partir do vínculo entre o ensino, a pesquisa e a extensão.

No contexto brasileiro, a qualidade reflete a compreensão de avaliação

institucional estandardizada,135 condição para a empregabibilidade dos egressos, respeito

135 A avaliação estandardizada visa ao controle de objetivos previamente definidos. Essa modalidade de avaliação

permite evidenciar, por um lado, o Estado, que quer controlar mais de perto os resultados educacionais (Estado-

Avaliador) e, por outro, partilhar do resultado com os pais, vistos como clientes ou consumidores (AFONSO,

1999).

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às especificidades locais e promoção de equidade136 (MOROSINI, 2001, 2011). Nesse

contexto, a autora, define três possibilidades de classificação da qualidade: isomórfica,

da diversidade e da equidade: i) a qualidade isomórfica pode ser sintetizada como a

qualidade de modelo único, que discute desde princípios financeiros até o conceito

central de qualidade. Inclui-se nesse tipo avaliar a qualidade com o objetivo do

credenciamento de instituições e/ou de cursos até programas de auditoria; avaliar

programas de estudos até realizar uma avaliação institucional; avaliar a qualidade da

educação superior para a empregabilidade de seus egressos até construir um arcabouço

teórico sobre o tema; ii) a qualidade da diversidade pode ser sintetizada como a

presença de indicadores estandardizados juntamente com a preservação do diferente.

Essa concepção de qualidade reflete a realidade da União Europeia, pela necessidade de

preservar os Estados-Membros, respeitando suas diferenças e integrando os países pelas

suas diferenças. Assim, pode-se dizer que não há um único padrão de qualidade da

educação superior, mas uma base sobre a qual o princípio da qualidade tem melhor

adaptação para o país e; iii) a qualidade da equidade, que está centrada na concepção de

tratamento diferenciado para quem é diferente. Esse entendimento reflete concepções

existentes em regiões com grandes diferenças entre os estratos sociais, a exemplo do

Brasil e da América Latina. Nessa caracterização, a qualidade está para além da simples

padronização de indicadores, abarcando estudos qualitativos e quantitativos.

Acrescenta-se que os conceitos de qualidade destacados pela autora trazem em

seu bojo um juízo de valor que é construído socialmente e podem afirmar a relação

histórica da qualidade com os processos de avaliação e o conhecimento obtido da

realidade após análise dos resultados da avaliação. Portanto, considerando que avaliar

faz parte da arte de conhecer a realidade, ao desenvolver a pesquisa, refletiu-se sobre o

processo de construção do conceito de qualidade nas diferentes fases históricas do

processo de avaliação da educação superior.

136 A qualidade universitária como empregabilidade é considerada multidimensional e complexa, o que impõe

dificuldades de avaliação. É medida por qualidades pessoais, habilidades-chave, desenvolvimento de habilidades

e metacognição (MOROSINI, 2011).

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Esses conceitos de qualidade estiveram permeados na relação com

planejamento, ação, avaliação e promoção da própria qualidade, sobressaindo, ainda,

como fatores determinantes da redução e/ou elevação do seu potencial indutor.

Na política de avaliação da educação superior, cabe destacar o dinamismo dos

processos como construto do conceito de qualidade. Passados dez anos de

implementação do Sinaes, suas ações se modificaram devido a circunstâncias sociais,

políticas, econômicas e/ou técnicas. Para a Organização das Nações Unidas para a

Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) (2003), a qualidade tornou-se um conceito

dinâmico,

[...] que precisa adaptar-se permanentemente para um mundo cujas

sociedades estão experimentando profundas transformações sociais e

econômicas. É cada vez mais importante para estimular a capacidade

de previsão e antecipação. Já não é suficiente com os antigos critérios

de qualidade (p. 1).

Além do conceito de qualidade como um processo complexo, dinâmico,

historicamente construído, com múltiplas definições (UNESCO, 2003), outros conceitos

de qualidade são importantes destacar: i) qualidade como um conceito referente, tal

como a liberdade e a justiça (GREEN, 1994); ii) qualidade como uma série de valores e

marcos de referências particulares, representando coisas diferentes para pessoas

distintas (ESTRADA, 1999); iii) qualidade como um conceito reconstruído

constantemente a partir da autonomia de cada instituição, para refletir, propor e agir na

busca da qualidade da educação (UNICEF, 2004); iv) qualidade como um conceito

instável,com uma larga variedade de significados (SAHNEY; BANWET; KARUNES,

2004); v) qualidade como um conceito multidimensional e dinâmico que se relaciona ao

contexto da missão e dos objetivos institucionais, aos padrões de um determinado

sistema, instituição, programa ou disciplina, assumindo diferentes significados

conforme os interesses de diferentes grupos, suas referências, atributos e/ou períodos

históricos do desenvolvimento da educação superior (VLÃSCEANU; GRÜNBERG;

PÂRLEA, 2004); e vi) qualidade como um termo genérico ligado a monitoramento da

educação superior (HARVEY, 2006).

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Diante das produções citadas, conclui-se que existem diferentes e legítimos

conceitos de qualidade: como medida, como prioridade para a formação e

empregabilidade, como equidade, ou outra finalidade. Nesse contexto, as IES brasileiras

têm demonstrado dificuldade em desenvolver seu próprio conceito de qualidade. Sob o

cenário eminentemente político, o exercício burocrático de avaliação parece ter

reduzido o problema da avaliação às questões técnicas, como baixa produção de

conhecimento. Isso se deve ao não reconhecimento da complexidade da avaliação da

educação superior e, consequentemente, às dificuldades encontradas para atuar em

consonância com o projeto de modernização da educação superior.

Do ponto de vista deste estudo, pressupondo a necessária articulação da

avaliação com a melhoria da qualidade, investe-se em um conceito que supere a

insuficiência das informações produzidas pela avaliação e que tenha abrangência sobre:

i) a visão de mundo dos envolvidos, ii) a amplitude dos indicadores e iii) os efeitos no

sistema educacional. Destarte, o conceito que mais se aproxima dessa intenção é o de

que a qualidade está estritamente vinculada ao processo de avaliação interna e externa

da organização do sistema educacional e das IES, com informações sistemáticas e

globais sobre o desempenho, as relações, as atitudes e as propostas, que são elaboradas

e reelaboradas com efeito na mudança da realidade educacional.

Ampliando o debate sobre a qualidade se enfatiza a necessária relação com a

expansão. Na Conferência Regional de Educação Superior na América Latina e no

Caribe (CRES), realizada na cidade de Cartagena de Índias, na Colômbia, os

participantes evidenciaram a necessidade de criar e implementar ações de expansão da

educação superior. Um dos aspectos ressaltados à época, no documento do Instituto

Internacional da Unesco para a Educação Superior na América Latina e no Caribe

(Isealc), foi a importância do conhecimento para a superação da injustiça social,

destacando que os recursos humanos e o conhecimento são as principais riquezas que

dispusemos (IESALC-UNESCO, 2008).

No Brasil, pode-se falar da existência de dois modelos vetores da expansão: o

da IES privadas, que considera os aspectos econômicos, e os programas do MEC para

fins de intercâmbio de estudantes e pesquisadores entre os países da América Latina, e

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de outros em desenvolvimento.137 Como exemplos dessa proposta de

internacionalização, têm-se a criação da Universidade Federal da Integração Latino

Americana (Unila), na fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina, e a Universidade da

Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), alinhada à integração

com o continente africano, principalmente com os países-membros da Comunidade dos

Países de Língua Portuguesa (CPLP). Ambas as instituições foram criadas em 2010,

além do recente Programa Ciência sem Fronteiras, criado em 2011.

Analisando esses movimentos, Morosini (2006) afirma que a educação superior

sofre forte influência da internacionalização, e isso faz aumentar as discussões sobre os

modelos de IES. A internacionalização é a marca das relações entre as universidades.

Por sua natureza produtora de conhecimento, a universidade

[...] sempre teve como norma a internacionalização da função

pesquisa, apoiada na autonomia do pesquisador. Já o ensino,

principalmente o de graduação, é controlado pelo estado e, no caso

brasileiro, fortemente, desde o processo de autorização e

reconhecimento de uma instituição, credenciamento de cursos,

adequação às diretrizes curriculares dos cursos, implantação e

execução do processo de avaliação até o reconhecimento de títulos e

diplomas realizados no exterior (p.108).

Essa perspectiva reflete a construção histórica do Estado, a sua relação com a

educação pública e a ideia de cidadania, temas sempre complexos e ambivalentes.

Fundado no materialismo histórico-dialético, o presente estudo buscou realizar a análise

das implicações políticas e culturais da avaliação, com todas as contradições inerentes

ao processo de construção de uma sociedade. Para tanto, analisou-se a qualidade como

eixo de sustentação para a compreensão da concepção histórica da avaliação como uma

prática social, com todas as contradições inerentes ao processo de construção de uma

sociedade. A posição estratégica da política de formação de professores da educação

básica no sistema educacional brasileiro tornou mais evidente, ainda, a necessidade de

137 O Programa Ciência sem Fronteiras busca promover a consolidação, expansão e internacionalização da ciência e

tecnologia, da inovação e da competitividade brasileira por meio do intercâmbio de alunos de graduação e pós-

graduação e da mobilidade internacional. O projeto prevê a concessão de até 75 mil bolsas em quatro anos

(BRASIL, 2011).

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assegurar a qualidade dos cursos de Pedagogia. O desafio é resolver a questão da

valorização da profissão.

As evidências do marco legal do Sinaes, sobre seus princípios formativos,

apontam para avanços na qualidade de cursos; entretanto, sob o ponto de vista das ações

decorrentes da avaliação, nos cursos de Pedagogia analisados, esses aspectos

permanecem distanciados da proposta de criação do sistema. Conclui-se, portanto, que,

para a gestão, a prática de avaliação continua a assumir uma postura de controle estatal,

segundo o qual, o foco está na função de regulação e controle, com predomínio sobre a

formação e a emancipação institucional.

Com caráter formativo, o Sinaes propõe uma interação entre avaliação e

regulação, com vistas ao aprimoramento dos cursos, à ampliação do compromisso social

das IES e consequente fortalecimento das políticas públicas. Dessa forma, pressupõe

uma lógica que altera a visão classificatória e utilitarista de mercado, marcada pela

competitividade e pelos rankings, que acaba por desvirtuar a concepção de avaliação

enquanto instrumento de desenvolvimento acadêmico.

Entretanto, para se chegar a tais constatações, é preciso colocar em evidência a

história da avaliação da educação superior e destacar a existência da concepção de

qualidade nas iniciativas realizadas pela gestão para sistematizar os resultados da

avaliação nos cursos de Pedagogia. A qualidade, no âmbito do Sinaes, passa pela

existência de critérios claros e objetivos, organizados de forma sistemática e abrangente,

envolvendo todos os processos, desde o educativo, o social e o humano, com a

finalidade de orientar os processos de avaliação e fortalecer o compromisso das IES de

transformar a realidade social.

Para fins de afirmação da qualidade da educação superior analisada neste

estudo, tem-se um conceito, formulado pela pesquisadora a partir das expectativas da

gestão do sistema e da garantia da qualidade da oferta dos cursos de graduação. Nesse

sentido, a qualidade está associada aos princípios de emancipação e autonomia,

asseguradas aos cursos e às IES, de acordo com seus planos, projetos e atividades

acadêmicas, avaliados a partir de padrões e critérios, consensuados pela gestão do

Estado e das IES que subsidiem a reinvenção de novas práticas.

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Contraditoriamente, observa-se em alguns discursos a concepção de avaliação

e de qualidade limitada a controlar a educação em detrimento dos processos

participativos e formativos que promovem a reflexão e os debates da comunidade

acadêmica e científica, descaracterizando os princípios de autonomia e emancipação

orientados pelo Sinaes.

Com esse entendimento, argumenta-se sobre a necessidade de estabelecer uma

relação entre a avaliação e a regulação, com possibilidade de indução de qualidade, para

compreender a forma com que a educação superior vem se expandindo no Brasil.

O questionário da pesquisa aplicado aos coordenadores dos cursos de

Pedagogia revelou a compreensão sobre a qualidade da educação138 e possibilitou

ampliar a visão sobre o tema, quando indica: i) a coexistência de uma abordagem

bastante ampla acerca deste conceito e ii) uma visão restrita de qualidade entendida

apenas no interior do contexto educacional, sem que este conceito de qualidade esteja

embasado na relação do estudante com os processos sociais dos quais ele participa. Na

sua exposição, um dos coordenadores demonstrou acreditar em um conceito abrangente.

Para ele:

Educação de qualidade é aquela que possibilita o desenvolvimento

social, cultural e político de um povo, especificamente aquela que

permite o acesso a instrumentos e habilidades a fim de que se possa

compreender a realidade e transformá-la numa perspectiva de justiça

social, enfim que possibilite a todos que sejam governantes (sentido

gramsciano) (Coordenador 8, informação textual, 2013).

A referência ao pensamento gramsciano, citada pelo coordenador na sua

resposta, denota conhecimento de um importante referencial teórico da discussão sobre

a qualidade da educação. Reflete a apreensão de conceitos como hegemonia, cultura e

formação de gestores, pois, para o autor italiano, é a política que determina a educação.

Neste caso, a concepção de qualidade da gestão demonstra reflexões que a

escola pode realizar no sentido de participar das decisões políticas da instituição de

educação superior e do próprio país.

138 Os coordenadores responderam ao questionário com a seguinte pergunta: “O que você entende por qualidade da

educação?”

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Segundo o pensamento de Gramsci (2004), a filosofia da práxis não tende a

resolver pacificamente as contradições existentes na história e na sociedade, mas é a

própria história de tais contradições; e assevera que

[...] não é o governo de grupos dominantes para ter o consenso e

exercer a hegemonia sobre as classes subalternas; mas é a expressão

destas classes que querem educar a si mesmas para a arte do governo e

têm interesse em conhecer todas as verdades, também as

desagradáveis, e evitar os enganos (impossíveis) da classe superior e

até de si mesma (p. 388).

Nessa perspectiva, a avaliação é um elemento fundamental para refletir sobre

os possíveis caminhos para a superação de dificuldades, ou mesmo, para destacar

aspectos de melhoria nas práticas realizadas. Esse pensamento eleva a discussão ao

patamar da existência de contradições e a importância do reconhecimento destas, pois

possibilita o conhecimento da realidade e a formação de consensos para mudar o

paradigma existente.

Assim, tem lógica a tese central desta pesquisa, de que os resultados da

avaliação têm sido utilizados como instrumento de regulação para a gestão do Estado;

entretanto, trazem ainda, poucas contribuições para a melhoria da qualidade, pois nem

todos os coordenadores demonstraram conhecimento do conceito de qualidade nesse

nível de abrangência.

Outro coordenador de curso destacou haver relação entre o conceito de

qualidade vinculado a um padrão de qualidade preestabelecido pela regulação. Para ele,

a “qualidade é o mínimo que se pode oferecer aos acadêmicos do curso, e isso está

expresso também nos critérios avaliativos propostos pelo MEC” (COORDENADOR 7,

informação textual, 2013).

Essa condicionalidade de atendimento a padrões mínimos, atribuída ao

conceito de qualidade, reduz o potencial de indução de políticas educacionais

transformadoras da sociedade. É como se a IES estivesse paralisada e aguardando

mudanças desses referenciais mínimos para avançar, enquanto que se poderia esperar

uma surpreendente mudança da realidade institucional, a partir dos caminhos apontados

pela avaliação com adequadas intervenções na política regulatória do país.

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Com um olhar voltado às características de gestão e planejamento, um dos

coordenadores diz que qualidade da educação significa

[...] projetos pedagógicos com objetivos e metas alcançáveis,

investimentos que priorizem a aprendizagem dos alunos, professores

qualificados e bem remunerados, gestão eficiente e sucesso escolar

dos educandos (COORDENADOR 9, informação textual, 2013).

Essa lógica pressupõe que a qualidade pode ser estimada e obtida com o

alcance dos objetivos propostos pela gestão. Claro que essa é apenas uma parcela do

entendimento sobre qualidade, que deve estar agregada à interpretação dos resultados da

avaliação. O conceito de qualidade expresso pelos coordenadores de curso justifica,

portanto, o caminho metodológico desta pesquisa, que consistiu em analisar a

contribuição do Enade e demais instrumentos de avaliação para a melhoria da qualidade

dos cursos de Pedagogia.

Portanto, sistematizam-se, a seguir, as ideias mais importantes elaboradas a

partir desta investigação. As problematizações e/ou contradições essenciais encontradas,

de acordo com o referencial teórico e metodológico do materialismo histórico-dialético,

apontam possibilidades em relação ao tema pesquisado, qual seja, avaliação como

subsidio para regular a e/ou induzir à qualidade.

No campo da avaliação, analisou-se o panorama dos cursos de Pedagogia,

segundo a categoria administrativa, a organização acadêmica e a distribuição

geográfica, com recorte para o período de implementação do Sinaes, desde 2004. Para

tal abordagem, emergiu a necessidade de contextualizar a situação dos cursos de

Pedagogia, a fim de avançar para uma caracterização do contexto da formação dos

estudantes, sua consistência e coerência com o perfil esperado para a atuação na

docência da educação básica. A reflexão parte da premissa na qual a construção do

processo de formação dos pedagogos sofreu muitas rupturas, com o objetivo de

esclarecer a identidade e a função social do curso de Pedagogia.

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3.3. O SINAES E A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

A qualidade da educação superior foi uma das categorias de conteúdo que

perpassaram a construção do estudo e, nesse sentido, valorizou-se na sua elaboração a

análise do uso dos resultados da avaliação pela gestão das IES e do Estado. O propósito

foi buscar evidências da avaliação como indutora de qualidade e, por conseguinte, da

melhoria da formação dos estudantes dos cursos de Pedagogia.

Nesse movimento, tornou-se essencial responder como a qualidade se

manifesta na avaliação. Então, os ciclos avaliativos do Sinaes foram analisados, à luz

dos pressupostos do materialismo histórico- dialético, na sua totalidade e desde o

conhecimento específico, singular, até o particular. Marx (1998) anuncia que sem a

reflexão sobre o objeto não seria possível compreender a essência da sua existência,

pois, “se os homens apreendessem imediatamente as conexões, para que serviria a

ciência?” (p. 228).

No que se refere ao conhecimento, este é a própria dialética. O conhecimento é

a decomposição do todo. Por esse motivo, analisar os resultados dos cursos nos ciclos

avaliativos do Sinaes (CC, o Enade e o CPC), se aproxima da ideia de busca do

conhecimento mais particular do objeto. A contextualização e as repercussões da

avaliação na transformação social se focalizam nos aspectos gerais do exame de

desempenho dos estudantes, etapa em que tem início o ciclo avaliativo do Sinaes para

os cursos em renovação de reconhecimento.

Para analisar o Enade no contexto do Sinaes, destaca-se, preliminarmente, o

seu aspecto legal, expresso no art. 5° da Lei n° 10.861/2004, que determina a avaliação

externa dos cursos de graduação realizada mediante a avaliação in loco e a aplicação do

Enade. A mesma lei que instituiu o Enade o definiu como componente curricular

obrigatório dos cursos de graduação, devendo ser inscrita no histórico escolar do

estudante a sua situação de regularidade com o exame (BRASIL, 2004). Conforme o art.

29 da Portaria nº 2.051/2004, a regularidade do estudante com o Enade, segundo

procedimento adotado até o ano de 2008, era constatada pela presença dele na prova ou

por ele não ter sido selecionado no processo de amostragem do MEC, realizado de

forma aleatória, por meio de sorteio dos estudantes previamente inscritos pelas IES.

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Com essa configuração, para fins de avaliação no Enade, considerou-se até

aquele ano somente o resultado do desempenho dos estudantes selecionados, mesmo

que outros estudantes tivessem participado como voluntários, forma essa também

considerada válida para a participação dos estudantes.

É importante ponderar, ainda, as críticas em relação ao Enade, quando

comparadas ao “Provão” e aos diferentes procedimentos de avaliação da educação

superior, utilizados antes do Sinaes. Essas críticas têm por objetivo ampliar o debate e

refletir sobre as singularidades e as contradições entre os sistemas de avaliação adotados

no país. Vianna (2003) analisa propostas de avaliações em larga escala anteriores ao

Sinaes. Verhine, Dantas e Soares (2006); Dias, Horiguela e Marcuelli (2006) e Polidori,

Marinho-Araújo e Barreyro (2006) mostram as semelhanças e as diferenças entre os

exames, especialmente os avanços com relação ao Enade, pelo valor que representam no

conjunto de instrumentos avaliativos do Sinaes.

Desde a construção do Sinaes, estudos de comparação entre o Enade e o

“Provão” versam especialmente sobre a finalidade do exame, antes visto na forma de

ranking, comparando o desempenho dos estudantes, e, depois, entendido por resultados

simplificados de IES e cursos de graduação. Nessa perspectiva, Limana (2008) analisa

que os rankings fogem da proposta do Sinaes, uma vez que este se consolidou como

alternativa de mudança ao tão criticado “Provão” justamente por relativizar, nos

processos avaliativos de cursos e instituições, a importância do desempenho do

estudante.

É decepcionante constatar que, tão somente para rankear as

instituições de ensino superior do nosso país, o sistema anterior, que o

Sinaes veio a substituir, era mais simples e eficiente. Poderíamos, sem

muita criatividade, ter alterado o nome do antigo programa e, em vez

de “provão”, poderíamos chamar o “novo” sistema de “enadão” e tudo

estaria resolvido de modo muito mais simples, sem qualquer arrojo

acadêmico (p. 872).

Para além do ranqueamento, o Enade é um exame com diferenças

fundamentais em relação ao “Provão”. Consiste em uma avaliação com a finalidade de

diagnosticar as habilidades acadêmicas dos estudantes em um ciclo de três anos e,

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considerado como um dos componentes do Sinaes, precisa ser analisado conjuntamente

com os demais processos de avaliação que o compõem.

Compartilhando a ideia de que não é possível considerar o Enade como

substitutivo do “Provão”, Dias Sobrinho (2010) afirma que, apesar de guardarem

semelhanças operacionais, pertencem a paradigmas diferentes e se fundam em conceitos

distintos, por isso requerem atos distintos de avaliação e produzem diferentes efeitos.

O Enade tal como proposto importa, principalmente, avaliar como o

estudante é capaz de utilizar as competências e habilidades e como foi

sua evolução entre as duas aplicações feitas, no primeiro e no último

ano de sua graduação. Não tem pretensão de avaliar a aprendizagem, e

sim de ser um instrumento que contribua para o processo de

aprendizagem (p. 213).

Nessa perspectiva, o Enade agrega elementos de reflexão ao sistema de

avaliação. No decorrer do processo de implementação do Sinaes, tem crescido a

importância dos resultados do exame nas políticas educacionais, evidenciada pela

criação, em 2008, de um novo elemento da avaliação denominado Conceito Preliminar

de Curso (CPC). Este indicador de qualidade passou a ser utilizado para subsidiar a

avaliação in loco dos cursos de graduação, na forma de preditor.

O CPC é composto a partir dos resultados do Enade e de outros fatores que

consideram também a titulação dos professores, o percentual de docentes que cumprem

regime parcial ou integral (não horistas), os recursos didático-pedagógicos,

infraestrutura e as instalações físicas. A escala atribuída é de 1 a 5, em ordem crescente

ao nível de qualidade, constituindo-se um indicador preliminar da situação dos cursos

de graduação no país.

O uso dos resultados do Enade na composição do CPC139 fez aumentar a

visibilidade do exame, passando a ser questionado o número de participantes

selecionados, dada a sua característica amostral até o ano de 2008. O questionamento da

comunidade acadêmica foi fundamentado na hipótese de que a não participação da

139 Conforme Nota Técnica do CPC, o cálculo representa o resultado de oito medidas: Número de Professores

Doutores (NPD), Número de Professores Mestres (NPM), Número de Professores com Regime de Dedicação

Integral ou Parcial (NPR), Nota de Infraestrutura [sic] (NF), Nota de Organização Didático-Pedagógica (NO),

Nota dos Concluintes do Enade (NC), Nota dos Ingressantes do Enade (NI), Nota do Indicador da Diferença entre

os Desempenhos Esperado e Observado (NIDD) (INEP, 2010). O CPC tem sido utilizado para subsidiar a

emissão do ato regulatório de renovação de reconhecimento do curso.

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totalidade dos estudantes ingressantes e concluintes na avaliação poderia causar prejuízo

ao CPC obtido pelo curso, já que a amostra de estudantes feitas pelo Inep poderia deixar

de considerar estudantes com bom desempenho. A intenção era melhorar o desempenho

do curso, tendo como meta obter um resultado satisfatório no CPC e a consequente

publicação da portaria de renovação de reconhecimento, isentando o curso da avaliação

in loco.

Nessa direção, a partir de 2009, a abrangência do Enade foi ampliada,

adotando-se uma metodologia que alterou o caráter de amostragem do exame para

censitário. Essa mudança representou uma melhoria de qualidade do processo de

avaliação, visto que a universalização da prova a todos os estudantes habilitados

possibilita maior equidade ao processo. Além disso, gera a necessidade de estender a

informação sobre o processo avaliativo para todos os estudantes, já que o resultado do

exame não tem caráter individual, e somente tem sentido no conjunto dos estudantes do

curso.

Os autores Garcia, Vianna e Suñé (2012) afirmam que submeter todos os

alunos a uma prova, considerando a dimensão do Brasil, é uma conquista que não deve

ser menosprezada, tanto no que se refere ao antigo “Provão” (ENC) como ao Enade.

Há praticamente um consenso de que o Exame deve ser mantido e

valorizado como um avanço que diferencia o Brasil de outros países

nesse aspecto. Isso sem falar nos questionários preenchidos tanto por

estudantes, quanto pelos coordenadores de curso, que produzem

informações valiosas para o planejamento de políticas públicas (p. 46-

47).

Apesar da manifestação favorável ao exame de caráter universal, aponta-se

para a necessidade de ajustes metodológicos, entre os quais: i) a responsabilização e

conscientização do estudante para fazer a prova; e ii) a aprovação das diretrizes

curriculares nacionais para todos os cursos de graduação pelo CNE, inclusive para os

cursos superiores de tecnologia, de forma que as provas possuam um referencial para

sua elaboração (GARCIA; VIANNA; SUÑÉ, 2012).

Esses ajustes têm implicações legais e conceituais. No âmbito legal, a

informação da nota do estudante no exame é restrita, podendo ser acessada somente

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pelo próprio estudante: “Na divulgação dos resultados da avaliação é vedada a

identificação nominal do resultado individual obtido pelo aluno examinado, que será a

ele exclusivamente fornecido em documento específico, emitido pelo Inep” (BRASIL,

2004). Quanto às DCN para todos os cursos de graduação e superiores de tecnologia,

ressalta-se que o Enade abrange apenas as áreas com maior número de cursos e de

matrículas. Se o objetivo de estabelecer as DCN dos cursos estiver ligado à oferta do

exame, em que pese a importância dessas orientações para o currículo, esse não é o

critério para sua realização.

As reflexões aqui produzidas ampliam a visão processual do ciclo avaliativo do

Sinaes, que compreende a realização periódica da avaliação de cursos de graduação,

com referência nas avaliações trienais de desempenho de estudantes, as quais subsidiam

os atos de renovação de reconhecimento. Assim, tem-se a estruturação da aplicação do

exame em cada ciclo avaliativo: ano I, ao grupo da saúde, ciências agrárias e áreas

afins; ano II, ao grupo das ciências exatas, licenciaturas e áreas afins; ano III, ao grupo

das ciências sociais aplicadas, ciências humanas e áreas afins (BRASIL, 2010). E,

assim, sucessivamente a cada três anos, se completa o ciclo avaliativo do Sinaes nas

áreas avaliadas pelo Enade (1º ciclo: 2004-2006; 2º ciclo: 2007-2009; 3º ciclo: 2010-

2012; e 4º ciclo: 2013-2015).

Dessa forma, a análise dos resultados da avaliação dos cursos de Pedagogia,

nas edições dos anos 2005, 2008 e 2011, tem a perspectiva de acompanhamento da

qualidade dos cursos por três ciclos avaliativos e em todas as dimensões do respectivo

processo. O reconhecimento do uso do resultado da avaliação pelos gestores que

estiveram na coordenação dos cursos nos ciclos avaliativos serve como balizador para

indicar o baixo/alto potencial de uso da concepção diagnóstica, formativa e

emancipatória da avaliação.

No caso da avaliação dos cursos de Pedagogia, foram analisadas as diretrizes

do exame publicadas nos anos de 2005, 2008 e 2011, buscando encontrar aproximações

e significados da avaliação para a qualidade dos cursos.

As definições da Comissão Assessora de Área para a realização do Enade de

Pedagogia expressas na Portaria nº 225, de 26 de julho de 2011, estabeleceram como

objetivos da prova:

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I – avaliar o desempenho dos estudantes de graduação em Pedagogia,

levantando indicadores para ações que promovam a melhoria da

formação do Pedagogo;

II – contribuir para o diagnóstico da formação do Pedagogo tendo

como referência o Parecer CNE/CP nº 5/2005, Parecer CNE/CP n°

3/2006 e a Res. CNE/CP nº 1, de 15 de maio de 2006, que institui as

Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em

Pedagogia, Licenciatura (BRASIL, 2011).

Ao comparar as diretrizes da prova do Enade 2011 com as diretrizes das provas

publicadas nos anos de 2008 e 2005, percebe-se que as mudanças nas suas orientações

são pouco significativas no que se refere aos componentes curriculares e ao próprio

objetivo do Enade, indicado no inciso I da portaria publicada em 2011. Nessa

perspectiva, os currículos deveriam estar orientados para a formação de um pedagogo

cuja postura profissional ética estivesse pautada:

[...] na responsabilidade social para com a construção e uma sociedade

includente, justa e solidária, com fundamentação epistemológica e

atitude investigativa ao exercer suas atividades nas seguintes áreas

e/ou campos profissionais: a) na docência da Educação Infantil (0 a 5anos), dos anos iniciais do

Ensino Fundamental, Regular e de Jovens e Adultos, nos cursos de

Ensino Médio na modalidade Normal e em cursos de Formação

Profissional na área de serviços e apoio escolar;

b) no planejamento, organização, avaliação e gestão nos sistemas de

ensino, em escolas e outros espaços educativos;

c) na produção e difusão do conhecimento científico e tecnológico no

campo da Educação (BRASIL, 2011).

A fim de contextualizar a organização dos cursos de Pedagogia e as referências

utilizadas na construção dos instrumentos de avaliação, torna-se necessário conhecer de

modo mais aprofundado as orientações e diretrizes da área. As definições sobre os

objetos de conhecimento e o perfil esperado do egresso são, portanto, fundamentais para

estabelecer as diretrizes de prova. Nesse sentido, o impacto da aprovação da DCN em

2006 deveria ter sido percebido nas edições subsequentes do exame aplicado aos cursos

de Pedagogia.

Esse processo é o que garante a qualidade do instrumento (prova), que não

pode ser limitador da possibilidade de aferir os conhecimentos e as habilidades que os

estudantes deveriam ter adquirido durante o curso. A matriz possibilita, conforme

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Rabelo (2013), uma visão ampla “do desempenho de determinado grupo de indivíduos

avaliados, como forma de proceder a uma análise global para promover a regulação do

ensino e das aprendizagens” (p. 87).

A cada edição do exame, são construídas e divulgadas as diretrizes da prova do

Enade, circunstanciadas nas DCN. As orientações expressam a diretriz de uma

formação profissional voltada a:

I – compreender o contexto sociocultural, político, econômico e

educacional dos processos educativos escolares e não escolares;

II – reconhecer e respeitar as diferenças socioculturais, as

manifestações e necessidades físicas, cognitivas, emocionais e afetivas

dos estudantes nas suas relações individuais e coletivas para propor

alternativas para sua atuação profissional;

III – compreender a formação profissional como um processo

contínuo de autoaperfeiçoamento e de domínio teórico-investigativo

do campo da educação;

IV – compreender as abordagens do conhecimento pedagógico e

conteúdos que fundamentam o processo educativo na Educação

Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental;

V – planejar, implementar e avaliar projetos educativos contemplando

e articulando a diversidade e as múltiplas relações das esferas do

social: cultural, ética, estética, científica e tecnológica;

VI – integrar diferentes conhecimentos e tecnologias de informação e

comunicação no planejamento e desenvolvimento de práticas

pedagógicas escolares e não escolares;

VII – desenvolver trabalho em equipe, estabelecendo diálogo entre a

área educacional e as demais áreas do conhecimento;

VIII – investigar situações educativas, realizando diagnósticos de

problemas e estudos de contextos, identificando contradições,

propondo intervenções e elaborando argumentos para a produção de

conhecimentos;

IX – reconhecer e respeitar a diversidade étnico-racial, religiosa, de

gêneros, classes sociais, necessidades especiais, escolhas sexuais e

faixas geracionais, entre outras (BRASIL, 2011).

Na elaboração da matriz de referência140 do exame, parte-se das DCN relativas

ao curso avaliado. Conforme Rabelo (2013), é a matriz que vai nortear a escolha das

competências ou das capacidades a serem avaliadas; por isso, no processo de construção

da matriz, elencam-se

140 A matriz de referência sistematiza e orienta a construção de itens e serve de referência para a análise dos

resultados do desempenho dos estudantes nos testes aplicados e para as devolutivas ou feedbacks (RABELO,

2013).

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[...] as competências e as características do perfil profissional de

formação desejado, listam-se os recursos que são imprescindíveis ao

alcance das competências, ou as competências que contribuem para

alcançar o perfil almejado, e se estabelecem as relações plausíveis

entre as competências e as características do perfil (p. 88).

Considerando as mudanças na política de formação de professores devido à

alteração das DCN, questiona-se: quais teriam sido os subsídios obtidos na avaliação,

para a decisão de mudança de orientação dos cursos Normal Superior e Pedagogia? A

discussão ocorre em um período de vigência do Sinaes, no qual a avaliação de

desempenho dos estudantes dos cursos de graduação é realizada mediante aplicação do

Enade, que busca aferir: i) o desempenho dos estudantes em relação aos conteúdos

programáticos previstos nas DCN dos cursos de graduação; ii) as habilidades dos

estudantes para ajustamento às exigências decorrentes da evolução do conhecimento; e

iii) as competências dos estudantes para compreender temas exteriores ao âmbito

específico de sua profissão, à realidade brasileira e mundial e a outras áreas do

conhecimento (INEP, 2009).

Nesse cenário, mesmo reconhecendo o Enade como instrumento que avalia o

desempenho dos estudantes de graduação, sabe-se das interferências no processo de

formação, em razão da alteração das DCN em 2006.141Para uma análise mais consistente

do ciclo avaliativo do Sinaes na área de Pedagogia, importa considerar, portanto, as

orientações expressas nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de

Professores nº 1/CNE/CP/2002; nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de

Pedagogia, aprovadas por meio da Resolução nº 01/CNE/CP/2006142; e no Parecer nº

5/CNE/CP/2005.

141 A trajetória histórica e política que deu origem às DCN podem ser consultadas em Scheibe (2007), que focaliza

as mobilizações e resistências do campo da Pedagogia, no sentido de assegurar a docência como a base da

formação para esse curso. Franco, Libâneo e Pimenta (2007) abordam os diferentes sentidos do curso de

Pedagogia, tecendo críticas em relação aos aspectos epistemológico, prático e disciplinar da Pedagogia,

principalmente, por eliminar as antigas habilitações, e Saviani (2007) destaca a importância da Pedagogia como

espaço para o desenvolvimento de estudos educacionais e de formação profissional de educadores. 142 As diretrizes da prova da área da Pedagogia foram elaboradas por comissões assessoras, compostas por

especialistas. Para a elaboração das diretrizes, as comissões assessoras se basearam nas DCN de Pedagogia

vigentes no ano da aplicação. A elaboração e a aplicação das provas até 2010 ficaram sob a responsabilidade de

instituições contratadas. A partir de 2010, o próprio Inep passou a coordenar o processo com a participação de

docentes capacitados para atuar como elaboradores e revisores de itens, com o apoio da comissão assessora. As

provas contêm 40 questões, 30 das quais de conteúdos específicos e 10 de formação geral. Esse modelo

pressupõe que os resultados do Enade são articulados aos demais instrumentos de avaliação do Sinaes e utilizados

para a melhoria do curso e da IES, em um processo formativo.

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244

O pressuposto é que a aplicação do Enade em 2008 é própria de um contexto

de discussão que ainda não havia incidido sobre a reformulação das DCN e, portanto,

não absorvido pelos egressos dos cursos de Pedagogia, cuja formação deveria ser

exclusiva na área da docência. Dessa forma, era de se esperar que tivesse uma mudança

maior nas diretrizes da prova para o ano de 2011.143

Destaca-se que a reformulação ocorre na estrutura de construção da prova do

Enade, com a organização do Banco Nacional de Itens da Educação Superior (BNI),

para elaboração das provas a partir da matriz de referência.

O BNI da educação superior é concebido, portanto, como um acervo

de questões elaboradas a partir de matrizes de conteúdos,

competências e habilidades pré-definidos pelas Comissões Assessoras

de Área, que permitem a montagem de provas para estimar com a

maior precisão possível a proficiência dos estudantes com relação aos

conteúdos de seus cursos de graduação (GRIBOSKI, 2012, p. 191).

Nesse processo, a participação dos docentes é ampliada com a implantação de

uma nova metodologia de organização das provas que contempla os Editais de Chamada

Pública de Docentes para a elaboração de questões para o BNI. O processo de

constituição do banco de itens com questões elaboradas por professores vinculados às

IES trouxe maior aproximação da avaliação à realidade dos cursos. Entretanto, para

promover a qualidade da prova, os docentes precisam estar envolvidos nessa nova

abordagem em consonância com o pressuposto das novas DCN.

O BNI tem por objetivo armazenar itens de qualidade técnica para a montagem

de instrumentos de avaliação. Rabelo (2013) argumenta que esses itens devem ser

[...] capazes de estimar, com a maior precisão possível: – o

desenvolvimento de competências que contribuam para o alcance dos

diferentes perfis de formação esperados; – a proficiência dos

estudantes com relação aos conhecimentos específicos estudados em

seus cursos de graduação; – os processos de desenvolvimento de

competências em diferentes trajetórias de formação acadêmica e em

diversos contextos (p. 91).

143 Para o Enade, a partir de 2011, optou-se pela concepção de matrizes do tipo crítico-emancipatórias, com os

objetivos de: i) identificar o perfil profissional; ii) possibilitar a identificação, a construção e a avaliação de

competências; iii) caracterizar o processo de articulação entre os recursos individuais e do contexto, para além do

conteúdo das competências (RABELO, 2013, p. 89).

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Assim, a partir de 2011, tem-se um contexto de mudança na elaboração da

prova, que pode se caracterizar como indutor de qualidade; entretanto, mesmo com a

articulação dos docentes de Pedagogia para a elaboração das provas, a mudança em

relação às diretrizes de prova, em consonância com as novas orientações, somente pode

ser garantida com a incorporação destas nos currículos dos cursos de Pedagogia nas

IES. Essa estrutura pode indicar se há ou não há adequação integral da orientação da

DCN aos currículos, em especial o perfil dos egressos, que faz parte do tripé de

construção da prova (habilidades – objetos de conhecimento – perfil do egresso).

Com esse entendimento, após ter analisado a relação existente entre a avaliação

e a qualidade dos cursos, analisam-se, a seguir, em uma perspectiva dialética, as

informações e os resultados dos cursos de Pedagogia nos ciclos avaliativos do Sinaes.

3.4. CENÁRIOS E CONTEXTOS DA AVALIAÇÃO DOS CURSOS DE

PEDAGOGIA

A análise dos cursos de Pedagogia nos ciclos avaliativos do Sinaes possibilitou

relacionar fatos e circunstâncias próprias do campo empírico, portanto, de forma

dialética, haja vista que a realidade nunca será a mesma e que não separa a teoria da

prática (KUENZER, 1998). Essa visão metodológica se torna fundamental para

perceber as características do objeto que se relacionam com a discussão geral da

pesquisa.

O materialismo histórico-dialético incidiu sobre a compreensão da realidade

apresentando as contradições e fazendo as mediações necessárias. Nessa visão de

totalidade é possível ampliar os saberes sobre a avaliação. Para Cury (1995), o momento

da determinação específica, historicamente saturado, não está explicito, mas implícito:

Vale dizer: o objeto histórico está abstraído, a fim de ressaltar os

traços comuns do capitalismo que permitam uma leitura da educação.

Pois a emersão dessas categorias, sob este ponto de vista, não seria

possível se não houvesse estofo histórico imerso (p. 18).

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As categorias tiveram, portanto, função inequívoca: a contradição é a força

interna do desenvolvimento, a mediação se justifica pelo dinamismo da existência entre

o real e o contraditório, e a totalidade permite compreender o movimento das partes que

determina o todo (CURY, 1995). O momento da explicação teórica se impõe como

elemento fundamental para a relação entre teoria e prática. Portanto, as categorias como

expressão conceitual precisam ser consideradas tanto no contexto da realidade que a

produz, quanto na sua utilização como instrumento de análise.

O percurso do estudo privilegiou o debate sobre a realidade, buscando ampliar

as expectativas em relação à participação dos cursos de Pedagogia nos ciclos avaliativos

do Sinaes. Nesse contexto, analisaram-se o panorama da participação dos estudantes e o

impacto dos resultados da avaliação na expansão da educação superior. As diferenças

nos três ciclos avaliativos do Sinaes (2005, 2008 e 2011) foram caracterizadas,

principalmente, pelo movimento das matrículas e pelo desempenho dos cursos, por

região e por grupo de estudantes, sejam estes ingressantes ou concluintes.144

Nota-se, na Tabela 7, discutida mais adiante, a participação dos estudantes nos

cursos voltados à formação de professores, o que demonstra um aumento do número de

ingressantes e concluintes no ano de 2011 em relação aos anos anteriores de aplicação

do Enade em 2008 e 2005. De modo significativo, também se destaca o aumento dos

participantes concluintes dos cursos de licenciaturas em geral, no ano de 2011, em

relação às edições anteriores, com um aumento de 41,4% em relação a 2008 e 89,8%, se

comparado a 2005. Todavia, quando a comparação é feita pelos participantes

concluintes de Pedagogia de 2011 em relação aos anos anteriores, essa diferença é ainda

maior: em relação a 2008 é de 118,9% e em relação a 2005 é de 234,5%.

A distribuição dos estudantes participantes no Enade, segundo as áreas das

licenciaturas e grupos de estudantes ingressantes e concluintes, demonstra que em 2005

e 2008 há um menor número de ingressantes em relação aos concluintes, em algumas

licenciaturas. Essa proporção de redução das taxas de ingresso pode ser um sinal de

baixa expansão no período, motivada pela falta de interesse profissional devido às

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condições da carreira (política salarial, condições de trabalho, entre outros). Entretanto,

a redução de estudantes não se explicaria dessa forma, já que o mercado de trabalho

também tem reflexo na escolha da formação.

Podem ser muitos os fatores que determinam o ingresso na carreira docente: o

contexto social, familiar, trajetórias pessoais, entre outros. O trabalho docente

concebido como uma unidade, segundo Basso (1998), é considerado em sua totalidade,

que não se reduz à soma das partes, mas em suas relações essenciais, em seus elementos

articulados, responsáveis pela sua natureza, sua produção e seu desenvolvimento. A

análise do trabalho docente assim compreendido

[...] pressupõe o exame das relações entre as condições subjetivas –

formação do professor – e as condições objetivas, entendidas como as

condições efetivas de trabalho, englobando desde a organização da

prática – participação no planejamento escolar, preparação de aula etc.

– até a remuneração do professor (p. 1).

Contudo, no ano de 2011, essa situação se reverte e há um aumento

considerável no número de ingressantes desse ano em relação aos ingressantes inscritos

no Enade em 2008 e 2005. No curso de Pedagogia o aumento é notável: alcança, em

2011, 264,1% de estudantes ingressantes a mais do que em 2008, e 485,9% em relação a

2005, criando uma expectativa favorável para a diplomação nos anos subseqüentes.

Cada um dos cursos de licenciatura relacionados teve a seguinte participação

no Enade, nos ciclos avaliativos 2005, 2008 e 2011:

144 Ingressante é o estudante que efetiva a matrícula inicial no curso e Concluinte é o estudante que tem a expectativa

de concluir o curso no ano de referência, considerando o cumprimento de todos os requisitos para a integralização

do curso em todos os componentes curriculares. Tem-se os resultados de ingressante nos anos de 2005 e 2008; a

partir de 2011, os estudantes ingressantes não são mais avaliados pelo Enade (Portaria nº 40/2007, republicada

em 29 de dezembro de 2010).

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Tabela 7 – Número de estudantes dos cursos de licenciatura participantes na condição de

ingressantes e concluintes do Enade 2005, 2008 e 2011– Brasil (2012)

Cursos Ingres. Enade

2005

Concl. Enade

2005

Ingres. Enade

2008

Concl. Enade

2008

Ingres. Enade 2011*

Concl. Enade

2011 Pedagogia 23.318 26.179 37.525 39.998 136.631 87.578 Letras 23.330 22.870 17.886 22.752 34.004 26.576 Biologia 13.542 10.933 15.632 15.005 21.423 14.082 Matemática 10.229 9.243 9.590 10.347 21.156 11.284 História 9.537 9.075 9.254 10.568 18.774 11.477 Geografia 5.668 6.075 6.103 8.234 9.079 7.746 Química 3.952 3.120 6.719 5.349 8.234 3.961 Física 2.574 1.654 3.137 2.343 7.561 2.227 Filosofia 2.363 2.056 3.090 2.941 4.283 3.062 Ciências

Sociais 1.680 2.150 2.151 2.530 2.697 1.807

Total 96.193 93.355 111.087 120.067 263.842 169.800 Fonte: Relatório Síntese de Área do Enade – MEC/Inep/Daes – 2005, 2008, 2011 (2012).

*Em 2011, os estudantes ingressantes foram dispensados da prova.

É importante compreender os motivos para o ingresso na profissão, pois são

muitos os significados. Os aspectos relativos à docência são constantemente atualizados

na formação inicial, continuada ou no exercício profissional. A qualidade dos cursos de

Pedagogia influencia esse desenvolvimento. Nesse sentido, por meio da avaliação da

qualidade dos cursos de Pedagogia, pode-se investir em uma formação profissional que

atenda às expectativas do trabalho docente.

A partir dos aspectos do método materialista histórico-dialético, foi possível

compreender a realidade. Para tanto, o processo de investigação teve como foco: i)

abordar a avaliação na perspectiva histórica; ii) buscar na história as origens da

avaliação; iii) trabalhar com os coordenadores dos cursos de Pedagogia; iv) apresentar o

concreto pensado: evidenciar o objeto que estava oculto, o movimento dialético; v)

utilizar categorias marxistas para análise: contradição, mediação e totalidade; vi)

articular teoria e prática; vii) apresentar os dados evidenciando seus nexos internos e

contraditórios com a totalidade; e viii) construir um referencial teórico. Nessa

perspectiva, analisaram-se os resultados do Enade e demais instrumentos de avaliação

do Sinaes, evidenciando sua relação com as finalidades regulatórias, a fim de interpretar

a qualidade dos cursos.

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A partir da análise dos dados, foi possível identificar as características do

desempenho dos estudantes dos cursos de licenciaturas em geral e com foco nos cursos

de Pedagogia. Destaca-se que os cursos de Pedagogia, além de possuírem o maior

número de cursos no país, evidenciam também um maior número de estudantes

concluintes participantes em relação aos ingressantes. No curso de Pedagogia, em 2008,

a diferença era de 2.473 participantes concluintes a mais do que ingressantes (9,38%);

em 2005, essa diferença era de 2.861 (10,9%). Em 2011, acontece um fato curioso, pois

há uma diferença de 49.053 (56%) de ingressantes a mais do que concluintes.

Diante dessa realidade, uma das preocupações foi quanto à possível redução no

número de ingressantes sem que tivesse havido uma diminuição no número de cursos

ofertados. O que pode explicar essa redução do ingresso de estudantes na Pedagogia,

além da falta de incentivo profissional, é a qualidade da oferta dos cursos, já que a área

tem destacada demanda devido ao aumento do número de estudantes e de escolas de

educação básica. Entretanto, o que poderia explicar o notável aumento de ingressantes

em 2011 em relação aos anos anteriores? A explicação pode estar na ampliação da

oferta de curso a distância. O Censo da Educação Superior (INEP, 2012) revela que

49% das matrículas dos cursos de Pedagogia são na modalidade a distância.

Quanto ao impacto da modalidade a distância, Gatti e Barreto (2009)

assinalam, a partir de estudos,145 que a experiência, além de permitir o atendimento de

maior número de alunos, teve como pontos positivos

[...] a oferta em caráter permanente e o desenvolvimento com rigoroso

padrão de qualidade, tendo sido destacados: o acordo

interinstitucional; a equipe interdisciplinar; a sistemática operacional,

que privilegia o suporte à autoaprendizagem; a produção de material

de ensino específico e a existência de Centro de Apoio com aparato

tecnológico que viabiliza o acesso e a interatividade com a

coordenação acadêmica (p. 92).

145 Em 2001, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), juntamente com o MEC e o CNE,

realizou pesquisa sobre os cursos de formação de professores, em que o curso analisado foi incluído por constituir

referência nacional na modalidade (GATTI; BARRETO, 2009, p. 92).

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Contudo, essa realidade pode ser questionada. O que se observa é uma

embrionária capacidade de regulação, pois somente em 2005 se institui um marco legal

específico para a orientação da modalidade a distância. O Decreto nº 5.622, de 19 de

dezembro, regulamenta o artigo 80 da LDBEN/1996 e caracteriza a educação a

distância como

[...] modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica

nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de

meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e

professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou

tempos diversos (BRASIL, 2005).

Os cursos a distância se mantiveram por um longo período sob a supervisão do

MEC, para acompanhamento da eficácia no uso dos recursos e apoios para a

implementação da modalidade. Somente em 2008 inicia a avaliação dos cursos a

distância pelo Sinaes. O processo começa de forma bastante tímida, pela ausência de

políticas para a modalidade, e acaba favorecendo as iniciativas das IES privadas. Nas

IES públicas, percebe-se que alguns cursos tiveram caráter experimental, criados a

partir de programas específicos (Parfor e UAB), e foram descontinuados, caracterizando

uma proposta desvinculada do projeto institucional.

Gatti e Barreto (2009) admitem que a regulamentação brasileira esteja presa a

uma visão emergencial e ultrapassada do alcance da educação adistância e que o

investimento é elevado e pressupõe a necessidade de estabelecer “referenciais

normativos, capazes de orientar os processos de supervisão e avaliação de EAD,

permitindo a expansão da oferta de cursos com flexibilidade e assegurando a melhoria

da qualidade da educação superior” (p. 95). Nesse sentido, o Decreto nº 5622/2005, no

seu artigo art. 7º, determina a mesma duração dos presenciais para os cursos e

programas a distância e a criação de Referenciais de Qualidade para a Educação a

Distância, incluindo regras para a regulação, supervisão e avaliação dessa modalidade

de ensino. 146

146 Em 2007, o MEC estabelece novos Referenciais de Qualidade para a Educação a Distância, com as regras para a

regulação, supervisão e avaliação dessa modalidade (BRASIL, 2007).

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Explicações a essa e outras questões podem ser encontradas na análise da

relação entre o desempenho dos estudantes e a qualidade dos cursos de Pedagogia,

interpretados a partir da orientação das políticas de expansão. A reflexão sobre os ciclos

avaliativos do Sinaes possibilitou compreender os seus resultados na dinâmica das ações

e estabelecer parâmetros, de acordo com a conjuntura social e política do período.

Quanto à organização acadêmica dos cursos, a maioria dos estudantes que participaram

do Enade 2005 e 2008, na condição de ingressantes e concluintes, e na edição de 2011

como concluintes, se encontrava matriculada em universidades (66.080, 73.596,

50.540), em faculdades (32.463, 32.305, 27.969), e em centros universitários (12.544 e

14.166, 9.069) (INEP, 2012).

Esses dados de participação dos estudantes com número superior de matrículas

em universidades pode representar uma atitude de reconhecimento da qualidade nessas

IES, no geral sempre com melhores conceitos na avaliação. Estabelecer essas relações

pode auxiliar na compreensão das políticas de diversificação da oferta, por meio da

expansão de cursos de Pedagogia, principalmente em faculdades e pode explicar, ainda,

a importância da interiorização da oferta na ampliação das oportunidades educacionais

nesse nível de ensino. Exemplo disso é que para o estudante, quando há possibilidade de

escolha entre estudar em uma universidade, centro universitário ou faculdade, sua opção

parece recair pela universidade. Essa opção pode indicar que há maior visibilidade

externa da qualidade dos cursos de Pedagogia nas universidades, quando comparadas às

faculdades ou aos centros universitários.

Quanto à organização acadêmica das IES, em 2005, 2008 e 2011,

respectivamente, o curso de Pedagogia esteve em maior quantidade nas universidades

(450, 501 e 508 cursos), seguidos das faculdades e institutos superiores (348, 563 e 532

cursos) e centros universitários (92 e 112 e 109 cursos).

Com relação aos ingressantes e concluintes de Pedagogia que realizaram o

Enade em 2005 (127.153) e 2008 (77.523), observa-se que o número de participantes

em 2008 foi menor do que em 2005. Os ingressantes em 2008 foram 37.525 e em 2005

corresponderam a 59.257. Em 2011, os 136.631 inscritos na condição de ingressantes

foram dispensados de fazer a prova. Já com relação aos concluintes, participaram

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87.578 em 2011, 39.998 em 2008 e 67.896 em 2005. Na Tabela 8, encontram-se os

dados dos participantes no Enade correspondentes a cada região brasileira:

Tabela 8 – Número de cursos de Pedagogia participantes do Enade 2005, 2008 e 2011,

segundo a organização acadêmica das IES, por região – Brasil (2012)

Fonte:MEC/Inep/Daes – 2005, 2008, 2011 (2012).

*Os institutos superiores foram agrupados na organização de faculdade,

Comparando-se os resultados do Enade em 2005 do curso de Pedagogia com o

Enade em 2008 e 2011, as tendências em todas as regiões do país foram: i) aumento do

número de cursos de Pedagogia, devido às oportunidades da educação a distância; ii)

incentivo para o acesso nas IES privadas, pela ampliação das políticas de financiamento

estudantil; iii) ampliação do acesso nas IES públicas, motivado pelas políticas de

expansão e interiorização; iv) menor número de cursos de Pedagogia em centros

universitários em relação as universidades e faculdades; v) ampliação do número de

participantes do Enade na condição de concluintes.

O que se verifica nesse cenário é que apesar de a educação superior no Brasil

estar em pleno processo de expansão, o Censo da Educação Superior (INEP, 2012)

mostra que nas licenciaturas a situação é inversa. O número de ingressantes é menor.

Precisa-se refletir sobre o porquê, de apesar de haver investimentos em políticas

públicas de formação de professores, o problema da falta de docentes para a educação

básica se mantém. O que importa conhecer é se a oferta dos cursos de Pedagogia em

relação ao processo de interiorização atendeu à expectativa de acesso e também de

qualidade. Para tanto, as análises comparadas dos resultados da avaliação permitem

Total Universidade Centro

Universitario Faculdade

Ano/ Brasil

2005 2008 2011 2005 2008 2011 2005 2008 2011 2005 2008 2011

891 1.176 1.149 450 501 508 93 112 109 348 563 532

Norte 72 85 67 44 42 35 5 6 5 23 34 27

Nordeste 135 237 218 87 133 123 3 3 4 45 101 91

Sudeste 390 503 517 139 152 177 63 76 78 188 275 262

Sul 180 220 229 121 116 120 13 14 15 46 90 94

Centro-

Oeste 114 131 118 59 58 53 9 10 7 46 63 58

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reconhecer a relação entre a qualidade e a expansão da educação superior. Essa

caracterização indica que o uso do Sinaes como política pública de Estado pode se

constituir como instrumento de indução de maior qualidade à educação superior.

Nessa perspectiva, é importante considerar na análise dos cursos de Pedagogia,

desde o caráter público da expansão nos Ifets orientados também para a oferta de

licenciaturas, as baixas mensalidades praticadas pelas faculdades privadas até a oferta

crescente da modalidade a distância.

Com esse caráter, a pesquisa versou sobre os três ciclos avaliativos do Sinaes e

os impactos em relação à qualidade da educação superior. Conforme a Tabela 9, a

Pedagogia apresentou um número maior de cursos participantes do Enade em 2008.

Havia 891 IES com estudantes de Pedagogia participantes no Enade de 2005 (634

privadas e 257 públicas) e registraram-se 1.176 instituições em 2008 (854 privadas e

322 públicas). A maioria dessas IES fica situada na Região Sudeste, seguida da Região

Sul, da Região Nordeste, da Região Centro-Oeste e da Região Norte (INEP, 2013).

Tabela 9 – Número de cursos de Pedagogia participantes do Enade 2005, 2008 e 2011,

segundo a categoria administrativa das IES, por região – Brasil (2012)

Fonte:MEC/Inep/Daes – 2005, 2008, 2011 (2012).

De acordo com a mesma fonte, percebe-se que não há muita variação do

número de cursos de Pedagogia avaliados pelo Enade em 2005, 2008 e 2011 nas

regiões, o que pode revelar uma acomodação do sistema e uma baixa expansão desses

cursos. Mesmo naquelas com tendências distintas, os percentuais de participação dos

cursos no Enade, se mantiveram: nas Regiões Norte e Nordeste, a oferta ocorreu

majoritariamente pela via pública enquanto nas Regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste

preferencialmente pela via privada. Em 2011, a Região Norte reduziu potencialmente o

Região Geral Pública Privada

Ano/ Brasil

2005 2008 2011 2005 2008 2011 2005 2008 2011

891 1.176 1.149 257 322 324 634 854 825

Norte 72 85 67 36 41 41 36 44 26

Nordeste 135 237 218 86 129 125 49 108 113

Sudeste 390 503 517 42 51 50 348 452 467

Sul 180 220 229 41 52 36 139 168 183

Centro-Oeste 114 131 118 52 49 36 62 82 92

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número de cursos com participação no Enade nas IES privadas, mantendo o mesmo

número nas públicas, o que pode representar o movimento do sistema em razão da

sustentabilidade da região.

Gatti e Barreto (2009) discutem que a urgência política de um sistema que

reverta a situação de iniquidade de acesso à educação superior em prazo pequeno parece

não se coadunar

[...] com o tempo requerido para que políticas desse porte e dessa

envergadura tenham condições de se expandir com base no

amadurecimento das experiências, na criação de respostas inovadoras

a uma realidade nova e mutante a ser enfrentada e na montagem de

uma infraestrutura permanente e sólida que assegure a qualidade dos

serviços prestados (p. 112-113).

Analisadas as possíveis tendências da expansão do curso de Pedagogia,

percebeu-se que, embora o seu crescimento ocorra em todas as regiões brasileiras e

majoritariamente nas IES privadas, essas matrículas não são continuadas, dificultando o

atendimento da demanda de formação de professores no país.

No estudo dos cursos de Pedagogia em fase de renovação de reconhecimento,

essas tendências podem ser confirmadas, já que têm certa estabilidade na oferta, com

garantia da sua permanência no sistema federal de ensino.147 Para tanto, aprofundou-se a

análise sobre os cursos, caracterizando a oferta a partir da participação nos ciclos

avaliativos do Sinaes. A análise sobre os resultados alcançados nos diferentes

instrumentos de avaliação (Enade, CPC e CC) em relação à trajetória dos cursos

possibilitaram interpretar a realidade da área da Pedagogia no que se refere à política de

expansão e sua relação com qualidade.

147 Conforme o artigo 2o do Decreto nº 5.773, de 15 de maio de 2006, o sistema federal de ensino superior

compreende as instituições federais de educação superior, as instituições de educação superior, criadas e mantidas

pela iniciativa privada e os órgãos federais de educação superior. As IES estaduais e municipais obedecem à

regulamentação própria, emanada pelos Conselhos Estaduais de Educação.

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Nesse sentido, o método de investigação deve demonstrar a veracidade do

pensamento, pois o critério de verdade da teoria está no seu caráter prático. Dessa

forma, o conhecimento produzido através da compreensão da totalidade do objeto

investigado deve apresentar elementos que contribuam para a compreensão e a

intervenção no real, efetivando, assim, o seu caráter prático. É através da articulação

entre reflexão teórica e inserções empíricas que se é capaz de recolher a matéria em suas

múltiplas dimensões (FRIGOTTO, 2001).

Diante desse contexto, mais uma vez, tornou-se fundamental, nesta pesquisa,

identificar a presença da avaliação nos cursos de Pedagogia, na visão integral do

processo, que tem início com o Enade. O CPC, na forma de indicador de qualidade,

subsidia a avaliação in loco que resulta no CC do curso. Para esta análise foram

consideradas as diversas formas de desenvolvimento do processo de avaliação e sua

evolução histórica nas relações internas e externas do processo, para somente depois se

expor as conclusões para auxiliar na consecução dos objetivos do estudo. Na análise

dessas relações, Gadotti (2001) afirma que “a educação é um processo contraditório

(unidade e oposição), uma totalidade de ação e reflexão, o ato educativo realiza-se numa

tensão dialética liberdade e necessidade” (p. 79).

No que se refere à situação da área da Pedagogia, admite-se que houve um

significativo aumento de cursos a partir de 2005. Esse aumento pode ser entendido no

contexto da migração do curso Normal Superior para Pedagogia, atendendo à

recomendação da Resolução CNE/CP n° 1/2006, que aprovou a DCN de Pedagogia.

A Tabela 10 traz informações gerais relativas aos cursos de Pedagogia, objeto

desta pesquisa, por ano de início de funcionamento. Na análise das informações,

verificou-se que do total de 33.265 novos cursos criados até 2003, apenas 10,3% eram

de Pedagogia. Em 2004, quando teve início o Sinaes, esse percentual cresceu para

22,2% e, passados dez anos, tem-se um percentual de 14% de cursos novos de

Pedagogia em relação ao total de outros cursos novos (INEP, 2012).

É possível argumentar que, em decorrência da norma que regia a formação de

professores dos anos iniciais do ensino fundamental, havia uma evidente demanda por

professores formados em curso Normal de nível médio, mesmo que essa formação

fosse, à época, uma profissão de apoio ao magistério.

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Embora se admitisse a formação do bacharel pedagogo e mais um ano

complementar, para a segunda formação de licenciado, muitos profissionais pediam

apostilamento de diploma de Pedagogia para ter acesso à formação de licenciado.148

Depois de 2008, tem-se uma queda na expansão dos cursos de Pedagogia, com

percentuais em patamares mais reduzidos que chegam a menos de 1%, se comparados a

criação de outros cursos. Esse fato pode ter sido ocasionado pela necessidade de uma

conformação do sistema à transformação dos cursos Normal Superior em Pedagogia,

conforme prescrito pela DCN de 2006.

Tabela 10 – Expansão dos Cursos de Pedagogia – Brasil (2004-2012)

Ano Pedagogia Outros Cursos Total geral

N % N %

Até 2003 5.474 10,3 27.791 89,7 33.265

2004 969 22,2 3.384 77,8 4.353

2005 430 11,1 3.465 88,9 3.895

2006 569 13 3.804 87 4.373

2007 593 15,3 3.274 84,7 3.867

2008 126 5,1 2.360 94,9 2.486

2009 45 2,1 2.076 97,9 2.121

2010 35 4,4 763 95,6 798

2011 16 3,1 502 96,9 518

2012 4 2 195 98 199

Sem data 24 0,8 2.842 99,2 2.866

Total 8.285 14,1 50.456 85,9 58.741 Fonte:MEC/Inep/Daes (2013).

148 As normas sobre o apostilamento de diploma de Pedagogia, no período estudado, são as seguintes: i) Parecer

CNE/CES nº 360/2004–Aprecia a Indicação CNE/CES 3/2004, sobre apostilamento de diplomas do curso de

Pedagogia, relativo ao direito de exercício do magistério nas séries iniciais do ensino fundamental; ii) Resolução

CNE/CES nº 1/2005 –Estabelece normas para o apostilamento em diplomas de cursos de graduação em

Pedagogia, para o direito ao exercício do magistério nos quatro anos iniciais do ensino fundamental; iii)

Resolução CNE/CES nº 8/2006 –Altera dispositivo da Resolução CNE/CES nº 1/2005; iv) Resolução CNE/CES

nº 2/2009–Alteração a Resolução CNE/CES nº 1/2005, modificada pela Resolução CNE/CES nº 8/2006; v)

Parecer CNE/CES nº 23/2006 –Aprecia a Indicação CNE/CES nº 8/2005, que propõe a revisão da Resolução

CNE/CES n° 1/2005; v) Resolução CNE/CES nº 8/2006 – Altera a Resolução CNE/CES nº 1/ 2005; vi) Parecer

CNE/CES nº 141/2006 – Consulta sobre a situação dos alunos que ingressaram no curso de Pedagogia nos anos

de 2004 e 2005, período anterior à Resolução CNE/CES nº 1/2005; vii) Parecer CNE/CES nº 171/2007 –Aprecia

a Indicação CNE/CES nº 6/2007 e propõe o estabelecimento de normas para o apostilamento em diplomas de

cursos de graduação em Pedagogia, para o direito ao exercício do magistério da Educação Infantil; viii) Parecer

CNE/CES nº 81/2008 –Proposta de alteração da Resolução CNE/CES n° 9/2007; ix) Resolução CNE/CES nº 2/

2008–Alteração da Resolução CNE/CES n° 9/2007; e x) Parecer CNE/CES nº 262/2008.

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É importante registrar que ficam fora dessa análise 24 cursos que não

informaram o ano do início de funcionamento, os quais representam 0,4% do total dos

8.285 cursos de Pedagogia criados no período.

O total de cursos criados no período (2004-2012) foi de 58.741. Deste total, a

expansão dos cursos de Pedagogia teve a seguinte representação: 8.285 (14%). Nessa

análise, o contexto das avaliações pelo Enade e pela avaliação in loco servem para

acompanhar a expansão e garantir a qualidade dos cursos.

Na Tabela 11, discute-se a evolução dos cursos novos de Pedagogia, segundo a

categoria administrativa das IES e o número de cursos participantes no Sinaes: Enade149

e avaliação in loco, por ano. Verifica-se que, a partir de 2004, é crescente o número de

cursos e IES participantes das avaliações do Sinaes. Sabendo-se que a sua realização

segue o calendário dos ciclos avaliativos que têm início com o Enade, um curso de

Pedagogia avaliado em 2005, 2008 e 2011, pode ter passado por processo de avaliação

in loco, nos dois anos subseqüentes.

Tabela 11 – Evolução do número de cursos avaliados pelo Enade e in loco – Brasil(2004-

2012)

Ano N° de cursos

(acumulado)

Nº de cursos avaliados pelo

Enade

Nº de cursos avaliados in loco (CC)

Privado Público Total Privado Público Total

2004 6443 - - - 80 4 84

2005 6873 257 634 891 91 2 93

2006 7442 - - - 42 - 42

2007 8035 - - - 15 - 15

2008 8161 322 854 1.176 107 8 115

2009 8206 - - - 15 - 15

2010 8241 - - - 260 16 276

2011 8257 825 324 1149 276 45 321

2012 8285 - - - 52 6 58

Total 8285 1.404 1.812 3.216 938 81 1.019

Fonte:MEC/Inep/Daes (2013).

149 Antes de 2004, os cursos de Pedagogia foram submetidos à avaliação pelo Exame Nacional de Cursos (ENC) nos

anos de 2001, 2002 e 2003. O número de cursos com estudantes concluintes e participantes do exame foram,

respectivamente, 460, 561 e 705, demonstrando uma tendência de crescimento da participação dos cursos de

Pedagogia na avaliação da educação superior.

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Em 2005, participou do Enade um total de 891 cursos de Pedagogia. Em 2008

esse número de cursos aumentou para 1.176 e em 2011 foram 1.149 cursos.

Considerando um total de 8.285 cursos de Pedagogia criados até 2012, a avaliação in

loco aparece, de forma muito tímida, pois apenas 1.019 cursos foram avaliados,

representando 12,3% dos cursos de Pedagogia ofertados no país. Essa realidade reduz o

processo de avaliação a um único instrumento, o exame de desempenho dos estudantes.

A situação aponta para um paradoxo na implementação do Sinaes. De um lado,

a orientação é de que todos os cursos devem ter avaliação in loco; por outro lado, o

tamanho do sistema de educação superior impõe o uso de estratégias de dispensa de

visita a fim de cumprir o propósito de avaliar os cursos em um período de três anos,

estimado para o ciclo avaliativo. O imperativo que se coloca é que antes de não ter

nenhum resultado de avaliação, melhor seria ter os indicadores de qualidade para

subsidiar os atos regulatórios. Corroborando com essa ideia, Verhine (2008) diz que,

embora imperfeitos na apreensão de resultados, os indicadores de qualidade

[...] são, certamente, melhores do que nada. É melhor ter alguns

resultados do que nenhum deles. Mas as limitações de tais resultados

têm que ser conhecidas e, ademais, eles nunca deveriam ser tomados

como a única medida de qualidade. É somente combinando-os com

outros indicadores, inclusive os que tratam de insumos,

frequentemente melhor mensuráveis através de visitas “in loco”, que

podemos avaliar a “qualidade” de cursos de graduação e, por

extensão, das instituições brasileiras de educação superior.

O Sinaes pressupõe ultrapassar a visão quantitativa e buscar o sentido amplo do

projeto educacional valorizando a qualidade da formação na área avaliada e não a

competitividade e o sucesso individual. Nesse sentido, os indicadores de qualidade

somente têm sentido para a regulação, se houver simultaneamente uma análise do

contexto em que o processo educacional se desenvolve, com possibilidades de conhecer

as especificidades dos cursos e IES. Essa é a grande crítica dos indicadores de qualidade

quando utilizados descontextualizados dos demais instrumentos de avaliação do Sinaes.

Ao analisar a Tabela 12, que trata dos conceitos Enade obtidos pelos cursos de

Pedagogia, tem-se que nos anos de 2005, 2008 e 2011, respectivamente, 100, 229 e 269

cursos com resultados 1 e 2 (insatisfatório). Considerando que em 2008, com o advento

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do CPC, houve dispensa de avaliação in loco para os cursos com resultados 3, 4 ou 5

(satisfatório), os cursos com conceitos Enade 1 e 2, acrescidos dos cursos Sem Conceito

(SC), 231 e 16 foram obrigatoriamente submetidos à visita de avaliação. Note-se que

em 2009, após a divulgação do resultado do Conceito Enade, todos os cursos de

Pedagogia com resultado insatisfatório foram submetidos a processo de supervisão. Em

2012, a Seres, por meio do Despacho nº 205, de 5 de dezembro de 2013,150 estabeleceu

Protocolo de Compromisso (PC) com todos os cursos que tiveram curso com CPC

insatisfatório em 2011.

Tabela 12 – Conceitos dos Cursos de Pedagogia no Enade 2005, 2008, 2011 – Brasil (2012)

Conceitos 2005 2008 2011

1 13 28 34

2 87 201 235

3 373 441 470

4 160 239 209

5 12 36 30

SC 246 231 16

Total Geral 891 1176 994 Fonte:MEC/Inep/Daes (2013).

Destaca-se que as avaliações in loco foram realizadas majoritariamente nas IES

privadas, ocorrendo no período de 2004 a 2012 apenas 81 visitas em cursos de

Pedagogia de IES públicas e 938 visitas em cursos de IES privadas. Considerando que o

número de avaliações realizadas é bem inferior ao número de atos regulatórios

(autorização, reconhecimento e renovação de reconhecimento) em andamento, pode-se

inferir que as visitas estão ocorrendo muito mais em virtude da expansão para os atos de

autorização e reconhecimento do que para o ato de renovação de reconhecimento em

que se aplicam os critérios de dispensa de visita a partir dos resultados dos ciclos

avaliativos do Sinaes.

150 O Despacho nº 205, de 5 de dezembro de 2013, acolhe a Nota Técnica 786/2013/Direg/Seres/MEC, que

sistematiza parâmetros e procedimentos para a Renovação de Reconhecimento de Cursos, tomando por base os

resultados do ciclo avaliativo 2012, divulgado por meio do Conceito Preliminar de Curso –CPC 2012, em

conformidade com o Decreto Federal nº 5.773, de 9 de maio de 2006, e suas alterações, e a Portaria MEC nº 40,

de 12 de dezembro de 2007, republicada em 29 de dezembro de 2010.

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As propostas de avaliação têm caráter formativo, visando ao aperfeiçoamento

da comunidade acadêmica e da instituição como um todo. O alcance de elevados

patamares de qualidade institucional e educacional advém da necessária mudança e

inovação nas IES, cuja premência recai no exercício da avaliação institucionalcomo

forma de elaborar um diagnóstico que retrate as potencialidades e fragilidades de cada

curso, departamento, unidade nos níveis micro e macro institucionais (LEITE, 2005).

Essa abrangência da avaliação é garantida por meio do relatório de avaliação in

loco, que segundo o Sinaes deveria ocorrer em tempos e momentos regulares para

orientar a melhoria da qualidade.

Entretanto, de fato, pode estar havendo certo atraso para avaliar os cursos em

fase de renovação de reconhecimento. E justamente os cursos que por terem obtido um

CPC insatisfatório deveriam se submeter à avaliação in loco. A instalação do calendário

regulatório151 pelo MEC parece ser uma iniciativa para ordenar a análise dos processos e

implica o estabelecimento de um fluxo processual que atenda às prerrogativas do

Sinaes.

Na Tabela 13, analisa-se que a expansão dos cursos de Pedagogia no período

de 2004 a 2012 ocorreu de forma acelerada no setor privado, apresentando taxas de

crescimento anual que chegam 100%. No âmbito estadual, verificam-se muitas

variações de número de cursos de Pedagogia, com taxas de crescimento de 82,1% em

2004. Na esfera municipal, a expansão ficou próxima de 1%. É importante lembrar

sobre a autonomia dos Estados para a criação dos cursos. Em termos de quantidade, os

cursos de Pedagogia na esfera pública são ofertados majoritariamente pelos Estados,

depois pela esfera federal e alguns ainda pela rede municipal. Nos últimos anos (2009-

2012), destaca-se a tendência de crescimento dos cursos de Pedagogia exclusivamente

pela rede privada de educação superior.

A distribuição dos cursos de graduação segundo a categoria administrativa

desenha o perfil da sua oferta. Os de Pedagogia constituem a maioria dos cursos entre as

licenciaturas e 52% deles são oferecidos por instituições privadas, segundo o Censo da

Educação Superior (INEP, 2012). As características predominantes da expansão dos

151 Portaria Normativa nº1, de 2 de janeiro de 2014, estabelece o Calendário 2014 de abertura do protocolo de

ingresso de processos regulatórios no sistema e-MEC (BRASIL, 2014).

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cursos de licenciatura acompanham as tendências gerais de expansão da educação

superior no país, que experimentam um acelerado processo de transnacionalização das

instituições. Daí resulta grande desequilíbrio entre o crescimento do setor educacional

privado sem fins lucrativos e o setor privado, que, operando com empresas de capital

aberto, não precisam apresentar o desempenho e a qualidade das demais empresas do

tipo para atrair investidores, dado o grande potencial de expansão do mercado

educacional e a baixa competitividade que ele exige (SGUISSARDI, 2013).

A transformação das instituições de educação superior privadas em grandes

empresas é fator que se destaca na expansão dos cursos em diferentes estados e regiões

do país; entretanto, essa ampliação da oferta deveria ter sido acompanhada da necessária

qualidade que oportunizasse o desenvolvimento efetivo da capacidade de produção de

conhecimentos na área. O crescimento dos cursos de Pedagogia particularmente

evidencia essa tendência de forma acentuada.

Tabela 13 – Número de cursos de Pedagogia, segundo a Categoria Administrativa– Brasil

(2003-2012)

Ano Estadual Municipal Federal Privado Total geral Total

cumulativo N % N % N % N % N %

2003 111 35,5 6 1,9 3 1 193 61,7 313 100 5.474

2004 796 82,1 2 0,2 28 2,9 143 14,8 969 100 6.443

2005 189 44 1 0,2 20 4,7 220 51,2 430 100 6.873

2006 378 66,4 4 0,7 18 3,2 169 29,7 569 100 7.442

2007 352 59,4 1 0,2 36 6,1 204 34,4 593 100 8.035

2008 52 41,3 1 0,8 4 3,2 69 54,8 126 100 8.161

2009 0 0 0 0 3 6,7 42 93,3 45 100 8.206

2010 0 0 0 0 0 0 35 100 35 100 8.241

2011 0 0 0 0 0 0 16 100 16 100 8.257

2012 0 0 0 0 0 0 4 100 4 100 8.261

Sem data 0 0 0 0 0 0 24 100 24 100 8.285

Total geral 5.080 61,3 66 0,8 299 3,6 2.840 34,3 8.285 100 8.285

Fonte:MEC/Inep/Daes (2013).

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O desafio é superar uma histórica contradição. Enquanto professores,

sobretudo, os formados em nível médio, são questionados pela fragilidade da formação

para ensinar nas etapas da educação básica (educação infantil e anos iniciais do ensino

fundamental), os professores especialistas dos anos finais (formados nas licenciaturas)

vivem o contrário: dominam o ensino específico nas respectivas áreas de formação, mas

têm reduzido domínio na interdisciplinaridade.

A exigência de concluir um curso de graduação (Pedagogia) para lecionar na

educação básica e a criação dos Institutos Superiores de Educação para a oferta do curso

Normal Superior tiveram a intenção de qualificar a formação docente com a integração

dos fundamentos da educação, conteúdos específicos e a prática. A determinação de

migração da formação docente para o nível superior, trazida pela LDBEN,152 parece ter

trazido poucas contribuições para a expansão. Impulsionado pela demanda da educação

básica, o número de cursos de Pedagogia aumentou até 2007 e reduziu o crescimento a

partir de 2008.

A Tabela 14 mostra o total de cursos de Pedagogia criados por ano e a situação

da oferta nos sistemas de ensino. No período de 2004 a 2012, do total de 8.285 cursos

cadastrados, 233 foram extintos, 967 estiveram com status de “em extinção” e 1.611 em

atividade. Em 2006 e 2007, com o advento da publicação das DCN de Pedagogia, que

terminaram com os Cursos Normal Superior, registram-se, respectivamente, 313 e 270

cursos em extinção. Esse fato pode estar ligado à migração de cursos para a Pedagogia,

como ressaltado anteriormente.

152 O artigo 62 da LDBEN estabelece que a formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível

superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação,

admitida como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries

do ensino fundamental, oferecida em nível médio, na modalidade Normal (BRASIL, 1996).

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Tabela 14 – Situação dos cursos de Pedagogia, segundo o ano de ingresso no sistema federal

de ensino – Brasil (2004-2012)

Ano Em atividade Em extinção Extinto Total geral Total cumulativo

2004 731 151 87 969 6.443

2005 185 205 40 430 6.873

2006 203 313 53 569 7.442

2007 308 270 15 593 8.035

2008 96 24 6 126 8.161

2009 37 3 5 45 8.206

2010 11 0 24 35 8.241

2011 16 0 0 16 8.257

2012 4 0 0 4 8.261

Sem data 20 1 3 24 8.285

Total 1611 967 233 2811 8.285

Fonte:MEC/Inep/Daes (2013).

A seguir, analisam-se os registros do Conceito de Curso (CC), resultante da

avaliação in loco nos cursos de Pedagogia. Em razão da autonomia federativa, os cursos

de Pedagogia avaliados, conforme Tabela 15, são em sua maioria da rede privada. As

redes públicas estaduais e municipais tendem a fazer a opção de avaliação pelo Enade,

mas mantêm seus próprios processos de avaliação externa. Assim, considerando a

ausência do acordo de cooperação, as IES integrantes dos sistemas estaduais e do

Distrito Federal têm se submetido ao processo de avaliação pelo sistema nacional

voluntariamente. Registra-se, no período de 2004 a 2012, um total de 938 avaliações

realizadas nos cursos de Pedagogia de IES privadas, 82 avaliações em cursos de IES

federais, duas avaliações em cursos de IES municipais e nenhuma avaliação in loco

realizada em IES estadual.

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Tabela 15 – Distribuição do CC dos cursos de Pedagogia, por Categoria

AdministrativaBrasil (2004-2012)

Ano Municipal Federal Privado Total geral

2004 - 4 80 84

2005 - 2 91 93

2006 - - 42 42

2007 - - 15 15

2008 - 8 107 115

2009 - - 15 15

2010 - 16 260 276

2011 2 46 276 324

2012 - 6 52 58

Total 2 82 938 1022 Fonte:MEC/Inep/Daes (2013).

Na Tabela 16, observamos o desempenho dos cursos de Pedagogia no Conceito

Preliminar de Curso (CPC), indicador de qualidade criado em 2008 para servir de

referência ao processo de avaliação do Sinaes. O CPC é constituído por insumos da

avaliação do Enade, da organização didático-pedagógica e da infraestrutura dos cursos a

partir dos questionários do estudante do Enade e das informações de docentes (titulação

e regime de trabalho) extraídas do Censo da Educação Superior/Inep, referente ao ano

da aplicação do Enade. Sobre essa avaliação, Dias Sobrinho (1996) destaca que

[...] indicadores quantitativos promovem um balanço das dimensões

mais visíveis e facilmente descritíveis, a respeito de medidas físicas,

como área construída, titulação de professores, descrição do corpo

docente, discente e servidores, relação dos servidores, dos produtos,

das formaturas, volume de insumos, expressões numéricas

supostamente representando qualidades, como no caso de número de

citações, muitas vezes permitindo o estabelecimento de “ranking” de

instituições, com sérios efeitos nas políticas de alocação (ou

“desalocação”?) de financiamento e como organizador social de

estudantes e profissionais (p. 7).

A proposta do Sinaes é de avaliação com o objetivo de melhoria da qualidade.

Em contraponto, os indicadores de qualidade representam uma limitação real de uso dos

seus resultados para a tomada de decisão pela gestão. O modelo de indicadores se

aproxima mais do uso da avaliação como forma de classificar os cursos e IES,

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modificando os objetivos reais da avaliação. O impacto dos indicadores de qualidade

nos cursos de Pedagogia não é diferente.

A divulgação do CPC dos cursos de Pedagogia em 2009 e 2012 abrangeu um

total de 1.176 e 883 cursos de Pedagogia avaliados em 2008 e 2011, respectivamente.

Em 2008, dos 854 cursos avaliados da rede privada, 391 (33,2%) tiveram resultado

satisfatório, 182 (15,4%) resultado insatisfatório e 281(32,9%) ficaram Sem Conceito.

Em 2011, foram divulgados os CPCs de 656 cursos de Pedagogia de IES privada, 488

(74,4%) satisfatórios, 76 (11,6%) insatisfatórios e 92 (14%) SC.

A rede pública de educação superior em 2008 teve 320 cursos de Pedagogia

com CPC divulgado. Destes, 50 (15,6%) obtiveram resultados insatisfatórios e 138

(43,1%) satisfatórios, e ainda, 132 (41,2%) ficaram Sem Conceito (SC). Em 2011,

foram divulgados os CPC de 227 cursos de Pedagogia da rede privada de educação

superior e, destes, 160 (70,5%) foram satisfatórios, 28 (12,3%) insatisfatórios e 39

(17,2%) SC.

Tabela 16 – Distribuição do CPC dos cursos de Pedagogia por Categoria Administrativa–

Brasil (2008-2011)

CPC 2008 Público Privado Total geral

1 4 4 8

2 46 178 226

3 84 325 409

4 44 65 109

5 10 1 11

SC 132 281 413

Total geral 320 854 1176

CPC 2011 Público Privado Total geral

1 3 3 6

2 25 73 98

3 91 327 418

4 66 148 214

5 3 13 16

SC 39 92 131

Total geral 227 656 883 Fonte:MEC/Inep/Daes (2013).

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266

Para melhor caracterização dos cursos de Pedagogia, analisaram-se também a

situação nacional, a região geográfica e a categoria administrativa. Conforme a Tabela

17, do total de 8.285 cursos de Pedagogia, a Região Nordeste é a que tem o maior

número de cursos (5.106), correspondendo a 61,6%, sendo que destes, 4.747 (93%) são

da rede estadual de educação superior. A Região Sudeste tem 1.876 (22,6%) cursos,

1.604 (85,5%) ofertados pela rede privada de educação superior. A Região Sul tem 637

(7,7%) cursos e destes, 486 (76,3%) estão na rede privada. A Região Centro-Oeste tem

408 (4,9%) cursos, sendo que a maior parte deles, 308 (75,5%), está na rede privada.

Por último, a Região Norte representa um total de 258 (3,1%) cursos e é a região que

tem a situação mais equilibrada de oferta por categoria administrativa. Do total de

cursos da região, 145 (56,2%) são da rede privada, 113 (43,8) cursos da esfera pública.

Tabela 17 – Número de cursos de Pedagogia, segundo a região geográfica e categoria

administrativa – Brasil (2003-2012)

Ano Centro-Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul

Total

Geral

bli

co

Pri

vad

o

Tota

l

bli

co

Pri

vad

o

Tota

l

Pu

bli

co

Pri

vad

o

Tota

l

bli

co

Pri

vad

o

Tota

l

bli

co

Pri

vad

o

Tota

l

2003 75 189 264 3070 144 3.214 93 90 183 221 1141 1362 101 350 451 5474

2004 7 10 17 790 25 815 7 7 14 11 81 92 11 20 31 969

2005 13 51 64 169 56 225 3 15 18 12 71 83 13 27 40 430

2006 0 19 19 383 20 403 4 7 11 7 94 101 6 29 35 569

2007 0 16 16 350 25 375 3 12 15 17 100 117 19 51 70 593

2008 4 5 9 47 9 56 3 4 7 2 50 52 1 1 2 126

2009 1 8 9 0 7 7 0 6 6 2 20 22 0 1 1 45

2010 0 6 6 0 3 3 0 0 0 0 26 26 0 0 0 35

2011 0 2 2 0 2 2 0 3 3 0 6 6 0 3 3 16

2012 0 1 1 0 2 2 0 0 0 0 1 1 0 0 0 4

SD 0 1 1 0 4 4 0 1 1 0 14 14 0 4 4 24

T 100 308 408 4.809 297 5.106 113 145 258 272 1.604 1.876 151 486 637 8.285

Fonte:MEC/Inep/Daes (2013).

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267

Nesse cenário, a Região Nordeste se diferencia pela centralização da oferta dos

cursos de Pedagogia na rede pública estadual, de todas as demais regiões, com maior

número de cursos ofertados pela rede privada de educação superior. É importante

ressaltar que a partir de 2009 é bastante reduzida a expansão dos cursos de Pedagogia,

com tendência de queda em todas as regiões brasileiras. É significativo que quando

ocorre a criação de novos cursos, em qualquer região do país, ocorre pela via privada de

educação superior.

Ainda sobre a expansão dos cursos de Pedagogia é importante registrar que o

crescimento foi expressivo nas Regiões Nordeste e Sudeste. Conforme a Tabela 18, a

Região Nordeste apresentou em 2004 a maior taxa de expansão do período, com 84,1%.

A Região Sudeste alcançou em 2010 uma taxa de expansão de 74%. A Região Sul

apresentou percentuais de evolução do número de cursos de Pedagogia mais constantes,

com menos de 12% em todos os anos pesquisados. A Região Centro-Oeste, revelou a

maior taxa de expansão em 2009, com 20% e menos de 15% em todos os demais anos.

A Região Norte apresentou em todos os anos uma taxa de expansão inferior a 10% e

apenas em 2009 uma taxa de 13,3%.

Notadamente, a Região Nordeste teve destacado percentual de criação de

novos cursos, seguida das Regiões Sudeste e Sul. As Regiões Centro-Oeste e Norte

também apresentaram evolução no número de cursos, porém de forma mais lenta que as

demais regiões. Esse fato pode indicar o não atendimento a uma demanda regional de

cursos de Pedagogia, devido às dificuldades de cumprimento das exigências da

avaliação para a constituição de um curso de qualidade. Um dos fatores limitadores da

expansão de novos cursos pode estar relacionado ao reduzido número de professores

com titulação em algumas regiões do país.

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268

Tabela 18 – Percentuais da expansão de cursos de Pedagogia, segundo a região geográfica –

Brasil (2004-2012)

Ano Centro-Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul Total

2004 1,8 84,1 1,4 9,5 3,2 969

2005 14,9 52,3 4,2 19,3 9,3 430

2006 3,3 70,8 1,9 17,8 6,2 569

2007 2,7 63,2 2,5 19,7 11,8 593

2008 7,1 44,4 5,6 41,3 1,6 126

2009 20 15,6 13,3 48,9 2,2 45

2010 17,1 8,6 0 74,3 0 35

2011 12,5 12,5 18,7 37,6 18,7 16

2012 25 50 0 25 0 4 Fonte:MEC/Inep/Daes (2013).

O conceito de autonomia universitária153 é amplo, sendo um preceito

fundamental para o pleno exercício das prerrogativas e funções sociais das

universidades. Assim, a autonomia é um privilégio das instituições organizadas como

universidades e centros universitários. Portanto, as faculdades estão subordinadas a leis

específicas e restritivas de ações, necessitando de autorização prévia para criar ou

extinguir cursos, por exemplo.

Segundo Durham (2003), a universidade goza de autonomia para executar as

[...] atividades que lhes são próprias, e que não são realizadas para seu

exclusivo interesse, mas constituem um serviço que presta à

sociedade. Como consequência, o reconhecimento da autonomia não

exime as instancias públicas mais amplas da verificação da prestação

efetiva destes serviços (p. 277).

Esta reflexão conduz à interpretação de uma liberdade para fazer, mas nos

limites de fazer com qualidade e, nesse sentido, a avaliação deve assegurar que essas

IES cumpram suas funções de modo compatível com a autonomia que lhes foi

assegurada.

153 A autonomia se revela uma conquista das universidades públicas, estando garantida no artigo 207 da CF/1988,

que estabelece que “as universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão

financeira e patrimonial, e que obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”

(BRASIL, 1988).

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269

A autonomia seria, então, um elemento facilitador da expansão, tendo em vista

que a IES (universidades e centros universitários) pode apenas informar a criação de um

novo curso e estará dispensada da visita de avaliação para fins de autorização do

funcionamento. Entretanto, mesmo contemplada na CF/1988, a autonomia passou a ser

apenas uma norma legal, permanecendo as universidades com autonomia restritiva. O

tema, recorrente nos movimentos de docentes, é premissa básica das propostas de

reforma da educação superior brasileira. A LDBEN/1996 trouxe inovações pedagógicas

como a criação de universidades por campo de saber, reorganização da universidade e

criação de cursos à distância. Para garantir a qualidade o Sinaes tem, entre outras

finalidades, a promoção do aprofundamento dos compromissos e responsabilidades

sociais das instituições de educação superior, “por meio da afirmação da autonomia e da

identidade institucional” (BRASIL, 1988, 1996, 2004).

Para analisar o impacto da autonomia universitária na expansão dos cursos de

Pedagogia, a Tabela 19 apresenta o número de cursos de IES com e sem autonomia, por

região brasileira. Constata-se que o número de cursos de Pedagogia sempre é maior em

IES com autonomia (centros universitários e universidades) do que em IES sem

autonomia (faculdades).

No período de 2004 a 2012, registravam-se 8.285 novos cursos de Pedagogia.

Dos 5.106 cursos da Região Nordeste, 4.836 (94,7%) foram criados por prerrogativa de

autonomia das IES. Na Região Sudeste, dos 1.876 cursos de Pedagogia, foram criados

com autonomia 1.152 (61,4%). A Região Sul figurava com 637 cursos de Pedagogia,

sendo que 437 (68,6%) criados por autonomia institucional. A Região Centro-Oeste

tinha 408 cursos e 225 (55,1%) em IES com autonomia. Já a Região Norte contava com

258 cursos de Pedagogia e 150 (58,1%) em IES com autonomia.

O percentual de cursos de Pedagogia ofertados por IES com autonomia

apresenta uma pequena variação de 55% a 68% nas Regiões Centro-Oeste, Norte,

Sudeste, Sul. O impacto da autonomia na Região Nordeste se deu com a expansão de

94% dos cursos. Entretanto, cabe lembrar a competência atribuída à rede estadual, já

que a maioria dos cursos de Pedagogia da Região Nordeste é da esfera pública estadual.

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270

Tabela 19 – Número de cursos de Pedagogia, segundo a região geográfica e categoria

administrativa – Brasil (2003-2012)

Ano Centro-Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul

To

tal

ger

al

Fa

culd

ad

e

IES

au

tôn

om

as

To

tal

Fa

culd

ad

e

IES

au

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To

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ad

e

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as

To

tal

Fa

culd

ad

e

IES

au

tôn

om

as

To

tal

Fa

culd

ad

e

IES

au

tôn

om

as

To

tal

Até

2003 115 149 264 126 3088 3.214 58 125 183 473 889 1362 135 316 451 5.474

2004 8 9 17 23 792 815 5 9 14 7 85 92 3 28 31 969 2005 15 49 64 55 170 225 15 3 18 38 45 83 26 14 40 430 2006 17 2 19 18 385 403 9 2 11 56 45 101 18 17 35 569 2007 10 6 16 21 354 375 9 6 15 67 50 117 39 31 70 593 2008 3 6 9 9 47 56 2 5 7 23 29 52 2 0 2 126 2009 8 1 9 7 0 7 6 0 6 19 3 22 0 1 1 45 2010 3 3 6 3 0 3 0 0 0 22 4 26 0 0 0 35 2011 2 0 2 2 0 2 3 0 3 6 0 6 3 0 3 16 2012 1 0 1 2 0 2 0 0 0 1 0 1 0 0 0 4 S/R 1 0 1 4 0 4 1 0 1 12 2 14 4 0 4 24

Total 183 225 408 270 4.836 5.106 108 150 258 724 1.152 1.876 230 407 637 8.285 Fonte:MEC/Inep/Daes (2013).

SR – Sem registro

A Tabela 20 apresenta a distribuição geográfica do número de cursos de

Pedagogia avaliados in loco, por categoria administrativa, a partir de 2004. Dos cursos

avaliados até 2012, 1.022 eram da rede privada de educação superior. A Região Sudeste

figurou com 461 cursos avaliados (45,1%), expressando o maior número de avaliações

realizadas. Desse total, 442 cursos (95,9%) pertenciam à rede privada de educação

superior. A Região Sul registrou 171 cursos de Pedagogia avaliados (16,7%) e 150

(87,7%) da rede privada. A Região Nordeste tinha 180 cursos avaliados (17,6%), sendo

156 (86,7%) vinculados à rede privada. A Região Centro-Oeste contou com 121 (11,8%)

cursos de Pedagogia avaliados e 112 (92,6%) eram da rede privada. A Região Norte

contou com 89 cursos (8,7%) avaliados e apenas 11 (12,3%) eram da rede pública.

Destaca-se que nos anos de 2010, 2011 e 2012 aumentou significativamente o número

de cursos avaliados. Em três anos, foram avaliados 64,4%do total de 1.022 cursos

avaliados de 2004 a 2012.

É importante lembrar que não há ocorrência de CC para IES dos Sistemas

Estaduais ou Municipais devido a não participação desses cursos na avaliação in loco do

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Sinaes. Esse fato faz com os conceitos obtidos pela avaliação conduzida pelos conselhos

estaduais fiquem restritos àquela instância regulatória. O e-MEC registra apenas os CCs

dos cursos do sistema federal de ensino. Ressalvada a Região Sudeste, na qual se

verifica ocorrência de CC para curso de IES municipal, no ano de 2011, provavelmente

devido à migração das IES para o sistema federal de ensino, para cumprimento de

medida de inconstitucionalidade (ADIN).154

Tabela 20 – Distribuição geográfica do quantitativo de CC atribuído aos cursos de

Pedagogia por categoria administrativa - Brasil (2004-2012)

Ano Centro-Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul

To

tal

ger

al

Fed

era

l

Pri

va

do

To

tal

Fed

era

l

Pri

va

do

To

tal

Fed

era

l

Pri

va

do

To

tal

Fed

era

l

Mu

nic

ipa

l

Pri

va

do

To

tal

Fed

era

l

Pri

va

do

To

tal

2004 1 7 8 0 6 6 0 7 7 3 0 51 54 0 9 9 84

2005 0 14 14 1 12 13 0 8 8 1 0 36 37 0 21 21 93

2006 0 2 2 0 6 6 0 2 2 0 0 23 23 0 9 9 42

2007 0 0 0 0 7 7 0 0 0 0 0 7 7 0 1 1 15

2008 0 15 15 6 18 24 0 8 8 0 0 50 50 2 16 18 115

2009 0 2 2 0 4 4 0 1 1 0 0 5 5 0 3 3 15

2010 1 32 33 6 48 54 1 22 23 8 0 113 121 0 45 45 276

2011 6 36 42 8 49 57 8 25 33 5 2 127 134 19 39 58 324

2012 1 4 5 3 6 9 2 5 7 0 0 30 30 0 7 7 58

Total 9 112 121 24 156 180 11 78 89 17 2 442 461 21 150 171 1022

Fonte:MEC/Inep/Daes (2013).

A prerrogativa de autonomia conferida às universidades e aos centros

universitários no sistema federal de ensino concede o benefício de dispensa da avaliação

in loco para fins de autorização dos cursos, sendo obrigatória a avaliação para o ato de

reconhecimento e para os cursos com CPC insatisfatório na fase de renovação de

reconhecimento. Portanto, na Tabela 21, o número de cursos que tiveram CC de 2004 a

2012 é menor nas IES com autonomia, embora o IGC tenha se constituído como um

importante indicador que orienta a prerrogativa de autonomia também para as

154 O Edital Seres/MEC nº 1, de 14 de agosto de 2012, regulamenta os procedimentos do “regime de migração de

sistemas”, necessários ao cumprimento da legislação nacional pertinente, definindo a forma como as instituições

de educação superior preponderantemente mantidas e/ou geridas pela iniciativa privada, atualmente sob o poder

regulatório dos sistemas estaduais de ensino, serão submetidas ao regramento federal, observando-se as

disposições dos artigos 9º e 16 da Lei 9.394/1996 (BRASIL, 2011).

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272

faculdades. As IES estaduais têm autonomia em relação ao sistema federal de ensino,

por estarem sob a gestão da Unidade Federativa.

Dos 1.022 cursos avaliados (CC) no período de oito anos desde 2004, 70,5%

foram cursos avaliados de IES sem autonomia: 13,9% na Região Nordeste, 8,8% na Região

Centro-Oeste, 6,4% na Região Norte, 31,3% na Região Sudeste e 10,1% na Região Sul.

Tabela 21 – Distribuição geográfica do CC atribuído aos cursos de Pedagogia, por

organização acadêmica – Brasil (2004-2012)

Ano

Centro-Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul

To

tal

ger

al

Facu

lda

de

IES

au

tôn

om

as

To

tal

Facu

lda

de

IES

au

tôn

om

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To

tal

Facu

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To

tal

Facu

lda

de

IES

au

tôn

om

as

To

tal

Facu

lda

de

IES

au

tôn

om

as

To

tal

2004 4 4 8 4 2 6 2 5 7 31 23 54 2 7 9 84 2005 13 1 14 12 1 13 8 0 8 23 14 37 7 14 21 93 2006 2 0 2 5 1 6 1 1 2 14 9 23 4 5 9 42 2007 0 0 0 5 2 7 0 0 0 6 1 7 1 0 1 15 2008 8 7 15 16 8 24 8 0 8 42 8 50 9 9 18 115 2009 2 0 2 4 0 4 1 0 1 5 0 5 3 0 3 15 2010 27 6 33 42 12 54 18 5 23 81 40 121 35 10 45 276 2011 31 11 42 49 8 57 22 11 33 96 38 134 37 21 58 324 2012 3 2 5 6 3 9 5 2 7 22 8 30 5 2 7 58 Total 90 31 121 143 37 180 65 24 89 320 141 461 103 68 171 1022

Fonte:MEC/Inep/Daes (2013).

Em relação ao número de cursos de Pedagogia, destaca-se que o CC é

inexpressivo no período analisado, para que seja utilizado como subsídio à regulação.

Quanto à participação dos cursos no Enade e no CPC, observa-se o significativo

aumento no número de cursos avaliados a cada ciclo avaliativo do Sinaes,

provavelmente decorrente da obrigatoriedade legal do Enade para os cursos com

estudantes concluintes.

Nesse sentido, o Enade pressupõe continuidade do processo de avaliação do

desempenho de estudantes. Entretanto, a partir de 2008, os resultados do Enade

ganharam visibilidade por se constituírem um insumo do CPC, impactando o processo

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273

de avaliação in loco pelo uso da orientação de dispensa da visita de avaliação dos cursos

que apresentam resultado satisfatório (3, 4 e 5).

O CPC vem sofrendo alterações. No começo em 2008, foi composto de seis

indicadores e atualmente é composto de oito insumos com pesos diferenciados. É

limitado pela ausência de dados que representem as dimensões organização pedagógica,

corpo docente e infraestrutura de um curso, como ocorre no instrumento de avaliação in

loco.

O dilema que se enfrenta é a abrangência do processo avaliativo e o

redimensionamento da capacidade estatal instalada para visitar todos os cursos

oferecidos no país. Entretanto, seria inadmissível considerar apenas o resultado do

conceito Enade para avaliar a qualidade curso, transgredindo os princípios e as

diretrizes enfatizadas na proposição do Sinaes.

3.5. CONCLUSÃO

O compromisso da avaliação é o de fazer com que os atores envolvidos

participem e se responsabilizem por significados e interpretações da realidade. Para

tanto, conhecer o processo avaliativo, levantar e organizar os dados contidos nos

documentos oficiais e internos e contribuir com a melhoria da qualidade é essencial e

amplia a confiabilidade do processo. No que diz respeito à formação docente para atuar

na educação básica, a qualidade dos cursos de Pedagogia pressupõe superar

dificuldades, como o movimento de procura inicial da carreira, as características da

profissão, bem como a permanência na atividade. Não se trata de alienação e/ou de

simples acomodação com a situação da profissão, mas um trabalho de gestão,

reestruturação de programas para o atendimento às expectativas da demanda de

formação docente em consonância com as DCN e a valorização profissional.

Conforme Gatti e Barreto (2009), as novas condições de trabalho docente

exigem dos professores mais do que competências no ato de ensinar;

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274

[...] exigem qualidades e atitudes pessoais como interesse, paixão,

paciência, vontade, convicções, criatividade e outras não passíveis de

ser padronizadas, tampouco desenvolvidas em cursos e capacitações

formais. Nessas condições é a pessoa do professor, com seu modo de

ser, conviver, interpretar o mundo que passa a estar envolvida na

qualidade do trabalho e não apenas o cumprimento de uma função

definida no nível sistêmico (p. 232)

Visando aprofundar o conhecimento específico sobre os cursos de Pedagogia

selecionados para esta pesquisa, foi realizado neste capítulo um levantamento histórico

dos processos avaliativos do Sinaes. Com essa análise, buscou-se identificar possíveis

descontinuidades de oferta na trajetória dos cursos. Essas descontinuidades podem estar

relacionadas a diferentes fatores, tais como: i) à concepção de avaliação dos atores

institucionais; e ii) ao uso ou o não uso dos resultados da avaliação pela gestão da IES e

do Estado. O objetivo desta análise, portanto, foi debater o sentido amplo da avaliação

para os cursos de Pedagogia, se para regular a qualidade e/ou para induzir à qualidade.

Em uma análise sistêmica da qualidade dos cursos de Pedagogia, pode-se dizer

que existem influências decorrentes dos processos de avaliações in loco (CC).

Entretanto, embora com resultados qualitativos, o CC é pouco expressivo em relação ao

Enade e ao CPC. Isso se deve ao uso dos resultados pela regulação e pode indicar

redução do potencial do Sinaes para o acompanhamento da expansão da educação

superior com qualidade.

Nessa lógica, o cenário poderá ser de instabilidade na oferta dos cursos de

graduação, principalmente se for desconsiderada a qualidade da formação dos

estudantes. Incide de imediato no aumento significativo do número de cursos extintos

porque não há garantia de permanência dos cursos no sistema por não alcançarem

resultados satisfatórios. Aliados a essa situação, os respectivos cursos podem não estar

recebendo investimentos da instituição mantenedora para melhorar a qualidade com

base no diagnóstico da avaliação.

Na análise global dos cursos de Pedagogia, foi percebida a inexistência parcial

ou total da concepção emancipatória do Sinaes, que parece estar centrada na finalidade

exclusivamente regulatória. Essa compreensão de avaliação desconsidera o processo de

construção dos cursos e focaliza a preocupação apenas no resultado. São, portanto,

notáveis as implicações na política educacional, pois, além de influenciar a situação de

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permanência dos cursos de graduação no sistema federal de ensino, indica, muitas

vezes, descontinuidade da oferta por decisão regulatória.

Entre as consequências dessa avaliação pautada em resultados sem

investimento na qualidade, parece estar a insegurança das IES que não alcançam

resultados satisfatórios nos seus cursos. Nesse sentido, com base no levantamento

histórico dos resultados da avaliação, analisam-se a seguir os avanços dos cursos de

Pedagogia quanto ao desempenho no Sinaes.

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276

CAPITULO 4 – OS CURSOS DE PEDAGOGIA NOS CICLOS AVALIATIVOS

DO SINAES

Pesquiso para constatar, constatando,

intervenho, intervindo educo e me educo.

Pesquiso para conhecer o que ainda não

conheço e comunicar ou anunciar a novidade

(FREIRE, 1998, p. 32).

4.1. INTRODUÇÃO

A fim de contextualizar as ações de avaliação e regulação que perpassam a

orientação da gestão do Estado e das IES, já discutido no Capítulo 1, bem como as

políticas, diretrizes e princípios do Sinaes, analisados no Capítulo 2, e seus

desdobramentos sobre a qualidade da educação superior debatido no Capítulo 3, esta

parte do trabalho e a seguinte se voltam para a análise dos dados. O objetivo desta

análise é interpretar as informações obtidas nos índices e resultados da avaliação e

debater sobre os cursos de Pedagogia nos ciclos avaliativos do Sinaes em 2005, 2008 e

2011. A partir da visão dos atores institucionais (coordenadores de curso e estudantes),

busca-se compreender o significado da avaliação e o uso para induzir à qualidade e/ou

regular a oferta da educação superior.

Na caracterização dos cursos de Pedagogia nos ciclos avaliativos do Sinaes,

seguiu-se um caminho metodológico a fim de conhecer a trajetória da avaliação e seu

impacto nas melhorias do curso. Nesse sentido, Gatti (2002) define que o método “não é

um roteiro fixo, é uma referência” (p. 63), que pode ser elaborada na prática; portanto,

em construção e dependente de um conhecimento sólido que advém da experiência do

pesquisador. Embora possa conter a flexibilidade necessária para adequar-se a inúmeras

situações, um roteiro requer que tudo seja registrado, principalmente, no que diz

respeito às decisões já planejadas e aos imprevistos que podem surgir. Além disso, com

essa referência, novos caminhos podem ser construídos ao longo do processo crítico e

reflexivo de investigação.

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Destaca-se, portanto, que na construção histórica da avaliação, muitos foram os

historiadores, filósofos, pedagogos e políticos que fizeram pesquisas e estudos,

discutidos sob diversos pontos de vista: da qualidade, da quantidade, dos fatos (sociais,

humanos e econômicos). Nesse contexto, trabalhar com o materialismo histórico-

dialético aproxima o objeto da cientificidade da realidade, tendo em vista que o método

se traduz em um caminho pelo qual se chega a um objetivo preestabelecido. Para a

filosofia marxista, a dialética nomeia tanto um método de conhecimento da realidade

quanto o movimento da própria realidade.

Paulo Netto (2011), estudioso da obra marxista, afirma a importância do

pensamento dialético, pois, no processo de conhecimento, o elemento que dirige, que

implica a sua direção, é o objeto, não o sujeito. “Assim, não se pode escolher o método

arbitrária ou aleatoriamente. Isso, do ponto de vista dialético, é um absurdo. Há que se

ter como método aquele que seja capaz de apreender o movimento do objeto” (p. 340).

Para o autor, pensar dialeticamente traz uma série de exigências que se colocam na

contracorrente da instrumentalização e da manipulação que nós praticamos com os fatos

do mundo.

O conhecimento começa com a experiência, tem nela seu ponto de

partida. Mas apenas o ponto de partida. [...]. Essa manipulação é

necessária, mas nos dá uma visão que não é da totalidade do mundo,

que não nos permite perceber a processualidade e a dinâmica do

mundo e a natureza dessa dinâmica (PAULO NETTO, 2011, p. 336).

A referência do materialismo histórico-dialético contribuiu para explicar se o

uso dos resultados da avaliação pelo Estado e pela gestão acadêmica dos cursos de

Pedagogia foi conduzido no sentido da melhoria da qualidade da educação superior e/ou

com a finalidade de atender às demandas da regulação. Nesse sentido, os cursos de

Pedagogia nos ciclos avaliativos do Sinaes (2005, 2008 e 2011) foram analisados no

campo da regulação e da sua relação com a avaliação.

Assim, pode-se dizer que a experiência de implementação do Sinaes deveria se

revelar como ponto de partida; entretanto, de modo contraditório, parece desvendar um

misto de manipulação (controle) e transformação (melhoria). Isso porque o uso dos

resultados da avaliação como subsídio à regulação pode expressar reflexos de uma

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gestão autoritária e controladora (por parte das IES e do Estado). Ao mesmo tempo,

pode revelar, também, certo movimento de profissionalização dos instrumentos de

avaliação que conduzem a uma independência da avaliação no sentido sustentar projetos

de melhoria da qualidade. Este poderá ser o ponto de chegada, se os processos de

avaliação forem internalizados pelas IES, alterando sua cultura institucional com a

valorização dos processos de autoavaliação.

4.2. CURSOS DE PEDAGOGIA: TRAJETÓRIA DA POLÍTICA DE AVALIAÇÃO

Para compreender o sentido e o lugar da política de avaliação da educação

superior nos cursos de Pedagogia, foram analisados e interpretados, a seguir, os

resultados dos ciclos avaliativos do Sinaes e as falas dos coordenadores dos cursos

investigados, a fim de compreender a relação existente entre a avaliação e a regulação.

Essa interpretação, segundo Bakhtin (2000), resulta em uma perspectiva em que é

possível vislumbrar o desenvolvimento em seu ambiente, em seu mundo, porque “o

tempo é introduzido no homem, entra na sua imagem, mudando de forma fundamental o

significado de todos os aspectos do destino e da vida” (p. 21).

No Sinaes, esse tempo responde, portanto, por significados155 políticos que

dizem respeito ao desenvolvimento das ações, pois traça uma perspectiva do uso dos

resultados da avaliação. A julgar pelo número de informações existentes sobre a

avaliação dos cursos de Pedagogia, o Sinaes parece estar cada vez mais em evidência,

tanto nas pesquisas como nas formas de gestão do Estado e das IES.

Nesse sentido, esta parte do estudo foi motivada pela possibilidade de tratar o

desempenho da educação superior sob o enfoque da abordagem quantitativa capaz de

subsidiar análises qualitativas. A despeito da comparação da qualidade da educação

155 Uma palavra sem significado é um som vazio; [...] o significado das palavras é um fenômeno do pensamento

apenas na medida em que o pensamento ganha corpo por meio da fala, e só é um fenômeno da fala na medida em

que esta é ligada ao pensamento, sendo iluminada por ele. É um fenômeno do pensamento verbal, ou da fala

significativa – uma união da palavra e do pensamento (VYGOTSKY, 1989, p. 104).

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superior entre as regiões brasileiras, a partir da análise dos indicadores de qualidade, são

necessários estudos complementares que sejam capazes de agregar explicações para os

resultados aqui encontrados.

Por isso, a realização de uma avaliação consolidada acerca do desempenho dos

cursos de Pedagogia, pela tipologia de IES e por região, deve ocorrer de forma

integrada, analisando os resultados do IGC e CPC alinhados aos demais instrumentos de

avaliação (Enade, CC e CI) que integram a multidimensionalidade do Sinaes. Com essa

característica, o processo de avaliação buscaria integrar a natureza formativa e de

regulação numa perspectiva de globalidade. Os processos avaliativos devem constituir

um sistema que permita a integração das diversas dimensões da realidade analisada,

assegurando as coerências conceitual, epistemológica e prática, bem como o alcance dos

objetivos dos diversos instrumentos utilizados.

Considerando a diversidade da oferta e as demandas de formação próprias de

cada região, foram selecionados para este estudo os cursos de Pedagogia em fase de

renovação de reconhecimento. Conforme explicitado na introdução, tomou-se como

critério seis cursos por região, contemplando em cada uma delas cursos com: i) maior

número de matrículas de estudantes; ii) diferente organização acadêmica (faculdade,

centro universitário e universidade)156 e iii) ambas as categorias administrativas (pública

e privada).

Para ter significância, o estudo buscou contemplar a diversificação da oferta.

Assim, analisaram-se neste grupo os instrumentos de avaliação aplicados nos ciclos

avaliativos do Sinaes em 2005, 2008 e 2011 (Enade e relatórios de avaliação in loco),

acrescidos da crítica sobre os indicadores de qualidade de cursos, o CPC e de IES, o

IGC.

156 Para fins deste estudo, os Institutos de Educação Superior privados corresponderam à organização acadêmica de

faculdades, os Centros Federais de Educação Tecnológica correspondem a centros universitários e os Institutos

Federais de Educação Tecnológica, correspondem a universidades.

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Nesse conjunto de instrumentos, destaca-se a manifestação: i) dos discentes por

meio do Questionário do Estudante disponibilizado na forma online, trinta dias antes da

prova; ii) dos coordenadores de cursos por meio do Questionário do Coordenador

disponível na internet, por quinze dias depois da realização do Enade; e iii) dos

coordenadores157 dos cursos de Pedagogia dos cursos selecionados ao questionário,

como técnica própria de investigação dessa pesquisa, enviado e respondido por e-mail,

no ano de 2013.

Por meio da análise documental nos instrumentos do Enade (Questionário do

Estudante e Questionário do Coordenador), além do questionário específico desta

pesquisa, respondido pelos gestores, investigaram-se as transformações produzidas nos

cursos decorrentes das avaliações do Sinaes. A partir desta análise, buscou-se

compreender o objetivo da avaliação realizada no período correspondente aos ciclos

avaliativos de 2005, 2008 e 2011, se para regular a e/ou induzir à qualidade.

Visando preservar a identificação dos cursos de Pedagogia investigados, as IES

foram classificadas segundo a tipologia e agrupadas para de fins análise, representada

pelas letras iniciais, segundo a: i) organização acadêmica (U – universidade; C – centro

universitário; e F – faculdade); ii) categoria administrativa (A – Pública e B – Privada).

Para categorizar a esfera pública, acrescentaram-se letras complementares: AF – Pública

Federal, AE – Pública Estadual e AM – Pública Municipal. As características de

filantropia das IES privadas foram representadas pelas iniciais CFL – Com fins

lucrativos e SFL – Sem fins lucrativos.

A distribuição dos cursos pesquisados ocorreu de acordo com as regiões

brasileiras e teve como objetivo obter uma representação nacional para garantir a

totalidade. Com essa estruturação e a partir da compreensão do Sinaes como política

pública de avaliação da educação superior, obteve-se, de acordo com o Censo da

Educação Superior (INEP, 2012), um total de 55.073 matrículas de estudantes nos 25

cursos de Pedagogia investigados. Dos cursos ofertados, nove são de faculdades, seis de

centros universitários e dez de universidades.

157 As informações dos questionários do Enade e do Coordenador dos Cursos de Pedagogia selecionados foram

disponibilizadas à pesquisadora pelo Inep. Os coordenadores dos cursos de Pedagogia que responderam ao

questionário específico da pesquisa assinaram Termo de Compromisso Livre e Esclarecido enviado pela

pesquisadora.

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As faculdades foram representadas por quatro cursos de Pedagogia de IES

públicas e cinco de IES privadas, com um total de 8.927 matrículas, 16,2%. As

faculdades privadas totalizaram 7.658 matrículas (85,8%) nos seus cursos de Pedagogia:

três dessas IES com fins lucrativos, com 5.452 matrículas e duas IES sem fins

lucrativos, com 2.206 matrículas. As faculdades públicas somaram 1.269 matrículas

(14,2%): duas IES da esfera municipal e duas da esfera estadual.

Os centros universitários estiveram representados por seis unidades: duas na

Região Norte e uma em cada uma das demais regiões do país: Centro-Oeste, Nordeste,

Sudeste e Sul, totalizando 4.598 matrículas (8,3%). Os centros universitários privados

tiveram 4.480 das matrículas (97,4%), sendo quatro IES sem fins lucrativos, com um

total de 2.723 matrículas (60,7%) e uma IES com fins lucrativos, com 1.757 matrículas

que representam 39,3% dessa organização acadêmica. A categoria pública ficou com

apenas 118 matrículas na Região Norte (2,6%).

A Tabela 22 representa a distribuição desses cursos por região, segundo os

critérios de maior número de matrículas, categoria administrativa e organização

acadêmica. As matrículas foram classificadas e ordenadas segundo as faixas de 1 a 6,

assim distribuídas: i)1 de 0-500 matrículas; ii) 2 de 501-1.000 matrículas; iii) 3 de

1.001-2.000 matrículas; iv) 4 de 2.001-5.000 matrículas; v) 5 de 5.001-10.000

matrículas; e vi) 6 demais de 10.000 matrículas.

O estudo contemplou, ainda, dez IES organizadas como universidade, com dois

cursos em cada região do país e um total de 41.548 matrículas (75,4%). Dessas IES,

cinco são privadas e cinco públicas, sendo uma de cada categoria administrativa. As

universidades privadas totalizaram 33.590 matrículas (80,8%), sendo que as IES sem

fins lucrativos estão situadas nas Regiões Nordeste, Sudeste e Sul, com um total de

11.028 matrículas (32,8%), e as IES com fins lucrativos estão situadas nas Regiões

Norte e Centro-Oeste, com 22.562 matrículas (67,2%). As universidades públicas

somaram 7.958 matrículas (19,2%): três IES federais nas Regiões Nordeste, Centro-

Oeste e Sul, com um total de 3.218matrículas (40,4%), e duas IES estaduais nas Regiões

Norte e Sudeste, com 4.740 matrículas (59,6%).

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Tabela 22 – Grupo de cursos de Pedagogia selecionados por região, categoria

administrativa, organização acadêmica e maior número de matrículas – Brasil (2012)

Região Organização

acadêmica Faixa – número de

matrículas nos

cursos

Categoria

administrativa Fins

lucrativo

s Norte U 1 B CFL

C 3 B CFL F 3 B SFL U 3 AE - C 1 AM - F 1 AM -

Nordeste U 2 B SFL C 1 B SFL F 2 B CFL U 3 AF -

Centro-

Oeste U 6 B CFL C 1 B SFL F 2 B CFL U 3 AF - F 1 AM -

Sudeste U 5 B SFL C 3 B SFL F 4 B CFL U 4 AE - F 2 AE -

Sul U 2 B SFL C 1 B SFL F 2 B SFL U 2 AF - F 1 AE -

Total 25 IES 55.073 Fonte: MEC/Inep/Deed (2013).

Para ampliar as possibilidades de análise dos cursos de Pedagogia nos ciclos

avaliativos do Sinaes, segue a sequência dos instrumentos e procedimentos aplicados no

processo de avaliação. Nessa fase, os cursos ingressam no ciclo avaliativo do Sinaes,

assim descritos: i) inicialmente têm-se os resultados que os cursos obtiveram a partir da

aplicação do Enade em 2005, 2008 e 2011; ii) depois faz-se a análise dos insumos dos

cursos utilizados para o cálculo do CPC com referência nos anos de aplicação do Enade;

e iii) por último, para os cursos com CPC menor do que três, tem-se as informações de

cada uma das dimensões (organização didático-pedagógica, corpo docente e

infraestrutura do curso) que integram o relatório da comissão de avaliação in loco,

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realizada nos anos do intervalo da aplicação do Enade. Acrescenta-se a obtenção de

resultados insatisfatórios nas avaliações e os PC estabelecidos com o MEC, que

requerem a realização de uma reavaliação para a verificação das melhorias produzidas

nos cursos.

O fluxo do processo de análise da avaliação dos cursos está representado na

Figura 1, em todas as suas fases e possibilidades da ação do Estado, por meio da

implementação do Sinaes. Destaca-se que essa representação aplica-se apenas aos

processos de cursos de graduação.

Figura 1 – Fluxo do processo de avaliação, supervisão e regulação dos cursos de graduação

em fase de renovação de reconhecimento – Brasil (2013) Fonte: Elaborado pela pesquisadora, com base no fluxo do Sistema e-MEC (2013).

Enade

2005

2008

2011

CPC

satisfatório

CPC

insatisfatório

Renovado o reconhecimento até o

próximo ciclo avaliativo do Sinaes

Avaliação in loco

Dimensões

satisfatórias

Dimensões

insatisfatórias

Renovado o reconhecimento até o

próximo ciclo avaliativo do Sinaes

Protocolo de Compromisso

Reavaliação in loco

Renovado o reconhecimento até o

próximo ciclo avaliativo do Sinaes

Dimensões

insatisfatórias

Dimensões

satisfatórias

Medida Cautelar

(Encerramento da oferta do Curso)

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A discussão da avaliação a partir da Figura 1 parece ser consoante à ideologia

do Estado-Avaliador ou Estado Avaliativo. Essa compreensão advém da característica

de controle atribuída às avaliações, posto que existe o atrelamento dos resultados aos

processos de reconhecimento de cursos de graduação e recredenciamento das

instituições, bem como à outorga dos financiamentos para pesquisa e outras políticas

(AFONSO, 1999).

Nessa perspectiva, a avaliação é entendida como característica do Estado-

Avaliador. Essa afirmação sugere, no exercício exploratório dos ciclos avaliativos do

Sinaes, alguns pressupostos já delineados nos capítulos anteriores deste estudo. Um

deles é uso da “avaliação de regulação”, na medida em que a configuração do Sinaes

continua a realizar uma prática de análise de resultados e não de processo. O estudo

procura, portanto, levantar algumas questões, nas quais é crescente a evidência de

continuidade da expansão da educação superior sob a ótica capitalista.

Alinhado ao pensamento marxista, essa ideia não deve se restringir ao campo

do pensamento ou se contentar com a mera constatação dos fatos; é preciso dar

aplicação prática a ela no campo da avaliação como política pública. Portanto, deve-se

continuar elaborando um pensamento voltado ao compromisso com o social e com a

ação política transformadora da realidade existente (MARX; ENGELS, 1998).

Nesse sentido, para se compreender melhor a relação entre os processos de

avaliação e de regulação, analisaram-se as expressões dos atores envolvidos na

avaliação, com especial atenção aos instrumentos do Sinaes (Questionário do

Coordenador de curso e Questionário do Estudante) e ao Questionário próprio dessa

pesquisa, aplicado aos coordenadores dos 25 cursos investigados. Com essa

interpretação da realidade, desenvolve-se uma reflexão sobre as práticas de gestão das

IES e do Estado, que podem conduzir a uma ação de melhoria da qualidade e/ou de

controle da qualidade.

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Para o direcionamento da proposta de análise dos resultados dos cursos de

Pedagogia nos ciclos avaliativos do Sinaes,158 decidiu-se, inicialmente, pela sua

caracterização institucional, a partir do IGC obtido pelas IES, nos anos de 2009, 2010,

2011 e 2012. Registra-se que o IGC 2009 foi obtido por uma parcela pequena de IES, o

que pode ser justificado pela ausência de condições de cálculo do CPC nos cursos, já

que o IGC se constitui pela média dos CPC dos cursos avaliados na IES. Apenas dez

das 25 IES obtiveram o índice naquele ano e, ainda assim, todos foram satisfatórios,

assim representados: cinco IES da esfera pública (três federais e duas municipais) e

cinco da esfera privada, garantindo a elas a prerrogativa de autonomia para a abertura de

novos cursos. O que se destaca nessas dez IES que obtiveram IGC em 2009 é que,

independentemente do resultado, os valores do IGC se mantiveram iguais nos quatro

anos, indicando que não se obteve melhoria da qualidade no período analisado.

Em 2010, foi divulgado o IGC para todas as 25 IES, e das 15 que obtiveram

pela primeira vez o IGC, registraram-se desempenhos diferenciados: i) oito com IGC 2:

quatro da iniciativa privada e quatro públicas (três de categoria municipal e uma de

categoria estadual); ii) seis com IGC 3: cinco privadas e uma pública estadual; e uma

IES privada com IGC 4.

O que chama a atenção na análise desses resultados é que, em 2011, as mesmas

15 IES que obtiveram IGC pela primeira vez em 2010 não registraram IGC. Deduz-se,

portanto, que nesse cenário: i) as IES públicas municipais podem ter passado por uma

mudança de organização provocada pelo edital de migração da Seres, que determinou o

prazo para o ingresso no sistema federal de ensino, como uma nova IES; ii) as IES

privadas podem ter encerrado a oferta devido aos resultados insatisfatórios, com o

respectivo impacto no FIES e no ProUni; iii) as IES públicas estaduais podem ter

deixado de participar do Enade, dado que a participação no Sinaes não é obrigatória.

Entretanto, em 2012, um total de 24 IES passou a ter o registro de IGC, sendo que seis

delas com IGC insatisfatório e uma delas sem qualquer registro. A IES que ficou sem

IGC nos anos de 2009, 2010, 2011 e 2012 acabou por ser descredenciada. Essa primeira

158 Os processos de credenciamento e recredenciamento institucional seguem fluxo distinto, que inclui, para além das

universidades que têm autonomia por direito constitucional, a prerrogativa de autonomia para as IES,

condicionada ao IGC satisfatório.

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análise já pode configurar uma avaliação com foco na regulação, considerando que não

se identificam quaisquer melhorias no decorrer do ciclo avaliativo.

Gráfico 3 – Distribuição do IGC das IES selecionadas por região e categoria

administrativa – Brasil (2009, 2010, 2011, 2012) Fonte:MEC/Inep/Daes (2013).

Dispostos dessa forma, os indicadores exercem o importante papel de nortear

as políticas públicas para a educação superior. A utilização de indicadores retrata

informações passíveis de consulta pela sociedade. Entretanto, deve-se tomar cuidado

para que a utilização de indicadores de qualidade não conduza a uma visão reducionista

do sistema de avaliação da educação superior. Dias Sobrinho (2008), afirma que é

“como se os números, as notas, os índices fossem a própria avaliação e pudessem dar

conta da complexidade do fenômeno educativo, deixando de considerar aspectos como

identidade, contexto, e fatores culturais inerentes a cada IES avaliada” (p. 821, grifos do

autor).

Nessa perspectiva, o IGC concentra informações do Sinaes (o Enade, os

docentes e as informações sobre a organização pedagógica e a infraestrutura dos cursos

e das IES) em um único resultado, com arcabouço suficiente para sustentar uma política

de ranqueamento. Conforme Polidori (2009), é possível verificar que está ocorrendo

uma espécie de atropelo das ações ministeriais, no que se refere à divulgação e ao uso

dos resultados da avaliação.

0

1

2

3

4

5

6

B B B

AE

AM

AM B B B

AF B B B

AF

AM B B B

AE

AE B B B

AF

AE

Norte Nordeste Centro-oeste Sudeste Sul

IGC

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Há a impressão de que após a divulgação de orientações e

determinações algo foi esquecido. Então, informa-se à comunidade

acadêmica (quando isto ocorre, porque a maioria das informações

atualmente obtidas em relação à educação superior do país passa por

um processo de dedução a partir de informações constantes no site)

que existe outro indicador sendo lançado no ambiente da educação

superior (p. 448).

Indiscutivelmente, existem muitas opiniões contrárias ao uso dos indicadores

em substituição ao Sinaes. Todavia, mesmo negando a sua validade e concordando com

esse posicionamento, as IES têm demonstrado esforços para melhorar o desempenho a

cada ciclo avaliativo, conforme fica demonstrado na análise da evolução dos resultados.

O uso do IGC indica a força da regulação, que acaba por minimizar a atuação do Sinaes

por praticamente inexistirem efeitos para o CI, resultante da avaliação in loco.

Discordando da supremacia do uso dos indicadores em relação ao Sinaes,

Rabelo (2013) afirma que

Não é razoável esperar que haja um único indicador capaz de

contemplar todos os objetivos propostos por um processo amplo e

complexo de avaliação como o Sinaes, capaz de capturar toda a

pluralidade de cada uma de nossas IES. Aspectos distintos das

informações obtidas com a aplicação do Enade e do Questionário do

Estudante podem gerar diversos indicadores que podem ser de

interesse de gestores, governo e comunidade acadêmica (p. 94).

Com esse entendimento, pode-se dizer que é salutar a criação de indicadores

que se baseiam em resultados do Sinaes para orientar a gestão das IES e do próprio

Estado. Para o autor, “a busca por indicadores que se baseiam nos resultados desse

exame têm levado ao aperfeiçoamento contínuo desses índices, ano a ano, desde que o

sistema de avaliação foi criado” (p. 94).

Entretanto, é preciso considerar que conhecer o todo de uma região, de uma

IES ou de um curso pode não ser ainda o conhecimento do todo. Mas o conhecimento

de partes isoladas do conjunto converge para o conhecimento do todo. Na totalidade, o

indicador de qualidade pode representar o conhecimento das partes e do todo, pois

pressupõe significado, de modo que não pode haver conhecimento de um todo ou de

partes dele se amputada a totalidade, isolados os seus elementos entre si e em relação à

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totalidade, e desconhecido o seu contexto e as determinações que percorrem a

transversalidade do todo.

A categoria da totalidade defendida por Marx (1973) define que se

[...] começássemos pela população, teríamos uma representação

caótica do conjunto e, necessitando cada vez mais, chegaríamos

analiticamente a conceitos cada vez mais simples. Alcançando este

ponto, teríamos que empreender novamente a viagem de retorno, até

encontrar de novo a população, mas desta vez não teríamos uma

representação caótica de um conjunto, mas uma rica totalidade com

múltiplas determinações e relações (p. 20-21).

Retornando ao percurso de análise dos resultados do Sinaes e indicadores de

qualidade dos cursos de Pedagogia, faz-se um exercício dialético para compreender as

partes e depois o todo, para, então, realizar o movimento de novo para as partes e

reconhecer a importância de cada parte na construção da qualidade do curso e das IES.

O desempenho do IGC das IES segundo a organização acadêmica revela que os

cursos ofertados em universidades têm maior regularidade, fato que pode ser associado

à qualidade da formação. Em termos de oferta dos cursos de Pedagogia por organização

acadêmica, têm-se igualmente duas universidades por região do país, com diferentes

indicadores de qualidade. Na Região Norte, ambas as universidades têm IGC 3; as

Regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste têm uma universidade com IGC 3 e outra

com IGC 4; e a Região Sul, uma com IGC 3 e outra com IGC 5. Registra-se que em

todos os anos o IGC das universidades, independentemente do resultado, se manteve na

mesmo faixa,159 o que pode indicar não ter havido nenhuma melhora nos insumos

coletados.

Com relação aos centros universitários e faculdades, tiveram a seguinte

distribuição do IGC: i) na Região Sul se encontram os maiores resultados, sendo um

centro universitário com IGC 4 e duas faculdades: uma com IGC 2 e 3 em 2010 e 2012,

respectivamente, e outra com IGC 3 em 2010 e 2012; ii) na Região Sudeste, um centro

universitário tem IGC 3 e duas faculdades (IGC 3 e 2); iii) na Região Centro-Oeste, um

159 Conforme Nota Metodológica dos indicadores de qualidade da educação superior, após a definição de todos os

pesos e a atribuição de notas a cada termo, obtém-se o CPC paracada curso em uma escala de 0 a 5. Os valores

contínuos são transformados em faixas de 1 a 5, conforme a correspondência do valor discreto e do valor

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289

centro universitário com IGC 3 e duas faculdades com IGC 2; iv) na Região Nordeste,

encontra-se um centro universitário com IGC 3 e 2, nos anos de 2010 e 2012,

respectivamente, e uma faculdade com IGC 2 apenas em 2010, que foi descredenciada

em 2013; e v) na Região Norte, um centro universitário com IGC 2 e uma faculdade

com IGC 3. Chama a atenção o fato de nos anos de 2009 e 2011 ser grande o número de

faculdades e centros universitários que não registram IGC.

Diante dessa análise, parece que os centros universitários obtêm melhores

resultados do que as faculdades, à exceção da Região Norte. Esta configuração mostra

que a organização acadêmica e a estrutura exigida para a obtenção do status de centro

universitário (além do ensino, a IES deve ofertar também pesquisa, por meio de

programas de pós-graduação) é um indicador de qualidade da formação.

A partir da categoria administrativa das IES, ressalta-se, sobretudo, a

superioridade da esfera pública no que diz respeito aos desempenhos da média do IGC.

A análise levou em consideração a composição desse índice de qualidade, o qual é

formado pela média ponderada dos CPC dos cursos avaliados na IES no último ciclo

avaliativo (três anos). O CPC se estrutura a partir de insumos de avaliação, tais como:

professores doutores e mestres, regime de dedicação integral ou parcial, infraestrutura,

organização didático-pedagógica, notas dos concluintes e ingressantes e o indicador de

diferença entre o desempenho observado e esperado, o chamado IDD160(INEP, 2011).

contínuo: CPC 1: 0,0-0,945; CPC2: 0,945-1,945; CPC3: 1,945-2,945; CPC4: 2,945-3,945; CPC5: 3,945-5(INEP,

2013). 160 O IDD é a diferença entre o desempenho médio obtido no Enade pelos concluintes de um curso e o desempenho

médio estimado para os concluintes desse mesmo curso; representa, portanto, quanto cada curso se destaca da

média, podendo ficar acima ou abaixo do que seria esperado para ele, baseando-se no perfil dos seus estudantes

(RABELO, 2013, p. 95). Esse indicador não foi objeto de análise especifica neste estudo, pois se encontra diluído

na composição do CPC dos cursos de Pedagogia investigados.

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290

Gráfico 4 – Distribuição do IGC das IES selecionadas por região e organização acadêmica

– Brasil (2009, 2010, 2011, 2012) Fonte:MEC/Inep/Daes (2013).

Destaca-se que, na sua maioria, os insumos que compõem o CPC favorecem as

universidades quanto à facilidade de atendimento dos requisitos da qualificação do

corpo docente e do regime de trabalho. Isso porque são instituições que têm um quadro

docente mais estável e um percentual maior de docentes com dedicação integral para as

atividades de pesquisa, além de extensão e ensino. Diferentemente das universidades, as

faculdades, em sua maioria privadas, têm um número maior de docentes com tempo

parcial e horista. É fato que as faculdades podem enfrentar dificuldades para a

contratação; entretanto, sejam quais forem os argumentos, o regime de trabalho docente

na IES é um fator de qualidade considerado na política de avaliação. Assim posto, tem a

função de induzir ao aumento do número de professores nessa forma de contratação

para a melhoria da qualidade.

Tal consideração é descrita por Cunha (2004), quando afirma que o efeito

“mais dramático desse processo é a improvisação dos professores do setor privado, que

produz efeitos negativos para a qualidade do ensino, nos níveis de graduação e pós-

graduação” (p. 795).

Uma possível solução para reduzir a diferença entre IES públicas e privadas,

no que se refere o cálculo do CPC e IGC, seria aumentar vagas nos cursos de pós-

graduação stricto sensu, com a finalidade de equilibrar o mercado de trabalho desses

0

1

2

3

4

5

6

B B B

AE

AM

AM B B B

AF B B B

AF

AM B B B

AE

AE B B B

AF

AE

Norte Nordeste Centro-oeste Sudeste Sul

IGC

IES com curso de Pedagogia

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291

profissionais e propiciar condições para todas as IES alcançarem esses requisitos. No

decorrer desta pesquisa, o tema foi debatido quando se abordaram as Metas do PNE

2014-2024, e uma delas prevê a ampliação do número de mestres e doutores em até

35% do total de docentes da educação superior no país (BRASIL, 2014).

Nesse contexto, por meio do IGC que congrega informações a respeito da IES,

o estudo busca evidenciar implicações desses resultados quando analisados de forma

inter e intrarregional, expondo características como desempenho e variabilidade,

conforme a tipologia da IES. Decorre daí a importância da avaliação institucional, tendo

como resultante o CI e o acompanhamento de seus indicadores. Conforme Ribeiro

(2012): “As IES precisam responder às obrigações da busca contínua da qualidade no

desempenho acadêmico, do aperfeiçoamento constante do planejamento e da gestão

universitária” (p. 177).

Essas mesmas IES revelaram comportamento diferente no IGC e no CI

resultante da avaliação in loco realizada para fins de obtenção do ato de

recredenciamento. Esse fato é naturalmente compreensível, por se tratarem de

avaliações distintas: i) o IGC pode ser considerado um indicador de resultado, calculado

a partir de dados e informações do Enade e da coleta anual do Censo da Educação

Superior/Inep; ii) o CI pode ser considerado um indicador de processo, calculado a

partir de conjunto de indicadores do instrumento de avaliação in loco e com variadas

dimensões para orientar a gestão nas ações de melhoria da qualidade.

Cabe ressaltar que no âmbito da avaliação in loco, foram pesquisados os

conceitos obtidos no período de 2005 até 2012 e evidenciou-se que somente 13 das 25

IES pesquisadas passaram por avaliação institucional no período. Considerando que sete

delas estão desobrigadas da avaliação do Sinaes, por serem reguladas pelos conselhos

estaduais de educação, cinco IES privadas poderiam estar em situação de

irregularidade.161 Entretanto, nas cinco IES pesquisadas, não se pôde concluir os

motivos da inexistência do processo de avaliação, apenas admite-se que não existem

161 O artigo 11, do Decreto nº 5.773/2006 estabelece que “o funcionamento de instituição de educação superior ou a

oferta de curso superior sem o devido ato autorizativo configuram irregularidade administrativa, nos termos deste

Decreto, sem prejuízo dos efeitos da legislação civil e penal (BRASIL, 2006). Entre as medidas saneadoras que se

aplicam a essa disposição, estão aquelas de caráter punitivo e reparatório, a exemplo da interrupção de ingresso

de novos estudantes nos cursos em supervisão.

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292

formas de controle sobre as IES que não ingressam com processos regulatórios em

tempo hábil.

Nesse sentido, existe um consenso em relação à necessidade de mudanças para

a correção das irregularidades, o aprofundamento das questões técnicas e o

fortalecimento conceitual. No que se refere à regulação, o uso do CPC e do IGC

demonstram a incompatibilidade com os processos do Sinaes. A criação dos indicadores

de qualidade, segundo Barreyro (2008), não mostra apenas questões técnicas, mas

parece responder à lógica da regulação diferente da proposta do Sinaes:

Embora alguns estudos sobre o Sinaes mostrem a evidência de um

modelo de avaliação em transformação e não definitivo, o novo índice

e seus conceitos preliminares parecem levar-nos novamente ao tempo

dos rankings, das avaliações mercadológicas e simplificações

midiáticas, mais próximos de uma visibilidade publicitária do que da

verdade da avaliação da qualidade (p. 867, grifo do autor).

Algumas críticas a esse respeito sugerem: i) revisão de instrumentos e normas,

sobretudo dos indicadores CPC e IGC; ii) mudança das condutas arbitrárias do MEC no

exercício de sua função regulatória; iii) revisão da avaliação, para um uso além do mero

instrumento regulatório; iv) capacitação dos avaliadores; v) maior valorização das

questões pedagógicas na prova do Enade; vi) revisão de portarias do MEC em

consonância com outras normas e hierarquia da legislação; e vii) responsabilização do

aluno no Enade (ABMES, 2012).

Tais argumentos são confirmados por Schwartzman (2008), quando afirma que

o CPC, importante indicador para composição do IGC, “não tem legitimidade, porque

não foi elaborado com a participação e o envolvimento de setores relevantes da

comunidade de ensino superior do país, que foi surpreendida com sua divulgação” (p.

20).

No mesmo sentido, Barreyro (2008) sugere que a adoção dos indicadores

trouxe malefícios ao Sinaes, pois conduzem “ao tempo dos rankings, das avaliações

mercadológicas e simplificações midiáticas, mais próximas de uma visibilidade

publicitária do que da verdade da avaliação da qualidade” (p. 867).

Entretanto, é preciso ressaltar que os indicadores, assim como os resultados do

Sinaes, exercem importante papel de nortear as iniciativas de políticas públicas para a

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educação superior. O uso da avaliação traz vantagens, pois retrata informações sobre a

qualidade dos cursos e das IES, passíveis de consulta pela sociedade. É bem verdade

que a crítica aos indicadores de qualidade pelos autores tem respaldo na condição de

substituição dos resultados do Sinaes, porém precisam ser significadas a partir do

fortalecimento do Sinaes.

Essas reflexões denotam a centralidade dos indicadores de qualidade na

discussão sobre os procedimentos de avaliação e regulação que impactam o

funcionamento das IES. As questões explicitam de modo decisivo a vinculação da

avaliação à regulação da educação superior.

É justamente no âmbito dessas contradições que se situa a relação entre

avaliação e regulação. Por isso a importância de dar atenção à particularidade da

contradição, reservando espaço para a criticidade e para a proposição. Essa é a razão por

que, na análise dos dados se busca conhecer a particularidade, para voltar finalmente ao

problema da universalidade.

A caracterização das IES pelo CI no Gráfico 5 revela um fluxo avaliativo

muito inconstante, devido ao uso do seu resultado exclusivamente para a obtenção do

ato regulatório de credenciamento e recredenciamento. Destaca-se a Região Sudeste

como a única entre as demais regiões a obter um CI 5 em 2005, em IES privadas,

registrando, a seguir, um CI 2 em 2009 e um CI 3 em 2011. A Região Norte apresenta

duas IES privadas com CI 4 em 2008 e 2009, enquanto a Região Nordeste tem uma IES

pública federal avaliada com CI 4 em 2009 e duas IES privadas com CI 3, em 2009 e

2010, respectivamente. A Região Centro-Oeste registra três IES privadas avaliadas,

sendo uma com CI 3 em 2005 e duas avaliadas em 2009, com CI 3 e CI 4,

respectivamente. A Região Sul teve uma IES pública federal avaliada com CI 4 e uma

IES privada com CI 3, ambas avaliadas em 2009.

Chama a atenção a inexistência de avaliação por IES do sistema federal de

ensino em quatro regiões brasileiras: uma IES privada nas Regiões Norte e Nordeste;

duas IES privadas na Região Sul e uma IES pública federal na Região Centro-Oeste. A

Região Sudeste apresenta CI para todas as IES do sistema federal de ensino, excluídas

as duas públicas estaduais regidas pelo sistema estadual de ensino.

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Essa realidade demonstra que a obrigatoriedade da avaliação pelo Sinaes, nos

prazos previstos para os atos regulatórios de recredenciamento, pode não estar sendo

cumprida, ou o fato de haver um processo em tramitação no e-MEC, mesmo que

moroso, já garante a regularidade do ato, sem importar se a sua conclusão for tardia.

O não cumprimento dos prazos da avaliação institucional acaba por

enfraquecer o principal eixo de sustentação do Sinaes e se torna um ponto de

contestação dos seus princípios. A avaliação institucional, com a previsão de dez

dimensões e complementarmente um exame para os alunos, ambicionava ser o pilar do

Sinaes. Segundo Barreyro (2008), a proposta do Sinaes pretendia “mudar o foco do

estudante para a instituição” (p. 865).

Gráfico 5 – Distribuição do CI das IES selecionadas por região e categoria administrativa

– Brasil (2005-2011) Fonte:MEC/Inep/Daes (2013).

Com relação à organização acadêmica, das 13 IES avaliadas, seis são

universidades, quatro são centros universitários e três são faculdades. Das universidades

têm-se os seguintes resultados: i) uma IES com CI 5, obtido em 2005, na Região

Sudeste; ii) quatro IES com CI 4, obtidos em 2009, nas Regiões Norte, Nordeste,

Centro-Oeste e Sul; iii) duas IES com CI 3, em 2009, nas Regiões Nordeste e Centro-

Oeste.

B B BA

E

A

M

A

MB B B

A

FB B B

A

F

A

MB B B

A

E

A

EB B B

A

F

A

E

Norte Nordeste Centro-oeste Sudeste Sul

CI 2005 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 5 0 0 0 0 0 0 0 0 0

CI 2008 0 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

CI 2009 4 0 0 0 0 0 3 0 0 4 3 4 0 0 0 0 2 0 0 0 0 3 0 4 0

CI 2010 0 0 0 0 0 0 0 0 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

CI 2011 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3 0 0 0 0 3 0 0 0 0 0 0 0

0

1

2

3

4

5

6

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295

O CI dos centros universitários ficou assim distribuído: i) duas IES com CI 4,

obtidos em 2008 e 2009, nas Regiões Norte e Centro-Oeste; ii) uma IES com CI 3, em

2009, na Região Sul; e iv) uma IES com CI 2, em 2009, na Região Sudeste. As três

faculdades obtiveram CI 3: uma na Região Nordeste, em 2010, e duas nas regiões

Centro-Oeste e Sudeste, em 2011.

Os CI obtidos pelas IES avaliadas no período de 2005 a 2012 foram

satisfatórios. Entretanto, considerando o prazo de recredenciamento de cinco anos para

os centros universitários e faculdades, muitas IES que deveriam ter processo de

avaliação não o têm. A falta de uma avaliação diagnóstica e com possibilidade de

informações sugestivas de melhoria pode comprometer a qualidade da oferta.

De acordo com Dias Sobrinho (2010), no que condiz às IES, a avaliação é um

instrumento de controle e melhoria de desempenho: “É uma ferramenta capaz de

produzir mudanças nos currículos, nas metodologias de ensino, nos conceitos e práticas

de formação, na gestão, nas estruturas de poder, nos modelos institucionais, nas

configurações do sistema educativo” (p. 195).

Em relação ao fluxo da avaliação institucional, pode-se inferir certo descaso

com um processo de avaliação que se constituiu com relevância e importância. Seria

proposital o descompromisso com a avaliação institucional? As diferentes concepções

acerca do uso ou não dos resultados da avaliação podem caracterizar um campo político,

que para Bourdieu (1989) significa um

[...] lugar em que se geram, na concorrência entre agentes [...]

produtos políticos, problemas, programas, análises, comentários,

conceitos, acontecimentos, entre os quais os cidadãos comuns,

reduzidos ao estatuto de “consumidores”, devem escolher (p. 164).

Nessa compreensão também não seria incomum configurar a tendência da

qualidade da educação superior em torno de dois polos opostos: avaliação para regular e

avaliação para induzir à qualidade. É evidente que a prevalência dessa orientação, em

contraposição aos objetivos do Sinaes, mostra como se articulam as forças na

formulação da política de avaliação.

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Gráfico 6 – Distribuição do CI das IES selecionadas por região e organização acadêmica

– Brasil (2005 - 2011) Fonte:MEC/Inep/Daes (2013).

Após ter refletido sobre os resultados da avaliação (CI) e do indicador de

qualidade das IES (IGC), que ofertam os cursos de Pedagogia selecionados nesta

pesquisa, analisam-se, a seguir, nos Gráficos 7 e 8, os conceitos Enade obtidos nos

ciclos avaliativos 2005, 2008 e 2011, com vista a subsidiar o entendimento sobre os

efeitos produzidos na qualidade da formação dos estudantes.

Percebe-se que há uma tendência linear de crescimento da faixa dos conceitos

atribuídos; entretanto, na análise por ano de aplicação do Enade, evidenciaram-se

diferenças significativas entre as regiões e conforme a categoria administrativa das IES.

Dos 25 cursos analisados, 18 obtiveram conceito Enade nos três ciclos avaliativo, cinco

em dois ciclos avaliativos e dois cursos registram conceito Enade em apenas um ciclo

avaliativo. Somente essa informação, independentemente do conceito atribuído, já seria

suficiente para afirmar que pode haver uma fragilidade na oferta do curso, tendo em

vista que, se o curso tem conceito Enade, tem insumos para o cálculo do CPC e,

consequentemente, do IGC da IES. Entretanto, algumas IES deixaram de ter divulgado

o IGC correspondente aos anos de 2010 e 2012. Essas IES podem ter ficado sem

inscrição de ingressantes, o que impossibilitou o cálculo do CPC e do IGC.

Os cursos de Pedagogia formam professores para o desempenho de um papel

fundamental na sociedade, pois educam pessoas que devem ser autônomas e

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questionadoras, buscando ampliar a reflexão sobre o mundo. Essa afirmação coincide

com o pensamento de Nóvoa (1992), quando afirma que: “O desenvolvimento de uma

nova cultura profissional dos professores passa pela produção de saberes e de valores

que deem corpo a um exercício autônomo da profissão docente” (p. 26).

Essa perspectiva de formação, em consonância com o princípio de avaliar a

qualidade por meio do Enade, constitui um desafio perante o uso dos resultados. O

Questionário do Estudante possibilita reconhecer o perfil comparativo dos alunos de

Pedagogia, além dos conhecimentos demonstrados nas provas de formação geral e de

componente especifico. É fundamental nessa avaliação que se conheça a razão pela qual

os estudantes de Pedagogia optaram pela profissão de professor.

Analisando os resultados da avaliação dos cursos de Pedagogia, Brito (2005)

afirma que, a partir das informações do Enade, se pode traçar “um perfil das principais

características desses futuros professores, permitindo que seja traçado um amplo

panorama da formação de profissionais que atuarão no ensino fundamental e médio” (p.

404). A discussão de novos cenários de formação do professor requer um embasamento

da avaliação quanto ao perfil desse profissional. O desenvolvimento da profissão

docente inclui, necessariamente, o incremento de competências associadas a um

processo dinâmico de reflexão sobre a ação que se desenvolve na docência, buscando

alterar a ação educacional.

Na análise do desempenho dos cursos de Pedagogia, considerando-se que os

conceitos Enade 1 e 2 são insatisfatórios e 3, 4 e 5 são satisfatórios, pode-se afirmar

que: i) na Região Sul todos os cursos, independentemente da esfera administrativa da

IES, apresentam conceito satisfatório nos três ciclos avaliativos; ii) na Região Sudeste,

ressalvados os ciclos avaliativos anteriores, todos os cursos apresentaram conceito

Enade satisfatório em 2011. Há destaque nessa região de que os cursos das IES públicas

estaduais obtiveram conceito Enade 5 em 2005 e conceito 4 em 2008 e 2011; iii) na

Região Centro-Oeste há uma concentração maior de conceito Enade 2, tanto em IES

pública como em IES privada; iv) na Região Nordeste, há uma queda nos conceitos

Enade dos cursos em 2011 em relação a 2008: um curso de IES pública federal reduziu

o conceito Enade de 4 para 3 e dois cursos de IES privadas tiveram reduzidos os

conceitos de 3 para 2. Restou apenas um curso de IES privada que tinha conceito Enade

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4 em 2005 e que o reduziu para 3 em 2008, tornando a crescer para conceito Enade 4

em 2011; v) na Região Norte, a maioria dos cursos tiveram conceito Enade 3 em 2011 e

um curso ficou com conceito Enade 1 em 2011 e em 2008. Destaca-se que a Região

Norte é a única região do país a ter curso de Pedagogia com conceito Enade 1, nos

ciclos estudados.

Gráfico 7 – Distribuição do conceito Enade dos cursos de Pedagogia selecionadospor

região e categoria administrativa – Brasil (2005, 2008, 2011)

Fonte:MEC/Inep/Daes (2013).

Na análise dos resultados do Enade por organização acadêmica das IES que

ofertam os cursos de Pedagogia selecionados, foi percebida diferença significativa nas

regiões de oferta, embora exista a tendência linear de melhoria do desempenho, quando

comparados os ciclos avaliativos de 2005, 2008 e 2011.

A Região Sul registrou desempenho satisfatório em todos os cursos de

Pedagogia avaliados pelo Enade e em todos os ciclos avaliativos. Entretanto, nota-se

que os conceitos foram menores em 2011 do que em 2008 e 2005. O melhor resultado

foi observado em um curso de uma faculdade que teve conceito Enade 4 em 2005,

conceito 5 em 2008 e conceito 4 em 2011. Apenas o curso de uma universidade privada

manteve o conceito Enade 3 em todos os anos avaliados.

A Região Sudeste obteve em 2011 e 2005 conceitos satisfatórios no Enade em

todos os cursos de Pedagogia selecionados, diferentemente de 2008, quando registrou

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conceitos Enade 2 nos cursos de um centro universitário e em uma faculdade. As

universidades nessa região obtiveram conceitos Enade satisfatórios em todos os seus

cursos nos ciclos avaliativos.

Na Região Centro-Oeste, duas universidades tiveram cursos de Pedagogia com

conceito Enade 2 em 2011, e ambas as IES demonstraram desempenhos melhores nos

seus cursos em ciclos avaliativos anteriores. O centro universitário da região se manteve

com o curso de Pedagogia conceito Enade 3 em todos os ciclos avaliados. As faculdades

tiveram nos seus cursos conceito Enade 2 em 2005, sendo que apenas uma delas

apresentou melhoria no conceito Enade dos cursos nos ciclos avaliativos seguintes.

A Região Nordeste apresentou conceitos satisfatórios nos cursos de Pedagogia

das universidades. Na faculdade e centro universitário, os cursos obtiveram conceito

Enade 2 em 2011, demonstrando piora no desempenho em relação aos ciclos avaliativos

anteriores, nos quais obtiveram conceito Enade 3.

A Região Norte teve avaliação descontinuada nos cursos de Pedagogia das

faculdades (conceito Enade 1 em 2008, sem registro de avaliação nos outros ciclos

avaliativos, e outro curso com conceito Enade 3 apenas em 2011). Nos centros

universitários, um deles obteve o conceito Enade 3 no seu curso nos três ciclos

avaliativos. O outro centro universitário obteve conceito Enade 2 no curso em 2005 e

2008 e reduziu para conceito 1 em 2011. Os cursos de Pedagogia das universidades

dessa região também não apresentaram bom desempenho (um dos cursos obteve

conceito Enade 2 em 2005, aumentando para conceito 3 em 2008 e reduzindo

novamente para conceito 2 em 2011). Já outro curso de Pedagogia da universidade não

registrou conceito Enade em 2005 e obteve conceito Enade 3 em 2008 e 4 em 2011).

Em uma análise sistêmica e global, o Enade em 2005 apresentou 52% dos

cursos de Pedagogia das IES investigadas com conceito satisfatório. Em 2008 e 2011,

esse percentual de conceitos satisfatórios cresceu para 68%. A melhora no desempenho

dos cursos no Enade pode evidenciar o esforço da gestão das IES a partir dos resultados

da avaliação. Contudo, parece haver certa acomodação do sistema por força regulatória,

e algumas IES não têm conseguido superar as fragilidades evidenciadas nos resultados

insatisfatórios da avaliação nos anos anteriores.

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300

Seguindo os princípios orientadores do Sinaes, a busca pela melhoria da

qualidade revela a identidade da IES. Dessa forma, o sistema pressupõe uma avaliação

que valorize as ações promovidas no interior de cada IES. No que tange à avaliação de

desempenho dos estudantes, o Enade

[...] deverá levar em consideração o quanto a instituição de educação

acrescentará aos estudantes ao longo do curso, ou seja, a mudança que

permite verificar o efeito do curso sobre o aprendizado do estudante,

buscando evidenciar o que a IES vai agregar ao perfil cultural e

profissional do aluno (BRASIL, 2006).

Com essa característica, o exame foi concebido para alcançar a dimensão da

gestão; entretanto, terá valor para a melhoria da qualidade, a depender da forma como

for entendido pela IES, revelando mais uma vez que o uso ou o não uso dos resultados

da avaliação podem ter caráter intencional, dependendo da intensidade e da objetividade

das propostas institucionais.

Gráfico 8 – Distribuição do conceito Enade dos cursos de Pedagogia selecionados por

região e organização acadêmica – Brasil (2005, 2008, 2011) Fonte:MEC/Inep/Daes (2013).

Quanto ao CPC, é importante lembrar que uma parte das informações que o

compõem advém do Enade; portanto, o desempenho desse indicador de qualidade é

muito similar. As alterações se referem à incorporação dos insumos referentes ao corpo

2

3

0 0

2

0

4

0

3

4

3 3

2

1

2

0

3

0

5

4

3

4

0

4 4

3 3

0

4

2

1

3 3

2

4

2

3 3

4

1

4

2

3

4

2

3

4 4

5 5

2

3 3 3

1

0

4

2 2

3

2

3 3

2 2

3 3 3

4

3 3 3 3 3

4

0

1

2

3

4

5

6

U C F U C F U C F U U C F U F U C F U F U C F U F

Norte Nordeste Centro-oeste Sudeste Sul

Enade 2005 Enade 2008 Enade 2011

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301

docente e à percepção dos estudantes sobre a organização pedagógica e a infraestrutura

do curso.

Outro fator importante é que os cursos que obtiverem conceito insatisfatório

nesse indicador poderão receber, por decisão da política de regulação, a visita da

comissão de avaliação, com abertura processual de ofício162 no sistema e-MEC. Os

cursos com conceito satisfatório receberão as respectivas portarias de renovação de

reconhecimento, geradas automaticamente em razão da natureza de cada curso.

Segundo Polidori (2009), é facilmente possível perceber a distorção desse

indicador:

Primeiro, o Sinaes é composto por três pilares, como já foi dito, sendo

que um desses pilares é constituído pelo Enade e, dentro da filosofia

do Sistema, é utilizado para compor o parecer final de uma IES e de

seus cursos. A partir do momento em que é considerado um desses

pilares como o único elemento definidor de qualidade daquele curso

ou IES, está ocorrendo uma transgressão do Sistema atual de

avaliação (p. 447).

Nessa perspectiva, utilizar o CPC como definidor de qualidade dos cursos se

constitui um grande equívoco conceitual do Sinaes, conforme se anuncia nesta pesquisa.

Segundo o Gráfico 9, verifica-se um crescimento de cursos de Pedagogia com CPC

satisfatório em 2011 em relação a 2008. Dos 23 cursos com CPC em 2008, 15 (60%)

foram satisfatórios, já em 2011 foram 21cursos (84%) com CPC satisfatórios.

O resultado insatisfatório no CPC dos cursos de Pedagogia em 2008 esteve

concentrado em cinco IES privadas e três públicas (duas municipais e uma estadual).

Em 2011, foram registrados CPC insatisfatórios em um curso de IES privada e em uma

IES pública (uma municipal e uma estadual).

Na Região Sul, todos os cursos de Pedagogia tiveram CPC satisfatório em

2008 e 2011, com conceitos entre 3 e 4. Na Região Sudeste, há dois cursos de

Pedagogia da esfera pública estadual, um com CPC 2 e outro com CPC 3, nos dois

ciclos avaliativos. Na mesma região, os três cursos de IES privada tiveram CPC 3 em

2001, sendo que um deles havia tirado CPC 2 em 2008.

162 De ofício é uma expressão muito usada no direito e no campo da administração pública. Significa “por lei,

oficialmente, em virtude do cargo ocupado”.

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302

Na Região Centro-Oeste, observou-se a existência de CPC satisfatório para

todos os cursos de Pedagogia em 2011 e com evolução de resultado em um curso de IES

privada que tinha CPC 2 em 2008. Inclui-se um curso de IES pública municipal com

CPC 3, divulgado pela primeira vez em 2011.

Na Região Nordeste, registrou-se um curso de IES privada com CPC 3 em

2008 e CPC 4 em 2011 e dois cursos de IES privada com CPC 2 em 2008, sendo que

um deles não apresentou resultado em 2011 e outro melhorou o desempenho do CPC

para 3 em 2011. Ainda nessa região, destaca-se um curso de IES pública federal com

CPC 4 em 2008 e CPC 3 em 2011.

Na Região Norte, enquanto os cursos de Pedagogia de IES privada tiveram

CPC satisfatório em 2011 (incluindo um curso com CPC superior ao obtido em 2008), o

curso de IES pública estadual manteve o CPC satisfatório nos dois ciclos avaliativos,

enquanto os dois cursos de IES pública municipal mantiveram CPC insatisfatório em

2008 e 2011.

Analisados os indicadores de qualidade obtidos pelos 25 cursos de Pedagogia,

pode-se afirmar que: i) dos 15 cursos de IES privadas, nove cursos (60%) em 2008

tiveram resultados satisfatórios e 14 cursos (93%) em 2011; ii) dos 10 cursos de IES

pública, seis (60%) foram satisfatórios em 2008 e 7 (70%) em 2011.

Gráfico 9 – Distribuição do CPC dos cursos de Pedagogia selecionados por regiãoe

categoria administrativa – Brasil (2008, 2011) Fonte:MEC/Inep/Daes (2013).

3

2

3

1

2

3

2 2

4

3

2

3

4 4

2

3 3

2

3

4

3

4 4

3 3 3 3

1

4

3 3 3 3 3 3 3

4

3 3 3

2

4 4

3

4

3

1

2

4

B B B

AE

AM

AM B B B

AF B B B

AF

AM B B B

AE

AE B B B

AF

AE

Norte Nordeste Centro-oeste Sudeste Sul

CPC 2008 CPC 2011

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303

Quanto à organização acadêmica, a análise do CPC obtido pelos cursos de

Pedagogia em 2008 e 2011 revelou que as universidades apresentam indicadores de

qualidade satisfatórios em todas as regiões do país, indistintamente. Verificou-se que

tanto em 2008 como em 2011, 100% dos cursos ofertados em universidades obtiveram

resultados satisfatórios, variando entre CPC 3 e 4. Nenhum curso de Pedagogia de

universidade obteve CPC 5.

Verificou-se que, à exceção da Região Sul, os cursos ofertados em centros

universitários obtiveram CPC 2 em 2008 e CPC 3 em 2011, evidenciando uma melhoria

de qualidade. Apenas um centro universitário na Região Norte manteve o resultado do

CPC 2 nos dois anos consecutivos. Dos seis cursos de Pedagogia ofertados em centros

universitários, apenas 20% obtiveram resultado satisfatório em 2008, tendo melhorado o

resultado em 80% no ciclo avaliativo de 2011.

Nas faculdades, evidenciou-se em um curso de Pedagogia a descontinuidade do

registro no CPC de 2008 para 2011, nas Regiões Norte e Nordeste. Nas Regiões Norte e

Centro-Oeste, dois cursos obtiveram o CPC inicial em 2011. Dos nove cursos de

Pedagogia ofertados em faculdades, 45% obtiveram CPC satisfatório em 2008,

aumentando para 67% em 2011.

Considerando os avanços obtidos no CPC de 2011 em relação ao CPC de 2008

dos cursos selecionados, pode-se afirmar que houve um esforço das IES para melhorar

os insumos que compõem esse indicador (desempenho dos estudantes, organização

pedagógica, infraestrutura ofertada, contratos de trabalho docente que contemplam o

regime horista e valorização da qualificação dos docentes que atuam nos cursos de

Pedagogia).

Nesse quesito poder-se-ia pensar que a avaliação é indutora de qualidade;

entretanto, a motivação para as mudanças que podem ser incorporadas ao curso revela

que a busca por resultados satisfatórios no CPC está diretamente associada a sua

importância para a regulação. Talvez pelo interesse da gestão no uso deste, como

critério para a dispensa da visita de avaliação e, portanto, maior agilidade no processo

de emissão do ato regulatório de renovação de reconhecimento do curso. Com essa

aplicabilidade do indicador de qualidade, a avaliação in loco, em que pese conter

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informações importantes para a melhoria do curso e com relevância sistêmica, quando

associada aos demais instrumentos do Sinaes, perde a visibilidade.

Ressalta-se que essa decisão também tem efeito econômico, tendo em vista o

não pagamento da taxa de avaliação in loco163 pelas IES, quando o curso é dispensado

da visita pelo órgão regulador. Somente as IES privadas estão sujeitas à obrigatoriedade

de recolher a taxa de avaliação, para que o Inep faça a designação das comissões de

avaliadores. Essa situação acaba por revelar um interesse mútuo, embora velado, na

utilização dos indicadores de qualidade: i) para as IES privadas, em que pesem os

efeitos das medidas saneadoras, a dispensa da avaliação in loco tem impacto na

sustentabilidade da IES pela economia no pagamento das taxas de avaliação (quanto

maior a IES, mais cursos dispensados, maior o benefício); ii) para a Seres, a agilidade

em regular com indicador de resultado fácil de ser calculado e com uma periodicidade

anual, que permite manter-se na posição de Estado-Avaliador (redução da análise

documental, diligências e pareceres que impactam a estrutura burocrática do órgão); e

iii) para o Inep, adequação da capacidade institucional para realizar a avaliação in loco

na quantidade e no fluxo necessário para subsidiar os atos regulatórios, em detrimento

da dificuldade de implementação do ciclo avaliativo do Sinaes e da aplicação de todos

os instrumentos que estão sob sua responsabilidade.

Com a análise já realizada nesta parte do estudo, tem-se um panorama dos

cursos de Pedagogia ofertados no país. A relação entre a avaliação e a regulação é

notada a partir do uso ou não uso dos resultados da avaliação.

Os elementos do Sinaes (Conceito Enade, Conceito de Curso e Conceito

Institucional), aliados aos resultados dos indicadores de qualidade CPC e IGC, denotam

a vinculação do processo avaliativo ao processo regulatório. Sem dúvida há uma

interdependência entre esses processos; contudo, não se evidenciam ações de

acompanhamento do fluxo processual e do que representam para a melhoria da

163 Lei nº 10.870, de 20 de maio de 2004, institui a taxa de avaliação in loco das instituições de educação superior e

dos cursos de graduação e dá outras providências (BRASIL, 2004). Fixa no artigo 3º os valores por avaliador e o

número de avaliadores que integram as comissões para cada tipo de avaliação. No artigo 5º, dispõe que os valores

fixados para a Taxa de Avaliação in loco somente poderão ser alterados em decorrência da variação dos custos

para a realização das avaliações, em periodicidade não inferior a 1 (um) ano. Passados dez anos de

implementação, os valores permanecem inalterados. Entretanto, a depender do número de cursos para avaliar o

valor total a ser pago, pode ser significativo.

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qualidade. Isso faz com que a avaliação seja descontinuada em muitos casos e

inoperante à luz dos princípios do Sinaes.

Gráfico 10 – Distribuição do CPC dos cursos de Pedagogia selecionados, por região e

organização acadêmica – Brasil (2008, 2011) Fonte:MEC/Inep/Daes (2013).

Na parte seguinte, a relação entre avaliação e regulação é analisada a partir da

concepção dos gestores, no caso os coordenadores dos cursos de Pedagogia, e da

participação destes na definição sobre o uso dos resultados da avaliação. O objetivo é

identificar as potencialidades da avaliação e obter subsídios para superar a ênfase nas

ações de regulação que parecem sobressair nas iniciativas do Estado.

No entanto, nem sempre é possível realizar a distinção entre práticas de

avaliação e de regulação, pois estão muito imbricadas, em uma relação de quase ou total

dependência. Assim, à luz da experiência desenvolvida no Sinaes, a análise comparativa

dos cursos de Pedagogia nos ciclos avaliativos possibilita reconhecer nos processos de

avaliação e de regulação as suas similaridades e diferenças.

3

2

3

1

2

3

2 2

4

3

2

3

4 4

2

3 3

2

3

4

3

4 4

3 3 3 3

1

4

3 3 3 3 3 3 3

4

3 3 3

2

4 4

3

4

3

1

2

4

U C F U C F U C F U U C F U F U C F U F U C F U F

Norte Nordeste Centro-oeste Sudeste Sul

CPC 2008 CPC 2011

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306

4.3. AVALIAÇÃO E REGULAÇÃO: MEDIAÇÕES SÃO POSSÍVEIS?

Nos seus dez anos de implementação, o Sinaes passou por modificações

inerentes a um processo de avaliação que tem como característica a construção e a

reconstrução dos seus instrumentos, justificando por meio da dialética a necessidade de

contextualização e aprimoramento. Com essa característica e consideradas as

contradições e mediações ocorridas no período, o estudo dos cursos de Pedagogia nos

ciclos avaliativos do Sinaes teve como prerrogativa discutir as diferentes concepções da

avaliação e regulação. Essas concepções são refletidas nos posicionamentos dos

coordenadores dos cursos investigados, nas ações de gestão do Estado e requerem o

diálogo com os resultados da avaliação na implementação de ações de melhoria que

deem consequência a sua finalidade.

Essa perspectiva diz respeito às adequações que ocorreram no processo de

implementação do Sinaes, a partir do pensamento daqueles que estiveram na condição

de gestores. Admite-se que as mudanças, próprias do contexto e do convívio social,

ocorreram com a intenção de fazer a mediação das relações entre o Estado, as IES e a

sociedade.

Assim, embora se tenha avançado no que diz respeito à concepção de um

sistema de avaliação, a relação da avaliação com a regulação na forma de subsídio

aponta para fronteiras difíceis de transpor. Entre as dificuldades estão os aspectos

políticos e burocráticos, considerados peculiares e relevantes para a execução da

atividade regulatória, mas que se fazem presentes como fatores inibidores do papel

estratégico da autoavaliação das IES e da avaliação externa.

Contudo, a qualidade educacional ultrapassa as camadas técnicas e científicas,

atingindo os mais profundos e diferenciados sentidos filosóficos, sociais e políticos

(DIAS SOBRINHO, 2005). Nesse sentido, é importante definir os compromissos dos

atores institucionais com vistas à consolidação da missão da IES. O processo de

autoavaliação mostra as responsabilidades com a transformação e a(re)construção de

uma nova realidade. Somente com essa definição, a autoavaliação prevista no Sinaes

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poderá ser referência para a qualidade do trabalho da gestão e do planejamento,

necessários à criação da cultura avaliativa permanente.

Apesar da estrutura de representação colegiada prevista na Conaes,164 a tomada

de decisão da gestão da política de avaliação da educação superior, com a finalidade de

assegurar a qualidade e orientar a expansão da oferta, nem sempre ocorreu nesse espaço

ou com a discussão necessária. Dessa forma, os movimentos realizados podem ter sido

até contraditórios ao Sinaes, do ponto de vista da responsabilização dos atores

institucionais com o processo de regulação e/ou de avaliação.

A interface entre avaliação e regulação no Sinaes visa à construção de uma

educação superior de qualidade e, por isso, requer a compreensão sobre a evolução do

conceito de avaliação. A avaliação formativa e emancipatória tem se expandido, a

partir: i) da investigação, com o intuito de compreender se as ações de avaliação

melhoram o desempenho dos estudantes e das IES; e ii) da prática, procurando saber se

a gestão é capaz de transformar as sugestões da avaliação em práticas produtivas.

Nessa perspectiva, a avaliação possui como características básicas: a natureza

processual, a diversidade de instrumento e a intencionalidade da ação. Na relação entre

esses elementos deve haver a definição de competências para a avaliação e a regulação;

caso contrário, podem ser confundidas na sua forma de atuação. Quanto mais próxima

essa relação, mais a avaliação estará situada na posição de controle, podendo haver uma

junção dos processos.

De outro modo, com o afastamento dos processos de regulação e avaliação,

mesmo com clara situação de dependência entre ambos, mais se abre espaço para a

avaliação formativa e construtiva. Para Dias Sobrinho (2003), a avaliação

[...] deve perscrutar os sentidos da formação e a quem ela serve; deve

pôr em questão o conceito de sociedade que fundamenta a ciência e a

prática nos diversos setores institucionais; fundamentalmente e,

utilizando-se de várias análises particulares, deve pôr em linha de

consideração crítica a missão de cada instituição e sua realização (p.

109-110).

164 O Decreto nº 5.773/2006 estabelece que as competências para as funções de regulação, supervisão e avaliação

serão exercidas pelo Ministério da Educação, pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), pelo Instituto

Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e pela Comissão Nacional de Avaliação da

Educação Superior (Conaes) (BRASIL, 2006).

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308

Esse contexto reflete a necessidade de analisar as mediações na configuração

da política pública, pois a condição humana é produzida nesse movimento de

construção das relações intelectuais, éticas e políticas, em oposição à formação

profissional, que visa adaptar o sujeito e prepará-lo de forma passiva e subordinada ao

processo de acumulação da economia capitalista (KUENZER, 2002).

No materialismo histórico e dialético,165 a realidade torna-se objeto do

conhecimento humano quando ganha um significado que é produzido historicamente

pelo próprio homem, em um processo de apropriação e de renovação da natureza. O

conhecimento humano se realiza nesse ato intencional de intervenção do homem sobre a

natureza, que a modifica para a satisfação de suas necessidades.

No âmbito da relação entre avaliação e regulação, deve haver um espaço para

ambos os processos coexistirem na construção da realidade. Não em lados opostos, mas

com definição das suas funções e interface para induzir à qualidade. Para Dias Sobrinho

(2000), a avaliação deve ampliar sua função formativa, pedagógica, proativa e

construtiva, pois

[...] deve colocar como foco central de suas preocupações a questão

fundamental do sentido social de uma instituição. Deve, basicamente,

perguntar sobre os significados sociais de que se reveste a formação

promovida nas atividades de ensino, pesquisa e extensão, ou seja,

interrogar sobre os efeitos sociais dos trabalhos produzidos e dos

serviços oferecidos (p. 109).

Esse processo de reflexão sobre a IES, sua relação com o Sinaes e com política

regulatória instaurada no país, faz com que o ato de avaliar, seja um instrumento

essencial para garantir a autonomia das IES. A melhoria da qualidade da educação tem a

ver com o respeito à missão da IES, seus planos e projetos, e com o que, de fato, foi

realizado.

Na perspectiva marxista, a lógica dialética é uma possibilidade para a

compreensão da realidade. Aristóteles é o fundador de uma lógica rigorosa que pode ser

165 Na concepção marxista, os princípios fundamentais do materialismo dialético são quatro: i) a história da filosofia,

que aparece como uma sucessão de doutrinas filosóficas contraditórias dissimula um processo em que se

enfrentam o princípio idealista e o princípio materialista; ii) o ser determina a consciência e não inversamente; iii)

toda matéria é essencialmente dialética, e o contrário da dialética é a metafísica, que entende a matéria como

estática e anistórica;iv) a dialética é o estudo da contradição na essência mesma das coisas (ALVES, 2010).

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conhecida na concepção filosófica como lógica formal. Inversamente, a lógica dialética

assume a categoria da contradição em seu movimento de produção da realidade e supera

a anterior. Mas isso não significa que a lógica formal aristotélica é falsa; ela é apenas

unilateral, insuficiente. Nesse sentido, o método dialético supera essa unilateralidade

(PAULO NETTO, 2011).

Sobre essa contraposição marxista aos dualismos dicotômicos dos princípios de

identidade e exclusão da lógica formal, Alves (2010), destaca:

A lógica dialética incorpora a lógica formal por superação, por isso a

necessidade de uma profunda compreensão do que seja oposição e

contradição. A questão é reconhecer que não são opostos confrontados

exteriormente, mas são interiores um ao outro – preceito da identidade

dos contrários (p. 5).

A história do homem em sociedade se dá pela relação estabelecida da natureza

e o homem com os outros homens. Assim, a história relata as realizações do homem em

todo o processo de construção do conhecimento e passa a ser a realidade com uma

estrutura dialética e dialógica. Nessa perspectiva, o método marxista coloca a prioridade

do estudo nas produções históricas.

A distribuição de produtos segundo Marx (1998) é, antes de tudo, distribuição

dos meios de produção e, portanto, classificação dos membros da sociedade pelos

diferentes tipos de produção, o que é uma determinação ampliada da relação anterior.

Para o autor, o modo de produção

[...] é decisivo para a nova distribuição que se estabelece. Embora esta

surja como uma condição prévia para o novo período de produção, ela

própria é um produto da produção, não somente da produção histórica

em geral, mas da produção histórica determinada (p. 12).

É bem verdade que a satisfação das necessidades induziu a outras necessidades,

que provocaram novas relações sociais que se transformaram a partir do modo social de

produção, porém a base sempre estará na formação do homem. Portanto, se existe

aproximação entre as relações de produção (sociais e técnicas) e as forças produtivas, é

porque as segundas determinam as primeiras, que, por sua vez, geram novas

necessidades e meios para satisfazê-las. Assim, o nível de forças produtivas determina a

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relação social, que, por meio da propriedade privada, reúne as condições para o

crescimento dos meios de produção.

Não obstante, a regulamentação do Sinaes tem atribuído à avaliação

características que conflitam com os princípios que fundamentaram a sua criação. A

força que se instala a partir da decisão da regulação pode conduzir à desvalorização da

autoavaliação e da avaliação institucional externa, ambos instrumentos previstos no

Sinaes. O (des)uso dos resultados da avaliação do Sinaes acaba por privilegiar as

relações técnicas, orientadas por uma lógica quantitativa marcada por padrões de

competitividade presentes na sociedade. As relações sociais determinam a atuação

estatal. E o contrário pode acontecer? O Sinaes pode se estabelecer como indutor de

qualidade, em oposição ao poder emanado da força regulatória do Estado?

As respostas a essas questões podem ser analisadas a partir da intensidade do

uso da avaliação nas IES, nas políticas públicas e nos atos de regulação do Estado. Do

ponto de vista dos ciclos avaliativos do Sinaes, o que se percebe, a partir dos dados

analisados até aqui, é uma tendência de submissão à força regulatória e algumas

iniciativas das IES de aderência aos princípios formativos da avaliação.

Como instrumento lógico de interpretação da realidade, a dialética caracteriza-

se pelo movimento do pensamento. Por meio da materialidade histórica da vida dos

homens em sociedade, permite descobrir as leis fundamentais que definem a forma

organizativa do gênero humano através da história. Ao abordar o princípio da

contradição presente na dialética, Pires (1997) explica a essência do método.

Neste caminho lógico, movimentar o pensamento significa refletir

sobre a realidade partindo do empírico (a realidade dada, o real

aparente, o objeto assim como ele se apresenta à primeira vista) e, por

meio de abstrações (elaborações do pensamento, reflexões, teoria),

chegar ao concreto: compreensão mais elaborada do que há de

essencial no objeto, objeto síntese de múltiplas determinações,

concreto pensado (p. 87).

Tal caminho ganha sentido na análise dos cursos de Pedagogia nos ciclos

avaliativos do Sinaes, que passam a ser um ponto de partida concreto para se

compreender a política de avaliação da educação superior brasileira e sua relação com a

melhoria da qualidade e/ou com as práticas de controle. Nesse sentido, a reflexão sobre

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os dados, as informações, as determinações, as contradições e as mediações possibilita

compreender a realidade na sua totalidade e fazer inferências sobre as finalidades do

processo de avaliação.

Na compreensão dessa realidade e do movimento das relações entre o sujeito e

o objeto, ocorre a construção do conhecimento, a partir de fundamentos teóricos e

segundo as leis da natureza. Em sua expressão singular, a realidade revela o que

verdadeiramente é em sua imediaticidade, e em sua expressão universal revela suas

complexidades, suas conexões internas, as leis de seu movimento e evolução, enfim, a

sua totalidade histórico-social (MARTINS, 2005).

Portanto, para que se tenha o conhecimento científico da realidade, faz-se

necessário delimitar as relações mais simples e determinantes da realidade social até a

sua totalidade nas relações mais complexas, retornando sempre às deliberações mais

simples, tornando o processo dinâmico e flexível. Conforme Cury (1995), o

conhecimento da realidade faz sobressair o conceito de mediação, que indica que nada é

isolado.

Implica, então, o afastamento de oposições irredutíveis e sem síntese

superadora. Por outro lado, implica uma conexão dialética de tudo o

que existe, uma busca de aspectos afins, manifestos no processo em

curso. A distinção existente entre esses aspectos oculta uma relação

mais profunda que é a fundamentação nas condições gerais da

realidade (p. 43).

Na sociedade capitalista, evidencia-se a oposição entre indivíduo e sociedade,

essencial para a manutenção dos interesses da classe dominante no seu objetivo de

classificá-los como universais. Portanto, para conhecer a realidade é preciso

compreender a origem da produção humana, no contexto histórico e nas relações sociais

que mais servem ao processo de subordinação e domínio.

Diante desse cenário, cabe às IES o desafio de cumprir a missão institucional e

garantir a sustentabilidade financeira dentro dos padrões de qualidade previstos pelo

Sinaes, com permanente crítica às orientações regulatórias que afrontam os princípios

do Sinaes. Esse entendimento fortalece a concepção de avaliação como política pública.

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Um aspecto bastante conhecido da evolução do pensamento na lógica da teoria

do materialismo e da dialética como método é o processo pelo qual o ser humano foi se

diferenciando dos demais. Segundo Marx e Engels (2008), o primeiro pressuposto de

toda a existência humana e, portanto, de toda a história

[...] é que os homens devem estar em condições de viver para poderem

“fazer história”. Mas, para viver, é preciso antes de tudo comer, beber,

ter habitação e algumas coisas mais. O primeiro ato histórico é,

portanto, a produção dos meios que permitam a satisfação dessas

necessidades. [...] O segundo ponto é que, satisfeita essa primeira

necessidade, a ação de satisfazê-la e o instrumento de satisfação já

adquirido conduzem a novas necessidades – e esta produção de novas

necessidades é o primeiro ato histórico (p. 39-40, grifos do autor).

O processo de apropriação ocorre, então, nessa relação entre a natureza e o

homem, este último por sua ação transformadora, que se apropria da natureza como uma

prática social. A compreensão da importância do processo de apropriação para a

pesquisa em tela é que a investigação tem de apoderar-se da matéria, em seus

pormenores, analisar suas diferentes formas de desenvolvimento, e buscar a conexão

que há entre elas. Só depois de concluído este trabalho, é que se pode descrever

adequadamente o movimento real (MARX, 1998).

Quanto ao aspecto metodológico da pesquisa, pode-se chegar nesse processo

de construção histórica ao limite da totalidade e não se terá mais a possibilidade de

continuar a ampliação de determinado conceito. Se isso ocorrer, resta ampliar as

possibilidades de construção do conhecimento e relacionar o objeto com outros

conhecimentos afins à temática pesquisada.

Isso quer dizer que ocorrendo à saturação da análise documental por meio da

legislação e da literatura disponível sobre avaliação, devem-se ampliar as possibilidades

de construção da trajetória histórica da avaliação com a participação dos atores

institucionais. É o que foi feito neste trabalho, com a participação dos gestores, pois

estes evidenciaram limitações em relação aos estudos existentes sobre os ciclos

avaliativos do Sinaes, no entendimento da análise integral dos seus instrumentos.

A pretensão de realizar um estudo inédito sobre os ciclos avaliativos do Sinaes

nesta pesquisa tem amparo na ausência de produção de estudos que investiguem a

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integralidade, a intencionalidade, a comparabilidade e a inter-relacionaridade entre os

instrumentos do Sinaes, que possam demonstrar, no seu conjunto, a qualidade dos

cursos ofertados pelas IES. Essa é uma limitação que impede de avançar na criação de

possibilidades de aprimoramento da relação entre avaliação e regulação, a ponto de a

pesquisadora ousar outro questionamento: seria intencional a ação regulatória do Estado

ao promover a desordem do fluxo do ciclo avaliativo e a valorização de indicadores em

detrimento dos resultados do Sinaes?

Ressalta-se, nesse processo, que um saber produzido no pensamento pode

reproduzir o concreto e, por isso, mostra a reprodução como uma categoria que se dá no

interior de um movimento contraditório cujo sentido, ainda que busque confirmar

antagonismos existentes, também os empurra para sua superação. Segundo Cury (1995),

essa reprodução

[...] não se dá de modo mecânico ou meramente reflexo. As condições

que possibilitam a reprodução do capitalismo não se encontram

apenas e tão somente na reprodução dos meios de produção. Ora.

Estas últimas se dão no âmago das relações de classe, cujas

contradições possibilitam o desenvolvimento de antagonismos e,

portanto, da transformação social (p. 42).

Com essa complexidade de relações, a mediação dos conflitos representa uma

estratégia para desafiar a elaboração de ideias subjetivas nas instâncias particular ou

individual e relacioná-las com os processos econômicos, políticos e ideológicos

encadeados numa lógica social mais ampla. O fundamento desse processo de construção

está ancorado na ideia de que a realidade, por contradição, está sempre em movimento

de transformação e que, portanto, pressupõe o reconhecimento de que o produto da

pesquisa poderá ser extrapolado em suas próprias contradições internas, revelando um

panorama do estado da arte em determinado momento.

Nesse sentido, as categorias metodológicas foram essenciais neste estudo, para

conhecer a produção e o significado da avaliação e a regulação na relação dialética entre

aqueles que participam da construção do sistema de avaliação. Assim, possibilitou

analisar as características da ação do Estado nas suas formas de poder e controle do

sistema educacional e das da IES no investimento dos projetos pedagógicos preconizado

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por um determinado padrão de qualidade. Articulando-se as categorias de conteúdo

avaliação como política pública e qualidade da educação superior às categorias do

método, foi possível analisar os efeitos da avaliação nas políticas educacionais

implementadas a partir de 2004.

Essa concepção foi se revelando durante a construção do estudo, fundamentada

no diálogo entre os grupos e com centralidade na posição e contraposição de ideias

trazidas pelos coordenadores de cursos entrevistados. Essa visão, associada à análise

documental das informações e aos resultados dos ciclos avaliativos do Sinaes,

conduziram a variadas formas de pensamento e, assim, ampliaram a visão de totalidade

do Sinaes.

Em se tratando de processos de avaliação com forte relação econômica por

parte das mantenedoras das IES, foi essencial compreender as contradições que se

operam no sistema de avaliação da educação superior do país. Na perspectiva

materialista e histórica, Frigotto (2001) destaca que o método

[...] está vinculado a uma concepção de realidade, de mundo e de vida

no seu conjunto. A questão da postura, neste sentido, antecede o

método. Este constitui-se numa espécie de mediação no processo de

apreender, revelar e expor a estruturação, o desenvolvimento e a

transformação dos fenômenos sociais (p. 77).

Justamente por essa vinculação com a realidade é que o método se ajustou à

necessidade de análise da influência de uma sociedade capitalista na definição da

relação entre a avaliação e a regulação da educação superior e, consequentemente, na

definição das políticas de desenvolvimento da educação superior. Parte-se do

pressuposto de que a concepção de regulação e de avaliação tem a ver com o modelo de

educação superior que se pretende adotar no país. Assim sendo, revela contraposição da

política regulatória à concepção de avaliação, qual seja, a emancipatória e autônoma, a

fim de subsidiar: i) às IES o desenvolvimento dos processos pedagógicos e ii) o Estado

na construção de políticas públicas voltadas à indução de qualidade na educação.

Marcando a posição ideológica da educação e suas relações com o Estado, Dias

Sobrinho (2010) destaca que o discurso e as práticas dos gestores do Estado.

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[...] estão recheados de ideias e promessas de desenvolvimento a ser

alcançado por meio da gestão eficiente do sistema educacional. Nas

políticas setoriais públicas, as preocupações centrais consistem na

organização de sistemas de informação e de controle através da

elaboração e execução de um forte aparato legal-normativo, sempre

acompanhado de processos de regulação, avaliação e acreditação. Na

agenda brasileira de educação superior aparece, com grande relevo, a

questão da ampliação das matrículas e o controle das aprendizagens

estudantis exercido por meio de exames de larga escala. São medidas

socialmente valorizadas e de grande apelo político, especialmente

quando publicam informações quantitativas (p. 1.227).

Nessa perspectiva, admite-se que as ações e os compromissos dos gestores

podem estar descontextualizados da relação com qualidade da educação superior,

instaurando tensões na relação entre avaliação e regulação pelo distanciamento dos

propósitos de cada um desses processos. Para alterar essa realidade, é preciso discutir a

política de avaliação em suas possibilidades de se concretizar como diretriz norteadora

do processo de expansão da educação superior, seja pelos resultados do Enade, dos

indicadores de qualidade ou, ainda, pelos relatórios de avaliação in loco.

A análise da avaliação da educação superior como um processo histórico

revelou durante a pesquisa e, em especial no Capítulo 2, o conjunto de políticas que se

sucederam depois da implementação do Sinaes, em 2004, percebendo na lógica dialética

a construção de uma ação política do Estado subsidiada pela avaliação. Foi importante

descobrir nesse conjunto de políticas a relação entre o objeto e a transformação da

realidade, nesse caso, a relação entre o Sinaes e a promoção da qualidade da educação

superior. Conforme Marx, (1998) é essencial descobrir no contexto do objeto

[...] não apenas a lei que os rege, enquanto tem forma definida e os

liga à relação observada em dado período histórico. O mais importante

de tudo é a lei de sua transformação, de seu desenvolvimento, ou seja,

a transição de uma forma para outra, de uma ordem de relações para

outra (p. 26).

A visão marxista distingue a concepção de investigação como método de

pesquisa que se apropria da realidade estudada de método de exposição que define a

forma de análise e de desenvolvimento da investigação. Pode-se dizer, portanto, que

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depois de analisar a realidade com o intuito de transformá-la, tem-se no materialismo

histórico-dialético o modo de caminhar.

Sob essa lógica, a análise dos elementos que integram os ciclos avaliativos do

Sinaes significou, também, o enfrentamento das forças coercitivas do poder do Estado

nas políticas que representam o capital privado. São essas forças que, analisadas a partir

do movimento da regulação, determinam a visão de mundo e legitimam a avaliação

como política pública. Transformar a concepção tradicional de avaliação focalizada na

regulação da educação superior sob a ótica de poder e controle estatal representou o

grande dilema a ser enfrentado pelo Sinaes.

Com essa base epistemológica, a pesquisa se ancorou na abordagem crítico-

dialética, compreendida como a ciência em construção. A partir de uma visão

materialista de mundo, o processo de construção do conhecimento sobre a avaliação da

educação superior se pautou da totalidade para as partes e retornou depois para a

totalidade. Ao mesmo tempo, retroalimentou as práticas de gestão para a melhoria da

qualidade dos cursos e as políticas de regulação do Estado que contribuíram para sua

reprodução.

Nesse sentido, é importante salientar o apontamento de Belloni (2001), quando

diz que avaliar

[...] é uma ação corriqueira e espontânea realizada por qualquer

indivíduo acerca de qualquer atividade humana; é, assim, um

instrumento fundamental para conhecer, compreender, aperfeiçoar e

orientar as ações de indivíduos ou grupos. É uma forma de olhar o

passado e o presente sempre com vistas ao futuro. Faz parte dos

instrumentos de sobrevivência de qualquer indivíduo ou grupo,

resultado de uma necessidade natural ou instintiva de sobreviver,

evitando riscos e buscando prazer e realizações (p. 14).

A pesquisa nas instituições, em diversas áreas do conhecimento, entre estas a

educação, envolve relações de caráter social e humano, por isso, vem se destacando no

uso da abordagem qualitativa no processo de investigação (GODOY, 1995; NEVES,

1996). Nesse contexto, podem ser utilizadas diversas abordagens metodológicas de

caráter quantitativo ou qualitativo. A escolha do caráter qualitativo neste estudo esteve

associada ao objetivo de analisar as características específicas, as vantagens e

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desvantagens de cada abordagem e fazer uso, de forma combinada, de mais de uma

fonte para a coleta de dados.

Dessa forma, à luz das experiências educacionais e do pensamento dos sujeitos

envolvidos tanto na gestão do Estado como na gestão acadêmica das IES, as categorias

metodológicas e analíticas deram sustentação ao desenvolvimento da pesquisa. O olhar

dialético do método, além de possibilitar a compreensão das situações históricas,

auxiliou na apreensão da concepção de avaliação e na interpretação da sua finalidade

(regular a e/ou induzir à qualidade).

Com efeito, a questão norteadora da pesquisa centrou-se na análise dos cursos

de Pedagogia nos ciclos avaliativos do Sinaes, buscando evidenciar se a avaliação

permanece centrada na visão de controle do Estado, destituída da concepção formativa e

emancipatória, ou se tem alterado suas práticas. Por conseguinte, fez-se necessário o uso

da abordagem qualitativa com ênfase nas relações entre os sujeitos pesquisados. A

orientação de análise foi realizada de acordo com as potencialidades reiteradas no

processo.

Na abordagem qualitativa, o pesquisador busca aprofundar a compreensão dos

fatos e o objeto que estuda, entre eles, as ações dos indivíduos, grupos ou organizações

em seu ambiente e contexto social. Assim, a interpretação do pesquisador segundo a

perspectiva e a ação dos participantes passa a ser o principal instrumento de

investigação. Por isso, a necessidade de estar em permanente contato com o objeto de

estudo, observando o percurso histórico, os significados da ação e dos comportamentos

observados como características da pesquisa qualitativa (ALVES, 1991;

GOLDENBERG, 1999; GATTI, 2002).

As informações obtidas nos ciclos avaliativos foram analisadas a fim de

compreender se os resultados do Sinaes têm induzido à qualidade da educação superior,

ou se têm servido apenas de subsídio à política de regulação dela. Os dados empíricos

da pesquisa foram consultados durante toda a construção do estudo e novamente

discutidos na medida em que podiam enriquecer a temática e reconhecer as concepções

dos coordenadores dos cursos de Pedagogia investigados.

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Nesse sentido, um dos conceitos fundamentais para entender a finalidade da

avaliação se refere à concepção de qualidade166 dos gestores das IES. Sobre o tema, um

dos coordenadores manifestou que “uma educação de qualidade é aquela que coloca os

seus alunos a pensar, a criar, a produzir novos conhecimentos e não somente reproduzir

o mesmo” (Coordenador 1, informação textual, 2014).

Estar em formação implica um investimento pessoal, um trabalho livre e

criativo sobre os percursos e os projetos próprios, com vista à construção de uma

identidade, que é também uma identidade profissional.

Urge por isso (re)encontrar espaços de interação entre as dimensões

pessoais e profissionais, permitindo aos professores apropriar-se dos

seus processos de formação e dar-lhes um sentido no quadro das suas

histórias de vida (NÓVOA, 1995, p. 25).

Esse contexto reflete a visão do campo da prática educacional. O gestor se

refere à importância de atuar de forma coletiva, confrontando os alunos a estabelecerem

novos conceitos e superarem formas tradicionais de aprendizagem. Essa atuação requer

atualização permanente e uso da avaliação para ressignificar as práticas pedagógicas.

A postura delineada pelo autor desafia o trabalho do gestor, especialmente, na

coordenação de um curso de Pedagogia. Provoca a inovação no percurso da formação,

que se constrói não pela acumulação de conhecimentos e/ou tecnologias educacionais,

mas pela reflexão permanente sobre as práticas individuais e coletivas. Buscando

articulações possíveis, outro coordenador também relaciona a qualidade da educação ao

ensino e à aprendizagem:

Ao pensarmos na qualidade da educação, voltamos nosso olhar para o

bom professor e sua prática pedagógica. Na verdade, não tenho a

menor dúvida sobre o importante papel do professor no processo de

aprendizagem do aluno, porém não podemos parar por aí, uma vez

que existe todo um contexto em que se insere o ensino

(COORDENADOR 5, informação textual, 2013).

166 A questão respondida pelos gestores no questionário da pesquisa era a seguinte: O que você entende por

qualidade da educação?

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O trabalho docente é resultado de um processo histórico que pode se

materializar nas formas de produção ou de reprodução. Questiona-se, portanto, as bases

em que se fundamenta tal prática na qual a importância do processo educacional recai

sobre o professor. E a centralidade do processo, não seria do aluno? Que perfil

profissional se espera dos estudantes do curso de Pedagogia?

Para Saviani (1997), o trabalho educativo “é o ato de produzir, direta e

intencionalmente, em cada individuo singular, a humanidade que é produzida histórica e

coletivamente pelos homens” (p. 21). Considerando a contradição presente no processo

educativo, a qualidade da educação está em cada docente que precisa ultrapassar a

lógica do conhecimento para a prática educativa necessária a cada estudante.

Corroborando essa ideia, Curado Silva (2012) relata que, na realidade, os

cursos de formação de professores

[...] têm sofrido as conseqüências de um defeito congênito de sua

constituição: a separação entre teoria e prática no esforço de formação

coloca-a, em geral, em posição precedente à teoria, vindo a prática

sempre depois por meio de estágios de duração insuficiente e,

sobretudo, de concepção precária. Não é possível nos determos mais

sobre esse ponto, que exige, porém, atenção urgente e cuidadosa, pois

suas consequências atingem vários aspectos, inclusive a questão do

saber docente (p. 209).

Muito além da questão do estágio curricular, é a discussão sobre as atividades

práticas que contribuem para a formação dos estudantes ao longo do curso e da vida

profissional. O estágio, se constituído de um fazer burocrático, também não traz

significado para a vida profissional futura. Qualquer que seja a atividade, se estiver

desprovida de uma meta investigativa e propositiva, se contrapõe à formação docente

para uma ação transformadora.

A partir dessas reflexões, percebe-se que os coordenadores têm uma visão

ampla sobre a importância do estágio para a formação docente. Por meio da ligação

entre a teoria e a prática, o estudante se aproxima da realidade e se depara com situações

inusitadas que requerem habilidade para colocar em ação suas aprendizagens. E como

avaliar essa relação entre teoria e prática, para além de um período específico destinado

ao estágio curricular?

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Barreiro e Gebran (2006) propõem a articulação da relação entre teoria e

prática como um processo

[...] definidor da qualidade da formação inicial e continuada do

professor, como sujeito autônomo na construção de sua

profissionalização docente, porque lhe permite uma permanente

investigação e a busca de respostas aos fenômenos e às contradições

vivenciadas (p. 22).

O Sinaes busca, portanto, fazer essa ligação entre teoria e prática com a

qualidade do curso, no conjunto dos seus instrumentos, e evidenciar as contradições

existentes. Dessa forma, cada parte dos Sinaes, avaliação in loco e exame, precisa ser

analisada, pois cada uma tem finalidade específica: i) os indicadores dos instrumentos

de avaliação in loco buscam verificar como ocorre essa relação entre teoria e prática,

referente à organização pedagógica do curso; ii) o Enade avalia a relação entre teoria e

prática, sob a perspectiva dos estudantes e do coordenador de curso, por meio dos

Questionários do Estudante e do Coordenador.

Ampliando a discussão sobre qualidade da educação para uma visão

institucional, um dos coordenadores posiciona que a qualidade compreende a inter-

relação entre ensino, pesquisa e extensão. Para ele, esse entendimento deve ser

transformado em ações pedagógicas, pois:

Uma educação de qualidade é aquela que possibilita ao cidadão

desenvolver-se de forma harmônica, técnica e cultural subsidiando sua

participação no mundo globalizado. É também uma educação que

respeite os conteúdos previstos nos documentos nacionaisoficiais

(COORDENADOR 16, informação textual, 2013, grifo nosso).

A formação na educação superior pressupõe ultrapassar o nível de aquisição de

conhecimentos, informações e técnicas que podem levar a uma profissionalização que já

não tem mais lugar no mercado de trabalho. A qualidade do curso requer o

desenvolvimento de habilidades dos estudantes para compreender a natureza, a

sociedade e o próprio homem e, portanto, a capacidade de entender e transformar a sua

realidade.

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As DCN relativas a cada curso cumprem a finalidade de orientar a formação

dos estudantes, que põe em acordo nacional o tipo de profissional que se espera, no

caso, o licenciado em Pedagogia. Esses devem ser os “documentos nacionais” a que o

coordenador se refere e que também ganham sentido quando também são considerados

para a construção dos instrumentos do Sinaes, conforme debatido no Capítulo 3 deste

estudo.

Conforme dispõe o seu marco legal, o Enade tem a intenção de avaliar o

rendimento dos alunos dos cursos de graduação, ingressantes e concluintes, em relação

aos conteúdos programáticos dos cursos em que estão matriculados. Também busca

aproximar a relação com o curso denominando-se componente curricular obrigatório,

vinculando essa prática avaliativa à melhoria do curso.

De modo derradeiro e na compreensão de qualidade relacionada a uma

avaliação que cumpre os critérios regulatórios, um coordenador declara que: “Qualidade

é o mínino que se pode oferecer aos acadêmicos do curso e isso está expresso também

nos critérios avaliativos propostos pelo MEC” (COORDENADOR 21, informação

textual, 2013).

Essa perspectiva ressalta que a avaliação pode se constituir um poderoso

instrumento de influência sobre as IES. Contudo, acredita-se que, na relação da

avaliação da qualidade vinculada à instauração de políticas educacionais, essa visão

tende a substituir um sistema de normas e regras de governo para organizar uma política

pública de Estado.

O que se espera é que a qualidade da educação possa se traduzir em maior

iniciativa e autonomia das IES na proposição de novas e transformadoras ações de

formação. Segundo a visão dos gestores, a qualidade não seria possível ocorrer pela

imposição de critérios de gestão, a não ser por uma cultura de avaliação capaz de

orientar e subsidiar o planejamento da educação superior.

Em outro aporte, os coordenadores foram solicitados a falar sobre os desafios

da coordenação do curso em relação à formação docente.167 Essa questão remete à

167 A questão respondida pelos gestores no questionário da pesquisa era a seguinte: Quais são os desafios percebidos

pela coordenação do curso em relação à formação dos estudantes do curso de Pedagogia?

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prática de lidar com o conflito nas relações docentes e sociais e nas questões ligadas à

vida dos estudantes.

Os desafios da formação docente para serem superados precisam ultrapassar,

por um lado os limites das perspectivas teóricas que fundamentam as práticas e, por

outro, a incidência na educação brasileira. Segundo Marx (1983), esses desafios trazem

uma visão de totalidade histórica, mas com tensões relacionadas à concepção de

qualidade e ao contexto de cada IES. Configura, portanto, “uma síntese de múltiplas

determinações, logo unidade da diversidade” (p. 218).

Nestsa perspectiva, entende-se que o grande conflito que se estabelece é o da

qualidade da formação. De que profissional a sociedade precisa, e qual o perfil docente

a IES pretende formar? Com esse pressuposto, um dos coordenadores dos cursos

pesquisados respondeu que o desafio da sua coordenação é

[...] formar os alunos para trabalhar com múltiplas realidades,

desconstruindo a visão de uma escola una, um modelo de aluno,

desmanchando os mitos e clichês que acompanham os discursos da

educação por tanto tempo (COORDENADOR 9, informação textual,

2013).

Entretanto, essa é uma tarefa complexa. Parece consenso que os currículos de

formação de professores, ao não enfatizarem as atividades práticas, se mostram

inadequados à realidade da profissão. Contudo, um equívoco consiste em acreditar que

os problemas estão no perfil dos estudantes que ingressam na educação superior. Com

esse entendimento, um dos coordenadores pontua como problemas que implicam na

formação

[...]

i) às dificuldades que os alunos apresentam em relação aos

conhecimentos básicos ou pré-requisitos insuficientes para

prosseguirem os estudos em nível de graduação;

ii) à oferta de curso noturno, portanto, o aluno é um trabalhador, e sem

tempo para estudar e para contato extraclasse;

iii) professores horistas e com pouca dedicação ao curso e às

necessidades dos alunos (COORDENADOR 12, informação textual).

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Essas questões, entre outras, são basilares no processo de formação e devem

estar previstas no planejamento de um curso de Pedagogia. Ora, se o aluno apresenta

necessidade de pré-requisitos, a responsabilidade da IES é oferecer oportunidades para

que essa lacuna seja suprida. Quanto à oferta de curso noturno, Gatti e Barreto (2009)

concordam que essas postulações criaram tensões para o desenvolvimento curricular

desses cursos, ainda não bem equacionadas.

Os cursos noturnos, de modo geral, tendem a ter um funcionamento

mais precário do que os diurnos, particularmente no que diz respeito

às atividades ligadas às práticas docentes requeridas pela formação

específica para o magistério, o que sugere que a formação dos

estudantes de licenciatura, realizada no período noturno, tende a

ocorrer em condições de qualidade menos satisfatórias que a dos

demais licenciandos (p. 68).

As orientações de formação do curso de Pedagogia não podem ser afetadas

dessa forma. O perfil do egresso previsto nas DCN é o mesmo para diferentes turnos de

oferta e público a que se destina. Qualquer atitude de condução à simplificação

curricular pode afetar o perfil dos formados. De modo contrário, deve-se investir em

metodologias mais adequadas para oportunizar o aprendizado e adequá-lo às

necessidades de formação.

O problema central da formação de professores não se encerra nesse eixo de

análise, o que certamente reduziria a compreensão sob a ótica da teoria marxista. Nesse

sentido, é fundamental conhecer a história que originou esse pensamento. A análise

sobre a organização dos currículos de Pedagogia e também sua transformação originada

pela alteração das DCN deve confrontar os obstáculos na tentativa de aproximar a

realidade. Uma realidade que envolve diferentes concepções, mas também avanços

teóricos essenciais para a superação de problemas e a construção de novas ideias.

A verdade é que são diversos os projetos pedagógicos dos cursos de Pedagogia

e são muitos os elementos que integram um currículo. A análise da totalidade dos cursos

deve considerar as muitas especificidades que perpassam a realidade dos cursos.

Vygotski (1995) confirma essa visão quando declara que se

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[...] todos os objetos fossem fenotípica e genotipicamente equivalentes

(isto é, se os verdadeiros princípios de sua construção e operação

fossem expressos por suas manifestações externas), então, a

experiência do dia a dia seria plenamente suficiente para substituir a

análise científica. Tudo o que vimos teria sido sujeito do

conhecimento científico (p.103-104).

Nessa perspectiva, o materialismo histórico-dialético pressupõe revelar as

relações e captar as mediações que definem o objeto, ou seja, “uma rica totalidade de

determinações e relações diversas” (MARX, 1978, p. 116).

Com o sentido de induzir à qualidade, o Sinaes se ocupa de avaliar as

condições de ensino, no que se referem ao projeto pedagógico que contemple o perfil

profissional previsto nas DCN e a valorização profissional com ênfase na ampliação das

oportunidades de qualificação e infraestrutura para a realização do trabalho docente. De

fato, a dedicação do professor ao curso é um fator preponderante de qualidade, pois se

estiver em tempo integral na IES terá como integrar momentos de atenção ao aluno às

atividades docentes.

Essa prerrogativa é tratada por um dos coordenadores de curso como desafio a

ser superado com o apoio do Estado.

Os desafios são justamente mostrar que as licenciaturas precisam ser

mais exigidas e valorizadas tanto pelos governos como pelos seus

estudantes que precisam se valorizar. Também a questão profissional,

com melhores salários para atrair jovens vocacionados e intencionados

pela educação. Preocupa-me também a questão dos inúmeros

estudantes que chegam com idade avançada para o curso e motivados

por uma bolsa de estudo do governo e não pela intenção de serem

professores (COORDENADOR 7, informação textual, 2013).

Nesse sentido, a ênfase está na valorização dos profissionais da educação e

expressa um comprometimento determinante do Estado com a formação de professores

em uma posição estratégica de desenvolvimento do país. Contribuindo com esse

pensamento, Dourado (2001) pondera que a formação e a profissionalização dos

docentes passam pelo resgate de políticas concretas

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[...] que incluam o questionamento e novos acenos dos atuais marcos

de formação incorporando, desse modo, a formação contínua e a

melhoria das condições de trabalho (salário, plano de carreira, política

de capacitação, avaliação) no novo cenário sociopolítico, econômico e

cultural que se delineia mundialmente (DOURADO, 2001, p. 56).

É uma distorção da política pensar que os fatores de motivação dos estudantes

dos cursos de Pedagogia se devem ao interesse em obter políticas de apoio ou acesso

tardio por pessoas com a idade mais avançada. O efeito mais evidente dessa reflexão é a

necessidade de abertura de novas perspectivas na interpretação dos desafios para formar

públicos diversos, com necessidades diferentes e em estágios de vida distintos.

Nessa perspectiva, espera-se que a avaliação externa contribua para valorizar

as ações de superação desses desafios emanadas da coordenação dos cursos de

Pedagogia. Com essa intenção, os gestores contribuíram com a percepção sobre a

relação da avaliação externa com a qualidade do curso.168 Nesse quesito houve posições

favoráveis e contrárias à existência dessa relação.Dois coordenadores foram veementes

quanto à não existência de relação entre a avaliação externa e a qualidade do curso. Um

deles assim justificou: “Não acredito em uma relação direta. Nem sempre o que está

sendo feito qualitativamente tem como ser quantificado” (COORDENADOR 2,

informação textual, 2013).

No mesmo sentido, outro coordenador ressaltou que essas avaliações

[...] impõem um determinado modo de expressão do campo

generalizado, afirmando lógicas que reduzem os saberes pedagógicos

às noções de competências e habilidades. A qualidade do curso de

Pedagogia atravessa, inclusive, o modo de constituição de políticas de

cognição afetas a uma formação laica, que faz atravessar ensino,

pesquisa e extensão de uma maneira que o Sinaes não consegue fazer

“ver e falar” (COORDENADOR 11, informação textual, 2013).

De modo contrário, cabe advertir que as políticas educacionais têm valorizado

e reforçado a importância da formação dos professores aliada à ênfase da avaliação.

Essa condição foi ressaltada por grande parte dos coordenadores que disseram perceber

168 A pergunta realizada aos coordenadores de curso foi a seguinte: Você percebe relação entre os resultados da

avaliação externa realizada por meio do Sinaes e a qualidade do curso de Pedagogia? Em caso negativo,

justifique. Em caso positivo, indique como identifica esta relação (entre docentes, estudantes, coordenação do

curso, gestão institucional, sociedade. Outros...).

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no exercício da coordenação do curso a relação entre os resultados da avaliação externa,

por meio do Sinaes, e a qualidade do curso de Pedagogia. Com essa compreensão,

alguns dos coordenadores justificaram:

É necessário utilizar a avaliação como ferramenta construtiva que vai

contribuir para melhorias e inovações, permitindo assim identificar

possibilidades e tomar decisões no processo de reflexão permanente

do Projeto Pedagógico do curso. E este fazer não é tarefa isolada da

coordenação (COORDENADOR 8, informação textual, 2013).

Eu penso que todo tipo de avaliação externa pode ser positiva e

contribuir para a qualidade dos cursos [...]. Esta relação pode se dar de

forma muito saudável quando as instituições veem isso, como forma

positiva de crescimento de seu grupo e não apenas como forma de

cobrança, punições e perseguições de profissionais

(COORDENADOR 15, informação textual, 2013).

Há a preocupação da instituição, da coordenação do curso e do corpo

docente em buscar sempre o melhor desempenho do curso,

principalmente devido aos constantes desafios que são colocados a

cada resultado das avaliações externas. No curso de Pedagogia temos

envolvido os acadêmicos nesse processo (COORDENADOR 17,

informação textual, 2013).

Diante da resposta positiva dos coordenadores sobre a importância da avaliação

para a qualidade do curso, perguntou-se sobre as estratégias da coordenação para

acompanhar o desenvolvimento da proposta pedagógica.169 Entre as estratégias

destacaram-se: i) o Núcleo Docente Estruturante (NDE);170 ii) seminários de incentivo à

produção acadêmica, reuniões com representantes de turma, entre outras ações de

promoção do diálogo interno nas IES; e iii) investimento na pesquisa e na produção

docente e discente.

169 A pergunta do questionário aos coordenadores era a seguinte: Quais as estratégias da coordenação do curso para

o acompanhamento da implementação do projeto pedagógico do curso de Pedagogia? 170 O NDE constituiu-se como obrigatório em todos os cursos de graduação, a partir da Resolução nº 1/2010,

publicada pela Conaes. Por essa resolução, o NDE constitui-se de um grupo de docentes, com atribuições

acadêmicas de acompanhamento, atuante no processo de concepção, consolidação e contínua atualização do

projeto pedagógico do curso. Entre outras, definidas pela própria IES, são atribuições do NDE: I – contribuir para

a consolidação do perfil profissional do egresso do curso; II – zelar pela integração curricular interdisciplinar

entre as diferentes atividades de ensino constantes no currículo; III – indicar formas de incentivo ao

desenvolvimento de linhas de pesquisa e extensão, oriundas de necessidades da graduação, de exigências do

mercado de trabalho e afinadas com as políticas públicas relativas àárea de conhecimento do curso; IV – zelar

pelo cumprimento das Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação (BRASIL, 2010).

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327

Sobre o NDE, como estratégia para a implementação da proposta pedagógica

do curso, separam-se três comentários de coordenadores do curso de Pedagogia.

O projeto pedagógico do curso está sendo discutido com os alunos e

egressos do curso através de reuniões com os grupos e questionários

enviados pela internet. Além disso, o NDE tem se reunido

quinzenalmente para discutir o PPP, atualizá-lo e reformular a matriz

curricular. Ainda, essas discussões têm sido levadas para as reuniões

de colegiado do curso (COORDENADOR 5, informação textual,

2013).

Busca-se o envolvimento do NDE nesse trabalho, bem como do

colegiado de professores. As mudanças, alterações e atualizações são

realizadas por meio de análise, discussão e deliberação nos colegiados

(COORDENADOR 14, informação textual, 2013).

A gestão do curso se faz por meio de permanentes reuniões com os

professores do Núcleo Docente Estruturante (NDE) para discussão,

desenvolvimento, acompanhamento e aprimoramento dos Planos de

Ensino, metodologias de ensino, infraestrutura do curso, projetos de

pesquisa e de extensão, atuação junto ao corpo docente e discussões

com os alunos. O olhar atento dos resultados dos processos avaliativos

institucionais, desenvolvimento dos projetos planejados e das ações

dos resultados obtidos (COORDENADOR 24, informação textual,

2013).

Um dos temas relativos à avaliação de cursos é a exigência do NDE, que deve

ser constituído de um grupo de professores para acompanhamento das ações

pedagógicas. A ação se institui como estratégia para compartilhar a responsabilidade

pela qualidade e a implementação das diretrizes do curso. Com base nos indicadores do

instrumento de avaliação in loco, o NDE tem se caracterizado a partir uma estrutura

com regras internas das IES. A manifestação dos coordenadores sobre a importância do

NDE para a qualidade dos cursos ratifica essa organização no âmbito institucional.

Em recente estudo sobre o NDE, Tavares (2013) contextualiza esta estrutura

institucional como instrumento de regulação previsto na política de avaliação. A análise

é feita a partir do ciclo de políticas de Stephen Ball,171 ao qual a autora remete à

compreensão de que:

171 O ciclo de políticas de Stephen Ball se refere aos três contextos: de influência, da produção de textos e da

prática. Este ciclo de políticas foi objeto de discussão deste estudo no Capítulo 2. (BALL, J. S.; MAINARDES,

2011).

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O MEC representa o contexto da influência, a Conaes e o Inep

representam o contexto da produção de textos, e as Instituições de

Educação Superior (IES), com suas comunidades acadêmicas, o

contexto da prática. Entretanto, considera-se que dentro do próprio

contexto de produção de textos é possível localizar os demais

contextos pertencentes ao ciclo continuo de políticas – o contexto da

influência e o contexto da prática – , na medida em que os autores dos

documentos são pesquisadores que atuam junto ao contexto da

influência – o MEC – e os professores que atuam na prática, ao se

constituírem membros do NDE de seus cursos ou gestores de suas

instituições (p. 115).

Nessa lógica do ciclo de políticas é preciso ponderar que o MEC, nesse caso

representado pela Seres, responsável pelos atos de regulação da educação superior, tem

atuado menos no contexto da influência e mais no contexto de produção de textos. Com

essa forma de gestão, cabe ao Inep e à Conaes a atribuição de atuarem no contexto da

prática da implementação de inúmeras instruções normativas, que acabam por

desordenar e fragmentar o processo de avaliação à luz das orientações do Sinaes.

Segundo Mainardes e Marcondes (2009), Ball enfatiza “que o pensar sobre as

políticas e o discurso das políticas podem ser mudados pela ação política” (p. 306). Esse

pensamento sob a ótica do Sinaes pode significar que a avaliação como política pública

tem um discurso em prol da melhoria da qualidade, entretanto, a ação política pode

comprometer as suas reais finalidades. No caso das políticas de avaliação, segundo

Tavares (2013), analisá-las como discurso

[...] significa tentar escapar do pressuposto de que devemos olhar para

os documentos com a intenção de interpretar o que está por trás deles.

Como discursos, eles são produções históricas, políticas e

constituintes das práticas que formam os objetos das quais tratam (p.

124).

São essas contradições que constituem a relação entre avaliação e regulação.

Nesse caminho, refletindo sobre os dados empíricos, no caso dos documentos

de que se ocupa Sinaes, percebe-se que o NDE como uma estratégia de qualidade do

curso, dito pelos coordenadores nessa pesquisa e, assim justificado, também pela

Conaes, tem forte característica de regulação. Para Tavares (2013), “O NDE passou a

constar dos instrumentos de avaliação e consolidou-se como uma exigência para todos

os cursos e todos os atos regulatórios a eles pertinentes” (p. 131).

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Entretanto, a mesma autora ressalta que o NDE não é uma política nova, já

tendo sido tratado no contexto dos cursos de medicina e direito há algum tempo:

O NDE surgiu no momento de transição entre o Decreto nº

3.860/2001, que dispõe sobre a organização do ensino superior e a

avaliação dos cursos e instituições, e o Decreto nº 5.773/2006, que

dispõe sobre as funções de regulação, supervisão e avaliação de IES e

cursos superiores de graduação e seqüenciais no sistema federal de

ensino. Ele consta da Portaria nº 147/2007, que, por sua vez, foi o

resultado de relatórios elaborados por grupo de trabalho na área de

direito e medicina (p. 128).

Em que pese esse outro olhar sobre o NDE, mais regulatório do que indutor de

qualidade, os coordenadores dos cursos investigados, seguindo as orientações do

Parecer Conaes nº 4/2010, o apontaram como estratégia para a implementação do

projeto pedagógico do curso, a organização de seminários com o fito de “debater as

práticas efetivas que acontecem no curso. E seminários de monografias, com o intuito

de tornar visíveis as produções acadêmicas dos alunos, entre outros...” (Coordenador 4,

informação textual, 2013). No mesmo sentido, outros dois coordenadores destacaram a

relevância

[...] das reuniões periódicas com os representantes de sala para discutir

as ações a serem desenvolvidas, como também, solicitando dos(as)

mesmos(as) que se envolvam no processo de organização das

atividades pedagógicas a serem desenvolvidas durante o curso;

solicitação de parceria dos professores na cobrança de compromisso

dos alunos com as leituras e produções realizadas durante o curso;

acompanhamento da avaliação externa e dos resultados da avaliação

interna; autoavaliação do projeto pedagógico pelos(as) alunos(as) e

pelos professores (COORDENADOR 8, informação textual, 2013).

[...] do diálogo com todos que fazem o curso. É preciso um sério

planejamento de avaliação e supervisão onde se inclui as visitas

programadas nas turmas, análise dos instrumentos de avaliação da

aprendizagem, reuniões com representantes de turmas, docentes e

monitores, entre outros (COORDENADOR 17, informação textual,

2013).

Além de destacar o trabalho coletivo como estratégia de implementação do

projeto pedagógico do curso, foi importante perceber a preocupação dos gestores com a

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pesquisa e a produção docente e discente. Curado Silva (2012) aborda o exercício da

pesquisa como uma qualidade eminentemente humana, desenvolvida na cultura e na

história humana.

Por meio da pesquisa, o ser humano criou instrumentos práticos e

teóricos que lhe permitem agir e pensar de uma forma especial sobre a

natureza e obter respostas desejadas. A partir desta, também se

mudaram as relações dos homens com a natureza, entre os homens e

mudou, ainda, o próprio homem. Portanto, como prática cultural e

histórica, as pesquisas devem ser construídas e reconstruídas junto a

cada indivíduo nos processos educacionais (p. 208).

Com esses pressupostos, os coordenadores exercitam a mediação no processo

de construção do conhecimento. Esse papel é fundamental, uma vez que trabalhar na

gestão requer uma formação interdisciplinar, pois não bastam os conhecimentos para a

função, é preciso preparar as condições para produzir o conhecimento.

Para o método analítico-conceitual adotado nesta pesquisa, discutir a mediação

é tratar a relação da avaliação e regulação no âmbito da singularidade, particularidade e

universalidade. A mediação vai além da superação de conflitos ou problemas; consiste

em uma forma dialética de interpretar a realidade. A preocupação é no sentido de que os

gestores reservam poucos momentos da sua prática para a reflexão sobre o sentido real

da sua função e da expressão interdisciplinar da sua atuação em relação ao uso da

avaliação para induzir melhorias no curso. Segundo Marx e Engels (2007), a questão é

que para o pensamento humano

[...] uma verdade objetiva não é uma questão da teoria, mas uma

questão prática. É na prática que o homem tem que provar a verdade,

isto é, a realidade e poder, a natureza citerior172 de seu pensamento. A

disputa acerca da realidade ou não realidade do pensamento – que é

isolado da prática – é uma questão puramente escolástica (p. 533).

No caminho da estrutura deste estudo, buscou-se conhecer as expectativas dos

coordenadores de curso em relação à formação dos estudantes, dos investimentos

necessários para a realização da prática pedagógica e das condições da IES para dar

172 A palavra citerior neste contexto significa a natureza terrena do pensamento (MARTINS; DUARTE, 2010).

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sequência às expectativas da sua gestão.173 Essa análise ganha sentido na manifestação

de um dos coordenadores, que discorre sobre a inexistência de investimento da IES na

infraestrutura do curso:

A IES não tem condições de atender às exigências de infraestrutura

exigida. Nossas condições são precárias, com uma biblioteca que

funciona com horário reduzido por falta de funcionário, poucas salas

de trabalho e orientação para os professores, etc. (COORDENADOR

12, informação textual, 2013).

Além de ser reducionista em relação às necessidades do curso, o coordenador

nem chega a se referir à questão essencial de existir do curso, que é a formação do

estudante. A negação da sua função fica evidente no relato da precariedade dos

investimentos na qualidade do curso. De modo diverso, outros coordenadores abordam

a questão dos investimentos na qualidade do curso, de modo positivo, conforme segue:

Sim, é necessário investir sempre na infraestrutura, caso contrário,

ficamos obsoletos. As salas de aula têm que ter apoio pedagógico e de

tecnologias avançadas, bem como o professor deve saber fazer bom

uso delas. Os laboratórios devem sofrer permanente upgrade, o que

inclui, ainda, uma biblioteca atualizada, inclusive na forma virtual. A

instituição que trabalho tem esta preocupação de forma projetada para

atender (COORDENADOR 6, informação textual, 2013).

Ressalta-se, que são visíveis as diferenças entre as expectativas da gestão de

cursos de IES públicas e de privadas. A categoria administrativa da IES parece interferir

no posicionamento dos coordenadores, ora pela responsabilização com o processo, ora

pelo resultado da avaliação.

Desde que entrei na IES tenho percebido que a direção está

preocupada com esta melhoria de qualidade e sempre nos motivando

através de estratégias diversas para atingirmos as metas. Vejo que a

IES tem buscado melhorar os demais setores para que todos(as)

trabalhem mais integrados. Vejo que os desafios ainda são grandes por

se tratar de uma instituição jovem, mas que está certamente em busca

de melhorar seus resultados (COORDENADOR 21, informação

textual, 2013).

173 A pergunta do questionário aos coordenadores era a seguinte:: Quanto às expectativas de formação do estudante:

Você percebe a exigência de investimento pedagógico e de infraestrutura no curso? Quais? A IES tem condições

de atendê-las?

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As expectativas dos coordenadores de curso giram, portanto, em torno de

investimentos para a melhoria da infraestrutura, entendida como equipamentos, espaços

e ambientes de aprendizagem, motivação para o cumprimento dos objetivos

institucionais. Alguns até justificam que essas melhorias são exigências do próprio

estudante.

Atualmente a maior cobrança dos alunos tem sido em relação à

infraestrutura do curso: disponibilidade de horário do laboratório de

informática e salas de aulas mais espaçosas. A IES tem sido cobrada e

aos poucos tem atendido às solicitações. Estão sendo construídas salas

de aula mais adequadas (COORDENADOR 24, informação textual,

2013).

Destaca-se também o posicionamento dos coordenadores, em nome dos

estudantes, com evidências de que são subsídios extraídos do processo de autoavaliação

da IES.

Os alunos da instituição têm basicamente duas expectativas de

formação, conforme dados de questionário aplicado e depoimentos: a)

formação integral que vá além das questões profissionais; b) formação

profissional que permita trabalhar em espaço escolar e não escolar.

Nesse sentido, há exigências pedagógicas, as quais destaco: um

currículo que consiga fornecer a formação desejada e que tenha um

percurso formativo identitário; atender às especificidades do

aluno/trabalhador do noturno; e de infraestrutura: laboratórios, sala de

aula e de estudo adequados (COORDENADOR 25, informação

textual, 2013).

Ao analisar as questões respondidas pelos coordenadores, revelaram-se anseios

dos gestores dos cursos de pedagogia investigados. Pode-se dizer que há certo

desencontro entre as expectativas dos gestores e as reais necessidades de formação dos

pedagogos. Esse distanciamento acaba por impor às IES uma responsabilidade social

com as demandas profissionais, com a inclusão e a transformação social, que talvez

ainda não sejam capazes de enfrentar.

Fica a dúvida, se realmente os gestores se baseiam em práticas tradicionais de

formação, se conhecem os espaços de atuação do pedagogo, ou se demonstram conhecer

muito pouco da constituição do curso e das habilidades e competências sobre a

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profissão. De acordo com Libâneo (1999), a pedagogia é a ciência da teoria e da prática

da educação que se dá em meio a relações sociais. “Isso significa que a Pedagogia lida

com o fenômeno educativo como expressão de interesses sociais em conflito na

sociedade em que vivemos” (p. 64). Nessa compreensão, a preocupação dos gestores

procede, já que a interação entre as pessoas é realmente um desafio ao profissional da

educação.

4.4. CONCLUSÃO

Este capítulo, motivado pela necessidade de entendimento da relação entre

avaliação e regulação questiona a finalidade da ação política do Estado, que impacta o

processo de implementação do Sinaes. Nessa análise, salienta-se o pressuposto da tese

de que a avaliação tem servido mais à lógica de controle e regulação da oferta

educacional do que ser uma forma de orientar e induzir à qualidade da educação

superior.

A qualidade no contexto do Sinaes se institui a partir dos conceitos CI, CC e

Enade. Esses conceitos têm sido impactados desde 2008 pelos índices CPC e o IGC,

que têm por objetivo medir o desempenho global da instituição. Analisadas as

informações dos cursos de Pedagogia selecionados, percebe-se a força do uso dos

indicadores de qualidade na regulação e as limitações dos resultados dos instrumentos

do Sinaes.

Vários são os argumentos referentes às contradições provocadas pelos

indicadores de qualidade e sua representação nos processos de avaliação e regulação.

Entretanto, cabe destacar que a força da atuação regulatória do Estado faz com que as

IES, mesmo em situação de oposição à estrutura formal e técnica dos indicadores, se

esforcem para melhorar os insumos dos indicadores, visando a resultados satisfatórios

para a emissão dos atos regulatórios ou impedir medidas cautelares pela falta desses

resultados.

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Diante disso, analisou-se nesta parte do estudo os resultados da avaliação dos

cursos de Pedagogia, por tipologia administrativa e organização acadêmica das IES

selecionadas, nas cinco regiões brasileiras. O intuito dessa caracterização é refletir sobre

as possíveis discrepâncias intra e inter-regionais, bem como sobre as oportunidades de

melhoria da qualidade a partir do Sinaes.

No tocante às mudanças que podem ser efetivadas no PDI das IES e no PPC

dos cursos de Pedagogia devido ao uso resultados da avaliação na gestão acadêmica, o

Sinaes atua como um instrumento de melhoria do desempenho institucional. De acordo

com Dias Sobrinho (2010), a avaliação

[...] é uma ferramenta capaz de produzir mudanças nos currículos, nas

metodologias de ensino, nos conceitos e práticas de formação, na

gestão, nas estruturas de poder, nos modelos institucionais, nas

configurações do sistema educativo (p.195).

Por essa razão, a avaliação, de acordo com os princípios constitutivos do

Sinaes, se coloca como importante subsídio para a tomada de decisão da gestão no

contexto de direcionamento das políticas públicas pelo Estado e na transformação e

melhoria da qualidade de cada IES. Contudo, fazendo uma reflexão sobre a prática e o

objeto, os efeitos da avaliação nem sempre se apresentam como indutores de melhoria

da qualidade; ao contrário, a avaliação também é produtora de juízos de fatos, de

informação, medida e controle de desempenho, construindo bases para a fiscalização, a

regulação e o controle, por parte do Estado.

A contribuição dos coordenadores de curso na conceituação dos aspectos de

qualidade da formação docente e da relação entre regulação e avaliação foi

imprescindível para mensurar o impacto da gestão nas práticas acadêmicas. Nesse

percurso de construção do diálogo entre os coordenadores de curso, ganha sentido o

método materialista histórico-dialético.

O método é um procedimento geral, fundamentado em princípios lógicos que

podem ser comuns a várias ciências ou apenas a uma técnica específica (VERA, 1992).

Baseado nessa definição, o método situa-se no centro do processo de desenvolvimento e

transformação da natureza e da sociedade. Portanto, diante da problemática anunciada,

ter uma metodologia adequada ao desenvolvimento da pesquisa possibilita a leitura da

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realidade, centrando a preocupação na reflexão crítica da relação que se estabelece na

dinâmica entre o sujeito e o objeto e no reconhecimento da contradição como fonte do

conhecimento.

Os coordenadores apontaram desafios para a transformação das práticas

acadêmicas, a partir dos resultados da avaliação e também expectativas relacionadas à

qualidade do curso de Pedagogia. Frente às informações analisadas, quantitativas e

qualitativas, percebe-se que a relação do curso de Pedagogia com as ações estratégicas

para a formação de professores da educação básica tem sido organizada a partir de

alguns desencontros até o anúncio de novas práticas construídas pelo coletivo dos

professores por meio do NDE.

O NDE, embora questionado desde a sua criação, composição, estrutura até

finalidade, é visto como estratégia de indução de qualidade pelos gestores,

especialmente devido à contribuição dessa instância na IES para o acompanhamento do

projeto pedagógico dos cursos.

A exploração dos resultados dos indicadores de qualidade dos cursos de

Pedagogia, na visão da totalidade do sistema e em observância à especificidade de cada

um dos seus elementos, além de enaltecer o método do estudo, garante a confiabilidade

da análise e perspectivas futuras.

O capítulo seguinte tem como proposta ampliar a análise dos instrumentos da

avaliação do Sinaes, com atenção aos cursos de Pedagogia investigados. Por meio dos

seus atores, investiga, em uma perspectiva histórica, o valor agregado às praticas do

curso, na visão dos estudantes, dos coordenadores de curso, dos resultados do Enade, da

avaliação in loco e a partir da caracterização dos ciclos avaliativos do Sinaes em 2005,

2008 e 2011.

Pretende-se, com esse olhar expandido sobre as políticas de educação superior

no âmbito da avaliação e regulação, analisar o conjunto dos elementos do Sinaes. Um

estudo que se pretende inédito, dado que as bases científicas e acadêmicas de consulta

são restritas a um ou outro elemento da configuração do sistema de avaliação.

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CAPÍTULO 5 – O PROCESSO DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

BRASILEIRA: REGULAR E/OU INDUZIR QUALIDADE

Avaliar é definir o quê, o quanto e o como:

vale ou não vale, pode ou não pode, deve ou

não deve. A avaliação é um credenciamento,

um uso de poder e, em consequência, uma

distribuição de poderes, uma validação, uma

autorização, ou os seus contrários (CASALI,

2007, p. 13).

5.1. INTRODUÇÃO

A trajetória da política de avaliação nos cursos de Pedagogia das IES

selecionadas para este estudo começou a ser delineada no capítulo anterior. A

análise teve como eixo de sustentação as informações referentes aos indicadores de

qualidade nos ciclos avaliativos do Sinaes. Nesta parte do estudo, de forma a ampliar

a análise, se investiga o entendimento dos coordenadores sobre a qualidade do curso

e o impacto das ações da gestão na relação entre avaliação e regulação. Com este

exercício, pretende-se ampliar a visão de que, em razão da subjetividade do ato de

formação, avaliar significa apenas produzir resultados do desempenho dos

estudantes, dos cursos, das IES, enfim, do sistema de educação superior, sem que

existam padrões de comparações, juízos de valor e uso dos resultados para a

melhoria da qualidade.

Contudo, avaliar a qualidade em educação pode se caracterizar pela

realização de práticas inovadoras, criativas, para formar outras pessoas. Dessa

forma, esta parte do estudo, realizada sob a abordagem qualitativa, busca conhecer a

opinião dos estudantes e dos coordenadores dos cursos, por meio dos questionários

aplicados pelo Enade, nos ciclos avaliativos de 2005, 2008 e 2011.

A participação do informante como um dos elementos do fazer científico

oferece amplo campo de interrogações, fruto de novas suposições que vão surgindo

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à medida que se recebem as respostas. De acordo com Triviños (1987), a pesquisa

qualitativa se caracteriza pela busca de

[...] uma espécie de representatividade do grupo maior dos sujeitos

que participarão no estudo. Porém, não é, em geral, a preocupação

dela a quantificação da amostragem. E, ao invés da aleatoriedade,

decide intencionalmente, considerando uma série de condições

(sujeitos que sejam essenciais, segundo o ponto de vista do

investigador, para o esclarecimento do assunto em foco; facilidade

para se encontrar com as pessoas; tempo do indivíduo para as

entrevistas, etc.) (p. 132).

Portanto, para analisar a compreensão dos coordenadores dos cursos de

Pedagogia sobre o uso dos resultados da avaliação, foi preciso valer-se, mais uma vez,

dos dados coletados por meio do questionário utilizado como técnica de investigação

dessa pesquisa e já utilizado nos capítulos anteriores. Além desse instrumento,

analisaram-se as respostas dos coordenadores dos cursos de Pedagogia participantes dos

ciclos avaliativos do Sinaes, no Questionário do Coordenador (Anexo III), preenchido

depois da aplicação do Enade, bem como as respostas dos estudantes no Questionário

Socioeconômico do Enade (Anexo IV), preenchido anos de 2005 e 2008, e no

Questionário do Estudante do Enade174 (Anexo V) preenchido em 2011.

Além disso, nos resultados da avaliação in loco dos cursos, revela-se a

realidade da organização pedagógica, corpo docente e infraestrutura, aspectos

contemplados nas três dimensões do Sinaes, considerados imprescindíveis à qualidade

dos cursos. Com essas informações,175 pesquisadas no instrumento de avaliação in loco

de cursos de graduação176 buscou-se caracterizar o panorama da qualidade dos cursos a

partir da análise da integralidade dos instrumentos do Sinaes, revelando-se um estudo

que procura garantir certo nível de originalidade que segue o fluxo do processo

avaliativo e regulatório visando definir a finalidade dos ciclos avaliativos do Sinaes:

regular a e/ou induzir à qualidade?

174 O Questionário Socioeconômico do Enade foi alterado no ano de 2010 e passou a se denominar Questionário do

Estudante. 175 Os relatórios de avaliação in loco dos cursos selecionados foram concedidos pelo Inep, de forma a apoiar o

desenvolvimento de pesquisas na área, sob Termo de Compromisso e Sigilo assinado pela pesquisadora. 176 Instrumento de Avaliação de Cursos de Graduação presencial e a distância, maio de 2012, disponível do

Portal(INEP, 2012).

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A análise dos instrumentos do Sinaes trouxe elementos importantes para a

compreensão do pensamento dos participantes acerca das políticas educacionais

implementadas no período e das influências da avaliação na atuação dos coordenadores

e na formação dos estudantes.

O Questionário do Estudante e o Questionário do Coordenador possibilitaram

investigar as expectativas dos atores educacionais, e sua análise buscou conhecer: i) dos

estudantes: o perfil em relação à formação, o envolvimento com o curso, o

desenvolvimento da proposta pedagógica e as contribuições para a melhoria da

qualidade; e ii) dos coordenadores: as informações relativas aos aspectos acadêmicos do

curso, do perfil dos estudantes e do contexto de inserção socioeconômico e cultural da

formação no curso de Pedagogia avaliado pelo Enade.

A reflexão sobre os cursos de Pedagogia na fase de renovação de

reconhecimento selecionados no estudo, conforme já dito no decorrer do

desenvolvimento desta tese, possibilitou realizar uma análise global do Sinaes. A

associação dessas informações permitiu estabelecer vinculações entre os avanços da

educação superior, das políticas educacionais e as transformações do sistema.

A análise dos questionários do Enade (do coordenador e do estudante) nos anos

de 2005, 2008 e 2011 revelou contextos que denotam pouco uso das informações desse

instrumento para subsidiar a compreensão dos resultados da avaliação dos cursos. Dessa

forma, pode-se inferir que o preenchimento deste instrumento tem se caracterizado mais

como uma consequência de um ato formal para os estudantes (não obrigatório até o ano

de 2010), destituído de implicações para os coordenadores, já que as informações do

coordenador não constam dos relatórios do Enade no período analisado e não têm

havido nenhuma outra forma de divulgação.

Destaca-se que, segundo o Decreto nº 5.773/2006 (BRASIL, 2006), o resultado

das avaliações nos diferentes instrumentos deveria permitir uma visão do sistema,

visando ao seu aprimoramento. Nessa linha de raciocínio, o documento do Sinaes

(2009) declara que os processos avaliativos servem para construir a globalidade e a

integração relativamente aos sujeitos e ao objeto da avaliação.

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A redução do fenômeno complexo e multidimensional da avaliação a

um só ou a poucos de seus aspectos, sem articulação, traz o risco de

passar a ideia de que a avaliação se reduz a cada um desses

instrumentos, em geral dedicados a medir, quantificar e comparar. A

repetição dessa prática acaba criando uma cultura que desfigura a

avaliação, reduz as dúvidas, ambiguidades e inovações a favor do

simplismo do certo ou errado. A perspectiva da globalidade, ao

contrário, traz consigo a ideia de integração das partes em um todo

coerente (p. 99-100).

Portanto, a avaliação deve transcender o sentido literal do texto da lei, no

intuito de alcançar a visão global do sistema, e agir de maneira pluralista e dialética,

incluindo os agentes envolvidos no processo. Com esse entendimento, discute-se, a

seguir, a visão dos estudantes e dos coordenadores, sobre os cursos de Pedagogia nos

ciclos avaliativos do Sinaes, a partir das informações constantes nos documentos

oficiais. Para ampliar a compreensão sobre a qualidade dos cursos de Pedagogia,

analisam-se os relatórios de avaliação in loco, quando existentes, com o objetivo de

entender o significado produzido por essas avaliações.

5.2. O ENADE E A VISÃO DOS ESTUDANTES SOBRE OS CURSOS DE

PEDAGOGIA

Nesta parte do estudo, analisou-se o entendimento dos estudantes sobre os

cursos de Pedagogia, a partir das respostas às questões selecionadas no Questionário do

Estudante do Enade 2005, 2008 e 2011. Esse instrumento compõe a prova, tendo como

objetivos expressos no próprio documento: i) traçar o perfil dos estudantes, ingressantes

ou concluintes, dos cursos de graduação do país; ii) conhecer a opinião dos estudantes

sobre o ambiente acadêmico em que realizam a sua formação; e iii) consolidar

informações para promover a melhoria das condições de ensino e dos procedimentos

didático-pedagógicos (INEP, 2011).

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Uma limitação encontrada na análise foi a mudança ocorrida nas questões para

o ano de 2011. Essa alteração requereu verificar a similaridade das questões dos anos

anteriores para desencadear aproximações, contribuições e diferenças significativas para

o estudo.

Do total de 25 cursos de Pedagogia pesquisados, 19 deles (76%) tiveram

registro de resposta ao Questionário do Estudante do Enade em 2005, 24 cursos (96%)

tiveram resposta em 2008 e 23 cursos (92%) foram localizados em 2011. Essa

informação revelou que: i) cinco cursos iniciaram a participação do Enade em 2008; ii)

um dos cursos pesquisados não participou em nenhuma das edições do Enade e; iii) um

curso participou apenas da edição de 2008. Considerando a prerrogativa de autonomia

dos sistemas estaduais, admite-se que os cursos da esfera estadual não tenham optado

por participar do Enade. As respostas dos estudantes possibilitaram conhecer o perfil

dos estudantes e a opinião sobre o ambiente acadêmico, as condições de ensino e os

procedimentos didático-pedagógicos utilizados na sua formação.

O Enade tem como objetivo avaliar se os alunos demonstram ter o

conhecimento e as competências que seus cursos requerem e, por essa razão, as

informações do Questionário do Estudante, quando associadas ao desempenho,

possibilitam interpretar a realidade do curso e a qualidade da formação. Por isso, a

importância da participação do estudante tanto na prova como no preenchimento das

informações solicitadas no Questionário do Estudante. Com esse referencial, é estranho

o fato de que a participação na prova se constituiu como obrigatória177desde a

construção da lei do Sinaes, inclusive sob pena de o estudante não ser diplomado caso

esteja em situação irregular178 com o Enade, porém o Questionário do Estudante tornou-

se obrigatório179 apenas em 2010.

177 Conforme disposição do art. 5º, § 5º, da Lei nº 10.861/2004, o Enade constitui-se componente curricular

obrigatório, sendo inscrita no histórico escolar do estudante somente a situação regular com relação a essa

obrigação. O estudante selecionado que não comparecer ao Exame estará em situação irregular junto ao Enade

(BRASIL, 2004). 178 São considerados irregulares todos os estudantes habilitados ao Enade de anos anteriores que não tenham sido

inscritos ou que não tenham realizado o exame, fora das hipóteses de dispensa referidas nos §§ 2º, 3º, 4º e 5º do

artigo 33-G da Portaria Normativa nº 40/2007, em sua atual redação (BRASIL, 2010). 179 O Inep disponibiliza o Questionário do Estudante, de preenchimento obrigatório, nos termos do § 1º do artigo 33-

J da Portaria Normativa nº 40, de 12/12/2007, em sua atual redação, no período de 21 de outubro a 23 de

novembro de 2014, exclusivamente por meio do endereço eletrônico <http://portal.inep.gov.br>. A consulta

individual ao local de prova e a impressão do Cartão de Informação do Estudante serão obrigatoriamente

precedidas pelo preenchimento do Questionário do Estudante (BRASIL, 2010).

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Nesta reflexão, cabe assinalar que o registro de participação dos estudantes no

questionário cresceu de 2.193 em 2005 para 4.458 em 2008 (103,2%) e 7.429 em 2011

(66,6). No acumulado de 2005 para 2011, o aumento da participação desses

respondentes foi de 238,7%.

Com esse universo, analisaram-se as respostas ao Questionário do Enade em

relação aos aspectos da formação dos estudantes. O percentual de abstenção das

respostas (brancos) foi caracterizado com uma médiade, aproximadamente, 40% em

2005; 30% em 2008 e 20% em 2011. Essa tendência de redução dos brancos a cada

edição do exame pode representar um maior comprometimento dos estudantes com o

instrumento de avaliação do Sinaes, resultante de uma prática de sensibilização das IES

quanto a sua importância. Também pode ser devida à participação do curso no Enade,

por mais de um ciclo avaliativo, gerando compromisso com a avaliação.

O diagnóstico realizado por meio das informações contidas nos instrumentos

de avaliação possibilita analisar o perfil dos estudantes de Pedagogia, a fim de repensar

o currículo do curso e discutir a identidade docente. Para traçar esse perfil, foram

escolhidas algumas questões, entre elas, a dedicação do estudante ao curso.

Uma das questões que responde pela dedicação do estudante ao curso foi

analisada a partir das respostas sobre a sua situação de trabalho durante o curso,180

Verificou-se, nesse item, que o percentual de estudantes que informaram não trabalhar é

muito similar nos três anos avaliados. A dedicação integral ao curso foi representada por

apenas 17%, 18% e 17%, respectivamente, nos anos de 2005, 2008 e 2011.

Portanto, a situação de trabalho junto ao estudante deve superar a visão

pragmática e temporal e ser vista positivamente como uma forma de relacionar sua

formação com a prática profissional. O acesso à educação superior pode ser um grande

vetor de transformação da realidade do estudante. Em face aos dados analisados no

Gráfico 11, observa-se que não há a dicotomia existente entre estudo e trabalho. Ao

contrário, podem existir situações de reciprocidade, em que as duas atividades acabam

concorrendo favoravelmente para a formação profissional.

180 Questões 8, 9 e 7, respectivamente, nos anos de 2005, 2008 e 2011 do questionário do Enade: Assinale a situação

abaixo que melhor descreve seu caso. (A) Não trabalho e meus gastos são financiados pela família. (B) Trabalho

e recebo ajuda da família. (C) Trabalho e me sustento. (D) Trabalho e contribuo com o sustento da família. (E)

Trabalho e sou o principal responsável pelo sustento da família (INEP, 2005, 2008, 2011, grifo nosso).

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Gráfico 11 – Situação de trabalho dos estudantes de Pedagogia durante o curso – Brasil

(2005, 2008, 2011) Fonte:MEC/Inep/Daes (2014).

18%

19%

8%21%

4%

30%

(2008)

(A) Não trabalho e meus gastos são

financiados pela família.

(B) Trabalho e recebo ajuda da família.

(C) Trabalho e me sustento.

(D) Trabalho e contribuo com o sustento

da família.

(E) Trabalho e sou o principal

responsável pelo sustento da família.

Branco

17%

5%

7%

20%31%

20%

(2011)

A) Não estou trabalhando.

B) Trabalho eventualmente.

C) Trabalho até 20 horas semanais.

D) Trabalho mais de 20 horas semanais e

menos de 40 horas semanais.

E) Trabalho em tempo integral – 40 horas

semanais ou mais.

Branco

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Com as transformações ocorridas na educação superior no país e o incentivo às

políticas de democratização do acesso, entre outras políticas de desenvolvimento da

educação, é cada vez mais comum o ingresso na educação superior de estudantes que

trabalham. Na área da Pedagogia, pode-se dizer que isso ocorre há mais tempo ainda,

pois a formação inicial dada ao nível de ensino médio (curso normal) contribuiu para

que os estudantes já habilitados para a docência trabalhassem e estudassem

concomitantemente, para cursar a graduação.

Quanto aos apoios recebidos pelos estudantes para a realização do curso de

Pedagogia,181 considerando a ampliação das políticas de financiamento para assegurar a

expansão com qualidade, esperava-se que houvesse nas respostas uma tendência de

crescimento do percentual de estudantes com algum tipo de apoio para as despesas do

curso. Entretanto, no ano de 2011, cresceu em 20% o número de estudantes sem apoio

financeiro para custear as despesas do curso em relação ao ano de 2008. Em 2011,

foram 67% dos estudantes que informaram não ter tido apoio durante o curso, enquanto

em 2008 eram 47% dos estudantes nessa situação e, em 2005, 44% dos estudantes

declararam não ter tido nenhum apoio financeiro para os estudos.

Ainda assim, em todos os anos pesquisados, destacou-se um percentual pouco

significativo de bolsas ofertadas pela própria IES: 3% em 2005, 6% em 2008 e 4% em

2011,182 fato corroborado pela manutenção dos apoios recebidos por entidades externas.

Nesse cenário, o Fies e o Prouni, pela expressão dessas políticas, deveriam ter

maior representatividade, já que, de fato, ambos os programas têm sido instrumentos de

expansão da educação superior brasileira. No entanto, tais ações precisam ser

acompanhadas de supervisão e avaliação, a fim de assegurar a qualidade da educação e

o respeito aos estudantes e aos profissionais dessas instituições.

181 Questões 10, 11 e 10, respectivamente, nos anos 2005, 2008 e 2011 do questionário do Enade: Que tipo de bolsa

de estudos ou financiamento você recebe ou recebeu para custeio das despesas do curso? (INEP, 2005-2011,

grifo nosso). 182 Em 2011, decorrente da mudança do questionário, somaram-se dois critérios de resposta dos estudantes: de bolsa

e de financiamento pela IES.

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Contudo, o resultado encontrado surpreendeu pela baixa ocupação nas políticas

de financiamento do Estado e das IES. Em 2005, só existia o Fies e com registro de

participação de apenas 3% dos estudantes. Em 2008, essa política de financiamento teve

reduzida a participação, passou a ter apenas 1% e somou-se ao Prouni com 2% de apoio

integral e 2 % de apoio parcial. Em 2011, não houve participação de estudantes

apoiados pelo Fies, e 2% dos estudantes declararam ter Prouni integral e 1% parcial.

Dessa realidade, pode-se inferir que as políticas de financiamento estão

voltadas para outras áreas de formação profissional, e que poucos são os estudantes dos

cursos de Pedagogia que conseguem acessá-las. Outra possibilidade de análise é que os

estudantes que poderiam ter tido algum apoio financeiro para custear seus estudos

estiveram entre os quase 20% que trabalham e, obtendo renda, mesmo que insuficiente,

não puderam ter acesso a este benefício.

Essa pode ser uma distorção típica da política educacional brasileira. As

faculdades privadas são a forma de acesso à educação superior pela maioria da

população de baixa renda. Os estudantes que veem a educação como uma forma de

ascensão social acabam por ingressar nos cursos de graduação com o apoio do ProUni e

do Fies. Tal situação se deve à limitada oferta de vagas nas IES públicas, que são

levadas a um processo rigoroso de seleção. Nessa lógica, os que obtêm aprovação são

estudantes com uma situação financeira mais favorável, que tiveram maiores

oportunidades de acesso ao conhecimento.

De modo geral, as políticas de democratização do acesso e da permanência na

educação superior sugerem a promoção da inclusão e da justiça social. Daí, a

importância de analisar essa questão a partir do apoio do ProUni, do Fies e de outras

formas de financiamento acessadas pelos estudantes de Pedagogia. Ressalta-se que as

políticas públicas constituem o “Estado em ação” e revelam o projeto de sociedade em

implementação. Assim, as políticas públicas servem para dar visibilidade e

materialidade ao Estado (AZEVEDO, 2004).

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Gráfico 12 – Bolsa de estudos/financiamento para os estudantes do curso de Pedagogia– Brasil

(2005, 2008, 2011) Fonte:MEC/Inep/Daes (2014).

1% 2% 2%

6%

5%

7%

47%

30%

(2008) (A) Financiamento Estudantil (FIES).

(B) Prouni integral.

(C) Prouni parcial.

(D) Bolsa integral ou parcial (inclusive descontos em

mensalidades) oferecida pela própria instituição.(E) Bolsa integral ou parcial oferecida por entidades

externas.(F) Outro(s).

(G) Nenhum.

Brancos

2%

1%

0%

0%

7%3% 1%

0%0%0%

67%

19%

(2011) (A) ProUni integral.

(B) ProUni parcial.

(C) FIES.

(D) ProUni Parcial e FIES.

(E) Outro tipo de bolsa oferecido por governo estadual,

distrital ou municipal.(F) Bolsa integral ou parcial oferecida pela própria

instituição de ensino.(G) Bolsa integral ou parcial oferecida por outra entidade

(empresa, ONG, etc).(H) Financiamento oferecido pela própria instituição de

ensino.(I) Financiamento oferecido por outra entidade (banco

privado, etc.).(J) Mais de um dos tipos de bolsa ou financiamento

citados.(k) Não tenho bolsa

Branco

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Em contrapartida à política de democratização do acesso, o financiamento aos

estudantes, caracterizado como amortização de impostos para as IES, conforme assevera

Carvalho (2006), é um instrumento de financiamento indireto para as IES, pois

[...] foi fundamental para o crescimento intensivo dos

estabelecimentos na prosperidade econômica e, principalmente,

garantiu a continuidade da atividade no período de crise, por

amortecer o impacto sobre custos e despesas inerentes à prestação de

serviços (p. 983).

Dessa compreensão se apreende que as políticas de financiamento estudantil

tiveram uma dupla intenção: i) contribuir para o acesso à educação superior, com uma

política de inclusão e ii) expandir o sistema privado com a criação de novas vagas e

cursos para a oferta da educação superior.

Vale ressaltar que essa é uma das tensões do cenário de democratização do

acesso à educação superior. A questão centra-se na contradição entre elitização e

massificação ou, conforme assinalado por Oliveira e Catani (2006), nas diferenças

conceituais entre excelência e democracia:

Excelência vinculando‐se à produção de conhecimentos e ensino de

alta qualidade, numa perspectiva de impulso ao desenvolvimento

econômico, político e social, sendo, portanto, estruturalmente seletiva

e elitista. Democracia vinculando‐se à perspectiva de ascensão social

dos grupos emergentes que pressionam o sistema a ampliar vagas de

modo a acomodá‐los em seu interior (p. 4).

Portanto, os significados produzidos pela democratização do acesso são em

decorrência de uma compreensão da realidade, e os sentidos são diferentes em cada

contexto e em cada sujeito. No caso dos estudantes de Pedagogia, o conjunto de

respostas dadas ao Questionário sobre apoios recebidos durante a formação, associadas

ao desempenho no Enade, podem explicar se essa política foi ou não significativa. O

que se pode adiantar é que, considerando o baixo índice de acesso às políticas de

financiamento por esses estudantes, não há grande impacto no conjunto do curso, mas,

de modo peculiar, pode explicar a permanência individual deles no curso de Pedagogia.

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A fim de ampliar a compreensão sobre o desempenho dos estudantes do curso

de Pedagogia, analisaram-se, também, os hábitos de estudo durante o curso e o tempo

dedicado aos estudos por semana. Nas respostas analisadas, observou-se que a

frequência de uso da biblioteca183 da IES tem decrescido a cada ano: em 2005, 17% dos

estudantes registraram que usavam a biblioteca muito frequentemente; em 2008, foram

15% dos estudantes e, em 2011, apenas 7% disseram ter utilizado a biblioteca da IES

diariamente.

É importante destacar a redução, no último ano, do percentual dos estudantes

que utilizam com razoável frequência a biblioteca da IES: em 2005 e 2008 mantiveram-

se em 28% e em 2011 chegou a 20%. Em 2011, devido à mudança do item de resposta a

essa questão, para fins de comparação com os anos anteriores, foi considerada com

razoável frequência a resposta informada pelos estudantes a dois itens: 13% informaram

frequentar a biblioteca duas a quatro vezes por semana e 7% uma vez por semana.

Por outro lado, cresceu o percentual de estudantes que informaram nunca ter

utilizado a biblioteca da IES: em 2005, foram 2%, enquanto em 2008 cresceu para 5% e

em 2011 registraram-se 15% dos estudantes que informaram não utilizar a biblioteca.

Esse crescimento pode demonstrar uma mudança de comportamento dos estudantes

quanto aos hábitos de estudo, talvez motivada pelo uso da internet para consulta e

também a oferta da educação a distância, que pode ter alterado o modo de pesquisar.

Outra reflexão importante sobre a qualidade da biblioteca da IES se refere à

infraestrutura para a pesquisa. Em que pese ser um item de avaliação in loco,a biblioteca

das IES, inclusive nos polos de educação a distância, a informação era de que em 2005

não havia registro de informação de estudantes que declarassem a inexistência de

biblioteca na IES. Entretanto, em 2008, 2% dos estudantes informaram não existir a

biblioteca e em 2011 essa informação aumentou para 22%. A inexistência de biblioteca

em algumas IES pode indicar a fragilidade do espaço acadêmico de oferta do curso de

Pedagogia.

183 Questões 22, 26 e 29, respectivamente, nos anos 2005, 2008 e 2011 do questionário do Enade: Com que

frequência você normalmente utiliza a biblioteca de sua instituição? (Se for estudante de EAD – Educação a

distância, considere as condições do polo de apoio presencial e/ou sede) (INEP, 2005-2011, grifo nosso).

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Quanto ao comprometimento dos estudantes no uso da biblioteca, um estudo

sobre o 1º ciclo avaliativo do Sinaes (2004-2006), realizado pelo Inep, já apontava para

a redução do hábito de estudo nas bibliotecas.

Segundo o documento, os desenhos curriculares, em sua maioria, colocam a

prática nos últimos anos e na forma de realização de estágios e, ainda que muitas

pesquisas, as quais anteriormente eram realizadas em bibliotecas presenciais, hoje são

feitas em bibliotecas virtuais, acessadas em diversos ambientes, não sendo

necessariamente e um ambiente formal de biblioteca (INEP, 2009).

Na relação dialética e de mediação com a prática, a necessidade de mudança na

forma de avaliar a relação entre ensino e pesquisa aparece no plano concreto. À luz do

pensamento de Marx (2005), é possível inferir que esse diagnóstico da situação da

pesquisa nas bibliotecas das IES pode se converter em força material para assegurar o

conhecimento pelos estudantes.

É certo que a arma da crítica não pode substituir a crítica das armas,

que o poder material tem de ser derrubado pelo poder material, mas a

teoria converte-se em força material quando penetra nas massas. A

teoria é capaz de se apossar das massas ao demonstrar-se ad hominem,

e demonstra-se ad hominem logo que se torna radical. Ser radical é

agarrar as coisas pela raiz. Mas, para o homem, a raiz é o próprio

homem. (p. 151).

O reconhecimento dessa mudança de hábito de estudo, da pesquisa realizada no

espaço físico das bibliotecas para o uso da biblioteca virtual, impõe ao Sinaes, entre

outros desafios: i) buscar outras formas para avaliar o hábito de estudo dos estudantes,

complementando esse indicador de frequência à biblioteca; e ii) ampliar a avaliação

para a dimensão dos espaços virtuais de aprendizagem. Caso contrário, o potencial da

avaliação de diagnosticar a qualidade dos cursos com relação à pesquisa tende a ficar

restrito, dificultando o seu uso para subsidiar novas práticas.

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Gráfico 13 – Frequência de uso da biblioteca da IES pelos estudantes de Pedagogia –

Brasil (2005, 2008, 2011) Fonte:MEC/Inep/Daes (2014).

2%

5%

20%

28%15%

30%

(2008)

(A) A instituição não tem biblioteca.

(B) Nunca a utilizo.

(C) Utilizo raramente.

(D) Utilizo com razoável freqüência.

(E) Utilizo muito freqüentemente.

Brancos

7%

13%

14%

9%

22%

15%

0%

20%

(2011) A) Diariamente.

B) Entre duas e quatro vezes por semana.

C) Uma vez por semana.

D) Uma vez a cada 15 dias.

E) Somente em época de provas e/outrabalhos.F) Nunca a utilizo.

G) A instituição não tem biblioteca.

Brancos

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350

Desse modo, a tendência, muitas vezes, é a de naturalizar os problemas;

entretanto, torna-se muito importante mudar a realidade por meio da avaliação.

Construir novas metodologias de análise dessa realidade e propor novos indicadores

pode colocar a avaliação em uma situação de indução da qualidade, mesmo que esses

indicadores sejam tomados como padrão mínimo aceitável para a regulação. Essa

compreensão pode indicar uma nova relação entre avaliação e regulação.

Ainda quanto à análise dos hábitos de estudo dos estudantes de Pedagogia,

avaliou-se a sua dedicação em horas/por semana,184 excetuando-se aquelas destinadas à

sala de aula. Dos dados pode-se concluir que prevalece, em todos os anos, a dedicação

de uma a duas horas de estudo por semana. Em 2005, o percentual alcançado nesse item

foi de 25% e em 2008 foi de 30%. Em 2011, embora tenha havido alteração no padrão

de resposta da questão, 43% dos estudantes informaram ter o hábito de frequentar a

biblioteca de “uma a três” horas por semana.

A opção por três a cinco horas de estudo por semana obteve um percentual de

respostas de 20% em 2005 e 23% em 2008. Em 2011, devido à alteração dos itens de

resposta a essa questão, 23% dos estudantes assinalaram que se dedicam aos estudos por

quatro a sete horas por semana. Destaca-se que, em todos os anos avaliados, menos do

que 10% dos estudantes informaram que estudam de oito horas ou mais por semana,

além das atividades de sala de aula.Situada no contexto histórico da avaliação de

desempenho do discente e não de modo isolado, a questão do hábito de estudo por parte

do estudante ganha sentido à medida que é investigada à luz de diferentes mediações e

nas suas diferentes formas. Na construção do objeto de pesquisa, conforme Ciavatta

(2001), vão se construindo as peculiaridades que constituem os aspectos relevantes da

formação dos estudantes. Portanto, a realidade na perspectiva marxista é concebida

[...] não como um sistema estruturado em si mesmo, mas como uma

totalidade histórica, socialmente construída [...]. Totalidade não

significa todos os fatos, e todos os fatos reunidos não constituem uma

totalidade. O conhecimento dos fatos isolados, mesmo quantificados,

é insuficiente para explicar o todo [...] (p. 138).

184 Questões 24, 28 e 20, respectivamente, nos anos 2005, 2008 e 2011 do questionário do Enade, que assim afirma:

Quantas horas por semana, aproximadamente, você dedica/dedicou aos estudos, excetuando as horas de aula?

(INEP, 2005-2011, grifo nosso).

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Gráfico 14 – Dedicação aos estudos pelos estudantes de Pedagogia– Brasil (2005, 2008,

2011) Fonte:MEC/Inep/Daes (2014).

3%

25%

20%

7%

6%

39%

(2005)(A) Nenhuma, apenas assisto às aulas.

(B) Uma a duas.

(C) Três a cinco.

(D) Seis a oito.

(E) Mais de oito.

Brancos

3%

30%

23%

8%

6%

30%

(2008)(A) Nenhuma, apenas assisto às aulas.

(B) Uma a duas.

(C) Três a cinco.

(D) Seis a oito.

(E) Mais de oito.

Brancos

3%

43%

23%

7%

4%

20%

(2011)A) Nenhuma, apenas assisto às aulas.

B) Uma a três.

C) Quatro a sete.

D) Oito a doze.

E) Mais de doze.

Brancos

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A contribuição deste estudo está justamente em revelar como os estudantes

percebem o seu desempenho, já que eles próprios respondem a essas questões que

possibilitam analisar as influências que podem potencializar a sua formação. Conhecer

essa realidade possibilita ao estudante e ao coordenador do curso refletirem sobre o seu

papel, como protagonistas da construção da trajetória de formação acadêmica e

profissional.Nesse sentido, a motivação do estudante é um fator importante na

determinação do sucesso na aprendizagem, assim como os hábitos de estudo podem

influenciar o desempenho. Portanto, uma conjugação entre fatores relacionados à escola

e ao aluno poderia trazer um melhor desempenho escolar (GIL, 2011).

Considerando a importância da pesquisa para o desenvolvimento da formação

dos estudantes dos cursos de Pedagogia e a organização pedagógica, via atualização

curricular, analisa-se no Gráfico 15 a compreensão dos estudantes quanto à atualização

do acervo acadêmico185 das bibliotecas das IES. Nesse sentido, registra-se que a

informação sobre o acervo atualizado da IES cresce a cada ano, demonstrando melhoria

da qualidade desse espaço acadêmico. Entretanto, parece estar aquém do esperado, pois

apenas 25% dos estudantes em 2005, 30% em 2008 e 36% em 2011186 avaliaram o

acervo da biblioteca como atualizado.

Com relação a esse quesito, em 2005 e 2008, 20% dos estudantes responderam

que o acervo acadêmico era parcialmente atualizado e em 2011 foram 28% dos

estudantes que marcaram essa alternativa. Sobre a informação dos estudantes agrupada

em dois itens de resposta a essa questão: pouco atualizado ou desatualizado, obteve-se

um percentual de 13% em 2005, 13% em 2008 e 4% em 2011. Essa relação pode indicar

que começa a haver maior preocupação da gestão na atualização do acervo das

bibliotecas. Além da manifestação dos estudantes sobre o tema, esse indicador também

é avaliado pelo instrumento de avaliação in loco na dimensão de infraestrutura do curso.

Destaca-se, de modo significativo, que o percentual de estudantes que

informaram não sei responder a essa questão foi de 3% em 2005, 7% em 2008 e 11%

185 Questões 50 e 54, respectivamente, nos anos de 2005 e 2008 do questionário do Enade: Como você avalia o

acervo da biblioteca, quanto à atualização, face às necessidades curriculares do seu curso? E a questão 32 no

ano de 2011: Como você avalia o acervo de periódicos científicos/acadêmicos disponíveis na biblioteca quanto à

atualização? (INEP, 2005-2011, grifos nossos). 186 O enunciado da questão foi reformulado no questionário de 2011, a fim de especificar o tipo de acervo

(periódicos científicos/ acadêmicos) sem descaracterizar a série histórica da questão.

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em 2011. Essa informação pode indicar que esses estudantes, durante o curso, não

fizeram uso da prática da pesquisa nas bibliotecas, ou talvez não realizaram consultas a

fontes de pesquisa acadêmica e/ou utilizaram outras formas de pesquisa.

Com essas informações, justifica-se a necessidade de avaliar nas IES a

existência de uma política de desenvolvimento do acervo da biblioteca. Ter um acervo

atualizado dos cursos para a pesquisa pelos estudantes é, sem dúvida, um fator

importante de indução da qualidade do curso. Entretanto, em consequência da produção

científica, que é crescente, abrangeria uma grande quantidade de novos títulos, com

desafios em relação aos espaços físicos, além da questão financeira para novas

aquisições. Por isso, o caminho é a seleção de obras com maior qualidade e a

informatização para ampliar a abrangência do uso da pesquisa acadêmica.

Coexistindo modos diversos de pensamento, algumas IES veem a necessidade

de uma biblioteca apenas como forma de cumprir um requisito legal, enquanto outras já

percebem a importância da relação desta com a visão institucional. Segundo Castro e

Filho (2008), algumas bibliotecas universitárias

[...] organizam seus acervos para a vistoria do MEC e não mais se

preocupam com a sua evolução e da qualidade dos produtos e serviços

oferecidos para seus clientes; mas também existem aquelas que

procuram, dia após dia, oferecer serviços diferenciados a sua clientela

(alunos e professores), como forma de procurar atender à missão da

universidade (p. 98).

Esse pronunciamento retrata uma relação tensa entre a avaliação e a regulação,

uma se sobrepondo a outra, a depender da visão dos gestores. A avaliação das

bibliotecas deve, portanto, caminhar para a construção de indicadores apropriados e

adequados à realidade de cada contexto institucional, para realizar uma gestão da

qualidade dos produtos e serviços oferecidos aos estudantes. Essa visão é contemplada

no instrumento de avaliação in loco, quando avalia questões sobre a informatização e a

quantidade para atender aos usuários, além da qualidade da bibliografia básica e

complementar do curso e periódicos.

Nesse contexto avaliativo, questiona-se o alinhamento do uso da biblioteca à

missão institucional, considerando seus objetivos e metas. Ponderando o caráter

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354

sistêmico das IES, Ramos (2002) declara que “avaliar a biblioteca, por princípio e tendo

em vista sua natureza, deve constituir-se numa ação totalmente inserida na avaliação

institucional como um todo e na avaliação do ensino, em particular” (p. 3).

Essa pretensão se alia à necessidade de analisar o conjunto dos instrumentos do

Sinaes, pois, se os estudantes não avaliam satisfatoriamente a biblioteca quanto ao

acervo constituído para a oferta do curso, na avaliação in loco essa questão deve

aparecer inclusive com a necessidade de comprometimento da gestão. Não sendo feitos

esses cruzamentos, o efeito da avaliação é nula, mesmo com uma informação que

poderia ser utilizada para a indução de melhoria da qualidade do curso.

O resultado da avaliação do Sinaes deve questionar o significado da biblioteca

como estratégia de apoio pedagógico. Corroborando com essa visão institucional, Dias

Sobrinho (2008b), ao se referir à biblioteca, argumenta que

[...] é muito pouco importante simplesmente contabilizar o número de

títulos e volumes, como se isso fosse avaliação plena de uma

biblioteca, sem pôr em questão os significados desse espaço como

lugar de formação, sem refletir sobre os significados do acervo

relativamente ao ensino, à aprendizagem, aos processos de

socialização e de vivência cultural, a uma filosofia educativa coerente

com o avanço do conhecimento e com o desenvolvimento social, etc.

(p. 198).

Nesse sentido, conhecer a visão dos estudantes sobre a biblioteca da IES é

essencial para reorientar o PDI das IES e o PPC dos cursos. Ao mesmo tempo, cotejar a

opinião deles com os relatórios de avaliação in loco pode constituir uma tática

importante para consolidar propostas de melhoria dos serviços ofertados à comunidade

acadêmica, usuários desse espaço institucional.

Entretanto, esse posicionamento requer superar a visão de avaliação de

regulação, que considera suficiente cumprir o requisito mínimo de quantidade de títulos

para cada curso ofertado, em detrimento da qualidade pedagógica, que pode se

constituir a partir de um planejamento arrojado para as bibliotecas.

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355

Gráfico 15 – Situação do acervo da biblioteca das IES que ofertam curso de Pedagogia–

Brasil (2005, 2008, 2011) Fonte:MEC/Inep/Daes (2014).

25%

20%

9%4%3%

39%

Situação do acervo da biblioteca (2005) (A) É atualizado.

(B) É medianamente atualizado.

(C) É pouco atualizado.

(D) É desatualizado.

(E) Não sei responder.

Branco

30%

20%10%

3%

7%

30%

Situação do acervo da biblioteca (2008) (A) É atualizado.

(B) É medianamente atualizado.

(C) É pouco atualizado.

(D) É desatualizado.

(E) Não sei responder.

Branco

36%

28%

3%1%

11%

21%

Atualização do acervo de períodicos científicos/acadêmicos da IES

(2011)

A) É atualizado.

B) É parcialmente atualizado.

C) É desatualizado.

D) Não existe acervo de periódicos

especializados.

E) Não sei responder.

Brancos

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356

A inserção dos estudantes em atividades de iniciação científica ou tecnológica,

programas de monitoria e projetos de extensão é importante vetor de qualidade do curso

e indutora da formação profissional dos estudantes. Os projetos pedagógicos dos cursos

devem prever essas atividades acadêmicas. Com esse caráter, tornou-se imprescindível

avaliar se os estudantes tiveram acesso a essas atividades e/ou se elas contribuíram para

a sua formação acadêmica e profissional.

Analisou-se, portanto, que a situação de participação dos estudantes dos cursos

de Pedagogia em projetos de pesquisa187 foi bastante deficitária nos três ciclos

avaliativos investigados, exigindo maior intervenção por parte da gestão da IES, a fim

de ampliar a oferta e desenvolver ações de motivação à integração dos estudantes. Nessa

análise, em 2005, 31% dos estudantes informaram não ter participado de projetos de

pesquisa por desinteresse ou por falta de oportunidade; em 2008 esse percentual

aumentou para 38%, e em 2011 foram 46%. Destaca-se que, entre as mudanças do

questionário em 2011, houve a inclusão de um novo item de resposta a essa questão e

nela 8% disseram que a IES não ofereceu programas de iniciação científica. Essa

situação fragiliza o projeto da formação docente do curso de Pedagogia, tendo em vista

a relação intrínseca da teoria e da prática, que poderia ter sido explorada nessas

atividades durante a vida acadêmica do estudante.

Analisando o Gráfico 16, constata-se nas respostas correspondentes a sim,

participo, que, em 2005, 30% dos estudantes participaram de algum projeto de

pesquisa; em 2008, foram 32%; e, em 2011,188 foram 25%. Na alteração da questão em

2011, obteve-se uma nova informação, na qual, além da participação em projetos de

iniciação científica, os estudantes avaliaram se houve contribuição à sua formação.

187 Questões 26 e 30, respectivamente, nos anos 2005 e 2008 do questionário do Enade: Você está/esteve

envolvido(a) em algum projeto de pesquisa(iniciação científica)? E, questão 30, no ano de 2011: Você participou

de programas de iniciação cientifica? Como foi a contribuição para a sua formação? (INEP, 2005-2011, grifos

nossos). 188 A comparação desta questão nos ciclos avaliativos de 2005 e 2008 com o ciclo de 2011 foi prejudicada devido à

alteração dos descritores da questão, com o objetivo de identificar, se caso houvesse a participação em programas

de iniciação cientifica, qual seria a contribuição destes para a formação dos estudantes.

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357

Nessa questão, 21% dos estudantes responderam ter participado de programas

de iniciação científica e ter sido grande a contribuição dessa atividade para sua

formação e 4% dos estudantes informaram ter participado de programas de iniciação

científica, porém declararam a inexistência de contribuições dessa atividade para a sua

formação.

A iniciação científica, como uma política institucional, oportuniza aos alunos

de graduação praticar apesquisa científica como apoio teórico e metodológico para a

realização de um projeto que contribua para a formação profissional do aluno. Tem

como objetivo potencializar as suas práticas profissionais. Para desenvolver um projeto

de pesquisa, é necessário buscar o conhecimento existente na área, formular o problema

e o modo de enfrentá-lo, coletar e analisar dados e tirar conclusões. Os mecanismos

institucionais dessa atividade são os estágios curriculares e a iniciação científica.

Considerando a sua importância, essa deveria ser uma atividade curricular que

contribuísse para uma melhor formação de todos os estudantes.

Entretanto, do lado oposto, discute-se que o encaminhamento do estudante para

a execução de atividades burocráticas, reduzindo-o a mãodeobra barata dentro das IES,

é uma das imprecisões do programa de iniciação científica (KIRSCH, 2007).

Seguramente, essa é uma situação em que se perde a oportunidade de fomentar a

qualidade do curso, pois: i) por um lado, o professor desperdiça a oportunidade da

relação com o estudante e ii) de outro lado, o estudante perde a chance de explorar,

inovar e de ampliar o conhecimento sobre os assuntos de sua vida acadêmica, que pode

projetar a sua vida profissional.

Essa interpretação requer uma mudança coletiva de pensamento dos gestores e

dos estudantes para um novo fazer pedagógico. Não considerar as atividades de

iniciação científica como mediações possíveis para ampliar as ações de formação dos

estudantes é uma atitude que desconsidera a oportunidade de melhorar a qualidade do

curso e as coloca na forma de existência dessa atividade educacional apenas para

cumprimento do requisito, condicionado ao ato de regulação. A avaliação dessas

atividades pelos estudantes e nos instrumentos de avaliação in loco pode se constituir

um diagnóstico importante para o desenvolvimento do processo pedagógico, indutor de

melhoria da qualidade.

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Gráfico 16 – Envolvimento dos estudantes do curso de Pedagogia em projeto de pesquisa

– Brasil (2005, 2008, 2011) Fonte:MEC/Inep/Daes (2014).

4%

18%

7%

1%

31%

39%

Envolvimento em projeto de pesquisa durante o curso (2005)

(A) Sim, desenvolvo / desenvolvi pesquisa(s)

independente(s).

(B) Sim, desenvolvo / desenvolvi pesquisa(s)

supervisionada(s) por professores.

(C) Sim, participo / participei de projetos de

professores.

(D) Sim, participo / participei de projetos de

estudantes da pós-graduação.

(E) Não, porque não me interesso / interessei

ou não tenho / tive oportunidade.

Brancos

3%

20%

8%

1%

38%

30%

Envolvimento em projeto de pesquisa durante o curso (2008)

(A) Sim, desenvolvo / desenvolvi pesquisa(s)

independente(s).

(B) Sim, desenvolvo / desenvolvi pesquisa(s)

supervisionada(s) por professores.

(C) Sim, participo / participei de projetos de

professores.

(D) Sim, participo / participei de projetos de

estudantes da pós-graduação.

(E) Não, porque não me interesso / interessei

ou não tive oportunidade.

Brancos

21%

4%

1%

46%

8%

20%

Participou de programas de iniciação científica? Contribuição para a

formação (2011)(A) Sim, participei e teve grande

contribuição.

(B) Sim, participei e teve pouca

contribuição.

(C) Sim, participei e não percebi nenhuma

contribuição.

(D) Não participei, mas a instituição

oferece.

(E) A instituição não oferece esse tipo de

programa.

Brancos

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359

Uma das dimensões da avaliação de cursos do Sinaes é a infraestrutura

necessária apara o seu funcionamento. Considerando que essa dimensão constitui um

indicador de qualidade, importa saber neste estudo como os estudantes avaliaram o

espaço acadêmico destinado às aulas teóricas e práticas. Nesta análise, observou-se que,

em todos os ciclos avaliativos, menos de 40% dos estudantes avaliaram que as

instalações físicas do curso de Pedagogia são de qualidade, ou seja, que contêm salas

amplas, bem arejadas, iluminadas e com mobiliário adequado. Esse percentual em 2005,

2008 e 2011 foi, respectivamente, de 34%, 38% e 35%.

Com esse percentual de respostas, analisa-se que a estrutura institucional para

as atividades de ensino requer melhoria nos aspectos de organização e funcionamento

dos cursos. Isso inclui ações que impactem positivamente a sua qualidade, tais como:

instalações físicas, equipamentos e laboratórios específicos, biblioteca, sistemas,

processos de informatização e aplicabilidade dos recursos tecnológicos, bem como

acessibilidade, todos adequados ao desenvolvimento da proposta pedagógica do curso.

As respostas B e C a esta questão,189podem indicar que, embora avaliados como

adequados ou parcialmente adequados, os ambientes não atendiam plenamente ao

número de estudantes. A resposta foi atribuída em 2005 por 18% dos estudantes e em

2008 por 22% deles. Em 2011, com a alteração das respostas a esse quesito,

comparando-se com os anos anteriores, apenas 15% dos estudantes manifestaram que

somente algumas salas de aula, laboratórios e outros ambientes acadêmicos estavam

adequados ao funcionamento do curso.

Acrescenta-se que, em 2005, 5% e, em 2008, 7% dos estudantes informaram

que as salas eram mal ventiladas, mal iluminadas, pequenas em relação ao número de

estudantes e com mobiliário razoavelmente satisfatório às necessidades do seu curso e,

ainda, 4% em 2005 e 3% em 2008 classificaram como mal arejadas, mal iluminadas,

com mobiliário inadequadoe pequenas em relação ao número de estudantes. Em 2011,

há um aumento no percentual atribuído a esses mesmos itens de respostas em relação

aos anos anteriores. Dos respondentes, 15% informaram que somente algumas salas de

189 Questões 44 e 48 do questionário do Enade, respectivamente, nos anos 2005 e 2008: Como são as instalações

físicas (salas de aula, laboratórios, ambientes de trabalho/estudo) utilizadas no seu curso? E, questão 22, no ano

de 2011: As condições gerais das instalações físicas de salas de aula, bibliotecas e ambientes de trabalho e

estudo para o funcionamento do curso são adequadas? (INEP, 2005-2011, grifos nossos).

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aula, bibliotecas e ambientes de trabalho eram adequados, e 2% informaram que

nenhuma das condições das instalações físicas era adequada.

Analisando essas informações da avaliação por meio dos estudantes, os cursos

de Pedagogia, nos ciclos avaliativos de 2005, 2008 e 2011, demonstram uma tendência

de baixa qualidade no que se refere à adequação dos espaços acadêmicos, e esse pode

ter sido um dos motivos que levaram alguns cursos ao baixo desempenho.

Destaca-se que, a partir de 2008, as respostas dos estudantes a essa questão

passou a se constituir um dos insumos do CPC. Os cursos que registraram respostas de

estudantes na letra A, que corresponde à situação das instalações físicas serem amplas,

arejadas, bem iluminadas e com sanitários adequados,obtiveram 7,5% do peso desse

insumo no indicador. Com essa medida, esperava-se que houvesse maior preocupação

da gestão com a melhoria da infraestrutura, o que não ocorreu, segundo o olhar dos

estudantes, pois esta resposta foi atribuída por 38% deles em 2008 e 35% em 2011.

Dessa análise, pode-se inferir que não houve melhoria da qualidade de um ciclo

avaliativo para outro.

Isso se deve a que o percentual atribuído ao CPC é baixo e não traz impacto

regulatório suficiente para provocar na gestão a necessidade de investimento na

infraestrutura para a oferta dos cursos. Da mesma forma, pode-se definir que esse

resultado não impacta a gestão do curso, que se espelha em alcançar um padrão de

qualidade que atenda ao exigido pela regulação. Contudo, em uma análise geral da

oferta dos cursos de Pedagogia, essa situação indica a necessidade de melhoria da

infraestrutura dos espaços acadêmicos para se caminhar na direção da qualidade.

Essa relação de força da regulação sobre a avaliação atua diretamente na

identidade da IES e reflete na sua imagem a qualidade da oferta educacional. Conforme

Barriga (2003), a partir da instauração

[...] de uma política educativa de corte neoliberal, buscam-se

justificativas “acadêmicas” que permitam fundamentar a restrição de

ingresso à educação. Estas justificativas criam novos fetiches

pedagógicos que se caracterizam por sua debilidade conceitual, como

no caso de termos como “qualidade na educação” (p. 54).

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As justificativas acadêmicas atribuídas pelo autor podem se referir às formas

de negação dessa realidade pelos próprios gestores, quando desconsideram a

importância dessa dimensão para a qualidade dos cursos.

Na visão marxista, assume grande importância a mediação entre o objeto

investigado e a realidade, para construir o significado concreto e intervir na realidade.

Pelas mediações, as relações, os objetivos e os projetos pessoais adquirem uma função.

Segundo Marx (1983), antes de tudo, o trabalho é

[...] um processo entre o homem e a Natureza, um processo em que o

homem, por sua própria ação, medeia, regula e controla seu

metabolismo com a Natureza, ele mesmo se defronta com matéria

natural numa forma útil para sua própria vida. Ao atuar por meio

desse movimento, sobre a natureza externa a ele e ao modificá-la, ele

modifica, ao mesmo tempo, sua própria natureza (p. 149).

A produção de significado da avaliação para a regulação está presente em sua

função precípua de revelar a realidade e na contradição desta. Segundo Kosik (2002), o

conhecimento se realiza como

[...] separação de fenômeno e essência, do que é secundário e do que é

essencial, já que só através dessa separação se pode mostrar a sua

coerência interna e, com isso, o caráter específico da coisa. Neste

processo, o secundário não é deixado de lado como irreal ou menos

real, mas revela seu caráter fenomênico ou secundário mediante a

demonstração de sua verdade na essência da coisa. Esta decomposição

do todo, que é elemento constitutivo do conhecimento filosófico –

com efeito, sem decomposição não há conhecimento – ,demonstra

uma estrutura análoga à do agir humano: também a ação se baseia na

decomposição do todo (KOSIK, 2002, p.18).

Nesse sentido, a avaliação é uma parte essencial do processo de busca pela

qualidade da educação, e assim deve ser tratada pelos gestores das IES e pelo próprio

Estado. Qualquer posição secundária desse processo ou mesmo o uso parcial dos seus

resultados, sem a visão da totalidade da ação pública, pode comprometer a sua real

finalidade, restringindo-se o Sinaes a uma prática de controle da regulação.

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Gráfico 17 – Situação das instalações físicas para oferta do curso de Pedagogia– Brasil

(2005, 2008, 2011) Fonte:MEC/Inep/Daes (2014).

34%

11%

7%5%4%

39%

Situação das instalações físicas (salas de aula, laboratórios, ambientes)

utilizadas no curso (2005)(A) Amplas, arejadas, bem iluminadas e com mobiliário

adequado.

(B) Arejadas, bem iluminadas e com mobiliário satisfatório,

embora pequenas em relação ao número de estudantes.

(C) Bem iluminadas e com mobiliário satisfatório, embora

sejam mal ventiladas e pequenas em relação ao número de

estudantes.(D) Mal ventiladas, mal iluminadas, pequenas em relação ao

número de estudantes e com mobiliário razoavelmente

satisfatório.(E) Mal arejadas, mal iluminadas, com mobiliário inadequado

e pequenas em relação ao número de estudantes

Brancos

38%

12%10%

7%

3%

30%

Situação das instalações físicas (salas de aula, laboratórios, ambientes)

utilizadas no curso (2008)

(A) Amplas, arejadas, bem iluminadas e com mobiliário adequado.

(B) Arejadas, bem iluminadas e com mobiliário satisfatório, embora

pequenas em relação ao número de estudantes.

(C) Bem iluminadas e com mobiliário satisfatório, embora sejam

mal ventiladas e pequenas em relação ao número de estudantes.

(D) Mal ventiladas, mal iluminadas, pequenas em relação ao

número de estudantes e com mobiliário razoavelmente satisfatório.

(E) Mal arejadas, mal iluminadas, com mobiliário inadequado e

pequenas em relação ao número de estudantes

Brancos

35%

29%

15%

2%

19%

As condições gerais das instalações físicas de salas de aula, bibliotecas

e ambientes de trabalho e estudo são adequadas para o funcionamento

do curso (2011)

(A) Sim, todas. (B) Sim, a maior parte.

(C) Somente algumas. (D) Nenhuma.

Branco

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363

Com relação à estruturação dos projetos pedagógicos dos cursos de Pedagogia,

perceberam-se avanços nos ciclos avaliativos. Foram 38% dos estudantes em 2005, 43%

em 2008 e 50% em 2011 que responderam sim, todos contêmos componentes do plano

de ensino (objetivos, procedimentos de ensino e de avaliação, conteúdos e bibliografia

da disciplina).

Com representatividade, 16% em 2005, 20% em 2008 e 23% em 2011 dos

estudantes responderam sobre os planos de ensino que sim, a maior parte contém todos

os aspectos. Considerando que essa questão, assim como a anterior, faz parte dos

insumos do CPC, também era de se esperar maior conhecimento dos estudantes sobre o

plano de ensino do curso de Pedagogia. Assim como parece contraditória a informação

de que em 2005, 5% dos estudantes avaliaram que o plano de ensino do curso de

Pedagogia apresentava cerca da metade dos elementos ou menos. Em 2008, foram 4%

dos respondentes que informam o mesmo quesito e, em 2011, foram 7% dos estudantes

que responderam que os planos de ensino contêm apenas alguns dos aspectos ou

nenhum deles.

A participação na construção do projeto pedagógico do curso figura como uma

oportunidade de o estudante de intervir e interagir na sua permanente adequação e

atualização com atenção ao perfil profissional que se pretende formar no curso. Nessa

perspectiva, dar a conhecer o plano de ensino é uma estratégia importante de reflexão

sobre os fundamentos da área avaliada e a relação entre a teoria e a prática, mediada

pela integração dos saberes com a realidade, pela diversidade de experiências

vivenciadas pelos estudantes.

A relação entre teoria e prática na formação do professor é indissociável, pois

compete pensar, elaborar, refletir, planejar, executar, agir e fazer. O que ocorre é que,

muitas vezes, a teoria e a prática são consideradas justapostas, sendo a prática a

aplicação da teoria.

Para Vasquez (1977), a dicotomia entre a teoria e a prática precisa ser

superada. Segundo o autor, o “método que permite elevar-se do abstrato ao concreto

nada mais é do que o modo como o pensamento se apropria do concreto sob a forma do

concreto pensado. Mas não é de modo algum o próprio concreto” (p. 204).

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A situação de dependência entre a teoria e a prática é relativa, pois a teoria não

comanda a prática. Essa perspectiva apoiada nas ideias de Candau e Lelis (2001)

significa que a teoria não mais orienta a prática “no sentido de torná-la dependente das

ideias, como também não se dissolve na prática, anulando a si mesma. A prática, por

seu lado, não significa mais a aplicação da teoria ou uma atividade dada ou imutável”

(p. 63).Sob esse aspecto, avaliar pela ótica dos estudantes a construção do PPC e todos

os elementos que o compõem é fundamental para o exercício da relação entre teoria e

prática, para que não se perca a totalidade da ação pedagógica.Porém realizar o

movimento de reflexão sobre a teoria e a prática é também uma questão ideológica. Para

Marx (2008), as ideologias190

[...] se desenvolvem com algum grau de autonomia, de acordo com a

matéria tradicional específica acumulada, exercem influência

retroativa sobre a base econômica e condicionam as formas do

desenvolvimento histórico (p. xxiii)

Aliados à resistência de discutir o PPC dos cursos de modo participativo com a

comunidade acadêmica e atribuir a esse instrumento o compromisso com a qualidade do

curso, muitos coordenadores também não o veem nem mesmo como orientador da

prática. Fruto dessas diferentes concepções dos gestores, essa realidade precisa ser

alterada.

Uma ideologia voltada aos princípios de controle da qualidade poderá

expressar no PPC do curso uma visão estática, sem movimento e inadequada ao

dinamismo social que a realidade impõe. No caso da avaliação in loco, o PPC é que

conduz toda a avaliação; verifica se realmente o que foi planejado foi executado e, ao

mesmo tempo, se o que foi avaliado anteriormente repercutiu em ações de melhoria.

190 A ideologia corresponde ao estudo da origem e da formação das ideias. Do ponto de vista materialista, “o

desenvolvimento das ideias era subordinado, dependente, predicativo. As ideias sistematizavam na ideologia –

compêndio das ilusões através das quais os homens pensavam sua própria ideia de maneira enviesada, deformada,

fantasmagórica” (MARX, 2008, p. xxii-xxiii).

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Gráfico 18 – Estruturação dos planos de ensino do curso de Pedagogia– Brasil (2005, 2008,

2011) Fonte: MEC/Inep/Daes (2014).

38%

16%3%

2%0%

41%

Os planos de ensino contêm: objetivos, procedimentos de ensino e de

avaliação, conteúdos e bibliografia da disciplina (2005)

(A) Sim, todos contêm.

(B) Sim, a maior parte contém.

(C) Sim, mas apenas cerca da metade contém.

(D) Sim, mas apenas menos da metade contém.

(E) Não, nenhum contém.

Branco

43%

20%

3%1%0%

33%

Os planos de ensino contêm: objetivos, procedimentos de ensino e de

avaliação, conteúdos e bibliografia da disciplina (2008)

(A) Sim, todos contêm.

(B) Sim, a maior parte contém.

(C) Sim, mas apenas cerca da metade contém.

(D) Sim, mas apenas menos da metade contém.

(E) Não, nenhum contém.

Branco

50%

23%

6%

0%1%

20%

Os planos de ensino contêm: objetivos, metodologias de ensino e

critérios de avaliação, conteúdos e bibliografia da disciplina (2011)

A) Sim, todos os aspectos.

B) Sim, a maior parte dos aspectos.

C) Somente alguns aspectos.

D) Nenhum dos aspectos.

E) Não sei responder.

Branco

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366

A qualidade dos cursos de Pedagogia, sob o ponto de vista dos seus estudantes,

foi mensurada nesta parte da pesquisa, a partir de categorias estimadas no Questionário

do Estudante, quais sejam: dedicação ao estudo, situação de trabalho durante o curso,

programas de apoio financeiro, hábito de estudo, atualização do acervo da biblioteca das

IES, iniciação científica, infraestrutura do curso e plano de ensino. Cada um desses

insumos foi analisado até aqui de modo particularizado e comparativo entre os anos de

2005, 2008 e 2011, a fim de evidenciar a qualidade do curso a partir do crescimento de

respostas favoráveis e do esforço da gestão na indução de melhorias.

O Gráfico 19 traz uma reflexão sobre o conjunto desses insumos, contando o

desempenho dos cursos de Pedagogia em cada ciclo avaliativo e estimando a qualidade

do curso a partir das respostas positivas dos estudantes a cada questão.

Essa análise agrupada dos indicadores de qualidade dos cursos de Pedagogia

demonstrou um padrão de resposta dos estudantes em cada questão, semelhante em

todos os ciclos avaliativos, o que confirma a expectativa de baixa qualidade do curso,

pois a avaliação nos três ciclos avaliativos ocorreu com diferentes sujeitos. Quando

calculados os percentuais de resposta de 2011, em uma média ponderada simples, os

sete insumos analisados: dedicação aos estudos (17%), programas de apoio (14%),

hábitos de estudo (23%), atualização do acervo (26%), iniciação científica (25%),

infraestrutura do curso (35%) e plano de ensino (50%), alcançariam uma expectativa de

qualidade do curso estimada pelos estudantes de 23,6%.

Os insumos que dependem do esforço dos estudantes, como, por exemplo, a

dedicação aos estudos, chegou ao máximo de satisfação de 18% em 2008, reduzindo-se

para 17% em 2011. O hábito de estudo alcançou 20% nos dois primeiros ciclos,

chegando a 23% no terceiro ciclo. A iniciação científica teve avaliação satisfatória

máxima de 38% em 2008 e reduziu-se para 35% em 2011. Esse dado revela um baixo

nível de interesse do estudante na participação de atividades e programas que poderiam

enriquecer a sua formação e também certa atitude de acomodação com a organização do

seu curso. Contudo, embora ainda com índices considerados abaixo do esperado em

termos de indução de qualidade, estão os insumos que dependem do esforço da IES com

percentuais mais elevados pela percepção dos estudantes. São eles: atualização do

acervo da biblioteca, que chega ao limite de 26% de satisfação em 2011; a iniciação

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367

científica, que apresentou uma variância de 25% a 32% nos três ciclos avaliativos; a

infraestrutura do curso, com 34 a 38%; e o plano de ensino, que, entre os insumos

avaliados, alcança um percentual de aprovação de 50%, sugerindo que possui todos os

requisitos necessários para o desenvolvimento do curso.

O insumo sobre os programas de apoio, que representa a ação do Estado e das

IES no incentivo à permanência do estudante nos cursos de Pedagogia, apresentou o

índice mais baixo da avaliação. Os níveis de participação dos estudantes em programas

de apoio alcançaram 17% no primeiro ciclo, 23% no segundo ciclo e 14% no terceiro

ciclo avaliativo do Sinaes.

Essa realidade desafia a pensar como e em que medida ocorre a superação das

dificuldades relacionadas à qualidade da oferta dos cursos. Segundo Casali (1997), cabe

advertir nessas situações que a avaliação

[...] não tem por objeto apenas conteúdos ou conhecimentos, mas

também atitudes e condutas concretas. A vida humana, horizonte

último de toda a avaliação, é social, e a educação cumpre também uma

função de socialização permanente, o que requer das práticas

avaliativas um foco permanente também sobre as qualidades de

comunicação, cooperação e responsabilidade (p. 12).

Esse conjunto de informações revela que os cursos de Pedagogia não têm sido

tratados como ponto estratégico pelas políticas públicas. Afinal, têm se posicionado

nacionalmente com um índice baixo de qualidade, e o diagnóstico do Sinaes parece não

ter sido utilizado pela gestão da IES para investir em melhorias e nem tampouco pela

gestão do Estado para concretizar ações de valorização da política de formação de

professores.

Se há um entendimento do Sinaes como política pública, ambos, Estado e IES,

devem lutar por sua consolidação. A fim de evitar a dissolução da política pelas

contradições, Marx (2008) afirma que a

[...] sociedade civil deve se condensar no Estado e se apresentar como

Estado. Isto é, enquanto ilusão de um interesse comum sobreposto às

contradições de classe e capaz de encobrir a dominação de uma classe

sobre a outra (p. xxxi)

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Essa compreensão estabelece o nível de tensão que pode ser gestada na política

pública, se a relação entre avaliação e regulação não estiver bem definida. As

disfunções práticas dessa relação se revelam em uma forma de interesse comum no

desenvolvimento do Sinaes; entretanto, opcional na escolha da forma de uso ou des(uso)

da avaliação.

Gráfico 19 – Percentual de respostas satisfatórias dos estudantes aos insumos de qualidade

dos cursos de Pedagogia – Brasil (2005, 2008, 2011) Fonte: MEC/Daes/Inep (2014).

Diante dessa análise, é fato que muito se precisa avançar na indução de

melhoria da qualidade dos cursos de Pedagogia. O referencial de qualidade dos cursos

pode indicar que a atenção atribuída ao Sinaes não tem sido suficiente para garantir

investimentos estruturantes pelas IES. Essa atitude dos gestores das IES pressupõe uma

vinculação da avaliação à regulação, bastando ao curso obter os conceitos suficientes e

sem nenhuma ação prática de reflexão sobre os resultados.

Os dados do Questionário do Estudante auxiliam na interpretação do

desempenho do aluno em relação ao seu perfil e a possibilidade de uma formação

adequada a partir da percepção sobre as condições de oferta. Essa análise se

complementa na parte seguinte, dedicada a analisar as percepções dos coordenadores

dos cursos de Pedagogia, bem como os resultados do Enade e da avaliação in loco.

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Apropriando-se das informações da realidade dos cursos e dos estudantes,

busca-se explicar o movimento da gestão do Estado e das IES na consolidação do

Sinaes. Serve-se, portanto, dessa realidade para explicar as aproximações da avaliação à

política de regulação e demonstrar a totalidade, mesmo que provisória ou passível de

superação, porque são históricas. Assim sendo, a contradição é inerente ao processo de

construção da história e precisa estar visível para permear as transformações. Na visão

marxista, essas transformações ocorrem no percurso e resultam de múltiplas

determinações, cuja análise amplia a possibilidade de atribuir significado à realidade.

Contudo, ao analisar a realidade em todas as suas partes, permite-se realizar o

aprofundamento parcial, mas o retorno ao conjunto articulado é fundamental ao

processo. Segundo Kosik (2002), a compreensão dialética da totalidade

[...] significa não só que as partes se encontram em relação de interna

interação e conexão entre si e com o todo, mas também que o todo não

pode ser petrificado na abstração situada por cima das partes, visto

que o todo se cria a si mesmo na interação das partes (p. 42).

Essa fundamentação é necessária. E também pode ser exemplificada no

planejamento da política de avaliação e regulação, quando esta já não é suficiente. É

preciso escutar a critica, pois ela é fundamental para realizar a mudança. Reitera-se,

portanto, a necessidade de identificar os recursos disponíveis para novas ações e realizar

investigações amplas e de qualidade que orientem as transformações da política

educacional.

Se há preocupação com a transformação do real, destaque-se que essa é uma

questão central na proposta marxista, a da visibilidade do movimento, sua apreensão

integral e propostas que para incidir no real precisam ser viáveis, subsidiados pela

análise de resultados que não podem ser secundarizados.

Esse movimento é o que se busca realizar, visando ampliar a investigação

sobre os cursos de Pedagogia. Portanto, da mesma forma que os estudantes, os

coordenadores de curso responderam ao Questionário do Coordenador.

As informações de ambos os instrumentos são similares e relacionadas aos

processos formativos do estudante, o que tornou possível realizar uma análise mais

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ampla sobre as situações que podem favorecer a aprendizagem e a construção das

habilidades e competências necessárias ao egresso do curso de Pedagogia.

As referências até então construídas se subsidiam nas ações e políticas de

educação superior a partir de 2004 e refletem o modo de gestão do Estado na regulação

dessas políticas, sob a análise do uso da avaliação para a indução da qualidade e/ou da

regulação da educação superior.

5.3. O ENADE E A VISÃO DOS COORDENADORES SOBRE OS CURSOS DE

PEDAGOGIA

O Questionário do Coordenador de curso é um instrumento integrante do

Sinaes, que tem por objetivo coletar informações pertinentes ao curso de graduação

inscrito no Enade. As informações contemplam aspectos acadêmicos do curso, do perfil

dos estudantes e do contexto de inserção socioeconômica e cultural da formação que

subsidiam as análises qualitativas (INEP, 2011).

Com essa característica, o Questionário do Coordenador foi analisado nesta

pesquisa com o objetivo de buscar informações sobre a qualidade dos cursos de

Pedagogia avaliados. Ressalta-se que o preenchimento do Questionário do Coordenador

do curso avaliado pelo Enade não é obrigatório e que os coordenadores o devem

preencher no período de 15 (quinze) dias depois da realização da prova. Da mesma

forma que o Questionário do Estudante, o preenchimento do Questionário do

Coordenador passou a ser online desde 2010, de modo protegido, com senha pessoal e

intransferível.191

Considerando o caráter não obrigatório do preenchimento desse instrumento,

obteve-se de um total de 25 cursos integrantes da pesquisa, uma participação no

Questionário do Coordenador de seis IES em 2005, 21 em 2008 e 20 em 2011. Com

relação ao número de respostas válidas, chegou-se ao número de cursos participantes.

191 A partir de 2013, os coordenadores passaram a receber a orientação de preenchimento do Questionário do

Coordenador em conjunto com os professores que integram o NDE (INEP, 2014).

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Em 2005, o total das seis IES respondeu pela coordenação de dez cursos; em 2008, as

21 IES registraram respostas para 58 cursos; e, em 2011, as 20 IES responderam pela

coordenação de 28 cursos. Destaca-se que somente em 2008 evidenciaram-se respostas

em branco ao Questionário do Coordenador, sendo que, das quatro IES com registros

em branco, duas não obtiveram nenhuma resposta e as outras duas registraram ausência

de resposta em apenas alguns dos seus cursos. Na análise desse respectivo ano, foram

eliminados os dez cursos que tiveram registros em branco e considerados 48. Em

relação ao Questionário do Coordenador, o universo de análise da pesquisa contou,

portanto, com a participação de 86 cursos de Pedagogia.

Na análise foi possível reconhecer: i) o perfil dos coordenadores (tempo de

dedicação ao curso, experiência, titulação, condições de trabalho); ii) a infraestrutura

para o funcionamento do curso; iii) o acervo da biblioteca das IES; iv) a organização

acadêmica e administrativa; v) os planos de ensino; vi)as atividades de iniciação

científica; e vii) a valorização profissional.

Considerando que estas informações podem indicar o nível de qualidade do

curso de Pedagogia, a seguir, analisou-se cada uma dessas categorias, começando por

aquelas que compõem o perfil dos coordenadores de curso.

Um fator importante para a gestão das atividades inerentes ao desenvolvimento

do projeto pedagógico foi o tempo de dedicação ao curso.192 Nesse aspecto, percebem-se

diferenças significativas ao longo dos ciclos avaliativos do Sinaes: em 2005, 50% dos

coordenadores informaram ter mais de quatro anos na função; em 2008, esse percentual

caiu para 39,6% e, em 2011, foi para 32,1%. No tempo em que se reduziu o tempo do

coordenador na dedicação ao curso, cresceu o percentual de coordenadores com pouca

experiência na gestão dos cursos: em 2005, 40% dos coordenadores afirmaram ter até

três anos na função de coordenador de curso; em 2008 esse número cresceu para 60,4%

e em 2011 o percentual foi de 57,1%.

Esse movimento da permanência do coordenador do curso, de fato, deveria

representar uma melhoria nas ações da gestão acadêmica. Se a permanência do

coordenador do curso na gestão não tem impactado a melhoria da qualidade do curso,

192 A questão respondida pelo coordenador de curso foi a seguinte: 1 – Tempo de coordenação do curso (INEP,

2005-2011, grifo nosso).

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esse fator pode estar refletindo uma contradição: o coordenador com mais experiência,

em vez de proporcionar o desenvolvimento de projetos de melhoria mais ousados e de

longo prazo, tem se acomodado na gestão, realizando meras ações de atendimento aos

pressupostos regulatórios, com vistas ao alcance do padrão mínimo de qualidade para

manter a oferta do curso.

Em relação à contradição, categoria de análise do presente estudo, sabe-se que

é inerente à realidade. Portanto, quando a avaliação revela um diagnóstico da realidade,

também revela as suas contradições, e estas, segundo Lefebvre (1991), “renascem

sempre e devem sempre renascer, e isso porque, incessantemente, o entendimento deve

separar e a razão unir” (p. 235). Nas palavras do autor, admite-se que a relação entre a

continuidade e a descontinuidade da gestão tem fatores múltiplos, internos e externos e

também diferentes motivações. Ao expor o método marxiano de investigação, aborda-se

um processo de busca da origem em que, para superar as limitações, será preciso

reconstruir o movimento histórico e realizar um processo reflexivo e interpretativo para

encontrar novos significados.

A descoberta das situações históricas que levam ao compromisso ou ao

descompromisso da gestão auxilia a criar novos significados para sua própria ação.

Nesse mesmo sentido, a apropriação do movimento da avaliação e regulação possibilita

encontrar ou construir novos caminhos para a ação gestora.

Referindo-se a fatores externos que pretendem agregar valor à gestão,

entendem-se os documentos integrantes do Sinaes. No bojo desses documentos

orientadores, destaca-se o reconhecimento da importância do trabalho do coordenador

de curso, instituído nas formas de apoio a essa atividade.

O Parecer nº 4, de 17 de junho de 2010, justifica a implantação do Núcleo

Docente Estruturante (NDE)193 para cooperar com o trabalho do coordenador de curso e

corrobora a relevância de esse profissional ter dedicação ao curso.

193 A Resolução nº 1/2010, resultante do Parecer Conaes nº 4, de 17 de junho de 2010, normatiza o NDE, com

fundamento no inciso I, art. 6º da Lei nº 10.861/2004. No texto esclarece que o NDE de um curso de graduação

constitui-se de um grupo de docentes, com atribuições acadêmicas de acompanhamento, atuante no processo de

concepção, consolidação e contínua atualização do projeto pedagógico do curso.

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Ainda que muitas vezes o coordenador de curso seja um professor que

ajuda a dar identidade ao curso, outras tantas vezes, o coordenador é

um professor que exerce a importante função de fazer os fluxos não

serem interrompidos ainda que não seja um dos lideres acadêmicos

(BRASIL, 2010).

O NDE constitui-se de um grupo de docentes, com atribuições acadêmicas de

acompanhamento, atuante no processo de concepção, consolidação e contínua

atualização do projeto pedagógico do curso. As atribuições desse núcleo, entre outras,

são: i) contribuir para a consolidação do perfil profissional do egresso do curso; ii) zelar

pela integração curricular interdisciplinar entre as diferentes atividades de ensino

constantes no currículo; iii) indicar formas de incentivo ao desenvolvimento de linhas

de pesquisa e extensão, oriundas de necessidades da graduação, de exigências do

mercado de trabalho, em consonância com as políticas públicas relativas à área de

conhecimento do curso; iv) zelar pelo cumprimento das DCN do curso.

Nesse aspecto, é importante destacar que analisar a carga horária do

coordenador de modo isolado não expressa a sua capacidade de coordenar o projeto do

curso, em todas as suas dimensões: i) atividades relacionadas à gestão do curso; ii)

tempo destinado à docência e iii) pesquisa e outras atividades inerentes à vida

acadêmica. Por isso, a responsabilidade de mobilizar recursos, tecnologias educacionais

e inovação não pode se limitar apenas ao coordenador, mas a uma equipe, como propõe

o NDE.

Segundo Dias Sobrinho (2005), todo o trabalho em seu interior tem dimensão

formativa e pedagógica, por essa razão,

[...] demanda urgente revisão dos seus currículos, perfis profissionais,

métodos, técnicas, procedimentos e conteúdos para torná-los mais

adequados ao momento histórico em que vivemos, caracterizado pela

“multiplicidade de demandas e pautas da sociedade contemporânea” e

pela obsoletização e diversificação dos conhecimentos numa

velocidade jamais imaginada antes. Todos os membros da

“comunidade universitária” “devem ser concernidos pela dimensão

pedagógica das atividades e das relações que se desenvolvem numa

instituição educativa” (p. 33).

A avaliação tem papel preponderante nesse contexto. Na prática, opera um

conjunto de informações relevantes das quais se espera um posicionamento no nível das

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relações sociais e pedagógicas. Como um processo contínuo, global e formativo, por

meio da avaliação se pode instaurar um processo de melhoria em todos os aspectos da

IES: no seu fazer cientifico, pedagógico, político e administrativo.

Nesse sentido, a dedicação do coordenador ao curso contribui para que as

mudanças ocorram a partir do integrado dos elementos que compõem o processo de

avaliação. É nesse momento que se aproximam as relações entre avaliação e regulação,

o primeiro para subsidiar o segundo processo e nunca o contrário.

Gráfico 20 – Tempo de coordenação do curso de Pedagogia – Brasil (2005, 2008, 2011) Fonte: MEC/Inep, Daes (2014).

O comportamento da gestão dos cursos de Pedagogia, associado à informação

da sua atuação pela primeira vez como coordenador de curso,194 revelou a prevalência de

pouca experiência. Em 2005, 40% dos respondentes informaram estar iniciando a

experiência em gestão de curso; em 2008, a resposta foi afirmativa para 54,1% dos

coordenadores; e, em 2011, para 50% dos coordenadores. Essa informação pode

justificar a limitação da capacidade do gestor de fazer diagnóstico, planejar e executar

projetos de melhoria para o curso.

194 A questão respondida pelo coordenador de curso foi a seguinte: 2 – Esta é minha primeira experiência como

coordenador de curso (INEP, 2005-2011, grifo nosso).

20

21

5

12

15

20

19

7

2

7

3

9

(A) Menos de um

ano

(B) Um ano a dois

anos

(C) Dois anos a

três anos

(D) Três anos a

quatro anos

(E) Mais de quatro

anos

2005 2008 2011

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Têm-se como pressuposto deste estudo que o despreparo do docente o conduz

ao enfrentamento de algumas situações: i) as dificuldades no exercício da função em

relação aos aspectos da sua formação para o exercício da liderança de equipe; ii) as

ações que requerem a mediação de conflitos; iii) a postura de respeito aos diferentes

pontos de vista dos colegas em reuniões; iv) o conhecimento de estratégias para se

chegar a um consenso nas tomadas de decisão sobre o andamento do curso.

Em contribuição ao enfrentamento dessas situações, retoma-se que a

constituição do NDE junto aos cursos de graduação foi fundamental em 2010 para

auxiliar o trabalho da gestão. Porém a atuação do NDE poderá representar aspectos de

melhoria da gestão apenas no ano de 2011 e, ainda, sem efeitos possíveis de serem

analisados nos resultados da avaliação. Contudo, já se percebem avanços na

responsabilização do NDE na gestão do curso a partir de 2013, quando começa a

orientação de preenchimento do Questionário do Coordenador do Enade em conjunto

com o gestor.

Quanto à rotatividade da função docente assinalada como um dos possíveis

fatores que leva a ter tantos gestores iniciantes na função de coordenador, pode-se

analisá-la sob diferentes perspectivas, a depender da categoria administrativa das IES: i)

as IES públicas têm grande rotatividade de coordenadores devido ao entendimento de

que essa função gera uma sobrecarga de trabalho, a ponto de criarem estratégias para

que cada docente fique apenas por certo tempo nela; ii) nas IES privadas parece haver

uma relação de condicionalidade entre o tempo de exercício da função de coordenador e

o desempenho no curso. Não é rara a substituição da função de coordenador, depois da

divulgação de resultados insatisfatórios na avaliação do curso.

Nesse sentido, não é só a prática que dá significado à concepção de qualidade

da educação pelo gestor; as concepções também incorporam os sentidos das práticas. A

política não é uma produção verticalizada. As políticas são articuladas tanto para obter

efeitos materiais quanto para produzir apoio para esses efeitos. Essa ação envolve uma

atitude e uma cultura nas quais os docentes se sentem responsáveis e, ao mesmo tempo,

são investidos da responsabilidade pelo bem-estar da instituição escolar

(accountability). São novas pedagogias de gestão, realizadas por meio de avaliações,

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análises relacionadas com o desempenho, que ampliam o que pode ser controlado na

esfera administrativa (BALL; MAINARDES, 2011).

Quanto à lógica da avaliação como subsídio, a tomada de decisão da gestão,

Dias Sobrinho (2000) formula um conceito de qualidade da educação no qual esta é

considerada “um juízo valorativo que se constrói socialmente. É um atributo ou um

conjunto de propriedades que definem uma coisa e a distinguem das demais, de acordo

com julgamentos de valor praticados num determinado meio” (p. 212).

Nessa concepção, a gestão é partícipe do processo e deve contar com a

participação comprometida de professores, estudantes, técnicos e representantes da

comunidade externa. Essa organização para o funcionamento do curso reafirma a função

do NDE e dos colegiados de curso na condução do PPC e de seus efeitos na qualidade

do curso.

Com relação às diferenças de atuação e de perfil dos coordenadores, segundo a

categoria administrativa da IES, este é um fator que faz parte do meio e que, portanto,

pode ter influência na gestão. Sousa (2009), ao entrevistar dirigentes de IES, considera

que as concepções de gestores de IES públicas e privadas acerca do conceito de

qualidade variam de acordo com suas posições e interesses. Para o autor, “a qualidade

não é um valor absoluto, nem a mera adequação de ideias, processos e práticas a certo

padrão ou a normas estabelecidas a priori. Assim, torna-se impossível sua vinculação a

um único atributo ou olhar” (p. 244).

Essas diferentes visões conferem significado à ação gestora e criam identidade

ao curso. Porém, mesmo que se alterem as práticas, os modos de fazer, a orientação do

Sinaes é única no que se refere ao objetivo de, por meio da avaliação, melhorar a

qualidade do curso. Nesse sentido, a experiência na gestão do curso pode colaborar com

uma gestão continuada, inovadora, produtiva e de relações promissoras em prol da

qualidade. Esses motivos e outros devem ser suficientes para que esse indicador seja

considerado nos instrumentos de avaliação do Sinaes.

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Gráfico 21 - Primeira experiência como coordenador do curso de Pedagogia– Brasil (2005,

2008, 2011) Fonte: MEC/Inep/Daes (2014).

Além da experiência do coordenador de curso na gestão e o tempo de

dedicação à função, para definir o perfil do coordenador do curso de Pedagogia foi

importante associar outras informações: tempo de serviço na IES e carga horária

semanal do docente dedicada à coordenação do curso.195

Nesse critério de qualidade, percebeu-se que, em 2005, nenhum coordenador

informou ter mais de dez anos na IES: 70% responderam estar na IES entre um e cinco

anos e 30% entre cinco e dez anos. Entretanto, a carga horária semanal dedicada à

gestão do curso foi bastante variada: 20% entre quatro e oito horas, 10% entre oito e

doze horas, 20% entre doze e vinte horas e 50% com mais de 20 vinte horas dedicadas à

coordenação do curso.

Em 2005, 70% dos coordenadores de curso registraram a permanência na IES

pelo período de um a cinco anos. Em 2008, esse critério foi atendido por 12% dos

coordenadores e 25% em 2011. O item de resposta cinco a dez anos na IES foi

assinalado por 30% dos coordenadores de curso em 2005, 62% em 2008 e 53% em

2011. Analisando-se o critério de permanência do coordenador na IESpor mais de dez

anos na IES, registram-se 25% em 2008 e 53% em 2011.

195 As questões respondidas pelos coordenadores de curso foram as seguintes: 4 – Tempo de atividade na IES e 6 –

Tempo semanal dedicado a coordenação do curso (INEP, 2005-2011, grifo nosso).

4

26

14

6

22

14

2005 2008 2011

(A) Sim (B) Não

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Os aportes realizados nesta pesquisa acerca do método marxiano mostram que

há particularidades a serem analisadas no perfil dos coordenadores de curso.

Destacam-se nessa caracterização: i) a perspectiva transformadora,

emancipatória; ii) o uso articulado de dados quantitativos e qualitativos; iii) a expressão

das falas dos coordenadores de curso e dos estudantes; iv) a valorização do processo e

não somente dos resultados. Sem dúvida, com esse enfoque, o desafio está na conjunção

de todos esses elementos.

Marx e Engels (1993) ressaltam que não basta interpretar o mundo, “o que

importa é transformá-lo” (p. 14). E dizem, ainda, que “é na práxis que o homem deve

demonstrar a verdade, isto é, a realidade e o poder, o caráter terreno de seu pensamento”

(p. 12).

Por isso, importa analisar que o tempo de atividade na IES é um indicador de

qualidade da avaliação no Sinaes para o gestor e deveria ser também para os docentes.

O modo como os docentes constroem a trajetória profissional a partir de suas práticas

qualifica o projeto do curso e o torna condizente também com a missão institucional e

com a valorização da profissão.

Gráfico 22 – Tempo de atividade na IES – Brasil (2005, 2008, 2011) Fonte: MEC/Inep/Daes (2014).

Agregando-se as informações anteriores sobre o perfil dos coordenadores de

curso, analisa-se o tempo semanal dedicado à gestão. Percebe-se que na evolução dos

0 0

7

300 0

6

30

12

1 0

57

15

(A) Menos de seis

meses

(B) Seis meses a

um ano

(C) Um ano a

cinco anos

(D) Cinco anos a

dez anos

(E) Mais de dez

anos

2005 2008 2011

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ciclos avaliativos do Sinaes aumentou significativamente a informação no critério mais

de vinte horas. Foi registrado por 46% e 64% dos coordenadores de curso, em 2008 e

2011, respectivamente. E, ainda, houve a redução de mais de 50% no tempo de

dedicação entre doze e vinte horas, sendo assinalado por 31% dos coordenadores em

2008 e por 14% deles em 2011.

Essa variação das respostas dos coordenadores, com significativa elevação do

percentual no que se refere ao tempo na coordenação do curso, de mais de vinte horas,

nos três anos avaliados, pode ser reflexo do aspecto da avaliação como indutora de

qualidade. Contudo há de se dimensionar que a busca por melhor resultado na avaliação

tem como foco a regulação.

O instrumento de avaliação in loco (INEP, 2010),196 na dimensão organização

didático-pedagógica, traz um indicador especifico para avaliar a situação da

coordenação do curso, tendo como critério de análise para alcance do conceito 3 esse

indicador:

Quando existe suficiente dedicação à gestão do curso, caracterizada

pelo atendimento aos discentes e docentes; inserção institucional da

coordenação; dialogicidade, transparência e liderança no exercício das

funções; acessibilidade a informações; conhecimento e

comprometimento com o PPC (p. 4).

Considerando a orientação da avaliação para a ampliação da dedicação do

coordenador na atividade de gestão do curso, o percentual obtido pelos cursos de

Pedagogia revela que é preciso avançar. Esses indicadores e outros já analisados têm a

intenção de revelar a qualidade do curso e o compromisso da gestão com a promoção de

ações de melhoria.

196 O instrumento de avaliação in loco de cursos foi atualizado em 2012 e após análise técnica este indicador foi

considerado superado, pois todos os cursos avaliados alcançaram conceito 5 neste indicador. Dessa forma, o novo

instrumento abrange essa informação com a finalidade qualitativa. Assim solicita na Contextualização do Curso o

preenchimento de informações descritivas sobre: “j) Identificação do(a) coordenador(a) do curso; k) Perfil do(a)

coordenador(a) do curso (formação acadêmica, titulação, tempo de exercício na IES e na função de coordenador

do curso)” (p. 1).

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380

Cabrito (2009) chama a atenção para a necessidade de se recorrer a uma bateria

de indicadores que tenham natureza quantitativa e qualitativa, pois “quanto maior for o

número daqueles indicadores de contexto, mais bem espelhada será a realidade que se

pretende avaliar” (p.197). Assim, apreende-se que a avaliação não realiza

transformações sozinha, ainda que, pelo viés da regulação, seja um instrumento

poderoso para motivar a gestão na obtenção de melhor resultado no ciclo avaliativo

seguinte. Contudo, a avaliação assume seu sentido pleno à medida que estabelece uma

ponte com os gestores para o acompanhamento da implementação das mudanças

necessárias.

Gráfico 23 – Tempo semanal dedicado à coordenação do curso de Pedagogia – Brasil

(2005, 2008, 2011) Fonte: MEC/Inep/Daes (2014).

Quanto ao vínculo dos coordenadores dos cursos de Pedagogia com a sua

IES,197 um indicador importante para o desempenho do trabalho pedagógico, observou-

se que a grande maioria informou que possui contratos de trabalho com dedicação

integral ou dedicação exclusiva.198 Esses dois itens de resposta referentes ao vínculo

197 A questão respondida pelo coordenador de curso foi a seguinte: 5 – Vínculos com a IES (INEP, 2005, 2008, 2011,

grifo nosso). 198 A Lei nº 12.772/2012, capítulo V, artigo 20, trata do regime de trabalho nas instituições públicas: I – 40

(quarenta) horas semanais de trabalho, em tempo integral, com dedicação exclusiva às atividades de ensino,

pesquisa, extensão e gestão institucional, de acordo com o §2º: “O regime de 40 (quarenta) horas com dedicação

exclusiva implica o impedimento do exercício de outra atividade remunerada, pública ou privada) ou II – tempo

parcial de 20 (vinte) horas semanais de trabalho” (BRASIL, 2012).

02

12

5

0

4

7

15

22

0 0

64

18

(A) Menos de

quatro horas

(B) Entre quatro e

oito horas

(C) Entre oito e

doze horas

(D) Entre doze e

vinte horas

(E) Mais de vinte

horas

2005 2008 2011

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381

com as IES somaram 90% das informações dos coordenadores de curso em 2005, 92%

em 2008 e 93% em 2011. Os coordenadores de curso com regime parcial de trabalho

foram muito poucos: 10% em 2005 e 8% em 2008. Em 2011, não houve informação de

coordenador de curso com regime de trabalho parcial (20 horas) e 7%, que representam

dois coordenadores que informaram ter vínculo de horista com a IES.

Mais uma vez, a situação do contrato de trabalho, que poderia afirmar uma

política de indução de qualidade, parece estar respaldada em uma motivação da

regulação. Isso porque esse critério é um insumo que integra o cálculo do CPC, voltado

à emissão do ato regulatório de renovação de reconhecimento dos cursos de Pedagogia.

O CPC, criado em 2008, traz entre seus insumos a informação sobre o regime

de trabalho. Assim, esse indicador de qualidade acaba por evidenciar uma melhora no

desempenho dos ciclos avaliativos, tendo em vista que sua ampliação entre todos os

docentes do curso é promovida pelas IES que buscam obter melhores resultados na

avaliação.

Claro que, sob a ótica regulatória,se questiona se essa providência tem caráter

apenas impositivo (alcançar percentual suficiente no insumo do indicador). Contudo, se

tiver respaldo na característica formativa da avaliação (melhorar a forma de contratação

docente para melhorar o desempenho nas atividades acadêmicas e de gestão do curso),

aí sim, o CPC poderá ser entendido como indutor de qualidade.

Com caráter mais incisivo, no instrumento de avaliação in loco199 (INEP,

2010), na dimensão do corpo docente, considera-se um indicador para medir o regime

de trabalho do coordenador e o critério de análise para obter o conceito 3:

Quando o regime de trabalho do coordenador do curso é de tempo

parcial ou integral, sendo que as horas reservadas à coordenação

satisfazem à relação máxima de uma (1) hora para trinta (30) vagas,

considerado o somatório das vagas anuais do curso, respeitado o

patamar mínimo de dez (10) horas semanais (p. 8).

Esta configuração do regime de trabalho do coordenador e também dos

docentes tem diferenças significativas quanto à categoria administrativa. O percentual

199 O instrumento de avaliação in loco foi alterado em 2012, trazendo mudanças neste indicador. Ver nota explicativa

171.

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382

de horista que permanece nas IES privadas pode se justificar pelo aspecto financeiro.

Essa realidade não se retrata nas IES públicas porque a contratação de docentes, mesmo

na condição de docentes substitutos,200 se faz na forma de regime parcial (20h) ou

integral (40h).

Um aspecto fundamental do método dialético é sua riqueza em aportar

elementos que nos auxiliam a desvendar o real e, ao mesmo tempo, orientar processos

de transformação. A análise da realidade da situação do coordenador de curso pode

auxiliar a intervir nos processos sobre sua responsabilidade. Logo, apenas contemplar os

resultados da avaliação não será suficiente para modificar a realidade.

Gráfico 24 – Vínculo do coordenador com a IES – Brasil (2005, 2008, 2011) Fonte: MEC/Inep/Daes (2014).

Quanto ao estímulo e às condições de trabalho, promovidos pelas IES para os

docentes do curso de Pedagogia,201 responderam sim, plenamente, 70%, 54% e 93% dos

coordenadores de curso, respectivamente, nos anos de 2005, 2008 e 2011. Os demais

coordenadores informaram sim, parcialmente para as condições de trabalho oferecidas

200 A Lei nº 12.772/2012 disciplina a carreira do magistério superior federal e contempla o professor substituto

pontuando que a contratação deste poderá ser autorizada pelo dirigente da instituição, condicionada à existência

de recursos orçamentários e financeiros para fazer frente às despesas decorrentes da contratação, com percentual

máximo de 20% do total de docentes efetivos em exercício, na instituição. Além disso, a lei ainda trata da carga

horária referente a esse vínculo, sendo o regime de trabalho de 20 ou 40 horas semanal (BRASIL, 2012). 201 A questão respondida pelo coordenador de curso foi a seguinte: 7 – A instituição oferece estímulos e condições de

trabalho para que os docentes desempenhem suas funções? (INEP, 2005-2011, grifo nosso).

1

8

1 0 0

12

32

4

0 0

6

20

02

0

(A) Dedicação

Exclusiva

(B) Integral - 40

horas

(C) Parcial - 20

horas

(D) Horista (E) Outro

2005 2008 2011

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pelas IES. Apenas em 2008, houve registro de 15% dos docentes que informaram não

receber estímulos e condições de trabalho satisfatórias para os docentes do curso.

O que se pode estimar das informações analisadas éque os coordenadores dos

cursos de Pedagogia são comprometidos com a gestão e, por isso, revelam um nível

maior de satisfação com as condições de trabalho oferecidas pelas IES. Ora, se

participam das decisões sobre a melhoria das condições de trabalho oferecidas, também

não poderiam negá-las.

Seja qual for o objetivo da avaliação, será sempre necessária a

compreensão de um duplo domínio: a compreensão do

“funcionamento” das pessoas envolvidas na situação e compreensão

do funcionamento da intervenção. Essas questões podem ser

discutidas por meio de relatos e análise crítica de experiências, bem ou

malsucedidas (CAPPELLETTI, 2002, p. 14).

Tal ponderação aparece quando se articula a informação dos coordenadores de

curso às respostas dos estudantes analisadas anteriormente, abrindo espaço para um

questionamento: Haveria certa dose de negação da realidade nas respostas do

coordenador de curso sobre as condições de trabalho devido sua fidelidade com a

direção da IES? Na lógica marxista a negação representa um momento inseparável do

desenvolvimento da própria realidade material. A negação não é algo externo; é o

resultado de seu próprio desenvolvimento interno.

Gráfico 25 – Estímulo e condições de trabalho para os docentes do curso de Pedagogia –

Brasil (2005, 2008, 2011) Fonte: MEC/Inep/Daes (2014).

7

26 26

3

15

20

7

0

2005 2008 2011

(A) Sim, plenamente (B) Sim, parcialmente (C) Não

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Na reflexão sobre o perfil dos coordenadores de curso, acrescentou-se a análise

da formação profissional obtida em nível de pós-graduação stricto senso.202 Esse critério

é bastante discutido, novamente porque é um insumo que corresponde ao cálculo do

CPC dos cursos. A elevação da qualificação dos coordenadores dos cursos de Pedagogia

poderia auxiliar na compreensão dos investimentos feitos pela IES para assegurar esse

critério em todos os cursos e, assim, induzir à qualidade.

O que se observa é que a maioria dos coordenadores dos cursos de Pedagogia

tem titulação em nível de mestrado. Em 2005, esse percentual chegou a 100%. Nota-se,

portanto, que embora haja a necessidade de uma política de valorização profissional,

prevista inclusive nas metas do PNE, pouco se avançou para a contratação de docentes

com formação em nível de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) nos

ciclos avaliativos seguintes (2008 e 2011).

Em 2008, do total de coordenadores, 92%, registraram ter titulação em nível de

pós-graduação stricto sensu (destes, 85% com mestrado e 7% com doutorado) e 7%

registraram terem apenas especialização. Em 2011, o percentual de coordenadores com

pós-graduação stricto sensu foi de 89% (destes, 57% com mestrado e 32% com

doutorado) e 11% informaram ter apenas pós-graduação em nível de especialização.

Registra-se que a titulação acadêmica do corpo docente constitui um indicador

do instrumento de avaliação in loco (INEP, 2010), obtendo conceito três o curso em que

“entre 20% (inclusive) e 40% (exclusive) dos docentes do curso têm titulação obtida em

programas de pós-graduação stricto sensu e, destes, pelo menos 50% são doutores” (p.

8).

Embora para muitos gestores esse critério tenha características de indução de

qualidade, essa situação não está representada em IES que, ao manter um docente na

função de coordenação de curso com especialização, atendeu ao requisito regulatório,

apenas. Contudo, não interpretou esse requisito como fundamental para a melhoria da

202 A questão respondida pelo coordenador de curso foi a seguinte: 3 – Maior titulação (INEP, 2005-2011, grifo

nosso).

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qualidade, pois deveria ter investido na qualificação do docente, em especial pela

função de coordenação exercida no momento dessa informação.203

Considerando que a formação para a docência na educação superior vem se

constituindo historicamente e que os critérios de avaliação docente têm se concentrado

na produtividade acadêmica, a tentativa de promover a valorização dessa formação

necessita passar pela mudança na cultura acadêmica. Morosini (2000) destaca que

[...] embora o sistema nacional de avaliação não estabeleça normas de

capacitação didática do docente, há uma íntima relação entre o

desempenho didático do professor e o desempenho do aluno e, dessa

forma, sugere que tais avaliações, mesmo não incidindo diretamente

na qualidade docente, indiretamente, afetam-na (p. 13).

A partir desse ponto, considera-se que a qualificação docente obtida em nível

de pós-graduação stricto sensu é essencial na função de coordenador de curso. Contudo,

sabe-se que essa é uma estratégia institucional, pois envolve se preparar para trabalhar

com os diferentes perfis de alunos que acessam a educação superior, e também com a

expectativa dos egressos quanto ao perfil profissional estabelecido nas DCN.

Gráfico 26 – Maior titulação dos coordenadores dos cursos de Pedagogia – Brasil (2005,

2008, 2011) Fonte: MEC/Inep/Daes (2014).

203 Conforme o artigo 66 da LDBEN nº 9.394/1996, para atuar na educação superior, o corpo docente tem que ter

formação mínima em nível de especialização (BRASIL, 1996). Essa informação faz parte do requisito legal a ser

atendido no momento da visita de avaliação.

0 0

10

0 003

41

400

3

16

9

0

(A) Graduação (B)

Especialização

(C) Mestrado (D) Doutorado (E) Pós-

Doutorado

2005 2008 2011

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No conjunto das informações sobre o perfil dos coordenadores dos cursos de

Pedagogia nos ciclos avaliativos do Sinaes, pode-se dizer que: i) aumentou o tempo de

dedicação do coordenador ao curso para mais de quatro anos na gestão; ii) foi

significativo o percentual de coordenadores de cursos com experiência inicial na

função; iii) houve uma concentração da titulação dos coordenadores dos cursos de

Pedagogia em nível de mestrado; e iv) os coordenadores de curso valorizaram quase que

integralmente as condições de trabalho oferecidas pelas IES. Com essas contribuições, a

avaliação parece ser indispensável para a qualidade da educação superior.

A avaliação é um imperativo ético irrecusável não por questões

técnico-administrativas e de adequação de normas legais, mas porque

tem como foco a educação na qualidade de bem público e, portanto,

exige do Poder Público, respeitadas as diferentes missões

institucionais, a construção e consolidação de instituições e de um

sistema de educação superior com alto valor científico e social

(TRINDADE, 2007, p. 24).

Na intensidade da implementação do Sinaes, cabe questionar se os indicadores

de avaliação e respectivos critérios de análise são tomados como questões burocráticas

para atender à regulação ou como prerrogativa do Estado no seu papel indutor de

qualidade.

Aprimorando a reflexão sobre os cursos de Pedagogia, analisou-se, a seguir, a

compreensão dos coordenadores sobre a dimensão da infraestrutura para o

funcionamento do curso. Nessa dimensão, foram analisadas as condições gerais das

instalações físicas das salas de aula, bibliotecas e ambientes de trabalho e estudo e,

também, os laboratórios, equipamentos e serviços de apoio.204

Convém ressaltar novamente que o comprometimento dos coordenadores com

a gestão pode ter influenciado nas suas respostas, pois estas parecem destoar das

informações prestadas pelos estudantes quando avaliaram os mesmos aspectos do curso

no Questionário do Estudante, analisado anteriormente.

204 As questões respondidas pelos coordenadores de curso foram as seguintes: 8 – As condições gerais das

instalações físicas de salas de aula,bibliotecas e ambientes de trabalho e estudo para o funcionamento do curso

são: (A) Precárias; (B) Boas; (C) Muito boas; e (D) Excelentes (INEP, 2005, 2008, 2011, grifo nosso).

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Em 2005 e 2011, respectivamente, 80% e 75% dos coordenadores assinalaram

como muito boas e excelentes as condições gerais das instalações físicas de salas de

aula, bibliotecas e ambientes de trabalho e estudo. Já em 2008, 91% dos coordenadores

responderam que eram boas e muito boas. Destaca-se que em 2008 não houve registro

de respostas para o item excelente sobre as condições gerais das salas de aula,

bibliotecas e ambientes de estudo, conforme registra o Gráfico 27.

Gráfico 27 – Condições gerais das instalações físicas de salas de aula, bibliotecas e

ambientes de estudo para o funcionamento do curso de Pedagogia – Brasil (2005, 2008,

2011) Fonte: MEC/Inep, Daes (2014).

Quanto aos laboratórios, equipamentos e serviços de apoio,205 os

coordenadores de curso desenvolveram uma avaliação muito similar ao avaliado nas

condições gerais das instalações referentes a salas de aula, bibliotecas e ambientes de

trabalho e de estudo, verificadas no gráfico anterior.

As respostas que consideraram as condições dos laboratórios e serviços como

boas e muito boas alcançaram um percentual em 2005 de 60%, em 2008 de 87% e em

2011 de 53%. O item excelente foi estacado por 36% dos respondentes em 2011 e não

houve resposta a esse item em 2008.

205 A questão respondida pelos coordenadores de curso foi a seguinte: 11 – As instalações de laboratórios,

equipamentos e serviços de apoio específicos ao curso, são: (A) Precárias; (B) Boas; (C) Muito boas; e (D)

Excelentes (INEP, 2005, 2008, 2011, grifo nosso).

02 3

56

27

15

01

6 5

16

(A) Precárias (B) Boas (C) Muito boas (D) Excelentes

2005 2008 2011

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Quando somados os dois itens de respostas boas, muito boas e excelentes, para

as condições dos laboratórios do curso, obteve-se em 2011 um percentual de 87%. Sob

esse aspecto, a avaliação parece anunciar uma melhora da qualidade das condições de

oferta, no decorrer dos ciclos avaliativos.

Nesse contexto, parece que a cultura da avaliação começa a ser implantada nas

IES, e o resultado pode advir de uma mudança na postura da gestão em relação às

avaliações do Sinaes. Isso se traduz pela intensificação dos investimentos em

infraestrutura das condições gerais de funcionamento do curso, seus laboratórios e

serviços. Não se sabe é se essa ação tem sido demandada em razão de políticas internas,

ou por pressão dos processos avaliativos. O que esta pesquisa tem revelado é que no

âmbito da gestão das IES é muito difícil resistir à força regulatória do Estado, mas

também é verdade que a participação dos docentes e discentes em espaços de

construção de práticas e discussão sobre a avaliação (CPA, NDE, colegiado de curso)

tem ampliado o conhecimento temático e o interesse no desenvolvimento da avaliação

formativa e emancipatória.

Gráfico 28 – Instalações de laboratórios, equipamentos e serviços de apoio do cursode

Pedagogia – Brasil (2005, 2008, 2011) Fonte: MEC/Inep, Daes (2014).

13 3 3

6

27

15

0

34

1110

(A) Precárias (B) Boas (C) Muito boas (D) Excelentes

2005 2008 2011

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A avaliação deve se orientar também pelo uso como subsídio à tomada de

decisão da gestão. Conforme Dias Sobrinho (2003c),

[...] as decisões a serem tomadas constituem, pois, o centro da

avaliação. Por isso, avaliar as estruturas específicas de um programa é

mais importante que fazer comparações com outras unidades externas;

o processo interno é muito importante e as decisões de mudança

podem ser tomadas durante o desenvolvimento, não necessariamente

depois de terminado o programa ou curso (p. 22-23).

Entretanto, os problemas que envolvem a formação dos estudantes dizem

respeito à dificuldade de recursos para atender aos requisitos de qualidade no que se

refere à infraestrutura do curso. As IES públicas dependem da gestão do Estado e os

recursos, muitas vezes, são inadequados para atender aos objetivos e capacidades

específicas do contexto de determinada IES. As IES privadas têm demonstrado com

alguma frequência uma visão mercadológica e, assim, se distanciam de propostas de

investimento que não dão um retorno lucrativo a IES e, por isso, atendem apenas às

condições mínimas de exigência estabelecidas nos instrumentos de avaliação.

Outro elemento importante para assegurar a qualidade do curso são as

condições do acervo da biblioteca.206 Esse indicador possibilita assegurar o

desenvolvimento da pesquisa na construção do conhecimento, orientando a tomada de

decisão da gestão quanto aos materiais que devem ser adquiridos, mantidos ou

descartados pela biblioteca, para melhor atender à formação dos estudantes. A avaliação

do acervo das bibliotecas, a partir da percepção dos coordenadores, se refere à

preocupação da gestão em manter um acervo atualizado, completo e adequado às

necessidades dos usuários, evitando lacunas, duplicidades ou obsolescências.

Conforme a avaliação dos coordenadores, mais de 90% deles consideram as

condições do acervo da biblioteca como boas, muito boas e excelentes. Em 2011, não

houve nenhuma registro na opção excelente.

206 A questão respondida pelos coordenadores de curso foi a seguinte: 10 – As condições do acervo da biblioteca que

atende aos alunos do curso de Pedagogia, são: (A) Precárias; (B) Boas; (C) Muito boas; e (D) Excelentes

(INEP, 2005, 2008, 2011, grifo nosso).

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Destaca-se que a avaliação positiva dos coordenadores pode representar uma

autoavaliação da sua atuação, tendo em vista que na gestão do curso lhe compete

orientar a qualidade do acervo acadêmico, de forma adequada e racional, pela

incorporação de materiais relevantes ao ensino, pesquisa e extensão e às atividades

técnico-administrativas executadas pelas diferentes unidades da IES. Segundo Dias

Sobrinho (2000), autoavaliar-se nessa concepção, além de produzir contribuições para a

melhoria das IES,

[...] traz visibilidade política e reconhecimento sobre a atuação

daqueles que a tornam realidade, pois a avaliação, em suas dimensões

internas e externas, deve procurar aprender a multiplicidade das faces

e os sentidos normalmente escondidos e tentar reconstruir

significativamente as partes integrando-as no conjunto da

Universidade (p. 34).

Pelo exposto, justifica-se o paradigma crítico-dialético anunciado no

desenvolvimento desta pesquisa, tendo em vista a possibilidade de construir e mediar

relações com os participantes. Ao adotar como referência a dialética marxista, entende-

se como importante o conhecimento vinculado à prática. A concepção dialética implica

que qualquer objeto faz parte de um todo, por isso a busca de soluções das questões

depende de uma visão de conjunto, sempre provisória e que não tem a pretensão de

esgotamento do real, mas que se torna fundamento para analisar a dimensão de cada

elemento dentro de uma estrutura (KONDER, 1997).

Nesse entendimento, as questões sobre a infraestrutura do curso se

complementam na medida em que os indicadores se explicam quando são inter-

relacionados. Os insumos referentes aos laboratórios, às salas de aula eà biblioteca têm

significado quando analisados no seu conjunto e relacionados ao PPC de cada curso. Por

isso, a medida dos indicadores é única, mas a qualidade do curso somente se expressa

no alcance dos objetivos e finalidades que foram previstos no projeto pedagógico.

Usando categorias semelhantes à análise procedida do Questionário do

Estudante, foi possível identificar na dimensão organização acadêmica qual a avaliação

dos coordenadores sobre o curso.

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Gráfico 29 –Condições do acervo da biblioteca que atende aos alunos do curso de

Pedagogia– Brasil (2005, 2008, 2011) Fonte: MEC/Inep/Daes (2014).

Nesse quesito, a maioria dos coordenadores respondeu ser muito boa e

excelente a organização acadêmica administrativa para o funcionamento do curso.207

Nos dois itens de respostas, obteve-se a representação de 70% dos coordenadores em

2005, 62% em 2008 e 85% em 2011. Ressalta-se que, em 2008, houve um grande

número de “não marcação” de respostas a essa questão e, portanto, para fins de análise,

classificou-se essa informação como mais um item de resposta: brancos com 48%. O

que se apreende dessa realidade é que a opinião dos coordenadores sobre a organização

acadêmica do curso de Pedagogia é satisfatória. A preocupação desses gestores deve

ser, portanto, com a formação dos profissionais da educação, as relações de trabalho e

os recursos de infraestrutura, a fim de promover aportes necessários para o

desenvolvimento dos processos de ensino e de aprendizagem.

Nesse entendimento, afirma-se que quando existem atribuições bem definidas

sobre a função de coordenador e a atuação deste atende plenamente às demandas dos

alunos e professores, o curso é bem conduzido.

207 A questão respondida pelos coordenadores de curso foi a seguinte: 13 – A organização acadêmico-administrativa

para o funcionamento do cursoé:(A) Precária; (B) Boa; (C) Muito boa; e (D) Excelente. A opção “brancos” foi

incluída para possibilitar análise das respostas. (INEP, 2005, 2008, 2011, grifo nosso).

0

5

10

15

20

25

(A) Precárias (B) Boas (C) Muito boas (D) Excelentes

2005

2008

2011

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Entretanto, ressalta-se que, muitas vezes, a avaliação da organização

acadêmico-administrativa, pode ser impactada por questões que precisam ser superadas

pela atuação do coordenador. E que, portanto, desafiam a postura profissional de gestão.

Entre outras questões, já avaliadas em indicadores anteriores, recomenda-se refletir

sobre: i) o reduzido apoio aos coordenadores pela direção das IES, no que diz respeito

às demandas de infraestrutura, qualificação dos docentes e até mesmo de participação

nas decisões; ii) a inobservância da importância da função de coordenador por parte de

outras instâncias acadêmicas; iii) os conflitos de natureza política e administrativa em

questões como: currículo, quantidade de professores, aprovação de programas, oferta de

disciplinas e supervisão de atividades docentes em sala; iv) a desarticulação com a

política de ingresso de alunos; v) a inadequação da estrutura de trabalho do

coordenador.

Gráfico 30 –Organização acadêmico-administrativa para o funcionamento do curso de

Pedagogia – Brasil (2005, 2008, 2011) Fonte: MEC/Inep/Daes (2014).

Explorando o conceito de organização acadêmica pelos coordenadores de

curso, buscou-se conhecer a avaliação dos coordenadores sobre o nível de participação

0

5

10

15

20

25

30

(A) Precária (B) Boa (C) Muito boa (D) Excelente Brancos

2005

2008

2011

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dos discentes208 na gestão do curso de Pedagogia. As respostas sim, sempre, sobre

participação dos discentes nas decisões do curso, alcançaram, em 2005, 40% das

respostas, 24% em 2008 e 35% em 2011. Quando somadas as duas opções consideradas

satisfatórias: sim, sempre e sim, a maioria delas, obteve-se um percentual de 70% em

2005, 74% em 2008 e 75% em 2011. Esse entendimento dos coordenadores de curso

revela que ainda há uma parte decisória da gestão que fica a encargo dos docentes,

excluída a participação dos discentes, que deveriam ter pleno acesso às decisões sobre o

desenvolvimento do curso. Ressalta-se que, em 2008, houve novamente um grande

número de “não marcação” de respostas a essa questão e, portanto, como no indicador

anterior, para fins de análise, classificou-se essa informação como mais um item de

resposta: brancos, com 48%.

Com essa formatação da participação dos processos decisórios, questiona-se o

papel dos Colegiados de Curso, instância de participação da comunidade acadêmica nas

decisões. A participação abre espaços para a vivência coletiva e a descentralização do

poder, que é o saber. A tomada de decisão colegiada visa afirmar um ambiente

institucional experiência do na prática de cada um, mas que também é a do coletivo

institucional.

Avaliar coletividades e instituições significa aclarar e tornar públicas

informações sobre o seu funcionamento, a partir dos dados objetivos e

do contraste e triangulação das percepções que têm os diferentes

participantes nelas (SACRISTÁN; GOMES, 1998, p. 265).

As questões até aqui analisadas, e na visão dos atores, promovem uma

triangulação que possibilita a análise do objeto a partir de diferentes percepções,

aproximando as práticas da teoria produzida sobre o tema. Corroborando esse

pensamento, Dias Sobrinho (2010) destaca que a avaliação é a ferramenta principal da

organização e da implementação das reformas educacionais.

Em virtude do dinamismo social, a centralidade da gestão deve estar atenta à

pluralidade das demandas e expectativas da formação. Diferenças e contradições

208 A questão respondida pelos coordenadores de curso foi a seguinte: 14 – Os representantes discentes têm

participação nas decisões a respeito do curso?(A) Sim, sempre; (B) Sim, na maioria delas; C) Sim, em algumas

delas;(D) Nunca. A opção “brancos” foi incluída para possibilitar análise das respostas (INEP, 2005, 2008, 2011,

grifo nosso).

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394

produzidas no interior da IES devem se voltar para o fortalecimento das relações inter e

intrainstitucionais para atender à formação dos diferentes perfis de estudantes.

Por meio da avaliação, produzem-se mudanças nos currículos, nas

metodologias de ensino, nos conceitos e práticas de formação, na gestão, nas estruturas

de poder, nos modelos institucionais, nas configurações do sistema educativo, nas

políticas e prioridades da pesquisa, nas noções de pertinência e responsabilidade social.

Enfim, tem a ver com as transformações desejadas não somente para a educação

superior propriamente dita, mas para a sociedade em geral, do presente e do futuro (p.

195).

Segundo Marx (2008), algumas abstrações podem entrar em confronto com a

ideologia, mas podem se explicar por meio de exemplos históricos. Para o autor, a

dificuldade

[...] só começa quando nos pomos a estudar e classificar essa matéria,

quer se trate de uma época passada ou do tempo presente, e analisá-la

realmente. A eliminação dessas dificuldades depende de premissas

que nos são impossíveis desenvolver aqui, pois resultam do estudo do

processo de vida real e da ação dos indivíduos de cada época (p. 21).

Nesse sentido, se um dos problemas pode estar situado no perfil de gestão do

coordenador, o tema precisa ser explorado. Os instrumentos de avaliação do Sinaes

ainda mantêm o foco na formação acadêmica do coordenador (titulação) e no tempo de

atuação em atividades de gestão, além do tempo de dedicação. Como estratégia de

transformação da realidade, é preciso avançar em novas formas de avaliar a habilidade

da gestão na condução das decisões. Novamente, cita-se que a orientação de criação do

NDE discutida no Capítulo 4 se coloca como forma de propiciar uma condução da

gestão do curso mais participativa e reflexiva.

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Gráfico 31 –Participação dos discentes nas decisões sobre o curso de Pedagogia– Brasil

(2005, 2008, 2011) Fonte: MEC/Inep/Daes (2014).

A análise do Questionário do Coordenador teve como objetivo obter

informações sobre o perfil dos coordenadores dos cursos de Pedagogia. Como sujeitos

da pesquisa, eles elevaram o potencial de informações da gestão dos cursos, trazendo

contribuições à pesquisa.

Essa participação garantiu o protagonismo dos coordenadores no processo de

avaliação, do qual eles são usuários e têm o conhecimento específico para promover

transformações. Dessa forma, a participação dos atores dos cursos de Pedagogia foi

reconhecida pela oportunidade de obter informações sobre o processo pedagógico e a

prática avaliativa e sobre a problematização com a realidade, sustentada pela visão

dialética do método.

A abordagem de investigação critico-dialética foi considerada para realizar a

análise e sistematizar os registros, as informações e as respostas dos questionários

organizados pelas dimensões/categorias. A partir das categorias analíticas e de

conteúdo, a análise dos dados envolveu reconhecer os princípios do Sinaes, a definição

de avaliação como processo formativo e a relação entre os resultados da avaliação e o

planejamento das políticas educacionais. Outro nível abordado foi o reconhecimento do

desempenho dos cursos de Pedagogia nos ciclos avaliativos do Sinaes e os reflexos do

0

5

10

15

20

25

30

35

(A) Sim,

sempre

(B) Sim, na

maioria delas

(C) Sim, em

algumas delas

(D) Nunca Brancos

2005

2008

2011

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396

uso dos resultados da avaliação na gestão acadêmica e institucional, com a finalidade de

promover melhoria e/ou de responder às solicitações regulatórias do Estado.

Recorrendo às ideias marxistas, essa visão pressupõe uma nova forma de

interpretar o mundo, não mais na abstração mental da consciência como no idealismo

hegeliano, mas na própria materialidade da realidade. Kosik (2002) esclarece que a

dialética

[...] não considera os produtos fixados, as configurações e os objetos,

todo o conjunto do mundo material reificado, como algo originário e

independente. Do mesmo modo como assim não considera o mundo

das representações e do pensamento comum, não os aceita sob o seu

aspecto imediato: submete-os a um exame em que as formas reificadas

do mundo objetivo e ideal se diluem, perdem a sua fixidez,

naturalidade e pretensa originalidade, para se mostrarem como

fenômenos derivados e mediatos, com sedimentos e produtos da

práxis social da humanidade (p. 21).

A análise de conteúdo209 foi uma metodologia utilizada para descrever e

interpretar o conteúdo de documentos e textos. Essa análise, na vertente qualitativa,

contribuiu para interpretar as informações à luz da perspectiva dialética e no contexto

histórico da ação. Articulada ao método materialista histórico-dialético, conduziu a uma

reinterpretação e compreensão dos significados desde sua forma mais particular até a

mais complexa. Ampliando a discussão, no que se refere ao uso da avaliação sob a ótica

da regulação e/ou da concepção formativa e indutora de qualidade da educação superior,

analisaram-se, a seguir, as informações dos resultados da avaliação in loco dos cursos

de Pedagogia. Registra-se que foram utilizados dados públicos disponíveis no Sistema

e-MEC e dados reservados, depois de consulta formal ao Inep.210

209 Toda a análise de conteúdo deve ser estruturada através de comparações textuais (FRANCO, 2008). Essa

possibilidade de relação comparativa, para o estudo, tornou-se fundamental, haja vista que incidiu sobre a

proposta de analisar um conjunto de informações da avaliação dos cursos de Pedagogia que são resultantes de

etapas distintas da avaliação. Todas essas informações: resultados de desempenho, indicadores, questionários,

relatórios e dados do Censo da Educação Superior, entre outros, foram importantes para contribuir na

compreensão da qualidade do curso. Nessa perspectiva, destaca-se a etapa de exploração do material, com o

objetivo de analisar os documentos á luz das categorias analítica e de conteúdo. Por fim, é realizada a etapa de

tratamento dos dados e interpretação, em que os dados passam a ter significado e validade perante o objeto de

pesquisa. Essas informações confrontadas com outras já existentes possibilitam comparações e generalizações

(GIL, 2008). 210 O Inep tem disponibilizado aos pesquisadores as informações sobre avaliação do Sinaes, com consulta formal e

assinatura de sigilo das informações, ficando desautorizado o pesquisador de revelar a identidade das IES, cursos

e estudantes pesquisados.

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397

5.4. A AVALIAÇÃO IN LOCO: UM OLHAR SOBREOS CURSOS DE PEDAGOGIA

Os instrumentos utilizados para a coleta de dados da pesquisa tornou complexo

o processo de análise, principalmente pelas articulações que precisaram ser feitas para

garantir a coesão dos resultados das avaliações externas. As informações contidas nos

relatórios da avaliação in loco são destacadas pela relevância que assumem para a

compreensão da qualidade da educação superior, tendo sido saturadas, a fim de obter

uma articulação entre os demais elementos do Sinaes. Essas informações, associadas

aos registros dos documentos oficiais, se tornaram elementos importantes ao longo da

construção da pesquisa para agregar valor ao Sinaes como uma política pública de

incentivo à qualidade da educação.

Dessa forma, nesta parte da pesquisa, analisaram-se mais detalhadamente as

informações sobre os processos de avaliação in loco ocorridos a partir do ano de 2007,

disponibilizados via sistema e-MEC. Esse período limitou a informação a dois ciclos

avaliativos (2º ciclo: 2007-2009 e 3º ciclo: 2010-2012). A análise documental realizada,

referente às 25 IES selecionadas, revelou que: i) seis IES delasnão têm registro de

processo de avaliação in loco de curso de Pedagogia no e-MEC e ii) as outras 19 IES

possuem registro de processos de renovação de reconhecimento de cursos de Pedagogia

no e-MEC.

Assim, a análise das informações das seis IES no e-MEC dispõe que: i) duas

IES estaduais e duas IES municipais não possuem cadastro de curso de Pedagogia; ii)

uma IES municipal e uma IES estadual têm cadastro da oferta dos cursos de Pedagogia.

Quanto às 19 IES com processos de protocolizados no e-MEC, verificou-se

que: i) cinco cursos (26,3%) tiveram avaliação in loco no 2º ciclo avaliativo e um no 3º;

ii) nove cursos de Pedagogia (47,4%) obtiveram dispensa de visita com subsídio no

CPC satisfatório dos cursos no 2º e no 3º ciclo avaliativo; e iii) cinco cursos (26,3%),

apresentaram registro de cancelamentos/arquivamentos dos processos protocolizados

sem ato regulatório correspondente aos dois ciclos avaliativos.

Com essa configuração, observa-se que a avaliação in loco, no decorrer dos

ciclos avaliativos do Sinaes, teve pouca representatividade como subsídio para a

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regulação e, assim, conclui-se pela reduzida possibilidade de evidenciar seu aspecto

formativo e indutor de qualidade. Da mesma forma, a ausência de regularidade da

avaliação corroborou o não uso dos resultados da avaliação, e os cancelamentos e/ou

arquivamentos ocorridos nos processos avaliativos não tiveram nenhum efeito

regulatório.

Na sequência, os gráficos construídos a partir das informações extraídas do e-

MEC, com dados fornecidos pelo Inep, possibilitaram uma reflexão crítica acerca do

quanto o CPC, que, de certo modo, substitui a avaliação in loco, pode incidir sobre a

tomada de decisão da regulação e na gestão dos cursos.

A partir dos dados dos cinco cursos de Pedagogia que tiveram avaliação in loco

no 2º e no 3º ciclo avaliativo do Sinaes, pode-se fazer uma análise do fluxo dos

processos. Como não havia calendário regulatório, a protocolização dos processos no e-

MEC ocorreu em diferentes datas: i) um processo foi protocolizado no ano de 2007; ii)

dois processos em 2008; e iii) dois em 2009.

Considerando, portanto, que o tempo entre o início do processo e a emissão da

Portaria de Renovação de Reconhecimento no 2º ciclo avaliativo foi em média de três

anos, caracteriza-se o fluxo da seguinte forma: um ano para a análise documental, mais

um ano para a realização da visita e mais um ano para a emissão do ato regulatório.

Destaca-se que alguns processos levaram de quatro a cinco anos para sua finalização

(IES 3 e IES 5), descumprindo o prazo do ciclo avaliativo de três anos.

No 3º ciclo avaliativo do Sinaes, observou-se uma evidente agilização dos

processos na fase da regulação, o que concorreu para o cumprimento do prazo do ciclo

avaliativo. As portarias de renovação de reconhecimento foram publicadas no mesmo

ano de protocolização do processo, todas abertas de ofício pela Seres, depois de

publicação do CPC satisfatório e com imediata publicação do ato regulatório. Dos

cursos que tiveram avaliação in loco no 2º ciclo avaliativo, 80% foram dispensados da

visita no 3º ciclo avaliativo do Sinaes.

Essa parece ser uma grande contradição do sistema, haja vista que a relação

entre avaliação e regulação se baseou no ato regulatório e, para isso, foi suficiente o

indicador de qualidade satisfatório. Entretanto, o curso não dispensado da visita, que

deveria ter seu processo aberto de oficio para fins de avaliação in loco, teve o processo

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protocolizado pela IES somente um ano depois da divulgação do CPC. A visita de

avaliação foi realizada no mesmo ano do protocolo do processo, entretanto ficou sem

decisão da regulação até o ano seguinte.

A aplicação da dispensa da visita parece ser controversa, pois a legislação

vigente sobre o Sinaes prevê que todos os cursos sejam visitados a cada três anos.

Entretanto, dado o grande número de cursos no país, isso exigiria uma estrutura muito

maior que a disponível para dar sequência a todos os processos avaliativos. Ao

dispensar a visita dos cursos com CPC 3, 4 e 5, viabilizam-se as avaliações in loco

apenas para os cursos com indicativo de redução de qualidade. O indicador

insatisfatório para os cursos que são visitados serve de orientação aos avaliadores, na

coerência entre os resultados atribuídos ao indicador prévio e a avaliação in loco.

Entretanto, por ser um indicador composto, o CPC recebe a crítica de juntar

coisas muito diferentes, de se concentrar exclusivamente no Enade e de conduzir à

classificação de cursos e IES, secundarizando a avaliação in loco. Dessa forma, os

índices que compõem o CPC podem ser vistos como medidas imperfeitas de uma

mesma coisa: a contribuição do curso para a formação dos seus alunos (INEP, 2009).

Os critérios de dispensa da avaliação in loco,211 em uma rápida análise,

oferecem um ganho considerável em relação à agilidade dos trâmites dos pedidos de

autorização dos cursos de graduação no sistema e-MEC, pois a quantidade das

avaliações a serem realizadas anualmente é muito elevada. Por outro lado, essa

agilidade deveria se estender também aos atos regulatórios dos cursos que tiveram

avaliação in loco, que, conforme análise, tiveram morosidade na tomada de decisão pela

regulação, o que impacta a mobilização da gestão para dar sequência às ações de

melhoria, antes do próximo ciclo avaliativo do Sinaes.

Entretanto, em que pesem os motivos do Estado para a dispensa da avaliação in

loco, as IES parecem comemorar a possibilidade de não receberem as comissões de

avaliadores, o que denota desconhecimento das possibilidades de uso das informações

da avaliação. A justificativa das IES se refere, muitas vezes, à demora para finalizar o

processo de avaliação, em decorrência de mais uma fase processual a ser decorrida após

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400

a avaliação, a da CTAA, caso se realize a impugnação dos relatórios de avaliação pelas

IES ou pela Seres.

No âmbito legal, para a efetivação da dispensa, aumentou o número de Notas

Técnicas e Instruções Normativas emanadas do setor de regulação, com força de lei e

coexistindo com outras leis maiores em nível hierárquico, colocando em dúvida até

mesmo a validade do processo regulatório. Ressalta-se a incompatibilidade da dispensa

de visita com o disposto na Lei do Sinaes, no seu art. 4º, § 1º, que define que: “a

avaliação dos cursos de graduação utilizará procedimentos e instrumentos

diversificados, dentre os quais obrigatoriamente as visitas por comissões de

especialistas das respectivas áreas do conhecimento” (BRASIL, 2004). Nesse sentido, a

regulação deveria definir outros instrumentos para agregar aos resultados do Sinaes,

mas não poderia prescindir da avaliação in loco.

Outro aspecto importante a ser analisado é a implicação financeira que traz a

decisão pela dispensa de avaliação, o que beneficia a própria IES. De certo modo, há

uma desoneração de pagamento e um benefício, maior ou menor, a depender do número

de avaliações dispensadas por IES.212

211 A Instrução Normativa nº 4, de 31 de maio de 2013, editada pela Seres, estabelece os critérios para a dispensa de

visita de avaliação in loco do Inep e do padrão decisório para os pedidos de autorização de cursos de graduação

na modalidade presencial ofertados por instituições de ensino superior (BRASIL, 2013). 212 A Lei nº 10.870, de 19 de maio de 2004, para o custeio das avaliações in loco das instituições de educação

superior e dos cursos de graduação.

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Gráfico 32 – Cursos de Pedagogia avaliados in loco no 2º e 3º ciclo avaliativo do Sinaes

(2008, 2012) Fonte: MEC/Inep/Daes, Sistema e-MEC (2014).

Sabe-se que os atos administrativos são discricionários e, portanto, não

requerem a realização de juízo de conveniência e oportunidade. Nesse caso, depois da

emissão de portarias que regulamentam a dispensa, se a IES atendeu a todos os

requisitos estabelecidos para receber o benefício, passa a ser obrigatória a garantia da

ação como direito. Os cursos de Pedagogia, ao serem beneficiados com a dispensa da

2009

2007

2009

2008 2008

2010

2008

2010 2010 2010

2011

2009

2012

2010

2012

IES 1 IES 2 IES 3 IES 4 IES 5

Ano do processo 2º ciclo Ano da visita Ano da Portaria de RR

2013 2011 2012 2012 20122013

0 0 0 0

2012 2012 2012 2012

IES 1 IES 2 IES 3 IES 4 IES 5

Ano do processo 3º ciclo Ano da visita Ano da Portaria de RR

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visita, parecem ter sido impactados negativamente pela falta de um olhar mais preciso

que pudesse orientar para a melhoria da qualidade.

A principal medida, nesse caso, recai sobre a implementação das DCN. Como

avaliar se a proposta pedagógica dos cursos atendeu às DCN de 2006, se nesse período

o número de cursos avaliados in loco foi reduzido? É possível fazer a análise da

aplicação das DCN por meio do Conceito Enade e do CPC? Tal medida sinaliza a

necessidade de se adotar mecanismos de avaliação da proposta pedagógica dos cursos e

da Lei do Sinaes.

Para Dias Sobrinho (2010), o conjunto de políticas educacionais e de avaliação

no Brasil, passou a necessitar de um aparato legal para dar sustentação ao processo de

expansão. Nesse sentido, o autor ressalta que

[...] a racionalidade economicista e tecnocrática que se imprimiu à

avaliação da Educação Superior brasileira também se coaduna com as

determinações de organismos e agências multilaterais. A avaliação

deveria ser isenta de valores e exercer, sobretudo, função

controladora. Daí o privilégio quase exclusivo de sua dimensão

técnica e objetiva, com a finalidade de informar e orientar tanto a

administração central como os usuários e consumidores do sistema

educacional superior. Informações objetivas e supostamente não

contaminadas por subjetivismos e interesses seriam fundamentais para

a livre escolha dos clientes (p. 202).

Não obstante as políticas atuais, de modo a perseguir o objetivo de melhorar a

qualidade, é preciso contextualizar no período histórico os vários significados já obtidos

da relação entre avaliação e regulação.

No Gráfico 33, analisaram-se as informações dos nove cursos de Pedagogia

que foram dispensados da avaliação in loco respaldados no CPC satisfatório dos cursos

referentes aos anos de 2008 e 2011. Observou-se que, do total dos nove cursos

dispensados: i) três cursos das IES (6, 12, 14) tiveram protocolos abertos em 2011, a

portaria de renovação de reconhecimento do 2º ciclo publicada em 2012 e novo

processo do 3º ciclo aberto em 2013.

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403

Desses cursos, apenas o de uma IES (12) teve avaliação in loco no ano de 2014

e ainda não obteve a portaria do 3º ciclo publicada. A visita a esse curso decorre de um

processo de supervisão instaurado pela Seres; e ii) seis cursos das IES (7, 8, 9, 10, 11 e

13) foram dispensados da visita de avaliação, porém, no período correspondente a dois

ciclos avaliativos, registram somente um protocolo e, portanto, apenas uma portaria de

renovação de reconhecimento, referente ao 2º ou 3º ciclo avaliativo do Sinaes. Esses

dados mostram que a simetria do ato regulatório para os cursos dispensados melhora no

3º ciclo avaliativo, o que não ocorre para os cursos que são avaliados in loco, que

continuam sem orientação de prazo.

Segundo Ristoff e Giolo (2006), a criação do Sinaes reestruturou a avaliação e

significou, portanto,

[...] construir um sistema, com novos instrumentos, em torno de uma

concepção que permitisse superar a fragmentação e integrar

organicamente os instrumentos de avaliação, os espaços avaliativos

dentro do próprio Ministério da Educação – MEC (p. 198).

Nesse sentido, é importante enfatizar que a ideia de integração dos

instrumentos de avaliação talvez tenha sido a grande diferença incorporada nos modelos

anteriores de avaliação. O Sinaes pressupõe uma concepção que integre as

metodologias, os momentos, os espaços e os instrumentos de avaliação e de informação.

Porém, não é o que revelam os dados analisados. Ao contrário, tem-se fluxos

desarticulados e falta clareza sobre as avaliações realizadas em cada ciclo avaliativo. A

responsabilidade por essa situação pode ser atribuída ao Estado, em que segundo a

interpretação de Marx (2008), “as relações dos homens por todos os seus atos e gestos,

suas cadeias e seus limites são produtos de sua consciência, coerentes consigo próprios”

(p. 9).

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Gráfico 33 – Cursos de Pedagogia dispensados da avaliação in loco, no 2º e no 3º ciclo

avaliativo do Sinaes (2008, 2012) Fonte: MEC/Inep/Daes, Sistema e-MEC (2014).

Quanto aos cinco cursos de Pedagogia que cancelaram ou arquivaram

processos de avaliação protocolizados no e-MEC, por um ciclo avaliativo ou

repetidamente no 3º ciclo avaliativo do Sinaes, pesquisa-se a motivação e/ou os efeitos

desse ato que pode colocar o curso em situação de irregularidade.

Essa atitude parece reiterar o descompromisso da gestão das IES e do Estado

com a importância da relação entre os processos de avaliação e regulação para a

melhoria da qualidade. Nessa situação, gera-se um entendimento de que é possível

prescindir da avaliação e também da regulação, tendo igual continuidade da oferta do

curso. Essa é uma das interpretações sobre o uso dos resultados da avaliação ou não uso

destes, com base na concepção de avaliação e de regulação dos atores institucionais.

Na perspectiva marxista, esse pensamento tem a ver com a possibilidade de

transformação da realidade a partir da análise das condições históricas do processo de

avaliação. Entretanto, a realidade não se revela naturalmente, é preciso desconstruí-la

para depois pensar em ações possíveis.

Todavia, a avaliação como uma política pública tem de participar

propositivamente do cenário educacional, com compromisso coletivo de emancipação

11

13

87

89 9

1213

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0 0 0 0 0 0 0 0

14

0 0 0

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0

1110 10

1112 12

0

11 1112

IES 6 IES 6 IES 7 IES 8 IES 9 IES 10 IES 11 IES 12 IES 12 IES 13 IES 14 IES 14

Ano do processo 2º e 3º ciclo Ano da visita Ano da Portaria de RR

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405

das IES, orientadas pelo ponto de vista da totalidade até aqui defendido (MARX, 2009).

Sendo assim, as alternativas a serem tecidas não se resumem a um conjunto de

procedimentos determinados a priori, mas são geradas no movimento do real,

participando de discussões sobre a qualidade da educação superior e repensando o papel

de cada um dos atores. A perspectiva real deste estudo é repensar o papel da avaliação

nos ciclos avaliativos, se para regular e/ou para induzir à qualidade.

Gráfico 34 – Processos de cursos de Pedagogia arquivados/cancelados no 2º e no 3º ciclo

avaliativo do Sinaes (2008, 2012) Fonte: MEC/Inep/Daes, Sistema e-MEC (2014).

Estas análises conduziram a uma compreensão de que os três elementos do

Sinaes (Enade, avaliação in loco de cursos e avaliação institucional) encontram-se de

forma desagregada na implementação do sistema e se admite até que um dos processos

possa estar sobreposto aos demais.Ao analisar essa estrutura do Sinaes, questiona-se o

seu verdadeiro sentido. Ele se caracteriza pelo caráter formativo, comprometido com a

transformação acadêmica e emancipatória e/ou está mais vinculado ao controle e à

regulação, centrada na política de resultados? A percepção até aqui é que as duas

concepções são estruturantes da política de educação superior, seja pela expectativa da

ação do Estado ou pela possibilidade de “conhecimento, interpretação, atribuição de

juízos de valor, organização e instaurações de ações e metas para melhorar o

2008 20122008 20102007 2009 2012

Ano do processo 2º

ciclo

Ano do processo 3º

ciclo

IES 15 IES 16 IES 17 IES 18 IES 19

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cumprimento das finalidades públicas e sociais das instituições”. (DIAS SOBRINHO;

RISTOFF, 2003b, p. 43).

Diferentemente da avaliação in loco, todos os 25 cursos pesquisados têm

conceito Enade, assim distribuídos nos ciclos avaliativos: 18 deles (72%) têm conceito

Enade nos três ciclos avaliativos, 23 cursos (92%) têm conceito Enade em dois ciclos

avaliativos e dois cursos (8%) têm conceito Enade em apenas um ciclo avaliativo. Cabe

ressaltar que os relatórios de avaliação in loco podem trazer para as IES elementos de

valorização do projeto pedagógico, motivando a comunidade acadêmica nos processos

de melhoria contínua. Nesse contexto, as DCN e o PPC assumem prioridade na agenda

dos cursos de graduação. Porém, não basta terem definidas as DCN, é necessário

implementá-las; não basta elaborar PPC de modo coletivo, de forma crítica, reflexiva e

participativa; é necessário ele ter aderência às DCN; não basta criar novos cursos, é

necessário avaliá-los quanto a qualidade da oferta.

A organização didático-pedagógica é uma das dimensões da avaliação dos

cursos de graduação extremamente importante. Portanto, assim como nos outros

instrumentos de avaliação do Sinaes analisados, observou-se o que a comissão de

avaliadores destaca para essa dimensão no relatório de um curso dos cursos de

Pedagogia avaliados no 2º e no 3º ciclo avaliativo:

Quanto à organização didático-pedagógica, é pertinente registrar que

todos os itens foram avaliados positivamente. O Estágio

Supervisionado encontra-se regulamentado e vem sendo

implementado na forma da Lei; os processos de avaliação da

aprendizagem dos alunos em disciplinas e atividades encontram-se

regulamentados na forma do Regimento da IES; os processos de

avaliação do PPC são objeto de estudo dos gestores do curso e

docentes. As atividades de Iniciação Científica estão sendo

implementadas e a elaboração do TCC é componente obrigatório para

a conclusão do curso. A matriz curricular cobra uma revisão formal:

sugere-se que cada uma das habilitações seja apresentada com sua

matriz curricular específica, acompanhada das respectivas ementas

de disciplinas e das correspondentes bibliografias, básica e

complementar. Quanto à dimensão corpo docente, a constituição é

adequada, no que diz respeito à titulação, regime de trabalho, bem

como orientação de atividades acadêmicas de ensino (Relatório de

avaliação do Sinaes, E-MEC, 2014, grifos nossos).

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407

Com base no relato dos avaliadores, a qualidade é revelada pela aderência às

DCN dos cursos de Pedagogia. Nessa análise, percebe-se a influência direta ou indireta

de vários fatores, entre eles: i) a capacidade do coordenador de curso, que é quem

organiza o material a ser avaliado; ii) o olhar dos avaliadores, carregado de concepções

da área e com grande diversidade de pensamento sobre o que é importante para o curso;

iii) a concepção de avaliação que cada um dos atores institucionais possui; iv) a

capacidade de sustentação de uma cultura de avaliação que não se esgota no período da

visita. Por esse prisma, deve-se levar em conta a diversidade do olhar do avaliador

quando registra suas impressões no relatório, posto que a alteração das DCN em 2006

alteram significativamente o perfil do egresso dos cursos de Pedagogia e os currículos

precisaram ser alterados para atender a essa prerrogativa.

Outro trecho extraído dos relatórios de avaliação in loco indica a necessária

reflexão da IES sobre os resultados da avaliação, em especial, a sua infraestrutura para o

desenvolvimento do projeto pedagógico do curso. Destaca-se nesta análise o caráter

formativo da avaliação, na medida em que orientou para as mudanças estruturais nos

aspectos referentes à infraestrutura dos laboratórios especializados, bibliotecas e outros

espaços de trabalho docente e discente.

A IES disponibiliza laboratórios de informática, laboratórios

especializados nas áreas específicas e laboratórios de aprendizagem

que atendem às necessidades do Curso, porém a brinquedoteca ainda

está em fase de construção. Dos espaços identificados, verificou-se a

existência de gabinete de trabalho para cada 3 professores, sala para a

coordenação do curso e NDE, sala de reuniões para os docentes e

auditórios. Na Biblioteca verificou-se que o acervo destinado ao curso

atende de forma excelente tanto na bibliografia básica como

complementar referidas nos programas das disciplinas. Em relação à

assinatura de revistas e periódicos especializados, indexados e

correntes, a IES informou que não dispõe de assinatura porque a

verba recebida não permite a aquisição destes periódicos; contudo,

no que se refere à forma informatizada, o curso dispõe de acesso ao

portal da Capes. Em relação à infraestrutura, a Biblioteca está

funcionando, provisoriamente, em um espaço pequeno, mas que não

prejudica o acesso dos alunos. Os livros estão disponíveis em estantes

móveis que facilitam o acesso e o manuseio (as obras de construção

do prédio da biblioteca estão bem avançadas) (RELATÓRIO DE

AVALIAÇÃO DE CURSO, e-MEC, 2014, grifos nossos).

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408

Configura-se, portanto, que os relatórios de avaliação, na sua redação

minuciosa sobre a qualidade do curso, podem trazer mais significado para o trabalho de

gestão da IES. A avaliação realizada por docentes da educação superior e graduados na

área a ser avaliada tem a finalidade essencial de cotejar os projetos pedagógicos dos

cursos de Pedagogia com as DCN e apresentar um diagnóstico da realidade do curso

para aqueles que implementam o PPC.

Disto resulta a importância da capacitação do avaliador para desenvolver o

compromisso de refletir sobre as mudanças paradigmáticas da área. Dessa forma, a

avaliação pode: i) tornar visíveis contradições e desafios; ii) construir possibilidades de

superação das dificuldades junto às IES; iii) fazer valer a concepção formativa da

avaliação.Nesse contexto, as estratégias e técnicas utilizadas pela comissão de

avaliadores possibilitam encontrar os fatos e as evidências reais para se emitir resultados

de forma coerente e justa. Um dos relatórios traz a seguinte descrição da atividade

avaliativa:

A justificativa apresentada pelo curso é procedente tendo como base

os documentos apresentados: Plano de Desenvolvimento Institucional,

Projeto Pedagógico do Curso e Relatório da CPA, que comprovam o

comprometimento dos docentes na construção e no aperfeiçoamento

da estrutura curricular vigente. As entrevistas havidas com o reitor,

com a Pró-reitora acadêmica, a coordenadora do curso, secretária

acadêmica, bibliotecária, dentre outros funcionários, alunos e

professores possibilitou o conhecimento do desenvolvimento

processual da IES e do curso, uma vez que esta Comissão de

Avaliação pôde entender e perceber o funcionamento efetivo da IES e,

em particular, o do curso de Pedagogia, objeto desta avaliação

(RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE CURSO, e-MEC, 2014).

Os relatórios de avaliação in loco dos cursos, entre os elementos do Sinaes, é o

que melhor expressa mudanças que decorrem de um processo avaliativo anterior. Por

isso não constitui tarefa simples e deve ser objeto de capacitação permanente dos

avaliadores (Inep) e dos avaliados (IES). No caso dos cursos de Pedagogia, isso implica

atenção aos significados das concepções em educação que se pretende realizar. Nesse

sentido, o esforço de apropriação desses conceitos é processual e submetido a conflitos,

fruto de um paradigma de qualidade da formação docente, em disputa estratégica para a

melhoria da educação básica.

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Outro relatório de avaliação de curso de Pedagogia indicou a necessidade de a

gestão realizar investimentos na infraestrutura da biblioteca. Assim, por mais que esses

indicadores possibilitem uma reflexão interna, precisam estar associados aos processos

de autoavaliação da IES, a fim de promover a realização de ações de melhoria da

qualidade.

Os laboratórios de informática apresentam adequada capacidade para

atender à demanda dos alunos do curso. Há uma brinquedoteca, um

espaço muito interessante que os alunos utilizam para desenvolverem

vários projetos [...], além dos professores das disciplinas de

fundamentos metodológicos utilizarem o espaço para aulas práticas.

Mesmo necessitando de alguma revisão no que tange a realocação

dos livros entre as disciplinas, para melhor se adequarem aos

conteúdos e ementas das mesmas, os livros existentes na bibliografia

básica, na sua totalidade, não contemplam os programas de todas as

disciplinas do curso; na proporção de um exemplar para 8 alunos,

não existem na quantidade suficiente de 3 títulos em cada disciplina

[...] (RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO CURSO, e-MEC, 2014,

grifo nosso).

Em relação à avaliação in loco dos cursos, no período de 2005 a 2011, foram

localizados 13 relatórios, sendo que apenas um apresentou CI insatisfatório.

Considerando-se que essa avaliação ocorre para fins de recredenciamento das IES, a

depender do status de cada organização acadêmica, poder-se-ia admitir que, no período

de sete anos (2005 a 2011), existiram IES com prazos vencidos dos atos regulatórios.

Somente essa informação justificaria terem sido avaliadas apenas 52% das IES

pesquisadas.

A questão da dialética marxista coloca a análise do objeto como ponto de

partida para a explicação da realidade concreta. Considerando a sua finalidade prática,

foi capaz de orientar a elaboração deste estudo na sua totalidade, mesmo com mudanças

que foram necessárias durante o processo de análise da base empírica. Dessa forma,

proporcionou sustentação necessária para a sistematização teórica do Sinaes, oferecendo

uma perspectiva para os caminhos a serem seguidos para construir o conhecimento

sobre o problema que motivou o presente estudo.

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Gráfico 35 – Quantidade de processos de cursos de Pedagogia avaliados no Enade e na

avaliação in loco e processos de avaliação institucional nos ciclos avaliativos do Sinaes

(2005-2012) Fonte: MEC/Inep/Daes, sistema e-MEC (2014).

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Avaliação de curso - Enade

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Cursos de Pedagogia avaliados nas IES

Avaliação de Curso - CC

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IES avaliadas

Avaliação Institucional - CI

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Em síntese, o conhecimento sobre a relação entre avaliação e regulação se

afirma nas situações da realidade que se pretende conhecer, embora se especificando as

partes que compõem ambos os processos, o fazem como elementos do sistema de

relações em que se totalizam e unificam, e em função dele. É o que a visão marxista

denomina “a unidade na diversidade”, e entende por “concreto”.

A variedade de dados e informações constantes nos gráficos e tabelas

construídas no decorrer desta investigação possibilitou traçar o panorama dos cursos de

Pedagogia selecionados e caracterizá-los à luz das categorias analíticas e de conteúdo do

método do materialismo histórico-dialético. Nesse sentido, os dados foram se

constituindo de relevância e significado, possibilitando alcançar o objetivo de concluir

sobre as reais finalidades da avaliação: se para regular ou se para induzir à qualidade.

A análise comparativa dos dados dos cursos de Pedagogia, por meio dos

elementos que integram o sistema de avaliação, em relação às dimensões do

instrumento de avaliação in loco (organização didático pedagógica, corpo docente e

infraestrutura) serviu para mensurar o nível de qualidade dos cursos.

Investigou-se, portanto, nesta parte do capítulo e a partir da análise documental

dos relatórios de avaliação, se a avaliação do Sinaes tem servido para subsidiar a gestão

acadêmica dos cursos ou se constituído como mero preciosismo do sistema. É, portanto,

imprescindível relacionar o processo de avaliação com a visão regulatória do Estado e

analisar tudo no conjunto das demais informações dos instrumentos do Sinaes.

Espera-se, portanto, que essas questões possam gerar estudos mais criteriosos e

completos, pois as análises não se esgotam nesta pesquisa. A intenção é gerar subsídios

para que a avaliação se constitua eixo norteador da qualidade do curso, em detrimento

do uso para fins de fiscalização do Estado, que espera ter controle sobre os resultados

das avaliações. Nas palavras de Dias Sobrinho (2002):

As avaliações praticadas pelos Estados avaliadores são nitidamente

instrumentos de poder. [...] O que mais importa é que os rendimentos

possam ser comparados, permitam que as instituições e os indivíduos

sejam classificados hierarquicamente, segundo critérios objetivos, [...]

para instrumentar o exercício do poder controlador do governo. (p.

175-176).

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Reduzindo a ação regulatória do Estado, que acaba por introjetar uma ideia de

padrão mínimo, que restringe o potencial de investimentos necessários para

proporcionar avanços aos cursos de Pedagogia, atende-se ao objetivo para o qual foi

proposto o Sinaes.

5.5. CONCLUSÃO

Neste capítulo, o Sinaes teve seu significado ampliado, por envolver

informações da avaliação do conjunto dos seus elementos (instituição, curso e

estudante). O processo de análise e tratamento dos dados esteve articulado com as

informações dos documentos oficiais do Sinaes, entendidos como: o Questionário do

Estudante e o Questionário do Coordenador do Enade, dos cursos de Pedagogia

avaliados e dos relatórios produzidos pelas comissões de avaliação in loco.213

Desta análise, pode-se concluir que o Sinaes: i) é dinâmico porque se adapta às

mudanças ocorridas nas políticas de educação superior; ii) possui uma agenda

ininterrupta de avaliações, conforme previsto nas bases legais; entretanto, o volume de

avaliações está mais sujeito aos interesses da regulação do que aos princípios

constitutivos do sistema; iii) apoia-se no uso dos indicadores de qualidade (CPC e IGC)

e dispensa as informações dos instrumentos de avaliação; iv) tem pouca incidência sobre

as medidas de supervisão, pois estas se decidem mais ao nível político, em que pese a

lei determinar que a avaliação deve ser subsídio; v) não tem orientado os protocolos de

compromisso (PC), pois, no ciclo avaliativo do Sinaes (2008-2010), estes ocorreram

antes da avaliação in loco e de formação individual, obrigando os cursos a promoverem

213 De acordo com Franco (2008), a análise de conteúdo pode ser entendida como um conjunto de técnicas de análise

das comunicações visando obter: “por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das

mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às

condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens” (p. 24).

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melhorias sem diagnóstico pontual;vi) tem sido impactado pela morosidade processual,

dificultando a implementação do ciclo avaliativo.214

Discutindo implicações significativas nos cursos de Pedagogia, Pimenta (1998)

tem se preocupado em refletir sobre seus fundamentos. Assim, a educação, enquanto

prática social humana, é

[...] um fenômeno móvel, histórico, inconcluso, que não pode ser

captado na sua integralidade, senão na sua dialeticidade. Ela é

transformada pelos sujeitos da investigação que se transformam por

ela na sua prática social. Cabe aí, na práxis do educador, realizar o

estudo sistemático, específico, vigoroso, dessa prática social, como

forma de se interferir consistentemente nessa prática social da

educação, cuja finalidade é a humanização dos homens. A esse estudo

sistemático denomina pedagogia, ciência que tem na prática da

educação razão de ser ela parte dos fenômenos educativos para a eles

retornar (p. 53).

Nessa perspectiva, existe uma interdependência determinada pela mediação

dos sujeitos, que, por sua vez, são agentes de revelação das condições sociais existentes,

são os determinantes dos critérios da teoria e prática. A formação docente é

compreendida como espaço de análise, reflexão, promoção e explicitação das culturas,

da formação e da produção de sentidos e de desenvolvimento da historicidade social. Na

LDBEN nº 9.394/96 constituem-se nacionalmente as bases de princípios articulatórios

da formação docente e da atuação dos gestores: flexibilidade, autonomia e

descentralização.

Nesse contexto, conclui-se que não é possível dimensionar quais os cursos de

Pedagogia deveriam ter sido submetidos a avaliações previstas nos ciclos avaliativos,

dada a forma voluntária de protocolização dos processos até 2012.215 Esse foi um fator

de fragilidade encontrado na pesquisa, pois muitos cursos que deveriam ter sido

avaliados não o foram e podem ter ficado à margem do sistema e-MEC, o que

214 Somente depois de anunciadas às medidas de supervisão é que a avaliação se torna necessária com a finalidade de

comprovar o atendimento aos quesitos previstos na decisão regulatória (ex. determinação de instalação de

supervisão em todos os cursos de Pedagogia, no ano de 2008). 215 A Portaria normativa nº 1, de 25 de janeiro de 2013, estabeleceu o Calendário 2013 de abertura do protocolo de

ingresso de processos regulatórios no sistema e-MEC (BRASIL, 2013).

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impossibilita estimar a capacidade operacional do Sinaes em relação ao fluxo da

regulação.216

O estudo possibilitou compreender, ainda, a relação estabelecida entre a

avaliação dos cursos com base em indicadores de qualidade e a respectiva importância

para a gestão das IES e do Estado. Entre as discussões políticas, acadêmicas e

institucionais promovidas pelas instituições, teve destaque a preocupação com o nível

de engajamento dos estudantes da educação superior. Essas conclusões serviram para

nortear a pesquisa, que, a partir dos seus resultados, afirmou a legitimidade do Sinaes,

por meio do uso de seus indicadores e reconhecimento dos seus resultados para a

proposição de ações de melhoria pelas instituições. Na medida em que as IES se

apropriam dos indicadores de avaliação como referenciais da gestão, investem em

transparência e visibilidade das ações educacionais.

Dessa forma, destaca-se que o desempenho dos cursos de Pedagogia nos ciclos

avaliativos do Sinaes, sob a lógica indutora de qualidade, deveria evidenciar práticas de

gestão que pudessem substituir a relação existente entre o uso da avaliação seletiva por

avaliar, visando a melhorias. Evidências encontradas na pesquisa, da existência de uma

concepção de avaliação voltada ao controle e não à melhoria da qualidade, indicam o

distanciamento dos princípios do Sinaes.

Nessa discussão, convém ressaltar o contexto apontado por Afonso (2005) de

que “o Estado vem adotando um ethos competitivo, neodarwinista, passando a admitir a

lógica do mercado, através da importação para o domínio público de modelos de gestão

privada, com ênfase nos resultados ou produtos dos sistemas educativos” (p. 49). Um

dos desdobramentos desse pensamento é que, na prática, a avaliação pode estar sendo

usada como um instrumento de controle da qualidade. Esse reconhecimento foi

fundamental para diferenciar, nos cursos de Pedagogia pesquisados, os processos de

avaliação realizados exclusivamente para atender a pressupostos de regulação daqueles

que se efetivaram com o objetivo de promover a indução de melhorias no curso.

216 No ciclo avaliativo 2008-2010, os PC foram firmados com base no CPC e não na avaliação in loco.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo geral do estudo consiste em analisar em que medida o Sinaes tem

preconizado sua característica de induzir à qualidade ou se, de modo contrário, vem se

institucionalizando como forma de poder do Estado na função precípua de regular o

sistema federal de educação superior.

A Lei nº 10.861, de 14 de abril de 2004 (BRASIL, 2004), que instituiu o

Sinaes, investe no entendimento de educação como bem público e direito da população

e, portanto, compreende a avaliação como uma prática de gestão formativa e

emancipatória.

Nesse contexto, o acompanhamento da qualidade dos cursos, no âmbito do

Sinaes, pode ser entendido como uma política pública de Estado, já que os cursos de

graduação são avaliados periodicamente para a obtenção dos atos regulatórios de

autorização, reconhecimento e renovação de reconhecimento, e seus indicadores têm

potencial para obter informações que expressam a qualidade da oferta. Do ponto de

vista da regulação, cada um desses atos tem finalidade específica, assim como os

indicadores dos instrumentos de avaliação possuem critérios que dão sustentação à

tomada de decisão pelo MEC.

A avaliação para fins de autorização antecede a abertura de um curso e a

avaliação de reconhecimento do curso ocorre antes da formatura da primeira turma do

curso e, por isso, podem ser considerados atos de entrada no sistema, pois se tiverem

avaliação insatisfatória poderão não obter o ato regulatório para a continuidade da

oferta. Entretanto, a avaliação para fins de renovação de reconhecimento é realizada

para cursos reconhecidos e segue o calendário trienal do ciclo avaliativo do Sinaes,

constituindo-se como um ato de permanência no sistema. Portanto, o ato de renovação

de reconhecimento deveria permitir realizar o acompanhamento da qualidade do curso

no sistema (BRASIL, 2010).

Nesse cenário, a importância de pesquisar sobre a avaliação dos cursos de

Pedagogia em fase de renovação de reconhecimento e que participaram do Enade nos

anos de 2005, 2008 e 2011 teve origem primeiro na representação desses cursos na

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política educacional e, segundo, pela situação de permanência deles no sistema federal

de ensino, uma vez que possuem uma série histórica de avaliação que permite a

comparação em três edições do ciclo avaliativo do Sinaes.

Com esse entendimento explicitou-se a finalidade, a abrangência, a relevância

e o interesse do estudo voltado à compreensão do processo de avaliação da educação

superior (regular a e/ou induzir à qualidade). No desenvolvimento, caracterizaram-se os

resultados dos cursos de Pedagogia nos ciclos avaliativos do Sinaes (2005, 2008 e

2011), a fim de evidenciar a relação entre a avaliação e a regulação na promoção da

qualidade e na expansão da educação superior; as políticas e as diretrizes do Sinaes; o

uso dos resultados da avaliação pela gestão das IES e do Estado; a concepção de

qualidade e as possíveis influências dessa concepção na política de avaliação da

educação superior.

Esse foi o destaque inédito atribuído a esta tese: a análise dos resultados de

todos os elementos que compõem o Sinaes na trajetória de desenvolvimento dos ciclos

avaliativos. Entretanto, o processo se tornou complexo, tendo em vista que nos cursos

pesquisados se percebeu uma regularidade na participação do Enade (pelo fato da

obrigatoriedade para os alunos concluintes), mas também uma desconexão de processos

que justificasse a inexistência de avaliação in loco no período analisado.

A tese defendida neste estudo foi a de que os objetivos da avaliação estiveram,

ao longo dos anos, ajustados aos princípios da regulação na forma de controle da

qualidade, em oposição à avaliação formativa e emancipatória, voltada a garantir e

induzir à qualidade preconizada pelo Sinaes.

Nessa compreensão, ao analisar o uso da avaliação pela vertente da gestão dos

cursos de Pedagogia e do Estado, concluiu-se que, de modo geral, mesmo que se

refutem tais práticas, não seria possível negar a existência da centralidade nos

resultados. Dessa forma, na análise dos cursos de Pedagogia nos ciclos avaliativos do

Sinaes, ficou demonstrado que a centralidade das práticas, nas suas diferentes formas de

uso da avaliação, aponta mais para o atendimento da lógica regulatória do que para a

transformação da realidade da oferta dos cursos.

Com o objetivo de interpretar se a avaliação tem se caracterizado como forma

de regulação do Estado ou como meio de indução à qualidade da educação superior,

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utilizou-se o método materialista histórico-dialético. Para tanto, afirma-se o

materialismo como uma concepção filosófica na qual a matéria é a realidade em

movimento, que pode produzir efeitos inesperados. Segundo Marx (2003), as

transformações econômicas e sociais são determinadas pela evolução dos meios de

produção, e o conjunto dessas relações constitui a estrutura econômica, “a base concreta

sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem

determinadas formas de consciência social. O modo de produção da vida material

condiciona o desenvolvimento da vida social, política e intelectual em geral” (p. 24).

A dialética marxista possibilitou conjugar pensamento, ideias e realidade ao

mesmo tempo, analisando o Sinaes a partir do seu contexto histórico, suas contradições

e identidade. Nessa perspectiva, a principal motivação para o uso do método

materialista histórico-dialético esteve relacionada ao interesse em compreender o

movimento do pensamento produzido pelos gestores sobre o processo avaliativo, suas

origens na sociedade capitalista, a situação histórica do sistema e a impossibilidade de

realizar o estudo do Sinaes sem analisar os efeitos produzidos na relação com a

regulação.

Com essa abordagem qualitativa, analisaram-se: i) a compreensão dos

coordenadores de cursos sobre o processo de avaliação evidenciado nas respostas aos

questionários; ii) a avaliação da qualidade do cursos pelos estudantes participantes do

Enade; iii) o reconhecimento das práticas acadêmicas e de gestão formuladas pelos

cursos circunstanciadas na análise dos relatórios de avaliação; iv) o entendimento do

Sinaes como política de Estado, com base no referencial teórico e na dinâmica interna

dos processos de avaliação.

Atendendo a essa orientação metodológica, o estudo do Sinaes por meio da

análise qualitativa dos dados instalou o confronto entre princípios teóricos e conteúdos

apreendidos no desenvolvimento do estudo. Sob o ponto de vista do marco legal,

percebe-se uma contradição em relação à filosofia do Sinaes, já que, conforme a norma

que o instituiu, a visita da comissão de avaliadores definida como obrigatória fica

dispensada pelo uso dos indicadores normatizados por portarias e atos internos do MEC.

Acrescente-se outro equívoco na organização do Sinaes, um sistema que é

composto originalmente por três pilares: avaliação in loco de cursos, avaliação

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institucional (interna e externa) e avaliação de desempenho dos estudantes, passa a

utilizar como referência para fins regulatórios apenas um dos pilares: o Enade.

A partir do momento em que se considera o Enade como único elemento para

definir a qualidade de um curso ou IES, pode-se ter a noção de descumprimento do que

estabelece o Sinaes pelo Estado. Ainda mais quando o uso desse resultado revela a

manutenção do caráter punitivo da avaliação, tão cotejado em um passado recente da

história da avaliação no sistema educacional brasileiro.

Definido o uso do método dialético no estudo, discutiram-se as mudanças

importantes ocorridas na história da avaliação, os elementos contraditórios e também os

fatores responsáveis pela transformação. Por meio de categorias metodológicas

(totalidade, contradição e mediação) e analíticas (qualidade da educação superior e

avaliação como política pública), foi possível interpretar a forma e a constituição do

Sinaes. Além disso, destaca-se a importância do estudo, ao realizar o acompanhamento

da qualidade da educação superior ofertada no país. Portanto, este conhecimento passa a

ser construído na medida em que possibilita realizar as mediações históricas concretas

reconhecidas à luz do pensamento teórico (KOSIK, 2002).

As categorias analíticas tiveram a intenção de oportunizar a reflexão crítica

sobre o conhecimento do processo de avaliação da educação superior e a compreensão

da dinâmica das relações, com a finalidade de propor ações emancipatórias na gestão

dos cursos.

Segundo Marx (1998), a investigação “tem que apoderar-se da matéria, em

seus pormenores, analisar suas diferentes formas de desenvolvimento e perquirir a

conexão íntima que há entre elas. Só depois de concluído esse trabalho, é que se pode

descrever adequadamente o movimento real” (p. 28). Esse movimento dialético no

estudo do desempenho dos cursos de Pedagogia nos ciclos avaliativos do Sinaes revelou

as ligações preexistentes e existentes na construção do processo de avaliação da

educação superior, em especial a partir da criação do Sinaes, em 2004.

Destaca-se, nesse sentido, a reflexão sobre a formulação das diretrizes do

Enade, a matriz de referência do exame e as reformulações conceituais e práticas

propostas em relação ao exame anterior, principalmente no que se refere ao

distanciamento da forma de classificar e disseminar a visão da educação superior como

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um serviço à disposição do capital. Essa visão foi determinante para reconhecer a

origem e as relações de oferta dos cursos, quais sejam: a oferta com finalidade lucrativa

ou a garantira do acesso à educação como um bem público em prol do desenvolvimento

cultural do país.

O referencial teórico tratado nos capítulos da tese possibilitou organizar o

estudo com base reflexiva, integrando as diferentes categorias analíticas, de modo a

reduzir a tensão da avaliação entre regulação e emancipação. Pareceu coerente,

portanto, associar a atividade avaliativa à atividade de gestão, visando à melhoria da

qualidade da educação. Porém, a divulgação dos resultados do Sinaes e a forte relação

estabelecida com a regulação estiveram mais próximas da elaboração de rankings e

competições entre instituições do que do olhar pedagógico dos cursos ofertados no país.

Nesse contexto, o que tem predominado no sistema, de forma clara, é a prática

de controle que se espelha na centralidade e na sobreposição, no Sinaes, do processo de

regulação da educação superior no país. O fundamento dessa prática pode estar

circunstanciado no conceito que se tem de qualidade, já que traz implicações ao modelo

de avaliação adotado no país, associado aos interesses e contextos de atuação. No

estudo da avaliação dos cursos de Pedagogia, percebeu-se que há, na ação de regulação,

um forte controle do Estado; entretanto, apresenta tendências de modificação em longo

prazo, se analisadas a partir das influências mundiais trazidas pelo processo de

internacionalização da educação superior.

Compreendendo o processo de construção do conhecimento como ato

contínuo, o estudo dos ciclos avaliativos do Sinaes analisou concepções, políticas

práticas de avaliação das IES e do Estado. Partiu-se do princípio que mensurar, por

meio da avaliação, é apenas um ponto de partida, e que nesse processo interagem outros

elementos significativos de ordem pessoal, profissional e institucional. Com essa

abrangência, os processos de avaliação do Sinaes servem para orientar a qualidade

acadêmica e institucional, bem como a política de regulação, sem que esta última se

sobreponha à primeira em grau de importância e finalidade.

Contudo, o percurso da pesquisa revelou que o interesse pela avaliação da

educação superior não se deve somente ao seu potencial de transformação qualitativa,

de melhoramento pedagógico e de eficácia de gestão como preconiza o Sinaes, mas

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principalmente ao papel de verificação do cumprimento das condições mínimas de

funcionamento exigidas pelo órgão regulador. As evidências estão na relação de causa e

efeito estabelecida entre avaliação e regulação, o que torna preponderante a finalidade

da avaliação com fins regulatórios em detrimento da avaliação como indutora de

qualidade. Do conhecimento da aplicabilidade do ato regulatório depois da avaliação

satisfatória ou da aplicação de medidas cautelares depois da avaliação insatisfatória,

decorre a necessidade de maior motivação da comunidade acadêmica para o aspecto

indutor de qualidade, com a finalidade de: i) conhecer o processo de avaliação com fins

de ampliar o diálogo institucional e ii) promover ações de intervenção voltadas ao real

significado desse processo.

O pressuposto da literatura na área, corroborada por este estudo, é de que

deveria haver uma busca incessante pela qualidade a partir do processo de avaliação, o

que exigiria da comunidade acadêmica a participação na construção e na reconstrução

dos projetos pedagógicos. Entretanto, a base empírica analisada na pesquisa revelou que

o objetivo da avaliação tem predominância no atendimento aos critérios exigidos pela

regulação, sem considerar a orientação da avaliação (seja do Enade ou da avaliação in

loco de cursos) como objeto de melhoria nos projetos pedagógicos. Esse olhar parece

centrar-se no padrão mínimo de qualidade para a obtenção de resultado satisfatório na

avaliação, desconsiderando as práticas continuadas de melhoria como objetivo da gestão

da IES.

Ocorre que, muitas vezes, as estratégias e decisões da gestão parecem estar

dissociadas das necessidades sociais. Esta última perspectiva se alia à concepção de uso

da avaliação como controle para fins de conhecimento do nível de alcance de metas,

desprovida do entendimento de avaliação como política pública.

Apreende-se, portanto, que pouco se discute nas IES e nas instâncias

governamentais o conjunto das informações avaliativas (dos estudantes, do curso e da

IES), como pressupõe o Sinaes. As mudanças que, porventura, tenham sido

incorporadas pela gestão acadêmica e institucional se devem mais às exigências do

órgão regulador do que a uma concepção formativa e emancipatória voltada ao

desenvolvimento dos estudantes. Os coordenadores de curso, sujeitos pesquisados,

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embora não revelem com clareza essa compreensão, admitem o baixo investimento em

ações internas oriundas dos processos avaliativos.

Essa visão demonstra que há uma incompreensão por parte das IES sobre como

se estabelecem as relações entre a avaliação e a regulação (processos distintos e

independentes), mas que se relacionam, já que avaliação, conforme seu marco legal, é

subsídio para a supervisão e a regulação da educação superior.

A relação complementar da avaliação e da regulação parece ser a causa da

invisibilidade do Sinaes como um sistema de avaliação nacional que agrega

instrumentos e indicadores para impulsionar a qualidade dos cursos de graduação. Essa

relação pode interferir no processo de consolidação do Sinaes, uma vez que sua

concretização está atrelada ao reconhecimento público da existência no país de um

sistema de avaliação nacional independente, confiável e seguro, para garantir a

qualidade da educação superior.

Ressaltam-se, nos achados da pesquisa, a descontinuidade do ciclo avaliativo

de alguns cursos, motivada por: i) interferência do ritmo das IES para desenvolver os

processos internos de avaliação; ii) atraso no processo de regulação devido aos prazos

de análise técnica e documental, ou diligências para a instrução processual e a decisão

regulatória; iii) complexidade do processo de avaliação para a organização das

comissões in loco; iv) morosidade no prazo recursal dos relatórios de avaliação; v) ação

da supervisão com sobrestamento do processo em qualquer fase até do ciclo avaliativo.

A descontinuidade ou interrupção do ciclo avaliativo do Sinaes parece estar

relacionada com a dependência histórica da avaliação à decisão regulatória. Nas etapas

que antecedem a avaliação (análise documental e despacho saneador), os processos

podem ficar com status “em andamento” por mais de um ano e, com isso, atrasar o

processo de avaliação in loco, gerando a não conclusão do ciclo avaliativo no período

de três anos.

Da mesma forma, na fase de avaliação, há períodos em que o número de

comissões a serem formadas pelo Inep é superior a sua capacidade de funcionamento,

impactando temporalmente o ciclo avaliativo. A fase seguinte à avaliação (parecer

final), devido à morosidade da análise processual, também pode trazer implicações à

validade do ato regulatório anterior. E assim, consecutivamente, temos processos que

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não puderam ser avaliados em um período de três anos e que frustraram a realização do

ciclo avaliativo do Sinaes.

Essa conjuntura parece enfraquecer o modelo do Sinaes, que requer a avaliação

de todos os estudantes, cursos e IES, durante o ciclo avaliativo determinado, e foi a

circunstância que parece ter justificado, em 2008, a criação dos indicadores de

qualidade para os cursos na fase de renovação de reconhecimento, incrementando a

dispensa de visitas de avaliação a cursos com CPC satisfatório.

De outro modo, também acabou por fortalecer o Inep como órgão que

operacionaliza as avaliações, ajustadas às condições estruturantes para realizar os

processos de avaliação em número condizente com a demanda. Entretanto, sabe-se que

em quaisquer dessas situações permanece o desafio para a política de avaliação da

educação superior em articular, tempos, espaços e momentos da avaliação e regulação

para garantir o fluxo do ciclo avaliativo e acompanhar a qualidade dos cursos.

Em 2013, surge uma tentativa de estabelecer a regularidade do fluxo avaliativo.

O MEC publica a Portaria Normativa nº 1 (BRASIL, 2014), que estabelece o

Calendário 2014 de abertura do protocolo de ingresso de processos regulatórios no

sistema e-MEC. Nessa norma, ficam definidos os prazos para a tramitação dos

processos na fase da regulação pela Seres e para a operacionalização da fase de

avaliação pelo Inep.

A preocupação com os prazos de avaliação e regulação pode denotar que uma

nova organização começa a se instituir. Entretanto, duas questões merecem ser

apreciadas: i) a definição de prazos pode ser favorável à execução do Sinaes, com vistas

a superar a descontinuidade dos processos avaliativos e melhorar a visão sistêmica da

qualidade dos cursos e da IES; ii) o ordenamento pode ter a intenção de impulsionar a

visão regulatória, a partir do momento em que condiciona novos protocolos de cursos na

IES à conclusão do ciclo avaliativo anterior satisfatório e em que pode ser interpretado

como um ato de controle da expansão, haja vista que novos projetos não podem ser

apresentados para análise.

Se, por um lado, a avaliação como subsídio à regulação justifica seu uso nessa

situação, por outro, pode não estar reconhecendo a diversidade do sistema,

desconsiderando os possíveis atrasos no fluxo avaliativo, decorrentes de processos de

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supervisão ou de situação anterior de desorganização cronológica dos processos na

regulação. O certo é que uma realidade como essa, quando analisada, auxilia a

dimensionar as interferências da gestão na implementação dos Sinaes. O debate com a

tradição marxiana passa pelo reconhecimento de que a avaliação como subsidio à

regulação compõe essa realidade complexa e atua em condições de qualidade que

colocam limites objetivos ao Sinaes para avançar na relação harmônica entre regulação

e avaliação.

Dessa forma, após analisar o percurso e o uso dos resultados dos cursos de

Pedagogia nos ciclos avaliativos do Sinaes, tanto na lógica do Estado como das próprias

IES, verificou-se uma estreita relação existente entre os processos de avaliação e

regulação, para fins de efeitos regulatórios (emissão de portarias). Entretanto, de modo

diverso, evidenciou-se um distanciamento entre os processos de avaliação e regulação

quanto à orientação para a tomada de decisão da gestão (reconfiguração curricular,

prerrogativa de autonomia para a criação de novos cursos, reconhecimento do mérito

institucional), fator importante para a qualidade do curso.

As limitações desta pesquisa estiveram centradas na falta de regularidade dos

dados da avaliação dos cursos de Pedagogia nos ciclos avaliativos, o que dificultou o

aprofundamento da análise acerca da qualidade dos cursos no período. Com relação ao

Enade, destaca-se que, devido não ser obrigatório, o Questionário do Coordenador, não

foi respondido por alguns gestores, dificultando a análise individual de cada um dos 25

cursos investigados, o que somente pode ser feito na análise conjunta. Ressalta-se,

ainda, o reduzido quantitativo de avaliações in loco realizado nos cursos de Pedagogia,

que embora sirva para explicar a centralidade da avaliação na regulação, restringiu a

análise documental sobre o uso dos resultados da avaliação.

Cabe ressaltar que ao longo da construção deste estudo, algumas conclusões

parciais foram sendo feitas ao final de cada capítulo, como forma de sintetizar os itens

em questão. Por fim, sabe-se que o tema não se esgota com essas análises, o que denota

a importância de avançar em pesquisas sobre a articulação dos processos de avaliação e

regulação, contribuindo para clarificar o real sentido da avaliação preconizado pelo

Sinaes de induzir à qualidade.

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A continuidade de pesquisas na área se torna essencial para que a gestão do

Estado e das IES tenha subsídios para a transformação das práticas e, sobretudo, da

realidade do sistema de educação superior brasileiro.

Ao finalizar, permanecem alguns questionamentos que poderão instigar novas

reflexões. Haveria interesse do Estado e das IES em estabelecer um sistema de

avaliação independente do processo de regulação? A independência desses processos

seria o caminho para a indução de qualidade?A estratégia é seguir realizando pesquisas

na área, perseguir a meta-avaliação do Sinaes e persistir na cultura institucional da

avaliação.

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edição extra.

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altera as Leis no 8.745, de 9 de dezembro de 1993, e no 6.932, de 7 de julho de 1981, e

dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, out., n. 206, Seção I, p. 1-423.

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Superior, de que trata a Lei nº 7.596, de 10 de abril de 1987; sobre o Plano de Carreira e

Cargos de Magistério do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico e sobre o Plano de

Carreiras de Magistério do Ensino Básico Federal, de que trata a Lei nº 11.784, de 22 de

setembro de 2008; sobre a contratação de professores substitutos, visitantes e

estrangeiros, de que trata a Lei nº 8.745 de 9 de dezembro de 1993; sobre a remuneração

das Carreiras e Planos Especiais do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Anísio Teixeira e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação,

de que trata a Lei nº 11.357, de 19 de outubro de 2006; altera remuneração do Plano de

Cargos Técnico-Administrativos em Educação; altera as Leis nºs 8.745, de 9 de

dezembro de 1993, 11.784, de 22 de setembro de 2008, 11.091, de 12 de janeiro de

2005, 11.892, de 29 de dezembro de 2008, 11.357, de 19 de outubro de 2006, 11.344, de

8 de setembro de 2006, 12.702, de 7 de agosto de 2012, e 8.168, de 16 de janeiro de

1991; revoga o art. 4º da Lei no 12.677, de 25 de junho de 2012; e dá outras

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institui o Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento das Instituições

de Ensino Superior (Proies); altera as Leis nºs 3.890-A, de 25 de abril de 1961, 9.718,

de 27 de novembro de 1998, 10.637, de 30 de dezembro de 2002, 10.887, de 18 de

junho de 2004, 10.833, de 29 de dezembro de 2003, 11.033, de 21 de dezembro de

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2004, 11.128, de 28 de junho de 2005, 11.651, de 7 de abril de 2008, 12.024, de 27 de

agosto de 2009, 12.101, de 27 de novembro de 2009, 12.429, de 20 de junho de 2011,

12.462, de 4 de agosto de 2011, e 12.546, de 14 de dezembro de 2011; e dá outras

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institui o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), nº 8.212, de 24 de julho de 1991,

que dispõe sobre a organização da Seguridade Social e institui Plano de Custeio, nº

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Estudante do Ensino Superior, e nº 11.129, de 30 de junho de 2005, que institui o

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extra).

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procedimentos referentes ao Programa de Melhoria do Ensino das Instituições de

Educação Superior – Programa IES – MEC/BNDES, no âmbito do Ministério da

Educação. Diário Oficial da União, Brasília, 25 set. 2009, n. 1.162, Seção 1, p. 10.

______. Portaria Normativa nº 40, de 12 de dezembro de 2007, consolidada em 29 de

dezembro de 2010. Institui o e-MEC, sistema eletrônico de fluxo de trabalho e

gerenciamento de informações relativas aos processos de regulação, avaliação e

supervisão da educação superior no sistema federal de educação, e o Cadastro e-MEC de

Instituições e Cursos Superiores e consolida disposições sobre indicadores de qualidade,

banco de avaliadores (BASis) e o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes

(Enade) e outras disposições. Diário Oficial da União, Brasília, 29 dez. 2010, n. 249,

Seção 1, p. 23-31.

______. Portaria Normativa nº 4, de 5 de agosto de 2008. Regulamenta a aplicação do

conceito preliminar de cursos superiores, para fins dos processos de renovação de

reconhecimento respectivos, no âmbito do ciclo avaliativo do Sinaes, instaurado pela

Portaria Normativa nº 1, de 2007. Diário Oficial da União, Brasília, 7 ago., n. 151,

Seção 1, p. 15.

______. Portaria Normativa nº 658, de 28 de maio de 2008. Aprova o Regimento

Interno da Comissão Técnica de Acompanhamento da Avaliação – CTAA. Diário

Oficial da União, Brasília, 29 maio 2008, n. 101, Seção 1, p. 25-26.

______. Portaria nº 11, de 28 de abril de 2003. Institui a Comissão Especial de

Avaliação. Diário Oficial da União. Brasília, 30 abr. 2003a., n. 82, Seção 2, p. 19.

______. Portaria nº 19, de 17 de maio de 2003. Designa membros para Comissão

Especial de Avaliação. Diário Oficial da União, Brasília, 28 maio 2003b, n. 101, Seção

2, p. 11.

______.Instrução normativa nº 4, de 31 de maio de 2013. Estabelece os critérios para a

dispensa de visita de avaliação in loco pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

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Educacionais Anísio Teixeira – Inep e o padrão decisório para os pedidos de

autorização de cursos de graduação na modalidade presencial ofertados por instituições

de educação superior integrantes do sistema federal de ensino. Diário Oficial da União,

Brasília, 29 jul. 2013, n. 144, Seção 1, p. 127-129, (Republicada por ter saído no DOU

de 3/6/2013, Seção 1, p. 11, 12 e 13, com incorreção no original).

_______. Despacho do Secretário nº 234, de 17 de novembro de 2011. Determina que

sejam aplicadas medidas cautelares preventivas, em face dos cursos de graduação em

Medicina (bacharelado), das IES referidas no Anexo I. Diário Oficial da União,

Brasília, 18 nov., n. 221, Seção 1, p. 35.

_______. Despacho n. 205, de 5 de dezembro de 2013. Acolhe a Nota Técnica

786/2013/Direg/Seres/MEC, que sistematiza parâmetros e procedimentos para

Renovação de Reconhecimento de Cursos, tomando por base os resultados do ciclo

avaliativo 2012, divulgado por meio do Conceito Preliminar de Curso – CPC 2012, em

conformidade com o Decreto Federal nº 5.773, de 9 de maio de 2006, e suas alterações,

e na Portaria MEC nº 40, de 12 de dezembro de 2007, republicada em 29 de dezembro

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450

ANEXOS

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451

ANEXO I – Questionário dos coordenadores dos cursos pesquisados (2013)

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

DOUTORADO EM EDUCAÇÃO

LINHA DE PESQUISA POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO DA EDUCAÇÃO

PROFESSOR ORIENTADOR: DR. JOSÉ VIEIRA DE SOUSA

DOUTORANDA: CLAUDIA MAFFINI GRIBOSKI

Prezado(a) Coordenador(a) do curso de Pedagogia

O presente questionário visa realizar a coleta de dados para a Tese de Doutorado

denominada “Regular ou induzir qualidade? Os cursos de Pedagogia nos Ciclos Avaliativos do

Sinaes (2005-2008-2011)”, desenvolvida junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação da

UnB, na Linha de Pesquisa Políticas Públicas e Gestão da Educação.

A problemática que envolve a elaboração desta pesquisa está relacionada à

interdependência da avaliação e regulação. A avaliação parece estar servindo para subsidiar a

política de regulação da educação superior centrada na visão de controle do Estado, e não estar

contribuindo para a melhoria da qualidade dos cursos e orientação da expansão da oferta, com

base na concepção formativa e emancipatória da avaliação preconizada pelo Sinaes.

Desta forma, sua participação tem como finalidade auxiliar no alcance do objetivo

deste estudo: Analisar se o uso dos resultados dos cursos de Pedagogia nos ciclos avaliativos do

Sinaes, em 2005, 2008 e 2011, está orientado para regular ou induzir a qualidade da educação

superior.

Muito obrigada pela colaboração!

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DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO CURSO

1. Categoria Administrativa da IES

( ) Pública – ( ) Federal ( ) Estadual ( )

Municipal

( ) Privada – ( ) Com fins lucrativos ( ) Sem

fins lucrativos

2. Organização Acadêmica da IES

( ) Universidade

( ) Centro Universitário

( ) Faculdade (incluem-se faculdades isoladas

e institutos superiores de educação)

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO

ENTREVISTADO (A)

1. Nome do (a) Coordenador (a):

2. Faixa de idade do coordenador (a):

( ) até 30 anos

( ) de 31 a 40 anos

( ) de 41 a 50 anos

( ) mais de 51

4. Formação acadêmica em nível de

Graduação:

() Graduação em Pedagogia

( ) Graduação em outro curso superior.

Qual?__________________________

5. Formação acadêmica em nível de Pós-

Graduação

() Pós-Graduação Lato Sensu na área da

Educação

( ) Pós-Graduação Lato Sensu em outra área.

Qual? ____________________

( ) Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação,

em nível de Mestrado

( ) Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação,

em nível de Doutorado

( ) Pós-Graduação Stricto Sensu em outra

área. Qual? ___________________

6. Tempo de docência na educação superior:

( ) até 5 anos

( ) 6 a 10 anos

( ) 11 a 15 anos

( ) 16 a 20 anos

( ) 21 a 25 anos

( ) mais de 26

7. Tempo de coordenação de curso:

( ) até 5 anos

( ) 6 a 10 anos

( ) 11 a 15 anos

( ) 16 a 20 anos

( ) mais de 21 anos

8. Você considera que a atuação do(a) coordenador(a) de curso contribui para a qualidade da oferta

do curso de Pedagogia? Como?

9. O que você entende por qualidade da educação?

10. Quais são os desafios percebidos pela coordenação do curso em relação à formação dos

estudantes do curso de Pedagogia?

11. Você percebe relação entre os resultados da avaliação externa realizada por meio do Sinaes e a

qualidade do curso de Pedagogia? Em caso negativo, justifique. Em caso positivo, indique como

identifica esta relação (entre docentes, estudantes, coordenação do curso, gestão institucional,

sociedade. Outros...).

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12. Quais as estratégias da coordenação do curso para o acompanhamento da implementação do

projeto pedagógico do curso de Pedagogia?

_________________________________________________________________________________

13. Quanto às expectativas de formação do estudante: Você percebe a exigência de investimento

pedagógico e de infraestrutura no curso? Quais? A IES tem condições de atendê-las?

_________________________________________________________________________________

14. Você conhece os resultados da avaliação externa do Sinaes? (Enade, CPC, CC) do seu curso?

_________________________________________________________________________________

15. A coordenação do curso tem adotado alguma medida para acompanhar e/ ou melhorar os

resultados da avaliação externa do Sinaes? Quais?

16. Os resultados da avaliação do Sinaes (Enade, CPC, CC) influenciam as ações da coordenação do

curso? Quais? Como?

_________________________________________________________________________________

17. Você percebe relação entre os resultados do Sinaes e medidas de regulação do MEC? Se

positivo, como você avalia essa relação?

_________________________________________________________________________________

18. Como se dá a participação do Núcleo Docente Estruturante e do Colegiado do curso na discussão

dos resultados da avaliação e regulação e como se evidencia a relação entre avaliação e

planejamento?

19. Como você concebe a relação entre a avaliação do curso e a criação de novas vagas? O curso

teve ampliação de vagas? Se positivo, como foi o planejamento? Se negativo, o que seria necessário

para projetar a ampliação da oferta?

20. Na sua percepção, o Sinaes ser caracteriza como uma política pública? Quais as vantagens e/ou

desvantagens da sua implementação?

_________________________________________________________________________________

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454

21. Na sua percepção a avaliação do Sinaes (marcar todas as opções que considerar verdadeiras):

( ) subsidia exclusivamente a política de regulação da educação superior

( ) está centrada na visão de controle do Estado

( ) está fundamentada na concepção diagnóstica, formativa e emancipatória.

( ) contribui para a melhoria da qualidade dos cursos

( ) subsidia a política de regulação, ao mesmo tempo que induz a qualidade

( ) orienta a expansão da oferta

()outros:____________________________________________________________________

22. Você gostaria de acrescentar outras informações relevantes da coordenação do curso para a

pesquisa?

_________________________________________________________________________________

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455

ANEXO II – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

DOUTORADO EM EDUCAÇÃO

LINHA DE PESQUISA POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO DA EDUCAÇÃO

PROFESSOR ORIENTADOR: DR. JOSÉ VIEIRA DE SOUSA

DOUTORANDA: CLAUDIA MAFFINI GRIBOSKI

Eu, ________________________________________________, abaixo assinado, declaro que recebi

as informações acerca da pesquisa denominada “Regular ou induzir qualidade? Os cursos de

Pedagogia nos Ciclos Avaliativos do Sinaes (2005-2008-2011)”, desenvolvida junto ao Programa de

Pós-Graduação em Educação da UnB, na Linha de Pesquisa Políticas Públicas e Gestão da

Educação, com o objetivo de analisar se o uso dos resultados dos cursos de Pedagogia nos ciclos

avaliativos do Sinaes, em 2005, 2008 e 2011, está orientado para regular ou induzir a qualidade da

educação superior. Afirmo que tenho pleno conhecimento de que, nessa pesquisa será aplicado um

questionário com os coordenadores dos cursos de Pedagogia selecionados para o estudo e análise

documental. Estou ciente de que os materiais utilizados para a coleta das informações serão

destruídos após o registro de dados e de que não é obrigatória minha participação, caso me sinta

constrangido(a), antes ou durante a realização do trabalho. Declaro que tenho ciência de que a

pesquisadora manterá em caráter confidencial todas as respostas que comprometam minha

privacidade e que tenho conhecimento, que caso solicitado, receberei as informações atualizadas

durante o estudo, ainda que isto possa afetar a minha vontade de continuar participando da pesquisa.

Declaro ainda, ter ciência de que os resultados da pesquisa somente serão divulgados com objetivo

acadêmico-científico, mantendo-se sigilo a minha identidade e, se for o caso, meu vínculo

institucional. E por estar de pleno acordo com os termos ajustados e mencionados neste documento,

assino o presente documento, encaminhado por e-mail, que será retornado com assinatura, na forma

escaneada para acesso da pesquisadora, ou outra forma.

_________________________

Coordenador (a) do curso

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456

ANEXO III – Questionário Coordenador do Curso (2005-2008-2011)

IES:

Curso:

Habilitação:

Diploma Conferido:

Área:

Localidade de prova:

Informações Gerais

O presente instrumento, parte integrante do Sinaes, tem por objetivo coletar informações pertinentes

ao curso de graduação selecionado para o Enade. As informações solicitadas contemplam aspectos

acadêmicos do curso, do perfilados estudantes e do contexto de inserção socioeconômico-cultural da

formação que subsidiarão as análises qualitativas futuras.

Informações de Preenchimento

As questões são de múltiplas alternativas e de opinião, marque apenas uma única resposta. Não

existem respostas certas ou erradas. Marque aquela alternativa que melhor represente a situação real

do curso ou do contexto no qual o curso está inserido.

Identificação / Perfil do Coordenador do Curso

1 – Tempo de coordenação do curso:

(A) Menos de um ano

(B) Um ano a dois anos

(C) Dois anos a três anos

(D) Três anos a quatro anos

(E) Mais de quatro anos

2 – Esta é minha primeira experiência como

coordenador de curso.

(A) Sim

(B) Não

3 – Maior Titulação

(A) Graduação

(B) Especialização

(C) Mestrado

(D) Doutorado

(E) Pós-Doutorado

4 – Tempo de atividade na IES

(A) Menos de seis meses

(B) Seis meses a um ano

(C) Um ano a cinco anos

(D) Cinco anos a dez anos

(E) Mais de dez anos

5 – Vínculo com a IES

(A) Dedicação Exclusiva

(B) Integral – 40 horas

(C) Parcial – 20 horas

(D) Horista

(E) Outro

6 – Tempo semanal dedicado à coordenação

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(A) Menos de quatro horas

(B) Entre quatro e oito horas

(C) Entre oito e doze horas

(D) Entre doze e vinte horas

(E) Mais de vinte horas

7 – A instituição oferece estímulos e

condições de trabalho para que os docentes

desempenhem suas funções

(A) Sim, plenamente

(B) Sim, parcialmente

(C) Não

Instalações para funcionamento do curso

8 – As condições gerais das instalações físicas

de salas de aula, bibliotecas e ambientes de

trabalho e estudo para o funcionamento do

curso são:

(A) Precárias

(B) Boas

(C) Muito boas

(D) Excelentes

9 – O número de estudantes em sala de aula,

nas disciplinas teóricas do curso, está

(A) em menos de trinta

(B) entre 31 e 50

(C) entre 51 e 70

(D) entre 71 e 100

(E) em mais de 100

10 – As condições do acervo da biblioteca que

atende aos alunos do curso são:

(A) Precárias

(B) Boas

(C) Muito boas

(D) Excelentes

11 – As instalações de laboratórios,

equipamentos e serviços de apoio específicos

ao curso são:

(A) Precárias

(B) Boas

(C) Muito boas

(D) Excelentes

12 – A disponibilidade de acesso à Internet

pelos estudantes para realizar trabalhos

acadêmicos e de pesquisa:

(A) é livre, durante toda a semana

(B) é livre, num único turno da semana

(C) é limitada, com flexibilidade de horário

(D) é limitada, em horários fixos

(E) não se tem acesso a Internet

Administração Acadêmica

13 – A organização acadêmico administrativa

para o funcionamento do curso é:

(A) Precária

(B) Boa

(C) Muito boa

(D) Excelente

14 – Os representantes discentes têm

participação nas decisões a respeito do curso?

(A) Sim, sempre

(B) Sim, na maioria delas

(C) Sim, em algumas delas

(D) Nunca

Projeto do Curso

15 – Os objetivos do curso são adequados ao

contexto social e econômico da região:

(A) Sim, plenamente

(B) Sim, parcialmente

(C) Não

16 – Em que medida há oportunidades de

trabalho para os egressos docurso:

(A) Para todos

(B) Para a maioria deles

(C) Para alguns deles

(D) Para pouco deles

(E) Para nenhum deles

17 – A principal contribuição do curso que

coordeno é:

(A) Fornecer formação teórica

(B) Ampliar a visão de mundo dos alunos

(C) Levar o aluno a adquirir competência

profissional

(D) Permitir a obtenção de diploma de curso

superior

(E) Possibilitar a ascensão social do egresso

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18 – Competência para atuar eticamente, com responsabilidade social, visando à

construção de uma sociedade inclusiva e solidária.

(A)-------- (B)-------- (C)-------- (D)-------- (E)

Nenhuma Alta

Contribuição Contribuição

19 – Competência para organizar, expressar e comunicar o pensamento.

(A)-------- (B)-------- (C)-------- (D)-------- (E)

Nenhuma Alta

Contribuição Contribuição

20 – Competência para utilizar o raciocínio lógico e produzir análises críticas.

(A)-------- (B)-------- (C)-------- (D)-------- (E)

Nenhuma Alta

Contribuição Contribuição

21 – Competência para compreender processos, tomada de decisão e solucionar

problemas no âmbito da área de atuação.

(A)-------- (B)-------- (C)-------- (D)-------- (E)

Nenhuma Alta

Contribuição Contribuição

22 – Competência para atuar em equipes multidisciplinares, pluridisciplinares e

interdisciplinares.

(A)-------- (B)-------- (C)-------- (D)-------- (E)

Nenhuma Alta

Contribuição Contribuição

23 – Competência para uma atuação profissional responsável em relação ao meio

ambiente.

(A)-------- (B)-------- (C)-------- (D)-------- (E)

Nenhuma Alta

Contribuição Contribuição

24 – Competência para observar, interpretar e analisar dados e informações.

(A)-------- (B)-------- (C)-------- (D)-------- (E)

Nenhuma Alta

Contribuição Contribuição

25 – Competência para utilizar procedimentos de metodologia científica e de

conhecimentos tecnológicos na atuação profissional.

(A)-------- (B)-------- (C)-------- (D)-------- (E)

Nenhuma Alta

Contribuição Contribuição

26 – Competência para utilizar recursos de informática necessários para o exercício da

profissão.

(A)-------- (B)-------- (C)-------- (D)-------- (E)

Nenhuma Alta

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Contribuição Contribuição

27 – Competência para analisar criticamente a assimilação de novos conceitos e novas

tecnologias.

(A)-------- (B)-------- (C)-------- (D)-------- (E)

Nenhuma Alta

Contribuição Contribuição

Atividades articuladas ao ensino de

graduação

28 – O curso possibilita ao aluno o

envolvimento nas atividades de extensão

desenvolvidas pela IES:

(A) Sim, plenamente

(B) Sim, parcialmente

(C) Nunca

29 – O curso oferece incentivos à participação

dos estudantes em eventos de caráter

científico tais como congressos, encontros e

seminários:

(A) Sim, de maneira sistemática e com apoio

financeiro

(B) Sim, de maneira sistemática e sem apoio

financeiro

(C) Sim, de maneira esporádica

(D) Nunca

30 – Com relação às oportunidades para os

alunos desenvolverem atividades de pesquisa,

de iniciação científica ou assemelhadas:

(A) a maioria dos estudantes desenvolve

alguma dessas atividades

(B) cerca da metade dos estudantes

desenvolve alguma dessas atividades

(C) apenas um número reduzido de estudantes

desenvolve alguma dessas atividades

(D) os alunos não desenvolvem atividades

dessa natureza

31 – Com relação às oportunidades para os

alunos desenvolver em atividades de

monitoria e estágio:

(A) a maioria dos estudantes desenvolve

alguma dessas atividades

(B) cerca da metade dos estudantes

desenvolve alguma dessas atividades

(C) apenas um número reduzido de estudantes

desenvolve alguma dessas atividades

(D) os alunos não desenvolvem atividades

dessa natureza

ATENÇÃO

Em cada uma das questões a seguir (números 32 a 44) deve ser assinalado o ponto, na escala, que

melhor expresse sua concordância ou discordância em relação à cada uma das afirmações sobre o

curso coordenado por Vossa Senhoria. A alternativa “concordo totalmente” significa que ela exprime

exatamente aquilo que ocorre no curso, enquanto que a alternativa discordo totalmente refere-se a

uma afirmação totalmente falsa em relação ao seu curso. As afirmações abrangem vários aspectos

(práticas pedagógicas, instalações, por exemplo) e não estão agrupados por tema.

32 – A IES contribui para que o aluno possa refletir sobre a realidade social brasileira.

(A)---------- (B)---------- (C)---------- (D)---------- (E)

Concordo Concordo Não sei Discordo Discordo

Totalmente responder Totalmente

33 – O curso está voltado para a formação integral do estudante e sua inserção no mercado

profissional.

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(A)---------- (B)---------- (C)---------- (D)---------- (E)

Concordo Concordo Não sei Discordo Discordo

Totalmente responder Totalmente

34 – O curso busca desenvolver plenamente o potencial de aprendizagem do estudante.

(A)---------- (B)---------- (C)---------- (D)---------- (E)

Concordo Concordo Não sei Discordo Discordo

Totalmente responder Totalmente

35 – O curso oferece atividades (ou disciplinas) de nivelamento para alunos ingressantes com

defasagem no conteúdo.

(A)---------- (B)---------- (C)---------- (D)---------- (E)

Concordo Concordo Não sei Discordo Discordo

Totalmente responder Totalmente

36 – O projeto pedagógico do curso é constantemente atualizado, buscando explicitar o perfil do

profissional que se quer formar.

(A)---------- (B)---------- (C)---------- (D)---------- (E)

Concordo Concordo Não sei Discordo Discordo

Totalmente responder Totalmente

37 – O curso, como um todo, propicia uma sólida formação humanística e uma visão global do

contexto social, político, econômico e cultural no qual o estudante está inserido.

(A)---------- (B)---------- (C)---------- (D)---------- (E)

Concordo Concordo Não sei Discordo Discordo

Totalmente responder Totalmente

38 – Os planos de ensino contemplam objetivos, procedimentos de ensino e de avaliação, conteúdo e

bibliografia.

(A)---------- (B)---------- (C)---------- (D)---------- (E)

Concordo Concordo Não sei Discordo Discordo

Totalmente responder Totalmente

39 – A maioria dos estudantes está satisfeita com o curso.

(A)---------- (B)---------- (C)---------- (D)---------- (E)

Concordo Concordo Não sei Discordo Discordo

Totalmente responder Totalmente

40 – O método de ensino mais utilizado nas disciplinas é a aula expositiva.

(A)---------- (B)---------- (C)---------- (D)---------- (E)

Concordo Concordo Não sei Discordo Discordo

Totalmente responder Totalmente

41 – Os conteúdos das diferentes disciplinas da grade curricular ainda precisam ser ajustados às

diretrizes curriculares.

(A)---------- (B)---------- (C)---------- (D)---------- (E)

Concordo Concordo Não sei Discordo Discordo

Totalmente responder Totalmente

42 – Os estudantes expressam, com frequência, uma grande insatisfação com os conteúdos tratados

nas disciplinas.

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(A)---------- (B)---------- (C)---------- (D)---------- (E)

Concordo Concordo Não sei Discordo Discordo

Totalmente responder Totalmente

43 – A grade curricular do curso poderia ser modificada e melhorada.

(A)---------- (B)---------- (C)---------- (D)---------- (E)

Concordo Concordo Não sei Discordo Discordo

Totalmente responder Totalmente

44 – A instituição apresenta procedimentos sistemáticos de avaliação institucional, envolvendo todos

os segmentos acadêmicos e da comunidade.

(A)---------- (B)---------- (C)---------- (D)---------- (E)

Concordo Concordo Não sei Discordo Discordo

Totalmente responder Totalmente

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ANEXO IV – Questionário socioeconômico do Enade (2005-2008)

EXAME NACIONAL DE DESEMPENHO DOS ESTUDANTESQUESTIONÁRIOSOCIOECONÔMICO

Ministério da Educação

Esta pesquisa é parte integrante do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes – ENADE –e

tem por objetivos:

– traçar o perfil dos estudantes, ingressantes ou concluintes, dos cursos de graduação

do país;

– conhecer a opinião dos estudantes sobre o ambiente acadêmico em que realizam a

sua formação; e

– consolidar informações para promover a melhoria das condições de ensino e dos

procedimentos didático-pedagógicos.

Para que essas metas sejam alcançadas, é importante sua participação. Procure responder a esta

pesquisa de forma individual, conscienciosa e independente. A veracidade das suas respostas é

fundamental.

Em cada questão, marque apenas uma resposta, ou seja, aquela que melhor corresponda às suas

características pessoais, às condições de ensino e aos procedimentos vivenciados por você. Os dados

serão tratados estatisticamente e não haverá divulgação de dados individuais. Preencha o cartão

apropriado com as suas respostas, utilizando para tanto caneta esferográfica preta. Entregue esse

cartão na sala onde você vai realizar a prova, no dia 06 de novembro.

Gratos pela sua valiosa contribuição.

01. Qual o seu estado civil?

(A) Solteiro(a).

(B) Casado(a).

(C) Separado(a)/desquitado(a)/

divorciado(a).

(D) Viúvo(a).

(E) Outro.

02. Quantos irmãos você tem?

(A) Nenhum.

(B) Um.

(C) Dois.

(D) Três.

(E) Quatro ou mais.

03. Quantos filhos você tem?

(A) Nenhum.

(B) Um.

(C) Dois.

(D) Três.

(E) Quatro ou mais.

04. Como você se considera?

(A) Branco(a).

(B) Negro(a).

(C) Pardo(a) / mulato(a).

(D) Amarelo(a) (de origem oriental).

(E) Indígena ou de origem indígena.

05. Com quem você mora atualmente?

(A) Com os pais e/ou outros parentes.

(B) Com esposo(a) e/ou filho(s).

(C) Com amigos (compartilhando despesas ou

de favor).

(D) Com colegas em alojamento universitário.

(E) Sozinho(a).

06. Qual a faixa de renda mensal da sua

família?

(A) Até 3 salários-mínimos.

(B) De 3 a 10 salários mínimos.

(C) De 11 a 20 salários mínimos.

(D) De 21 a 30 salários mínimos.

(E) Mais de 30 salários mínimos.

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07. Quantos membros de sua família moram

com você?

(A) Nenhum.

(B) Um ou dois.

(C) Três ou quatro.

(D) Cinco ou seis.

(E) Mais do que seis.

08. Assinale a situação abaixo que melhor

descreve seu caso.

(A) Não trabalho e meus gastos são

financiados pela família.

(B) Trabalho e recebo ajuda da família.

(C) Trabalho e me sustento.

(D) Trabalho e contribuo com o sustento da

família.

(E) Trabalho e sou o principal responsável

pelo sustento da família.

9. Se você trabalha ou trabalhou, qual é ou foi

a carga horária aproximada de sua atividade

remunerada (não contar estágio e bolsas de

pesquisa)?

(A) Não exerço / não exerci atividade

remunerada.

(B) Trabalho / trabalhei eventualmente.

(C) Trabalho / trabalhei até 20 horas

semanais.

(D) Trabalho / trabalhei mais de 20 horas

semanais e menos de 40 horas semanais.

(E) Trabalho / trabalhei em tempo integral –

40 horas semanais ou mais.

10. Que tipo de bolsa de estudos ou

financiamento você recebe ou recebeu para

custeio das despesas do curso?

(A) Financiamento Estudantil – FIES.

(B) Bolsa integral ou parcial (inclusive

descontos em mensalidades) oferecida pela

própria instituição.

(C) Bolsa integral ou parcial oferecida por

entidades externas.

(D) Outro(s).

(E) Nenhum.

11. Qual o grau de escolaridade do seu pai?

(A) Nenhuma escolaridade.

(B) Ensino Fundamental: de 1ª a 4ª série.

(C) Ensino Fundamental: de 5ª a 8ª série.

(D) Ensino Médio.

(E) Superior.

12. Qual o grau de escolaridade de sua mãe?

(A) Nenhuma escolaridade.

(B) Ensino Fundamental: de 1ª a 4ª série.

(C) Ensino Fundamental: de 5ª a 8ª série.

(D) Ensino Médio.

(E) Superior.

13. Em que tipo de escola você cursou o

ensino médio?

(A) Todo em escola pública.

(B) Todo em escola privada (particular).

(C) A maior parte do tempo em escola

pública.

(D) A maior parte do tempo em escola

privada (particular).

(E) Metade em escola pública e metade em

escola privada

(particular).

14. Que tipo de curso de ensino médio você

concluiu?

(A) Comum ou de educação geral, no ensino

regular.

(B) Profissionalizante técnico (eletrônica,

contabilidade, agrícola, etc.), no ensino

regular.

(C) Profissionalizante de magistério de 1a a

4a série (Curso Normal), no ensino regular.

(D) Supletivo.

(E) Outro curso.

15. Como é seu conhecimento de língua

inglesa?

(A) Leio, escrevo e falo bem.

(B) Leio, escrevo e falo razoavelmente.

(C) Leio e escrevo, mas não falo.

(D) Leio, mas não escrevo nem falo.

(E) Praticamente nulo.

16. Como é seu conhecimento de língua

espanhola?

(A) Leio, escrevo e falo bem.

(B) Leio, escrevo e falo razoavelmente.

(C) Leio e escrevo, mas não falo.

(D) Leio, mas não escrevo nem falo.

(E) Praticamente nulo.

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17. Excetuando-se os livros escolares, quantos

livros você leu no presente ano?

(A) Nenhum. (Passe para a questão 19)

(B) No máximo dois.

(C) Entre três e cinco.

(D) Entre seis e oito.

(E) Mais de oito.

18. Quais os tipos de livros que você mais lê?

(A) Obras literárias de ficção.

(B) Obras literárias de não ficção.

(C) Livros técnicos.

(D) Livros de auto ajuda.

(E) Outros.

19. Com que frequência você lê jornal?

(A) Diariamente.

(B) Algumas vezes por semana.

(C) Somente aos domingos.

(D) Raramente.

(E) Nunca. (Passe para a questão 21)

20. Quais os assuntos dos jornais que você

mais lê?

(A) Todos os assuntos.

(B) Política e/ou Economia.

(C) Cultura e Arte.

(D) Esportes.

(E) Outros.

21. Que meio você mais utiliza para se manter

atualizado(a) sobre os acontecimentos do

mundo contemporâneo ?

(A) Jornais.

(B) Revistas.

(C) TV.

(D) Rádio.

(E) Internet.

22. Com que frequência você utiliza a

biblioteca de sua instituição?

(A) A instituição não tem biblioteca.

(B) Nunca a utilizo.

(C) Utilizo raramente.

(D) Utilizo com razoável frequência.

(E) Utilizo muito frequentemente.

23. Que fonte(s) você mais utiliza ao realizar

as atividades de pesquisa para as disciplinas

do curso?

(A) O acervo da biblioteca da minha

instituição.

(B) O acervo da biblioteca de outra

instituição.

(C) Livros e/ou periódicos de minha

propriedade.

(D) A Internet.

(E) Não realizo / realizei pesquisas no meu

curso.

24. Quantas horas por semana,

aproximadamente, você dedica / dedicou aos

estudos, excetuando as horas de aula?

(A) Nenhuma, apenas assisto às aulas.

(B) Uma a duas.

(C) Três a cinco.

(D) Seis a oito.

(E) Mais de oito.

25. Que tipo de atividade acadêmica você

desenvolve/desenvolveu, predominantemente,

durante o curso, além daquelas obrigatórias?

(A) Atividades de iniciação científica ou

tecnológica.

(B) Atividades de monitoria.

(C) Atividades em projetos de pesquisa

conduzidos por professores da minha

instituição.

(D) Atividades de extensão promovidas pela

instituição.

(E) Nenhuma atividade.

26. Você está/esteve envolvido(a) em algum

projeto de pesquisa (iniciação científica)?

(A) Sim, desenvolvo/desenvolvi pesquisa(s)

independente(s).

(B) Sim, desenvolvo/desenvolvi pesquisa(s)

supervisionada(s) por professores.

(C) Sim, participo/participei de projetos de

professores.

(D) Sim, participo/participei de projetos de

estudantes da pós-graduação.

(E) Não, porque não me interesso/interessei

ou não tenho/tive oportunidade.

27. Que entidade promoveu a maior parte dos

eventos(congressos, jornadas, seminários,

etc.) de que você participa / participou?

(A) Minha instituição de ensino.

(B) Outras instituições de ensino.

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(C) Diretórios estudantis ou centros

acadêmicos.

(D) Associações científicas ou profissionais

da área.

(E) Não participo/participei de eventos.

28. Que atividade(s) extracurricular(es)

oferecida(s)pela sua instituição você mais

desenvolve ou desenvolveu?

(A) Atividades culturais (palestras,

conferências, etc.).

(B) Atividades artísticas (teatro, música, etc.).

(C) Atividades desportivas.

(D) Estudos de línguas estrangeiras.

(E) Nenhuma.

29. Das atividades artístico-culturais listadas

abaixo, qual constitui sua preferência para o

lazer?

(A) Cinema.

(B) Espetáculos teatrais.

(C) Shows musicais e/ou concertos.

(D) Dança.

(E) Nenhuma.

COMO VOCÊ LIDA COM O

MICROCOMPUTADOR?

30. Com que frequência você utiliza

microcomputador?

(A) Nunca. (Neste caso, passe para a questão

43)

(B) Raramente.

(C) Às vezes.

(D) Frequentemente.

(E) Sempre.

31. Você tem acesso à Internet?

(A) Sim.

(B) Não.

Nas questões de 32 a 35 indique onde você

utiliza microcomputador.

32. Em casa?

(A) Sim.

(B) Não.

33. No trabalho?

(A) Sim.

(B) Não.

34. Na instituição de ensino do seu curso?

(A) Sim.

(B) Não.

35. Em outros locais não mencionados?

(A) Sim.

(B) Não.

Nas questões de 36 a 41 indique para que

finalidade você utiliza o microcomputador.

36. Para entretenimento?

(A) Sim.

(B) Não.

37. Para trabalhos escolares?

(A) Sim.

(B) Não.

38. Para trabalhos profissionais?

(A) Sim.

(B) Não.

39. Para comunicação via e-mail?

(A) Sim.

(B) Não.

40. Para operações bancárias?

(A) Sim.

(B) Não.

41. Para compras eletrônicas?

(A) Sim.

(B) Não.

42. Como você classifica o seu conhecimento

de informática?

(A) Muito Bom.

(B) Bom.

(C) Ruim.

(D) Muito Ruim.

COMO VOCÊ ANALISA AS

CONDIÇÕES DA INSTITUIÇÃO ONDE

ESTUDA OU ESTÁ CONCLUINDO O

CURSO DE GRADUAÇÃO?

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43. Considerando-se apenas as aulas teóricas,

qual o número aproximado de estudantes por

turma?

(A) Até 30.

(B) Entre 31 e 50.

(C) Entre 51 e 70.

(D) Entre 71 e 100.

(E) Mais de 100.

44. Como são as instalações físicas (salas de

aula, laboratórios, ambientes de

trabalho/estudo) utilizadas no seu curso?

(A) Amplas, arejadas, bem iluminadas e com

mobiliário adequado.

(B) Arejadas, bem iluminadas e com

mobiliário satisfatório, embora pequenas em

relação ao número de estudantes.

(C) Bem iluminadas e com mobiliário

satisfatório, embora sejam mal ventiladas e

pequenas em relação ao número de

estudantes.

(D) Mal ventiladas, mal iluminadas, pequenas

em relação ao número de estudantes e com

mobiliário razoavelmente satisfatório.

(E) Mal arejadas, mal iluminadas, com

mobiliário inadequado e pequenas em relação

ao número de estudantes.

Nas questões de 45 a 47, indique como você

considera as aulas práticas em relação aos

aspectos mencionados.

45. O espaço pedagógico é adequado ao

número de estudantes?

(A) Sim, em todas elas.

(B) Sim, na maior parte delas.

(C) Sim, mas apenas na metade delas.

(D) Sim, mas em menos da metade delas.

(E) Não, em nenhuma.

46. O material de consumo oferecido é

suficiente para o número de estudantes?

(A) Sim, em todas elas.

(B) Sim, na maior parte delas.

(C) Sim, mas apenas na metade delas.

(D) Sim, mas em menos da metade delas.

(E) Não, em nenhuma.

47. Os equipamentos disponíveis são

suficientes para o número de estudantes?

(A) Sim, em todas elas.

(B) Sim, na maior parte delas.

(C) Sim, mas apenas na metade delas.

(D) Sim, mas em menos da metade delas.

(E) Não, em nenhuma.

48. Como são os equipamentos de laboratório

utilizados no seu curso?

(A) Atualizados e bem conservados.

(B) Atualizados, mas mal conservados.

(C) Desatualizados, mas bem conservados.

(D) Desatualizados e mal conservados.

(E) Não há laboratório no meu curso.

49. Como a sua instituição viabiliza o acesso

dos estudantes de graduação aos

microcomputadores, para atender às

necessidades do curso?

(A) Plenamente.

(B) De forma limitada.

(C) Não viabiliza para os estudantes do meu

curso.

(D) Não viabiliza para nenhum estudante.

(E) O curso não necessita de

microcomputadores.

50. Como você avalia o acervo da biblioteca,

quanto à atualização, face às necessidades

curriculares do seu curso?

(A) É atualizado.

(B) É medianamente atualizado.

(C) É pouco atualizado.

(D) É desatualizado.

(E) Não sei responder.

51. Com relação aos livros mais usados no

curso, o número de exemplares disponíveis na

biblioteca atende ao alunado?

(A) Atende plenamente.

(B) Atende razoavelmente.

(C) Atende precariamente.

(D) Não atende.

(E) Não sei responder.

52. Como você avalia o acervo de periódicos

científicos/acadêmicos disponíveis na

biblioteca, quanto à atualização?

(A) É atualizado.

(B) É medianamente atualizado.

(C) É desatualizado.

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468

(D) Não existe acervo de periódicos

especializados.

(E) Não sei responder.

53. A biblioteca de sua instituição oferece

serviço de empréstimo de livros?

(A) Sim, para todo o acervo.

(B) Sim, mas apenas para obras de caráter

didático.

(C) Sim, mas apenas para obras de interesse

geral.

(D) Não há empréstimo.

(E) Não sei responder.

54. Como é o serviço de pesquisa

bibliográfica oferecido?

(A) Utiliza apenas processos manuais.

(B) Dispõe de sistema informatizado local.

(C) Dispõe de sistema informatizado local e

de acesso

à rede nacional de bibliotecas.

(D) Dispõe de sistema informatizado local e

de acesso

às redes nacional e internacional de

bibliotecas.

(E) Não sei responder.

Nas questões 55 e 56, avalie as condições da

biblioteca em relação aos aspectos

mencionados.

55. Horário de funcionamento que atenda às

suas necessidades.

(A) Plenamente adequado.

(B) Adequado.

(C) Pouco adequado.

(D) Inadequado.

(E) Não sei responder.

56. Instalações para leitura e estudo.

(A) Plenamente adequadas.

(B) Adequadas.

(C) Pouco adequadas.

(D) Inadequadas.

(E) Não sei responder.

COMO VOCÊ AVALIA O TRABALHO

DOS DOCENTESE O CURRÍCULO DO

SEU CURSO DE GRADUAÇÃO?

Nas questões 57 e 58, indique se você

percebe que a concepção do seu curso

articula o conhecimento da área (teorias,

procedimentos, técnicas, instrumentos, etc.)

com os aspectos especificados.

57. Aspectos sociais, políticos e culturais da

realidade brasileira.

(A) Sim, em todas as atividades do curso.

(B) Sim, no ensino de várias disciplinas.

(C) Sim, mas apenas no ensino de algumas

disciplinas.

(D) Não.

(E) Não sei informar.

58. Temas gerais e situações do cotidiano.

(A) Sim, em todas as atividades do curso.

(B) Sim, no ensino de várias disciplinas.

(C) Sim, mas apenas no ensino de algumas

disciplinas.

(D) Não.

(E) Não sei informar.

Nas questões de 59 a 66, responda em que

medida a sua instituição

contribui/contribuiu para que, ao longo do

seu curso de graduação, você possa/pudesse

refletir sobre a realidade social brasileira,

nos aspectos relacionados.

59. Analfabetismo.

(A) Contribui / contribuiu amplamente.

(B) Contribui / contribuiu parcialmente.

(C) Contribui / contribuiu muito pouco.

(D) Não contribui / contribuiu de forma

alguma.

(E) Não sei informar.

60. Desigualdades econômicas e sociais.

(A) Contribui / contribuiu amplamente.

(B) Contribui / contribuiu parcialmente.

(C) Contribui / contribuiu muito pouco.

(D) Não contribui / contribuiu de forma

alguma.

(E) Não sei informar.

61. Desemprego.

(A) Contribui / contribuiu amplamente.

(B) Contribui / contribuiu parcialmente.

(C) Contribui / contribuiu muito pouco.

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469

(D) Não contribui / contribuiu de forma

alguma.

(E) Não sei informar.

62. Habitação.

(A) Contribui / contribuiu amplamente.

(B) Contribui / contribuiu parcialmente.

(C) Contribui / contribuiu muito pouco.

(D) Não contribui / contribuiu de forma

alguma.

(E) Não sei informar.

63. Discriminação em relação a cor, gênero e

minorias.

(A) Contribui / contribuiu amplamente.

(B) Contribui / contribuiu parcialmente.

(C) Contribui / contribuiu muito pouco.

(D) Não contribui / contribuiu de forma

alguma.

(E) Não sei informar.

64. Diversidades e especificidades regionais.

(A) Contribui / contribuiu amplamente.

(B) Contribui / contribuiu parcialmente.

(C) Contribui / contribuiu muito pouco.

(D) Não contribui / contribuiu de forma

alguma.

(E) Não sei informar.

65. Segurança e criminalidade.

(A) Contribui / contribuiu amplamente.

(B) Contribui / contribuiu parcialmente.

(C) Contribui / contribuiu muito pouco.

(D) Não contribui / contribuiu de forma

alguma.

(E) Não sei informar.

66. Exploração do trabalho infantil e (ou)

adulto.

(A) Contribui / contribuiu amplamente.

(B) Contribui / contribuiu parcialmente.

(C) Contribui / contribuiu muito pouco.

(D) Não contribui / não contribuiu de forma

alguma.

(E) Não sei informar.

Nas questões 67 e 68, responda se o curso

oferece/ofereceu oportunidade de vivenciar

os aspectos relacionados a seguir, e em qual

situação.

67. Conhecimento de ações comunitárias.

(A) Sim, em programa de extensão.

(B) Sim, em várias disciplinas.

(C) Sim, em algumas disciplinas.

(D) Sim, em atividade de pesquisa (iniciação

científica).

(E) Não, o curso não oferece / ofereceu

oportunidade.

68. Atuação em iniciativas e programas

comunitários.

(A) Sim, em programa de extensão.

(B) Sim, em várias disciplinas.

(C) Sim, em algumas disciplinas.

(D) Sim, em atividade de pesquisa (iniciação

científica).

(E) Não, o curso não oferece / ofereceu

oportunidade.

69. Como você avalia o currículo do seu

curso?

(A) É bem integrado, havendo clara

vinculação entre as disciplinas.

(B) É relativamente integrado, já que as

disciplinas se vinculam apenas por blocos ou

áreas de conhecimento afins.

(C) É pouco integrado, já que poucas

disciplinas se interligam.

(D) Não apresenta integração alguma entre as

disciplinas.

(E) Não sei dizer.

70. Ao iniciarem os trabalhos em cada

disciplina, os docentes discutem o plano de

ensino com os estudantes?

(A) Sim, todos.

(B) Sim, a maior parte.

(C) Sim, mas apenas cerca da metade.

(D) Sim, mas menos da metade.

(E) Nenhum discute. (Neste caso, passe para a

questão73)

71. Os planos de ensino contêm todos os

seguintes aspectos: objetivos, procedimentos

de ensino e de avaliação, conteúdos e

bibliografia da disciplina?

(A) Sim, todos contêm.

(B) Sim, a maior parte contém.

(C) Sim, mas apenas cerca da metade contém.

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(D) Sim, mas apenas menos da metade

contém.

(E) Não, nenhum contém.

72. Em que medida as orientações contidas

nos planos de ensino são relevantes para os

estudantes no desenvolvimento do curso?

(A) São altamente relevantes.

(B) São relevantes.

(C) São medianamente relevantes.

(D) São de pouca relevância.

(E) Não são relevantes.

73. Que técnica de ensino a maioria dos

professores tem utilizado,

predominantemente?

(A) Aulas expositivas (preleção).

(B) Aulas expositivas, com participação dos

estudantes.

(C) Aulas práticas.

(D) Trabalhos de grupo, desenvolvidos em

sala de aula.

(E) Outra.

74. Você é/foi solicitado(a) a realizar

atividades de pesquisa como estratégia de

aprendizagem?

(A) Sim, em todas as disciplinas.

(B) Sim, na maior parte das disciplinas.

(C) Sim, mas apenas em metade das

disciplinas.

(D) Sim, mas em menos de metade das

disciplinas.

(E) Não, em nenhuma disciplina.

75. Como você avalia os procedimentos de

ensino adotados pela maioria dos professores,

quanto à adequação aos objetivos do curso?

(A) Bastante adequados.

(B) Adequados.

(C) Parcialmente adequados.

(D) Pouco adequados.

(E) Inadequados.

76. Que tipo de material, dentre os abaixo

relacionados, é/foi mais utilizado por

indicação de seus professores durante o

curso?

(A) Livros-texto e/ou manuais.

(B) Apostilas e resumos.

(C) Cópias de trechos ou capítulos de livros.

(D)Artigos de periódicos especializados.

(E) Anotações manuais e cadernos de notas.

Nas questões 77 e 78, indique como você

caracteriza ouso dos recursos especificados,

nas atividades de ensino-aprendizagem do

curso.

77. Recursos audiovisuais.

(A) Amplo e adequado.

(B) Amplo, mas inadequado.

(C) Restrito, mas adequado.

(D) Restrito e inadequado.

(E) A minha escola não dispõe desses

recursos / meios.

78. Meios de tecnologia educacional com base

na informática.

(A) Amplo e adequado.

(B) Amplo, mas inadequado.

(C) Restrito, mas adequado.

(D) Restrito e inadequado.

(E) A minha escola não dispõe desses

recursos / meios.

79. Que instrumentos de avaliação a maioria

dos seus professores adota

predominantemente?

(A) Provas escritas discursivas.

(B) Testes objetivos.

(C) Trabalhos de grupo.

(D) Trabalhos individuais.

(E) Provas práticas.

80. Como é a disponibilidade dos professores

do curso, na instituição, para orientação

extraclasse?

(A) Todos têm disponibilidade.

(B) A maioria tem disponibilidade.

(C) Cerca da metade tem disponibilidade.

(D) Menos da metade tem disponibilidade.

(E) Nenhum tem disponibilidade.

81. Seus professores têm demonstrado

domínio atualizado das disciplinas

ministradas?

(A) Sim, todos.

(B) Sim, a maior parte deles.

(C) Sim, mas apenas metade deles.

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(D) Sim, mas menos da metade deles.

(E) Não, nenhum deles.

Nas questões de 82 a 84, responda se o seu

curso oferece, além das atividades teóricas

e práticas, os programas indicados.

82. Iniciação científica.

(A) Sim, com aproveitamento regulamentar

de conhecimentos para a integralização

curricular.

(B) Sim, com aproveitamento de

conhecimentos para a integralização

curricular, mas sem regulamentação.

(C) Sim, mas sem aproveitamento de

conhecimentos para a integralização

curricular.

(D) Não oferece.

(E) Não sei informar.

83. Extensão.

(A) Sim, com aproveitamento regulamentar

de conhecimentos para a integralização

curricular.

(B) Sim, com aproveitamento de

conhecimentos para a integralização

curricular, mas sem regulamentação.

(C) Sim, mas sem aproveitamento de

conhecimentos para a integralização

curricular.

(D) Não oferece.

(E) Não sei informar.

84. Monitoria.

(A) Sim, com aproveitamento regulamentar

de conhecimentos para a integralização

curricular.

(B) Sim, com aproveitamento de

conhecimentos para a integralização

curricular, mas sem regulamentação.

(C) Sim, mas sem aproveitamento de

conhecimentos para a integralização

curricular.

(D) Não oferece.

(E) Não sei informar.

Nas questões de 85 a 87, indique qual a

contribuição dos programas relacionados

para sua formação.

85. Iniciação científica.

(A) Ampla.

(B) Parcial.

(C) Restrita.

(D) Nenhuma.

(E) Não participei desse tipo de programa.

86. Extensão.

(A) Ampla.

(B) Parcial.

(C) Restrita.

(D) Nenhuma.

(E) Não participei desse tipo de programa.

87. Monitoria.

(A) Ampla.

(B) Parcial.

(C) Restrita.

(D) Nenhuma.

(E) Não participei desse tipo de programa.

Nas questões de 88 a 90, caracterize, de

maneira geral, a avaliação dos programas

de que você participa / participou, quanto

aos procedimentos e critérios adotados.

88. Iniciação científica.

(A) É / foi sistemática e plenamente adequada

em seus critérios.

(B) Não é / não foi sistemática, porém é / era

adequada em seus critérios.

(C) É / foi sistemática, mas não é / era

adequada em seus critérios.

(D) Não é / não foi sistemática, nem adequada

em seus critérios.

(E) Não há / não houve avaliação.

89. Extensão.

(A) É / foi sistemática e plenamente adequada

em seus critérios.

(B) Não é / não foi sistemática, porém é / era

adequada em seus critérios.

(C) É / foi sistemática, mas não é / era

adequada em seus critérios.

(D) Não é / não foi sistemática, nem adequada

em seus critérios.

(E) Não há / não houve avaliação.

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472

90. Monitoria.

(A) É / foi sistemática e plenamente adequada

em seus critérios.

(B) Não é / não foi sistemática, porém é / era

adequada em seus critérios.

(C) É / foi sistemática, mas não é / era

adequada em seus critérios.

(D) Não é / não foi sistemática, nem adequada

em seus critérios.

(E) Não há / não houve avaliação.

91. Seu curso apoia a participação dos

estudantes em eventos de caráter científico

(congressos, encontros, seminários, etc.)?

(A) Sim, sem restrições, com recurso

financeiro e dispensa de presença às aulas

para os(as) que participam.

(B) Sim, com dispensa de presença às aulas

para os(as)que participam, mas com recurso

financeiro somente para os(as) que

apresentam trabalho.

(C) Sim, mas apenas com dispensa de

presença às aulas para os(as) que participam.

(D) Sim, mas apenas quando a participação se

dá por iniciativa da própria IES.

(E) Não apoia de modo algum.

QUAIS AS MAIORES CONTRIBUIÇÕES

DO CURSO?

92. Como você avalia o nível de exigência do

curso?

(A) Deveria exigir / ter exigido muito mais de

mim.

(B) Deveria exigir / ter exigido um pouco

mais de mim.

(C) Exige / exigiu de mim na medida certa.

(D) Deveria exigir / ter exigido um pouco

menos de mim.

(E) Deveria exigir / ter exigido muito menos

de mim.

93. Qual você considera a principal

contribuição do curso?

(A) A obtenção de diploma de nível superior.

(B) A aquisição de cultura geral.

(C) A aquisição de formação profissional.

(D) A aquisição de formação teórica.

(E) Melhores perspectivas de ganhos

materiais.

Nas questões de 94 a 103, indique em que

medida o conjunto de disciplinas do curso

contribui / contribuiu para você

desenvolver as competências relacionadas

abaixo.

94. Atuação ética, com responsabilidade

social, para a construção de uma sociedade

includente e solidária.

(A) Contribui / contribuiu amplamente.

(B) Contribui / contribuiu parcialmente.

(C) Contribui / contribuiu muito pouco.

(D) Não contribui / não contribuiu de forma

alguma.

(E) Não considero que desenvolva tal

competência.

95. Organização, expressão e comunicação do

pensamento.

(A) Contribui / contribuiu amplamente.

(B) Contribui / contribuiu parcialmente.

(C) Contribui / contribuiu muito pouco.

(D) Não contribui / não contribuiu de forma

alguma.

(E) Não considero que desenvolva tal

competência.

96. Raciocínio lógico e análise crítica.

(A) Contribui / contribuiu amplamente.

(B) Contribui / contribuiu parcialmente.

(C) Contribui / contribuiu muito pouco.

(D) Não contribui / não contribuiu de forma

alguma.

(E) Não considero que desenvolva tal

competência.

97. Compreensão de processos, tomada de

decisão e resolução de problemas no âmbito

de sua área de atuação.

(A) Contribui / contribuiu amplamente.

(B) Contribui / contribuiu parcialmente.

(C) Contribui / contribuiu muito pouco.

(D) Não contribui / não contribuiu de forma

alguma.

(E) Não considero que desenvolva tal

competência.

98. Atuação em equipes multi, pluri e

interdisciplinares.

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(A) Contribui / contribuiu amplamente.

(B) Contribui / contribuiu parcialmente.

(C) Contribui / contribuiu muito pouco.

(D) Não contribui / não contribuiu de forma

alguma.

(E) Não considero que desenvolva tal

competência.

99. Atuação profissional responsável em

relação ao meio ambiente.

(A) Contribui / contribuiu amplamente.

(B) Contribui / contribuiu parcialmente.

(C) Contribui / contribuiu muito pouco.

(D) Não contribui / não contribuiu de forma

alguma.

(E) Não considero que desenvolva tal

competência.

100. Observação, interpretação e análise de

dados e informações.

(A) Contribui / contribuiu amplamente.

(B) Contribui / contribuiu parcialmente.

(C) Contribui / contribuiu muito pouco.

(D) Não contribui / não contribuiu de forma

alguma.

(E) Não considero que desenvolva tal

competência.

101. Utilização de procedimentos de

metodologia científica e de conhecimentos

tecnológicos para a prática da profissão.

(A) Contribui / contribuiu amplamente.

(B) Contribui / contribuiu parcialmente.

(C) Contribui / contribuiu muito pouco.

(D) Não contribui / não contribuiu de forma

alguma.

(E) Não considero que desenvolva tal

competência.

102. Utilização de recursos de informática

necessários para o exercício profissional.

(A) Contribui / contribuiu amplamente.

(B) Contribui / contribuiu parcialmente.

(C) Contribui / contribuiu muito pouco.

(D) Não contribui / não contribuiu de forma

alguma.

(E) Não considero que desenvolva tal

competência.

103. Assimilação crítica de novos conceitos

científicos e de novas tecnologias.

(A) Contribui / contribuiu amplamente.

(B) Contribui / contribuiu parcialmente.

(C) Contribui / contribuiu muito pouco.

(D) Não contribui / não contribuiu de forma

alguma.

(E) Não considero que desenvolva tal

competência.

104. Qual o período em que você está

matriculado(a)?

(A) Diurno (Integral).

(B) Diurno (Matutino).

(C) Diurno (Vespertino).

(D) Noturno.

(E) Diurno e Noturno.

105. Assinale, dentre as alternativas abaixo,

aquela que melhor expressa sua perspectiva

profissional futura.

(A) Já tenho trabalho na área e pretendo

continuar nele.

(B) Trabalho em outra área, mas pretendo

buscar uma atividade na minha área de

graduação.

(C) Vou me dedicar à atividade acadêmica e

buscar um curso de pós-graduação.

(D) Vou prestar concurso para atividade em

empresa pública.

(E) Pretendo trabalhar em empresa privada.

(E) Ainda não me decidi.

QUESTÕES PARA AS LICENCIATURAS

Obs.: As questões a seguir deverão ser

respondidas apenas pelos estudantes das

Licenciaturas e de Pedagogia.

106. Você quer ser professor(a)?

(A) Sim.

(B) Não.

(C) Ainda não me decidi.

107. Você já teve experiência no magistério?

(A) Sim.

(B) Não.

108. Se a sua resposta, na questão 107, foi

afirmativa, onde você atua / atuou como

professor(a)?

(A) Ensino regular em escola pública.

(B) Ensino regular em escola privada.

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(C) Ensino supletivo.

(D) Ensino técnico

(E) Cursinho.

(F) Outra modalidade.

109. Qual foi a principal razão que levou você

a escolhera licenciatura? (Escolha apenas a

razão principal.)

(A) Porque quero ser professor(a).

(B) Para ter uma outra opção se não conseguir

exercer outro tipo de atividade.

(C) Por influência da família.

(D) Porque tive um(a) bom(boa) professor(a)

que me serviu de modelo.

(E) Eu não quero ser professor(a).

(F) É o único curso próximo da minha

residência.

110. O seu curso oferece / ofereceu um

conjunto de competências que vão facilitar

sua tarefa de professor(a)?

(A) Sim.

(B) Não.

(C) Não sei responder.

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ANEXO V – Questionário do Estudante do Enade (2011)

01) Qual o seu estado civil?

A) Solteiro(a).

B) Casado(a).

C) Separado(a)/desquitado/divorciado.

D) Viúvo(a).

E) Outro.

02) Como você se considera?

A) Branco(a).

B) Negro(a).

C) Pardo(a)/mulato(a).

D) Amarelo(a) (de origem oriental).

E) Indígena ou de origem indígena.

03) Onde e como você mora atualmente?

A) Em casa ou apartamento, sozinho.

B) Em casa ou apartamento, com pais e/ou parentes.

C) Em casa ou apartamento, com cônjuge e/ou filhos.

D) Em casa ou apartamento, com outras pessoas (incluindo república).

E) Em alojamento universitário da própria instituição de ensino.

F) Em outros tipos de habitação individual ou coletiva (hotel, hospedaria, pensionato, etc.).

04) Quantas pessoas, da sua família, moram com você na mesma casa?

(Contando com seus pais, irmãos, cônjuge, filhos ou outros parentes que moram na mesma casa

com você).

A) Nenhuma. E) Quatro.

B) Uma. F) Cinco.

C) Duas. G) Seis.

D) Três. H) Mais de seis.

05) Somando a sua renda com a renda dos familiares que moram com você, quanto é,

aproximadamente, a renda familiar? (Considere a renda de todos os seus familiares que moram

na sua casa com você).

A) Nenhuma.

B) Até 1,5 salário mínimo (até R$ 817,50).

C) Acima de 1,5 até 3 salários mínimos (R$ 817,51 a R$ 1.635,00).

D) Acima de 3 até 4,5 salários mínimos (R$ 1.635,01 a R$ 2.452,50).

E) Acima de 4,5 até 6 salários mínimos (R$ 2.452,01 a R$ 3.270,00).

F) Acima de 6 até 10 salários mínimos (R$ 3.270,01 a R$ 5.450,00).

G) Acima de 10 até 30 salários mínimos (R$ 5.450,01 a R$ 16.350,00).

H) Acima de 30 salários mínimos (mais de R$ 16.350,01).

06) Assinale a situação abaixo que melhor descreve seu caso (incluindo bolsa).

A) Não tenho renda e meus gastos são financiados pela minha família ou por outras pessoas.

B) Tenho renda, mas recebo ajuda da família ou de outras pessoas para financiar meus gastos.

C) Tenho renda e me sustento totalmente.

D) Tenho renda, me sustento e contribuo com o sustento da família.

E) Tenho renda, me sustento e sou o principal responsável pelo sustento da família.

07) Indique a resposta que melhor descreve sua atual situação de trabalho. (Não contar estágio,

bolsas de pesquisa ou monitoria).

A) Não estou trabalhando.

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B) Trabalho eventualmente.

C) Trabalho até 20 horas semanais.

D) Trabalho mais de 20 horas semanais e menos de 40 horas semanais.

E) Trabalho em tempo integral – 40 horas semanais ou mais.

08) Durante o curso de graduação (responder somente no caso de ser concluinte):

A) Não fiz nenhum tipo de estágio.

B) Fiz ou faço somente estágio obrigatório.

C) Fiz ou faço somente estágio não obrigatório.

D) Fiz ou faço estágio obrigatório e não obrigatório.

09) Você recebe ou recebeu algum tipo de bolsa de estudos ou financiamento para custear as

mensalidades do curso?

A) Sim.

B) Não se aplica – meu curso é gratuito (Passe para a pergunta 11).

C) Não (Passe para a pergunta 11).

10) Que tipo de bolsa de estudos ou financiamento você recebe ou recebeu para custear as

mensalidades do curso?

A) ProUni integral.

B) ProUni parcial.

C) FIES.

D) ProUni Parcial e FIES.

E) Outro tipo de bolsa oferecido por governo estadual, distrital ou municipal.

F) Bolsa integral ou parcial oferecida pela própria instituição de ensino.

G) Bolsa integral ou parcial oferecida por outra entidade (empresa, ONG, etc.).

H) Financiamento oferecido pela própria instituição de ensino.

I) Financiamento oferecido por outra entidade (banco privado, etc.).

J) Mais de um dos tipos de bolsa ou financiamento citados.

11) Você recebe ou recebeu alguma bolsa ou auxilio (exceto para cobrir mensalidades)?

A) Sim, bolsa permanência do ProUni.

B) Sim, bolsa da própria instituição de ensino.

C) Sim, outro tipo de bolsa oferecido por órgão governamental.

D) Sim, outro tipo de bolsa oferecido por órgão não governamental.

E) Não.

12) Seu ingresso no curso de graduação se deu por meio de políticas de ação afirmativa?

A) Não.

B) Sim, por critério étnico-racial (negros, pardos e indígenas).

C) Sim, por critério de renda.

D) Sim, por ter estudado em escola pública ou particular com bolsa de estudos.

E) Sim, por sistema que combina dois ou mais critérios anteriores.

F) Sim, por sistema diferente dos anteriores.

13) Até que nível seu pai estudou?

A) Nenhuma escolaridade.

B) Ensino fundamental: 1º ao 5º ano (antiga 1ª à 4ª série).

C) Ensino fundamental: 6º ao 9º ano (antiga 5ª à 8ª série).

D) Ensino médio.

E) Ensino superior.

F) Pós-graduação.

14) Até que nível de ensino sua mãe estudou?

A) Nenhuma escolaridade.

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B) Ensino fundamental: 1º ao 5º ano (antiga 1ª à 4ª série).

C) Ensino fundamental: 6º ao 9º ano (antiga 5ª à 8ª série).

D) Ensino médio.

E) Ensino superior.

F) Pós-graduação.

15) Em que unidade da federação você concluiu o ensino médio?

AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO Exterior

16) Você mudou de cidade, estado ou país para realizar este curso?

A) Não.

B) Sim, mudei de uma cidade para outra, dentro do mesmo estado.

C) Sim, mudei de estado.

D) Sim, mudei de país.

17) Em que tipo de escola você cursou o ensino médio?

A) Todo em escola pública.

B) Todo em escola privada (particular).

C) A maior parte em escola pública.

D) A maior parte em escola privada(particular).

E) Metade em escola pública e metade em escola privada (particular).

18) Que tipo de curso de ensino médio você concluiu?

A) Ensino médio tradicional.

B) Profissionalizante técnico (eletrônica, contabilidade, agrícola, etc.).

C) Profissionalizante magistério (Curso Normal).

D) Educação de Jovens e Adultos – EJA /Supletivo.

E) Outro.

19) Excetuando-se os livros indicados na bibliografia do seu curso, quantos livros você leu este

ano?

A) Nenhum.

B) Um ou dois.

C) Entre três e cinco.

D) Entre seis e oito.

E) Mais de oito.

20) Quantas horas por semana, aproximadamente, você dedica aos estudos, excetuando as horas

de aula?

A) Nenhuma, apenas assisto às aulas.

B) Uma a três.

C) Quatro a sete.

D) Oito a doze.

E) Mais de doze.

21) Até o momento, qual turno concentrou a maior parte das disciplinas do seu curso?

A) Diurno (integral).

B) Diurno (matutino).

C) Diurno (vespertino).

D) Noturno.

E) Não há concentração em um turno.

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22) As condições gerais das instalações físicas de salas de aula, bibliotecas e ambientes de

trabalho e estudo para o funcionamento do curso são adequadas?

(Se for estudante de EAD – Educação a distância, considere as condições do polo de apoio

presencial e/ou sede).

A) Sim, todas.

B) Sim, a maior parte.

C) Somente algumas.

D) Nenhuma.

23) As salas de aula são adequadas à quantidade de estudantes? (Se for estudante de EAD –

Educação a distância, considere as condições do polo de apoio presencial e/ou sede).

A) Sim, todas.

B) Sim, a maior parte.

C) Somente algumas.

D) Nenhuma.

24) As instalações de laboratórios, os equipamentos, os materiais e os serviços de apoio

específicos do curso são adequados? (Se for estudante de EAD – Educação a distância,

considere as condições do polo de apoio presencial e/ou sede).

A) Sim, todos.

B) Sim, a maior parte.

C) Somente alguns.

D) Nenhum.

25) Os ambientes para aulas práticas específicas do curso são adequados à quantidade de

estudantes? (Se for estudante de EAD – Educação a distância, considere as condições do polo

de apoio presencial e/ou sede).

A) Sim, todos.

B) Sim, a maior parte.

C) Somente alguns.

D) Nenhum.

26) Os equipamentos e/ou materiais disponíveis nos ambientes para aulas práticas são

suficientes para o número de estudantes? (Se for estudante de EAD – Educação a distância,

considere as condições do polo de apoio presencial e/ou sede).

A) Sim, todos.

B) Sim, a maior parte.

C) Somente alguns.

D) Nenhum.

27) Como a sua instituição viabiliza o acesso dos estudantes de graduação à Internet para

atender às necessidades do curso?

A) Plenamente.

B) Parcialmente.

C) Não viabiliza para os estudantes do meu curso.

D) Não viabiliza para nenhum estudante.

28) Como você caracteriza o uso de recursos audiovisuais e tecnológicos no seu curso?

A) Amplo e adequado.

B) Amplo, mas inadequado.

C) Restrito, mas adequado.

D) Restrito e inadequado.

E) A minha instituição não dispõe desses recursos /meios.

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29) Com que frequência você normalmente utiliza a biblioteca de sua instituição? (Se for

estudante de EAD – Educação a distância, considere as condições do polo de apoio presencial

e/ou sede).

A) Diariamente.

B) Entre duas e quatro vezes por semana.

C) Uma vez por semana.

D) Uma vez a cada 15 dias.

E) Somente em época de provas e/ou trabalhos.

F) Nunca a utilizo.

G) A instituição não tem biblioteca.

30) Dentre as vezes em que precisou utilizar o acervo da biblioteca, você conseguiu ter acesso

ao material? (Se for estudante de EAD – Educação a distância, considere as condições do polo

de apoio presencial e/ou sede).

A) Sim, todas as vezes.

B) Sim, a maior parte das vezes.

C) Somente algumas vezes.

D) Nunca.

31) Como você avalia o acervo da biblioteca, quanto à atualização, em

face das necessidades curriculares do seu curso?

A) É atualizado.

B) É parcialmente atualizado.

C) É pouco atualizado.

D) É desatualizado.

32) Como você avalia o acervo de periódicos científicos / acadêmicos disponíveis na biblioteca

quanto à atualização?

A) É atualizado.

B) É parcialmente atualizado.

C) É desatualizado.

D) Não existe acervo de periódicos especializados.

E) Não sei responder.

33) O horário de funcionamento da biblioteca atende às suas necessidades? (Se for estudante de

EAD – Educação a distância, considere as condições do polo de apoio presencial e/ou sede).

A) Plenamente.

B) Parcialmente.

C) Não atende.

34) Na maioria das vezes, os planos de ensino apresentados pelos professores contêm os

seguintes aspectos: objetivos, metodologias de ensino e critérios de avaliação, conteúdos e

bibliografia da disciplina?

A) Sim, todos os aspectos.

B) Sim, a maior parte dos aspectos.

C) Somente alguns aspectos.

D) Nenhum dos aspectos.

E) Não sei responder.

35) Os conteúdos trabalhados pela maioria dos professores são coerentes com os que foram

apresentados nos respectivos planos de ensino?

A) Sim.

B) Sim, somente em parte.

C) Nenhum.

D) Não sei responder.

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36) Os professores solicitam em suas disciplinas a realização de atividades de pesquisa?

A) Sim, todos os professores.

B) Sim, a maior parte.

C) Somente alguns.

D) Nenhum.

37) Os professores indicam como material de estudo a utilização de livros-texto?

A) Sim, todos os professores.

B) Sim, a maior parte.

C) Somente alguns.

D) Nenhum.

38) Os professores indicam como material de estudo a utilização de artigos de periódicos

especializados (artigos científicos)?

A) Sim, todos os professores.

B) Sim, a maior parte.

C) Somente alguns.

D) Nenhum.

39) Os professores indicam a utilização

em suas disciplinas de manuais ou materiais elaborados pelos docentes?

A) Sim, todos os professores.

B) Sim, a maior parte.

C) Somente alguns.

D) Nenhum.

40) As disciplinas do curso exigem domínio de língua estrangeira?

A) Sim, em todas as disciplinas.

B) Sim, na maior parte das disciplinas.

C) Sim, somente em algumas disciplinas.

D) Não, nenhuma disciplina exige.

41) Os professores têm disponibilidade para atendimento fora do período de aula?

A) Sim, todos os professores.

B) Sim, a maior parte.

C) Somente alguns.

D) Nenhum.

42) Os professores demonstram domínio do conteúdo das disciplinas?

A) Sim, todos os professores.

B) Sim, a maior parte.

C) Somente alguns.

D) Nenhum.

43) O curso contextualiza o conhecimento da área (teorias, procedimentos, técnicas,

instrumentos, etc.) com os temas gerais e situações do cotidiano da realidade brasileira?

A) Sim, em todas as disciplinas.

B) Sim, na maior parte das disciplinas.

C) Sim, somente em algumas disciplinas.

D) Não contextualiza.

44) Como você avalia o currículo do seu curso em relação à integração entre os conteúdos das

diferentes disciplinas?

A) É bem integrado.

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B) É relativamente integrado.

C) É pouco integrado.

D) Não apresenta integração.

45) Seu curso oferece atividades complementares?

A) Sim, regularmente, com programação diversificada.

B) Sim, regularmente, com programação pouco diversificada.

C) Sim, eventualmente, com programação diversificada.

D) Sim, eventualmente, com programação pouco diversificada.

E) Não oferece atividades complementares.

46) Você participou de programas de iniciação científica? Como foi a contribuição para a sua

formação?

A) Sim, participei e teve grande contribuição.

B) Sim, participei e teve pouca contribuição.

C) Sim, participei e não percebi nenhuma contribuição.

D) Não participei, mas a instituição oferece.

E) A instituição não oferece esse tipo de programa.

47) Você participou de programas de monitoria? Como foi a contribuição para a sua formação?

A) Sim, participei e teve grande contribuição.

B) Sim, participei e teve pouca contribuição.

C) Sim, participei e não percebi nenhuma contribuição.

D) Não participei, mas a instituição oferece.

E) A instituição não oferece esse tipo de programa.

48) Você participou de programas de extensão? Como foi a contribuição para a sua formação?

A) Sim, participei e teve grande contribuição.

B) Sim, participei e teve pouca contribuição.

C) Sim, participei e não percebi nenhuma contribuição.

D) Não participei, mas a instituição oferece.

E) A instituição não oferece esse tipo de programa.

49) Sua IES apoia financeiramente a participação dos estudantes em eventos (congressos,

encontros, seminários, visitas técnicas etc.)?

A) Sim, sem restrições.

B) Sim, mas apenas eventualmente.

C) Não apoia de modo algum.

D) Não sei responder.

50) Como você avalia o nível de exigência do curso?

A) Deveria exigir muito mais.

B) Deveria exigir um pouco mais.

C) Exige na medida certa.

D) Deveria exigir um pouco menos.

E) Deveria exigir muito menos.

51) Você considera que seu curso contribui para a aquisição de cultura geral?

A) Contribui amplamente.

B) Contribui parcialmente.

C) Contribui muito pouco.

D) Não contribui.

52) Você considera que seu curso contribui para a aquisição de formação teórica na área?

A) Contribui amplamente.

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B) Contribui parcialmente.

C) Contribui muito pouco.

D) Não contribui.

53) Você considera que seu curso contribui na preparação para o exercício profissional?

A) Contribui amplamente.

B) Contribui parcialmente.

C) Contribui muito pouco.

D) Não contribui.

54) Como você avalia a contribuição do curso para a sua formação?

A) Muito boa.

B) Boa.

C) Regular.

D) Fraca.

E) Muito fraca.