REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO DE FORMAÇÃO - Refere-se a ação com sujeitos adultos uma vez que se...

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REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO DE FORMAÇÃO - Refere-se a ação com sujeitos adultos uma vez que se trata de uma ação que se destina à aquisição de saberes e de saber- fazer mais do que de saber-ser; - É geralmente associado a alguma atividade, formação para algo; - Possui uma dimensão pessoal. Formar-se nada mais é senão um trabalho sobre si mesmo, livremente imaginado, desejado e procurado, realizado através de meios que são oferecidos ou que o próprio procura (FERRY, 1991); - Pressupõe o engajamento, a vontade, o desejo do formando em relação à formação. É o individuo, a pessoa, o responsável último pela ativação e desenvolvimento dos processos formativos, o que não significa dizer que ela seja autônoma; - A interformação, a inter-relação entre os sujeitos promove contextos de aprendizagem que vão facilitando o complexo desenvolvimento dos indivíduos que formam e que se formam; - Envolve mudança (conceitual, atitudinal e de valores). O que depende da participação consciente do formando e uma vontade clara do formando e do formador de atingir os objetivos explícitos; - Se desenvolve em um contexto específico, com uma determinada organização material e com certas regras de funcionamento.

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REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO DE FORMAÇÃO

- Refere-se a ação com sujeitos adultos uma vez que se trata de uma ação que se destina à aquisição de saberes e de saber-fazer mais do que de saber-ser;- É geralmente associado a alguma atividade, formação para algo;- Possui uma dimensão pessoal. Formar-se nada mais é senão um trabalho sobre si mesmo, livremente imaginado, desejado e procurado, realizado através de meios que são oferecidos ou que o próprio procura (FERRY, 1991);- Pressupõe o engajamento, a vontade, o desejo do formando em relação à formação. É o individuo, a pessoa, o responsável último pela ativação e desenvolvimento dos processos formativos, o que não significa dizer que ela seja autônoma;- A interformação, a inter-relação entre os sujeitos promove contextos de aprendizagem que vão facilitando o complexo desenvolvimento dos indivíduos que formam e que se formam;- Envolve mudança (conceitual, atitudinal e de valores). O que depende da participação consciente do formando e uma vontade clara do formando e do formador de atingir os objetivos explícitos;- Se desenvolve em um contexto específico, com uma determinada organização material e com certas regras de funcionamento.

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REFLEXÕES SOBRE A FORMAÇÃO DE PROFESSORES

• A docência como profissão, exige que as pessoas que a exercem tenham um domínio adequado da ciência, técnica e arte da mesma;

• Representa um encontro entre pessoas adultas, uma interação entre formador e formando, com uma intenção de mudança, desenvolvida num contexto organizado e institucional mais ou menos delimitado;

• Formação de professores – ensino profissionalizante para o ensino (Rodriguez Diéguez, 1980)

• A formação de professor se diferencia de outras atividades de formação em três dimensões:

Trata-se de uma formação dupla, onde se tem de combinar a formação acadêmica (cientifica, literária, artística, etc.) com a formação pedagógica;

É um tipo de formação profissional (forma profissionais), de preparação e emancipação profissional do docente para realizar crítica, reflexiva e eficazmente um estilo de ensino que promova uma aprendizagem significativa nos alunos e consiga um pensamento inovador, trabalhando em equipe com os colegas para desenvolver um projeto educativo comum. Visa desenvolver um estilo de ensino próprio e assumido refletidamente de modo a produzir nos alunos uma aprendizagem significativa. Diferença entre ensinar e ser professor (este ultimo é mais complexo)

É uma formação de formadores, o que pressupõe o necessário isomorfismo que deve existir entre a formação de professores e a sua prática profissional (Ferry, 1991)

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FORMAÇÃO DE PROFESSORES COMO CAMPO DISCIPLINAR

• Possui um objeto de estudo singular (os processos de formação, preparação, profissionalização e socialização dos professores, diferenciado de outras áreas da Didática);

• Possui diversas estratégias, metodologias e modelos consolidados para a análise dos processos de aprender e ensinar ;

• Existência de uma comunidade de cientistas que desenvolvem trabalhos de pesquisa nos programs de investigação, e nas sociedades que fomentam o conhecimento e a formação, que vão elaborando um código de comunicação próprio;

• Progressiva incorporação ativa dos próprios protagonistas, os professores nos programas de investigação, assumindo papéis ativos no desenho, desenvolvimento e análise dos dados;

• Atenção dos políticos, administradores e investigadores em relação à formação de professores como peça chave da qualidade do sistema educativo.

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ETAPAS E NÍVEIS DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

1) Fase de pré-treino – inclui as experiências prévias como alunos, que podem ser assumidas de forma acrítica e influenciar de modo inconsciente a atuação do professor;

2) Fase de formação inicial – etapa de ´preparação formal numa instituição específica de formação de professores (nível superior), na qual o futuro professor adquire conhecimentos pedagógicos e de disciplinas acadêmicas, assim como realizaas práticas de ensino (Marcelo, 1999)

3) Fase de iniciação4) Fase de formação permanente

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CONCEITO DE FORMAÇÃO DE PROFESSOR DE MARCELO GARCIA

A formação de professores é a área de conhecimentos, investigação e de propostas teóricas e práticas que, no âmbito da Didática e da Organização Escolar, estuda os processos através dos quais os professores – em formação ou em exercício – se implicam individualmente ou em equipa, em experiências de aprendizagem através das quais adquirem ou melhoram os seus conhecimentos, competências e disposições, e que lhes permite intervir profissionalmente no desenvolvimento do seu ensino, do currículo e da escola, com o objetivo de melhorar a qualidade da educação que os alunos recebem

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PRINCÍPIOS DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

1) Processo contínuo- O desenvolvimento profissional é um projeto ao longo da carreira desde a formação inicial, é uma aprendizagem contínua, interativa, acumulativa, que combina uma variedade de formatos de aprendizagem (Fulllan, 1987)

2) Integração com processos de mudança, inovação e desenvolvimento curricular na escola. A formação e a mudança na escola tem que ser pensadas em conjunto. A formação deve ser orientada para a mudança, ativando reaprendizagens nos sujeitos e na sua prática docente, deve ser facilitadora dos processos de ensino e de aprendizagem dos alunos;

3) Articulação entre a formação e os processos de desenvolvimento organizacional da escola; A formação que adota como problema e referência o contexto próximo dos professores tem maiores possibilidades de transformação da escola;

4)Integração entre a formação para os conteúdos e a formação pedagógica dos professores (conhecimento didático do conteúdo);

5) Integração entre teoria e prática na formação (necessidade dos profissionais do ensino desenvolverem um conhecimento próprio, produtos das suas experiências e vivências pessoais. A formação de professores, tanto inicial como permanente, deve ter em conta a reflexão epistemológica da prática (Vilar Ângulo, 1992ª), de modo que aprender a ensinar seja realizado através de um processo em que o conhecimento prático e o conhecimento teórico possam integrar-se num currículo orientado para a ação. Mas a prática, para que seja fonte de conhecimento, para que se constitua em epistemologia, tem que acrescentar análise e reflexão na e sobre a própria ação (Diversos autores, inclusive Zeichner, 1991).

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PRINCÍPIOS DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

6) Isomorfismo entre a formação recebida (vivenciada) pelo professor e o tipo de educação que posteriormente lhe será pedido que desenvolva. Em matéria de formação de professores, o principal conteúdo é o método através do qual o conteúdo é transmitido aos futuros e atuais professores (Fernandez Perez, 1992c). Na formação de professores é fundamental a congruência entre o conhecimento didático do conteúdo e o conhecimento pedagógico transmitido, e a forma como esse conteúdo se transmite;

7) Respeito às diferenças individuais (individualização da formação), aprender a ensinar não deve ser um processo homogêneo para todos os sujeitos.

• A formação deve responder às necessidades e expectativas dos professores como pessoas e como profissionais.

• O principio da individualização está ligado à idéia da formação clínica dos professores, que significa que a formação deve se basear nas necessidades e interesses dos participantes, deve ser adaptada ao contexto em que estes trabalham, e fomentar a participação e reflexão (Hoffman e Edwards, 1986).

• A formação de professores deve dar aos professores a possibilidade de questionarem as suas próprias crenças e práticas institucionais (Little, 1993).

• A formação de professores deve estimular a capacidade crítica por oposição às propostas oficiais, para isso deve promover o contexto para o desenvolvimento intelectual, social e emocional dos professores (Giroux, 1990)

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ORIENTAÇÕES CONCEITUAIS OU PARADIGMAS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES

1- Orientação acadêmica

2- Orientação tecnológica

3- Orientação personalista

4- Orientação prática

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ORIENTAÇÃO ACADÊMICA

• Predominante na formação inicial;• Abordagem enciclopédica (enfatiza a importância

do conhecimento do conteúdo: conhecimento substantivo {modelos conceituais de explicação ou paradigmas que se utilizam } e conhecimento sintático);

• Abordagem compreensiva (entende o professor não como uma enciclopédia, mas como um intelectual que compreende logicamente a estrutura da matéria que ensina, assim como a história e características epistemológicas da sua matéria e a forma de ensinar essa matéria, são capazes de transformar o conhecimento do conteúdo em conhecimento do como ensinar)

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ORIENTAÇÃO TECNOLÓGICA• Origem na psicologia condutista;

• O professor é um técnico que domina as aplicações do conhecimento científico produzido por outros e transformados em regras de ação (Perez Gomez, 1992a);

• Enfatiza o conhecimento e as destrezas necessárias para o ensino (formação de professores centrada nas competências –controle de qualidade, clareza de objetivos e avaliação de resultados. Materiais instrucionais, módulos para facilitar a aquisição);

• O autor registra a evolução do conceito de competência – para conjunto de conhecimentos, saber-fazer e atitudes a desenvolver no professor em situação de ensino, assim não se limita ao saber-fazer, mas inclui conhecimentos e atitudes;

• Principais competências nesta perspectiva: observar e caracterizar situações da realidade pedagógica; determinar valores e princípios e definir fins e objetivos da educação; conhecer e saber utilizar recursos educativos; planificar e utilizar estratégias de intervenção; avaliar processos e produtos educativos; saber utilizar sistematicamente o feedback e desenvolver formas de trabalho em grupo).

• Variante desta orientação é a competência para a tomada de decisões.

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ORIENTAÇÃO PERSONALISTA • Origem na psicologia da percepção, humanismo e da fenomenologia; • Ponto central é a pessoa com todos seus limites e possibilidades;• Ensinar não é só uma técnica, é em parte uma revelação de si

mesmo e dos outros. O recurso mais importante do professor é ele próprio;

• Importa muito o conceito de si próprio, o entendimento da situação em que está inserido e da inter-relação destas duas percepções;

• O objetivo da formação de professores nesta perspectiva e proporcionar aos professores me formação a capacidade de serem pessoas com um autoconceito positivo, com maturidade profissional, pessoal e de processo;

• Essa formação não está preocupada em ensinar aos professores como ensinar, mas sim em desenvolver a autodescoberta pessoal, o tomar consciência de si próprio;

• Envolve dimensões pessoais, relacionais, situacionais e institucionais. Envolve a descoberta do modo pessoal de ensinar. O currículo tem um desenho onde teoria está ligada à prática levando em conta os aspectos intelectuais, afetivos e psicomotor. Ver p. 38

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ORIENTAÇÃO PRÁTICA• Orientação mais adotada depois da acadêmica;• Abordagem tradicional e abordagem reflexiva sobre a prática;• Concebe o ensino como uma atividade complexa, que se

desenvolve em cenários singulares, claramente determinada pelo contexto, com resultados em grande parte imprevisíveis e carregada de conflitos de valor que exigem opções éticas e políticas (Perez Gomez);

• Competências cognitivas: empíricas (conhecer o que acontece na sala, dados objetivos e subjetivos); analíticas; avaliativas; estratégicas (planificação das ações); práticas (capacidade de relacionar a análise e a prática com os fins e os meios; comunicação (capacidade de partilhar idéias com os colegas).

• Reflexão como processo que pode favorecer a aprendizagem do professor. A reflexão ou de análise da realidade circundante envolve três níveis: 1)técnica (análise das ações manifestas: andar pela classe, formular perguntas, etc.); 2)prática ( reflexão do que se fez e planificação do que se vai fazer) e 3)crítica (envolve as considerações éticas,análise ética ou política da própria prática.

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ORIENTAÇÃO PRÁTICA

Formas de reflexão em função da relação entre pensamento reflexivo e ação:

• Introspecção (reflexão interiorizada pessoal, mediante a qual o professor reconsidera os seus pensamentos e sentimentos em relação à atividade diária e cotidiana, a partir de uma perspectiva distanciada (entrevista e profundidade, diários)

• Exame (reflexão sobre acontecimentos passados, presentes ou futuro da vida da classe, diários. Está mais próxima da ação.)

• Indagação (relaciona-se com o conceito de investigação-ação, através dela os professores analisam sua prática, identificando estratégias para melhorar (CRR e Kemmis, 1988. A pesquisa introduz um compromisso de mudança e aperfeiçoamento, o que não acontece com tanta clareza nas anteriores formas de reflexão. Introdução da preocupação com os aspectos éticos, pessoais e políticos)

• Espontaneidade (a forma de reflexão que mais se relaciona com a prática, denominada por Schon de reflexão na ação e tem a ver com os pensamentos que os professores tem quando estão ensinando que dão suporte à improvisãao, tomada de decisões, etc.)

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ORIENTAÇÃO SOCIAL-RECONSTRUCIONISTA

• Se relaciona com a orientação prática, abordagem reflexiva. Neste caso a reflexão não pode ser concebida como uma mera atividade de análise técnica ou prática, mas incorpora um compromisso ético e social de procura de práticas educativas e sociais mais justas e democráticas. Professores concebidos como ativistas políticos e sujeitos comprometidos com seu tempo (agente social de mudança). A reflexão se refere às relações entre pensamento e ação em determinadas situações históricas; não é uma forma individualista de trabalho mental,pressupõe relações sociais; não é neutra, expressa e serve a interesses humanos, políticos, culturais e sociais particulares; não é indiferente nem passiva perante a ordem social, portanto reproduz ou transforma as práticas ideológicas que estão na base da ordem social; não é um processo mecânico mas um exercício criativo.

• Uma das funções da formação de professores será transformar as concepções estáticas prévias dos professores em formação acerca do ensino, da gestão da classe, autoridade, etc. A teoria deve estar integrada na prática, dado que a prática produz o conhecimento tácito que deve ser considerado pelo seu valor.

• A prática é concebida como o espaço curricular especialmente desenhado para se aprender a construir o pensamento prático do professor em todas as suas dimensões, nesse sentido a prática não é uma atividade sistemática, acrítica, de aplicação de princípios teóricos, mas é entendida como uma oportunidade para se adquirir conhecimento. Aqui a reflexão envolve: descrição (o que faço), informação (sobre o significado do que faço), confrontação (como cheguei até aqui) e transformação (identificar e testar perspectivas e formas de agir diferentes)