Recursos e materiais adaptados para a criança cega no ambiente escolar: Um estudo descritivo
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO
MUNICÍPIO DE SÃO BERNARDO DO CAMPO
ADRIANE REGINA BRAVO MENDES
Recursos e materiais adaptados para a criança cega no ambiente
escolar: Um estudo descritivo
São Paulo
2011
ADRIANE REGINA BRAVO MENDES
Recursos e materiais adaptados para a criança cega no ambiente escolar: Um
estudo descritivo
Trabalho de
conclusão
de curso
apresentado a Faculdade de
Educação da Universidade de
São Paulo para obtenção da
pós- graduação em Educação
Inclusiva.
Orientador:
Prof.Ms.Edson Defendi
São Paulo
2011
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Mendes, Adriane Regina Bravo
Recursos e materiais adaptados para a criança cega no ambiente escolar:
Um estudo descritivo/ Adriane Regina Bravo Mendes; orientação Edson Defendi . São Paulo,
2011.
43 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Educação Especial)
- - Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.
1. Educação Inclusiva 2. Educação Especial 3. Recursos e materiais adaptados 4.Cegueira
I. Defendi, Edson, orient.
Para Pedro e André ...filhos desejados e amados
Para o Mauricio...amor da minha vida!
AGRADECIMENTOS
A Deus, que tornou tudo possível, a Ele honra, glória e louvor.
Ao meu marido Mauricio e aos meus filhos Pedro e André por me apoiarem, por
entenderem as minhas ausências e por cuidarem de mim. Amo vocês!
Aos meus pais por sempre incentivarem a minha vida escolar.
Ao Professor Edson Defendi por me orientar, guiar e ajudar com o presente trabalho
e principalmente por me abrir os olhos para a deficiência visual.
As minhas queridas amigas do curso de pós- graduação em Educação Inclusiva por
todos os sábados, por todos os risos, por toda a caminhada.
Aos meus alunos de hoje e de ontem que me tornaram uma professora melhor, que
me ensinaram o que é de fato inclusão.
A Laysa, Thayná e Isabelle cujas diferenças me tornaram uma igual!
“SE PUDERES OLHAR, VÊ. SE PODES VER, REPARA”.
José Saramago
Resumo
MENDES,A.R.B. Recursos e materiais adaptados para a criança cega no
ambiente escolar: Um estudo descritivo. 2011. 43 f. Monografia – Faculdade de
Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.
A legislação vigente garante o acesso de todos a escola pública, inclusive das
crianças com deficiência através da inclusão nas classes comuns do ensino regular.
A inclusão reflete um enorme avanço na educação do país, mas será que as
unidades escolares e os professores estão preparados para isso? Como ficam os
alunos cegos no que diz respeito aos recursos e materiais adaptados essenciais ao
seu processo de inclusão educacional? Assim o objetivo do presente estudo foi
conhecer os recursos pedagógicos e os materiais adaptados que existem
atualmente para a inclusão escolar da criança cega provocando assim, no leitor,
uma necessidade de busca e conhecimento sobre as diferentes possibilidades de
trabalho inclusivo com os alunos cegos em sala de aula. Este estudo de caráter
descritivo partiu de uma pesquisa bibliográfica e qualitativa com o intuito de levantar
os principais recursos pedagógicos que auxiliam sobremaneira o professor no
processo de ensino e aprendizagem ao educando cego. Conclui-se que conhecer
esses recursos e disponibilizá-los em sala de aula, bem como um professor
capacitado, informado, e equipado com recursos e materiais adaptados num
contexto escolar que acredita e proporciona esses elementos efetivará seu trabalho
pedagógico com maiores chances de promover a inclusão educacional destes
alunos.
Palavras-chaves: educação inclusiva, educação especial, recursos e materiais
adaptados, cegueira
Índice de Imagens
Figura 1 - Cela Braile.................................................................................................22
Figura 2: Alfabeto Braille............................................................................................23
Figura 3: Reglete e Punção.......................................................................................24
Figura 4: Quando, escreve-se o Braille na reglete com o punção os pontos são
usados desta maneira.(Cela invertida)......................................................................24
Figura 5: Máquina de escrever Braille.......................................................................25
Figura 6: Impressora Braille.......................................................................................26
Figura 7: Sorobã........................................................................................................27
Figura 8: Minuvo........................................................................................................30
Figura 9: Dosvox........................................................................................................30
Figura 10: Linguagens Multisensoriais......................................................................30
Figura 11: Dosvox......................................................................................................30
Figura 12: Virtual Vision.............................................................................................31
Figura 13: Jaws.........................................................................................................32
Figura 14: Acionador BigTrack Trackball...................................................................33
Figura 15: Acionadores de Pressão AbleNet na versão Twist...................................34
Sumário
Introdução..................................................................................................................10
Capítulo 1 : Panorama Histórico................................................................................12
Capítulo 2 : A criança com cegueira..........................................................................17
Capítulo 3: Recursos e materiais adaptados.............................................................21
3.1 Sistema Braille.................................................................................................22
3.1.1 Reglete......................................................................................................24
3.1.2 Máquinas de escrever...............................................................................25
3.1.3 Impressoras...............................................................................................26
3.2 Sorobã..............................................................................................................27
3.3. Tecnologia Assistiva........................................................................................28
3.3.1 Dosvox....................................................................................................30
3.3.2 Virtual Vision..............................................................................................31
3.3.3 Jaws..........................................................................................................32
3.3.4 Sites...........................................................................................................32
3.3.5 Acionadores...............................................................................................33
Capítulo 4: Método.....................................................................................................36
Capítulo 5: Considerações finais - A importância dos recursos especializados na
inclusão da criança cega...........................................................................................38
Referências................................................................................................................41
Sites consultados :.................................................................................................43
10
Introdução
Parece que foi ontem, mas minha história com a educação completou 22 anos
neste ano. São 22 anos de muitos casos, causos, emoções e aprendizado. Uma
história que começou numa escola especial particular com oito alunos pré-
adolescentes com as mais diversas deficiências tão desconhecidas até então para
mim: autismo, síndrome de down, Asperger, encefalopatia crônica. Um trabalho
acompanhado de perto por uma pedagoga, uma psicóloga e uma terapeuta
ocupacional (donas da escola)... Queria ter aproveitado mais esse tempo, gostaria
de naquela época já perceber a importância do registro para que hoje elas fossem
as marcas históricas de um tempo bom! Tempo bom, mas corrido, pois ao mesmo
tempo fazia o último ano do magistério e o primeiro ano de faculdade no curso de
Pedagogia. Professor é assim: dobra e se desdobra pra ter formação e sobreviver.
Depois veio uma escola particular com poucos alunos por sala, sem alunos
deficientes, pois o lugar deles era outro... Outro espaço... Outra escola. Nesta
época, década de 90, era muito difícil ver um aluno com deficiência na escola, ou
estavam em instituições específicas ou “escondidos” em salas especiais.
Vieram também as novas experiências com a inclusão de alunos deficientes
no ensino regular. E com essas experiências surgiram as indagações, os
questionamentos, as dúvidas, as lamentações e o medo. Medo de não dar conta, de
não conseguir, a sensação de completa incompetência. As inquietações do contato
com o novo... O diferente! Será que a escola pública está pronta para receber o
aluno deficiente?Que deficiência é essa? Será que os professores se sentem
capacitados para assumir tanta responsabilidade? Os prédios estão acessíveis? As
escolas possuem os recursos necessários para o trabalho com estes alunos? Os
professores são orientados e acompanhados para este novo caminhar?
Um assunto que muito tem me inquietado, principalmente no último ano, é a
inclusão de crianças cegas no ensino regular. Por conta das especificidades da
deficiência esta criança, quando chega à escola, precisa de recursos e materiais
adaptados para que seu aprendizado possa de fato se efetivar; e não só isso,
necessita também de uma professora capacitada pra atendê-la, uma turma com
11
número reduzido de alunos, uma auxiliar de classe para ajudar com todas as
necessidades de determinada classe, uma equipe multidisciplinar que apóie essa
professora, um prédio adaptado para recebê-la com piso tátil e placas indicativas em
Braille.
Apesar de toda nossa caminhada histórica, para a realidade de muitas
escolas brasileiras as questões acima ainda se configuram como desejos
inalcançados, uma realidade sonhada por alguns professores que lutam todos os
dias por condições melhores, que sonham diariamente com uma escola inclusiva.
Portanto o presente estudo tem por objetivo conhecer os recursos
pedagógicos e os materiais adaptados para a inclusão escolar da criança cega e foi
construído da seguinte maneira: no primeiro capítulo encontra-se a trajetória
histórica da deficiência o modo como era vista e tratada por diferentes povos e
culturas; no segundo capítulo a definição de cegueira e como a criança cega se
desenvolve e aprende numa perspectiva compensatória de acordo com Vygotsky; o
capítulo três traz recursos e materiais adaptados para o trabalho educacional; o
capítulo quatro descreve a metodologia usada neste estudo e por fim as
considerações resultantes de todo este processo de pesquisa e aprendizado.
Espero que o presente trabalho seja uma faísca que encandeará muitas
fogueiras. Que possa ser um começo para um trabalho sério e respeitável com o
aluno cego.
12
Capítulo 1 : Panorama Histórico
A deficiência e a inclusão de deficientes ganharam maior espaço nas
discussões sociais e educacionais nas últimas décadas, mas a história da pessoa
deficiente e o modo como eram entendidos e tratados é de tempos remotos. De
acordo com Vygotsky (1995) a evolução histórica da concepção sobre o deficiente
visual pode ser subdividida em três períodos: o místico, o biológico e o científico. O
período místico abrange a Antiguidade e está relacionado aos profetas e seus atos,
a credibilidade no sexto sentido e na visão interior. O período biológico se
fundamenta no Iluminismo e baseia suas discussões na razão e sensibilidade
(educação pelos sentidos). O período científico acontece na Idade Moderna através
de uma educação sistemática onde o indivíduo, um ser social e histórico, é capaz de
aprender e de se comunicar.
Outros estudos e fontes trazem a cidade de Esparta como fonte dos primeiros
registros históricos acerca de pessoas com deficiências. Uma criança espartana
deficiente era jogada num precipício, pois era considerada uma aberração da
natureza e seu fim só poderia ser a exclusão social ou através do abandono ou da
morte. Essa ação era justificada por uma sociedade onde força física para a guerra
era o bem maior do cidadão. Assim quem não atendia a esse requisito era
eliminado.
Da mesma maneira na Grécia, baseados na ideia de mens sana in corpore
sano o genocídio de crianças deficientes era fundamentado e até defendido por
filósofos como Platão e Aristóteles. Uma pessoa deficiente enfraqueceria a imagem
que os gregos tinham de si, imagem esta enraizada na força e na beleza de seus
deuses.
Na Era Cristã a situação não ficou diferente apesar dos ideários da igreja
católica. Na Roma Antiga quando uma criança nascia deformada ela era jogada nos
esgotos. Essa ação foi relatada pelo filósofo e poeta Sêneca (4 a.C. a 65 d. C):
Nós matamos os cães danados os touros ferozes e
indomáveis, degolamos as ovelhas doentes com medo que
infectem o rebanho, asfixiamos os recém-nascidos mal
construídos, mesmo as crianças, se forem débeis ou anormais,
13
nós as afogamos; não se trata de ódio, mas da razão que nos
convida a separar das partes sãs aquelas que podem
corrompê-las.( Sobre a Ira,I,XV)
Ou era o esgoto ou eram mutiladas para serem usadas como pedintes já que
as esmolas eram rentáveis aos pobres e marginalizados.
Na Europa medieval crianças defeituosas eram sacrificadas e adultos doentes
mentais eram queimados em praças públicas sob a acusação de serem feiticeiros ou
bruxos. Os deficientes eram tratados como monstros, pois iam contra a idéia divina
de criação.
Foi no final da Idade Média, quando se começou a ter uma filosofia mais
humanista principalmente por parte da igreja, que os deficientes passaram a ser
vistos como pessoas que necessitavam de caridade, eram pessoas subjugadas por
seus pecados ou de seus pais e pagavam um preço por isso. Mesmo assim eram
considerados filhos de Deus e conseguiam abrigos em igrejas e pagavam por esse
abrigo prestando favores a mesma.
As primeiras preocupações, de âmbito educacional, em relação às pessoas
cegas, surgiram com um médico italiano, no século XVI,chamado Girolínea Cardono
que fez testes para o aprendizado da leitura através do tato e os primeiros livros
sobre educação de pessoas cegas foram escritos por Peter Pontamos, Flemimg
(que era cego) e o padre Lara Terzi.
No século XVIII, mas especificamente no ano de 1770 o abade Eppeé ( 1712-
1789) criou a primeira instituição para surdos-mudos e em 1784 Valentin Hauy
(1745-1822) fundou o Instituto Nacional de Jovens Cegos aplicando sua invenção :
um sistema de leitura em alto relevo com letras em caracteres comuns. Mesmo com
esses avanços e o advento da ciência as ideias sobre deficiências ficaram
vinculadas a invalidez e confinamento, permanecia a estigma do anormal. No século
XIX difundiram-se tanto na Europa como nos Estados Unidos escolas com propostas
educacionais voltadas para o deficiente visual.
Um novo sistema com caracteres e relevo, para escrita e leitura, foi
desenvolvido por Louis Braille e em 1825 passa a ser denominado Sistema Braille. A
partir disto o processo de aprendizado do cego deslancha e dá ao deficiente mais
participação social.
14
No Brasil as coisas começaram a acontecer em 1854 no Rio de Janeiro com a
fundação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos que em 1891 passou a ser
conhecido como Instituto Benjamim Constant (IBC) em homenagem a Benjamim
Constant Botelho de Magalhães (1836-1891) militar, engenheiro e estadista
brasileiro que foi o terceiro diretor do Instituto, e logo depois o Instituto Nacional de
Educação de Surdos (INES). O Instituto foi o primeiro educandário para cegos na
América Latina e hoje é a única instituição de caráter federal para a educação de
pessoas cegas e de baixa visão. Além disso, o IBC criou a primeira Imprensa Braille
do país em 1926 e vem se dedicando a capacitação de recursos humanos, a
publicações científicas e a inserção de pessoas deficientes visuais no mercado de
trabalho.
Em 1946 criou-se a Fundação para o livro do cego no Brasil, cuja fundadora
foi a pedagoga Dorina Nowill. Desde então essa Fundação tem como objetivo a
inclusão social dos deficientes visuais através de programas educacionais e culturais
mais especificamente dentro do setor literário através de obras em Braille, livros e
revistas falados e produções acadêmicas digitais.
Mas as iniciativas oficiais no país só aconteceram no século XX: ensino e
reabilitação de deficientes visuais (1958). Em 1973 foi criado o Centro Nacional de
Educação Especial (CENESP) que mais tarde passou a ser a Secretaria de
Educação Especial (SEESP/MEC) que buscava ações mais sistematizadas para a
expansão do atendimento ao deficiente.
Não há como negar, que um grande marco para a história do atendimento ao
deficiente no Brasil, foram as inovações e alterações nas leis, apesar de ter sido um
processo lento e muitas vezes equivocado os avanços foram muitos. A primeira lei a
trazer um texto em âmbito nacional foi a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) 4024/61
nos seus artigos 88 e 89, mas o texto abriu precedentes para a iniciativa privada não
criando um compromisso legal com a escola pública. Depois veio a LDB 5692/71
onde o texto coloca, no mesmo balaio, deficientes e crianças com defasagens de
aprendizagem; isso se concretiza nas Escolas de Educação Especial que passam a
fazer parte do sistema de ensino brasileiro. Concomitante a este período a
Organização das Nações Unidas (ONU) escreve a Declaração dos Direitos do
15
Deficiente (1975) que garante aos deficientes os mesmos direitos civis e político das
demais pessoas.
Com a Constituição de 1988 o Brasil inicia um movimento de pró-integração e
normalização1 mas seu texto no artigo 208 inciso III ainda mantém um
descomprometimento da rede pública com o atendimento a criança deficiente. As
décadas de 70 e 80 marcam o surgimento das salas de recursos e das classes
especiais que mantém o caráter segregatório, pois só podiam ser integrados aqueles
que se adequavam as normas de funcionamento de uma classe comum.
Atendimento sim, mas ainda com exclusão.
A palavra inclusão e seu sinônimo, comumente usado, integração só chegam
ao final da década de 80 baseadas num modelo psicossocial (Omote, 1994)2 onde
partiam do mesmo princípio: uma política educacional que reúna pessoas com ou
sem deficiência no mesmo espaço .Mas no foco da integração o problema era o
deficiente e não a escola ou a sociedade que os aceitavam se eles
desempenhassem as mesmas competências que as pessoas não deficientes. Já no
foco inclusivo a aceitação se fundamenta quando eliminadas as barreiras
curriculares, físicas e atitudinais.
Na década de 90, na Espanha, foi assinada a Declaração de Salamandra
(1994) que dentre outras questões determinava que a escola devesse receber toda
a criança independente de suas condições sociais, físicas, lingüísticas, emocionais
ou intelectuais. Dessa época até os dias de hoje o Brasil vem avançando nas
questões legais. Tivemos a Lei da Integração (7853/89), o Estatuto da criança e do
adolescente (8069/90), a Política Nacional da Educação Especial (MEC/SEESP,
1994) e a LDB 9394/96, o Plano Nacional de Educação (10.172/01), a Política
Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (3298/99), a
Resolução CNE/CNB no. 002/01, a lei que dispõe sobre o ensino da Língua
Brasileira de Sinais (LIBRAS), Portaria 3284/03 sobre acessibilidade e a Portaria
1 Um princípio filosófico que surgiu nos países nórdicos que é aplicado a pessoas com deficiências evitando a
estigmatização e a segregação
2 Modelo que pode ser visto como uma interpretação da deficiência através de condições psicológicas e sociais
geradas pela própria deficiência.
16
319/99 que instituiu a Comissão Brasileira do Braille que regulamentaria as normas
de uso e ensino do Sistema Braille no Brasil.
De acordo com Fontes (2009,p.42 )
“Não há dúvidas de que as legislações e as políticas
públicas educacionais pró-inclusivas no Brasil, quando
analisadas nos últimos quinze anos, apresentaram
avanços. Todavia, ainda persiste a distância entre os
que pregam os dispositivos legais e o que acontece nas
práticas cotidianas das salas de aula.”
E assim, o Brasil agora vai caminhando sob o lema de uma Educação para
Todos com uma proposta de escola inclusiva.
17
Capítulo 2 : A criança com cegueira
Mas afinal de contas como se define a cegueira? De acordo com os
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) “cegueira é a perda da visão, em ambos
os olhos, de menos de 0,1 no melhor olho após correção, ou um campo visual não
excedente a 20 graus, no maior meridiano do melhor olho, mesmo com o uso de
lentes de correção. Sob o enfoque educacional, a cegueira representa a perda total
ou o resíduo mínimo da visão que leva o indivíduo a necessitar do método Braille
como meio de leitura e escrita, além de outros recursos didáticos e equipamentos
especiais para a sua educação”.
Para o presente trabalho ficaremos com a definição encontrada no portal do
Ministério de Educação e Cultura (MEC): “A cegueira é uma alteração grave ou total
de uma ou mais das funções elementares da visão que afeta de modo irremediável a
capacidade de perceber cor, tamanho, distância, forma, posição ou movimento em
um campo mais ou menos abrangente. Pode ocorrer desde o nascimento (cegueira
congênita), ou posteriormente (cegueira adventícia, usualmente conhecida como
adquirida) em decorrência de causas orgânicas ou acidentais”.
Desde muito cedo a criança cega necessita de orientação e estímulos vindos
da família e dos grupos sociais dos quais faz parte, ou seja, precisa ser incentivada
a desenvolver seu potencial e sua curiosidade. Isso se torna possível com pais que
aprendam a identificar os caminhos que a criança cega usa para se comunicar e
entender que embora não tenha a visão essa criança possui outras capacidades. O
tato é um dos principais meios sensoriais de que a criança cega se utiliza para
conhecer o mundo a sua volta, pois permite uma coleta de informações sobre
objetos próximos apesar de ser mais lento que a visão. De acordo com Harold C.
Grifin e Paul J. Gerber (1999,p.1):
“A modalidade tátil é de ampla confiabilidade. Vai além
do mero sentido do tato; inclui também a percepção e a
interpretação por meio da exploração sensorial. Esta
modalidade fornece informações a respeito do
ambiente, menos refinadas que as fornecidas pela
18
visão. As informações obtidas por meio do tato têm de
ser adquiridas sistematicamente, e reguladas de acordo
com o desenvolvimento, para que os estímulos
ambientais sejam significativos. Ao contrário, o sentido
da visão, que se desenvolveu com o passar do tempo,
pode captar as informações instantaneamente e pode
também processar nuances de informação por meio de
“input” sensorial".
Outro meio é a audição que auxilia na comunicação verbal, na identificação e
localização de pessoas ou de objetos num determinado espaço.
O funcionamento do sistema psicológico humano apresenta uma plasticidade
que proporciona uma aprendizagem por vias alternativas, àquilo que Vygotsky
(1995) chamou de compensação, ou seja, “as crianças deficientes devem usar seus
sentidos sadios para compreenderem o mundo, isto é, as crianças devem
desenvolver seus sentidos normais para compensarem seus sentidos perdidos
(visão, audição, etc.)”. Assim poderão construir seu desenvolvimento através dos
sistemas sensoriais de que dispõem por vias alternativas distintas das dos videntes.
Pesquisas realizadas por Bates e seus colaboradores em 1939 (Coll, 2004)
com crianças videntes mostraram que a atividade fundamental das crianças nos
primeiros meses de vida é estabelecer relações com outros seres humanos,
relações estas baseadas em intercâmbios visuais além do fato de que os bebês
prestam muita atenção em estímulos visuais. Mas se partirmos dessa idéia como
fica a criança cega nestas interações? Poderia se supor que elas teriam muitas
dificuldades pra estabelecer esta comunicação pré-verbal, mas os bebês cegos, que
partem de vias alternativas, traçam esta comunicação através da voz das pessoas
que com eles se interacionam, principalmente com a voz materna, ou através do
vínculo de apego que deve ser estabelecido desde muito cedo. A partir dos cinco ou
seis meses as crianças cegas começam a construir a percepção dos objetos táteis e
passam a ter a capacidade de procurar objetos explorados por elas através de
experiências táteis e a partir do segundo ano de vida começam coordenar as
imagens táteis às auditivas e consequentemente começam a procurar os objetos
pelo som. Aqui se confirma a importância de objetos sonoros no processo de
estimulação da criança cega. Importância esta centrada no trabalho com a
19
coordenação audiomanual ou o uso de objetos segundo as características
perceptivas desta criança.
Já no período pré-escolar, estudiosos como Esperanza Ochaita e Miguel
Perez Pereira citados em Coll (2009) afirmam que crianças cegas não apresentam
dificuldades no desenvolvimento da linguagem apesar de algumas características
diferenciadas aparecerem por conta das especificidades da ausência da visão como
a generalização ou formação de categorias de objetos dos quais o acesso ao
deficiente visual é mais difícil ( por exemplo a construção de conceitos como
animais e veículos). Nesta fase a aprendizagem significativa passa pelas vivências
corporais no espaço e no tempo reforçando a importância de jogos simbólicos,
atividades lúdicas e recreativas no qual as crianças cegas recorrem a imitações
verbais. Essa ludicidade ajuda no reconhecimento de potencialidades, no
desenvolvimento do raciocínio, no uso de gestos para exprimir ideias, emoções e
pensamentos.
Na etapa de 6 a 12 anos o foco de desenvolvimento para as crianças cegas é
o cognoscitivo, com referência nos estudos de Jean Piaget e da Escola de Genebra.
De modo geral o desenvolvimento intelectual das crianças não videntes não
apresenta sérios problemas, mas, a falta da visão e a aquisição de boa parte do
conhecimento acontecem por intermédio do tato faz com que atividades figurativas e
espaciais sejam mais difíceis do que as lógicas. Não podemos esquecer que, do
ponto de vista intelectual, as crianças cegas são capacitadas para o processo de
aprendizagem, ou seja, acompanham o conteúdo do currículo de uma escola dita
“comum”. Cabe a essa escola garantir, com qualidade, suas necessidades
educativas especiais como a orientação e mobilidade, o acesso as informações
escritas (leitura tátil do Braille), a mobilidade e educadores que conheçam as
características do desenvolvimento e da aprendizagem destas crianças (formação) e
que sejam acompanhados por uma equipe técnica que dê suporte e orientação
visando o avanço do trabalho pedagógico. Mas tanto família, escola como
educadores precisam entender que todo esse processo intelectual só é validado
quando está relacionado a um trabalho que busque também o desenvolvimento
social e afetivo da criança cega através, por exemplo, da interação e do jogo.
Apesar da grande importância que o jogo simbólico tem para o
desenvolvimento humano são poucos os estudos sobre este desenvolvimento nas
20
crianças cegas. O que se fundamenta é a dificuldade em simbolizar cenas da vida
diária das quais as crianças cegas não têm acesso visual, mas, como já foi dito, ela
se utiliza de imitações verbais. Para a criança cega é mais fácil planejar um jogo do
que realizá-lo o que comprova a importância da linguagem na ausência da visão.
O que se concretiza a cada dia é que a interação de crianças cegas com
crianças videntes é um processo possível e benéfico para todas as partes: todos
aprendem! De jeitos e modos diferentes, mas todos aprendem!
21
Capítulo 3: Recursos e materiais adaptados
A interação de crianças cegas com videntes, no processo de aprendizagem,
citada no capítulo anterior também se torna possível graças aos recursos e materiais
adaptados de que a sociedade dispõe hoje. Segundo a Fundação Catarinense de
Educação Especial “o material pedagógico adaptado, que serve como auxiliar da
ação docente na busca de resultados em relação à aprendizagem de conceitos e ao
desenvolvimento de habilidades desempenha um papel nuclear em programas
direcionados a atender as necessidades especiais dos educandos, percebendo
estes em toda a sua singularidade”.
Vejamos tambem o que encontramos no site do MEC (2007,p.26):
“A predominância de recursos didáticos eminentemente
visuais ocasiona uma visão fragmentada da realidade e
desvia o foco de interesse e de motivação dos alunos
cegos e com baixa visão. Os recursos destinados ao
Atendimento Educacional Especializado desses alunos
devem ser inseridos em situações e vivências cotidianas
que estimulem a exploração e o desenvolvimento pleno
dos outros sentidos. A variedade, a adequação e a
qualidade dos recursos disponíveis possibilitam o
acesso ao conhecimento, à comunicação e à
aprendizagem significativa.
Recursos tecnológicos, equipamentos e jogos
pedagógicos contribuem para que as situações de
aprendizagem sejam mais agradáveis e motivadoras em
um ambiente de cooperação e reconhecimento das
diferenças. Com bom senso e criatividade, é possível
selecionar, confeccionar ou adaptar recursos
abrangentes ou de uso específico.”
A proposta deste capítulo é apresentar os seguintes recursos e materiais
adaptados: Sistema Braille, Sorobã e as novas Tecnologias Assistivas.
22
3.1 Sistema Braille
O passado traz inúmeras tentativas de se criar uma estratégia de leitura e
escrita para pessoas cegas. Uma destas tentativas foi a do francês Valentin Hauy,
fundador da primeira escola para cegos no mundo (1784), que desenvolveu um
processo de representação de caracteres comuns com linhas em alto relevo, onde
os estudantes tinham acesso somente a leitura sem nenhuma forma de
comunicação escrita. Foi nesta escola que estudou Louis Braille que ficou cego aos
três anos de idade vítima de um acidente seguido de um sério problema
oftalmológico que lhe causou a cegueira.
Edison Ribeiro Lemos e Jonir Bechara Cerqueira relatam no site do Instituto
Benjamim Constant que Louis Braille, ainda um jovem estudante, conheceu uma
invenção chamada sonografia ou uma espécie de código militar criada por Charles
Barbier. Esta invenção possibilitava uma comunicação noturna entre oficiais nos
períodos de guerra. Era baseada em doze sinais de linhas e pontos salientes que
representavam as sílabas na língua francesa mas não teve uma boa aceitação então
Charles levou sua invenção para ser experimentada entre cegos no Instituto Real
dos Jovens Cegos. Foi o significado tátil do invento de Barbier que deu base a
criação do hoje chamado Sistema Braille que pode ser utilizado tanto para a leitura
quanto para a escrita de pessoas cegas. Este sistema possibilita a formação de 63
símbolos diferentes a partir de seis pontos em relevo, convencionalmente chamados
de "cela Braille” disposto em duas colunas (figura 01).
Figura 1 - Cela Braile
23
Figura 2: Alfabeto Braille
Uma alternativa é o Braille Virtual, um curso on-line que foi criado e
desenvolvido por uma equipe de profissionais da Universidade de São Paulo – USP
– tendo por objetivo possibilitar o aprendizado do sistema Braille de uma maneira
simples, gratuita e lúdica. O programa para download está disponível em:
http://www.braillevirtual.fe.usp.br
O Sistema possibilita, além da escrita e da leitura, o trabalho com a
simbologia matemática e científica na música e na informática; este material pode
ser produzido por impressoras elétricas e computadorizadas, máquina de datilografia
e, manualmente, através de reglete e punção.
24
3.1.1 Reglete
Figura 3: Reglete e Punção
A Reglete é uma variação do aparelho que era usado por Louis Braille: uma
prancha, uma régua com duas linhas e janelas que correspondiam as celas Braille
que se encaixavam nas extremidades laterais da prancha e o punção. Atualmente
todas as Regletes, quer sejam de mesa ou de bolso, consistem em duas placas de
metal ou plástico fixas de um lado com dobradiças para a introdução do papel. O
Braille é escrito da direita para a esquerda (figura 03), na seqüência normal de letras
e a leitura é feita da esquerda para a direita. Conhecer bem a numeração dos pontos
que correspondem a cada símbolo facilita o trabalho com a Reglete.
Figura 4: Quando, escreve-se o Braille na reglete com o punção os pontos são usados desta maneira.(Cela invertida)
25
Com exceção do cansaço a escrita na Reglete, por sua automaticidade, pode
ser comparada a escrita com lápis de uma pessoa vidente.
3.1.2 Máquinas de escrever
Figura 5: Máquina de escrever Braille
A máquina Braille é formada por sete teclas sendo uma delas destinada para
dar espaço entre as palavras. As outras seis teclas funcionam como células Braille,
ou seja, cada tecla corresponde a um número (de um a seis) que é a posição na
célula e para escrever uma letra o deficiente visual precisa saber da codificação da
posição de determinada letra dentro da célula. Por exemplo: A letra B corresponde
as posições 1 e 2 na célula Braille, para teclar a letra B na máquina a pessoa cega
deve abaixar de uma só vez as teclas 1 e 2.
Mas a aquisição desta máquina não é de fácil acesso a quem não tem tantas
condições financeiras. De acordo com o site da Rede Globo “A Lamara produzia 40
unidades da máquina de Braille por mês. Cada equipamento fabricado no Brasil,
segundo a instituição, custa cerca de R$ 2 mil. A assessoria de imprensa afirma que
é possível encomendar a máquina. Apesar da suspensão, é possível comprar
26
máquinas de Braille importadas. O custo médio de um equipamento da Perkins é de
R$ 2,9 mil.”
27
3.1.3 Impressoras
Figura 6: Impressora Braille
O ponto forte de uma impressora Braille é a rápida conversão de qualquer tipo
de texto eletrônico para o Sistema Braille e é muito utilizada em escolas, empresas,
faculdades e também para uso pessoal.
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3.2 Sorobã
Figura 7: Sorobã
A história traz alguns indícios da origem do Sorobã: alguns autores dizem que
ele teria surgido na Grécia através de Pitágoras e outros que ele surgiu de 3 a 4
milhões de ano na Mesopotâmia e chegado ao oriente através do Império
Romano.No oriente,o Ábaco Romano, foi introduzido pela China e dai levado ao
Japão onde passou a ser conhecido por Sorobã ou Ábaco
Atualmente é um aparelho de cálculo de origem japonesa que foi adaptado
para o uso de deficientes visuais. Por conta de sua rapidez e eficiência na realização
de operações matemáticas como: adição, subtração, multiplicação, divisão,
potenciação e radiciação têm sua adesão cada vez mais crescente, além dos fatores
de baixo custo e de durabilidade. O material proporciona o registro de termos,o
cálculo mental e o registro dos resultados.
O Sorobã é um aparelho muito usado no Japão por escolas onde o ensino
dele acontece desde o curso primário como matéria obrigatória e é também de suma
importância para a formação profissional e em casas comerciais e engenheiros,
como máquina de calcular de grande rapidez. Com alguma habilidade o deficiente
visual pode escrever números no Sorobã com a mesma velocidade ou até mesmo
mais rápido que um vidente escreve a lápis no caderno.
29
Este instrumento matemático manual é formado por dois retângulos: um maior
com quatro peças em cada eixo e um menor com apenas uma peça por eixo (Figura
07). A peça que separa os retângulos chama-se régua de numeração, que de três
em três eixos tem um ponto em relevo que é a marcação das classes numéricas. É
nessa régua que se escreve e que se lêem os algarismos.
O Sorobã foi introduzido no Brasil através dos imigrantes japoneses no ano
de 1908 mas sua divulgação só aconteceu em 1956 com o professor Fukutaro Kato.
Por volta de 1959 Joaquim Lima de Moraes introduziu este material na educação
dos deficientes visuais. Esta adaptação ocorreu colocando-se um tecido
emborrachado sob as contas para que elas se movimentassem com menos rapidez
e também com pontos em relevo na régua intermediária separando as classes
numéricas.
Hoje seu uso é reconhecido por professores especializados e pessoas cegas
que acreditam que o uso do Sorobã necessita de uma orientação objetiva sobre
suas técnicas de utilização, pois este material vem sendo adotado, pelo sistema
educacional, em todo o Brasil.
3.3. Tecnologia Assistiva
O termo “Tecnologia Assistiva” ainda é um termo novo utilizado para
identificar materiais, recursos e serviços que contribuem para ampliar ou
proporcionar habilidades de pessoas com deficiência promovendo vida
independente e a inclusão. De acordo com o site Assistiva: “Tecnologia Assistiva é
uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos,
recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a
funcionalidade, relacionada à atividade e participação de pessoas com deficiência,
incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência,
qualidade de vida e inclusão social" ( ATA VII - Comitê de Ajudas Técnicas - CAT ).
De acordo com Rita Bersch (2009) a legislação brasileira ainda dá seus
primeiros passos mas alguns deles já se tornam importantes como o Decreto 3298
de 1999, que no artigo 19 (citado abaixo na íntegra) fala do direito do cidadão
brasileiro com deficiência às AjudasTécnicas. Nele consta que:
30
“Consideram-se ajudas técnicas, para os efeitos deste Decreto, os elementos que
permitem compensar uma ou mais limitações funcionais motoras, sensoriais ou
mentais da pessoa portadora de deficiência, com o objetivo de permitir-lhe superar
as barreiras da comunicação e da mobilidade e de possibilitar sua plena inclusão
social.
Parágrafo único. São ajudas técnicas:
I - próteses auditivas, visuais e físicas;
II - órteses que favoreçam a adequação funcional;
III - equipamentos e elementos necessários à terapia e reabilitação da
pessoa portadora de deficiência;
IV - equipamentos, maquinarias e utensílios de trabalho
especialmente desenhados ou adaptados para uso por pessoa
portadora de deficiência;
V - elementos de mobilidade, cuidado e higiene pessoal necessários para facilitar a
autonomia e a segurança da pessoa portadora de deficiência;
VI - elementos especiais para facilitar a comunicação, a informação e a sinalização
para pessoa portadora de deficiência;
VII - equipamentos e material pedagógico especial para educação,
capacitação e recreação da pessoa portadora de deficiência;
VIII - adaptações ambientais e outras que garantam o acesso, a
melhoria funcional e a autonomia pessoal; e
IX - bolsas coletoras para os portadores de ostomia.”
A predominância dos recursos didáticos visuais provoca nos alunos cegos
desinteresse e falta de motivação por conta disto os recursos destinados ao
Atendimento Educacional Especializado (AEE) são inseridos em situações do
cotidiano estimulando e proporcionando a estimulação dos outros sentidos. De
acordo com o MEC: “Recursos tecnológicos, equipamentos e jogos pedagógicos
contribuem para que as situações de aprendizagem sejam mais agradáveis e
motivadoras em um ambiente de cooperação e reconhecimento das diferenças. Com
bom senso e criatividade, é possível selecionar, confeccionar ou adaptar recursos
abrangentes ou de uso específico”.
31
Figura 8: Minuvo Figura 9: DosvoxFigura 10: Linguagens
Multisensoriais
Os recursos tecnológicos procuram facilitar as atividades tanto para
educadores como para educandos pois possibilitam acesso ao
conhecimento, comunicação e pesquisa. Podemos encontrar leitores de
telas, correios eletrônicos, aplicativos com comandos por meio do teclado
e muitos outros. Os mais conhecidos e difundidos no Brasil são:
3.3.1 Dosvox
Figura 11: Dosvox
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De acordo com o site da Intervox : “O DOSVOX é um sistema destinado a
auxiliar o deficiente visual a fazer uso de microcomputadores da linha PC, através do
uso de sintetizador de voz. Este sistema foi desenvolvido no Núcleo de Computação
Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sob a supervisão do analista
José Antônio dos Santos Borges, da Divisão de Assistência ao Usuário, para
atender às necessidades dos deficientes visuais desta Universidade.
O sistema vem sendo aperfeiçoado a cada nova versão, sendo este implementado
por programadores deficientes visuais, que fazem uso do próprio sistema DOSVOX,
sem necessitar de ajuda de pessoas videntes. O sistema conversa com o deficiente
visual em Português, sem sotaque, e dá a ele muitas facilidades que um usuário
vidente tem.”
Os deficientes visuais além de utilizarem o software também participam como
programadores na equipe de desenvolvimento. O site http://caec.nce.ufrj.br/~dosvox
do núcleo de computação eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro
disponibiliza uma versão light do DOSVOX para Windows.
Este sistema possui também um conjunto de aplicativos com agenda, chat e
jogos e pode ser adquirido de forma gratuita por meio de download :
http://intervox.nce.ufrj.br/dosvox
3.3.2 Virtual Vision
Figura 12: Virtual Vision
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O Virtual Vision é considerado como uma grande solução para que deficientes
visuais possam utilizar com autonomia o Windows, o Office, o Internet Explorer e
outros aplicativos. Essa utilização se dá através da leitura dos menus e telas por um
sintetizador de voz.
Este software brasileiro foi desenvolvido pela Micropower, uma empresa
paulista, e pensado para atuar junto as ferramentas do Windows. As pessoas cegas
o recebem gratuitamente através do Banco Real ou da Fundação Bradesco.Maiores
informações são possíveis no site: http://www.micropower.com.br .
3.3.3 Jaws
Figura 13: Jaws
É conhecido mundialmente como o leitor de tela mais avançado e completo.
É um software que fornece assistência para que pessoas com deficiência visual
possam utilizar melhor o computador. Foi desenvolvido nos Estados Unidos mas
possui ferramentas com tradução em diversos idiomas. No Brasil é o mais caro leitor
de tela e não há distribuição gratuita do mesmo. Outras informações podem ser
adquiridas: http://www.lerparaver.com ou http://www.laramara.org.br
3.3.4 Sites
A internet proporciona uma boa gama de sites que tanto auxiliam os
deficientes visuais como abordam as questões relacionadas a deficiência.A seguir
algumas indicações de sites:
* www.amazon.com/access : uma adaptação da livraria virtual para deficientes
visuais.
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* www.entreamigos.com.br : é uma rede de informações sobre deficiências.
* www.saci.org.br é uma rede que atua como facilitadora da comunicação e da
difusão de informações sobre deficiência, visando estimular a inclusão social.
* www.audioteca.com.br A audioteca é uma instituição filantrópica que produz e
empresta livros falados (audiolivros) gratuitamente para pessoas cegas em todo o
território nacional.
* www.lerparaver.com O portal possui diversos conteúdos que são direcionados para
pessoas cegas, permitindo aos deficientes visuais o acesso as informações
objetivando a infoinclusão.
* www.cedipod.org.br é um portal que ajuda as pessoas com deficiência a exercer
seus direitos e deveres enquanto cidadão através de orientações legais.
* www.geocities.com/eloeficiente uma rede de sites sobre deficiências na internet
que tem como objetivo divulgar páginas que tenham informações, dados e suporte
sobre tipos de deficiências.
* www.deficientevisual.org.br Tem como objetivo oferecer oportunidades de trabalho
aos deficientes visuais através de um sistema de cadastramento e busca de
talentos.
3.3.5 Acionadores
Figura 14: Acionador BigTrack Trackball
Acionadores são produtos criados com a finalidade de promover
acessibilidade tanto no uso do computador quanto em outras atividades. Uma de
35
suas grandes características é a variedade de design apropriados para diferentes
utilizações.
Figura 15: Acionadores de Pressão AbleNet na versão Twist
A Tecnologia Assistiva pode ainda contar com ferramentas para a produção
de livros digitais, tanto em áudio quanto em braille através de programas de
reconhecimento óptico de caracteres que são usados para a digitalização de textos
bem como programas que convertem em áudio textos digitalizados.
O centro de tecnologia assistiva para deficientes visuais Laratec
(www.laractec.org.br) traz para seu trabalho softwares de acessibilidade ao
computador,ao material impresso e para celulares; relógios tatéis e falantes,
calculadoras e termômetros falantes.
Em 2010 apresentou-se o software ORCA : “ Orca é um leitor de tela
programável livre, de código aberto. Usando várias combinações de fala, braille, e
ampliação, Orca ajuda a fornecer acesso a aplicações e kits de ferramentas que
suportam o AT-SPI3.” Há a possibilidade de download através do link :
http://live.gnome.org/Orca.pt_br
É nesse meio tecnológico que os recursos e materias se aprimoram a cada
dia visando sempre a independência das pessoas cegas para realizar com
autonomia as atividades diárias de suas vidas. Tarefas como consultar um relógio,
3 Assistive Technology Service Provider Interface (AT-SPI) ou Interface provedora de serviços de Tecnologia Assistiva é um conjunto de
ferramentas que proporciona acessibilidade nas instalações e aplicações .. Ele foi desenvolvido pela GNOME projeto. AT-SPI fornecer uma
representação lógica do conteúdo .São assistentes úteis como leitores de tela ou lupas que podem permitir que pessoas com deficiência
naveguem e interajam com as aplicações.
36
verificar se as luzes estão apagadas, cozinhas, ler, escrever, identificar peças e
cores do vestuário, etc.
Mas todas estas possibilidades que se concretizam em recursos e materiais
adaptados só se efetivam se estiverem disponíveis em escolas, centros de apoio,
laboratórios de informática visando sempre a inclusão digital da pessoa cega.
37
Capítulo 4: Método
A pesquisa realizada neste trabalho é de natureza descritiva adotando uma
abordagem qualitativa e partindo de um caráter bibliográfico . Tem como objetivo
conhecer os recursos pedagógicos e os materiais adaptados para a inclusão escolar
da criança cega.
Este trabalho foi desenvolvido na Universidade de São Paulo (USP) em
parceria com a Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo no curso de pós-
graduação em Educação Especial e Educação Inclusiva entre 2010 e 2011.
Todo o interesse pela deficiência visual surgiu com os vídeos disponibilizados
no curso sobre: o Instituto Laramara e as discussões realizadas nas aulas
“Anatomia, fisiologia do Sistema Visual” com a professora Eliana Cunha e “Métodos,
técnicas e recursos para a educação e reabilitação das pessoas com cegueira e
baixa visão” com a professora Maria Cristina Felippe . Aulas estas que aguçaram um
maior conhecimento mais também inquietaram os pensamentos sobre as reais
possibilidades do trabalho pedagógico com o aluno cego.
Os procedimentos de coleta de dados, nesta pesquisa bibliográfica, se
efetivaram através de pesquisas em: livros sobre deficiência visual, cegueira,
necessidades educativas especiais, a criança cega na escola e recursos e materiais
adaptados. Materiais estes de autores renomados na área da Educação adquiridos
através de empréstimos na Biblioteca Dédalus da Faculdade de Educação da USP,
através de Teses e Dissertações de Mestrado e Doutorado encontrados no site do
Google Acadêmico (www.scielo.br); em exemplares de Monografias e Teses na
biblioteca acima referida; em artigos diversos sobre o tema deficiência visual
encontrados no site de pesquisa www.google.com.br ; no material fornecido nas
aulas ,do já citado curso, nas disciplinas “Anatomia e fisiologia do sistema
visual”,”Desenvolvimento e aprendizagem da criança cega”,”Mobilidade e
orientação”,”Avaliação das funções visuais”, “Métodos, técnicas e recursos para a
educação e reabilitação das pessoas com cegueira e baixa visão”, “Alfabetização:
Sistema Braille” e “Sorobã”.
38
O procedimento metodológico se efetivou através de leituras e fichamentos de
fontes principais sobre deficiência visual, materiais e recursos adaptados bem como
dos recursos através da Tecnologia Assistiva.
O interesse, o conhecimento e a busca foram molas propulsoras para a
realização deste trabalho.
39
Capítulo 5: Considerações finais - A importância dos recursos
especializados na inclusão da criança cega.
A minha história com a Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo
começou em 1992 e já é um livro com dezenove anos de caminhada, um livro com
muitas páginas subdivididas entre escolas centrais e escolas periféricas; entre um
período de trabalho ou dois; entre gritos, faixas e paralisações lutando por uma
política pública melhor para a educação; páginas repletas de doces e marcantes
lembranças bem como de lágrimas, de horas e horas de trabalho em casa pra dar
conta de toda a demanda que duas turmas muitas vezes exigiam. Algumas páginas
são diferentes, são de um período de muito aprendizado e conhecimento, de um
período onde me permiti olhar a sala de aula e a escola por outro ângulo, me permiti
ser Coordenadora Pedagógica por sete anos. Neste tempo tive o privilégio e a
oportunidade de ver e ouvir gente de muito valor que influencia até hoje a minha
prática educacional: Regina Scarpa, Ruben Alves, Telma Weiz, Madalena Freire,
Philippe Perrenoult, Mario Sergio Cortella,Celso Vasconcelos, Celso Antunes e
tantos outros pensadores e amantes da educação. Participei de perto das
discussões sobre inclusão, necessidades educacionais especiais, sala integrada,
sala de recursos, Atendimento Educacional Especializado (AEE) e tantos outros
nomes dados historicamente a esse processo de democratização e direito da escola.
Todas estas vivências desencadearam um crescimento profissional que vive
até hoje seus sabores e dissabores e como fruto deste crescimento procuro ser, a
cada dia, uma profissional melhor que busca vencer os desafios,que busca ideias e
estratégias para vencer as barreiras , o novo na educação. Um destes desafios foi o
desejo de me aproximar mais do conhecimento, do saber, das questões sobre
educação inclusiva, sobre as diferentes deficiências que hoje estão presentes nas
salas de aula... O desejo de conhecer pra poder fazer parte,o desejo de conhecer
para também ser incluída.
Após ser apaixonadamente envolta nas possibilidades de trabalho com a
criança cega e num conhecimento mais aprofundado sobre a deficiência visual
permiti me lançar mais um desafio, desafio este completamente novo para mim, o
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desafio de pensar, refletir e registrar que há sim estratégias e possibilidades para o
trabalho pedagógico com o aluno cego por meio de recursos e materiais adaptados.
Muitos destes recursos e materiais ainda são novos e desconhecidos, mas já somos
privilegiados por tê-los como apoio ao nosso trabalho em sala de aula.
Enquanto professora, encontrei-me muitas vezes numa situação de solidão
didática procurando recursos, materiais, livros que pudessem de alguma forma me
ajudar com meus alunos deficientes. Muitas vezes o olhar parou no vazio. Outras
vezes enfrentou os dilemas da inclusão: realizar uma escolha frente a várias
alternativas com resultados positivos ou negativos e com eles o medo de errar, de
fracassar! Até mesmo por conta disto o presente trabalho traz consigo um quê de
colaboração, de contribuição e de apoio e tem como perspectiva principal provocar o
professor que tem em sua sala de aula um aluno cego a iniciar uma busca de
possibilidades.
Outra perspectiva que o trabalho procura incitar é que o processo de inclusão
só se efetiva de fato quando toda a comunidade escolar acredita e participa dele
promovendo a relação entre apoio e objetivos educativos. Quando a comunidade
escolar inclui o aluno cego em todas as atividades da escola ajudando-o a descobrir
suas capacidades e não determinando aquilo que ele pode ou não fazer; quando o
momento de ensino e aprendizagem é pautado em conceitos significativos e não em
artificiais; quando o professor se preocupa em dar condições de aprendizagem como
por exemplo, descrever as atividades com cuidado;quando a aluno cego é um aluno
que precisa de oportunidades e não de “tratamentos e privilégios especiais” e
quando lhe é reafirmado o direito de explorar outros sentidos. Estas ações são
possíveis? Sim! Mas tornam-se possíveis quando há credibilidade, vontade,
respeito, inclusão! Quando a escola, enquanto unidade escolar respeita as
diferenças de cada um e percebe que na diversidade as relações frutificam.
Segundo Rosa Blanco (COLL,2004) “ A educação escolar tem como objetivo
fundamental promover, de forma intencional, o desenvolvimento de certas
capacidades e a apropriação de determinados conteúdos da cultura,necessários
para que os alunos possam ser membros ativos em seu âmbito sócio-cultural de
referência. Para atingir o objetivo indicado, a escola deve conseguir o difícil equilíbrio
de oferecer uma resposta educativa, tanto compreensiva como
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diversificada,proporcionando uma cultura comum a todos os alunos, que evite a
discriminação e a desigualdade de oportunidades e, ao mesmo tempo, que respeite
suas características e suas necessidades individuais.”
Meu desejo é que este trabalho não se torne um receituário ou um manual de
instruções para professores ou equipes que estejam efetivamente ligadas ao aluno
cego mas, antes de tudo, desejo que este trabalho incentive o professor a buscar
diferentes caminhos, a compreender que é possível trabalhar com o aluno cego, a
conhecer algumas possibilidades de recursos e materiais adaptados e que se motive
a buscar outros.Que ele não seja um fim em si mesmo, mas um começo!
42
Referências
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