Radagásio Tabosa - Crestomatia

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OOSMElHOftfS ESCRITORES 
BRAStLi- ROS 
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DICIONÁRIO LATINO •PORTUGUÊS
! DICIONÁRIO INGLÊS-PORTUGUÊS 
DICIONÁRIO FRANCÊS-PORTUGUÊS 
PORTUGUÊS-FRANCES p«l«prof S.BUR71N-VINH0LFS 50.000 p«t«vras - - - - - 2 0 5
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CRESTOMATIA * E X C E R TO S E SC O L H ID O S
EM PROSA E VERSO
DOS MELHORES CSCAtTORES BRASILEIROS C PORTUGUESES.  
PRECEOIDOS OO r^ fUW UU Rr O DA ORTOGRArtA OFICIAL, E SEGUIDOS  
DE UM APCNDICE C|>M NUMEROSAS SÚMULAS OC CARTAS C  
 AC DA ÇÕES . C UM ELENCO DC PA LAVRAS USUA IS
PECO
PROF, RADAGASIO TABORDA* c  A TCOHAT(ÇO   DO GINÁSIO ESTADUAL DO  
RIO GRANDE DO SUL. CM PôRTO ALEGRE
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OGRA ADOTADA NOS PRINCIPAIS GINÁSIOS  
E ESCOLAS NORMA IS 0 0 SRAS1L
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N.* S1S
1 9 3 7 F.DTÇAO Í>A LIVRARIA PO GLOBO  PjrrsHitf.  tS Ç{$,  /Vrfo Attffrt 
3‘iriâlf: Satet* Maria e Pelou*
 
Compêndio de Ciências Flslraa e NataraK compilado do acúrtío  
com o programa do admissão ao Colégio Pedro 11 o estabelecimentos 
ao mftsmo equiparado».
Ciências Físicas e \alaraii, !*• série« 2»1 edição. Rlgorosamento do 
acôrdo com o programa elaborado pelo Ministério da Edacacfto a Saúde 
 
ANTEróQr iO
“ Crestoinatia", o modesto livrinho que sa! hoje a lume, exigo, autes de tudo, que lhe façamos a apresentação ao colendo professorado, à mocidade estudiosa de nossa terra.
Qual a sua razão de serf “ Preencher uma lacuna” eis o lema de todas as obras congêneres, ao surgirem a público. 8em embargo, laborara em êrro bem grave, quem acreditasse preenchidos os claros do nossa biblioteca dl* dática. Dia a dia, novas lacunas se abrem, que trcsdo* brauí proporcionalmente &s exigências sempre crescentes da pedagogia escolar, ãs alterações dos programas, &s ino vações e melhorameutos da moderna metodologia.
Com o acõrdo pois, últimamente celebrado entre a Academia Brasileira de Letras e a das Ciências do Lisboa, acõrdo que teve em mira, preclpuamente, pingar o ponto final na secular anarquia gráfica do nosso idioma, e que, sancionado pelo ilustre Chefe do Govérno Provisório da República, por decreto n.® 20.108, de 15 de junho de 1931, adquiriu foros de Ortografia Oficial, não poderiam as escolas, e os ginásios mòrmente, ficar ú margem dêsse movimento altamente bonéflco, a prol da uniformidade de grafia do nosso rico e formoso linguajar. Dai surgir à tona a necessidade de um compêndio, que facilite ao aluno a aprendizagem da nova Ortografia.
 
II
«alvo melhor parecer, o único meio adequado para trans- mitlr ao aluno o conhecimento da língua, iniclando-o pari« passa na difícil arte de escrever. Mister so faz, não obs tante, quo & seleção dos excertos presida critério s&o, nor teado rlgoro8amente pelas normas e preceitos dos grandes mestres da pedagogia moderna: caso contrário, íôra en tregar às mãos inexpertas dos jovens educandos, flores do eatllo quiçá viçosas, mas que ocultam, aqui e acolá, entre as pétalas perfumadas, venenos, a cuja peçonha maléfica, os beneffclos talvez advindos, puramente intelectuais, não lograriam contrabalançar. Xon seholac se d ittae disclmus. A luz dessa normas, diz-nos a conciència, respigamos, na riqufsslma seara do pátrio idioma, os excertos em prosa e verso que, sob o nome de “ Crcstomatia” , entregamos ora ao manuseio da juventude estudiosa. Trabalho foil o um tanto de afogadilho, lhe não escassearão senões, espe- cialmente no que concerne às alterações de ortografia: essas e quaisquer outras irregularidades que o tempo ou ulterior revisão nos apontar, procuraremos, com o favor de Deus, sanar, em futura edição. Aguardaremos, portanto, as sábias sugestões que se dignarem enviar-nos nossos ilustres colegas de magistério, expressando-lhes de antemão um cordial muito obrigado.
À mocidade de nossa terra, aos aplicados estudantes dos nossos cursos secundários, preparatoiíanos ou glnn- slanos, e, em modo particular, aos distintos jovens, que neasa colmeia do virtude e saber, que é o "Anchieta*’, se ora preparam para os futuros estudos académicos, paru aa lides várias do porvir, dedicamos êsse modesto trabalho.
 
Ill
o vem impondo h   admiração e estima do todos os anchlé- tanos. catedráticos e discentes, marcando traços indeléveis dc benemerência, nos anais da instrução secundária do Rio Grande do Sul.
K, forrado a essas palavras explicativas, enfeixamô- las, cordialmcnte protestando: Noli Deo Honor et Gloria.
Pôrto Alegre, 3 dc outubro de 1031.
Itadagasto Talionln.
 
DE COMO DEVERÁ SER AI1MSTKADO O ENSINO DO PORTUGUÊS NAS TRÊS PRIMEIRAS SÉRIES DO CURSO
FUNDAMENTAL 
(Extrato do Programa Oftclal para 1931).
O programa desta cadeira tem por objetivo proporcio nar ao estudante a aquisição efetiva da língua portuguesa, habilitando-o a exprimir-se corretamente, comunicando-lhe o gdsto da leitura dos bons escritores e ministrando-lhe o cabedal indispensável à formação do seu espírito, bem como & sua educação literária.
Nas duas primeiras séries do curso, o ensino será accn- tuadameote prático, reduzidas ao mínimo possível as lições de gramática c transmitidas por processos indutivos. A conversação bem orientada, as pequenas exposições orais o a reprodução livre de um trecho lido na aula, darão ensêjo a que o professor corrija a linguagem aos alunos e. assim, prepare os subsídios para a composição escrita, mais acon selhável nas 6ériea superiores.
Desde o princípio do curso, o professor procurará tirar o máximo proveito da leitura, ponto de partida de todo o ensino, não se esquecendo de que, além de visar a fina educativos, ela oferece um manancial de idéias que fecun dam e disciplinam a inteligência, prevenindo maiores difi culdades nas aulas de redação e estilo.
 
serão apresentadas a “ priori” mas derivadas naturalmente das observações feitas pelo próprio aluno.
A-pcsar-da preferência que nas duas primeiras séries se deve dar aos exercícios orais, convém se destinem, de quando em quando, uns quinze minutos da aula a breves trabalhos escritos, relacionados com a matéria ensinada.
Cumpre limitar razoàvelmente o uso da análise e não a considerar finalidade, porém simples meio auxiliar que pode às vezes intervir na interpretação de uma frase, ou ua explicação do um período mais ou menos obscuro. Basta que o estudante se familiarize com as partes essenciais da proposição, desprezados, por inúteis, os pormenores e os subentendidos, que fazem perder tempo e nada adiantam a quem aprende um idioma. Todos os esforços do professor hão de convergir para o ensino da significação e da forma.
A análise lexicológica é inseparável da sintática, pois que as duas se completam e as palavras s6  tèm verdadeira
expressão quando combinadas na frase. A coordenação dos fatos gramaticais observados será
feita no Início da terceira série, prosseguindo com algum desenvolvimento o estudo da morfologia e da sintaxe, ba seado 6empre em exemplos tirados de livros ou preparados pelo professor.
Os exercícios orais continuarão como nas duas pri meiras séries, roservando-se, entretanto, boa parte do tem po à redação de cartas e ao diálogo, escritos no quadro negro e compostos pela classe, sôbre assunto por ela sugerido.
Sòmcnte na quarta série começará a redação livre« dando-se-lbe daí por diante, até o têrmo do curso, maior atenção. Cèrca de trés quartas partes do tempo letivo deverá ser destinado à correspondência. &s descrições e narrações, entremeadas com exercícios de estilo e análise literária dos textos.
 
0 ACOBDO ENTRE A ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS E A ACADEMIA DAS CIÊNCIAS DE LISBOA
1931
De conformidade com o que votou em 1907, e examinando as modificações e ampliações que, em 1911, constituíram a ortografia ofi cial portuguesa, a Academia Brasileira de Letras resolveu aceitar o acôrdo que se segue, dentro das novas alterações constantes das bases juntas e dêle fazeudo parte integrante.
30 de abril de 1931.
A Academia das Ciências do Lisboa, peto eeu repre sentante, Sua Excelência o Senhor Embaixador Duarte I^eite, e a Academia Brasileira de Letras, pelo seu Presi dente. Fernando Magalhães, firmam o acôrdo ortográfico nos seguintes têrmos:
1. * — A Academia Brasileira aceita a ortografia ofi- cialmeiite adotada em Portugal, com as modificações por ela propostas e constantes das bases juntas, que dèste acôrdo fazem parte integrante:
2. *   — A Academia das Ciências de Lisboa aceita as modificações propostas pela Academia Brasileira de Letras e constantes dag referidas basea;
 
v m
4.* — As duas Academias obrlgam-sc a empregar es forços junto ao» respectivos Governos, afim de, em har monia com os tèrmos do presente acòrcJo, ser decretada nos dois países a ortografia nacional.
BASES DO ACORDO ORTOGRÁFICO ENTRE A ACADE MIA DAS CIÊNCIAS DE LISBOA E A ACADEMIA
BRASILEIRA DE LETRAS
ELIMINAR:
1. " — As consoantes mudas: ceiro, fruto, kÍuo I.  em vez de «ceptro, frueto, signa).
2. ” — As consoantes geminadas: sábado, heh», efeito, em vez de salthado, bei lo, effclio .
Exoctuam-so:
a) os fts e rrt russo, carro. b) o grupo cç quando oa dois cc soarem diüilntn-
mento: sucção, secção. 3. ® —- o h mudo mediano: sair, tesouro, compreender.
NOTAS: a) Mantêm-se os grupos eh (chiante), lh, nli: chá,
velho* ninho.
Exceção:
Conserva-se o h mudo nos vocábulos compostos çom prefixo, quando existir na língua como palavra autônoma, o último elemento: inltumano, deshnbttar, deshonra, rc* haver.
b) As formas reflexivas ou pronominais do futuro e condicional dos verbos serão escritas sem h : de ver-se-á, uroar-tc-e), dir-se-ia.
4. ® — O s do grupo sc inicial: ciência, ciática, 5. ® — O apóstrofo: deste, daquele, naquele, donde,
outrom, estoutro, dai, duií.
IX
SUBSTITUÍR:'
1  * — 0  k e o grupo ch (duro), por qn, antes de e e I, e por c, nos outros casos: qucrablm, monarca, qnfndca, quilo, Crisfy técnico.
NOTA:}
Conserva-se a letra k nas abreviaturas de quilo e qui lómetro: 2  ks. de sal; 60 kmJ; bem como nos vocábulos geográficos ou derivados de nomes próprios: Kiel, Klew, kantisDio.
2. ° — O w por u ou r, conforme a pronúncia do Vocá bulo: vórmlo, vigàndlas.
3.* — O y por I: Juri, mártir, Poti, Audnrai. 4.* — Os grupos ph, rh e th, por f, t e tj fósforo,
retórica, tesouro. 5. v — O z final por s nas palavras como água-rás,
português, país, após.
NOTA:’ 
Os nomee próprios, portugueses ou aportuguesados, quer pessoais, quer locais, serão escritos com %  final, quando terminados cm sflaba longa, e com s, quando em sflaba breve: Tomas, Gareez, (Jueiroz, Andalus, Alvares, Pires, Nanes, Dias, Vasques, Peies.
OBS.: Os nomes Jesús e Paris conservarão o s, visto a dificuldade do qualquer alteração.
No uso do s e do z médios segue-se o que determinam a etimologia e a história da língua.
6. ° — O m por n nas palavras em que houver caído o p etimológico; pronto, assunto, isento.
GRAFAR:
1. * — Com i as palavras que alguns escrevem com c e outros com 1: Igual, idade, igreja.
 
 X
3. * — Com 2, a sílaba longa, irmà, manhã, maçã« 4. * — Com ão ogtymbstantlvoa e adjetivo» qwo alguns
escrevem com áo e outros com «m : acórdão, Mação. 6.« — Com u i o ftnnt átono dos verbos: ttbatn, ama
ram. amaram.  f   6.* — Com ai, nn, eu, iu e oi os ditongos que alguus
escrevem com ae, ao «o, lo, oet pat, pau, cúu, via, borói.
NOTA:
Não sendo ditongo permanece o dl grama lo : rio, fio .
CONSERVAR:,
1 . * — O g mediano: legislar, imagem. 2 . » — Os ditongos ue, fte: axucs, põe. 3. ° — Os vários sons do s (s, s, cs, ss, eh ): excelente,
exato, fixo, próximo, luxo.
, DIVISÃO SILÁBICA:"
1.* — No Infinito, seguido dos pronomes lo, la, los, las, estes se transportarão para depois do hífen, acentuan do-se a vogal tónica do verbo, dc acôrdo com a pronúncia: amá-lo, disè-Io.
2* — Escrever-se-ao com hífen os vacábulos compos tos qnjos elementos conservem a sua Independência verná cula: pára-ralos, guarda-pó, contra-almirante.
3.® — A divisão dc um vocábulo far-se-á fouèticamenick pela soletraçào e não pela separação etimológica de seus* elementos: subs-erc-ver, sec-ção, de-snr-mar, fn-Iiá-htl, bi sa-rô, e-xer-cl-elo, nas-cer, des-cer.
NOMES PRÓPRIOS:
 
 XI
OBS.: Sempre que existam forma* vernáculas para os nomes próprios, quer personativos, quer locatlvos, de vem elaa ser preferidas.
dia, de modo a corresponderem ésses sinais à prosódia dos dois povos, tornando mais fácil o ensino da língua escrita.
República tios Betados Rn Idos do Brasil — Rio de  Janeiro, 30 de abrii de 1931.
O F O R M IU R IO ORTOGRÁFICO OFICTAL  
CONSOANTES MUDAS:*
1   — Nenhuma palavra se escreverá empregando con soante que nela se não pronuncie.
Assim, escrever-se-á: autor, sinal, adesão, aluno, sal mo, e não: auctor, gjgnal, ndhesão, nlumno, psalmo; mas nenhuma alteração se fará na grafia das palavras —• ab dicar, acne, gnomo, recepção, caracteres, optar, egípcio, egipeínro, egiptólogo, espectador, espectatlvn, mnemónica e outras em que as letras bd, cn, gn, pç, et, pt, mu, soam separada c distintamonte.
<*) Ao mesmo tempo eue, em aessSo pública dá Academia Bra«  slleira, na dau acima, assinavam o acOrdo no Bnuril oa srs. Duarto  Leite, embaixador do Portugal, o Fernando biaxalhSes, proaldento da  Aeadamta Brasileira, em Lisboa, o mesmo era assinado tambdm solono-  mente peto embaixador do Brasil e pelo sr. Julto Pauta», presidente  da Academia das Clénctas.
buarte Leite Fernando Magalhães ( * )
NOTA:
E’ conservada nas abreviaturas de quilo, qullogramo, quiiolltro e quilómetro: IL, Kg., KL, Km. O k não faz parto do abecedário português; contudo ó empregado em um ou outro vocábulo de nome próprio estrangeiro e em palavras estrangeiras quo entraram na linguagem. Limita-se o bo ii  emprêgo a Kantlsmo, Kantfcta, Kaiser, Kupa (letra grega), Keplor, Kepterlauo, Kerraesse, Kírles, Kiei, Kicvr, Kummol.
b )  O w por u ou por t  conforme fôr a sua pronúncia  — vlgdndias, vagfto, valsa, Osvaldo.
NOTA:
E conservado como sfmbolo para denotar o Oeste. Com o som de u nào figura cm vocábulo português ou  aportuguesado:
c ) O y por I — Jur), mártir, tupi, Andaraf.
OS GRUPOS C1I (DU RO), PH, IlH , e T II l
V I II — São proscritos os grupos ch (duro), ph, rh, th, que fftain assim substituídos:
a ) o eh por qu antes de e e t — traquóla, querubim, quimera, química; e por e nos outros casos caldeu, caos, corografia, catecúmeno, cromo, Cristo, cloro, e náo tra- eitóu, cherublm, chaldcn, chim*, etc.;
b ) os dlgramas p!», rh, th, respectivamente por f, r, t,  — filosofia, fósforo, .retórica, reumatismo, tesouro, orto grafia, o nio philosêpbia, phosphoro, rhctorica, «tc.
O GRUPO MP POR Nt
I X — Substltue-ao o m por n nas palavras em que houver safdo o p etimológico — pronto» assunto, isento, Cf. prompto, assumpto, Isempto.
 XIV
O EMPREGO DO S:
X — Escrever com s fina l e n&o zs a) os pronomes nós e vós; b) a 2 * pessoa do singular do futuro do Indicativo
 — amarás, ofenderás, trás, porás; c) a 2 .* pessoa do singular do presente do indicativo
dos verbos monossilábicos e seus compostos — dás, des* dás, vós, revês, jis, sorris;
cl) o plural das palavras terminadas em vogal longa  — pás, cafés, frenesis, teirós, perús;
e) os adjetivos gentílicos e palavras outras formadas com o sufixo és (lat. ense) — aragonês, barcelonês, bcrll- nfis, borgonhês fiuês francês, holandês, inglês, iroquês,
 javanês português, siamês, sudsuês, tmjulanés, turquês, veronêa marquês, burguês, camponês, montanhês, montês, cortês, pedrês, balonês, garcês, lamarês, tavanês, etc.;
f ) os latinlsmos dê uso comum, que ainda mantêm a forma originária  — bis, jns, plns, viras, pns (subst.):
g) os monossílabos e palavras agudas seguintes: aliás, ananás, apóR, arnês, nrrás, «rrlós, arsls, ás, atrás, através, calcês, camoês, carajás, eatrapús, convés, cós, crls, daruês, dês (desde), detrás, enapupês, enxós, fIlhós, fre guês, gilvás, grós, Unaloés, luís (moeda), maets, mês, obis, pardês, paspalhós, pavês, plós, prlncès, rês, res, resvés, tornês, trás, tris, viés, zás-trás, etc.
X I — Escrever com a médio: a) as formas femininas (de substantivos) que tivo-
rem a desinência esa ou Isa — baronesa, duquesa, princesa, consulesa, prloresa, sacerdotisa, poetisa, diaconisa, profe
tisa; b) os adjetivos formados de substantivos com o su
fixo abundancial oso — animoso, doloroso, formoso, popu loso, teimoso;
 
 XVI
d) as palavras em eso ou csa que no portuguòs são primitivas, consoantes as suas correspondentes de origem, e, de conformidade com elas, as suas derivadas — cmprôsa, despesa» defesa, mesa» surpresa, framboesa, presa, devosa, represa, toesa, aceso, ileso, defeso, obeso, teso, empresário, mesárlo)
e ) os verbos oriundos do latim, terminados em sar — «casar (oecusare), reeasar (rceuxaro), refusar (retfusare);
f ) os substantivos, adjetivos e os partlcípios termi-
nados em aso, asa, fco. Is», oso, osa, as», usas caso, aso vaso, aso, casa, brasa, viso, conciso, aviso, granlso, paraíso, siso, guiso, liso, friso, narciso, brisa, frisa, cninlsa, divisa, espôso, glosa, rosa, raposa, grosa, entrosa, tosa, prosa, uso, luso, fuso, escaso, infuso, concluso, contuso, musa;
g ) o prefixo irans, nesta como nas formas tras e tres e, coerentemente, a suas derivadas — transação, transigir, tresandar, transanúino, transição, transoceânico, tros-ante- ontem, traseiro, trasordlnárlo;
h ) os nomes em ase, esc, Ise, ose — eras«, frase, aeroase, apófase, perífraso, fase, dfátese, teso, diiirese, gé nese, síntese, apóllse, bacilose, diagnose;
1 ) os vocábulos compostos, derivados do grego com isos, khrysos, lysls, mesos, nesos, physls, ptoxis, stasls, thesls — isocolo, isódlco, Isodluâmico, crisópiero, crisós tomo, crisântemo, análise, mesaiteritc, mesáulio, querso- neso,- fisiologia, ptoseonoiuia, êxtase, síntese;
 j ) os verbos terminados em ísnr, cujo radical ter mina em s, formados com o sufixo ar — avisar (a vís-a r), precisar (precls ar), analisar (analls ar), Irisar (Íris ar).
O EMPRÊGO DO Z:'
 XII — Kscrever com s final as palavras agudas em as, 02, Iz, oz, uz, — assaz, xadrez, diz, veloz, arcabuz.
NOTA:!
 
 XVII
X II I — Escrever com * médio:' a ) as palavras derivadas do Iatiní, em que o e pro
vém de c, cl, tt — azêdo (acctn), ilúza (ílducia), juízo (jndlcfum), vizinho (vlelnus), razio (rntioncm), prazo (platítgio), ptezar (prctlare), mèzlnha (medicina);
b) os verbos em zer, ou zli — aprazer, dizer, fazer, eozcr (ao lume), conduzir, e seus compostos.
NOTA:;
Escrever-sc-4 coser (com s) quando significar ligar por melo dc pontos, e do mesmo modo os seus compostos  — descoser, recoser, etc.;
c) as flexões (z ) Inho e (<) Ito dos dlminuitivos — flor* I» ha. mãozinha, paizinho, avezlta, pobrezito;
d) as palavras de orlgom arábica, oriental e Italiana, que entrarem na língua —ozáfomn, azeite, azul, azougue, azar, azeviche, bazar, ojeriza, gacuo, vlzlr, bezante, biznn> tino, bizarro, gazntn, e seus derivados;
e ) os verbos em Izar (lat. tznre) — autorizar, batizar, civilizar, colonizar;
f ) os substantivos formados dos adjetivos com o sufixo eza ( la t Itla) — beleza, fereza, firmeza, madureza, moleza, pobreza;
g ) as palavras derivadas de outras que terminam em x  final — apaziguar, avezar, cruzado, dezonn, felizardo.
NOMES PRÓPRIOS:
X IV — Os nomea próprios, portugueses ou aportu guesados, quer pessoais, quer locatlvos, serão escritos com z final, quando terminados em sílaba lon ga— Qarcez, Quet* roz, I>nlz, Tomac, Andaluz, Queluz; e com s final, quando terminados em sílaba, breve — Alvares, Dias, Fernandes, Nunes, Peres, Pires.
NOTA:.
 
X V — Conservar em nomes próprios estrangeiros as formas correspondentes vernáculas já vulgarizadas: An* tnérpln, Berna, Bordéus, Oherburgo, Colônia, Escandinávia, Escalda, Florença, Londres, Marselha, Viena, Algéria.
NOTA:
Sempre que existirem formas vernáculas para nomes de outras línguas, devem elas ser preferidas. Conservarão, portanto, a sua grafia original os que se não prestam à adaptação portuguesa — Anatota France, Bjron, Conte Itosso, Cnrljlo, Carduccl, Jíusset, Shakespoure, South a m> ptou.
GRxVFIAS DUBITATIVAS:
X V I — Fixar a grafia usualmente dubitativa das se guintes palavras, derivados e afins:
a ) Brasil e não Brazll; b) idade. Igreja, Igual o não edtulv, egreja, egiial; c ) açúcar, ah içaras, sossegar, pêssego, dossel, jo
vem, rossio, criar (alimentar) e erear (tirar do nada), nluiaço, maciço, solene, além de outras, e não assuear, al víssaras, socegar, pêcego, doeel, joven, roele, almasso, mas- slço, solenine;
d) Ansla, ascensão, cansar, dansar, <fana, pretensão, e não ftuciu, asccHÇão, cançar, dançar, força, pretenção,
FINAIS HM A, AO, AMs
X V II — Grafar com ã e não am as palavras oxítonas: amanhã, maçã, ta lism ã...; as femininas das terminadas em fio : aldeã, cristã, Irmã. . ; e as monossílabas: lã, vã, sã . . .
 
\
NOTA: Deve acentuar-se a eilaba tônica dos anoxítonoe em
8o: órfão, bênção, órgão. X IX — EUcrever com ain o final átono dos verbos <—
amam, amavam, amaram, disseram, fizeram, expuseram.
DITONGOS:
XX — Os ditongos ae e «o passarão a ser escritos com l e i — pai, cal, sal, amais, e não a nines, sae, et«.; grau, mau, pau e não pao, 01.10 , grao.
O ditongo f » a ser éu ou eu — eéu, véu, chapéu, meu, teu e não teo- chapeo, etc.
0   ditongo Io passará a ia — feriu, partiu, viu e não ferio, par tio, i to, etc.
0  ditongo oo passará a « I — anzóis dói, herói, e não nn zoes doe, heroe, etc.
NOTA: •
Quando estas vogais não formam ditongo, nenbuxna alteração se fará: — aóridcs, aéreo, caos, caóticos, teleo- loala, teologia, rio, tio, oeste e oeta. Eaercver-ae-á ao o não au, quando for a combinação da preposição a com o artigo o.
X X I — São mantidos oa ditongos 8e, óe, uo — mie, tabeliães, andes, dispões, pões, azues.
O EMPREGO DO C:
X X II — É conservado o g médio — imagem, eleger, legitimo, fugir, pagem e seus compostos e derivados.
O PRONOME LO: %
X X III — Manter-se-á a escrita — Io, la, loa, las: a) com o infinitivo dos verbos — amá-lo, ofendê-la,
possui-los, repô-las; b) com as formas verbais em s — Ama-lo, etc.; e
com aquelas que acabam em s — di-lo, fá-los;
 
 XX
« ) ' com o* pronomes nos, t o s, « t forma ib *%T*-l+, ío-Ia, «Mo.
NOTAíJ
Aqueles pronomes virão sempre ligados pelo hífen, aoentuãndo-se a vogal tônica do vorbo.
A LETIí a X:;
X X IV — São mantidos os valores prosódicos que no português tem o x — s, x, cs, ss, cli, segundo exemplificam estas palavras: excelente, exato, ílxo, próximo, luxo«
DIVISÃO SILÁBICA:;
X X V — A divisão de um vocábulo em sílabas far-se-á íonèticamente pela soletração^ o não pela separação doa seus elementos de derivação, composição ou formação — KUbs-cnvver, sec-ção, de-sar-mar, ln-lia-bll, bt-sn-vô, e-xér- el-to, cx-ce-der.
Para mais fácil aplicação desta regra, observem os precqitos seguintes:
a ) separar pelas duas sílabas sucessivas, as letras que se duplicam — ar-rau-tar, pas-sa-gem, suc-ção)
b) o s dos prefixos des, dls, separa-so da consoante que se lhe segue — dos-dl-zer, dis-con-tl-nu-ar, mas, se se lhe segue vogal, desta se não separa e com ela forma sílaba — do-sen-ga-nar, de-seu-vol-vcr, de-si-lu-são;
c ) conservar na sílaba que a precede, a consoante sonora.— con-toc-to, re-ccp-çáo, es-pec-ta-tl-vaj
d ) não separar ditongos — neu-tro, nai-pe, ret-na-do, au-to, I-gual ( 1-guafe)}
 
HÍFEN:;
X X V I — Separar-se-ão com hífen o« vocábulos com postos, cujos elementos conservam a sua Independência fonética — pára-mios, guarda-pd, eoutra-almiraate.
NOTA: N lo raro o uso reúne, sem o hífen, os elementos dos
compostos: dambófn, parapeito, malmequer, malferido.
ACENTUAÇÃO GRÁFICA:
X X V II — Empregar os sinais diacríticos sempre que se ÍJzer mister para a boa íixaçáo da pronúncia, ou para evitar confusões-
Assim, limitar-se-á a acentuação gráfica aos casos qus se seguem:
a ) nas palavras agudas, em a, e, I, o, — fubá«  Jacaré, tupi, cipó, urubú;
b) nas palavras graves ou esdrúxulas, não vulgares, em que a ausência do acento possa induzir em êrro de pronúncia — opinte, avaro, efebo, iiêgada, Setúbal, nenú far, sável« éden, táctil, éxul, ou aeróstato, aerólito, autó- cr&ta, azimute, zênlte, monúlite, ádvena, revérbero, eér- bero, sânscrito, velódromo, crisântemo 5
é)   usar do acento agudo, como diferencial, nos vo cábulos esdrúxulos com relação aos seus homógrafos quo tenham por sílaba predominante a penúltima — escápula (s.) e escapula (v.), fábrica (s.) e fabrica (v.), história (s.) e blsforía (v .) , indico (s.) e indico (v .), réplica (s.) e replica (V.), telégrafo (s.) e telegrafo (v.);
 
 XXII
ABKCEDÁRIO:
X X V II I — O abecedárlo português passará a sc cons- tituir das seguintes letras e suas combinações:
a* r, ç, ch, d, e, f, g, b, I, J, 1, Ih, m, n, nli, o, p, <U  r, s, t, i, v, xt u 
Rio de Janeiro» 3 do junho de 1931.
(aa.) Feruaudo Magalhães» presidente. I»audelÍno Freire» relator. Humberto de Campos Medeiros e Albuquerque Gustavo Barroso Coelho Xoto Rantlz Galvâo
 Joâo Bibe iro» vencido.
Fernando Magalhães*
Deereto Ã0.10S, de 13 de junho de 1991 •*
nispSe súbre o aso d* ortogratia simplificada  do idioma nacional nas reparttçfe» públicas e nos  estabelecimentos do «mino.

O Chefe do Govêrno Provisório dá República dou Es- tados Unidos do Brasil.
Considerando & vantagem dé dar uniformidade à escrita do idioma nacional, o que sòmente poderá ser alcançado por um sistema de simplificação ortográfica que respeite a história, a etimologia e as tendências da língua» resolve:
Art. 1/ Fica admitida nas repartições públicas o * ♦
 
X X II I
aos estabelecimentos de ensino a ortografia aprovada pela Academia Brasileira de Letras e pela Academia dae Ciên cias de Lisboa.
Art. 2.® — No MDiário Oficial*' e nas demais publica ções oficiais será adotada a referida ortografia.
Art. 3.s — Revogam-se as disposições em contrário.
Rio de Janeiro, em 1D de junho de 1931, U0.# da Independência e 43.° da República.
 
Algumas normas para a boa leMiiru
Para se lêr bem, não basta saber pronunciar os vocá bulos que se nos apresentam; é mister fazer aa pausas devidas o conhecer o valor dos sinais usados no livro. Com breve história, tentaremos dar uma explicação dos sinais de pontuação. Ao passo que lemos a história, vamos es tanciando, para explanar os sinais aparecidos e mostrar como se hão de ler.
Er* uma « i |am homem |um projetou «iiMr num moute
Efs o início da narrativa. Vem impressa com letras menores que as precedentes. Isto, para mostrar a dife rença entre a narrativa e a explicação. As barras verticais, alí as colocamos para designar onde se há de respirar, sem que se mutile o sentido. Vejam quão mal não soaria a frase, se se fizesse a leitura assim: "Bra. | uma vez um | homem que projetou subir um monte” . No en tanto, dêsee modo é que leem muitos meninos, destruindo todo o sentido. A primeira condição para a boa leitura é, depois de saber a pronúncia das palavras, lê-las devagar, fazendo as devidas pausas.
For coBMsuinU |íot andando a-caralo j até (kttn Aa fraldas  d* montanha. | Notou uatâo | w aio ora poaafvol cavalgar aula  
longa; |porlsao amarrou o aoimal a «ma Arvora | quo  ao aclara 
*11 porto. Fto ao entâa a subir a montanha.
 
 XXVI
Depois da palavra  perto,  nada mais há Impresso na linha; mas começa-se outra Unha. E nesta, a prim eira palavra uào se encontra no comêço, mas um tanto alon gada da margem; há um pequeno espaço em branco, que se chama parágrafo ou alínea; e Indica que Ja se acabou uma parte da narração: a que se referia à chegada do homem à montanha; entra-se agora na outra parte, que trata da ascensão da montanha. Chegando-se, pois, ao tdrmo dum parágrafo, não se há de, sem mais, começar o seguinte. É necessário parar um tanto, para mostrar que findou um parágra fo e vai começar outro. D es farte , entenderão os ouvintes, que são chegados á nova fase da história.
Em suma, é   preciso entender o trecho para distribuir, com acérto, as pausas. Estas deveriam, a maioria, ser intercaladas peias vírgulas; mas, infelizmente, bem poucos dos que escrevem são meticulosos na pontuação.
Pta-se «ntio | a subir a montanha. | Foi caminhando. algum   tampo, dificultosamcnte. | ató Que deu num atalho plano, j pordm  inuttu molhado o lamacento. | Rase lugar «rs tio liso qu«, I a des
peito de todos os seus esforços, parecla-Iho descer  ao Inrdo já «wbir  a montanha. ^
Els-nos no fim doutro parágrafo. Repare-se nas palavras descer   e subir.  São diferentes das demais; são inclinadas. São impressas em itálico. Pom os em itá lico iitua palavra à qual queremos chamar particular atenção. Em o nosso caso, como que queremos dizer: nota-se. quando   o homem julgava subir, na realidade descia.  Encontrando, pois, palavras em Itálico, deve-se lê-las mais distintamente quo as outras.
Finalmente | Ale «uperon a parte iiaa, | e chegou a um lugur |
 
XXVI I
NoUtin-se ae trcs últimas palavras: são Impressas com letras maiusculas, porquo importantes; pois o homem, com toda sua fôrça, gritou por rocorro.
Se tim vocábulo ó muito importante, vem gcralmente cm itálico; se o ainda maia importante, ê impresso com. maiusculas; e d> •.•m-se ler tais palavras com lentidão e
ProaeJgamos a nc*?ã história.
Ao tnosmo tempo quo gritava com todos os bofca. «uraiTo.» so ao ramu «to uma í.Tvor-, <• rtinrlnUou ató «o tftno, tora «lo ulcauce do ui 'o. ÜPv u ont:1o o«n voü.a <le st, c descobriu «jne, por clir.a dos puiUa descortinar onde »0  «c*:av«i o urso. Olhou c viu  — Inv.stu-Mn o
Há uma linha após a palavra viu. Chama-se trav;*: .Ho. Ia dir.<'r-vos o que vira o hotui-tn, quando inopUiadAtiicnV* sobrestive, e perguntei o qne Julgáveis que í ô s b o .  Coloca-3e o travessão para indicar esta parada repentina, e deveis, também vó=>, iazor uma pai;.-a subitünoa ao cncontrá-lo.
Há tamhóm um einal depois da palavra que.  A í se acha j * r a mestrar que, na íittliua proposição, fazemos uma pergunta. Chama-zu o ponto de interrogação. Lendo ?o tal frase, devemos abaixar a voz, fazendo o que se chama inflexão de voz para baixo. Ma» se a pergunta fôr tal qué Be possa responder simplesmente com sim   ou it«o, como “ Queres vir? Não bavia?" a inflexão deve ser para cima, isto ó, devemos erguer a voz.
Alongnndo-nos um pouco, citamos para maior esclare cimento eôbre as malsinadas Interrogações, um trecho do mui abalizado Sr. Álvaro Guerra, que diz: — “ Há duas
•espécies de interrogações, que ac caracterizam, não só pela sintaxe, mais ainda, c priueipalmentc, pela entonação da voz: direta e Indireta. Na prim eira ... baixa-se a voz no final da sentença. (E x.: “ Quem era o pai, o amigo, ben feitor do todos?” ) Na segunda... no fim, eleva-se a voz, inais como quem consulta, do que como quem interroga ou matula dizer. (E x.: "N ão era o velho pároco o pai, o amigo, benfeitor de todos?” )
 2  -   c.
XXV I li
Olhou o viu — Imaginem • qual IV..- uailn uuús que um voUio  • negro toro de pautt
Os dois sinais no fim desta sentença chnma-sc ponto do exclamação. Indicam scr surpreendente e não comum o que os precede. Pois não <5 estranho qu< um homem se assuste c trepe numa árvore, para fugir dum velho e ncjjro toro de pau? Deveis ler, como se achásseis o fato muito singular.
Kfto passava dum toro podre e escuro estirado por entre as roeflns.
O homem santlu até vergonha. Dcscou da Arvore e foi ver de porto o   {»au quo tanto mC<io lhe fizera. Era preto como carvlo. (* ) E r i u »   ao pensar quo o tomara por um ws».
VôdOB, após a palavra carvão, um sinal parecido a uma eplrêla (as ter isco)? Ê para vos faser olhar em baixo. no pá cln página, onde encontrareis outro asterisco seguido de uma nota. &
Concluímos com duas citações de FeUsbcrto de CaV>. valho. Uma sôbre o parênteses: — “ O parênteses m o s t r a is sentido que se Intercala noutro, o que o que uêle se encerra deve ser lido em tom mais baixo quo o da leitura geral", E outra para remate: "L e r bem á bem compreender, hem sentir c bom exprimir, isto é, o bom leitor deve possuir espírito para compreender, alma para sentir e gõsto para exprimir. Portanto, para bem exprimir, deve o leitor bom sentir, c para bem sentir, deve bem compreender"
(Tradução livre « adaptaçAo do logléa).
 
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P R I M E I R A P A R T E
i |[ COMPREENDE :
I I — X arn ith R K e Lfndns 7
, I I — DIssertuçõos — Moral — Hollgluo..............   98 r» 
* I I I — Descrições 1SS
IV — Geografia — História — Biografias.............. 188
V — Humorismo — Fál;ulas — Anedotas..............  2D6
 
0 CAtfPÔM O E 0 PAS SAK tnO (» )
Êle amanhara ( * ) o campo com amor. Madrugava mais quo o sol; a lâmina polida da sua enxada, repolla-se muitas vexes na leiva, (*) antes de refletir os raios da alvorada. B não era muito rara a noite em que o luar debuxava, <*) sdbre os torrões desfeitos, a figura do lavra dor, tôsca e rude como êle mesmo.
 Terras hssim regadas, com tão abundante suor, não deviam ser estéreis e não o eram; muito rica seara cobriu a gleba (*) reconhecida.
As espigas sazonadas (*) vergavam já ao doce pêso dos nutridos grãos. Mas os pássaros desciam, âs nuvens, tá das profundezas dos céus e <lo3 remotos horizontes. O lavrador dcolarou-lhes guerra dc extermínio e repetia
% aos seus campónios: “ Morte, morte a êsseg salteadores que me devoram a messe; <T) aves daninhas, porque rou bais o fruto dos meus labóres? Delito cruel que praticais entre gorgetos, como gargalhando, escarnecendo da vítima que deixareis na miséria.
Criaturas sem alma, sem ooncléncla, c&iam sôbre vós as minhas iras c o chumbo dos meus colonos*', ^ 
O bando cada vez mais so dizimava aos golpes'rda vingança do lavrador. Loçea por todo o campo, armas de fogo a vomitar a morte a cada instante.
Não houve tréguas, nem clemên cia ... No lapro de
%
<i) Paasarodo: coletivo, bando do p&ssaroe. <*) Amanhar o campo: llmpft-lo daa lute ervas« cuIttvAdo. í 3) Ia»!vê: sulco aberto pelo arado. C<) fVbaxavo: delineava, desanliava.
Glaba: sinônimo do leiva: torra. iA> Sasonadas: amadurecidas» { M M« sc: coifa, ?emra eui ponto do coifar»
x
 
poucos dias não havia mais um pássaro Cm toda a vastís sima seara. O côlmo (•’ ) flexíve l do trigo não maia a balançar ao pêso do passaredo; a brisa, a triste brisa nilo mais mesclava ( ! ) as notas festivas dos alígeros cantores ao afiar ( 3) das fólhas do trigal.
Salvou-se um só, apenas um representante dos bandos Já extin tos... Conseguira fugir um belo pássaro à guer ra í4) impiedosa.
K lá no melo da floresta capéssa, aflito, alanceado de saudades, o supórstlte cantor nnsim clamava: "U m dia éramos livres; todo tete campo, sem limito algum, herdá mos rios nossos nntopassadoM. l ’ mn Itortlii do b.lrkitpS sem coração, começou de (*) apavorar a tranquilidade do nosso reino. Deitaram por terra a secular floresta, onde em cada árvore havia ama recordação e uma l£:Ctória dos nossos avós. Os ninhos que havíamos construído <$p;u amoiv Cies os destruiram por divertimeuto, sorrindo crái*!- mentr ao plpilnr dos pequenino* e m .< ‘dirços dos p‘*Tr: tront dos dc =;«»r. Nada r«\ip H m m  :  Ju i í«;h .  im-fiedade. comiseração, d<nv«*nturas. Suiit<*s tudo, cointumu r:\tn nté o último delito. ForagWos, nó: pi ííímo s   h<v pKnlidado na floresta distante, o.ue tinha abrigo, n.n* min.M : •;« pão. Muitos não resistiram, e uão puderam (• ) «• *r tr que as nossas terras lhes fornecessem alimento b .mto. Agcrâ é que ôsses campos que são nossos, muito nosso?, exClusi- vfgnente nossos, começavam a oíereet r-nos os seus :ruU>3. bfSb os invasores haviam jurado extinguir nos-a. rnca... A hecatombe ( T) não teve limites: fiquei ap ms u pr-rà clamar a desdita do meu povo.”
<*) Mesclava: mlrturava. (*) Afiar: soprar, bafajar. (4) Fugir à guerra, ou da guerra. <5) 0 vorbo começor rege prenc.»:.,' >« ou tfe. ( 6) Aa formas de perMto do verbo p». ' r, • doa tempo* «:»»<* iUI»  
derivam, devem gmfar-eo com  putlir*   oòo  poudcra. (T) Hecatombe: tnorUclnlo. 1’ m*vr» de origem grega ; „
Dom António de AJmeídn Lb^o a.
tlca: aacrifloio do cem bota
 
O TEMPO
Quo rcmlo certo príncipe oferecer ao templo uma ima gem de Anoto ( ' ) digna do cdiffc.o grandioso que mandara construir ;<:«ra honrar a divindade esplêndida e levar, pelos séculos vindouros, (2) a faina da sua grandeza, convocou os mais célebres estatuários (3) do reino para uma confe rência om palácio. Apresentaram-se três artistas, qual Uêles dc maior nomeada. («)
Disse-lhes o príncipe o que pretendia, ajuntaudo, com largueza, que não fazia questão de preço e que pedissem tudo quanto julgassem necessário ã boa execução da obra de arte. que devia ser bela e solidamente feita para que des1umb&S8$ ( **) e resistisse aos séculos.
£cnhor, disse o primeiro estatuário, dai-mo ouro e eu vos tran : uma estátua tão bela que, no dia em que fAr instalada ISO templo, os homens da terra terão a Ilusão de f jtru* contemplando o próprio condutor do carro do sol.
E o príncipe ordenou que se cumprisse a vontade do artista.
Senhor, disse o segundo estatuário, farei de prata o corpo, farol de o u t o   as vestes e cobrí-las-cl de pedras pre ciosas. Será tão formosa a imagem que os deuses bai la rã o do Olimpo (6) para contemplá-la, e, de pé, no altar 'do templo, dispensará a luz tío sol e a claridade das lâm padas porque os raios que despedir iluminarão gloriosa- utente o recinto.
E o príncipe ordenou que fôsse satisfeito o desejo do artista.
(» ) Apoio: deua doa ao ti soa romano», protetor da poesia, das ar- te«. doa rebanhos « do sol. Nascer* a» Ilha de Dolos. Era tllhe do  Júpiur o Latona.
 
10
Foi a vez do torceiro estatuário. Era um vellio , de barbas brancas, tão longas que lhe chegavam à cinta. Ca minhava lentamente e, curvando-se ante o príncipe, falou com respeito e modéstia:
Senhor, dai-me um bloco de mármore puro e tempo para que eu nele trabalhe e procurarei fazer o máximo que a um homem é dado fazer.
Foram-se os três escultores com o que haviam pedido c, em todo o reino nâo se falou, durante meses, em outro assunto senão no concurso chamado "divino".
Ainda em meio o prluicíro ano quando o artista qne pedira ouro apareceu orgulhosaineutc na rói te com o &«>u Apoio.
Foi um acontecimento c não faltou quem louvasse a grande atividade do modelador.
Descoberta a figura, pasmaram os assistentes. A ima gem irradiava como o próprio sol.
Mas um perito, adiantando-se & turba, pôs-se a mostrer defeitos que muito comprometiam o trabalho e outras vo zes criticaram: uma a expressão, outra a atitude; esta no tava a falta de majestade; aquela as desproporções.
 — Vale porque é de ouro, disso por fim o perito. E o príncipe, desgostoso, mandou fundir em moedas
a estátua que fôra destinada a adoração dos crentes. Pouco tempo depois anunciou-se o segundo estatuário. Ainda que o seu trabalho revelasse maior esmêro não o acharam, todavia, digno de ocupar o sólio ( ’ ) em que devia ser eri gida* a imagem olímpica.
 — E’ bela e é rica. refulge, mas falta-lhe majestade. E' uma linda figura humana c nós queremos um deus.
E a estátua de prata e ouro. com recamou (* ) de pe drarias, ficou ornando uma das salas do palácio. Do ter ceiro estatuário não havia notícia e já corriam murmu rações irônicas, boquejos ( a) de menoscabo ( 4) ; “ Desistiu
 
 — l i -
da eroprêsa. Era velho de mais para trabalho quo exige inspiração viçosa. Anda, sem dúvida, a fazer figurinhas, como as de Tanagra, ( ’ ) para vendè-las aos forasteiros” .
Uma manhã, porAm, com surpresa de todos, apare- ccu o velho em palácio com o sou "deus” envôlto em panoa de linho.
Ainda que ninguém confiasse no seu trabalho, Junta ra m-sc todos os cortez&os em palácio, sé por subserviên cia (-') ao príncipe, os serviçais descobriram a imagem. Houve um movimento de esx>anto. Maravilhados, embe vecidos (s) quedaram todos contemplando a figura olím pica. Apoio, o magnífico, que, de pé sôbre nuvens, a cabeça aureolada do raios, o olhar sublime, parecia dominar sere- namente os homens.
 — Èstc sim! Êste é Apoio augusto! bradaram. Êsto é o deus solai*, dominador da altura.
Descendo do trono, o príncipe felicitou o artista e, depois de o haver engrandecido com palavras de louvor, perguntou:
A que deus pediste a graça de Ião formosa Inspi ração?
 — Ao Tempo, senhor. Outros exigiram metais e pe dras preciosas, a mim bastou o mármore puro. Para enrl- qnecê-lo eu contava com o Tempo. Se, para uma curta viagem, são necessárias muitas horas, como havemos de afrontar os séculos de afogadilho? ( 4)
A inspiração é a flor do génio, mas não exijamos que eia dè fruto saboroso logo que desabroche. E‘ preciso dei xar quo o Tempo faça o je u oficio. Senhor, os sécu los são longos e quem se mestina a atravessá-los deve ir devagar. Quereis saber como se consegue a Eternidade? Com o Tempo.
Coelho 3íetu.
( ' ) Tanagra: cldada da Grécia. onda se tabrlcavatt estatuetas  mal delicada*.
(*) Subserviência: rervlilsmo. ( * ) Embevecidos: admirado*, extasiados. (*) Afogadilho: pivs^a, precipitação.
 
0 fUNEIUO DA ALDEIA
A história do sineiro é multo comprida, porisso, não digo sen&o que êle foi, como os outros homens, um mortal ,jue s<5 apreciava as cousas, quando se tinham já escoado.
Por mais de quarenta anos, élo tinha exercido escru pulosamente o mister de sineiro cm sua aldoia natal. Era éle o homem que chamava os fiéis campónios para as fun ções religiosas. Falava cousas intimas aos seus contevrí. * ncos pela bòca do sino. Sabia dar tal expressão aoa dobres « repiques, tinha variações tão minuciosas, fazia tais matizes
do tom, ritmo, fôrçae conservava tfio fielmentc as regras e convenções tradicionais, que o sino em suas mãos se havia tornado a alma da quele povo. O dia de Natal em um dia de glória para o sineiro. Ele se tornava um artista. Com que gòsto não esperava a hora matema ticamente dotermlnada para tanger o sacro bronze! G que Ingênua, vaidade não sorria cm seus olhos, quando os estendia pelos vales e
devesas enluaradas e via o movimento que éle despertava em derredor, povoando os trilhos e atalhas de tantn gente... Não set o que sucedeu um dia. O velho 6Ínelro não quis mais viver uaqtiela aldeia. Retirou-se para a Capital. Como lho fo i duro ai o grangeto do pão! Esteve em mil tentativas malogradas, ( l ) em que se ihe deteriorou ( ’ ) a saúde, & paz e o modesto pecúlio (* ) que Juntara. A felici dade, que as grandes cidades prometem aos inexperien tes moradores do campo, também para o Infeliz sineiro fo i uma formidável mentira. A grandeza coletiva, o con- fórto público, a riqueza dos outros, tudo isso fascina; mas
O) Malogrado: «em multado. (2) Deteriorara»: ertragarns«. <*) PccftHo: «orna do dinheiro «cumulada pelo trafalho # ero
nornl*. Cabedal.
 
rada aproveitam ao ambicioso os bens que não são Uélo. O sineiro foi cair num hospital, onde devia terminar seus últimos amargurados dias. Dem perto se erguia a Citejrtral. Cada vez que os sinos da velha Igreja se faziam ouvir, defeiam grossas lágrimas pelas faces do sineiro. Notou a Religiosa enfermeira o singular fenômeno, mas não obteve explicação alguma do pobre doente. A voz da quele graude sino, surgiam ao lado do sineiro os oito lustros e mais da sua vida aldeã; a saudosa terra se lhe antolhava através de lágrimas arrependidas... Chegou o dia de Natal. O sino da velha Catedral vibrou festiva- mente. Mais do que nunca se confrangeu ( ' ) a alma do pobre doente. Quantas evocações! Nos anos anteriores, Nata! era o dia muls alegre parr. o sineiro; nosso ano ao fnvés... Do fundo do coração pediu a Deus lhe levasse a alma para o Natal do céu. Caiu no delirio. Parcceu-lhc estar na tôrre de sua aldeia a dnr os últimos repiques festivos; momentos curtos da Missa do galo. Que prazer tão puro! Os sinos da Catedral continuavam a tocar e o enfermo, na exaltação febril da fantasia, cuidava ouvir os sinos que imaglnàriamentc ô'.c tangia. Crescia a onda de sons que desciam da Catedral, a agonia do velho sineiro precipitava-lhe a respiração o êlc redobrava os esforços no vibrar os sinos fantásticos. O suor final porejou-lhe (* ) na fronte c êle cuidava suar de repicar tanto, tan to... Pare ceu-lhe então que sua querida tôrre se alongava. Subindo, subindo sempre, penetrou no céu azul. Em a bora da Missa. Os sinos da Catedral calaram. O velho sineiro, exhauato, cessou o repique para assistir à Missa .. . Já não delirava — ouviu en toara m pleno céu, o “ Glória in ex
celais Deo". (*)
GV-rlft a Deo* dm altura*.
 
A FLAUTA E O SABLl
Em rico estôjo de veludo, pousado sôbre uma mesa de charáo, (-1) jazia uma flauta de prata.
 Justamente por cima da mesa. em riquíssima gaiola, suspensa do teto, morava um sabiá.
Estando a sala etn silêncio e descendo um raio de sol sôbre a gaiola, eis que o sabiá, contente, modula uma volata. Logo a flauta escarninha pôe-se a casquinar (* ) no estôjo. como a zombar do móduto cantor silvestre.
 — De que te ria? Indaga o páwsaro. E a flauta, em resposta:
 — Ora esta! pois tens coragem de lançar tais guin chos diante de mim?
 — E tu quem és? aluda que mal pergunte.  — Quem sou? Bem se vê que és um selvagem. Sou
a flauta. Meu inventor, Marsias, lutou com Apoio e ven ceu-o, poris6o o deus. despeitado, Iniolou-o. Lê os clássicos.
 — Muito prazer cm conhecer.. . Eu sou um mfsero sabiá da mata. Pobre de mini! fui criado por Deus muito antes das invenções. Man deixemos o que lá foi.
 — Dize-me: que fazes tu?  — Eu canto.  — O ofício rende pouco. Eu que o diga, que n io faço
outra cousa. Deixarei, todavia, de cantar — e antes nunca houvesse aberto o bico, porque, talvez, sendo mudo, nâo me bouvessem escravizado — sc, ouvindo, a tua Voz, con- venccr-me de que és superior a mim. Canta! Que eu aprecie o teu gorgelo e farei como fôr de justiça.
 — Que eu cante... ?!  — Pois não te parece justo o meu pedido?  — Eu canto para regalo dos reis nos paços, a minha
voz acompanha os hiuos sagrados nas igrejas. 0 meu
 
*— 16 —
cauto é a harmoniosa inspiração dos génios ou a rapsó* dia ( l) sentimental do povo.
 — Pois venha de lá ésse primor. Aqui estou para ouví-lo e para proclamar-te sem Inveja, a minha do canto.
 — fc-so agora não é possível. - Não 6 possível! Porque?
Não está cá o artista.  — Que artista?
 — O meu renlior, de cujos lábios sai o sopro que trans formo cm melodia. Sem êle nada posso laser.
 — Ah! é assim ...? Pois como há de ser?
 — iJntúo minha amiga — modéstia á parto — vivam os sab!' ! Vivam os sabiás (s) e todos os pássaros dos bosques, que <-.ntam quando lhes apraz, tirando do pró prio peito o alento com qua fszcm a melodia. Assim, da tua vanglória bá muitos que so ufanam. Nada valem se os não socorre (* ) o favor de alguém: não se movem so os não ampnrem, não cantam se lhes não dão sòprp, não sobem se os não empurram. O sabiá voa e canta — vai à altura porque tem asa», gorgeia porque tem voz. E succv,e sempre serem os que vivem do prestígio alheio, os que mais alegam triunfos. Flau tas.. . Flautas... Cantas nos paços ( ' ) c nar. catedrais... Pois vem dai a um dueto comigo.
H, irónica mente. # toda voz, pôs-sc a cantar o sabiá; e a flauta do prata, no estójo de ve ludo... moita! Falta- va-lhe o sôpro.
Coelho Neto.
( i ) Raps&lta: Coir.pos!./.! nrUfctica ou llterAria, formada d« fragmentos ou dlfcrcalv» trechos.
<s ) Quantos íiIuuob  uAo «sercYcm r o   fiai do ano: Vira m  í>”rl*s! Pobre concordância!
(s) 0» udo socorra. r ij|< rlegmlo que tiáo os socorre.
t(i)**4) Paços: nAíWos.
HERÓI OBSCURO
“ Tobre moço, quem diria?’' “ Como a gente ee enga na!” “ Que matreiro, com aquela cara de sonso ( ’ ) Leim ?” "dizer que ora religioso!”
Bin o comentário do dia. Roalmentc. a surpresa fo i geral, pois era nada monos que o caixa da fábrica, moço de confiança absoluta dos chefes, de procedi mento ina- pontável e acusado de ter subtraído quantia grossa doa cofres do escritório. Bem que ele se quis defender, porém faltou-lho sempre a voz. Mas defender-se como? Éle era o único que guardava as chaves; no próprio bôlso ilêle
foram encontrados os envoltórios ( s) dos pacotes de cédulas, ninguém po dia ser apontado criminoso senão éle mesmo, que entretanto recusava revelar o paradeiro do dinheiro.
Depois de um juri cm que os  juízes de fato unãnimcmente conde naram o infeliz caixa, éle, o pobre moço, entre as lágrimas dos seus olhos e as dos seres mais queridos, atirados por cie, na infâmia, partiu para nm presídio distante. A despe dida que o filho dellnqüente (*) fez
de sua extremec-ida mãe só pode ser descrita pelas lágri mas que não mais rossaram de correr dos olhos de ambos. O silêncio presidiu, esmagador, à cena dilacerante a que puseram têrmo os esbirros, (*) arrancando o filho dos bra- ços maternos.
Do presídio, não chegaram notícias pelos anos nu merosos que dilataram o martírio do criminoso, não o da mãe, que sucumbiu depressa. Retirou-se a família da-
(*) Sonso: tolo. (* ) Unvoltórlcs: Invólucro«, «nvelopes (gallduno «ata OI lima 9»  
lavra). <*) Dolinqaente: criminoso. (*) tósbtrros: gusrâan. «nldados.
 
» ”,
qiula torra, em que a malsinara ( ' ) uni membro Indigno. Nem ficava bem continuarem aJÍ as pobres vítimas de um estouvado. Um irmão désse infeliz, que era operário da fábrica, estabeleceu-se longe daquele lugar de tristes re cordações. Seus negdcios prosperaram; mas não era feliz.  Todos dt/tam quo o irmão, tornando-.se criminoso, tinha atraído catlgos sôbre a família inteira. Afinal um dia chegam notícias do presídio, as únicas que do malfadado moço se obtiveram, mas eram notícias da sua morte. O guarda do encarcerado tlnlia a Incumbência de arrancar dèle a confissão do crime, afim dc sc descobrir o destino dado ao dinheiro. Baldaram-se-lhe, ( 3) porém, todos os esforços. Morreu o moço obstinado no seu silêncio.
Quando essa notícia chegou aos ouvidos da ramília, enfermou gravemente o irmão do criminoso. Agravou-sc- IHe o mal, e,'não podendo mais falar, pediu então com in sistentes acenos que o levassem. . . levaram-no para o hospital. Êle, porém, continuava a Insistir. Não era para a lí. Como o não entendessem, foz supremo esforço em que se lhe foi a vida e exclamou: "Para o cárcere, sou eu o criminoso”.
A, JiUstosa.
r- 17 — 
A ACADEMIA SILENCIOSA
Houve outrora, cm Hamadan, (3) uma academia cé lebre. 0 primeiro artigo dos estatutos rezava assim: "Os acadêmicos penrarão muito, pouco escreverão e fala rão o menos que lhes fôr possivel” . Chamavam-lhe “ a ecademia silenciosa” . Todo o sábio da Pérsia tinha am bição de fazer parte dela. 0 Dr. Zeb, autor de um exce lente opúsculo, iutitulado “ O Alvcitar" ( 4) soube — nos
t1) Malsinar: Infamar. (3) Baldar: «er Inútil, v&o. (*) Cidade da P«r*ie, sdbro u minas de EcbíUnao. i*)   Alveltar: indlvfdno «ne, sem dlptoou do UabllIUçtto, trata do
doeat»-« do Animais.
 
recantos de sua província — que na academia havia um lugar vago. Põe-se logo a caminho do Ilnmndan. Apre senta-se & porta da sala cm que se achavam retinidos os acadêmicos, e pede ao porteiro lhes entregue um bitheto assim: M0 Dr. Zeb humildemente suplica para si o lugar vago". O porteiro desempenhou Imediatamente a incum bência; mas o doutor com o seu bilhete havia chegado demasiado tarde: já tinha sido ocupado o lusar. O Inci dente afligiu a academia: recebera ela. um pouco a con tragosto, um belo talento, cuja »»loqãcm-ín vivaz e leviana cnuàava admiração nas conver-^s da côrie, e via-se na ne cessidade de recusar o Dr. Zeb, martelo «los palradorcs, e uma boa cabeça.
O presidente, encarreg.tdo de comunicar ao doutor a desagradável deliberação, não nubla como se resolver. Pensou um pouco: manda encher de água- uma grande taça, e tão bem que uma gota mais a faria transbordar. Introduz-çc o candidato: ar simples e modesto, sinal sem pre do verdadeiro mérito. 0 pr<'.idenio ievn-jia-se e sem proferir palavra, uiostru-lhc, atiito, a taça emblemática, tão perfeltanicnto cheia. O doutor compreendeu quo não havia mais lugar na academia; mas, sem desanimar, quis mo3trar que um acadêmico supranumerário ( ' ) não traria inconveniente algum. Vê n seus pés uma folha de roeu: apanha-a e colocu-a tão delicadamente na superfície da água. que nem uma gota sequer sa derrama. À resposta cnv.rmlTosa, todos bateram palmas; naquele dia deixaram os regras dormir e o Dr. Zeb foi recebido por aclamação.
Apresentaram-lhe o registo ( 2)   da companhia, ouiie os reclpiendáriofl (* ) deviam iuscrcver-se. 0 Dr. Zeb escre veu o próprio nome e só lhe faltava pronunciar, como era dc costume, uma frase de agradecimento. Mas o Dr. Zeb, acadêmico devérns silencioso, agradeceu som dizer pala vra: escreveu à margem o número 100. qu<’ era o dc seus consócios; c, colocando nm zero á esquti Ju do número,
(* ) Supranumerrtrlo: que excede «o número pvcstabelecMo. ( * ) Registo ou regtstro (de rcá peste.*). (*) Reclplendárto: aquele que t   r«> tolcootnonté muno ngre- 
ntaçio.
•i 

(0190) escreveu cm baixo: "Os acadêmicos não valerão nem mais, nem menos” . O presidente respondeu ao Dr. com n?o menor polidez, e presença do espírito. Pôs um zero & d'reita dc cem (1.000) c cscrovcu: "Os acadêmicos valerão dez vezes mais” .
OS TJtfiS CÍTÚOS 1>£ MILHO
Certo maucobo cuja lutàncla venturosa fôra o mimo dos pais, perder.do-os, aebou-sc só no mundo, sem amparo nem conselho, tendo, por haveres, as terra9 férteis dum sítio onde havia um paiol abarrotado (* ) de mübo. Jul gando que nuuea mala se esgotaria tamanha provisão, dei- sou-se ficar cm casa. a comer e a dormir, vendendo, a quem o buscava, o milho que herdara.
As terras abandonadas foram perdendo o viço, c o mato, crescendo vigoroso, em pouco tempo sufocou as sementeiras.
Uma manhã, ainda nos dias fartos, estava o soberbo e preguiçoso herdeiro a balançar-se na rede, quando um po bre homem passou, pedindo esmola.
Era um desgraçado, que habitavm na vizinhança e tinha apenas mna choça o alguns palmos de terra.
O herdeiro, ouvindo a voz do pobre, longe de cotnpa- decer-sc, sorriu e, por esmola, atirou-lho, com desprêzo, três grãos de milho. Foi-se o pobre sem dizer palavra e o preguiçoso ficou-se a rir, balançando-sc na rede.
Correram tempos. Jã o moto bravo chegava à casa, c o rapaz, fiado sempre no paiol de milho, vivia descui- dadameute, quando, rccoraudo ao celeiro, achou-o vazio, porque toda a provisão havia passado &a mãos dos com pradores.
Só então, compreendendo n sua miséria e sem ânimo de atirar-se ao trabalho, descoroçoado, ( 2) pôs-se a lamen tar-se e chorava, quando viu chegar, cm formoso cavalo, um homem forte e bem pòsto (•) que, ao dar com êle em
(*) Abarrotado ou abalrotado: muito cheio, «utulhado.  (*) Deacoroçoado: desanimado. (*) Bom YMtldo'.
 
 — 20 — 
tSo miserável condição, deteve o Animal e perguntou: "Que tendes? Porque assim vos lamentais?”
"M orro à míngua!” soluçou o Infeliz. "Tinha um**- sítio fértil e as ervas más tomaram-no. Tinha um paiol abarrotado de milho e esgotou-se. Nada mais nossúo” .
" A culpa é vossa” , dlase*o cavaleiro. "Julgando que nunca mais acabaria a herança que tivestes vossos pais, abandonastes a terra que, dantes, não negava frutos. Sç não vos sentis com ânimo para cuidar do sítio vendei-mo. A mim darão bom prémio as terras que dizete estéreis c, como pegam com o meu sítio, faz-me conta comprá-las, para dilatar a minha lavoura. Entremos em ajuste”.
E combinaram. Justamcnto no dia em que o rapaz
recebia do homem o preço estipulado. (*) perguntou-lhe o comprador:
"Sabeis com que dinheiro vos pago?... Com o que me deram os três grãos do milho que, desprezivelmente, me atirastes. Lcvel-os comigo e, como não tinha ferramenta, com as próprias mãos fiz uma cova na terra, e a terra de
volveu-me o depósito, muitas vezes dobrado. Plantando os grãos que vieram, consegui um canteiro, deu-me o canteiro uma roça, deu-me a roça um campo e fui sempre trocando os lucros por novos benefícios: primeiro em sementes, de pois cm gado, depois em máquinas, e hoje, com éle adquiro as terras donde saiu o capital modesto com que comecei
.a grangear ( 3) fortuna. Véde agora o quo fiz com três r>'grãos de milho e perseverança no trabalho, e, comparai com o que vos acontece, não obstante haverdes possuído terras vastas e um grande paiol atestado (*) de cereal. Não soubestes aproveitar os bens que herdastes e, mais
uma vez, com a vossa desgraça, fica confirmado que a fortuna, seja embora incontável, cede à miséria, quando 6   mal dirigida.
O ouro foge por entre os dedos, como a água, e a
<‘ ) Estipulado: tom binado. ( a) Grangoar: adquirir. (* ) Atestar: cachar aUí o Mato (tampo do vasilha do barro).
Aqui por cxtanio: repleto, abarrota<K «
 
t
terra, é  um cofre seguro e maravilhoso que restitue centu plicado o benefício que se lhe faz” .
Sem mais dizer — e dissent-o bastante — o lavrador deu do rodeas ao cavalo o foi-se.
Coelho Neto.
O OIUJMETK (>)
O mar arrebentava com fúria as suas ondas de en contro ao vapor * Tocantins” , que vinha do Pará com uma preciosa carga de borracha.
A noite aproximava-se tenebrosa: (J) o vento pas sava em uivos, e as nuvens desciam compactas e amea çadoras. O capitão comandara em altas vozes, fazendo
coiycr os marinheiros que subiam e desciam do» msMtvos, recolhen do relas e enrolando cabos.
Xo tneio daqueles homens vinha um grumete, menino pará-
ense, de doze anos, magro, tis nado, de olhos ardentes c bóca simpá;lca. Chauiava-se Manuel:
era órfão de pai, o 16 deixara, no sou querido Pará, a mãe e uma irmã pequena e doentinha.
Quando o pai morreu, o pobre Manuel pensou:  — Preciso trabalhar para socorrer minha mâc e mi
nha irmã; é o meu dever, c hei de cumprí-lo.
E tal qual ( s) um how m , desembaraçou-su dos seus desejos de estudar, e foi pelas ruas da cidade de Belém
em busca de um emprégo. Perguntou em várias lojas,se precisariam de caixeiro pequeno, perguntou em algumas casas se queriam um criado, propòs-se a ser engraxate, vendedor de jornais, aprendiz do algum ofício, qualquer cousa, contanto que pudesse com o seu ganho auxiliar a
 
mão, que lá ficara em casa, engomando roupa para fora,
ao lado da filha doente. Mas ninguém precisava dos ser
viços do boui rapazinho. Manuel já voltava pensativo c desapontado para o seu
canto, quando viu ura cartaz anunciando a partida do " To cantins" e lembrou-*:0  de ir Utmbóm à agência, oferecer os
seus préstimos. Vendo o intcrêsse do menino, que se mostrava entu
siasmado pela vida marítima, aceitaram-no para grumete; além de que, não lhe faltaria serviço a bordo.
Nessa mesma tarde, Manuel despedia-se da mãe, con- solaudo-a: “ Não chore, minha mãe; vou trabalhar para a felicidade de nós todos! li e ! de voltar forte c com al gum dinheiro para a nossa doentinha!"
 — Deus te abençôe, mep filho! — respondeu-lhe a
mãe. —• O que mo anima d que és bom nadador; mas, tem cautela! Eu fico rezando por ti!
Quando Manuel embarcou, olhando de longe para a sua formosa cidade, não pôde conter-se e desatou a chorar.
Que seria dèle, sòzinho, cada vez mais afastado dos
seus? Uma voz fraca chamou-o:
 — Olá! pequeno, que é isso? então um marinheiro
chora, quando vai para o mar? Manuel voltou-se. Era um velho que lhe dizia aquilo.
O pobre, paralítico das pernas, ia estendido em uma ca deira dc rodas.
Os cabelos brancos e as faces mirradas davam-lho um aspecto do doçura e bondado. Manuel aproximou-se e o
velho disse-lhe:  — Ouve: guarda as tuas lágrimas para maiores desgra
ças. Começas cedo a scr homem; precisas de muita coragem. E assim, com boas palavras, para distrair Manuel, disse-
lhe que vinha do Pará, sem mesmo esperar outro paquete de melhores acomodações, porque estava a morrer com beri béri. (>)
 
 — Deus bú de ajudar-te, porque és bom. Quando tlvereai uma hora vaga, vem ter comigo, que cu tc ensina rei, r.ettcs poucos dias, algntna cousa.
Manuel era esperto e captou ( ' ) depressa a simpatia de toda a tripulação. Trabalhava muito; o seu nome era lonsiantcmente proferido: Manuel para aqui. Manuel para ah* e Manuel para acolá, file acudia sempre, submisso e risonho.
No primeiro momento livre, corria para o lado do velho.
O doente sorria-lhe satisfeito c respondia com prazer a todas ns perguntas do bom menino, fi le conhecia bem o Brasil, viajara desde o Amazonas até ao Prata, descre via assim as nossas florestas, montanhas, baías, serras e rios, nomeando as produções de cada Estudo, Incutindo (*) no rapaz amizade por todas as terras do Brasil.
Outras vezes desenrolava nomes e fatos históricos diante dos olhos curiosos do rapaz.
Uma tarde falava élo com entusiasmo do padre Ma nuel da Xóbrcga, do seu grande espírito e do seu boníssimo coração, da sua influencia em Meu de Sá, que denomina vam o pai da pátria, c, depois, da sua morto dc santo, abençoando esta terra que tanto amou.
 — Mas onde fo i quo éle morreu?  — No Hio de Janeiro; e lá foi enterrado.  — E a que ordem pertencia êsse padre?  — Eia um Jesuíta, que acompanhara até aqui, com
outros religtosoa, o primeiro governador. Tomé de Souza. Os jesuítas Trabalhe ram enormemente na conversão dos
Indígenas, c fundaram no Brasil grandes colégios. O padre KObrcga, cabeça pensante entre os da sua
ordem, dedicou-se com amor e coragem à civilização do Brasil, Poi por sugestão sua, que sc fundou a.cidade do lUo de Janeiro, que irás vêr agora.
 — Não havia nenhuma capitania no Rio?.
( i ) Captar: c:m|iii-i:ir, granjear. (s> loeutlr: lustrar.
 
 — 24 — 
 — Nâo. Em 1553, 0« franceses estabeleceram-se na forni08& baía de Guanabara c a í permaneceram poç. alguns anos, negociando eu pau-brasil, como Já faxianieos por tugueses, que, por se entregarem a êsse comércio, eram* chamados, no reino, brasileiros; até que. a 20 de Janeiro de 1562, Men de Sá os expulsou definitivamente, morrendo nesse ataque o seu sobrinho Estáclo de Sá. Mas tudo isso se fez por Influência do grande padre Manuel da Nóbrega. Houve um outro Jesuíta de enorme merecimento também e cuja história te contarei.
 — Como se chamava?  — José dc Ancbieta... ( ' ) Nesse Instante um forte trovão abalou os ares. e o
vento, redobrando de fúria, sacudiu o vapor com bruta lidade.
Manuel correu, obedecendo à voz do comando, e aju dou intrepidamente a marinhagem. Mas os esforços eram inúteis. A luta durou muito até que o vapor vencido, com os mastros partidos, começou a afundar-se!
 — Minha mãe reza por ralm! pensou Manuel; e não 'srnoreceu. C l A noite caiu, negra, pavorosa, e ouviu-se a voz do capitão gritar:
 — Salve-so quem puder!
Scntiu-sc depois o baque dos corpos lançando-se à água c os rangidos da madeira, que se dcscoujuutavs e partia.
'j Eritretanto, as ondas abaixaram-se, mas a escuridão cfa completa.
 — E 0  paralítico? pensou Manuel. Quem lhe valerá?  — Senhor André! gritou o bom menino, com toda a
íôrça dos seus pulmões. Ninguém lho respondeu; mas o Manuel gritou outra
vez, com mais fôrça ainda:  — Senhor André! Senhor André!. . .  — Estou aqui.... Rcspondeu-lfcc uma vo? fraca as
sustada.

 
 — lL'm aqui, onde?! niín vojo nada! quero salvá-lo!  —iSalva-te sòzínbo... Manuel!  — N lo í . , . não há perigo. Minha mãe reza por
.11 tm!  — Falva-te. . . e que Deus te proteja!  — Núo! quero salvá-lo também; venha! E. como um
louco. Manuel arrastava-se pelo tombadilho do vapor, já muito adornado ( ’ ) e melo submerso.
Não, bom rapaz!. . . tu não poderás comigo, eu sere* um e m p e c i lh o . (- ) serei a causa da tua m orte...
 — Minha inae reza por mim! salvar-nos-emos juntosl  Tateando sempre. Manuel encontrou os braços trêmu
los do velho, que, a-pesar-das suas palavras, procurava instintiva mente o apôio do menino.
-— Dem! agora dcfxe-se escorregar... assim.,, enfie os dedos pelos buracos desta tábua... feche os olh os.. .  jião teuha mêrio!. . . vamos!.
E saltaram à água. Foram logo ao fundo, tornaram a subir, e Manuel, aflitíssimo, divisou k   pequena dist&ncla a luz vermelha do uma lanterna. Gritou por socorro, ar rastando o velho consigo. Uma barca fecolbia os náufra gos e mandou um escaler depressa cm direção 4s vozes. Ouvia-sc, pavorosamente, a bulha dos remos na água es cura c fria.
Horas depois, recolhidos a bordo da barca • agasa lhados, Manuel ouvia do bom velho esta promessa, quo foi rlgorosamcnte^cumprlda:
 — Fóste uni herói! devo-te a minha vida, e, a bera da tua, como sou rico, faço-te meu pupilo.
Manuel voltou para o Fará e as suas primeiras pala vras ao ver a mãe, foram estos:
 — Minha mãe! Deus ourlu as suas orações!
 Jnlla Lopes de Almeida*
(*) Adernar: dl»se do navio quando so tnclia.a d* nm lado, cha gando a utergulbá-Io n'água.
(*» Kmpecilho: Impedimento tropeço.
BJBM FEITO
"Bem (eito” é o grito de vingança quo, por primeiro, aprende a criancinha, lufelizmente 6 muito precoce o sentimento vingativo e autcs de saber articular qualquer palavra, já sabe a criança rugir como leãoziuho, quando se vô contrariada. Didi com três anos já sabia dizer "bem feito” . Quando a IrmSzinha Celina, com quem sempre turrava, ( ' ) recebia um quinau, levava uma queda, que* brava a boneca, apanhava um pito — era infalível o "bem feito” do Didl. Um dia a Irmàzinha caiu- da escada. Ora. pouco antes, os dois pequenos tinbam chegado quasi a vias de fato: (* ) êle sc julgara lesado em seus direitos de pro priedade sôbre nm pào dc lô que ela, lambareira (* ) como ninguém, tinha comido. Com a Intervcução do pai, triun fara a filha. Quando, então, Didl a viu chorando após a queda, viugou-sc com um solene “ bom feito” . A pequer rucha foi para a cama, pois não tinha sido manha a cho radeira cont que assustou a mamãe. Contusões sérias o prouV.dmcntc lesões internas, em brevo levaram a me nina à beira da sopultura. Didl, é verdade, às vezes, briga va com a maninha, mos a amava doidamente. Quando percebeu a gravidade da doentinha, ficou aflito sobremodo. No dia seguinte foram chamá-lo para dar o último beijo à irmãqjnba que, vcstldluha dc virgem. Já estava no caixão, pre í  a sçj-cir para o cem itério ... Pouco faltou que êle a nâo seguisse, tal foi a dor que sentiu o pequeno. Havia, porém, qualquer cousa de misterioso naqtfélc penar infantil. Não eram as saudades naturais, nãò era a falta da companheira inseparável doa seus jogos inocentes. Didi chorava convulsamente meses c meses decorridos após a morte da irmã. Kra — quem podia adivinhá-lo? — era o remorso — o próprio remorso de Didl. Náo lho safa dos ouvidos aquela voz terrível "bem feito * que, num mo-
 
mento hiiiústro, lhe fugiu tios lábios. Ela já ferida, mor* talmentç ferida, e êle a dfzcr-Jhe “ bem feito” 0 vento que pfu&ava, o pás?avo cantando, o silvo ( ’ ) das máquinas, tudo parcela repetir-lhe “ beui feito” . Numa luals viram cantarolar o pobre Dicll; nunca inala lhe ouviram as gar galharia francas da infância.
 — 27 — 
* •
Ano . ap*>s, um jovem e fervoroso sacerdote, que renun ciara no muudo a um brilhante futuro, subia os degrutat do altar para rezar a sua prtmetra missa. Todos estranha ram que o novo ministro de Deus quisesse (*) celebrar «•m paramentos ( r;) negros a sua primeira mi.vn. Mas quem o a* dst ia, ao ultar, tudo entendeu quando, pedindo Mc pck>3 mortos, o ouviu, por primeiro murmurar: .. .minha irmã Cellna” .
A» A, T  j*
0 VELHO SINO
Durante a guerra que estremeceu a minha infi-neta  — contava o velho Slnk — ruiu (* ) por terra boa p ;rtc de minha aldeia. A tdrre branca, tão querida a qnasdos cobria com sua sombra, nada sofreu nos grandes tfrbteios.  Todos olhávamos para cia, cheios de esperança, como' se ela fosso grande dedo a apontar para o céu donde nos descia a coragem. Toda a rcslstCncia dos no*sou foi bal dada. As fòrças Inimigas tomaram do assalto a nossa aldeia. Fomos poupados, mas perdemos as nossas par cas ( 3) econômias. Quantas lágrimas rolaram de meus
(*) Silvo: apito. <*) Quisesse: os tempos do verbo querer, derivado do pretérito
perfeito, devem grafar-se com «. (*) Paramentos: vestea que usa o aacerdoto durante «e cerlmd-
alas Mtúrgtca*. (*) Úutr: desatar. (5) Parcas: modesta», minguadas.
 
olhos naquele dia! Chorava mais por ver chorar os meus pais e conhecidos. Lembro-me ainda que fui pedir a um soldado o favor de ir-so embora.. Como era estrangeiro não me entendeu. Insultel-o com a maior violência de * palavras e êle sorria como se eu lhe estivesse a fazer festa. O que porém a todos consternou profundanaente, foi terem* arrancado o sino da tòrre para dêle tazercat uma. grande bala. O velho sino que tanto se amava! O velho stno cuja voz ouvirauí os nossas antepassados de cinco ou seis
gerações!... O velho sino que falava a to dos com a variedade de sua linguagem fes tiva ou fúnebre!... O velho sino que srm- pre participava das vicissitudes. ( ‘ ) do po vo, para o qual era mensageiro, consola dor, amigo, sentine la!. .. PoÍ3 bem, de
baixo de nossos olhos, fundiram õ velho sino. Dele fizeram nm grande projétil (2) e sôbre êsle escreveram o nome de nossa aldeia. Deixaram-nos doapojados e se foram. Ficá mos a chorar saudados do velho sino.
. DtQB após recomeçou forte o tiroteio nas cercanias (* ) nos*sa terra. Era pavoroso o ruído dos canhões. . . dm
grito de horror irrompe do peito do nosso povo: a tòrre fõra atingida por enorme bala, que penetrou pela*abertura do velho sino. A tòrre não caiu. Subimos até ao a lto para ver as avarias (<) sofridas e lá estava o grande projétil com o nome da aldeia. O velho sino voltara ao velho ninho. SinU o heróico veterano, chorava enternecido.
(*) Vicissitudes: nueersoa diverso«. (* ) Projétil ou proJôcUl: plural: projéteis ou projéctois. Prsterivel  
o primeiro. <*) Cercanias: eircunvtzliibaaca*, arredores. .<•*) Avarias: estrago*.
 
0 FILHO DO INSTF.TOR
O Raposlnho — como nós lhe chamávamos — era realmcnte a mais meiga das criaturas. A despeito da pri meira prevenção, fez-se amar por todos.
For todos, não. Havia um grupo de dez ou doze que o dMoetava: a escória ( ’ ) do colégio, os rebeldes, os de mau caráter. Um deles princlpaltnente, o 69, a quem nós cha- unUamos o Fuinha, multipllcava-lhe as