Racismo no Futebol: uma análise sobre a cobertura do caso ... · O episódio de racismo foi...

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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Salto - SP – 17 a 19/06/2016 1 Racismo no Futebol: uma análise sobre a cobertura do caso Daniel Alves na ÉPOCA, ISTOÉ e VEJA 1 Letícia PIRES 2 Ivete Cardoso do CARMO-ROLDÃO 3 Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, SP Resumo O objetivo do trabalho é analisar a cobertura das revistas Época, IstoÉ e Veja do caso de racismo ocorrido com o jogador de futebol Daniel Alves em 27 de abril de 2014. Além de verificar o espaço dado nas revistas para o episódio; observar se as reportagens se centraram no caso ou expandiram o tema; quais as fontes ouvidas; em que medida reforçaram um comportamento parcial (racista ou antirracista); além de apontar semelhanças e diferenças entre as coberturas. Usou-se como metodologia revisão bibliográfica, análise descritiva e análise de conteúdo. Chegou-se à conclusão de que as abordagens foram diferentes: Época promoveu uma conscientização sobre o racismo no futebol; IstoÉ usou o episódio para abranger o tema para outras áreas e Veja enalteceu a reação do jogador, tratando-o como um diferencial na luta contra o racismo no esporte. Palavras-chave: negro, racismo, futebol, Daniel Alves, revistas Este trabalho tem como objetivo analisar a cobertura feita pelas revistas Época, IstoÉ e Veja, do caso Daniel Alves. No episódio, em 27 de abril de 2014, o jogador participava de uma partida de futebol entre os times europeus Villareal e Barcelona (pelo qual joga na Espanha) quando, aos 30 minutos do segundo tempo, foi cobrar um escanteio e no momento em que se preparava para fazer a jogada, um torcedor arremessou uma banana na direção dele. Tendo em vista a ação, o atleta pegou a fruta, a comeu e, depois, continuou a jogada. O episódio de racismo foi notícia no mundo inteiro, e posteriormente, a campanha que foi desencadeada (“#Somostodosmacacos”) obteve grande repercussão, também em âmbito mundial. Dessa forma, o nosso objeto de estudo foi a cobertura do tema nas três revistas de notícias de maior circulação no país, Época, IstoÉ e Veja, verificando de que forma foi tratado o caso de racismo ocorrido com o jogador de futebol, Daniel Alves, em abril de 2014, a fim de mostrar em que medida a cobertura feita pelas revistas reforça um comportamento parcial (racista) ou imparcial sobre esse caso específico. 1 Trabalho apresentado no IJ 07 Comunicação, Espaço e Cidadania do XXI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste, realizado de 17 a 19 de junho de 2016. Este estudo é fruto da monografia de mesmo nome, elaborada pelo grupo composto pelas alunas: Bianca Massafera, Camila Correia, Larissa Batajelo, Letícia Pires e Mariana Fernandes e realizada na disciplina de Metodologia da Pesquisa em Jornalismo, presente na grade curricular da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. 2 Estudante do 7º semestre do Curso de Jornalismo, na Pontifícia Universidade Católica de Campinas 3 Orientadora do trabalho é doutorada em Ciências da Comunicação pela ECA/USP. Docente da disciplina Metodologia da Pesquisa Aplicada em Jornalismo

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Racismo no Futebol: uma análise sobre a cobertura do caso

Daniel Alves na ÉPOCA, ISTOÉ e VEJA1

Letícia PIRES2

Ivete Cardoso do CARMO-ROLDÃO 3

Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, SP

Resumo

O objetivo do trabalho é analisar a cobertura das revistas Época, IstoÉ e Veja do caso de

racismo ocorrido com o jogador de futebol Daniel Alves em 27 de abril de 2014. Além de

verificar o espaço dado nas revistas para o episódio; observar se as reportagens se

centraram no caso ou expandiram o tema; quais as fontes ouvidas; em que medida

reforçaram um comportamento parcial (racista ou antirracista); além de apontar

semelhanças e diferenças entre as coberturas. Usou-se como metodologia revisão

bibliográfica, análise descritiva e análise de conteúdo. Chegou-se à conclusão de que as

abordagens foram diferentes: Época promoveu uma conscientização sobre o racismo no

futebol; IstoÉ usou o episódio para abranger o tema para outras áreas e Veja enalteceu a

reação do jogador, tratando-o como um diferencial na luta contra o racismo no esporte.

Palavras-chave: negro, racismo, futebol, Daniel Alves, revistas

Este trabalho tem como objetivo analisar a cobertura feita pelas revistas Época,

IstoÉ e Veja, do caso Daniel Alves. No episódio, em 27 de abril de 2014, o jogador

participava de uma partida de futebol entre os times europeus Villareal e Barcelona (pelo

qual joga na Espanha) quando, aos 30 minutos do segundo tempo, foi cobrar um escanteio e

no momento em que se preparava para fazer a jogada, um torcedor arremessou uma banana

na direção dele. Tendo em vista a ação, o atleta pegou a fruta, a comeu e, depois, continuou

a jogada. O episódio de racismo foi notícia no mundo inteiro, e posteriormente, a campanha

que foi desencadeada (“#Somostodosmacacos”) obteve grande repercussão, também em

âmbito mundial.

Dessa forma, o nosso objeto de estudo foi a cobertura do tema nas três revistas de

notícias de maior circulação no país, Época, IstoÉ e Veja, verificando de que forma foi

tratado o caso de racismo ocorrido com o jogador de futebol, Daniel Alves, em abril de

2014, a fim de mostrar em que medida a cobertura feita pelas revistas reforça um

comportamento parcial (racista) ou imparcial sobre esse caso específico.

1 Trabalho apresentado no IJ 07 – Comunicação, Espaço e Cidadania do XXI Congresso de Ciências da Comunicação na

Região Sudeste, realizado de 17 a 19 de junho de 2016. Este estudo é fruto da monografia de mesmo nome, elaborada pelo

grupo composto pelas alunas: Bianca Massafera, Camila Correia, Larissa Batajelo, Letícia Pires e Mariana Fernandes e

realizada na disciplina de Metodologia da Pesquisa em Jornalismo, presente na grade curricular da Pontifícia Universidade

Católica de Campinas. 2 Estudante do 7º semestre do Curso de Jornalismo, na Pontifícia Universidade Católica de Campinas 3 Orientadora do trabalho é doutorada em Ciências da Comunicação pela ECA/USP. Docente da disciplina Metodologia da

Pesquisa Aplicada em Jornalismo

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Para isso, a metodologia foi dividida em três etapas. Primeiro foi realizada uma

revisão bibliográfica enfocando temas como: a história do futebol no Brasil, a presença dos

negros no futebol brasileiro, o racismo presente nos campos de futebol no Brasil e na

Europa e o mercado de revistas no Brasil. Em seguida foi feita uma análise descritiva,

através da qual pudemos sistematizar e quantificar o espaço atribuído à reportagem

referente ao caso. Por fim, fizemos uma análise de conteúdo, nas reportagens das revistas

Época, IstoÉ e Veja, que se mostrou um método imprescindível para responder ao objetivo

principal do trabalho.

Para realização da análise e comparação dos resultados, consideramos importante

conhecer as características da linha editorial das três revistas apresentadas por elas próprias.

De acordo com o Instituto Verificador de Comunicação (IVC), a Época é a segunda revista

semanal de maior circulação no Brasil, com uma média de 390 exemplares de janeiro a

setembro de 2014. Desses exemplares, cerca de 9% são avulsas e 91%, assinaturas. São

mais de 2,8 milhões de leitores (projeção Brasil). Quanto ao perfil desses, 54% são

mulheres, 64% pertencem à classe AB e a maior fatia do público possui entre 25 a 34 anos

de idade (25%).

Sob o slogan “conteúdo que transforma”, a Época diz colocar-se a serviço do

jornalismo investigativo, com informação, detalhamentos e análises das diversas frentes que

compõem os fatos. Assim, o time, formado por oito4 colunistas e articulistas, deve basear o

jogo da escrita em três ações principais: informar primeiro, fazer entender melhor e inspirar

os leitores por meio de histórias humanas de interesse público.

Já a Revista IstoÉ, autointitulada como “a mais combativa revista semanal do

Brasil”5, é uma revista de informação de interesse geral, voltada, sobretudo, para o público

adulto, publicada pela editora Três. Segundo o IVC, a IstoÉ é considerada a terceira

principal revista semanal a circular no Brasil. Conforme divulgado pelo (IVC) em

dezembro de 2014, a circulação média da revista foi de 215 exemplares. Com 92% de

assinantes, a distribuição geográfica da revista ocorre da seguinte forma: 3% no norte, 5%

no centro-oeste, 13% no nordeste, 14% no sul e 65% no sudeste. Em sua apresentação6 a

IstoÉ não se posiciona, oficialmente, como uma revista que deve indicar soluções para o

país, mas sim recorre ao passado para reafirmar a defesa da democracia: “Foi protagonista

4São eles: Ruth de Aquino (Atualidades), Guilherme Fiuza (Política), Eugênio Bucci (Política), Felipe Patury (Política,

negócios e poder), Bruno Astuto (Moda, comportamento e celebridades), Walcyr Carrasco (Sociedade), Marcio Atalla

(Bem-estar) e Gustavo Cerbassi (Finanças). Disponível em: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/. Acesso em: 04 abr

2015 5Disponível em: <http://editora3.com.br/istoe.php>. Acesso em: 04 abr 2015. 6Disponível em: <http://editora3.com.br/istoe.php>. Acesso em: 04 abr 2015.

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dos mais importantes fatos políticos e sociais das últimas décadas e teve participação de

destaque na redemocratização do Brasil”7

No mídia kit8 da revista consta que a maioria dos leitores da IstoÉ são mulheres

(53%), de classe social AB (74%) e com 50 anos de idade ou mais. Além disso, 40% são

chefes de família, 48% são casados, 31% possuem nível superior, 8% têm renda familiar de

10 a 15 salários mínimos e 26% possuem subordinados. A revista passa aos leitores que a

sua linha editorial é independente e não atrelada a grupos políticos ou econômicos,

compromissada apenas com o público.

Por fim, a Revista Veja é definida em seu site como “a maior e mais respeitada

revista do Brasil”. Além de ser a segunda maior revista semanal de informação do mundo e

a maior fora dos Estados Unidos, segundo a Associação Nacional dos Editores de Revistas

(ANER), hoje a Veja é a semanal de maior circulação do país.

De acordo com o seu próprio Mídia Kit, a recepção da revista não se restringe a

versão impressa. Juntas, todas as plataformas de Veja contam com uma audiência de 12

milhões de pessoas9. Além dos 9,3 milhões de leitores na versão impressa, são 150 mil na

versão digital, 2,5 milhões de visitantes únicos no portal Veja.com e 36 mil leitores no

aplicativo Veja Notícias, por semana. Quanto ao perfil dos leitores, a maioria deles é do

sexo feminino (55%), acima dos 50 anos de idade (31%), pertencente às classes sociais B

(51%) e C (30%) e localizada na região Sudeste do país (58%). A Veja se considera

consciente da importância da fidelidade do leitor e a existência de um contrato de

comunicação, responsável pela seleção das informações relevantes10.

O negro e o racismo na sociedade contemporânea

Sabe-se que os negros ainda sofrem muito preconceito nos dias de hoje, seja na

escola, no mercado de trabalho e, até mesmo, nas relações interpessoais. Nesse contexto,

uma das medidas implantadas nos últimos anos pelo governo para tentar diminuir essa

discriminação são as cotas – também chamadas de ações afirmativas11 –, tema ainda muito

polêmico no cenário atual. Importadas dos Estados Unidos da América, as chamadas “ações

7 Informação obtida no Mídia Kit da revista. Disponível em: <http://editora3.com.br/downloads/midiakit_istoe.pdf>.

Acesso em 04 abr 2015. 8Disponível em:<http://editora3.com.br/downloads/midiakit_istoe.pdf>. Acesso em: 04 abr 2015. 9Número projetado e estimado sem sobreposição pela própria VEJA. 10 Informações obtidas no Mídia Kit da revista. Disponível em <http://publiabril.abril.com.br/marcas/veja>. Acesso em 04

abr 2015. 11 Entende-se por ações afirmativas o conjunto de medidas especiais voltadas a grupos discriminados e vitimados pela

exclusão social ocorridos no passado ou no presente. (Informação retirada do site Portal Brasil. Disponível em:

<http://www.brasil.gov.br/>. Acesso em 05 abr 2015)

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afirmativas” são uma forma de possibilitar a inserção dos negros seja nas universidades ou

mercado de trabalho.

Ao longo dos anos, foram criadas diversas medidas para colocar em prática essas

ações afirmativas. Dentre elas, estão a criação, pelo Governo Federal, do Estatuto da

Igualdade Racial, em 2010, cujo objetivo é “promover a incorporação da igualdade racial

nas políticas governamentais, articulando ministérios e mais órgãos federais, estados e

municípios”12.

De acordo com Guarnieri e Melo-Silva (2007) no Brasil, o principal objetivo dessas

ações nas escolas e universidades é possibilitar a inserção social de grupos minoritários e

com histórico de exclusão através da reserva de vagas. A partir dessa ideia, percebe-se que

as ações afirmativas são vistas, por esses autores, como uma forma de incluir os negros com

baixa escolaridade e com condições de vida mais precárias no cenário globalizado, ou seja,

fazer com que os negros sintam-se incluídos na sociedade atual, independentemente da cor

de pele, costumes diferentes etc.

Em contrapartida, há aqueles que discordam da eficácia das ações afirmativas e as

veem como uma forma artificial de reparar a discriminação e o racismo sofridos pelos

negros durante grande parte da história do Brasil e que perduram até os dias de hoje. Para

Azevedo (2004, p. 235):

[...] o combate ao racismo significa lutar pela desracialização dos espíritos e

das práticas sociais. Para isso, é preciso rechaçar qualquer medida de

classificação racial pelo Estado com vistas a estabelecer um tratamento

diferencial por raça, ou, para sermos mais claros, os direitos de ‘raça’.

Para Figueiredo e Grosfoguel (2009), o motivo central da presença escassa dos

negros em cargos de destaque no mercado de trabalho fundamenta-se na questão cultural

brasileira. Sabe-se que desde os primórdios da história do Brasil, os negros sofrem

preconceitos, discriminação e tratamento diferente dos brancos. Ainda, para os autores, com

a abolição da escravatura, em 1888, os negros adquiriram uma liberdade relativa, ou seja,

apesar de terem se livrado da situação de servidão em relação aos brancos, ainda eram

vistos como pessoas inferiores.

Segundo Domingues (2006), apesar da força que ganham ao longo do tempo, os

movimentos negros mostram-se insuficientes para acabar com a discriminação e

12Informações retiradas do site do Palácio do Planalto. Disponível em <http://www2.planalto.gov.br/> e do site da

Secretaria de Políticas da Promoção da Igualdade Racial. Disponível em <http://www.seppir.gov.br/>. Acesso em 12 de

maio de 2015.

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preconceito. No contexto atual, ainda nota-se uma grande diferença de oportunidades entre

brancos e negros.

De acordo com Silva (2010), o homem negro ainda é visto com uma subjetividade

potencialmente livre, ou seja, está sempre submetido a uma autoridade superior, sendo

assim, desprovido de qualquer tipo de liberdade. Dessa forma, para a autora, o negro é

alguém que está sujeito a julgamentos e agressões (física e moral) a qualquer momento.

Vale lembrar que além dos cenários já destacados, o racismo também está presente no

esporte e, mais especificamente, dentro dos campos de futebol.

O negro no futebol

Quando o futebol chegou ao Brasil, em 1894, o país tinha acabado de sair de um

regime escravocrata e vivia sob uma sociedade hierarquizada em que a raça era vista como

um dos pilares para pensar no progresso do país. Sendo assim, o negro ainda era visto

apenas como preguiçoso, pouco confiável, incontrolável, mas talentoso para as atividades

em que a emoção excedesse a razão (ABRAHÃO E SOARES, 2009).

Dessa forma, a participação do negro nessa sociedade pós-escravidão era vista com

desconfiança. A elite via os negros como um empecilho para que o país se firmasse no

cenário mundial, sendo reconhecido apenas em algumas áreas como a da cultura e do

futebol. Abrahão e Soares (2009) classificam o futebol como uma “zona livre”, em que o

negro teria espaço e poderia até se destacar.

Segundo Tânia Regina Pinto13, em 1904, Miguel do Carmo foi o primeiro negro a

jogar em um time de futebol, defendendo as cores da Ponte Preta, de Campinas. Após

muitos anos, em 1923, o Vasco da Gama (time tradicional carioca) sagrou-se o primeiro

campeão brasileiro (Liga Metropolitana de Desportos Terrestres) com um time misto de

negros e brancos. A partir desse feito, os clubes nacionais passaram a incluir negros em seu

cartel de jogadores. Ainda, segundo Pinto, essa inclusão de jogadores negros em diversos

clubes brasileiros, após o título vascaíno, foi considerada um marco de mudança da

ideologia da tradição elitista e racista do futebol. A partir disso, esse esporte tornou-se

liberal para os negros, caracterizando-o como uma ferramenta de socialização inter-racial.

Segundo Soares (1998) apud Abrahão e Soares (2009), o esporte tornou-se

brasileiro, pois passou a incorporar o afrodescendente. O negro foi a figura principal na

13Tânia Regina Pinto é a primeira editora negra do Suplemento Feminino do Jornal O Estado de São Paulo e dona do blog

Primeiros Negros. Disponível em: <http://primeirosnegros.blogspot.com.br/2014/07/primeiro-negro-no-futebol-

brasileiro.html> Acesso em:11 abr 2015.

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construção do estilo de jogar brasileiro, reconhecido mundialmente pelo toque de bola, pela

ginga e pela garra. As habilidades artísticas e físicas do negro, únicas reconhecidas pela

elite intelectual, estão presentes na construção do estilo de jogo brasileiro. Portanto, “se o

Brasil é identificado como uma nação mestiça, o futebol brasileiro também é” (ABRAHÃO

E SOARES, 2009, p. 14).

Segundo Rodrigues (2003), os primeiros jogadores afrodescendentes que tiveram

reconhecimento internacional, jogando pela seleção brasileira, foram Domingos da Guia e

Leônidas da Silva, conhecido como Diamante Negro e Divino Mestre, respectivamente.

Ambos foram protagonistas da ótima fase da seleção em 1932, e ao voltarem para o país

foram recebidos por milhares de pessoas no porto do Rio de Janeiro, inclusive pelo então

presidente Getúlio Vargas, marcando assim o início da carreira de jogador de futebol para o

negro e deixando de ser apenas um hobby.

Entretanto, em 1958 um jogador negro de apenas 17 anos mostrou ao Brasil e ao

mundo o jeito brasileiro e negro de se jogar futebol. Edson Arantes do Nascimento, Pelé, se

consagrou junto com os demais jogadores brasileiros, campeões da copa do mundo de

futebol com a seleção brasileira. A hegemonia de Pelé como melhor jogador brasileiro

durou até a Copa do Mundo de 1970, que marcou o tricampeonato brasileiro e a despedida

do rei da camisa verde e amarela. A seleção ainda contava com um capitão negro, Carlos

Alberto Torres e Jairzinho, apelidado de Furacão, que marcou gols em todas as partidas e

tornou-se essencial para o terceiro título do país (Stein, 2014).

Não só a Seleção, mas o futebol brasileiro tornou-se símbolo de miscigenação. Stein

(2014) explica que já não era preciso contar quantos jogadores negros compunham o time

brasileiro ou se destacavam, pois o time havia se tornado uma mistura, em que o negro não

era mais uma exceção, apenas um ou outro jogando, ele havia se tornado parte do time. De

2002 até hoje, o futebol brasileiro conheceu vários ídolos negros, como Ronaldinho

Gaúcho, Zé Roberto, Juan, Neymar, Dante, Marcelo, Jô, entre outros que já defenderam a

Seleção Canarinho. Como observamos, o futebol brasileiro hoje é uma mistura de negros,

pardos, mestiços, brancos e arriscamos até dizer que foi essa miscigenação que tornou o

país reconhecido pelo seu jeito de jogar, pela garra, pelo toque de bola, pelo estilo de jogar

brasileiro, que Soares (1998) apud Abrahão e Soares (2009) atribui a construção ao negro.

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Análise do caso Daniel Alves nas três revistas

Por meio de análise descritiva da cobertura, pôde-se perceber que apenas a revista

Veja preocupou-se em fazer do assunto capa. Na capa da edição em questão da Veja,

Daniel Alves aparece em uma foto posada, vestido de terno e gravata (com um broche de

banana fixado no terno) e fazendo o gesto conhecido como “banana”. Além disso, a

imagem do jogador, muito bem produzida, ocupa o centro da capa, tendo um espaço de

destaque. Já as revistas Época e IstoÉ, ocuparam suas capas com a eleição para presidência

da República. Sobre o episódio de racismo deram apenas uma pequena chamada.

O espaço disponibilizado pelas revistas para a cobertura foi similar entre a Época e a

Veja e um pouco menor na IstoÉ. Em relação à Época, observa-se que a revista, apesar de

não ter feito manchete da edição, além da reportagem, dedicou seu editorial ao assunto,

além de fazer um índice com foto sobre o caso. Já a IstoÉ, que também não teve o caso de

racismo como manchete de capa, teve somente um box no índice que faz referência ao caso,

além da reportagem. Em relação à Veja, pode-se dizer que, em termos de destaque, foi a

revista que mais enfatizou o episódio.

Época

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IstoÉ

Veja

No que se refere ao espaço atribuído ao caso, de um total de 122 páginas da edição

analisada da revista Época, nove foram dedicadas ao caso Daniel Alves, já na revista IstoÉ,

de um total de 98 páginas, apenas cinco foram utilizadas para falar sobre o caso, e

finalmente, na revista Veja, de um total de 128 páginas, dez foram dedicadas ao fato

ocorrido com Daniel Alves. Assim, Época e Veja dedicaram espaço similar (7,3% e 7,8%,

respectivamente). Já IstoÉ destinou espaço menor à cobertura (5,1%).

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Nas páginas que se referem ao caso, as três revistas fizeram uso de textos e

fotografias para compor a reportagem. Porém, somente a IstoÉ utilizou um infográfico para

complementar a matéria (Geografia da Intolerância), na p. 82. Além disso, nota-se que as

três usaram, praticamente, as mesmas fotografias para ilustrar a campanha

“#Somostodosmacacos”, as quais retratam celebridades (principalmente atores da Rede

Globo) que se solidarizaram com o caso ocorrido com o jogador Daniel Alves e deram

continuidade à campanha iniciada pelo jogador Neymar.

Ainda sobre as fotografias usadas nas reportagens, nota-se também uma semelhança

na composição das páginas nas três revistas. Época, IstoÉ e Veja optaram por usar grandes

fotos para iniciar a matéria e intercalar diversas fotografias com os textos, de forma a

promover um tom dinâmico e ao mesmo tempo informativo. Apesar de cada revista dar um

enfoque particular às suas matérias, no que se refere à forma das páginas, pode-se dizer que

adotam uma tendência semelhante. Além disso, fotos de jogadores negros brasileiros

também são destacadas nas três revistas, embora o façam de formas diferentes: a Época e a

Veja aproximam-se de uma retomada histórica, retratando fotos de antigos jogadores negros

com o objetivo de retratar o histórico dos negros no futebol brasileiro; enquanto a IstoÉ

trata dos atuais jogadores negros brasileiros, afim de ilustrar outros casos de racismo no

futebol, além de expandir a discussão para além dos gramados.

Através da análise descritiva, pode-se concluir que a estética das páginas é

semelhante, de modo que todas mesclam textos com fotografias e imprimem um tom

descontraído para as reportagens (apesar de se tratar de um tema bastante sério). Pode-se

dizer que as respectivas edições de Época, IstoÉ e Veja preocuparam-se em disponibilizar

um panorama do racismo no futebol para seus leitores e usar o caso Daniel Alves como

pano de fundo para essa discussão.

Posteriormente a análise descritiva foi feita análise de conteúdo, considerando sete

termos importantes identificados nas reportagens, que virão destacados em negrito em cada

tópico. São eles: Daniel Alves, episódio, reação, torcedor, “#Somostodosmacacos”,

racismo, negros. Também foi feita uma análise e classificação das fontes utilizadas nas

coberturas.

Em relação a Daniel Alves, Época o retratou com neutralidade, valorizando mais o

caso ocorrido do que o próprio jogador. Palavras como “um atleta brasileiro” e “lateral

direita do Barcelona” são usadas para descrever Daniel Alves. IstoÉ também optou por

tratá-lo de maneira equilibrada, sem criticá-lo ou enaltecê-lo, usando termos como “jogador

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negro brasileiro” e “atleta”. Já Veja deu destaque ao jogador, personagem principal do

factual ocorrido, e que também foi o centro da reportagem, tratado como o dono de uma

atitude irreverente. A revista usou termos como “pardo de olhos verdes” e “baiano” para

referir-se ao jogador. Vale ressaltar que, apesar da Veja ter dado destaque a figura do

jogador, a revista refere-se a Daniel Alves como sendo um jogador pardo e não negro.

O episódio foi retratado por Época como um ato heroico, e descrito

majoritariamente pela atitude do jogador diante do ato racista; IstoÉ tratou o episódio como

apenas mais um exemplo de um sério problema, sem supervalorizá-lo, mas, reconhecendo

sua importância inserida em uma campanha contra o preconceito. Veja valoriza não só a

atitude de Daniel Alves ao retratar o episódio, mas também suas características físicas. A

revista apresenta o caso como mais uma demonstração de primitivismo presente nos

estádios e, ao mesmo tempo que o trata como algo rotineiro, o valoriza.

No que diz respeito à reação, Época descreve e enaltece a atitude tomada pelo

jogador, de reagir; IstoÉ deu espaço reduzido à explanação dessa atitude, enquanto Veja

descreve exatamente as ações de Daniel Alves ao reagir, e trata tal atitude como irônica,

além de apresentar argumentos suficientes que comprovam que tal reação possa ter sido

previamente pensada. Época caracteriza a atitude do jogador como “um gesto simples”,

“intuitiva”, o que demonstra uma escolha de palavras que, a princípio, não agrega juízo de

valor. IstoÉ não se preocupou em enfatizar a reação do jogador. Já a Veja afirma que o

jogador “reagiu com fina ironia às provocações”, e traz como legenda da foto que ilustra o

caso, os seguintes dizeres: “POTÁSSIO O lateral pega a fruta atirada pelo torcedor e a

come: “Evita cãibra”, tripudiou” o que comprova a reação irônica à agressão.

O torcedor não é tratado por Época como um personagem importante, somente

como um exemplo de atitude preconceituosa; IstoÉ relata brevemente o que aconteceu com

ele, e também expõe a falta de fiscalização contra esses atos dentro de campo pela Fifa.

Veja, trata-o como criminoso, revela a punição que a ele foi dada, mais eficiente no meio

esportivo do que na justiça, também enaltecendo o descaso das autoridades.

Sobre o racismo, Época, é a que mais abrange o tema contra o preconceito no

futebol, busca conscientizar sobre os casos de racismo que acontecem com diversos

jogadores, principalmente os que jogam na Europa. Como ponto de partida para essa

discussão, Época diz: “Independentemente da forma e da campanha publicitária, o gesto de

Daniel obrigou a Europa a repensar a maneira como lida com o racismo”. A partir de então,

fontes oficiais, como a União das Federações Europeias de Futebol (Eufa) e a Federação

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Internacional de Futebol (Fifa) são usadas para demonstrar as atitudes tomadas pelos

“grandes órgãos” para punir atitudes racistas dentro e fora dos campos.

Já a IstoÉ estende a discussão para além dos campos de futebol e defende que

movimentos contra o preconceito não podem se restringir somente aos estádios, e que a

educação é essencial para o fim da prática racista. Para demonstrar essa ideia, desde a linha

fina, a IstoÉ expõe sua reprovação em relação a atitudes racistas. O título da matéria

“Racismo não”, reforça a ideia de que o racismo não é uma atitude presente apenas em

jogos de futebol e afirma que “esse movimento antirracista não pode se restringir ao

esporte”. Além disso, ela reconhece que “o atleta conseguiu criar uma rede de mobilização

contra o racismo”, o qual “se escancara no universo dos esportes porque é um ambiente

onde os negros brilham e se sobressaem”.

Por fim, Veja trata o tema como algo que não é novidade, sempre existiu e seu início

pode até ser confundido com o início da pratica esportiva, mas que Daniel Alves pode ser o

responsável por acabar com essa prática. Para demonstrar esse argumento, a revista utiliza

como linha fina na capa da edição: “Daniel Alves, da seleção brasileira e do Barcelona,

comeu a banana, os racistas dos estádios escorregaram na casca e o preconceito quebrou a

cara – talvez para sempre”. Ainda, para contextualizar o tema do racismo, Veja utiliza o

conceito de racismo velado, em que as pessoas convivem, mas não aceitam umas às outras,

fingem não ser racistas, atitude comum no país do futebol, e também na Europa. Essa ideia

pode ser comprovada quando Veja traz a declaração de que o jogador passa por situações

complicadas na Espanha por ser estrangeiro.

Em relação aos negros, Época dá enfoque para dados estatísticos sobre os negros e

suas condições de vida no Brasil, seguindo parâmetros de riqueza e pobreza, e

relacionamentos interpessoais entre negros e brancos. Para compor esses dados, a revista

utiliza fontes especialistas, como o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). IstoÉ os retrata apenas em dois

parágrafos, para contar sua origem e dizer sobre a dificuldade que eles têm obter posições

de destaque. Apesar do pouco espaço, a revista utiliza um infográfico, intitulado “Geografia

da Intolerância”, que mostra uma pesquisa feita sobre quem os entrevistados não gostariam

que fossem seus vizinhos e mostra a porcentagem que responderam “pessoas de outras

raças”. Por fim, Veja usa muitos casos de esportistas negros e bem sucedidos que também

reagiram a atitudes racistas, assim como Daniel Alves e faz uma breve retomada histórica

de outros casos de racismo no futebol.

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A campanha “#Somostodosmacacos” foi retratada pelas três revistas como uma

atitude inteligente e perspicaz contra os ataques de racismo. Época reserva grande parte de

sua reportagem a ela, o que demonstra sua importância. Esse destaque dado à campanha

“#Somostodosmacacos”, é iniciado pela exposição do caso do jogador de futebol e

companheiro de Daniel Alves, Neymar Júnior, que publicou uma foto sua e de seu filho na

rede social Instagram, em que os dois aparecem segurando uma banana, cuja legenda é

“somos todos macacos, somos todos iguais. Diga não ao racismo”; Já a IstoÉ traz muitas

fotos de artistas durante a parte superior da maioria das páginas da matéria, porém, sobre

ela, só diz que se tratou de uma campanha publicitária, a revista refere-se à

“#Somostodosmacacos”, julgando-a como uma campanha de publicidade “original e

oportuna”. Por fim, Veja trata a campanha como inteligente, também traz grande quantidade

de fotos, e diversas opiniões sobre ela, positivas e negativas, de especialistas, do agente

publicitário e do próprio Daniel Alves. Para demonstrar a abrangência da campanha, Veja

traz diversas fotos de artistas e jogadores de futebol brancos e negros.

A partir do factual e da posição das três contra o racismo, cada uma deu um enfoque

específico – Época propôs uma conscientização a respeito do racismo no futebol, abordando

o tema com uma retomada histórica de outros casos de racismo no futebol brasileiro e

europeu. Já IstoÉ expandiu a discussão do racismo para além dos campos de futebol e

abordou o tema na sociedade, tratando-o como algo enraizado na cultura brasileira e que

está presente dentro e fora dos campos. Por fim, Veja aborda o racismo no esporte, trazendo

outros casos de racismo no esporte tanto no Brasil quanto na Europa, porém o enfoque da

reportagem é dado à figura do jogador Daniel Alves e como sua reação repercutiu na mídia

através da campanha #Somostodosmacacos.

Em relação às fontes, Época conta com diversos especialistas, IstoÉ, além dos

especialistas, conta com o diferencial do árbitro, uma fonte testemunhal. A revista Veja traz

também uma grande quantidade de especialistas e uma importante fonte testemunhal, o

próprio jogador Daniel Alves, vítima da ação.

Através da análise de conteúdo foi possível demonstrar que, apesar de ser um tema

retratado com importância pelas três revistas, cada uma tratou o episódio com

singularidade. Época utilizou o caso Daniel Alves como pano de fundo para abordar o

racismo no esporte e propor uma conscientização a respeito do tema; já IstoÉ fez uma

reportagem baseada no factual e abrangeu a discussão para além dos campos de futebol,

tratando o racismo de maneira geral, ainda presente em diversos ambientes na sociedade.

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Em contrapartida, Veja deu destaque ao ocorrido e enfatizou a figura e a atitude de

Daniel Alves, tratando-o como alguém capaz de “colocar fim” ao racismo no futebol, após

sua atitude de pegar a banana, descascá-la e comê-la.

Conclusões finais

É possível, finalmente, concluir que: a Época buscou conscientizar a população, a

partir do caso de Daniel Alves, sobre outros atos de preconceito presentes no futebol. Para

isso, apresentou alguns acontecimentos históricos de racismo no futebol brasileiro e suas

repercussões na sociedade; a Isto É usou o episódio para abranger o tema além dos casos do

esporte, tratando o racismo como algo presente em outros aspectos da sociedade. Para isso,

utilizou com exemplos um infográfico e outros casos de racismo na sociedade. A Veja deu

destaque majoritário ao caso, apresentou uma entrevista exclusiva com Daniel Alves

enaltecendo a sua atitude de ter comido a banana e ainda apresentou outros casos

“heroicos” de atletas que reagiram a atitudes racistas. Por outro lado, é importante salientar

que a revista Veja reforça um comportamento preconceituoso ao tratar Daniel Alves como

uma pessoa que foi agredida injustamente porque “não era negro”, declaração presente na

reportagem e dita pelo próprio jogador.

No que diz respeito às semelhanças e diferenças entre as coberturas, conclui-se que

as revistas apresentaram suas reportagens de forma parecida, utilizando diversas fotografias

mescladas com textos, títulos chamativos (escritos com letras grandes) e layoutização das

páginas sem muitas novidades. Apesar disso, cada uma manteve suas particularidades,

utilizando diferentes fontes, promovendo enfoques distintos.

Em suma, a desconstrução das reportagens trouxe à tona as características explicitas

e implícitas da cobertura, demonstrando como um mesmo fato pode gerar interpretações

que, em um primeiro olhar pode parecer semelhantes, mas que, ao aprofundar a análise,

percebe-se bastante diferenciadas.

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