R. Br. ex. Mart. (ARECACEAE) · vi SUMÁRIO Página RESUMO .....vi

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS CAMPUS DE JABOTICABAL GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE Livistona chinensis (Jack.) R. Br. ex. Mart. (ARECACEAE) Nilce Naomi Kobori Orientadores: Profª. Drª. Maria Esmeralda Soares Payão Demattê Profª. Drª. Kathia Fernandes Lopes Pivetta Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – UNESP, Câmpus de Jaboticabal, como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Agronomia (Produção e Tecnologia de Sementes). JABOTICABAL – SÃO PAULO - BRASIL Julho de 2006

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS

CAMPUS DE JABOTICABAL

GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE Livistona chinensis (Jack.)

R. Br. ex. Mart. (ARECACEAE)

Nilce Naomi Kobori

Orientadores: Profª. Drª. Maria Esmeralda Soares Payão Demattê

Profª. Drª. Kathia Fernandes Lopes Pivetta

Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Agráriase Veterinárias – UNESP, Câmpus de Jaboticabal, comoparte das exigências para a obtenção do título de Mestreem Agronomia (Produção e Tecnologia de Sementes).

JABOTICABAL – SÃO PAULO - BRASIL

Julho de 2006

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DADOS CURRICULARES DO AUTOR

Nilce Naomi Kobori – filha de Nilo Keny Kobori e Toshie Goto Kobori, nasceu na

cidade de Suzano, Estado de São Paulo, no dia 01 de maio de 1980. Em 1999

ingressou no curso de Engenharia Agronômica na Universidade Estadual Paulista Júlio

de Mesquita Filho - UNESP – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Campus

de Jaboticabal, concluindo em 2003. Durante o período de graduação, estagiou no

Laboratório de Fisiologia Vegetal, no Departamento de Biologia Aplicada à

Agropecuária, e também, monitora da mesma disciplina. O trabalho de conclusão de

curso foi realizado sob orientação da Profª. Drª. Durvalina Maria Mathias dos Santos,

com bolsa de Iniciação Científica do PIBIC/CNPq. Em julho de 2004 recebe premiação

(Menção Honrosa) em Concurso de Fotografia da cidade de Araras. O curso de

Mestrado nesta mesma unidade universitária inicia em agosto de 2004, no Programa de

Pós-Graduação em Agronomia, na área de concentração em Produção e Tecnologia de

Sementes, com bolsa da CAPES, sob orientação das Professoras Doutoras Maria

Esmeralda S. P. Demattê e Kathia Fernandes Lopes Pivetta, com enfoque em

sementes de palmeiras.

iii

“Viva totalmente e viva intensamente, então cada momento se torna dourado

e toda a sua vida se torna uma seqüência de momentos dourados. Uma pessoa assim

nunca morre porque ela tem o toque de M idas: tudo o que toca se torna dourado”.

“Ao nascer, você não é uma árvore, você é apenas uma semente, você tem de

crescer até chegar ao ponto de seu florescimento, e este florescimento será a sua

alegria, a sua realização. Este florescimento nada tem a ver com poder, nada tem a

ver com dinheiro, nada tem a ver com política. Tem a ver totalmente com você: é um

desenvolvimento individual. Você tem de se tornar uma celebração em si mesmo.”

O SHO – Pepitas de O uro

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O fereço

Aos meus pais, amigos e familiares.

Às orientadoras M aria Esmeralda S. P. Demattê e Kathia F. L. Pivetta.

À UN ESP – FCAV

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Agradecimentos

Aos professores do Programa de Pós-graduação em Agronomia - Produção e

Tecnologia de Sementes pelos ensinamentos e convivência, assim como a Faculdade

de Ciências Agrárias e Veterinárias, Campus de Jaboticabal.

Às professoras Maria Esmeralda Soares Payão Demattê, Kathia Fernandes

Lopes Pivetta e Fabíola Vitti Moro pelas orientações e amizade durante o trabalho.

Aos funcionários do Departamento de Produção Vegetal (Fitotecnia e

Horticultura), do Viveiro experimental (Horto), principalmente aos Srs. Luis, Fernando,

Santana e Lázaro, assim como a Sra. Lúcia, do Departamento de Fitossanidade, pela

ajuda e experiência prática na condução dos ensaios experimentais.

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela

concessão da bolsa de estudos, que possibilitou a minha permanência na Universidade

e o realização desta Dissertação de Mestrado.

Aos amigos “Sementeiros” ou não, pela convivência “cultural” e acadêmica

durante o período de Mestrado: Milaine, Rafaela, Maira, Adriana, Renato, Magnólia,

Cleia, Érika, Breno, Ricardo, Petterson, César, Cristian, Thais, Adriana, Jane, Paula,

Roberta, Juci, Maria Fernanda, Maristela, Sônia, Jú, Mauro,... e a todos que

participaram dessa etapa que posso ter me esquecido(!), pois são tantas as pessoas

que passam por nossas vidas...

vi

SUMÁRIO

Página

RESUMO ........................................................................................................................vi

SUMMARY .....................................................................................................................vii

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 1

2. REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................................. 3

2.1. Livistona chinensis (Jack.) R. Br. ex. Mart. ...................................................... 5

2.2. Germinação de sementes de palmeiras ............................................................ 6

2.3. Substratos ........................................................................................................... 9

2.4. Morfologia de diásporos e plântulas ............................................................... 13

2.5. Sanidade ............................................................................................................ 13

3. MATERIAL E MÉTODOS.................................................................................................. 16

3.1. Coleta e beneficiamento dos frutos ................................................................ 16

3.2. Morfologia dos diásporos e crescimento inicial das plântulas .................... 18

3.3. Germinação em laboratório ............................................................................. 19

3.4. Emergência em viveiro ..................................................................................... 19

3.5. Teste de sanidade ............................................................................................. 20

3.6. Avaliações e tratamento estatístico ................................................................ 21

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................................... 22

4.1. Morfologia.......................................................................................................... 22

4.2. Germinação: temperatura e luz........................................................................ 28

4.3. Emergência: substratos ................................................................................... 33

4.4. Sanidade ............................................................................................................ 37

5. CONCLUSÕES ................................................................................................................... 40

vii

6. REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 41

GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE Livistona chinensis (Jack.) R. Br. ex. Mart.

(ARECACEAE)

RESUMO – A palmeira-leque-da-China é bastante ornamental e muito utilizada em

paisagismo. O objetivo foi descrever morfologicamente diásporos (sementes com o

endocarpo aderido) e plântulas, assim como estudar a germinação em diferentes

temperaturas e regimes de luz, o efeito de substratos na emergência das plântulas e os

fungos associados às sementes desta espécie. O delineamento experimental foi o

inteiramente casualizado, em esquema fatorial 6 x 2 (temperaturas e regimes de luz)

em quatro repetições de 25 sementes, em caixas gerbox com vermiculita. Para os

quatro substratos avaliados, cinco repetições de 50 sementes; para o teste de

sanidade, utilizou-se o método de papel de filtro, com 20 repetições de 8 sementes por

placa de Petri. Verificou-se que o diásporo apresenta formato oval, contendo dentro do

endocarpo, endosperma sólido, consumido durante a germinação (tipo remota tubular).

Por meio de um opérculo circular no endocarpo, emerge o pecíolo cotiledonar que

cresce e dilata em sua extremidade, originando a raiz primária e a parte área (plúmula),

composta por uma folha incompleta (bainha), que reveste a primeira folha juvenil

completa (eófilo), simples e lanceolada com nervação paralela, composta por nervuras

largas, dispostas longitudinalmente; as sementes desta espécie apresentaram alta

porcentagem de germinação (96 a 99%) independente da temperatura e da presença

de luz e maior índice de velocidade de germinação na temperatura alternada de 25-

35ºC, com regime de 8 horas de luz; em condições de viveiro, os melhores substratos

foram vermiculita, areia e esfagno; as sementes estavam infestadas com fungos de

vários gêneros, principalmente Fusarium sp.

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Palavras-Chave: diásporo, morfologia, substrato, temperatura, luz, sanidade

SEED GERMINATION OF Livistona chinensis (Jack.) R. Br. ex. Mart.

(ARECACEAE)

SUMMARY – Chinese fan palm is an ornamental species very appreciated for

landscaping. The objective of this research was to describe morphologically diaspores

(seeds with the endocarp adhered) and seedlings of Livistona chinensis, as well as

study the germination in different temperatures and light regimes, the effect of

substrates in seedlings emergence and the fungi associated to seeds of this species.

The experiment was conducted under a complete randomized experimental design in a

factorial arrangement 6 x 2 (temperatures and light regimes) in four replications of 25

seeds, in plastic boxes (gerbox type) containing vermiculite. For the four substrates

evaluated, five replications of 50 seeds were used; for the sanity test, the blotter method

with 20 replications of 8 seeds in each Petri dish. Diaspores showed to be of oval shape,

containing inside the endocarp, solid endosperm, consumed during germination (of the

remote type). Through the opening of a circular operculum in the endocarp, emerge the

cotyledonary petiole, that grows and dilation begins in its extremity by where begins the

growth of the primary root and the opening of a longitudinal rift, through which emerges

the aerial part that is composed by sheath that cover the first juvenile leaf, simple and

lance-shaped, with large nervure, disposed longitudinally; Seeds of this species

presented high germination percentage (96 to 99%), independently of temperature and

light presence, and higher germination velocity index was observed in the alternate

temperature of 25-35ºC, with 8 hours of light; in nursery conditions, the best substrates

were vermiculite, sand and sphagnum; seeds were infested with many fungi genera,

especially Fusarium sp.

ix

Keywords: diaspore, morphology, substrate, temperature, light, sanity

1. INTRODUÇÃO

As palmeiras são plantas da família Arecaceae, de grande importância pelos

produtos que fornecem como alimentos para o homem e para a fauna, madeira para a

construção, folhas para coberturas e revestimentos, matéria prima para confecção de

artesanato, fibras para fazer tecidos e substrato para cultivo de plantas, entre outros,

além do grande valor ornamental.

A produção de mudas de palmeiras é feita quase que exclusivamente por

sementes e a germinação da maioria das espécies é considerada baixa, lenta,

desuniforme e influenciada por vários fatores, relacionados ao ambiente ou à própria

planta. Para poucas espécies de palmeiras, foram feitos estudos com o objetivo de

definir os tratos culturais a serem utilizados no seu cultivo, assim como as técnicas mais

adequadas à multiplicação, principalmente das espécies de interesse apenas

ornamental.

O desenvolvimento das estruturas básicas do processo germinativo é bastante

peculiar na família Arecaceae, podendo diferir entre espécies; desta forma, o

conhecimento dos estádios morfológicos durante a germinação das sementes de cada

espécie de palmeira é imprescindível para auxiliar na análise do ciclo vegetativo

podendo fornecer subsídios à interpretação de testes de germinação e, também,

auxiliar os estudos de taxonomia e ecologia.

As temperaturas favoráveis para a germinação de sementes de palmeiras

variam, normalmente, na faixa entre 20 e 40ºC, porém, ainda são poucos os estudos

sobre as temperaturas cardeais, para as diferentes espécies. Do mesmo modo, pouco

se sabe sobre a influência da luz na germinação destas sementes.

As sementes podem abrigar patógenos no seu interior ou carregá-los em sua

superfície, contribuindo para a sobrevivência, disseminação e transmissão de

patógenos em áreas isentas. A presença destes patógenos pode reduzir a qualidade

2

fisiológica das sementes, indicada pela germinação e pelo vigor, bem como, causarem

danos nas plantas às quais darão origem.

A espécie Livistona chinensis (Jack.) R. Br. ex. Mart., conhecida como palmeira-

leque-da-china ou falsa-latânia, originária do continente asiático, é muito difundida no

Brasil, em parques, jardins e também em vasos, quando jovem. Embora seja muito

utilizada, existem poucas informações na literatura sobre a propagação desta espécie, o

que dificulta o processo de formação de mudas, além de não existir a descrição

morfológica do processo germinativo (de sementes e plântulas).

Tendo em vista essas considerações, este trabalho teve como objetivo descrever

os aspectos morfológicos de diásporos (sementes com o endocarpo aderido) e

plântulas, bem como, estudar os aspectos relativos à germinação de sementes de

Livistona chinensis (Jack.) R. Br. ex. Mart., sob diferentes temperaturas e regimes de

luz, diferentes substratos e, também, detectar os fungos associados às sementes desta

espécie.

3

2. REVISÃO DE LITERATURA

As palmeiras são plantas da família Arecaceae, muito importantes em

paisagismo, sendo mais de 3500 espécies reunidas em mais de 240 gêneros,

espalhadas por todo o mundo, principalmente nas regiões tropicais da Ásia, da

Indonésia, das Ilhas do Pacífico e das Américas (LORENZI et al., 2004).

As espécies da família Arecaceae encontram-se distribuídas principalmente nas

regiões próximas à linha do Equador, desde o norte da Europa a 44º 00 N até a Nova

Zelândia a 44º 18’ S (HENDERSON et al., 1995). São plantas típicas dos trópicos, mas

se encontram espalhadas em diferentes habitats, mostrando adaptações específicas a

cada meio (ALVES & DEMATTÊ, 1987).

O Brasil possui uma riquíssima flora palmácea, sendo o terceiro país do mundo

em diversidade de palmeiras nativas, com aproximadamente 387 espécies e 37

gêneros. As palmeiras possuem várias utilidades conforme a espécie, oferecendo ao

homem: madeira de construção; as folhas e talos servindo de cobertura de moradias,

paredes e cercas; dos folíolos, fabricam-se esteiras, cordas, sacos, cestos, chapéus,

entre outras. Para o homem fornecem também alimentos como o palmito, frutos, óleos,

doces, e alimentam a fauna. São as palmeiras que atraem e seguram o homem em

regiões inóspitas; sem elas, esses locais seriam grandes áreas semi-desérticas ou

despovoadas (GERALDO, 1998).

Além de ornamentais, muitas espécies são exploradas como produto agrícola.

Dentre as espécies cultivadas no país, destacam-se: açaizeiro (produtora de palmito e

frutos), coqueiro (produtora de frutos), dendezeiro (produtora de frutos para usos

industriais), juçara (produtora de palmito), palmeira-real (produtora de palmito),

pupunheira (produtora de palmito e frutos) e tamareira (produtora de frutos). Dos frutos

do babaçu, tem-se cerca de 30 subprodutos, entre os quais óleo comestível, óleo para

uso industrial (inclusive na substituição total ou parcial do óleo diesel), amido, gás

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combustível, carvão briquetado (substituindo o coque siderúrgico de origem mineral,

metanol, fenol, benzol), entre outros (MEDEIROS-COSTA, 1984).

As informações sobre cultivo de palmeiras são muito escassas. A família

Arecaceae constitui um grupo especial do ponto de vista do melhoramento de plantas

perenes, especialmente em função das dificuldades inerentes à reprodução vegetativa

dos indivíduos, fato que dificulta, ou mesmo, impossibilita o pleno uso dos genótipos

superiores. Esse fator tem impacto direto nas estratégias de melhoramento e de

produção de propágulos melhorados destas espécies (KALIL FILHO & RESENDE,

2001).

A germinação de sementes de palmeiras, de modo geral, é considerada lenta,

desuniforme e, freqüentemente, em baixa porcentagem. A propagação é feita, quase que

exclusivamente, por meio de sementes, com grande variação no processo germinativo,

influenciado por diversos fatores, como o grau de maturação, a presença ou não do

pericarpo, o tempo entre a colheita e a semeadura, a temperatura do ambiente, o

substrato, entre outros (MEEROW, 1991b; BROSCHAT, 1994).

Estima-se que cerca de 25% de todas as espécies de palmeiras necessitem de

mais de 100 dias para germinar e apresentem menos de 20% do total de germinação

(Tomlinson, citado por BROSCHAT, 1994).

A análise de sementes tem como objetivo a avaliação da qualidade destas quanto

à composição do lote e a capacidade germinativa, por meio de procedimentos

padronizados pelas Regras para Análise de Sementes - RAS (BRASIL, 1992). Esta

padronização visa à obtenção de resultados uniformes para um lote de sementes,

analisado em diferentes laboratórios; os procedimentos são estabelecidos por meio de

experimentação prévia, que possibilitam a avaliação da qualidade da semente; no entanto,

para espécies nativas e exóticas de menor interesse econômico, a padronização de

métodos é bastante escassa, representando menos de 0,1% das prescrições e

recomendações. Nos últimos 20 anos, houve um grande aumento de pesquisas na área

de sementes florestais, devido ao crescente interesse econômico e conservacionista

(OLIVEIRA et al., 1989). Para as sementes de palmeiras, ainda são poucas as pesquisas

para definição de padrões.

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2.1. Livistona chinensis (Jack.) R. Br. ex. Mart.

A posição taxonômica da espécie, de acordo com Dransfield & Uhl, citados por

HENDERSON et al. (1995), é: Classe Liliopsida (Monocotyledoneae), Subclasse

Arecidae (Espadiciflorae), Ordem Arecales (Principes), Família Arecaceae (Palmae),

Subfamília Coryphoideae, Tribo Corypheae, Subtribo Livistoninae, Gênero Livistona,

Espécie Livistona chinensis (Jack.) R. Br. ex. Mart.

A espécie é a mais cultivada do gênero e, embora originária do continente

asiático, está amplamente distribuída nas Américas (MEEROW, 1991a). De acordo com

LORENZI et al. (2004), Livistona chinensis (Jack.) R. Br. ex. Mart., conhecida como

palmeira-leque-da-china e falsa-latânia, tem origem na China, no Japão, em Taiwan,

Bonin e nas Ilhas Ryukyu. É uma palmeira monóica, de 5-15 m de altura, que possui

caule solitário, ereto, anelado, fissurado, sulcado transversalmente, com poucos

remanescentes da base das folhas na região apical, medindo cerca de 20 cm de

diâmetro. Apresenta crescimento lento, sendo as folhas, em leque, numerosas,

divididas quase até a base em segmentos finos e pendentes, com pecíolo longo e

provido de espinhos curvos nas margens e de fibra marrom na base. As inflorescências

são ramificadas, densas, dispostas de maneira pendente entre as folhas. Os frutos são

ovóides ou elipsóides, glaucos (verde-azulados) e brilhantes, com polpa alaranjada

durante a maturação. A espécie, presente em regiões tropicais, de clima subtropical e

temperado de todo o mundo, é cultivada em vasos, e freqüente em parques e jardins no

Brasil, tanto como planta isolada como em grupos ou fileiras. Apresenta frutificação

abundante durante os meses de inverno, multiplica-se por sementes, que germinam em

cerca de 70 dias. Com relação às exigências ambientais, é uma espécie muito rústica,

que se desenvolve bem tanto a pleno sol como a meia sombra. Pode ser considerada

uma espécie subtropical, tolerando tanto os trópicos como as regiões temperadas, em

que suporta geadas invernais.

Tolera solos argilosos, siltosos, ácidos, alcalinos, desde que sejam bem

drenados. A tolerância à seca é moderada. Embora seja muito usada como palmeira

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em vasos, a forma característica a torna ideal para paisagismo, em grupos ou como

planta isolada, ou, ainda, para arborização urbana. Cresce bem com pouco espaço de

terreno disponível. A planta se desfaz das folhas mais velhas, não necessitando de

podas. Adapta-se a luz direta, embora plantas jovens necessitem, parcialmente, de

sombra. A adubação deve ser feita duas a três vezes por ano, apresentando benefícios

se for feita cobertura orgânica (GILMAN & WATSON, 1993).

2.2. Germinação de sementes de palmeiras

O efeito da temperatura na germinação afeta a velocidade de absorção de água

pelas sementes e pode alterar, entre outros aspectos, a porcentagem total, a velocidade

e a uniformidade de germinação (CARVALHO & NAKAGAWA, 2000; CASTRO &

HILHORST, 2004). O teste de germinação, utilizado em laboratório para avaliar a

qualidade da semente, é realizado sob condições de temperatura e substrato ideais

para cada espécie. De acordo com BEWLEY & BLACK (1996), a temperatura influencia

a porcentagem final e a velocidade de germinação, dentro de amplitudes térmicas,

definidas para cada espécie, chamadas de máxima, ótima e mínima.

Com relação às temperaturas de germinação de sementes de palmeiras,

MEEROW (1991b) relatou que temperaturas entre 20 e 40ºC são aceitáveis, com

melhores resultados entre 30 e 35ºC para a maior parte das espécies. BROSCHAT

(1994) observou que sementes de muitas espécies germinam melhor na faixa de 25 a

35ºC, enquanto LORENZI et al. (2004) consideraram favoráveis temperaturas entre 24

e 28ºC, com umidade relativa do ar de aproximadamente 70%.

Embora a maioria das palmeiras seja de origem tropical, com sementes que

germinam, de forma natural, em temperaturas mais elevadas, vários resultados sobre

as temperaturas que proporcionam maior porcentagem de germinação têm sido

encontrados para diferentes espécies, como 30-35ºC para Chrysalidocarpus lutescens

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H. Wendl. (BROSCHAT & DONSELMAN, 1986), 25ºC para Rhapis excelsa (Thumberg)

Henry ex. Rehder (AGUIAR et al., 2005), 25 e 30ºC para Phoenix roebelenii O´Brien

(IOSSI et al., 2003), 30 e 35°C para Syagrus romanzoffiana (PIVETTA et al., 2005a) e

temperatura alternada de 25-35ºC para Livistona rotundifolia (VIANA, 2003). Segundo

estudo de CARPENTER (1988), a temperatura de 35ºC promoveu maior germinação

para quatro espécies de palmeiras estudadas, sendo que temperaturas de 5 a 10ºC

acima ou abaixo de 35ºC, normalmente, retardaram e reduziram a germinação,

tornando-a irregular e desuniforme para as espécies Acoelorraphe wrightii (Griseb & H.

Wendl). H. Wendl. ex. Becc., Coccothrinax argentata (N. J. Jacquin) L. H. Bailey., Sabal

etonia Swingle ex. Nash. e Thrinax morrisii H. Wendl. Esta mesma temperatura, de

35ºC, foi a que proporcionou os melhores resultados de germinação de sementes para

Thrinax parviflora Swartz. (PIVETTA et al., 2005b) e para Roystonea regia (Kunth) O.F.

Cook (PENARIOL, 2005). Para outras espécies, como babaçu, tamareira-anã, pupunha

e piaçaveira, a temperatura de 30ºC foi adequada para a maioria dessas palmeiras,

enquanto temperaturas de 35ºC ou superiores prejudicaram a germinação (YOCUM,

1961; REES, 1963; PINTO, 1971; ELLIS et al., 1985; CARPENTER, 1988,

VILLALOBOS & HERRERA, 1991; MELO, 2001; IOSSI et a., 2003). No entanto, para

jerivá (Syagrus romanzoffiana), as temperaturas de 20ºC e alternada de 20-30ºC não

apresentaram germinação (PIVETTA et al., 2005a).

Do mesmo modo, a temperatura influencia a velocidade com que as sementes

de palmeira germinam. PIVETTA et al. (2005a) verificaram que, para jerivá (Syagrus

romanzoffiana), a germinação foi mais rápida na temperatura de 30°C, assim como

para tamareira-anã, com esfagno ou areia como substrato (IOSSI et al., 2003). Para

Thrinax parviflora (PIVETTA et al., 2005b), com exceção de 20ºC, as demais

temperaturas proporcionaram melhores resultados e não diferiram entre si (25, 30, 35 e

20-30 e 25-35ºC). A temperatura alternada de 25-35ºC proporcionou maior índice de

velocidade de germinação (IVG) para Livistona rotundifolia (VIANA, 2003).

O tempo gasto para que ocorra a germinação, bem como a distribuição da

germinação ao longo do tempo também varia com a espécie e outros fatores ligados à

planta ou ao ambiente. Sementes de Washingtonia robusta iniciam a germinação com

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menos de duas semanas; Chrysalidocarpus lutescens, com três a quatro semanas, e as

de Chamaedorea elegans demoraram de meses até um ano para iniciar a germinação

(BROSCHAT, 1994). MACIEL & MOGOLLÓN (1995), estudando diversas espécies de

palmeiras, verificaram que, para Livistona chinensis, a emergência teve início na oitava

semana, finalizando na 16ª semana, apresentando 90% de emergência total; para

Chrysalidocarpus lutescens, iniciou na sexta semana, finalizando na 13ª semana, com

emergência de 87%; Veitchia merrillii e Pritchardia pacifica iniciaram na sexta e oitava

semanas, finalizando na 11ª e 15ª semanas, com 85 e 86% de emergência,

respectivamente; Roystonea oleracea teve início na oitava semana, finalizando na 21ª

semana, com 53% de emergência; Caryota rumphiana iniciou na 15ª e finalizou na 35ª

semana, com apenas 47% de emergência.

ODETOLA (1987), estudando dormência, viabilidade e germinação de sementes

de palmeiras ornamentais, concluiu que não existe dormência em relação ao embrião,

que se desenvolve continuamente após a maturação do fruto. Porém, várias espécies

da família Arecaceae apresentam dormência física em graus variados, demandando

tratamentos como embebição em água ou em substâncias químicas reguladoras de

crescimento, estratificação, escarificação química ou mecânica, ou, mesmo, graus de

exposição à luminosidade.

Para alguns grupos ecológicos, a presença de luz pode influenciar a germinação

de sementes. A sensibilidade das sementes à luz é bastante variável, de acordo com a

espécie, sendo influenciada positiva ou negativamente, ou ainda, ser indiferente

(BORGES & RENA, 1993). Há espécies que crescem sob um dossel ou cobertura

vegetal espessa e, geralmente, não requerem muita luz para germinar. Ao contrário,

espécies que requerem luz para o crescimento desenvolvem-se, freqüentemente, em

clareiras, exigindo quantidades relativamente maiores de luz para que ocorra a

germinação (CASTRO & HILHORST, 2004).

Em função da resposta à luz, recomenda-se a utilização de luz branca (que

contém comprimentos de onda necessários para ativar ou desativar o fitocromo) para a

germinação das sementes de diversas espécies (ZAIDAN & BARBEDO, 2004).

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De acordo com BROSCHAT (1994), não é de conhecimento a dependência de

luz para a germinação de sementes de palmeiras. Para a espécie Rhapis excelsa,

AGUIAR et al. (2005) verificaram não haver necessidade de luz para germinação na

temperatura de 25ºC, tendo areia como substrato. SILVA et al. (1999) avaliaram a

germinação de sementes de Aiphanes aculeata, a partir de frutos em diferentes

estádios de maturação, concluindo que a germinação foi melhor em frutos vermelhos,

independentemente dos regimes de luz (12 horas de fotoperíodo ou contínuo escuro).

2.3. Substratos

Os solos arenosos e de baixada parecem ser os mais favoráveis para as

palmeiras; no entanto, elas podem ocorrer em solos argilosos, nas serras e nos

pântanos turfosos. Existem espécies trepadoras que dependem mais de seu suporte

entre as árvores da mata do que da textura do solo em que vivem (ALVES &

DEMATTÊ, 1987).

O substrato utilizado nos testes de germinação também apresenta grande

influência no processo germinativo, pois fatores como estrutura, aeração, capacidade

de retenção de água e grau de infestação de patógenos podem variar de acordo com o

tipo de material usado (POPINIGIS, 1977). Dessa forma, as características específicas

dos diferentes substratos experimentados devem ter influência na velocidade da

embebição e, por conseguinte, na velocidade da germinação.

Na literatura, existe grande variação de resultados quando se compara a

eficiência de substratos para uma mesma espécie, pois as propriedades de um

substrato com a mesma denominação são variáveis nos diferentes trabalhos

(OLIVEIRA et al., 1989).

O substrato para a germinação de sementes de palmeiras deve ser bem drenado

e com boa capacidade de reter umidade, e as partículas não devem ser

10

excessivamente grandes. Seca e encharcamento podem prejudicar as sementes

durante a germinação (BROSCHAT, 1994). O substrato deve ser mantido

uniformemente úmido, para suprir as sementes com a quantidade de água necessária

para sua germinação e seu desenvolvimento. O excesso de água provoca decréscimo

na germinação, pois impede a penetração de oxigênio e reduz todo o processo

metabólico resultante, além de aumentar a incidência de fungos, levando à redução da

viabilidade (FIGLIOLA et al., 1993).

Embora não esteja descrita ou prescrita nas Regras para Análise de Sementes

(BRASIL, 1992), a vermiculita vem sendo recomendada como um excelente substrato

para sementes de grandes dimensões e de formato arredondado, permitindo o

desenvolvimento mais adequado de plântulas durante o teste de germinação, em

função do maior contato entre as sementes e o substrato, além de ser um bom

condicionador do solo, por melhorar as suas propriedades físico-químicas e hídricas

(FIGLIOLIA et al., 1993).

A vermiculita é um substrato adequado para a germinação de sementes de

palmeiras por ser livre de pragas e doenças, além de apresentar boas características

físicas, como boa capacidade de retenção de água e boa drenagem (YOCUM, 1964). O

esfagno e a vermiculita são substratos considerados adequados para condições de

viveiro (MEEROW, 1991b), sendo o esfagno recomendado para sementes de palmeiras

de difícil germinação, enquanto, para outras espécies com maior facilidade, o substrato

pode ser constituído por esfagno misturado com a mesma quantidade de vermiculita,

perlita, areia, serragem, rochas ou cinzas vulcânicas (MARKUS & BANKS, 1999).

Alguns estudos visando encontrar um substrato que seja mais adequado para a

germinação de sementes de palmeiras têm sido feitos em outros países (VILLALOBOS

& HERRERA, 1991; CLEMENT & DUDLEY, 1995). Porém, os resultados,

freqüentemente, não são aplicáveis nas condições brasileiras, pois os substratos

testados nem sempre são encontrados com facilidade, como é o caso de perlita, cinzas

vulcânicas e outros.

No Brasil, trabalhos semelhantes também vêm sendo feitos. Para sementes de

Phoenix dactilifera L., submetidas às temperaturas entre 25 e 35ºC, os substratos areia,

11

esfagno e vermiculita foram igualmente apropriados (Sento, citado por NUNES, 1998).

Para Phoenix roebelenii O´Brien, o esfagno foi o substrato que proporcionou maior

porcentagem de germinação quando comparado com areia, serragem e vermiculita, em

condições de ambiente (IOSSI et al., 2003); os melhores resultados foram obtidos sob

temperatura de 25 e 30ºC, com maior IVG à temperatura de 35ºC, utilizando-se esfagno

ou areia. VIANA (2003) verificou que a vermiculita e o esfagno foram os substratos que

proporcionaram maior germinação de sementes de Livistona rotundifolia. Sementes de

babaçu (Attalea speciosa Mart. ex. Spreng.) semeadas em vermiculita germinaram em

15 dias e, quando semeadas em areia, atingiram o mesmo percentual de germinação

aos 40 dias, com 40% de germinação, sob temperatura de 30ºC (Frazão & Pinheiro,

citados por MELO, 2001).

Para pupunha (Bactris gasipaes), os substratos húmus de minhoca, esterco

bovino e areia mais serragem curtida foram os que apresentaram a maior porcentagem

de germinação, com maior IVG para o primeiro (ALMEIDA et al., 2002); LEDO et al.

(2002) verificaram que a areia proporcionou maior porcentagem de germinação (53%),

quando comparada com a vermiculita (23%), enquanto CLEMENT & DUDLEY (1995),

no Havai, obtiveram melhores resultados com substrato de cinzas vulcânicas do que

com substrato misturado.

Em estudos com palmiteiro (Euterpe edulis Mart.), ANDRADE et al. (1999)

demonstraram que a vermiculita apresentou os mais altos valores; para SOUZA et al.

(1995), a temperatura alternada de 20-30ºC e o substrato vermiculita produziram os

maiores valores de germinação e de velocidade de emergência de plântulas de

palmiteiro, e TAKAHASHI et al. (1993) verificaram que o melhor resultado foi obtido com

o pó de xaxim, seguido por solo, areia e serragem, para a mesma espécie. O período

de germinação variou de 15 a 32 dias para o açaizeiro e de 19 a 40 dias para o

palmiteiro, segundo BOVI et al. (1989), e não houve diferença significativa entre os

substratos em condições de laboratório, mas notou-se que sementes sobre vermiculita,

serragem e areia apresentaram melhor desenvolvimento do que nos outros substratos,

além da vantagem de os dois primeiros não precisarem de reumidificações constantes;

a temperatura alternada de 20-35ºC foi relativamente superior à temperatura constante

12

de 35ºC, pois, além da menor germinação das sementes, ocorreu, em geral, intenso

ataque de fungos.

A fibra de coco vem sendo utilizada como substrato para várias culturas

agrícolas, como alternativa de substituição ao xaxim. É um substrato elaborado a partir

do mesocarpo do coco, que apresenta diferentes texturas, dependendo do objetivo a

que se destina. Como características, o substrato constitui um meio de cultivo muito

homogêneo, de fácil mecanização e altamente poroso, formulado para proporcionar

ótimo balanço entre aeração e capacidade de retenção de água do substrato, além de

apresentar elevada estabilidade física. Uma das empresas produtora ressalta que as

vantagens da fibra de coco são: elevadas porosidade total e capacidade de aeração

(possibilitam melhor enraizamento e melhor desenvolvimento de mudas e plantas); boa

capacidade de retenção de água disponível (evita necessidade de muitas regas);

produto não sujeito aos riscos da compostagem; excepcional propriedade de re-

hidratação, com ótima absorção; estrutura física altamente estável, resistente ao tempo;

material homogêneo e de baixa densidade aparente; material isento de sementes de

ervas daninhas, pragas e doenças (o processo industrial garante sua qualidade); fácil

mecanização dos processos de produção; economia no frete e no armazenamento

(vem prensado a 2:1); produto ecologicamente sustentável e renovável (AMAFIBRA,

2006).

Recomenda-se que os substratos para germinação de sementes de palmeiras

não contenham adubos, pois, nos estádios iniciais da germinação até o início de

formação da plântula, ocorre o consumo do material de reserva (endosperma),

responsável pelo fornecimento dos nutrientes. Segundo MEEROW (1991b), a adubação

até os dois primeiros meses, além de desnecessária, pode causar danos às plântulas.

13

2.4. Morfologia de diásporos e plântulas

Os trabalhos de morfologia de plântulas têm merecido atenção há algum tempo,

visando à sistematização da identificação de plantas. O estudo morfológico de

sementes e plântulas auxilia a análise do ciclo vegetativo das espécies (KUNIYOSHI,

1983) e pode fornecer subsídios à interpretação de testes de germinação, por meio do

conhecimento das estruturas baseado na morfologia (OLIVEIRA & PEREIRA, 1986).

Também é muito utilizado em taxonomia, segundo FERREIRA et al. (2001).

O conhecimento da germinação, envolvendo os aspectos morfológicos, é

importante para estudos taxonômicos, ecológicos e agronômicos. No caso da maioria

das palmeiras, o processo germinativo não foi completamente descrito, assim como não

foram identificadas as estruturas das plântulas em formação (GENTIL & FERREIRA,

2005).

OLIVEIRA (1993) comenta que muitos autores ressaltaram que, além da unidade

de dispersão, é imprescindível um melhor conhecimento da germinação, do

crescimento e do estabelecimento da plântula para compreender o ciclo biológico e a

regeneração natural da espécie. Dentro da tecnologia e análise de sementes, o teste de

germinação é o suporte para todas as outras análises e experimentos, e o

conhecimento das plântulas e de suas estruturas é importante para uma correta

interpretação. Nas Regras para Análise de Sementes a definição para avaliação de

plântulas normais de espécies de porte arbóreo é muito sucinta e vaga, não abrange as

variações existentes, além de só trazer recomendações para espécies exóticas de

maior valor econômico.

2.5. Sanidade

Um aspecto importante a ser considerado na realização de análise de sementes

é a condição sanitária, pois, muitas vezes, estas chegam ao laboratório contaminadas

14

com fungos, comprometendo o resultado final. Essa contaminação pode ocorrer durante

a permanência das sementes no campo, por ocasião da colheita ou nas etapas

subseqüentes. Por ser a primeira etapa da produção vegetal, a produção de mudas é

dependente de sementes sadias e com bom vigor (FIGLIOLIA et al., 1993).

As sementes de palmeiras possuem comportamento recalcitrante, ou seja, não

toleram ser secas a baixo teor de água, nem armazenadas em baixa temperatura, e a

perda da viabilidade ocorre em algumas semanas ou meses (ROBERT, 1973), o que

inviabiliza o armazenamento e o tratamento químico com fungicidas ou inseticidas.

Portanto, a produção de mudas para este grupo de plantas, logo após a colheita, torna-

se importante, pelo fato da rápida perda da capacidade germinativa das sementes. O

emprego de fungicidas para tratamento de sementes é bem definido para culturas

agronômicas e comerciais, a exemplo da soja (PERREIRA et al., 1993), milho

(GOULART, 1993) e melancia (DIP & DELACHIAVE, 1997), mas para espécies

florestais e palmeiras, há necessidade de mais estudos.

DEGAN et al. (1997), ao avaliar o teste de sanidade de sementes de ipê-branco,

Tabebuia roseo-alba (Ridl.) Sand., verificaram que 80% das sementes estavam

contaminadas com fungos do gênero Fusarium, considerado por CARNEIRO (1987) um

possível patógeno do gênero Tabebuia e de outras essências florestais, causando

“damping-off” (ou tombamento) tanto em sementes em germinação como nas plântulas

recém-emergidas. Além desse gênero, observou-se a presença de Alternaria tenuis e

de Cladosporium spp. Em estudo com sementes de paineira, independente do

tratamento químico utilizado, os fungos identificados foram Fusarium sp., Aspergillus

sp., Alternaria sp., Colletotrichum sp. e Penicillium sp. (SILVA et al., 2003).

Segundo WETZEL (1987), os fungos que infectam sementes são classificados

como de campo e de armazenamento. São fungos de campo os do gênero Fusarium,

por sua importância patogênica para diversas espécies de plantas, mais

especificamente, como causador de tombamento e morte em palmeiras produzidas a

partir de sementes infectadas (BOVI, 1998b). São classificados como fungos de

armazenamento os do gênero Penicillium sp. e Aspergillus sp., que podem causar

danos em diferentes espécies de sementes armazenadas. De acordo com os dados

15

obtidos, a presença de fungos considerados de armazenamento indica que a

permanência das sementes no campo, além da considerada ideal para colheita, pode

influenciar a sanidade, contaminando-as com tais fungos, o que prejudica a germinação

e o desenvolvimento inicial das plântulas.

Testes de sanidade com sementes de pupunheira, importadas da Costa Rica,

constataram a presença de vinte espécies fúngicas nas sementes, dentre elas,

Fusarium moniliforme, F. semitectum, Penicillium sp. e Rhizopus sp. (COATES-

BECKFORD & CHUNG, 1987). No Brasil, BOVI et al. (1993) constataram a presença de

Ceratocystis paradoxa, Colletotrichum gloeosporioides, F. oxysporum, Phytophthora sp.,

Phoma sp. e Trichoderma sp., em sementes de pupunha importadas do Peru; a

presença desses microrganismos esteve, invariavelmente, associada a lotes com baixa

porcentagem de germinação.

Observa-se a ocorrência de diversos patógenos em mudas enviveiradas e em

plantas adultas de pupunha tanto na região Amazônica como no Estado de São Paulo:

TRINDADE et al. (1997) observaram Colletotrichum gloeosporioides, Ceratocystis

paradoxa e Curvularia sp.; STEIN et al. (1997) relataram Phytophthora palmivora;

PIZZINATTO et al. (2000) observaram C. gloeosporioides, Bipolaris sp., Allernaria spp.,

Cercospora sp., Fusarium spp., Rhizoctonia sp. e Thielaviopsis paradoxa, provocando

diferentes sintomas em plantas de pupunha.

Muitos desses fungos são relatados, freqüentemente, em sementes de várias

espécies de plantas (RICHARDSON, 1979), podendo ser transmitidos por elas. Desse

modo, a transmissão desses patógenos pelas sementes pode consistir no inóculo

primário de doenças e/ou numa forma de introduzir patógenos em áreas não infestadas

(GABRIELSON, 1983). PIZZINATTO et al. (2000) salientaram que o tratamento de

sementes de pupunha (Bactris gasipaes Kunth), para a produção de palmito e também

como espécie ornamental, é importante, pois, normalmente, há problemas durante a

germinação e a formação de mudas (BOVI, 1998a,b), influenciando negativamente o

desempenho no campo (VARGAS & VILLAPLANA, 1979; COATES-BECKFORD &

CHUNG, 1987; BOVI et al., 1993).

16

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1. Coleta e beneficiamento dos frutos

Os cachos de Livistona chinensis (Jack.) R. Br. ex. Mart. foram colhidos no dia 13

de julho de 2005, de dez matrizes com aproximadamente 30 anos de idade, existentes

na Coleção de Palmeiras da UNESP – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias

(FCAV), Câmpus de Jaboticabal. Os frutos apresentavam cor verde-azulada (Figura 1).

Após a colheita, os frutos foram homogeneizados e deixados imersos em água

em temperatura ambiente, por 24 horas. O despolpamento consistiu na remoção do

epicarpo e do mesocarpo dos frutos, por meio de atrito manual contra uma peneira. Os

diásporos (sementes com o endocarpo aderido) foram enxaguadas em água corrente e

secas à sombra durante 24 horas. Antes da instalação dos tratamentos, foram

selecionados visualmente, com a retirada daqueles mal-formados, danificados ou

abaixo do padrão.

Os experimentos foram conduzidos no Laboratório de Sementes Hortícolas e

Florestais do Departamento de Produção Vegetal – Horticultura, e no ripado do Viveiro

Experimental (Horto) da UNESP - FCAV.

17

Figura 1. Livistona chinensis (Jack.) R. Br. ex. Mart.: frutos verde-azulado e verde-

amarelado (A), sementes – diásporos (B), plântulas (C) e plantas adultas (D).

A

B

D

C

18

3.2. Morfologia dos diásporos e crescimento inicial das plântulas

Para complementação dos estudos, obtiveram-se os dados biométricos dos

diásporos (largura, comprimento, peso de mil diásporos e número de diásporos kg-1) e o

teor de água destes.

As medidas da largura e do comprimento foram realizadas com paquímetro

digital (graduado em milímetros) em uma amostra de 100 diásporos. De acordo com as

Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 1992), obteve-se o número de diásporos

por quilograma e a massa de 1000 diásporos.

Para a obtenção do teor de água, utilizaram-se cinco repetições de 20 diásporos,

por meio do método de estufa a 105ºC ± 3ºC por 24 horas, segundo as RAS (BRASIL,

1992).

Foram semeados 100 diásporos em bandejas de plástico (50 x 25 x 6 cm)

contendo cerca de 5 cm de vermiculita, mantidas em condições de temperatura

ambiente no Laboratório de Sementes de Plantas Hortícolas do Departamento de

Produção Vegetal da UNESP/FCAV, Câmpus de Jaboticabal; foram realizadas regas de

modo a manter o substrato sempre úmido, com acompanhamento da germinação das

sementes a cada estádio de desenvolvimento. As faces externa e interna dos

diásporos, bem como o embrião, até o desenvolvimento da plântula, foram

esquematizados com auxílio de câmara clara acoplada ao estereomicroscópio. As

descrições morfológicas foram baseadas na terminologia empregada por TOMLINSON

(1961).

19

3.3. Germinação em laboratório

O delineamento experimental foi inteiramente casualizado. O experimento foi

conduzido em esquema fatorial 6 x 2, ou seja, seis condições de temperaturas em BOD

(constantes de 20ºC, 25ºC, 30ºC, 35ºC e alternadas de 20-30ºC e 25-35ºC), associadas

a dois regimes de luz (8 horas de luz ou escuro contínuo) e quatro repetições de 25

sementes.

Os diásporos foram colocados em caixas gerbox desinfetadas com álcool,

contendo como substrato vermiculita média. A reposição de água foi feita a cada dois

dias, por peso, mantendo 100% da capacidade de campo. Para os tratamentos com luz,

utilizou-se caixa gerbox transparente e fotoperíodo de 8 horas; para os tratamentos no

escuro contínuo, utilizou-se caixa gerbox preta, sendo a avaliação realizada em câmara

escura, sob luz verde de segurança.

3.4. Emergência em viveiro

O delineamento experimental foi inteiramente casualizado. Os tratamentos foram

quatro tipos de substratos (areia, vermiculita, esfagno e fibra de coco) com cinco

repetições de 50 sementes.

O experimento foi instalado no viveiro, em condições não controladas; a

semeadura foi feita em caixas de plástico verde (60 x 25 x 13 cm). As temperaturas

médias registradas no ripado do Viveiro Experimental da UNESP – FCAV variaram

entre 36,5ºC e 18ºC, com máxima de 40ºC e mínima de 11ºC, durante o período de

condução experimental. A reposição de água foi feita a cada dois dias, por peso,

mantendo 100% da capacidade de campo.

20

Utilizou-se areia de rio lavada e esterilizada; vermiculita de textura média;

esfagno (estrutura seca das plantas pertencentes ao gênero Sphagnum) e fibra de

coco. A fibra de coco utilizada foi Golden-Mix tipo 80 – Fibroso, escolhida entre os

diversos tipos por não apresentar adubação de base.

3.5. Teste de sanidade

Para a realização do teste de sanidade, foram coletados dois lotes de frutos em

diferentes estádios visuais de maturação: frutos com coloração verde-amarelada e

frutos que apresentavam coloração verde-azulada (com menor para maior grau de

maturação). Os frutos foram despolpados, para remoção do epicarpo e do mesocarpo,

por meio do atrito manual contra uma peneira, e enxaguados em água corrente. A

seguir, os diásporos foram selecionados visualmente, com a retirada daqueles que se

apresentavam mal-formados, danificados ou abaixo do padrão.

O experimento foi conduzido no Laboratório de Sanidade de Sementes do

Departamento de Fitossanidade, da UNESP/FCAV. Foi utilizado o método de papel de

filtro (BRASIL, 1992), em placas de Petri de 9 cm de diâmetro e três folhas de papel de

filtro, previamente umedecidas com água destilada, com 20 repetições de 8 sementes,

incubadas a 20º±2ºC, com 12 horas de iluminação (com lâmpada branca fluorescente

de 40 watts). A avaliação foi feita sete dias após a incubação, com a identificação dos

microrganismos com o auxílio de microscópio estereoscópio e literatura pertinente

(BARNETT & HUNTER, 1972). Os resultados foram expressos em porcentagem de

sementes contaminadas com cada gênero de fungo.

21

3.6. Avaliações e tratamento estatístico

Para a descrição da morfologia do diásporo e do crescimento inicial da plântula

de Livistona chinensis (Jack.) R. Br. ex. Mart., as avaliações foram realizadas

acompanhando o processo germinativo, a partir da primeira semana, a cada estádio de

desenvolvimento, até a emissão do primeiro eófilo.

Os critérios de germinação adotados para a avaliação dos experimentos foram

diferentes no laboratório e no viveiro. No laboratório, a semente foi considerada

germinada quando apresentou o início da protrusão do botão germinativo. No viveiro, a

avaliação foi feita pela contagem de plântulas emergidas, fazendo uso do critério da

tecnologia de sementes, ou seja, a obtenção de uma plântula normal, com suas

estruturas essenciais desenvolvidas (BRASIL, 1992).

As observações para a contagem de sementes germinadas em laboratório foram

realizadas diariamente, enquanto, para a contagem de emergência de plântulas em

viveiro, a cada dois dias, até a estabilização do processo.

Foram calculadas a porcentagem de germinação e de emergência, além dos

índices de velocidade de germinação (IVG) e de emergência (IVE), estes últimos,

adaptando o critério estabelecido por MAGUIRE (1962).

Os dados de porcentagem de germinação e de emergência foram transformados

em arc seno (x/100)¹/² e as médias, comparadas pelo teste de Tukey, a 5% de

probabilidade (BANZATTO & KRONKA, 2006).

22

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Morfologia

Com base nas Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 1992), o teor de

água das sementes foi determinado e apresentou um valor médio de 19,31%; o peso de

1000 diásporos foi de 1157,7 g e 1 kg conteve 860 diásporos. Segundo LORENZI et al.

(2004), um quilograma de sementes de Livistona chinensis contém, aproximadamente,

375 frutos e 750 diásporos. Esta variação pode ser explicada pelo fato do autor estudar

matrizes de diferentes procedências.

Os diásporos de Livistona chinensis (Jack.) R. Br. ex. Mart. têm forma oval, com

comprimento médio de 16,37 mm e largura média de 10,25 mm (Figura 2A). As

sementes são albuminosas, com endosperma rígido ocupando quase todo o interior do

diásporo (Figura 2B). O embrião é lateral, periférico, cônico e pouco diferenciado

(Figura 2B e 2C), como relatado por ALVES (1986) em sementes de algumas espécies

de palmeiras da subtribo Livistoninae.

Segundo TOMLINSON (1961), a germinação de palmeiras pode ser de dois

tipos, adjacente e remota, sendo que esta última subdivide-se em remota ligulada e

remota aligulada ou tubular. A germinação das sementes de Livistona é do tipo remota

tubular. Nesse tipo de germinação, o alongamento do pecíolo cotiledonar é marcante, e

nela não se observa a lígula (MEEROW, 1991b), como pode ser observado na Figura 3.

O início da germinação ocorreu entre o 4º ao 47º dia, dependendo da

temperatura, com a abertura de um opérculo circular no endocarpo por onde emerge

uma estrutura bulbosa e oca, denominada pecíolo cotiledonar (Figura 3A), resultante do

alongamento do cotilédone único, que, internamente, passa a funcionar como um órgão

de absorção de reservas, denominado haustório (Figuras 3 e 6).

23

Com o crescimento do pecíolo cotiledonar o material de reserva (endosperma)

vai sendo consumido gradativamente. Este, cresce, aproximadamente, 5 cm, quando

então começa a dilatar em sua extremidade (Figura 4A), por onde inicia-se o

crescimento da raiz primária e a abertura de uma fenda longitudinal por onde emerge a

parte área (plúmula). Nesta fase, observa-se o aparecimento de raízes secundárias. A

plúmula é composta por uma folha incompleta, denominada bainha, que reveste a

primeira folha juvenil completa, denominada eófilo (Figura 5). A primeira folha de

Livistona é simples e lanceolada, com nervação paralela, composta por nervuras largas,

dispostas longitudinalmente.

A Figura 6 apresenta cortes internos das sementes de Livistona chinensis (Jack.)

R. Br. ex. Mart., mostrando o embrião, o endosperma e a invaginação do tegumento da

semente, em diferentes estágios da germinação da semente e crescimento da plântula.

Por esta representação, enquanto o pecíolo cotiledonar cresce, o haustório se

desenvolve internamente, funcionando como um órgão de absorção de reservas,

consumindo gradativamente o endosperma (Figuras 6B e 6C), que antes ocupava todo

o interior da semente. Para um melhor entendimento, a Figura 6 deve ser visualizada

conjuntamente com as Figuras 3, 4 e 5, por meio do acompanhamento do

desenvolvimento da plântula.

24

Figura 2. Aspectos de sementes de Livistona chinensis (Jack.) R. Br. ex. Mart.: A – vista

frontal (externa) da semente; B – corte longitudinal da semente expondo o

embrião, o endosperma e a invaginação do tegumento da semente; C –

embrião. Legenda: e – embrião; en – endocarpo; a – endosperma ou

albúmem; t – invaginação do tegumento da semente.

Figura 3. Aspectos morfológicos externos da germinação de sementes de Livistona

chinensis (Jack.) R. Br. ex. Mart.: A – B – C – fases de crescimento

progressivo do pecíolo cotiledonar. Legenda: pc – pecíolo cotiledonar.

pc

B

pc

CA

pc

B

A

et

en

a

C

25

Figura 4. Aspectos morfológicos externos da germinação de sementes de Livistona

chinensis (Jack.) R. Br. ex. Mart.: A – início da dilatação da extremidade do

pecíolo cotiledonar; B – diferenciação da fenda longitudinal e da raiz primária.

C – crescimento da raiz primária e secundária, abertura das bainhas e

emergência do primeiro eófilo ou folha primária. Legenda: pc – pecíolo

cotiledonar; d – dilatação; pr – primórdio da raiz primária; b – bainha; p –

plúmula; fp – folha primária; rp – raiz primária; rs – raiz secundária.

B

pc

rp

pA

d

pc

pr

C

pc

rp

rs

b

fp

1,5 cm