Quem quer que perfume um escorpião Não escapará, por isso ... · SermografLCT - Prova digital UM...
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Corte = 140x200mmUM ESCORPIAO PERFUMADO.job Montagem - Pag 5SermografLCT - Prova digital
Quem quer que perfume um escorpiãoNão escapará, por isso, do seu ferrão.
Hadrat Bahaudin Naqshband, O Shah
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SUMÁRIO
A EDUCAÇÃO SUFIA EDUCAÇÃO SUFI
O MONITORAMENTO PELO MESTRE SUSTENTA O PROGRESSO
BARREIRAS AO APRENDIZADO
ENSINO INDIRETO
EXAGERAR PODE SER NOCIVO...
ENCONTRANDO OUTRAS DIMENSÕES NAS ANEDOTAS
OPERAÇÃO NEGATIVA E OPERAÇÃO POSITIVA
APERFEIÇOAMENTO HUMANO OU PSICOTERAPIA?
O SUFISMO SE APRENDE POR MEIO DELE MESMO
A FORMAÇÃO DE CULTOS COMO UMA ANORMALIDADE
A FUNÇÃO DOS HEMISFÉRIOS CEREBRAIS
TRANSPONDO CONCEITOS
CONSCIÊNCIA DA MOTIVAÇÃO
MESTRES VERDADEIROS E MESTRES FALSOS
PSICOLOGIA CONTEMPORÂNEA
CONSUMISMO NA ABORDAGEM DO CONHECIMENTO
AS LIMITAÇÕES DE SE TRABALHAR COM UM MATERIAL DERIVADO
COMO NÃO APRENDER
OS CIRCOS
A DOCÊNCIA É FUNÇÃO, E NÃO APARÊNCIA
O EXEMPLO DO CRISTIANISMO
ALTERAÇÕES PRODUZIDAS PELA IMAGINAÇÃO
A ANÁLISE SUFI DA EDUCAÇÃO
QUEM CONFESSARIA IGNORÂNCIA?
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O OBJETIVO
FLEXIBILIDADE
SUPOSIÇÕES E PONTOS DE VISTA
PENSAMENTO SEQUENCIAL E PENSAMENTO HOLÍSTICO
NARRATIVAS
DESLOCAMENTO DA ATENÇÃO
FUNDAMENTOS DA TEORIA E DA PRÁTICA SUFIS
ATENÇÃO ENÉRGICA
EXERCÍCIOS DE SUBSTITUIÇÃO
O ANONIMATO DO SUFI
HARMONIZAÇÃO
IMAGINAÇÃO
RITUAIS, CRENÇAS, PRÁTICAS
O MAU-OLHADO
O DESEJO COMPATÍVEL COM OS MEIOS
AS TRÊS ABORDAGENS
DOIS CAMINHOS...
O FALSO ESTUDANTE APRENDE SOBRE SUA FALSIDADE
“VOLTE EM TRÊS ANOS”
EXAMINANDO SUPOSIÇÕES
O IGNORANTE E O MAL INSTRUÍDO
O SÁBIO E A TOLICE
LITERATURA “CAÓTICA”
DESCONTINUIDADE
O VISITANTE DO ESPAÇO
DA NATUREZA DO CONHECIMENTO SUFIO DISCÍPULO QUE SE TORNOU MESTRE
MONITORAMENTO E NOVA ADAPTAÇÃO
ENSINAMENTO VERSUS ENTRETENIMENTO
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O DIREITO DE SER SERVIDO, NÃO O DIREITO DE EXIGIR
VER E COMPREENDER
A QUALIDADE DO ENTENDIMENTO
PROBLEMAS DE APRENDIZADO INERENTES ÀS PRIORIDADES CULTURAIS
RONRONAR E RONCAR
PROLIFERAÇÃO DOS ASPECTOS EXTERNOS
UMA ESCOLA E UM FERMENTO
DISTINGUINDO OS IMITADORES
VER E SABER
O RELATIVO COMO UM CANAL PARA A VERDADE
VANTAGENS PARA O CONHECIMENTO SUFI
O CAMINHO, OS DEVERES E AS TÉCNICASO CAMINHO, OS DEVERES E AS TÉCNICAS
TRÊS CAPACIDADES: GHAZZALI
OS DEZ DEVERES DO ALUNO
AS ESTAÇÕES E OS ESTADOS
O CONTO DAS EXPERIÊNCIAS EXTRAORDINÁRIAS
AS CONDIÇÕES DO SELF HUMANO
O MESTRE INVISÍVEL
AS ONZE REGRAS DA NAQSHBANDIYYA (MESTRES DO DESENHO)
BARBA, MANTO E ROSÁRIO
AS CINCO SUTILEZAS
O QUE O PROFESSOR SABE
PRODÍGIOS E MILAGRES
UM JARDIM SEM FLORINDO MAIS DEPRESSA...
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A HISTÓRIA DE ENSINAMENTO — 1A HISTÓRIA DE ENSINAMENTO — 1
TEMPO E ROMÃS
ANULAÇÃO DO IMPACTO
ENSINO ANALÓGICO
NUTRINDO-SE DO RECIPIENTE
OS SENTIMENTOS “MAIS ÍNTIMOS”
ROUBANDO CONSELHOS
OS SINTOMAS
O CAMELEIRO E O PLÁSTICO
PEIXE FORA D’ÁGUA
O QUE ELE ESTAVA TENTANDO FAZER
FAZENDO DO SEU JEITO
POR QUE VOCÊ NÃO DISSE LOGO?
AS HISTÓRIAS ENQUANTO ESTRUTURAS
O SEGREDO SE PROTEGE A SI MESMO
UM SIGNIFICADO DE SILÊNCIO
UM TIPO DIFERENTE DE DISCÍPULO
A FUNÇÃO DE TESTE
NASRUDIN
COLOCAR E TIRAR
O LEÃO QUE VIU SEU ROSTO NA ÁGUA
PANACEIA
DEIXE ENTRAR UM...
MARIPOSAS
RESERVADO
O QUE VER
REMÉDIO INFALÍVEL
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A HISTÓRIA DE ENSINAMENTO — 2A HISTÓRIA DE ENSINAMENTO — 2
A BUSCA POR PADRÕES
A DIDÁTICA IMPEDE A COMPREENSÃO
UM MODELO PARA UM NOVO CONHECIMENTOUM MODELO PARA UM NOVO CONHECIMENTO
O FRUTO DA ÁRVORE
PREMISSAS DA COMUNIDADE
EXCLUSÃO DE POSSIBILIDADES
CIÊNCIA E REALIDADE
UM NOVO APRENDIZADO VINDO DO PASSADO
OBSERVÂNCIA VERSUS CONHECIMENTO
SIMPLIFICAÇÃO
COMO, QUANDO E COM QUEM
TEMAS E CONTEXTO CULTURAL
ACIMA DOS CÉUS...
CONCEITOS SUPERIORES
INTERAÇÃO
O ELEMENTO DE CHOQUE
SUFIS DE IMITAÇÃO
A HISTÓRIA E OS SUFIS
RELIGIÃO EVOLUTIVA
LITERALISTAS E PERCEPTIVOS
A VERSATILIDADE DO SUFISMO
A ABORDAGEM DO CONHECIMENTO
O DESEJO DE ENSINAR É INCAPACITANTE
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O MÉTODO NATURAL E O SOBRENATURAL
SUBORNO
PERGUNTAS PROFUNDAS E PERGUNTAS SUPERFICIAIS
A EFICIÊNCIA DAS INSTITUIÇÕES
O SANTUÁRIO MÍSTICO
ENVOLVIMENTO NO ESTUDO SUFIENVOLVIMENTO NO ESTUDO SUFI
O CAMINHO
O BUSCADOR OCIDENTAL
OS IGNORANTES COMPREENDEM OS SÁBIOS?
DOIS TIPOS DE GRUPO SUFI
GANÂNCIA E ASPIRAÇÃO
O OVO EQUILIBRADO
“VOLTE EM TRÊS ANOS”
A IMPORTÂNCIA DA ORGANIZAÇÃO
A SEMELHANÇA DESSE ENFOQUE COM OUTRAS FORMULAÇÕES
OUTROS AGRUPAMENTOS DE“CONSCIÊNCIA SUPERIOR”
A ADOÇÃO ALEATÓRIA DE “ENSINAMENTOS”
O PADRÃO DO EMPREENDIMENTO SUFI
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A EDUCAÇÃO SUFI
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De acordo com os sufis, há uma sucessão de experiências que, em conjunto, promovem o amadurecimento educacional e evo-lutivo do aprendiz. Aqueles que consideram cada ganho como o objetivo em si ficarão paralisados em uma dessas etapas e, portanto, não podem aprender por meio de lições sucessivas e progressivas.
No séc. XIII, Jalaluddin Rumi expõe a situação em belos versos:
Man Ghulam i an ki dar har rabatKhwishra wasil na danad bar samatBas rabate ki babayad tark kardTa ba maskan dar rasid yak ruz mard
“Sou escravo daquele que não pensa, a cada etapa, ter che-gado ao objetivo final. Muitos estágios devem ser deixados para trás até que o viajante alcance seu destino.”
Vamos examinar alguns pontos de vista sobre a educação — da forma como é compreendida pelos sufis e representada tanto em sua literatura quanto em suas histórias e formas tradi-cionais de comunicar materiais e induzir experiências — com o propósito de observar não apenas o que é novo e incomum, mas também o que poderia ser inserido nos interstícios da atividade educacional contemporânea.
O MONITORAMENTO PELO MESTRE SUSTENTA O PROGRESSO
O lapso de tempo que há entre a exposição a um impacto e sua absorção, somado ao fato de que as pessoas muitas vezes “anulam” o impacto de uma história, defendendo-se dele por
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meio de um gracejo ou uma piada, pode ser um comportamento social aceitável, mas também pode mostrar uma falta de sensi-bilidade às circunstâncias. A atenção a esses fatores faz parte do cuidado e do know-how sufis. A necessidade de monitorar as próprias reações e ver por que nos comportamos de determi-nado modo — auto-observação sem autodegradação neuróti-ca — pode ser considerada outra característica importante. Até mesmo no estágio mais insipiente de demora na absorção de impactos, de ironia e de autoexame, podemos claramente ob-servar como é difícil, para algumas pessoas, analisar o que estão fazendo, e o quanto é possível não conhecer as características da própria demora na absorção de um impacto; ou gracejar de forma automática, sendo incapaz de controlar essa reação; ou mergulhar em uma orgia de introspecção. Por isso, pode-se afir-mar que o monitoramento pelo mestre sufi é tão necessário a ponto de justificar a instituição da docência.
O apego a aspectos externos, valorizando-se o recipiente e não o conteúdo, é também uma tendência humana predomi-nante e uma razão adicional para a presença, ou, pelo menos, para a influência do mentor.
BARREIRAS AO APRENDIZADO
As barreiras ao aprendizado podem ser identificadas por meio de histórias ilustrativas ou observadas na própria pessoa. Ademais, podem estar tão arraigadas pelo hábito que é necessário algum tipo de operação — a exposição a um intercâmbio — para que cedam. Já observamos que não se pode lidar com as barreiras por meio de estruturas mecânicas. Por exemplo, dizer repetidamente às pessoas que não sejam subjetivas apenas leva a determinação de não ser subjetivo a se arraigar como uma característica em si;
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não transmite a qualidade de ser capaz de fazer o que a pessoa acha que deveria estar fazendo.
ENSINO INDIRETO
O ensino indireto e o acúmulo de uma série de impactos ou ensinamentos para compor um todo único é outro aspecto do estudo sufi. O que em algumas disciplinas é chamado de “ilu-minação” pode, no processo sufi, ser o resultado de um grande número de pequenos impactos e percepções se encaixando e produzindo insights quando o indivíduo está pronto para eles. O fato de que se está aprendendo pouco a pouco, armazenan-do pequenos fragmentos de experiência e informação que irão, de modo quase imperceptível, reunir-se posteriormente, obvia-mente não desperta o interesse das pessoas às quais está sendo oferecido, em outro lugar, algo que lhes proporcionará — alega--se — insights instantâneos. Daí a avidez por ensinamentos do tipo “tudo-em-um”, que sempre afirmam ser completos. Assim, o estudo sufi não pretende competir com sistemas que oferecem iluminação instantânea, da mesma forma que a famosa pana-ceia denominada poção mágica atrairá muito mais a atenção de certas pessoas do que algo menos espetacular.
Ademais, a atividade gota a gota do sufismo provoca, sem dúvida, uma certa inquietude, mesmo entre aqueles que aceitam os postulados que mencionamos. Por isso, é comum ver as pes-soas se queixarem de que seus estudos não progridem de acordo com o que acreditam ser o indicado; tal como na história “O Leão Tatuado”.
Nesse conto, do Livro I do Masnavi 1, de Rumi, um homem procura um tatuador e lhe pede que tatue um leão em suas
1 Rumi, Jalaluddin. Masnavi. Editora Derviche, Rio de Janeiro, 1992.
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costas. Mas, quando sente a picada da agulha, grita de dor e pergunta ao artista em que parte do animal está trabalhando. “Na cauda”, responde o tatuador.
“Deixe a cauda para lá”, grita o covarde, “e faça outra parte!”Mas, quando outra parte do leão é iniciada, o cliente cons-
tata que dói da mesma maneira, e manda o tatuador abandonar também aquela parte.
E por aí vai, até que o artista atira ao chão suas tintas e agulhas, recusando-se a prosseguir. Dessa forma, o tatuador re-aliza o seu desejo de abandonar o trabalho, e o cliente o seu, de livrar-se da dor. E resulta que... absolutamente nada aconteceu.
As questões mencionadas anteriormente também se en-contram, no âmbito educacional, entrelaçadas pelo problema da atenção. Aqueles que colocam uma parte da sua atenção em outra coisa diferente daquilo que está sendo estudado, são geral-mente incapazes, afirmam os sufis, de assimilar a lição. Evidente-mente, esse fato foi distorcido e transformado na alegação de que se deve ordenar e focalizar cada pedacinho de atenção para que se possa aprender. Essa é a doutrina: “Uma aspirina irá curar minha dor de cabeça, portanto mil aspirinas me darão uma consciência superior.” Mas os sufis sustentam que a natureza, a qualidade e o grau de atenção são tão importantes em uma situação de apren-dizado quanto os dados mais facilmente quantificáveis.
Vestígios dessa doutrina de um meio-termo psicológico, um movimento entre dois extremos de opinião, crença ou prática, podem de fato ser encontrados aqui e ali na literatura ocidental, embora raramente estejam associados a uma situação de ensino.
As pessoas se manifestam contra a falta de modéstia com poucos resultados além da autodegradação, a qual pode ser ainda pior quando praticada em demasia. Como disse Shakes-peare (em Henrique V):
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O amor-próprio (...) não é tão vil quanto a negligência consigo mesmo.
EXAGERAR PODE SER NOCIVO...
Além das mil aspirinas, podemos encontrar uma infinidade de exemplos de analogias (ou, quem sabe, ensinamentos intencio-nais) simplesmente transpondo essa questão — a título de ilus-tração, e não necessariamente de equivalência — para campos mais familiares.
Acabo de examinar o relatório de uma pesquisa feita pelo Dr. Elwyn Hughes, biólogo da Universidade de Gales, para o Colégio Real Britânico de Médicos. Acredita-se que doses maci-ças de vitamina C evitam o resfriado. O Dr. Hughes ministrou uma dose diária de 80 miligramas de vitamina C — pouco mais de duas vezes e meia a necessidade normal diária de 30 miligra-mas — a 350 pessoas. Esse grupo contraiu 18% menos resfriados durante a estação de contágio do que o grupo de controle, que recebeu apenas 30 miligramas. Havia também outro grupo ao qual foram dadas doses maciças de mais de 80 miligramas por dia. Sem dúvida, tiveram ainda menos resfriados, certo? Errado. Os que ingeriram mais de 80 miligramas não contraíram menos resfriados do que o grupo dos 80 miligramas. Mas desenvolveram outra coisa, informa o Dr. Hughes: a tendência a formar substân-cias tóxicas no corpo, como o ácido oxálico. O uso excessivo de vitamina C, afirma o médico, pode “intensificar os efeitos peri-gosos de algumas substâncias tóxicas presentes nos alimentos”.2
Aqueles que já assistiram à aplicação aleatória de práticas supostamente esotéricas em aspirantes a iluminado, de manei-
2 “Doses as high as 1000mg a day have been suggested for colds”.The Times. Lon-dres, 24 de Setembro de 1976, página 14, colunas 5-6.
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ra tão mecânica, sem dúvida perceberão aqui uma semelhança perturbadora.
ENCONTRANDO OUTRAS DIMENSÕES NAS ANEDOTAS
Quando as demais condições estão sendo observadas, há ainda outras que precisam ser mantidas em equilíbrio. Por exemplo, as pessoas acostumadas a ouvir histórias como algo para fazê--las rir, inculcar uma moral ou ilustrar um aspecto doutrinário, muitas vezes percebem-se incapazes de buscar e estar atentas a outras dimensões de significado em uma história. Elas são des-critas pelos sufis como não sendo, de forma alguma, aprendizes — pelo menos não nesse estágio e nessa condição. São vistas como gente sintonizada com moralismos, anedotas ou dogmas. Por isso, os sufis tão frequentemente parecem estar perguntan-do às pessoas se realmente são estudantes sufis ou se são, na verdade, estudantes de alguma outra pessoa, ou de outra coisa. Os sufis exigem atenção ao que estão ensinando, ao espírito em que estão ensinando, exatamente como ocorre com instrutores mais convencionais. De modo semelhante, aqueles que vêm para consumir, para serem estimulados emocionalmente — seja pela presença do mestre ou pela peculiaridade e exotismo dos materiais — não são estudantes pela mesma razão.
OPERAÇÃO NEGATIVA E OPERAÇÃO POSITIVA
Pode-se dizer que as pessoas estão sempre procurando testar a autenticidade do mestre. Mas até hoje encontrei mais alunos falsos do que mestres falsos!
Há aqueles que, ao ouvir o que acabo de declarar, dirão que estamos enfatizando o negativo em vez de afirmar o positivo.
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Isto é dito pela mesma razão que os outros “dizem” inconscien-temente o que fazem por meio de suas reações. Se você precisa encher o cântaro, diz o ditado, talvez tenha de esvaziá-lo pri-meiro. Alegar que deveria ser preenchido a despeito do que há dentro dele, mesmo que seja uma coisa inadequada, é dizer algo sobre a sua própria falta de discernimento, e não sobre o ensina-mento ou seus procedimentos.
APERFEIÇOAMENTO HUMANO OU PSICOTERAPIA?
A educação sufi está voltada para o que os sufis consideram a incompletude fundamental da humanidade. Isso significa que é preciso lidar com o problema básico, e não com os sintomas. Assim, enquanto a educação sufi estaria aspirando — e de fato aspira — a esse papel fundamental, o aluno — ou melhor, a pessoa que pensa ser um aluno — estaria buscando psicoterapia, segredos, garantias de que seu tempo não está sendo desperdi-çado, e assim por diante. É porque o cântaro já está cheio até a metade que os sufis têm de abrir caminho para a compreensão desses postulados básicos antes que o ensinamento verdadeiro, que é diferente de um transbordamento, possa acontecer. Isso não significa que os sufis queiram que as pessoas abandonem tudo o que já sabem. Mas significa que o sufi deve esperar, como qualquer professor em qualquer área, que se atinja as condições necessárias para o aprendizado. Se o desejo de se opor a ele ou de consumi-lo é acentuado demais, há poucas chances de que o processo de aprendizado venha a ocorrer.
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O SUFISMO SE APRENDE POR MEIO DELE MESMO
Além disso, o estudo sufi se aprende por meio dele mesmo; e até partes desse estudo raramente podem ser abordadas por meio de proposições específicas a outras formulações. O estudo sufi tem seus próprios postulados, dos quais pelo menos alguns não são considerados fundamentais ou mesmo relevantes em outros sistemas. Por isso, é da maior importância que o estudante ou observador do fenômeno sufi compreenda que os sufis não en-sinam nos termos de outros sistemas, sejam eles tradicionais ou modernos. O trabalho sufi pode, por exemplo, apurar e iluminar a psicologia. Ainda não constatamos que, digamos, a psicologia possa produzir uma forma melhor de estudar ou compreender o sufismo e seus métodos de ensino.
A FORMAÇÃO DE CULTOS COMO UMA ANORMALIDADE
Deixar de observar critérios sufis ao se tentar aprender, resulta, na grande maioria das vezes, em simplificações exageradas que levam à formação de um culto; ou em uma banalização que conduz a uma vaga religiosidade, ou em uma intelectualização que leva a uma minuciosidade muitas vezes cômica. Todas essas hipertrofias estão bem representadas em seitas e organizações, grupos e textos que você pode encontrar ao seu redor. Já con-videi as pessoas publicamente, mais de uma vez, a se familiari-zarem com esses materiais, a fim de que descubram se podem ver as coisas como nós ou se preferem as outras abordagens, as abordagens parciais.
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