Quando o Sociólogo Quer Saber o Que é

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Quando o sociólogo quer saber o que é ser professor Entrevista com François Dubet Concedida à: Angelina Peralva Marilia Sposito Revista Brasileira de Educação 1996 Programa de Pós Graduação em Educação / UEMG Sociologia da Educação Lidiane Arantes Andrea Nunes

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Sociologia e Educação

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Quando o socilogo quer saber o que ser professor

Quando o socilogo quer saber o que ser professorEntrevista com Franois DubetConcedida :Angelina PeralvaMarilia SpositoRevista Brasileira de Educao 1996

Programa de Ps Graduao em Educao / UEMGSociologia da Educao

Lidiane ArantesAndrea Nunes

Biografia Entrevistado pesquisador do Centre dAnalyse et dIntervention Sociologiques;Professor titular chefe do departamento de sociologia da Universidade de Bordeaux II;Membro snior do Institute Universitaire de France;Autor de mais de uma dezena de livros.

IntroduoEntrevista durante breve estada no Brasil;Socilogo reflete sobre a sua experincia de um ano como professor de histria e geografia de um colgio da periferia de Bordeaux, Frana;Conhecido por suas pesquisas sobre a juventude marginalizada na Frana, Franois Dubet quis vivenciar, diretamente como professor, os dilemas da escola francesa contempornea.Por qu, enquanto pesquisador, escolheu lecionar por um ano em um colgioEm Encontros individuais ou coletivos com professores tinha a impresso que os professores davam descries exageradamente difceis da relao pedaggica;Durante uma interveno sociolgica com um grupo de professores, encontrou duas professoras com uma resistncia muito grande ao tipo de anlise que ele propunha;Assumiu 2 ginasial (crianas de 13/14 anos), 4 horas por semana;Observao participante era um absurdo;Foi bem acolhido pela maioria dos professores;Os alunos no esto dispostos a fazer o papel dos alunos. Resistncia ao professor;Ocupar constantemente os alunos.

Golpe de estadoDepois de 2 meses: desespero;De hoje em diante no quero mais ouvir ningum falar, no quero mais ouvir ningum rir, no quero mais agitao; Caderneta de punies;Terror punio segurana - regras relaes afetuosas.Construo da relao com os alunosOs alunos eram sensveis ao fato do socilogo se interessar por eles como pessoas (falar com eles, lembrar de suas notas, de suas histrias);Relao afetiva disciplinar rgida;Comeava a aprender pouco a pouca a dar aulas;Receio para com os alunos na sala dos professores. Alguns professores tinham medo antes de entrar na sala. Como faz-los trabalhar? Como fazer com que ouam?A relao escolar a priori desregulada. Cada vez que se entra na sala, preciso reconstruir a relao.Golpe de estado - MudanasO golpe de estado um fracasso pedaggico e moral, mas permitiu fixar uma ordem bastante estpida a partir da qual pode tentar controlar uma relao pouco controlada. Lida com alunos muito diferentes em termos de performances escolares;Alunos que entraram em greve;Alunos adolescentes e seus problemas;Dificuldades em conquistar os alunos. Exatamente como professores diziam nas entrevistas.

Viso sobre os programas escolaresSo feitos para um aluno que no existe. Para um aluno extremamente inteligente;De uma ambio considervel e no se pode realiz-lo materialmente;Se dirige para alunos abstratos, alunos que no existem. Descompasso entre os programas e os alunos;Os conselhos de classe so cansativos porque decidem o destino dos alunos em alguns minutos;Fico sobre os alunos: todos os alunos tm o mesmo valor, que eles so iguais.

Desregulao da relao pedaggica evoluo geral da escola ou problema de mtodos pedaggicos?Multiplicidade de mtodos possveis;Quando se pede a um professor para mudar o seu mtodo, no se pede apenas que ele mude de tcnica, pede-se para que ele prprio mude;Rever os programas e as ambies de um modo que os alunos no sejam colocados de entrada em situaes de fracasso;Educao para a cidadania;Muitos alunos tm a impresso que a escola no serve para nada.Democracia escolar - cidadania escolar. Lugar de produo destas regras - enfraquecimento, desaparecimento das instituiesNo colgio preciso recriar um quadro normativo, de um modo democrtico (definio dos direitos e dos direitos), envolvendo alunos e professores;Cada professor, uma vez na sala, extremamente autnomo;Diferenas entre os estabelecimentos de ensino;Professores precisariam escolher o seu estabelecimento;Criar as condies para dar aulas normalmente, o que supe, um certo nmero de mudanas, de programas, de modos de funcionamento que no so em si considerveis mas que pedem mudanas de hbitos.Sociabilidade dos alunos?. Inspirar nos modelos ingls ou americano? Mais convivncia, ser possvel? preciso que o colgio aceite que haja uma vida adolescente na escola e que no a considere como desvio, atravs de um quadro normativo, com regras que os eduquem;A escola uma construo histrica longa fortemente associada cultura de uma sociedade, no uma tecnologia que se pode importar;A escola no deve se tornar um clube de vida juvenil.Ser que a escola deveria ser socializadora?Sim, mas ela o de fato. Ela o , inclusive quando no funciona;Socializadora de uma modo muito mais democrtico, muito mais aberto. preciso ter ao mesmo tempo autoridade e liberdade;Necessrias mudanas considerveis no sistema, supe que os diretores tenham poder, que este poder seja controlado.

Como produzir esta mudana? O que o ministrio pode fazer?Esta mudana supe menos diretrizes ministeriais do que mudanas do modo de organizao; As diretrizes que dizem: preciso se comportar desta maneira com os alunos, so ineficazes. Um professor faz o que quer na sala. portanto necessrio encontrar modos de organizao que faro com que o trabalho seja coordenado;Diretrizes, os ministrios promulgam diariamente, e so to timas que no tm efeitos reais.Houve nos ltimos anos grandes mudanas na formao dos professores. Frana: antes formava-se pedagogicamente os mestres da escola elementar e no se formava os professores do colgio. Os professores do secundrio eram apenas definidos pelo nvel de conhecimento, selecionados por concursos. Agora todos seguem uma formao pedaggica nos Institutos de Formao de Mestres (IUFM). No se tem certeza se funcionam sempre bem, mas o princpio de uma formao dos professores um bom princpio.Questes cruciais no quadro da formaoDidtica + psicologia dos adolescentes + sociologia;Formao prtica, mais gil, muito mais longa e muito menos ideolgica; A formao mais centrada sobre os princpios pedaggicos, sobre uma ideologia pedaggicaVoc tem uma imagem muito interessante, relativamente harmoniosa, da escola primria que parece ter evoludo no bom sentidoOs mestres de escola so claramente melhor formados por uma razo muito simples: ensinar a ler para crianas uma profisso particular; Romantismo da infncia; preciso primarizar o colgio, j que de qualquer forma todo o mundo tem acesso a ele.

Aprendizado dos alunos de colgio relacionado com seu apego aos professoresOs alunos do colgio no esto em condies de distinguir o interesse pela disciplina do interesse por aquele que ensina a disciplina;Esta observao confirmada pelos alunos cujas notas variam sensivelmente em funo dos professores, e isto da mesa disciplina;Efeito professor: testa alunos no comeo do ano, os testa no fim do ano e mede o aumento de suas performances;Os professores mais eficientes so aqueles que acreditam que os alunos podem progredir, aqueles que tm confiana nos alunos. Que veem os alunos como eles so e no como eles deveriam ser.