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BOLETIM ESCOLAR Confluências (2ª Série) maio / junho 2014 Confluências Camões: uma Escola por Tempos e Marés Nesta edição: Scriptomanias Projeto Camões-Charles Lepierre-Camões Dia Aberto Concurso Literário Camões Apontamentos Iniciativas D. Olinda Testemunhos Destaque pp. 2-8 p. 8 p. 9 p. 10 p. 11-12 p. 13 p. 14 pp. 14-15 p. 16 Chegou ao fim o ano letivo. Para alguns, é tempo de des- canso; para outros, tempo de rever a matéria para os exa- mes que se avizinham. Para os mais interessados, recomenda-se a consulta do Despacho normativo n.º 5-A/2014 (Diário da República, 2.ª série — N.º 71 — 10 de abril de 2014), que aprova o Regulamento do Júri Nacional de Exames e o Regulamento das Provas e dos Exames do Ensino Básico e do Ensino Secundário. Informação acessível na página da Escola, em “Ensino Diurno” / “Exames”. BOAS FÉRIAS! Avaliação Externa da Escola A avaliação externa da Escola Secundária de Camões decorreu entre os dias 21 e 23 de maio de 2014. Três dias de meticulosa ‘apreciação’ em que dezenas de atores da comunidade educativa foram chamados a participar neste momento importante para a vida presente e futura da escola. Uma ação inspectiva que exigiu, essencialmente por parte do diretor e da sua equipa, um intenso trabalho preparatório para que tudo decorresse com rigor e normalidade. Pelo que foi dado constatar, as expectativas terão sido cumpridas, restando agora aguardar o relatório preliminar para a escola se confron- tar, através de um olhar externo, com as suas virtualidades, que as terá seguramente, mas também, e sobretudo, com as suas fraquezas, para que as possa remediar e atingir com êxito novos e melhores resultados. Enquanto isso, e mantendo a serenidade necessária para um eventual contraditório, a preocupação estará centrada, uma vez mais, no encerramento do ano letivo e na preparação do próximo. Atenção Pais/Encarregados de Educação e Alunos Estão abertas as pré-inscrições para os Cursos Profissionais 2014/2015 (Técnico de Apoio à Gestão Desporti- va; Técnico de Informática de Ges- tão; Técnico de Serviços Jurídicos) Formulário disponível em www.escamoes.pt

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BOLETIM ESCOLAR

Confluências (2ª Série)

maio / junho 2014

Confluências

Camões: uma Escola por Tempos e Marés

Nesta edição:

Scriptomanias Projeto C a m õ e s - C h a r l e s Lepierre-Camões Dia Aberto Concurso Literário Camões Apontamentos Iniciativas D. Olinda Testemunhos Destaque

pp. 2-8 p. 8 p. 9 p. 10 p. 11-12 p. 13 p. 14 pp. 14-15 p. 16

Chegou ao fim o ano letivo. Para alguns, é tempo de des-canso; para outros, tempo de rever a matéria para os exa-

mes que se avizinham.

Para os mais interessados, recomenda-se a consulta do Despacho normativo n.º 5-A/2014 (Diário da República, 2.ª série — N.º 71 — 10 de abril de 2014), que aprova o Regulamento do Júri Nacional de Exames e o Regulamento das Provas e dos Exames do Ensino Básico e

do Ensino Secundário. Informação acessível na página da Escola, em

“Ensino Diurno” / “Exames”.

BOAS FÉRIAS!

Avaliação Externa da Escola A avaliação externa da Escola Secundária de

Camões decorreu entre os dias 21 e 23 de maio de 2014.

Três dias de meticulosa ‘apreciação’ em que dezenas de atores da comunidade educativa foram chamados a participar neste momento importante para a vida presente e futura da escola.

Uma ação inspectiva que exigiu, essencialmente por parte do diretor e da sua equipa, um intenso trabalho preparatório para que tudo decorresse com rigor e normalidade.

Pelo que foi dado constatar, as expectativas terão sido cumpridas, restando agora aguardar o relatório preliminar para a escola se confron-tar, através de um olhar externo, com as suas virtualidades, que as terá seguramente, mas também, e sobretudo, com as suas fraquezas, para que as possa remediar e atingir com êxito novos e melhores resultados.

Enquanto isso, e mantendo a serenidade necessária para um eventual contraditório, a preocupação estará centrada, uma vez mais, no encerramento do ano letivo e na preparação do próximo.

Atenção Pais/Encarregados de Educação e

Alunos Estão abertas as pré-inscrições para os Cursos Profissionais 2014/2015

(Técnico de Apoio à Gestão Desporti-va; Técnico de Informática de Ges-tão; Técnico de Serviços Jurídicos)

Formulário disponível em

www.escamoes.pt

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SCRIPTOMANIAS

Título: Confluências Iniciativa: Departamento de Estudos Portugueses Coordenação de edição: António Souto, Manuel Gomes e Lurdes Fernandes Periodicidade: Trimestral Impressão: GDCBP Tiragem: 250 exemplares Depósito Legal: 323233/11 Propriedade: Escola Secundária de Camões Praça José Fontana 1050-129 Lisboa Telefs. 21 319 03 80 21 319 03 87/88 Fax. 21 319 03 81

Homem não sofre essa obsessão que tenho é uma metáfora não vês corres-me nas veias e tenho de te libertar o teu nome faz-me tremer ouvir a tua voz faz-me suar dos olhos quero que sejas o meu vício começo por te experimentar levemente (não para meu benefício) inalo-te lentamente és tudo o que odeio a minha pele grita o teu nome cheira a ti é das alergias que choro

é por ti que acordo és quem degolo provo-te gota a gota o teu sabor enforca-me a garganta opto por continuar não quero acordar só mais um sonho mais um apenas talvez melhor feliz homem é forte homem não chora homem não sente as emoções penhora homem desmente homem entranha homem não dá nós, desemaranha

Miguel Outor Henriques 11º E

Mar Venho de longe, procuro o correto, porém, afogo-me neste mar incerto. Tão incerto se tornou, que à vida renunciei. Afundo, agora, lentamente nestas águas tão enegrecidas, onde a pouca luz vai desaparecendo.

O mar tanto dá, como tira, traiçoeiro, como a natureza huma-na, ataca quando menos se espera. Eu perdi a batalha. Eu perdi a fé. Eu perdi a vontade. Eu perdi a humanidade. Eu perdi a vida.

Não achei o que em vida procurei. Vencido pelas dificuldades, desisti. Nesta vida amaldiçoada, vivi em sociedades sem espírito. Amordaçado, acorrentado, parti em busca do meu destino. Que fortuna fora a minha?

Gonçalo Miranda, 12º E

A ordem Por toda a parte a ordem A ordem das ruas A ordem do silêncio A ordem do terror Querem-nos rebanho Uma unidade submissa Querem-nos fracos Para se fortalecerem Por toda a parte a ordem A ordem da censura A ordem da guerra A ordem da miséria Querem-nos domados Curvados e ajoelhados Querem-nos desarmados Mas armam a revolta

Por toda a parte a ordem A ordem do caos A ordem da violência A ordem da ignorância.

Ana Maria Begonha, 10º L

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Confluências

SRIPTOMANIAS

A story that could´ve been a poem

I remember that it hurts looking at her hurts as I glanced at her eyes, and saw the sadness inside her like no other had before, at least that was my thought.

Those eyes were like no other, nor did I see eyes like those, nor have I ever seen such sadness and as I peeked out again I remember think-ing why am I the only one, although I looked at her dif-ferently than the others I couldn't shake that feeling, why am I the only one?

Could it be that my attrac-

tion towards her unlocked some kind of secret knowl-edge or that simply nobody cared, which to me at least is odd, not because she is the hottest girl in the school, but because there was simplicity in her soul like none that I have ever experienced in a human so bright, and at the same time darker than the night sky.

I started to get attached to that simplicity I don´t even know why, but it seemed so unsecretive and at the same time locked away… I wonder how the same thing can be both, but then again there are

many things that I don´t know. But there is a thing that I do know and it is that I´m wanted by that mysteri-ous girl every day…

I couldn't take her out of my mind, I tried as hard as I could, but she just came up again inside my head like a phantom hunting my every thought, when I least ex-pected her she just came up again and again and again. Until I realized that I couldn't forget her she was my destiny and at the same time the death of me…

Miguel Outor Henriques,

11º E

Muda

Lamento, hoje, através destas palavras, a incapacidade que a vida me deu. Sou muda. Não falo. A minha boca mexe, mas não é audível qualquer tipo de som. Não tenho qualquer tipo de voz ou forma verbal de me expressar. Ninguém é capaz de me ouvir. Ninguém sabe o tom da minha voz ou a nota em que canto. Não canto, não tenho voz. Não digo isto por não me ouvir, digo isto porque até hoje ainda nin- guém me ouviu. Nenhum ser foi capaz de tomar por suas as minhas palavras ou seguir os meus conselhos. Ninguém fez caso, ninguém se importou, nin-guém parou para me ouvir. Seguiram todos o que o coração lhes disse. Ele não é como eu. O coração não é mudo, mas eu sim. Grito as minhas palavras e espero que as oiçam, que vejam o sentido do que digo e que, depois de refletirem sobre elas, mesmo que sejam delírios e opções pouco fundamentadas, sigam o caminho que lhes peço. Sou ignorada e tomada por muda, sou uma voz sem melodia. Pergunto-me se serei eu muda ou se o mundo é surdo aos meus pedidos. Mas assumo-me como culpada, eu a incapacitada, e o mundo todo não pode estar errado. Declaro-me muda e nunca ninguém ouvirá a minha voz. Que ninguém ouve nunca a voz… a voz da razão.

SG, 10º L

Correção Os textos Memória e Gratidão, publicados no número anterior em suporte papel, respetivamente nas páginas 4 e 11,

saíram com parte da identificação errada. Os referidos textos são da aluna Madalena Oliveira do 10º I.

Pelo lapso, pedimos desculpa à autora.

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Confluências

SCRIPTOMANIAS

Uma união de deuses

Ela era Vénus. Ele era Hércules. Inevitavel-mente, havia entre ambos uma forte atração. Todavia esta Vénus não era tão bela como a original, mas era apreciada pela simplicidade de traços na sua pequena face; Hércules tam-bém não era tão alto e muscula-do como o original, mas herdou do seu avô uns estonteantes e sorvedouros olhos cor de céu anil um pouco nublado.

Eles olhavam um para o outro, em segredo, com medo que alguém notasse. Viviam num assombro constante devido ao sentimento que nutriam um pelo outro, mas que não podiam concretizar por causa das suas famílias rivais, religiosamente distintas. Contudo, cada um vivia a sua vida, na esperança de que em alguma ocasião o destino os juntasse.

Dias, noites, semanas e até longos meses advieram. Bastou, porém, um desastroso e oportuno acidente para que Hércules e Vénus se aproximassem e fizessem frente às suas prodigiosas e antigas famílias.

Foi Vénus quem protagonizou o papel de

vítima Hércules, naturalmente, era o herói. Esta força da natureza, a mulher, quando confrontada com três dogues alemães, tornou-se numa indefesa menina com medo. Por aca-so, Hércules, que se passeava pelas mesmas ruas que Vénus, ouviu um grande alarido à frente do café Grec-Roman e apressou-se a

ver o que acontecia. Vendo Vénus desprotegida, saltou valentemente para diante dela tentando protegê-la, ao invés dos demais que se limitavam a assis-tir. Hércules, arriscando a pró-pria vida, afugenta as feras. Vénus e Hércules beijam-se ago-

ra apaixonadamente, pela primeira vez sem receio de que alguém os observasse, tinham finalmente coragem para prosseguir com o seu amor.

Por fim, os deuses uniram-se, as famílias aceitaram-se e o amor venceu. Demonstrou-se assim que a coragem e a esperança são uma mais-valia para ultrapassar os obstáculos que a vida nos impõe e que basta um momento, um momento só, para mudar tudo.

Irina S. C. Neves, 11ºE

Menção Honrosa Eduardo Proença, 12º I

Rittornello

A vossa voz (ui!) ressoa, Caríssimos lívidos Mas ninguém Particularmente Pressente o seu bafejo (EFETIVAMENTE)

Dir-se-ía que talvez O próprio ar, se pérfido, Vos abafa — e pretende estrangular.

E como Stravinsky, Mas com desprezíveis afetações E adoráveis maneirismos INATOOSTINATOSTINATO, Mas muito com todo um rigor E (doentio, doentio...) o sincronismo estudado

(punctumcontrapunctum) OSTINATO

Sim A vossa voz ressoa, Caríssimos lívidos Assim.

E nada pode realmente florescer Na vossa presença; Mas apenas ser um museu vivo a mor-rer De uma qualquer crença Cega, aristocrata e tateante; E tudo quanto está à vossa volta Fervilha incessante, e com loucura, Contra porventura a vossa face!

Dir-se-ia que talvez O próprio ar, se pérfido Vos abafa e pretende estrangular.

Mas o dia virá por fim,

sinistro, como tudo quanto é profético, Em que vos será dada a provar, Sem prerrogativas, a terra suja, E o vosso céu cairá numa asfixia Sobre a infame voz que ressoa, E a vossa fúria será abatida, E os estandartes pisados; E o tal "praia lusitana” etc E todas todas as espécies de múmias Semelhantes que foram impostas Vos farão engasgar, E como Jericó, sereis conquistados.

Enquanto a vossa voz Ainda ressoa, caríssimos lívidos, Mas ninguém particularmente pressente o seu bafejo.

[Republicamos o texto distinguido no Concurso Literário Camões 2014 que, por lapso, saiu com outra identificação. Pelo facto, pedimos desculpas aos visados.]

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Confluências

SCRIPTOMANIAS

Carta a um amigo De Fernando Loureiro para Fer-nando Pessoa Lisboa, 1 de março de 2014 Olá, Fernando!

Já há muito que não te escre-via e aproveito esta oportunida-de para te dizer que, há uns dias, passei uma tarde bastante enriquecedora, junto dos meus colegas, a passear pelas ruas pelas quais já passeaste, a obser-var os edifícios que já observas-te, a visitar os espaços que tu visitaste e a tomar hábitos que eram teus. E sabes o que me dei-xou intrigado? Foi não saber em que é que estarias tu a pensar ao saltitar pela nossa Baixa ou que textos teus nasceram de inspira-ções ou motivações adicionais que aquelas ruas te proporciona-ram, nos teus dias. Só sei que te passei a conhecer melhor.

Começámos onde tudo come-çou. Parados, com o Teatro de São Carlos nas nossas costas, esse edifício tão importante para qualquer lisboeta, mas que, naquele momento, era tão insig-nificante, pois estávamos volta-dos para o ponto de origem de

algo incrível que viajou e irá sempre viajar através das gera-ções: a casa onde nasceste. Ali, conjugada com o sol gentil, observada pelo “sino da aldeia”. Esse sino que pertence à igreja onde tu foste batizado contra a tua vontade, mas a favor da tua ingenuidade.

Desde esse largo até ao Terrei-ro do Paço, fomos nós caminhan-do e lendo as tuas palavras. Entrámos nos teus cafés e na tua tabacaria e observámos as paisagens que te cativaram. Foi quase como um Lisbon Revisited, do teu conhecido Álvaro de Cam-pos. Até deu para enriquecermos os nossos conhecimentos acerca da História de Portugal.

Quando chegámos ao Terreiro do Paço, fomos visitar o teu que-rido café, o Martinho da Arcada. A tua mesa estava lá, sem nin-guém. Só o teu copo, o açucareiro e a tua caneta. Nunca mais nin-guém se sentará ali e foi com gestos como esse que fiquei sur-preendido com as provas de res-peito por ti que fui observando pela cidade, desde o café A Bra-sileira até ao Martinho da Arca-da. Não foste esquecido.

Enfim… Não havia melhor forma de acabar a travessia do que estarmos voltados para o rio

Tejo, a sentir o sol a despedir-se de nós e com um sentimento nos-tálgico a apertar-nos a mente. Comigo, resta-me o teu primeiro nome e uma inspiração. Senti um bigode, quase desenhado, a crescer debaixo do meu nariz, uns óculos a surgirem na minha cara e um chapéu a ser cultivado no meu cabelo.

Abraço, Fernando Loureiro

PS: Já agora, se o vires, dá um

abraço ao Álvaro de Campos. Falar dele e não lhe endereçar os cumprimentos seria rude.

Fernando Loureiro, 12º E

Fernando Pessoa

Ao descer a estreita rua E virar para o pulcro sol poente

Encontrarão a imagem perpetuada Do poeta, do filósofo, do pensador

É no largo de São Carlos,

Que a Pessoa lhe foi dada a vida Mesmo que, ao fim dela,

Tenha a alma em pedaços dividida.

Enquanto inveja o gato que brinca na rua

E escuta a pobre feliz ceifeira Ainda sonha com os anos da infância

Ainda sonha com os anos de brincadeira

De um baú de anotações, Constrói um eterno e glorioso legado

E pelo seu honroso tributo A geração de hoje diz: obrigado!

Cátia Neto, 12º G

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Confluências

SCRIPTOMANIAS

Uma esplanada sobre o mar II Estava uma tarde cheia de sol. As águas brilha-

vam até ao limite do horizonte, um barco à vela ia passando pela estrada de lume. O ar estava quen-te. E a brisa do mar quase não chegava ali.

– Explica, por favor. – Sabes… quem me dera não ter de passar por

isto. Acredita. – disse o rapaz. – Não fui eu que escolhi estar assim. Não fui eu que escolhi ter este destino. Se ao menos eu pudesse…

– Para com isso! – interrompeu a rapariga, já em lágrimas. – Peço-te, por favor. Conta-me tudo des-de o princípio.

– Eu conto, não te preocupes. – o rapaz respirou fundo, olhando o mar. - Eu conto tudo.

A rapariga fitou-o, à espera que ele falasse. Os seus olhos transmitiam medo e ansiedade, mas manteve-se firme. Limpou uma lágrima ao canto do olho. Estava decidida a perceber tudo muito bem.

– Lembras-te daquela vez em que eu estava com uma dor de cabeça que nunca mais me passava? Foi há uns dias. Eu contei-te.

– Sim, lembro-me. Continua. – Pronto. Eu fui ao médico, porque já estava a

achar estranho aquela dor aguda e persistente na minha cabeça.

– Não me contaste que foste ao médico. – Pois não. Mas deixa-me continuar. A rapariga fechou os olhos durante um momento

e respirou fundo. Estava a tentar preparar-se mentalmente para o que viria a seguir.

– Eu descrevi a minha dor ao médico e ele achou melhor que eu fizesse uma TAC. Sabes, aqueles exames que se fazem à cabeça para…

– Sim, sei perfeitamente. – interrompeu a rapari-ga, já nervosa. – Continua, por favor.

Inclinou-se mais para a frente. Queria ouvir com muita atenção, para perceber tudo muito bem. O mar estava mas bonito do que nunca. Uma peque-na brisa percorreu a esplanada, fazendo esvoaçar ligeiramente os cabelos da rapariga. E o sol ilumi-nava os dois jovens, naquele momento tão doloro-so.

– O médico disse-me os resultados do exame. E não há dúvidas. – o rapaz desviou o olhar para o

copo de sumo. Não tinha coragem para lhe dizer nos olhos. – Eu tenho cancro. Tenho um enorme tumor na cabeça. E era isso que me fazia aquelas dores horríveis.

A rapariga não conseguiu conter as lágrimas. Não queria acreditar naquilo. Disse, desesperada-mente:

– Não. Não pode ser. Não acredito. Não posso, não consigo acreditar nisso.

O rapaz pegou-lhe na mão e olhou-a nos olhos. Também ele tentava agora manter-se firme.

– Mas tens de acreditar. É a realidade. Nunca pensei vir a dar-te uma notícia destas, mas é a realidade.

– Como é que eles têm a certeza?! Tu sempre fos-te tão saudável! Eles podem ter-se enganado, os resultados podem não ser verdadeiros…

– Mas são. – respondeu o rapaz, tentando acalmá-la. – Está mesmo confirmado, infelizmente. Não há dúvidas.

– Oh meu Deus… Tem de haver alguma coisa que eles possam fazer, uma operação, um trata-mento, qualquer coisa!

– O médico disse-me que o tumor era inoperável. É demasiado arriscado tentar tirá-lo. Não há mes-mo nada a fazer.

A rapariga baixou a cabeça entre os braços. Aper-tava a mão do rapaz, procurando a força de que precisava naquele momento. Chorava. Sentia-se completamente destroçada. Ia perder a única pes-soa que a compreendia, a pessoa que lhe dava apoio e lhe trazia alegria. Em apenas dois ou três meses.

O rapaz tentava confortá-la. Tinha que ficar ao pé dela naquele momento tão difícil. Também ele se sentia infeliz e frustrado, pois algo estava a acontecer que ele não podia controlar. Uma doença que ele não podia escolher ter ou não ter, e que não podia mandar embora. Porquê ele? Que culpa tinha ele de ter aquele destino? Ninguém sabia.

O mar respirava calmamente por entre a areia e as rochas. O sol, já de fim de tarde, conferia uma bonita cor dourada àquele cenário tão triste. Naquela tarde de verão com tanto sol, com tanta serenidade, com tanto calor, nada indicava que fosse acontecer aquele momento tão frio, tão angustiante. Parecia uma tarde como todas as outras. Mas não era.

Joana Monteiro, 10º B

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SCRIPTOMANIAS

Roll House

What about to live in a Roll? There are some that have a dream: to live in a Roll! Is it possible, may you ask? Yes it is! There are lots of roll houses, but they are usually in a cool dry place, to better conservation of the roll. We leave here the ‘How to make a roll house’ research:

“First, they said, you have to dig into the roll. Then, you build a bed, chairs, table and windows. You have to be very careful with the door, as it has to be made of sugar. Otherwise, it will react with the flour.”

And there you are! Go out in the wild and bake your own flour house!

by Duarte Benard da Costa, 10º L

Why I Love Learning But I Don't Really Like School

So you want to get a degree? Seems simple, right?

Everybody seems to tell us that it's what we need to increase our chances of getting a job, that it provides us with an opportunity to be successful, and will remove a lot of stress from our lives. Education is the key. Our parents tell us to make them proud. But, at the same time, what society tells us is: 'Sorry kids, you're either going to have to get a job or go to Uni. Oh, but Uni is pro-bably going to cost you more so you'll need to do both. Also we don't have enough jobs for you'. It all seems pretty messed up to me.

I don't think we need to go to school to get an education and, sadly, sometimes, school actually gets in the way of learning.

The drive to question things and learn how they work is part of human instinct; walking silently in straight lines and sitting in chairs bent over a paper using no more

than your hand muscles and brain is not. Humans are born with a drive to learn.

We need to completely reformulate our entire educatio-nal system; children need to identify and learn to use the abilities that they have been endowed with.

We need to learn how to learn: it is not enough to shovel information into our heads and have us dig around for it, to regurgitate it on the exams. The world we live in is constantly changing for this to actually work.

"Everybody's a genious but if you judge a fish by its abi-lity to climb a tree, it will spend its whole life thinking it's

stupid", said Mr. Einstein. And it's true. It's how unfair the educational system actually is! Diffe-rent people have different abilities. Why are we all being tested the same way? How is intoleran-ce fair for people growing up? You shouldn't be

telling kids struggling that they are failures for missing a year of school of their lives. You should support them!

Tolerance is the key and there's almost no room for it in school!

Ana Margarida Correia, 10º L

Private Schools vs State Schools

Nowadays there is a lot of discus-sion among people about which type of school offers the best educational system: private or state schools? Because there's not a correct answer (it's a matter of opinion), I intervie-wed some people to know what they think.

It's obvious who answered what. Rich, naive and ignorant people ans-wered private ‒ maybe because they couldn't attend a state school; maybe they think they are superior and too rich to do it. These people told me all about the great facilities, the outra-geous teachers and the quality of the students. This is all true indeed, but

what people didn't tell me was the amount of money they pay for having their kids attending private schools or the coldness and antipathy of tea-chers and staff. Even though, I have to agree that the teaching is much more strict and rigid, there is much more discipline and order.

Not so rich people answered state schools ‒ maybe because they couldn't afford attending a private one. They told me that the environment is very different, the teachers are sensitive to students because they are aware of money and family issues. They often help kids, not only by giving them a good education, but also by talking to them and giving them support. Howe-ver, the teaching there is messy and sloppy.

I talked to Eva, a girl that has been through both: public and state schools. She believes that in private schools you have a minor vision of real life, they protect the students too much; in their world everyone is wealthy enough to have brand-clothing and new IT equipment, while in state schools there is more sense of reality and a global vision of life. She also agrees that in state schools the teachers are often better and nicer, very helpful to everything the stu-dents need.

There is not a true or false answer but I'm sure we all agree that people who put their kids in private schools are wealthy enough and ignorant enough to do it!

Joana Almeida Flor, 10º L

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Confluências

SCRIPTOMANIAS

MACONDO ESTÁ DE LUTO

Uma homenagem a Gabriel García Már-quez (1927-2014)

“Mas qual é a história da América Latina senão uma crónica do Real Maravilhoso?”

Alejo Carpentier

Ontem, esqueci-me da minha identida-de. Estava num salão enorme entre uma coleção de cartas de navegação e retratos a óleo que olhavam para mim. Um homem muito magro, de barba pre-ta, rugas profundas na face e um cartão pendurado ao seu pescoço com o nome João, escrito em letras maiúsculas, aproximou-se e dirigiu-se-me. Eu não consegui decifrar as suas palavras e com a cabeça esbocei um gesto negativo, virei-me de costas e fui-me embora, para longe daquele formoso e velho palacete com cheiro a clássicos e a flores mortas. Na rua consegui respirar calmamente.

Comecei a andar à deriva, não fazia ideia do tempo ou mesmo de um lugar preciso aonde ir. As árvores estavam floridas e o sol forte fazia-me semicerrar os olhos. Nada naquela paisagem me era fami-

liar. Caminhando, muito devagar, con-seguia ouvir o som do vento, os passari-nhos numa guerra de trinados e o bater dos meus pensamentos na minha men-te. Uma pergunta feita por uma voz interior, a repetir-se uma e outra vez: «Quem és tu?» Quem, quem, assim como uma melodia primitiva e minimalista. Não tinha vontade de procurar uma

resposta. Ouvia isso, mas também ouvia a minha garganta a tragar o pólen e o pó das ruas que estava a percorrer. As janelas fechadas adornadas com roupas

limpas de todas as cores, penduradas como grinaldas nos velhos edifícios des-sa cidade que desconhecia, uma cidade com um ar melancólico e triste onde todos olham sem ver. Comecei a pensar nas possibilidades

dessa inviabilização, as vantagens des-sa amnésia, desse anonimato. A voz interior permanecia cada vez mais e mais insistente, quando, de repente, tropecei, ou alguém tropeçou no meu corpo inerte, tornando-o visível naquele choque de energia. Fiquei bloqueada por uns segundos. ‒ Sinto muito, peço desculpa. Ouvi essas palavras num infinito ins-

tante. Já tinha esquecido a possibilida-de de falar. Já tinha esquecido a oportu-nidade de dizer qualquer coisa, mas a partir dessa lembrança foram chegando mais outras: os bons modos, a educação, os costumes e, de forma quase mecâni-ca, consegui dizer: ‒ Não faz mal, estou bem. Nesse infinito instante consegui vis-

lumbrar o meu rosto nesses olhos pretos de pestanas muito longas. Nesse reflexo do meu rosto, o meu olhar, a minha cicatriz de identidade. Nesse infinito instante, mais uma pergunta: ‒ De onde é você? O seu sotaque é-me

familiar. Foi então quando essa voz interior saiu

do meu corpo e disse: ‒ Eu sou de Macondo. Macondo.

Macondo é um povo, é um lugar mítico, simbólico no meio das terras quentes e da selva virgem do Caribe. Macondo é Colômbia e Colômbia é Macondo. Macondo também é a minha cicatriz identitária. Macondo é a minha pátria.

Macondo é um pequeno ponto no globo com todas as contradições, fantasias, superstições e angústias de um lugar privilegiado com as mais belas e diver-sas paisagens do planeta. Macondo é uma forma de definir uma nação na América do Sul. ‒ Eu conheci há muito anos atrás esse

lugar que você está a descrever. Eu sou um cigano que está a percorrer o mundo inteiro. Todos os anos, pelo mês de mar-ço, a minha família e eu vamos lá, o meu nome é Melquíades, muito prazer. Não consegui dizer mais nada. O ciga-

no abriu uma bolsa e entregou-me um mapa português e várias ferramentas de navegação, assim como um livro mui-to antigo com letras douradas que dizia: "Cem anos de solidão". O cigano foi-se embora. Fiquei ali, no

meio da Praça Dom Pedro IV, no meio das árvores, com as primeiras flores da primavera. Cheia de uma saudade infi-nita, abri o livro e li, em voz alta, como quem está a pronunciar um manifesto: "MUITOS anos depois, diante do pelo-

tão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou a conhe-cer o gelo. Macondo era então uma aldeia de vinte casas de barro e taqua-ra, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos. O mundo era tão recente que muitas

coisas careciam de nome e para mencio-ná-las precisava-se de apontar com o dedo." Então recordei a minha identidade.

Andrea Valencia (PPT – B2)

PROJETO

O Projeto “À descoberta no museu: Construir Ciência”, desenvolvido em parce-ria com o Museu Nacional de História Natural e da Ciência, possibilitou a 10 alu-nos da Escola Secundária de Camões concretizarem projetos que foram apresen-tados no encontro científico que decorreu, no dia 7 de maio, no Auditório Manuel Valadares do referido museu. Foram três os projetos apresentados:

“Identificação da origem geográfica de duas espécies de tartarugas marinhas capturadas acidentalmente na costa por-tuguesa” – Ana Catarina Lopes, Anca Ciuntu, Beatriz Albergaria, Diogo Costa, Fernando Loureiro e Leo-nor Cabral (12º A e E).

“Estudo do desenvolvimento da borboleta Pararge aegeria (Lepidoptera: Nymphalidae), comparando um alimento geneticamente modificado e uma espécie silvestre” – Manuel Ribeiro e Margarida Leite (11º A).

“Deteção e caraterização de um exoplaneta” – Inês Costa e Núria Freitas (12º B).

Lista de Projetos – http://descobertamuseu-construirciencia.blogspot.pt/p/lista-de-projetos.html Encontro Científico – http://descobertamuseu-construirciencia.blogspot.pt/p/encontro-cientifico.html

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Confluências

CAMÕES CHARLES LEPIERRE CAMÕES (década de 50 / década de 90)

Tornei-me aluno do Liceu de Camões em Outubro de 1952 (ia fazer 12 anos) e frequentei-o até ao início do 2º ciclo, quando, subitamente, nas vésperas do Natal de 55, vítima de um atropelamento, fui obrigado a transitar ao ensino doméstico e, depois, ao ensino par-ticular, concluindo o secundário na Secção portuguesa do Liceu Charles Lepierre, entre 1956 e 1959. Hoje (passados tantos anos, e sempre que lembro este difícil itinerário de adolescen-te - sofrido num período decisivo da formação da personalidade), penso que, ao fim e ao cabo, acabei por ter o privilégio de conhe-cer duas experiências escolares coevas, muito diversas entre si mas, de qualquer modo, igualmente enriquecedoras. Primeiro, como aluno interno do Camões, escola média oficial, nacional, nacionalista e nacionalizante, grande educadora segundo os princípios e valores estabelecidos, genericamente rigorosa e exigente no ensino-aprendizagem, a um tempo selecti-va e interclassista, rigidamente ordeira mas benevolente, muitas vezes simpática e até afável (recordo as posturas e atitudes de membros do corpo docente que então conheci: Professoras Cai-moto Duarte, Maria Pestana, Laura Mano, Maria Adelina Fran-co, Maria Madalena Lopes, ou então, no lado dos homens, Olivei-ra Simões, Viegas Louro, Almeida Correia, Morão Ferro, o escul-tor Fernando Fernandes e os maestros Frederico de Freitas e Vasco Brederote) - uma instituição destinada a (re)produzir não só as elites administrativas do Estado mas, sobretudo, «cidadãos completos», limpos e penteados, bem habituados à gravata, casa-co e calça comprida, pontuais e assíduos, competentes, responsá-veis e ideologicamente (en)formados num clima social e político conservador e autoritário, imposto e dinamizado por «avisos» (orais e escritos), «convocatórias» e «ordens de serviço» à imagem e semelhança fiel do Governo da Estrela-S. Bento e do Terreiro do Paço-Belém, que tutelavam o país por «discurso», «notas ofi-ciosas», «decretos», «portarias», «despachos» e «circulares» das direcções-gerais… Depois, quando passei do Camões para a Secção portuguesa do Liceu Francês (ao tempo dirigida pelo Prof. Ersílio Cardoso), tudo se mudou, social, cultural e ideologi-camente. Nos meados da década de 50, se o Charles Lepierre, como um todo, era uma espécie de grande «liceu internacional» das múlti-plas colónias estrangeiras fixadas em Lis-boa (filhos de membros do corpo diplomáti-co e consular, de professores - aqui coloca-dos pelo Quai d’Orsay - ou de importantes agentes económicos e financeiros), a Secção portuguesa do liceu caracterizava-se por ser socialmente aristocrática (com os filhos e filhas-famílias do «jet set» lisboeta e do eixo Sintra-Cascais) mas (no que respeita-va a sectores do seu corpo docente) de ideário demo-liberal, repu-blicano-socialista, laico ou laicizante - numa palavra, de «Oposição» fortemente crítica e resistente ao Regime: recordo os Professores Rui Grácio e esposa, Maria Ângela Miguel, o politéc-nico e também artista plástico José Júlio Andrade dos Santos, a pianista e musicóloga Maria Luísa Rodrigues, e outros cujos nomes, infelizmente, esqueci… Foi uma época de «descobertas» e «deslumbramentos»: é que não

estudávamos só pelos manuais / «livros únicos», antes, sobretu-do, pelos excelentes apontamentos das aulas e pelos livros das pequenas bibliote-cas de turma existentes nas salas de aula. Às constantes e extensas notas e emendas que o Prof. Grácio fazia, por exemplo, ao Manual de Filosofia do Bonifácio (notas essas que quase davam para fazer um pequeno livro), havia que acrescentar as leituras e os comentários dos textos da Antologia Filosófica que ele elaborara com

Jorge de Macedo e Joel Serrão (seus antigos colegas na Faculda-de de Letras), ou a recorrência às obras do Professor Magalhães Vilhena. O mesmo se passava no campo da História ou da Literatura: tinha-se o «clássico» Matoso para a História Geral, o Martins Afonso para a História da Civilização Portuguesa ou o Joaquim Ferreira para a História da Literatura, mas as obras dos melho-res autores eram publicadas pela «Seara Nova», «Cosmos», «Europa-América» ou «Livros do Brasil»: Rodrigues Lapa, Gor-don Childe, Glotz, Travellyan, Paul Hazard, António Sérgio, Vitorino Magalhães Godinho, H. G. Wells… Lia-se muito (sempre que a «Censura» não intervinha e inter-vinha muitas vezes…) António José Saraiva, a sua Inquisição, os textos críticos e, principalmente, a sua obra-máxima (escrita de parceria com Óscar Lopes), História da Literatura Portuguesa, que «sabiamente» nos «explicava» as estruturas e as dinâmicas histórico-sociais, apontando-nos «o que valia a pena ler»: Camões, Vieira, Garrett, Herculano, Camilo, Antero, Oliveira Martins, Eça, Pessoa e «heterónimos» (ele e outros «ouvidos dizer» pelo Villaret ou pelos espantosos «Jograis de S. Paulo»), Jaime Cortesão, Régio, Torga, Redol, Manuel da Fonseca, Miguéis, António Gedeão e demais autores publicados na colec-ção «Poetas de Hoje» da «Portugália Editora»… ………………………………………………. Em 1990 após outras importantes experiências (umas boas,

outras más) pelas quais me converti num professor efectivo do Q.N.D. do ensino secundário regressei ao («meu») Camões. Já não era «Liceu de Camões» mas «Escola Secundária» em vão, porque muita, muita gente em Lisboa, como quiçá fora dela, velhos, novos ou de meia-idade, os que foram seus antigos alunos, ou os que actualmente ainda o são, conhecem-no ou chamam-lhe pelo nome que sempre teve. «Lyceu de Camões», bem visível na fachada principal, sob o símbolo que marca a época

da sua construção: a coroa real da Monarquia. Mau grado o enorme esforço de todos quantos, desde o 25 de Abril, têm procurado (e conseguido) «governar» a escola com a dignidade que ela merece, não há dúvida que o belíssimo edifício concebido por Ventura Terra, construído por António Ribeiro, e que «foi o primeiro liceu moderno de Lisboa» (Raquel Henriques da Silva), estava (e continua a estar…) profundamente envelhe-cido, surpreendentemente abandonado pelas entidades oficiais que o tutelam, usam e fazem usar.

Professor José Luís Vasconcellos [Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico.]

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Confluências

DIA ABERTO 7 DE MAIO

GINÁSIO

Fotos de Maria de Lurdes Fernandes

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Confluências

CONCURSO LITERÁRIO CAMÕES

Já aqui tínhamos feito referência, no número anterior, à cerimónia de entrega dos prémios do Concurso Literário Camões (Auditório, 7 de maio de 2014), bem como publicado os textos, e respetivos autores, distinguidos.

Damos agora nota do alinhamento musical e publicamos algumas das fotografias tira-das pelo Professor Lino das Neves e colocadas no facebook da escola.

BRINCANDO COM O TEMPO Ariana Garcia, Mar Português

João Figueira, Menina dos Olhos Tristes João Figueira e Rita Pereira, Barco Negro

André Guerreiro, Rap Filipa Pais, Alice Ruiz e Nazaré Silva, Praia das Lágrimas

Ana Cristina Teixeira (Dança) Eduardo Proença e João Figueira, Homem do Leme

A apresentação do evento esteve a cargo de Ricardo Silva & Tiago Andrade.

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Confluências

CONCURSO LITERÁRIO CAMÕES

Promovido pelo Grupo de Educação Física, e como resultado do trabalho efetuado pelos alunos no âmbito da Ginástica e da Dança, teve lugar no passado dia 6 de maio (na sema-na do Dia Aberto) um Sarau de Ginástica.

Este espetáculo volta a ser apresentado a toda a comunidade escolar no dia 5 de junho, no mesmo espaço (Pavilhão Mário Moniz Pereira), pelas 19h00.

Na ocasião, proceder-se-á à entrega dos Diplomas do Desporto Escolar.

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Confluências

APONTAMENTOS

ALUNOS DO “CAMÕES” EM PALCO BERLINENSE

Nove alunos camonianos sobem ao palco em Berlim, para representar uma obra (“Die Andere Seite”) de que são autores.

Encenados por Carlos Melo, os alunos – dos 10º L, 11º L e 11º J – ganharam a sua viagem a Berlim ao vencerem uma competição a nível nacional integrada no projecto “Alemão em Cena”, uma parceria com o Goethe Institut inserida na iniciativa “Escolas – Uma Parceria para o Futuro” (PASCH-Schulen).

O Festival, entre 5 e 8 de junho na capital alemã, tem em cena coletivos teatrais de seis países euro-peus, além do grupo português.

Promovido pela professora Rosa Costa (de Latim e Português), reali-zou-se no dia 7 de maio, na Biblioteca, pelas 10 horas, um colóquio intitulado "A Pervivência dos Clássicos na Contemporaneidade." Com três intervenções a cargo dos Professores universitários José

Serra, Cristina Guerreiro e Ana Lóio, este encontro, de uma rique-za extraordinária, manteve ‘estoicamente’ atentos os alunos que para o evento foram convidados a assistir e a participar.

Protásio Revolucionário, o das Laranjas

Tudo começou com a seguinte

SMS: “O Pro-tásio respon-deu agora -.- É para ir.” – até aqui tudo normal! Quem é que nunca rece-beu uma SMS como

esta? (parecida pelo menos). Mas se por um lado banalizei este aconte-cimento, por outro pensei ter sido incluído numa espécie de GMPRSMSD – Grupo Mundial de Privilegiados que Recebeu SMS Destas (sigla da minha autoria para dar credibilidade ao texto). Mas nesse sentido ainda não fui contactado, ainda não me notifica-ram dessa suposta inclusão. Voltando ao assunto! Eu não esta-

ria a escrever sobre isto caso não tivesse recebido esta SMS às 21h02 do dia 25 de Abril de 2014, facto este que confere à SMS toda uma

outra relevância. Isto porque: eu recebi uma SMS de um número desconhecido, às “tantas” da noite, no feriado comemorativo da con-quista da Liberdade em Portugal; tinha que ter significado. Pelo carácter convidativo da men-

sagem: “É para ir”, percebi que estava perante um possível grande acontecimento, já para não falar de toda a organização que estava por trás. Não podia faltar! (Ainda por cima parecia que o Protásio estava muito envolvido na preparação do evento). Dado que não costumo ser convi-

dado para nada, esta era uma óti-ma oportunidade de me afirmar na vida social da cidade. O problema é que não tinha a certeza que algu-ma coisa fosse acontecer e sincera-mente não tinha vontade nenhuma de ir ao Largo do Carmo em vão. Como sou simples, uma mota, duas ou três pessoas e uma flor (nem era preciso ser um cravo) chegariam perfeitamente para a revolução. E isto teria sido tudo muito bonito

caso não fosse eu tão irresponsável. Recebi a SMS dia 25 mas apenas a

vi dia 27. O que significa que durante aqueles dois dias houve toda uma população revolucionária à minha procura e sem saber de mim. Para ser franco, a verdade é que eu nem cheguei a responder à mensagem, por isso, em princípio, para os revolucionários portugue-ses eu já não interesso, já não con-tarão comigo para nada e no futuro não receberei convites no dia 25 de Abril. Este último parágrafo serve ape-

nas para atestar a veracidade des-de texto. A SMS acima transcrita é completamente verdadeira. Mas todo o conteúdo desenvolvido à vol-ta da mesma talvez tenha sido ligeiramente exagerado. Provavel-mente, isto foi apenas um mal-entendido e eu recebi uma SMS que não era para mim. Mas, a par-tir do momento em ela que chegou às minhas mãos, tornou-se matéria-prima que eu manipulei e espremi, originando um sumo tão doce quanto as bocas que o provem dese-jem que ele seja.

Renato Dias, 12º G

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Confluências

INICIATIVAS

Por iniciativa da BE/CRE, a escola acolheu no dia 8 de maio a escritora Teolinda Gersão (ao centro, na mesa, ladeada pelos professores

Teresa Saborida, bibliotecária, e Mário Martins). Alguns alunos do 10º ano, que haviam lido na aula de Portu-

guês (ou em casa) um ou dois contos da autora (previamente selecionados e propostos pela equipa da Biblioteca), viram esclarecidas algumas questões suscitadas pela leitu-ra dos referidos textos − “O Verão das teorias” e “Um casaco de raposa vermelha” −, e questionaram-na sobre as suas motivações de escrita. Alguns exemplares da obra da escritora estiveram disponíveis para aquisição, durante uma semana, no espaço da BE/CRE.

No dia 8 de maio (Sala de Geografia, 11h45), os alunos do 2ºM e 2ºN assistiram a uma sessão de promoção de hábitos de vida saudáveis subordinada ao tema Comporta-

mentos de vida saudáveis − prevenir o cancro. Esta iniciativa, promovida pela equi-pa do PESES, foi dinamizada por uma volun-tária da Liga Portuguesa Contra o Cancro.

Dona Olinda, no Portugal de Abril

Dona Olinda disse-me esta manhã "este dia só termina à meia-noite". Amanhã, Dona Olinda já não estará ao serviço. Cessa uma "servidão" de 40 anos. O termo parecerá excessivo, mas transmite por inteiro a sua dedicação à Casa em que entrou há 40 anos. Dedica-ção à Casa e aos sucessivos inquili-nos que, por vezes, exigiam como se fossem senhores... e ela, discreta, a todos servia... Sorriso luminoso quando a ouviam com atenção, sor-riso fechado quando lhe ignoravam a presença...

Ao chegar à Casa, em 1998, perce-bi de imediato quem poderia ser meu interlocutor. Compreendi que sempre que necessitasse de um esclarecimento na Biblioteca, de uma chave, de uma sala devi-damente preparada para uma qualquer reunião de última hora, de umas flores para um velório ou para receber um convidado, bastava dirigir-me à Dona Olinda. Descobri ainda que ela sabia o nome de todos os professores, funcionários e, até, da maioria dos alunos. E também descobri

que ela sabia o lugar de todos os equipamentos e de todos os livros, conhecendo-lhes, muitas vezes, a função e, sobretudo, que escutava, em silêncio, a história de muitos que procuravam o palco e o aplauso...

Por tudo isto, ultimamente, sempre que me cruzava com Dona Olinda, eu sentia-me triste

se a via a varrer a flor dos plátanos ou se me apercebia que ela executa-va uma qualquer tarefa porque outrem tinha faltado ao serviço ou simplesmente não cumpria o seu dever. E hoje não posso deixar de me sen-tir triste, não porque ela se aposen-te, mas porque parte com uma pen-são miserável que a irá obrigar a

continuar a servir. No dia 1 de maio de 2014, dia do trabalhador,

Dona Olinda que dedicou toda a sua vida ao Liceu / Escola Secundária de Camões, não dei-xará de pensar que a recompensa para tama-nha dedicação é, afinal, mesquinha...

Manuel Cabeleira Gomes (in blogue Caruma, 30.4.14)

D. OLINDA ‒ TESTEMUNHOS

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Confluências

D. OLINDA ‒ TESTEMUNHOS

OLINDA MENDES - As 12 letras de um nome

1. LETRAS e ATRIBUTOS - O, de obras (trabalhos); L, de limpeza e de livros; I, de interesse; N, de naturalidade; D, de dádiva (entrega); A, de «arranjos (florais)»

- M, de modelo (referência); E, de educação (cortesia); N, de nobreza (dignidade); D, de disciplina; E, de espírito; S, de saudade; ...

2. ESBOÇO DE RETRATO Tive o privilégio de (começar a) conhecer a «nossa D. Olinda» há quase 25 anos quando me

tornei professor efectivo do Camões: horas, dias, semanas, meses, «períodos» escolares, ano lectivo após ano lectivo, ela lá estava sempre, em serviço e ao serviço de alunos e professo-res... E que «serviços»! Vi-a realizar com a maior disciplina, naturalidade, interesse e dádiva os múltiplos trabalhos que lhe iam sendo cometidos, desde a limpeza dos espaços internos e circundantes ao edifício e/ou os «arranjos (florais)» para os eventos de circuns-tância até à eficiência e ao rigor com que respondia aos pedidos de livros da biblioteca... E não só: recordo a excepcional educação com que nos tratava diariamente mas também, sobretudo, aquando da sessão solene dos 100 ANOS DO EDIFÍCIO DA ESCOLA, a nobreza (dignidade) como representou os seus colegas institucionais na mesa de honra no palco do ginásio onde, entre prestigiadas «figuras da casa», estavam o Presidente da República e a Ministra da tutela...

Para mim, OLINDA MENDES será sempre, no físico e no espírito, o modelo (referência) de uma inigualável funcionária da qual vou guardar uma grande saudade!

JLVasconcellos [Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico.]

AS LIÇÕES DA MINHA AMIGA OLINDA MENDES

Candidatou-se ao lugar logo depois do 25 de Abril. Chegou com o sorriso tímido de quem vai ser experimentado e um bri-lhozinho de esperança na vida que pro-metia esperá-la neste espaço tão cheio de luz! Trazia o ar - que afinal era o seu - de menina composta, “bem arrumada”. Não levou muito tempo até descobrirmos que era, sobretudo, uma pessoa “bem for-mada”. Tinha-nos cabido o privilégio de podermos contar (achávamos que para sempre!) com um ser humano de excep-ção.

Nascera nas terras onde a gente trabalha para não parar e cava e poda a cepa e colhe a uva, ou arruma e lava e enxuga sem nunca se dizer cansada. Educara-se na cidade grande, discreta no seu apurado sentido de justiça. Agora, dispunha-

se ao trabalho, não ao emprego. Queria praticar “novas novidades”. Aceitava todas as exigências, desde que se vestissem de pedido. Quando chegou à

Biblioteca, que aprendeu de cor, lia às escondidas, na hora do almoço, não fos-sem tomar por pretensiosa a sôfrega curiosidade intelectual. Familiar da Gran-de Mãe Terra, passou a ser a divindade tutelar dos jardins, do verde, das flores. Nunca parou, nem quando precisou de chorar. Nunca se cansou desta escola, que amou exemplarmente. Um amor feliz, correspondido. Achávamos, então, que para sempre… Porém, chegou o tempo e não é mais. Mas aqui, nesta escola que é sua, será sempre uma das lições a não esquecer.

Não é possível esquecê-la. Não passará!

Margarida Sérvulo Correia [Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico.]

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Com o generoso apoio do Grupo Desportivo e Cultural do Banco de Portugal

ESCOLA SECUNDÁRIA DE CAMÕES http://www.escamoes.pt

BE/CRE http://www.esccamoes.blogspot.pt/

A todos quantos colaboraram com a cedência de fotos e trabalhos para este Boletim, uma palavra de agradecimento.

DE

ST

AQ

UE

A página da escola foi reformulada e apresenta agora uma nova imagem. Descobre-a e... interage!

www.escamoes.pt

TEATROJORNAL

GTESC (Grupo de Teatro da Escola

Secundária de Camões)

Criar e manter um espaço de formação-criação em que o ator principal é o aluno, como indivíduo investido em inúmeras capacidades a desenvolver, foi a semente

que me propus lavrar – trabalho árduo em terreno pedregoso. O projeto, desde logo, abraçado e acari-nhado pela direção da escola, confronta-se, porém, com os riscos e ruídos de um mundo mutante, dominado pelo ‘fast-estrelato’ e pela ribalta eféme-ra. Estamos todos atafulhados em informações, imagens, conceitos e preconceitos que se sobre-põem uns aos outros, sem o devido tempo de refle-xão e escolha, instigados ao ciclo do consumir-descartar. Queremos muito e rápido. O teatro pressupõe que o aluno percorra o seu próprio caminho, pesquisan-do sobre si, sobre os outros, sobre o conhecimento e sobre o mundo, construindo o seu vocabulário vocal e gestual. Implica a construção de um olhar sobre quem é e o que quer e uma reflexão sobre as suas vivências, interesses, gostos e sonhos – o estar-no-mundo. Pressupõe, sobretudo, um outro tempo. Instalo nas sessões de formação teatral um tempo

de ‘deixar-chegar’, um ‘tempo-devagar’. Um tempo de integração de experiência e de reflexão. O tea-tro requer parar para olhar e escutar, parar para sentir, demorar no detalhe, cultivar a atenção e a delicadeza, cultivar o encontro e deixar-se tocar pelo texto dramático tanto como pela vida.

Acredito que o estar apenas estando, sem a necessidade do holofote e da vã glória, abre a cla-reira do conhecimento, da simplicidade, do que é essencial. Proponho que cada aluno explore em si mesmo e na vida a forma como construirá o seu personagem. A mim, enquanto encenadora, cabe-me o trabalho de composição sobre o material expressivo que brota mais ou menos espontanea-mente no decurso das sessões de formação-criação. Conciliar esta proposta teatral com o gigantesco,

colorido, mágico e rápido jogo de Monopólio que nos sufoca e engole é uma tarefa complicada. O mundo continua a 3F(s): festas, feiras e festivais. Os alunos, como a sociedade em geral, são seduzi-dos pelo brilho e pela purpurina. A encenação livre do texto de B. Brecht “A vida de Galileu” foi uma travessia com percursos montanhosos, difíceis de escarpar. Chegamos. Cada qual a seu ritmo e com a sua bagagem. Não me interessa o êxito pelo êxi-to. Acredito que este trabalho ecoará nos atores que comigo o habitaram. Para além da visibilidade do espetáculo, existe a melodia do indizível e do

invisível que transportare-mos da vivência de termos sido ‘galileus’ com Galileu; de termos dado vida à pro-posta dramática de Brecht. Em cinco anos, doze traba-lhos foram dados à luz no meio de sofrimentos, ale-grias, trabalho e muito can-saço. Semear uma proposta de formação-criação e fazê-la florescer no contexto atual é

tarefa coletiva que deverá ser repensada para que não esmoreça. Depois de levar à cena “Vida de Galileu Galilei”

de Brecht, o GTESC está agora num momento de pausa – uma pausa que nos dará lucidez e clareza sobre as nossas opções futuras.

Professora Maria Clara Melo da Silva (encenadora)