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BOLETIM ESCOLAR Confluências (2ª Série) maio / junho 2013 Confluências “… é fraqueza/ Desistir-se da cousa começada.” Camões, Os Lusíadas, c.I, est.40 Seminário Internacional – “Os efeitos da crise na Educação e o necessário combate sindical” – reuniu cerca de 150 elementos de 36 organizações de 22 países de todo o mundo. Foi no dia 2 de maio, no Auditório Camões. Numa pausa, o diretor da escola, Dr. João Jaime, fez as honras da casa e expôs aos participantes a magia deste estabelecimento centenário. FINAL DO ANO ESCOLAR Concluído praticamente mais um ano letivo. Os exames à porta. Uma leve bri- sa a férias. Para alguns, a transição tranquila dentro do secundário. Para outros, a despedida e uma nova aventura aca- démica. Não tarda, será setem- bro, tombarão as folhas dos plátanos e as portas abrir-se-ão de par em par para novas boas vindas. Nesta edição: Scriptomanias Leituras Scriptomanias Personagens femi- ninas camilianas Ler para viver Novidade Álvaro Cunhal Apontamentos Breves pp. 2-3 p. 4 p. 5 p. 6 pp. 7-11 p. 12 p. 13 pp. 14-15 p. 16

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BOLETIM ESCOLAR

Confluências (2ª Série)

maio / junho 2013

Confluências

“… é fraqueza/ Desistir-se da cousa começada.” Camões, Os Lusíadas, c.I, est.40

Seminário Internacional – “Os efeitos da crise na Educação e o necessário combate sindical” – reuniu cerca de 150 elementos de 36 organizações de 22 países de todo o mundo.

Foi no dia 2 de maio, no Auditório Camões. Numa pausa, o diretor da escola, Dr. João Jaime, fez as honras da casa e expôs aos participantes a magia deste estabelecimento centenário.

FINAL DO ANO ESCOLAR

Concluído praticamente mais um ano letivo. Os exames à porta. Uma leve bri-

sa a férias. Para alguns, a transição tranquila dentro do

secundário. Para outros, a despedida e

uma nova aventura aca-démica.

Não tarda, será setem-bro, tombarão as folhas dos plátanos e as portas

abrir-se-ão de par em par para novas boas

vindas.

Nesta edição:

Scriptomanias Leituras Scriptomanias Personagens femi-ninas camilianas Ler para viver Novidade Álvaro Cunhal Apontamentos Breves

pp. 2-3 p. 4 p. 5 p. 6 pp. 7-11 p. 12 p. 13 pp. 14-15 p. 16

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Confluências

SCRIPTOMANIAS

Título: Confluências Iniciativa: Departamento de Línguas (Grupo Disciplinar de Românicas) Coordenação de edição: António Souto, Manuel Gomes e Lurdes Fer-nandes Periodicidade: Trimestral Impressão: GDCBP Tiragem: 250 exemplares Depósito Legal: 323233/11 Propriedade: Escola Secundária de Camões Praça José Fontana 1050-129 Lisboa Telefs. 21 319 03 80 - 21 319 03 87/88 Fax. 21 319 03 81

Ser poeta é levar a escrita para o nível seguinte, É escrever com o coração, saltar um passo, literalmente. É eliminar o processo que a cabeça desempenha ao descortinar aquilo que o coração sente; É escrever aquilo que ele nos transmite e, simplesmente, Deitar tudo cá para fora e criar arte.

Anca Ciuntu, 11ºE

É pelos sonhos que “o mun-do pula e avança”.

Se o mundo em que vivemos não nos permitisse sonhar e evo-luir, muito provavelmente não existiria o hoje a que assistimos.

A capacidade de sonhar é ine-rente ao Homem. Contudo, ape-nas alguns possuem a determi-nação e a coragem necessárias para tornar a ‘fantasia’ real.

O sonho português de ir além-mar em busca de novos territó-rios, novas gentes e novas cultu-ras só se tornou real graças à ousadia e à bravura dos mari-

nheiros que, mesmo sabendo dos muitos sacrifícios que os espera-vam, ou até mesmo da morte como fim certo, não abandona-ram o sonho de “dar ao Mundo novos mundos”. A empresa dos descobrimentos são prova de que “sempre que o homem sonha,/ o mundo pula e avança”.

A supracitada capacidade assu-me-se muitas vezes como uma filosofia de vida, um percurso existencial. Para alguns homens, sonhar vai para lá de um objeti-vo pontual, constituindo, por oposição, o grande fito de vida.

Muitos são os cientistas que dedicam por inteiro as suas vidas ao estudo de áreas da ciên-cia inexploradas. Rosalind Franklin, também conhecida como “a mãe do ADN”, abdicou da sua vida pessoal em prol da ciência. Graças à sua descoberta, a medicina pôde evoluir no cam-po da genética como nunca antes se verificara.

O sonho é a essência da vida. Deste modo se justifica que o nosso hoje seja assim como o observamos.

Kateryna Prudyus, 10º D

Inverão É o cheirinho a Verão, O pior que se pode cheirar, Nele se esvai toda a motivação, Toda a vontade de trabalhar. O calor é a maior tentação Daquele que na areia se gosta de deitar, Daquele que perdeu a direcção E procura-a no oceano, mirando o mar. Serei eu o único que não tem gosto pelo Verão, Que não vê no calor qualquer tentação E que com os pingos de chuva gosta de dançar?

Pedro Cortez, 11º H

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SCRIPTOMANIAS

Divagando…

A Natureza e os seus recursos são a base não só de todas as sociedades humanas como também de toda a vida na Terra. Sem as dádivas do mundo natural não existiria nem alimento, nem bebi-da, nem luz, nem ar, nem fauna, nem flora, nem mesmo combustíveis ou fontes de energia renová-veis.

Os ricos tornar-se-iam pobres, os pobres mais pobres seriam, os artistas perderiam a inspiração, os escritores a vontade de escrever e todos caminhariam para um final prematuro.

É então essencial preservar a Natureza. Sem ela não teríamos qualquer conhecimento acerca do passado do nosso planeta, visto que seria impossível encontrar qualquer tipo de vestígios fósseis de tempos anteriores ao Homem, o que implicaria o crescimento das sociedades humanas com ideais bíblicos como a base do conhecimento. Ao deixar a Natureza “morrer”, os recursos naturais que são a base da economia mundial deixariam de existir, mergulhando o mundo numa crise sem solução.

Sem as dádivas da Natureza, morreriam a fauna e flora terrestres, sendo a humanidade arrasta-da para o mesmo fim.

Em termos culturais, perder-se-ia uma das grandes fontes de inspiração do mundo das artes, e as obras que se seguissem à destruição da Natureza seriam marcadas pela tristeza e pelo desespero de já não haver paisagens para pintar ou descrever. O sol tornar-se-ia fonte de cancro e portador de morte, não sendo a sua luz filtrada por uma atmosfera sã, levando ainda ao degelo a nível glo-bal que inundaria áreas densamente povoadas. As florestas transformar-se-iam em desertos, o ar deixaria de ser respirável e, aos poucos, o nosso pequeno planeta ficaria doente e vazio.

É por isto que é essencial preservar a Natureza e tudo o que esta representa, visto que sem ela a Terra nada mais seria do que um pedaço de rocha esquecido a flutuar no espaço.

João Pedro Fontes, 12º

Tentei escrever sobre uma ave, mas ela voou do meu verso. Tentei escrever sobre uma flor, mas ela secou na minha estrofe. Tentei escrever sobre uma gota de chuva, mas ela caiu do meu poema. A Imaginação, que é feito dela? Torturo a minha mente (para tentar fazer melhor) mas não consigo pensar. Pergunto-me o que se passa comigo, e só oiço gritos. Todos gritam mas ninguém me responde. Uma pessoa quebrada,

um coração partido, um olhar perdido, um pedido negado, um sorriso forjado, uma mente estilhaçada. Um monte de frases sem sentido, um vale de medos, uma montanha de pensamentos, um rio de vontades, uma duna de desejos, um oceano de possibilidades, uma valeta de proibições. Terei enlouquecido? Sim, sem dúvida. No fundo sei que a Loucura me define Como a Força define o brotar de uma flor no deserto. A contra-regra num mundo de clones, a diferença.

Indira Cohen, 11º L

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LEITURAS

O livro que escolhi para ler no âmbito

do contrato de leitura do 3º Período tem como título

As Naus

e é da autoria de António Lobo Antunes.

António Lobo Antunes é um dos maiores escritores de litera-tura portuguesa do século XX, sendo a sua obra também muito apreciada no estrangeiro. Nas-ceu em 1942, em Lisboa, e tem agora 70 anos. Tendo-se especia-lizado em Psiquiatria, foi envia-do para África durante a guerra do ultramar, onde desempenhou a função de tenente-médico. Viveu o período Salazarista, o 25 de Abril e o retorno dos portu-gueses de África, aspetos que muito influenciaram a sua obra. Recebeu vários prémios, tais como o Prémio Jerusalém (2005) e o Prémio Camões (2007), e entre as suas numerosas obras

podemos encontrar Memória de Elefante (1979), Não Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura (2000) e Que Farei Quando Tudo Arde? (2001).

O título do livro que li é peque-no, se comparado com outros deste autor, pois é constituído apenas por duas palavras: «As Naus». Porém, relaciona-se inti-mamente com a narrativa desta obra, que conta como é que diversas personagens encararam o retorno de África após a revo-lução de Abril. As personagens não deixam de ser um pouco insólitas, porque ligam o passa-do e o presente e porque, apesar de terem nomes de grandes per-sonalidades históricas (como Pedro Álvares Cabral, Vasco da Gama e Luís de Camões – sem-pre tratado por «homem de nome Luís») e de partilharem com elas algumas características, não são apresentadas como heróis míti-cos ou perfeitos. Na verdade, são personagens com vidas difíceis e com os seus problemas, estando algumas até mesmo decadentes. Este livro relaciona vários uni-

versos temporais, sendo um deles o período dos Descobrimen-tos e outro o do pós 25 de Abril (assim, As Naus é uma referên-cia directa a este primeiro perío-do).

É difícil transmitir a minha opinião sobre a obra, pois alter-nei entre momentos de aborreci-mento e momentos de diversão e entusiasmo. A atmosfera do livro é muito pesada, aspeto que me limitou um pouco, e a escrita, muito densa, torna a leitura um pouco difícil. No entanto, o livro está extremamente bem escrito, possuindo passagens muito poderosas, a par de outras muito engraçadas, todas elas envoltas num ambiente que me pareceu um pouco louco.

Com características muito pró-prias, esta obra pode afastar os leitores. Porém, aconselho a lerem este livro com um espírito aberto pois é uma experiência muito interessante, que nos põe em contacto com uma visão dife-rente, quer da História, quer do mundo que nos rodeia.

Margarida Vaz, 10ºL

Uma obra clássica, desprovida de ilusões mas apaixo-nada, que nos mostra os contornos da sociedade atual e a posição de um homem marginal aos olhos desta, afo-gada em intermináveis elogios e no título de obra-prima francesa do século XX, são características que espelham perfeitamente esta obra de

Albert Camus: O Estrangeiro

Camus nasceu na Argélia e licenciou-se em Filosofia.

Trabalhou no meio jornalístico e, em 1957, foi galar-doado com o Prémio Nobel da Literatura.

Publicado originalmente em 1942, O Estrangeiro é um dos marcos da obra do autor.

O título retrata perfeitamente a personagem princi-pal do livro – Mersault –, que refuta as regras do jogo que lhe impõem e vive contrariando as convenções

criadas acerca da sua maneira de agir, sentir e ser. Trata-se de um estrangeiro no dia-a-dia mundano e erra tropeçando, aos olhos dos outros, nos seus enga-nos.

À medida que as páginas vão passando, ficamos a compreender progressivamente esta sua bizarra maneira de ser que nos cega. Às preocupações acresci-das e à opinião da sociedade que vem com as suas con-venções. Considero, por isso mesmo, uma obra extre-mamente interessante que nos enriquece com um olhar diferente sobre o mundo, a vida e a morte.

Recomendo vivamente esta obra a quem estiver dis-posto a ser abraçado pela loucura de um ‘estrangeiro’ da nossa sociedade e a compreender a sua voluntária marginalidade.

Beatriz Raimundo, 10ºH

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SCRIPTOMANIAS

Sólidos

platónicos Nos tempos que por nós passa-ram, O desleixo tornou-se fatal. No que quer que as pessoas façam, O rigor é fundamental. A necessidade é que em nós cria Iniciativa e afinidade Com a perfeição que outrora havia; Antes até da cristandade. Falo dos gregos antigos, Iluminados p’la razão, Da sabedoria amigos, Os filósofos de então Que esmiuçaram o mundo, Dissecaram o pensamento: – D’onde é o mundo oriundo? – Foi destinado este momento? De todos os que questionavam, Um de entre esses se destacou; Já nesse tempo o aclamavam E sua palavra escrita ficou Para chegar aos nossos dias; Impressionou com seu trabalho: Obras, ideias de um messias Ou avô da ciência, grisalho. Seu nome está nos sólidos Que tudo têm de regular: Platónicos; como bólidos, Concedem um brilho estelar

À matemática, à geometria Nas quais Platão procura, Com o engenho que teria, Para a ignorância uma cura. Quisera ele deslindar O berço da matéria: Terra, fogo; água, ar. Desde a brisa etérea Ao vivo soalho, Da sublime labareda Ao húmido orvalho E à cortina de seda Do cosmos universal, Que Platão induziu ser Um dodecaedro tal Que tudo pode conter. Suas doze faces são sem igual: Platónicas, pentagonais; Fazendo enlaces, cada qual, Com suas arestas estruturais. Já o icosaedro, esse Das vinte faces trianguladas; Elaborado com interesse À imagem das águas onduladas. Platão concebeu-o Fazendo triângulos ondular E por mérito seu, De um sólido fez-se mar. O elemento aéreo, Do octaedro surgiu Sob forma de minério Ou cristal que subiu Aos sete ventos cortantes

Rasgando, os vértices, o céu. Nunca se imaginou isto antes, Platão merece um troféu. O terreno cubo é O platónico popular; Estável qual sé E de santidade similar. Seja qual for o lado Que faz a nossa perspetiva, Ver-se-á sempre o quadrado; Próprio do cubo, face cativa. Chegamos por fim à base, Ao mais simples dos platónicos, O tetraedro que quase Emana calores demónicos. O fogo é de todos O elemento mais leve! Platão e seus métodos Liquefez assim a neve. Em cinco objetos geométricos Viu um filósofo universos, De pontos de vista simétricos Ora repetitivos, ora diversos; E em versos Os desenhei, Controversos, Eu sei. Mas com a visão Globalista e panteísta Guiada p’la férrea mão Do sonho perfecionista.

Pedro Fonseca, 12º A

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PERSONAGENS FEMININAS CAMILIANAS

MARIANA

Mariana é uma das heroínas da

novela camiliana Amor de Perdi-ção. Apresentada como filha do fer-rador João da Cruz, é dona de uma invulgar beleza e de uns olhos pen-sativos e tristes, estando, porém, aos vinte e quatro anos, ainda sol-teira, por recusar todos os casamen-tos que lhe são propostos.

Caracterizada pela sua excecional sensibilidade, já conhecia Simão antes de este entrar em casa de seu pai, admirando-o pela sua bravura no episódio da fonte, episódio esse de pancadaria em que este tinha estado envolvido e a que Mariana assistira ocasionalmente. Simão estranha, desde que a conhece, as

suas lágrimas e a atenção que lhe dedica, não suspeitando ainda do seu amor por ele. Teresa, a amada

de Simão, funciona como modelo para Mariana, que a aprecia e a contempla de longe, não ousando sequer pensar em ocupar o seu lugar.

A expressividade do seu rosto é fundamental na construção desta

figura: é através do seu olhar, do seu sorriso e de certos gestos que o narrador sugere o seu amor – mar-tírio oculto – e que Simão se vai dando, pouco a pouco, conta dele. É salientada ainda a sua delicadeza moral e altivez. Mariana ama Simão e no entanto nada faz para o separar de Teresa; pelo contrário, cuida dos seus ferimentos, dá-lhe dinheiro, é cúmplice da sua paixão proibida, abandona o pai para lhe fazer companhia e o ajudar na pri-são e, finalmente, suicida-se após a sua morte. Estas atitudes feitas de abnegação, renúncia e resignação, tudo dando e nada esperando em troca, conferem a Mariana a gran-deza moral da heroína romântica.

Heloísa Galante, 12º B

TERESA DE

ALBUQUERQUE

Em Amor de Perdição, Teresa de Albuquerque é uma personagem corajosa e obstinada, pois prefere morrer a ceder a um casamento imposto pelo pai.

Teresa é brevemente descrita como sendo uma “…menina de quinze anos, rica herdeira, regular-mente bonita...”, “… pálida…” e “… muito branca, alva como leite”, que se apaixona loucamente por Simão Botelho. No início, a personagem tenta, apelando ao seu amor filial, que seu pai a não enclausure num convento: “Teresa respondeu, cho-rando, que entraria num convento, se essa era a vontade de seu pai: porém, que se não privasse ele de a ter em sua companhia, nem a pri-vasse a ela dos seus afetos [...]. Pro-meteu-lhe julgar-se morta para todos os homens, menos para seu pai”. Ao longo da obra, continua inabalavelmente a resistir-lhe mes-mo quando este quer que ela case com seu primo Baltasar, para a afastar da família Botelho que ele

odeia. Porém, de igual modo, a família Botelho também não gosta-va dos Albuquerques. Face a este impasse, a única maneira de comu-nicação entre os dois amados é atra-vés de cartas. Ao contrário de Simão, Teresa não age mas reage, comportamento típico da mulher romântica que tinha que obedecer. Pela sua condição, Teresa demons-tra a sua fragilidade quando, por exemplo, o pai a obriga a ir para um convento e ela não o consegue impe-dir. Contudo, Teresa também é valente pois opõe-se às determina-ções que a família lhe impunha na defesa dos seus sentimentos. É o amor que faz com que ela prefira viver enclausurada e até morrer a sujeitar-se a um casamento forçado. Quando a sua resistência contra os interesses familiares e sociais come-ça a perder força, a união do casal só é possível por uma via: a morte. É esta a única solução que lhes res-ta, pois o amor na terra é impossí-vel. Num diálogo entre Tadeu e a sua filha, esta diz-lhe que prefere morrer ao pé do seu amado: "…A minha glória neste longo martírio seria uma forca levantada ao lado

da do assassi-no…".

Quando o sofrimento dos aman-tes atinge o clímax, Teresa che-ga até a desejar a morte de seu pai, pois só assim haveria esperança para que o casal vivesse feliz: “…Em dez anos terá morrido meu pai e eu serei tua esposa…”. Nesta passagem percebe-mos que Teresa, embora se afaste do idealismo romântico, tem o seu destino traçado e acaba por morrer no convento.

Teresa nunca desistiu de amar Simão, sujeitou-se a todas as conse-quências que o caminho que esco-lhera lhe trouxe, sendo por isso con-siderada uma heroína romântica que age por amor e morre por causa dele.

Leonor Matias, 12º B

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Sofka

Sangue Impuro, Borislav Stankovic

Sofka é a personagem principal do romance “Sangue Impuro”, escrito por Borislav Stankovic, que foi um dos prin-cipais representantes do realismo, na literatura, na Sérvia, no início do século 20. A ação do romance, que se passa durante a transição do feudalismo para o capitalismo no sul da Sérvia, foi cons-truída em torno da vida de Sofka, como a última representante do antigo siste-ma social. Ela é uma das personagens femininas mais complexas e impressio-nantes de toda a literatura sérvia.

Sofka era uma menina de grande beleza. Tinha os cabelos pretos, longos e fartos. A pele dela era branca pérola. Tinha a testa alta, os olhos grandes e escuros, os lábios finos, vermelhos, sem-pre molhados e apaixonados. Com um corpo deslumbrante, considera-se o ideal de beleza e sensualidade femini-nas. Na sua beleza ela viu a sua segu-rança, defesa e liberdade. Para os outros, essa beleza provocava respeito,

admiração e medo. Era muito atraente, mas também muito perigosa para os homens. Penetrante, observava os homens sem vergonha, com as boche-chas rosadas e de sangue quente que fluía nas suas veias. Sofka tinha uma postura aristocrática e foi educada a pensar que ela estava acima de todos. Queria estar em todas as situações, como única e irrepetível.

Ela cresceu com a mãe enquanto o pai, raramente, aparecia. Tinha os mais belos vestidos e nunca sentiu ou soube como a sua família tinha empobrecido. Como qualquer menina, sonhava com um homem jovem, o seu futuro marido, nobre e com um casamento de amor. Sonhava a sensualidade, o amor, a obsessão, o poder de Eros que preen-cheu todo o seu ser. Mas, por causa de problemas financeiros, ela casou com Tomco, que era um menino de 12 anos, o único filho de uma família de campo-neses ricos. Os sonhos foram destruídos num só momento. No entanto, concor-dou com o casamento, sacrificando-se para salvar a sua família e, por amor e respeito pelo seu pai. A vida continuava a correr cada vez pior. Estoicamente, em silêncio, e sem um lamento de resis-

tência ou de oposição, ela sofria, profun-damente, a humilhação, e a sua destrui-ção física e psicológica. Para fugir da realidade passava a vida a beber. Ren-deu-se ao seu sangue impuro. O seu corpo oferecia-o aos servos. Os seus filhos nasceram, um doente e o outro morreu. A salvação não existia mais, ou uma maneira de sair dessa situação dolorosa. Ela sentia apenas apatia, indi-ferença e falta de interesse por tudo. Da extraordinária beleza que teve, tornou-se numa criatura desfeita pelo álcool.

A personagem Sofka é a história de uma vida jovem, que mesmo antes do seu início de esplendor, chegou ao fim. As suas características, além da extraordinária beleza, eram a generosi-dade, a consideração, o autossacrifício e o estoicismo. Infelizmente, foi impiedo-samente destruída como mulher, como mãe, como pessoa. No final, vimos Sof-ka, que sofreu uma forte dor de cabeça, sentada ao lado da lareira apagada. Ela tocou as cinzas, e com isso, descreveu simbolicamente a sua força apagada, a sua beleza perdida e a sua vida que parecia como se já estivesse extinta.

Aleksandar Mijailovic

Hester Prynne

A Letra Escarlate, Nathaniel Hawthorne

A história passa-se no

século XVII, quando Hester Prynne veio de Inglaterra para Massachusetts.

O marido, que era médico, veio depois dela. Ela conhe-ceu o reverendo da aldeia, Arthur Dimmesdale, e apai-xonaram-se. Eles tentaram não assumir uma relação por ela ser casada, no entanto, chegou a notícia de que o bar-co que trazia o seu marido foi atacado por índios e ninguém sobreviveu, nenhum dos cor-pos foi encontrado.

Hester achou que as suas preces tinham sido ouvidas e, sendo assim, já podia ter uma relação com Arthur. Ele disse-lhe que ainda não o podiam

fazer publicamente, só ao fim de 7 anos, pois o corpo do marido dela não tinha sido encontrado. Entretanto ela engravidou e foi julgada por adultério. Ela nunca revelou a identidade do pai da crian-ça, apesar de ser pressionada pelas autoridades e por Arthur. Foi presa até dar à luz e as autoridades decidi-ram libertá-la, mas foi obri-gada a usar a letra A em cor escarlate bordada nas suas roupas. Este era o símbolo do seu adultério para que todas as pessoas vissem e se lem-brassem do seu pecado.

No entanto, o marido dela, Roger Prynne, apare-ceu. Ele foi capturado vivo pelos índios e estes mantive-ram-no vivo por ser médico. Ele conviveu com eles, apren-deu a falar a sua língua e as suas maneiras, mas começou a sentir-se estranho e os

índios deixaram-no partir. Ao descobrir o que aconteceu a Hester ele estava determina-do a matar o homem que o traiu. Tentou que Hester lhe dissesse o nome do homem, mas em vão. Por isso, ele ficou na aldeia como médico mas com outra identidade, dizendo que vinha da Virgí-nia, com o objetivo de conhe-cer o amante da sua mulher.

Fez tudo para saber, inda-gou as pessoas que estavam próximas de Hester, insinuou que a parteira de Hester era uma bruxa, e até matou a escrava Mituba. Enfim, final-mente, descobriu que o pai era Arthur. Planeou matá-lo, mas enganou-se e matou um outro homem, ao descobrir que falhou, suicidou-se.

No dia do enforcamento de Hester e das outras mulheres por bruxaria, Arthur chegou e revelou à

aldeia que ele era o pai da menina. Ele disse que não havia bruxaria na cidade e seria ele que deveria ser enforcado e exigiu que as mulheres fossem libertadas. Mas os índios atacaram a cidade, libertaram os outros índios escravos na cidade e mataram muita gente. Arthur, Hester e a filha sobreviveram ao ataque e mudaram-se para a Carolina. Aí, eles encontraram a felici-dade que lhes fora negada por muito tempo.

Hester Prynne é o símbolo de uma mulher corajosa e liberal. Ela não tinha medo de falar. Ela estava disposta a morrer por Arthur e pela sua amiga parteira que foi acusada de bruxaria. A sua relação com Arthur foi um amor puro.

Rosalie Pulma

LER PARA VIVER orquídea lírio camélia madressilva em flor

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LER PARA VIVER orquídea lírio camélia madressilva em flor

Anna Karenina

Anna Karenina, Lev Tolstoi

«Há tantos tipos de amor quanto há corações», disse-nos Tolstoi e o seu romance retrata-o em cada por-menor vivo. Anna Karenina enquan-to obra é uma exaltação do conceito de amor, colocando a heroína numa galeria de tantos tipos de amor quantos os corações dos homens que ama, começando no amor maternal pelo filho, passando pelo amor con-tratual com Aleksei Karenin, culmi-nando, por fim, no amor carnal e sexualizado que sente por Vronski. Mas, afinal, o que arrasta a protago-nista bipolarizada da dama angus-tiada e indefesa para a mulher trai-dora e egoísta? Para uma resposta simples e direta, teremos de assumir que Vronski é o principal catalisador das suas ações, que como um íman a atrai fluida e quase irresponsavel-mente para um fim trágico e previsí-vel, retirando-a da sua estável e aco-modada situação, tanto social como marital (se é que podemos destrinçar estas duas). Anna experiencia com Vronski um amor bastante distinto daquele que partilhava com Aleksei Aleksándróvitch, sendo que o senti-mento entre ela e o jovem militar cresce de forma carnal, quase obses-siva, e os ciúmes tão avidamente criticados por Karenin na sua rela-ção com a esposa estão presentes. Karenina é a típica mulher aristo-crata russa que, possuidora de um espírito livre, acaba por raiar a heroína feminista que embora desa-creditada se atreve a enfrentar a alta sociedade de São Petersburgo sem se exilar após ter tomado a mais difícil decisão da sua vida, apostando a honra e tudo quanto lhe pertence até ao limite da sua sanidade men-tal.

Analisando a fundo a personagem que dá título à magnum opus de Tolstoi (não descurando Guerra e Paz) temos de aceitar que Nabokov, no prefácio que escreve para a obra em 1877, terá a sua razão ao apon-tar que «Anna não é apenas uma mulher, não é apenas um esplêndido espécime de mulher, Anna é uma mulher de uma natureza moral com-pleta, densa e importante: tudo no seu caráter é significativo e notável, e isto também se aplica ao seu amor» e é, talvez por isto, que tanto se dis-tancia de outras personagens que lhe são automaticamente relacioná-veis: Anna não é Emma Bovary, nem poderia ser Catherine Earnshaw, ou Marguerite Gautier, porque todas elas possuem uma causa, causas inadiáveis que podemos julgar da maneira que quisermos mas que nunca poderemos, de facto, enten-der. Se Bovary se arrasta, sôfrega, pelas camas dos amantes, se Mar-guerite quase se priva de amar e se Catherine se deixa levar pelas con-veniências por amor, Anna, por sua vez, não se limita de modo nenhum, atrever-me-ia a catalogá-la como vítima do idílio, mas a sua irreverên-cia não mo permite. No crepúsculo de um Império, Anna oferece a um homem não muito sério, não muito dotado mas elegante, toda a sua vida, concretizando enfim o sonho de Emma Bovary de fugir. O que a dis-tingue é a violência do seu amor que não lhe permite mascará-lo, o que a distingue é a sua real vontade de enfrentar as consequências totais de amar Vronski (a inovação de Tolstoi vem, neste caso a calhar, dado que o romance é vinte anos posterior ao de Flaubert). No entanto, sendo Tolstoi um adepto de passar uma moral através da história, é exaustivo pro-curar uma lição nesta obra… será que o tão insurreto Tolstoi nos tenta incutir a ideia de que o adúltero não poderá nunca escapar a um fatal destino? Ao lermos a história enten-demos que se Anna permanecesse

com Karenin e resguardasse o seu affair não pagaria um preço tão alto como pagou. Assim sendo, podemos concluir que não era aqui que Tolstoi queria que chegássemos: Anna Arka-diévna poderia ter evitado este con-fronto voraz com as convenções sociais. O que levou o amor dela e de Vronski à ruína, afinal? Se tantas outras damas da sociedade manti-nham os seus casos “encobertos” de maneira desabrida? Para termos a resposta, basta olharmos para o casal em dicotomia constante com este: Lévin e Kiti. Enquanto Anna e Vronski possuem um amor com bases carnais, Lévin e Kiti possuem um amor que se abstrai bastante do físico e que se mantém através dos momentos mais difíceis. É o amor unicamente carnal que dá os pés de barro ao colosso que Anna e Vronski construíram, é essa característica que o torna egoísta e destrutivo.

Se a sociedade não tinha o direito de julgar Anna, Vronski não tinha o direito de a subjugar implacavel-mente às suas vontades, arrastando-a consigo (não como se ela não o qui-sesse, mas recordando-a eficazmente de que ela mesma o queria). Por fim, talvez a alma de Anna saia lavada: já que Vronski continua a pertencer à sociedade, por ser homem e não possuir as mesmas limitações de movimentos, já que o jovem oficial não se privou de uma vida inteira, assim como Anna fez, a protagonista priva Vronski da sua vida com ela colocando um ponto final em si mes-ma.

Assim que, só podemos dizer que «todas as famílias felizes se parecem umas com as outras, cada família infeliz é infeliz à sua maneira» e é por isso que Anna Karenina é uma obra única e artisticamente diversa, levando-nos através da sociedade russa da época até uma lição moral que pode ser transversal a quantas gerações a acharem legítima.

Maria João Pica

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Confluências

Catherine Earnshaw

O Monte dos Vendavais, Emily Brontë

Catherine Earnshaw é a personagem feminina mais

complexa da obra O Monte dos Vendavais e caracteriza-se por viver no limite entre a normalidade e a loucura.

De temperamento explosivo, repleta de delírios, Catherine, ou Cathy, divide-se entre o amor e o dinhei-ro, mas por ser amável e sensível, ríspida e desabrida, pode ser considerada uma personagem paradoxal. O tema central desta obra é, sem dúvida, o amor entre Catherine e Heathcliff, que nasce de uma amizade ino-cente entre dois jovens e que cresce de uma forma tão intensa que se torna possessivo, obsessivo, violento, perseguindo uma sede de vingança interminável.

Cathy acaba por viver infeliz, optando pelo dinheiro e casando assim com Linton, apesar de amar incondicio-nalmente Heathcliff, condenando-se a si própria e a ele à infelicidade terrena. Veja-se, a este propósito, o que diz Catherine a Nelly : «[…] não compreendes que se eu e o Heathcliff nos casarmos seremos uns pelintras? Ao passo que, unindo-me ao Linton, poderei ajudar o outro a elevar-se e salvá-lo das garras do meu irmão.»; «sejam como forem as nossas almas, a minha e a dele são uma só. […] Eu sou Heathcliff!».

Assim, Catherine leva-nos a pensar nas consequên-cias das nossas decisões e na importância do amor na nossa vida, pois a sua ausência não só nos destrói, como destrói todos os que nos rodeiam, deixando uma profunda tristeza e solidão.

Beatriz Rocha e Joana Coelho

Emma Bovary

Madame Bovary, Gustave

Flaubert

O realismo atinge o seu auge na Europa com os romances de Flau-bert. Segundo este, a arte deveria ser independente da moral e repre-sentar a realidade exatamente como ela é, tal e qual uma fotografia, denunciando os vícios e defeitos da sociedade. Para isso, defendia que o autor teria de ser o mais imparcial possível, deixando de fazer juízos morais acerca do que relata e dei-xando essa tarefa para o leitor. O autor não deveria intervir em nada na obra, a não ser na tentativa de representar o mais fielmente possí-vel os factos e a realidade.

Foi segundo estas noções que Flaubert escreveu Madame Bovary. Para tal, escolheu para personagem principal do romance Emma, uma adúltera, o que originou um escân-dalo e levou à instauração de um processo por atentado à moral e aos bons costumes, em 1857, um ano após a obra ter sido publicada na Revue de Paris, ainda que não na sua versão integral.

A personagem principal é, por-

tanto, Emma. Durante a sua juven-tude, em pleno século XIX, esta fre-quenta os estudos num convento, onde lê, às escondidas, todos os grandes romances românticos. É a partir da Literatura, através desses livros, que a personagem vai cons-truindo um ideal de amor que consi-dera ser o único verdadeiro e que procurará seguir o resto da vida, sem se questionar sequer da possi-bilidade da sua existência. Fará, por isso, tudo para viver um desses grandes amores, talvez utópicos.

Depois de casada com Charles, médico, Emma, ao contrário do que espera, não vê o seu ideal de paixão satisfeito, pois sente que, durante a monotonia dos seus dias, não está a viver o mesmo que as heroínas dos livros, que sonha ser. A perceção da realidade traz-lhe um enorme desespero e frustração, levando-a a repudiar o marido por este não se assemelhar em nada às persona-gens masculinas das narrativas. Emma altera os seus hábitos, o seu vestuário e a decoração da casa para tentar aproximar-se o mais possível do seu ideal, porém conti-nua a sentir sempre uma espécie de vazio, uma inquietação permanente que percorre toda a obra. A sogra, numa das suas visitas a casa do

filho, escandaliza-se com as manei-ras da nora, que considera serem o resultado de todas as suas leituras, e diz-lhe, como que numa espécie de presságio, que «Quem se ocupa des-sas coisas não vai longe (…), e quem não tem religião acaba sempre por levar má volta.».

Essa busca incessante por uma noção de amor imposta pela Litera-tura parece apaziguar-se quando Emma arranja um amante, mas, na realidade, está apaixonada apenas por uma imagem inexistente de si mesma, que a todo o custo tenta transparecer. Um dos maiores momentos de frustração, desespero e inquietação de Emma dá-se quan-do ambos rompem a sua ligação, por o amante considerar impossível o que lhe prometera.

A insatisfação permanente e a dificuldade em lidar com a realida-de levam Emma a tomar certas ati-tudes que influenciarão decisiva-mente o seu destino.

Sempre dentro dos pensamentos de Emma, o leitor é levado a sentir as agonias e o desespero, cujo auge se dá no final da obra, duma perso-nagem que, sem saber, também se tornou numa heroína da Literatura.

Catarina Letria

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Confluências

Alba

Mecanoscrit del segon origen, Manuel de Pedrolo

Alba é a principal protagonista desta novela de

ficção científica, uma rapariga de 14 anos forçada a crescer e a tornar-se adulta, numa idade muito precoce, obrigada pelas estranhas circunstâncias que envolvem esta aventura pós-apocalíptica. Uma manhã qualquer a Terra é atacada por uns extraterrestres, ficando Alba e Didac como alguns dos poucos sobreviventes. Ela converte-se na única mulher conhecida e responsável pelos cuidados do seu novo amigo de 9 anos. Ao longo da novela é Alba quem toma as principais decisões. A primeira é sair do ambiente rural a caminho da grande cidade de Barcelona, para assim tentar encontrar mais sobreviventes. Sem sorte, decidem sair da cidade e cultivar a terra para sobreviver algum tempo. Depois disto, e já sem medo algum, Alba propõe a Didac apanhar uma pequena embarcação e viajarem rumo ao norte, até

chegarem a Itália e depois às ilhas gregas. É extremamente corajosa, facto demonstrado pelos confrontos com as poucas pessoas que encontram na sua viagem, as quais têm sempre atitudes negativas para com eles.

Podemos qualificar a protagonista como uma pessoa otimista, mesmo tendo pela frente um ambiente plenamente hostil e triste. Apresenta uma forte sinceridade e honestidade para com o seu pequeno amigo, conversando com ele sobre religião, cultura e até sexualidade. Este último, passa a ser um tema recorrente depois de tomarem consciência que têm pela frente a difícil tarefa de formar uma família.

A novela e a sua protagonista tratam dos valores essenciais da nossa sociedade, tais como a solidariedade, a amizade e o amor. Alba é também um exemplo de liberdade relativamente às circunstâncias, e uma referência e forte defensora da necessidade de manter os valores culturais e os conhecimentos da humanidade.

Víctor Rovira

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Natasha Rostova

Guerra e Paz, Lev Tolstoi

Natasha Rostova é a personagem feminina central do romance Guerra e Paz de Tolstoi, que é, talvez, o mais amado autor russo. Tolstoi dá-nos a evolução desta personagem durante quinze anos da sua vida e nas 1.500 páginas do romance.

O autor descreve Natasha como a imagem ideal da mulher e apresenta o seu ponto de vista sobre o papel das mulheres na família.

Pela primeira vez, Natasha aparece no romance como uma menina animada e alegre de treze anos, extraordinariamente direta e com capacidade de sentir o humor dos outros. Nesta fase ela é o «patinho feio», ponto importante para se transformar num «cisne».

Natasha é apresentada como uma mulher pouco inteligente, contudo os leitores adoraram-na. Natasha é capaz de ajudar as pessoas, inspirá-las, torná-las melhores e mais gentis. Tem um carácter que pode mudar, mas no geral ela representa simplicidade, transparência e afetividade. A heroína tem a capacidade de sentir o bem e o mal no coração. Ela vive de acordo com os sentimentos do seu coração que não permitem, às vezes, agir logicamente. Todas as ações que ela faz e as opções que toma são ditadas pelo coração e não pela mente.

No epílogo, o autor mostra a verdadeira felicidade feminina de acordo com as suas ideias. «Natasha casou-se no início da primavera de 1813, e em 1820, ela já tinha três filhas e um filho a quem ela amava…» Tolstoi descreve-a como «forte bela e fértil mulher». Todos os pensamentos de Natasha são sobre o marido e a família e com este estilo de vida, ela não parece primitiva ou ingénua, nem aos heróis, nem ao autor. Para eles a família é sacrifício mútuo e voluntário. Natasha simplesmente ama e é amada. E isso para ela é o único, o verdadeiro e o motivo mais positivo da essência da vida.

Irina Marusina

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Confluências

Jo

Mulherzinhas, Louisa May Alcott

Josephine March, ou Jo, como prefere ser chamada, é a

segunda de quatro irmãs (Meg é a irmã mais velha e Beth e Amy são as mais novas). Tem quinze anos, é alta, magra e morena e possui um belo e forte cabelo castanho, que é para ela um orgulho. De boca decidida, engraçado nariz e olhos cinzentos que tudo observam, é um pouco trapalhona e, por vezes, também um pouco brusca. Com modos considerados arrapazados, não gosta de se comportar como uma senhora, adorando jogos, brincadeiras e aventuras de rapazes. Apesar

de ser muito temperamental e de ter um grande mau génio, difícil de controlar, esforça-se por vencer os seus defeitos e possui grandes qualidades. É muito enérgica e justa, extrover-tida, divertida e de espírito vivo e alegre, com uma personali-dade muito forte. Jo é também generosa, muito corajosa e genuína. Adora cavalos e actividades ao ar livre, também gos-tando imenso de ler e de escrever os seus próprios contos e romances. O seu sonho é ter um grande estábulo, uma biblio-teca muito completa e de fazer algo de especial que a torne inesquecível, como escrever um livro muito bom. Jo é muito especial porque, apesar dos seus defeitos, é uma excelente pessoa, muito interessante, sincera e amável e pouco preocu-pada com a opinião dos outros, sendo ela própria.

Margarida Vaz

Lady Macbeth

Macbeth, William Shakespeare

Lady Macbeth é uma das personagens femininas mais aterrado-ras e, por essa mesma razão, mais famosas de Shakespeare. Sedenta de poder e influência, é a esposa do general escocês Macbeth.

A partir do momento em que recebe o rei da Escócia, decide que este não sairá vivo do seu castelo, congeminando, em conjunto com o seu marido, o homicídio. E, a partir daí, a ambição de ocupar o lugar da sua vítima na hierarquia da corte medieval vai-se, gradualmente, refletindo numa inflamação da sua implacabilidade e da sua impie-dade. Assim, Lady Macbeth legitima os seus atos através do chama-mento de espíritos malignos, os quais anuem às suas frias aspira-ções. Lady Macbeth usa os seus dotes femininos de manipulação para coagir o marido a cometer o crime, pelo que, quando o vê hesi-tar, põe em causa a sua masculinidade, e o amor e a devoção por ela.

A astúcia e a meticulosa atenção ao detalhe, características que manifesta ao longo da peça, são ímpares. Veja-se, por exemplo, que, consequentemente à consumação do assassinato, Lady Macbeth

volta à cena do crime com o propósito de incriminar terceiros. Porém, na mesma medida em que a sua ambição sem escrúpulos a consome pungentemente antes da execução, também o fardo da cul-pa se perpetua num eco infinito de sofrimento, começando a sofrer de insónias e terrores noturnos. Não obstante, consegue manter a compostura de dama da corte e a sanidade durante o dia, o que con-trasta com o nervosismo do marido. Contudo, a consciência de Lady Macbeth fervilha, tornando-se num peso demasiado difícil de carre-gar, dando origem a um novo comportamento: o sonambulismo. A partir deste momento, uma espiral conduz a personagem ao seu declínio, em direção à loucura e a uma demência que se torna evi-dente, culminando num final trágico.

É através de personagens como Lady Macbeth que Shakespeare pretende subrepticiamente dizer que as mulheres podem ser tão ambiciosas e cruéis como os homens. São apenas os constrangimen-tos sociais, próprios desta época, que lhes negam a perseguição das suas aspirações por conta própria.

«Look like the innocent flower, but be the serpent under’t»

Inês Felizardo

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Brett Ashley

O Sol Nasce Sempre (Fiesta), Ernest Hemingway

The Sun Also Rises (Fiesta), cujo autor vivenciou as décadas após a primeira guerra mundial, passa-se precisamente nessa época. São características desta obra a profundidade e a simplicidade, tocando o leitor de uma maneira discreta e real. A história inicia-se em Paris, cidade que, nos anos vinte, se celebrizara graças ao estilo de vida incansável dos seus cafés, que alimentavam os artistas e os intelectuais da época que, na euforia própria da altura, procuravam preencher o vazio que o rasto da guerra tinha deixado nas suas vidas. Mais tarde, ao longo da história, essa procura por parte das personagens principais continua nas chamadas “fiestas” de Espanha.

Lady Brett Ashley, uma das duas personagens principais da história, é uma mulher irreverente, forte e muito bonita, na casa dos trinta anos. Vive numa exaltação que é pontuada por repentinas mudanças de humor. A descrição de Brett é muito vaga, permitindo ao leitor imaginá-la como bem entender, apenas influenciado pela sequência de ações e diálogos ao longo da narrativa. Alvo de muita admiração por parte dos homens, o seu coração pertence apenas a Jacob Barnes, mais conhecido por Jake, um americano que foi ferido na guerra e que está perdidamente apaixonado por ela, mas a concretização do seu amor é impossível. Esta é quase que a única informação que está explíci-ta na narrativa acerca deste casal. Apesar do amor impossível e da mágoa presente em ambos, as personagens vivem as suas vidas numa certa rotina de conformismo e aceitação, não esquecendo a euforia própria dos anos vinte. Com o decorrer da leitura, o leitor descobre que a sua relação atinge um nível de profundidade tocante, mas ao mesmo tempo é algo carnal e humano, contrariando as tragédias associadas, na literatura, ao amor proibido, inquietante e apaixonado.

Devido a este amor impossível, Brett torna-se uma mulher instável e a sua maneira de lidar com a situação é estar continuamente a envolver-se com outros homens. Apesar de, no início, esta atitude não coincidir com o amor que ela demonstra sentir por Jake, ao longo da leitura as suas ações apenas a definem e moldam como uma mulher normal, humana e vulnerável, com a qual o leitor se pode relacionar.

Lady Brett demonstra, ao longo da história, ser muito carinhosa e sensível, contrastando com a sua personalidade juvenil e rebelde. Apesar das mágoas, é uma amante da vida e da felicidade, procura vive-la ao máximo.

Inês Pereira Lopes

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Confluências

UMA AVENTURA EMOCIONANTE

Aluna da Escola Secundária de Camões

Rebeca Amorim Csalog

lança

A obra, com a chancela da Editorial Planeta, foi apre-sentada na Biblioteca Municipal do Palácio Galveias

(Campo Pequeno), no dia 10 de maio. A apresentação esteve a cargo de Eurico Car-rapatoso.

GLYRMANDIA

Autora

Filha de músicos, Rebeca Amorim Csalog nasceu em 14 de janeiro de 1996, em Lisboa, onde vive. Começou a estudar violino aos três anos. Aos seis, entrou no Conservatório, onde escolheu como ins-trumento principal a har-pa, e o violino como ins-trumento secundário. Como harpista, ganhou já prémios internacionais e atuou com músicos con-ceituados, incluindo a gravação de concertos para a Antena 2.

Frequenta também aulas de canto no Coro Especial do Conservatório e é membro do Coro Infantil da Universidade de Lisboa, com o qual já fez inúmeros concertos por todo o país e no estrangeiro. Neste momento está no 5º ano do cur-so básico de Harpa, no 6º ano de Formação Musi-cal, no 5º ano de Coro e no 5º ano de Orquestra, na Escola de Música do Conservatório Nacional de Lisboa.

Paralelamente a toda esta música, anda no ensi-no secundário, gosta de ler, desenhar, andar a cavalo, estar com os amigos e escrever – herança do avô, famoso escritor húngaro, quem sabe?

Livro Daniel tem 13 anos e, embora esteja habituado a

viajar bastante, vai pela primeira vez à Índia com os pais e a irmã, visitar a avó que aí vive. Mas, a meio da viagem, o comboio é atacado por rebeldes

e Daniel dá por si sozinho, perdido no meio da selva indiana. A partir daqui, uma aventura era inevitável, mas Daniel nunca poderia sequer ter sonhado que tomasse as proporções que tomou: que o levasse a conhecer o mundo paralelo de Glyrmandia e os companheiros que, tal como ele, foram recrutados para uma missão tão cheia de perigos como de maravi-lhas. Uma Criança, sábia e todo-poderosa, reina em Vissok Melleteton e precisa de segurança para poder crescer e manter assim o equilíbrio entre os mundos. Conseguirão Daniel, Kyra, Peter, Ayana, Tião, Shao Ling e Claire sal-

var Glyrmandia – e salvarem-se a si próprios – dos planos do infeliz e maléfico Raikzar? E conse-guirão voltar para as suas famílias, ou mergulha-rão para sempre no negrume que ameaça a lumi-nosa Glyrmandia e, por arrasto, o nosso mundo?

Tudo depende deles, e terão de o fazer em con-junto!

(in página da Editorial PLANETA)

NOVIDADE

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Confluências

Álvaro Cunhal - duas exposições

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Confluências

Apontamentos

O Rei da Helíria

O texto dramático "Leandro, Rei da Helíria", de Alice Vieira, escrito em 1991 para o Teatro Experimental de Cascais, surge, neste fim de semana, transforma-do num novo texto cénico, em que o rei cede o lugar à rainha Leandra por ação do Grupo de Teatro da Escola Secundária de Camões, dirigido por Maria Clara.

A transformação terá causas diversas, talvez sobre-postas: a) entre 1991-2013, as mulheres lutam pelo poder em condições de igualdade com os homens; a educação dos filhos (e dos alunos) continua, em grande parte, em mãos femininas; c) as mulheres, em contexto escolar, manifestam mais apetência pelas artes da representação; o impacto da atual realidade revela os mecanismos narcisistas, trazendo à luz a crueldade da condição humana, mesmo quando nos esforçamos por ignorá-los.

Ao contrário da maioria das histórias tradicionais, O Rei da Helíria não assegura a continuidade do seu rei-no, e irá "morrer" num palco que, apenas serve para expor os seus erros como educador. De nada serve cul-par a desumanidade das filhas. Elas são a expressão da cegueira paterna/materna. Só a assunção da ceguei-ra permite ver o quanto iludidos vamos vivendo.

No palco, todos se movimentaram a contento, uns com maior desenvoltura, outros de forma mais inibida. Para além da consagrada Graça Gomes (uma atriz cada vez mais versátil!), há que seguir com atenção os novos atores (Daniela Lopes, João Silva, Rita Júlio, Teresa Schiappa, João Figueira, Clara Mendes, Marta Fernandes). A cenografia de Mário Rita cativa pelo seu simbolismo e pelo modo como regula os espaços. Adere-ços, figurinos, som, luzes harmonizam e dão força às palavras...

(Se não me pronuncio sobre outros atores que partici-pam na construção desta peça é porque só hoje assisti ao espetáculo. Resta-me dar os parabéns a todos, sem

esquecer a presença e as corteses palavras de Alice Vieira.)

Manuel Cabeleira Gomes, in Blogue Caruma, 11/05/2013

Jazz no Auditório Camões 22 de maio, 19 horas.

Diário poético

10 de Abril

Escrevo no ar Respiro no papel Tu E uso palavras poucas Ideias ocas Escondo tudo no meu olhar

11 de Abril

Com minhas mãos esboço tua boca Traço a traço Não esqueço o pormenor

Controlo-me E sorris

Desenhei em ti a felicidade.

15 de Abril

Fruto proibido Não me apeteces Nunca te quis Inesperado Agora anseio Mas não imploro Fica.

Manon Abrantes, 12º G

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Confluências

Apontamentos

A rematar o ano letivo, uma expressiva exposição de sólidos

no átrio da Biblioteca.

À poesia dos poliedros, junta-ram-se os versos de Pedro Fon-

seca (v. pág. 5).

Uma con-jugação

feliz!

Joaquim Paulo Nogueira (doutorando, investigador, dramaturgo e encenador) esteve dia 28 de maio (das 10h00 às 11h30) na Biblioteca da escola para, a convite do prof. António Souto, abordar alguns aspe-tos do texto dramático (do texto à representação), tendo como ponto de

partida Felizmente, Há Luar! (de Luís de Sttau Monteiro).

Participaram no Encontro os alunos das turma G e I do 12º ano.

Projeto Gulbenkian / BECRE Do tempo perdido ao tempo recuperado

Clube Ler Para Viver

8 de maio, 17h00, Biblioteca

Orquídea Lírio, Camélia, Madressilva em flor

Hoje, o Clube Ler para Viver e o Museu da Escola Secundária de Camões apre-

sentaram na Biblioteca Central uma encenação feliz. A Biologia, a Literatura, a Música e a Expressão Visual aliaram-se e criaram um espaço dinâmico, onde os jovens leitores representaram 4 personagens femininas à procura de uma identi-dade que, no entanto, soçobra num universo predominantemente masculino. Nas palavras encenadas sentiu-se, bastas vezes, a vingança das heroínas oito-

centistas, a alegria dos jovens intérpretes e a angústia da encenadora.

(Manuel Cabeleira Gomes, in “Encenações”, Blogue Caruma, 18/05/2013)

É preciso dedicação, perseverança, trabalho de equipa! Mas quem

disse que o esforço não compensa?

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Confluências

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Com o generoso apoio do Grupo Desportivo e Cultural do Banco de Portugal

ESCOLA SECUNDÁRIA DE CAMÕES http://www.escamoes.pt

BE/CRE http://esccamoes.blogspot.com/

Ao professor Lino das Neves, ao funcionário José Alvega e a todos quantos colaboraram com a cedência de fotos e trabalhos para este Boletim, uma palavra de agradecimento.

Uma palavra de gratidão, igualmente, ao antigo aluno camoniano Artur Antunes e aos professores Manuel Cabeleira Gomes, Maria de Lurdes Fernandes e Maria Teresa Saborida pela disponibilização de fotografias.

BR

EV

ES

A página da escola foi reformulada e apresenta agora uma nova imagem. Descobre-a e... interage!

www.escamoes.pt

Esc. Sec. C

amões, P

avilhão M

ário Moniz P

ereira

O Caso de Barbacena O Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Cató-

lica realizou, ontem [27 de maio], a apresentação da obra O Caso de Barbacena: um pároco de aldeia entre a Monarquia e a República da autoria de Margarida Sérvulo Correia.

Na perspetiva do prof. João B. Serra, esta obra deve ser classificada como um ensaio biográfico sobre a vida do Cónego João Neves Correia, mas que abre caminho a uma melhor compreensão do modo como a Igreja Católica intervinha nas questões que opunham o povo, na defesa do direito ao uso comunitá-rio do solo, aos interesses dos latifundiários que se iam apropriando das terras, condenando a população à fome ou à emigração.

Desde já agradeço à professora, investigadora e amiga Margarida Sérvulo Correia o convite que me fez para estar presente na apre-sentação da sua nova obra, convencido que, em tempo oportuno, voltarei a referir-me ao seu contributo para um melhor esclareci-mento de questões que, se bem analisadas, poderão ajudar a melhor compreender as desigualdades que ainda hoje minam a sociedade portuguesa.

Manuel C. Gomes, in “Blogue Caruma”

Um são convívio!

A breve história de uma pomba que, majestosamente, entrou, depenicou e… saiu.

A Escola Secundária de Camões

esteve presente numa atividade na Caravela Vera Cruz.

Na Revista de maio da Câmara

Municipal de Lisboa tivemos direito a uma reportagem e foto-

grafia de meia página!!!

!!! O CAMÕES sempre PRESENTE !!!

http://www.facebook.com/escolasecundariacamoes?ref=ts&fref=ts

António Alhinho

aparando a

Primavera sob as

Galerias do

Camões

Profª Josefina Calapez (Física e Química)

Aposentada a partir de 1 de junho de 2013

A Esc. Sec. de Camões dese-ja-lhe muitas felicidades!

Uma exposição de

Pedro Almeida Ribeiro, 12º F