Psicologia - Uma Mente Brilhante

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ CURSO DE SERVIÇO SOCIAL PSICOLOGIA NA SAÚDE ANÁLISE DO FILME UMA MENTE BRILHANTE SOB O OLHAR DA ESQUIZOFRENIA Cíntia Lo Bianco Ponciana Bezerra Sônia de Jesus Tamires Orestes Rio de Janeiro 09/2010

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Trabalho elaborado no mês de agosto/setembro de 2010 para a AV1 da disciplina Psicologia na Saúde.

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁCURSO DE SERVIÇO SOCIAL

PSICOLOGIA NA SAÚDE

ANÁLISE DO FILME UMA MENTE BRILHANTE SOB O OLHAR DA ESQUIZOFRENIA

Cíntia Lo BiancoPonciana Bezerra

Sônia de JesusTamires Orestes

Rio de Janeiro09/2010

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ANÁLISE DO FILME UMA MENTE BRILHANTE SOB O OLHAR DA ESQUIZOFRENIA

por Cíntia Lo Bianco, Ponciana Bezerra, Sônia de Jesus e Tamires Orestes.

Trabalho acadêmico elaborado com o objetivo de obter aprovação na AV1 da disciplina Psicologia na Saúde da Universidade Estácio de Sá.

Rio de Janeiro09/2010

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“Na realidade não é a pessoa que se expressa através da personagem, mas a personagem que parece manter viva a pessoa”.

J. Badaracco (1986)

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RESUMO

Este trabalho tem como objetivo fazer uma análise do filme Uma Mente Brilhante, associando-o aos temas abordados em sala de aula e delineando todos os aspectos pertinentes à esquizofrenia: sua definição, aspectos históricos, evolução da doença, formas clínicas e sintomas, causas e hipóteses, aspectos terapêuticos e tratamentos. O presente estudo procura explicar, de forma clara, como é a verdadeira atitude comportamental de um indivíduo esquizofrênico, qual é a sua relação com a família e amigos e desmitificar este portador para que ele não mais sofra preconceito, que possa organizar seu pensamento e voltar a viver em sociedade.

Palavras-chave: esquizofrenia, evolução, sintomas, tratamento.

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ÍNDICE

1- INTRODUÇÃO--------------------------------------------------------------------------------------6

2- ESQUIZOFRENIA – DEFINIÇÃO-------------------------------------------------------------8

3- ASPECTOS HISTÓRICOS-----------------------------------------------------------------------9

4- EVOLUÇÃO----------------------------------------------------------------------------------------11

5- FORMAS CLÍNICAS E SINTOMAS---------------------------------------------------------12

6- CAUSAS E HIPÓTESES-------------------------------------------------------------------------16

7- ASPECTOS TERAPÊUTICOS E TRATAMENTOS--------------------------------------17

8- CONCLUSÃO--------------------------------------------------------------------------------------20

9- BIBLIOGRAFIA-----------------------------------------------------------------------------------21

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1-INTRODUÇÃO

Este trabalho visa uma análise comparativa do filme Uma Mente Brilhante em relação

à esquizofrenia abordada em sala de aula. Apresentaremos ao longo do trabalho uma

perspectiva acerca do tema, explicando fatores pertinentes à evolução histórica do conceito de

saúde mental, como também a sintomatologia, suas causas, tipos e aspectos terapêuticos,

dando ênfase à esquizofrenia paranoide, tipo de psicose que a personagem John Nash

desenvolve no decorrer da vertente cinematográfica.

Iniciando esta introdução, encontra-se abaixo um detalhamento relativo aos momentos

do filme, enfatizando a doença de John Nash.

O roteiro é baseado no livro escrito por Sylvia Nasar, A Beautiful Mind. A Biography

of John F. Nash, publicado em 1998. Na película conta-se a história real de John Forbes Nash.

Relata quatro décadas de pesadelos pincelados com sonhos bons. Setembro de 1947: tudo

começa com a chegada de Nash ainda jovem, à Universidade de Princeton. Nash possuía a

mania de fazer um movimento repetitivo com a mão na cabeça. Isolando-se de tudo e de

todos, recusava sua participação nas atividades básicas da universidade, de forma que não

assistia às aulas, era sempre focado em seus cálculos matemáticos, buscando a perfeição em

tudo; era calado, tímido, sempre solitário, não convivia com os colegas, entre outros fatores.

Nash tinha como objetivo a busca por uma ideia original. O colega Charles o

incentivava a procurar a ideia original fora do limite de seu quarto. Ele chegou a ficar por dois

dias dentro da biblioteca sem se alimentar em função da busca por sua exímia tese. Foi numa

conversa de bar que Nash teve um “insight” sobre sua “Ideia Original”, uma teoria

revolucionária aplicada à economia moderna e que viria contestar os 150 anos de pesquisas e

teorias de Adam Smith, fundador da Economia.

Em sua primeira aula, verifica-se que os métodos de ensino utilizados por ele não

atingem o objetivo, pois trata os alunos com arrogância e frieza. Lecionando, Nash acabou

despertando a atenção de uma aluna, Alícia, com a qual criou um vínculo afetivo, casando-se

com ela e tendo um filho. Tudo parecia estar bem entre o casal, até que ele começou a sofrer

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perseguições de pessoas desconhecidas. Em outubro de 1954, Nash teve uma grande

alucinação que criou em sua mente a certeza de que estava sendo perseguido. Não resistiu à

pressão e deixou que a paranoia tomasse conta de si.

Ao mesmo tempo em que era professor, realizava alguns trabalhos no Pentágono,

trabalhava para o governo a decifrar códigos russos. Em questões de horas , conseguia

descobrir padrões e coordenadas importantes só de olhar para o código. Após decifrar os

códigos de algumas revistas e jornais, Nash coloca o seu trabalho num envelope, sela-o e o

deixa dentro de uma caixa de correio de uma residência, acreditando ser tudo real. Numa das

entregas desse tipo de trabalho, Nash percebe-se envolvido numa perseguição de automóvel

feita por dois desconhecidos. Ele fica muito conturbado, entra em casa sem falar nada com

sua mulher e se tranca no quarto. Com o passar do tempo, torna-se muito desequilibrado e vê

conspirações por todo lado.

A versão cinematográfica do diretor Ron Howard se afasta da versão biográfica de

Sylvia Nasar. O diretor Howard voou alto na imaginação ao inserir cenas como a de

introduzirem no braço da personagem Nash um chip de localização. O Nash verdadeiro

jamais trabalhou decifrando códigos para o Departamento de Defesa nem nunca existiu a

alucinação “agente Parcher”. Havia a preocupação de Nash sim, em decifração de códigos

para tentar descobrir alguma comunicação de extraterrestres que estariam preparando uma

invasão da Terra, mas foi uma atitude isolada de Nash sem prosseguimento.

Nash se deixou levar pelas alucinações, foi internado e levou vários choques durante

sua passagem pelo hospital psiquiátrico. Um ano após o internamento ele voltou para casa, ao

convívio de sua esposa e filho. Nash não saía de casa, costumava ficar escrevendo sozinho em

seu canto. Quando era preciso tomar regularmente seus remédios, escondia-os dentro de uma

gaveta, pois achava que os comprimidos estavam afetando sua mente brilhante. Agindo assim,

ele chegou a colocar em risco a vida de seu filho recém-nascido. Voltou a conversar com Dr.

Rosen, achando que seu amigo Charles estava também presente e conspirando contra ele. É aí

que percebe-se que Charles é a sua alucinação. Nash passou a desprezar suas alucinações para

poder se tornar uma pessoa sociável. Decidiu abolir os medicamentos e combater as

alucinações apenas com sua força de vontade, dessa forma, conseguindo ignorá-las.

Em 1994, Nash obteve o reconhecimento que acalentou durante muito tempo: o

Prêmio Nobel de Economia, por sua contribuição na Teoria dos Jogos.

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No início do filme, Nash se mostra apenas como mais um gênio em sua extravagância,

um solitário com a busca obsessiva de uma ideia original. Mesmo entre estudantes obcecados

por números, ele é um jovem estranho e isolado. A imagem do filme que fica guardada em

nossa mente é a do jovem Nash resolvendo equações na janela de seu quarto com uma

inspiração que se confunde com loucura.

Conhecedor de sua superioridade intelectual, Nash admite que é melhor conviver com

os números do que com as pessoas. O seu objetivo era criar uma teoria dinâmica que fosse

capaz de explicar todos os acontecimentos e circunstâncias, físicas ou emocionais, sejam

originadas pela natureza ou pelo homem.

Durante muitos anos, Nash lutou contra a sua doença que fez com que se imaginasse

um espião decifrador de códigos para o FBI. Esse período de sua vida é a parte principal do

filme e a brilhante atuação de Russel Crowe nos faz viver e sentir as emoções e a turbulência

psicológica da personagem.

Quando se encontra um artista com transtornos mentais os temas santidade,

genialidade e loucura se associam, pois não fazem parte da rotina, do dia-a-dia, mas da saída

para o ilimitado, de algo que não se pode mais ter controle. Como explicar um homem surdo

como Beethoven conseguir escrever seus últimos quartetos ou um homem epilético com

trantornos psíquicos como Van Gogh conseguir pintar quadros?

Essas inexplicações surgem não sabe-se de onde, mas é nesse turbilhão que se

ultrapassa as raias da locura, da média. É por esse motivo que genialidade e loucura se

misturam frequentemente, não por acaso, mas por uma quase necessidade.

John Nash está incluído nesta classificação: exemplo dramático dos dissabores da

esquizofrenia e concomitantemente, portador de uma inteligência singular.

2-ESQUIZOFRENIA – DEFINIÇÃO

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Para definir saúde é muito importante que associe essa palavra à saúde mental, pois é

parte integrante dessa definição. A Organização Mundial de Saúde – OMS explica saúde

como “um equilíbrio da personalidade considerada na sua globalidade bio-psicossocial”.

As perturbações mentais são doenças que tem por características perturbações

emocionais, cognitivas e comportamentais, na medida em que se afetam a capacidade de

pensar e se adaptar à realidade, a capacidade de desempenhar funções sociais e a capacidade

de lidar com os problemas básicos do dia a dia.

Karl Jaspers, fundador da psicopatologia como ciência independente da psiquiatria,

referia-se à esta afirmando que sua finalidade é “sentir, aprender e refletir sobre o que

realmente acontece na alma do homem”. Contudo, a psiquiatria existe devido à

psicopatologia, sua disciplina fundamental.

A palavra esquizofrenia define-se da seguinte forma: schizo significa corte, fenda,

divisão; phrênos, por sua vez, significa pensamento, mente, espírito. Em sua totalidade, a

palavra esquizofrenia significa mente dividida.

Esquizofrenia, outrora chamada de demência precoce ou psicose de dissociação,

compreende uma doença mental que se qualifica por uma vasta desorganização do

pensamento, causando muitas vezes um resultado desastroso nas relações sociais do

indivíduo.

Segundo Holmes, a esquizofrenia é caracterizada por uma “afecção mental endógena de

causa desconhecida, descrita particularmente pela dissociação da personalidade (incoerência

ideoverbal, ideias delirantes mal sistematizadas), por profundas perturbações afetivas, no sentido de

distanciamento e pela estranheza dos sentimentos”.

3-ASPECTOS HISTÓRICOS

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É essencial fazer uma breve evolução sobre o conceito de doença mental ao longo dos

anos. Através da medicina greco-romana, Hipócrates procurou inserir a razão em contraste

com o empirismo, demarcando que “a explicação para as doenças deveria ser feita através

do raciocínio e da observação”.

Empéclodes acreditava na existência de quatro elementos importantes no corpo

humano denominados humores (sangue, fleuma, bílis amarela e bílis negra). O equilíbrio do

organismo era modificado quando havia uma intensificação dos humores ou de sua qualidade,

criando assim, uma ruptura desse equilíbrio: a doença mental.

No século XII, durante a Idade Média, surgiram concepções míticas e religiosas em

que os doentes mentais eram considerados vítimas de possessão maligna e a cura era a

expulsão dos espíritos do mal através do exorcismo.

São Tomás de Aquino explica que:

“(...)a doença mental era um estado em que o homem perdia a razão, ficando fora de si (AMENS), delirante, violento e inacessível a uma relação humana (FURIOSUS)”.

Dessa maneira, perdia-se a alma espiritual e toda a sua razão, chegando ao

conhecimento de Deus.

Os chamados loucos sempre sofreram e sofrem preconceito e continuam isolados da

sociedade devido às características próprias da doença. Eles eram mantidos presos em

hospitais e “workhouses” junto com desajustados e prostitutas para que assim evitassem a

possível celeuma e mal estar na sociedade.

Com o surgimento da Revolução Francesa e de todas as ideologias de liberdade

aparecem as primeiras críticas acerca de aplicar a internação.

Philippe Pinel, com a libertação dos doentes mentais em Bicêtre, ajudou de modo

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definitivo para que as pessoas com distúrbio tivessem a possibilidade de obter assistência

médica e para que a consciência da sociedade fosse receptiva em relação ao que era a doença

mental.

4-EVOLUÇÃO

A esquizofrenia manifesta-se geralmente no final da adolescência ou no início da

idade adulta antes dos 40 anos. O decorrer da doença é sempre crônico e tende a deteriorar a

personalidade do indivíduo. Quando surgem perto da adolescência, os quadros de início

agudo têm uma prognose mais propícia à recuperação, principalmente quando a personalidade

se desenvolveu de modo satisfatório.

O surgimento da doença é mais precoce nos homens (entre os 15 e os 25 anos) e mais

tardia nas mulheres (entre os 25 e os 30 anos).

A esquizofrenia possui 3 fases: aguda, estabilização e recaída.

A fase aguda é aquela em que os sintomas próprios da esquizofrenia tem um maior

domínio. Quando o doente comparece à consulta do psiquiatra, é acompanhado por um

familiar e demonstra uma evolução evidente dos sintomas, sendo inevitável a sua internação.

Geralmente, o doente não tem consciência de sua situação, dificultando sua adesão ao

tratamento e à internação.

A fase de estabilização compreende o fato de haver um controle dos sintomas da

doença, melhorando o estado mental do indivíduo. Dessa maneira, segue-se a prevenção das

recaídas. O médico psiquiatra tem o objetivo de ir alterando a medicação quando persistem

alguns sintomas menos intensos. Essa fase pode ter um tempo indeterminado, sendo muito

importante a medicação para a prevenção das recaídas.

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O tratamento da esquizofrenia tem por finalidade o prolongamento da fase

estabilização, todavia, em algumas vezes é difícil evitar recaídas, retornando à fase mais

aguda da doença. Os sinais de recaída são os seguintes: agressividade ou medo, agitação,

ideias estranhas, discurso sem nexo, descuido da higiene pessoal ou da aparência, abuso de

álcool ou outras substâncias. Será preciso o doente fazer uma intervenção farmacológica

precoce devido a diminuição dos internamentos. Um dos principais motivos da recaída é o

cumprimento terapêutico não realizado pelo indivíduo, pelas razões de efeitos colaterais dos

medicamentos, consumo de álcool ou drogas ou relacionamento dificultoso entre o médico, a

família e o paciente.

5-FORMAS CLÍNICAS E SINTOMAS

As perturbações da esquizofrenia dividem-se em 3 categorias: sintomas negativos,

positivos e cognitivos.

1- Os sintomas negativos são: apatia, discurso escasso e embotamento afetivo.

2- Nos sintomas positivos as percepções são diferentes, tanto no pensamento quanto

no movimento: alucinações, desordens e delírios como achar que está sendo perseguido. Este

sintoma é verificado no filme no momento em que a personagem John Nash pensa que os

agentes secretos estão querendo matá-lo.

3- Os sintomas cognitivos da doença são leves e só é possível detectar através de

testes neuropsicológicos. No filme, Nash também apresenta essa característica cognitiva,

cujos sintomas são estes: capacidade de concentração em símbolos bastante sofisticados;

realização de operações mentais que seguem princípios sistemáticos; compreensão do

conceito de probabilidade; há o pensamento hipotético-dedutivo em que se permite a

formação de uma hipótese ou proposta que entre em oposição com a realidade.

Piaget descreve quatro estágios principais que conduzem a pessoa ao pensamento

desenvolvido, sendo que aqui será explorado apenas o quarto estágio, denominado operações

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formais: a partir dos onze anos de idade há a capacidade de concentração e simbolização

sofisticada.

Em 1887, duas classificações da esquizofrenia foram feitas por Emil Kraeplin. A

primeira classificação qualifica a esquizofrenia como psicoses curáveis de causa orgânica,

psicoses incuráveis de causa interna e psicoses psicogênicas (com chances de cura). A

segunda classificação, através de seu Tratado de Psiquiatria em 1893, qualifica a

esquizofrenia como hebefrenia, catatônica e paranoide.

Existem 4 tipos de esquizofrenia: paranoide, desorganizado ou hebefrênico, catatônico

e residual.

1- O tipo paranoide é a forma mais comum da doença e também a que tem uma

melhor prognose. Suas características são: ideias delirantes; persecutórias ou alucinações

auditivas. Há o predomínio dos sintomas positivos, tornando o indivíduo muito desconfiado e

às vezes, muito agressivo. O doente pode ainda apresentar uma postura superior ou de

comando. Costuma caminhar de um lado para o outro conversando com sua alucinação,

alguém que não é real. Pode também olhar para trás diversas vezes tomado por uma mania de

perseguição, achando que está sendo seguido.

A esquizofrenia paranoide é definida como um quadro clínico com predominância de

delírios estáveis, acompanhado por alucinações de variedade auditiva e perturbações de

percepção; do afeto e de volição.

2- O tipo desorganizado ou hebefrênico apresenta uma prognose mais triste. Suas

características compreendem: comportamento desorganizado; afeto inapropriado; regressão

das faculdades mentais e contato escasso com a realidade. A atitudes agressivas do indivíduo

hebefrênico podem vir de sua irritabilidade e também, algumas vezes, de suas ações

comportamentais agressivas e inadequadas.

3- Devido a ação de fármacos, o tipo catatônico é curável e portanto, não tem muita

frequência hoje em dia. Suas características são definidas por: atividade psicomotora alterada,

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podendo ir da imobilidade motora à atividade motora excessiva; flexibilidade cérea; mutismo;

negativismo extremo; estereotipias (tornar algo ou alguma situação fixa ou inalterada) e risos

sem motivo.

4- No tipo residual o diagnóstico não possui muita exatidão, pois não há um

predomínio dos sintomas positivos. A evidência se encontra no embotamento emocional,

discurso escasso e isolamento social. Este tipo de esquizofrenia pode se manter por vários

anos e geralmente é constatada em doentes com longos períodos de internação.

A esquizofrenia abrange um quadro complexo, demonstrando sinais e sintomas na área

da mente humana, percepção e emoções, causando deterioração nas relações interpessoais e

familiares. O indivíduo perde o sentido de realidade, não conseguindo fazer distinção do que é

experiência real e imaginária. Além das alterações do pensamento, há as alucinações,

principalmente as auditivas, delírios e embotamentos emocionais fazendo a pessoa

desenvolver uma disfunção social crônica, levando-a ao isolamento. Embotamento emocional

tem o sentido de a pessoa ser insensível, não possuir emoções e que, por consequência, não

consegue perceber o que realmente sente, pois a intensidade de sentimentos é praticamente

nula, não existe. Cardoso se refere à esquizofrenia como “um termo usado para designar um

grupo de doenças cuja etiologia é desconhecida, apresentando sintomas mentais

característicos que levam à fragmentação da personalidade” (2002; p.112). A doença é

recorrente, intensificando em cada crise a incapacidade crônica e o que se vê são

extravagâncias e falta de adaptação social, necessitando constantemente de internação

prolongada.

É comum o indivíduo afetado pela doença possuir e manter ideias delirantes,

persecutórias e de auto-referência. Ouve vozes e acredita que outras pessoas podem ter o

controle de seus pensamentos e ações. Pensam que estão sendo observados ou perseguidos.

No filme as ideias persecutórias passaram a mandar nos pensamentos e ações

comportamentais da personagem de John Nash, o que fez com que se afastasse das pessoas ao

pensar que estavam envolvidas com seus inimigos, conspirando contra ele. Em relação às

ideias de auto-referência, o indivíduo crê que determinados jornais, revistas, passagens de

livros, entre outras situações lhe são especificamente dirigidas, ou seja, tudo o que acontece

diz respeito à ele. No filme Uma Mente Brilhante constata-se a presença desses sintomas na

personagem John Nash. Em seu decorrer verifica-se que a personagem sofria de

esquizofrenia, mantendo intacto seu espaço cognoscitivo.

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Holmes afirma que:

“ao ouvir sobre uma morte na família ou assistir a um filme muito engraçado, por exemplo, uma pessoa com esquizofrenia pode permanecer impassível e mostrar pouca ou nenhuma resposta emocional”.

Doutor Rosen, psiquiatra do filme, diagnostica Nash como esquizofrênico paranóico.

Esta doença é um assunto muito sério para a história das ciências na transição do século 19

para o século 20, com a significativa contribuição do psiquiatra Bleuler e suas divergências

com Freud em relação à Psicanálise.

Freud descreve, identifica e reconhece a doença como um distúrbio fisiológico e não

psíquico, o que justifica o tratamento quimioterápico.

As pessoas com esquizofrenia paranóide sofrem alucinações que ocorrem em diversos

áreas sensoriais, sendo as auditivas as mais comuns. Caracteriza-se por uma ou mais vozes

conversando com o indivíduo.

O processo paranóide impede as faculdades mentais de se desenvolverem sem a

contaminação bizarra que se mistura a todos os comportamentos afetivos e intelectuais.

Eugen Bleuler surge em 1911 com uma probabilidade psicopatológica através de uma

representação clínica descritiva. Foi ele quem inseriu pela primeira vez na área da ciência a

palavra esquizofrenia e que pesquisou de modo descritivo o lado interior de um

esquizofrênico. As dissociações do pensamento, autismo e ambivalência afetiva eram as bases

para seu diagnóstico precoce. Há duas vertentes sobre a descrição dos sintomas feito por

Bleuler. A primeira é denominada sintomas primários ou fundamentais onde tornam-se

evidentes a ambivalência, o autismo, a perturbação do afeto, a perturbação da associação de

ideias e que são possíveis de se constatar em qualquer fase da doença. Há também os sintomas

secundários ou acessórios que se manifestam em determinados períodos da esquizofrenia.

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O verdadeiro John Nash faz uma descrição de sua personalidade e atitudes de uma

pessoa acometida pela doença em seu livro Autobiografia, publicado em 1994 em ocasião do

Prêmio Nobel de Economia:

“Assim, nos tempos atuais parece que eu estou pensando racionalmente novamente, no estilo que é característico de cientistas. Contudo esta não é uma questão de alegria como se alguém retornasse de uma desabilidade física para uma boa saúde física. Um aspecto é que a racionalidade do pensamento impõe limites para a concepção das relações de uma pessoa com o cosmos. Por exemplo, um não Zoroastrista poderia pensar de Zoroastro como simplesmente um maluco que conduziu milhões de seguidores ingênuos a adotar um culto ou ritual de adoração do fogo. Mas sem sua “loucura”, Zoroastro teria sido necessariamente apenas um outro entre milhões ou bilhões de indivíduos humanos que teriam vivido e então sido esquecidos”.

Essa afirmação demonstra sua personalidade ambiciosa e a consciência do valor de seu

intelecto matemático. Sempre quis ser o melhor de todos, não admitia perder em hipótese

alguma. Uma cena do filme que capta esse sentimento de inconformismo é a de Nash numa

partida do tradicional jogo japonês chamado Go. O jogo era um concorrente do xadrez,

considerado por muitas pessoas como um jogo de utilização lógica, característico de

matemáticos.

6-CAUSAS E HIPÓTESES

A causa da esquizofrenia ainda é desconhecida por ser uma das doenças mentais que

apresentam uma complexidade maior atualmente. Talvez não haja apenas uma causa, e sim

várias que possam justificar o surgimento da doença, todavia, existem algumas hipóteses que

apareceram como tentativas de explicar a esquizofrenia. Podem até ter algum fundamento,

mas isoladamente, não particularizam a causa.

As hipóteses são as seguintes: hipótese genética, hipótese associada aos

neurotransmissores dopamina e serotonina e hipótese associada ao vírus Influenza A2.

Na hipótese genética, um componente genético pode estar envolvido na doença. Os

genes em conjunto com os fatores ambientais poderão contribuir para o surgimento da

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doença. Se dentro de uma família não houver nenhum parente com esquizofrenia, não impede

que um dos familiares venha desenvolver a mesma, pois os fatores genéticos não são

totalmente decisivos.

A hipótese associada aos neurotransmissores compreende duas substâncias: dopamina

e serotonina. A dopamina é uma substância que age no cérebro e sua utilização serve para a

comunicação entre as células nervosas, especialmente na fenda sináptica. Este

neurotransmissor está ligado à etiologia da doença, pois tem a possibilidade de existir em alta

quantidade no sistema nervoso central. Os receptores de serotonina, quando entram em

contato com outras substâncias como o LSD, podem provocar reações no indivíduo conforme

os sintomas da esquizofrenia. Os antipsicóticos agem como bloqueadores da dopamina e

agem como antagonistas serotoninérgicos e combinando-se com neurolépticos, causam a

diminuição dos efeitos colaterais e melhoram os sintomas negativos da esquizofrenia.

Indivíduos cujas mães se infectaram com o vírus da gripe Influenza A2 tiveram uma

tendência para desenvolverem a esquizofrenia. Contudo, alguns trabalhos realizados não

possibilitam a constatação de uma relação direta com o vírus. Como causa também foi

associado o retrovírus.

Segundo Borges, a causa viral da esquizofrenia já está quase comprovada:

“Um terço ou um quarto dos pacientes com diagnóstico de esquizofrenia desenvolveram esquizofrenia por exposição a uma gripe na infância, porque uma exposição a virose, na infância, que produziu uma encefalopatia, uma infecção no sistema nervoso central e isso, vamos dizer assim, desconjuntou a química cerebral, o funcionamento do cérebro e que esse cérebro evoluiu já num, na transição na idade adulta em esquizofrenia”.

7-ASPECTOS TERAPÊUTICOS E TRATAMENTOS

Os familiares do doente sofrem reações emocionais devido a esquizofrenia, pois

adquirem inicialmente um processo de negação da doença e posteriormente, de revolta. Esta

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pode deteriorar as relações sociais, ressaltando sentimentos negativos como a raiva, o medo e

a angústia, fazendo o familiar se sentir impotente diante da situação.

O relacionamento entre os familiares de um doente tem que ser desenvolvido com

muito cuidado e orientação, pois a esquizofrenia é uma doença crônica, fazendo com que o

indivíduo se torne frágil e dependente.

O tratamento da esquizofrenia é realizado através da utilização de uma abordagem

farmacológica, psicológica e social. Pela razão de a doença ser crônica, torna-se essencial

organizar um projeto de tratamento e de recuperação a longo prazo. Todo tratamento deve

ajustar-se à necessidade individual do paciente.

As primeiras intervenções terapêuticas aplicadas em esquizofrenia foram a cura pelo

sono, através da hipnose; a metodologia acerca dos choques; a convulsivoterapia e o

eletrochoque, que foram abolidas devido aos maus resultados apresentados.

São utilizadas hoje em dia, certas substâncias químicas como antipsicóticos, que

tendem a diminuir muitos sintomas da esquizofrenia, tendo como exemplo a desorganização

do pensamento e a alucinação. Os antipsicóticos agem como bloqueadores dos receptores

sinápticos em vias cerebrais sensíveis à dopamina, assinalando melhoras, ou seja, efeitos

terapêuticos.

Os métodos de tratamento da esquizofrenia são estes:

1- Farmacoterapia – Pesquisas revelam de forma abrangente que os medicamentos

psicotrópicos são bastante eficazes em relação aos sintomas positivos da esquizofrenia.

Todavia, os sintomas negativos e as relações interpessoais perturbadas são menos afetados por

essa medicação, requerendo abordagens psicossociais.

2- Psicoterapia individual – Estudos têm procurado demonstrar que, possivelmente, a

média dos pacientes esquizofrênicos consegue um resultado favorável através desses esforços.

Contudo, os pacientes com essa perturbação mental são visivelmente difíceis e torna

complicada a adesão ao tratamento psicoterapêutico.

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3- Psicoterapia de grupo – Pesquisas realizadas acerca de psicoterapia de grupo com

pacientes esquizofrênicos afirmam que essa modalidade pode ser útil, porém, assinalam o

momento de sua implantação. A melhor época talvez seja depois de haver estabilidade nos

sintomas positivos, através de uma intervenção farmacológica.

A terapia de grupo pode ser eficaz assim como a individual. Pode ser útil, pois

desenvolve a confiança e oferece um grupo de apoio aos pacientes, em que sintam-se à

vontade para poder conversar sobre o que quiser com a finalidade de conduzir as alucinações

auditivas e lidar com o estigma social da doença. Há uma troca de experiências que leva cada

paciente a um aprendizado. O terapeuta serve como um facilitador, encorajando o paciente a

falar e assim apoiando-o para futuras mudanças.

4- Intervenção familiar – Diversas pesquisas revelam que o tratamento familiar junto

com a medicação antipsicótica é muito mais eficaz do que a medicação isolada na prevenção

da recaída. Oferece suporte social diminuindo o isolamento do esquizofrênico. São abordadas

questões acerca da importância da medicação e a forma de conduzir a situação-problema. Esta

intervenção busca também melhoras na dinâmica familiar.

5- Tratamento hospitalar – Para o paciente que sofre uma crise psicótica aguda, a

hospitalização dá um breve intervalo – uma chance de voltar a ter convivência com a família,

amigos e pessoas em geral e de se orientar psicologicamente de maneira organizada.

O medicamento antipsicótico diminui a maior parte dos sintomas positivos. A

hospitalização oferece um lugar seguro para evitar que os pacientes provoquem danos a si

mesmos ou aos outros. O efeito da internação é breve, as defesas são recuperadas e o paciente

pode voltar ao seu estado normal. O paciente pode iniciar a terapia dentro do hospital e depois

continuar o tratamento fora; o mesmo acontece com a reabilitação psicossocial.

6- Treinamento de habilidades sociais - É um tipo de terapia comportamental que

busca ajustar, aos poucos, o comportamento do paciente através de aproximações sucessivas

da habilidade desejada, com fim de melhorar a capacidade de lidar com as situações sociais.

Como resultado, há melhora em comportamentos específicos e na auto percepção,

diminuição dos sintomas e adaptação social.

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8-CONCLUSÃO

A partir do estudo realizado para a elaboração deste trabalho, constatamos que a

esquizofrenia é resultante de uma relação entre os fatores ambientais e genéticos. Contudo,

não há uma forma explicativa de como esta se desenvolve. A doença tanto pode surgir de

repente em crises excessivas, de modo violento, quanto surgir vagarosamente, de maneira

assintomática, ou seja, sem apresentar mudanças visíveis.

Este distúrbio psicótico pode vir junto com sentimentos de culpa e vergonha, portanto,

o apoio familiar e social é indispensável para a prevenção da recaída, bem como na aceitação

do indivíduo em relação à sua doença e aos aspectos terapêuticos.

Embora este tema provoque uma reação bastante negativa na sociedade, atualmente

esta doença ainda é pouco abordada, girando em volta vários tabus e preconceitos. O

conhecimento em relação à doença, além de reduzir o preconceito, evita o diagnóstico tardio,

pois, quanto mais cedo se identificar a doença, melhores serão as formas de tratamento e mais

eficaz será a reabilitação.

É possível que o tratamento da esquizofrenia venha obter um melhor efeito quando os

pesquisadores entrarem em concordância com a etiologia da doença e as intervenções

terapêuticas passarem por um processo de aperfeiçoamento.

A permissão de John Nash em tornar pública sua luta contra a esquizofrenia, primeiro

com o livro e depois com o filme, fez com que se tornasse um modelo da doença. Por esse

motivo, acelerou a propagação do conhecimento sobre seus sintomas, o sofrimento de seus

portadores e a limitação de seu tratamento. Este conhecimento semeado sobre esta doença

possibilitou aos portadores uma maior ressocialização e uma melhor forma de expressão

acerca de suas aptidões. Concomitantemente, ao analisar a vida de John Nash, permite-se um

olhar realista do que vem a ser a esquizofrenia.

A realização deste trabalho e a análise do filme tornaram possível o aprendizado sobre

os sintomas iniciais, a dificuldade em identificar a doença, o tratamento adequado, a

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disponibilidade destes, o resultado destruidor envolvendo os portadores e suas famílias e o

alento para aqueles que sonham em retomar suas habilidades criativas.

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