Psicologia e cardiologia

974p Psicologia e cardiologia: reflexão e prática / organizado por Patricia Pereira Ruschel e Cynthia Seelig. – Novo Hamburgo : Sinopsys, 2019. 272p. ; 16x23cm.

ISBN 978-85-9501-120-5

1. Psicologia – Cardiologia. I. Ruschel, Patricia Pereira. II. Seelig, Cynthia. III. Título.

CDU 159.922:616.1

Catalogação na publicação: Mônica Ballejo Canto – CRB 10/1023

2019

Patricia Pereira RuschelCynthia SeeligOrganizadoras

Psicologia e cardiologia

ReflexãO e PRática

© Sinopsys Editora e Sistemas Ltda., 2019Psicologia e Cardiologia: Reflexão e Prática Patricia Pereira Ruschel e Cynthia Seelig (Org.)

Capa: Fabiana Franck

Imagem da capa: Shutterstock

Assistente editorial: Jade Arbo

Supervisão editorial: Mônica Ballejo Canto

Editoração: Formato Artes Gráficas

Todos os direitos reservados àSinopsys EditoraFone: (51) 3066-3690E-mail: atendimento@sinopsyseditora.com.brSite: www.sinopsyseditora.com.br

A construção do livro Psicologia e cardiologia: reflexão e prática foi o refle-xo do desejo de registrar um trabalho de longa data com pacientes cardíacos.

Somos gratos aos nossos pacientes de várias faixas etárias, que nos ins-tigam ao estudo, à pesquisa e ao crescimento emocional e profissional.

Aos cardiologistas que confiaram em nosso trabalho com seus pacien-tes e nos impulsionam a pesquisar com o enfoque da psicologia, buscando a articulação dos vários saberes que compõem nossa abordagem entre e inter-disciplinas, que nos dão a visão do todo do paciente.

Aos colegas de várias profissões da área da saúde que ampliam nossa visão e que dividem seus saberes conosco.

A todo corpo funcional do IC/FUC que possibilita nossa atividade de assistência ao cardiopata.

A nossos alunos a quem transmitimos o conhecimento adquirido e com quem muito aprendemos.

Aos autores colaboradores do livro que investiram em seus capítulos que compõem este livro.

Que esta obra possa contribuir com a construção do conhecimento de cada leitor.

Agradecimentos

Patricia Pereira Ruschel (org.). Psicóloga pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Especialista em Psicologia Clí-nica e Hospitalar pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) e em Psica-nálise pelo Núcleo de Estudos Sigmund Freud. Mestre em Psicologia Clí-nica pela PUCRS. Doutora em Ciências da Saúde: Cardiologia pela Fun-dação Universitária de Cardiologia (FUC/RS). Coordenadora do Servi- ço de Psicologia Clínica e do Programa de Residência Multidisciplinar Integrada em Saúde: Cardiologia/Psicologia do Instituto de Cardiolo- gia/Fundação Universitária de Cardiologia (IC/FUC). Sócia-Fundadora e Membro do Conselho Consultivo da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar (SBPH). Professora de cursos de extensão e Pós-graduação em Psicologia Hospitalar e autora de artigos, capítulos e do livro Quando o luto adoece o coração: luto não elaborado e infarto (EDIPUC).

Cynthia Seelig (org.). Psicóloga pela PUCRS. Especialista pela Universida-de Luterana do Brasil (ULBRA) em Psicologia Hospitalar. Psicóloga Clínica do Serviço de Psicologia Clínica do IC/FUC e Preceptora do Programa da Residência Multidisciplinar Integrada em Saúde: Cardiologia/ Psicologia do IC/FUC/RS. professora de cursos de extensão em Psicologia Hospitalar.

Autores

Ângela Bein Piccoli. Psicóloga Clínica. Terapeuta de Casal e Família. Espe-cialista em Gestão e Planejamento Escolar. Mestre e Doutoranda em Ciên-cias da Saúde: Cardiologia do IC/FUC.

Camila de Matos Ávila. Psicóloga pela ULBRA. Especialista em Informa-ção Científica e Tecnológica em Saúde pela FIOCRUZ. Especialista em Cardiologia pela Residência Multiprofissional Integrada em Saúde no Insti-tuto de Cardiologia. Membro do Conselho Fiscal da SBPH (gestões 2015-2017 e 2017-2019). Mestranda em Psicologia e Saúde pela UFCSPA.

Carolina Frota Medeiros. Psicóloga pela PUCRS. Especialista em Cardio-logia pela Residência Multiprofissional Integrada em Saúde no Instituto de Cardiologia. Especialização Terapia Cognitivo-Comportamental TCC (em andamento) no Centro de Estudos da Família e do Indivíduo (CEFI).

Cláudia Simone Silveira dos Santos. Psicóloga. Mestre em Psicologia Clínica pela PUCRS. Especialista em Psicologia Hospitalar e Psicologia Clínica. Psicólo-ga contratada do Serviço de Psicologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre – ginecologia, obstetrícia e neonatologia. Doutoranda do Programa de Pós-Gra-duação em Ciências da Saúde: Ginecologia e Obstetrícia na UFRGS.

Cristiane Olmos Grings. Psicóloga. Especialista em Psicoterapia da Infância e Adolescência pelo Centro de Estudos, Atendimento e Pesquisa da Infância e Adolescência (CEAPIA). Residência Integrada em Saúde: Cardiologia pelo Ins-tituto de Cardiologia (IC/FUC). Especialista em Psicologia da Saúde pelo Con-selho Federal de Psicologia (CFP). Especialista em Saúde da Família pelo Insti-tuto de Educação e Pesquisa/Hospital Moinhos de Vento. Psicóloga Clínica do HCPA. Preceptora da Residência Integrada Multiprofissional em Saúde – Pro-grama Onco-Hematologia, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).

Davisson Gonçalves Giaretta. Psicólogo. Mestre em Psicologia Clínica pela PU-CRS. Especialista em Psicologia Hospitalar pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Residência Multiprofissional em Saúde com ênfase em Cardiolo-gia no Instituto de Cardiologia-Fundação Universitária de Cardiologia/IC-FUC.

Flávia Céspedes Gurski. Psicóloga pela PUCRS. Especialista em Cardio-logia pelo Programa de Residência Integrada em Saúde – Cardiologia, do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul/Fundação Universitária de Cardiologia.

viii Autores

Gabriela Santos Florisbal. Psicóloga pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Psicóloga Residente do Programa de Residência Multi-profissional Integrada em Saúde: Cardiologia.

Grasiela Arnold. Psicóloga pela FADERGS. Especialista em Cardiologia pelo Programa de Residência Integrada em Saúde – Cardiologia, do Institu-to de Cardiologia do Rio Grande do Sul/ Fundação Universitária de Cardio-logia. Membro da Diretoria da APORTA-RS.

João Carlos Alchieri. Professor associado e bolsista produtividade (CNPq) na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Orientador de mestrado e doutorado no PPG Ciências da Saúde na mesma universidade. Tem expe-riência e ênfase em Metodologia, Instrumentação e Equipamento em Psico-logia, atuando em Processo de Avaliação Psicológica, Neuropsicologia e Psi-copatologia. Coordenador e tutor de projeto junto a Red de Faculdades de Psicología del MERCOSUR. Coordenador da Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica do Conselho Federal de Psicologia.

Juliana Bertoletti. Psicóloga pela UNISINOS. Especialista em Psicoterapia de Técnicas Integradas pelo Instituto Fernando Pessoa. Especialista em Psi-cologia Clínica pelo Conselho Federal de Psicologia. Mestre em Ciências da Saúde pela Fundação Universitária de Cardiologia. Doutoranda em Psicolo-gia do Desenvolvimento na UFRGS. Integrante do Núcleo de Estudos em Avaliação Psicológica e Psicopatologia (NEAPP).

Karine Elisa Schwarzer Schmidt. Enfermeira pela ULBRA. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde: Cardiologia. Bolsista da CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de nível superior.

Márcia Moura Schmidt. Psicóloga graduada pela UNISINOS. Especialista em Diagnóstico Psicológico. Mestre em Psicologia do Desenvolvimento pela UFRGS. Doutora em Ciências da Saúde: Cardiologia (IC/FUC). Professora Permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde: Cardio-logia (IC/FUC). Diretora do Prêmio da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar (SBPH).

Maria Lúcia Tiellet Nunes (In memorian). Psicóloga. Mestre em Psicologia Social pela UFPB. Doutora pela Universidade Livre de Berlim. Professora Titular da PUCRS. Professora Colaboradora da UFRGS.

Autores ix

Mariana Alievi Mari. Psicóloga. Especialista em Cardiologia e Psicologia Hospitalar. Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Doutoranda em Ciências da Saúde: cardiologia pela Fundação Universitária de Cardiologia do Rio Grande do Sul. Psicóloga clínica e pro-fessora em programas de graduação e pós-graduação em disciplinas relacio-nadas à saúde e ao desenvolvimento infantil.

Paula Moraes Pfeifer. Psicóloga pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Mestre em Psicologia, com ênfase em Saúde, pela UFSM. Especia-lista em Psicologia Hospitalar pela Residência Integrada em Saúde: Cardio-logia (RISC) e pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP). Psicóloga Clínica no Serviço de Psicologia do Instituto de Cardiologia – Fundação Universitá-ria de Cardiologia (IC-FUC). Preceptora da Residência Integrada em Saúde: Cardiologia (RISC).

Shana Hastenpflug Wottrich. Psicóloga. Doutora em Psicologia pelo Pro-grama de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina. Mestre em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psico-logia da UFSM. Especialista em Cardiologia pelo Programa de Residência Integrada em Saúde – Cardiologia, do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul/ Fundação Universitária de Cardiologia. Professora do Curso de Graduação em Medicina da Universidade Federal do Pampa.

x Autores

Prefácio ........................................................................................... 13Silvia Maria Cury Ismael

Apresentação .................................................................................. 17Patricia Pereira Ruschel e Cynthia Seelig

1 Inserção da psicologia hospitalar em hospital de referência em cardiologia: um caminho percorrido ................ 23 Patricia Pereira Ruschel e Cynthia Seelig

2 A regressão psíquica diante da hospitalização ........................ 43 Patricia Pereira Ruschel

3 Gestaçãoecardiopatiacongênitafetal:impactododiagnóstico de malformação na ansiedade e depressão maternas ........... 53 Cláudia Simone Silveira dos Santos e Maria Lúcia Tiellet Nunes

4 O nascimento do bebê cardiopata à luz da psicologia ............ 67 Patricia Pereira Ruschel, Flávia Céspedes Gurski e Grasiela Arnold

5 Sobreodesenvolvimentoemocionalinfantilem uma enfermaria de cardiologia pediátrica .............................. 83 Cristiane Olmos Grings

Sumário

6 Cardiopatiacongênitaealteraçõesno desenvolvimentoinfantil ......................................................... 99 Mariana Alievi Mari e João Carlos Alchieri

7 Estresse e qualidade de vida de crianças cardiopatas congênitas hospitalizadas .................................... 117 Carolina Frota Medeiros e Patricia Pereira Ruschel

8 Cardiopatiaequalidadedevidanainfânciaeadolescência .. 129 Juliana Bertoletti

9 Aresidênciamultiprofissionaleapráticadapsicologia emambulatóriodehipertensãoarterialsistêmica ................. 145 Gabriela Santos Florisbal, Patricia Pereira Ruschel e Cynthia Seelig

10Aafetividadenegativaeadoençaarterialcoronariana: ainfluênciadaemoçãoderaiva,dateoriaàpesquisa ........... 163 Karine Elisa Schwarzer Schmidt e Márcia Moura Schmidt

11 Cirurgiacardíacaepsicologia:corporalidade, complexidade,simbologiasesignificados............................... 183 Paula Moraes Pfeifer

12Construindocaminhosdepráticasempsicologia hospitalarjuntoapacientespréepós-cirúrgicoscardíacos ... 201 Shana Hastenpflug Wottrich

13Indicaçãodetransplantecardíaco:asrepercussões psíquicaseaabordagempsicológica ....................................... 219 Paula Moraes Pfeifer, Patricia Pereira Ruschel e Camila de Matos Ávila

14Resiliêncianocontextodacardiopatiacongênita ................... 235 Ângela Bein Piccoli

15Ogrupocomorecursoterapêuticonacirurgia cardíaca: a morte como tema implícito ou explícito ............... 253 Davisson Gonçalves Giaretta e Cynthia Seelig

Anexo disponível emwww.sinopsyseditora.com.br/forpsicocard

xii Sumário

A Psicologia Hospitalar (PH) é, hoje, uma das áreas de es-pecialidade da psicologia brasileira, oficializada no ano de 2000, que congrega um grande número de especialistas em diversas regiões do país. Apesar do grande debate sobre a PH ser parte do “guarda-chuva” da Psicologia da Saúde, não se pode negar que a psicologia em instituições de saúde e hospitalares vem se desenvolvendo gradativamente desde a década de 1950 com profissionais que atuam no campo da assistência, ensino e pesquisa de forma diferenciada, específica e com qualidade científica inigualável. O livro Psicologia e cardiologia: reflexão e prática traz uma articulação fundamental entre teoria/prática clara, objetiva e que nos faz reconhecer o dia a dia do hospital com todas as suas nuances positivas e negativas, com suas possibilidades e dificuldades, com a certeza de que o trabalho do psicólogo no hospital não se resume a atender e evoluir o paciente no prontuário, mas pode cada vez mais ser uma peça fundamental para segurança do paciente, qualidade de vida e adesão ao tratamento proposto.

Não posso deixar de mencionar o orgulho e a deferência para mim, ter sido convidada a prefaciar este livro. Sem desmerecer de modo algum os colegas que contribuíram com a obra, pessoas com

Prefácio

excelente formação e de reconhecido saber nas áreas que atuam, conheci Patrícia Ruschel em 1982, aqui em São Paulo, em um grande congresso da área hospitalar. A trajetória de Patrícia à frente do Instituto de Cardiologia, e das colegas que a acompanharam e a acompanham até o momento, tem sido de conquistas, de desbravamento, de an-gústias, de alegrias, de percepção de possibilidades e impotência, de humildemente ensinar tudo o que sabe ao outro, de construir e compartilhar conhecimento.

Percebi a partir do primeiro capítulo, pela história do Serviço de Psicologia ali resgatada, que a inserção da psicologia no IC não foi muito fácil e foi uma conquista passo a passo, mas com metas e um foco bem-estabelecido. Sabiamente, as oportunidades foram sendo percebidas e pouco a pouco, como doses homeopáticas, a Psicologia Hospitalar foi permeando meandros e contextos naquela instituição, onde a escuta do paciente se fazia cada vez mais fundamental para além do físico em busca do emocional e da humanização do paciente/família. Neste livro, observou-se um caminho iniciado pelo acompanhamento de crianças, desde a vida fetal até a adolescência, chegando ao adulto cardiopata e finalizando com um dos assuntos mais preocupantes, a morte. Ainda, não posso deixar de enfatizar, a importância dada ao trabalho em equipe multidisciplinar em formato de cuidado integrado, com o objetivo ímpar de ajudar o paciente a compreender a doença e ter adesão ao tratamento proposto. O capítulo sobre a equipe mul -tidisciplinar, onde os residentes entraram no contexto, amplia e dá es - paço à psicologia mostrando que ela é fundamental na prevenção primária e secundária. A articulação entre teoria e prática nos convida a pensar e refletir. Assim como outros serviços, Patrícia e sua equipe, na verdade, fez um caminho inverso do que habitualmente acontece: da prática à teoria, construindo um corpo de saberes, utilizando e adaptando abordagens teóricas moldadas ao contexto hospitalar em relação à intervenção do nosso sujeito (o paciente). Posso garantir que isto faz toda diferença! Quase todos os seus capítulos trazem atrelado ao contexto prático e teórico, uma pesquisa realizada, evidenciando

14 Prefácio

a importância da Psicologia Baseada em Evidência que dá o respaldo para ditar as melhores práticas de cuidado e abordagem do paciente.

Este livro demonstra como a Psicologia Hospitalar no IC está em plena atividade, fazendo assistência, gerando conhecimento, abrindo caminhos, produzindo publicações científicas de qualidade, participando de entidades científicas e formando pessoas, o que lhe concede merecimento de admiração e respeito. Admiração e respeito pelo trabalho sério, ético, cuidadoso pensando em quem é mais im-portante neste contexto: o paciente e sua família.

Este livro não tem a presunção de fornecer respostas às questões propostas, mas sim servir de um campo fértil para reflexão, trocas e crescimento do conhecimento científico.

Silvia Maria Cury IsmaelPsicóloga Clínica e Hospitalar.

Doutora em Ciências pela Faculdade de Medicina da USP.Gerente de Psicologia do Hospital do Coração de São Paulo.

Coordenadora do Programa de Residência Multidisciplinar em Atenção Cardiovascular do Hospital do Coração.

Presidente da SBPH Biênio 2003-2005.

Psicologia e Cardiologia 15

Este livro representa o sonho do registro de uma longa jor-nada acompanhando pacientes cardíacos com olhos de psicólogos. Os cardiologistas auscultam os corações e os psicólogos escutam o que é representado psiquicamente pelos pacientes a partir de sin-tomas no corpo que refletem a quebra do equilíbrio corporal. Na trajetória do grupo de autores que contribui com esta obra, foram se somando experiências e estudos com várias especificidades de cardiopatias. Frente a estes diagnósticos, cabe ainda ao psicólogo construir a sua compreensão dos aspectos emocionais potencializa-dos por cada cardiopatia. O peculiar é que na escuta do doente há de se compreender sua individualidade, com aspectos internos, conscientes e inconscientes, familiares, socioculturais e também como este conjunto se liga à doença. Neste contexto, é importante o enfrentamento que cada um é capaz de realizar frente ao adoeci-mento cardíaco e aos tratamentos propostos, cabendo ao psicólogo estudar a psicodinâmica estabelecida para cada um de seus pacien-tes. Assim, aqui se reúnem capítulos de vários autores que dedicam seus escritos a nos brindar com estudo, prática e reflexões sobre cardiopatias e suas implicações.

Patricia Pereira RuschelCynthia Seelig

Apresentação

O primeiro capítulo foi escrito pelas organizadoras do livro, Pa-tricia Pereira Ruschel e Cynthia Seelig, que o dedicaram à história da construção de um serviço em um hospital especializado em cardiolo-gia. A história foi marcada pela inserção da psicologia em ambiente hospitalar dedicado à cardiologia, acompanhando os preceitos da ins-tituição que objetivam assistência, ensino e pesquisa. Este espaço construído foi o cenário de aprendizado e prática de todos os autores deste livro. Cada um em um tempo distinto, como estagiário, residen-te, aluno de pós-graduação ou como psicólogo contratado. A reunião destes capítulos possibilita ao leitor uma visão rica sobre a psicologia e a cardiologia, permeada pela visão destes vários psicólogos.

Após o relato desta história, é apresentado um capítulo dedi-cado a tratar da regressão psíquica diante da hospitalização. Neste capítulo, Patricia Pereira Ruschel traz o contexto do impacto psíqui-co causado pela experiência da hospitalização. Ela refere que é co-mum a pessoa reagir se reportando a situações semelhantes vividas em etapas anteriores do desenvolvimento, onde regride a ponto de comprometer a expressão de seu comportamento. Esse também é enriquecido com casos que exemplificam o que acontece quando o paciente enfrenta o trauma e as diversas maneiras de reagir.

No Capítulo 3, Cláudia Santos e Maria Lúcia Nunes abordam o período em que a mulher está grávida, os sentimentos despertados nesta etapa, e a partir desta contextualização convidam o leitor a re-fletir sobre as seguintes questões: O que ocorre quando o bebê, tão esperado, apresenta cardiopatia? Quais os sentimentos despertados na mulher que carrega em seu ventre o risco de perda do filho? Como fica o início de interações quando permeado de exames, dúvi-das, questionamentos, hospitalizações, cirurgias? É possível intervir de maneira precoce para que a dupla mãe-feto cardiopata estabeleça vínculos saudáveis desde o momento do diagnóstico? É importante ressaltar que este capítulo também é ilustrado com uma pesquisa re-alizada com gestantes.

18 Apresentação

Posteriormente, Patricia Pereira Ruschel, Flávia Céspedes Gurski e Grasiela Arnold relatam e fundamentam sua abordagem com partu-rientes que têm diagnóstico de cardiopatia fetal intrauterino e são acompanhadas por psicólogo na ocasião do parto cesário, que ocorre com o acompanhamento de equipe de cardiologia que atenderá o bebê imediatamente após o nascimento. Este é um tema que ainda vem sendo pouco desenvolvido na literatura e que merece reflexões sobre a abordagem do psicólogo hospitalar que vem desenvolvendo sua prática cada vez mais em equipe multidisciplinar, uma vez que seu trabalho com as gestantes apresenta um enfoque interdisciplinar. Para compor este escrito, as autoras buscaram referencial teórico, registra-ram observações desta abordagem, relataram vinhetas de casos e refle-tiram sobre esta prática, resultando no capítulo “O nascimento do bebê cardiopata à luz da psicologia”.

Na sequência, no Capítulo 5, Cristiane Grings nos apresenta a criança cardiopata no hospital, mostrando uma visão sobre aspectos importantes do desenvolvimento infantil e sua intersecção com a si-tuação daquela criança que é portadora de diagnóstico de cardiopatia e também que em muitos casos sofre hospitalizações. A autora aborda o que pode ser despertado de aspectos psicológicos, tanto no diagnós-tico quanto na hospitalização dessas crianças. Ao longo do capítulo, é mencionada a experiência na pediatria do IC/FUC em Porto Alegre – RS. Trata também de particularidades de várias etapas do desenvolvi-mento emocional. Estende sua compreensão ao reflexo deste comple-xo tema nos pais dos pacientes pediátricos, na equipe de profissionais e reflete sobre alternativas para auxiliar a minimizar os traumas emo-cionais destes pacientes.

No Capítulo 6, temos a oportunidade de nos familiarizarmos com o trabalho de Mariana Alievi Mari e João Carlos Alchieri, que aborda a pesquisa com 128 crianças divididas em três grupos, um com cardiopatia e hospitalizados em período pré-operatório, outro em período de pós-operatório, e o último composto por crianças com ou-

Psicologia e Cardiologia 19

tras doenças crônicas não cardíacas. O estudo foi realizado na cidade de Natal no Rio Grande do Norte. A fundamentação que é disponibi-lizada neste capítulo complementa o anterior e nos traz o foco das avaliações que são importantes para a compreensão do desenvolvi-mento infantil.

Seguindo a temática das crianças com cardiopatia congênita, o Capítulo 7, de Carolina Frota Medeiros e Patrícia Pereira Ruschel, apre-senta um estudo da qualidade de vida e do estresse de crianças com car-diopatia congênita. Neste, são conceituadas as duas vaiáveis estudadas neste grupo de pacientes. São traçadas algumas considerações a respeito deste estudo e das crianças e suas malformações cardíacas.

Já no Capítulo 8, Juliana Bertoletti nos apresenta o estudo da qua-lidade de vida de crianças e adolescentes e explora o tema discorrendo so-bre as malformações cardíacas. Contextualiza também, através de um aprofundamento teórico, o comprometimento na qualidade de vida des-ses pacientes e as repercussões emocionais que emergem deste contexto.

No Capítulo 9, “A residência multiprofissional e a prática da psicologia em um ambulatório de hipertensão arterial sistêmica”, Ga-briela Santos Florisbal, Patricia Pereira Ruschel e Cynthia Seelig rela-tam como é o programa da residência multiprofissional, aprofundan-do sobre a atuação mais especificamente no ambulatório de hiperten-são arterial sistêmica. No decorrer do capítulo, muitos aspectos sobre o hipertenso são enfatizados, dentre os quais estão a aderência ao tra-tamento e os cuidados com os fatores de risco, que podem ser respon-sáveis pelo agravamento da doença.

A seguir Karine Elisa Schwarzer Schmidt e Márcia Moura Schmidt abordam um tema bastante inusitado, a emoção da raiva e o seu impac-to na doença cardiovascular (DCV) associada com DCV prematura, fi-brilação atrial e fatores de risco comportamentais. Refere que a raiva promove comportamentos de alto-risco, como má alimentação, menos atividade física, tabagismo, pior sono, ou baixa adesão ao tratamento. O estresse psicológico, como o provocado pela emoção da raiva, é capaz de

20 Apresentação

aumentar a frequência cardíaca, a pressão arterial e a resistência vascular. A autora descreve um estudo que está em andamento onde avalia a efe-tividade de uma intervenção psicológica para o manejo da emoção da raiva e a correlação com a resposta hemodinâmica do paciente.

No capítulo “Cirurgia cardíaca e psicologia: corporalidade, complexidade, simbologias e significados”, Paula Moraes Pfeifer apro-funda o tema discorrendo sobre os aspectos intrínsecos da cirurgia cardíaca relacionada à imagem corporal. Refere que a realização de uma cirurgia pode modificar a imagem corporal até então constituída no sujeito e evidencia a relevância do acompanhamento psicológico durante o processo cirúrgico.

O Capítulo 12 conta com a colaboração de Shana Wottrich que descreve as intervenções psicológicas realizadas junto a pacientes pré e pós-cirúrgicos cardíacos e ilustra, com um relato de experiência, o acompanhamento deste trabalho realizado na rotina do serviço de psi-cologia clínica do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul.

O Capítulo 13 deteve-se em buscar, retomar e articular alguns trabalhos com o objetivo de aprofundar a discussão sobre a indicação de transplante cardíaco, as repercussões psíquicas e a abordagem psi-cológica. Paula Moraes Pfeifer, Patricia Pereira Ruschel e Camila de Matos Ávila descrevem o histórico dos transplantes no Instituto de Cardiologia e contam sobre o trabalho da psicologia junto a esse pro-cesso, que compreende a evolução da doença cardíaca, o processo de avaliação, o ingresso em lista de espera e a psicoprofilaxia para o pro-cedimento, a reação ao chamado e o transplante propriamente dito.

No Capítulo 14, Ângela Bein Piccoli complementa o livro falan-do sobre a família no contexto da cardiopatia congênita. Ela aprofunda o termo “resiliências” bastante usado na literatura e que é muito impor-tante no contexto familiar quando enfrentam o processo de adoecimen-to do paciente, principalmente dos pais para com os filhos. É reforçada a importância da atitude da família diante de situações consideradas di-fíceis ou ansiogênicas tanto para com seus filhos como para com eles

Psicologia e Cardiologia 21

mesmos, sendo de fundamental importância do cuidado dos profissio-nais da saúde, em especial os psicólogos, nesse processo.

Como último capítulo, Davisson Gonçalves Giaretta e Cynthia Seelig nos trazem o grupo de pacientes de cirurgia cardíaca: a morte como tema implícito ou explícito. Os temas dos grupos envolvendo pacientes cirúrgicos, que naturalmente são despertados pela ameaça da morte, são abordados de maneira interessante, mesclando a experiência clínica com a compreensão e fundamentação para tal. O escrito é enriquecido com exemplo de sessão prática demonstrando ao leitor a expressão do paciente envolvido com o processo da cirurgia cardíaca.

22 Apresentação