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Visão de Futuro do Corpo de Fuzileiros Navais

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ANO XXIX EDIO EXTRA 2 0 1 0

SumrioEditorial - Nossa Capa ..................................................................................................................................................................02 Carta do Comandante Geral do Corpo de Fuzileiros Navais .......................................................................................................04

A Prxima SingraduraIntroduo.....................................................................................................................................................................................09 O Que Somos e Nossos Valores Essenciais ...............................................................................................................................10 A Estratgia Nacional de Defesa e o Corpo de Fuzileiros Navais ...............................................................................................18 Viso de Futuro ............................................................................................................................................................................30 Doutrina ........................................................................................................................................................................................36 Material .........................................................................................................................................................................................44 Recursos Humanos ......................................................................................................................................................................60

O Combatente Anfbio - Anlise do Caso BrasileiroApresentao ...............................................................................................................................................................................68 Introduo.....................................................................................................................................................................................70 Fundamentos Histricos ...............................................................................................................................................................72 Influncias Doutrinrias ................................................................................................................................................................78 Vocaes Consolidadas ...............................................................................................................................................................88 Cenrios Previsveis .....................................................................................................................................................................98 Os Novos Tempos Geram Novas Realidades Que Afetam Nosso Futuro .................................................................................102

omo rgo de divulgao do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), a primeira revista foi editada em setembro de 1939 com o nome O Naval, circulando at 1943. Em maro de 1954, surgia o primeiro jornal dos Fuzileiros O Anfbio, publicado at 1977. Aproveitando esta ltima denominao, a partir de 1961, iniciou-se a edio da Revista dos Fuzileiros Navais, O Anfbio, em circulao at hoje. Destina-se a divulgar a doutrina anfbia e o moderno emprego de Foras de Fuzileiros Navais, difundir a histria e tradies do CFN e constituir-se em foro para debate de idias que estimulem o aperfeioamento tcnico-profissional.

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O ANFBIO no 28 Ano XXIX 2010 EDIO EXTRA Comandante-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais Almirante-de-Esquadra (FN) Alvaro Augusto Dias Monteiro Editor Responsvel Capito-de-Mar-e-Guerra (FN) Renato Rangel Ferreira Projeto Grfico e Editorao Capito-Tenente (T) Ericson Castro de Santana Capa Capito-Tenente (T) Tonery W. Pernambucano JniorAssessoria de Comunicao Social do Comando-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais. Fortaleza de So Jos, s/n - Ilha das Cobras Centro Rio de Janeiro RJ CEP: 20091-000 - Tel.: (21) 2126-5029

As opinies emitidas nos artigos deste peridico so de inteira responsabilidade de seus autores, no refletindo, necessariamente, o pensamento ou atitude do Comando-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais, a no ser que assim esteja expressamente declarado.Todos os trabalhos aqui publicados so de carter gratuito. permitida a reproduo total ou parcial das matrias. Solicita-se a citao da fonte e a remessa de um exemplar da publicao.

Editorial

Nossa CapaNossa capa retrata a cena que representa a essncia estratgica dos Fuzileiros Navais na arte da guerra, o Desembarque Anfbio. A imagem original ganha efeito de pintura, em aluso paixo dos combatentes anfbios por seu ofcio. Para esses valentes guerreiros sua misso, alm de um sacerdcio, tambm uma arte.

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sta edio extraordinria do O Anfbio, de cunho doutrinrio, editada em 2010, ocorre por uma demanda do Comandante-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais, quem sentiu necessidade de traar um direcionamento geral para o futuro desenvolvimento do CFN. Esta necessidade decorreu de uma srie de novos fatos e conjunes com que o CFN vem se deparando, dentre os quais se destacam: a promulgao da Estratgia Nacional de Defesa e o impacto que a participao na Misso das Naes Unidas para a Estabilizao do Haiti (MINUSTAH) vem exercendo sobre o perfil operacional do Corpo de Fuzileiros Navais. Para poder definir com mais segurana o rumo a navegar, precisou-se voltar ao passado para, ao compreender as razes daqueles que nos antecederam, identificar as vocaes e o ethos operacional consolidados ao longo de nossa histria. Com este propsito, revisitou-se o extraordinrio trabalho, denominado O Combatente Anfbio, elaborado por outro Comandante-Geral, o Almirante de Esquadra (FN) Luiz Carlos da Silva Cantdio. Este estudo realou, ainda mais, o valor desta obra, que se mostra, em muitos aspectos, plenamente atual, e, portanto, de valor histrico excepcional. Assim, o Comandante-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais decidiu publicar ambos os trabalhos em uma mesma edio. Na primeira parte deste O Anfbio, encontra-se A Prxima Singradura. Neste artigo, a partir de breve anlise de nossa histria e das vocaes e valores dos Fuzileiros Navais, realizou-se um estudo estratgico do emprego das foras anfbias, para, ento, estabelecer-se a Viso de Futuro do CFN, com seus consequentes impactos sobre a doutrina, o material e os recursos humanos. Na segunda parte, faz-se o resgaste histrico de O Combatente Anfbio, em uma verso ilustrada que, perenizada, alm de conferir-lhe o devido valor, facilitar sua consulta e estudo. Cabe destacar que O Combatente Anfbio j consta do Programa de Leitura Profissional do CFN.

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Carta do ComGer

O Corpo de Fuzileiros Navais destinase, prioritariamente, a projetar poder por meio de operaes anfbias e a defender navios, instalaes navais e porturias, arquiplagos e ilhas ocenicas.

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CARTA DO ComGerCFN Ensinam os velhos marinheiros que s pode haver ventos feio, quando se sabe o rumo a aproar. Essa lio marinheira, que mencionei em minha Ordem do Dia n 01/2010, alusiva ao 202 aniversrio do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), traduz com muita propriedade a percepo que tenho, aps quase quatro anos como Comandante-Geral, da necessidade de redefinir o rumo do CFN nesta prxima singradura que principiamos a navegar. Necessidade que decorre de uma srie de novos fatos e conjunes com que o CFN vem se deparando. Entre tantos, destaco o ambiente gerado pela promulgao, em dezembro de 2008, da Estratgia Nacional de Defesa (END), fomentando o debate, no apenas no meio militar mas envolvendo, de forma indita, seno a sociedade como um todo, parcela significante e influente de sua liderana civil. Nunca ser demais ressaltar que o papel o qual a END impe ao CFN, de importncia mpar, culminando aspirao de todos os Fuzileiros Navais de hoje e de sempre, requerer de todos ns, para seu adequado desempenho, extraordinria dedicao. Outro ponto a destacar deriva do impacto que os seis anos consecutivos e ininterruptos da exitosa participao na Misso das Naes Unidas para a Estabilizao do Haiti (MINUTAH) trazem sobre o perfil operacional do Fuzileiro Naval. Diversos indcios do conta que nossos oficiais e praas, nossa doutrina e material esto sendo atrados por essa cativante operao de paz. A possibilidade de participar de uma operao real, a realizao profissional decorrente dessa participao, a gratificante sensao de se estar ajudando um povo amigo, as benesses remuneratrias, enfim, tudo conduz para um envolvimento cada vez mais forte com essas operaes militares, ditas de no guerra. No se pode esquecer, contudo, que as operaes de paz, como as do Haiti e de Angola, possuem carter estritamente terrestre. Portanto, embora nossa participao nelas traga enormes benefcios, no representam nosso emprego prioritrio. No devem, por conseguinte, condicionar, absolutamente, nosso preparo, pois se assim o fizermos estaremos nos especializando em algo no exclusivo e essencial do Poder Naval, qual sejam as operaes anfbias; estas, sim, nossa razo de existir. A percepo de uma possvel postura dissocivel ou, ao menos, no inteiramente alinhada ao Poder Naval fez-me recordar do extraordinrio trabalho realizado pelo Almirante de Esquadra (FN) Luiz Carlos da Silva Cantdio, denominado O Combatente Anfbio, trabalho que compe a segunda parte desta edio de O Anfbio. O Almirante Cantdio foi o Comandante-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais de 1990 a 1994, perodo no qual se fez necessrio, tambm, definir o rumo que o CFN deveria seguir. Foi essa necessidade que o fez debruar-se sobre nossa histria, a fim de, a partir de nossas origens e principais influncias recebidas, identificar as vocaes mais firmemente consolidadas do CFN. Com esse prumo, analisou os cenrios previsveis e definiu o rumo a navegar. Na apresentao que redigiu para o Combatente Anfbio, o Almirante de Esquadra Jelcias Baptista da Silva Castro, ento Comandante de Operaes Navais, destacou duas importantes, corajosas e tempestivas recomendaes do Almirante Cantdio: A primeira diz respeito absoluta necessidade da integrao do Corpo de Fuzileiros Navais viso estratgica da Marinha, como agente de valor, includo por vocao, por racional e por gosto no Poder Naval. A segunda, corolrio da primeira, nos alerta quanto ingenuidade perigosa de sonhar, isoladamente, com um componente que venha a ser incoerente com as reais possibilidades e limitaes do nosso Poder Naval.4O ANFBIO 2009

Dezessete anos depois, sinto-me no dever de conjecturar sobre o rumo do Corpo de Fuzileiros Navais. Empreendi, ento, o artigo que compe a primeira parte deste O Anfbio. Denominei-o de A Prxima Singradura, e, semelhana de O Combatente Anfbio, valendome de estudos realizados, confirmei a importncia de nossas vocaes consolidadas como prisma para essa conjectura. Tambm adotei a premissa do incondicional alinhamento de postura estratgica com a Marinha. Importar mais para o CFN aquilo que for igualmente, ou mais, importante para a Marinha do Brasil. Por fim, gostaria de destacar a importncia da leitura e do debate acerca dos fatos e ideias apresentados nos dois artigos O Combatente Anfbio e A Prxima Singradura. A compreenso da trajetria trilhada pelos nossos antecessores, suas razes e dificuldades, deve servir de lio para que copiemos os exemplos de sucesso e nos desviemos daquilo que, outrora, nos obrigou a bordejar. O trabalho do Almirante Cantdio, ao perscrutar as experincias acumuladas por nossos veteranos, revelou um legado doutrinrio, moral e material, de inestimvel valor que modelou nosso perfil operacional e nossa especificidade de sermos tropa anfbia. Legado que a END no s confirmou como enalteceu e que todos os Fuzileiros Navais temos o dever de preservar. Da mesma forma, cnscios dessas lies reveladas, A Prxima Singradura, cujos rumos e velocidades esta publicao busca definir, tem o propsito de assegurar que o Corpo de Fuzileiros Navais do futuro esteja apto a cumprir sua destinao institucional, contribuindo com a Marinha do Brasil para a defesa e o desenvolvimento nacionais. Um futuro no qual o Corpo de Fuzileiros Navais seja, realmente, imprescindvel ao emprego do Poder Naval. Assim, o Corpo de Fuzileiros Navais poder tornar feio os novos e bons ventos que se prenunciam no horizonte. Quando chegarem, j deveremos saber o rumo a aproar. ADSUMUS! VIVA A MARINHA!

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A PRXIMA SINGRADURA

Alte Esq (FN) ALVARO AUGUSTO DIAS MONTEIROA PRXIMA SINGRADURA

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INTRODUO

O artigo A Prxima Singradura, nos mesmos moldes de O Combatente Anfbio, visa a delinear um rumo que possa orientar o desenvolvimento do Corpo de Fuzileiros Navais nos prximos anos. Leva o nome de A Prxima Singradura, pois, nos tempos vindouros, outras singraduras, outros rumos devero ser navegados para fazer frente s evolues que o tempo opera nos interesses das naes, com consequncia direta sobre seus objetivos e estratgias. Por outro lado, a escolha do termo singradura buscou tambm ressaltar que se trata, to somente, de uma linha traada sobre carta nutica. Como si ocorrer em toda navegao, e da mesma forma como tm ocorrido ao longo da histria do Corpo de Fuzileiros Navais, por diversas oportunidades haveremos de bordejar, negociando procelas, ventos e correntes sem, contudo, perder de vista a direo geral a seguir. A definio do rumo adequado iniciou-se com uma breve anlise dos principais aspectos histricos que conformaram, ao longo da existncia do Corpo de Fuzileiros Navais, suas atuais caractersticas, vocaes e valores essenciais. A identificao desses conceitos primordiais, alm de possibilitar a justa compreenso do ethos do Fuzileiro Naval e de sua forma de emprego, permitiu se formarem parmetros que nortearam todo o desenvolvimento intelectual realizado. Esses parmetros foram os sextantes empregados para definir a posio atual do CFN em face das orientaes da Estratgia Nacional de Defesa e a postura e o papel a serem desempenhados pela Marinha do Brasil e seu Corpo de Fuzileiros Navais ante os imperativos nela contidos.Foto Jos Mauro Leandro Pimentel

No terceiro captulo, aps compreender a insero estratgica que cabe ao CFN, passamos a alinhavar um rumo que viabilizasse a consecuo de todas as diretrizes impostas Marinha. A Viso projetada para o CFN nos prximos vinte anos, como no poderia deixar de ser, apontou para a importncia de nossa Amaznia Azul. Contribuir para a proteo das guas Jurisdicionais Brasileiras passar a ser a principal tarefa do CFN. Os captulos seguintes abordam aspectos a serem considerados no desenvolvimento de nossa doutrina de emprego, material e recursos humanos de forma que ao final desta prxima singradura tenhamos alcanado os propsitos desejados.

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O QUE SOMOSO Corpo de Fuzileiros Navais uma fora de pronto-emprego...

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E NOSSOS VALORES ESSENCIAIS

Valores Essenciais do Corpo de Fuzileiros Navais - arte publicada na revista A Galera, n 159, Turma Almirante Guilhem.

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Histricombora o rigorismo histrico indique que as razes do Corpo de Fuzileiros Navais fincam-se no final do sculo XVIII, sua venturosa existncia comeou a ser contada a partir de 7 de maro de 1808, dia em que a Brigada Real da Marinha aportou no Rio de Janeiro, dando por finda sua misso de guarnecer as naus e embarcaes de guerra da Armada Real Portuguesa que demandaram a imensido do mar oceano, a fim de transmigrar para o Brasil as armas e os bares assinalados. Desde sua chegada ao Rio de Janeiro, a Brigada Real da Marinha, que nunca mais deixou o Brasil, empenhou-se em honrar os valores que motivaram sua criao. Ainda em 1808, participou, com pleno xito, da conquista de Caiena, capital do territrio ultramarino francs, evitando o uso daquelas terras como base de operaes navais que permitissem a projeo de poder sobre a margem esquerda do Amazonas e garantissem o sonhado direito navegao e consequente acesso fluvial francs s minas do Peru e de Potosi,1 pois, j em 1796, a Frana disseminava o interesse em ampliar os limites da Guiana Francesa at o Rio Negro e margem esquerda do Amazonas.2 O empenho das tropas napolenicas na Pennsula Ibrica tornava oportuno o efetivo controle do Oiapoque e dos acessos ao Amazonas por sua calha norte. A conquista de Caiena enterrou, definitivamente, aquela ambio geopoltica francesa. Nesses mais de duzentos anos de existncia no Brasil, os Fuzileiros Navais participaram dos eventos e fatos mais significativos da histria nacional, neles imprimindo, sempre, o inexcedvel valor de sua presena, pois homens dotados da ousadia de sair de suas embarcaes e entranhar-se em terra, sem outra alternativa que no a vitria, so de extraordinrio valor, so guerreiros destemidos, em quem poder no tem a morte. Nessa trajetria, 1622 Fuzileiros Navais imolaram suas vidas no altar da Ptria por um Brasil uno e soberano. Desde que regressaram de Caiena, em 1809, os Fuzileiros Navais ocuparam a majestosa Fortaleza de So Jos, onde a brisa marinha vem diariamente lembrar que os Fuzileiros Navais so gente do mar. Portanto, sua formao, cultura, adestramento, organizao e meios devem obrigatoriamente subordinar-se ao ambiente martimo e aos condicionantes da guerra no mar. Hoje, medida que os conflitos mais se aproximam das fmbrias dos mares, o Corpo de Fuzileiros Navais constitui instrumento anfbio de grande valor dissuasrio. Suas caractersticas de prontido operativa e capacidade expedicionria conferem ao Poder Naval brasileiro credibilidade ao exerccio de sua presena.1 GOYCOCHA, Castilhos. A Diplomacia de Dom Joo VI em Caiena. Rio de Janeiro: Edies GTL, 1963. p. 65-68. 2 Id., p. 55-56. 12O ANFBIO 2010

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Detalhe do quadro Desembarque em Caiena. leo sobre tela de Alvaro Martins.

Fortaleza de So Jos.

CaractersticasSo competncias que conformam nosso perfil operacional. Apesar de apresentarem carter permanente, essas caractersticas precisam ser constantemente reavaliadas e, caso necessrio, atualizadas a fim de assegurar, naquilo que nos pertence, o atendimento aos ditames estratgicos nacionais. Profissionalismo o Corpo de Fuzileiros Navais uma tropa exclusivamente composta por militares voluntrios, submetidos a rigoroso processo de seleo e treinamento, bem adestrada e eficiente que, rapidamente, adquire status de tropa veterana, pelo tempo de permanncia de seus integrantes em suas fileiras e pela realizao de seguidas operaes, permitindo um ciclo de transmisso de conhecimentos aos jovens Fuzileiros Navais. Todos os integrantes do Corpo de Fuzileiros Navais so profissionais da guerra anfbia. Combinao de Meios de Combate, de Apoio ao Combate e de Apoio de Servios ao Combate as tropas de Fuzileiros Navais so sempre empregadas por meio de grupamentos Operativos de Fuzileiros Navais (GptOpFuzNav). Esse modelo organizacional, alm de conferir flexibilidade e versatilidade a seu comandante, pois combina as capacidades e competncias dos meios de combate, de apoio ao combate e de apoio de servios ao combate de forma complementar e integrada, possibilita gradualismo no seu emprego. Desse modo, os GptOpFuzNav esto em condies de cumprir extensa gama de tarefas, podendo ser empregados em operaes com diferentes nveis de violncia, desde misses humanitrias at as de combate, e em ambientes operacionais diversos, como o ribeirinho ou o urbano. Essa organizao adotada tanto nas operaes singulares como nas conjuntas. Carter Naval e Anfbio o Corpo de Fuzileiros Navais o brao anfbio do Poder Naval. Seus marinheirossoldados so adaptados tanto para a vida de bordo como para o combate em terra. Os meios de Fuzileiros Navais so especficos para o embarque em navios e posterior desembarque em terra. Esse carter naval, que tanto nos distingue de outras Foras, foi percebido e descrito no prprio Alvar de Criao da Brigada Real da Marinha, Unidade que nos deu origem, o qual, j em 1797, frisava ser intil que tropas de embarque sejam exercitadas a grandes manobras e evolues prprias dos regimentos de meu Exrcito de Terra e devendo ser prprias, particularmente, para defenderem as embarcaes de guerra e para fazerem algum desembarque e tentar algum ataque: sobre objetos anlogos a este fim proposto que devem principalmente exercitar-se. Capacidade expedicionria a capacidade expedicionria do CFN derivou diretamente de nossa vocao anfbia. Ela possibilita o emprego tempestivo de fora autossustenFoto: Jos Mauro Leandro Pimentel A PRXIMA SINGRADURA

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... os Fuzileiros Navais esto, permanentemente, prontos para serem empregados, com mnimo tempo de reao.tvel, para cumprir misso por tempo limitado, sob condies austeras e em rea operacional distante de sua base. A necessidade de haver doutrina, organizao e meios prontos para o embarque e o tempestivo deslocamento em navios da Marinha do Brasil para os cenrios de interesse imps um perfil operacional gil e eficaz. justamente esse perfil que habilita os Fuzileiros Navais a serem empregados rapidamente, em diferentes ambientes, longe de suas bases e com distintas capacidades operativas. Cabe destacar, no entanto, que expedicionrio h que ser o conjugado anfbio e no, unicamente, o Fuzileiro Naval, pois nosso principal vetor de mobilidade estratgica sempre foram e sempre sero os meios navais da Marinha do Brasil. Releva destacar que, no que concerne aos Fuzileiros Navais, expedicionrio refere-se ao aspecto expedito e tempestivo com o qual o conjugado anfbio pode ser posto em ao, e no apenas noo de seu emprego em uma expedio. Curioso notar que o moderno conceito militar de expedicionrio foi difundido no idioma ingls, no qual a palavra grafada como expeditionary. Esse termo deriva das palavras latinas expeditus, que significa um soldado levemente armado, e expedire, que significa estar preparado, pronto e livre para partir. O mesmo radical ped-, na lngua portuguesa, pode ser encontrado tanto na palavra expedio como em expedito, cuja natural acepo se refere ao que gil, que desempenha tarefas ou resolve problemas com presteza, rapidez; diligente3 e nunca a outras acepes que possam denotar improviso ou falta de planejamento. Assim, o conceito em ingls consegue reunir em torno da mesma palavra, tanto a acepo de expedition, referindo-se necessria expedio para se cumprir uma misso distante de sua base, como a de expeditious, referindo-se presteza e prontido operativa. Quando os Fuzileiros Navais se valem desse termo para se referir ao seu pendor para executar uma operao expedicionria, eles o fazem na acepo internacionalmente consagrada. Nesse sentido, ela uma operao que envolve a projeo de poder militar, apoiada em extensas linhas de comunicao, sobre uma rea operacional distante, para realizar uma misso especfica dentro de um prazo delimitado. Envolve, na maioria das vezes, a pronta-resposta e o rpido deslocamento estratgico de foras. Prontido operativa os Fuzileiros Navais esto, permanentemente, prontos para serem empregados, com mnimo tempo de reao. Tal situao obtida pelo prprio carter da fora, composta exclusivamente por profissionais, adequadamente, armados e equipados, e continuamente adestrados, segundo parmetros doutrinrios nicos de vis expedicionrio.3

HOUAISS, Antnio. Dicionrio da Lngua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Objetiva Ltda., 2001.

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VocaesNo decorrer de sua histria, os Fuzileiros Navais consolidaram as seguintes vocaes que, hoje, condicionam seu perfil operacional. Anfbia a determinao dos Fuzileiros Navais, de hoje e os de sempre, fecundou na Marinha do Brasil uma doutrina anfbia que lhe confere diferencial de expressivo valor estratgico. A continuidade da evoluo operativa dos Fuzileiros Navais culminou o atual legado que combina uma doutrina consolidada com tropas e meios aprestados e adequados para o emprego a partir do mar, o que, por sua vez, caracteriza sua vocao para as operaes anfbias. As Foras de Fuzileiros Navais constituem o ncleo do componente anfbio do Poder Naval brasileiro. Defesa de Instalaes uma das tarefas mais antigas do Corpo de Fuzileiros Navais a de defender navios e instalaes navais e porturias. O prprio Alvar de Criao da Brigada Real da Marinha, de 1797, categoricamente, expressa que as tropas dessa brigada deveriam ser prprias, particularmente, para defenderem as embarcaes de guerra e para fazerem algum desembarque e tentar algum ataque. Assim, desde ento, vm os Fuzileiros Navais empenhando-se na proteo e defesa de navios e de instalaes de interesse do Poder Martimo. Em futuro prximo, essa vocao estender-se- aos arquiplagos e ilhas ocenicas dos cenrios de interesse do Poder Naval.

Pgina do Alvar de Criao do CFN que contm o trecho descrito acima. Acervo do Museu do CFN.A PRXIMA SINGRADURA

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Valores EssenciaisI RE 2 DO NA

O Corpo de Fuzileiros Navais uma fora de pronto-emprego. Quando chamados, os Fuzileiros Navais no tm tempo para terminar sua prontificao operativa e, muito menos, para forjar o carter moral de suas foras. O desafio de se manterem, permanentemente, prontos para serem empregados , em muito, facilitado pelo culto diuturno e determinado dos valores essenciais dos Fuzileiros Navais: honra, competncia e determinao. Na combinao desses valores e no zelo para sua permanente observncia assenta-se a base da capacidade operacional dos Fuzileiros Navais. Esses valores essenciais, alm de mostrarem quem so os Fuzileiros Navais, revelam aquilo em que acreditam. Honra bem intangvel, que sintetiza os valores mais altos do ser humano, como a tica, a moral e a integridade. o alicerce da conduta de todo o Fuzileiro Naval e o farol o qual o guia. Sem honra no tem valor nossa servido militar, a qual tanto exige de ns, mas a que, voluntariamente, nos entregamos. Como nos ensinou nosso Patrono da Marinha, Almirante Tamandar: Honra a fora que nos impele a prestigiar nossa personalidade. o sentimento avanado do nosso patrimnio moral, um misto de brio e de valor. Ela exige a posse da perfeita compreenso do que justo, nobre e respeitvel, para elevao de nossa dignidade: a bravura para desafrontar perigos de toda ordem, na defesa da verdade, do direito e da justia. Em nome dessa honra, todo Fuzileiro Naval um patriota responsvel por seus atos, que cumpre com suas obrigaes, zela pela integridade de seus companheiros, lidera pelo exemplo e possui coragem mental, moral e fsica. Competncia a soma de conhecimentos e habilidades que nos permitem cumprir com eficincia as mais variadas tarefas. Nesta era do conhecimento, no mais ser possvel liderar, argumentar, debater, comandar, enfim, sem um profundo quinho de saber. A credibilidade profissional do CFN repousa na compreenso de que uma fora anfbia e expedicionria deve estar sempre bem adestrada e instruda. A competncia faz com que todo Fuzileiro Naval esteja sempre pronto para tomar difceis decises, em ambientes complexos, e lidar com o novo, seja durante seu adestramento, seja sob a tenso do combate. Determinao esprito de dedicao e disciplina prprios dos Fuzileiros Navais, sempre prontos para cumprir toda e qualquer tarefa com o mximo de excelncia, independentemente de sua importncia ou relevncia. Sem determinao teria sido impossvel aos Fuzileiros Navais de antanho realizar suas aspiraes, por mais utpicas que fossem, mas que nem por isso deixaram de ser realizadas. a determinao que nos faz manter compromisso inabalvel com nossas utopias e crer que um dia haveremos de realiz-las, todas! a determinao que nos faz executar com profissionalismo as tarefas a ns atribudas e a firmar laos de mtua confiana que prosperam a cada desafio suplantado, pois, nada nos ser dado, tudo deve ser conquistado.16O ANFBIO 2010

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Principais eventos nos quais houve a participao do Corpo de Fuzileiros Navais Reproduo do piso do Memorial Fuzileiros Navais Mortos em Combate. Mais detalhes na revista O Anfbio n 26, Corpo de Fuzileiros Navais 200 Anos.

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O Presidente Lula assina ato que lana a Estratgia Nacional de Defesa, em 18 dezembro de 2008. Foto de Ricardo Stuckert - Presidncia da Repblica.

A ESTRATGIA NACIONAL DE DEFESA E O CFN18O ANFBIO 2010

Para assegurar sua capacidade de projeo de poder, a Marinha possuir ainda meios de Fuzileiros Navais, em permanente condio de pronto emprego. A existncia de tais meios tambm essencial para a defesa das instalaes navais e porturias, dos arquiplagos e ilhas ocenicas nas guas Jurisdicionais Brasileiras...

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...o preparo para o emprego do Poder Naval no Atlntico Sul o farol que dever orientar o preparo de todos que integram a Marinha do Brasil.A Estratgia Nacional de Defesa, no tpico Marinha do Brasil: a hierarquia dos objetivos estratgicos e tticos, assim se refere-se ao CFN: Para assegurar sua capacidade de projeo de poder, a Marinha possuir ainda meios de Fuzileiros Navais, em permanente condio de pronto emprego. A existncia de tais meios tambm essencial para a defesa das instalaes navais e porturias, dos arquiplagos e ilhas ocenicas nas guas Jurisdicionais Brasileiras, para atuar em operaes de paz, em operaes humanitrias, em qualquer lugar do mundo. Nas vias fluviais, sero fundamentais para assegurar o controle das margens durante as operaes ribeirinhas. O Corpo de Fuzileiros Navais consolidar-se- como a fora de carter expedicionrio por excelncia. A publicao da END, estabelecendo claras diretrizes estratgicas, trouxe as questes de defesa para a agenda nacional e provocou a formulao de planejamentos de longo prazo para a defesa do Pas. Resgatou, ainda, valores como a soberania, integridade do patrimnio e do territrio e unidade nacional, dentro de um amplo contexto de plenitude democrtica. Nesta oportunidade em que a sociedade brasileira volta suas preocupaes para a defesa e o desenvolvimento, dedicando, por via de consequncia, maior interesse e ateno ao mar, a Marinha do Brasil se prepara para atender aos ditames estratgicos nacionais. Avulta de importncia sua responsabilidade de vigiar e proteger os interesses brasileiros em toda a Amaznia Azul, extensa rea martima que, englobando a Zona Econmica Exclusiva e a Plataforma Continental, ocupa 4,5 milhes de km. Afora essa enorme extenso martima, cabe ainda destacar os fatos da economia nacional ter forte dependncia do trfego martimo, internacional ou costeiro, da existncia de elementos vitais infraestrutura nacional localizados prximos ao litoral e da presena de grande riqueza, em termos de recursos naturais, submersa em nossas guas Jurisdicionais. Tudo isso demandando uma efetiva capacidade de proteo. Sem mencionar os abundantes recursos marinhos, localizados fora da Amaznia Azul, considerados, atualmente, como pertencentes humanidade, mas cuja prospeco j desperta o interesse de grupos econmicos. A END clama por uma transformao das Foras Armadas para melhor defender o Brasil e estabelece o imperativo de se negar o uso do mar a qualquer concentrao de foras inimigas que se aproxime do Brasil por via martima. Essa diretriz guiar o desenvolvimento desigual e conjunto, permitindo a reconstruo de um Poder Naval balanceado entre seus tradicionais componentes: naval, que a END subdivide em submarino e de superfcie; aeronaval, que a END denomina de aeroespacial, e anfbio, que engloba os Fuzileiros Navais e os navios anfbios. Assim, o preparo para o emprego do Poder Naval no Atlntico Sul o farol que dever orientar o preparo de todos que integram a Marinha do Brasil. Para assegurar a defesa de nossos interesses e de nossa fronteira martima, a Marinha do Brasil precisa dispor de uma Fora Naval capaz de operar tanto nas guas azuis como nas marrons, projetando-se sobre litoral. Por isso, os guerreiros anfbios so instrumento imprescindvel para a defesa da Amaznia Azul. Para tanto, o CFN, nas prximas dcadas, dever intensificar seu contato com o mar. Esse o vetor que nesta prxima singradura dever orientar, adequar e condicionar seu emprego s demandas apontadas pela END. A defesa da Amaznia Azul, assim como de qualquer outra operao defensiva, no deve restringir-se s operaes no interior da rea a ser defendida. As foras adversas devem ser detidas, ou preferencialmente, dissuadidas, muito alm dos limites dos Espaos Martimos Brasileiros.20O ANFBIO 2010

Para tanto, o Poder Naval brasileiro deve espraiar-se por todo nosso entorno estratgico, sendo capaz de influenciar o Atlntico Sul, seus litorais, pontos focais e ilhas ocenicas. Fica claro notar que o Poder Naval brasileiro no dever se restringir a operar nas guas azuis desse mar considerado de interesse. Consoante as tendncias atuais, ele necessariamente precisar ser capaz de atuar tambm nas ilhas e nos litorais que contornam nosso mar estratgico. Essa capacidade, a ser aperfeioada conjuntamente com os meios navais da Marinha do Brasil, ir conjugar a vocao atlntica de nossa Esquadra com a vocao anfbia dos Fuzileiros Navais. Esse esforo de integrao requer a construo de capacidades anfbias teis Fora Naval, com forte contribuio, no apenas s Operaes e Aes de Guerra Naval mas tambm s Operaes de Paz de Carter Naval, como as Patrulhas e Inspees Navais, ampliando, dessa forma, sua versatilidade e seu poder dissuasrio. As potencialidades do componente anfbio do Poder Naval iro contribuir com as quatro Tarefas Bsicas do Poder Naval, segundo o que j prev a Doutrina Bsica da Marinha: Na negao do uso do mar, o componente anfbio pode ser empregado na conquista de areas focais que impeam o uso pelo inimigo de determinada rea martima; na destruio ou neutralizao das bases avanadas do inimigo ou seus pontos de apoio, em litorais ou ilhas ocenicas, ou na conquista e controle de pontos focais que dominem Linhas de Comunicao Martimas de interesse. No controle de rea martima, o componente anfbio pode ser empregado para conquistar reas terrestres que controlam reas de trnsito ou onde esto localizadas bases de apoio inimigas em litorais ou ilhas ocenicas; atacar ou neutralizar foras inimigas em suas bases; conquistar areas focais que garantam segurana s Linhas de Comunicaes Martimas de interesse ou conquistar rea de interesse para apoiar a conduo da guerra naval ou area. Na projeo de poder sobre terra, o componente anfbio pode reduzir o poder inimigo pela destruio ou neutralizao de objetivos importantes; conquistar rea estratgica para a conduta da guerra naval ou area, ou para propiciar o incio de uma campanha terrestre; negar ao inimigo o uso de uma rea capturada; apoiar operaes em terra; salvaguardar a vida humana; ou resgatar pessoas e materiais de interesse. Outra contribuio bastante contempornea a realizao de operaes anfbias de limitada envergadura com a projeo de conjugado anfbio sobre litoral permissivo, com a finalidade de contribuir para a preveno de conflitos ou para mitigar crises. Nesses casos, poderia haver o emprego de um escalo avanado da Fora de Emprego Rpido (FER), com o valor de um Elemento Anfbio, mas com a estrutura de comando e controle de uma Unidade Anfbia, possuindo capacidade de pronta resposta em apoio a operaes, tais como: Operaes Humanitrias; de Segurana; de Apoio a Desastres Ambientais; Civis-Militares; de Evacuao de No Combatentes; de Paz etc. Para dissuadir o acesso de foras hostis aos limites das guas Jurisdicionais Brasileiras e impedir-lhes o uso do espao areo nacional, segundo a END, preciso estar preparado para combater. Essa percepo deve ser claramente notada pelos potenciais adversrios, assim como pelos aliados. A presena viva do Poder Naval em diversos litorais de interesse no nosso mar estratgico, demonstrando sua capacidade, no apenas de cruzar o mar oceano mas de, ainda, espraiar seu poder verstil e til sobre terra, servir para consolidar a imagem de uma Marinha com estatura de potncia regional. justamente essa percepo dissuasria que se conformar como um dos principais instrumentos para a defesa da Amaznia Azul. A tarefa dos Fuzileiros Navais na defesa dos nossos interesses no mar pode parecer simples, pois nossa vocao anfbia vem sendo forjada h sculos. No entanto, essa capacidade precisa ser constantemente aperfeioada e ampliada para fazer frente aos novos cenrios que se formam. Alm disso, nosso desenvolvimento no pode ser apartado da nossa contrapartida naval.A PRXIMA SINGRADURA

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Os diversificados espaos de batalha martimos do futuro demandaro o emprego integrado dos trs componentes do Poder Naval: o componente naval, o aeronaval e o anfbio. Nesse contexto, as operaes anfbias extrapolam seus quatro tradicionais tipos: o assalto, a incurso, a demonstrao e a retirada. J nos dias atuais, e muito mais nos tempos vindouros, as operaes anfbias ampliam suas possibilidades passando a considerar um quinto tipo, a Projeo Anfbia, que abrange desde desembarques visando prover ajuda humanitria para evacuar no combatentes, proteger populaes ou at para combater as chamadas novas ameaas. A projeo de tropa anfbia em terra o que caracteriza a operao anfbia moderna, no importando o grau de hostilidade do ambiente nem o tipo de misso a ser cumprida. A capacidade anfbia, no entanto, necessita ser desenvolvida concomitantemente com seus vetores estratgicos: os navios anfbios. A extenso fsica

da Amaznia Azul e do mar que a protege impe a necessidade da mobilidade estratgica. Assim, os Navios de Propsitos Mltiplos (NPM) previstos pela END sero fundamentais para o desenvolvimento conjunto do moderno conjugado anfbio, cuja prontido operativa conferir credibilidade mobilidade estratgica do Poder Naval, permitindo a desejada alternncia entre concentrao e disperso de foras, alm de possibilitar, pela permanncia, gradualismo no emprego dos GptOpFuzNav. A mobilidade ttica, por sua vez, ser conferida pela combinao do emprego de helicpteros, embarcaes de desembarque e viaturas anfbias, meios j previstos no Plano de Articulao e Equipamento de Defesa (PAED). Os Fuzileiros Navais ampliaro sua capacidade de operar com esses vetores, aproveitando o mximo do potencial das tecnologias do movimento, considerando o mar como mais um espao para a manobra; jamais como um obstculo a transpor. Particularmente, as Embarcaes de Desembarque de Carga Geral (EDCG) e as de Viaturas e Material (EDVM) continuaro a ser, ainda por um bom tempo, os vetores de mobilidade ttica preferenciais. Essas embarcaes, de baixo custo de construo e manuteno, so mundialmente reconhecidas por sua flexibilidade e confiabilidade. Elas se constituem em um til vetor para a consolidao da projeo anfbia, em cenrios cada vez mais frequentes, nos ambientes martimos do panorama poltico atual e futuro. A combinao anfbia dos meios navais, aeronavais e de fuzileiros navais, aliada s suas prontides operativas, alcance e permanncia estratgicos e mobilidade ttica, conferem capacidade expedicionria22O ANFBIO 2010

O Corpo de Fuzileiros Navais, alm de contribuir para a defesa da Ptria, dever se encontrar em sintonia com os anseios da sociedade.ao Poder Naval, contribuindo para que este atenda ao triplo imperativo da defesa nacional: monitoramento/controle, mobilidade e presena. Desses imperativos resultar a definio da capacitao operacional da Marinha para melhor desempenhar sua destinao constitucional e suas atribuies na paz e na guerra. As consequentes reorganizao e reorientao foram contempladas pelo Plano de Articulao e Equipamento da Marinha do Brasil (PAEMB). Alm da participao acima descrita, o Corpo de Fuzileiros Navais dever estar apto a contribuir para a satisfao das demais demandas elencadas na END. Assim, o material de Fuzileiros Navais ser cada vez mais oriundo da indstria nacional, visando a fortalec-la e a assegurar nossa autonomia operacional ante o mercado internacional. Essa opo pela indstria nacional, um dos eixos estruturantes da END, no deve, no entanto, imperar, absoluta, sobre solues estrangeiras consagradas que visaram e visam prover nosso arsenal com sistemas de armas geis e leves, assim como, com vetores de mobilidade ttica, todos adequados ao emprego anfbio. Apesar da premente opo pela indstria nacional, a condicionante anfbia, decorrente de nossa peculiar maritimidade, deve ser o fator preponderante na definio do material de Fuzileiros Navais. Essa independncia nacional ser tambm alcanada pela capacitao tecnolgica autnoma, inclusive, nos estratgicos setores ciberntico e nuclear. No independente quem no tem o domnio das tecnologias sensveis, tanto para a defesa como para o desenvolvimento. O fortalecimento do setor ciberntico atende da mesma maneira ao conceito de flexibilidade. Assim, todas as operaes de Fuzileiros Navais sero centradas em redes que conectaro desde os Centros de Operaes de Combate dos altos escales at o ltimo Fuzileiro Naval em ao na frente de contato, sem, contudo, em hiptese alguma, tornarem-se instrumentos de cerceamento da iniciativa do combatente anfbio. Os ambientes complexos dos engajamentos futuros requerero dos altos escales rgida disciplina intelectual a fim de evitar que, merc dos meios de comunicaes centrados em rede, interfiram nas decises do Fuzileiro Naval, engajado na frente de combate, restringindo sua iniciativa, pois, s o combatente que atua na cena de ao tem perfeita compreenso dos ditames e condicionantes do combate. Os instrumentos de batalha de comando e controle devero possuir dispositivos e procedimentos de segurana que reduzam sua vulnerabilidade contra ataques cibernticos. No campo nuclear, as Companhias de Defesa Qumica, Biolgica e Nuclear de Aramar e de Itagua provero tanto a segurana nuclear como a segurana orgnica das instalaes do Centro Tecnolgico da Marinha em So Paulo e da futura base de submarinos. A possibilidade de prover defesa nuclear, qumica e biolgica, aliada capacidade anfbia e expedicionria do conjugado anfbio, agregar ao Poder Naval as opes de levar essa capacidade aonde for necessrio, seja para emprego humanitrio, seja operacional, em proveito de nossas foras. Com relao ao terceiro eixo estruturante da END, que versa sobre a composio dos efetivos, cabe registrar que o Corpo de Fuzileiros Navais continuar sendo um espao republicano, acima das classes sociais, no qual a Nao se reconhecer, o que contribuir para a mobilizao do povo brasileiro em defesa da soberania nacional. O CFN manter sua poltica de formar seus quadros, nica e exclusivamente, com militares profissionais. Os Fuzileiros Navais continuaro a ser democraticamente recrutados em todas as regies do Pas, segundo critrios de vigor fsico, aptido e capacidade intelectual, mantendo representaes de todas as classes sociais. Sua formao, no entanto, ser centralizada e uniforme, o que garantir elevado nvel de profissionalizao, unidade de pensamento eA PRXIMA SINGRADURA

Foto: Jos Mauro Leandro Pimentel

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prontificao operativa. Esse procedimento, alis, vem sendo h muito tempo praticado pelo CFN que, desde suas origens, teve seus quadros formados por militares oriundos dos mais distantes rinces do Pas. O Corpo de Fuzileiros Navais, alm de contribuir para a defesa da Ptria, dever se encontrar em sintonia com os anseios da sociedade. Estaro em pauta, permanentemente, aspectos como a proteo do meio ambiente, sade pblica nacional ou internacional, alm das tarefas subsidirias da Marinha como atuar na garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem; atuar em aes sob a gide de organismos internacionais e em apoio poltica externa do Pas e cumprir as atribuies subsidirias previstas em lei, com nfase naquelas relacionadas autoridade martima. A participao em operaes internacionais de paz ou humanitrias, preferencialmente, as de carter naval, fora do territrio e das guas Jurisdicionais Brasileiras, em qualquer regio que configure um cenrio estratgico de interesse naval, atuando isoladamente, em conjunto com outras foras ou em coalizo multinacional, outra possibilidade das tropas anfbias, que podem ser usadas como resposta imediata para respaldar a poltica externa brasileira. Convm, no entanto, manter sempre em perspectiva que, apesar da importncia e do destaque da participao em operaes de paz ou humanitrias, o Corpo de Fuzileiros Navais, assim como toda e qualquer Fora Armada, foi concebido e organizado, precipuamente, para a defesa da Ptria. Portanto, especializar uma tropa, ou parcela pondervel dela, para atuar em operaes no blicas, tem impacto negativo sobre sua doutrina, equipamento, armamento e perfil operacional. As mesmas caractersticas que as tropas de Fuzileiros Navais conferem ao Poder Naval para a defesa da Amaznia Azul so as que as habilitam a atuar em outros ambientes. A prontido e a capacidade anfbia e expedicionria possibilitaro sua atuao nas vias fluviais, garantindo a segurana das margens durante as operaes ribeirinhas, tanto no ambiente amaznico quanto no pantanal. Elas sero tambm teis para a defesa das instalaes navais e porturias, dos arquiplagos e ilhas ocenicas. Por fim, volta-se a destacar que o Atlntico Sul, seus contornos, ilhas e litorais, sendo a linha do vento de nossa estratgia naval, passaro a ser foco de muitas das atividades, operaes e esforos dos combatentes anfbios. Nesta prxima singradura, o Corpo de Fuzileiros Navais, parcela intrnseca do Poder Naval, oferecer Marinha do Brasil capacidade anfbia moderna e verstil e ser, nos moldes apresentados, imprescindvel para a defesa dos interesses nacionais na imensa Amaznia Azul. REFLEXOS DAS DIRETRIZES DA END NO CFN A END, documento ostensivo e, portanto, disponvel para consulta por toda a sociedade brasileira, estabelece diversas premissas, assumidas a partir de suas vinte e trs diretrizes, que estabelecem as orientaes e objetivos para a estruturao das Foras Armadas brasileiras. Entre essas diretrizes, destacam-se algumas que maior impacto provocam no CFN, descritas e analisadas a seguir. A Diretriz n 1 descreve a necessidade de dissuadir a concentrao de foras hostis nas fronteiras terrestres, nos limites das guas Jurisdicionais Brasileiras (AJB) (grifo nosso), e impedir-lhes o uso do espao areo nacional Para dissuadir preciso estar preparado para combater, ou seja, o CFN deve dominar vasta gama de capacidades operacionais e possuir credibilidade de emprego dessas capacidades diante de potenciais adversrios. A tecnologia, por mais avanada que seja, jamais ser alternativa ao combate. Ser sempre instrumento do combate.4 Vale esclarecer que a estratgia da dissuaso se caracteriza pela manuteno de foras militares suficientemente poderosas e prontas para emprego imediato, capazes de desencorajar qualquer agresso militar.5 Verifica-se, assim, aderncia conceitual com vrias caractersticas inerentes s foras expedicionrias4 Brasil. Ministrio da Defesa. Estratgia Nacional de Defesa. Braslia, DF, 2008. p. 4. 5 Brasil. Ministrio da Defesa. Manual MD35-G-01 Glossrio das Foras Armadas. 4 ed. Braslia, DF, 2007. p. 98. 24O ANFBIO 2010

e de emprego-rpido, tpicas dos GptOpFuzNav. Essa diretriz impe ao CFN, de forma direta, algumas necessidades essenciais. Inicialmente, o CFN pode contribuir com o potencial dissuasrio por meio do preparo e da prontido operativa dos seus meios, com nfase na organizao de uma Brigada Anfbia aprestada e apta ao pronto embarque nos navios da Esquadra. Verifica-se tambm a necessidade de incrementar a prtica de aes que contribuam com a dissuaso a partir dos limites das AJB, expresso que diz respeito soberania nacional sobre as ilhas ocenicas brasileiras e a plena garantia de explorao da Zona Econmica Exclusiva e Plataforma Continental. Isso traz evidentes reflexos para o CFN, que dever buscar contribuir para a ampliao da credibilidade da presena do Poder Naval no Atlntico Sul, por meio de sua capacidade de projeo de poder sobre essa vasta regio, que pode requerer a realizao de operaes militares nas ilhas ocenicas, apoio s aes de Inspeo Naval, prontido dos meios Distritais (Rio Grande, Rio de Janeiro, Salvador, Natal e Belm), entre vrias outras tarefas. A Diretriz n2 estabelece que as Foras Armadas devem estar organizadas sob a gide do trinmio monitoramento/controle, mobilidade e presena, destacando dever esse trinmio resultar a definio de suas capacitaes operacionais. Para o atendimento de tal diretriz fundamental a tomada da conscincia situacional martima de nosso entorno estratgico, com a efetiva compreenso de tudo que est associado com o meio marinho o qual possa causar impacto na segurana, na defesa, na economia e no meio ambiente. A ampliao de tal conscincia situacional sobre o Atlntico Sul conferir profundidade defesa do territrio nacional ao possibilitar o monitoramento e o controle por meio da deteco, acompanhamento e identificao, das ameaas o mais distante e antecipadamente possvel. Essa antecipao, conjugada com a devida mobilidade e a presena com credibilidade do Poder Naval brasileiro, possibilitar a defesa das guas Jurisdicionais Brasileiras O Poder Naval dever instar confiana mtua com os pases de nosso entorno estratgico e prover apoio para mitigar crises e combater novas ameaas que certamente surgiro neste espao de interesse. Nesse sentido, a participao dos Fuzileiros Navais ser de grande valia. A tomada de conscincia do que ocorre no nosso domnio martimo e seu bom uso sero tambm fundamentais para cristalizar o poder de nossa marinha no Atlntico Sul. A Diretriz n 4 refere-se ao desenvolvimento lastreado na capacidade de monitorar/controlar, da capacidade de responder prontamente a qualquer ameaa ou agresso e ressalta que o imperativo de mobilidade ganha importncia decisiva, dadas a vastido do espao a defender e a escassez dos meios para defend-lo. O esforo de presena, sobretudo ao longo das fronteiras terrestres e nas partes mais estratgicas do litoral, tem limitaes intrnsecas. a mobilidade que permitir superar o efeito prejudicial de tais limitaes.6 No tocante ao CFN, torna-se novamente evidente a necessidade de prontido operativa e efetiva capacidade de projetar poder das diversas unidades de FN, contribuindo diretamente para reduzir o tempo de resposta para o embarque dos GptOpFuzNav. Verifica-se tambm a possibilidade de criao de novos ncleos operativos nas reas citadas mais estratgicas do litoral, principalmente, aquelas mais distantes da sede da atual Esquadra, provendo MB maior mobilidade e poder de combate para a pronta resposta nessas regies. Entre as opes visualizadas para atender diretriz, projeta-se que a existncia de unidades as quais permitam organizar por tarefas Unidades Anfbias (UAnf) e Elementos Anfbios (ElmAnf) na Regio Norte/Nordeste e a manuteno desses efetivos prximos s reas de embarque distritais contribuem para minimizar as limitaes inerentes ao vasto territrio brasileiro, no que se refere ao pronto emprego da MB. As Diretrizes n 5, 12 e 13 enfatizam a necessidade de se aprofundar o vnculo entre os aspectos tecnolgicos e os operacionais da mobilidade, de se6 Brasil, op. cit., p. 4.A PRXIMA SINGRADURA

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No tocante ao CFN, torna-se evidente a necessidade de prontido operativa e efetiva capacidade de projetar poder das diversas unidades de FN.A PRXIMA SINGRADURA A PRXIMA SINGRADURA

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desenvolver o conceito de flexibilidade no combate e o repertrio de prticas e de capacitaes operacionais dos combatentes. No que tange mobilidade estratgica, torna-se prioritrio o zelo com a modernizao e recompletamento dos meios navais anfbios da Esquadra. A incorporao, prevista no PAEMB, de NPM ampliar sobremaneira a capacidade de atuao do Poder Naval que, por meio do seu conjugado anfbio, poder cumprir extensa gama de tarefas, desde misses de combate at as respostas humanitrias. Essa ampliao da presena e participao ativa do Poder Naval nas guas do nosso entorno estratgico fortalecer sua credibilidade regional. Quanto mobilidade ttica, trs principais vetores se destacam. As Embarcaes de Desembarque de Carga Geral, ou as de Viaturas e Material, continuaro a ser fundamentais para a consecuo da projeo do Poder Naval em reas de interesse. As principais marinhas do mundo no aposentaram essas valiosas embarcaes, pelo contrrio, aumentaram suas quantidades e as modernizaram. Outro vetor, os helicpteros, ser tambm de grande valia para o emprego do conjugado anfbio em vrias tarefas. Com a incorporao dos NPM, com seus mltiplos spots, essas possibilidades certamente se multiplicaro. O ltimo vetor, as Viaturas Blindadas de Transporte de Pessoal, o que facilita o efetivo cumprimento da misso depois do movimento-navio-para-terra. Deve-se buscar balancear mobilidade e proteo, sem perder de vista a possibilidade de emprego em diversos ambientes, desde os urbanos at campo aberto, o que indica a necessidade de se compor nosso arsenal com um misto de viaturas com capacidades diferenciadas. Estas, no entanto, devem todas observar o imperativo de possuir carter naval e anfbio. Em termos organizacionais e de capacidade de comando e controle, cumpre mencionar que a flexibilidade no emprego dos GptOpFuzNav de forma escalonada e conectado em rede contribui com a mobilidade. Isso ocorre medida que o Comandante do GptOpFuzNav e respectivas agncias de comando, juntamente, com o escalo avanado podem iniciar, tempestivamente, o deslocamento para uma rea de crise, embarcados em um nico navio anfbio. Esse escalo avanado pode ser posteriormente multiplicado por outros mdulos operativos os quais porventura necessitem de mais tempo para se deslocar e que podem chegar ao local da crise por outros meios navais ou areos. A conexo em rede, via um Centro de Operaes de Combate digitalizado, favorece a mobilidade ao ampliar o nvel de conscincia situacional, o que, por sua vez, permite reduzir os ciclos decisrios e tempos de reao. A Diretriz n 6 descreve a necessidade de fortalecer trs setores de importncia estratgica: o espacial, o ciberntico e o nuclear. Nesse ltimo, identifica-se claramente a retomada do programa nuclear da MB, com o desenvolvimento do projeto do submarino nuclear, o qual inclui bases navais e centros cientficotecnolgicos capazes de desenvolver a infraestrutura necessria ao projeto. No contexto do CFN, considerando, especialmente, sua tarefa de defesa das instalaes navais, verifica-se a relevncia de desenvolver a capacidade de defesa qumica, biolgica e nuclear (QBN) em apoio ao projeto nuclear, nas reas de segurana e proteo especializadas, relativas aos meios da futura Marinha Nuclear. As Diretrizes n 8, 9 e 10 referem-se, respectivamente, ao reposicionamento dos efetivos das trs Foras, ao adensamento da presena de unidades do Exrcito, da Marinha e da Fora Area nas fronteiras, que incluem as fronteiras hdricas das AJB, e prioridade para a Regio Amaznica.7 Especificamente MB, essas diretrizes reconhecem a necessidade de defender as maiores concentraes demogrficas e os maiores centros industriais do Pas. No entanto, estabelecem claramente que a Marinha dever estar mais presente na regio da foz do Amazonas e nas grandes bacias fluviais do Amazonas e do Paraguai-Paran. Destacam, ainda, que nas guas Jurisdicionais Brasileiras as unidades da Marinha tm, sobretudo, tarefas de vigilncia, compondo sistema integrado de monitoramento/controle e atuao como reservas tticas regionais e estratgicas. Entre os vrios reflexos para o CFN, verifica-se que o incremento da ao de7 Ibid., p. 6-7. 28O ANFBIO 2010

presena da MB em vastas reas geogrficas requer, invariavelmente, a presena fsica de efetivos de FN capazes de prontamente embarcar em navios e aeronaves, capacitando-a a projetar poder e contribuir com a dissuaso. A dificuldade de monitoramento de reas da Amaznia e do Pantanal potencializam a necessidade de efetivos de FN como elemento humano essencial para complementar a cobertura de modernos sistemas de controle a serem instalados. Alm disso, tais diretrizes implicam a criao de novas unidades para operaes ribeirinhas, sem comprometer meios da Fora de Fuzileiros da Esquadra, com nfase nas trs reas tipicamente ribeirinhas brasileiras: a Amaznia Oriental (a regio fluviomartima do delta Amaznico), a Amaznia Ocidental e o Pantanal. Tendo em vista a necessidade de apoio mtuo entre foras navais, aeronavais e de fuzileiros navais principalmente nessas reas ribeirinhas, verifica-se a importncia de considerar o equipamento e articulao de todos esses componentes, de modo a garantir plena capacidade de emprego nessas regies. Nesse contexto, considerar a ampliao das unidades do Sistema de Segurana do Trfego Aquavirio, das unidades de transporte fluvial e dos esquadres regionais ser fundamental ao esforo ribeirinho da MB, no qual j ocorre um crescente incremento na participao de efetivos de Fuzileiros Navais em aes de patrulha e inspeo naval. A Diretriz n 17 diz respeito ao cumprimento de misses de garantia da lei e da ordem, nos termos da Constituio Federal. Apesar do desempenho do papel de polcia no ser a atividade fim dos GptOpFuzNav, sua flexibilidade possibilita a atuao nesses tipos de misso, o que, provavelmente, continuar a ocorrer no futuro. Porm, alm desse emprego em operaes terrestres sem carter naval, os Fuzileiros Navais podero contribuir com a ampliao da capacidade do Poder Naval de atuar na garantia da lei e da ordem. Particularmente, dever ocorrer um incremento da participao de Fuzileiros Navais embarcados em meios navais para cumprir misses de imposio da lei no mar. A Diretriz n 19 refere-se ao preparo das Foras Armadas para desempenharem responsabilidades crescentes em operaes de manuteno da paz, considerando que o fortalecimento do sistema de segurana coletiva benfico paz mundial e defesa nacional. Nesse contexto, verifica-se que o CFN possui um considervel histrico, no qual merece destaque, mais recentemente, sua participao na MINUSTAH, desde o primeiro contingente, em 2004. Alm da participao na MINUSTAH, diversas outras iniciativas nessa rea, tais como a participao de oficiais e praas em misses de observao das Naes Unidas e de desminagem humanitria, demonstram o engajamento do CFN nas operaes de paz, precedendo, at mesmo ao lanamento da END. Nesse preparo, outro vis, ainda, no devidamente mencionado, referese s operaes de paz de carter naval, nas quais a participao dos Fuzileiros Navais a bordo dos navios empregados nessas operaes essencial. Por fim, a Diretriz n 21 refere-se ao desenvolvimento do potencial de mobilizao militar e nacional para assegurar a capacidade dissuasria e operacional das Foras Armadas, as quais devero permanecer habilitadas a aumentar rapidamente os meios humanos e materiais disponveis para a defesa. Entre as principais aes visualizadas para o CFN, verifica-se a relevncia de ampliar o controle do contingente de oficiais e praas da reserva, incrementando programas que permitam atualizar conhecimentos e procedimentos operativos, bem como avaliar o condicionamento fsico, em meio a outras medidas necessrias manuteno da capacidade de mobilizao de meios de FN. importante ressaltar que na poltica de mobilizao do CFN as foras distritais, representadas pelos grupamentos de Fuzileiros Navais, constituem as reservas imediatas para elevar os efetivos dos GptOpFuzNav organizados pela FFE, quando essa Fora tiver exauridos seus recursos humanos. Nesse caso, a mobilizao dos oficiais e praas da reserva visaria atender s tarefas executadas pelos grupamentos de Fuzileiros Navais Distritais cujos efetivos foram empenhados para suprir as necessidades da FFE.

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At 2030, o Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), parcela intrnseca, portanto, indissocivel do Poder Naval, consolidar-se- como a fora estratgica por excelncia, de carter expedicionrio, de pronto emprego e de projeo de poder. Como integrante do componente anfbio da Marinha do Brasil, conferir prontido operativa e capacidade expedicionria ao Poder Naval ampliando suas possibilidades para atuar, tempestiva e eficazmente, em qualquer regio que configure um cenrio estratgico de interesse. O CFN ser imprescindvel para a proteo da Amaznia Azul, pois contribuir para conferir credibilidade presena do Poder Naval no Atlntico Sul, seus contornos e ilhas ocenicas.

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Detalhamento da visoParcela intrnseca do Poder Naval: os laos que unem os Fuzileiros Navais Marinha do Brasil esto indissociavelmente atados, pois deles depende nossa capacidade de vencer batalhas e de executar operaes com carter anfbio e expedicionrio de pronta resposta, caractersticas que tornaro o CFN uma opo mpar e imprescindvel de emprego de fora. Sem o vetor naval de projeo estratgica perdemos nossa mais cara e profunda identidade operacional que h mais de 200 anos conforma nossas tradies e modela nossa doutrina , recursos humanos e materiais. Do mar sempre viremos e para ele sempre haveremos de retornar. Essa condicionante continuar a conformar o CFN do futuro, ainda mais, medida que conflitos e tenses se aproximam do litoral, passando a exigir do Poder Naval uma tempestiva capacidade anfbia que o habilite a projetar sua influncia sobre terra. Apartados da Marinha perderamos a razo de existir; sem a capacidade anfbia provida pelos Fuzileiros Navais, a importncia estratgica do Poder Naval brasileiro estaria significativamente diminuda. Fora estratgica: o CFN de hoje j possui inegvel valor estratgico, merc de capacidades e caractersticas desenvolvidas ao longo de sua histria. Uma fora estratgica deve possuir estruturas flexveis e versteis, ser dotada de grande mobilidade estratgica e ter capacidade de pronta resposta em situaes nas quais a rapidez e a oportunidade constituam fatores preponderantes para seu emprego, dentro ou fora do territrio nacional. Compete aos Fuzileiros Navais de hoje e de sempre cuidar para que os aspectos os quais nos distinguem como fora estratgica se consolidem e se acentuem. A anlise de cenrios prospectivos indica ser cada vez mais fundamental a existncia de foras de pronto emprego, com permanente prontido operacional e capacidade de projeo de poder nas reas de interesse estratgico do Pas, para atender a uma extensa gama de demandas operacionais. A versatilidade e a flexibilidade conferida pelo conceito de emprego por meio de GptOpFuzNav, capazes de rapidamente se adaptar a diferentes perfis de misso, atuando em todo o espectro da violncia em combate, seja em aes humanitrias, no combate s novas ameaas, seja no combate convencional, sero fatores preponderantes para sermos a melhor opo de emprego de fora estratgica da nao. Os GptOpFuzNav ampliaro sua capacidade de executar operaes ribeirinhas, com foco na segurana e no controle das margens dos rios. O CFN ter envergadura compatvel com a estatura poltico-estratgica do Pas e estar sempre apto a respaldar a poltica externa brasileira e atender aos interesses da Marinha do Brasil. Fora Anfbia: a eficcia do Poder Naval brasileiro estar relacionada sua capacidade de integrar os seus componentes clssicos: o naval, o aeronaval e o anfbio, para atuar em diversificadas operaes, em cenrios estratgicos de interesse. Os caracteres naval e anfbio dos GptOpFuzNav sero cada vez mais o diferencial do CFN no contexto das Foras Armadas brasileiras. Com o moderno entendimento de que operaes anfbias so todas e quaisquer operaes nas quais foras, vindas do mar, se lanam sobre terra, para atender a alguma demanda operacional, que tanto pode ser de combate como de no guerra, ampliam-se as opes para o Poder Naval projetar sua influncia nas reas de interesse. Os marinheiros soldados sero o vetor anfbio e expedicionrio da Marinha, pronto e forte, tanto para futuros embates em espaos de batalhas prximos aos litorais, contra ameaas convencionais ou assimtricas, quanto para apoiar aes no campo diplomtico. Para tanto, os GptOpFuzNav sero modernos e flexveis e estaro permanentemente prontos para atuar no mar, a partir do mar ou em guas inte32O ANFBIO 2010

riores, de forma singular ou conjunta, dentro de prazos de reao exguos. Para serem os primeiros a atuar, esses grupamentos sero balanceados entre ser forte o bastante para vencer batalhas e leve o suficiente para facilitar seu rpido deslocamento estratgico. Fora expedicionria: a natureza da capacidade expedicionria que permeia as foras de Fuzileiros Navais guarda intrnseca relao com nossa vocao anfbia de projeo de poder. Definem os requisitos que devem possuir foras expedicionrias: mobilidade estratgica, flexibilidade, versatilidade, capacidade de assalto e retirada planejada, permanncia, prontido e austeridade. No CFN, o desenvolvimento desses requisitos foi decorrncia direta dos esforos de nossos antecessores em forjar uma fora anfbia, cuja doutrina, adestramento e meios foram concebidos para o embarque nos meios navais e o posterior desembarque para o cumprimento de misses em terra. Tal imperativo naval nos fez leves e geis, caractersticas basilares tanto para a capacidade anfbia como para a expedicionria. Esse mesmo imperativo estarmos sempre prontos para rapidamente embarcar em navios da Marinha do Brasil, e sermos estrategicamente por ela deslocados para cenrios de interesse dever continuar a pautar nossa preparao para o combate. Assim como no passado, dever ser o vetor naval no futuro quem forjar nosso perfil operacional. Esta ser, todavia, uma singradura na qual no poderemos navegar sozinhos, pois, expedicionrio h que ser o conjugado anfbio, e no, unicamente, o Fuzileiro Naval. Proteo da Amaznia Azul: a defesa da Amaznia Azul no deve ser conduzida de seu interior. Para proteg-la, sero necessrias aes nos nveis poltico, estratgico-militar e operacional, as quais no estaro restritas aos espaos martimos brasileiros. A segurana da Amaznia Azul decorrer da propagao da influncia do Poder Naval brasileiro pelo Atlntico Sul, suas adjacncias e ilhas ocenicas. A presena crvel do Poder Naval dever ser percebida no apenas no mar mas tambm nos litorais de nosso entorno estratgico. Nessa presena, uma fora que avance sobre terra, a partir de bordo, seja para combater, seja para oferecer apoio humanitrio, ser uma ferramenta imprescindvel no balano de poder da futura esfera de influncia da Marinha do Brasil.

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Outros aspectos da visoO Fuzileiro Naval: o Fuzileiro Naval continuar a ser o principal bem do CFN. Seus homens e mulheres sero recrutados, instrudos e adestrados com excelncia, pois disso depender todo e qualquer sucesso no campo de batalha. A guerra um fenmeno essencialmente humano e, como tal, depende de tropa com moral elevado, aspecto psicolgico com potencial de sobrepujar inimigos mais fortes materialmente. Sob o enfoque da guerra de manobra, vale acrescentar a diferena entre derrotar e destruir o inimigo, sendo a primeira fortemente influenciada pelo moral, por uma sensao psicolgica de vitria e a segunda, pela atrio fsica, pela contagem de meios incapacitados. Nesse contexto, desenvolver a capacidade de identificar fraquezas no moral inimigo torna-se um vis to importante quanto manter o moral do Fuzileiro Naval elevado. O apoio famlia anfbia conferir o necessrio conforto social aos combatentes em ao, elevando seu moral e multiplicando sua capacidade combativa. O Material: os GptOpFuzNav possuiro adequados meios materiais que ampliem sua eficcia e capacidade de durar em combate. A letalidade, mobilidade e proteo conferidas por esses armamentos e equipamentos sero um fator de multiplicao do poder de combate, mas sero, ao mesmo tempo, ligeiros e leves para no comprometerem nosso carter naval e expedicionrio. Esses grupamentos tero a capacidade de explorar ao mximo as possibilidades do apoio logstico seletivo prestado a partir de bordo dos navios em proveito das unidades em terra. A Doutrina: a doutrina do CFN ser capaz de se adaptar rapidamente s evolues tecnolgicas e blicas, permeando e orientando todos os esforos de formao de recursos humanos, de obteno e manuteno de materiais e do adestramento e emprego operacionais. As lies aprendidas com nossas prprias experincias contribuiro para o refinamento da doutrina. Esta no dever prescrever frmulas ou solues vitoriosas dos conflitos passados, mas apresentar-se como ferramenta de anlise, permitindo que o planejador aplique da melhor forma os meios disponveis para atingir os efeitos desejados determinados pelo escalo superior. As Tradies: as tradies, crenas, disciplina e esprito de corpo do CFN devero estar de tal forma arraigados que contribuiro para acendrar o sentimento de comprometimento com nossos antecessores e de determinao em O Fuzileiro Naval obter engajamentos vitoriosos. Cultuar as tradies no principal bem do CFN. significa conservadorismo ou obsolescncia, ao contrrio, cria identidade e sentido de coletividade prpria Instituio, capazes de se refletir sobre o moral da tropa. Os Eixos Estruturantes: a evoluo do CFN rumo Viso de Futuro ser balizada por trs eixos estruturantes, interdependentes e complementares. Estes devero dire34O ANFBIO 2010

Viatura Blindada de Transporte de Pessoal sobre Rodas - Piranha - um dos vetores necessrios mobilidade ttica do CFN.

cionar o desenvolvimento da doutrina, do material e dos recursos humanos do CFN em consonncia com os rumos traados no presente artigo para esta prxima singradura. Operao Anfbia: o primeiro e mais importante eixo o regate, a valorizao e o permanente aperfeioamento da nossa capacidade de realizar operaes anfbias. Ao nos prepararmos para essas complexas operaes, estaremos tambm aptos a conduzir outras, de diferentes naturezas e envergaduras. Apesar de termos que estar, sempre, prontos para cumprir qualquer misso, o nosso foco e, consequentemente, nossa energia e recursos humanos, materiais e doutrinrios no devem nunca, por qualquer razo, abandonar esse eixo. ele que nos distingue e assegura nosso nicho operacional. GptOpFuzNav: o segundo eixo a ampliao da capacidade de emprego dos GptOpFuzNav, particularmente, pelo aumento de sua mobilidade, poder de fogo e meios de comando e controle, bem como pelo incremento de sua participao em diferentes misses. Esse modelo organizacional que combina, de forma modular, meios de combate, de apoio ao combate e de apoio de servios ao combate, terrestres ou areos, , particularmente, apropriado para a realizao de operaes anfbias de qualquer tipo ou envergadura. Sua peculiar caracterstica de poder ser empregado de forma escalonada, variando rapidamente o valor de sua tropa, dever constituir ferramenta indispensvel para futuros embates. Guerra de Manobra: o terceiro eixo estruturante a opo pela adoo do estilo de guerra conhecido como Guerra de Manobra. Esse estilo de guerra naturalmente adequado ao emprego de fora em ambientes de ameaas incertas, hbridas ou difusas, que exijam iniciativa e rapidez de deciso, ou quando uma fora tenha de se engajar em combate, sem apoio de retaguarda, em frentes amplas as quais impeam a concentrao de seu poder de combate, como o caso das operaes anfbias. A eficincia no emprego de GptOpFuzNav demanda a adoo de conceitos que valorizem a liderana em todos os nveis, a rapidez, a surpresa, a audcia e a capacidade de empregar armas de forma combinada que so fundamentos do estilo da Guerra de Manobra.

Centro de Instruo Almirante Sylvio de Camargo - um dos difusores da Doutrina.

Encontro de Veteranos - tradio que fortalece o esprito de corpo do CFN.

Os Eixos Estruturantes que conduziro o CFN rumo Viso de Futuro.

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A DOUTRINA

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A NO CFNA doutrina do CFN ser capaz de se adaptar rapidamente s evolues tecnolgicas e blicas, permeando e orientando todos os esforos de formao de recursos humanos, de obteno e manuteno de materiais e do adestramento e emprego operacionais. As lies aprendidas com nossas prprias experincias contribuiro para o refinamento da doutrina. Esta no dever prescrever frmulas ou solues vitoriosas dos conflitos passados, mas apresentar-se como ferramenta de anlise, permitindo que o planejador aplique da melhor forma os meios disponveis para atingir os efeitos desejados determinados pelo escalo superior. VISO DE FUTURO DA DOUTRINAA PRXIMA SINGRADURA

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A doutrina, portanto, faz a ponte entre o passado e o futuro, inter-relacionando estratgia e ttica.xito no emprego de foras militares est relacionado existncia de um entendimento comum sobre como traduzir os ditames estratgicos em tticas, tcnicas e procedimentos padronizados. Tal entendimento comum a doutrina no pressupe um conjunto de regras rgidas, mas, sim, a soma de experincias acumuladas, adaptadas s realidades e demandas operacionais correntes ou visualizadas para o futuro. A doutrina no deve ser considerada um dogma imutvel; ela evolui medida que evoluem as circunstncias, os sistemas de armas, as peculiaridades das Foras etc... Nessa evoluo, a doutrina subordina-se, irremediavelmente, aos ditames dos Princpios de Guerra; estes, sim, tm caractersticas de perenidade uma vez que derivam da natureza humana. Assim, para que se guarde aderncia realidade, partindo-se da estratgia, deve-se modelar a doutrina que servir de guia para se organizar, equipar e adestrar foras para um adequado e coerente emprego. A doutrina deve compor um conjunto de entendimentos e crenas mtuos que orientar os militares, individualmente ou em conjunto, garantindo eficincia e familiaridade na execuo de tticas, tcnicas e procedimentos, bem como no emprego dos diferentes sistemas de armas. A doutrina, portanto, ao mesmo tempo que se vale de todo o cabedal de conhecimento e de experincia acumulado por uma Fora ao longo de sua existncia, tem que ser orientada para permitir o atendimento das diretrizes estratgicas de interesse nacional. Se rompermos com o passado, perderemos nossa referncia operacional, desperdiaremos a vocao e competncia construdas e arriscaremos tornar obsoleto nosso arsenal. Por outro lado, se no focarmos nas demandas estratgicas nacionais, correremos o risco, muito provvel, do planejamento e preparo de nosso emprego tornarem-se despropositados e, consequentemente, dispensvel nossa prpria existncia. A doutrina, portanto, faz a ponte entre o passado e o futuro, inter-relacionando estratgia e ttica. O estudo da END apontou a necessidade de o CFN estar pronto, precipuamente, visando contribuir para a defesa da Amaznia Azul. Nossa doutrina deve, portanto, subordinar-se a esse imperativo. Deve valer-se de nossas caractersticas e vocaes consolidadas para modelar um conjunto de opes de emprego que sejam teis para a aplicao com credibilidade do Poder Naval no Atlntico Sul. A vocao anfbia do CFN ser um valioso instrumento para projetar poder naval em ilhas ocenicas e em litorais de interesse. Essa projeo no pressupe apenas o uso de fora. Muitas vezes, o poder se materializa em aes pouco blicas, como as ajudas humanitrias ou as aes para mitigar crises. Nossa prontido operativa, aliada mobilidade estratgica do conjugado anfbio, dever ser constantemente aperfeioada. Para estabelecer a adequada ligao com a END, nossa doutrina anfbia ter que ser revitalizada, de modo a oferecer uma diversificada capacidade ao Poder Naval. Para tanto, trs principais pilares, eixos norteadores de nosso desenvolvimento doutrinrio, continuaro a ser a base de nossa doutrina: a expertise na execuo das operaes anfbias, o modelo de combinar meios de combate de apoio ao combate e de apoio de servios ao combate por meio de GptOpFuzNav e seu emprego segundo os preceitos da Guerra de Manobra. A flexibilidade e versatilidade inerentes aos GptOpFuzNav sero fundamentais para a consecuo das tarefas que nos sero impostas.

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EIXOS ESTRUTURANTES DA DOUTRINA DE EMPREGO DO CORPO DE FUZILEIROS NAVAIS

Alm do imperativo anfbio, abrangendo todo seu espectro de emprego, desde o combativo assalto anfbio at a projeo anfbia de carter humanitrio, nossa doutrina dever tambm contemplar a defesa de ilhas ocenicas e de reas de interesse naval. Alm disso, crescer de importncia o emprego de Fuzileiros Navais na proteo fsica dos meios navais, necessidade cada vez mais premente ante o aumento da incidncia de novas ameaas que devem ser combatidas pelo Poder Naval. Sem comprometer suas competncias desenvolvidas, o CFN dever estar pronto para enfrentar inimigos difusos em ambientes complexos, tais como litorais urbanizados ou com sistemas antiacesso, nos quais diversos atores interagem simultnea e irregularmente, podendo empregar uma extensa gama de armas assimtricas, desde as mais rsticas at as cibernticas. No futuro, os ambientes tendero cada vez mais a se tornarem extremamente complexos em razo da crescente urbanizao dos litorais e, portanto, da necessidade de se atuar no interior dessas reas intensamente urbanizadas, onde existe grande presena de no combatentes e mandatria a interao com diversificados atores governamentais ou no governamentais. O CFN ter que aperfeioar sua capacidade de lidar com culturas diferentes, sabendo identificar lideranas locais e interagir com diversificadas populaes e suas demandas, o que no futuro se constituir em um enorme diferencial operacional, multiplicando o poder de combate de nossas tropas. Para tanto, ser necessrio que cada Fuzileiro Naval, a par de sua competncia profissional, desenvolva tambm, independentemente de seu posto ou graduao, adequada competncia cultural. Esse novo e catico ambiente, com visibilidade global decorrente da quase onipresena da mdia, demandar uma tropa capaz de empregar fora de forma eficaz, porm legtima, humana e respeitosa. Os GptOpFuzNav devero ser capazes, merc do gradualismo de seu emprego, proporcionado pelas caractersticas do Poder Naval de mobilidade e permanncia, de multiplicar rapidamente seu valor militar a fim de atender evoluo dos propsitos de suas variadas misses; versteis e flexveis, tero que saber conjugar operaes de informao, de combate e civis-militares.

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O PROCESSO DOUTRINRIO A doutrina do CFN deve ser entendida como um processo contnuo, cclico, sistematizado e integrado. Trata-se de um processo contnuo medida que busca atender s permanentes demandas de atualizao doutrinria em face da evoluo da guerra. O carter cclico decorre da realimentao do processo que mantm a doutrina atual e corrige eventuais falhas em sua formulao, contribuindo para seu aperfeioamento. Esse processo segue uma sistematizao estabelecida em um planejamento de longo prazo, denominado Plano de Desenvolvimento da Srie de Publicaes do CGCFN, que define a metodologia a ser seguida em todas as fases do seu ciclo. No entanto, para que todo o processo seja efetivo, ele deve estar plenamente integrado s atividades de ensino, instruo e adestramento, bem como s atividades de planejamento e execuo do reaparelhamento do CFN. A doutrina orienta no apenas o emprego como a organizao e o material, em razo da interdependncia existente entre eles. A doutrina no CFN dever estar em permanente evoluo, observando o Ciclo Doutrinrio que compreende pesquisa, formulao, validao, ensino e seu posterior refinamento.

Pesquisa Formulao Validao Ensino Refinamento

Ciclo Doutrinrio

a) Pesquisa Decorre da necessidade de reviso ou elaborao de novas publicaes, com o intuito de perseguir o estado da arte. O Comando-Geral delineia as alteraes, ou desenvolve o arcabouo das novas publicaes, mediante a definio preliminar das abordagens e principais aspectos de seus contedos. So partcipes ou fornecem subsdios para tal atividade, entre outras, as seguintes fontes: o Centro de Estudos do CFN; as lies aprendidas; as publicaes doutrinrias da MB; as publicaes doutrinrias do MD, EB e FAB; as publicaes estrangeiras; os contedos programticos de cursos ministrados no Pas ou no exterior; os manuais de fabricantes de equipamentos; os oficiais de intercmbio no Pas e no exterior; e os subsdios e sugestes, oriundos de fontes diversas, colecionados no ComandoGeral. b) Formulao Depois de a pesquisa coletar os conhecimentos necessrios, aqueles que trabalham na reviso ou elaborao da publicao, quer individualmente, quer como integrantes de um Grupo de Trabalho, transformam todo esse material em uma minuta de manual ou de sua atualizao. A fase da formulao tambm de primordial importncia para a definio sobre a aquisio e emprego dos sistemas de armas.

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Durante a formulao devem ser verificados os seguintes aspectos: todo detalhamento doutrinrio deve estar coadunado com os preceitos estabelecidos pela Doutrina Bsica da Marinha; os documentos doutrinrios de maior precedncia, como os oriundos do MD, devem ser observados; o emprego conjunto das Foras Armadas, uma diretriz da END, impe o condicionante da interoperabilidade para a doutrina do CFN; portanto, a doutrina vigente no EB e na FAB devem ser consideradas; por ser o CFN uma fora que vem do mar, toda sua doutrina deve obedecer a trs imperativos: O emprego de tropas sempre organizadas por meio de GptOpFuzNav, organizao especialmente adaptada ao emprego naval; A observncia dos preceitos da Guerra de Manobra, estilo de conduo do combate adequado para foras que vindas do mar, so leves e geis; e A necessria adaptao ao mar e guerra anfbia de seus vetores de projeo e sistemas de armas e, por via de consequncia, tambm de suas tticas, tcnicas e procedimentos.

c) Validao Depois de sua formulao e antes de sua divulgao, a doutrina precisa ser experimentada para que se possa verificar a adequao da teoria prtica. O Centro de Avaliao da Ilha da Marambaia funcionar como instrumento para testar os princpios que serviram de base para o corpo doutrinrio do CFN, culminando com a validao da doutrina proposta. d) Ensino Depois da validao a doutrina precisa ser difundida. Isso ocorre por meio, principalmente, do ensino, mas o adestramento e a instruo nas OM operativas tambm exercem papel importante na sua correta assimilao em todos os nveis. Assim, os Centros de Instruo, os de Adestramento, e as unidades operativas precisaro estar permanentemente atentos a eventuais evolues em nosso corpo doutrinrio, devendo ser flexveis para introduzir os necessrios aperfeioamentos, de modo a promover a divulgao da doutrina de forma equnime. e)Refinamento Apesar das slidas bases em que se assentam qualquer evoluo doutrinria, sempre haver espao para seu aperfeioamento, particularmente, depois de ela ser posta em prtica pelas unidades operativas. Sua interao com a realidade do combate e operaes, reais ou fictcias, forando sua confrontao e emprego em situaes no imaginadas na fase de sua formulao, faz com que sejam descerrados aspectos que precisam ser refinados. A realimentao do Ciclo Doutrinrio ocorre por meio da observao de exerccios, elaborao de cuidadosos relatrios, particularmente os de operaes reais pela coleta de lies aprendidas, assim como por meio do emprego de sistemas de avaliao e simulao, com emprego de moderna tecnologia, que podem ser aplicados aos procedimentos de avaliao operacional. O colecionar das experincias obtidas, preferencialmente sob a forma de lies aprendidas, decorrente da aplicao prtica dos preceitos doutrinrios, seja em emprego real, seja em exerccios de adestramento, possibilitar o fechamento do Ciclo Doutrinrio, remetendo os planejadores sua atividade primeira: a pesquisa para a obteno de solues para o adequado emprego dos GptOpFuzNav.

Adestramento de tiro no Centro de Instruo e Adestramento Almirante Milciades Portela Alves (CIAMPA)

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A DOUTRINA NO CFN No futuro, o CFN dever dispor de um Comando de Desenvolvimento Doutrinrio que controle e dirija todo o ciclo do desenvolvimento doutrinrio. Esse Comando buscar cobrir a atual lacuna organizacional do setor CGCFN, que no possui nenhuma OM vocacionada para o desenvolvimento e aplicao da doutrina em todas as fases de seu ciclo. A primeira fase do Ciclo Doutrinrio, a pesquisa, ser bastante ampliada com o desenvolvimento do Centro de Estudos do CFN. As atividades desse centro devero estar voltadas para garantir a aplicao dos conhecimentos adquiridos por meio de lies aprendidas, bem como para proporcionar uma estrutura para pesquisa e desenvolvimento de novas concepes doutrinrias, pela manuteno de um acervo documental e bibliogrfico e de profissionais capacitados a conservar o acervo histrico do conhecimento militar acumulado no CFN, nas demais Foras Armadas e em outros pases. Para o desempenho de suas funes, o Centro de Estudos do CFN dever contribuir com a avaliao do conhecimento acadmico produzido por oficiais e praas, bem como com a anlise e registro das discusses e assuntos tratados em simpsios e seminrios de interesse do CFN, a aplicao do programa de leitura profissional, o acompanhamento de atividades operativas e o acompanhamento dos conflitos e operaes em andamento. O Centro de Estudos do CFN participa ainda da fase final do Ciclo Doutrinrio por meio da gerncia das lies aprendidas, que, por se constiturem na retroalimentao ideal da doutrina formulada, contribuem significativamente para seu refinamento. A fase da validao do Ciclo Doutrinrio ser a principal tarefa do Centro de Avaliao da Ilha da Marambaia, que se valer da estrutura de apoio ao adestramento existente e das potencialidades de ampliao de suas capacidades. Esse centro dever estar capacitado a realizar a avaliao e apoio ao adestramento conduzido pela Fora de Fuzileiros da Esquadra e, na medida de suas necessidades, s Unidades de Fuzileiros Navais distritais, bem como prover o apoio a atividades prticas de ensino conduzidas pelos Centros de Instruo do CFN.

Centro de Avaliao da Ilha da Marambaia - onde sero realizadas as validaes dos processos doutrinrios do CFN42O ANFBIO 2010

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MATERIAL

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Os GptOpFuzNav possuiro adequados meios materiais que ampliem sua eficcia e capacidade de durar em combate. A letalidade, mobilidade e proteo conferidas por esses armamentos e equipamentos sero um fator de multiplicao do poder de combate, mas sero, ao mesmo tempo, ligeiros e leves para no comprometerem nosso carter naval e expedicionrio. Esses grupamentos tero a capacidade de explorar ao mximo as possibilidades do apoio logstico seletivo prestado a partir de bordo dos navios em proveito das unidades em terra.

VISO DE FUTURO DO MATERIAL

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Outro ponto de bastante relevncia para o futuro logstico dos Fuzileiros Navais reside no fato de que o CFN controlar todo o seu material.

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desenvolvimento do material do Corpo de Fuzileiros Navais em consonncia com os eixos estruturantes deve ser balizado pela necessidade de se