Protestos Randall Collins.pdf

download Protestos Randall Collins.pdf

of 14

Transcript of Protestos Randall Collins.pdf

  • 8/11/2019 Protestos Randall Collins.pdf

    1/14

    06_Collins_97_p68a81.indd 68 12/10/13 5:34 PM

  • 8/11/2019 Protestos Randall Collins.pdf

    2/14

    REVOLUES DE PONTO DE VIRADA EREVOLUES POR COLAPSO DO ESTADO

    Randall Collins

    traduo de Otaclio Nunes

    RESUMORevolues polticas tm xito ou fracassam em graus variados.

    O artigo analisa as revoltas da Primavera rabe por meio de uma distino entre revoluo de ponto de virada erevoluo por

    colapso do Estado. Grandes revolues so aquelas que trazem grandes mudanas estruturais. Revolues de ponto de virada,

    sem uma base de longo prazo nos fatores estruturais que causam o colapso do Estado, so apenas, no melhor dos casos,

    moderadamente bem-sucedidas; com frequncia no conseguem sequer mudanas modestas, degenerando em guerras

    civis destrutivas ou em completo fracasso.

    PALAVRAS-CHAVE:revolues polticas modernas; ponto de virada;

    colapso do Estado; mudana estrutural.

    ABSTRACTRevolutions succeed or fail in varying degrees. The article con-

    siders the Arab Spring revolts from the point of view of two kinds of processes of political change: tipping point revolution

    and thestate breakdown revolution. Major revolutions are those that bring about big structural changes. Tipping point revo-

    lutions, without long-term basis in the structural factors that bring state breakdown, are only moderately successful at

    best; and they often fall short even of modest changes, devolving into destructive civil wars, or outright failure to change

    the regime at all.

    KEYWORDS: modern political revolutions; tipping point; State breakdown;

    structural change.

    NOVOS ESTUDOS 97 NOVEMBRO 2013 69

    Nos ltimos anos, muitas pessoas passaram a acre-ditar que possuem uma frmula para derrubar governos autoritriose substitu-los pela democracia. O mtodo consiste em manifesta-es de massa pacficas, persistindo at que atraiam imenso apoio,tanto interno quanto internacional, e se tornando mais intensasenquanto as atrocidades do governo, ao mesmo tempo que as repri-mem, so divulgadas pela mdia. Esse foi o modelo das revoluescoloridas (laranja, rosa, de veludo, etc.) no antigo bloco sovitico;para a Primavera rabe de 2011 e suas imitaes; voltando aindamais no tempo, o mtodo tem suas razes no movimento pelos di-

    reitos civis norte-americano.

    [*] Publicado originalmente em The

    sociological eye, junho de 2013. Repu-

    blicado com permisso do autor.

    Por que revolues tm xito ou fracassam?*

    DOSSI: MOBILIZAES, PROTESTOS E REVOLUES

    06_Collins_97_p68a81.indd 69 12/10/13 5:34 PM

  • 8/11/2019 Protestos Randall Collins.pdf

    3/14

    70 REVOLUES DE PONTO DE VIRADA E REVOLUES POR COLAPSO DO ESTADO Randall Collins

    [1] Collins, R. The future decline

    of the Russian Empire. In: Webe-

    rian Sociological theory. Cambridge:

    Cambridge University Press, 1986.

    Cf. tambm Collins, Randall. Matu-

    ration of the State-Centered Theory

    of Revolution and Ideology; The

    Geopolitical Basis of Revolution: the

    Prediction of the Soviet Collapse,

    captulos 1 e 2. In:Macro-History: Es-

    says in Sociology of the Long Run. Stan-

    ford University Press, 1999.

    [2] Tocqueville, Alexis de.Recollec-

    tions of the French Revolution of 1848.

    Transaction Publishers, 1987 [1852].

    Essas revolues tm xito ou fracassam em graus variados,como ficou bvio na sequncia das diferentes revoltas da Primave-ra rabe. As razes do sucesso ou do fracasso pedem uma anlise

    mais complexa. O tipo de revoluo que consiste na mobilizaoindignada da populao at que os autoritrios cedam e fujam podeser chamada de uma revoluo de ponto de virada [tipping point]. Elacontrasta com a teoria da revoluo por colapso do Estado, formu-lada por Theda Skocpol, Jack Goldstone, Charles Tilly e outros paramostrar as razes de longo prazo de revolues importantes, como aRevoluo Francesa de 1789 e a Revoluo Russa de 1917, e que useiem outra ocasio para prever a revoluo antissovitica de 1989-911.Grandes revolues so aquelas que trazem grandes mudanas es-truturais (a ascenso ou a queda do comunismo, o fim do feuda-

    lismo, etc.). Argumentarei que revolues de ponto de virada, semuma base de longo prazo nos fatores estruturais que causam o co-lapso do Estado, so apenas, no melhor dos casos, moderadamentebem-sucedidas; e com frequncia no conseguem sequer mudanasmodestas, degenerando em guerras civis destrutivas ou em comple-to fracasso em causar qualquer mudana no regime.

    REVOLUES DE PONTO DE VIRADA COM SUCESSO FCIL

    As revolues de ponto de virada no so novas. Algumas das pri-

    meiras foram rpidas e virtualmente sem derramamento de sangue.Por exemplo, a revoluo de fevereiro de 1848 na Frana2: o pas as-sistira, por seis meses, intensa agitao pela ampliao do direito de

    voto para a legislatura. O governo finalmente tomou medidas severascontra a principal forma de mobilizao uma campanha de ban-quetes em que cavalheiros proeminentes se reuniam em jantares parafazer discursos e erguer brindes aslogansrevolucionrios. A proibioforneceu um motivo a mais para as agitaes. No dia do banquete,reuniu-se uma multido, a despeito dos 30 mil soldados convocadospara impor a proibio. Houve escaramuas menores, mas a maioria

    dos soldados ficou vagando intranquila, sem saber o que fazer, mui-tos solidrios com a multido. Na manh seguinte correram por Parisrumores de que a revoluo estava chegando. As lojas no abriram, ostrabalhadores ficaram em casa, os criados se tornaram grosseiros comseus senhores e senhoras. Na lgubre atmosfera de ruas quase deser-tas, rvores foram cortadas e pedras do calamento desenterradas parafazer barricadas. Membros liberais da legislatura nacional visitaram orei, exigindo que o primeiro-ministro fosse substitudo. Esse passomodesto foi fcil; ele foi demitido; mas quem tomaria seu lugar? Nin-gum queria ser primeiro-ministro; uma sucesso de candidatos hesi-

    tou e declinou, ningum se sentindo confiante para assumir o controle.

    06_Collins_97_p68a81.indd 70 12/10/13 5:34 PM

  • 8/11/2019 Protestos Randall Collins.pdf

    4/14

    NOVOS ESTUDOS 97 NOVEMBRO 2013 71

    No meio da tarde do segundo dia, logo depois que a renncia do pri-meiro-ministro foi anunciada, uma multido entusiasmada do ladode fora de um prdio do governo foi atingida por tiros. O disparo aci-

    dental de uma arma por um soldado nervoso provocou uma saraivadacontagiosa, matando cinquenta pessoas. Esse uso da fora, motivadopelo pnico, no deteve a multido, mas a encorajou. Durante a noite,o rei props abdicar. Mas em favor de quem? Parentes na linha de su-cesso tambm declinaram. O rei entrou em pnico e fugiu do palcio,junto com duquesas selecionadas; multides estavam invadindo osterrenos do palcio, entravam nos aposentos do rei e at sentavam notrono real. Em uma atmosfera de feriado, foi anunciada uma Repbli-ca, e a assembleia provisria iniciou a elaborao de planos para umareforma por meio de eleies.

    Em trs dias a revoluo foi consumada. Se pararmos o relgio aqui,a revoluo foi um sucesso fcil. O povo coletivamente decidira queo regime tinha de acabar, e em questo de horas o regime se curvou presso daquele pblico avassalador. Foi um daqueles momentosque exemplificam, da maneira mais palpvel possvel, aquilo queDurkheim chamava de conscincia coletiva.

    Esse momento de quase unanimidade no durou. Nas primeirassemanas de entusiasmo, mesmo os ricos e a nobreza que tinhamacabado de perder seu monoplio de poder arrecadaram recursospara ajudar pobres e feridos; as provncias conservadoras se regozi-

    jaram com os feitos de Paris. A lua de mel comeou a se dissipar emtrs semanas. Faces conservadoras e radicais da guarda nacional

    voluntria entraram em conflito e comearam a estocar seu prpriosuprimento de armas. Conservadores no campo e financistas na cida-de se mobilizaram contra as polticas de bem-estar social de Paris. Aseleies para uma assembleia constituinte, em dois meses, resultaramem um arranjo de conservadores e moderados; os socialistas e liberaisque lideraram a revoluo foram reduzidos a uma pequena minoria,apoiada apenas por multides radicais que invadiram o salo da as-sembleia e aos gritos silenciaram os oponentes. Em maio, a guarda

    nacional dispersou a turba e prendeu lderes radicais. Em junho houveuma segunda revolta, dessa vez limitada parte da cidade habitadapela classe trabalhadora. A assembleia se uniu contra a revoluo (elaa havia provocado ao abolir as oficinas pblicas criadas para trabalha-dores desempregados). Dessa vez o exrcito manteve sua disciplina.O clima emocional mudara de direo. As provncias da Frana ago-ra tinham sua prpria conscincia coletiva, e um jorro de voluntriosse abalou para Paris por trem para combater os revolucionrios. Emcinco dias, a revoluo de junho tinha terminado; desta vez com lutasangrenta, 10 mil mortos e feridos, e outros mais executados depois

    ou mandados para colnias penais.

    06_Collins_97_p68a81.indd 71 12/10/13 5:34 PM

  • 8/11/2019 Protestos Randall Collins.pdf

    5/14

    72 REVOLUES DE PONTO DE VIRADA E REVOLUES POR COLAPSO DO ESTADO Randall Collins

    [3] Goldstone, Jack.Revolution and

    Rebellion in the Early Modern World.

    Berkeley: University of California

    Press, 1991.

    [4] Zhao, Dingxin.The Power of Tia-

    nanmen. Chicago: University of Chi-

    cago Press, 2001.

    O mecanismo do ponto de virada no ajudou dessa vez; em vezde todos passarem para o lado vitorioso (assegurando a vitria), oconflito se fraturou em dois campos opostos. Em vez de uma nica

    conscincia coletiva revolucionria arrastando todos, ela se dividiuem duas identidades rivais, cada uma com sua prpria solidariedade,sua prpria energia emocional e retido moral. Como as foras opo-nentes, ambas fortemente mobilizadas, eram desiguais, o resultadofoi uma luta sanguinria e a destruio do lado mais fraco. Nos mesesseguintes, o nimo se tornou cada vez mais conservador. As eleiesem dezembro trouxeram uma imensa maioria para um presidente sobrinho de Napoleo, smbolo de um regime autoritrio idealizadodo passado que no fim anulou as reformas democrticas e fez de siimperador. O surto revolucionrio durara apenas quatro meses.

    REVOLUES DE PONTO DE VIRADA QUE FRACASSAM

    A sequncia de revoltas na Frana de 1848 mostra tanto o meca-nismo do ponto de virada em sua manifestao mais intensa quantoo fracasso em causar mudanas estruturais. A histria moderna estcheia de revolues fracassadas, e, ao que tudo indica, isso continuaa ocorrer3. Vou citar um exemplo de revoluo de ponto de virada quefracassou inteiramente, nem sequer tomando o poder por breve tem-po: o movimento pela democracia na China, formado principalmente

    pelos manifestantes que ocuparam a praa Tiananmen, em Pequim,que durou sete semanas, de meados de abril ao comeo de junho de19894. At as duas ltimas semanas, as autoridades no tomarammedidas severas para reprimi-lo; a polcia local agiu com insegurana,exatamente como as tropas francesas em fevereiro de 1848; alguns po-liciais at exibiram simpatia pelos manifestantes.

    O nmero de manifestantes aumentou e diminuiu vrias vezes.Inicialmente, estudantes das prestigiosas universidades de Pequim(onde o movimento da Guarda Vermelha havia sido lanado vinteanos antes) montaram uma viglia na praa Tiananmen para prantear

    a morte de um lder comunista reformista. Esse era o centro da atenopblica da China, em frente ao velho Palcio Imperial, o lugar das sole-nidades oficiais, e portanto um alvo para contrarrituais improvisados.Comeando com alguns milhares de estudantes em 17 de abril, a mul-tido caiu para algumas centenas no quarto dia, mas reviveu depois deuma escaramua com a polcia, quando militantes levaram seu pro-testo ao porto dos edifcios do governo vizinhos, onde morava a elitepoltica. Os ferimentos foram leves e ningum foi preso, mas a indig-nao com a brutalidade da polcia renovou o movimento, que cresceupara 100-200 mil no funeral, no quinto dia. Militantes se apossaram

    do ritual ajoelhando-se nos degraus do salo cerimonial que flanquea-

    06_Collins_97_p68a81.indd 72 12/10/13 5:34 PM

  • 8/11/2019 Protestos Randall Collins.pdf

    6/14

    NOVOS ESTUDOS 97 NOVEMBRO 2013 73

    va a praa Tiananmen, no estilo tradicional dos suplicantes ao impera-dor. No mesmo dia agitaes irromperam em outras cidades da China,inclusive ataques incendirios, com baixas de ambos os lados. Quatro

    dias depois (dcimo dia), o jornal do governo condenou oficialmen-te o movimento na primeira vez ele havia sido retratado de formanegativa; no dia seguinte, 50-100 mil estudantes de Pequim reagiram,rompendo barreiras da polcia para reocupar a praa. At ento a con-traescalada favorecia os manifestantes.

    O governo adotou uma poltica de conciliao e negociao. Issotrouxe uma calmaria de duas semanas; em 4 de maio (dcimo oitavodia) a maioria dos estudantes tinha voltado s aulas. Em 13 de maio(vigsimo oitavo dia), os militantes remanescentes lanaram umanova ttica: uma greve de fome, que inicialmente recrutou trezentos

    participantes; nos dois dias seguintes ela recapturou a ateno pblicae cresceu para 3 mil grevistas de fome. Grandes multides, chegandoa 300 mil pessoas, agora acorriam praa para v-los e apoi-los. Osmilitantes tinham outra arma ritual: a chegada, em 15 de maio, parauma visita de Estado, do lder sovitico Gorbachev, na poca no augede sua fama como reformador comunista. A recepo oficial teve de sermudada para o aeroporto, mas o encontro oficial no salo cerimonialao lado da praa Tiananmen foi abafado pela barulhenta manifestaodo lado de fora. Em 17 de maio, enquanto Gorbachev partia, mais de1 milho de residentes de Pequim de todas as classes sociais marcha-

    vam para apoiar os grevistas de fome. Os militantes haviam capturadoo centro da ateno da reunio cerimonial; o movimento chegava aoauge. Os visitantes praa Tiananmen eram geralmente organizadospor unidades de trabalho, que forneciam transporte e s vezes at pa-gavam os que marchavam. Uma estrutura de logstica foi criada paracustear comida e abrigo para aqueles que ocupavam a praa. A baseorganizacional do regime comunista, pelo menos na capital, estava seinclinando para a revoluo. No campo tambm houve manifestaesde apoio em quatrocentas cidades. Os governos locais estavam indeci-sos; alguns comits do Partido Comunista endossaram abertamente o

    movimento; algumas autoridades forneceram transporte gratuito portrem a centenas de milhares de estudantes que viajaram a Pequim parase juntarem ao movimento.

    O ponto de virada no virou. A elite comunista se reuniu fora da ci-dade em um confronto decisivo entre seus membros. Foi tomada umadeciso coletiva; uns poucos dissidentes, inclusive alguns generais doexrcito, foram destitudos e presos. Em 19 de maio, foi declarada alei marcial. Foras militares foram convocadas de regies distantes,sem laos com os manifestantes de Pequim. Nos quatro dias seguin-tes houve um confronto decisivo nas ruas; multides de residentes,

    especialmente trabalhadores, bloqueavam os comboios do exrcito;

    06_Collins_97_p68a81.indd 73 12/10/13 5:34 PM

  • 8/11/2019 Protestos Randall Collins.pdf

    7/14

    74 REVOLUES DE PONTO DE VIRADA E REVOLUES POR COLAPSO DO ESTADO Randall Collins

    soldados circulavam em caminhes abertos, desarmados o regimeainda tentava usar o mnimo de fora possvel, e tambm no confia-

    va em ceder munio , e muitas vezes eram dominados pelos resi-

    dentes. As multides usavam uma mistura de persuaso e ofertas decomida a logstica do exrcito havia entrado em colapso por causada dificuldade de circulao pelas ruas da cidade e s vezes fora,jogando pedras e batendo em soldados isolados. Em 24 de maio, oregime recuou as tropas para bases fora da cidade, mas no desistiu.

    As unidades mais confiveis do exrcito foram deslocadas para ofront,algumas com a tarefa de espreitar defeces entre unidades menosconfiveis. Em mais uma semana, enormes contingentes haviam sidoreunidos no centro de Pequim.

    O mpeto reflua. Os estudantes que protestavam na praa Tia-

    nanmen cada vez mais se dividiam entre moderados e militantes; nomomento em que a ordem de esvaziar a praa em 3 de junho foi dada,o nmero de ocupantes estava reduzido a 4 mil. Houve um ltimosurto de violncia no na prpria praa Tiananmen, embora o nometenha se tornado to famoso que ainda hoje se pensa que houve ummassacre ali , mas nas ruas, enquanto os residentes tentavam blo-quear mais uma vez a movimentao do exrcito. Multides lutaramcom pedras e bombas de gasolina, queimando veculos do exrcito e,segundo alguns relatos, os soldados dentro deles. Nessa atmosferaemocional, enquanto cada um dos lados espalhava histrias de atro-

    cidades do outro, cerca de cinquenta soldados e policiais eram mortos,e entre quatrocentos e oitocentos civis (as estimativas variam muito).

    Alguns soldados se vingaram de ataques anteriores disparando con-tra oponentes em fuga e surrando aqueles que conseguiam pegar. Napraa Tiananmen, no comeo da manh de 4 de junho, os militantes,agora em nmero reduzido, foram autorizados a sair marchando porentre as tropas que os rodeavam.

    O protesto internacional e o horror interno de nada adiantaram;um regime suficientemente intransigente e organizacionalmentecoerente imps sua fora superior. Fora de Pequim, os protestos

    continuaram por vrios dias em outras cidades; mais centenas depessoas foram mortas. A disciplina organizacional foi restabeleci-da por um expurgo; durante o ano seguinte, membros do PartidoComunista chins que haviam simpatizado com a revolta foramdetidos, presos e mandados para campos de trabalho. Muitos tra-balhadores dissidentes foram executados; os estudantes, sendomembros da elite, escaparam com mais facilidade. A liberdade damdia, que havia sido afrouxada durante o perodo de reforma dadcada de 1980 e florescido brevemente durante o auge dos pro-testos democrticos, no comeo de maio, foi agora substituda pelo

    controle rigoroso. As reformas econmicas, embora brevemente

    06_Collins_97_p68a81.indd 74 12/10/13 5:34 PM

  • 8/11/2019 Protestos Randall Collins.pdf

    8/14

    NOVOS ESTUDOS 97 NOVEMBRO 2013 75

    questionadas na sequncia de 1989, foram retomadas, mas as re-formas polticas foram rescindidas. Uma revoluo de ponto de vi-rada fracassada no apenas no consegue cumprir suas metas; ela

    refora o autoritarismo.Se o governo chins tinha poder para pr fim ao movimento en-viando seus agentes de segurana e prendendo os dissidentes portodo o pas, por que no fez isso antes, em vez de esperar at que a praaTiananmen fosse desocupada? Porque esse era o centro do mecanis-mo do ponto de virada. Enquanto a reunio dos rebeldes prosseguia,existia tenso quanto a como o regime agiria. Se no pudesse enfren-tar esse desafio, o regime seria desertado. Isso esteve em questo en-quanto todos os olhos estavam na Tiananmen. Uma vez que a atenofoi rompida, todos aqueles agentes de segurana puderam se espalhar

    pelo pas, apanhando suspeitos um a um, e no fim prendendo dezenasde milhares. por isso que formas centralizadas e descentralizadas derebelio so to diferentes: rebelies centralizadas so potencialmen-te muito curtas e repentinas; as descentralizadas so longas, desesta-bilizadoras e muito mais destrutivas.

    Gostamos de acreditar que qualquer governo que usa a fora con-tra seus cidados to prejudicado pela divulgao de suas atrocidadesque perde toda a legitimidade. No entanto, a dcada de 1990 e o inciode 2000 foram um perodo de crescente prestgio chins. A versode mercado do controle poltico comunista tornou-se um grande su-

    cesso econmico; os laos econmicos internacionais se expandirame no foram abalados pelas mortes de junho de 1989; internamente,os chineses aplicaram suas energias a oportunidades econmicas. Osmovimentos de protesto reviveram em uma dcada, mas o regime foirpido em control-los. Mesmo os novos meios de mobilizao pelainternet se mostraram vulnerveis a um aparato autoritrio resoluto,que monitora os ativistas para interceptar quaisquer reunies no esti-lo Tiananmen antes que comecem.

    O fracasso do movimento pela democracia chins, tanto em 1989quanto depois, traz outra lio sociolgica. Um regime autoritrio

    que est consciente do mecanismo do ponto de virada no precisaceder a ele; pode manter o mpeto do seu lado assegurando que noexista na oposio movimentos com capacidade de atrair simpati-zantes. Um regime assim pode ser acusado de violaes morais eat de atrocidades, mas a condenao moral sem uma mobilizaobem-sucedida ineficaz. quando um movimento est crescendo,aparentemente expandindo sua conscincia coletiva para incluir

    virtualmente todos e sobrepujar emocionalmente seus oponentes,que o horror indignado com as atrocidades to animador. Sem isso,os protestos permanecem, no melhor dos casos, espordicos, loca-

    lizados e efmeros. A modesta energia emocional do movimento de

    06_Collins_97_p68a81.indd 75 12/10/13 5:34 PM

  • 8/11/2019 Protestos Randall Collins.pdf

    9/14

    76 REVOLUES DE PONTO DE VIRADA E REVOLUES POR COLAPSO DO ESTADO Randall Collins

    protesto no uma mar impetuosa; e, quando isso continua poranos, o clima emocional que circunda um regime assim permaneceestvel a qualidade mais importante da legitimidade.

    UM PONTO DE VIRADA CONTROVERSO: A REVOLUO EGPCIA

    O Egito em janeiro-fevereiro de 2011, a mais famosa das revoluesda Primavera rabe, se ajusta muito bem ao modelo da Frana de 1848.O Egito levou mais tempo para chegar ao ponto de virada dezoitodias em vez de trs; e houve mais baixas na fase inicial quatrocentosmortos e seiscentos feridos (comparados a cinquenta mortos em fe-

    vereiro de 1848) porque houve mais luta antes de o ponto de viradaser alcanado. J desde o stimo dia, as tropas enviadas para guardar

    a praa Tahir, no Cairo, se declararam neutras, e a maioria das baixasentre os manifestantes veio de ataques de milcias no oficiais ou decapangas do governo. No dcimo sexto dia, policiais que mataram ma-nifestantes foram detidos, e o ditador Mubarak ofereceu concesses,que foram rejeitadas como inaceitveis. No ltimo dia da revoluode dezoito dias, todos haviam abandonado Mubarak e embarcado nomovimento popular, inclusive os militares, a antiga base de apoio doditador. Essa continuidade uma das razes pelas quais a sequnciado movimento no se mostrou to revolucionria.

    Mais uma vez, a lua de mel no durou muito. No quadragsimo

    terceiro dia, mulheres que se reuniam na praa Tahir foram acossa-das e ameaadas, e a violncia muulmana/crist irrompeu no Cairo.

    A praa Tahir continuou a ser usada como local de reunio simblico,mas em grande medida se tornou cenrio de choques entre camposoponentes. As reformas estruturais no foram muito profundas. Omovimento islmico eleito na votao popular relegou a uma mi-noria os secularistas e liberais que haviam sido mais atuantes narevoluo. O presidente Morsi tem alguma semelhana com LusBonaparte, que ascendeu ao poder com base na reputao de ummovimento ancestral ambos tinham um histrico de oposio ao

    regime, mas eram ambguos sobre suas prprias credenciais demo-crticas. A analogia prenuncia um resultado reacionrio para umarevoluo libertadora.

    O ponto essencial : revolues de ponto de virada so superficiaisdemais para causar mudanas estruturais profundas. Mas o que po-deria caus-las?

    REVOLUES POR COLAPSO DO ESTADO

    Trs ingredientes devem se juntar para produzir uma revoluo por

    colapso do Estado.

    06_Collins_97_p68a81.indd 76 12/10/13 5:34 PM

  • 8/11/2019 Protestos Randall Collins.pdf

    10/14

    NOVOS ESTUDOS 97 NOVEMBRO 2013 77

    (1) Crise fiscal/paralisia da organizao estatal. O Estado fica sem di-nheiro, esmagado por dvidas, ou ento est to sobrecarregado queno consegue pagar nem seus funcionrios. Isso muitas vezes aconte-

    ce por meio da despesa de guerras passadas ou de enormes custos deuma guerra corrente, em especial se se est perdendo. A crise profun-da e estrutural porque no possvel escapar dela; no uma questode ideologia, e quem quer que assuma a responsabilidade por dirigiro governo enfrenta o mesmo problema. Quando a crise se torna sria,o exrcito, a polcia e os funcionrios pblicos j no podem impor aordem porque eles prprios esto descontentes.

    Esse foi o itinerrio da Revoluo Francesa de 1789; da RevoluoInglesa de 1640; da Revoluo Russa de 1917; e da revoluo japonesade 1853-68 (conhecida como Restaurao Meiji). A revoluo antisso-

    vitica de 1989-91 similarmente comeou com lutas para reformar ooramento sovitico, sobrecarregado pelos custos militares da corridaarmamentista da Guerra Fria.(2) Impasse nas elites entre a faco estatal e a faco de privilgio eco-nmico. A crise fiscal no pode ser resolvida porque os grupos maispoderosos e privilegiados esto divididos. Aqueles que se beneficiameconomicamente do regime resistem a pagar por ele (sejam estes pro-prietrios de terra, sejam financistas, seja um complexo militar-indus-trial socialista); os reformadores so aqueles diretamente respons-

    veis por manter o Estado funcionando. A diviso profunda e estru-

    tural, j que no depende de preferncias ideolgicas; quem quer queassuma o comando, sejam quais forem suas ideias, tem de lidar coma realidade da paralisia organizacional. No estamos tratando aqui deconflito entre partidos na esfera pblica ou na legislatura; esse tipo debriga partidria comum e pode tambm existir concomitante a umacrise do Estado. O impasse entre as elites principais muito mais srio,porque bloqueia as duas foras mais poderosas, a elite econmica e osfuncionrios governantes.(3) Mobilizao de massa de dissidentes. Este fator o ltimo na or-dem causal; ele se torna importante depois que a crise do Estado e o

    impasse das elites enfraquecem o poder de coero do regime. Esse v-cuo de poder fornece uma oportunidade para movimentos popularesreivindicarem uma soluo. A ideologia dos revolucionrios muitas

    vezes enganosa; ela pode no ter nada a ver com as causas da crisefiscal em si (por exemplo, afirmando que a questo de reforma pol-tica, representao democrtica, ou mesmo voltando a alguma utopiareligiosa ou tradicional). A importncia da ideologia principalmentettica, como um artifcio de concentrao emocional para a ao degrupo. E de fato, depois de tomar o poder de Estado, os movimentosrevolucionrios costumam adotar aes contrrias a sua ideologia (as

    primeiras polticas bolcheviques sobre reforma agrria, por exemplo,

    06_Collins_97_p68a81.indd 77 12/10/13 5:34 PM

  • 8/11/2019 Protestos Randall Collins.pdf

    11/14

    78 REVOLUES DE PONTO DE VIRADA E REVOLUES POR COLAPSO DO ESTADO Randall Collins

    ou as mudanas revolucionrias japonesas entre antipatia antioci-dental e imitao pr-ocidental). O importante que o movimentorevolucionrio seja radical o suficiente para atacar os problemas fiscais

    (e tipicamente militares), para reorganizar os recursos de modo queo prprio Estado adquira uma dotao adequada. Isso resolve a criseestrutural e pe fim paralisia do Estado, permitindo que ele prossigacom outras reformas. por isso que revolues por colapso do Estadoconseguem fazer mudanas profundas nas instituies: em resumo, por isso que elas se tornam revolues histricas.

    CONCILIANDO AS DUAS TEORIAS

    Revolues de ponto de virada so muito mais comuns que revolu-

    es por colapso do Estado. Os dois mecanismos s vezes coincidem;pontos de virada podem ocorrer na sequncia de um colapso do Esta-do, quando o terceiro fator, a mobilizao de massa, entra em jogo. Em1789, uma vez que a crise fiscal e o impasse das elites resultaram naconvocao dos Estados Gerais, a dinmica da multido levou a pon-tos de virada que so celebrados como os dias gloriosos da RevoluoFrancesa. Na Rssia de 1917, o colapso inicial do governo em fevereirofoi um ponto de virada impulsionado pela multido, com uma srie deabdicaes que lembravam a Frana em fevereiro de 1848; o que tor-nou isso uma revoluo estrutural foi a crise fiscal das dvidas de guer-

    ra, a presso para continuar a guerra dos Aliados que detinham dvidarussa e, no fim, um segundo ponto de virada em novembro, em favordos sovietes. Mas revolues por colapso do Estado podem acontecersem esses tipos de ponto de virada centrados nas massas: a RevoluoInglesa de 1640 (na qual a luta prosseguiu at 1648); a revoluo chi-nesa, que se estendeu de 1911 a 1949; a revoluo japonesa de 1853-68.Inversamente, revolues de ponto de virada costumam fracassar naausncia de crise fiscal do Estado e impasse das elites; um exemplo aRevoluo Russa de 1905, que teve meses de entusiasmo generalizadopela reforma durante a oportunidade fornecida pela derrota na guerra

    japonesa, mas mesmo assim terminou com o governo aniquilandoenergicamente a revoluo.

    Um mecanismo de ponto de virada, em si, uma verso de mobili-zao de massa que o ingrediente final de uma revoluo por paralisiado Estado. Mas a mobilizao de massa tambm tem uma base estrutu-ral mais ampla: recursos como redes de transporte e comunicao quefacilitam a organizao de movimentos sociais s vezes na formade exrcitos revolucionrios para disputar o controle do Estado. Seessa mobilizao se concentra em uma capital, ela pode gerar uma si-tuao de ponto de virada. Mas a mobilizao tambm pode ocorrer no

    campo; nesse caso, a revoluo assume mais a forma de uma guerra civil.

    06_Collins_97_p68a81.indd 78 12/10/13 5:34 PM

  • 8/11/2019 Protestos Randall Collins.pdf

    12/14

    NOVOS ESTUDOS 97 NOVEMBRO 2013 79

    [5] Weyland, Kurt. The diffusion

    of revolution: 1848 in Europe and

    Latin America.International Organi-

    zation63, pp. 391-423, 2009.

    REVOLUES DE PONTO DE VIRADA E REVOLUES IMITATIVAS

    s vezes, ondas de revoluo se disseminam de um Estado a outro,o sucesso de uma acendendo o entusiasmo por outra. a mobilizaode massa do ponto de virada, as imensas multides e o sentimentogeneralizado de solidariedade na maioria pr-revolucionria que en-coraja imitaes5. Podemos ver isso porque algumas das famosas re-

    volues fogo de palha no foram muito eficazes em fazer mudanas,mas mesmo assim foram imitadas. Uma onda como essa ocorreu em1848, espalhando-se da Sua e da Siclia para os Estados fragmenta-dos da Itlia, e mais espetacularmente para a Frana. Logo depois quese propagaram as notcias dos acontecimentos em Paris, a cidade mais

    famosa da Europa, multides exigiram reformas constitucionais emViena, Berlim, na maioria dos Estados alemes e nas regies tnicas doimprio austraco. Alguns governantes temporariamente fugiram oufizeram concesses; tropas se amotinaram; parlamentos e assembleiasrevolucionrias se reuniram. Todos esses foram eliminados dentro deum ano e meio. Alguns foram extirpados pela interveno de tropasexternas, medida que governantes conservadores apoiavam uns aosoutros na retomada do controle. Dessas revolues, dificilmente algu-ma teve efeito permanente.

    A onda de revoltas da Primavera rabe comeou com uma re-

    voluo de ponto de virada bem-sucedida na Tunsia, imitada comsucesso temporrio no Egito; mas fracassou no Bahrein; teve poucoefeito sobre uma guerra civil em curso no Imen; levou a um conflitomilitar generalizado na Lbia, que s foi vencido pelos rebeldes pormeio de interveno militar externa macia com ataques areos; naSria, gerou uma guerra civil prolongada e extremamente destrutivasustentada por ajuda militar externa a todas as faces. A lio que,se revolues de ponto de virada em si no so muito decisivas para amudana estrutural, novas tentativas de imitar pontos de virada emoutros pases tm ainda menos chances de sucesso. Regimes podem

    ou no ser removidos, mas a situao que se segue no parece muitodiferente, embora possa haver um perodo prolongado de disputaque conduz falncia do Estado.

    A principal exceo parece ser a onda de revoltas imitativas de1989-91, quando o bloco sovitico se despedaou. Os Estados da Eu-ropa Oriental derrubaram seus regimes comunistas um aps o outro;alguns com revolues de ponto de virada relativamente fceis, comono caso de Tchecoslovquia, Hungria, Polnia e Alemanha Oriental, ebatalhas mais sangrentas na Romnia e no fim na Iugoslvia. Uma se-gunda rodada de revoltas comeou em 1991, quando aURSSse desinte-

    grou nos Estados tnicos que a compunham. Aqui houve de fato uma

    06_Collins_97_p68a81.indd 79 12/10/13 5:34 PM

  • 8/11/2019 Protestos Randall Collins.pdf

    13/14

    80 REVOLUES DE PONTO DE VIRADA E REVOLUES POR COLAPSO DO ESTADO Randall Collins

    mudana estrutural, desmantelando formas polticas comunistas esubstituindo-as por verses de democracia (algumas com o contro-le mantido por elites ex-comunistas) e alterando o sistema de pro-

    priedade para o capitalismo. Mas essas revolues no foram apenassimples pontos de virada; foram todas efeitos de uma crise estruturalprofunda no elemento essencial do sistema, o imprio sovitico, quepassou por uma revoluo por colapso do Estado. Revoltas podemse disseminar por imitao; mas o que acontece com elas depende dequais tipos de conflito estrutural h abaixo da superfcie.

    O CONTINUUM DE EFEITOS REVOLUCIONRIOS,

    DOS SUPERFICIAIS AOS PROFUNDOS

    Se usarmos o termo revoluo de modo amplo para significarqualquer mudana no governo que seja ilegal fora dos procedimen-tos fornecidos pelo prprio regime , h muitos tipos de revoluo.Eles vo daqueles sem nenhum efeito estrutural queles que mudamas instituies econmicas, polticas e culturais mais profundas.

    O golpe de Estado o mais superficial; no h nenhuma mobiliza-o popular, s um pequeno grupo de conspiradores dentro dos crcu-los de poder, ou nas foras armadas, que substitui um governante poroutro. Muitas vezes no h sequer pretenso de mudana estruturalnem apelo vontade popular.

    Revolues de ponto de virada so mais ambiciosas; multidesemocionalmente carregadas que esto no centro do mecanismo paratransferir o poder so entusiasmadas porslogansideolgicos grandio-sos, ainda que muitas vezes vagos. Mas essas revoltas costumam fra-cassar, se o governo em si no for paralisado por uma crise estrutural.Quando ocorrem pontos de virada, o novo regime com frequncia stem apoio efmero e pode se exaurir em disputas internas, guerra civilou restaurao reacionria.

    Revolues por colapso do Estado tm um carter menos efmero.O Estado no consegue voltar ao equilbrio at que seu problema or-

    ganizacional seja resolvido; e, como isso significa base fiscal, militar eadministrativa, as reformas nas principais instituies detentoras depoder tm de ser profundas. Quer a mesma variedade ideolgica derevolucionrios continue no governo ou no, essas mudanas estrutu-rais estabelecem uma nova ordem que tende a persistir pelo menosat que outra crise profunda acontea.

    HOJE: A ERA DAS REVOLUES DE PONTO DE VIRADA

    Depois da queda da Unio Sovitica e de seu imprio, houve mui-

    tas repeties de revolues de ponto de virada (Ucrnia em 2004,

    06_Collins_97_p68a81.indd 80 12/10/13 5:34 PM

  • 8/11/2019 Protestos Randall Collins.pdf

    14/14

    NOVOS ESTUDOS 97 NOVEMBRO 2013 81

    [6] Harris, Kevan. The brokered

    exuberance of the middle class: an

    ethnographic analysis of Irans 2009

    Green Movement. Mobilizati on 17,

    pp. 435-55, 2012.

    Gergia em 2003, Quirguisto em 2005, Srvia em 2000) mescla-das com tomadas de poder pessoais que so pouco mais que golpesmascarados de revolues populares. As revoltas da Primavera rabe

    se basearam fortemente no mecanismo do ponto de virada. Onde ogoverno teve uma forte faco de apoio popular, tentativas de ponto devirada no trouxeram transio fcil; o resultado foi guerra civil total(Sria) ou derrota da mobilizao revolucionria por uma contramobi-lizao de massa (o levante verde no Ir em 2009)6. A popularidadedas revoltas de ponto de virada, como nos levantes anti-islamistas naTurquia e no Egito, parece ter todas as fraquezas de seu gnero.

    Randall Collins professor titular da ctedra Dorothy Swaine no Departamento de Sociologia

    da Universidade da Pensilvnia.

    Recebido para publicaoem 5 de outubro de 2 013.

    NOVOS ESTUDOSCEBRAP

    97, novembro 2013pp. 69-81