Protagonismo Infantil na História Brasileira

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PROTAGONISMO INFANTIL NA HISTÓRIA BRASILEIRA Prof. Dr. Carlos Edinei de Oliveira [email protected] Crianças negras, sem data, pintura de Emmanuel Zamor. Acervo do Museu Afro Brasil, São Paulo.

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PROTAGONISMO INFANTIL NA HISTÓRIA HISTÓRIA BRASILEIRA Prof. Dr. Carlos Edinei de Oliveira

[email protected]

Crianças negras, sem data, pintura de Emmanuel Zamor. Acervo do Museu Afro Brasil, São Paulo.

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Etimologia da expressão• A origem etimológica do termo remete a palavra

protagonistés que, no idioma grego, significava oator principal de uma péça teatral, ou aquele queocupava o lugar principal em um acontecimento(Ferreira, 2004).

Crianças no palco, autoria desconhecida.

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A expressão Participação• As restrições mais comuns em relação ao uso desse termo, no

jargão sociológico, se devem a fatores de ordem política, umavez que a utilização como alternativa da palavra é participação,ai parece sugerir uma abordagem mais democrática na açãosocial, sem colocar em destaque um protagonista singular.(Ferretti, Zibas & Tartuce, 2004, p. 3).

Disponível em: http://www.jornaldaqui.com.br/materia_impressao.php?id_artigo=4499

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Protagonismo ou Participação• A primeira se refere a facilidade do emprego do vocábulo por

crianças, uma vez que, em uma primeira análise, a palavraparticipação é um termo de uso corrente na língua portuguesa.

• A segunda vantagem se refere a maior facilidade para explicar o que éparticipação (com o significado de protagonizar) para as crianças, nocontexto de programas ou campanhas que visem promover o seuenvolvimento nos processos decisórios para transformações sociais.envolvimento nos processos decisórios para transformações sociais.

Palhacinhos na gangorra –Cândido Portinari

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Considerações sobre a participação da criança

• Observa-se, especialmente, que as relações de poder que seestabelecem nos ambientes escolares poderão servir deambiente para a promoção da participação infantil, ou seja, oenvolvimento ativo nos processos decisórios coletivos deuma parcela da população o que, historicamente, por teruma parcela da população o que, historicamente, por termenor idade, foi segregada e afastada das práticas decisóriasreferentes a organização e dinâmica da vida social.

http://comunicacaojoacaba.blogspot.com.br/2009/11/academicos-da-6-fase-de-radilismo-da.html

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Criança não participa

• Existem práticas sociais relativamente consolidadas quepromovem um conjunto de interdições e de prescrições quesucessivamente negam ações, capacidades ou poderes ascrianças.

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Questiona-se• A criança como ser autónomo é capaz de

incentivar ações e decisões importantes nocontexto de atividades relevantes. Mas será queas práticas sociais atuais cooperam para que ascrianças se afirmem como seres participativos nocontexto social?contexto social?

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A percepção da Infância • Se dividíssemos a humanidade em crianças e adultos, e a vida

em dois períodos, o da infância e o da maturidade,compreenderíamos que as crianças ocupam um enormeespaço no mundo e na vida. Mas, demasiado absorvidos pelosnossos próprios problemas, não as observamos, tal comoantigamente nós não nos apercebíamos da existência damulher, dos camponeses, das classes e dos povos oprimidosmulher, dos camponeses, das classes e dos povos oprimidos(Korczak, 1919/1984, p. 88).

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Meninos Carvoeiros (Manuel Bandeira)

Os meninos carvoeirosPassam a caminho da cidade.- Eh, carvoero!E vão tocando os animais com um relho enorme.

Os burros são magrinhos e velhos.Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.A aniagem é toda remendada.Os carvões caem.

(Pela boca da noite vem uma velhinha que os recolhe, dobrando-se com um gemido.)

- Eh, carvoero!Só mesmo estas crianças raquíticasVão bem com estes burrinhos descadeirados.A madrugada ingênua parece feita para eles...Pequenina, ingênua miséria!Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis!

-Eh, carvoero!

Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado,Encarapitados nas alimárias,Apostando corrida,Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos desamparados.

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Construção histórico cultural do conceito de infância• Situada como um acontecimento caracteristicamente

moderno, imerso em uma série de condições que se conjugame que estabelecem novas possibilidades de compreensão deum fenômeno que, apesar de apresentar uma dimensãobiológica, a infância È um fato cultural por excelência (Áries,1978).1978).

Futebol / Cândido Portinari

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A infância na Idade Média• Além disso, as idades da vida não correspondiam apenas a

etapas biológicas, mas estavam intimamente relacionadas com acapacidade das crianças se inserirem no trabalho, nas atividadesadultas e no exercícios de funções sociais. A duração da infânciaera reduzida apenas ao seu período mais frágil. A partir do seutérmino, havia uma grande interação com os adultos e ascrianças em transição aprendiam as coisas que deviam saberajudando os adultos a fazê-las.

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Infância no século XII ao XIX• Fundamentada em pressupostos filosóficos de ordem moralista

e religiosa, a concepção de infância da aquela época passou aenfatizar a ingenuidade e fragilidade do ser humano (Áries,1978; Gélis, 1991).

• Segundo os autores, a dinâmica dessa alteração iniciou-se emmeio as práticas de mimar e paparicar as crianças, dando inícioa uma fase em que o cuidado com esses pequenos seres seriaa uma fase em que o cuidado com esses pequenos seres seriacrescentemente enfatizado até os dias atuais.

• Adultos e crianças se diferenciam cada vez mais com o objetivode garantir os mitos da inocência, da excessiva vulnerabilidade,e da incapacidade, cujos efeitos se fazem sentir nos dias atuais,o que é apontado em estudos recentes

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Por que a criança vai ser caracterizadacomo criança no mundo moderno?• O critério cronológico para caracterização da infância surgiu a partir

de duas necessidades: de utilizar um parâmetro preciso paraidentificar as pessoas e pelo estabelecimento progressivo de umarelação biunívoca entre a idade e a etapa de escolarização.

• (Áries, 1978).

• A idade se tornou uma quantidade juridicamente mensurável, com• A idade se tornou uma quantidade juridicamente mensurável, comprecisão de horas. A necessidade em assumir uma personalidadejurídica ao longo da vida, transferir bens, sofrer sanções, entre outrosaspectos legais reforçou a adoção desse critério (Foucault, 1984;Gélis, 1991).

• Além disso, a criança começou a permanecer mais tempo na escola,deixando de conviver, nesse momento, com os adultos de sua famíliae de aprender a vida diretamente por meio do trabalho ou darealização das tarefas, que outrora serviam de parâmetro parapassagem da infância à vida adulta.

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Educação e infância

• A educação, então, se tornou o principal espaço institucionalpara organizar a vida das crianças.

• Esta influência institucional foi chamada por Áries dequarentema e iniciou um longo processo de enclausuramentodas crianças (como dos loucos, dos pobres e das prostitutas)que se estende até os nossos dias, e ao qual se dá o nome deque se estende até os nossos dias, e ao qual se dá o nome deescolarização (Aires, 1978, p. 11).

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A disciplina

• Sarmento (2004, 2005), com relação à disciplina, explica queas escolas impõem o que chamam de “ofício de criança”.

• É um universo próprio de normas que servem para organizaro desempenho social das crianças, onde são conduzidosprocessos de socialização vertical, imposição de normas,ideias, crenças e valores que são predominantementeideias, crenças e valores que são predominantementeconstruídos sob o ponto de vista do adulto (McLaren, 1997;Sarmento, 2005).

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Criança e desenvolvimento

• As crianças possuem características próprias ao seu momentodesenvolvimental, o que não as tornam menos competentesenquanto atores sociais nem seres incompletos ouimperfeitos, mas caracterizam elementos configuradores deum grupo singular na existência humana.

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Controle infantil atual

• No entanto, a institucionalização dos cuidados com a criança,bem como a grande quantidade de tempo que passamenvolvidas com a escola se tornaram impedimentos para aparticipação infantil, tendo em vista o grau de controleexercido pelos adultos e a pouca influência que as criançaspossuem sob seus próprios ambientes.possuem sob seus próprios ambientes.

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Escola e mundo da criança

• As crianças, que antes aprendiam a realizar as suas tarefas emum contexto laboral ao lado dos adultos, passaram afrequentar a escola, esse novo local de aprendizagem, quelogo se tornou, no mundo ocidental, um espaço para aimposição de disciplina.

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Autonomia infantil• Os princípios que sustentam a participação infantil indicam que

é necessário investir na autonomia infantil, o que não significaincentivar o surgimento de pequenos tiranos, nem asubmissão dos adultos à vontade das crianças.

• Pensar desta forma seria inverter a situação que hoje severifica sem nenhum ganho desenvolvimental ou social. Averdadeira autonomia È regulada por um compromissoverdadeira autonomia È regulada por um compromissorecíproco entre os sujeitos (Rogoff, 1995).

Meninos soltando pipa/ Portinari

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Resultados das pesquisas sobre a valorização da crianças: • a grande influência que as crianças têm nas vidas de seus pais

ou familiares;

• os efeitos que as instituições escolares têm na organização da vida infantil;

• a luta implícita e velada entre educadores e alunos pelo poder e pelo direito de expressão respectivamente. e pelo direito de expressão respectivamente.

DONALD ZOLAN

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Conclusão

• É necessário, pois, refletir de forma mais profunda em como aadoção dos critérios de infância poder· promover maioraproximação entre crianças e adultos e suas formas decompartilhar projetos, responsabilidades e compromissos.Superar a concepção da incapacidade e da incompletude ser·fundamental aspecto para que a participação infantil se tornefundamental aspecto para que a participação infantil se torneuma realidade social.

Saiba Adriana Calcanhoto.mp4

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Referências

• Áries, P. (1978). História social da criança e da famÌlia. Rio de Janeiro: LTC.

• Bujes, M. I. E. (2000). O fio e a trama: As crianças nas malhas do poder. Educação e Realidade, 4(1), 25-44.

• Korczak, J. (1984). Como amar uma criança. São Paulo: Paz e • Korczak, J. (1984). Como amar uma criança. São Paulo: Paz e Terra. (Original publicado em 1919).

• Sarmento, M. J. (2001). A globalização e a infância: Impactos na condição social e na escolaridade. In R. L. Garcia & A. Leite Filho (Orgs.), Em defesa da educaÁ„o infantil. Rio de Janeiro:

• DP&A.