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MARCELO BERNART SCHMIDT
PROPOSTA DE SOLUO INTEGRADA PARA A LEITURA
EM BRAILLE
Itaja (SC), Maro de 2013
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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJA
CURSO DE MESTRADO ACADMICO EM
COMPUTAO APLICADA
PROPOSTA DE SOLUO INTEGRADA PARA A LEITURA
EM BRAILLE
por
Marcelo Bernart Schmidt
Dissertao apresentada como requisito parcial
obteno do grau de Mestre em Computao
Aplicada.
Orientador: Alejandro Rafael Garcia Ramirez, Dr.
Itaja (SC), Maro de 2013
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FOLHA DE APROVAO
Esta pgina reservada para incluso da folha de assinaturas, a ser disponibilizada
pela Secretaria do Curso para coleta da assinatura no ato da defesa.
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PROPOSTA DE SOLUO INTEGRADA PARA A LEITURA
EM BRAILLE
Marcelo Bernart Schmidt
Maro / 2013
Orientador: Alejandro Rafael Garcia Ramirez, Dr.
rea de Concentrao: Computao Aplicada
Linha de Pesquisa: Sistemas embarcados e Distribudos
Palavras-chave: Braille, Display Braille, Deficiente Visual, Hardware, Software,
Acessibilidade
Nmero de pginas: 115
RESUMO
Pessoas portadoras de deficincia visual enfrentam diversos problemas relacionados
ao acesso informao. Uma das solues que amenizam este problema o Braille,
linguagem de smbolos formados por um conjunto de pontos, que, quando detectados pelas
terminaes nervosas do dedo, formam um caractere. Com a era tecnolgica em crescimento,
surgiu a necessidade de aproximar o Braille informtica. Para isso, dispositivos
eletromecnicos foram criados, tal como os displays Braille, permitindo que usurios faam
uso do Braille em seus computadores. Porm, o acesso a este tipo de dispositivos limitado,
devido tecnologia embutida e ao custo das componentes envolvidas. Cabe destacar que os
displays Braille atuais possuem entre 8 e 80 celas e que a tendncia do mercado aumentar o
nmero de celas. Uma cela, o conjunto dos pontos que formam um caractere Braille. Outro
fator a carncia de softwares especficos adaptados necessidade dos usurios cegos,
utilizando padres de acessibilidade. Neste contexto, este trabalho objetiva contribuir para o
acesso digital ao Braille, atravs do desenvolvimento de uma soluo que integra hardware e
software. O sistema proposto baseado em um hardware formado por apenas uma cela, visto
que a leitura do Braille se faz caractere a caractere. Neste cenrio, tambm foi desenvolvido
um software especfico para possibilitar a comunicao do hardware desenvolvido com os
computadores pessoais dos usurios. O software faz uso das normas de acessibilidade
definidas pelo consrcio americano das pessoas com deficincia visual, formado por grandes
empresas, tal como a IBM e a Microsoft. O sistema desenvolvido foi avaliado por meio de
estudos de caso realizados com cegos com diferentes tipos de conhecimento do Braille e
diferentes habilidades no uso do computador. Os resultados alcanados avaliaram o sistema
como eficiente, do ponto de vista de usabilidade, mas gerou discrepncia nas observaes
feitas por usurios experientes na leitura Braille, exceto um ponto: acredita-se que, com
algumas alteraes, este sistema pode tornar-se uma excelente ferramenta na insero do
Braille a leitores iniciantes.
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PROPOSAL OF INTEGRATED SOLUTION FOR READING IN
BRAILLE
Marcelo Bernart Schmidt
October / 2012
Advisor: Alejandro Rafael Garcia Ramirez, Dr.
Area of Concentration: Applied Computer Science
Research Line: Embedded System
Keywords: Braille, Braille Display, Visually Impaired, Hardware, Software, Acessibility
Number of pages: 115
ABSTRACT
Blind people face several problems related to access to information. One technique to
solve this problem is the Braille language symbols, formed by a set of points which, which
nerve terminations felt by the finger, forming a character. With the exponential growth in
technological era, the need arose to bring a Braille computer. For this purpose,
electromechanical devices were created, named Braille displays, allowing users to make use
of Braille on their computers. However, access to comercial devices is expensive, because the
cust of the embedded technology. The current Braille displays have 8-80 cells and the market
trend is to rising. A Braille cell is nothing more than the set of points that make up a Braille
character. Another alarming factor is the absence of specific software and adapted to users'
needs by using accessibility standards. In this context, this work aims to contribute to the
digital access to Braille, by developing an integrated system solutions based on hardware and
software. The proposed system is based on hardware developed from scratch with national
technology and only one cell, since the reading of Braille is done character by character. In
this scenario, was also developed specific software communication to the hardware with the
personal computers of the users. The software makes use of the accessibility standards
imposed by the U.S. consortium for the visually impaired, formed by important companies,
such as IBM and Microsoft. The developed system was evaluated by case studies with blind
people, with different knowledge of Braille and expertise on computer use. The results show
the efficiency of the proposed integrated system to reading Braille on conventional computers.
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LISTA DE ILUSTRAES
Figura 1. Display Braille Focus 80...................................................................44
Figura 2. Desenho esquemtico de uma cela piezoeltrica............................52
Figura 3. Celas piezoeltricas comerciais........................................................52
Figura 4. Cela Braille........................................................................................54
Figura 5: Trs pontos da cela Braille...............................................................56
Figura 6: Acionamento das agulhas.................................................................57
Figura 7. Vista lateral da cela Braille..............................................................57
Figura 8 Vista superior da cela.........................................................................57
Figura 9 Vista do prottipo conectado a um computador..............................58
Figura 10: Exemplo de sinal PWM..................................................................59
Figura 11. Interface simples para a validao preliminar do hardware......60
Figura 12. Casos de Uso do Sistema.................................................................62
Figura 13 Modo de leitura de caracteres......................................................64
Figura 14 Modo de leitura de textos.............................................................65
Figura 15 Comandos de leitura.....................................................................66
Figura 16 Arquitetura MVVM......................................................................68
Figura 17 - Diagrama de classes I....................................................................70
Figura 18 - Diagrama de classes II...................................................................73
Figura 19 - Diagrama de classes III.................................................................74
Figura 20 - Controle de classe..........................................................................76
Figura 21 - Anlise dos resultados dos Usurios A e B...................................90
Figura 22 - Usurio A: Taxa de acerto na identificao do alfabeto.............91
Figura 23 - Usurio B: Taxa de acerto na identificao do alfabeto.............91
Figura 24 - Representao dos caracteres u e v em Braille...................92
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Cela Braille numerada e ampliada...............................................38
Quadro 2 - Comparativo dos trabalhos relacionados....................................48
Quadro 3 - Resumo das atividades do primeiro dia de testes.......................87
Quadro 4 - Configuraes 1 de software do Usurio A..................................89
Quadro 5 Configuraes 1 de software do Usurio B.................................89
Quadro 6 Configuraes 2 de software do Usurio A.................................93
Quadro 7 Configuraes 2 de software do Usurio B.................................94
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
MVVM Model View View Model
URI Uniform Resource Locator
IS Isolated Storage
API Application Programming Interface
TA Tecnologia Assistiva
GDI Graphics Design Interface
SRGS Speech Recognition Grammar Specification
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SUMARIO
1 INTRODUO ..............................................................................................11
1.1 LEITURA EM BRAILLE ..........................................................................12
1.2 PROBLEMA DE PESQUISA ....................................................................15
1.2.1 Soluo Proposta .....................................................................................16
1.2.2 Delimitao de Escopo ............................................................................16
1.2.3 Justificativa ..............................................................................................17
1.3 OBJETIVOS ...............................................................................................18
1.3.1 Objetivo Geral .........................................................................................18
1.3.2 Objetivos Especficos ..............................................................................18
1.4 METODOLOGIA ......................................................................................19
1.4.1 Metodologia da Pesquisa ........................................................................19
1.4.2 Procedimentos Metodolgicos ................................................................19
1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAO .........................................................20
2 BRAILLE FUNDAMENTAO TERICA .............................................21
2.1 TECNOLOGIA ASSISTIVA ......................................................................21
2.2 CATEGORIAS DE TECNOLOGIA ASSISTIVA ...................................25
2.3 A TECNOLOGIA ASSISTIVA E A DEFICINCIA VISUAL................27
2.4 ACESSIBILIDADE E A TECNOLOGIA ASSISTIVA...........................29
2.5 RECONHECIMENTO DE VOZ...............................................................33
2.5.1 Speech Recognition Grammar Specification.....................................35
2.6 TECNOLOGIAS DISPONVEIS..........................................................36
2.7 O BRAILLE ................................................................................................37
2.8 LEITURA E ESCRITA EM BRAILLE ...................................................38
2.9 O BRAILLE E A EDUCAO.................................,...............................41
2.10 BRAILLE IMPRESSO.............................................................................42
2.11 BRAILLE DIGITAL ................................................................................43
2.12 DISPLAY BRAILLE ...............................................................................43
3 TRABALHOS RELACIONADOS..............................................................45
3.1 CELA BRAILLE UTILIZANDO MOTORES LINEARES
PIEZOELTRICOS ........................................................................................45
3.2 SISTEMA DE COMUNICAO BRAILLE ..........................................45
3.3 BRAILLE NA TELA DE UM DISPOSITIVO CELULAR ....................46
3.4 DISPOSITIVO FORMADO POR SEIS CELAS BRAILLE..................46
3.5 ANLISE COMPARATIVA ......................................................................47
3.6 PATENTES E SOLUES COMERCIAIS.............................................49
3.7 CONSIDERAES ...................................................................................50
4.0 DESENVOLVIMENTO..............................................................................52
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4.1 PROJETO....................................................................................................55
4.2 TESTES PRELIMINARES .......................................................................59
4. DESENVOLVIMENTO DO SOFTWARE .................................................60
4.1 LEVANTAMENTO DE REQUISITOS ....................................................61
4.2 DESCRIO DOS CASOS DE USO........................................................63
4.3 LEITURA E INTERPRETAO DO TEXTO........................................66
4.4 ANLISE E PROJETO..............................................................................66
4.4.1 Tecnologia..................................................................................................67
4.4.2 Arquitetura................................................................................................67
4.4.2.1 View.........................................................................................................69
4.4.2.2 Model .....................................................................................................69
4.4.2.3 ViewModel .............................................................................................69
4.4.3 Acessibility API ........................................................................................69
4.4.3.1 Diagrama de Classes .............................................................................70
4.4.3.2 DictionaryWord ....................................................................................70
4.4.3.3 BrailleGrammarConstructor ..............................................................71
4.4.3.4 BrailleSpeechRecognitionEngine ........................................................71
4.4.3.5 BrailleSpeechGrammar .......................................................................72
4.4.3.6 BrailleSpeechTranslator........................................................................72
4.4.3.7 Speaker e MediaPlayerInterop.............................................................72
4.4.4 Classes de Interface..................................................................................72
4.4.4 Classes de Comunicao..........................................................................73
4.4.3.1 SerialPortWrapper e SerialPortSettings.............................................74
4.4.3.1 PortInfo..................................................................................................75
4.4.3.4 CommandContainner............................................................................75
4.4.3.5 FileSerializer...........................................................................................76
4.5 CARACTERSTICAS................................................................................76
4.5.1 Acessibilidade e Integrao com Sistemas Auxiliares...........................79
4.5.2 Planejamento da Validao do Dispositivo.............................................80
4.7 LIMITAES E SUGESTES PARA FERRAMENTA........................81
4.7.1 Adio de Arquivos...................................................................................81
4.7.2 Portabilidade.............................................................................................81
4.7.3 Reconhecimento de Voz............................................................................81
4.7.4 KeyBindings..............................................................................................82
4.7.5 Temporizador............................................................................................82
4.7.6 Internacionalizao..................................................................................82
4.7.7 Uso de Headset..........................................................................................82
4.8 CONSIDERAES....................................................................................82
5 ESTUDOS DE CASO.....................................................................................84
5.1 IDENTIFICAO DOS PARTICIPANTES............................................84
5.1.1 USURIO A..............................................................................................84
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5.1.2 USURIO B.............................................................................................84
5.1.3 USURIO C.............................................................................................85
5.2 EXPERIMENTO.......................................................................................85
5.3 RESULTADOS........................................................................................86
5.4 RESULTADOS PRIMEIRO DIA..........................................................86
7.1.1 OBSERVAES.......................................................................................88
7.1.2 INTERVENO......................................................................................88
7.1.3 CONFIGURAES DO SOFTWARE MODO TREINAMENTO..89
5.2.6 MODO DEMANDA................................................................................90
5.2.7 DESCRIO DOS GRFICOS............................................................91
5.2.8 MODO LEITURA...................................................................................92
5.2.9 RESULTADOS SEGUNDO DIA..........................................................93
5.3 VISITA A FCEE..........................................................................................94
5.4 QUESTIONRIOS....................................................................................96
5.5 USABILIDADE...........................................................................................98
5.6 CUMPRIMENTO DOS OBJETIVOS PROPOSTOS...........................100
5.7 CONTRIBUIES DA DISSERTAO...............................................101
5.8 TRABALHOS FUTUROS........................................................................102
5.8.1 Integrao Completa com Leitores de Tela..........................................102
5.8.2 Jogo Braille..............................................................................................103
6 CONCLUSES.............................................................................................104
REFERNCIAS..............................................................................................107
APNDICE A - PROTOCOLO DE REVISO SISTEMTICA...............112
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11
1 INTRODUO
Com o avano tecnolgico, em pleno sculo XXI, vislumbra-se cada vez mais a
incluso, seja social, educacional, digital, das pessoas portadoras de deficincia, visando a
construo de uma sociedade com plena participao e igualdade. Para tanto, faz-se
necessrio o acesso a informao, pois ela que faz com que qualquer atividade humana se
torne livre e eficiente. Com os instrumentos tecnolgicos existentes, houve um avano de
diversas atividades informacionais, favorecendo o uso e disseminao das tecnologias
visando a incluso de portadores de necessidades especiais.
Nesse contexto, a constante busca pelo respeito e pela valorizao da cidadania das
pessoas com deficincia, promovendo os seus direitos, equalizando as oportunidades e
contribuindo para a superao dos obstculos sociais predominantes ao processo de incluso
de extrema importncia. fundamental a integrao destes ao meio social, de forma
participativa, fortalecendo suas adaptaes, potencializando aptides, ampliando o campo de
oportunidades e colocando-os em igualdade de condies. Se por um lado existem limitaes
em suas condies fsicas, por outro lado a capacidade, talento e personalidade se encontram
preservados e cada vez mais fortalecidos.
A deficincia visual compreende desde pequenas alteraes na acuidade visual at a
ausncia de percepo de luz, mas as alteraes que tm implicaes mais srias para a vida
das pessoas com necessidades especiais so a baixa viso e a cegueira.
A cegueira uma alterao grave ou total de uma ou mais das funes elementares da
viso que afeta de modo irremedivel a capacidade de perceber cor, tamanho, distncia,
forma, posio ou movimento em um campo mais ou menos abrangente. Isto , quando ocorre
ausncia de percepo de luminosidade (S; CAMPOS E SILVA, 2007).
Segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica verifica-se que,
no Brasil, a populao de pessoas com alguma dificuldade visual aproxima-se de 15.000.000,
e as pessoas incapazes de enxergar ou que tenham grande dificuldade permanente de enxergar
superem a cifra de 2.500.000 (IBGE, 2000). J no caso particular do estado de Santa Catarina,
os nmeros apontam a 85.000 pessoas cegas ou com grande dificuldade para enxergar. Esses
nmeros evidenciam a necessidade de dar uma maior ateno aos portadores de deficincia
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12
visual, gerando solues nacionais que permitam a crescente integrao sociedade.
Cabe destacar que o deficiente visual enfrenta inmeros obstculos em seu processo de
incluso na sociedade, sendo para eles ainda mais difcil o acesso informao, educao,
cultura e ao mercado de trabalho. Porm, a construo de uma sociedade com plena
participao e igualdade tem como um de seus princpios a interao efetiva de todos os
cidados. A informtica tem sido uma grande aliada nesse processo, permitindo atravessar
barreiras e quebrar obstculos (KLEIN, 2006).
Entretanto, perdura-se entre tantas desigualdades ainda existentes, a da falta de
oportunidade de acesso informao, tornando-se necessria a criao de meios e a
disposio destes para que se d acesso a todas as ferramentas, mtodos e tcnicas
importantes existentes que levem as pessoas com deficincia visual ao acesso informao, a
fim de que se desenvolvam em condies igualitrias de seus semelhantes.
O Ministerio da Educao atravs da Portaria n 3.284, de 7 de Novembro de 2003,
define os requisitos de acessibilidade de pessoas portadoras de deficincia visual, dentre os
quais encontram-se as impressoras Braille, o Braille Falado, scanners Braille, dentre outros
recursos tecnolgicos que valorizam o uso do Braille.
Valente (2001) ressalta que a importncia dos ambientes digitais inquestionvel no
contexto de deficientes visuais e refora ainda que desde a inveno do cdigo Braille, nada
teve tanto impacto nos programas de educao, reabilitao e emprego quanto o recente
desenvolvimento da informtica para os cegos.
O mtodo Braille, tambem conhecido como a escrita a branco, h mais de 150 anos se
constituiu no alafabeto de leitura e escrita mais utilizado pelas pessoas com deficincia visual
em todo o mundo.
1.1 LEITURA EM BRAILLE
Nos dias atuais, com o avano constante da tecnologia o Braille est ficando
esquecido. As pessoas esto se afastando do uso do Braille, devido ao alto custo e as
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13
dimenses dos livros em Braille, bem como a gama existente de tecnologias alternativas para
ler e se comunicar alm da palavra escrita.
Escrever histrias pode no parecer parte fundamental da vida, mas na maioria das
vezes as pessoas cegas conseguem empregos fazendo o trabalho intelectual, ao invs de
trabalhos que envolvem trabalho manual. Portanto, ser capaz de comunicar corretamente com
sua escrita importante em um local de trabalho intelectual. Acredita- se que por isso que
pessoas que aprenderam o Braille tem duas vezes mais probabilidade de estar empregados do
que aqueles que no tiveram tal aprendizado.
O crtex visual ocupa mais de 20% do crebro humano e acreditava-se que era
acessvel somente por pessoas sem deficincias visuais. Porm, recentes estudos de imagem
do crebro mostraram que a leitura Braille realmente estimula o crtex visual de uma pessoa
cega. Tambm foi constatado que, se o crtex visual no possui imagens associadas ao
processo, pode reorganizar-se para novas funes, como a memria. Com isso, embora hajam
ferramentas para ler um livro ou textos em voz alta, ainda muito importante conhecer o
Braille. Este ajuda os deficientes visuais a compreender os fundamentos da linguagem e
transmiti-los em suas comunicaes por escrito, e tambm ajuda a estimular o crebro (NEW
YORK TIMES, 2010).
Vivemos imersos em uma cultura letrada, em um mundo grafocntrico, no qual, ler e
escrever fundamental para todos. O Braille permite que pessoas cegas faam parte desta
cultura. Em questes prticas e pessoais, a escrita em Braille representa a possibilidade de
estas pessoas serem mais autnomas em casa ou no trabalho. Com este aprendizado, podem
utilizar os benefcios da lngua escrita na comunicao, na busca de informao, como auxlio
a memria, na diverso e organizao (etiquetagem ou arquivamentos de seu material).
Em relao leitura, o Braille o nico caminho que permite a interao leitor/texto,
pois atravs do tato a mensagem passa direto do texto para o leitor. Pessoas com deficincia
visual, que no aprenderam o Braille tm mais difculdade em escrever e comunicar seus
pensamentos. J os estudantes alfabetizados em Braille, redigem melhor seus textos,
enquanto aqueles que apenas usam um teclado e sistemas auditivos, escrevem textos e
histrias de forma muito desorganizada e desarticulada.
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14
Novas tecnologias que vm a valorizar a importncia do Braille no ensino, na
produo de livros e na leitura: impressoras de vrios portes, terminais Braille, sintetizadores
de voz, como o SonoBraille, leitores pticos de Braille e de caracteres em tinta, scanners,
softwares de acesso e diversos modelos portteis de notebooks com linha Braille, so
exemplos dessa evoluo tecnolgica (COOK e POLGAR, 2007).
Inmeros dispositivos encontrados no mercado permitem a escrita e leitura em Braille.
Dentre eles pode-se citar o reglete, que era usado por Louis Braille e que consiste em duas
pranchas lisas entre as quais se prende uma folha de papel. A prancha de cima possui uma ou
mais linhas de celas Braille vazadas nela, cada uma com seis entalhes pequenos, que ajudam o
cego a posicionar uma puno para destacar os pontos, conforme a letra do alfabeto a ser
representada.
Outro dispositivo bastante utilizado a mquina de Perkins, a qual consiste em uma
mquina de escrever que s possui nove teclas, sendo que seis representam os pontos que
formam cada caractere, outra o espaamento, e as teclas de avano e retrocesso (BLASCH, et
al, 1979).
J os displays Braille tambm conhecidos como Linha Braille, so dispositivos
interconectados ao computador com o objetivo de exibir dinamicamente em Braille a
informao que aparece na tela. Assim, operam em sincronia com um software leitor de tela,
que seleciona os textos e os traduz para o Braille. (PRESLEY, 2008). Seu sistema
eletromecnico movimenta pinos dispostos verticalmente para representar mltiplas celas
Braille, geralmente entre doze e oitenta celas, permitindo ao utilizador a leitura ttil das
informaes exibidas. Uma cela nada mais do que um retngulo composto por 6 a 8 pontos,
que formam um caractere Braille.
Como foi constatado, o conhecimento do sistema Braille fundamental para a vida das
pessoas com deficiencia visual e tem inmeras aplicaes, desde a alfabetizao at a
identificao de produtos e lugares. Dentro deste contexto, este trabalho prope uma soluo
integrada de hardware e software que contribuia acessibilidade e estimule o uso do Braille.
http://www.amazon.com/s/ref=ntt_athr_dp_sr_1?_encoding=UTF8&sort=relevancerank&search-alias=books&field-author=Bruce%20B.%20Blasch -
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1.2 PROBLEMA DE PESQUISA
As solues tecnolgicas atuais integradas de hardware e software que possibilitam a
leitura em Braille, so baseadas em dispositivos eletromecnicos, construdos de forma
modular, constitudos por algo entre oito e oitenta celas piezoeltricas. Essa tecnologia cara
e para reforar essa ideia observa-se a tendncia de aumentar o nmero de celas de forma a
representar toda a informao contida na tela do computador, de modo que se aproxime
daquela feita em papel. Idealmente, um display deveria ter no apenas a extenso de uma
linha, mas de uma pgina inteira. O problema que o custo de um display simples de
quarenta celas elevado, em torno de R$ 12.000,00 (doze mil reais) no Brasil, e US$ 3.800
(trs mil e oitocentos dlares) no Exterior. Dessa forma pode-se imaginar qual seria o custo de
uma folha inteira de celas. Outro ponto importante, intimamente relacionado ao preo, a
questo relacionada a fiabilidade do mecanismo, ou seja, se apenas um ponto deixar de
funcionar por causa de uma falha eltrica ou mecnica, ento essencialmente a
linha Braille seria inservvel, por que no vai ser possvel saber qual o smbolo exibido na
cela com o ponto defeituoso. Assim, embutido no preo do display encontra-se tambm a
tecnologia necessria para garantir a robustez do produto.
Em outra linha de raciocnio, alguns pesquisadores comearam a desenvolver um
display de uma nica cela, baseados na forma como o Braille lido. Isto , um caractere por
vez. A diferena da leitura com os olhos que captam palavras inteiras, alm de muitas outras
informaes quase que instantaneamente, podendo percorrer o texto com agilidade, seguindo
uma linha sem esforo, voltando ou avanando a vontade dentro do texto, o cego l,
essencialmente, um caractere por vez. De forma geral, um dedo principal, geralmente o
ndice, quem faz a leitura. Esse mesmo dedo tem que se movimentar por cima das celas
lendo-as uma aps outra de forma linear, e no em paralelo, a diferena da viso. Assim, em
um display Braille de quarenta celas, por exemplo, enquanto o cego est lendo um caractere,
os outros trinta e nove esto ociosos, pois no esto sendo lidos com os outros dedos. Assim
surgiu a ideia de projetar um display de apenas uma cela.
Do ponto de vista de software, as solues disponveis no fornecem interfaces
totalmente accessveis para a seleo de textos a serem exibidos na cela, isto , o cego no
interage com os textos com liberdade, sendo que os mesmos so reproduzidos em Braille (ou
atravs de sons) de forma sequencial. Tambm no registram a ltima linha lida, assim cada
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vez que um arquivo for fechado e aberto novamente, a leitura comearia sempre no primeiro
caractere do texto. Pode-se imaginar a dificuldade para efetuar a leitura de um livro.
Este problema de pesquisa gera as seguintes perguntas de pesquisa: a soluo
integrada de hardware e software proposta ser acessvel ao cego de modo que possa
contribuir no processo de leitura em Braille? Desta hiptese deriva-se outra: ser possvel
criar uma soluo vivel que possibilite a leitura em Braille usando apenas uma nica cela?
1.2.1 Soluo Proposta
Visando contribuir na melhoria do processo de leitura em Braille e analisando as
limitaes das solues existentes, prope-se o desenvolvimento de um sistema formado por
uma nica cela Braille e uma interface de software adaptada que permitir ao usurio interagir
com caracteres e textos de forma diferenciada em relao s solues existentes no mercado.
O sistema proposto ser composto de duas solues integradas:
a) Hardware: Um Display Braille, utilizando o conceito de uma nica cela,
responsvel por traduzir para o Braille o texto proveniente do computador.
b) Sofware: Soluo necessria para exercer a comunicao do computador com o
Display Braille. Foram utilizados recursos de acessibilidade dentro das normas estudadas para
facilitar o uso pelo deficiente visual, com nfase no reconhecimento de voz. O software foi
dividido em dois mdulos: um para o treinamento da ferramenta e outro para a leitura de
arquivos de texto, ambos configurveis considerando s necessidades dos usurios.
1.2.2 Delimitao de Escopo
Neste trabalho sero abordados mecanismos alternativos para realizar a leitura em
Braille, atravs do projeto de um sistema com caractersticas diferenciadas em relao ao que
existe no mercado. Tais tcnicas no visam a garantia de independncia exclusiva da pessoa
com deficincia visual, nem uma acesibilidade plena, por no ter interao com softwares
leitores de tela, nem a substituio de outros mtodos de leitura em Braille.
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1.2.3 Justificativa
Obter informao indispensvel ao ser humano para realizao de qualquer
atividade. Como estabelecido na Constituio Federal Brasileira de 1988 art. 5, XIV "
assegurado a todos acesso a informao e resguardado o sigilo da fonte, quando necessrio ao
exerccio profissional" (BRASIL, 2007, p. 8). O acesso informao, segundo Varella e
Guerrini (2010), " uma premissa bsica para a realizao da cidadania, um direito
fundamental de qualquer pessoa".
No atual contexto, para poder atender s necessidades das pessoas portadoras de
algum tipo de deficincia, parte-se, em boa medida, para a compra de equipamentos
importados, pois ainda no suficiente a quantidade (e variedade) de produtos desenvolvidos
no pas, sendo necessrio um grande esforo de pesquisa nesta rea.
No caso particular do display Braille e seu software comunicador, focos deste trabalho,
observa-se a tendncia ao aumento da complexidade e do valor embarcado, dificultando a
aquisio. Nesse contexto pretende-se desenvolver uma soluo nacional e com recursos de
acessibilidade, que permita uma difuso massiva pelas associaes de ensino especial.
Dessa forma, procura-se gerar um sistema funcional e testar sua eficcia, de forma que
caso o cego consiga ler de forma ttil com, ao menos, a mesma rapidez que
o Braille tradicional permite, ter-se-ia alcanado um produto comercial de baixo custo em
relao ao que existe no mercado, abrindo a oportunidade de acesso a leitura como pregado
por educadores no mundo inteiro, tendo como suporte, um software comunicador composto
por uma gama de padres de acessibilidade, auxiliando no uso do sistema.
O Braille hoje em dia est caindo em desuso, com consequncias negativas para a
alfabetizao das pessoas com deficincia visual e para seu sucesso profissional. Tambm
para pessoas com surdocegueira, o display Braille uma ferramenta singular para acessar a
informtica. Infelizmente, segundo relatado por pessoas de organizaes de surdocegueira no
Brasil, no tem nenhuma pessoa surdocega que possua seu prprio display. Pretende-se
deixar como herana deste projeto uma contribuio que permita mudar esse panorama.
Cabe destacar que esta dissertao conta com a parceria de especialistas do
LARAMARA - Associao de Assistncia ao Deficiente Visual e da FCEE - Fundao
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Catarinense de Educao Especial, e com o suporte do projeto de iniciao cientfica
ProINOVA, aprovado na Univali.
1.3 OBJETIVOS
1.3.1 Objetivo Geral
Desenvolver uma tecnologia para a leitura de textos em Braille, atravs do
computador, a partir de uma soluo integrada de hardware e software, com o intuito de
disponibilizar um dispositivo eficiente, do ponto de vista da necessidade de esforo requirido
para utilizar o sistema e evoluir; e acessvel, no sentido duplo do adjetivo, tanto econmico,
quanto do ponto de vista da existncia de recursos de acessibilidade, suprindo assim, as
necessidades desse tipo de equipamento, principalmente, em escolas e associaes de ensino
especial.
1.3.2 Objetivos Especficos
Para alcanar o objetivo geral deste trabalho sero necessrios alcanar os seguintes
objetivos especficos:
a) Anlise de solues correlatas;
b) Desenvolvimento da interface com o usurio (software), baseada nas normas
de acessibilidade;
c) Integrao software-hardware;
d) Testar a funcionalidade do sistema desenvolvido.
e) Comparao da utilizao da soluo proposta com a leitura em Braille
tradicional.
-
19
1.4 METODOLOGIA
A pesquisa aplicada neste trabalho de natureza aplicada, pois tem como objetivo
investigar, comprovar ou rejeitar as hipteses apresentadas na soluo proposta (GIL, 2002).
Este trabalho tambm se enquadra como pesquisa qualitativa como forma de
abordagem do problema (MARCONI; LACATOS, 2000).Os resultados foram avaliados
mediante observao e pela aplicao de um questionrio.
Conforme demonstrado na seo 0que trata dos objetivos especficos, a pesquisa busca
simplicidade sem perder a rapidez de leitura em Braille, o que acredita-se ser verificvel
atravs de mtricas de tempo e booleanas (atingiu ou no o objetivo da leitura),
respectivamente. A pesquisa tambm busca manter a qualidade da leitura, de modo que
aspectos tal como fadiga e insatisfao sejam reduzidos ou mitigados.
1.4.1 Metodologia da Pesquisa
A pesquisa aqui apresentada busca contribuir no processo de leitura em Braille, atravs
do desenvolvimento de uma soluo integrada, formada por uma nica cela Braille e uma
interface accessvel que permitir ao usurio interagir com caracteres e textos de forma
diferenciada em relao as solues existentes no mercado.
Neste contexto, trata-se de uma pesquisa aplicada, pois, de acordo com Menezes e
Silva (2001, p. 20), objetiva gerar conhecimentos para aplicao prtica, e dirigidos
soluo de problemas especficos. Envolve verdades e interesses locais.
1.4.2 Procedimentos Metodolgicos
Segundo Gil (1999, p. 65), a soluo dos problemas de pesquisa ocorre mediante o
teste das hipteses. Na tica do autor, a investigao das hipteses permite ao cientista
chegar aos resultados.
A pesquisa ora descrita foi desenvolvida, at a fase atual, orientada pelos
procedimentos metodolgicos apresentados nos pargrafos seguintes desta seo.
-
20
Inicialmente foi realizada a pesquisa bibliogrfica, que permitiu um estudo
aprofundado da literatura especializada baseado no protocolo de reviso sistemtica,
objetivando suprir o autor dos conhecimentos necessrios para o desenvolvimento do
trabalho.
Atravs da reviso sistemtica da literatura foi possvel identificar as necessidades do
processo de leitura em Braille e as limitaes das solues existentes, o qual permitiu definir
o problema de pesquisa descrito na seo 1.2, a partir do qual foi possvel formular as
hipteses descritas.
Os passos seguintes consistiram no desenvolvimento da ferramenta integrada de
hardware e software e sua posterior avaliao, atravs de estudos de caso.
1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAO
O trabalho est organizado em 8 captulos correlacionados. O Captulo 1, Introduo,
apresentou por meio de sua contextualizao o tema proposto. Da mesma forma foram
estabelecidos os resultados esperados por meio da definio de seus objetivos e apresentadas
as limitaes do trabalho permitindo uma viso clara do escopo proposto.
O Captulo 2 apresenta a fundamentao terica e o estado da arte sobre a tecnologia
assistiva, com nfase na importncia do Braille como ferramenta de alfabetizao e incluso
social.
O Captulo 3 apresenta o levantamento bibliogrfico e os trabalhos correlatos, a fim de
contextualizar o tema apresentado. Tambm so apresentados quadros comparativos com as
solues pesquisadas e so analisadas as patentes existentes, mostrando as vantagens e
desvantagens de cada soluo proposta.
Os Captulos 4 e 5 apresentam os atributos do desenvolvimento do hardware e do
software controlador do display Braille.Temas como arquitetura, limitaes, tecnologia
funcionalidades e caractersticas tcnicas so aprofundados.
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21
No Captulo 6 apresenta-se a validao da ferramenta e e, no Captulo 7, analisa-se o
resultado dos estudos de caso realizados.
Para finalizar, no Captulo 8, apresentam-se as consideraes finais do trabalho e as
sugestes para trabalhos futuros.
2 TECNOLOGIA ASSISTIVA E O BRAILLE
Este captulo aborda os aspectos essenciais do trabalho, tratados atravs da reviso da
literatura. Inicialmente sero abordados termos importantes, relacionados Tecnologia
Assistiva e seguidamente ser tratado o Braille e a contextualizao dos dispositivos e
tendncias na representao (impresso) desse alfabeto.
2.1 TECNOLOGIA ASSISTIVA
O termo Tecnologia Assistiva (TA), no Brasil, tem sua origem na traduo de Assitive
Technology, elemento jurdico existente dentro da legislao norte americana, conhecida
como Public Law 100-407, atualizada em 1998 como Assistive Tecnology Act (PL 105-394,
S. 2432) e que, em conjunto com outras leis formam o ADA- American with Disabilities Act,
que dispe sobre os direitos dos cidados com deficincia nos EUA, e regulamenta a base
legal dos investimentos pblicos que viabilizam os recursos que os deficientes necessitam.
Nos dicionrios de lngua portuguesa, a palavra assistiva no existe. Ocorre que a
palavra assistive tambm no existe nos dicionrios da lngua inglesa. Tanto em portugus
como em ingls, trata-se de uma palavra que vai surgindo aos poucos no universo vocabular
tcnico e popular.
Assistiva, significa alguma coisa que assiste, ajuda, auxilia, e segue a mesma formao
das palavras com o sufixo "tiva", j incorporadas ao lxico portugus
(http://www.assistiva.com.br/tassistiva.html).
Tecnologia Assistiva um termo novo, utilizado para identificar todo o conjunto
de recursos e servios que contribuem para oferecer ou aumentar as habilidades funcionais de
pessoas com deficincia e, consequentemente, promover vida independente e incluso.
http://www.assistiva.com.br/tassistiva.html -
22
Tambm definida como "uma ampla gama de equipamentos, servios, estratgias e
prticas concebidas e aplicadas para minorar os problemas encontrados pelos indivduos com
deficincias" (COOK e HUSSEY, 1995).
O Comit de Ajudas Tcnicas (CAT), no Brasil, criado pela Portaria n 142, de 16 de
Novembro de 2006, conceitua Tecnologia Assistiva, da seguinte forma: uma rea do
conhecimento, de caracterstica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos,
metodologias, estratgias, prticas e servios que objetivam promover a funcionalidade,
relacionada a atividade e participao de pessoas com deficincia, incapacidades ou
mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independncia, qualidade de vida e incluso
social.
Outra definio que podemos atribuir a TA: tecnologia destinada a dar suporte
(eletrnico, eltrico, mecnico, computadorizado) para pessoas portadoras de deficincia, seja
fsica, visual, auditiva, mental ou mltipla.
J Bersch (2008) afirma que o uso constante de tecnologia em nosso dia a dia, torna
nossa vida mais fcil e simples. Usamos controle remoto, computadores, celulares, canetas,
tesouras. Todos esses itens j esto assimilados e inseridos no nosso cotidiano e participam de
nossa formao cognitiva, afetiva e social. Em relao a tecnologia, a autora relata ainda que
estes recursos oriundos de avanos tecnolgicos, tornam as coisas mais simples para as
pessoas sem deficincia, e ressalta que para pessoas portadoras de deficincia a tecnologia
torna as coisas possveis.
Assim, a TA pode ser entendida como o conjunto de equipamentos, servios,
estratgias e prticas que so planejadas e aplicadas na promoo e ampliao de uma
habilidade funcional deficitria. Deve ser vista a partir das necessidades peculiares de cada
sujeito e grupo.
Criado pelas tecnologias de informao e comunicao so diversas as possibilidades
que o espao digital traz para o atendimento as distintas formas de interao das pessoas com
a informao, respeitando as suas preferncias e limitaes, tanto aquelas relacionadas aos
equipamentos utilizados, quanto s limitaes orgnicas (BARANAUSKAS, 2001).
A TA possibilita a realizao de uma funo esperada como, por exemplo, a
http://portal.mj.gov.br/corde/http://portal.mj.gov.br/corde/arquivos/doc/PORTARIA%20institui%20comit%20de%20ajudas%20tcnicas%20-%20revisada31.dochttp://portal.mj.gov.br/corde/arquivos/doc/PORTARIA%20institui%20comit%20de%20ajudas%20tcnicas%20-%20revisada31.doc -
23
capacidade de expresso oral e escrita, assim como a alternativa e ampliao da condio de
comunicao, que se encontra impedida por inmeros fatores, tais como: circunstncia de
deficincia (situaes permanentes ou transitrias); envelhecimento; circunstncias
transitrias acarretadas por quadros clnicos num dado perodo de vida (causada por acidentes,
cirurgias); e em situaes graves acarretadas por sndromes e doenas (leses por acidente
vascular cerebral, dentre outras) (BERSCH, 2008; PELOSI, 2000).
Bersch (2008) afirma que o objetivo principal da TA proporcionar a pessoa com
deficincia, uma melhor qualidade de vida, com independncia e incluso social, ampliando
sua comunicao, mobilidade, controle de seu ambiente, habilidades de seu aprendizado e
trabalho. No Brasil, a Coordenadoria Nacional para Integrao da Pessoa Portadora de
Deficincia (CORDE), o rgo de assessoria da Secretaria Especial dos Direitos Humanos
da Presidncia da Repblica (SEDH/BR). Em 16 de Novembro de 2006, a SEDH, por meio
da Portaria n 142, instituiu o Comit de Ajudas Tcnicas que rene um grupo de especialistas
brasileiros e representantes de rgos governamentais.
Inicialmente, o CAT dedicou-se a reviso sobre o referencial terico internacional,
pesquisando os termos Tecnologia Assistiva, Tecnologia de Apoio, Ajudas Tcnicas, Ayudas
Tecnicas, Assistive Technology e Adaptive Technology. Aps esses estudos, a comisso da
CAT chegou a um conceito: Tecnologia Assistiva uma rea do conhecimento, de
caracterstica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratgias,
prticas e servios que objetivam promover a funcionalidade, relacionada a atividade e
participao, de pessoas com deficincia, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua
autonomia, independncia, qualidade de vida e incluso social.
A TA tambm conhecida como Tecnologia Adaptativa, Ajuda Tcnica ou Autoajuda,
e uma forma de acessibilidade. O Manual de Convivncia Pessoas com Deficincia e
Mobilidade Reduzida - define TA como toda a tecnologia desenvolvida ou produtos,
instrumentos, estratgias, servios ou prticas para garantir a integrao da pessoa com
deficincia na sociedade. Por exemplo, o sistema braile e os software que fazem a leitura de
tela dos computadores para deficientes visuais (GABRILLI, 2007).
Conceituando mais claramente o que so Ajudas Tcnicas, refere-se ao conjunto de
recursos que, de alguma forma, colaboram para proporcionar a pessoa com deficincia, maior
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independncia, qualidade de vida e incluso social, atravs da ampliao de sua comunicao,
mobilidade, controle de seu ambiente, habilidades de seu aprendizado, trabalho e integrao
com a famlia, amigos e sociedade (BERSCH, 2008; TONOLLI, 2006).
Verifica-se que tanto Grabrilli (2007), quanto Bersch (2008) e Tonolli (2006),
caracterizam a Tecnologia Adaptativa como uma somatria de produtos e servios que
objetivam a autonomia e insero social.
O termo TA refere-se a uma ampla gama de equipamentos, servios, estratgias e
prticas que so concebidas e aplicadas para melhorar os problemas encontrados pelos
indivduos com deficincias (COOK e HUSSEY, 1995).
A tecnologia, especialmente a Tecnologia Assistiva, no uma descoberta recente do
homem. As pessoas nas mais diferentes culturas atravs da histria, criaram adaptaes e
utilizaram ferramentas especiais e equipamentos para ajudar as pessoas com necessidades
especiais em suas sociedades (KING, 1999).
Analisando a origem e os conceitos elencados, verifica-se que a TA composta por
recursos e servios. Os recursos compreendem todo e qualquer item, equipamento ou parte
dele, produto ou sistema fabricado em srie ou sob-medida, utilizado para melhorar, aumentar
ou manter as capacidades funcionais das pessoas com deficincia, como por exemplo, uma
impressora em Braille, a bengala, utilizados no dia a dia dos deficientes visuais.
J quanto aos servios, so aqueles prestados profissionalmente que auxiliam
diretamente uma pessoa com deficincia a utilizar, selecionar e comprar os recursos. Como
exemplo de servios, temos treinamentos, avaliaes, e experimentos. Os servios de TA so
normalmente transdisciplinares, e envolvem profissionais de diversas reas, tais como:
fisioterapia, fonoaudiologia, psicologia, medicina, educao e muitas outras especialidades.
Pode-se ento dizer que o objetivo maior da TA proporcionar a pessoa com
deficincia, maior independncia, qualidade de vida e incluso social, atravs da ampliao de
sua comunicao, mobilidade, controle de seu ambiente, habilidades de seu aprendizado e
trabalho (FREIRE, 2000).
Por tratar-se de uma expresso nova, e devido a ampla gama das demandas atendidas,
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a TA ainda pode ser abordada por sinnimos como Ajuda Tcnica, Tecnologia de Apoio,
Tecnologia Adaptativa e Adaptaes. Especificadamente no caso de recursos utilizados por
deficientes visuais, ainda utilizado o termo Recursos Tiflotcnicos, amplamente difundido
na Espanha e em Portugal.
2.2 CATEGORIAS DE TECNOLOGIA ASSISTIVA
As diretrizes gerais da American with Desabilities Act (ADA, 1990), dividem a TA em
onze categorias. Porem no definitiva e pode variar, de acordo com o autor.
Com essa classificao diferencia-se claramente a Tecnologia Assistiva de Tecnologia
Reabilitadora. Tais categorias abrangem todas as demandas de diversas reas de deficincia,
portanto so apresentadas resumidamente, bem como as correlaes com as demandas
apresentadas pelas pessoas cegas e de baixa viso, bem como uma contextualizao das
possibilidades de atendimento de outras reas de deficincia. (BERSCH, 2008; TONOLLI,
2006).
1) Auxlios para a vida diria: materiais e produtos para auxlio em tarefas rotineiras
tais como comer, cozinhar, vestir-se, tomar banho e executar necessidades
pessoais, manuteno da casa, etc.
2) CAA - Comunicao Aumentativa e Alternativa; CSA - Comunicao Suplementar
e Alternativa: recursos, eletrnicos ou no, que permitem a comunicao
expressiva e receptiva das pessoas sem a fala ou com limitaes da mesma. So
muito utilizadas as pranchas de comunicao com os smbolos PCS ou Bliss, alm
de vocalizadores e softwares dedicados para este fim.
3) Recursos de acessibilidade ao computador: equipamentos de entrada e sada
(sntese de voz, Braille), auxlios alternativos de acesso (ponteiras de cabea, de
luz), teclados modificados ou alternativos, acionadores, softwares especiais (de
reconhecimento de voz, etc.), que permitem as pessoas com deficincia a usarem o
computador.
4) Sistemas de controle de ambiente: sistemas eletrnicos que permitem as pessoas
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com limitaes locomotoras, controlar remotamente aparelhos eletroeletrnicos,
sistemas de segurana, entre outros, localizados em seu quarto, sala, escritrio,
casa e arredores.
5) Projetos arquitetnicos para acessibilidade: adaptaes estruturais e reformas na
casa e/ou ambiente de trabalho, atravs de rampas, elevadores, adaptaes em
banheiros entre outras, que retiram ou reduzem as barreiras fsicas, facilitando a
locomoo da pessoa com deficincia.
6) rteses e prteses: troca ou ajuste de partes do corpo, faltantes ou de
funcionamento comprometido, por membros artificiais ou outros recursos
ortopdicos (talas, apoios etc.). Incluem-se os protticos para auxiliar nos dficits
ou limitaes cognitivas, como os gravadores de fita magntica ou digital, que
funcionam como lembretes instantneos.
7) Adequao Postural: adaptaes para cadeira de rodas ou outro sistema de sentar,
visando o conforto e distribuio adequada da presso na superfcie da pele
(almofadas especiais, assentos e encostos anatmicos), bem como posicionadores e
contentores que propiciam maior estabilidade e postura adequada do corpo atravs
do suporte e posicionamento de tronco/cabea/membros.
8) Auxlios de mobilidade: cadeiras de rodas manuais e motorizadas, bases mveis,
andadores, scooters de 3 rodas e qualquer outro veculo utilizado na melhoria da
mobilidade pessoal.
9) Auxlios para cegos ou com viso sub-normal: auxlios para grupos especficos
que incluem lupas e lentes, Braille para equipamentos com sntese de voz, grandes
telas de impresso, sistema de TV com aumento para leitura de documentos,
publicaes, etc.
10) Auxlios para surdos ou com dficit auditivo: auxlios que incluem vrios
equipamentos (infravermelho, FM), aparelhos para surdez, telefones com teclado -
teletipo (TTY), sistemas com alerta tctil-visual, entre outros.
11) Adaptaes em veculos: acessrios e adaptaes que possibilitam a conduo do
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veculo, elevadores para cadeiras de rodas, camionetas modificadas e outros
veculos automotores usados no transporte pessoal.
2.3 A TECNOLOGIA ASSISTIVA E A DEFICINCIA VISUAL
Segundo Delpizzo (2005), a principal dificuldade, em se tratando da educao de
pessoas cegas e com baixa viso, o acesso a materiais pedaggicos, cientficos e a literatura,
impressos em Braile, materiais ampliados ou digitalizados que colaborem no processo de
aquisio do conhecimento oferecido pela academia. Com o uso da tecnologia computacional
essa dificuldade pode ser superada pelos alunos cegos ou com baixa viso, quando
possibilitado o uso do computador e o acesso as informaes na internet. Mesmo alguns
materiais estando disponveis na internet, a forma como os sites os apresentam,
predominantemente visuais, bem como a organizao inadequada e a falta de aplicao de
regras de acessibilidade a esses sites, dificulta o seu uso por esses alunos.
Conforme dados do Senso Escolar MEC/INEP (2000), no perodo de 1996 a 2000, a
matrcula de alunos com deficincia visual na educao bsica apresentou um aumento na
ordem de 134,2% (SANTOS, 2001, p. 20). Atravs destes dados podemos concluir que
existe a preocupao com as polticas pblicas de incluso social, mas ainda h muito o que
fazer para chegar numa sociedade alicerada nos ideais da incluso.
A construo de uma sociedade de plena participao e igualdade tem como um de
seus princpios a interao efetiva de todos os cidados. Nesta perspectiva fundamental a
construo de polticas de incluso para o reconhecimento da diferena e para desencadear
uma revoluo conceitual que conceba uma sociedade em que todos devem participar, com
direito de igualdade e de acordo com suas especificidades. O respeito a individualidade de
cada sujeito constitui-se em um ponto chave para o que atualmente denominamos de incluso.
A informtica tem sido uma grande aliada desses "diferentes", superando barreiras e
obstculos. Podemos comprovar esta afirmao atravs de vrias pesquisas j realizadas
(CONFORTO e SANTAROSA, 2002). Ainda afirmam que os resultados das pesquisas
demonstram que as Tecnologias da Informao abrem novos horizontes, amenizando assim a
discriminao social, comprovando que tambm so capazes e que apesar de apresentarem
uma necessidade, possuem um grande potencial.
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Conforme Santarosa (2000), as ferramentas computacionais abrem um leque de
oportunidades, principalmente para as pessoas cujos padres de aprendizagem no seguem os
quadros tpicos de desenvolvimento. Os estudos mostram que pessoas limitadas por
deficincias no so menos desenvolvidas, mas se desenvolvem de forma diferente.
Ao longo da histria, o ser humano tem instintivamente buscado alternativas para
melhoria de suas condies de vida em sociedade. A constante busca pelo acesso a informao
e a educao tambm marcou a evoluo dos recursos de TA utilizados por pessoas cegas.
Conforme Campbell (2001, p. 107), desde a inveno do Cdigo Braille, em 1829,
nada teve tanto impacto nos programas de educao, reabilitao e emprego quanto o recente
desenvolvimento da informtica para os cegos. Com isso, a informtica, passou a ser um dos
elementos primordiais para a incluso das pessoas cegas e com baixa viso.
De acordo com Resende (2005, p. 38), estes suportes tecnolgicos so responsveis
por minimizar as limitaes dos no videntes, tornando cada vez menos problemtica sua
incluso na sociedade.
A importncia dos ambientes digitais, no caso da deficincia visual inquestionvel.
Segundo Borges (1996), uma pessoa cega pode ter algumas limitaes, as quais podero
trazer obstculos ao seu aproveitamento produtivo na sociedade. Afirma ainda que grande
parte destas limitaes, podem ser eliminadas atravs de duas aes: uma educao adaptada
a realidade destes sujeitos e o uso da tecnologia para diminuir as barreiras.
O desenvolvimento tecnolgico, a possibilidade da gravao de mensagens de voz em
pequenos chips entre outros, deram origem a inmeros recursos de Tecnologia Assistiva,
como relgios, termmetros de medio do clima e da temperatura corporal, balanas,
calculadoras, medidores de presso, etc., otimizando desta forma um melhor desempenho das
pessoas cegas em suas atividades cotidianas, proporcionando ao indivduo a autosuficincia
ao alimentar-se, vestir-se, executar as tarefas rotineiras do lar e conviver adequadamente em
sua comunidade.
A popularizao do uso e consumo de recursos de informtica por deficientes visuais
simboliza a revoluo na vida desse segmento pelos recursos e servios de TA. Impressoras
Braille, scanners, conversores de textos em formatos de udio, so algumas das ferramentas
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que tm garantido a este segmento acesso a informao, alm de ampliar as oportunidades de
trabalho.
Os softwares de acessibilidade aos ambientes digitais para deficientes visuais utilizam
basicamente ampliadores de tela para aqueles que possuem perda parcial da viso e recursos
de udio, teclado e impressora em Braille para os cegos. Dentre os sistemas para pessoas com
deficincia visual , os mais utilizados atualmente em nosso pas so o Dosvox, o Virtual Vision
e o Jaws. Segundo Borges (1996), criador do sistema Dosvox, o microcomputador amplia at
um limite inimaginvel as oportunidades do cego.
A articulao entre a tecnologia e educao implica em reconhecer que a tecnologia
em si, no educativa, porm as aes dos sujeitos em conjunto com a utilizao de meios
tecnolgicos permitem que esses indivduos possam fazer parte de determinada prtica
educativa.
2.4 ACESSIBILIDADE E A TECNOLOGIA ASSISTIVA
Conforme Torres (2002, p.83), a acessibilidade um processo dinmico, associado
no s ao desenvolvimento tecnolgico, mas principalmente ao desenvolvimento da
sociedade, que apresenta-se em estgios diferentes, mudando de uma sociedade para
a outra, de acordo com a poca e com a ateno dispensada a diversidade humana
por essa sociedade.
J a Lei n 10.098, de 2000, captulo 1, artigo 2 define Acessibilidade como
possibilidade e condio de alcance para utilizao, com segurana e autonomia, dos espaos,
mobilirios e equipamentos urbanos, das edificaes, dos transportes e dos sistemas e meios
de comunicao, por pessoa portadora de deficincia ou com mobilidade reduzida.
Assim, conforme a conceituao de Torres (2002) e da Lei n 10.098, o termo
Acessibilidade inclui tanto aspectos do espao fsico, o meio fsico que nos envolve, quanto
do espao digital, objetivando transformaes ambientais e posturais da sociedade,
possibilitando desta forma uma possvel igualdade de oportunidades para todos.
H vrios tipos de acessibilidade, como: a arquitetnica, que so os componentes
fsicos existentes; a comunicacional, que significa a comunicao interpessoal, escrita ou
virtual; a metodolgica, que so os mtodos de estudo e trabalho; e, a instrumental, que so as
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ferramentas de estudo, trabalho e lazer (SASSAKI, 2009).
Segundo as Recomendaes de Acessibilidade para a Construo e Adaptao de
Contedos do Governo Brasileiro na internet, desenvolvido pelo Departamento de Governo
Eletrnico (E-MAG, 2005), h quatro reas de Acessibilidade compreendidas na viso do
cidado que a viso das necessidades de acessibilidade com foco no cidado e no no
desenvolvedor as quais so:
a) rea da Percepo: trata de benefcios relacionados a apresentao do contedo,
da informao. Ela preocupa-se com a percepo de elementos como grficos,
sons, imagens, multimdia e equivalentes.
b) rea da Operao: de acordo com o Departamento de Governo Eletrnico, esta,
preocupa-se em garantir formas alternativas ao acesso as informaes atravs de
maneiras diferenciadas de navegao ou tcnica similar.
c) rea do Entendimento: trata de questes relacionadas a compreenso do
contedo publicado. Ela deve garantir que todo o contedo apresentado seja de
fcil compreenso para qualquer tipo de usurio.
d) rea da Compatibilidade: aborda questes relacionadas a necessidade de
usarmos tecnologias compatveis e acessveis.
Verifica-se que estas reas possuem o objetivo exclusivamente voltado ao cidado,
observando sua valorizao e percepo. A tecnologia contribui, sobremaneira, para as
pessoas com deficincia, seja para a realizao de aes ou tarefas e aprendizagem.
Algumas tecnologias existentes beneficiam os portadores de deficincias visual que
necessitam de auxlio para usufruir de alguns recursos que a sociedade oferece. Faz
parte do apoio as pessoas cegas, por exemplo, o sistema Braille para leitura e escrita;
o Sorob, para ajuda na execuo de clculos matemticos; a bengala ou o co-guia
para sua locomoo e mobilidade. Temos tambm software especficos para que
pessoas com deficincia visual tenham acesso a computadores, por exemplo.
Tambm foram desenvolvidas vrias outras tecnologias para dar autonomia aos
cegos, como elevadores, telefones, relgios e outros, com comandos de voz.
(GABRILLI, 2007, p. 27).
Segundo AFB, American Foundation for the Blind, cegos e pessoas com deficincia
visual trabalham em praticamente todos os setores da nossa economia, mas encaixam-se no
trabalho intelectual, geralmente atrs de computadores, o que aumenta a importncia destes a
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serem acessveis aos seus usurios e, como descrito acima, se julgado sob mbito jurdico, um
direito civil (AFB, 2012). Todas as pessoas que acessam um computador devem ser capazes
de executar a leitura das informaes apresentadas na tela, ou em qualquer outro dispositivo
de sada, e ainda serem capazes de enviar comandos ao computador, geralmente atravs de um
teclado ou dispositivo de apontamento, como o mouse. Porm, os deficientes visuais no so
capazes de ver a localizao dos dispositivos de apontamento, por isso os computadores e
seus aplicativos devem dispor de artefatos cmodos que saciem este problema. importante
frisar que o problema no est na entrada dos dados, e sim fazer com que o deficiente
identifique as sadas.
Os indivduos que so visualmente debilitados e que no podem ser acomodados com
fontes e cores disponveis, muitas vezes usam programas de ampliao de tela para ampliar
textos e imagens. Js as pessoas completamente cegas acessam o computador usando um
leitor de tela com sintetizador de voz e/ou um display Braille. As verses atuais dos softwares
leitores de tela guardam as informaes em uma regio de memria conhecida como modelo
off-screen (OSM). Um modelo de off-screen essencialmente um banco de dados que
armazena o contedo da tela, incluindo texto, grficos e controles. A leitura de tela ou
programa Braille em seguida, acessa as informaes da OSM e torna-o em discurso
(sintetizador de voz) ou Braille (display Braille). Microsoft Active Accessibility (MSAA),
um conjunto de normas que os desenvolvedores devem seguir para criao de design
acessveis, expondo os componentes grficos de forma que todos os seus objetos possam ser
visualizados por tcnicas alternativas de acesso, como sintetizamento de voz. Alguns dos
aplicativos que j empregam estas normas so Microsoft Word, Excel e Internet Explorer.
Leitores de tela (screen readers) modernos no simplesmente "lem" a tela. Ao
contrrio, eles dependem de uma anlise da tela para ler certas partes quando a tela
apresentada pela primeira vez. O usurio recebe um rgido controle sobre a leitura das
unidades descritas na tela, como uma barra de ttulo da janela, menu ou linha de status. O
utilizador tambm pode silenciar discursos quando a informao desejada foi obtida. J
programas de ampliao de tela tambm podem dar aos usurios uma quantidade considervel
de controle sobre como eles vem informaes apresentadas na tela. Por exemplo, usando
uma combinao de comandos manuais e automatizados, o ampliador de tela pode ser
configurado para acompanhar a atividade da tela, zoom em locais de tela especficos, e
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32
percorrer o texto. Tal como acontece com outras aplicaes de tecnologia assistiva, o
desempenho de um ampliador de tela pode ser melhorada se os aplicativos de software que
eles so esperados para trabalhar, so projetados com acessibilidade em mente.
importante considerar as necessidades das pessoas com deficincia durante a fase
inicial de desenvolvimento de produto. Adicionando recursos de acessibilidade mais tarde no
processo de desenvolvimento demorado e caro. Dessa forma, descobre-se posteriormente
que recursos includos para melhorar a acessibilidade de um produto so geralmente
consistentes com boas prticas de projeto que iro beneficiar todos os usurios. Seguem
exemplos de estratgias de design acessveis de particular importncia para os usurios com
deficincia visual, mas que muitas vezes beneficiam tambm outros usurios (BRUDER e
JAWOREK, 2008). importante que essas diretrizes de desenvolvimento sejam consultadas
no incio do processo de desenvolvimento de software.
a) Usar consistentes padres de interface. Criar uma interface que seja
consistente em todo o programa e consistente com outros aplicativos para os
indivduos poderem aprender a navegar no programa rapidamente com as habilidades
que eles desenvolveram com outros aplicativos. Usas controles fornecidos pelos
sistemas operacionais, incluindo menus, barras de ferramentas, cursores e caixas de
dilogo sempre que possvel. Muitos leitores de tela e software de tecnologia assistiva,
foram projetados para reconhecer estes componentes por padro. Por exemplo, se
componentes personalizados, diferentes do padro, so usados, um leitor de tela pode
no ser capaz de tornar esse objeto no discurso, tornando esse elemento, e,
possivelmente, toda a aplicao, inutilizvel.
b) Criar uma interface de usurio flexvel. Permitir aos usurios personalizar a
interface para atender suas necessidades. Passe para o sistema operacional
configuraes que tero impacto de acessibilidade, como cor, contraste e
configuraes de tamanho de fonte; estilos de cursor e os sons do sistema. Todos os
usurios de computador se beneficiaro de ter a capacidade de personalizar as
configuraes de exibio.
c) Permitir a navegao completa pelo teclado. Permitir o acesso a todas as
caractersticas do programa atravs do teclado. Todos os aspectos do programa,
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incluindo a instalao, devem ser operados sem um dispositivo apontador. Grande
parte dos softwares assistivos operam desta maneira.
d) Rotular todos os grficos e cones. Fornecer etiquetas de texto para todos os
elementos icnicos para que possam ser prestados por leitores de tela e monitores
Braille. Os utilizadores que so deficientes visuais podem ser capazes de decifrar um
texto da etiqueta mais fcil do que se pode reconhecer um cone.
e) No confiar somente na cor para transmitir informaes. Fornecer meios
redundantes de transmitir informaes. Este tipo de distino pode ser invisvel para as
pessoas que so daltnicos, que so deficientes visuais, ou que utilizem a tecnologia
de acesso de fala ou Braille.
f) No coloque limites de tempo para atividades de entrada ou mensagens.
Usurios de tecnologia assistiva, novos usurios de computador, pessoas com
dificuldades de aprendizagem, podem levar alguns segundos ou minutos para localizar
e interpretar as coisas como um controle dentro de uma caixa de dilogo, uma
mensagem de alerta, ou uma dica de ferramenta.
g) Apoio acessibilidade na instalao e configurao. A aplicao deve aderir
aos princpios acima referidos na sua instalao, configurao, e todas as rotinas ao
nvel de comando de modo que pode ser instalado e configurado por um usurio
usando a tecnologia assistiva.
2.5 RECONHECIMENTO DE VOZ
Uma das tcnicas usadas na atual proposta o reconhecimento de voz.
Reconhecedores de voz permitem a substituio do teclado de um computador, para a
introduo de dados, por comandos de voz, processo de grande utilidade para os deficientes
visuais. Estes podem ser ajustados para reconhecerem uma grande variedade de comandos de
um usurio em particular, mas so menos eficientes em receber comandos de mais de um
usurio. Quando so ajustados para reconhecer mltiplos usurios, o nmero de comandos
que passam a "entender" com segurana menor do que aqueles disponveis quando estavam
ajustados para o reconhecimento de comandos de um usurio especfico. Para que haja o
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reconhecimento do som da voz junto a fontica da palavra pronunciada e ocorra a aplicao
desejada, o computador precisa seguir uma sequncia de passos. Inicialmente deve digitalizar
a fala a ser reconhecida e aps fazer uso de um conversor analgico-digital que capta as ondas
criadas pela voz e as converte em dados digitais. Em seqncia utilizado uma medida para
cada uma das vibraes obtidas e o som digitalizado filtrado para separar rudos e
interferncias, para ento computar as caractersticas que representam o domnio espectral
(frequncias) contido na voz.
Pode haver nessa fase do processo, a necessidade de sincronizar o som, uma vez que
as pessoas no falam sempre na mesma velocidade nem no mesmo tom, o que consiste em
um ajuste com modelos de som j arquivados na memria do classificador. Assim essa
digitalizao fracionada em sons fonticos no maiores que uma silaba, para apos o
programa efetuar a comparao dos sons obtidos com fonemas conhecidos e existentes no seu
banco de dados e que correspondam ao idioma que tenha sido utilizado. ou seja, aplicado
uma forma de busca que associa as sadas com padres de palavras e voz.
Por fim, o resultado analisado e comparado com palavras e frases conhecidas para
identificar o que foi dito pelo usurio e converter para a funcionalidade desejada (texto em
uma planilha, um comando, o reconhecimento do usurio, etc.). Para esse tipo de sistema, h
dois tipos de classificadores, os que tem um vocabulrio com grande volume de palavras e
frases e os que tem um vocabulrio bem limitado em um banco de dados.
Os sistemas com um vocabulrio mais amplo so indicados para um nmero menor de
usurios, pois o calculador programado para ser mais especfico, sendo assim indicado
para quando uma s pessoa ou um pequeno grupo utilizar. Esse programa necessita ser
trabalhado para adaptar-se voz de cada usurio e a preciso de seu reconhecimento maior
do que o programa que possue vocabulrio restrito. Como exemplo de aplicao temos os
sistemas que convertem a fala em texto. J os programas que tem em seu banco de dados um
nmero de palavras restrito, so aqueles aplicados para utilizao por um nmero amplo de
usurios. Esse calculador programado para ser mais generalizado e mesmo havendo
diversidade nos tons de voz e sotaques diferentes, h uma grande capacidade de
reconhecimento. Atendimentos eletrnicos podem ser citados como exemplo.
Os sistemas de reconhecimento de voz possuem algumas complicaes, normalmente
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ligadas a fala continua, pois ao contrario do crebro humano , que tem facilidade em juntar as
palavras ao ouvir uma frase, o computador necessita que a frase seja dita com cada palavra
pronunciada pausada e separadamente. Outra dificuldade a questo da pronuncia. Por
exemplo, se em vez de dizer corretamente "estou indo para casa" for dito, como se fala
usualmente " to indo pra casa", isso pode causar erro, pois para um classificador representa
uma enorme diferena, podendo gerar um entendimento de uma frase diferente daquela
pronunciada. A interpretao da fala pelo sistema tambm pode ser afetada em decorrncia do
sotaque e da utilizao de dialetos e expresses regionalistas.
Esse sistema tambm pode apresentar problemas em separar falas simultneas de
diversos usurios. Se utilizado em uma assemblia, por exemplo, pode haver dificuldade na
identificao de palavras que acabaram sobrepostas porque duas pessoas falaram ao mesmo
tempo. Esse fato pode ocorrer em virtude do sistema necessitar que as palavras sejam
pronunciadas de maneira correta para que possa distingui-las. Excesso de rudos e muitas
falas simultneas dificultam o reconhecimento e atrapalham seu funcionamento. Palavras
homnimas tambm representam uma dificuldade para o sistema, pois no possvel
diferencia-las somente pelo som, como por exemplo -cozer=cozinha/ coser= costurar, ou
acender= por fogo/ascender= subir, o que pode ser resolvido programando o sistema para que
considere o contexto da palavra.
O classificador precisa fazer o tratamento das frases dividindo-as em palavras e para
que isso ocorra tem que haver o reconhecimento do momento que cada palavra inicia e
termina. S a partir disso criada a cadeia de sons com o enfileiramento dos fonemas,
formao das palavras e construo das frases.
2.5.1 Speech Recognition Grammar Specification
O Speech Recognition Grammar Specification (SRGS) um padro W3C de como
gramticas de reconhecimento de voz so especificados. Uma gramtica de reconhecimento
de fala um conjunto de padres de texto, composto de um sistema de reconhecimento de fala
especificamente projetado para interpretar udio vindo de seres humanos.
SRGS especifica duas sintaxes alternativas, mas equivalente, um baseado em XML, e
um formato utilizando Augmented BNF. Na prtica, a sintaxe XML usado com mais
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freqncia. Tanto a forma ABNF e forma XML tem o poder de expresso de uma gramtica
livre de contexto. Um processador de gramtica que no suporta gramticas recursivas tem o
poder de expresso de uma Mquina de Estados Finitos ou linguagem de expresso regular.
Se o reconhecedor de voz retornou apenas uma string contendo as prprias palavras
faladas pelo usurio, o aplicativo de voz teria que fazer o trabalho tedioso de extrair o
significado semntico a partir dessas palavras. Por esta razo, gramticas SRGS podem ser
decoradas com elementos de tag, que quando executados, construem o resultado semntico.
SRGS no especifica o contedo dos elementos xml: isso feito em uma interpretao W3C
parecida, a Semntica Padro para Reconhecimento de Fala (SISR). SISR baseada em
ECMAScript, e declaraes ECMAScript dentro das tags SRGS constroem um objeto de
resultado ECMAScript.
2.6 TECNOLOGIAS DISPONVEIS
Dentre os sistemas para deficientes visuais, os mais utilizados atualmente em nosso
pas so LentePro e Magic, para aqueles que possuem baixa viso e, Dosvox, Virtual Vision e
Jaws, para os sujeitos com perda total de viso. (SONZA e SANTAROSA, 2005, p. 2).
Tal como mencionamos no captulo anterior, uma tecnologia brasileira, criada pelo
Ncleo de Computao Eletrnica da UFRJ, o Dosvox. O programa se comunica com o
usurio atravs de sntese de voz e destinado a auxiliar os deficientes visuais a usar o
computador, executando tarefas como edio de textos (com impresso comum ou Braille),
leitura/audio de textos anteriormente transcritos, utilizao de ferramentas de produtividade
faladas (calculadora, agenda, etc), alm de diversos jogos. O sistema fala atravs de um
sintetizador de som de baixo custo. (BORGES, 2010).
O sistema operacional Dosvox o nico software gratuito e, de acordo com os autores
Oliveira (2010), Lira (2004) e Sonza (2004), composto pelo Agenvox (agenda de
compromissos), Biblivox (cadastro e consulta bibliogrfica vocal), Braivox (conversor de
texto para o braile), Calcuvox (calculadora vocal), Cartavox (correio eletrnico), Cartex
(preparador de cartas padronizadas), Edivox (editor de textos), Midiavox (reprodutor de
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CDs), Planivox (planilha eletrnica), Webvox (browser, para acesso a Internet), etc.
Outro sintetizador de voz bastante difundido o Virtual Vision, o qual, alm de
permitir a leitura, possibilita o trabalho e utilizao de todos os recursos do Windows e seus
aplicativos, inclusive a internet. O software promove a leitura para o deficiente visual de todos
os campos, menus e links que esto na tela do computador, atravs do sintetizador de voz
(FIGUEIREDO, 2001).
Mais um leitor de telas o Jaws, desenvolvido pela empresa norte-americana
HenterJoyce, pertencente ao grupo Freedom Scientific. Segundo Rezende (2005), este
software l todo o contedo que se encontra na tela do computador, e encaminha em forma de
udio para o equipamento sonoro presente no computador.
O uso dessas e outras tecnologias adaptativas possibilita a realizao de estudos,
pesquisas e outras atividades ligadas educao e profissionalizao de pessoas portadoras de
deficincia, e sua utilizao contribui para diminuir as desigualdades e excluses existentes.
2.7 O BRAILLE
Em diversos momentos citamos o Braille como mtodo de leitura. Nesta seo vamos
aprofundar seu estudo.
O sistema Braille foi criado oficialmente no ano de 1825, pelo jovem francs cego
Louis Braille, nascido no dia 4 de Janeiro de 1809, na cidade de Coupvray, povoado
situado ao leste de Paris. Louis Braille era filho de Louis Simon-Ren que era
seleiro e fabricante de arqueiros do povoado. (BIRCH, 1990, p. 11).
Somente em 1829, Louis Braille publicou o primeiro manual detalhando o seu prprio
sistema de leitura, conhecido mundialmente como Mtodo Braille. Em 1852, Louis Braille
morre deixando um importantssimo legado.
Birch (1990, p.58) ressalta que enquanto houver cegos usando o Braille para
participar da herana intelectual do mundo e viver ao lado das pessoas de viso
normal, em condies de igualdade, cultas e independentes como Louis Braille
sonhou, seu nome ser lembrado.
O alfabeto Braille um sistema que combina seis pontos. De acordo com sua
disposio no papel, eles representam determinado smbolo ou letra. Os pontos ficam em alto
relevo, o que possibilita, atravs do tato, ler o que est escrito. Os pontos so dispostos num
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retngulo, conhecido por cela Braille.
Grifin e Gerber (1999, p. 5) descrevem o Braille como [...] um sistema de pontos
perceptveis pelo tato, que representam os elementos da linguagem.
Franco e Dias complementam tal definio ao explicar que o Braille [...] se constitui
de uma combinao formada por seis pontos, dispostos em duas filas de trs pontos
cada uma e que pode resultar, de acordo com o nmero de cada ponto e sua posio,
um total de sessenta e trs smbolos incluindo o alfabeto, smbolos matemticos,
qumicos, notas musicais (FRANCO; DIAS apud OMENA, 2008, p. 130).
De acordo com Gil (2000, p. 43), o sistema Braille inscrito em relevo explorado por
meio do tato. Consta da combinao de seis pontos em relevo disposto em duas colunas de
trs pontos. O espao ocupado por esses seis pontos denominado de cela Braille.
(LEMOS; et al, 1999).
Os pontos de cela so numerados da seguinte forma: coluna da esquerda pontos 1, 2 e
3 - de cima para baixo; e da direita para esquerda pontos 4, 5 e 6, tambm de cima para baixo,
como ilustra o Quadro 1:
Quadro 1. Cela Braille numerada e ampliada.
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Os nmeros dos pontos dos sinais Braille escrevem-se consecutivamente,com o sinal
de nmero apenas antes do primeiro ponto de cada cela. Dois ou mais sinais Braille
consecutivos so identificados por numerais, precedidos, cada um, pelo respectivo sinal de
nmero, sem espaos. Uma cela vazia identificada pelo numeral 0. A escrita Braille se faz
ponto a ponto no reglete ou letra a letra na mquina Braille ou no computador.
2.8 LEITURA E ESCRITA EM BRAILLE
A leitura Braille se processa atravs da percepo ttil. Nesse sentido, Oliveira (2003,
p. 70), afirma: No tenho pois a menor dvida de que a leitura continuada do Braille o
melhor processo para o desenvolvimento do tacto, indispensvel especialmente a quem no
goza do privilgio do sentido da viso. Lemos; et al (1999, p. 14) informam que os pontos
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em relevo permitem a compreenso instantnea das letras como um todo, uma funo
indispensvel ao processo da leitura, e explicam que com muita prtica possvel ler em
mdia cento e quatro palavras por minuto.
Ler primordial para o desenvolvimento, social, afetivo e educacional do indivduo.
Segundo Gadotti apud Vargas (2000, p. 14) numa sociedade de privilegiados, a leitura e a
escrita so um privilgio. No ler traz prejuzos que vo desde o desenvolvimento pessoal e
profissional, at a ampliao das desigualdades sociais. (WERTHEIN, 2005, p. 1).
Quando se fala em portadores de deficincia visual, ganha um sentido especial a
incluso, pois a leitura lhe proporciona atravs do ouvir ou do contato ttil, informaes que
chegam a sua mente sem passar pelos seus olhos. O indivduo que no tem acesso a leitura
uma pessoa que realmente no consegue enxergar, independente da sua condio visual.
A leitura oferece ao deficiente visual experincias que no poderiam ser vivenciadas
sem ela. A leitura um dos meios que o indivduo tem para se comunicar com o mundo, para
ter contato com novas idias, pontos de vista e experincias que talvez, na sua vida prtica
jamais lhe proporcionasse. (WERTHEIN, 2005, p. 1).
O Braille um importante recurso de leitura e meio de incluso do deficiente visual.
O Braille a nica tcnica de leitura que atende todo publico de deficientes visuais, pois
pode ser utilizado tambm por surdocegos, permitindo, principalmente a autonomia para a
leitura, pois independe de qualquer outro indivduo, alm do leitor.
Oliveira e Cerqueira (2005), afirmam que a produo de contedos em Braille no
Brasil, teve incio no sculo XIX, no Instituto dos meninos cegos (atual Instituto Benjamin
Constant) e que no sculo seguinte, a Fundao para o livro do cego no Brasil (atual Fundao
Dorina Nowil para Cegos) iniciou a confeco de materiais em Braille. Relatam ainda a
problemtica enfrentada para a produo de materiais transcritos nesse sistema, pois a
escrita Braille ocupa um espao grande (cada pgina da escrita comum corresponde a
aproximadamente trs pginas em Braille), alm do fato da sua impresso ser mais onerosa,
pela necessidade de ser feita em papel de gramatura mais elevada, e de exigir profissionais
especializados, o que inviabiliza que todas as obras produzidas pelo mercado editorial sejam
produzidas em Braille.
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Lemos; et al. (1999, p. 12) afirmam que o usurio do sistema Braille tem a
possibilidade de se comunicar com outros leitores de Braille. Dessa forma, esse
sistema abre-lhe os caminhos do conhecimento literrio, cientfico e musical,
permitindo-lhe, ainda, a possibilidade de manter uma correspondncia pessoal e a
ampliao de suas atividades profissionais.
A leitura descrita por Martins (1984, p. 31) como um processo de compreenso
abrangente, cuja dinmica envolve componentes sensoriais, emocionais, intelectuais,
fisiolgicos, neurolgicos, bem como culturais, econmicos e polticos.
Ler, tornou-se, desde h muito, eminentemente individual (OLIVA, 2000, p. 1).
Sabemos que a pessoa com deficincia visual, depende em muitos momentos dos olhos de
outra pessoa, para a realizao de muitas atividades, e que buscam depender o menos
possvel, buscando a autonomia, para realizao de suas atividades.
Mesmo diante de um computador, as pessoas que enxergam continuam a ter um
contato direto com a linguagem escrita, enquanto as pessoas cegas apenas ouvem
(OLIVEIRA; CERQUEIRA, 2005, p. 2). J est reconhecido que a escrita , sem dvida, to
importante para os cegos como para as pessoas que vem (CRANMER apud FERREIRA; et
al, 2003).
O Braille utilizado por extenso ou de forma abreviada, adotando-se cdigos especiais
de abreviaturas para cada lngua ou grupo lingstico. aplicado a estenografia, a msica e as
notaes cientficas em geral, atravs do uso das sessenta e trs combinaes. Tambm tem