ProPosta de reforma fiscal Manual para ajudar os pobres ricos · Os mais de 4.000 presos e presas...

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nÚmero 136 15 de abril a 15 de maio de 2014 2 € periódico galego de informaçom crítica mar de lumes 15 O internacionalismo é um caminho de ida e volta: solidarizar-se aqui com os povos oprimidos do mundo e espalhar fora o conflito próprio. Óscar Valadares explica o trabalho realizado no primeiro ano do coletivo Mar de Lumes. livros que saltam a raia 22 Num tempo difícil para o livro, Através Editora decide subir a aposta e imprimir mais títulos do que nunca. E isso que unificar o público galego-português e distribuír obras galegas ao sul do Minho nom é tam singelo como parece. N ovas da G ali a "A autovia A-76 vai provocar umha terrível fenda na entrada desde Ourense à Ribeira Sacra" valentÍn BarreirOs da plataforma contra a-76 pol a ribei ra sacra pág. 6 oPiniom as inimigas dO pOvO por alberto vizoso / 3 BuscO amante galegO-falante por mónica g. devesa / 3 tãO galegO era garcia... ernesto v. souza / 28 suPlemento central a revista revOlta cOmpOstelana de 1117 O acontecimento é analisado de umha perspetiva de classe. As tentativas da burguesia estender-se-iam a séculos posteriores. presença judia na galiza No artigo é realizado um breve percurso sobre o papel da cole- tividade hebreia na Idade antiga e no medioevo galego . Os mais de 4.000 presos e presas da guerrilha naxalita mostram a magnitude do conflito político presente na Índia / PÁG. 12-13 Manual para ajudar os pobres ricos ProPosta de reforma fiscal O passado mês de março publi- cava-se o relatório da Comissom de Expertos para a reforma do sistema tributário espanhol. Este informe dos “sábios” constitui umha simples traduçom para mau castelhano castiço das me- didas que a troika e demais pro- curadores da Internacional Ren- dista levam recitando a modo de Credo desde tempos imemoriais. E, entre outras cousas, o Credo neoliberal di que há que subir o IVA mas baixar o imposto de so- ciedades. Cumpre nom distorcer o mercado. / PÁG. 11 Contratos ‘em negro’ na Administraçom conflito do Professorado celGa O escándalo de exploraçom la- boral do professorado do Celga tem contra as cordas o máximo responsável da Secretaria Geral de Política Linguística, Valentín García. Mas o conflito que leva quase um ano nos titulares ape- nas é a ponta do icebergue. Da- vid Cobas, da assembleia do pro- fessorado da SGPL, explica que os Celga nom som o único cole- tivo que sofre a exploraçom la- boral de Política Linguística e analisa por que umha situaçom que leva perpetuando-se 30 anos estoura justo agora. / PÁG. 18 emPreGo doméstico e economia de cuidados No coraçom do ‘Corredor Vermelho’ quando o Pib nom conta com o trabalho das mulheres A ninguém importou que os duques de Palma contra- tassem de forma irregular trabalhadoras domésticas. Nom há organizaçons sindicais que convoquem ma- nifestaçons contra o emprego doméstico interno, que exige disponibilidade de 24 horas diárias. Tampouco se visibiliza a exploraçom, precarizaçom e estratifi- caçom social que desenvolve este trabalho por meio do sexo, da classe e da etnia. De interessar, e exigir que se inclua nos medidores estándar da economia, as 27.367 empregadas domésticas, e aquelas mergul- hadas na economia subterránea, representariam 50,6 por cento do Produto Interior da Galiza. / PÁG. 16-17 XOSÉ QUIROGA

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nÚmero 136 15 de abril a 15 de maio de 2014 2 €

p e r i ó d i c o g a l e g o d e i n f o r m a ç o m c r í t i c a

mar de lumes 15O internacionalismo é um caminhode ida e volta: solidarizar-se aquicom os povos oprimidos do mundoe espalhar fora o conflito próprio.Óscar Valadares explica o trabalhorealizado no primeiro ano docoletivo Mar de Lumes.

livros que saltam a raia 22Num tempo difícil para o livro, AtravésEditora decide subir a aposta e imprimirmais títulos do que nunca. E isso queunificar o público galego-português edistribuír obras galegas ao sul do Minhonom é tam singelo como parece.

Novas da Gali a

"A autovia A-76

vai provocar

umha terrível

fenda na entrada

desde Ourense à

Ribeira Sacra"

valentÍn BarreirOsda plataforma contra a-76 pola ribeira sacrapág. 6

oPiniom

as inimigas dO pOvO por alberto vizoso / 3

BuscO amante galegO-falante por mónicag. devesa / 3

tãO galegO era garcia... ernesto v. souza / 28

suPlemento central a revista

revOlta cOmpOstelana de 1117O acontecimento é analisado de umha perspetiva de classe. Astentativas da burguesia estender-se-iam a séculos posteriores.

presença judia na galizaNo artigo é realizado um breve percurso sobre o papel da cole-tividade hebreia na Idade antiga e no medioevo galego .

Os mais de 4.000 presos e presas da guerrilha naxalita mostrama magnitude do conflito político presente na Índia / PÁG. 12-13

Manual para ajudar os pobres ricos

ProPosta de reforma fiscal

O passado mês de março publi-cava-se o relatório da Comissomde Expertos para a reforma dosistema tributário espanhol. Esteinforme dos “sábios” constituiumha simples traduçom paramau castelhano castiço das me-didas que a troika e demais pro-

curadores da Internacional Ren-dista levam recitando a modo deCredo desde tempos imemoriais.E, entre outras cousas, o Credoneoliberal di que há que subir oIVA mas baixar o imposto de so-ciedades. Cumpre nom distorcero mercado. / PÁG. 11

Contratos ‘em negro’na Administraçom

conflito do Professorado celGa

O escándalo de exploraçom la-boral do professorado do Celgatem contra as cordas o máximoresponsável da Secretaria Geralde Política Linguística, ValentínGarcía. Mas o conflito que levaquase um ano nos titulares ape-nas é a ponta do icebergue. Da-

vid Cobas, da assembleia do pro-fessorado da SGPL, explica queos Celga nom som o único cole-tivo que sofre a exploraçom la-boral de Política Linguística eanalisa por que umha situaçomque leva perpetuando-se 30 anosestoura justo agora. / PÁG. 18

emPreGo doméstico e economia de cuidados

No coraçom do ‘Corredor Vermelho’

quando o Pib nom conta com o trabalho das mulheres

A ninguém importou que os duques de Palma contra-tassem de forma irregular trabalhadoras domésticas.Nom há organizaçons sindicais que convoquem ma-nifestaçons contra o emprego doméstico interno, queexige disponibilidade de 24 horas diárias. Tampoucose visibiliza a exploraçom, precarizaçom e estratifi-

caçom social que desenvolve este trabalho por meiodo sexo, da classe e da etnia. De interessar, e exigirque se inclua nos medidores estándar da economia,as 27.367 empregadas domésticas, e aquelas mergul-hadas na economia subterránea, representariam 50,6por cento do Produto Interior da Galiza. / PÁG. 16-17

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02 oPiniom Novas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2014

Se tés algumha crítica a fazer, algum facto a denunciar, ou desejas transmitir-nos algumha in-quietaçom ou mesmo algumha opiniom sobre qualquer artigo aparecido no NGZ, este é o teulugar. As cartas enviadas deverám ser originais e nom poderám exceder as 30 linhas digitadasa computador. É imprescindível que os textos estejam assinados. Em caso contrário, NOVAS DA

GALIZA reserva-se o direito de publicar estas colaboraçons, como também de resumi-las ou ex-tratá-las quando se considerar oportuno. Também poderám ser descartadas aquelas cartasque ostentarem algum género de desrespeito pessoal ou promoverem condutas antisociaisintoleráveis. Endereço: [email protected]

o Pelourinho do novas

o cPiG ante o 17 de abril

Do Colectivo de Presos Indepen-dentistas Galegos aproveitamos aproximidade do 17 de abril, jor-nada de apoio à luita dos pres@spolític@s, para trasladar váriasreflexons de interesse para o mo-vimento independentista, e parti-cularmente para o espaço solidá-rio galego no caminho conjuntoque estamos a fazer cara o respei-to dos direitos que nos correspon-de até a liberdade dos militantesgalegos encarcerados.

Nas  cadeias espanholas leva-mos anos enfrentando umha polí-tica penitenciária; muitas vezesdenunciada e conhecida polo mo-vimento popular galego, carateri-zada pola dispersom, o regimeFIES, restriçons e a soidade polí-tica imposta que busca romper osvínculos entre nós e com o nossomovimento político.

O Estado espanhol mantém atentativa permanente e ampla-mente fracassada de destruiçompessoal, pretendendo a renúncia ánossa identidade e ao projeto com-

batente ao que pertencemos. Achantagem, a pressom individua-lizada e o acosso também fam par-te dessa estratégia de guerra car-cerária contra alguns militantes.O Estado pretende a claudicaçompolítica em troca dalgumhas mi-galhas como seriam certas melho-ras dentro ou o possível achega-mento a umha prisom na Galiza.

Espanha segue atopando a fir-me vontade militante dos comba-tentes galegos, em resposta àssuas chantagens e medidas re-pressivas; desde o nosso Coletivoreafirmamo-nos na oposiçom aqualquer umha maniobra de divi-som e renúncia política, com oconvencimento de que só a luitaconsequente e a irmandade mili-tante nos permitirá voltar às ruas,com dignidade e respeito coletivo.

O CPIG rechaça as saídas indivi-dualistas para os presos indepen-dentistas. As opçons pessoais uni-laterais suponhem umha desleal-dade à dinámica coletiva, fortale-cendo a mesma política peniten-ciaria que seguimos sofrendo nascadeias espanholas. Deixamosbem clara a nossa oposiçom a

qualquer umha “vía Nanclares”galega, exigindo o traslado a umhaprisom em território galego e oagrupamento  do nosso Coletivo,sem condiçons, nem contra-parti-da política algumha, tal e como rei-vindicamos nas protestas mensais.

Os combatentes presos, orga-nizados no CPIG, reclamamos aoconjunto do independentismo, àsorganizaçons solidárias e demo-

cráticas a continuidade no traba-lho de denúncia, apoio e respaldoàs nossas reivindicaçons, acom-panhando o CPIG na nossa luita,longa e difícil, mais que sem dú-vida, entre tod@s, venceremos!

A luita é o único caminho!Independência!

Coletivo de Presos Indepen-dentistas Galegos (CPIG)

abandono dos restos arqueolóGicos de coeses

ADEGA e Cultura do País vimos decomunicar-lhe ao Serviço de Patri-mónio da Junta da Galiza que nosítio arqueológico do círculo líticodo castro de Coeses estám apare-cendo restos arqueológicos, con-cretamente fragmentos significati-vos e com interesse arqueológicode olas cerámicas, semelhantes àsatopadas na necrópole de incinera-çom do interior do círculo lítico.   

Desde estas associaçons consi-deramos muito grave que, apósdumha supostamente exemplarintervençom super-visada por ar-queólogas de Património, come-cem a agromar restos cerámicosespalhados polo castro. Cumprelembrar que por esta intervençomo Ministério de Fomento pagou anada desprezável quantidade de1,07 milhons de euros. Solicitamosa Património a recolhida urgentedestes restos para evitar o seu es-polio e/ou a sua desapariçom.

ADEGA, Cultura do País

Um regime cada vez mais àintempérie frente as tem-pestades que véu semen-

tando desde há décadas. Assimpodem ler-se as imagens, com asque os informativos procuráromatordoar-nos após o passado 22-M, dum grupo de polícias de cho-que sem saber como nem onde seproteger dumha verdadeira chu-va de pedras no centro de Ma-drid. A convocatória participadapor sectores da esquerda de di-versas partes do território estatalespanhol baixo o nome 'Marchasda Dignidade', acumula pontospara ser vista como um fito no ca-minho de descomposiçom do

'consenso' falso e opressivo do 78.Com certeza nom foi nem vai

ser a vez primeira ou a derradeiraem que a violência policial atopeumha resposta defensiva forte porparte de quem protesta. Mas hácousas que semelham levar tempoa crebar, e as fendas atopam-semais à vista em momentos comoesse. Assim acontece, por exem-plo, com a legitimidade duns cor-pos repressivos caraterizados po-la sua tendência ao golpe fácil.

O projeto estatal espanhol ti-nha conseguido durante a cha-mada 'transiçom' apagar do ima-ginário social maioritário todoregisto dos abusos e crimes co-

metidos polos corpos policiaisainda ativos durante a regênciade Franco. Um par de cámbiosde uniforme e ninguém vai lem-brar já quem som os indivíduosque caminham armados polasnossas ruas. Se alguém perguntapolo torturador que chamam 'Bi-lly el niño', papá estado constitu-cional fai-se de bobo, nega a ex-tradiçom e considera que os cri-mes estám prescritos, som águapassada. Assim tem que ser por-que assim foi patuado polos dis-tintos agentes do 'projeto Espa-nha', ao desenharem a forma de-le que atualmente padecemos echamam 'democracia'.

Mas nom é tam assim. Jovensque nom conhecêrom a anterioretapa nacional-católica tenhemconhecido e identificado nos far-dados, nas porras e nas bolas deborracha a forma em que a vio-lência económica se mostra maisexplícita nas suas vidas. Nemcom as roupas mudadas se aga-cha umha natureza profunda-mente sádica mui presente napolícia espanhola. Nem que osmercenários da UIP, os infames'antidistúrbios', protestem con-tra os cargos políticos que os dei-xaram 'desprotegidos' desta vez.Nem que a maquinária mediáti-ca pretenda humanizá-los, e lhes

chame 'indignados', e pretendacriar solidariedade debuxando-os como trabalhadores agredi-dos mentres realizavam o seutrabalho. Nem que os 'sindicatos'policiais chamem à sociedade aacompanhá-los nas suas reivin-dicaçons 'contra os violentos'.Com todo isso ficam sós diantedas suas esquadras policiais. Eninguém se surpreende a sériode que quem tem por 'profissom'deixar marcadas costas e pernase abertas cabeças, quem leva pordiante olhos como parte da jor-nada laboral, receba de voltaumha parte da violência que re-parte 'seguindo ordens'.

Os violentos acabam ficando sóseditorial

humor beto

D. LEGAL: C-1250-02 / As opinions expressas nos artigos nom representam necessariamente a posiçom do periódico. Os artigos som de livre reproduçom respeitando a ortografia e citando procedência.

editOraa.c. minhO media

cOnselhO de redaçOmiván g. riobó, aarón lópez rivas, rubén melide, Xavier miquel, raul rios,Xoán r. sampedro, Olga romasanta, alonso vidal e ana viqueira

secçOnscronologia: iván cuevas / economia:raul rios / mar: afonso dieste / media: Xoán r. sampedro e gustavo luca / além minho: eduardo s. maragoto / povos:

josé antom ‘muros’ / dito e feito: Olga ro-masanta / a denúncia: iván garcía / despor-tos: anjo rua nova e Xermán viluba / consu-mir menos, viver melhor: Xan duro / a crian-ça natural: maria Álvares rei / agenda: irenecancelas / a revista: rubén melide / a gali-za natural: joão aveledo língua nacional:isabel rei samartim / criaçom: patricia ja-neiro / cinema: Xurxo chirro, iván garcíaambruñeiras e julio vilariño

desenhO grÁficO e maQuetaçOmhilda carvalho, joám fernandes, manuel pintor, helena irímia

fOtOgrafiaarquivo ngz, sole rei, galiza independente(gzi-foto), zélia garcia, Borja toja

administraçOm: carlos Barros gonçales

audiOvisual: galiza contrainfo

humOr grÁficOsuso sanmartin, pestinho, Xosé lois hermo,gonzalo, ruth caramés, pepe carreiro, mincinho, Beto

fechO de ediçOm: 16/04/2014

cOrreçOm lingÜÍsticaXiam naia, f. corredoira, vanessa vila verde,mário herrero, javier garcia, iván velho, josédias cadaveira, albano coelho

cOlaBOram neste nÚmerOmónica g. devesa, alberto vizoso lousada,Xavier r. fidalgo, associaçom internaciona-lismo proletário, raimundo serantes, davidcovas, daniel santini, carlos c. varela,Winston smith, iván g. ambruñeiras, Óscarfernández, sergi Blázquez, Olalha Barro, er-nesto vasques souza, Óscar valadares, cha-ro lopes e antia j. pereiro

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Em Um Inimigo do Povo, odramaturgo norueguês Ib-sen tratava o impossível en-

caixe da liberdade individual nassociedades corrompidas. O doutordumha pequena cidade descobriaque a base económica dela, umbalneário que ele próprio fundara,era em realidade fonte de infeçonse doenças a causa da poluçom daságuas. No intuito de divulgaçomdo achado, o doutor ia batendocom os poderes fáticos da cidade,revelando-se a contaminaçom nobalneário metáfora da sujeira do

conjunto da organizaçom social.A vila onde decorre o Inimigo

resulta familiar. Seria simplesidentificar, aqui e agora, políticossobreviventes na impostura, bur-gueses acomodados e imprensalacaia (na peça de Ibsen, o jornalchama-se “A voz do povo”). No diaa dia rodeiam-nos multitude debalneários putrefatos. Investi-mentos que prometem trazer pro-gresso, riqueza, trabalho. Farsasem torno ás quais querem inocu-lar-nos a visom do mundo.

Se calhar, na Galiza é a tristehistória do AVE a melhor metáfo-ra. Umha aranheira tecida entregrandes construtoras, meios de

comunicaçom e organizaçons po-líticas, com un discurso único emtorno aos “prazos de chegada”.Alheio ao questionamento da uti-lidade social real da alta velocida-

de, do seu impato na vertebraçomdo território ou da, infelizmentechave, precariedade nos sistemasde segurança instalados. Segundose acrescenta a informaçom doacidente em Angrois, até mesmovamos sabendo da existência deindivíduos, como o chefe de ma-quinistas, a denunciar do interiordo sistema, tal como o doutor dafiçom de Ibsen.

Que um investimento na tecno-logia de segurança tivesse evitadoa desgraça de Angrois nom é um-ha tacha no comportamento habi-tual, senom a ilustraçom da lógicacom que opera. Há tempo que nasfaculdades de Economia aprende-se a quantificar a vida humana eintercambiá-la com outros fatoresno cálculo do custe dum projeto.É mercadocracia. Turbo-capitalis-mo como involuçom inexorável,

nom como desvio a emendar.No último ato da obra teatral de

Ibsen, o doutor Stockman, já de-clarado pola vizinhança “inimigodo povo”, recupera o optimismo.Represado material e moralmen-te, só lhe restam as próprias for-ças e a certeza de possuir a verda-de. E é curioso, porque a esperan-ça que desprende o final é tam in-génua como contagiosa. Se a antí-tese principal dá-se entre capital evida, do lado do capital nom só es-tám as máfias construtoras, tam-bém a nossa fraqueza na organi-zaçom de movimentos autónomosamplos de defesa de direitos, peçaindispensável e nom substituívelpela retórica movimentista nasinstituiçons. O vindoiro 25 de ju-lho deveríamos questionar-nos se,após um ano, temos avançadonesta direçom.

03oPiniomNovas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2014

oPiniom

1º aviso: apesar do suges-tivo título de Sacha na

Horta, este texto tam-bém nom fala nada de sexo. Acoincidência é ser eu algo “pica-flor” e nom querer casar com nin-guém (...nom para sempre!).

2º aviso, nom esperem acharaqui algo de novo. Só talvez sirvapara partilhar as dúvidas de um-ha amante do galego, opçom pes-soal e política, herdança das mi-nhas antepassadas e recolha/es-colha consciente.

Fala e escrita, língua e normati-va... A falta de unidade, temos di-versidade. É assim, gostemos ounom. Durante anos vivim num en-torno homogéneo e procurei acorreçom do padrom, renuncian-do sistematicamente a variedadesdialetais. Agora relaciono-mecom muitas pessoas que falamum outro galego, ou nom o te-nhem como língua nativa nemprincipal, ou nom o falam em ab-soluto. Eu também mudei, tentan-do manter-me fiel aos meus prin-cípios (vitais e ideológicos); às ve-zes fazendo equilíbrios...

Mas também gozo da diversi-dade das falas; umha das recom-pensas do ativismo nacional é co-nhecer pessoas de diferentes co-marcas, com os seus diferentesgalegos que remetem a paisa-gens, a costumes, saberes pró-prios de cada lugar ( o “nom dar-lhe vento” da ria, é uma expres-som que a minha mãe nunca ou-virá das suas amigas). Na Coru-

nha, às pessoas do Courel parece-lhes que as da costa da Morte fa-lam português, e vice-versa... Ouo luxo de perceber tam bem pes-soas africanas... Os seres vivos eos ecossistemas som apaixonan-tes, nom som?

Como a linguagem conforma opensamento (e vice-versa), dizemque as pessoas bilingües tenhemum outro jeito de verem o mundo;e o mesmo, diria eu, as que conhe-

cem diferentes variedades damesma língua. Acho que nos dáflexibilidade, horizonte. Temos(ou tínhamos) tantas variedadesde pimentos e batatas como denomes para os estalotes, toupons,bilitroques, palitroques, dedalei-ras... para tudo temos fartura,nom perdamos as sementes quegarantem a biodiversidade!

Dito isto, concordo com a IsabelRei num recente artigo: nalgum

momento precisamos unificar pa-ra nos entender; ao menos, estanossa língua em grave perigonom se pode permitir o luxo devogar sem rumo. Uma cousa é adiversidade “natural”, e outra, otremendo sarilho que temos ar-mado com a língua e o tema danormativa em particular; umaclara amostra de patologia colo-nial, e consequência do processode destruiçom.

Entre várias normas a escolherpois (4, 5...? perdim a conta), hábem tempo escolhim a via reinte-gracionista; nesta casa tenho tam-bém para escolher, e a minha op-çom nem sequer é definitiva (queo matrimónio nom é para mim,lembram). A miúdo quigera umhabarca mais estável, além de umtempo mais calmo...

Há também aqui, quem apostanuma língua nacional, e quemnuma internacional... visonscontrapostas e irreconciliáveis?

Quero crer que nom, e fazer umaauto-crítica. Como militante vi-vim em algumas organizaçonsprocessos que, vistos de fora, te-nhem de ser incompreensíveis.Oportunidades perdidas, forçaperdida. Às vezes penso a sérioque necessitamos uma sanaçomcoletiva, que lume contra Espa-

nha também, mas se nom bota-mos à fogueira as nossas pró-prias misérias, nom sei o que va-mos oferecer ao resto da gente...

Já se tem começado, e precisa-mos continuar a trabalhar nestenosso probleminha de atitude. Acurto prazo Espanha nom vai de-saparecer daqui, mas libertemosos nossos espaços de trampas co-loniais. Nom vou ir ao recurso fácilde “se nos estám a esmagar, comoescrevamos é o de menos”. Fale-mos, e façamos da nossa escritaespaço libertado. E se em cada fa-mília o entendemos de jeito dife-rente, respeitemo-nos. Façamospontes, conheçamo-nos, encontre-mo-nos, falemos, debatamos de-mocraticamente. Talvez a foguei-ra, cacharela ou lumieira do próxi-mo solstício de verao seja boa oca-siom para um ritual purificador...

E nom podo terminar sem lem-brar que a língua e o género somambos transversais, é dizer, atra-vessam-nos. As duas flechas seencontram neste pequeno docu-mentário, Mulheres e língua

(http://vimeo.com/79726919), daautoria de Ade Vidal e MariolaMourelo. Pouco se fala disto, e te-mos aí uma perspetiva fresca ain-da por emerger. Recomendado!

Busco amante galego-falantemónica g. devesa

As inimigas do povoalberto vizoso lousada

nom vou ir ao recurso fácil de “se nos estám a esmagar, como escrevamos é o de menos”. falemos, e façamosda nossa escrita espaço libertado

nas faculdadesaprende-se a quantificar a vidahumana e intercambiá-la comoutros fatores nocálculo dos custes

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04 acontece Novas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2014

aconteceEm 26 de março, os ecráns dos buses urba-nos de Vigo começárom a emitir um anún-cio de dez segundos de duraçom que con-vocava para a assistência à comemoraçomdo 14 de abril. Porém, a companhia retirou-no “por ter conteúdo político”.

vitrasa retira anÚncio rePublicano

O portal web ‘Meu Celta’ denuncia aperseguiçom à torcida galega polofacto de esta portar bandeiras galegascom a estrela vermelha no estádio deVallecas. Os seguranças teriam dito-que “con puntas no pueden pasar”.

censuram bandeiras a siareiros do celta

10.03.2014 / Por volta de 2000pessoas saem à rua em Ferrolpara demandar emprego o diada classe operária galega.

11.03.2014 / Confrontos entre apolícia e os marinheiros que semanifestavam frente ao Parla-mento Galego. A oposiçom aban-dona a cámara perante a negati-va do PP a suspender o pleno.

12.03.2014 / Morre esmagadopola roda dum dumper na Ba-nha (Cabreira) Silvestre Pérez,

operário dumha empresa doBarco (Val d’Eorras).

13.03.2014 / Registos da pro-priedade de Ourense e Monfor-te acolhem novas inscriçonsmassivas de mulheres comoreivindicaçom do direito a deci-direm sobre os seus corpos.

15.03.2014 / Fragata CristóbalColón, com base em Ferrol edeslocada no Índico, disparaum projétil sobre Djibouti demaneira fortuita.

16.03.2014 / Um cento de pes-soas homenageiam em SamFiz (Chantada) a José CastroVeiga “O piloto”, o último guerri-lheiro anti-franquista galego.

17.03.2014 / Dúzias de ativistasparalisam o despejo do CentroSocial Ocupado de Palavea(Corunha).

18.03.2014 / Representantesmunicipais do PSdeG, BNG,Anova e CxG manifestam-seperante a sede da Junta em

Compostela para rejeitar a su-ba do cânon de Sogama.

19.03.2014 / Preferentistas deVigo chantam uma leira frenteà sede da NCG: “Se temos queestar todo o dia aqui protestan-do, trazemos a horta".

20.03.2014 / Víctor Daniel Gómez,ex-gerente da Fundaçom PúblicaGalega de Formaçom para o Tra-balho, condenado a um ano enove meses por estafar 22.000euros entre 2009 e 2011.

21.03.2014 / Uns cem vizinhosmanifestam-se na Estrada paraevitar o traslado do registo civila Ponte Vedra e exigir que oserviço seja público e gratuito

22.03.2014 / Três galegos entreos 24 detidos em Madrid apósas marchas da dignidade.

23.03.2014 / Aparecem centos depeixes mortos no rio Lagares.

24.03.2014 / Mais de mil cabelei-reiros manifestam-se na Coru-

cronoloGia

NGZ / A Junta de Galiza vem deaprovar o Plano Diretor da RedeNatura, o documento que defineos usos permitidos, autorizáveisou proibidos neste espaço deproteçom ecológica. Ante as câ-maras dos media a Junta apre-sentou esta normativa como um-ha “harmonizaçom” entre a con-servaçom do território e os “usose aproveitamentos necessáriosque garantam o desenvolvimen-to das povoaçons assentadas naRede Natura”, mas as análisesde coletivos ambientalistas dete-tárom e alertárom que este pla-no abre a porta à presença nesteespaço protegido de atividadesempresariais agressivas com oentorno como podem ser explo-raçons piscícolas, minas, par-ques eólicos ou barragens.

Por umha banda, este novo pla-no diretor modifica os níveis deproteçom e estabelece três tiposde zonas: a de proteçom, de um26,4%; a de conservaçom, de um67,6%; e a de uso geral, de um 6%.A associaçom ambientalista Ade-ga compara esta categorizaçomcom a proposta de plano diretorcom o que começara a trabalharo governo bipartido em 2008 e sa-lienta que se produze umha “re-baixa das cautelas ambientais na-da menos que em 67,6% do terri-

tório da Rede Natura para permi-tir ou autorizar à descriçom ativi-dades nom tradicionais, apesarda presença de habitats prioritá-rios”. A zonificaçom na propostade 2008 repartia-se entre umhazona de reserva, de um 1,08%;umha zona de uso restringido, deum 53,54%; umha zona de usomoderado, de um 39,17%, e umhazona de uso geral, de um 6,21%.

Essa é a caraterística mais gra-ve do plano diretor: a possibilida-de que se abre para a autoriza-çom a que as indústrias mais da-ninhas para o meio explorem aszonas de maior valor ecológico.Um destes casos é o da aquicultu-ra, umha atividade que após serdeclarada como de “interesse pú-blico de primeira ordem” em 2011pola Conselharia de Meio Rural

comandada por Samuel Juárezpoderá assentar-se em qualquerparte do território.

Exploraçons mineirasTambém os coletivos que estáma mobilizar-se contra as conces-sons a exploraçons mineirasalertárom de que este plano per-mitirá a proliferaçom desta ativi-dade na Rede Natura. Assim, a

Plataforma pola defesa de Cor-coesto apresentou umha denún-cia ante a Comissom das Comu-nidades Europeias e alerta deque “com caráter excecional po-derám-se autorizar novas ativi-dades extrativas ao descobertonaquelas áreas que sejam consi-deradas como zonas com poten-cial mineiro polo Plano Setorialde Atividades Extrativas da Gali-za ou que quedem incluídas num'concelho mineiro' tal como estádefinido na Lei de Ordenaçom daMinaria da Galiza”. Por outrabanda, a Junta permitirá tambémque as minas que já contassemcom atividade no momento daaprovaçom deste plano podamcontar com autorizaçom paranovas construçons na Rede Na-tura, desta vez através de umhaatualizaçom das licenças.

Na mesma data em que se apre-sentava este plano diretor, o con-selheiro de Meio Ambiente, Agus-tín Hernández afirmava que “nomé objetivo a curto prazo” umhaampliaçom da Rede Natura. É desalientar que na Galiza apenas háum 12% do território que se en-contra dentro desta área de prote-çom ambiental quando a média noEstado espanhol é de um 27% e oresto de comunidades autónomassituam-se por cima dos 20%.

Plano Diretor da Rede Natura aprofunda naespeculaçom e na exploraçom do território

atividades aGressivas com o entorno serÁm autorizÁveis em esPaços ProteGidos

Piscifatoria no cabo Vilán, espaçointegrado na Rede Natura.

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05aconteceNovas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2014

NGZ / As cidades de Compostela eVigo fôrom, mais umha vez, cená-rios de episódios repressivos con-tra a mocidade e o estudantado mi-litante. Pouco depois de um grupode estudantes da cidade olívica terrecebido citaçons pola sua supostaparticipaçom nos confrontos coma polícia ocorridos na seqüência damanifestaçom estudantil do 20 defevereiro, seis pessoas eram deti-das na capital do país acusadas deterem participado nos distúrbiosem que derivou o protesto dos ma-rinheiros do cerco que tivo lugarno passado 11 de março.

Vigo: desordens públicas, atentado, danos e lesonsAs jovens viguesas que recebêroma notificaçom, citadas para decla-rarem nos julgados de Ponte Ve-dra, fôrom acusadas pola Subdele-gaçom do Governo dos delitos de“desordens públicas, atentado, da-nos e lesons”. Porém, as anteditaspessoas argüírom terem sido iden-tificadas umha hora após os acon-tecimentos, com o qual a sua im-putaçom resultaria arbitrária.Aliás, umha das requeridas polaSubdelegaçom do governo, cujacompanheira resultou também im-putada, assegura que esta é doentedo coraçom, com o qual dificil-

mente poderia ter participado dosdistúrbios. A petiçom fiscal é aindadesconhecida polas pessoas inte-ressadas, que temem fortes san-çons económicas cuja quantia lhesresultaria impossível de afrontar.

Na cidade de Ponte Vedra tam-bém se produzírom detençons nomarco do conflito estudantil do 20de fevereiro, sendo conduzidas pa-ra a esquadra policial quatro pes-soas menores de idade, umha das

quais foi multada com 7.000 eurospor possuir petardos no momentoem que foi registada pola polícia.

Compostela: confusom inicialPor enquanto, na segunda-feiradia 7, seis pessoas eram detidasem Compostela. Se bem numprincípio se especulou com ofacto de as detençons estaremtambém relacionadas com osprotestos estudantis, que tam-

bém deixárom distúrbios na ca-pital, a imprensa comercial aca-bou desvendando a verdadeiracausa, que teria a ver com osconfrontos ocorridos no dia 11entre as forças de segurança e osmarinheiros do cerco. As detidassom militantes de Xeira, do Co-letivo Estudantil Libertário e deAgir. Duas das detidas precisá-rom de atençom médica no diadas detençons.

Continua a repressom contra o estudantado e a mocidade

seis Pessoas detidas em comPostela acusadas de ParticiParem dos Protestos do cerco

O Partido da Terra vem de dar a conhecer o processoaberto em que qualquer pessoa, “for ou nom membro dealguma das organizaçons paroquiais ou comarcais queintegram a Mancomunidade do PT”, poderá inscrever-separa se candidatar ou eleger candidatos às europeias.Do PT visam “modificar o conceito de política”.

candidatura da terra Às eleiçons euroPeias

No dia 10 de janeiro, o diretor da CRTVG assinou umhanormativa que permite à empresa aceder à atividade ci-bernética das trabalhadoras e trabalhadores, assim comorevisar os seus correios eletrónicos. A Central Unitaria deTraballadores/as vem de apresentar umha denúncia noTSJG por “exercício abusivo do controlo empresarial”.

trabalhadores demandam crtvG Por vulnerar Privacidade

nha e Vigo contra a suba do IVAda sua atividade ao 21% e o efei-to que tivo nos seus negócios.

25.03.2014 / Despejados osmembros do CS Palavea naCorunha e os ativistas da Pla-taforma Sárria polo Rio da ilhade Toleiro.

26.03.2014 / Milheiros de pes-soas manifestam-se em defesada sanidade pública na Coru-nha, Compostela, Ribeira, Pon-te Vedra, Vigo, Ferrol, Ourense,

Barco, Lugo, Burela, Cee, Mon-forte e Vila Garcia.

28.03.2014 / Vizinhança de Pun-gim fecha-se na Casa do Conce-lho para protestar polo preço daágua nesta localidade.

29.03.2014 / Caravanas de veí-culos, convocados polo BNG,colapsam a AP-9 demandandoa congelaçom das portagens.

01.04.2014 / Cinco mortos tráschocar um pesqueiro de Marim

com um mercante na ria de Vi-go. Em Caldas, Manuel Carballi-do García, morre aplastado porumha pedra numha canteira.

02.04.2014 / Despejada a Cate-dral de Santiago por umha fal-sa ameaça de bomba.

03.04.2014 / Escárnio & Maldi-zer, novo centro social ocupa-do em Compostela.

04.04.2014 / Professorado dosCELGA fecha-se em Política

Linguística para exigir a read-missom dos despedidos.

05.04.2014 / Um cento de pessoasreclamam "investigaçom e justi-ça" para José Couso em Ferrol.

06.04.2014 / Marcha automobi-lística entre Lóbios e Casal doBispo protesta pola paralisa-çom do projeto da OU-540

07.04.2014 / Referendo no colé-gio infantil e de primária dos Ti-los (Teio) recolhe 90% de votos

em contra de que a nota de reli-giom tenha valor académico.

08.04.2014 / Galiza aprova a leicontra a discriminaçom à co-munidade LGBT, ainda quesem especificar sançons aoacoso e trato vexatório.

09.04.2014 / Vizinhança de Teis(Vigo) irrompe numha confe-rência de imprensa de Abel Ca-ballero para denunciar a inten-çom da cámara de nom desti-nar fundos ao centro cívico.

cronoloGia

Mais dum cento de pessoas solidarizou-se em Compostela com as detidasdurante a sua estáncia em dependências policiais. / GAlIzA CONtRAINfO

fiscalia contrao indulto a carlos e serafínNGZ / O que parecia umhabatalha a ponto de ser ga-nha polo sindicalismo po-de finalmente nom sê-lo.O Ministério Fiscal vemde interponher um recur-so de apelaçom contra adecisom do Julgado do Pe-nal Número 1 de Vigo desuspender o cumprimentoda sentença executória deCarlos e Serafín, os doustrabalhadores viguesescondenados a três anos decárcere por participar nagreve dos transportes de2008 (entrevistados noNOVAS DA GALIzA 134).

O tribunal decidiu sus-pender o cumprimento dasentença já que obrigaria àentrada em prisom dos doussindicalistas, apesar de quea sua segunda petiçom deindulto ainda está a ser tra-mitada polo Ministério deJustiça e o Conselho de Mi-nistros. No entanto, na suateima por precipitar a entra-da no cárcere dos trabalha-dores, a Fiscalia argumen-tou no seu escrito que a sus-pensom da condenaçom serealizou “sem explicitar ra-zom nengumha que justifi-que tal decisom judicial” eque a primeira petiçom deindulto realizada já foi ne-gada polos ministros.

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06 acontece Novas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2014

No domingo 30 de março, milhares de pessoas saírom àsruas da capital de Trasancos exigindo carga de trabalho pa-ra os estaleiros da ria, assim como a construçom do diqueflotante e o levantamento do veto político que obstrui a pro-duçom nas às instalaçons navais de Fene. A manifestaçompartiu da Praça do Inferninho e acabou na Praça de Armas.

milhares reclamam carGa de trabalho em ferrol

O Movimento de Luita Popular convocou para o passado5 da abril umha manifestaçom na Corunha. Pessoas comcaroutas de Pokémon percorrêrom as ruas da cidade naprimeira convocatória dum coletivo que visa “tirar doConcelho” políticos e empresários “que fam da corrup-çom o seu modo de vida”.

manifestaçom contra a corruPçom na corunha

Como vos enterades do traçado daA-76 e como nasce a plataforma?Enteramo-nos de casualidadedurante umha conversa informalde umha vizinha com um técnicodo Concelho. A partir desse mo-mento, os vizinhos e vizinhas dasparóquias de Vinhoás e Carva-lheira começamos a mobilizar-nos para ver se era real essa in-formaçom e comprovamos queno BOE do passado 8 de feverei-ro se anunciava a aprovaçom doexpediente de informaçom pú-blica e aprovaçom definitiva doestudo informativo da autovia A-76, tramo Ponferrada-Ourense.A partir desse momento a vizi-nhança destas paróquias decidi-mos criar umha plataforma paradefender os nossos direitos.

Quais som os danos principais queprovocará esta infraestrutura?Esta obra vai provocar umha ter-rível fenda na entrada desde Ou-rense à Ribeira Sacra com todo oque significa de destruiçom deum espaço natural que deveriaser de especial proteçom. O im-pacto visual vai ser impressionan-te, ademais da grave afetaçomque vam sofrer a flora e a fauna.Por outra banda, destroça o de-senvolvimento económico e turís-tico de umha zona que está a me-

drar nestes últimos tempos. Te-mos que ter em conta que muitasdas aldeias que se vam ver afeta-das tenhem umha populaçombastante nova já que tem havidomuita gente nova que elegeu estemeio rural para fazer o seu proje-to de vida. No tocante ao patrimó-nio material, verám-se gravemen-te afetados bens como a Capelada Cóstria -umha edificaçom neo-clássica do S.XVIII-, os paços deCeleiros e Seara do Rio, váriosmoinhos e, claro, o túnel mineiroromano do Monte Furado com oseu espetacular entorno.

Tedes denunciado o obscurantis-mo existente arredor desta obrapor parte das administraçons.Como foi a relaçom com estas?Temos padecido umha total e ab-soluta ausência de informaçompor parte do Concelho de No-gueira de Ramuim. Tanto é assimque desde a plataforma solicita-mos por escrito no dia 30 de mar-ço toda a documentaçom referi-da ao expediente: número de ex-pediente designado, datas de re-ceçom no Concelho do expedien-te remitido por Fomento, datasdo período de exposiçom públi-ca, providências de alcaldia, de-cretos e resoluçons de legalidadeda Secretaria, informes técnicose remissom a Fomento do trámi-te de exposiçom pública. A diade hoje nom recebemos neh-humha informaçom por parte daadministraçom local.

Vindes de apresentar um con-tencioso-administrativo contrao projeto da A-76. Como tomas-tes esta decisom e que possibili-dades abre esta açom?Numha multitudinária reuniom,

os membros da plataforma ma-nifestamos maioritariamente odesejo de fazer uso da última viajurídica que tínhamos ao nossoalcance a pesar dos custes queisso nos podia acarretar. Ante-riormente puggéramo-nos emcontato com o alcalde, já que de-veria ser o Concelho o que assu-mira os gastos dessa açom legalpois a sua obriga é defender oseu território e a sua vizinhança.Mas o nosso representante localnegou-se em rotundo. Nós sen-timo-nos desamparados e atrai-çoados polas autoridades locais,as que ademais de obrigar a vi-zinhança a assumir a apresenta-çom do recurso contencioso-ad-ministrativo tampouco apresen-taram alegaçons na fase préviado estudo nem na fase de infor-maçom pública.

Este projeto aprovara-se já em2008. Quais som as fases polas quepassou e que pensades de que sefaça um gasto de dinheiro públiconumha infraestrutura como esta?A tramitaçom da A76 começouno ano 2006 com a fase de con-sultas prévias e determinaçomdo alcance do estudo de impato,posteriormente no ano 2008abriu-se a fase de informaçompública e a consulta às adminis-traçons afetadas e agora em fe-vereiro de 2014 aprovou-se a de-claraçom de impacto ambientaldo projecto. Desde a plataformaqueremos deixar claro que  nomestamos em contra da A76, doque estamos em contra é destetramo que passa pola Ribeira Sa-cra pois cremos que existem al-ternativas muito mais económi-cas e menos agressivas. Sobre o

investimento de dinheiro públi-co, cremos que dada a grave si-tuaçom que vive o Estado, e Gali-za em particular, existem outrasprioridades mais urgentes doque o investimento em asfaltoonde nom é preciso. Já sabemoscara a onde nos levou todo isto.

Esta notícia coincide com cam-panha pola declaraçom comopatrimónio da humanidade daRibeira Sacra que está a desen-volver especialmente a Deputa-çom de Lugo. Como inflúe nistoa existência dum projeto comoo do traçado da A-76?Este tramo da autoestrada pomem grave perigo umha zona deespecial fragilidade paisagística eum espaço que conta com umhascondiçons naturais, sociais e pa-trimoniais mui singulares e esta-mos seguros de que  isso vai afe-tar gravemente à candidatura daRibeira Sacra como Patrimónioda Humanidade.

Se a Unesco aprova a candida-tura, que repercusons terá, jánom sobre o projeto de constru-çom da A-76, senom para a vizi-nhança desta zona?Se conseguimos frenar este de-sastre e conseguimos a declara-çom de Património da Humani-dade pensamos que isso poderiaser um pulo mui importante parao desenvolvimento turístico eeconómico da zona. Mas se conti-nuam com a teima de construireste tramo vai ser quase impossí-vel que a Unesco declare a zonacomo Património da Humanida-de, por isso pensamos que a Co-missom de Seguimento da Candi-datura deveria de opor-se firme-mente a este traçado.

“há prioridades mais urgentes do queinvestir em asfalto onde nom se precisa”

valentÍn barreiros, da Plataforma contra a a-76 Pola ribeira sacra

A.LOPES / A vizinhança do con-celho ourensano de Nogueirade Ramuim está a mobilizar-secontra o traçado da autovia A-76 no seu passo pola RibeiraSacra. O projeto desta infraes-trutura começou em 2008 enom foi até o mês de marçodeste ano em que a populaçomconseguiu informar-se do queestava a acontecer. Num mo-mento em que se está a desen-volver umha campanha poladeclaraçom da Ribeira Sacracomo património da humani-dade, a ameaça do asfalto po-de pôr em perigo o sucessodessa candidatura.

“muitas aldeias afetadas tenhem

populaçom nova”

“a obra provocará umha grande fenda

na ribeira sacra”

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07aconteceNovas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2014

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Em meados de abril, o centro social limiao Aguilhoar, se-diado na vila de Ginzo, foi objeto dum ataque fascista con-sistente na realizaçom dumha pintada com a legenda ‘Arri-ba España’. A associaçom respostou convocando umhachurrascada anti-fascista. Da Aguilhoar salientam “a ine-xistência da ideologia fascista e ultra na comarca”.

ataque fascista contra a aGuilhoar da lÍmia

Em janeiro deste ano, Raúl Solleiro Mella, neto do anar-quista galego Ricardo Mella, solicitou ao Tribunal MilitarTerritorial número 4 da Corunha a devoluçom das obrasdo avô que foram requisadas após o golpe de Estado. Otribunal, ainda permitindo a sua consulta, denegou a en-trega dos livros “por fazerem parte da causa”.

tribunal militar mantém sequestro de livros desde o 36

NGZ / Multas de até dous mil eu-ros aos mendigos. É a peculiarproposta aprovada polo Conce-lho de Salvaterra do Minho, on-de o Partido Popular tem maio-ria absoluta, para sacar a pobre-za das suas ruas. As sançons po-dem ser de entre 25 e 300 eurossimplesmente por “mendigar”,elevando-se até mil euros no ca-so de que a pessoa que pede vaiaacompanhada dum menor. Sehá reincidência, a multa subiráaté os dous mil euros.

O PP municipal tentou justifi-car esta “Ordenança Municipalsobre Prevençom da Mendicida-de” assegurando que nos últimosmeses se estava a notar um in-cremento da mendicidade “nocentro da vila”; incremento de-trás do qual estariam “grupos or-ganizados” que se encargam de“ir repartindo” mendigos pola vi-la. Seguindo essa tese, o alcaideArturo Grandal explicou que aordenança vai contra essas “má-fias” que exploram aos mendigose nom contra “as pessoas neces-sitadas” às que, assegura, “aju-damos desde o Concelho”.

Grandal foi ainda mais longeao apontar directamente aoscidadaos procedentes dumpaís concreto, Roménia. O al-caide conservador assegurouque alguém alugou umha mo-rada onde se metêrom “vinteou trinta romenos” que ao diaseguinte “se espalhárom portoda a vila”. A ordenança paramultar aos mendigos ocorreu-lhe, segundo ele mesmo rela-tou, quando umha mendiga es-tava “acossando” a uns clientes

dum supermercado e lhes dixo(sempre segundo Grandal) quenom podiam fazer nada contraela porque nom havia nengum-ha odenança ao respeito.

No mesmo pleno municipalno que defendeu as multas amendigos, Grandal aludiu aoaumento de roubos registradono município para ligar os trêsfenómenos (roubos, mendici-dade e imigraçom); recorrendoao medo aos roubos em mora-das para justificar a sua orde-nança “anti-mendigos”.

O grupo do PSOE foi-se em-bora do pleno após rejeitar anorma, depois de que o porta-voz socialista, José Luis Fernán-dez, qualificasse de “xenófobo”ao alcaide. Entretanto, a porta-voz do BNG, Patrícia Mariño,acusou Grandal de querer voltarao Medievo e defendeu resolverproblemas criminais com o Có-digo Penal e combater a pobrezacom políticas sociais.

Mendigo reincidente?2.000 euros de multa

NGZ / Desde a passada quinta-feira 3 de abril e até o fecho des-ta ediçom, os movimentos so-ciais compostelanos contamcom um novo prédio okupado.Trata-se do número 11 da ruada Algália de Riba, no coraçomdo centro histórico da cidade. Oedifício, que acolheu entre 1957e 2011 a agrupaçom coral ‘Can-tigas e Agarimos’ e também foisede da Sociedade Protetora deArtesaos da capital do país, fun-ciona até o momento como Cen-tro Social Okupado e Autogeri-do, sob o nome de ‘Escárnio eMaldizer’. Propriedade da em-presa construtora ‘La Rosale-da’, da qual se sabe que se en-

contra em importantes proble-mas económicos, o prédio contacom quatro andares para alémdo rés-do-chao, que polo mo-mento está a concentrar as ati-vidades, se bem parte do pri-meiro andar já foi reabilitado.

Apesar do seu curto percurso,o ‘Escárnio e Maldizer’ já foi ocenário de um bom número deatividades, tais como palestras –entre as quais umha do profes-sor da USC Lisandro Cañón eumha outra da escritora TeresaMoure-, obradoiros –dos cuida-dos às artes marciais-, foliadasou espetáculos de improvisaçomteatral, entre outros. Pessoal dogrupo promotor prevê que a ati-

vidade se manterá ao longo dotempo a um ritmo constante.

Contra os privilégios das elitesNo manifesto fundacional, as pes-soas promotoras deste espaçookupado alertam da crescente eli-tizaçom da cultura, assim como doaumento da exclusom social. Ma-nifestam contarem com muitas ra-zons para empreenderem a oku-paçom para além das culturais econvidam a participarem a todasas pessoas danificadas e margina-lizadas polo sistema imperante, aotempo que asseguram, em alusomà Cámara Municipal, que ‘inco-modamos porque nom somos co-mo querem que sejamos’.

Escárnio e Maldizer: novaokupaçom em Compostela

o Prédio fora local da aGruPaçom ‘cantiGas e aGarimos’

Arturo Grandal, alcaide de Salvaterra

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08 acontece Novas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2014

Após a paralisaçom cautelar das obras do rio Sárria, a Pla-taforma Sarriana polo Rio denunciou que as concessonsdo Concelho “som fumo” e anunciou a continuidade dasaçons de protesto. Denunciam irregularidades nas obras,tais como a inexistência de licença municipal e a vulnera-çom da Lei do Solo.

sÁrria: continua luita PoPular em defesa do rio

Em começos de abril, vizinhas de Pungim, na comarca doCarvalhinho, fechavam-se na Casa do Concelho para pro-testarem polo incremento do preço da água, que se tripli-cou desde 2010. Aliás, denunciam a elevada presença dearsénico nos aquíferos, sendo esta o duplo da permitidapola Organizaçom Mundial da Saúde.

vizinhas fechadas em PunGim Polo Preço da Gestom da ÁGua

NGZ / A entidade ‘Galicia Bilin-güe’, conhecida pola sua oposi-çom ao processo de normaliza-çom linguística, denunciou pe-rante a Conselharia de Educa-çom que a equipa de normaliza-çom da língua do conservatóriocompostelano, cuja responsávelé a professora Isabel Rei, em-prega um “sucedáneo del portu-gués”, em referência às opçonsgráficas reintegracionistas. Aliás,o organismo espanholista reali-zou pesquisas nas redes sociaispara conhecer e atacar as posi-çons ideológicas da docente, daqual diz que “expresa su apoyoa los violentos”.

Paradoxalmente, a associa-çom defensora da utilizaçom doespanhol na Galiza erige-se emautoridade a respeito das moda-lidades de galego a empregarnos centros de ensino oficiais.Assim, ‘Galicia Bilingüe’ enten-de que “se a Conselharia exigeo emprego do galego normativoda RAG mesmo ao alunado deprimária e secundária partici-pante no seu concurso de car-tons de Natal, já que se faz cons-tar que nom será aceite nengum

que nom for redigido no galegonormativo da RAG, com maisrazom será exigido o empregodo galego normativo a umhaequipa de dinamizaçom do ga-lego dum centro educativo”.

Por sua banda, a Equipa deDinamizaçom da Língua Galegado antedito centro emitiu umcomunicado no qual exprimeque “esta EDLG desenvolve oseu labor de normalizaçom dalíngua galega no conservatórioem consonáncia com as diver-sas normas ortográficas válidaspara a nossa língua, sem impo-siçons e conscientes de que nomexiste obriga algumha por queumhas ortografias tenham deser discriminadas em favor deoutras”, para além de denunciarcomo inadmissíveis “as acusa-çons em falso que sobre o traba-lho da EDLG e a sua coordena-dora se tenhem publicado emdiferentes meios” e instar à Con-selharia de Educaçom a desesti-mar os escritos desse teor quelhe chegarem, “especialmentese provenientes de entidadesque nom respeitam nem culti-vam a língua galega”.

Galicia Bilingüe atacauso de ‘sucedáneo delportugués’ numcentro de ensino

NGZ / Deve ter valor académico anota da matéria de religiom? De-ve religiom partilhar horário lec-tivo com matérias de conheci-mento geral? Estas fôrom as per-guntas submetidas a referendoentre as maes e pais do estudan-tado do CEIP Os Tilos (Teio), aprimeira dumha série de consul-tas que o coletivo Somos Partequere realizar por todo o país, se-gundo as declaraçons da sua por-ta-voz Conchi García recolhidaspolo digital Praza Pública.

Apesar de o resultado nom servinculante em modo nengum, oobjectivo desta agrupaçom é que agente poda expressar o que pensae, mais adiante, poder oferecer umresultado representativo a nível ga-lego. No caso dos Tilos, as famíliaspronunciárom-se de forma massi-va contra o ideado na Lei Orgánicapara a Melhora da Qualidade Edu-cativa (LOMCE). À pergunta sobrese a matéria de religiom devia tervalor académico, 176 maes e paisrespondêrom que nom (90%), en-quanto só 12 respondiam que sim.Sobre se devia partilhar horáriocom o resto de matéria, fôrom 132os tutores que votárom no nom, en-quanto 58 votárom a favor.

Guia prática contra a LOMCEDentro deste movimento de con-testaçom à Lei Wert que está aespalhar-se cada vez entre maissetores sociais, o Sindicato deTrabalhadoras e Trabalhadoresdo Ensino da Galiza (STEG) to-mou a iniciativa de editar umha“Guia para o funcionamento de-

mocrático dum Centro Educati-vo e para enfrentar-se à aplica-çom da LOMCE”, disponível emPDF na Web. O objectivo do sin-dicato é espalhar este documen-to entre a comunidade educativapara que os seus membros sai-bam como obstaculizar ou mini-mizar, dentro as suas possibili-dades, os efeitos da nova lei.

Esta guia contra a LOMCE in-

clui um total de 32 medidas práti-cas. Cada medida vai dividida emvárias epígrafes que, em cada ca-so, explicam qual é a parte daLOMCE que se pretende neutra-lizar, a medida concreta para con-segui-lo, que coletivo deve tomara medida (famílias, o conselho es-colar, mestres, ...) e, por último,as possíveis conseqüências legaisque podam ter as medidas.

“Deve ter valor académico a nota da matéria de religiom?”

referendos escolares contra a ‘lei wert’

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09aconteceNovas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2014

crónica GrÁficatrabalhadores do naval de ferrol mobilizárom-se ante a Delegaçom de fazenda demandando carga de trabalho / CIG

Em 25 de março passado foi despejado policialmente o CSO Palavea da Corunha depoisde mais de dous anos de vida. As ativistas realizárom jornadas de resistência nos dias prévios e mobilizaçons nas ruas / VERA-CRUz MONtOtO

BNG de lugo realizou umha concentraçom com vassoiraspara “limpar” de corrupçom a cidade / BNG lUGO

Miles de pessoas saírom às ruas pola sanidade pública no dia 25 de março. Na imagem, um momento da manifestaçom que percorreu as ruas de Vigo / GAlIzACONtRAINfO

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10 acontece Novas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2014

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REDAÇOM / O Sindicato LabregoGalego (SLG) continua a denun-ciar que a empresa Lácteos Tam-bre, apesar de contar com senten-ças judiciais na sua contra, aindanom pagou o dinheiro que adividaa várias exploraçons leiteiras des-de o primeiro trimestre de 2011 eque nalgum caso atingem os 7000euros. Além dos movimentos quea rede empresarial está a realizarpara nom efetuar esses pagamen-tos, este conflito acentuou-se aodenunciar o SLG que um gadeirointegrante da executiva deste co-letivo sofreu agressons e ameaçaspor parte de Brais Sangiao Ríos,filho do proprietário da agora des-mantelada Lácteos Tambre, Ra-món Sangiao Gómez.

No passado 14 de abril realizou-se umha concentraçom convocadapolo SLG ante a casa consistorialdo concelho ordense de Oroso naqual se fijo entrega dum escrito emque se solicita ao pleno municipal oseu apoio às exploraçons afetadaspolos impagos da família Sangiao ese denuncia a existência de vertidoscontaminantes ao rio Tambre de

instalaçons destes empresários.Segundo se indica no escrito

apresentado polo SLG, a quantiatotal que está pendente de paga-mento som mais de 26.500 euros.Em tal documento, o sindicato ex-pom também que os donos de Lác-teos Tambre “se apuraram a des-capitalizá-la e deixá-la sem ativi-dade para fazer inviáveis as exe-cuçons que estavam pendentes, demaneira que pugeram em anda-mento outras empresas com nomediferente que continuassem com amesma atividade, mas estando de-trás a mesma família, o mesmo di-rigente, os mesmos trabalhadorese as mesmas instalaçons”.

Dificuldades da justiçaO SLG leva meses denunciandoas dificuldades da justiça paraproceder à penhora dos bens de

Lácteos Tambre ao ter-se decla-rado esta empresa sem bens esem ingressos. Assim, a organi-zaçom labrega tem assinaladoque o mesmo empresário que es-tava à cabeça de Lácteos Tam-bre, Ramón Sangiao Rios, conti-nua a operar no setor leiteiro deforma direta ou através de fami-liares e pessoas de confiançacom as empresas Lácteos Merzae Logística Alimentaria, entida-des que realizam a sua atividadeem instalaçons no concelho deOroso anteriormente pertencen-tes a Lácteos Tambre.

Ademais dos atuais impaga-mentos a exploraçons gandeiras,a empresa Lácteos Tambre e a fa-mília Sangiao já se viram envolvi-dos em diversos casos de fraude.Segundo se informava no NOVAS

DA GALIzA 102, várias fontes rela-cionariam as empresas da famíliaSangiao com o tráfico de 'leite ne-gro'. Ademais, as empresas dosSangiao também se viram impli-cadas numha trama que converte-ria gasóleo agrícola tipo B em ga-sóleo de automoçom.

Mobilizaçons para exigir o pagamento das dívidasde Lácteos Tambre

mar

Mulheres no marisqueio:menos e sem substitutas

A.DIESTE / No setor do mar deGaliza há umha profissom ex-trativa onde as mulheres somclara maioria: o marisqueio apé. Un trabalho duro, que trazconsequências após anos detrabalhar inclinadas ou com aágua polos quadris para apa-nhar ameija e berberecho e pro-voca principalmente reumas,lombalgias e umha longa rin-gleira de doenças. O marisqueioflutuando, feito de umha embar-caçom, já é ''cousa de homens'' ea presença das mulheres nessacategoria é testemunhal.

Em pouco mais dumha déca-da a profissom de mariscadoraa pé passou de representar6.551 empregos diretos no ano2.000 a uns 3.903 a começos de2014. Som 2.650 postos de tra-balho perdidos. Umha quedaque se notou, e nom pouco, emtodas as rias galegas.

Na mais importante delas, ade Arouça, em 2.000 havia qua-se 2.900 mariscadoras e naatualidade nom se chega a1.800. Na de Vigo passou-se demais de mil mulheres a traba-lhar a pé com o permiso de ex-ploraçom, conhecido como Per-mex, a quinhentas.

Os motivos deste descensosom vários e diferentes. A admi-

nistraçom e o setor citam, dacontaminaçom das rias, com amíngua da produçom maris-queira, até o furtivismo. Tam-bém há quem aponta que os in-gressos som cada vez menos esalienta a dureza do trabalho.

Sem substituiçom geracionalUmha radiografia das 3.903 pes-soas que a começos de ano ti-nhan o Permex, o permiso de ex-ploraçom marisqueira, mostracomo continuamos a falar dum-ha profissom feminina: 3.293das mariscadoras a pé son mu-lheres e 610 som homens, umhapercentagem esta última que foiaumentando nestes anos.

E há um dado para a refle-xom: das 3.903 pessoas que tra-balham no marisqueio a pé naGaliza só 153 tenhem menos de30 anos enquanto 641 superamos 60 e há 1.391 mariscadorasque tenhem entre 51 e 60 anosde idade. Unha profissom durae na qual nom está a haver subs-tituiçom geracional.

Em paralelo a esta perda deempregos no setor extrativo maisfeminizado do mar galego, há au-mentos da presença das mulhe-res noutros campos: bateeiras,patroas, marinheiras... aínda queen números muito mais discretos.

várias exploraçons leiteiras estám ainda à espera

lácteos tambre viu-se envolvida em

casos de fraude

O setor extrativo com mais mulheres decai aos poucos, e mais nesta época de crise

a justiça tem dificuldades para proceder à penhora de bens

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XAVIER R. FIDALGO / No mês de mar-ço publicou-se o relatório da ofi-cialmente denominada Comissom

de Expertos para a reforma do sis-

tema tributário espanhol. Com aentrega do relatório extinguia-seeste órgao integrado por sete eco-nomistas e um jurista, que foracriado por acordo do Conselho deMinistros de 5 de julho de 2013 pa-ra assessorar o governo do Reinona matéria anunciada na sua de-nominaçom. O objetivo explícitoque devia perseguir a reforma, se-gundo o Acordo citado, era obterum sistema tributário dotado de“quatro características fundamen-tais”: ser simples, ser suficiente,permitir o desenvolvimento eco-nómico do estado e favorecer o de-senvolvimento social.

Porém, o produto final é um vo-lume de mais de quatrocentas pá-ginas, cuja única justificaçom ve-rosímil deve ser a de os “expertos”cobrarem por peso, como é normano sector. Porque, além dos já ha-bituais fakes destinados a induzirumha posterior sensaçom de alíviodiante do que será o projeto defini-tivo do governo, o relatório consti-tui umha simples traduçom paramau espanhol castiço das medidasque a troika e demais procurado-res da Internacional Rendista le-vam recitando a modo de Credodesde tempos imemoriais.

De acordo com o tal Credo, osimpostos diretos (como o IRPF,que grava o contribuinte em pro-porçom crescente às suas rendas)provocam desagradáveis distor-çons nos mercados. E se alguémacha que as distorçons nom somoutra cousa que umha mínima jus-tiça redistributiva, está bem erra-do. Quando os ricos cheiram aprogressividade, arredam-se enom pagam, evitando que final-mente se produza redistribuiçomreal algumha. A soluçom passaentom por limitar a progressivida-de ao máximo, reduzindo (ou,idealmente, eliminando) os tra-mos em que se divide o imposto,assim como minguando a taxaque toca às rendas superiores. Empalavras dos peritos de Montoro:“Se se parte de que neste imposto[IRPF] tem que existir umha tarifaprogressiva, por considerar-se ho-je prematura e complexa a ideiado ‘imposto linear’ [...] essa tarifadeveria simplificar notavelmenteo número dos seus tramos para re-

duzi-los a um máximo de quatro”.Ademais, as “taxas máximas,comparadas com as dos países danossa área geográfica e económi-ca, podem influir notavelmente nadeslocaçom de atividades e pes-soas. Por isso, e polo carácter con-fiscatório que noutro caso se lheimputaria, com razom, a taxa mar-ginal máxima, incluída a taxa au-tonómica, deveria ser inferior emtodo o caso a 50% [...]”. Em con-traste, a “taxa mínima da escalaprogressiva do gravame nom de-veria ser excessivamente reduzi-da, porque essa taxa, ao aplicar-seao tramo inferior de todas as ren-das declaradas, será a que deter-mine a potência arrecadadora doimposto” (p. 158). O que em gale-go vem a significar: em matéria deIRPF, o ideal seria baixar a taxados mais ricos até equipará-la ados mais pobres, mas como a so-ciedade ainda nom está madurapara aceitar esse “imposto linear”,polo menos baixe-se a taxa do tra-mo alto até o ponto em que deixede ver-se como confiscatória polosricos (“com razom”), o que ade-mais ajudará a evitar que, como écostume, decidam nom pagar na-da em absoluto; a taxa do tramomais baixo, pola contrário, mante-nha-se num nível nom excessiva-

mente reduzido, porque aí é queverdadeiramente se arrecada.

O reverso do Credo neoliberalconsiste em primar os impostosindiretos (como o IVA, que poronerar o consumo acaba desfavo-recendo os desfavorecidos, poissom eles quem consomem a maiorparte da sua renda). Para os devo-tos bem pagados dessa fé, os im-postos indiretos som totalmente“neutrais”, isto é, nom distorcem osempre eficiente reparto realizadopola mao invisível dos mercados.Neste sentido, os membros da Co-missom, como bons hermeneutas

do Credo, proponhem “alterar aestrutura das receitas públicas au-mentando o peso relativo do IVA edos tributos ambientais no con-junto de tais receitas”, o que pode-ria concretizar-se diminuindo“substancialmente o número debens e serviços gravados hoje noIVA com taxas reduzidas ou super-reduzidas, aumentando paralela-mente o número dos gravados àtaxa geral” (p. 295). Isso sim, nadade destinar o possível aumento daarrecadaçom a redistribuir viagasto (bolsas de estudos, subsí-dios de desemprego, saúde públi-ca, etc.). Vade retro. A ideia é “uti-lizar um aumento da arrecadaçomdo IVA para reduzir as cotizaçonssociais a cargo das empresas e quecorrespondam aos assalariados demais baixa retribuiçom; ideia quese conhece como desvalorizaçomfiscal” (p. 281).

Porque, no Credo neoliberal,amigos, as empresas som as ver-dadeiras necessitadas de perma-nente ajuda. É por isso que a Co-missom as tem sempre presentese propom para elas algumhas dasmedidas mais concretas de todoo relatório, como baixar-lhes oimposto de sociedades em 2015de 30% para 25%, e já para 20%numha segunda fase posterior.

Em troca disso: “deveria elevar-se de forma gradual a taxa, queactualmente se situa em 10 por100, que grava as atividades nomisentas das entidades sem fins lu-crativos, até 20 por 100, umha vezque a taxa geral fora objeto de re-duçom e se ache nesse nível”(p.221). No fundo, o que deve fo-mentar um bom sistema tributá-rio neoliberal é o ánimo de lucro,nom qualquer outra parvada.

Também consideram necessá-rios os peritos “proceder a umhanova distribuiçom da carga resul-tante entre empresários e traba-lhadores” das cotizaçons sociais(p. 374), além de as reduzir em ge-ral, financiando a baixada com “in-crementos do IVA adicionais aosformulados no capítulo correspon-dente deste relatório” (p. 387).

A lista de despropósitos chegaa ser tam grande, que nom dápara a continuar analisandoaqui. Contodo, quigera nom dei-xar passar duas cousas. A pri-meira é que a traduçom para es-panhol castiço dos mandamen-tos neoliberais leva inevitavel-mente aparelhada nos últimostempos umha certa reediçom doUna, grande y libre em forma deunidade de mercado, eficiência,aforro e, agora também, com es-ta Comissom, “neutralidade fis-cal” (p. 407). A segunda tem aver com o próprio papel que estacasta de “expertos” se vem atri-buindo: a eles corresponde-lhesdefinir as linhas gerais da políti-ca económica, ficando reserva-dos aos governos o calendário,as taxas, as tarifas e os paráme-tros concretos (p. 84). Justo omundo às avessas: os supostostécnicos ocupam o posto da polí-tica, e aos governos deixam-lhesas meras decisons técnicas. Eainda terám a cara de seguirchamando-lhe democracia!

11acontece

Os “expertos” definirám as linhas gerais da política económica,correspondendo aos governos apenas as meras decisons técnicaseconomia

Manual para ajudar os pobres ricos

Novas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2014

O relatório dos “sábios” constitui

umha simples traduçompara mau castelhanocastiço das medidas

que a troika e demaisprocuradores da

internacional rendistalevam recitando a

modo de credo desdetempos imemoriais

ProPosta de reforma fiscal

O Ministro de fazenda, Cristóbal Montoro, recebe o informe do Comitéde Expertos das maos de Manuel lagares, presidente de tal comité

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12 internacional Novas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2014

chama-se corredor vermelho aos estados da Índia em queestá presente o exército guerrilheiro popular de libertaçom a terra treme

no coraçom do corredor vermelhoASSOCIAÇOM INTERNACIONALISMO

PROLETÁRIO (AIP) / Quando no mêsde outubro do ano passado umhapequena delegaçom da associa-çom corunhesa InternacionalismoProletário iniciamos a nossa via-gem ao interior da regiom de Bas-tar, no sul do Estado do Chhattis-garh (Índia), nom podíamos dei-xar de pensar na possibilidade denos encontrarmos camaradas na-xalitas, fantasiando com a ideiade “caminhar” com eles, como re-latou a escritora e ativista ÍndiaArundhaty Roy, ou mesmo ter apossibilidade de vermos de pertoos Janatana Sarkars (governospopulares), umha alternativa depoder político popular que orga-niza a produçom e o consumo anível local, a distribuiçom equita-tiva dos cereais, proporciona cui-dados de saúde e educaçom aopovo adivasi mais empobrecida etrabalha pola efetivizaçom realdos direitos das mulheres.

No entanto, o ambiente nom erapropício à investigaçom social di-reta da denominada Guerra Popu-lar da Índia, e menos por parte dasúnicas estrangeiras que parecia ha-ver pola zona. Apenas um par desemanas mais tarde, em 11 de no-vembro, haveria eleiçons no Chhat-tisgarh, e as autoridades oficiaislocais acabavam de solicitar um au-mento das forças armadas no dis-trito de Bastar, mobilizando um to-tal de 160 mil efetivos militares -umpor cada 19 civis-, convertendo estazona de 10,755 km2 numha dasmais militarizadas do mundo.

A este facto devíamos aindaacrescentar os mais de 150.000soldados e paramilitares mobili-zados no quadro da operaçom‘Caçada Verde’, ativada polo Go-verno indiano nas regions do cen-tro e do leste este do país desdenovembro de 2009. Esta opera-çom tem supostamente o únicoobjetivo de deter e/ou eliminar aspessoas que integram o ExércitoGuerrilheiro Popular de Liberta-çom (EGPL) conduzido polo Par-tido Comunista da Índia (Maoís-ta), quer dizer, os Naxalitas, masna realidade está a ser utilizadapara expulsar os povos adivasidas suas milenárias terras, já queas suas riquezas minerais e natu-rais estám sendo objeto de espóliopor parte de gigantescas corpora-çoms indianas como o Grupo Tata-com umha faturaçom anual equi-

valente a 5% do Produto InternoBruto (PIB) da Índia-, a Essar -asegunda empresa geradora de ele-tricidade maior da da Índia -, aJindal - aceiro, ferro e eletricida-de- ou a Mittal -a maior produtorade aceiro a nível mundial-, todaselas xurdidas ao abeiro do impe-rialismo británico.

Com o objetivo de ‘despejar’ depopulaçom estas terras intensa-mente cobiçadas polo Capital, le-vam já funcionando também nazona desde o ano 2005 os parami-litares da Salwa Judum (Caçadade Purificaçom), financiados poloGoverno, cuja missom consistetambém em expulsar os povosadivasi, seja com enganos ou polaforça, e amoreá-los no que o Go-verno denomina eufemisticamen-te ‘campos de proteçom’, mas des-critos polas testemunhas como re-cintos similares aos campos deconcentraçom.

Jagdalpur, ferro e fogoQueríamos chegar até Jagdalpur,coraçom do Corredor Vermelho.Apanhamos a linha ferroviáriaque fazia a rota Visak-Kirandul,quer dizer, da costa de AndhraPradesh até a Kirandul Iron OreMines, a mina de ferro puromaior da Ásia, um burato extrati-vo de tal magnitude que é perfei-tamente visível empregando oGoogle Earth. Durante as dozehoras de viagem encontramos po-lo menos cinco trens carregadosde ferro. Tinham tantas dúzias devagons que tardávamos minutosem cruzar-nos. A luita contra asmineiras e o espólio dos recursosnaturais é umha das linhas prin-cipais da guerrilha maoísta.

Jagdalpur tem 125.345 habitan-tes e é a capital do distrito de Bastar,no estado de Chhattisgarh. Fai partedo Corredor Vermelho, nome que

dá a imprensa burguesa à zona queabarca os estados de Andhra Pra-desh, Bihar, Chhattisgarh, Jhark-hand, Madhya Pradesh, Orissa, Ut-tar Pradesh e Bengala Occidental,onde está presente o Exército Guer-rilheiro Popular de Libertaçom.

Os confrontos entre militares emaoístas som constantes nesta re-giom. Cinco meses antes a guerri-lha naxalita levara a cabo umhaaçom em Jagdalpur em que mor-reram 27 efetivos policiais e car-

gos políticos. Entre eles o líder doPartido do Congresso no Estadode Chattisgarth, Nand Kumar Pa-tel, e o seu filho; o também inte-grante do Partido do Congresso,

Mahendra Karma, fundador dogrupo paramilitar antimaoístaSalwa Judum, e Uday Mudaliar,um ex-legislador estatal.

Justo quando chegamos Jagdal-pur celebrava o Dussehra, umhafestividade adicada à deusa guer-reira Durga em que se comemoraem toda a Índia “o triunfo do Bensobre o Mal”. Puidemos ver umhaforte presença de polícias, milita-res e agentes da ‘paisana’ contro-lando todo, assim como quartéis

o distrito de bastar, no sul do estado do chhattisGarh, é umha das zonas mais miltarizadas do mundo

a operaçom ‘caçadaverde’ está a expulsar

os povos adivasidas suas terras

grandes corporaçonsespoliam as riquezas

minerais e naturais

A palavra ‘adivasi’ pode ser traduzida por ‘habitantes originários’ ou ‘povos indígenas’. também referencia as ‘tribos da Índia’ em contraposiçom às

‘castas da Índia’. É umha denominaçom geral que abrange várias tribos ou etnias. Na imagem, adivasis do estado do Chhattisgarh. Os grupos tribais

representam 7% do total da populaçom, sendo a República da Índia o país commaior concentraçom de povos indígenas do mundo

confrontos entremilitares e maoístas

som habituais

Umha das ruas principais de Jagdalpur, no estado do Chhattisgarh

AIP

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militares nas zonas limítrofes,cheios de alambradas e com perí-metros de seguridade onde foramderrubadas todas as árvores.

4.000 presas e presos políticosNeste contexto nom podíamos fa-lar abertamente com a gente so-bre os naxalitas, ademais em va-rias ocasions estivéramos falandode temas triviais com pessoas quelogo resultárom ser militares oupolicias. De maneira que optamos

pola prudência e nom pergunta-mos polo tema, aguardando que agente o sacasse. E assim foi, umhavez esgotados os temas de conver-sa referidos às belezas naturais dopaís e à celebraçom do Dussehra,a vizinhança começou a pergun-tar-nos se sabíamos que por ali es-tavam os Naxalitas. Alguns refe-riam-se a este grupo revolucioná-rio como “terroristas mui perigo-sos”, que estavam agochados naselva; outros –incluído algum car-

go político local- analisavam que“mais que terroristas, som gentepobre e grupos tribais”.

Numha destas conversas es-pontáneas comentárom-nos quena cidade estava um dos presídiosmais importantes do CorredorVermelho, a cadeia de Jagdalpur,onde estavam recluídos perto de700 presos e mais de 100 presasnaxalitas, algumhas delas com fi-lhos e filhas, até que a crianças fa-ziam quatro anos e eram recolhi-

das polas famílias. Como se encar-regárom de sublinhar os guardasda entrada, entre estas pessoaspresas estám as que mataram 27policias e cargos políticos na cida-de em finais de maio.

Conscientes de que a dia de hojehá em toda a Índia aproximada-mente mais de 4.000 presos e pre-sas políticas maoístas em condi-çons péssimas, decidimos pedirautorizaçom para entrar e poderver de primeira mao a sua situa-çom. Depois de passarmos um parde das a fazer gestons na área ex-terior da cadeia, quando pareciaque já estava todo arranchado,mudárom de ideia e dixérom queera impossível proporcionar-noslicença, já que este recinto era um“objetivo naxalita”, que se tratavadumha cadeia de máxima segu-rança e que, como afirmou um po-licia de mirada perturbada e ade-máns de torturador: “os naxalitassom gente mui perigosa”.

À noite seguinte, prosseguimoso nosso caminho polo CorredorVermelho rumo à cidade de Hyde-rabad, trajeto que também nosproporcionou interessantes infor-maçons sobre os Naxalitas. A úni-ca estrada que comunicava asduas povoações estava totalmenterebentada, tanto, que por momen-

tos parecia que estávamos a fazerumha viagem de barco no alto-mar. Nesse momento compreen-demos por que íamos tardar 14horas em fazer umha viagem depouco mais de 500 km. Polo cami-nho vimos vários quartéis milita-res iluminados na noite. Ao dia se-guinte outros passageiros indicá-rom-nos que essa zona estava“cheia de naxalitas”, que mui amiúdo havia emboscadas e que aestrada era estrategicamente des-truída pola guerrilha, para assimcomplicar o avanço das tropas mi-litares e das grandes corporaçomscara os territórios adivasi.

Já sabíamos que a viagem ia fi-car curta, mas foi mui interessanteaplicar a metodologia de aprendersem preguntar. Desta incursom aocoraçom do Corredor Vermelhocontinua a retumbar em nós a rea-lidade de que por muitos militarese policias que empreguem paraesmagar a Revoluçom, por muitoque encham os cárceres de presase presos políticos, as revolucioná-rias e revolucionários continua-rám luitando e criando novo po-der. Um novo poder de que deve-ríamos aprender, para construir-mos nós também umha nova so-ciedade de onde desapareçam osespoliadores, exploradores, cor-ruptos e vendepátrias que assola-gam a nossa terra. Como procla-mavam os Asian Dub Fundationno seu tema ‘Naxalites’: “Nós to-mamos o poder e a terra é nossa!”.

* Informaçom atualizada da Guerra

Popular na Índia em Signalfire.org e na

web do Comité de Apoio Internacional

(icspwindia.wordpress.com).

na cadeia dejagdalpur estám

recluídas mais de100 presas naxalitas

tropas militares mobilizadas na zona selvática de Chitrakote, no distritode Bastar, onde existe umha abondosa quantidade de recursos hídricos

Controlo militar aéreo em tirathgarh (Bastar). Ademais dehelicópteros do exército indiano, o Governo mobilizou noCorredor Vermelho vários drones proporcionados por Israel

Comboio carregado de ferro procedente da mina de ferro puro maior da Ásia, a Kirandul Iron Ore Mines

Em contraposiçom à situaçom de opressom em que vivem milhonsde mulheres indianas, segundo vários investigaçons antropológicase jornalísticas, a guerrilha maoísta promove a igualdade entre mulheres e homens, abundando as mulheres que ocupam cargosmilitares na mesma. Algumhas famílias labregas consideram mesmoque o factos de as suas filhas pertencerem à guerrilha as protege deserem violadas e maltratadas, já que os naxalitas estabelecem umhas férreas normas de comportamento e igualdade de direitosnos seus acampamentos e governos populares

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14 internacional Novas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2014

além minho “todos os elementos da nossa ‘performance’ som fundamentais para transmitir a nossa onda divertida”

RAIMUNDO SERANTES / Acabado dechegar à Galiza, o duo galaico-brasileiro formado por PaulaSanmartín e Túlio Flávio deu osprimeiros passos no Rio de Ja-neiro, um ámbito teoricamentemais propício ao electro-brega,estilo musical em que a estéticaé fundamental e que eles pró-prios associam à “fase inicialdas batidas Run DMC”, à ondakitsch ou à movida madrilena.Polas minhas palavras, trata-sede umha banda vinda do futuroque aterrou no passado, domundo astral ao espaço letrísti-co e musical dos oitenta relin-terpretado em 2014. Entre assuas influências contam-se Ro-berto Carlos, Stereo Total, DieAntword, Luan e Vanessa, TheDresden Dolls, Alaska, BladeRunner, Kraftwerk...

Eu diria eletrónica, mas... qual éo vosso estilo? Existe definiçomque nom supere umha linha?Antes dizíamos electro-kitsch,mas ainda tínhamos que explicardo que se tratava. Agora preferi-mos chamá-lo electro-power, mascontinuamos tendo que explicarde qualquer jeito... Entom, dizerque é música eletrónica, já é meiocaminho andado para entender onosso som. Mas, para conhecermesmo, só indo ao show.

A encenaçom e as letras som fun-damentais na vossa encenaçom.Tanto as letras quanto a encena-çom som importantes, ao igualque todo o que colocamos na horade nos apresentarmos no palco.Dim respeito ao que nós somos eo que queremos transmitir. Todosos elementos que componhem anossa "performance" (letra, músi-ca, imagem) som fundamentaispara transmitir a nossa onda cós-mica divertida.

Como resolvem a questom dalíngua, se for preciso resolver algumha cousa?Nom sabemos. Nós cantamos emportuguês porque a banda nasceuno Brasil. Se a banda tivesse surgi-do aqui, talvez estaríamos cantan-do em galego. Como vamos seguirde aqui em diante é um grande mis-tério, mas esperamos que podamoscantar algo que nos entendam, in-dependentemente da língua.

Faltam bandas galegas mistaspara afirmar a tam badalada

comunidade lingüística galego-portuguesa?Cantar em galego no Brasil podeser o mesmo que cantar em portu-guês aqui. Alguém entende algo,mas nom todo. No dia em que nosentendamos ao cento por cento,algum salto lingüístico/evolutivoterá sido dado e entom sim que es-tará afirmada esta nossa comuni-dade linguística.

O que acham que podem forne-cer à música galega? No vossoestilo e em geral...50% da banda é brasileira e ooutro 50% é da Galiza com pas-sagem polo Brasil. Entom diga-mos que umha grande parte dosom que fazemos pode trazertanto referências musicais jáconhecidas aqui quanto infor-maçons de movimentos musi-

cais recentes. Por exemplo:acreditamos que poucas pes-soas saibam o que é o tecnobre-ga, género musical bastantepresente nos nossos shows.

E há algo mais do que onda cós-mica divertida em “É muito caroser iluminado” [música que falados alimentos transgénicos]?O paradoxo entre se alimentarsaudavelmente e se endividar fi-nanceiramente é algo recorrenteaos grandes centros, sejam ali-mentos livres de agrotóxicos oualimentos orgánicos. Os assuntosque consideramos importantes eque se fam presentes no nossodia a dia, por mais vanais queaparentem ser, sempre serám ex-plorados com muito bom humor,que é o principal ingrediente parauma vida saudável.

Há mais algumha banda tecno-brega brasileira que valha a penaconhecer, de referência para vós?Exite um documentário chamadoBrega S.A que fala bastante destacena tecnobrega do estado do Pa-rá. Lá podem encontrar artistasmuito verdadeiros como DJSquash e Maderito.

De um ponto de vista musical, oque vos chamou mais a atençomdesde que aterrárom na Galiza?Do nosso ponto de vista, podemosdizer que a cena musical compos-telana e galega tem-se revitaliza-do muito nos últimos anos, apesarou até pela situaçom de crise emque está o país. Existe um maiorfluxo de bandas e de locais ondese podem apresentar e apreciar ostrabalhos, o que nutre e enriquecebastante a corrente de ideias.

“Muito bom humor é o principal ingrediente para uma vida saudável”

Povos O povo mapuche é povo indigena, fala mapudungun esabe que as estruturas de Wallmapu botarám os invasores

“a cena musical galega tem-se

revitalizado muito”

entrevista a ciborGue moreno, duo musical nascido no brasil

JOSÉ A. ‘MUROS’ / O Povo Mapu-che é um povo que resistiu primei-ro aos colonizadores incas e caste-lhanos e aos seus sucessores chile-nos e argentinos, tivérom e tenhemumha longa e forte história de nomsubmetimento: citar a sua heróicaresistência aos espanhóis e aosherdeiros chileno-argentinos e acaudilhos de lenda como Lautaromostram o seu carater. Som 1.7 mi-lhons de pessoas que vencendo ainvisibilizaçom das estatísticas ofi-ciais habitam na sua pátria Wall-

mapu ou nas diasporas migratóriasàs capitais dos estados que ocu-pam o seu território: Buenos Aires,Santiago entre Chile e Argentina.Noutro tempo, na sua resistêncianom submetida ao Império Inca eà Coroa Castelhana, tivérom umterritório que abarcava a centrali-dade dos estados mencionados. Nopresente a sua Pátria engloba acentralidade do seu antigo territó-rio: o departamento da Araucaniae zonas limítrofes dos departamen-tos de Bio Bio e Los Rios; no terri-

tório argentino os 107.000 mapu-ches que lá habitam tenhem o seular pátrio nos territórios fronteiri-ços a estes departamentos chile-nos: Chubut, Rio Negro, Neuquen.

O Povo mapuche e o seu movi-mento é interesante nos modelos deauto-organizaçom e de construçomdum poder popular mapuche e in-dígena. Ocupam e defendem as ter-ras roubadas por multinacionais eestados, tanto as florestais como asvinculadas às comunidades indíge-nas em conflitos vigorosos simila-

res às comunidades tártaras de Cri-meia ou às populaçons kurdas. Nomundo urbano a sua organizaçomem comunas e instituçons educati-vas e de vivenda som exemplaresem especial na sua capital Temuco.A sua luita contra a multinacionalelétrica Endesa é mais que conheci-da. A defesa da sua indigenidadecontra os estados herdeiros da co-lonizaçom espanhola, a sua defesaincondicional e militante contra osoligarcas chilenos ocupantes ilegíti-mos da terra mapuche tambémsom conhecidas e os presos políti-cos motivados por essa causa.

Os presos mapuche e o movi-mento social que o sustenta nom

se arrependem, nom assumem asinstitucionalidades herdeiras deEspanha, sabem que a liberdade sóse logra com sacrifícios e perseve-rança, nom crem nas falsas pro-messas de "pijas-progres" submeti-das às estruturas estatais repressi-vas e ao poder financeiro imperial:Michele Bachelet e Cristina Fer-nández de Kirchner. Crem no Povoauto-organizado, no Poder Popularconstruído paulatina e passeninha-mente para todos os mapuche quevertebre um Wallmapu que dea aopovo a sua definitiva liberdade.

O mapuche é indigena, fala ma-pudungun e sabe que as estruturasde Wallmapu botarám os invasores.

Wallmapu, terra mapuche

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15dito e feitoNovas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2014

dito e feito “Os nossos objetivos som denunciar o imperialismo e apoiar osprocessos de emancipaçom nacional e transformaçom social”

O.R. / Se o homem de Neguá doconto de Galeano voltasse asubir ao alto do céu, veria alu-mear um mar de lumes commais força que nunca. As la-baradas estendem-se por Ve-nezuela, Palestina, Catalunha,o Saara, o Curdistám, Síria,Euskal Herria. E também polaGaliza. Mar de Lumes nascecom a intençom de tenderpontes entre todos esses po-vos que luitam pola sua auto-nomia, solidarizando-se comas suas injustiças, difundin-do um outro estado de opi-niom, e visibilizando o nossopróprio conflito. Óscar Vala-dares explica um pouco maisdeste projeto de solidarieda-de internacionalista que vaifazer já um ano de vida.

Quais fôrom os objetivos com osque decidistes juntar-vos?Existiam organizaçons de solida-riedade internacionalista com po-vos concretos, como o Saara, Pa-lestina, ou Cuba, mas nom havianengumha genérica. Isso foi oprimeiro que nos animou a nosconstituir. Nesse momento, aliás,acabava de ter lugar a guerra deLíbia, onde parte da esquerda seposicionou a favor da invasom, aocontrário que no caso do Iraque.Vimos que faltava umha organi-zaçom que tomasse posiçons emconflitos como este. Os objetivossom três: denunciar o imperialis-mo no mundo, tanto bélico comoempresarial; apoiar os processosde emancipaçom nacional etransformaçom social nas suasdiversas soluçons; e visibilizar oconflito galego no exterior, que éa linha que polo de agora menospudemos desenvolver, mas quenos parece fulcral. Nom existianengumha entidade que explicas-se a nossa situaçom, para alémdos partidos que se podam apre-sentar às europeias.

Centrades a vossa atençom nospaíses árabes, a América Latina,e as regions europeias. Que pas-sa com a África, por exemplo?África é um espaço sumamentecomplexo. Os profundos proces-sos de colonizaçom que sofreu

deixárom povos massacrados. Hápaises lá que merecem umhaatençom especial, sobretodoaqueles onde a situaçom é maisprecária por mor dos crimes im-perialistas. O que se passa é quepor agora nom contamos com asuficiente capacidade como paraconetar com essas realidades. Co-meçamos polos paises árabes por-que som mais conhecidos, e ver-que-se sobre eles umha enormecantidade de poluiçom informati-va. Pareceu-nos muito importantecontra-arrestar essa visom.

Muitas vezes se tem ouvido issode “independência sim, masnom aqui”. Vós proclamades-vos abertamente como umhaentidade a favor da independên-cia, ainda que nom fagades tra-balho nessa linha. É mais fácilmobilizar a populaçom quandoo problema está longe?É. Determinados partidos comoPSOE ou IU tenhem-se posicio-nado a favor do Saara, de Palesti-na… Mas quando se fala do nossoconflito, ou mesmo do basco oucatalám, a postura é outra. Se esa favor da independência dum lu-gar afastado e nom da tua, prova-velmente seja porque aqui exis-tem outros interesses que chefam entrar nessa contradiçom. A

proximidade gera interesses, e osinteresses posicionamentos con-traditórios, está claro.

Que efeitos credes que pode tera vossa açom sobre as comuni-dades em conflito?Os efeitos som mui subtis. Cubanom precisa da nossa ajuda, massim de organizaçons de solidarie-dade em todos os povos que vi-sualizem o seu conflito. Pensa-mos que, ainda que seja a peque-na escala, isto sim pode ajudar air gerando um estado de opiniomalternativo. Noutros casos de lu-gares em que a tradiçom solidáriainternacional é menor, este efeitopode ser mesmo maior. Só há queimaginar como nos sentiriamosse no Curdistám se criasse umhaentidade de apoio à naçom gale-ga… Veriamos reforçado o nossopapel, sem dúvida.

Como definirías o papel dosmeios nesta geraçom dum “esta-do de opiniom” arredor dos dife-

rentes conflitos internacionais?Os meios merecem-nos a mesmaopiniom que os seus propietários.Os empresariais, como El País ouEl Mundo, tenhem muitos inte-resses nos conflitos internacio-nais, assim que as oligarquias queos pagam nom empregram ter-mos como “ditadura” para refe-rer-se a Venezuela de maneira ca-sual. Na outra cara da moeda,existem meios alternativos comoo próprio NOVAS.

Antes da morte de Chávezabriu-se um debate a respeitodesta questom e assinalou-se quea criaçom de meios comunitáriosera umha fulcral para a revolu-çom bolivariana. O certo é que,na atualidade, nom existe manei-ra de frear a poluiçom mediática.Essas som vias muito interessan-tes para experimentar, para alémdo contacto direto, as palestras,ou os actos informativos.

Que lumes alumeiam nesta lon-ga noite de pedra? Há exemplosque podam ser inspiradores pa-ra a nossa situaçom?Todas as situaçons nos damideias aproveitáveis. O caso doCurdistám, por exemplo, serve-nos para ver como existem comu-nidades com menos auto-ódio doque a nossa, e com ligaçons inter-

nas muito avançadas. O cubano éo dum país pequeno assediadodurante anos, e que continua so-brevivendo. Euskal Herria é umexemplo de integraçom graçasaos setores do soberanismo. Detodos há leçons que tirar! O casodepois é como aplicá-las aqui.

Como vem a realidade galega ascomunidades internacionaiscom que mantedes contacto?Na maior parte dos lugares nomo conhecem; o Estado espanholfunciona muito bem a nível deocultaçom dos conflitos nacio-nais. Claro que depende comquem fales, porque hoje, graças àInternet, podes encontrar genteinformada em toda a parte. Émais fácil que isto se passe nos lu-gares mais próximos, mas ficamuito trabalho por fazer, quandoem Portugal muita gente nem se-quer sabe que existe a Galiza.

Que novas açons tedes previstas?Neste momento estamos reestru-turando Mar de Lumes, mais co-mo organizaçom. Temos actos deapoio ao Curdistám, Cuba, Pales-tina… E, é evidente, o objectivo ameio praço é continuar consoli-dando-nos com outras atividades,que em parte devem ir surgindoao passo dos acontecimentos.

“O estado espanholoculta muito bem osconflitos nacionais”

óscar valadares, membro do comité internacionalista ‘mar de lumes’

“Nom existia iniciativa que visibilizasse oconflito galego fora das nossas fronteiras”

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16 em anÁlise Novas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2014

segundo ine, em janeiro de 2014 havia maisde 27.000 trabalhadoras domésticas na galiza em anÁlise

ANA VIQUEIRA / O primeiro som dacafeteira é às sete da manhá. Es-cuito os seus passos desde a mi-nha cama junto a vozes tam bai-xas que parece a língua das abe-lhas. Umha porta fecha-se, soampratos e auga a correr. Como um-ha melodia acompassada, depoisdum silêncio de branca vem o mi-croondas junto com o bule-bule deduas meninhas que arrastam ascadeiras. A minha fiestra está jus-to a carom da sua cozinha e osseus sons antecipam as 8 e quartono meu despertador. Quando per-guntei em que trabalha a Carmi-na, a reposta foi o emprego querealizárom a maior parte das nos-sas ancestras: “fai casas”. Ade-mais da própria.

As tarefas domésticas nem es-tám remuneradas nem se incluemem estatísticas económicas. Se otrabalho doméstico, na sua ampli-tude, tivesse umha equivalência emsalário e tempo trabalhado, a suamonetarizaçom acadaria os 28.649milhons de euros na Galiza. Estacifra representaria 50,6 por centodo PIB galego segundo os cálculosdo Instituto Galego de Estatística(IGE) na sua Conta Satélite de Pro-duçom Doméstica em 2013.

Raquel Martínez, doutora emsociologia e investigadora doESOMI, salienta que a dificuldadede estudar o trabalho doméstico étam grande como a quantidade deempregadas que nom estám afi-liadas à Seguridade Social.

Em janeiro do 2014 havia naGaliza 27.367 empregadas pararealizar trabalho doméstico dasquais 14,9 por cento som na suaorigem estrangeiras enquanto quehá dous anos contabilizavam-se36.000 trabalhadoras e a percen-tagem migrante correspondia a31,9 por cento. No Estado, a per-centagem de pessoas sem nacio-nalidade espanhola neste trabalhopassou de representar 58,7 (2012)a 51,1 por cento (2014).

“Essa baixa de populaçom imi-grante no trabalho doméstico naSeguridade Social pode dar-se porvárias razons: bem que se deamais de alta à mulher espanholaque as imigrantes ou que as imi-

grantes estejam informalizando oseu estado e incluso que nom semidam os dados de forma correc-ta”. Carmina é cubana e nom coti-za na Seguridade Social.

A dignidade da fregonaAs actividades com um melhorcomportamento económico desdea alcumada crise económica fô-rom as relacionadas com os cui-dados pessoais e o serviço domés-tico. Segundo os dados da EPA asvariaçons no número de trabalha-doras foi positiva em ambas ocu-paçons no período 2009-2011.Nestes anos, os serviços dos cui-dados mais profissionalizados su-bírom 22,4% e o trabalho domés-tico 2,7 por cento.

Os câmbios sociais e políticos,como a incorporaçom da mulherao mercado laboral sem um repar-to equitativo dos trabalhos repro-dutivos, o envelhecimento da po-pulaçom ou a privatizaçom das po-líticas sociais, provocárom umhaelevada demanda do serviço do-méstico junto a mercantilizaçomdos cuidados familiares, umha la-cuna que ocupam pessoas vindasde outras partes do mundo. O In-quérito de Populaçom Activa indi-ca que, em 2012, 58,7 por cento(430 mil) das trabalhadoras do-mésticas no âmbito estatal nom ti-nham a nacionalidade espanholaenquanto que no ano 2.000 nomrepresentavam sequer 32 por cen-to. Relativamente ao perfil das tra-balhadoras domésticas, as mulhe-res que nom som de nacionalidadeespanhola soem ter entre 30 e 39anos enquanto que as espanholasformam um coletivo mais envelhe-

cido, entre os 50 e os 64 anos. A feminizaçom das migraçons,

sejam galegas ou peruanas, estámestreitamente ligadas com o tra-balho doméstico e dos cuidados.“Desde o fracasso desse boom da

construçom as cadeias migrató-rias de mulheres ao nosso paissom mui fortes e costumam ter co-mo primeiro trabalho um relacio-nado com o trabalho doméstico”.Nom dispor de laços sociais nopaís de residência, invisibilizaçomdo próprio trabalho, a economiasubmergida e a desatençom sobreo emprego desenvolvido pola mu-lher som características que trans-formam um coletivo num foco pa-ra exploraçom laboral. “Quedassozinha na negociaçom entre aspessoas empregadoras e as em-pregadas, jogam com anular o teuempoderamento... ti imaginaquanta força poderias exercer senom tens laços sociais que te fa-gam sentir segura ou te atopas emsituaçom irregular”.

Trabalho doméstico, exploraçomlaboral e trata de pessoas“Son las habitaciones de las chi-

cas. Yo les dejo quedarse aquí, les

doy un salario y limpian esto, me

cuidan y me ayudan a llevar las

rentas de los pisos”. O piso, do ho-mem galego que me ia arrendarum habitáculo no centro de Barce-lona, tinha três quartos: um com aporta aberta (a dele), outro comela fechada desde dentro e outracom a porta imobilizada com umcadeado... desde fora. “Si tenéis

falta de trabajo, busco a otra... no

importaría que fuesen dos”. Desde 'Proyecto Esperanza',

congregaçom contra a trata depessoas, sublinham que o serviçodoméstico “é o sector mais com-plexo para identificar condiçonsde escravitude e trata” propicia-das polo Regime Especial que asregula dumha forma “tam precá-ria” que deixa as empregadasdesprotegidas, junto à limitaçomdas inspeçons e controles da ac-tividade laboral ao desenvolver otrabalho no âmbito privado. “Aoredor do trabalho doméstico hámuitos tipos de exploraçom ecoaçom, começando polos abu-sos sexuais, maltrato psicológicoou a disponibilidade a 24 horasno caso das internas”.

Em tam só 10 dias, e num únicosítio web, na Galiza houvo catorzeofertas de emprego para realizartarefas de serviço doméstico e decuidados, tanto a menores como a

maiores, e quase a metade -6- fô-rom vacantes de serviço interno.Apenas um anúncio indicava salá-rio, 750 euros ao mês.

Nom importou a ninguém que osduques de Palma contratassemtrabalhadoras de forma irregularCom a recente investigaçom docaso Noós, Cristina de Borbóm eIkañi Urdangarím tinham a tra-balhadoras domésticas contrata-das de forma irregular. RaquelMartínez lamenta-se de que nompropiciasse nengum debate pú-blico “se fosse outro trabalho ha-veria-o?”. “Tudo o que consenti-mos... como nom há debate so-cial sobre que existe o trabalhode interna? A altíssima precari-zaçom? Nom é indignante?”.

A socióloga Raquel Martínez de-tecta um problema social, e bemfundo, tanto na sociedade galegacomo na espanhola. “Di-me comoorganizas os cuidados e direi-cheque sociedade és.”, explica.

Nem ao espanhol nem ao ga-lego, “ao Estado nom lhe impor-tam os cuidados nem o bemes-tar. A educaçom até aos 3 anosestá privatizada o qual afeta aconciliaçom laboral. Numha so-ciedade igualitária, assimila-

trabalhos realizados Por mulheres Permanecem invisÍveis nos relatórios oficiais

As esquecidas polo PIBA dignidade da fregona fica tam invisibilizada como o seu peso na economiadum país. O trabalho doméstico, se avaliado, representaria 50,6 por cento doPIB galego. Nos anos da alcumada 'crise', o trabalho dos cuidados e do servi-ço doméstico estabelecêrom-se como dos poucos empregos que, em vez de

diminuir, incrementárom o seu volume até chegar ao 2012, quando as políti-cas de austeridade se traduzem em despedimentos e mais economia sub-mergida. Tal como apontam os últimos dados do INE, em janeiro do 2014havia 27.367 trabalhadoras domésticas na Galiza.

“numha sociedadeigualitária a provisom

de cuidadosassimilaria-se sem

umha divisomsexual do trabalho”

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17em anÁliseNovas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2014

riam-se os cuidados sem umhadivisom sexual do trabalho.” Sa-lienta que parece que as mulhe-res nascem para cuidar “num es-quema familista que se nom cui-das, sentes a pressom de todasas pessoas que a componhem”.

Numha das aldeias galegasnas que o autocarro passa a cadaquatro horas, umha moça expli-cou que “a minha família deixaao meu irmao maior o piso e dim,tranqüila que ti quedas com a ca-sa, claro, para que os cuide! Tam-pouco queriam que fosse à uni-versidade. Quando lhes dixemque nom ia ficar na casa a cuidá-los minha mae exclamou: Puta!”.

A vinculaçom social com os cuidados deve mudarRaquel Martínez explica que há quederribar a imposiçom dos cuidadossobre os lombos da mulher “que

anulam por completo o resto dassuas aspiraçons e desejos na vida”.

“Os cuidados devem ser o cen-tro da sociedade para que estapoida ser sana e feliz”. A impor-tância de educar-nos para cuidare entender para Martínez “é vi-tal” pois “somos dependentesem muitos momentos da nossavida, nom só quando somos pas-samos dos 65 anos”.

Para ela, o caminho a percorrercara umha melhor sociedade passapor “buscar um modelo social e po-litico onde o mais importante se-jam as pessoas”. Também sublinhaque tem que aparcar-se a “dedica-çom a produzir a 100 por cento” jáque isso só pode existir se há umhapessoa “escravizada” no fogar. “Ocapitalismo produz à custa de su-bordinar os desejos da pessoas aosde produçom do sistema, e sacrifi-car-se a 100 por cento em prol daproduçom nom é um valor”.

À noite, quando chego a minhacasa, com os olhos cansados e ascostas com gana dumha camabranda, adormeço com o som defundo dumha máquina de coser.Carmina trabalha até entrar a ma-drugada fazendo cortinas.

Porque estám tam pouco valori-zado o trabalho relacionadocom os cuidados tanto das pes-soas como do fogar?É indicativo da contradiçom queexiste entre acumulaçom de capi-tal e desenvolvimento humano,que nom se valorizem os traba-lhos de cuidados reflexa a vigên-cia da assimetria hierárquica degénero -o sistema patriarcal assig-na menor valor às habilidades,funçons e tarefas que aguarda quedesempenhem as mulheres.

Frente à precarizaçom e à invisi-bilizaçom, deveria caminhar-secara a consolidaçom dumha pro-fissionalizaçom? A provisom de cuidados deveriaemergir como umha necessidadesocial, isto é, assumida colectiva-mente. Para isso, a chave é que sereconheçam como um direito bá-sico e que se garanta a sua presta-çom mediante os serviços públi-cos -suficientes e de qualidade-.Sempre haverá umha parte de cui-dados implícitas nas relaçons in-terpessoais, como parte da reci-procidade, a doaçom de tempo eos afetos que se entregam semcontraprestaçom, estes cuidadosdeveriam ser repartidos, e sim, demaneira equitativa.

O mesmo com o trabalho doméstico?As atividades domésticas formamparte das necessidades funcionaisda vida quotidiana e como tal de-veriam ser repartidas equitativa-mente entre quem compartilhaum núcleo de convivência. Há si-tuaçons nas que isto nom é possí-vel, entom é preciso que exista apossibilidade de contratar 'foradas famílias'. Dado o caso, este'emprego' ou 'ofício especializado'

deveria ter condiçons equipará-veis às do resto de tarefas especia-lizadas como os trabalhos de ca-nalizaçom, manutençom, lavan-daria, obras de restauro e melho-rias de vivendas, etc.

Para contratar a umha pessoatens que ter um salário acima doque vaia receber. Há classismo?Há classismo e é multidimensio-nal porque dá-se umha estratifica-

çom sexual, económica e étnica. Éevidente que na sociedade actual,sobretodo nos países mais empo-brecidos, a contrataçom de em-pregadas do serviço domésticorealiza-se em maior medida apro-veitando o carácter de 'empobre-cimento' e as situaçons de vulne-rabilidade económica que afectama parte da populaçom, fundamen-talmente mulheres, disponível pa-ra realizar estes trabalhos.

Em que medida está a entidadede género ligada à dedicaçomaos cuidados?No ámbito do sistema patriarcal ac-tual, plenamente, já que se impreg-na na aprendizagem social das mu-lheres umha espécie de obrigaçommoral para que se encarreguem

dos cuidados doutras pessoas, dasnecessidades da reproduçom so-cial, exercendo umha pressom so-cial sobre elas que as culpabiliza -autoculpabiliza- em caso de nomfazê-lo. Esta pressom social acen-tua-se mais com a leis e políticaspúblicas que reforçam a divisomsexual do trabalho, por exemplo nosistema de licenças por nascimen-to, que reforça a mensagem de queas mulheres somos as responsáveisdos cuidados ante um nascimento:16 semanas de licença de materni-dade em comparaçom com as 2 se-manas de paternidade.

O patriarcado fomenta a divisomsexual do trabalho, sobretodo den-tro da casa. Podem ser as lésbicasumha categoria de análise econó-mica ou é um erro achar que podedar-se diferença algumha?É um enfoque interessante porque,efectivamente, nas parelhas lésbi-cas nom se dá a inércia da repro-duçom espontânea dos papeis he-teronormativos interiorizados -oque sim ocorre na gram parte dasparelhas hetero, sobretodo depoisdo nascimento dumha criança. Istocoloca um cenário interessante pa-ra estabelecer relaçons afectivasdesde umha base igualitária, aomenos como ponto de partida.

“no trabalho doméstico há um classismo multidimensionalporque se dá umha estratificaçom sexual, económica e étnica”

carmen castro, economista feminista, resPonsÁvel de ‘sinGénerodedudas.com’

OfERtAS DE EMPREGO

CIDADE DAtA tAREfA PEtIÇONS VIStAS / CONtAtO

Lugo 04/04/14Cuidado a

pessoa maior

Nacionalidade

espanhola793 vistas / 113 envios

Ponte Vedra 04/04/14 Serviço doméstico Carta de conduçom 5.572 vistas / 10 envios

Todas 01/04/14Serviço doméstico

e cuidado a maior

Mobilidade com a

família a Londres8.435 vistas / 35 envios

Ponte Vedra 30/03/14Serviço doméstico

e cuidado a menorMaior de 45 anos 6.864 vistas / 14 envios

Vigo 26/03/14 Serviço doméstico Residente na Galiza 13.090 vistas / 44 envios

tabela de ofertas de emprego em regime interno numha análise de 10 dias / fonte: Milanuncios.com

“impregna-se naaprendizagem dasmulheres a obriga

moral para seencarregarem dasnecessidades da

reproduçom social”

“somos dependentesem muitos momentos

da nossa vida”

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DAVID COVAS / Há já quase umano que começou a visuali-zar-se nos média o enfronta-mento que o professorado degalego de ensino nom regra-do para adultos que promovea Secretaria Geral de PolíticaLingüística (SXPL) mantémcom a Administraçom. Paraentendermo-nos melhor foidenominado como 'o conflitolaboral dos Celgas', ainda queem realidade, o problema émuito maior. A SXPL, ademaisdos cursos de preparaçompara apresentar-se às provasdos níveis Celga, organizacursos de linguagens especí-ficas (administrativa e jurídi-ca), cursos em linha (Celga elinguagen específicas) e deextensom cultural no estran-geiro. A própria Secretariatambém organiza anualmenteas provas que dam acessoaos certificados de língua ga-lega, para as quais tem quepreparar exames e contarcom pessoas especialistaspara a avaliaçom. Outros tra-balhos pontuais dentro destesistema som a criaçom demateriais didáticos (tanto empapel como em linha) ou a for-maçom do professorado edas pessoas avaliadoras.

Pois bem, para levar a cabo todosestes trabalhos, à Administra-çom nunca se lhe ocorreu contra-tar ninguém. Decidiu chamar 'co-laborador@s' @s traballador@s,e assim evitar assegurá-l@s e do-tá-l@s de direitos laborais. A Ins-peçom de Trabalho, depois dadenúncia interposta por parte dedous valentes companheiros, re-solveu que entre o professoradoe a Junta existe unha clara rela-çom laboral. A acta de Inspeçomprovocou que a Seguridade So-cial reconhecesse de ofício aoprofessorado os períodos traba-lhados durante os últimos cincoanos, polos que a Conselhariadeverá abonar 200.000 euros emconceito de cotizaçons e multas(só na província da Corunha e sópolos cursos Celga). Ademais, apartir deste momento, o profes-sorado deve ser contratado, como fim de evitar posteriores multasmais elevadas.

Perante esta situaçom, a SXPL

decidiu tomar retaliaçons contrao professorado de sempre e a par-tir deste ano prescindirá dele. Asoluçom foi chamar professoradode secundária em ativo e ofere-cer-lhe os cursos como trabalhopara realizar em horas extras. Sebem é certo que a maioria do pro-fessorado de secundária rejeitouesta oferta por considerá-la aber-rante e por nom querer interferirnum conflito laboral que nom iacom el@s, a SXPL botou mao depessoas de confiança e de pessoaldo seu próprio gabinete para darestes cursos.

A questom económicaEvidentemente a Junta recorreu aacta de Inspeçom de Trabalho eespera-se que recorra todas as de-cisons que os órgaos administra-tivos e judiciais ditaminem. Afinalde contas, disponhem dos recur-sos de tod@s (assessorias jurídi-cas) e nom lhes importa malgas-tar o dinheiro da cidadania.

No caso de que o julgado dea arazom ao professorado, a SXPLterá que somar às despesas judi-ciárias, as cotizaçons e as multaspor todos os trabalhos que se ve-nhem realizando desde o seu de-partamento. Se só os Celga minis-trados na província da Corunhaatingem os 200.000 €, imaginema quantidade final, tendo em con-ta as outras três províncias, oscursos no estrangeiro e todas asmodalidades formativas (lingua-gens específicas, em linha, etc).

Antes de que o professorado

decidisse denunciar a sua situa-çom, houvo várias tentativas parachegar a acordos no referido aosistema Celga, sobre o que se de-tetavam enormes carências, entreas quais se encontrava a questomlaboral. A Assembleia do profes-sorado assumiu como próprio umtexto redigido pola Coordinadorade Trabalhador@s pola Normali-zaçom Lingüística (CTNL) con-sensuado entre mais de 120 pes-soas. Nele di-se que, como míni-mo, haja contrataçom e, comomáximo, que se crie um corpo es-pecializado de formador@s deadultos de por volta de 30 pes-soas. As duas propostas sairiam àAdministraçom mais baratas doque se está a investir na atualida-de e ademais botam por terra um-ha teoria que mantém a SXPL, ade que o professorado dos Celgaquere entrar a trabalhar na Admi-nistraçom pola porta de atrás, jáque som mais de 100 professor@s@s que já assinárom o manifestoda Assembleia.

A questom laboralPor que agora, se há 30 anos quese está produzindo a situaçom ir-regular do professorado? É a per-gunta que muit@s se poderiam fa-

zer se nom conhecessem a idiosin-crásia deste coletivo. É certo queem anteriores ocasons se preten-dérom mudar cousas. Diferentesgeraçons de professor@s manti-vérom assembleias e denunciá-rom publicamente a situaçom,mas sempre houvo sérios proble-mas para coordenar-se e agir comeficácia (inexistência de um regu-lamento legal estável, diversidadena tipologia do professorado, me-do às represálias, etc).

Foi a má gestom desenvolvidasobretodo nos últimos anos o quecomeçou a alertar umha grandeparte do professorado. Nas duasúltimas convocatórias dos cursosCelga reduzírom-se consideravel-mente as retribuiçons do profes-sorado, algo que também passoucom as avaliaçons. Também se co-meçou a habilitar outros profissio-nais para desenvolver o seu traba-lho (professorado das Escolas deIdiomas e Técnic@s de Normali-zaçom Lingüística). Ademaisanualmente se reduzia o númerode cursos que a SXPL organizava.O professorado, ao carecer de di-reitos laborais, tivo que acatar es-tas decisons sem poder abrir a bo-ca. O caminho estava claro, que-riam desfazer-se dum coletivo quecomeçava a molestar.

O actual secretário geral de polí-tica lingüística, Valentín García, foisempre ciente da precariedade la-boral em que trabalhárom durantetanto tempo companheir@s seusde profissom. Estes cursos de for-maçom fôrom e continuam a ser

chaves para achegar à cidadaniaumha visom positiva e atrativa dogalego. É triste e muito grave aotempo, que nom apostasse em re-conhecer o labor de profissionaisda língua que nalguns casos levamtrinta anos trabalhando para Polí-tica Lingüística. Imaginam quantotempo poderia levar cotizado al-gum destes trabalhador@s? Tinhaumha oportunidade de ouro parademonstrar que era um verdadeironormalizador lingüístico e desa-proveitou-a.

Em definitiva, este é um dosmaiores ataques que sofrêrom osprofissionais da normalizaçom lin-güística deste país, por isso, da As-sembleia do professorado pedimosa demissom de Valentín García.Também se pedirá que se manifes-tem nesta mesma linha institui-çons, organismos, associaçonsetc., que tenham algum interessena normalizaçom da língua galega.

O obscurantismoUmha das estratégias que sempreutilizou a SXPL foi a de aprovei-tar-se do obscurantismo para dare quitar ao seu antolho e assimprovocar a divisom entre @s co-laborador@s. Desde a Assem-bleia do professorado sempre sepediu que a SXPL figesse públi-cos todos as convocatórias para arealizaçom de trabalhos. Nuncatal se fijo e continua sem se fazer.E a única responsável é a Admi-nistraçom. Há que buscar a formade que alguém tenha que dar con-tas de como se gasta o dinheirod@s contribuintes. Igual que sepedia publicidade para as convo-catórias do professorado castiga-do, pedirémo-la agora para os doprofessorado em ativo de secun-dária e do pessoal do próprio ga-binete da Conselharia de Educa-çom. Alguém, depois, terá que in-vestigar sobre se essa forma derepartir esse muito dinheiro detod@s é legal.

David Cobas é membro da

Assembleia do professorado da SXPL

18 em anÁlise Novas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2014

inspeçom de trabalho reconheceu que entre junta e professorado existe umha relaçom laboralem anÁlise

umha das estratégiasda sXpl foi

o obscurantismo

Celga, precariedade como normaadministraçom classificou como 'colaboradoras' as Pessoas trabalhadoras Para nom reconhecer direitos

É um ataque contraos profissionais da

normalizaçom da língua

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19a denÚnciaNovas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2014

DANIEL SANTINI / A tentativa da za-ra de anular na Justiça os autosde infração da fiscalização que re-sultou na libertação de 15 traba-lhadores em condições análogasàs de escravos em 2011 fracassouna primeira instância. O juiz Al-varo Emanuel de Oliveira Simões,da 3ª Vara do Trabalho de SãoPaulo, negou na sexta-feira, dia11, recurso da empresa nesse sen-tido e cassou a liminar que impe-dia a inserção no cadastro de em-pregadores flagrados mantido pe-lo Ministério do Trabalho e Em-prego e pela Secretaria de Direi-tos Humanos, a chamada “listasuja” da escravidão.

Em sua decisão, o magistradoafirma que, como defendido pelaAdvocacia-Geral da União, a em-presa tem sim responsabilidadedireta pela situação constatada,critica a tentativa da zara de ca-racterizar os costureiros resgata-dos como empregados da empre-sa intermediária Aha e classificaa maneira como a terceirizaçãodos trabalhadores foi registradacomo “fraude escancarada”.

“A decisão é bem fundamentadae certamente configurará um divi-sor de águas na discussão sobre aresponsabilidade jurídica por con-dições de trabalho em cadeias pro-dutivas”, afirma Renato Bignami,coordenador do programa de Er-radicação do Trabalho Escravo daSuperintendência Regional doTrabalho, que ressaltou a impor-tância de o relatório de fiscaliza-ção reunir documentos e provasdetalhando a situação. “O juiz levaem consideração todos os argu-mentos apontados pelos auditoresna sua decisão”, ressalta.

Da Espanha, Raúl Estradera,porta-voz da zara, afirmou à Re-pórter Brasil que a empresa vai re-correr da sentença. “É mais um

passo em um processo judicial quevai ser longo. Com todo respeito àdecisão, entendemos que não fo-ram considerados nossos argu-mentos e que não tivemos oportu-nidade de nos defender de formaadequada”, afirma, insistindo que aresponsabilidade é da empresa in-termediária. “Foi essa empresa querealmente cometeu as irregularida-des, e obteve o lucro com isso. Elesque deveriam estar sendo punidos.Nós temos tomado ações de res-ponsabilidade social, inclusive co-laborando com entidades públicase do terceiro setor em um esforçopara melhorar as condições de tra-balho não só nas nossas cadeiasprodutivas, mas no Brasil em geral”.

Subordinação camufladaApesar dos argumentos e da ten-tativa de transferir a culpa para aintermediária, para a Justiça doTrabalho não restam dúvidas deque a responsabilidade é da zara.A sentença aponta que a Aha foicontratada para minimizar custose burlar a legislação trabalhista.“A fraude da intermediação é es-cancarada, pois, na verdade, hou-ve prestação em favor da vindi-cante com pessoalidade, nãoeventualidade, remuneração e su-bordinação econômica”, diz a de-cisão, que ressalta que “a subor-dinação, embora camuflada sob aaparência de terceirização, era di-reta aos desígnios da comerciantedas confecções”. O texto destacaainda “que a fiscalização verifi-cou, outrossim, que as oficinas

onde foram encontrados traba-lhadores em condição análoga àde escravidão labutavam exclusi-vamente na fabricação de produ-tos da zara, atendendo a critériose especificações apresentados pe-la empresa, recebendo seu escas-so salário de repasse oriundo,também exclusivamente, ou qua-se exclusivamente, da zara”.

O argumento de que a zara nãotinha conhecimento da situação aque os trabalhadores estavam sub-metidos também é refutado na de-cisão. “A Aha não tinha porte paraservir de grande fornecedora, edisto ela [a zara] estava perfeita-mente ciente, pois, realizando au-ditorias sistemáticas, sabia do ex-tenso downsizing realizado, com onúmero de costureiras da Ahacaindo mais de 80%, ao tempo emque a produção destinada à zaracrescia”, diz a sentença. “A zara

Brasil Ltda. é uma das maiores cor-porações do globo em seu ramo denegócio, custando crer, reitere-se,que tivesse controles tão frouxosda conduta de seus fornecedores,mostrando-se muito mais palatá-vel a versão defendida pela fiscali-zação, de que, na realidade, con-trolava-os ao ponto de deter a po-sição de empregadora".

Na sentença, o juiz também cri-tica o fato de a empresa alegar, aotentar negar a responsabilidadepor trabalho escravo, que temcontribuído com o poder públicoe com ações sociais, chamando aatenção para o fato de o Termo deAjustamento de Conduta firmadojunto com o Ministério Público doTrabalho ter sido assinado mesesapós o resgate. “A celebração deTAC com o Ministério Público doTrabalho, embora louvável, foiposterior à autuação, não impli-cando, logicamente, nenhuma in-fluência no resultado da lide, pornão convalidar situação pretéri-ta”, diz o texto, destacando que oinvestimento em ações sociais es-tava diretamente relacionado àpreocupação em recuperação damarca. “Chega a ser insólito, de

outra banda, o longo discurso der-redor de conduta da entidade ca-pitalista, igualmente posterior àlavratura dos Autos e igualmentedesinfluente para o deslinde destacontenda, no sentido de prática deações de certa repercussão social,cujo objetivo primordial foi, semdúvida, a recuperação da imagemda marca, imensamente desgasta-da pela repercussão dos resulta-dos da fiscalização na mídia".

“Lista suja”Na sentença, o juiz reforça aindaa importância do cadastro de em-pregadores flagrados, a “lista su-ja”, e reafirma sua legitimidade.Ele escreve: “Diversos dispositi-vos legais fornecem o alicerce pa-ra a edição da Portaria nº 2, de 12de maio de 2011 [que rege o ca-dastro], merecendo destaque aprópria Constituição da Repúbli-ca, que erige em princípios fun-damentais o valor social do traba-lho e a dignidade da pessoa hu-mana, e consagra, desde seupreâmbulo, o direito à liberdade,e todos esses princípios estariamsendo vilipendiados se acatada atese da postulante”.

No recurso que foi rejeitado nasexta-feira, a zara questionava aprópria existência da “lista suja”,posicionamento extremo que le-vou a empresa a ser suspensa doacordo empresarial contra a es-cravidão, o Pacto Nacional pelaErradicação do Trabalho Escravo.

NOTA BENE

Esta reportagem foi publicada original-

mente no portal Repórter Brasil

(www.reporterbrasil.org.br) baixo licen-

ça Creative Commons 2.0. NOVAS DA GA-

LIzA, publicaçom que acredita na livre

circulaçom da informaçom, realizou

umha mínima adaptaçom do texto para

esta versom em papel.

empresa diz que irá recorrer e insiste em culpar intermediáriaa denÚncia

refutou-se que a zara nom conhecesse

a situação laboral

Brasil condena Zara por escravidãoem sentença, juiz afirma que houve na terceirização “fraude Patente” e que subordinação é clara

a aha foi contratadapara burlar a

legislação trabalhista

Oficina onde peças eram fabricadas tinha condições degradantes / BIANCA Pyl

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20 tribuna Novas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2014

numha sociedade da honra o capital simbólico gera-se em oposiçãoàs condições que permitem a acumulação de capital económicotribuna

CARLOS C. VARELA / Idealmente, po-der-se-iam classificar os diferen-tes modos de dominação numcontinuum que iria entre dois pó-los: o duma dominação mais ‘ob-jetiva’, em base ao capital econó-mico; e uma outra mais ‘subjeti-va’, em base ao capital simbólico.A primeira é anónima, e mobiliza-da através do impessoal dinheiro;a segunda, pessoal, própria daseconomias da honra e das depen-dências pessoais fortemente ritua-lizadas. Há que ter em conta, comBourdieu, “a instabilidade essen-cial do capital simbólico que, aoestar fundado sobre a reputação,a opinião, a representação (…) po-de ser destruído pela suspeita, acrítica, e revela-se particularmen-te difícil de transmitir, de objeti-var, pouco líquido, etcétera. Narealidade, a ‘potência’ particulardo capital económico poderiaobedecer ao facto de que permiteuma (…) gestão racional”1. Isto é,o capital económico proporcionauma base mais sólida e estável àdominação, em tanto que anóni-ma, extendível mais além das re-lações pessoais, fácil de gerir, her-dável. Numa sociedade da econo-mia da honra, porém, uma pessoaque atinja certo poder através doprestígio, não disporá de muitosnem muito bons recursos paraperpetuar o poder na sua descen-dência, estabilizando uma estrati-ficação social. O capital simbólicoque esta pessoa foi acumulandoao longo da sua vida, dissolver-se-

à com ele. Ainda, como o capitalsimbólico costuma gerar-se emoposição às condições que permi-tem a acumulação de capital eco-nómico (isto é, castiga-se a avarí-cia, a previsão, o aforro, o calcu-lismo, etc.), qualquer projeto indi-vidual de acumulação e cresci-mento económico será fortementesancionado pela comunidade.Neste tipo de sociedades, em oca-siões muito igualitaristas, desen-volver-se-am amplos repertóriosde técnicas coletivas de veto àacumulação, que respondem aotabu calculista. Entre os caçado-res-recoletores ¡kung sam, porexemplo, quando caçam umagrande peça esta pertence ao pro-prietário da primeira flecha que omatou, mas devido aos contínuosintercâmbios recíprocos de fle-chas entre os caçadores, é habi-tual que o caçador e o proprietárionão sejam a mesma pessoa2. Oprovérbio árabe diz que “para po-der descarregar um carregamentode haivá o mais importante é terrecipientes onde guardar o hai-vá”; a demolição coletiva dessescontentores também impossibilitao crescimento da desigualdade.

Também a própria materialida-de do capital económico, do seu su-porte, é um fator importante na ho-ra de encetar uma acumulação ori-ginária e passar a um modo de do-minação ‘económico’. A antropo-logia ecológica e neoevolucionistatem assinalado como os primeirosproto-estados, que cimentavam a

sua acumulação em tubérculos enão em cereais, e portanto num ca-pital com data de caducidade, fo-ram incapazes de despregaremgrandes redes de dominação eco-nómica e remataram desaparecen-do: os tubérculos há que comê-losaginha, e portanto os chefes ape-nas podiam realizar festas de re-distribuição ritual, para transfor-marem os alimentos em capitalsimbólico. No caso europeu, o pro-jeto da modernidade capitalista, demão do desenvolvimento dos exér-citos imperialistas, acelerou a pas-sagem a um modo de dominaçãoeconómica cada vez mais raciona-lizado. O sustento de exército -co-mo depois a industrialização- foisuportado pelo campesinado e asua despossessão, ao que se lhe foi

impondo o monocultivo de alimen-tos de longa conservação, apro-priados ao exército: vinho, azeite, esobretudo, cereal. Incrementava-se, por outro lado, a dependênciado mercado entre o campesinado.Félix Rodrigo Mora dá conta desteprocesso de cerealização e mone-tarização no franquismo, cuja di-mensão selvagemente moderniza-dora costuma ser esquecida3. A co-bertura ideológica do processovem, entre outros, do inteletual or-gânico Ramiro de Maeztu, que ela-bora todo um misticismo do di-nheiro: “cantemos al oro, el oro“vil” irá haciendo la otra España!”(Hacia otra España, 1899); ou “porel dinero y la acción se levantaráEspaña” (El sentido reverencial del

dinero, 1957). Em 1937, em plenaguerra civil, os golpistas criam aSociedad Nacional del Trigo, queobrigava os labregos a vender-lhe -aqueles que não foram expropria-dos- todo o cereal ao nascente es-tado fascista, aos preços que estefixava. Seguiu-se a esta medidauma forçada bancarização do agroe uma hipertrofia do crédito -atra-vés do Banco del Crédito Agrícola-para, entre o pau e a cenoura, ir en-ganchando o rural à cadeia do pro-dução do valor e à dominação anó-nima do Capital. Se em 1939 a mas-

sa monetária era de 6.000 milhõesde pesetas, em 1950 multiplicava-se já até 31.600. Os incentivos àmaquinarização, principalmenteatravés da compra de tratores, foium dos métodos mais emblemáti-cos desta imersão camponesa noscírculos do crédito4.

Com esta breve introdução ape-nas queria dar passagem às pala-vras dum chefe tribal das IlhasTonga, que explica muito melhortudo o anteriormente apontado. Tale como recolhe William Marinerem An Account of the Tongan Is-

lands in the South Pacific Ocean

(1827), quando um branco tentouconvencer o dito chefe sobre as vir-tudes do dinheiro, recebeu a se-guinte explicação:

“Se estivesse feito de ferro e pu-desse transformar-se em facas,machetes e escopos, teria certosentido atribuir-lhe valor; mas tal ecomo é não lhe vejo nenhum. (…)Com certeza, o dinheiro é muitomais manejável e mais cómodo,mas como não se estraga guardan-do-o, a gente atesoura-o em lugarde reparti-lo, como um chefe deveter feito, e assim torna-se egoísta;enquanto que se as provisões fos-sem a principal propriedade do ho-mem, como teria que ser, posto quesão mais úteis e necessárias, nãoas armazenaria porque se lhe es-tragariam, e assim ver-se-ia força-do a intercambiá-las por algumacoisa útil ou a compartilhá-las comos seus vizinhos, chefes inferioresou subordinados, gratuitamente.Agora compreendo que o que faztão egoístas os papalánguis (os eu-ropeus) é o dinheiro”.

NOtAS1. P. Bourdieu. Cosas dichas, Barcelo-

na, Gedisa, 1988, p. 113

2. R. Lee, The! Kung san, Cambridge,

C.U.P., 1979, p. 247

3. F. Rodrigo Mora, Naturaleza, rurali-

dad y civilización, Madrid, Brulot, 2008

4. Alguns exemplos sobre este processo

recolhe-os J. Varela (A Ulfe. Socioloxía

dunha comunidade rural galega, Santia-

go de Compostela, Sotelo Blanco, 2004,

pp. 192 a 205) com o valor de estarem

narrados pelas suas protagonistas.

caPital económico e dominação

Acumulação, cerealização, monetarização

a modernidadecapitalista acelerou a

passagem a ummodo de dominaçãoeconómica cada vez

mais racionalizado

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21mediaNovas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2014

notas de rodaPé

Odebate sobre a credibilidade da in-formaçom, tam popular e carregado

de paixom, nom é notícia. Os media mi-lionários nom falam dele.

Professam a informaçom e a propa-ganda, vivem com agonia a diária

perda de paróquia e de publicidade,mais preferem botar as culpas à revolu-çom informática.

Parecem ignorar o movimento de re-forma dos media, crescente nos paí-

ses do G-8, dirigido a acabar com o do-mínio absoluto das fontes oficiais e dasgrandes empresas sobre a informaçom ea eliminar a censura da Internet.

Odomínio da versom da oficialidadesobre os factos na Marcha do 22-M,

pode servir de amostra. Os meios com-prárom a explicaçom do Ministério doInterior de que o caos fora sementado po-la Resistência Galega.

Orelato recordava a lápida dos tre-zentos legionários romanos mortos

nas maos de dous Gauleses desalmados,que dim que existiu.

Nengum dos compradores da fabulo-sa versom reservara umha migalha

de distanciamento para o previsível casode o Governo retificar, como assim suce-deu. O Fiscal General desmarcou-se dainterpretaçom e deixou os grandes áugu-res dos meios de destruiçom massiva col-gados da brocha.

Ainformaçom nom perde clientes porculpa da Internet, senom por saldar

o seu critério. Há meios que decidíronfiar dos comunicados do Ministério doInterior e disseminar que a ResistênciaGalega "buscava causar um massacre".

Barbalhoadas que suportam atuaçonsjudiciais de excepçom, inquéritos

policiais de estado de sítio, sentenças in-justas. Ou como repete um contertúlioda RTVG com aspiraçom à nomeaçomde delegado interior: "Las fuerzas del or-den tienen la exclusiva de la violencia".

Estranhas formas de edificar a infor-maçom e convivência do século XXI:

combatem os consumidores da informa-çom pero mas ham de acabar com os fa-bricantes das notícias.

Os meios entregam a sua credibilidadeaos comunicadosque envia Interior

media

WINSTON SMITH / A criminalizaçom do pro-testo começou muito antes de que umhasó pedra voasse polo ar. Dous dias antes damanifestaçom, o presidente de Madrid, Ig-nacio González, comparava as Marchas daDignidade com os neonazistas gregos daAlba Dourada. O mesmo dia 22, antes dosdistúrbios, os porta-vozes do PP continuá-rom preparando a opiniom pública para oque estava por acontecer. “Hoje a esquerdaradical manifesta-se na rua”, dizia o mes-mo González em clara contradiçom comas suas anteriores declaraçons. “Há infil-trados radicais e violentos”, assegurava adelegada do Governo Cristina Cifuentes. E as prediçons do PP cumprírom-se. Umbocadinho antes dos telejornais da noite, aviolência enchia as ruas de Madrid deixan-do dezenas de manifestantes feridos e 22pessoas detidas (três delas menores). Queos corpos de segurança carreguem contraa gente nas manifestaçons nom é nengum-ha novidade. Infelizmente, a violência poli-cial está já tam normalizada que nem sainos titulares. O que sim saiu do guiom ha-bitual no 22M foi o saldo de baixas entreas duas partes enfrentadas: houvo 67 polí-cias feridos enquanto só 34 manifestantesrecorrêrom aos serviços de urgências – te-ma aparte som aqueles cidadaos que nomdenunciam as agressons nem recorremaos serviços de saúde por medo a seremnovamente reprimidos -.

Esta nova situaçom favorável aos mani-festantes no “marcador de feridos” coincidecom umha mudança substancial das or-dens dadas de cima aos polícias: nom em-pregar (em princípio) material antidistúr-bios e aguantar em vez de investir. Os pró-prios agentes queixárom-se de que os seussuperiores os impedírom de mandar “re-forços” às zonas de conflito. Determinaraté que ponto foi buscada esta situaçom deforma premeditada polo Ministério do Inte-rior para depois justificar políticas repres-sivas seria cair num exercício puramenteespeculativo. Seja como for, a ideia que seconseguiu transmitir à opiniom pública foique a polícia é umha vítima desamparadaante os “violentos” e que, portanto, é preci-so dotá-los de “maior capacidade de atua-

çom”; isto é, sem eufemismos, mais impu-nidade e mais poder para reprimir.

Nos dias seguintes, com o interesse pú-blico ativado, “fontes policiais” e meios decomunicaçom começárom a apontar como dedo para os “violentos”: “Según la poli-

cía una escisión de Resistencia Galega li-

deró la violencia callejera”. Assim abria aveda a Cadena SER. É mais, a citada cis-som contaria com cerca de 250 militantesdeslocados para Madrid, segundo a mes-ma Brigada de Informaçom. Pouco depois,o digital conservador elconfidencial.com

(que elevava o número de ativistas da RGpara 600) identificava o “novo sindicatoCUT” como o braço legal da suposta orga-nizaçom armada, remetendo-se novamen-te para fontes policiais. Nada importa parao digital que este sindicato seja umha or-ganizaçom legal com representantes pu-blicamente conhecidos quando o que im-porta é aplicar o “todo é ETA” na Galiza.

A falta de provas e as suas evidentes con-tradiçons internas figêrom que o discursoartelhado entre polícia e meios fosse alvode muitas brincadeiras nas redes sociais.

Os segmentos sociais mais politicamenteconscientes tirárom da retranca para des-montar o relato oficial. Tenha-se em conta,porém, que umha grande parte da popula-çom vive (des)informada unicamente po-los meios de comunicaçom convencionais,esses que fam e alto-falante da polícia e doGoverno. Gente em que, aos poucos, podeir vingando a estratégia criminalizadorados atores sociais ou mesmo das ideologiasque podam resultar incómodas ao poder.

É neste caldo de cultura que o diretor-geral da Polícia, Ignacio Cosidó, aproveitapara sair à palestra a defender a eufemisti-camente denominada Lei de Segurança Ci-dadá já que, segundo ele, “um dos seus ob-jetivos é ter mais capacidade para luitarcontra os violentos”. Esta aposta no textooriginal da rebatizada como Lei Mordaçachega justo depois de o Conselho Geral doPoder Judicial se pronunciar sobre a in-constitucionalidade de vários dos seus ar-tigos. O ministro de Interior e Ana Botellatambém aproveitárom os sucessos do 22Mpara se pronunciar a favor de “limitar o di-reito a manifestaçom”, isto é, retirar as ma-nifestaçons dos centros urbanos e que nomincomodem demasiado.

Semanas mais tarde, já em abril, peque-nos titulares interiores dos jornais davamconta de que “A Fiscalia descarta que nosdistúrbios do 22M estivesse a ResistênciaGalega” (La Voz de Galicia). Os mesmosjornais que deram por certo que a supostaorganizaçom liderara os confrontos emMadrid passárom a negá-lo. Estes meiosnom necessitam explicar a alteraçom decritério quando podem simplesmente re-meter-se para as bem-queridas fontes ofi-ciais e assim aforrarem trabalho. Seja co-mo for, pouco importava a essas alturas: aintoxicaçom informativa já estava feita.Com o medo instalado na opiniom pública,é mais fácil que propostas repressivas co-mo as de Interior ou a própria Polícia seinstalem entre a sociedade. E claro, se al-gum dia há que reprimir aqueles que foremassinalados como “violentos”, algumhagente já os terá condenado sem necessida-de de cometerem delito nengum. “Estes jálevavam tempo saindo no jornal”.

marchas da diGnidade

Preparando a audiência para a repressom políticaNom é doado fazer um comentário crítico sobre a mani-pulaçom informativa que envolveu o 22M sem cair cons-tantemente em obviedades. A fórmula empregada foi ba-sicamente a resumida nesta mesma seçom do NOVAS DA

GALIZA 134: a Polícia Nacional filtra umha informaçom eos meios de comunicaçom convencionais fam de alto-fa-lante. Citam a fonte para lavar as maos, mas nom con-trastam a veracidade dos dados nem os ponhem emquestom em nengum momento. Entretanto, com os titu-

lares ainda inflamados polo perigo terrorista, o ministrodo Interior saiu à palestra a dizer que “cumpre limitar odireito de manifestaçom” e o diretor-geral da Polícia apro-veitou para fazer umha defesa da contestada Lei Morda-ça, já que um dos seus objetivos, precisamente, é “termais capacidade para luitar contra os violentos”. Outrostemas fôrom substituindo o 22M nos jornais, mas no ima-ginário coletivo fica a ideia de que é necessário dar maispoder à polícia para manter a “desejada” paz social.

vendeu-se a ideia da políciacomo vítima desamparada

ante os ‘violentos’

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22 cultura Novas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2014

cultura há quem poda pensar que o carimbo editorial da agal só tirado prelo obras sobre língua e reintegracionismo; e estaria errado

através, livros que saltam fronteirasos tÍtulos GaleGos luitam Por terem um esPaço nas Prateleiras de PortuGal

“Alguém dirá que a fronteira mi-

nhota já é um abismo insuperável,

e nós dizemos que os homens não

criam impossíveis nem contravêm

definitivamente os desígnios da

natureza. [...] Qualquer dia rui a

engenharia política e os Portugue-

ses e Galegos voltamos a falar e

cantar no mesmo idioma”...

Sempre em Galiza

Alfonso Daniel R. Castelao

RAUL RIOS / Este extrato do Sem-

pre em Galiza está tirado da edi-çom publicada por Através Edi-tora em 2010. Nom foi até essemomento que pudemos ler a cé-lebre obra de Castelao no pa-drom internacional do galego,mais de meio século depois dasua primeira ediçom. E pudemoslê-la a ambas as beiras do Minho,como o nosso rianjeiro quereria.Até a chegada da Através, nin-guém se preocupara por difundireste texto no país irmao, apesarde Portugal ser umha persona-gem principal do livro.

Produzir títulos comuns para omercado galego e português éprecisamente um dos objetivosfundacionais da Através –carimboeditorial, cumpre lembrar, depen-dente da Associaçom Galega daLíngua (AGAL)-. E unificar leito-res dos dous países tem um outroobjetivo implícito: que os galegosse aproximem ao padrom interna-cional da nossa língua e vejamque som capazes de ler sem difi-culdades, “que se animem a dar opasso”, em palavras de XemmaFernández, umha das responsá-veis da editora.

Desde aquela simbólica publi-caçom inaugural do Sempre em

Galiza, o catálogo de Através foialargando-se até somar já 34 títu-los. Quem nom a conheça dema-siado, pode imaginar que a editorada AGAL só tira do prelo livros so-bre língua e reintegracionismo,mas estaria errado. O carimbo edi-torial conta com quatro coleçonse apenas umha delas, Através daLíngua, está dedicada a esta temá-tica. De facto, e contra todo pre-conceito, a coleçom com mais su-cesso da editora é Através das Le-tras, que entre novelas e poemá-rios reúne já quinze títulos. Umdeles, Eu violei o lobo feroz de Te-resa Moure, é o mais vendido da

história da Através.A ampliaçom progressiva de gé-

neros e temáticas responde a essavontade de chegar a um públicoamplo e nom necessariamentereintegracionista, “gente filo ougente que nunca ouvira falar dotema”, explica Xemma. “Acho queé mui importante que um leitorqualquer veja um título atrativo,leia um parágrafo e olhe que estáescrito num padrom que nom é oseu, mas ao ser um livro do seu in-teresse, permite-lhe achegar-se ecomprovar que nom lhe implicaesforço nengum”.

Medrar em tempos de criseQue a cultura é umha das princi-pais vítimas da crise económicaé umha realidade sobradamenteconhecida. O mundo editorial ga-lego é dos setores que mais estáa sofrer a penosa situaçom eco-nómica. Recentemente fazia-se

público o dado de que em 2013só se publicárom 739 livros emgalego, cerca da metade que noano anterior (1.322), consolidan-do umha tendência à baixa ini-ciada em 2008 (ano em que saí-rom ao mercado mais de 2.000 tí-tulos na nossa língua).

Aguentar o tirom nom é fácil,mas Através fai-no com umhascifras nada depreciáveis paraumha pequena editora indepen-dente e que aliás emprega, cum-pre dizê-lo, umha norma do gale-go ainda proscrita na Galiza. Astiragens mais pequenas podemser de douscentos exemplares;mas dos livros dos que se esperaumha melhor resposta por partedo público podem-se chegar aimprimir até mil cópias.

E apesar do recrudescimentoda crise, longe de resignar-se àresistência, Através decidiu subira aposta em 2014. O novo desafio

é publicar, quanto menos, um no-vo título cada mês. A tarefa nomparece nada fácil, se temos emconta que Através funciona únicae exclusivamente graças ao tra-balho voluntário das pessoas quefam parte do projeto. Da seleçomde originais para publicar, até odesenho das capas, passando po-la correçom ortográfica e estilís-tica; todo o trabalho é feito demaneira militante.

Porém, Através joga a ganhar.Entre os títulos em andamentoque vam sair nos próximos mesesestám a adaptaçom ao galego deGalicia, a sentimental nation, deHelena Miguélez-Carballeira,Shakespeare para ignorantes, deQuico Cadaval, o Livro sobre o Dia

da Toalha, coordenado por SusoSanmartín ou O pequeno é gran-

de. A agricultura familiar como al-

ternativa. O caso galego, de XoánCarlos Carreira e Emilio Carral

Vilariño. Som apenas uns exem-plos, mas, como se vê, há livrospara todos os gostos.

Através de PortugalÉ difícil chegar ao grande públicoportuguês, sim, e mais para umhapequena editora; mas nengumhadas cousas boas da vida é fácil àpartida. Sem necessidade de en-trar em números exatos, Xemmaexplica que a principal dificuldadepara abrir fenda na fronteira min-hota está no elo da distribuiçom.“Os livros que movemos som pou-cos e a distribuidora nom sabemui bem onde colocá-los”.

Com a intençom declarada depenetrar o mercado luso, a editoratenta publicar quanto menos umtítulo ao ano que resulte atrativoem Portugal. Neste senso, os acer-tos da Através começárom a darfrutos. Estes livros especialmentepensados para os portugueses jáfôrom solicitados por grandes su-perfícies como FNAC, e também épossível encontrá-los em várias li-vrarias ou pedi-los naquelas quenom os tenham. Os leitores maisinteressados vam abrindo-lhe ca-minho aos novos públicos.

E quais som os títulos com maissucesso em Portugal? Quem estiverfamiliarizado com o catálogo daAtravés certeza que pode imaginá-lo. Parecia não pisar o chão. Treze

ensaios sobre as vidas de Fernando

Pessoa, do polifacético Carlos Tai-bo, é até o momento o maior trunfoda editora em terras lusas. Masnom é o único. O crânio de Caste-

lao, o romance policial escrito demaneira conjunta por vários auto-res de países lusófonos –incluídos,obviamente, Galiza e Portugal-, es-tá a ser o segundo livro mais de-mandado. E é possível que, no mo-mento de ler estas linhas, algumleitor também esteja a lembrar o úl-timo ensaio do historiador DionísioPereira, Emigrantes, exilados e per-

seguidos. A comunidade portugue-

sa na Galiza (1890-1940). Com efei-to, é outro dos títulos melhor acol-hidos a sul do rio Minho.

E assim, aos poucos, graças aotrabalho desinteressado de muitaspessoas, Através vai furando a fron-teira (também mental) e situando-nos cada vez mais perto desse cená-rio imaginado por Castelao ondeportugueses e galegos voltamos afalar e a cantar no mesmo idioma.

"se um leitor vê umtítulo atrativo e lê umparágrafo, vai ver que

está escrito num padrom que nom é o

seu, mas vai comprovarque nom lhe supom

esforço nengum”

Na festa da Através, celebrada em março em Compostela, TeresaMoure apresentou o seu último livro, Politicamente Incorreta

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23culturaNovas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2014

Play-Doc 2014: explorando comunidadesIVÁN G. AMBRUÑEIRAS / Com aconcessom do prémio principal àgalega Costa da morte, de Lois Pa-tiño, finalizava a décima ediçomdo Play-Doc, o Festival Internacio-nal de Documentários de Tui. Um-ha ediçom que mostrou umhagrande coerência na seleçom dosfilmes, pois nom consistia numhasimples seleçom de filmes signifi-cativos do ano, mas numha explo-raçom das maneiras (do filme et-nográfico mais clássico até assuas formas mais experimentais,passando polos cruzamentos coma ficçom) em que um determinadocinema recente se ocupa da repre-sentaçom de comunidades maisou menos fechadas. De modo que,dum filme a outro apareciam ecose se criavam perguntas que o es-pectador tinha que considerar.

Nom em van, as pessoas do júriressaltavam de Costa da morte acapacidade para “desenvolverumha proposta onde o rigor for-mal se reúne com a capacidadeda apresentar um retrato vivodum lugar e dumha comunida-de”, ressaltando esse eixo temáti-co que aparecia como central nofestival. Assim, dous filmes quepartiam dumha temática similar,como a argentina Ricardo Bär

(Gerardo Neumman e Nele Woh-latz) ou a norte-americana Stopthe pounding heart (Roberto Mi-nervini, mençom especial do jú-ri), apareciam totalmente dife-renciadas nas suas escolhas for-mais. A última desenvolve umhaforte aposta estética que escondeumha certa facilidade no retrato,enquanto a primeira, menos im-

pactante no formal, elabora um-ha aproximaçom mais reflexiva,que se pergunta em todo momen-to polos problemas derivadosdumha achega a um grupo huma-no completamente diferente aoqual um pertence, conseguindoumha olhada mais profunda econflituosa sobre o real.

Mas os dous filmes mais radi-

cais na sua proposta dentro daseçom oficial fôrom Manakama-

na (Stephanie Spray e Pacho Vé-lez) e Anak araw (Gym Lumbe-ra). O primeiro está centradonumha viagem em teleférico an-tes e depois da visita a um templonepalês através de 11 longos pla-nos que ponhem em valor o tem-po da espera (esses momentos

que normalmente ficam fora decampo) e que brincam com a pre-sença de diferentes tipos de pe-regrinos para surpreender o es-pectador. O segundo filme era re-velado como a proposta mais ex-cêntrica da programaçom, umfilme filipino onde a reconstru-çom da história através de arqui-vos reais e falsos e o choque en-tre a imagem e um som delibera-damente artificial configuramum conjunto lúdico e surpreen-dente, umha aposta que definepara bem um festival.

Umha interessante retrospec-tiva de Nicolás Pereda, cineastaque, a partir da ficçom, aproxi-ma-se a determinadas estéticasdocumentais para realizar filmescomplexos que deitam umha ol-hada oblíqua sobre a sociedademexicana contemporánea, e oresgate dalguns grandes títulosda cinematografia portuguesarecente com motivo da apresen-taçom do livro coletivo Jugar con

la memoria. El cine portugués en

el siglo XXI acabavam de formarum festival com umha fórmulacada vez mais consolidada, e quejá é um encontro indiscutível pa-ra as pessoas interessadas no ci-nema do real e as suas variantes.

centros sociais

aguilhoarO Forno · Ginzo de Límia

arredistaRodas, 25 · Compostela

cs almuinhaRosalia de Castro, 46 · Marim

artábriaTrav. Batalhons · Ferrol

aturujoPrincipal · Boiro

bou evaTerço de Fora · Vigo

a casa da estaciónPonte d’Eume

casa do sarCurros Enríquez · Compostela

cso casa do ventoFigueirinhas · Compostela

cso a Kasa negraPerdigom · Ourense

ls do coletivo terraBoa Vista · Ponte d´Eume

a cova dos ratosRomil · Vigo

distrito 09Coia · Vigo

ateneu libertário a engranaxeRio Sil · Lugo

faíscaCalvário · Vigo

fervesteiroAdám e Eva · Ferrol

o frescoBº da Ponte · Ponte Areias

o fuscalhoFrente à Atalaia · Guarda

a GhavillaPonte da Raínha · Compostela

Gomes GaiosoMonte Alto · Corunha

liceo muranteRosalia de Castro · Ponte Vedra

cs lume!Rouxinol nº16 · Vigo

mádia levaSerra de Ancares · Lugo

cso PalaveaPalaveia · Corunha

cs en PéZona velha · Ponte Vedra

o PichelSta. Clara · Compostela

a reviraGonz. Gallas · Ponte Vedra

a revolta do berbésRua Real · Vigo

a revolta de trasancosA Faísca · Narom

sem um camRua do Vilar, 9 · Ourense

a tiradouraReboredo · Cangas

cs vagalumeR. das Nóreas, 5 · Lugo

cs XebraLeandro Curcuny · Burela

cso XuntasRua do Carme · Vigo

cs a zalenváR. Carris, Valençá · Barbadás

entrelinhas ‘conversas com isaac alonso estraviz’ de bernardo Penabade

RAUL RIOS / Quando me inteirei dapublicaçom das Conversas comIsaac Alonso Estraviz de BernardoPenabade (Através Editora, 2013)pensei que ia ser o típico livro queacabaria lendo ao cabo dum par deanos. Há muitos livros interessan-tes circulando e um estabeleceumha hierarquia de prioridades naqual umha extensa entrevista comum lexicógrafo nom costuma apa-recer no cimo –quando menos,quando um próprio nom é filólogonem nada polo estilo, por muitoreintegrata que eu seja. Foi atravésda recomendaçom do meu colegaMiguel Rodríguez (reintegrata en-coberto) que peguei no livro.“Nom pode ser que este tipo tam

interessante nom seja nada conhe-cido nada neste país!”, dixo-me.

Essa é precisamente a intençomdeclarada de Bernardo Penabadeao publicar as suas conversas, quea figura de Estraviz –incluído oseu perfil humano e profissional-deixe de ser privativa daqueles cír-culos que tivérom relacionamentocom ele. Assim, apresenta-se-nosa vida dum polifacético Isaac que,para além de filólogo, também foicriança, clérigo, trabalhador so-cial, ativista cultural ou mestre.

Nom se trata só das penúriasque se viu obrigado a passar paraelaborar e editar o dicionário queleva o seu nome ou da história dacriaçom da Associaçom Galega da

Língua. Trata-se da vida dum ra-paz de Vila Seca (1935, Límia) defamília labrega que ingressou no

mosteiro de Usseira como únicavia posível de acesso aos estudos.Um jovem que se rebelaria contraa hierarquia religiosa e sofreriaum longo desterro, o que nuncalhe impediria deixar o seu com-promisso com a língua e com opaís. Um homem que, muitas ve-zes na precariedade, soubo com-binar a sua própria formaçom aca-démica e profissional com o tra-balho social, o ensino ou a dina-mizaçom cultural; multiplicandoas horas do dia e deixando um ex-tenso legado para o país.

A ediçom destas conversas vaiacompanhada por um rico arqui-vo fotográfico que ilustra as pas-sagens vitais desta biografia a

duas vozes; mas acham-se em fal-ta algumhas notas de rodapé paracontextualizar certos aspetos dosque fala o entrevistado, nomeada-mente da nossa história linguísti-ca, para melhorar a compreensomdos que ainda nom nascêramosnaquela época.

Vivemos rodeados de muitaspessoas que som autêntica históriaviva e às vezes, como no caso doEstraviz, som uns desconhecidosmesmo para os que partilhamosideias e espaços comuns. Apesarde nunca coincidir fisicamente como Isaac, agora tenho a sensaçom deter partilhado várias cervejas e ho-ras de conversa com ele. Quem lero livro, entenderá-me melhor.

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24 desPortos Novas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2014

d desP

orto

smÁXima iGualdade na liGa Gallaecia

O Clube Emevé Lugo feminino atingiu agesta de subir à máxima categoria dovoleibol com umha equipa amadoramuito jovem. A aposta na canteira é cla-ve para a entidade, que para a próximatemporada vai contar com a equipamasculina e feminina na Superliga.

o emevé luGo ascende À suPerliGa estatal

A competiçom mixta enfrenta o finalcom Suevia líder com 9 pontos, enquantoAmbílokwoi tem 8 e Torques 7, ambas asequipas com um jogo menos disputado.Afiadoras e Cascarilha estám a melhorartambém a técnica, com o que nom deixade crescer a qualidade do campeonato.

No ano 1916 celebram-se na Co-runha os chamados “Jogos Olímpi-cos”. O nome era o que se atribuíaa todas as reunions atléticas daépoca em todo o Estado. Eram fei-tos como imitaçom dos verdadei-ros Jogos Olímpicos. Na Corunhafôrom disputados com a presença,pola primeira vez, de atletas de di-ferentes partes da Galiza (Corun-ha, Vigo, Ferrol), além da equipaalemá, que estava assentada emVigo, e dumha equipa de Madrid.A FGA de atletismo considera queé o primeiro Campeonato da Gali-za de atletismo, mas naqueles tem-pos nom o consideravam como tal;apesar de que é certo que houvomuita presença de atletas, rondan-do os 80 participantes. O lugar decelebraçom foi o Campo de Mone-los. Estes fôrom os resultados des-sa primeira ediçom. Esta competi-çom repetiu-se vários anos mais.

Em 1917 produziu-se outro fa-to destacável: Sárria organizaumha prova pedestre. Possivel-mente a primeira realizada num-ha vila galega, sem contar asgrandes cidades.

Nestes anos produz-se o desen-volvimento e expansom do atletis-mo e no ano 1918 produz-se a pri-meira reuniom atlética em Ouren-

se, organizada polo “GimnásticoDeportivo F.C.” A competiçom tivoumha organizaçom excelente,contou com bons prémios em me-tálico, um diretor de prova que eraum técnico alemám e um progra-ma que incorporava muitas disci-plinas: 100, 200, 400, 1.000, 3.000,peso, disco, dardo, altura, longitu-de e vara. A participaçom foi am-pla com atletas chegados de Vigo,Corunha e Madrid. Esse mesmoano os “Jogos Olímpicos” da Co-runha tivérom lugar numha praçade touros com a assistência de todaa alta sociedade corunhesa. 

O cross chega à Galiza no ano1916. Tivo lugar em Vigo, organi-zado polo Real Vigo Sporting, sen-do considerado como o primeirocampeonato galego de cross. Em1917 as ladeiras do monte do Cas-tro, em Vigo, enchem-se de espec-tadores para ver o segundocross. Esta modalidade expande-se rapidamente e na Corunha, or-ganizado polo clube Oza, vam serrealizados três cross antes do ano1920. A fundaçom dum novo clubefai que Ourense tenha o seu pri-meiro cross no ano 1918 e em La-vadores, na altura Concelho inde-

pendente e agora pertencente a Vi-go, tivérom a sua competiçom decross no ano 1917. 

A estruturaçom do atletismo jáestava realizada, e de 1913 a 1920a mudança foi evidente. Em 1921foi realizado o primeiro campeo-nato estatal de atletismo na Gali-za. Foi no Campo de Coia. Osatletas de Euskadi dominárom ocampeonato, fundamentalmenteda mao de Muguerza e Izaguirre.O único atleta galego que venceufoi Guillermo Blachman, atleta deorigem alemá e que viveu toda avida na Galiza até a sua morte.

Era um futebolista, diretivo, árbi-tro, benfeitor da cidade...

Quanto à participaçom femininativemos que esperar até 1929,quando no Campo de Passarom,em Ponte Vedra lançárom MargotMoles e a sua irmá Lucinda Moles.A prova tem muita transcendênciahistórica já que foi a segunda, notempo, em todo o Estado. A primei-ra foi em Madrid, só uns meses an-tes, aliás, a prova pontevedresatambém destaca pola presença deMargot Moles, a melhor atleta es-panhola da primeira metade do sé-culo XX. Esta atleta foi medalhistaolímpica na Olimpíada Obreira deAmberes 1937. Foi bronze em lan-çamento de disco nesta competi-çom que surdiu como resposta aosJogos Olímpicos nazis de 1936 emBerlim e que servírom de propa-ganda hitleriana. Moles foi tam-bém a primeira desportista espan-hola em ser olímpica nuns JogosOlímpicos de inverno (1936) e tivoa melhor marca mundial de marte-lo, que seria recorde mundial, des-de 1932 até 1975. Foi unha atletamuito comprometida com a II Re-pública e isso levou a que o fran-quismo a perseguira; fuzilárom oseu homem, e eliminárom todos osseus logros desportivos. 

OVARAL-MEDIA / Em apoio às lín-guas e culturas indígenas indo-europeias sistematicamente de-preciadas no parlamentinho deBruxelas, pega no palám e #faite-daLNB … Aberto do Galo, occita-no, Aberto do Lacón de Meira, al-saciano, Copa Cantábrica Liriu-Bilharda, asturiano, Foucinho deOuro, friulano, Aberto do Urogalodos Ancares, galego, Aberto daProia de Cabanas, careliano,Cunca jíbara, corso, Aberto zo-

queiro do dia da Pátria, occitano,Aberto Txirikila-Bilharda de Pa-saia, euscaro, Aberto de Vilade-paus no Bierzo, sardo, Aberto daLanzada, cimbrio, Aberto dasFreces de Bretoña, gagauzo, Ca-sus Belit de Sants, catalá, Abertodo Río Umia, istro-rumano, Aber-to de Castrofeito, kashubo, Aber-to de Pontellas, Bretom, Abertodo Folk in Rio, Galês, Aberto dacachiza da Guarda, Verbo Xido,Aberto do Polvo de Lugo, Gaélico,

Aberto “torrijero” no Toxo Verdede Cádiz, Carelio, Bilharda AllStars, Córnico, Aberto do Lipi la-pe Marin, Aranês, Interparoquialdo año mouro ... e este 26 de abrilexplosiva xira furancheira eAberto do Jarro do Salnês na pis-ta das Angústias de Gil (Meanho)onde o desporto nacional e o vin-ho do país se fundem num selva-gem abraço- Contra o genocídioeuropeu, Bilharda e línguas pró-prias sempre!!

As origens do atletismo na Galiza (II)

Frente esta nova farsa eleitoral, pega no palám e parte as urnas!

ÓSCAR FERNÁNDEZ / Continua o percurso polos fitos fundacionais do atletismona Galiza, que no anterior número já se achegou à prática das exibiçons de 'an-darins' do século XIX, a correrem contra cavalos, velocípedos ou quem se atre-ver a os reptar. E a irrupçom das competiçons polidesportivas para 'sportmen'

com a chegada do século passado, que em poucos anos evoluiriam para as pri-meiras reunions atléticas em Vigo na década de 1910. Nessa década vai conti-nuar a instalaçom do interesse polo atletismo com os encontros na Corunhaem que arranca esta segunda parte do artigo.

Primeira reuniom atlética em Vigo (1913)

foto: Prekmurski Pandolaši (Slovenia)

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25desPortosNovas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2014

Haverá quem diga que este objeti-vo é impossível, mas os fatos de-mostram o contrário. Atualmentejá há até 21 desportos que conse-guírom o reconhecimento interna-cional, e onde as e os desportistascatalás tenhem o direito de com-petir a nível internacional de ma-neira oficial. Entre outros despor-tes, o futebol de salom, o hóquei apatins, o biketrial, o korfbal, opitch & putt, o bowling, as carrei-ras de montanha ou os dardos jásom membros de pleno direito dasfederaçons internacionais.

A Plataforma e o trabalho quefai contam com o apoio da maio-ria da populaçom catalá, como odemostra a recolhida de assina-turas promovida pola nossa enti-dade, que se fijo no ano 1999 pa-ra modificar a Lei do Desportono Parlamento de Catalunha. Na-quela altura conseguírom-se521.249 assinaturas de apoio áIniciativa Legislativa Popularque tinha o objetivo de oficializaro reconhecimento internacionaldas federaçons catalás. Nos diasde hoje, o trabalho da Plataformacontinua neste sentido para con-seguir novos reconhecimentosinternacionais lá onde existirumha fenda jurídica.

Além disso, também somosconscientes de que só há um modode fazer realidade que Catalunhapoda participar oficialmente emtodos os desportos majoritárioscomo o futebol, o basquetebol ouo atletismo: lograr a independên-cia política da Catalunha e consti-tuir-nos num novo Estado recon-hecido pola comunidade interna-cional. Será nesse momento, como reconhecimento da comunidadeinternacional da Catalunha comoum novo Estado, quando as fede-raçons desportivas catalás, de to-dos os desportos, passem a sermembros das federaçons interna-

cionais e o Comité Olímpico Cata-lám seja reconhecido polo COI.Automaticamente, as seleçons ca-talás poderám participar nos cam-peonatos da Europa e do mundodefendendo Catalunha e podere-mos participar nos Jogos Olímpi-cos baixo a bandeira catalá.

Mas este reconhecimento inter-nacional nom é o único benefícioque vai obter o desporto catalámcom a independência. As e os des-

portistas vam ter muitas maisoportunidades de serem interna-cionais e olímpicos, o que vai im-plicar um melhor nível de promo-çom pessoal para eles e elas.Aliás, também vam ter mais facili-dades para se converterem emprofissionais e para terem maio-res ajudas e subvençons públicase privadas, dada a repercussompública que vam ter.

No referente aos clubes despor-

tivos, estes vam ter maiores opor-tunidades para conseguirem va-gas europeias nas competiçons in-ternacionais. Embora se manten-ha a celebraçom dos grandes clás-sicos de sempre, com a rivalidadee a atraçom que isso implica parao público, também serám poten-ciados outros novos, fruto dumhanova realidade competitiva.

Também vai haver benefíciospara os siareiros e seguidores, que

vam poder desfrutar dum maiornível desportivo com jogos inter-nacionais e umha revalorizaçomdas ligas nacionais catalás, que te-rám maior nível e serám muitomais atraentes para o público.

O país e a sua imagem exteriortambém vam tirar proveito da in-dependência através do desporto.Vai haver um maior reconheci-mento internacional da Catalun-ha, fruto do rendimento da partici-paçom desportiva internacional edos seus possíveis sucessos. Tam-bém vam aumentar as relaçons di-retas com altos organismos des-portivos que, por sua vez, vam fa-cilitar a entrada em organismospolíticos, económicos e sociais.

A economia catalá também severá beneficiada pola indepen-dência. Será maior o patrocínioe as inversons estrangeiras naCatalunha, tanto no ámbito dodesporto como noutros setores,e vam ser criados postos de tra-balho diretos no ámbito despor-tivo, mas também indiretos nossetores vinculados e nos setoresque se beneficiem da melhorado reconhecimento internacio-nal de Catalunha.

Aliás, também vai aumentar onúmero de turistas que visitemo país, tanto polo maior eco deCatalunha como polo cresci-mento no número de eventos in-ternacionais em todos os des-portos e categorias.

Sem dúvida, estes som algunsexemplos dos benefícios que vaiter para a economia catalá o fatode Catalunha ser um Estado in-dependente e de que os diversosestamentos do desporto catalámsejam reconhecidos internacio-nalmente.

Sergi Blázquez é vice-presidente

da Plataforma ProSeleccions Es-

portives Catalanes

O nadador galego Óscar Pereiro proclamou-se por quar-ta temporada consecutiva campeom da Liga Universitá-ria dos Estados Unidos de América. Fijo-o nadando acostas na prova das 100 jardas (91´44 metros), parandoo cronómetro num tempo de 47:37. Pereiro logrou nosEUA os patrocínios que nom conseguiu na Galiza e oseu sonho é poder ser profissional da nataçom.

Pereiro Ganhou o seu quarto tÍtulo em eua

A boxeadora de Arteijo Marta Brañas, após conquistar o seuterceiro título de campeoa estatal, viajou até Dublim paracompetir no Torneio Internacional de Irlanda, que ganhoucom autoridade na categoria de menos 51kg. Aproveitando oseu excelente momento de forma, a galega tentará classificar-se para o europeu e o mundial deste ano, com a vista posta jános Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro.

brañas venceu no torneio internacional de irlanda

Que benefícios vai trazer a independênciapara a realidade do desporto catalám?SERGI BLÁZQUEZ / A Plataforma ProSeleccions Esportives Catalanes é umha as-sociaçom privada, sem fins lucrativos, que nasceu o dia 5 de maio do 1998 comum objetivo muito claro: conseguir o reconhecimento internacional das sele-çons catalás e a sua participaçom em todas as competiçons internacionais.

Desde a Plataforma ProSeleccions Esportives Catalanes nom só acreditamosneste direito senom que trabalhamos apoiando as federaçons catalás para quedia a dia aumente o número de desportos onde as nossas selecçons sejam re-conhecidas oficialmente polos organismos internacionais.

Plataforma catalÁ luita Polo reconhecimento das suas seleçons desPortivas

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26 temPos livres Novas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2014

temPos livres

“vivemos num contexto cultural que valoriza a dor e penaliza o prazer”

criança natural

Que é a terapia de reencontro?É um enfoque criado por FinaSanz a partir do seu trabalho comopsicoterapeuta, sexóloga e peda-goga. É um enfoque com perspec-tiva de género que concebe a pes-soa de modo holístico e trabalha aintegraçom das suas múltiplas di-mensons. Chama-se assim porquetrabalha a partir da perspectiva do“reencontro”: de cada pessoa con-sigo mesma, do reencontro entremulheres e homens a partir dumhacompreensom vivencial da cisomde género, do reencontro com a te-rra... um reencontro para umhasrelaçons de bom trato e de paz.

Que tem isso a ver com a maternidade?Tem muito a ver com a materni-dade e com qualquer das facetasda nossa vida. No fundo, a Terapiade Reencontro proporciona umespaço para o autoconhecimento,dá ferramentas para umha vidaconectada com o corpo, para um-ha vida saudável, vivida a partirdo bom trato e do prazer.

Falas de prazer, mas normal-mente a maternidade está maisrelacionada com o sacrifício doque com o prazer, por que pen-sas que acontece isso?Com efeito, como também com ou-tros vínculos que vivemos (o de ca-sal, o de amizade...), mas este emmaior medida, porque é um víncu-lo que o patriarcado idealizou paraas mulheres como umha das suasmáximas realizaçons vitais e comosustento da família tradicional, ba-se do sistema patriarcal.

Na nossa tradiçom cultural vive-mos o amor associado ao sacrifícioou à dor porque estamos imersasna tradiçom cultural judeu-cristáque, por outro lado, pouco tem a vercom a mensagem cristá originária.

No vínculo mae/crianças (e tam-bém nos demais vínculos amoro-

sos) dizemos: “quem bem te quervai-te fazer chorar”, “há que aguen-tar”, etc. Relacionamos a intensida-de do amor com a intensidade dador e parece que tem que haver so-frimento para ser amor de verdade.Vivemos num contexto cultural quevaloriza a dor e penaliza o prazer! Ogozo e o bem-estar obtidos sem pa-gar um preço produzem-nos medo.Há medo ao prazer, associamos oprazer ao pecado, ao sujo, ao des-agradável, ao imoral. E sempre,dum modo ou doutro, aparece a cul-pa, o castigo ou o auto-castigo asso-ciados ao prazer que vivemos.

A maternidade é umha atalaiaprivilegiada para nos dar contado central dos cuidados nas co-munidades humanas, achas quehoje é possível o cuidado? A maternidade pode colocar asmulheres que a vivem num lugarprivilegiado para fazer caminhode autoconhecimento. Mas de-pende do processo de cada mul-her, porque a maternidade tam-bém pode ser um processo de ne-gaçom dumha mesma, de anula-çom e esquecimento de si, um dei-xar-nos colocar no rol tradicionalde mae e esposa, umha ocasiompara demitir das nossas responsa-

bilidades públicas e de participa-çom social. Há muita idealizaçompor volta da maternidade.

Mas também pode ser um lugarespecialíssimo onde redescobrir opróprio corpo. Um lugar magníficopara reconectar com o prazer: como prazer de parir, com o prazer dedar vida, com o prazer de aleitar,com o prazer de criar. Um lugar deempoderamento, para descobrir rit-mos esquecidos e mui primários eprimeiros. Um lugar para nos dar-mos conta, como tu mesma apon-tas, da necessária centralidade doscuidados para umha vida feliz. To-do isso que as mulheres aprende-mos secularmente e com que reco-nectamos através da maternidade,precisamos traduzi-lo para a lin-guagem política: dizer a partir danossa experiência que a sociedadeprecisa colocar no centro do seufuncionamento o cuidado da vida,o cuidado dos nossos seres maisfrágeis (entendam-se crianças, pes-soas dependentes, pessoas empo-brecidas etc.). Umha aprendizagemque também podemos fazer a partirdoutras experiências vitais, nomea-damente experiências vitais de fra-gilidade que nos toca viver em oca-sions (enfermar, ficar no desempre-go, perder um ser querido...).

Como podemos cuidar e deixar-nos cuidar numha sociedade tam violenta?Precisamos cair na conta da vio-lência em que vivemos. Precisa-mos cair na conta do maltrato quepadecemos e do que também exer-cemos sobre os seres vivos: sobreas crianças, sobre a gente que te-mos ao redor, sobre os animais, so-bre as plantas ou sobre a terra.

Quando éramos meninas vive-mos opressom por parte da genteadulta e agora repetimos e repro-duzimos esse adultismo. Desdenovas estamos colocadas num di-namismo de maltrato e cair naconta é o primeiro passo parasairmos dele.

Depois precisamos entrar nodinamismo do bom trato, que éum dinamismo de cuidar e dei-xar-me cuidar. É introduzirmo-nos no dinamismo de cuidar, eisso há de começar polo cuidarde nós próprias. E aí, as mul-heres temos umha dificuldadeespecial: estamos educadaspara atender e cuidar doutrose gera-nos muita angústia eculpabilidade cuidar de nóspróprias, pedir cuidados emesmo deixar-nos cuidar.

Cuidar é um prazer que os ho-

mens precisam descobrir, masnós precisamos descobrir e per-mitir-nos o prazer de deixar-noscuidar. Caminhar para umha so-ciedade do cuidado mútuo.

Que conclusons tiras deste workshop?Que há mulheres que procuramviver a sua maternidade de formanova, que nom querem viver emconflito umha e outra identidadee que tampouco permitem que aidentidade materna anule ou dei-xe em segundo lugar a identidadede serem mulheres. Que é precisoque a sociedade ofereça mecanis-mos para assegurar a presençanecessária das maes com as suascrianças nesses primeiros anos defusom íntima. Que cuidar com es-mero das nossas crianças é pre-missa para umha sociedade ver-dadeiramente saudável, e que asociedade teria que reconheceressa tarefa coma um serviço bási-co, pô-lo em valor e remunerá-lo.Que há mulheres associando-seao redor da vivência da sua ma-ternidade. E que também há paisquestionando-se o seu papel ao la-do dessas mulheres, ao lado des-sas crianças. Muitas cousas espe-rançosas, de futuro.

OLALHA BARRO / Tareixa Ledo Regal é escritora e ativista, muito ligada aosindicalismo agrário. Leva tempo a dinamizar workshops com mulheres,como o realizado no Minho baixo com o título "Por umha maternidade

saudável e prazenteira para mim e para a minha criança". A associaçomAleitar e Criar, da comarca das Marinhas, organizou a atividade que deupé a esta entrevista com Ledo Regal.

tareiXa ledo reGal é escritora e dinamizadora de worKshoPs com mulheres

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Page 27: ProPosta de reforma fiscal Manual para ajudar os pobres ricos · Os mais de 4.000 presos e presas da guerrilha naxalita mostram a magnitude do conflito político presente na Índia

27temPos livresNovas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2014

que fazer

18.04.2014 / GRUPO DE ES-TUDOS / 21:00 no Ateneu Li-bertário A Engranaxe (RuaRio Sil). LUGOCeia e debate sobre saúdemental. Organiza Mádia Leva.

19.04.2014 / I GAFEST / 22:00na Fundaçom Artábria (Tra-vessa de Batalhons, 7 - Es-teiro). FERROLAtuam Dirty Brothers, Screa-mers&Sinners e Los Galerna.

22.04.2014 / MERCADO EN-TRE LUSCO E FUSCO / 17:00no parque de Belvis. COMPOSTELAFeira de produtos locais, bioló-gicos e de comércio justo. To-das as terças-feiras.

22.04.2014 / APRESENTA-ÇOM DE FÓRA DE PORTAS,DE ROI VIDAL PONTE / 20:30na Livraria Andel (Avenidadas Camélias, 102). VIGOCom a participaçom de AfonsoBecerra Arrojo.

23.04.2014 / PROJEÇOM DEPM, DE SABÁ CABRERA IN-FANTE E ORLANDO JIMÉ-NEZ LEAL, COFFEA ARÁBI-GA, DE NICOLÁS GUILLÉNLANDRIÁN, POR PRIMEIRAVEZ, DE OCTAVIO CORTÁ-ZAR, E KUNG FU, DE TAMPI-CO / 21:30 no C.S. O Pichel(Rua Santa Clara, 21). COMPOSTELAOrganiza o Cineclube de Com-postela. VO.

24.04.2014 / APRESENTA-ÇOM DO GUIA PARA O DES-CENSO ENERXÉTICO / 20:00na As. Alexandre Bóveda(Rua Olmos, 16). CORUNHAEditado pola a As. Véspera deNada por unha Galiza sen pe-tróleo. Intervenhem Begoña deBernardo e Maria J. Castelo.

25.04.2014 / FESTA DA REVO-LUÇOM DOS CRAVOS / 21:00no C.S. Mádia Leva (Rua Se-rra dos Ancares, 18). LUGOCom ceia solidária.

25.04.2014 / CEIA ‘FESTE-JANDO O 25 DE ABRIL’ /22:00 na Fundaçom Artábria(Travessa de Batalhons, 7 -Esteiro). FERROL

26.04.2014 / JORNADAS DEURBANISMO E PARTICIPA-ÇOM: VIGO A DEBATE / 16:30no C.S. Bou Eva (Rua Terzode Fóra, 11). VIGOPrograma completo e horáriosdefinitivos em http://acboue-va.blogaliza.org/.

26.04.2014 / CONCERTO DEOVOS PODRES / 22:30 naFundaçom Artábria (Travessade Batalhons, 7 - Esteiro).FERROL

26 e 27.04.2014 / III FESTA DA

SEMENTEIRA / 15:00 em Ma-tamá. VIGOO sábado começa com Olimpí-adas do Campo e concertos eno domingo há feira, jantar po-pular, atuaçons e a sementeira.

27.04.2014 / ROTEIRO “AU-GAS DOURADAS” POR MON-TEFURADO (QUIROGA) /09:00 fronte a Faculdade deFormaçom do Professorado(Avenidade de Ramón Ferrei-ro). LUGOOrganiza Adega-Lugo.

27.04.2014 / OBRADOIRO DECONSTRUÇOM DE PANDEI-RO / 10:00 no C.S. Mádia Le-va (Rua Serra dos Ancares,18). LUGOCom Xosé Maceda, de Quem-

pallou. Cada pessoa pode levar,ao remate, o seu pandeiro.

29.04.2014 / CELSO CONTACONTOS NA GENTALHA /17:30 no C.S. O Pichel (RuaSanta Clara, 21). COMPOSTELAContadas de Celso F. Sanmar-tín todas as últimas terças-fei-ras de mês.

29.04.2014 / APRESENTA-ÇOM DO GUIA PARA O DES-CENSO ENERXÉTICO / 20:00na Livraria Andel (Avenidadas Camélias, 102). VIGOEditado pola a As. Véspera deNada por unha Galiza sen pe-tróleo. Fala Xoán R. Doldán.

30.04.2014 / INTRODUÇOM

AO CINEMA EXPERIMENTAL.PARTE I (1942-1977) / 21:30no C.S. O Pichel (Rua SantaClara, 21). COMPOSTELAOrganiza o Cineclube de Com-postela. VO e VOSG.

02.05.2014 / MASA CRÍTICA /20:00 na Praça de Maria Pita.CORUNHATodas as primeiras sextas-fei-ras de cada mês, evento ciclistade participaçom aberta.

03.05.2014 / VII FESTA TREZECATORZE / Toda a jornada notorreiro de Santa Maria. SALZEDA DE CASELASAtuam Muyayo Rif, Os Cuchu-fellos e Sutta Enki Dub. Maisinformaçom em trezecatorze-ando.blogspot.com.

03.05.2014 / CONCERTO DESKARMENTO, ÚLTIMA SACU-DIDA E NOBODY FOOLS /22:30 na Fundaçom Artábria(Travessa de Batalhons, 7 -Esteiro). FERROL

07.05.2014 / OBRADOIRO DEREPARAÇOM DE BICICLE-TAS / 20:00 no C.S. Mádia Le-va (Rua Serra dos Ancares,18). LUGOTodas as primeiras quartas-fei-ras de mês. Organiza a MasaCrítica de Lugo.

09.05.2014 / BAILE ASSALTO/ 21:00 no C.S. O Pichel (RuaSanta Clara, 21). COMPOSTELAAmenizado polos mestres econvidados da Escola Livre daMPG. Às 19:00 vai haver cursointrodutório ao baile.

09.05.2014 / “VENRESPIRI-ÑO” / 20:00 / VENRESPIRAR /22:30 no bar A Efémera(Frente o Auditório Munici-pal). OURENSECiclo participativo de música edança tradicional organizadopolas associaçons Gomes Mou-ro e Algaravía.

09 e 10.05.2014 / FREIXOROCK 2014 / 22:00 no torrei-ro (Freixo). VIGOConcertos de Avelino Gonzá-lez, R.I.F., Fe de Ratas, Tiro naTesta, Fanfarria Taquikardia,Skandalo Gz ou Falperrys.

10.05.2014 / XVIII JORNADASINDEPENDENTISTAS GALE-GAS / 11:00 no C.S. O Pichel(Rua Santa Clara, 21). COMPOSTELACentradas na figura de Lenine.Organiza Primeira Linha. Maisinformaçom na sua páginaweb: http://primeiralinha.org/.

10.05.2014 / RUADA EM CA-BALEIROS / 21:30 na Ponte-pedra (Cabaleiros). TORDOIA

10 e 11.05.2014 / SEMENTEI-RA É MÚSICA / 20:00 naQuinta Sam Brais de Pinhei-ro (Corzáns). SALVATERRADE MINHOConcertos na sexta-feira e jor-nada de sementeira, jantar, 'IOlimpíadas Agrícolas' e atua-çons de tarde no domingo.Também há encontro cavalar.

16.05.2014 / APRESENTA-ÇOM DO GUIA PARA O DES-CENSO ENERXÉTICO / 20:00no C.S. Sopa de Pedra (RuaA Guarda, 7). CANGASEditado pola a As. Véspera deNada por unha Galiza sen pe-tróleo. Intervém Xoán R. Dol-dán.

reflexons a prol da revoluçom na XXXisemana galega de filosofia de ponte vedraa semana galega de filosofia che-ga à sua XXXi ediçom debatendosobre ‘filosofia e revoluçom’. rea-liza-se do dia 21 ao 25 de abril noteatro principal de ponte vedra(rua de paio gómez charinho, 6).as palestras estám divididas emtrês eixos temáticos. de manhá,de 10:30 a 13:30, estám dedica-das às ‘reflexons filosóficas a prol

da revoluçom’, e intervenhem osprofessores terry eagleton, dome-nico losurdo, gérard mauger, va-leriano Bozal e raúl fornet.de tarde (em horário de 17:00 a19:30) vai-se falar sobre ‘as facesda revoluçom na galiza’. vam in-tervir alba nogueira, Xosé veiras,ana iglesias, Bautista Álvarez emaría ruído.

nas sessons de noite (20:00 a22:00) o debate será ‘pode dar-sea revoluçom hoje?’. respondemsantiago alba, Otelo saraiva decarvalho, aurelio fabião ginja,frank mintz e farruco sesto.O programa completo está no siteda aula castelao de filosofia, queorganiza as jornadas: http://aula-

castelao.com/.

memória portugal-galizaginzo de límia acolhe em abrilas i jornadas de memória ‘por-tugal-galiza: emigrantes e per-seguidos’, que organizam agal,pró-aglp e as. de montanha ‘ar-nau’ nos dias 25 e 26.começam com umha mesa re-donda de apresentaçom na casa

da cultura com camilo de dios,dionísio pereira, miro martínezcerredelo e alex rodríguez. nodia seguinte há um roteiro àedreira com camilo de dios (ins-criçom no 677 757 983) e,ànoite, o concerto de terra mo-rena no c.s. aguilhoar.

arteu e factoría delideas orga-nizam, os dias 3 e 4 de maio,a ‘1ª concentraçom foteira’ devedra. será na Área recreativade agronovo, na ribeira do ul-ha, onde será possível fazercampismo. está pensada tantopara profisionais como paraamadores e artistas. a ideia éfotografar a zona do concelhode vedra e organizar umha ex-posiçom no museu da vila nomês de setembro. informaçomem http://arteu.blogaliza.org.

encontrofoteiro emvedra

3 e 4 de maio

do 21 ao 25 de abril

jornadas na lÍmia

ENVIA CONVOCATÓRIAS aocorreio [email protected] do dia 12 de cada mês.

Anuncia os teus atosno NOVAS DA GALIZA.

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Novas da Gali a apartado 39 (15701) cOmpOstela tel. 692 060 607 [email protected]

não há nação sem mapa,nem mapa sem antes fron-teira, nem as fronteiras po-

dem estabelecer-se sem previamen-te se marcarem em mitos acidentesgeográficos, falares, roupas, músi-cas e literaturas. não há mitos semhistória, nem história sem estórias.

as literaturas, essa arte que gre-gos teóricos e romanos mais práti-cos não tinham conceituada comotal, sabemos quando nascem; tãonovinhas elas como as línguaschanceleirescas de reis, entre finsdo medievo e o renascimento.

e sabemos quando as línguas sedotam de realidade a par da linguís-tica nessa competição entre a fran-ça solar e a germânia nascente epor que causas políticas. música,etnografia e artes decorativas,arrastadas com essa moda nacionalpassam de universais a terem qual-quer valor de identidade.

Os mapas têm mais longa e fabu-losa tradição, simbolismo decorati-vo e uso prático, mas variam muitoa respeito do ano de edição. nãosão cousas muito seguras quitandoem latitudes e longitudes desde queos portugueses se largaram ao marna procura de cereal e ouro.

da história podemos saber pou-co, pois da feira se conta em funçãode como nos vai nela; os episódiospassam geração em geração, até al-guém com peso e potência acadé-mica, as incorpora com estilo paramaior glória da igreja, da linhagemde um qualquer senhor conde, parajustificação de rei morto ou posto,ou para ligar ou desligar territóriosem estados.

um dos tópicos mais fascinantesda história da galiza é o submeti-mento à castela e a perda da galizacom a prisão do bom d. garcia(1042-1090). educado na terraseica pelo bispo de Íria, fortificadorde compostela e da costa, crescó-nio, conhecemos-lhe o triste fado,mui literatizado por causa do des-enlace das disputas com os irmãosnão conformes com a partilha doseu pai fernando i.

porém, e ainda tendo certo queé mais doado contar a favor do queum acredita para futuro e suspei-tando que tem mais verossimil-hança falsificar um testamentoque um rei parta em vida o seureino, uma cousa que me anda ul-timamente na cabeça é que segarcia era o último rei galego, osseus irmãos usurpadores de quenação viriam sendo? pois parecelógico pensar que tão galego eragarcia, coma os seus irmãos.

ernesto vasques souza

tão GaleGo era Garcia...

Qual é formaçom necessária pa-ra ser umha atriz de dobragem?O primeiro que deve ter umhapessoa que se vai dedicar a estaprofissom é umha competêncialinguística no idioma em que vaitrabalhar. Mas também é preci-so ter umha certa capacidade deinterpretaçom, pois a dobragemé interpretar a voz a partir doque fijo antes outra pessoa.Nom há que criar algo novo, háque ser o mais fiel possível à in-terpretaçom original.

Consideras que quem dobra parao galego contou sempre comcompetências apropriadas?Num princípio, quando se come-çou a dobrar na Galiza imitava-se muito a dobragem feita paracastelhano. Eram umha referên-cia porque havia bons preceden-tes e boas dobragens, mas tam-bém fôrom umha referênciaquanto à entonaçom, à fonéti-ca... e aí prejudicávamos o idio-ma. Num momento dado, nosanos 90, as pessoas que realiza-vam a supervisom linguística naTVG começárom a cuidar mais onosso idioma e o nosso modo defalar, a musicalidade, a fonéti-ca... Isso provocou que algumhagente deixasse de dobrar porquea sua fala nom era a correta. Al-guns continuam a dobrar em es-túdios que trabalham para tele-visons de fora e outros definiti-vamente deixárom-no.

E que papel tenhem as variedadesdialetais do galego na dobragem?Demorou-se muito em introdu-zir traços dialetais nas dobra-gens, ainda que pontualmentefossem utilizados em produçonspróprias como a série 'MareasVivas'. Nalgum momento achoque houvo algumha intençom decaracterizar socialmente algum-ha personagem através dalgumrasgo fonético, mas isso nomgostou, e penso que houvo or-dem de parar por parte da super-visom linguística da TVG. Te-mia-se que os rasgos fonéticospróprios dumha zona da Galizafossem aplicados numha produ-

çom alheia sendo associados aumha classe social concreta.Penso que aí houvo cuidado.

Quantas empresas há a trabal-har para a dobragem e como serelacionam com as televisons?Em Vigo há duas, umha que tra-balha para a TVG e outra para te-levisons de fora. Em Santiago hátambém dous estúdios e outrostrês na Corunha. As televisonsprocurárom sistemas diferentes.Num princípio adjudicavam tra-balho às empresas segundo o nú-mero de salas com que estas con-tassem. Noutro tempo figérom-se subastas. As empresas diziama que preço podiam fazer as do-bragens e a televisom depois ad-judicava o trabalho segundo ospreços dos estúdios. Agora as ad-judicaçons estám a ser feitas se-gundo a capacidade do estúdio,tendo também em conta a quali-dade do trabalho realizado.

Como som as condiçons labo-rais das pessoas que trabalhamna dobragem?Temos um convénio negociadopolos trabalhadores e os empre-sários que regula a relaçom labo-ral, mas acho que nom está a serrespeitado por todo o coletivo.Temos umhas tarifas por jornada

de trabalho concertada. O con-trato é verbal: a mim chamam-me do estúdio e dim-me: 'podesestar aqui a tal hora para fazer adobragem de tal filme?' As ses-sons som das 8h às 14h30 e das16h00 às 22h30, de seis horas emeia cada umha. Estas entramno que chamamos processo deconvocatória geral, essa convo-catória compromete-me a mim,umha vez que aceito por telefoneo trabalho, a estar ali essas seishoras e meia, e por esse compro-misso eu recebo umha quantida-de estabelecida. Aliás, hei cobrarpola minha participaçom em ca-da parte da produçom, ou 'take',que vem durando ao redor dumminuto. Isto também está estabe-lecido por convénio.

Que parte do vosso trabalho ocu-pa a dobragem de publicidade?Quando se começou a fazer pu-blicidade no estúdio onde trabal-ho, foi porque existia umha von-tade, porque polo que nos pa-gam... Também pensávamos quenom podíamos pedir mais, por-que se o figéssemos a publicida-de nom seria dobrada. Depoisconseguimos que os spots do-brados nom estivessem remune-rados por baixo dumha convo-catória de seis horas e meia. Foi

umha decisom nossa, pois prefe-rimos nom cobrar muito por estetrabalho. Nom sei se foi acertadoou nom, mas assim conseguimosque se figesse. Neste momento,se vês a TVG descobres que a pu-blicidade está quase toda emcastelhano. Nom há vontade degastar dinheiro aí e ninguémprotesta tampouco muito.

Muitas dobragens de séries con-tárom com umha mui boa acol-hida entre a populaçom. A quepensas que foi devido o sucesso?Acontece quando se consegueque umha série esteja bem adap-tada para o nosso idioma. Nomse trata só de traduzir ou de fazerumha interpretaçom correta, ofundamental e procurar as inten-çons próprias do nosso idioma eda nossa forma de ser. Somosumha comunidade que temos umidioma e temos muitas outrascousas em comum. Umha piadaque é muito engraçada no Cana-dá pode que aqui nom seja enten-dida. A dobragem tem êxitoquando se procura dar essa volta.Um destes casos foi a série deanimaçom 'Shin-Chan'. Pensoque, além de estar bem dobradae bem dirigida, houvo um trabal-ho de adaptaçom por parte datradutora que estivo mui logrado.

A. LOPES/ A dobragem no nosso país iniciou-se com a cria-çom de CRTVG na década de 80 e Lucía Cid entrou nestemundo quase de casualidade, acudindo a umhas provas deseleçom de vozes em Compostela. Embora os seus primei-ros trabalhos fossem realizados fora da Galiza, umha vez fô-rom abertos os estúdios de dobragem em Vigo, foi nesta ci-

dade onde centrou a sua vida laboral. Lucía, que tem postovoz a atrizes como Whoopi Goldberg, expom que nos estú-dios produzem-se cenas divertidas e numera várias anedo-tas, mas também assinala que fôrom precisas as mobiliza-çons para um convénio digno. Por outra parte, a entrevistadaquere aclarar que é usuária da normativa oficial do galego.

lucÍa cid cabido, atriz de dobraGem

“Na dobragem é fundamental buscar a nossa maneira de ser”

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