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PROPAGANDA E ESPAÇO GEOGRÁFICO
Dalva Zepperer de Ângelo1
Margarida Cássia de Campos2
RESUMO
Este trabalho é resultado de um projeto proposto pela Secretaria de Estado da Educação designado PDE - Programa de Desenvolvimento Educacional, o qual oportuniza um tempo de estudo científico a todos os professores do estado do Paraná que preencham alguns critérios criados por esta secretaria. O estudo que resultou neste artigo teve início no ano de 2012 com o projeto e a produção didático pedagógica, sendo que sua implementação deu-se no primeiro semestre do ano de 2013 com os alunos do Ensino Médio da escola CEEBJA–Londrina - Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos. A pesquisa tem como principais objetivos investigar a influência da mídia na valorização e consumo dos espaços urbanos, assim como diagnosticar o nível de conscientização dos alunos sobre essa realidade, a fim de contribuir para o desenvolvimento de um raciocínio geográfico crítico. Foram desenvolvidas atividades de leitura, análise de poesias e letra de músicas, observação de fotos, produção de texto e desenhos. Considerou-se também para o desenvolvimento da pesquisa, comentários e sugestões de quinze professores que participaram do GTR - grupo de trabalho em rede no ano de 2013, como forma de enriquecimento do trabalho.
Palavras - Chave: Consumismo. Espaço geográfico. Propaganda.
INTRODUÇÃO
Estudar o espaço geográfico significa desenvolver reflexões sobre as
contradições sociais presentes no sistema capitalista e que resultam nas diversas
manifestações socioespaciais. Sabe-se que o mundo capitalista é movido pelo
consumo e que o apelo ao consumo passa por todos os produtos, fazendo com que
tudo seja comercializado. Atônitas diante da diversidade de ofertas, as pessoas são
levadas pela propaganda a consumirem cada vez mais.
Nesse contexto, inicia-se uma competição e as empresas de marketing são
solicitadas com uma propaganda agressiva, mas que sempre oferecem algo
encantador para atrair os olhos do consumidor. Por esse motivo, a publicidade, na
sociedade de consumo, torna-se uma arte. A arte de convencer, de persuadir
(BAUMAN, 2008).
Este autor assinala que é característica do mundo moderno oferecer ao
consumidor uma gama de produtos, que o seduz e o enfeitiça, levando-o ao
1 Professora PDE
2 Professora Doutora em Geografia pela Universidade Estadual de Londrina
consumo, muitas vezes, desnecessário. Esse ato de comprar sem necessidade e
reflexão, faz com que os consumidores se tornem passivos, ou seja, adquiram tudo
que lhes é apresentado sem ao menos ponderar sua real necessidade. As
implicações que o aumento de consumo gera podem ser vistas como positivas e,
paradoxalmente, como negativas. Por um lado temos um mercado vivo, que precisa
cada vez mais de mão de obra qualificada para o trabalho. Isso é positivo, pois
ocorre um aumento de empregos, quanto maior o consumo maior deverá ser a
produção.
Por outro lado, as diferenças sociais ficam ainda mais acentuadas, as
oportunidades de trabalho para aqueles que não conseguem se qualificar são muito
pequenas, contribuindo para o alargamento do fosso social. Ainda se pode destacar
a alienação do indivíduo que, empolgado com as facilidades oferecidas pelo
comércio, consome de maneira desenfreada. Este é um fator que contribui para que
muitos acumulem dívidas. Bauman (2008) ainda pondera que as pessoas, ao
comprarem desenfreadamente, esquecem-se ou até mesmo desconhecem as reais
intenções do mercado que é lucrar a qualquer custo.
Nesse sentido, Baudrillard (2007, p. 24) enfatiza que “o que caracteriza a
sociedade de consumo é a universalidade do “fait divers” na comunicação de
massa”, ou seja, vivemos fora da realidade, dentro de uma vertigem de realidade, na
qual o lugar do consumo não é móvel, pois esse lugar é o próprio cotidiano.
Assim, a abordagem da temática sociedade de consumo passa pela
compreensão de que o consumo desenfreado é um mecanismo do consumismo,
pois um alimenta o outro. O consumismo precisa do exagero, da exaltação do
consumo, da supervalorização daquilo que é desnecessário e fetiche (BAUMAN,
2008).
Falar da sociedade de consumo é reconhecer que ela vai além de satisfazer a
aspiração de uma vida confortável, ela cria uma ansiedade de possuir, um desejo
desenfreado pelo ter e não pelo ser. O indivíduo não é valorizado pelo que é, e sim
pelo que possui de material, aquilo que o dinheiro pode comprar. Esta situação leva
ao desencantamento com o objeto alcançado, ou seja, as pessoas desejam algo,
mas quando obtém não dão valor.
Tudo se torna descartável, efêmero (Bauman, 2008) e tudo é comercializado,
desde roupas, sapatos, alimentos, até os espaços da cidade. Conforme destaca
Baudrillard (2007), o consumo é uma linguagem por meio da qual a sociedade atual
se comunica, tornando-se um sinônimo de felicidade de acordo com o poder de
compra de cada indivíduo. Por esse motivo, consumir não é somente adquirir
mercadorias, como também o valor que este objeto adquire proporcionando bem
estar e poder.
E é no sentido de compreender a dinâmica de como essas relações de
influência ocorrem no consumo do espaço urbano, que esta pesquisa estabelece os
seus objetivos. Assim, pode-se dizer que os principais objetivos da pesquisa são
investigar a valorização excessiva de determinados espaços urbanos na cidade de
Londrina em detrimento de outros e o nível de conscientização dos alunos como
sujeitos desse processo. A pesquisa visa também contribuir para a ampliação desse
nível de conscientização, a fim de que os alunos não sejam mais consumidores
passivos, mas sim, desenvolvam a capacidade de criticidade diante das diversas
opções de consumo.
Foi dentro deste contexto que a pesquisa se desenvolveu no primeiro
semestre do ano de 2013 com os alunos da escola CEEBJA - Londrina – Centro
Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos, do Ensino Médio e com idades
variando entre dezoito e vinte e cinco anos. Para tanto, foram desenvolvidas
atividades de leitura, análise de poesias e letra de músicas, observação de fotos,
produção de texto e desenhos.
Tal pesquisa foi desenvolvida e implementada dentro da concepção de
projeto proposto pela Secretaria de Estado da Educação designado PDE - Programa
de Desenvolvimento Educacional, o qual oportuniza um tempo de estudo científico a
todos os professores do estado do Paraná que preencham alguns critérios criados
por esta secretaria. Os resultados da pesquisa são apresentados nos tópicos do
presente artigo que relatam as atividades desenvolvidas.
A PROPAGANDA E O CONSUMO DO ESPAÇO
Sabe-se que todo anúncio tem por finalidade persuadir o interlocutor, essa é,
talvez, a maior característica da publicidade. Ao longo do século passado, sobretudo
com o invento da televisão, as propagandas invadiram a mídia. A tal ponto que,
atualmente, recebemos informações de todos os veículos informativos existentes.
Deparamo-nos com propagandas nas ruas, em out-doors, folders, panfletos, faixas,
enfim, o homem utiliza sua criatividade para construir a linguagem apelativa e
persuasiva presente nos anúncios.
Entretanto, raras são as pessoas que param para refletir a ação e o poder que
este tipo de invasão tem sobre nós. Quantas não foram as vezes que compramos
um produto motivados por aquilo que lemos em uma revista ou vemos na televisão?
Certamente, todos têm uma experiência a relatar, ainda que nunca paremos para
refletir sobre ela. E é a partir de uma reflexão que poderemos avaliar a influência das
propagandas.
Sabemos que seu propósito é satisfazer as necessidades e os desejos dos
consumidores. Baudrillard (2007) enfatiza que a publicidade realiza o prodígio de um
orçamento considerável gasto com o único fim, não de acrescentar, mas de tirar o
valor de uso dos objetos, de diminuir o seu valor/tempo, sujeitando-se ao valor/moda
e à renovação acelerada.
Para tanto, as empresas responsáveis pela elaboração das propagandas, em
geral agências de marketing, precisam ter pleno conhecimento dos mercados
consumidores, ou seja, da diversidade de públicos existentes, bem como informar-se
sobre o comportamento do consumidor. Essa é uma ação que essas empresas
realizam com cautela, sabendo exatamente como prender e persuadir seu público.
Por esse motivo, temos publicidade variada para vender carros de todos os modelos
e preços, casas, itens de moda e moradia para cada camada social.
Tomando especificamente a publicidade voltada à moradia, observamos que
as regiões da cidade são separadas de modo que cada uma contemple um perfil de
público, ou seja, em cada região há uma classe social. A cidade de Londrina, por
exemplo, tem diferentes propagandas para a região Norte, o mesmo ocorre com a
região Sul /Sudeste e as demais.
Assim, quando pensamos em publicidade, várias são as estratégias para
atrair o público, mas um fenômeno que tem chamado a atenção, no caso de
Londrina, é o fato de certas regiões da cidade se tornarem comercializadas de
maneira intensa, até mesmo sem que as pessoas percebam. Por exemplo, se uma
pessoa afirma viver na região próxima ao shopping mais conhecido da cidade, ela é
identificada como alguém de maior poder aquisitivo. Mesmo que isso na prática não
se confirme, essa pessoa tem “status” por residir em tal região, enquanto outra que
afirma morar na região Norte, por exemplo, acaba sendo tachada de “pobre”.
Sobre essa visão, Bauman (2008) destaca que em linhas gerais, é como se
estivéssemos afirmando que os passageiros da classe executiva voam mais rápido
sobre o Atlântico que os que estão lá atrás do avião. O desafio de toda aposta
comercial nas marcas é, pois, criar variações sobre esse tema ilusório.
Essa valoração de certos espaços geográficos em detrimento de outros
interessa ao ensino de Geografia e, sobretudo, a este estudo em questão, pois
deseja-se propiciar aos alunos uma ideia do dinamismo que há na comercialização
dos espaços, transformando-os em espaços de consumo por meio da publicidade
exacerbada feita sobre eles.
É comum nos depararmos com espaços mais movimentados da cidade
tomados por propagandas, out-doors, banners, enfim, por uma comunicação visual
que tem por objetivo vender um produto ou serviço, mas que os torna poluídos.
Estes espaços disponíveis para propagandas são comercializados para divulgação
de empresas ou produtos e alguns são muito elevados.
Esse excesso de anúncios publicitários na paisagem urbana acaba por
resultar numa poluição visual. Portella (2007) explica que o termo poluição visual é
empregado para se referir à degradação do espaço, que ocorre em função do uso
desordenado de anúncios comerciais. Esses anúncios são fixados sem que sejam
respeitadas as características estéticas dos prédios, bem como a identidade do
espaço urbano, desvalorizando-o enquanto patrimônio histórico. A poluição visual e,
muitas vezes, sonora, afeta grande parte das cidades, sobretudo, as de grande e
médio porte como Londrina.
Entretanto, para esta pesquisa em questão interessa verificar como o espaço
geográfico se torna um bem de consumo, a medida que os lugares da cidade são
comercializados de forma indiscriminada. Nessa sociedade onde o consumo é
excessivo, os bens precisam ser constantemente renovados, da calça jeans à casa.
Tudo é mercadoria e precisa ser inovado, constantemente.
Os alunos de nossas escolas, assim como a população em geral que sofre a
ação de mídia, se veem diante de situações em que são levados a julgar, a opinar,
ou seja, a manifestar a opinião. A todo instante estão sujeitos a receber informações
que vão interferir diretamente no seu modo de agir, de se vestir e de falar através da
programação intensa na televisão, isto é, em todo seu comportamento. As
propagandas, os filmes, novelas, atores, cantores, enfim, os personagens que
circulam na mídia são os que mais interferem na formação das crianças e na ação
dos adultos.
Sobre esse assunto, Nagel (2009, p. 131) enfatiza que “na sociedade
globalizada, a propaganda padroniza comportamentos, produz (ou educa) o maior
número de adeptos à forma de vida definida como a melhor”. Por meio das mais
variadas formas de comunicação, interfere na conduta de todos os cidadãos da
sociedade do consumo.
E a escola, o que fazer diante dessa situação? É possível interferir sem que a
individualidade e a liberdade de escolha sejam afetadas? Sabemos que nós,
educadores, embora sejamos formadores de opinião, não podemos interferir nas
escolhas dos pais, mas é possível provocar debates e mostrar diferentes leituras de
cada situação, pois, como enfatiza Nagel (2009, p. 131), “essa preocupação dos
educadores frente à formação administrada pelos meios de comunicação, no
entanto, precisa ser mais bem aprofundada”. Nesse sentido, o termo “indústria de
consumo”, é o mais apropriado “para conceituar o papel alienante e fetichista que a
produção dos bens culturais passou a ter no processo de desenvolvimento da
sociedade industrial” (TOMITA, TERUYA, SANTOS, 2009, p. 102).
Assim, o termo indústria cultural, é geralmente empregado para descrever o
consumo de bens desnecessários, que invade a vida das pessoas sem que elas
percebam. Os autores Tomita, Teruya e Santos (2009, p. 103) enfatizam ainda que
“a indústria cultural penetra nessas formas de representações subjetivas construídas
pelos indivíduos, transformando-as em mercadorias, dando a falsa impressão de
que eles são reconhecidos e integrados socialmente e não administrados em seus
desejos e atitudes”.
Dessa forma, ao invés de a indústria cultural possibilitar aos sujeitos uma
experiência individualizada, acaba reforçando os estereótipos com os quais a
subjetividade humana está comprometida. É nesse sentido que o ensino de
Geografia pode intervir, propondo-se a discussão de temas que propiciem uma
reflexão acerca da sociedade de consumo.
Por esse motivo, entendemos que é possível mostrar aos alunos como a
indústria cultural afeta nossa subjetividade. A escola deve alertar para o fato de que
a mídia leva ao consumismo, fazendo com que não tenhamos resistência, pois não
percebemos o que acontece ao nosso redor. Para tanto, é necessário que toda
energia seja aplicada “para que a educação seja uma educação para a contradição
e para a resistência: contradizer e resistir são modos de se ir além do plano da
reconstrução cultural e da vigência da semiformação e de se referir ao plano da vida
real efetiva” (TOMITA, TERUYA, SANTOS, 2009, p. 106).
Agindo assim, a escola auxiliará o aluno evitando que ele, conforme afirmam
Tomita, Teruya e Santos:
Mergulhado na oferta e na promessa do falso prazer (porque o indivíduo não experimenta o prazer e sim a sua estereotipia), deixe de se reconhecer e nomear seus sentimentos, de manter uma relação de objetivação com as coisas e acontecimentos e perder a capacidade de emancipação entendida como conscientização e racionalidade (2009, p. 104).
Acreditamos que abrir os olhos do aluno para os malefícios da indústria
cultural é possível através da conscientização. Essa atitude faz parte do papel da
escola na formação do aluno. Tomando-se particularmente os conteúdos da
disciplina de Geografia, pode-se criar oportunidades que propiciem discussões, por
meio das quais o aluno possa despertar seu senso crítico em relação à realidade
social, questionando sobre as múltiplas relações existentes na sociedade capitalista.
Dentro desse raciocínio, conforme aponta Gallo (1996), a transformação
social só é possível por meio da consciência e da informação, sendo fundamental o
exercício da reflexão, com vistas à transformação social. Nesse sentido, o ensino de
Geografia deve ser o instrumento de libertação do homem (Santos, 1989). Assim,
ensinar Geografia é ensinar o aluno a pensar, a refletir sobre o espaço geográfico
em que está inserido, bem como reconhecer os problemas que o envolvem.
Assim, as atividades iniciais desenvolvidas com os alunos durante a presente
pesquisa, partiram de reflexões sobre os diferentes espaços presentes na cidade de
Londrina.
VOCÊ SABE O QUE É ESPAÇO GEOGRÁFICO?
Para conduzir os alunos à reflexão sobre a produção do espaço geográfico na
cidade de Londrina, partiu-se de uma breve discussão sobre os temas: cidade,
espaço geográfico e localização. Refletir sobre este último tema exigiu maior
empenho por parte de todos, devido às dificuldades em sua compreensão.
Nesse momento, os alunos tiveram a opção de apresentaram o seu
entendimento sobre o que é espaço geográfico de forma escrita ou por meio de
desenho. Quase todos os alunos optaram pela forma escrita, por não terem aptidão
para o desenho. O ato de escrever aceita contribuição de todos, já o desenho é
individual.
Assim, a análise do espaço urbano do município de Londrina exigiu um
conhecimento básico dos bairros londrinenses e também de interpretação, já que
foram feitas comparações dos aspectos fotográficos com alguns textos.
Considerando que alguns dos alunos envolvidos eram procedentes de outros
estados brasileiros e residiam em Londrina há pouco tempo, as atividades foram
desenvolvidas em grupo de dois alunos.
As reflexões desenvolvidas com base no conhecimento dos alunos sobre o
crescimento urbano de Londrina e as análises de fotografias e interpretação de
literaturas como o livro “Terra Vermelha” de Domingos Pelegrini e o texto “Na cor da
Pele” de Julio Emílio Braz, permitiram concluir que o processo de urbanização foi
rápido e intenso em algumas áreas. Fatores como relevo, poder aquisitivo da
população e iniciativa do poder público em algumas situações, foram determinantes
nesse processo.
As atividades em grupo que foram desenvolvidas com a intenção de propiciar
a compreensão dos conceitos: cidade e município, contribuíram para ampliar o
conhecimento dos alunos sobre o espaço geográfico no qual estão inseridos, e
principalmente, para os alunos que eram oriundos de outros estados brasileiros, em
relação a localização e aspectos gerais do município.
O ESPAÇO URBANO DE LONDRINA
Para a compreensão do desenvolvimento dos diferentes espaços da área
urbana de Londrina, trabalhou-se inicialmente com alguns locais escolhidos da
região Norte: bairros Vivi Xavier e Aquiles Stenguel. A observação de imagens da
década de 1970 possibilitou análises sobre a presença de vegetação e a estética
das construções.
Através de fotos, verificou-se que as áreas verdes também foram devastadas
em prol do desenvolvimento e que a população de menor poder aquisitivo foi
deslocada para uma área bem distante do centro, em virtude da construção de
bairros populares. Já a população de classe econômica mais privilegiada se instalou
no espaço compreendido entre a área central e a área do Catuaí Shopping Center.
Procurou-se para o desenvolvimento dessas análises, fazer um resgate
histórico desde o início do processo de urbanização de Londrina, mas priorizar as
transformações ocorridas nas décadas de 1970, 1980 e 1990, períodos nos quais se
intensificou a urbanização nas regiões Norte e Sul/Sudeste da cidade, que são as
áreas de estudo desta pesquisa.
As reflexões que os alunos desenvolveram a partir das atividades planejadas,
revelaram a influência geral que a propaganda através da mídia exerceu na
valorização de ambas as regiões. A análise de jornais escritos da cidade possibilitou
a interpretação de que anúncios publicitários, presentes em grande número nos
jornais, induzem o público à aquisição de produtos, assim como a instalação de
determinados pontos comerciais.
A fim de levar os alunos ao entendimento de que as transformações no
espaço geográfico ocorrem em todos os lugares, buscou-se fazer uma análise
comparativa com as mudanças ocorridas na cidade de Salvador, no estado da
Bahia, mais precisamente no Elevador Lacerda, movimentado ponto turístico da
cidade. A partir dessa análise, os alunos puderam compreender como a ação dos
agentes transformadores, por meio de estratégias como desmatamento e realização
de diversas construções, resultou na produção de um espaço com melhor
infraestrutura aos comerciantes ali instalados.
Além das atividades que foram desenvolvidas no espaço da sala de aula,
havia sido prevista a realização de um trabalho de campo nas áreas estudadas. No
entanto, a incidência de chuvas constantes na quinzena prevista e a falta de
possibilidade de ampliação do prazo para a entrega da produção didático
pedagógica, inviabilizaram a realização dessa atividade extra classe. Portanto, tive
de realizar pessoalmente e sozinha, nos finais de semana que as condições
meteorológicas permitiram, a atividade de fotografar as áreas de estudo. Os alunos,
no entanto, tiveram notável participação na escolha das fotos e montagem do painel
para exposição dos resultados da pesquisa.
Durante a seleção das fotos os alunos perceberam o nítido contraste entre as
duas regiões. Enquanto a região Norte se caracteriza pela propaganda intensa do
comércio local e a presença de algumas construções bem estruturadas (foto 1), a
região Sul/Sudeste já desponta pelo alto padrão dos prédios e imóveis cada vez
mais sofisticados, como se pode observar na foto 2. Nesta última região, as grandes
construtoras, por sua vez, investem cada vez mais em forte marketing e vendem a
imagem de que a felicidade consiste em adquirir a qualquer custo um imóvel nesta
área.
Figura 1 - Comércio intenso na Avenida Saul Elkind da região Norte de Londrina
Fonte: A autora
Figura 2 – Visão da tendência verticalizada da região Sul/Sudeste de Londrina
Fonte: A autora
Outra contribuição valiosa para o desenvolvimento da conscientização sobre
os interesses capitalistas envolvidos na produção do espaço ocorreu com a análise
da letra da música “Homem Primata” do grupo Titãs, pela analogia que apresenta
entre o progresso e a destruição. A partir dessa análise os alunos puderam
reconhecer que a destruição refere-se à natureza e toda a sua transformação,
incluindo a poluição e o desmatamento que prejudicam todo o espaço natural.
A abordagem dos interesses capitalistas também baseou-se em pesquisa
desenvolvida pelos alunos, a fim de que ao identificarem os princípios que norteiam
esse sistema socioeconômico que rege o Brasil, pudessem compreender a atuação
dos mecanismos da propaganda no consumo do espaço urbano, no tocante ao
atendimento do seu principal objetivo, que é a obtenção de lucro cada vez maior
pelo consumo intenso. Para tanto, os imóveis passam a ser mercadoria que será
vendida pelo melhor preço.
Nos trabalhos que desenvolveram em grupo para a análise dos folders de
imóveis comercializados nas áreas Norte e Sul/Sudeste de Londrina, como mostra a
foto 3, os alunos constataram os “apelos” publicitários para incentivar o consumo.
Nesse sentido, Baudrillard (2007) relata que o homem utiliza sua criatividade para
construir a linguagem apelativa e persuasiva presente nos anúncios. Esta é a
finalidade da propaganda, utilizar qualquer meio para vender pelo melhor preço
possível.
Foto 3 – Análise dos folders publicitários da comercialização de imóveis em Londrina
Fonte: A autora
Para a realização dessas reflexões, os alunos também colaboraram trazendo
panfletos e outros anúncios publicitários, inclusive criando alguns, que se juntaram
aos já existentes para debater o quanto as pessoas, muitas vezes, se sacrificam
para satisfazer aquilo que nem sempre foi idealizado, mas que, assim se torna a
partir do momento que a mídia atinge seu objetivo.
Assim, além dos estudos desenvolvidos sobre o material publicitário
disponível no mercado de imóveis de Londrina, os alunos criaram empresas fictícias
que tiveram como proposta a criação de textos publicitários destinados a venda de
imóveis para um público específico na região Sul/Sudeste da cidade, uma vez que
cerca de 90% dos anúncios existentes eram desta área de estudo. Portanto,
elegeram-se como clientela as classes A e B, com alto poder aquisitivo e que possui
disposição de pagar por status, conforto e segurança.
Dentro desse contexto de discussões, os alunos puderam avaliar o grau de
influência da propaganda em persuadir as pessoas na compra de mercadorias,
muitas vezes, supérfluas. Que poder possui a mídia em nosso dia a dia! Ela é
adequada conforme o poder aquisitivo do público a qual se dirige, manipulando as
pessoas facilmente conforme os interesses do poder capitalista.
O poema “Eu, etiqueta” de Carlos Drummond de Andrade, que prioriza o
consumismo, isto é, a troca exagerada de produtos de toda ordem, desde roupas até
moradia, desde que estejam na última moda, também foi um importante instrumento
nas reflexões desenvolvidas. A partir dessas reflexões, alguns alunos enxergaram-
se como consumistas, principalmente no que diz respeito a moda, deixando muitas
vezes, de comprar produtos de maior necessidade para satisfazer um gosto pessoal.
Vale lembrar ainda, que muitos desses produtos têm curto tempo de uso, pois
sempre surgem outros mais modernos.
Nesse sentido, a leitura do texto “A parte que nos cabe: consumo
sustentável”, de André Trigueiro, foi de fundamental importância para a avaliação
das consequências do consumismo, pelas referências que faz à preservação
ambiental e às formas de poluição provocada por veículos automotores, indústrias,
desgaste do solo e à miséria que se contrapõe a toda riqueza.
Assim, o estudo do papel da propaganda no consumo do espaço urbano,
significou abordar as diferenças entre espaço natural e espaço humanizado, assim
como os interesses capitalistas que motivam a produção e transformação desse
espaço humanizado, e que acabam por estabelecer contradição entre riqueza e
pobreza e consequente diversidade nas manifestações socioespaciais.
A apresentação dos resultados da pesquisa para a comunidade escolar foi
realizada a partir da montagem e exibição de painel com todos os aspectos
fotografados nas áreas Norte e Sul/Sudeste de Londrina, os quais revelaram as
alterações realizadas pelo homem motivado por interesses capitalistas, e que teve
como objeto transformador a propaganda. O interesse e a contribuição dos alunos
durante todas as fases da pesquisa foram essenciais para o seu êxito e resultaram
num aprendizado significativo para as suas vidas que extrapolou os limites dos
conteúdos disciplinares. A pesquisa também produziu um sentimento gratificante
para todos os envolvidos: discentes e docente.
CONSIDERAÇOES FINAIS
A partir dos objetivos propostos para a realização do presente trabalho de
pesquisa, que baseou-se na investigação da influência da propaganda na
valorização e consumo do espaço urbano e no diagnóstico do nível de
conscientização dos alunos sobre essa realidade, pode-se dizer que os resultados
foram satisfatórios.
Durante todas as fases da pesquisa os alunos desenvolveram atividades de
leitura, interpretação, observação, análise, representação e debate, as quais
propiciaram importantes reflexões nesse sentido. O interesse e a contribuição dos
alunos durante todo o processo de estudo foram essenciais para o seu êxito.
As reflexões desenvolvidas foram importantes para que os alunos pudessem
buscar compreender como funcionam as estratégias de atuação da mídia na
valorização e no consumo dos diferentes espaços urbanos. Nos trabalhos que
desenvolveram em grupo para a análise dos folders de imóveis comercializados nas
áreas Norte e Sul/Sudeste de Londrina, os alunos constataram os “apelos”
publicitários para incentivar o consumo.
Os anúncios publicitários disponíveis na mídia impressa da cidade de
Londrina foram importantes recursos que os alunos utilizaram a realização dessas
reflexões. E como forma de demonstrar essa compreensão e enriquecer o
aprendizado, os alunos criaram empresas fictícias de propaganda e marketing para
a elaboração de novos anúncios publicitários para a região Sul/Sudeste da cidade,
por tratar-se de região que polariza os interesses do mercado imobiliário.
A observação de fotografias e a comparação com imagens das décadas de
1970, 1980 e 1990 do espaço urbano de Londrina, além da leitura de textos
científicos e literários, possibilitaram o entendimento de como o processo de
urbanização ocorreu de forma diferenciada nas regiões Norte e Sul/Sudeste e qual a
influência da mídia nessas transformações.
Também foi possível avaliar, pelo estudo dos princípios que norteiam o
sistema capitalista, que os “apelos” publicitários analisados têm como intenção
incentivar o consumo para atender ao seu principal objetivo que é a obtenção do
lucro, tornando, assim, o espaço urbano uma mercadoria como qualquer outra. E
dentro desse contexto de discussões, os alunos puderam avaliar o grau de influência
da propaganda em persuadir as pessoas na compra de mercadorias, nem sempre
necessárias no seu momento de aquisição.
Ainda dentre os resultados obtidos, pode-se dizer que houve um aprendizado
muito significativo para a vida dos alunos no tocante à conscientização do grau de
influência da propaganda em todas as áreas da vida cotidiana. Foi possível observar
que alguns alunos enxergaram-se como consumistas, principalmente no que diz
respeito a moda, deixando muitas vezes, de comprar produtos de maior necessidade
para satisfazer um gosto pessoal.
As reflexões desenvolvidas também contribuíram para analisar as
consequências do consumismo em relação a degradação ambiental e as várias
formas de poluição, assim como os aspectos negativos pelo estabelecimento da
contradição entre riqueza e pobreza e consequente diversidade nas manifestações
socioespaciais.
REFERÊNCIAS
BAUDRILLARD, J. A sociedade de consumo. Lisboa: Edições 70, 2007.
BAUMAN, Z. Vida para o consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Rio de
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PORTELLA, A.A. Avaliação de Sinais Comerciais no Patrimônio histórico: os
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