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PROJECTO DE REQUALIFICAÇÃO URBANA DA CHARNECA Os Núcleos Urbanos Periféricos e as Novas Áreas de Expansão DIOGO CARLOS HENRIQUES PIRES Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em ARQUITECTURA JÚRI PRESIDENTE: PROF. DOUTOR PEDRO FILIPE PINHEIRO DE SERPA BRANDÃO ORIENTADOR: PROF. CARLOS MONIZ DE ALMADA AZENHA PEREIRA DA CRUZ VOGAL: PROFª. DOUTORA TERESA FREDERICA TOJAL DE VALSASSINA HEITOR MAIO 2012

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PROJECTO DE REQUALIFICAÇÃO URBANA DA CHARNECAOs Núcleos Urbanos Periféricos e as Novas Áreas de Expansão

DIOGO CARLOS HENRIQUES PIRES

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

ARQUITECTURA

JÚRI

PRESIDENTE: PROF. DOUTOR PEDRO FILIPE PINHEIRO DE SERPA BRANDÃO

ORIENTADOR: PROF. CARLOS MONIZ DE ALMADA AZENHA PEREIRA DA CRUZ

VOGAL: PROFª. DOUTORA TERESA FREDERICA TOJAL DE VALSASSINA HEITOR

MAIO 2012

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Fig. A: Charneca (2009)Fonte: www.bing.com/maps, adaptado.

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RESUMO

Serve, o presente relatório de projecto, de fundamentação e reflexão sobre o projecto urbano

elaborado no âmbito da disciplina de Projecto Final, do 5º ano do Mestrado Integrado de

Arquitectura do Instituto Superior Técnico, no ano lectivo de 2010/2011.

O exercício incide sobre a periferia Norte de Lisboa, mais especificamente sobre Charneca e

a sua envolvente próxima. Trata-se de um território desligado da cidade consolidada e remetido

às traseiras do Aeroporto de Lisboa, caracterizado por um tecido urbano fragmentado e um

contexto social e económico carenciado. O Plano de Urbanização do Alto do Lumiar prevê uma

transformação radical da Charneca, mas encontra-se actualmente em dificuldade de progressão.

Este factor constitui uma oportunidade de reestruturação deste plano em termos de integração

do núcleo histórico da Charneca na cidade consolidada e de continuidade urbana com Camarate.

Tendo por base o contexto real e actual da cidade de Lisboa, o objecto de estudo é abordado

sob o tema de Os Núcleos Históricos e as Novas Expansões Urbanas. Procura-se apurar quais

as principais preocupações e de que modo as expansões da cidade devem abordar territórios

com este tipo de pré-existências. Esta análise é suportada por um estudo sintético das Avenidas

Novas e Benfica, focado no modo como as pré-existências condicionaram estas expansões

urbanas do séc. XX.

A caracterização detalhada da área de intervenção, ao nível físico, histórico, morfológico, de

mobilidade e de condicionantes, serviu de base para a realização de uma proposta de intervenção

informada e consciente.

PALAVRAS-CHAVE: Núcleo Histórico, Expansão Urbana, Periferia, Continuidade Urbana.

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ABSTRACT

This project report as the purpose of reasoning and reflection on the urban project designed in

the exercise of the Final Project class, in the 5th year of the Integrated Masters in Architecture

from Instituto Superior Técnico, in academic year 2010/2011.

The exercise focuses on the northern periphery of Lisbon, specifically on Charneca and its

nearby surrounding. This is an area disconnected from the consolidated city and on the back of

Lisbon Airport. It is characterized by a fragmented urban fabric and lacking of a stronger social

and economic context. Alto do Lumiar Urban Plan provides a radical transformation of Charneca,

but it is currently struggling for progression. This factor is an opportunity to restructure the

plan in terms of historical nucleus integration of Charneca in the consolidated city and urban

continuity to Camarate.

Based on the real and current context of Lisbon, the object of study is discussed under the

Historical Nucleus and New Urban Expansion theme. It seeks to establish which the main

concerns are and how the expansion of the city should address areas with this type of pre-existing.

This analysis is supported by a synthetic study of Avenidas Novas and Benfica focused on how

pre-existing conditioned these 20th century urban expansions.

The detailed characterization of the intervention area on the physical, historical, morphological,

mobility and conditioning levels was the basis for the realization of an informed and conscious

intervention proposal.

KEY-WORDS: Historical Nucleus, Urban Expansion, Periphery, Urban Continuity.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais,

Aos meus irmãos,

À minha prima Paula,

À Clarissa,

Ao João Pereira da Silva, Carlos Silvério, Marta

Lourenço, Miguel Fung, Joel Antunes, Ana

Salvado, Cindy Marquez, Sérgio Melo, Pedro

Lages, Débora Martins, Mariana Silva, Débora

Chaves, e tantos outros nomes...

Ao Prof. Carlos Cruz e Prof. Frederico Moncada,

A todos os colegas de curso,

Obrigado!

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0. INTRODUÇÃO 15

0.01 OBJECTIVO E OBJECTO DE ESTUDO 17

0.02 JUSTIFICAÇÃO E MOTIVAÇÃO DO AUTOR 18

0.03 METODOLOGIA E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO 19

1. OS NÚCLEOS URBANOS PERIFÉRICOS E AS NOVAS EXPANSÕES URBANAS 21

1.01 EXPANÇÃO URBANA DE LISBOA: A ABSORÇÃO DOS NÚCLEOS HISTÓRICOS 23

1.02 AVENIDAS NOVAS E BENFICA 26

2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO E DE INTERVENÇÃO 31

2.01 LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO GERAL 33

2.02 ANÁLISE FÍSICA 36

2.03 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA 39

2.04 MOBILIDADE 42

2.05 CARACTERIZAÇÃO DA ESTRUTURA EDIFICADA 45

2.06 PLANOS URBANOS E CONDICIONANTES 47

3. CARACTERIZAÇÃO DO PROJECTO 51

3.01 PROPOSTA GLOBAL 53

3.02 DETALHE DA PROPOSTA 60

4. CONCLUSÃO 63

BIBLIOGRAFIA 67

ANEXOS 71

ÍNDICE

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ÍNDICE DE FIGURAS

Fig. A: Charneca (2009) 01

1. OS NÚCLEOS URBANOS PERIFÉRICOS E AS NOVAS EXPANSÕES URBANAS 21Fig. 1.01: Avenidas Novas - 1911. 26

Fig. 1.02: Avenidas Novas - 2009. 27

Fig. 1.03: Benfica - 1911. 28

Fig. 1.04: Benfica - 2009. 29

2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO E DE INTERVENÇÃO 31Fig. 2.01: Rede rodoviária principal. 33

Fig. 2.02: Limites Políticos na AEP. 34

Fig. 2.03: Caracterização Urbana na AEP. 34

Fig. 2.04: Características Gerais Dominantes do Edificado na AIP. 35

Fig. 2.05: Orografia. 36

Fig. 2.06: Orografia na AIP. (esquerda) 37

Fig. 2.07: Classificação das Zonas Verdes na AIP. (direita) 37

Fig. 2.08: Declives na AIP. (esquerda) 37

Fig. 2.09: Risco de Deslizamentos na AIP. (direita) 37

Fig. 2.10: Exposição Solar na AIP. (esquerda) 38

Fig. 2.11: Vulnerabilidade Sísmica na AIP. (direita) 38

Fig. 2.12: Estrutura Hídrica na AIP. (esq.) 38

Fig. 2.13: Risco de Inundação na AIP. (dir.) 38

Fig. 2.14: Evolução do Termo de Lisboa. 39

Fig. 2.15: Evolução do núcleo da Charneca. 40

Fig. 2.16: Hierarquia da Rede Viária na AEP. 42

Fig. 2.17: Hierarquia da Rede Viária na AIP. 43

Fig. 2.18: Rede de Transportes Públicos na AIP. 44

Fig. 2.19: Caracterização do Edificado na AIP. 45

Fig. 2.20: PDM de Lisboa e Loures na AIP. 47

Fig. 2.21: Plano de Urbanização do Alto do Lumiar na AIP. 48

Fig. 2.22: Servidão Aeronáutica na AIP. 50

3. CARACTERIZAÇÃO DO PROJECTO 51Fig. 3.01: Eixos Lento. 53

Fig. 3.02: Eixos de Atravessamento. 54

Fig. 3.03: Eixos Circular. 54

Fig. 3.04: Centro de Actividades Económicas. 55

Fig. 3.05: Maqueta da Proposta: Centro de Actividades Económicas. 55

Fig. 3.06: Estrutura do novo edificado da Proposta de Intervenção. 56

Fig. 3.07: Proposta de Intervenção. 57

Fig. 3.08: Esquema de Demolições. 58

Fig. 3.09: Esquema de Funções. 59

Fig. 3.10: Localização da ADP. 60

Fig. 3.11: Esquema do perfil da Rua do Alecrim e reestruturação da Estr. do Poço de Baixo. 61

Fig. 3.12: Planta da proposta da ADP. 61

Fig. 3.13: Corte AA’ da proposta da ADP. 62

Fig. 3.14: Corte BB’ da proposta da ADP. 62

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ANEXOS 71

Anexo 1 - Planta de Lisboa 1856-1858, Filipe Folque. 73

Anexo 1 - Levantamento Topográfico de Lisboa 1906-1911, J. António Vieira da Silva Pinto. 74

Anexo 2 - Regulamento do Plano de Urbanização do Alto do Lumiar (1998). 75

Anexo 3 - Plantas da Proposta desenvolvida no 1º semestre. 89

Anexo 4 - Esquemas e Planta da Proposta de Intervenção 90

Anexo 4 - Planta da Área de Detalhe da Proposta 91

Anexo 5 - Painéis da Entrega Final da disciplina de Projecto Final 92

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ABREVIATURAS

ADP Área de Detalhe da Proposta

AEP Área de Estudo de Projecto

AIP Área de Intervenção de Projecto

AML Arquivo Municipal de Lisboa

AUGI Área Urbana de Génese Ilegal

CML Câmara Municipal de Lisboa

CREL Circular Regional Exterior de Lisboa

CRIL Circular Regional Interior de Lisboa

DPC Departamento de Protecção Civil

Eixo N-S Eixo Norte-Sul

GEO Gabinete de Estudos Olissiponeses

IGE Instituto Geográfico do Exército

PUAL Plano de Urbanização do Alto do Lumiar

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0. INTRODUÇÃO

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O presente trabalho tem por objectivo fundamentar e reflectir sobre o projecto urbano elaborado

no âmbito do exercício da disciplina de Projecto Final, do 5º ano do Mestrado Integrado em

Arquitectura, no ano lectivo de 2010/2011. O exercício teve por base o contexto real e actual da

cidade de Lisboa, tendo consistindo no apuramento dos principais problemas urbanos através

de análises objectivas distintas, seguidas da elaboração de uma proposta de intervenção.

Numa primeira fase, no primeiro semestre da disciplina, o estudo, desenvolvido em trabalho de

grupo, tem por objecto uma vasta área compreendida entre a Av. General Norton de Matos, Av.

Padre Cruz e CRIL, que engloba o Aeroporto de Lisboa e envolvente posterior - periferia Norte

de Lisboa. Baseia-se na premissa de possibilidade de “saída” do aeroporto para uma área fora

da cidade e visa a realização de uma proposta de reestruturação do território amorfo da zona

periférica, colmatando não só as falhas já existentes nesse território como também definindo

novos usos para o potencial vazio deixado pelo Aeroporto. Este estudo e proposta tiveram como

concretização final a realização de um caderno descritivo e justificativo e a realização de uma

planta à escala 1:5000.

Na segunda fase, segundo semestre, o objecto de estudo foca-se numa área mais restrita da

anterior, em uma de seis potenciais zonas. A zona escolhida, para trabalho individual, foi a da

Charneca e sua envolvente - zona 6. É um local que se encontra no limite Norte da Alta de Lisboa,

abrangendo ainda um pouco deste Plano Urbano, por questões de interface e continuidade,

que está ainda por terminar e tem sofrido dificuldades de progressão. Esta zona está ainda

confinada entre o limite posterior do Aeroporto de Lisboa e o Eixo Norte-Sul, a nascente e a

poente respectivamente, e é atravessada pela nova Avenida Santos e Castro, ainda por concluir

também. Trata-se portanto de uma zona que está em elevada transformação e que apresenta

algumas dificuldades em lidar com estas novas intervenções muito devido às suas raízes e

carácter rurais. A proposta de intervenção foi realizada à escala 1:2000 e 1:1000, sendo feito

depois uma pormenorização à escala 1:500.

Neste documento é dado maior enfoque à segunda fase do trabalho desenvolvido ao longo

de todo o ano lectivo, já que é esse o seu principal objectivo, não esquecendo o contributo das

análises e estratégias desenvolvidas na fase inicial, que serão oportunamente apresentadas.

0.01 OBJECTIVO E OBJECTO DE ESTUDO

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Ao se intervir numa cidade como Lisboa, com vários séculos de existência e várias ocupações

ao longo da sua vida, é natural que um dos problemas mais recorrentes seja o de lidar com

as preexistências. Seja qual for a escala da intervenção urbana, ela terá de, para além dos

objectivos a que se propõe, responder um contexto que se tem vindo a construir e transformar

ao longo dos séculos e o qual deve ser respeitado.

O projecto urbano lida com um universo muito vasto de condicionantes, problemáticas e

obrigações. Regra geral mais do que as que se inicialmente se prevêem e, sem dúvida, mais do

que as que se conseguem controlar. É neste ambiente “líquido” que as preexistências podem

constituir pontos sólidos e daí o interesse em compreende-las, quer no contexto da cidade,

quer no seu funcionamento interno. Perceber de que modo a sua inserção em novas áreas de

expansão urbana pode constituir uma mais-valia, mais do que a sua substituição por novas

morfologias urbanas baseadas em conceitos contemporâneos.

Através do Plano de Urbanização do Alto do Lumiar (PUAL), a Charneca está a atravessar uma

fase de grande transformação, principalmente da sua envolvente. É um plano que está, no entanto,

a atravessar alguns problemas de execução, em grande parte, devido à conjuntura económica

actual, mas também pela oferta desmesurada de imóveis relativamente à procura. Reestruturar

alguns pontos deste plano pode significar o seu sucesso com maior eficiência e eficácia. Sendo

a Charneca já um local dotado de alguma vida social e económica, e caracterizada pela presença

de um núcleo antigo que confere a esta zona alguma estabilidade, a reestruturação do papel

que desempenha dentro do PUAL pode contribuir para uma grande alteração da tendência de

estagnação em que este se encontra e contribuir para a atracção de população.

0.02 JUSTIFICAÇÃO E MOTIVAÇÃO DO AUTOR

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O trabalho realizado organiza-se segundo uma estrutura de três capítulos, seguindo a

metodologia utilizada para concretizar a proposta de intervenção no trabalho de projecto:

1. Os Núcleos Urbanos Periféricos e as Novas Expansões Urbanas

Neste primeiro capítulo, é feita uma pequena reflexão sobre alguns problemas que se colocam

ao se realizarem expansões urbanas que se articulam com núcleos existentes, antigos ou

históricos. Para tal são abordados os conceitos de «núcleo histórico», «centro histórico» e

«expansão urbana», seguido de uma análise sobre a temática de fazer cidade com este contexto.

Por último são apresentados dois estudos de caso da cidade de Lisboa - Avenidas Novas e

Benfica - onde se pretende mostrar o modo como estes núcleos antigos interferem na evolução

e crescimento urbanos.

2. Caracterização da Área de Estudo e de Intervenção

O segundo capítulo apresenta um estudo detalhado da zona de projecto, aprofundando

o conhecimento do objecto de estudo para a realização de uma intervenção consciente. O

estudo incide sobre: a sua localização e caracterização geral; análise física que contempla a

caracterização topográfica, de zonas verdes, declives e risco de deslizamentos, exposição solar

e vulnerabilidade sísmica, estrutura hídrica e risco de inundação; uma breve contextualização

histórica que permite conhecer melhor a evolução e identidade do local; caracterização da

mobilidade, suas principais falhas e potencialidades; caracterização da estrutura edificada;

planos urbanos existentes (PDM e PUAL) e outras condicionantes que afectem a área de projecto,

como a servidão aeronáutica. Este estudo é elaborado com recurso a plantas esquemáticas

acompanhadas de textos explicativos e justificativos.

3. Caracterização do Projecto

No terceiro capítulo são expostas as soluções propostas para a área de intervenção - o projecto

urbano. A proposta de intervenção realizada na Charneca é feita essencialmente por duas etapas.

Primeiramente são traçadas as directrizes fundamentais da proposta tirando partido da análise

feita, isto é, de forma a responder às principais fraquezas e potenciando os pontos fortes. O

conceito geral da proposta é definido à escala 1:2000 e 1:1000, caracterizado por plantas,

esquemas e texto descritivo e justificativo das soluções adoptadas, clarificando sobre a intenção

do projecto e problemas que se propõe a resolver. Seguidamente procede-se ao desenho de

maior detalhe, à escala 1:500, de um dos pontos fulcrais do plano urbano realizado. Também

é caracterizado por plantas, esquemas e ainda cortes, acompanhados de texto descritivo e

justificativo. É assim possível obter no final um conjunto de elementos que definem os objectivos

gerais do plano assim como alguns dos objectivos específicos mais relevantes.

0.03 METODOLOGIA E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

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1. OS NÚCLEOS URBANOS PERIFÉRICOS E AS NOVAS EXPANSÕES URBANAS

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1.01 EXPANÇÃO URBANA DE LISBOA: A ABSORÇÃO DOS NÚCLEOS HISTÓRICOS

EXPANSÃO URBANA E NÚCLEO HISTÓRICO

Desde sempre, a tendência natural das cidades é crescer. É um processo que, regra geral, pode

resultar da mutação de uma ou mais das suas zonas internas, seja central ou periférica, ou da

expansão dos seus limites, ou mesmo de uma combinação das duas. Este processo pode ter

um cariz espontâneo ou planeado. Do primeiro caso são exemplo os bairros de autoconstrução,

onde existe uma apropriação ilegal de terrenos, baldios ou ao abandono, e o controlo à priori

sobre a edificação é nulo. Quando o processo é planeado ele procura já dar resposta às

necessidades de crescimento da cidade e de melhoria de qualidade das infraestruturas, e do

espaço urbano em geral, obedecendo a um conjunto de normas definidas nos Planos Director.

“Por expansão urbana entende-se qualquer transformação territorial que tenha por objecto ou

por efeito o aumento da área total de solo urbanizado ou a ampliação do perímetro urbano.”1

Na cidade de Lisboa, estas áreas transformadas, ou ainda em transformação, contêm muitas

vezes a presença de núcleos históricos. Isto é, zonas já ocupadas por aglomerados edificados

antigos, com maior ou menor interesse histórico, diferentes capacidades de transformação, e

melhor ou pior estado de conservação. Quanto mais longe do centro tradicional, mais presentes

são as características rurais. Para melhor entender o conceito de «núcleo histórico», é possível

fazer um paralelismo com o conceito de «centro histórico», um conceito já mais explorado do

que o primeiro. São conceitos semelhantes, onde talvez a única diferença resida na carga que a

palavra «centro» tem para se referir a uma zona específica de um conjunto - a zonal central onde

se concentram as principais actividades. Mas, “definir um «centro histórico» é certamente uma

acção casuística, já que, não parece ser possível encontrar uma definição comum que englobe

todos os «centros históricos» de Portugal.”2

Não será, no entanto, saudável tornar estes conceitos de «centro histórico» e «núcleo histórico»

estáticos ou rígidos ao ponto de se autonomizarem desligados do contexto urbano. Conforme

afirmou o Arquitecto Nuno Portas em 1981: “Convém precisar as palavras que se usam ao falar

de políticas para as áreas antigas das nossas cidades, vilas ou aldeias. Escrevi áreas «antigas»

e não «históricas» porque o que nos interessa é encarar os problemas das zonas já existentes

e consolidadas, incluindo as construídas já neste século e não apenas aquelas partes a que se

atribui um valor histórico ou monumental especial. E escrevi «áreas» e não «centros» porque,

em geral, quando falamos em «centro», referimos apenas a área central onde se concentram

os principais comércios e edifícios públicos, quando nos interessa tratar também de bairros

residenciais mais ou menos antigos, de maior ou menor valor arquitectónico, que podem não

constituir uma área central.”3

1 - Diário da República, 1.ª série - N.º 104 - 29 de Maio de 2009, Conceitos técnicos do ordenamento do território e urbanismo a utilizar nos instrumentos de gestão territorial - Quadro nº2, Ficha nº30. pp. 3373.2 - FLORES, Joaquim António de Moura - Planos de salvaguarda e reabilitação de centros históricos em Portugal, Lisboa: Faculdade de Arquitectura, 2000.3 - PORTAS, Nuno, Conservar Renovando ou Recuperar Revitalizando, Coimbra: Museu Nacional de Machado de Castro, 1983, pp.9 (conferência proferida em 1981).

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FAZER CIDADE NA CIDADE ACTUAL

“Se tivermos de resumir num slogan e nalguns objectivos qual é o desafio urbano de hoje

diríamos que é o de se fazer cidade, regenerando velhos centros e criando novos centros à

escala metropolitana, garantindo a mobilidade, a acessibilidade e a visibilidade de cada uma das

áreas da cidade e mantendo e construindo tecidos urbanos polivalentes, mistos pelos seus usos

e populações, nos quais o espaço público é o elemento ordenador.” 4

As transformações territoriais causadas pela expansão urbana podem, contudo, ter efeitos

perversos na cidade, ou na sua região metropolitana. Isto, tanto para a cidade enquanto

organismo composto por vários centros, que funcionam mais ou menos autonomamente - onde

acções induzidas num ponto podem repercutir-se no extremo oposto - como para as áreas

transformadas em si - pela perda da identidade do local ou da sua memória, alteração negativa

da sua vivência, entre outros. Há portanto que ter em atenção o tipo de território onde se está

actuar e qual a sua relação com o resto da cidade.

Nas próprias preexistências do território podem-se encontrar pistas para o sucesso de futuras

ocupações deste, para a sua adaptação às novas necessidades. “A conservação dos valores

patrimoniais dá alguma resposta às incertezas e ansiedades das sociedades actuais que,

desamarradas dos valores e seguranças que as estruturaram no passado, têm de inventar um

destino. (...) Assim, neste mundo de mudanças imprevisíveis, as riquezas patrimoniais, que

são as coisas e os valores a resistirem ao desgaste do tempo e da morte, constituem-se nos

elementos construtores de uma estabilidade que se encontra ausente em tudo o resto.”5

“O que se pode fazer com os centros antigos? (...) O desafio é o de que não sejam nem mono-

funcionais (...) nem que pretendamos que sirvam para tudo, mas sim que tenham algumas

funções predominantes (...), incluindo sempre a residencial. Não se podem saturar de actuações,

mas devem ser facilmente acessíveis.” 6

Os núcleos históricos têm a capacidade de acelerar o processo de cristalização de novas

expansões urbanas. São áreas já há muito sedimentadas no território, que já fazem parte

dos “mapas mentais”7 das populações (conceito abordado por Kevin Lynch em Image of the

City), e como tal facilitam a assimilação de novas intervenções que se façam no seu espaço

urbano interior e envolvente. A potencialidade urbana destes núcleos é por vezes subestimada,

4 - BORJA, Jordi - “Fazer Cidade na Cidade Actual. Centros e Espacos Publicos Como Oportunidades”. in Espaço Público e a Interdisciplinaridade. Lisboa: ed. Centro Português do Design, 2000, pp. 79.5 - CML - Lisboa: reabilitação urbana - núcleos históricos. Lisboa: Câmara Municipal. Pelouro da Reabilitação Urbana dos Núcleos Históricos da Câmara Municipal de Lisboa, 1993.6 - Jordi Borja - op. cit., p. 24.7 - LYNCH, Kevin - The image of the city (versão consultada A imagem da cidade). Lisboa: Edições 70, 1996.

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já que, regra geral, apresentam falta de resposta às novas funções e novas escalas. Mas “o

bom desenho de um Plano urbano e dos seus Planos de Pormenor tira partido de todas as

condicionantes das preexistências e da topografia. (...) O frequente invocado genius loci nasce,

por vezes, do conflito resolvido entre as condições existentes e as medidas impostas.”8

Uma operação de expansão urbana pode, e deve, portanto, tirar partido da presença de uma área

antiga (ou núcleo histórico), preservando os seus valores e contributos urbanos que funcionam

como bases de progressão. Elas criam condicionalismos mas também oportunidades. A sua

absorção e adaptação às necessidades emergentes revelam-se por isso vantajosas para a

consolidação de novas área urbanas. Apesar disso, nem todas as áreas antigas têm o mesmo

nível ou aptidão para ancorar uma transformação urbana. Essa escolha é um processo que, á

semelhança do conceito de «centro histórico», é casuístico. Cada situação deve ser ponderada

sobre que valores são fundamentais preservar ou se os existem, sendo uma decisão sempre

moldada pelo contexto sociocultural e vítima dos interesses políticos e económicos.

Na cidade de Lisboa e na sua área metropolitana, são ainda hoje visíveis as várias etapas do

seu crescimento urbano, por vezes espontâneo, por vezes planeado. De seguida será feita uma

análise sucinta de duas zonas distintas da cidade, que constituíram marcos significativos da

expansão urbana de Lisboa, e o modo como os núcleos antigos aí existentes tiveram impacto

na estrutura urbana que se ergueu. Por um lado a expansão planeada das Avenidas Novas, por

outro o crescimento mais espontâneo de Benfica.

“Os novos centros são necessários para se conservarem os centros antigos, para se

desenvolverem novas funções e para se estruturar a cidade metropolitana. Onde será necessário

colocá-los? Lá onde a cidade se encontra com a sua periferia, aproveitando zonas obsoletas ou

que a evolução urbana necessita de reapropriar.” 9

8 - PEIXOTO, Francisco Manuel Pacheco de Lemos - Forma, estrutura e reabilitação do espaço urbano tradicional: a reconversão em núcleos antigos. Lisboa: Universidade Técnica de Lisboa, 1999.9 - BORJA, Jordi - “Fazer Cidade na Cidade Actual. Centros e Espacos Publicos Como Oportunidades”. in Espaço Público e a Interdisciplinaridade. Lisboa: ed. Centro Português do Design, 2000, pp. 80.

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IST arquitectura DIOGO PIRES26

1.02 AVENIDAS NOVAS E BENFICA

Descrição geral:

“O plano vulgarmente chamado de Avenidas Novas (1888), da autoria de Ressano Garcia,

integra-se no Plano Geral de Melhoramentos da Cidade. Tem por referência o urbanismo francês

do séc. XIX e vem consagrar definitivamente a ruptura com o crescimento da cidade na faixa

ribeirinha. O plano, a urbanização e o loteamento foram da responsabilidade Municipal, numa

vasta área expropriada e depois vendida por lotes em hasta pública. A construção dos edifícios,

entregue a promotores privados, realizou-se de forma faseada ao longo das primeiras décadas

do séc. XX, dando resposta à procura de negócios e rendas imobiliárias.

As tipologias variam desde o palacete ao prédio de rendimento. Observam-se diversas

linguagens, desde a Arquitectura do Ferro à Arte Nova, dos Revivalismos ao Ecletismo,

do modernismo ao estilo nacionalista de Estado Novo. A partir dos anos 70 acentuou-se a

terciarização com a construção de novos edifícios de escritórios.

É constituído por uma “malha ortogonal com quarteirões rectangulares, que se desenvolve em

torno de um eixo gerador formado pela Avenida da Liberdade / Fontes Pereira de Melo / Avenida

da República. Concretizou-se em troços sucessivos, delimitados por rotundas desenhadas para

articular o sistema viário hierarquizado. Cada um dos troços do eixo define diferentes malhas,

que respeitam vias preexistentes.”10

AVENIDAS NOVAS

Fig. 1.01: Avenidas Novas - 1911.

Fonte: adaptado de VIEGAS, Inês Morais; TOJAL, Alexandre A. M. (coordenação) - Levantamentoda Planta de Lisboa: 1904-1911. Lisboa: CML, Direcção Municipal da Cultural, AML, 2004.

10 - SALGADO, Manuel; LOURENÇO, Nuno - Atlas Urbanístico de Lisboa. Argumentum, Lisboa, 2006. pp. 68.

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IST arquitectura DIOGO PIRES 27

Influência das preexistências:

São notórias as marcas das preexistências, apesar de a planta de 1911 (fig. 1.01) mostrar

já o início do plano aqui concretizado. Alguma da principal estrutura viária que existia antes

da implementação do plano foi mantida com poucos desvios daquilo que era o seu desenho e

características iniciais. Vias como a Avenida Duque de Ávila e a Av. Conde de Valbom mantêm-se

no plano das Avenidas Novas através da sua regularização e redimensionamento.

A nova malha urbana espalha-se no terreno enchendo os grandes vazios entre os aglomerados

existentes. Num gesto de complementaridade, os novos traçados consolidam os existentes

nesta área, servindo estes últimos de excepção à regra ortogonal do novo desenho urbano, sem

que o seu fluxo seja quebrado e que possa mesmo servir de fonte aos novos fluxos. Surgem

assim espaços urbanos distintos no interior das malhas homogéneas, que acompanham os

eixos principais, através da manutenção das preexistências.

AVENIDAS NOVAS

Fig. 1.02: Avenidas Novas - 2009.

Fonte: adaptado de maps.google.pt.

Principais marcas das preexistencias

Rua Dr. Nicolau Bettencourt - Rua

de Santa Marta.

3

Rua Marquês de Fronteira - Av.

Duque de Ávila - Rua Visconde de Santarém - Rua Morais Soares.

4

Rua do Arco Cego - Rua Alves Redol.

1

Av. Conde de Valbom2

4

1

2

3

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Descrição geral:

“Benfica afirma-se na cidade de Lisboa, a partir dos anos 50. Os terrenos, tal como em outras

saídas da cidade para norte (Carnide e Lumiar), não são municipalizados por Duarte Pacheco,

sendo ocupados de forma maciça e desordenada até aos anos 80. É uma operação concretizada

com base em estudos e loteamentos privados, assumidos pela Câmara Municipal, numa zona

de antigas quintas dos arrabaldes. Benfica tem um papel importante a desempenhar como

alternativa locacional para as actividades económicas terciárias, situando-se entre o centro

tradicional e o vasto território residencial da Amadora, Queluz e Cacém.

Benfica apresenta tipologias típicas da década de 70 e 80, estrutura em betão armado, com

edifícios em banda, elevado número de pisos, ultrapassando as densidades e volumetria

previstas no Plano Director. Caracterizado por comércio e serviços ao nível do piso térreo, é, no

entanto, uma zona claramente residencial.

As ruas são hierarquizadas, com vias principais, secundárias e impasses, muitas vezes

formando largos entre bandas edificadas. Com o crescimento desordenado originam-se espaços

sobrantes entre edifícios que são preenchidos com zonas ajardinadas.”11

BENFICA

11 - SALGADO, Manuel; LOURENÇO, Nuno - Atlas Urbanístico de Lisboa. Argumentum, Lisboa, 2006. pp. 92.

Fig. 1.03: Benfica - 1911.

Fonte: adaptado de VIEGAS, Inês Morais; TOJAL, Alexandre A. M. (coordenação) - Levantamentoda Planta de Lisboa: 1904-1911. Lisboa: CML, Direcção Municipal da Cultural, AML, 2004.

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IST arquitectura DIOGO PIRES 29

Influência das preexistências:

Sendo uma das principais saídas de Lisboa para Noroeste, a Estrada de Benfica apresenta-se

neste território como uma grande fonte de fluxos e trocas comerciais. A sua importância é ainda

reforçada pela sua continuidade com a Rua Elias Garcia, uma das antigas principais ligações de

Lisboa a Sintra. Deste modo, foi natural a sua consolidação com o crescimento desta área. É ao

longo desta via, essencialmente, que se vão criando as ocupações mais intensas do solo pois

a sua proximidade favorece as condições de mobilidade. Os bairros surgem do loteamento das

quintas em redor da Estrada de Benfica, e, quando elas já não são adjacentes a esta via, a ligação

é feita por vias perpendiculares à primeira, num conjunto desordenado pela ordem existente.

Algumas quintas e a Mata de Benfica persistem ainda hoje neste território, servindo de pulmões

que oxigenam a poluição de edifícios que se foram erguendo desenfreadamente em seu redor.

Persistem também as Portas de Benfica, símbolo da última expansão dos limites de Lisboa para

esta direcção, acompanhadas de alguma presença dos traçados desse limite.

BENFICA

Fonte: adaptado de maps.google.pt.

Fig. 1.04: Benfica - 2009.

Principais marcas das preexistencias

Mata de Benfica.2

Limite de Lisboa.3

Estrada de Benfica.1

2

3

1

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2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO E DE INTERVENÇÃO

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IST arquitectura DIOGO PIRES 33

2.01 LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO GERAL

Situado na zona Norte da coroa periférica de Lisboa, a Área de Estudo de Projecto encontra-se

delimitada por três eixos viários de elevada relevância a nível regional: a Norte a CRIL, a Sul e

Nascente a 2ª Circular e a Poente a Av. Padre Cruz.

Devido à ligação com a Ponte Vasco da Gama e A12, a CRIL reveste-se ainda de uma grande

importância no contexto das ligações inter-regionais de Lisboa. Também a 2ª Circular tem este

carácter, dada a sua continuidade com a Autoestrada do Norte (A1), um dos principais pontos

de entrada em Lisboa da zona Norte. Já a Av. Padre Cruz é um importante ponto de acesso a

Lisboa da zona Oeste, tendo acesso directo à Radial de Odivelas e semi-directo à Autoestrada

do Oeste (A8). Trata-se portanto de um território encerrado num anel de vias, cujas dimensões

limitam a continuidade urbana, e ainda atravessado pelo Eixo N-S. No entanto, a importância de

todas estas vias no campo da mobilidade confere a esta ilha um local privilegiado em termos

de acessibilidade ao nível regional e nacional, sendo o Eixo N-S um elemento fundamental na

articulação interna deste território e com o resto da cidade. Fig. 2.01.

As características topográficas são bastante diversificadas. São de destacar os elevados

declives de Noroeste a Nordeste, na transição de Lisboa com Odivelas, uma grande área plana

a Este onde assenta o Aeroporto de Lisboa, e conjuntos dispersos de cumes e vales a Oeste.

A presença de três concelhos de jurisdição do território acentua a complexidade desta área,

sendo a maior parte pertencente ao concelho de Lisboa, e o restante pertencente aos concelhos

de Odivelas e Loures, a Noroeste e Nordeste respectivamente. A AEP abrange as freguesias da

Ameixoeira, Charneca, Lumiar e Santa Maria dos Olivais, respeitantes a Lisboa, Olival Basto

respeitante a Odivelas, Camarate e Prior Velho do concelho Loures. Fig. 2.02.

Fig. 2.01: Rede rodoviária principal.

Fonte: imagem do autor - adaptado demaps.google.pt.

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IST arquitectura DIOGO PIRES34

A zona Oeste compreendida entre o Lumiar, uma área urbana consolidada, e o limite Norte da

AEP, apresenta, regularmente, um tecido urbano bastante fragmentado onde proliferam excertos

de malhas de pequenas dimensões, muitas vezes desconexas das pré-existências. Isto,

sobretudo, por um lado, devido à ocupação ilegal, que deu origem às AUGI, por outro, devido às

sucessivas intervenções avulsas de realojamento. Esta fragilidade urbana faz-se notar mesmo

a nível da mobilidade interna, com inúmeras vias sem saída e dificuldade de acesso a zonas

adjacentes. Trata-se de uma vasta área que carece em muito de uma consolidação. Fig. 2.03.

Fig. 2.02: Limites Políticos na AEP.

Fig. 2.03: Caracterização Urbana na AEP.

Fontes: imagem do autor - adaptado demaps.google.pt;www.cm-lisboa.pt;www.cm-loures.pt;www.cm-odivelas.pt.

Fonte: imagem do autor - adaptado demaps.google.pt.

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IST arquitectura DIOGO PIRES 35

Fig. 2.04: Características Gerais Dominantes do Edificado na AIP.

Fonte: imagem do autor - adaptado demaps.google.pt.

A Área de Intervenção de Projecto (AIP) foca-se numa zona mais restrita da AEP, neste caso,

abrangendo parte das freguesias da Charneca (Lisboa) e Camarate (Loures), concentrando-se

sobretudo no núcleo histórico da Charneca e sua envolvente próxima. Figs. 2.02 e 2.03.

A continuidade urbana é quebrada por pequenos bairros de habitação ilegais que se apresentam

em mau estado de conservação, havendo mesmo algumas habitações em estado de ruína. A

imagem urbana encontra-se muito degradada por um constante salpicado deste tipo de edifícios

e ainda pela forte presença de armazéns de grandes dimensões. Com a construção da nova

Avenida Santos e Castro, que tem um carácter de via rápida e cria uma ligação extra entre a 2ª

Circular e o Eixo N-S, fica ainda mais vincada a separação entre as freguesias da Charneca e

Camarate, apesar do potencial de mobilidade desta nova via. Fig. 2.04.

A AIP abrange ainda parte do Plano de Urbanização do Alto do Lumiar, cuja área total se

estende desde o Lumiar até toda a freguesia da Charneca. É um plano que pretender dar a este

território uma nova lógica de espaço urbano, assente numa estrutura de malha reticulada, mas

que parece pouco claro em situações limítrofes na zona Norte da Charneca e no encontro com

o núcleo histórico. Fig. 2.04.

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IST arquitectura DIOGO PIRES36

2.02 ANÁLISE FÍSICA

Ao se analisar o relevo da AEP, é possível verificar que há uma amplitude de variação topográfica

bastante elevada, que vai desde os 20 aos 170 metros, aproximadamente. Revela-se um território

que apresenta desde grandes acidentes topográficos, sobretudo na zona Norte e Oeste, a zonas

de maior suavidade a Sudeste, uma zona planáltica. A sinuosidade das curvas de nível deixa

antever alguma complexidade topográfica. Fig 2.05.

A AIP insere-se num contexto intermédio destas duas situações contrastantes, na transição

do planalto para um conjunto de pequenos cumes. É por isso caracterizada por uma encosta

suave localizada e com pendente para Este, seguida de um relevo mais acidentado a Oeste, que

antecipa os referidos cumes. As cotas variam entre sensivelmente os 110m e os 150m. Fig 2.06.

Para a caracterização dos espaços verdes foram adoptadas quatro tipologias com na base não

só nos PDM de Lisboa e Loures, mas sobretudo por observação in situ, para que a classificação

se adeqúe aos objectivos do trabalho e não seja nem demasiado detalhada nem demasiado

genérica. As Zonas Verdes de Recreio são áreas consolidadas e geralmente equipadas, que se

destinam ao lazer e recreio da população. Há apenas uma área deste tipo na AIP, o Jardim das

Amoreiras, no centro da Charneca. As Zonas Verdes Residuais são compostas por espaços

onde a construção é inviável/proibida ou onde é obrigatória a preservação do espaço enquanto

solo permeável/natural, mas que não pode ser usufruído pela população enquanto espaço de

estada ou de lazer. Estas zonas verdes podem servir para melhorar a qualidade estética e o

enquadramento da construção envolvente. Situam-se normalmente ao longo de infra-estruturas

viárias ou em espaços sobrantes de operações de urbanização. Se estes se encontrarem

Fig. 2.05: Orografia.

Fonte: imagem do autor - adaptado demaps.google.pt.

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IST arquitectura DIOGO PIRES 37

abandonados serão incluídos na tipologia de “Expectantes”. As Zona Verdes de Produção são

todos os terrenos que apresentem sinais de produção agrícola a qualquer nível, desde pequenos

quintais para produção própria a áreas de produção agrícola industrial. Caso estejam ao

abandono serão incluídas na tipologia “Expectantes”. As Zonas Verdes Expectantes englobam

todos os espaços de solo permeável que se apresentem em clara situação de abandono. Podem

resultar diversas origens, mas as mais comuns são as zonas que após operações de construção

não foi atribuído nenhum uso específico ou que não esteja a ser gerido por nenhuma entidade

(no caso das infra-estruturas viárias), ou ainda de quintas ou terrenos agrícolas deixados ao

abandono. Fig. 2.07.

A análise de declives evidência a localização de pequenos focos de falhas topográficas, isto

é, transições súbitas de elevação. Estas falhas situam-se em torno do conjunto de cabeços

presentes junto ao limite da AIP, a Noroeste e Sudoeste principalmente. Fig. 2.08. Apesar da

presença de declives acentuados, o risco de deslizamentos não se constata na AIP, havendo

sim alguns pontos de risco médio a alto já na AEP, numa zona de escarpas do vale de Odivelas.

Fig. 2.09.

Ao nível da exposição solar na AIP, ela é principalmente marcada por uma exposição de Este e

de Sul, revelando a este nível um muito bom potencial não só para a implantação de edifícios e

expansão urbana, como também para área de produção agrícola. Fig. 2.10.

Fonte: imagem do autor - adaptado dewww.cm-lisboa.pt; maps.google.pt.

Fonte: imagem do autor.

Fonte: imagem do autor - adaptado deCML/DPC 2008;maps.google.pt.

Fonte: imagem do autor - adaptado dewww.cm-lisboa.pt; maps.google.pt.

Fig. 2.07: Classificação das Zonas Verdes na AIP. (direita)

Fig. 2.06: Orografia na AIP. (esquerda)

Fig. 2.09: Risco de Deslizamentos na AIP. (direita)

Fig. 2.08: Declives na AIP. (esquerda)

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IST arquitectura DIOGO PIRES38

Os dados disponíveis para o estudo da vulnerabilidade sísmica dizem respeito apenas ao

concelho de Lisboa. Este estudo mostra que a AIP se encontra numa zona de vulnerabilidade

maioritariamente alta neste concelho, havendo alguns traços de vulnerabilidade muito alta na

envolvente próxima. Assim sendo, assume-se uma vulnerabilidade de média a alta para a área

pertencente ao concelho de Loures. Fig. 2.11.

Relativamente à estrutura hídrica, denota-se apenas uma leve presença do sistema húmido

nos limites da zona Sul da AIP. Fig. 2.12. O risco de inundação praticamente não está presente,

havendo apenas um foco de risco de inundação elevado precisamente a Sul, próximo do centro

da Charneca. Fig. 2.13.

Fig. 2.11: Vulnerabilidade Sísmica na AIP. (direita)

Fig. 2.10: Exposição Solar na AIP. (esquerda)

Fig. 2.13: Risco de Inundação na AIP. (dir.)

Fig. 2.12: Estrutura Hídrica na AIP. (esq.)

Fonte: imagem do autor - adaptado deCML/DPC 2008;maps.google.pt.

Fonte: imagem do autor - adaptado dewww.cm-lisboa.pt; maps.google.pt.

Fonte: imagem do autor - adaptado deCML/DPC 2008;maps.google.pt.

Fonte: imagem do autor - adaptado dewww.cm-lisboa.pt; maps.google.pt.

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IST arquitectura DIOGO PIRES 39

2.03 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

A cidade de Lisboa sofre, desde a sua génese até aos dias de hoje, sucessivas transformações

e aumentos dos seus limites, que foram acompanhando as necessidades e o crescimento

da população. Analisando a freguesia da Charneca à luz desta expansão evolutiva, torna-se

evidente a relação directa do seu crescimento e consolidação do seu núcleo central originário,

acompanhando, de certa forma, o crescimento de Lisboa.

A Charneca pertencia no séc. XIX ao chamado Termo de Lisboa, um conjunto de localidades

exteriores à cidade de Lisboa e que definiam os seus limites. Mas a partir do início do séc. XX,

com a expansão de Lisboa para aquilo que são, muito aproximadamente, os limites de hoje

em dia, a Charneca passa a pertencer à cidade de Lisboa, ficando assim localizada numa zona

periférica desta, na “franja” Norte, no limite com o concelho de Loures. Fig. 2.14.

O núcleo antigo da Charneca sofreu também várias transformações ao longo do tempo,

sobretudo no acréscimo do edificado construído. A partir da análise dos mapas, cartas militares,

ortofotomapas e vista aérea, representados na Fig. 2.15, é possível verificar a evolução deste

núcleo até à actualidade. A partir desta análise pode-se constatar que, quer a rede viária, quer

o sistema edificado, são sistemas alterados sobretudo por adição, não por meio de um plano

global que define qual o próximo passo de expansão na continuidade das pré-existências, mas

simplesmente aproveitando os espaços livres deixados pelas anteriores intervenções. São

adições em função da necessidade local e, regra geral, em pequena escala, concentradas em

torno do núcleo central da Charneca.

Com a construção do aeroporto de Lisboa na década de 1940, muitas das ligações entre a

Charneca e o centro de Lisboa foram eliminadas. A expansão do mesmo veio acentuar ainda

mais a segregação da periferia Norte de Lisboa com o centro, constituindo um grande obstáculo

difícil de contornar, apesar das mais-valias que podem advir da implementação deste tipo de

equipamento em termos de acessibilidades e mobilidade.

Fonte: SILVA, Augusto Vieira da – Dispersos; 1ª Edição, Volume I Lisboa: ed. CML, 1960.Adaptado de Mapa IV, Mapa V e Mapa VI, pp. 47-51.

Fig. 2.14: Evolução do Termo de Lisboa.

1836 1852 1940

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IST arquitectura DIOGO PIRES40

Fig. 2.15: Evolução do núcleo da Charneca.

Fontes: a) AML - Mapa de Lisboa e arredores;b) AML - Plano de Distribuição da Zona Verde e Zonas de Interdição de Construção; c) AML - Carta do Concelho;d) IGE - Carta Militar;e) maps.google.pt;f) Imagem do autor.

a) 1891

d) 1993

b) 1940

e) 2009 f) Síntese

c) 1978

1891

1993

19401978

2009Planeado

Àrea de Intervenção de Projecto

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IST arquitectura DIOGO PIRES 41

Contrastando com as intervenções pontuais que foram surgindo na Charneca, nas décadas de

1960/70 verifica-se um boom no crescimento da construção de habitação um pouco por toda

a zona entre o limite Norte de Lisboa e o limite posterior do aeroporto de Lisboa, muito devido

ao repentino aumento da população na cidade de Lisboa. Este aumento deveu-se sobretudo à

dinâmica de êxodo rural, com uma afluência de vários pontos do país, mas também pela vinda

dos retornados das ex-colónias portuguesas e pelo crescimento da população lisboeta. Era

uma população genericamente com reduzido poder económico, o que a levou à fixação nestes

locais periféricos da cidade. Aqui era mais fácil e barato construir pois, se por um lado, eram

zonas esquecidas onde a fiscalização foi pouco eficiente e permitiu a constituição de inúmeros

bairros de génese ilegal, por outro, estas zonas eram ainda zonas isoladas e cujos proprietários

mantinham apenas um reduzido contacto com as mesmas, levando a situações de abandono

durante vários anos que permitiu a posse ilegal de diversos terrenos.

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IST arquitectura DIOGO PIRES42

Fig. 2.16: Hierarquia da Rede Viária na AEP.

Como já foi referido anteriormente, o território em estudo encontra-se envolvido por três vias

de grande importância. Exceptuando uma, são vias da Rede Estruturante (1º nível), a CRIL (1) e

a 2ª Circular (2), cuja função é assegurar os principais atravessamentos da cidade assim como

os percursos mais longos quer interna quer externamente. Mas a AEP é ainda atravessada pelo

Eixo N-S (3), também uma via da Rede Estruturante, que por sua vez se encontra directamente

ligada à CRIL e 2ª Circular e passa na envolvente próxima da AIP. É por este conjunto de vias

que se pode afirmar que este território se encontra num local privilegiado em termos da função

de transporte da rede viária, isto é, é um local fácil e rápido de se chegar e atravessar. Fig. 2.16.

A completar o anel está uma via da Rede de Distribuição Principal (2º nível), a Av. Padre Cruz

(4), que constitui uma importante continuidade com sistema de 1º nível na entrada Oeste da

cidade de Lisboa. Esta faz a ligação entre CRIL, Eixo N-S e 2ª Circular, tendo continuidade para

o interior da cidade através da Av. da República. Este tipo de vias deve assegurar a distribuição

dos maiores fluxos da cidade, percursos médios e acesso à rede de 1º nível. Ainda nesta rede,

e relevantes para o trabalho realizado, encontram--se na AEP o Eixo Central da Alta de Lisboa

(5) - um eixo dividido em três tramos que vem rematar um outro eixo que se inicia na Baixa de

Lisboa - e a Av. Nuno Krus Abecassis (6), complementada pela Av. Sérgio Vieira de Mello (7),

que ocupam uma posição central na área do PUAL fazendo a ligação ao Eixo N-S. Estão ainda

em fase de construção o segundo e terceiro tramos do Eixo Central da Alta de Lisboa, a nova

Av. Santos e Castro (8) e um troço de ligação entre estes dois. Quando completo, o Eixo Central

funciona como coluna vertebral do sistema de vias do Alto do Lumiar e reforça a ligação entre a

2ª Circular e o Eixo N-S. Pela elevada proximidade ao Eixo Central, é questionável a pertinência

da construção da nova Av. Santos e Castro, ou pelo menos o seu carácter de via de 2º nível.

Fig. 2.16.

2.04 MOBILIDADE

Fonte: imagem do autor - adaptado de maps.google.pt

1

3

25

4 6

7

8

5

5

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IST arquitectura DIOGO PIRES 43

A Rede de Distribuição Secundária (3º nível) assevera a distribuição próxima e os fluxos de

tráfego viário para a rede de nível superior. Na AIP, esta rede é composta pelo troço R. Bombeiros

Voluntários de Camarate (11) - R. Cidade de Lisboa (12) - antiga Av. Santos e Castro (13), que

funciona como eixo de atravessamento e acessibilidade da Charneca e de Camarate, sendo

por isso talvez o eixo interno mais vital para estes dois núcleos e para a AIP. Ainda importante,

o troço Estrada Militar (14) - R. Dr. Manuel Rodrigues Júnior (15) - Campo das Amoreiras

(16) - Estrada do Poço de Baixo (17), que faz a ligação do núcleo da Charneca às localidades

envolventes Oeste e Sul, Galinheiras e Alto do Lumiar respectivamente, e completa a distribuição

de proximidade na zona Oeste da AIP. A Rua Pero Escobar (18) perfaz a distribuição Nordeste da

AIP, importante para a ligação à área habitacional e de actividades económicas desta zona. Está

ainda prevista a construção de uma via na zona Este da Charneca (19) e outra na zona Oeste

(20), que dão continuidade ao sistema da Alta de Lisboa. A primeira possivelmente virá substituir

a antiga Av. Santos e Castro, e a segunda servirá de reforço da rede de 3º nível. Fig. 2.17.

Na Rede de Acesso Local (4º nível) fazem-se sentir muitas das fraquezas da mobilidade da AIP.

Esta rede deve ser composta por vias estruturantes dos bairros e permitir o acesso ao edificado,

onde o peão deve ter o maior destaque. Na AIP esta rede claramente carece de vias, sendo

composta por inúmeras vias sem continuidade que terminam em becos sem saída. Na Charneca

há ainda ligações que foram suprimidas por se tratar de uma área em transformação. Fig. 2.17.

Fonte: imagem do autor - adaptado de maps.google.pt

Fig. 2.17: Hierarquia da Rede Viária na AIP.

11

12

13

1415

16

17

18

1920

Eixo N-S

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IST arquitectura DIOGO PIRES44

Ao nível dos transportes públicos a AIP é apenas servida por duas redes de autocarros: a

Carris, no concelho de Lisboa, e a Rodoviária de Lisboa, que actua sobretudo no concelho de

Loures. A rede da Carris suporta praticamente toda a conexão ao interior da cidade, e torna-se

mais densa e consolidada à medida que se aproxima do centro. Já a rede da Rodoviária de

Lisboa opera sobretudo na zona Este da cidade e faz a ligação entre os concelhos de Loures e

Lisboa. Fig. 2.18.

Por esta ser uma zona afastada do centro de Lisboa, ela encontra-se também afastada da rede

de metropolitano, sendo que a estação de metro mais próxima é a da Ameixoeira. É possível

alcançar esta rede através de autocarro. Está ainda mais afastada da rede de comboio, não

havendo qualquer relação de proximidade com transporte intermédio fazendo-se apenas um

transbordo, ou seja, serão sempre necessários dois ou mais transbordos.

A AIP está totalmente abrangida por pelo menos um sistema de transporte público, mas a

escassez de oferta confere a este território uma mobilidade muito moderada ou mesmo fraca.

Fig. 2.18: Rede de Transportes Públicos na AIP.

Fonte: imagem do autor - adaptado de maps.google.pt

Eixo N-S

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IST arquitectura DIOGO PIRES 45

De um modo geral, a estrutura edificada da AIP é caracterizada por edificações num estado

de conservação razoável a mau, em que algumas delas são de génese ilegal. Na Fig. 2.19 é

feita a caracterização do edificado, sendo que todas as áreas não caracterizadas são áreas

expectantes, isto é, áreas que se encontram ao abandono, sem que se perceba muito bem se

pertencem ao domínio privado ou público, ou áreas que se encontram em transformação mas

em que essa actividade se encontra temporariamente parada sem indícios de continuação breve.

Este último caso pode dever-se a dificuldades de conclusão dos processos de expropriação na

área do PUAL.

O parque habitacional é principalmente composto por habitações unifamiliares de pequena

dimensão, dispostas, normalmente, em banda ao longo dos eixos viários. A maioria apresenta

dois pisos de construção (R/c e 1º andar) e algumas têm o primeiro piso com comércio, uma

combinação típica da habitação de meios mais rurais. Estão ainda presentes focos de habitação

colectiva (1) derivados de operações de urbanização, algumas delas de custos controlados para

o processo de realojamento de habitantes que se encontravam antes em habitações degradas

e/ou ilegais. Fig. 2.19.

O comércio integrado no edificado de habitação é composto por lojas de comércio básico

(mercearias, padarias, talhos, etc.), cafés/restaurantes ou drogarias/lojas de ferragens. O

sector das actividades económicas da AIP pode-se dividir em três áreas dominantes: indústria

2.05 CARACTERIZAÇÃO DA ESTRUTURA EDIFICADA

Fonte: imagem do autor - adaptado de maps.google.pt

Fig. 2.19: Caracterização do Edificado na AIP.

1

1

2

4

5

3

6

Eixo N-S

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IST arquitectura DIOGO PIRES46

automóvel, logística e construção. Os edifícios que albergam estas actividades são tipicamente

grandes armazéns concentrados em conjuntos de dimensões razoáveis, localizados juntos

aos aglomerados habitacionais. O seu estado de conservação varia entre o bom e o muito

mau, sendo este último verificado maioritariamente em armazéns de dimensões mais pequenas

normalmente situados nos terrenos anexos à habitação. Fig. 2.19.

Os equipamentos presentes neste território são uma escola primária (2), inserida numa

urbanização de habitação colectiva, o Centro de Inspecção Automóvel (3) de Camarate, um

parque de jogos e jardim (4) no Campo das Amoreiras, a Igreja de S. Bartolomeu (5) também

junto ao Campo das Amoreiras, e um campo de futebol 11 (6), com deficientes condições para

utilização, já no extremo Oeste da AIP. Fig. 2.19.

O espaço público encontra-se algo deteriorado devido, não só, aos processos de reestruturação

activos na zona da Charneca, como também pela génese ilegal de muitas das construções,

sobretudo em Camarate. Por isso este espaço resume-se muito aos espaços canais de reduzida

dimensão, à excepção do Campo das Amoreiras e largo da Igreja da Charneca, um conjunto

que dá alguma vitalidade a está área e que constitui o núcleo originário e central da Charneca

conjuntamente com o edificado envolvente. Fig. 2.19.

Já o espaço privado, para além das já faladas construções, alberga terrenos de quintas de

outrora produção agrícola, na Charneca. Apresentam genericamente grandes dimensões

mas pontualmente surgem pequenos logradouros entre habitações ou nas suas traseiras.

Estas quintas estão no entanto em processo de expropriação, parcial ou totalmente, devido à

implementação do Plano de Urbanização do Alto do Lumiar. Fig. 2.19.

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IST arquitectura DIOGO PIRES 47

PLANO DIRECTOR MUNICIPAL

Para melhor se perceber de que modo é que os PDM de Lisboa e de Loures regulamentam

o espaço urbano da AIP, foi elaborado um esquema síntese (Fig. 2.20) que condensa numa

única planta as diversas classificações do espaço urbano que são relevantes para o estudo e

caracterização da AIP.

Destacam-se assim duas grandes áreas: a Área de Estruturação Urbana Habitacional na zona

da Charneca, que corresponde à área do PUAL (caracterizado mais à frente); e a Área Verde

de Protecção que abrange de Norte a Sul toda a frente Nascente da AIP. Daqui depreende-se

o elevado grau de transformação a que se encontra sujeita grande parte da AIP, assim como a

importância da preservação de uma grande área verde que funciona também como afastamento

e protecção ao aeroporto de Lisboa. Fig. 2.20.

Ainda de grande destaque ao nível da transformação da AIP, encontra-se aqui uma área territorial

de dimensões consideráveis em Camarate que ostenta Áreas a Consolidar e Beneficiar ou Áreas

a Recuperar ou Legalizar. São factores que indiciam uma fraca consolidação e fragilidade urbana

presente em Camarate, as quais devem ser alvo intervenção. Fig. 2.20.

Outro factor importante a ter em conta na AIP é o Núcleo de Interesse Histórico. Este núcleo

corresponde ao centro da Charneca e alberga Zonas de Protecção de Imóveis assim como

2.06 PLANOS URBANOS E CONDICIONANTES

Fonte: imagem do autor - adaptado de maps.google.pt;mapa interactivo do PDM de Lisboa empdm.cm-lisboa.pt;mapa interactivo do PDM de Loures emwww.cm-loures.pt.

Fig. 2.20: PDM de Lisboa e Loures na AIP.

Eixo N-S

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IST arquitectura DIOGO PIRES48

imóveis classificados como Património Municipal no PDM de Lisboa. Deve por isso ser feita

uma intervenção mais cuidada neste núcleo e sua envolvente, pendendo criteriosamente sobre a

viabilidade de possíveis demolições ou alteração da estrutura edificada. Fig. 2.20.

PLANO DE URBANIZAÇÃO DO ALTO DO LUMIAR

O PUAL foi elaborado em 1993 e aprovado em 1996, e vem criar uma nova centralidade na

cidade de Lisboa. Toma lugar no Alto do Lumiar e Charneca, que eram locais impregnados

de várias ocupações ilegais e quase na sua totalidade desqualificados. É proposta uma

transformação radical deste território através da construção de um novo núcleo urbano dotado

de todas as valências de uma cidade e que promove a expansão e continuidade urbana para

Norte.

Este plano urbano evidencia um eixo tripartido que estrutura toda a área, o denominado Eixo

Central. Ele surge no seguimento do chamado Eixo Histórico da cidade (um eixo com origem na

baixa de Lisboa, composto pela Rua Augusta, Av. da Liberdade, Av. Fontes Pereira de Melo, Av. da

República e Rua do Campo Grande) e faz a sua continuação e conclusão. É pelo segundo tramo

deste Eixo Central que se rege a maioria da malha urbana, cujos quarteirões são quadrangulares

de 160m de lado ao eixo da via, subdivididos numa malha mais pequena de 80m de largura de

forma a completar a malha principal. Através da inclusão de eixos diagonais à malha promove-

se uma maior diversidade morfológica dos quarteirões e também um modo de alcançar uma

melhor mobilidade interna. Fig. 2.21.

Fonte: imagem do autor - adaptado de maps.google.pt;SGAL - Alta de Lisboa: o presente e o futuro, 1ª edição, Lisboa, 2005, pp.42.

Fig. 2.21: Plano de Urbanização do Alto do Lumiar na AIP.

Eixo N-S

Parque Oeste

Eixo

Cen

tral

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IST arquitectura DIOGO PIRES 49

A zona Sul da AIP abrange toda a área Nordeste do Plano Urbano da Alta de Lisboa, que é

composta por uma área de uso misto, a Oeste, com predominância de uso habitacional; um

centro de transporte e actividades empresariais a Este; e ainda uma área de equipamentos e

zonas verdes que serve de filtro entre as duas anteriores (SGAL, 2005). Enquanto a zona de

actividades empresariais e a de equipamentos e zonas verdes seguem a directriz do Eixo Central,

a malha da zona habitacional sofre uma inflexão, acompanhando o terceiro tramo do Eixo da Alta

de Lisboa, o eixo de saída. Este tramo é o que faz a ligação ao Eixo N-S e tem já dimensões mais

reduzidas comparativamente aos outros dois. Fig. 2.21.

A malha urbana que se desenvolve em torno do terceiro tramo do Eixo Central não tem as

mesmas características dimensionais que a malha principal do PUAL. Não só não se verifica

a disponibilidade de espaço para concretizar uma malha desta envergadura como também é

necessário aqui proceder-se a um ajustamento de escala dada a proximidade ao núcleo histórico

da Charneca e outros edificados existentes. Fig. 2.21.

A escolha de incorporar na AIP esta área do PUAL prende-se pelo facto de não estar ainda

consolidado o modo como o espaço proposto por este plano se relaciona com o núcleo histórico

da Charneca. A aplicação de uma malha rígida que absorve todo o espaço não ocupado por este

núcleo parece sufocar e menosprezar o enquadramento de um núcleo histórico que se limita e

existir linearmente ao longo dos arruamentos que o definem. Também de forma a garantir uma

continuidade urbana com Camarate a AIP se estende ao núcleo da Charneca e sua envolvente.

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IST arquitectura DIOGO PIRES50

Fonte: imagem do autor - adaptado de maps.google.pt;CML, PUAL - Planta de Zonamento Z.4 (1995).

Fig. 2.22: Servidão Aeronáutica na AIP.

SERVIDÃO AERONÁUTICA

A proximidade do Aeroporto de Lisboa à AIP condiciona a volumetria do edificado e mesmo a

sua existência em algumas zonas do terreno. É importante e obrigatório respeitar as condições

de segurança por proximidade a este tipo de equipamento. Está por isso definida uma área onde

não é permitida a construção de edifícios e, na envolvente desta, estão definidas cotas que

limitam a sua altura máxima ou de qualquer outra construção, como descrito na Fig. 2.22.

Eixo N-S

115m

120m

120m

125m

125m

130m

140m

135m

145m

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3. CARACTERIZAÇÃO DO PROJECTO

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IST arquitectura DIOGO PIRES 53

A proposta de projecto urbano, apesar de abranger tanto Charneca como Camarate, incide

sobretudo no território da primeira localidade. Define acções de intervenção essenciais para

desenvolver a continuidade urbana e para um funcionamento mais ágil da mobilidade interna.

Estes foram identificados como uns dos maiores problemas desta área e que servirão de

precursores para a sua revitalização.

A intervenção é composta por três principais pontos-chave: consolidação do sistema viário

da Charneca e Camarate, e entre estas e as áreas envolventes (Alto do Lumiar, Ameixoeira,

Galinheiras); consolidação da estrutura comercial e económica; e remate do Plano Urbano da

Alta de Lisboa. Preocupa-se ainda por outros pontos de elevado interesse: continuidade da

macro estrutura ecológica; continuidade do espaço público através de espaços com elevada

riqueza Natural (jardins, parques, outros); sucessão de espaços públicos qualificados (praças;

eixos); requalificação do parque habitacional.

EIXO LENTO, EIXO DE ATRAVESSAMENTO E EIXO CIRCULAR

Como concretização da consolidação do sistema viário na Charneca e envolvente, o projecto

prevê a reestruturação e construção de três eixos principais que ordenam e hierarquizam todo

o sistema. A consagração desta tríade ordenadora é resultado directo da observação das

fragilidades locais e de uma perspectiva de consolidação de bases para o futuro desenvolvimento

local, sendo composta pelo Eixo Lento, Eixo de Atravessamento e Eixo Circular.

O eixo de carácter lento resulta da transformação da Rua Cidade de Lisboa, adaptando-a ao

nível da pavimentação, mobiliário urbano e, quando possível, no perfil, para responder a um uso

mais intensivo de pessoas do que veículos.

Serve de suporte a um conjunto elevado de

comércio já sediado no local e visa ser um

dos espaços públicos de referência para este

tipo de uso, atraindo e criando condições

para o crescimento do comércio. É ao longo

deste eixo que será favorecida a fixação do

comércio, não só pelo potencial que a sua

reestruturação oferece, como também pela

agilização dos processos para aquisição e

reconversão de imóveis que incluam este tipo

de uso no piso térreo. Fig. 3.01.

O extremo Sul deste Eixo Lento culmina junto ao Campo das Amoreiras, num espaço

suficientemente amplo para se tornar uma praça. Este desfruta já de ser um ponto marcante

no contexto do núcleo histórico da Charneca e ainda de um nível razoável de comércio aqui

3.01 PROPOSTA GLOBAL

Fig. 3.01: Eixos Lento.

Fonte: imagem do autor; vista aérea adaptada de maps.google.pt (2009).

Eixo Lento

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IST arquitectura DIOGO PIRES54

presente e oportunidade para a sua expansão. O extremo Norte, em Camarate, termina adjacente

a um espaço com elevado potencial para se tornar também uma praça, sendo necessária a

construção de edificado que a sirva e defina. Tornar-se-ia assim um ponto marcante na entrada

Norte de Camarate. Este espaço situa-se a Oeste do Eixo Lento, e a Este, também adjacente ao

Eixo, está já presente uma infraestrutura comercial - supermercado Pingo Doce. A concretização

desta nova praça seria a situação ideal para a consolidação do Eixo Lento, que ficaria assim

constituído por duas praças importantes na dinâmica local interligadas por uma via que expande

as valências de ambas. Apesar de não ter sido elaborado nenhum estudo concreto em relação

à praça Norte, a sua concretização não foi comprometida pelas restantes decisões de projecto.

Muito pelo contrário, ela é estimulada com o maior interesse. Fig. 3.01.

O peão/transeunte assume no Eixo Lento um papel importante pois ele é agora o protagonista

de um espaço com características mais ponderadas às suas necessidades e conforto: percorrer,

estar, usufruir, redução de exposição a veículos motorizados e conflitos inerentes, etc. Trata-se

de uma “via-praça” que ancora Charneca e Camarate através de um uso comum: as actividades

comerciais quotidianas.

O eixo de carácter rápido, ou Eixo de Atravessamento, surge com o propósito do

descongestionamento do trânsito no interior dos núcleos centrais da Charneca e Camarate,

absorvendo o trânsito de veículos que

simplesmente atravessam esta zona. Tem

um carácter linear com curvas suaves, com

perfil de via de duas faixas para cada sentido

com largura nunca menor do que 3,50m para

cada faixa, passeios com largura não inferior a

3,00m e separação de sentidos com passeio

nas zonas edificadas. Por isso, é com alguma

naturalidade que o trânsito mais rápido se vai

reorientar e acumular neste eixo. Ele permite

um atravessamento mais confortável para

os veículos e serve de suporte de acesso

às zonas de logística estando directamente

conectado à nova Av. Santos e Castro, uma via

de nível superior, e, através desta, ao Eixo N-S,

uma via que oferece acesso rápido ao sistema

rodoviário nacional. Fig. 3.02.

Por último, o eixo de circulação entre

freguesias, ou Eixo Circular, confere uma

maior proximidade e conexão entre Charneca,

Camarate, Galinheiras e Ameixoeira.

Através da consolidação deste eixo estas

Fig. 3.02: Eixos de Atravessamento.

Fig. 3.03: Eixos Circular.

Fonte: imagem do autor; vista aérea adaptada de maps.google.pt (2009).

Fonte: imagem do autor; vista aérea adaptada de maps.google.pt (2009).

Eixo de Atravessamento

Eixo Circular

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IST arquitectura DIOGO PIRES 55

quatro localidades ficam directamente ligadas entre si de um modo circular, promovendo

o relacionamento entre todas. Este eixo está apenas parcialmente definido na Ameixoeira e

Galinheiras pois estes correspondem a outros locais de intervenção no âmbito da disciplina de

Projecto Final. Foi por isso feito um trabalho conjunto com os intervenientes destes locais para

assegurar a ligação às propostas aí desenvolvidas e a continuidade do eixo proposto. Fig. 3.03.

CENTRO DE ACTIVIDADES ECONÓMICAS

A consolidação da estrutura comercial e económica local é feita recorrendo, não só, à definição

de um eixo de eleição para a concentração de algumas actividades de cariz secundário, o Eixo

Lento referido anteriormente, mas também, definindo um Centro de Actividades Económicas

com uma amplitude à escala da cidade. Pela sua localização, tira partido da proximidade ao Eixo

N-S e à nova Av. Santos e Castro havendo assim um acesso fácil e rápido a este centro. Fig.

3.04.

É um Centro que visa servir um espectro alargado da população, albergando actividades

diversificadas, quer do sector secundário quer do terciário, e quiçá até do sector primário, não

tendo sido feito, no entanto, um estudo dessa viabilidade até à data de elaboração do presente

documento. Este Centro localiza-se ainda numa zona de charneira entre Camarate e a Charneca,

sendo de esperar que a implantação deste tipo de programa favoreça um maior diálogo entre

as duas localidades, uma vez que o atravessamento da nova Av. Santos e Castro neste sítio

provoca alguma segregação física devido ao

tipo de construção em talude. Fig. 3.04.

De modo a diluir o impacto visual do viaduto

e taludes da nova Av. Santos e Castro, o

Centro de Actividades Económicas prevê a

Fig. 3.04: Centro de Actividades Económicas.

Fig. 3.05: Maqueta da Proposta: Centro de Actividades Económicas.

Fonte: imagem do autor.

Fonte: imagem do autor; vista aérea adaptada de maps.google.pt, 2009.

Centro de Actividades Económicas

Campo das Amoreiras

Campo das Amoreiras

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IST arquitectura DIOGO PIRES56

construção de vários edifícios em altura assentes num embasamento que faz a transição para a

escala dos edifícios envolventes. Este embasamento terá um carácter bastante permeável para

assegurar um diálogo mais eficaz entre as duas freguesias, podendo ser mesmo constituído por

um conjunto de vários edifícios e uma rede de ruas pedonais que os una. Albergará ainda espaço

subterrâneo para estacionamento das empresas e comerciantes que aqui se sediarem assim

como para o público que recorre a esta área. Fig. 3.05.

ESTRUTURA DO EDIFICADO E ESPAÇO PÚBLICO

Como forma de remate e continuidade do Plano da Alta, a estrutura do edificado rege-se

por uma malha muito semelhante a este plano. A regra da malha é pontualmente quebrada e

ajustada de forma a articular-se com o edificado existente, sobretudo com o núcleo histórico da

Charneca. É o edificado existente que rege, em muito dos casos, os alinhamentos do edificado

novo quando este se encontra na sua proximidade, moldando a rigidez da malha, volumetria

e cércea do edificado. Deste modo a continuidade urbana ganha solidez ao nível visual, da

circulação e do espaço público, e criam-se condições para que surjam espaços inesperados e

de natureza diversificada. Fig. 3.06.

O espaço público resultante desta intervenção, é, em grande parte, coincidente com o espaço

vazio. É um espaço desenhado em contínuo, descrevendo uma malha que remata o Plano do

Alto do Lumiar a Norte - com a escala e valências que caracterizam este plano - e que se dilui

numa malha com características opostas, uma malha orgânica de génese rural e de pequena

escala - que caracteriza o núcleo da Charneca. Fig. 3.07.

A continuidade e conforto da circulação pedonal nunca são esquecidos e são elaborados de

forma diversificada. Desde passeios com dimensões generosas e, regra geral, arborizados, a

largos e praças distintos que pautam os diversos percursos, passando por zonas ajardinadas e

parques com grande riqueza natural dotados de mobiliário urbano e equipamentos.

Fonte: imagem do autor; vista aérea adaptada de maps.google.pt, 2009.

Fig. 3.06: Estrutura do novo edificado da Proposta de Intervenção.

Estrutra do Novo Edificado

Campo das Amoreiras

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IST arquitectura DIOGO PIRES 57

Fig. 3.07: Proposta de Intervenção.

Fonte: imagem do autor; vista aérea adaptada de maps.google.pt, 2009.

São ainda definidos espaços com valências para actividades económicas, como é o caso do

Eixo Lento, espaços que permitem um uso mais casual ou sazonal, como eventos, festivais, etc.,

e ainda uma rede de espaço verdes. Esta rede foi elaborada de forma a consolidar a estrutura

ecológica da cidade dando continuidade aos corredores verdes e às áreas verdes definidas para

o efeito, como é o caso da zona adjacente ao aeroporto. É composta por parques e jardins, já

referidos anteriormente, que primam pelo reduzido grau de quebra de continuidade entre eles,

sendo possível definir vários percursos no interior da malha urbana que se realizam sempre por

espaços com características naturais. Fig. 3.07.

DEMOLIÇÕES: EDIFICADO E VIAS

Para que seja possível a realização de uma intervenção com estes contornos, será necessário

proceder-se à demolição de algum edificado existente assim como algumas vias ou troços de

vias. O critério desta acção passou sobretudo por seleccionar os edifícios que se encontravam

num estado de conservação tal que a sua recuperação era inviável e pela selecção de edifícios

ou conjuntos de edifícios que pela sua implantação comprometem a viabilidade de uma

reestruturação de maior escala e mais favorável para o local, como é o caso do conjunto de

armazéns da Charneca junto ao aeroporto (1). Fig. 3.08.

Proposta de Interveção

500 m2501000

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IST arquitectura DIOGO PIRES58

Foram ainda identificados edifícios cujas funções e dimensões entravam em conflito com

a proximidade ao centro histórico da Charneca e com o uso predominante habitacional (2).

Tanto para este caso como para o anterior foram propostos novos edifícios, com condições

mais vantajosas do ponto de vista de localização e de qualidade das infraestruturas, para as

actividades aí desenvolvidas. Situam-se ao longo do Eixo de Atravessamento, entre este e a nova

Av. Santos e Castro, uma vez que esta será a via por excelência que melhor servirá este tipo

de uso. Tira-se então partido da reestruturação desta área para requalificar e melhor enquadrar

actividades que se desenvolviam em edifícios que desqualificavam a imagem urbana e que por

vezes se situavam em zonas mais recônditas. Fig. 3.08.

Entre os edifícios que se propõem demolir encontram-se dois pequenos conjuntos que estão

classificados como Património Municipal. Fig. 3.08. A opção de concretizar a sua demolição

passa, em muito, pelo elevado mau estado de conservação em que se encontram ambos os

conjuntos, mas não só. Por um lado, são conjuntos que não se destacam por ter características

arquitectónicas distintas das que já estão presentes no núcleo histórico que é mantido. Por outro

lado, quando confrontados com o facto de ficarem demasiado segregados, por descontinuidade,

do núcleo que fazia o seu enquadramento, tornam-se elementos perdidos do seu contexto

que nem criam valor patrimonial, por não serem representativos per si daquilo que foram as

ocupações iniciais da Charneca, nem permitem que a reestruturação desta área consiga alcançar

uma clareza e qualidade urbana desejáveis.

Fig. 3.08: Esquema de Demolições.

Fonte: imagem do autor.

1

2

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Fig. 3.09: Esquema de Funções.

Fonte: imagem do autor.

ESTRUTURA EDIFICADA: FUNÇÕES

A escolha da localização das várias funções associadas ao edificado proposto foi feita com

base em relações de proximidade/afastamento, compatibilidade de usos e de formar a não criar

grandes zonas mono funcionais. Este último aspecto foi especialmente tido em conta pois é um

dos factores que gera um uso demasiado intensivo durante um determinado período de tempo

e um uso muito fraco ou nulo fora desse período. O uso de uma área urbana deve idealmente

manter-se num nível moderado e sem que hajam grandes picos de alteração, pois se por um

lado o uso intensivo pode criar situações de congestionamento e de sobrecarga dos serviços,

por outro, o parcial abandono pode levar, por exemplo, a situações de insegurança e aumento

de criminalidade.

A fig. 3.09 ilustra a proposta de usos do edificado, sendo de salientar a predominância do uso

habitacional e misto, visto que esta é uma área prevista no PDM de Lisboa como habitacional.

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3.02 DETALHE DA PROPOSTA

Para desenvolver com maior detalhe e à escala 1:500, foi escolhida uma Área de Detalhe da

Proposta (ADP), uma porção da proposta apresentada anteriormente: a zona de interface entre

o núcleo histórico da Charneca e o Plano do Alto do Lumiar, junto à rotunda Norte do Eixo

Central. Esta zona tem peculiar interesse uma vez que é uma zona de relacionamento entre duas

realidades distintas: por um lado o carácter moderno, urbano, citadino que está subjacente à Alta

de Lisboa; por outro o carácter modesto e discreto emanado pelo núcleo originário da Charneca.

Além deste desnível de realidades, há ainda que de lidar com um desnível físico, uma diferença

considerável de cotas, cerca de 12m, num reduzido espaço de manobra. Fig. 3.10.

O Eixo Central é o eixo que arbitra a conformação da malha urbana da Alta de Lisboa e também

um dos que faz a ligação mais directa à cidade consolidada para Sul. É portanto um eixo de

elevada importância na envolvente da Charneca e é por isso também importante criar uma

ligação directa a este, sobretudo quando esta pode ser efectuada num dos dois principais nós

que o caracterizam - a rotunda Norte. A Estrada do Poço de Baixo é a rua que se situa mais

próxima deste sistema, interceptando-o inclusivamente, e que tem já continuidade pelo núcleo

histórico através do Eixo Lento, tendo que vencer um desnível de 10m desde a rotunda Norte até

ao inicio da implantação do edificado existente. Fig. 3.10.

Apesar da diferença de cotas, é possível garantir uma ligação viária, redesenhando a Estrada

do Poço de Baixo, com declive máximo de 9,6%. Assim é garantida a circulação de veículos

e criam-se condições para que a pedonal também seja possível, já que se trata de uma curta

distância a percorrer - 104m - com este declive. São aliás exemplo deste tipo de vias, várias

ruas existentes na cidade de Lisboa, sobretudo na baixa. A Rua do Alecrim, no Cais do Sodré,

foi o caso escolhido para comparação e estudo do declive proposto. Tem um lanço inicial, junto

ao Cais do Sodré, com cerca de 70m e 12,5% de inclinação e depois outro lanço, até ao Largo

de Camões, com cerca de 300m e 9,8% de inclinação. A reestruturação proposta à Estrada

do Poço de Baixo não ultrapassa os valores de declive deste exemplo e apenas se desenvolve

numa distancia três vezes menor, concluindo-se que será uma rua mais confortável que a Rua

do Alecrim. Fig. 3.11.

Fig. 3.10: Localização da ADP.

Fonte: imagem do autor; vista aérea adaptada de maps.google.pt, 2009.

Núcleo Histórico da Charneca

Estr. do Poço de B

aixo

Eixo

Cen

tral

ADP

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IST arquitectura DIOGO PIRES 61

Esta é também uma zona de proximidade ao Eixo Lento. É por isso do maior interesse que se

faça a ligação deste eixo à Alta de Lisboa, visto que isso trará mais-valias no fluxo de pessoas

que usufruem deste espaço, além de permitir um enorme acréscimo na continuidade urbana.

Mas para o sucesso desta ligação, o desenho foi elaborado com vista ao conforto de quem mais

tirar partido dela: as pessoas. Entre outros aspectos, o conforto do espaço público alcança-se

através da criação de espaços com pendentes suaves, e este é aqui o aspecto mais crítico.

Para resolver o problema da pendente elevada e suavizar o percurso pedonal entra a rotunda

Norte e o extremo Sul do Eixo Lento, foi criada uma praça que faz a ligação entre ambos. É

conseguida através do rebaixo das cotas do terreno, escavando parte da área entre a Igreja

de S. Bartolomeu e as habitações locais, oferecendo assim um espaço de transição suave

e desnivelado daquilo que é o espaço do núcleo histórico. Ao longo da praça está instalada

uma zona de comércio, que reveste a parede de contenção do lado da Igreja, qualificando-a e

atraindo a vida urbana para o interior do núcleo da Charneca. A qualificação deste espaço faz-

se também através de uma zona ajardinada, com árvores de folha caduca, para que sirvam de

ensombramento no Verão e permitam a entrada de luz no Inverno, e com pavimento distinto de

qualquer outro usado na envolvente. Este pavimento pode mesmo ser alvo de intervenção de

algum tipo arte urbana, reforçando a identidade e o carácter urbano desta praça. Fig. 3.12 e 3.13.

Fig. 3.11: Esquema do perfil da Rua do Alecrim e reestruturação da Estr. do Poço de Baixo.

Fonte: imagem do autor.

Fig. 3.12: Planta da proposta da ADP.Fonte: imagem do autor.

Cais do Sodré

Rotunda Norte do Eixo Central

Núcleo Histórico da Charneca

Largo de Camões

Rua do AlecrimEstr. do Poço de Baixo

A

A’

B’

B

Estrada d

o Poço de Baix

o

Igreja de S. Bartolomeu

100 m5020100

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A praça criada é pontuada a Norte e a Sul por edifícios distintos. O edifício Sul, implantado ao

nível da cota mais baixa da praça, rege-se pelas características e dimensões gerais do edificado

do PUAL e prevê-se que seja afecto ao uso de comércio nos pisos inferiores e terciário nos

superiores. A Norte, implantado na cota superior da praça, é proposta a construção de um

conjunto de dois edifícios de dimensões mais reduzidas e que respeitam a escala dos edifícios

envolventes, de modo a evitar dissonâncias. O uso afecto a este conjunto é o de comércio no

piso térreo e habitação nos superiores, visando a maior permanência de pessoas e um aumento

da população local. Fig. 3.12.

Com esta intervenção, a Igreja de S. Bartolomeu e o seu largo ganham um novo realce na

definição do espaço público. O plano de implantação destes passa a destacar-se dos demais

envolventes, que pela sua maior elevação assume maior protagonismo, sendo ainda avivado

o significado espiritual de proximidade a Deus, subjacente à religião católica. É a partir da

redefinição do adro da Igreja que se estabelece a relação mais directa entre esta zona superior

do núcleo da Charneca e o extremo da Estrada do Poço de Baixo que se liga ao Eixo Central.

Fig. 3.13: Corte AA’ da proposta da ADP.

Fig. 3.14: Corte BB’ da proposta da ADP.

Fonte: imagem do autor.

Fonte: imagem do autor. Corte BB’

Igreja de S. Bartolomeu

Estr. do Poço de Baixo

20 m1050

Corte AA’

Igreja de S. Bartolomeu

Estr. do Poço de Baixo

20 m1050

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4. CONCLUSÃO

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Ao longo da elaboração da proposta de intervenção e deste relatório, percebe-se a importância

do factor tempo e da mutação das circunstâncias de natureza diversa, na transformação das

condições iniciais de um projecto urbano. Devido à sua longa duração e à natureza do objecto

de intervenção, o projecto sofre, muitas vezes, a alteração das suas bases ou de algumas das

suas premissas. É necessário saber lidar com a incerteza e dotar o projecto de características

que permitam que este facilmente se adapte a novas exigências, a curto e longo prazo.

Reconhece-se que, à luz de um maior aprofundamento e exploração das soluções adoptadas,

se possa vir a obter uma proposta com maior consistência na resposta aos problemas a resolver

nesta área urbana. As opções de projecto passaram, no entanto, por encontrar a melhor opção

em tempo útil. Após a realização deste relatório constata-se que alguns detalhes do projecto

poderiam ser aperfeiçoados, como é o caso do dimensionamento de alguns edifícios destinados

a actividades económicas (faixa territorial Este, junto ao Aeroporto), cujo objectivo é realojar as

actividades dos armazéns antes existentes nesta área.

As reflexões teóricas sobre núcleo histórico, expansão urbana e fazer cidade, assim como a

análise dos casos concretos de Benfica e Avenidas Novas, vieram consolidar o conhecimento

próprio e o conhecimento de causa inerente ao local de intervenção. São, sem dúvida, ferramentas

importantes a utilizar no decorrer da elaboração de um projecto. Estas dão contributos (mais)

sólidos e despertam para a complexidade do problema em estudo, e por vezes até para soluções

alternativas de elevado interesse.

O aprofundamento do conhecimento do local, nas várias análises elaboradas, foi essencial

para informar o projecto, permitindo definir objectivos principais e secundários. Deste modo

preveniu-se que o mesmo não incorresse em soluções meramente caprichosas ou desajustadas

da realidade. A metodologia e amplitude do estudo foram suficientes para fundamentar os

pressupostos tomados e realizar uma proposta justificada e orientada. Também aqui o tempo útil

condicionou o leque de análises possíveis de elaborar sobre este território, mas isso tornou-as

mais objectivas, não caindo na dispersão de pesquisas pouco relevantes.

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BIBLIOGRAFIA

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LIVROS

Câmara Municipal de Lisboa - Lisboa. Quatro estudos de caso: Santa Catarina, Alvalade, Benfica

e Expo Sul. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa. Pelouro do Licenciamento Urbanístico e

Planeamento Urbano, 2004.

Câmara Municipal de Lisboa - Lisboa: reabilitação urbana - núcleos históricos. Lisboa: Câmara

Municipal de Lisboa. Pelouro da Reabilitação Urbana dos Núcleos Históricos da Câmara

Municipal de Lisboa, 1993.

CONSIGLIERI, Carlos - Pelas Freguesias de Lisboa. Lisboa: ed. CML, Volume I – O Termo de

Lisboa, 1993

PORTAS, Nuno, Conservar Renovando ou Recuperar Revitalizando, Coimbra: Museu Nacional de

Machado de Castro, 1983.

SALGADO, Manuel; LOURENÇO, Nuno - Atlas Urbanístico de Lisboa. Lisboa: Argumentum, 2006.

SALGUEIRO, Teresa Barata - “Transformação nas Avenidas Novas”. Sociedade e Território, ano

4, nº11, 1989. pp. 115-119.

SGAL - Alta de Lisboa: o presente e o futuro. 1ª Edição. Lisboa: SGAL - Sociedade Gestora da

Alta de Lisboa, D.L. 2005.

SILVA, Augusto Vieira da – Dispersos; 1ª Edição, Volume I Lisboa: ed. CML, 1960.

VIEGAS, Inês Morais; TOJAL, Alexandre A. M. (coordenação) - Levantamento da Planta de

Lisboa: 1904-1911. Lisboa: CML, Direcção Municipal da Cultural, AML, 2004.

TEXTOS

BORJA, Jordi; MUXI, Zaida - “Fazer cidade na cidade actual. Centros e espaços públicos como

oportunidades”. in Espaço Público e a Interdisciplinaridade. Lisboa: ed. Centro Português do

Design, 2000, pp. 79-89.

CML - Planeamento em Lisboa - História Recente (de 1948 aos nossos dias), Disponível em

http://pdm.cm-lisboa.pt/ap_2.html [10/09/2011]

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TESES DE MESTRADO

FLORES, Joaquim António de Moura - Planos de salvaguarda e reabilitação de centros históricos

em Portugal. Lisboa: Faculdade de Arquitectura, 2000.

PEIXOTO, Francisco Manuel Pacheco de Lemos - Forma, estrutura e reabilitação do espaço

urbano tradicional: a reconversão em núcleos antigos - o caso de estudo de Dornes. Lisboa:

Universidade Técnica de Lisboa, 1999.

CARTOGRAFIA

GEO - Gabinete de Estudos Olissiponenses

CEG - Centro de Estudos Geográficos - Mapoteca

IGeoE - Instituto Geográfico do Exército

IGP - Instituto Geográfico Português

CML - Arquivo Municipal de Lisboa

SITIOS NA INTERNET

www.cm-lisboa.pt/

pdm.cm-lisboa.pt/

www.altadelisboa.com/

www.dgotdu.pt

maps.google.pt

www.bing.com/maps

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ANEXOS

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ANEXO 1 - Planta de Lisboa 1856-1858, Filipe Folque.

1000 2500 m2500

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ANEXO 1 - Levantamento Topográfico de Lisboa 1906-1911, J. António Vieira da Silva Pinto.

1000 2500 m2500

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ANEXO 2 - Regulamento do Plano de Urbanização do Alto do Lumiar (1998).

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ANEXO 3 - Plantas da Proposta desenvolvida no 1º semestre.

Principal Rede de Reestruturação

Planta da Proposta

Quarteirões PropostosQuarteirões a ReestruturarEquipamentos PropostosEquipamenots MantidosPraças

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ANEXO 4 - Planta e Esquemas da Proposta de Intervenção Escala 1:10.000

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ANEXO 4 - Planta da Área de Detalhe da Proposta Escala 1:1000

A

A’

B’

B

Estrada d

o Poço de Baix

o

Igreja de S. Bartolomeu

Rotunda Norte do Eixo Central

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ANEXO 5 - Painéis da Entrega Final da disciplina de Projecto Final