PROJECTO ACADÉMICO DESENVOLVIDO PELOS FINALISTAS DE … Porto em 1952, doutorado em Ciências do...
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A Universidade do Porto, pela qualidade da formação que oferece e da investigação que realiza, é hoje reconhecida no quadro nacional. Pelas mesmas razões atingiu um grau assinalável de reconhecimento internacional, particularmente em áreas em que foi capaz de ascender a um nível elevado, mesmo de excelência em certos casos.Mas, apesar do prestígio e reconhecimento já alcançados é mister assumir que ainda há um longo caminho a percorrer para que seja possível à Universidade do Porto ocupar uma posição junto das melhores universidades da Europa.Consideramos que os ‘antigos alunos’ da U.Porto, como vulgarmente são conhecidos os seus graduados, devem desempenhar um papel importante no desenvolvimento da nossa Universidade. Devem ser agentes activos na sua divulgação e valorização junto das entidades empregadoras e da sociedade em geral, no alargamento da cooperação com as empresas e outras instituições, na participação nas actividades e na utilização dos seus serviços, mas também no apoio fi nanceiro à sua alma mater. Ao dirigirmo-nos pela primeira vez, por esta via, aos antigos alunos da Universidade do Porto, queremos apresentar-lhes as nossas mais vivas saudações e garantir-lhes que queremos uma Universidade do Porto que acarinhe especialmente os seus antigos alunos e que os envolva numa parceria permanente. Propomo-nos assegurar uma ligação mais estreita e produtiva com os antigos alunos, de maneira a que eles se venham a constituir como parceiros privilegiados da U.Porto.Será criado um ‘Gabinete dos Antigos Alunos da U.Porto’ que se dedicará inteiramente à missão de acompanhar os antigos alunos, com o intuito de garantir uma ligação perene e activa, potenciando a acção das Associações de Antigos Alunos existentes.Para tornar mais atractiva esta ligação estabelecer-se-á um conjunto de regalias contemplando condições especiais no acesso às actividades, serviços e recursos disponibilizados pela U.Porto, procurando simultaneamente alargar a participação dos antigos alunos nas diversas actividades da U.Porto, em particular nas actividades de I&D, na educação contínua e nas actividades culturais.Estamos também muito interessados em apoiar os nossos graduados na procura de emprego e em seguir as suas carreiras profi ssionais. Para tal, alargaremos o âmbito da Bolsa de Emprego e criaremos um programa para o seguimento sistemático do percurso profi ssional dos graduados da U.Porto, divulgando os resultados agregados obtidos. Contamos também com o apoio activo e empenhado dos antigos alunos para a concretização de alguns dos nossos projectos, através do seu envolvimento no fi nanciamento complementar da U.Porto, cada vez mais necessário para permitir que a Universidade do Porto possa competir pelos lugares cimeiros dos “rankings” internacionais, como, por certo, é desejo de todos nós.Esta parceria activa entre a Universidade do Porto e os seus antigos alunos trará, com certeza, benefícios mútuos importantes. Para que seja ainda mais efi caz, estamos abertos a receber as vossas sugestões e disponibilidades para a acção. Pedimos a todos que adiram com energia e paixão a esta parceria, tanta quanta prometemos que iremos colocar no seu desenvolvimento.
José Marques dos SantosREITOR DA UNIVERSIDADE DO PORTO
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UPORTO EDITORIAL
Parceria activa com os antigos alunos
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U.PORTO Nº 21 REVISTA DOS ANTIGOS ALUNOS DA UNIVERSIDADE DO PORTO DIRECTORJOSÉ MARQUES DOS SANTOS
EDIÇÃO E PROPRIEDADEUNIVERSIDADE DO PORTO; RUA D. MANUEL II. 4050-345 PORTO. T. 226073565 + F. 226098736. PUBLICAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DA UNIVERSIDADE DO PORTO COMO DEVER ESPECIAL, CONFORME ART. 8º AL. E. DOS ESTATUTOS DA ASSOCIAÇÃO DOS ANTIGOS ALUNOS
SUPERVISÃO EDITORIALISABEL PACHECO, JOÃO CORREIA
REDACÇÃO ANABELA SANTOS
SECRETARIADOPAULA CARVALHO
COLABORAM NESTE NÚMEROANTÓNIO CAMPOS E MATOS, ANTÓNIO PEDROSA, ARTUR SILVA PINTO, GÉMEO LUÍS, INÊS NASCIMENTO, JOÃO CABRAL, JOÃO MACHADO, JOÃO PEDRO MÉSSEDER, JOSÉ FERREIRA LEMOS, JOAQUIM EMÍLIO TORCATO BARROCA, MARIA DA CONCEIÇÃO RANGEL, MARIA DE LURDES CORREIA FERNANDES, MARIANA LEMOS, NUNO FERRAND DE ALMEIDA, PAULO ALEXANDRINO, ROSA MARIA MARTELO, RUI MENDONÇA
FOTOGRAFIA½ FORMATO (EGÍDIO SANTOS, PAULO DUARTE)
DESIGNRUI MENDONÇA DESIGN
EXECUÇÃO GRÁFICADIGIPRESS-EDIÇÃO ELECTRÓNICA DE IMPRESSOS, LDALUGAR DE RAMOS, 4585-053 BALTAR
DEPÓSITO LEGAL149487/00
ICS5691/2000
TIRAGEM40.000 EXEMPLARES
PERIODICIDADE TRIMESTRAL
NA CAPAILUSTRAÇÃO DE RUI MENDONÇA
MEMBRO DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA
UPORTOSUMÁRIO
EDITORIAL – 2
PARCERIA ACTIVA COM OS ANTIGOS ALUNOS
ACTUALIDADES – 4
MOBILIZAR PARA A MUDANÇA, A MENSAGEM DA NOVA EQUIPA REITORAL
U. PORTO LIDERAEM VAGAS PREENCHIDAS
PRIMEIROS PAISAGISTAS FORMADOS NA U.PORTO
SARSFIELD CABRAL À FRENTE DA FUNDAÇÃO MUSEU DO DOURO
VOZES DA U.PORTO – 11
O PROCESSO DE BOLONHA NA UNIVERSIDADE DO PORTONum momento de adequação dos planos de estudos a Bolonha, a vice-reitora Maria de Lurdes Correia Fernandes fala das oportunidades que o processo representa para a U.Porto.
REQUIMTE – LABORATÓRIO ASSOCIADOPARA A QUÍMICA VERDEA rede de investigação em química que envolve o CEQUP, estrutura da U.Porto, e que dedica especial atenção à química verde, apresenta-se neste périplo pelos organismos de investigação da U.Porto.
DOSSIER – 14
DE TODOS OS DESEJOS, A PALAVRAVêm de áreas de formação muito diversas: Medicina, Economia, Biologia, Direito e, claro está, Letras. Ana Luísa Amaral, valter hugo mãe, Jorge Reis-Sá, José Emílio-Nelson, Pedro Eiras, Daniel Jonas e Jorge Sousa Braga são alguns dos escritores que passaram pela U.Porto. Aqui fi ca um pouco de cada um por trás da escrita.
SABER EM MOVIMENTO – 26
CENTRO ARTICULA ESFORÇOS PARA PREVENIR RISCOSO CERUP – Centro de Riscos da Universidade do Porto tenta articular o conhecimento produzido e a produzir na Universidade do Porto, na área dos riscos naturais e tecnológicos, tornando-o útil à sociedade.
UMA REDE PELO HOTSPOT DA BIODIVERSIDADE EUROPEIAO CIBIO, organismo de investigação da U.Porto, entrou numa rede de investigação em biodiversidade e recursos biológicos com mais dois centros criando o InBio. Está na calha a candidatura a laboratório associado…
PERFIL – 34
O DESAFIO DA QUALIDADE E O APELO DA REGIÃOJosé Marques dos Santos assume o cargo de reitor com incentivos à investigação e um plano de qualidade na manga, esperançado na alteração ao modelo de gestão das universidades e na subida da U.Porto ao ranking das 100 melhores da Europa.
IDENTIDADES – 40
BOTÂNICA. GONÇALO SAMPAIO ENCERRA CICLO “AVENTUREIROS, NATURALISTAS E COLECCIONADORES”Na transição da Academia para a Universidade do Porto, coube a Gonçalo Sampaio a organização e desenvolvimento do ensino prático da Botânica. A exposição, aberta até 30 de Setembro, debruça-se sobre as fontes bibliográfi cas, o “laboratório” e a geração de botânicos a que Gonçalo Sampaio pertenceu.
ESTÓRIAS – OLHARES EMBARAÇOSOSTruques das alunas contra olhares embaraçosos no período em que os cursos de Engenharia demoravam seis anos, três na Faculdade de Ciências e outros três na Faculdade de Engenharia.
CRÓNICA – 44
SEIS FRAGMENTOSTexto de João Pedro Mésseder e imagem de João Machado.
A SABER – 46
TOME NOTA – 48
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UPORTO ACTUALIDADES
5 A três de Julho, José Carlos Marques dos
Santos, anterior vice-reitor da equipa de
Novais Barbosa, tomou posse do cargo de
reitor da Universidade do Porto em cerimónia
que decorreu no salão nobre do edifício
da Praça Gomes Teixeira, o qual abriga,
actualmente, as novas instalações da Reitoria.
José Marques dos Santos, 59 anos de
idade, doutorado na Universidade de
Manchester, professor catedrático da
Faculdade de Engenharia, escola em que
adquiriu ao longo de mais de uma década
uma considerável experiência de gestão,
como director e presidente do conselho
científi co e acompanhando o processo
de criação dos novos edifícios no pólo da
Asprela, destacou, no discurso de tomada
de posse, a honra e o desafi o que para si
representam a possibilidade de “liderar a
maior Universidade” do país “numa altura
marcada pela imperiosa necessidade de
transformação e de inovação”.
O novo reitor propõe-se “mobilizar e
conduzir (…) uma dinâmica de progresso
e evolução” para que a U.Porto possa
posicionar-se entre as melhores da
Europa, e faz da celebração do centenário
da sua criação, em 22 de Março de 1911,
o marco simbólico de avaliação dos
resultados obtidos na prossecução destes
e de outros objectivos do seu detalhado
programa. Destaca a necessidade de
reforçar a estrutura desta instituição como
“Universidade de Investigação”, capaz de
criar redes e sinergias que optimizem e
produzam massa crítica para a mudança
e criação de valor. À missão tradicional
da Universidade, associada à criação e
transmissão de conhecimento, acrescenta
a transferência de conhecimento, visando
o desenvolvimento económico e social.
À sua posse, seguiu-se a de todos os
elementos da nova equipa reitoral.
José Marques dos Santoslidera Universidade do Porto
São vice-reitores:
António José de Magalhães Silva Cardoso,
nascido em Moçambique em 1955,
doutorado em engenharia Civil pela FEUP
e professor catedrático na mesma escola,
elemento que transita da anterior equipa e
assume os pelouros do património edifi cado,
higiene, segurança e condições ambientais
das instalações e contratação pública;
António Teixeira Marques, nascido em
Coimbra em 52, doutorado em Ciências
do Desporto pela Universidade do Porto e
professor catedrático na mesma escola, de
que foi presidente dos conselhos directivo
e científi co entre 1988/96 e 2001/06,
que assume os pelouros das Relações
Internacionais, Comunicação,
Imagem e Marketing;
Jorge Manuel Moreira Gonçalves,
nascido no Porto em 61, doutorado em
Farmacodinamia pela Faculdade de
Farmácia da U.Porto, onde é professor
catedrático, director do serviço de
Farmacologia entre 95/06 e presidente
do conselho directivo de 2002/04,
que assume a pasta Investigação,
Desenvolvimento e Inovação;
Maria de Lurdes Correia Fernandes,
nascida em Arouca em 58, doutorada
em Cultura Portuguesa pela Faculdade
de Letras da U.Porto, onde é professora
catedrática, presidente do conselho
directivo entre 2005/06, que toma a seu
cargo as áreas: Formação, Organização
Académica e Alunos.
São pró-reitores:
Ana Teresa Cunha de Pinho
Tavares-Lehmann, nascida em 1972,
doutorada em Economia Internacional
pela University of Reading (Reino
Unido), professora auxiliar na Faculdade
de Economia, que assume as áreas:
Planeamento Estratégico e Relações e
Participações Empresariais;
José António Sarsfi eld Cabral, nascido no
Porto em 1949, doutorado na Faculdade de
Engenharia da U.Porto, onde é professor
catedrático, Vice-Presidente da Associação
Portuguesa para a Qualidade (1997/2000),
Pró-Reitor da anterior equipa e membro da
Comissão Executiva da Fundação Gomes
Teixeira desde 99, que assume o pelouro da
Melhoria Contínua;
Lígia Maria da Silva Ribeiro, nascida no
Porto em 1955, doutorada em Ciências de
Engenharia na Universidade do Minho,
Investigadora Principal da Faculdade de
Engenharia da U.Porto, Vice-Presidente
do IRICUP desde 2003, que assume o
pelouro da Universidade Digital e Manuel
António Araújo Silva Janeira, nascido no
Porto em 1952, doutorado em Ciências do
Desporto pela Faculdade de Ciências do
Desporto e Educação Física da U.Porto,
onde é Professor Associado, Director
do IRICUP desde 2002 e pró-reitor da
anterior equipa desde 2003, que assume o
pelouro Cultura, Lazer e Desporto.
LEGENDADA ESQUERDA PARA A DIREITA, FILA DE CIMA: ANTÓNIO CARDOSO, ANTÓNIO MARQUES, JOSÉ A. SARSFIELD CABRALFILA DO MEIO: JORGE GONÇALVES, ANA TERESA TAVARES, MANUEL JANEIRAFILA DE BAIXO: LÍGIA RIBEIRO, JOSÉ MARQUES DOS SANTOS, MARIA DE LURDES CORREIA FERNANDES.
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Novo site de Consultas Psicológicas de Orientação Vocacional
Disponível desde o início de Setembro, o
www.fpce.up.pt/orientacao_vocacional
permite efectuar inscrições e obter
informações sobre as várias actividades
ligadas à Consulta Psicológica de
Orientação Vocacional (CPOV),
uma das especialidades do Serviço de
Consultas de Psicologia da FPCEUP.
O principal objectivo das consultas é
apoiar adolescentes, jovens e adultos
nas opções com que se deparam ao
longo do percurso escolar e profi ssional
permitindo, em simultâneo, a formação
de psicólogos e a investigação no domínio
do desenvolvimento vocacional. Embora o
maior volume de inscrições seja motivado
pelas difi culdades de escolha que se
colocam aos jovens no fi nal do 9.º e 12.º
anos de escolaridade, são também em
número signifi cativo as que correspondem a
situações de desajustamento ou insatisfação
com escolhas realizadas previamente, em
qualquer um desses graus de ensino. No
ano 2005/2006, na modalidade de grupo,
foram atendidos 57 jovens do 9.º ano de
escolaridade e individualmente foi feito
o atendimento de 10 jovens do 9.º ano,
21 do ensino secundário e 13 jovens com
frequência do ensino superior (incluindo
dois licenciados).
A CPOV também está disponível noutros
formatos para outras populações, como
por exemplo jovens à procura do primeiro
emprego, pessoas desempregadas, no
limiar da reforma ou já aposentadas.
Para além do apoio emocional, podem
obter assistência para a implementação
de planos de futuro que sejam pessoal e
socialmente signifi cativos e viáveis. Neste
último ano realizaram-se dois processos
de intervenção em grupo junto destas
populações.
Ao nível da consultoria destaca-se a oferta
destinada tanto a pais como a profi ssionais
que pretendam tornar-se mais sensíveis
às necessidades vocacionais específi cas
daqueles com quem se relacionam
ou trabalham e mais competentes no
que se refere ao desenvolvimento de
iniciativas e acções que possam promover
a capacidade daqueles de fazer escolhas
(escolares, profi ssionais, de lazer,...).
No ano transacto, foram atendidas 17
famílias, quase sempre no mesmo dia e
hora em que os seus fi lhos adolescentes
participam em intervenções em grupo,
permitindo assim o cruzamento das
duas intervenções em pontos-chave dos
respectivos processos. São momentos de
interacção pais-fi lhos que criam, muitas
vezes, as bases para um envolvimento
mais activo e continuado de ambos, já em
contexto familiar, nas questões relativas à
gestão dos percursos vocacionais tanto de
uns como de outros.
No momento da inscrição, os interessados
podem optar por consultas individuais
(com número variável de consultas, em
geral, não inferior a 8) ou participarem em
grupos de desenvolvimento vocacional
constituídos por 8 a 10 participantes (a
duração destes processos varia entre as 12
e as 15 sessões semanais).
Prémio Excelência E-learning U.Porto 06
Decorrem de 1 de Outubro a 30 de
Novembro as candidaturas ao Prémio
Excelência e-Learning na U.Porto.
Este prémio distingue os docentes
que leccionaram na Universidade do
Porto, durante o ano lectivo anterior,
disponibilizando nas plataformas de
e-Learning e utilizando, segundo uma
estratégia pedagógica, conteúdos on-line
de apoio às disciplinas. No ano lectivo
anterior, esta distinção foi atribuída aos
professores Jaime Villate (FEUP) e Pedro
Moreira (FCNAUP).
Com a atribuição deste prémio, a
Universidade do Porto visa fomentar as
boas práticas na aplicação de processos
de e-Learning ao ensino/ aprendizagem
estimulando e reconhecendo a utilização
das novas tecnologias nas actividades de
formação da Universidade. O Prémio tem
um valor pecuniário de 5.000 Euros.
O regulamento exclui do concurso os
docentes que tiverem recebido um prémio
de excelência e-Learning há mais de três
anos. Todos os candidatos sem excepção,
desde que a sua candidatura esteja em
conformidade com o regulamento, irão
fazer uma apresentação pública do seu
caso de estudo em workshop aberto a toda
a comunidade académica que se realizará
nos dias 18 e 19 de Dezembro de 2006.
Informações sobre a apresentação das
candidaturas e formulários podem
encontrar-se no portal. http://elearning.up.pt.
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UPORTO ACTUALIDADES
Sarsfi eld Cabral preside à Fundação do Museu do Douro
José António Sarsfi eld Cabral, Professor
Catedrático da Faculdade de Engenharia
da Universidade do Porto e pró-reitor
desde 1999, é o novo presidente da
Fundação do Museu do Douro desde o
passado mês de Agosto. Inscrito desde
a primeira hora no grupo de amigos do
Museu, Sarsfi eld Cabral declarou-se “preso
pelo lado sentimental” a este projecto.
É que, para além de toda a atenção que
tem dedicado ao Museu, tendo doado e
cedido algumas peças de sua propriedade
para este organismo e para a exposição
“250 anos depois” – um dos eventos com
o qual se assinala a comemoração dos 250
anos da Região Demarcada do Douro, que
se encontra patente no Museu de Vinho
do Porto –, o professor da Faculdade de
Engenharia é “um homem do Douro”,
sendo um dos proprietários do Paço de
Monsul por legado do avô, Afonso do Vale
Coelho Pereira Cabral aos seus numerosos
netos. Convicto da importância que a
Fundação a que preside poderá assumir
na promoção do desenvolvimento social
do Alto Douro, Sarsfi eld Cabral prepara-
-se agora para acompanhar o processo de
instalação da sede do Museu na Casa da
Companhia, na Régua, o que se espera
venha a acontecer, decorridas as obras
de renovação e adaptação, até meados de
2008.
Com esta nomeação a Universidade do
Porto, presente desde o início no projecto
de criação do Museu, através do Grupo
de Estudos de História de Viticultura
Duriense e do Vinho Porto da Faculdade
de Letras da Universidade do Porto e
através do seu director, Gaspar Martins
Pereira (professor do Departamento de
História da FLUP), reforça a sua presença
e intervenção social na região.
Os primeiros arquitectos paisagistas da U.Porto
“Que os licenciados em Arquitectura
Paisagista que saem agora da Universidade
do Porto, entrando no mercado de
trabalho, possam contribuir para uma
nova visão do território”. Com esta frase
um técnico de uma entidade pública,
presente no seminário de apresentação
dos trabalhos fi nais da licenciatura em
Arquitectura Paisagista, a 20 de Julho,
verbalizava a esperança de todos os
presentes em relação ao futuro destes
primeiros e dos próximos paisagistas
licenciados na Universidade do Porto. O
técnico interveio no período de debate
após a apresentação de três dos relatórios/
trabalhos fi nais de estágio. Dois foram
realizados no Gabinete de Ambiente
da Câmara Municipal do Porto e um
decorreu na Comissão de Coordenação
e Desenvolvimento Regional do Norte e
versou sobre a articulação entre Planos
Directores Municipais e o Plano Sectorial
da Rede Natura 2000. Os restantes
decorreram nas Câmaras Municipais
de Valongo, Gaia, Oeiras e em diversos
gabinetes privados. Entre estes, um
gabinete holandês.
Neste seminário, para além de docentes
e alunos estavam presentes técnicos
de organismos públicos e privados,
nomeadamente os orientadores de estágio e
representantes das entidades de acolhimento.
Vladimiro MirandaFellow da IEEE
Vladimiro Miranda, Professor Catedrático
da Faculdade de Engenharia da
Universidade do Porto e Director do
INESC Porto, foi elevado ao grau de
Fellow pelo IEEE – Institut of Electrical
and Electronics Engineers, Inc, pelo seu
contributo para o desenvolvimento de
ferramentas de inteligência computacional
em sistemas de energia eléctrica. Esta
distinção, o mais elevado reconhecimento
profi ssional na área da engenharia
electrónica a nível mundial, é conferida
pelo Conselho de Directores a um número
muito limitado de cientistas e engenheiros
em todo o mundo para enfatizar, através
da atribuição do grau, uma “distinção
invulgar na profi ssão”.
O IEEE, com sede nos EUA, é uma
organização sem fi ns lucrativos de
referência a nível mundial que lidera as
associações profi ssionais para o avanço
tecnológico na engenharia electrotécnica
e de computadores. A cerimónia de
reconhecimento do grau atribuído
teve lugar no decurso do PES (Power
Engeneering Society) – General Meeting,
que se realizou em Montreal no fi nal do
passado mês de Junho.
Vladimiro Miranda é, no país, o
terceiro engenheiro alvo desta distinção
internacional, ao lado de José Epifânio
da Franca, presidente da Chipidea e de
Teresa Correia de Barros, do IST. Este
instrumento de prestígio internacional
veicula também o reconhecimento da
qualidade da instituição a que o Fellow está
associado e da unidade de investigação e
desenvolvimento em que está inserido.
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UP NOTÍCIA
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UPORTO ACTUALIDADES
Edições U.Portona FNAC e em Coimbra
A Universidade do Porto foi a
universidade portuguesa que maior
percentagem de vagas preencheu na
primeira fase do concurso nacional
de acesso ao ensino superior, segundo
dados do Ministério da Ciência,
Tecnologia e Ensino Superior. A U.Porto
foi a instituição de ensino superior que
disponibilizou maior número de vagas
– 3.938 -, conseguindo, mesmo assim,
preencher 94 por cento do total, fi cando
17 dos 54 cursos da Universidade ainda
com vagas por preencher.
Pertencem também à U.Porto três dos
cinco cursos com maior média de entrada
do país, nomeadamente, Medicina do
Instituto de Ciências Biomédicas Abel
Salazar, Arquitectura da Faculdade de
Arquitectura, e Medicina da Faculdade de
Medicina. A seguir à U.Porto, no número
de vagas preenchidas na primeira fase,
surge o Instituto Superior de Ciências do
Trabalho e da Empresa (ISCTE), com 92
por cento, e em terceiro a Universidade de
Aveiro, com 84 por cento.
Universidade Júnior 06encerra com programa de excepção
De 4 a 8 de Setembro, 88 dos melhores
alunos do 11ª ano de escolaridade do país,
inscritos na Escola de Ciências da Vida e
da Saúde, este ano incluída no programa
de Setembro da Universidade Júnior,
tiveram a oportunidade única de escolher
entre 22 projectos de investigação,
orientados por investigadores de topo de
cinco faculdades (Medicina, Medicina
Dentária, Farmácia, Ciências da Nutrição
e da Alimentação e Instituto de Ciências
Biomédicas Abel Salazar) e três centros
de investigação (IPATIMUP, IBMC e
CIIMAR), para realizar uma espécie
de estágio privilegiado que se espera
possa ajudar na defi nição de interesses
e orientações para opções profi ssionais
futuras. A questão mobilizadora desta
realização era a de demonstrar aos
alunos inscritos que “há vida para além
da Medicina para quem quer estudar
Ciências da Saúde”. A Escola encerrou com
a participação de todos os estudantes num
congresso em que foram apresentados os
trabalhos desenvolvidos.
A “Escola de Física” contou, este ano,
com 60 participantes a quem foi dada a
possibilidade de desenvolver de raiz um
projecto no Departamento de Física da
Faculdade de Ciências do Porto. Divididos
em equipas de seis, sob a orientação de
investigadores da Faculdade de Ciências,
trabalharam sobre novos materiais, novas
tecnologias, telecomunicações, aplicações
à medicina e sobre as origens do universo.
Também estes alunos apresentaram em
sessão pública os resultados do seu trabalho.
U.Porto liderana percentagem de vagas preenchidas
As edições da Universidade do Porto vão
estar em destaque no mês de Outubro
em dois eventos de divulgação. Durante
quinze dias, entre 16 e 31, para além de
sessões de lançamento e apresentação
de algumas obras, a FNAC de Santa
Catarina, no Porto, apresentará uma
montra alusiva e, no interior da loja, as
edições da Universidade do Porto estarão
nos expositores de destaque. Para além
da Editora UP, estarão ainda disponíveis
obras de outras editoras da Universidade
com actividade regular, nomeadamente,
FEUP Edições, FAUP Edições, da
Faculdade de Letras e da Faculdade de
Psicologia e Ciências de Educação. O
encerramento da iniciativa será assinalado
com a actuação da Tuna Universitária do
Orfeão Universitário do Porto.
A FEUP Edições (“Mecânica dos Solos
(Volume I)”, de Manuel Matos Fernandes,
dia 16), a Faculdade de Letras (“Olhares
e Escritas”, de Rui Carvalho Homem,
dia 17) e a Editora UP (“20 Desenhos
de António Cardoso”, dia 23) lançam
novas obras nesta quinzena, em sessões a
decorrer às 18h00. Para mais informações,
consultar: http://www.up.pt.
Entretanto, de 10 a 31 de Outubro, a
Universidade do Porto estará presente
com as suas edições no Ciclo do
Livro Universitário, promovido pela
Universidade de Coimbra e pela Coimbra
Editora, na sede desta. Dia 13 de Outubro,
às 17h30, decorrerá a apresentação
“Histórias do Universo”, por Benedito
Calejo, professor na FCUP.
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Universidade Itinerantea bordo do “Creoula”
O antigo bacalhoeiro “Creoula”, agora
transformado em navio-escola da Marinha
Portuguesa, recebeu, entre 17 de Julho e
10 de Agosto, uma tripulação diversa da
usual para cruzar o Atlântico numa ponte
marítima entre Portugal e Espanha: à
tripulação da embarcação acrescentaram-
se 70 estudantes das Universidades do
Porto e de Oviedo, divididos por dois
grupos correspondentes a dois cursos e
dois percursos: do Porto para Oviedo e
de Oviedo para o Porto. Os estudantes
que procuraram este projecto pioneiro
eram recém-licenciados sem experiência
das “coisas do mar”, mas determinados a
aprender o que pudessem sobre a relação
histórica, cultural, económica e científi ca
da “Europa e do Mar” a partir do oceano e
de uma aprendizagem concreta das artes
de navegar.
Este curso de pós-graduação, de contornos
bem diferentes do habitual, foi uma
criação das duas universidades europeias
e da Conferência das Regiões Periféricas
da Europa e será continuado em 2007. O
plano de formação incluiu uma semana de
preparação teórica em terra, em que foram
trabalhados temas como a História Naval,
a Segurança Marítima ou a Cartografi a.
A bordo, cada aluno teve que fazer o
seu diário e participar nos trabalhos da
restante tripulação.
O “Creoula” é uma embarcação à vela de
pequeno porte (um lugre), quatro mastros
e 70 metros de comprimento, que tem
uma tripulação de 40 elementos e dá
apoio à formação de cadetes.
Sebastião Feyo de Azevedopreside a Grupo de Trabalho sobre Educação em Engenharia Química
Sebastião Feyo de Azevedo, professor
catedrático da Faculdade de Engenharia
do Porto, director do Curso e do
Departamento de Engenharia Química,
director do ISR-P (Instituto de Sistemas
e Robótica) da mesma faculdade
e vice-presidente da Ordem dos
Engenheiros, foi eleito a 27 de Agosto
Presidente do Grupo de Trabalho sobre
Educação em Engenharia Química da
Federação Europeia de Engenharia
Química, para o triénio 2007-2010.
A Federação Europeia, fundada em 1953,
enquadra a actividade de cerca de 1000
especialistas nomeados pelas diversas
Sociedades Nacionais, reunindo-os em 22
Grupos de Trabalho temáticos (Working
Parties).
O Grupo de Trabalho sobre Educação
em Engenharia Química, cuja actividade
começou a desenvolver-se em 1981,
existe com o perfi l e a regulamentação
actual desde 1992 e integra 37 membros
de 23 países, tendo por missão refl ectir
e discutir tópicos relacionados com a
formação em Engenharia Química. Da sua
actividade, reconhecida a nível europeu,
resultaram recomendações diversas
e iniciativas de apoio à mobilidade
estudantil e cooperação europeia.
Para o próximo triénio e entre os objectivos
defi nidos pelo Grupo, conta-se a realização
de um workshop sobre educação em
engenharia química, que se realizará
em Copenhaga em Setembro de 2007,
no âmbito da Conferência Europeia em
Engenharia Química ou a monitorização
da aplicação das reformas decorrentes do
Processo de Bolonha nesta área.
Morreu um dos arquitectos do modernismo completo
Um dos nomes mais proeminentes da
arquitectura modernista em Portugal,
licenciado pela Escola de Belas Artes
do Porto em 1948, faleceu a 22 de Julho
passado. Ruy d’Athouguia, nascido em
Macau em 1917, frequentou as Belas Artes
do Porto num período em que o curso de
Arquitectura era dirigido por Carlos Ramos.
Foi um dos pioneiros na aplicação do
espírito da Carta de Atenas (considerada
o manifesto do modernismo na
arquitectura, publicada em 1933) em
Portugal, ao longo de um percurso
profi ssional de onde se destacam o
Bairro das Estacas (em colaboração
com Sebastião Formosinho Sanchez),
em Lisboa, exemplo da harmonia entre
edifício e espaço verde, e várias outras
obras. Com Pedro Cid, Alberto Pessoa e os
paisagistas Viana Barreto e Ribeiro Telles,
foi autor do projecto da sede da Fundação
Calouste Gulbenkian, distinguido com
o Prémio Valmor em 1975 e classifi cado
Monumento Nacional. Trata-se de “um
edifício de uma monumentalidade nova”,
não “arrogante” como a anterior, aliás
“resposta a uma questão mal resolvida na
arquitectura moderna, que não conseguia
ser moderna e monumental”, caracteriza
Ana Tostões, professora, ensaísta na área
da arquitectura e comissária da exposição
“Sede e Museu Gulbenkian, a Arquitectura
dos anos 60”, durante a apresentação desta
iniciativa aos jornalistas. “Um trabalho
em uníssono entre o que é verde e o que é
construído”, inovador em várias aspectos.
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10 | A investigação presentemente desenvolvida no Laboratório
é focada em cinco áreas temáticas: a) concepção e obtenção
de novos compostos provenientes de fontes renováveis; b)
segurança e qualidade alimentares; c) processos químicos limpos;
d) controlo analítico e processos de automação, d) biologia
estrutural e bioengenharia, e muito tem benefi ciado com a
partilha de saberes e metodologias existentes nas duas unidades
de investigação, sendo notória a interacção dos investigadores
por exemplo na apresentação de projectos conjuntos no tema da
Química Verde.
Esta parceria tem também permitido uma mobilidade de
investigadores, em particular alunos de pós-graduação, entre os
dois polos e outros laboratórios internacionais com os quais são
mantidas colaborações, o que se tem traduzido numa mais valia no
que diz respeito à valorização de recursos humanos, disponibilidade
de equipamento e prestação de serviços à comunidade.
Hoje em dia, e em minha opinião, o REQUIMTE pode
descrever-se como um Laboratório de elevada dimensão, com
um pólo na Universidade do Porto e outro na Universidade
Nova de Lisboa. Os investigadores deste Laboratório reúnem-se,
na sua totalidade, num encontro bienal com a duração de 1
dia e meio e onde além de apresentações orais e em painel da
actividade científi ca em curso são também discutidos problemas
relacionados com a temática da Química Verde.
No ano de 2005, o Laboratório para a Química Verde – REQUIMTE,
publicou 277 artigos em revistas internacionais com arbitragem
científi ca, 19 artigos em revistas nacionais, 7 patentes e foram
concluídas 19 Teses de Doutoramento e 17 Teses de Mestrado.
A Rede de Química e Tecnologia, REQUIMTE, resultou da associação
de duas Unidades de Investigação e Desenvolvimento centradas nas
áreas da Química e Engenharia Química, o Centro de Química da
Universidade do Porto – CEQUP e o Centro de Química Fina e
Biotecnologia da Universidade Nova de Lisboa – CQFB.
Desde Novembro de 2001 a REQUIMTE é o “Laboratório
Associado para a Química Verde – Tecnologias e Processos
Limpos” da Fundação para a Ciência e Tecnologia do MCTES,
integrando actualmente 374 investigadores (208 doutorados) que
exploram os príncípios da Química Verde e visam implementar
uma Química Sustentável.
É actualmente aceite, pelos sectores político, industrial e pelo
público em geral que o desenvolvimento sustentável é necessário
para atingir objectivos sociais, económicos e ambientais
desejáveis para a sociedade moderna. Neste contexto, a Química,
que é frequentemente associada com produtos nocivos e não a
produtos químicos absolutamente essenciais ao nosso quotidiano
actual, deve ter um papel fundamental na manutenção e
melhoramento da nossa qualidade de vida, na competitividade da
indústria e no meio ambiente.
Sendo indubitável a necessidade que a sociedade contemporânea
tem de recorrer a processos e produtos químicos, surgiu no fi nal
do século XX um movimento designado por QUÍMICA VERDE
cujos objectivos são a implementação de prácticas e processos
que conduzam à redução do consumo de matérias primas e
energia bem como à redução de custos e de riscos sejam eles de
natureza alimentar, ambiental ou industrial.
Para este efeito, a QUÍMICA VERDE pretende redesenhar
radicalmente os processos laboratoriais e industriais de forma
a que estes sejam mais limpos e economicamente viáveis. Os
investigadores são assim desafi ados a conceber reacções e
processos sustentáveis em que seja efectuada uma economia de
átomos, se utilizem matérias-primas obtidas de fontes renováveis,
solventes não tóxicos e sempre que possível materiais recicláveis.
São objectivos do Laboratório Associado para a Química
Verde – Tecnologias e Processos Limpos:
– Promover a utilização de produtos e tecnologias limpas;
– Apoiar a indústria na concepção e implementação de processos
químicos não agressivos;
– Formar jovens investigadores em áreas interdisciplinares
relacionadas com a química verde;
– Divulgar os príncípios da Química Verde e sensibilizar a
sociedade para a necessidade da sua prática.
REQUIMTE – LaboratórioAssociado para a Química Verde(http://www.requimte.pt)
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MARIA DA CONCEIÇÃO RANGEL
PROFESSORA ASSOCIADA E INVESTIGADORA
UPORTO VOZES DA U.Porto
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PUB
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UPORTO VOZES DA U.Porto
Foram ainda aprovados e entrarão em funcionamento este ano
lectivo alguns cursos de segundo e terceiro ciclo em outras
Faculdades (por exemplo, os Mestrados em Economia e Gestão
das Cidades, em Economia e Gestão Internacional e em Gestão
Comercial na Faculdade de Economia, os mestrados em Design
de Imagem, Estudos Artísticos, Pintura, Práticas Artísticas
Contemporâneas na Faculdade de Belas Artes, e o Mestrado e
Doutoramento em Estudos Anglo-Americanos na Faculdade de
Letras), mas a adequação de grande parte dos cursos actualmente
em funcionamento, bem como as propostas de criação de novos
ciclos de estudos estão ainda em fase de discussão na maioria das
Faculdades, prevendo-se a sua apreciação pelo Senado durante
o mês de Outubro, para que toda a U.Porto adopte o processo de
Bolonha no ano lectivo de 2007-2008.
A Universidade do Porto, exceptuando os casos das Faculdades
referidas que há vários meses vinham trabalhando nas propostas
apresentadas e aprovadas, considerou preferível, para evitar
precipitações, dilatar um pouco mais no tempo a tarefa de
reformulação generalizada dos seus cursos de modo a adaptá-los
ao novo modelo de ciclos de estudos, estabelecendo como meta a
entrada em funcionamento de todos os cursos, já reformulados,
no ano lectivo de 2007-2008. Desta forma espera-se que
haja condições para um trabalho mais cuidado, com maior
discussão e maior envolvimento de todos na preparação do novo
paradigma de ensino/ aprendizagem que o processo de Bolonha
pressupõe e exige para que se logrem as transformações e as
vantagens de um modelo que pretende contribuir para um salto
qualitativo das condições de aquisição e desenvolvimento das
competências dos estudantes.
De facto, as alterações e a criação de novos planos de estudo
devem ser encaradas como uma oportunidade de reforço da
formação por via de novos ou renovados desenhos curriculares
que tirem partido da transformação dos processos de ensino/
aprendizagem, de modo a que os estudantes, através de um
trabalho regular, orientado e exigente, adquiram não só as
competências fundamentais nas diversas áreas do conhecimento
sobre que incide a sua formação, mas desenvolvam também
nesse processo a autonomia indispensável ao alargamento e
aprofundamento de capacidades de aprendizagem ao longo da
vida, essenciais para que possam acompanhar e adaptar-se com
maior versatilidade às constantes e rápidas mudanças que vive
o mundo contemporâneo. Ao mesmo tempo, este modelo, pelo
princípio da acumulação e transferência de créditos, deverá
A implementação do Processo de Bolonha na Universidade do
Porto terá já uma primeira fase no ano lectivo de 2006-2007,
com a entrada em funcionamento em algumas faculdades
de novos ciclos de estudo, grande parte deles resultante do
processo de adequação de anteriores cursos de licenciatura e
de mestrado, e alguns objecto de criação nova. Estes ciclos de
estudo, respeitando uma organização imposta pela alteração à
Lei de Bases do Sistema Educativo e pela respectiva legislação
regulamentadora subsequente (em especial os Dec-Lei nº
42/2005, de 22 de Fevereiro, e 74/2006, de 24 de Março),
institucionalizam o sistema de acumulação e transferência de
créditos curriculares (ECTS – European Credit Transfer System)
baseados no trabalho do estudante e deverão estimular a adopção
de um novo paradigma de ensino/ aprendizagem que contribua
ainda mais para o desenvolvimento de competências em diversas
áreas científi cas e profi ssionais e também de capacidades de
aprendizagem ao longo da vida.
A Faculdade de Engenharia, que desde 2002 vem investindo
progressivamente nesse novo paradigma e na melhoria das
condições logísticas e técnicas que lhe darão suporte, viu
aprovados pelo Senado e registados pela Direcção Geral do
Ensino Superior nove mestrados integrados, oito dos quais
resultantes da adequação de anteriores cursos de licenciatura.
Estes mestrados integrados terão uma duração normal de
10 semestres e 300 ECTS: Engenharia Civil; Engenharia do
Ambiente, Engenharia Electrotécnica e de Computadores;
Engenharia Industrial e Gestão; Engenharia Informática e
Computação; Engenharia Mecânica; Engenharia Metalúrgica e
de Materiais, Engenharia Química. O novo mestrado integrado
de Bioengenharia resulta de uma parceria entre esta Faculdade e
o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar.
A Faculdade de Belas Artes também iniciará dois primeiros ciclos
correspondentes ao curso de licenciatura em Artes Plásticas – que
terá três ramos distintos: o de Pintura e o de Escultura resultam
da adequação dos cursos anteriores, o de Multimédia é um novo
ramo – e ao curso de Design de Comunicação. Estes cursos terão
a duração média de 8 semestres e 240 ECTS e apresentam um
desenho curricular que introduz algumas inovações importantes.
Por sua vez, a Faculdade de Direito terá em funcionamento o
novo curso de Criminologia, único no país, que terá a duração
normal de oito semestres e um total de 240 ECTS.
O Processo de Bolonha na Universidade do Porto
MARIA DE LURDES CORREIA FERNANDES
VICE-REITORA DA U.PORTO
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fomentar uma maior mobilidade dos estudantes, no quadro
de desenvolvimento de uma área europeia de Ensino Superior
que cada vez mais se alimenta de um ambiente multicultural
complexo e de exigências profi ssionais diversifi cadas. Espera-se
também que os desenhos curriculares contemplem, sempre
que possível, uma razoável margem de escolha de unidades
curriculares diferentes da área de formação de base, permitindo
que o estudante contacte com formas de conhecimento
multidisciplinar e adquira um leque mais amplo de competências
que potenciem uma maior versatilidade profi ssional futura.
A desejável mudança de paradigma vai exigir diferentes
condições de trabalho e ainda um grande investimento em
novos métodos e práticas pedagógicas, tirando mais partido
das novas tecnologias da informação e comunicação de que
já dispõe a Universidade do Porto. Serão necessárias algumas
mudanças gerais, quer de atitudes e comportamentos, quer do
próprio sistema de avaliação dos conhecimentos, tendo em vista
dar resposta, também a esse nível, às necessidades de avaliação
da qualidade e efi cácia da auto-aprendizagem e da autonomia
dos estudantes, à aferição do desenvolvimento e da aquisição de
competências científi cas e técnicas que os habilitem a um melhor
desempenho e capacidade de resposta a desafi os profi ssionais
futuros cada vez mais marcados pela internacionalização.
Neste quadro, além dos cursos enquadrados nos três ciclos de
estudos, a oferta de cursos de educação contínua, que alimentem uma
desejável e necessária formação ao longo da vida, deverá consolidar
e mesmo alargar o forte investimento dos últimos anos. Além da
continuação do esforço de formação permanente dos recursos
humanos da U.Porto, envolvendo-os em novos projectos formativos
ou aprofundando competências profi ssionais ou técnicas, tentar-se-á
estimular uma oferta ao exterior de cursos de formação contínua de
grande qualidade, de interesse social e profi ssional, respondendo a
necessidades de empresas, de antigos alunos ou de profi ssionais de
diferentes áreas e organizações sociais cujo desenvolvimento possa
benefi ciar do conhecimento produzido na U.Porto.
A qualidade da formação, para poder acompanhar as exigências
crescentes da internacionalização, deverá apoiar-se fortemente
na investigação, aproximando esta da docência, sobretudo
nos segundos e terceiros ciclos. Tirando partido da qualidade
científi ca de muitas áreas e estruturas de investigação da U.Porto,
da elevada qualifi cação dos seus recursos humanos, do aumento
de projectos de investigação que envolvam jovens investigadores,
poderão desenvolver-se algumas áreas multidisciplinares também
no domínio da formação. Ao mesmo tempo, deseja-se que
aumente signifi cativamente a internacionalização da U.Porto,
alargando os índices da mobilidade de estudantes, de docentes e
de investigadores, criando parcerias inovadoras para segundos
e, sobretudo, para terceiros ciclos, tirando maior partido do
prestígio que a Universidade do Porto tem vindo a conseguir, mas
que tem de ampliar e aprofundar, a nível nacional e internacional.
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UPORTO DOSSIER
De todos os desejos, a palavra
Jorge Reis-Sá“A memória é a maior fi cção que existe”
A caminho da entrevista fi cou parado no trânsito e assistiu ao corrupio de uma mudança. Parou o carro e começou a escrever:Cemitério do Prado do Repouso“Há sempre quem mude uns móveis de uma casa para outra,dois candeeiros, um aparador, o saco com as coisas mais íntimasno banco da frente. Chamam-se os homens das mudanças e pede-se, clemente, que mude também com os móveis a nossa vida.Por favor, senhor Joaquim, pode-me mudar esta tristeza que meinunda, mude-a para o passado, para aquele que já não lembrode tão infeliz. Mas o senhor Joaquim encolhe os ombros, franzeo sobrolho, ajusta a madeira na carrinha para que não risque ediz, menina, mudar essas coisas só se for num camião tir enós, aqui na Joaquim Ribeiro Unipessoal, não temos essesinstrumentos. Mude-se de tempo. Há ali um cemitério.E se fosse possível cobrir de terra uma vida, esquecermo-nosdela? Já me esquecia – é. De tristeza em tristeza, só a lembrançavale, aquela que criamos quando percebemos que mudar tantosmóveis pode ser sinal que o que queremos mudar é a vida dos outros. E, serenos pela sabedoria, nós tentamos muitas vezes.”
Jorge Reis Sá nasceu em 1977, em Vila Nova de Famalicão. É responsável pela Quasi Edições e pela empresa Do Impensável – Projecto de Atitudes Culturais. Á Memória das Pulgas da Areia, Quase e outros poemas De Querença, Biologia do Homem (Quasi Edições) e A Palavra no Cima das Águas (Campo das Letras) são os seus quatro livros de poesia. Pelas Publicações Dom Quixote fez sair o seu primeiro romance: Todos os Dias. Esteve para ir para Medicina, mas acabou por se inscrever na U.Porto em Astronomia. Após o primeiro ano concluiu que “passar as noites a observar chapas que saem do computador ou a fazer análises matemáticas” não era coisa que lhe apetecesse fazer vida fora. Então decidiu-se por Biologia.
Esta forma de preservar a identidade (mas qual, se, como nos diz Ana Luísa Amaral “há sempre uma dose de máscara, de fi ngimento”), de estimular a consciência de si próprio (“o livro cria a sensação de estarmos numa varanda sobre a nossa vida” – valter hugo mãe) e de contrariar o limite de validade do corpo, permite também, a quem dela faz objecto de encontro, saber de si, ou não fosse o poema “um fi lho emprestado a guerra alheia, outra bomba a estalar revoluções na perigosa ternura de outro olhar” (Ana Luísa Amaral). Falamos da palavra escrita. Aquela que pode ser “o grito do condenado que fere quem o condena” (José Emílio Nelson), “uma esquizofrenia benéfi ca” (Pedro Eiras), ou “uma forma de ordenar o mundo” (João Pedro da Costa). Pode obrigar a um “ping-pong metafísico” (Daniel Jonas), a esgravatar na memória, sem “lamber feridas” (Jorge Reis-Sá), ou ser apenas um “fechar os olhos para ver” (Jorge Sousa Braga). Um escritor existe no seu tempo. Alguém imagina Júlio Dinis a escrever para a MTV Portugal?! Ou Camilo Castelo Branco a tomar notas num aparelho que serve para falar à distância?! Estes novos escritores têm áreas de formação bem diversas: Medicina, Economia, Biologia, Direito, e claro, mal era, Letras. Faltam muitos mais. São apenas alguns. O que têm em comum todos os nomes citados? Todos passaram pela U.Porto.
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É-se feliz à posteriori de se ter tido uma
infância feliz. Toda a gente detesta o liceu,
tem borbulhas na cara e acha que as
raparigas não ligam nenhuma…
As aulas também serviam para escrever poesia…
Eram no Botânico e da sala da direita, no 1º andar do edifício,
via-se o jardim. Foi lá que escrevi “O Sabor das Tuas Lágrimas”:
“É no jardim botânico que me entrego às aves, àquela árvore que
com o tronco despido, a fronde curvada e as folhas pendidas chora
sobre o jardim.
queres que te diga o que vejo?
vejo a infância. as costas voltadas e o tronco soerguido numa
forma tua de verticalidade…”
Foi durante uma aula de Biologia Molecular e Celular, mas tirei
16 valores (risos). Queria ver se terminava o curso e gostava de
tirar um mestrado ou um doutoramento. Talvez em História
da Ciência, ou em Letras. Não tenho nenhuma pretensão de
carreira. Estou nas coisas enquanto me sentir feliz.
Entretanto cria a Quasi Edições, que conta já com mais de
cem livros publicados. Editou alguns dos seus por aqui,
outros não, como é o caso de “Todos os Dias”. São 24 horas
de ausências e afectos, couves e galinhas, tudo à mistura. Que
universo é este?
Durante uma conversa com o Francisco José Viegas chegamos à
conclusão que o livro é sobre uma civilização que está a acabar. Não
a aldeia, nem a vida citadina, mas sobre aquele limbo que existia das
casas com quintal, cadelas, galinhas, coelhos, couves. Com as novas
cidades e os subúrbios é só prédios e estradas alcatroadas. Porque
raio têm de alcatroar tudo?! Tirar o paralelo acaba com a ruralidade.
Se eu fosse Presidente da Junta de Calendário, que é onde o romance
se passa, punha paralelo outra vez!
Todos os Dias da infância constitui o território genuinamente
mais feliz que podemos ter?
Quando olhamos para traz, sim. Na memória que temos dela e
guardamos como fotografi as. É-se feliz à posteriori de se ter tido
uma infância feliz. Toda a gente detesta o liceu, tem borbulhas na
cara e acha que as raparigas não ligam nenhuma…
Escrever implica uma experiência profunda?
Há coisas que só podem ser trabalhadas porque passamos
por elas. Outras são fi cção. O próximo romance não tem um
bocadinho de mim. Passa-se num Centro Comercial em Viana
do Castelo e não é biografi a de nada. Escrevi um poema (fracote)
que se chama Igreja de Nossa Senhora de Matosinhos e nunca lá
fui… Não há-de ser muito diferente da Igreja onde eu vou.
Mas há uma capacidade de mistifi car o objecto de escrita. Algo
que os restantes mortais só têm quando estão apaixonados …
Claro. Porque é que um poema do Eugénio de Andrade, aos 80
anos, é mais interessante do que o de uma rapariga com 15 que
está perdidamente apaixonada pelo namorado?! Depende do
talento. Existe um saber.
Durante o processo criativo recorre muito a vivências de
gavetas antigas. Tem essa consciência?
Do ponto de vista literário gosto de me inventar a partir das
memórias. A memória é a maior fi cção que existe.
Isso não implica, às vezes, lamber a ferida em vez de a deixar
cicatrizar?
Só com a memória das coisas é que se pode escrever. A lamber
feridas não se escreve nada.
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UPORTO DOSSIER
Jorge Sousa Braga Passamos a vida a tentar regressar ao útero da mãe
Tinha dado assistência a um parto nessa noite. Veio ter ao Café Progresso após 24 horas no serviço de urgências. Jorge Sousa Braga nasceu em 1957, perto de Braga, em Cervães. Quando era miúdo o padre da aldeia perguntou-lhe o que queria ser quando fosse grande. Queria ser médico! Mas médico de galinhas? De vacas? Quero ser médico de mulheres! Foi presenteado com 25 tostões. Formou-se na FMUP e trabalha no Serviço de Obstetrícia/ Ginecologia do Hospital de Santo António. A corda das horas há-de esticar até ao Centro de Estudos de Infertilidade e Esterilidade, deixando algum espaço para dedicar à investigação sobre o Diagnóstico Genético Pré-implantatório da Paramiloidose, a chamada doença dos pezinhos. O Poeta Nu, Fogo Sobre Fogo (Fenda Edições), Herbário, A Ferida Aberta, Porto de Abrigo (Assírio & Alvim) e Balas de Pólen (Quasi Edições) são alguns exemplos da sua obra poética. Em grande parte dela, é nas formas femininas que a caneta faz a curva.
Como é que a Medicina se conjuga com o universo emocional
e intimista da escrita?
A Medicina é uma arte humana e a poesia também. O meu
dia-a-dia é passado entre a alegria extrema e a tragédia. A poesia
vive disso. Nunca separei, dentro do hospital sou médico, cá fora
sou poeta. Concilio. A Ferida Aberta tem a ver com a minha
experiência como obstetra e como ginecologista.
Um dos poemas desse livro é o Diário de Bordo de um feto.
Tem fi lhos?
Tenho dois e esse é o Diário de Bordo da Madalena, a mais nova.
É também uma “Ferida Aberta” para o fascínio pelo corpo,
pelo útero, pelo princípio da vida…
É no mistério do nascimento onde há mais poesia. E em todo o
tempo passado no útero da mãe. Acho que passamos toda a vida
a tentar regressar ao útero da mãe. Um dos poemas (Litania) é
sobre uma estrectomia a que a minha mãe foi sujeita (daquelas
coisas que eu estou habituado a fazer). A experiência de ver
passar o útero da minha mãe foi como se tivesse perdido a casa.
Há poemas que parecem viver dentro das coisas… Dentro daquela
montanha (nas Balas de Pólen) que pode desatar aos saltos
quando se apaixona. Como é que se entra no “comércio do pólen”?
Não há receitas para escrever, ou há tantas quantas as pessoas que
escrevem. Eu gosto de poesia simples, sem grandes elaborações.
Rente à realidade. E que transfi gure a realidade. Alguém me
disse que eu conseguia fazer poemas sobre, olhe, beringelas, que
poderão não ser consideradas “coisas poéticas”…
Isso existe?
Ou “coisas poetizáveis”. Acho que tudo no mundo é poesia. Não
tenho uma visão concentrada no Homem. Desde as pedras aos
mosquitos, passando pelo Homem… Somos peregrinos.
E pelas plantas… A propósito do Herbário, como é escrever
para crianças?
Fiz um livro para cada um dos meus fi lhos e suponho que
não volto a repetir a experiência. Tentei não fazer das crianças
estúpidas ou atrasadas mentais. Acaba por se apanhar as crianças
pelo lado lúdico e pela música das palavras (era o que funcionava
quando eu era miúdo). É preciso mingar para fi car à altura delas.
Depois do bisturi, e objectos afi ns, precisa da caneta para
respirar?
Sou muito meditativo. Acho que um dos grandes problemas das
sociedades actuais é não haver tempo para olhar. Um dos escapes
que tenho, depois de um momento de grande tensão, é fi car a
olhar… Uma pedra, por exemplo. Gosto da meditação… Tem
muito a ver com misticismo. Ando a ler poetas místicos árabes
(talvez por causa da questão do terrorismo) e seduz-me muito
essa faceta. É incrível a dimensão de paz que há em grande parte
dos místicos muçulmanos. É uma poesia de amor.
Escrever ajuda-o a conhecer-se melhor?
Acho que cada vez me conheço menos. Passamos a vida toda a
tentar saber onde podemos chegar, a explorar potencialidades,
mas não chegamos a ter a real noção das capacidades que temos.
Há algum momento em que goste particularmente de escrever?
Quando estou quase a adormecer. Não sei o que acontece em
termos científi cos nesse limiar entre o estádio de vigília e o sono,
mas é quando encontro o que me falta para completar um poema.
Como é que se chega ao avesso das coisas?
Há muita coisa que as pessoas não vêem. Ás vezes é preciso
fechar os olhos para ver.
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valter hugo mãeobjecto de captura
Diz que tinha três anos quando “a cabeça nasceu”. Acabado de chegar de Angola, estava num jardim a brincar com um menino “muito branquinho e louro, parecia um anjo”, quando se ouvem uns tiros. A mãe corre com ele para o carro e o pai aparece a gritar que estava aí uma guerra. Era o dia vinte e cinco de Abril de mil novecentos e setenta e quatro. Depois foi viver para a casa “de risca ao meio” (podia ir de bicicleta do quarto para a sala), em Paços de Ferreira. No andar de baixo tinha a senhoria, “muito velha, baixinha e corcunda”, que acordava às cinco da manha e “rezava muito alto”. Licenciado em Direito, descobre durante o estágio que não tinha perfi l para advogado: começava a chorar com os clientes e “vivia atazanado”. Na FLUP, tentou fazer um mestrado (e dedicar-se ao estudo de Saúl Dias), mas em vez disso escreveu ‘o nosso reino’. Culpa de um ícone que tinha no computador que dizia: ‘Era o homem’. Era o homem o quê? valter hugo mãe (assim mesmo, em minúsculas, como escreve sempre) tem vários volumes de poesia, entre os quais o resto da minha alegria seguido de a remoção das almas, Cadernos do Campo Alegre, útero, Quasi Edições, ou estou escondido na cor amarga do fi m de tarde, Campo das Letras. foi um dos rostos da Quasi, mas agora tem a seu próprio ‘objecto cardíaco’. em Vila do Conde, onde vive.
Foi a ausência de tudo o que andava à volta da “casa com risca
ao meio” que o levou para a poesia?
foi. a perda daquele espaço fez com que eu achasse que era altura de
usar as palavras em meu proveito, de construir um mundo que me
protegesse. e as palavras tornaram-se palpáveis. escrever tem a ver
com possuir o que vemos através da frase. ir ao louvre ver a mona lisa
e ser dono dela porque me ocorreu uma frase que me fez capturá-la,
sentir com alguma energia tangente que a mona lisa é minha.
Na FLUP dedicou-se ao estudo de Saúl Dias…
entrei para fazer um mestrado, mas na altura estava ligado à quasi
edições e fui queimando prazos. um dia decidi ir para casa escrever a
tese (já tinha a pesquisa toda feita). numa sexta-feira, ao fi nal da tarde,
montei o “estaminé” e fi quei em frente ao ecrã sem escrever uma linha.
às 6 da tarde de domingo reparei num ícone que tinha no computador
que dizia ‘era o homem’. era o homem o quê? abri e dizia: “era o homem
mais triste do mundo, como numa lenda, diziam dele as pessoas da
terra, impressionadas com a sua expressão e com o modo como partia as
pedras na cabeça e abria bichos com os dentes tão caninos de fome”.
já tinha aquilo há dois ou três anos. comecei a escrever, no dia
seguinte acordei “cheio de bichos” na cabeça e acabei o livro nos
quinze dias que tinha para fazer a tese. liguei ao meu orientador,
o luís adriano carlos, e disse-lhe: aconteceu uma desgraça!
combinamos um jantar e lá tive de lhe dizer: ‘prof. escrevi um
romance. ultrapassou-me’.
Gosta que a leitura dos seus poemas obedeça a uma
determinada ordem.
porque os livros têm uma narrativa contínua e os poemas
posicionam-se quase como estrofes… mas no livro das maldições os
poemas autonomizam-se. o próximo vai ser mais auto-biográfi co,
sinto vontade de fazer alguma coisa que não fi z. os meus primeiros
livros são muito maus. depois tive um certo encanto pela adriana
calcanhoto. o resto da minha alegria (…) é um livro lamechas, um
livro para morrer de amor. gosto de me defraudar, de ser incoerente
e pensar que as minhas convicções mais profundas amanha serão
outras. não gosto de me levar muito a sério.
Tem na calha um projecto com um dos irmãos Praça
(ex-turbojunkie)?
com o paulo praça. conheço-o desde o liceu (ele mais alternativo,
com uma postura mais dignifi cante, eu era muito parolo). o
paulo é compositor e confrontado com a possibilidade de fazer
um trabalho a solo falou comigo. tem feito coisas numa linha
pop, rock, outras mais melódicas. o mário barreiros vai produzir
e deve estar cá fora em fevereiro. fi z-lhe umas fi ntas, com textos
impossíveis de musicar, e ele musicou. antigamente era só com
caneta rotring e com um bloquinho absolutamente branco, tinha
de ter condições clínicas, agora, ando com a mania de escrever
poemas no bloco de notas do telemóvel...
Existe arte, na escrita, sem a transformação para algo
desconhecido?
é um pouco ingénuo pensar que a arte poderá satisfazer o autor
sem técnica, sem destreza. o objecto de arte tem de estar sempre
dotado de uma superioridade. a arte é um passo que nos impede
de voltar ao mesmo lugar.
E como é viver com as estórias que se escreve?
o livro cria a sensação de estarmos numa varanda sobre a nossa
vida. deparamo-nos a refl ectir situações e sentimentos. é uma
intromissão avassaladora. se à partida não é auto-biográfi co, à saída
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Daniel JonasSer corpo de confl ito entre profetas
Da luta entre o desejo do eu profano, carnal, e a castração do “cristão amestrado”, mantém-se a perturbação da crença em Deus: “tive muitas formas de provar a sua inexistência em absoluto. O absurdo disto tudo é que, persistentemente, este senhor continua a teimar que existe”. O Corpo Está Com o Rei, Prémio AEFLUP/ CGD, Moça Formosa, Lençóis de Veludo, Cadernos do Campo Alegre, e Os Fantasmas Inquilinos, Cotovia, foram os três livros de poesia que acompanharam este “ping-pong metafísico”. Daniel Jonas nasceu no Porto em 1973, licenciou-se na FLUP, em Línguas e Literaturas Modernas, Português/ Inglês, e já foi considerado pelo ensaísta Osvaldo M. Silvestre “a maior revelação da poesia portuguesa na década que corre”. O gosto pelo absurdo também lhe mereceu a classifi cação de o mais beckettiano dos nossos poetas recentes. A tradução do Paraíso Perdido de Jonh Milton é o seu último trabalho publicado pelos Livros Cotovia.
Porquê recorrer a um autor do início do século XVII?
Queria lê-lo e achei que a única forma plausível era a partir de
uma tradução, que é uma espécie de super-leitura. Como sou
muito obsessivo comecei a traduzir os primeiros versos em
decassílabo e quando olhei para trás já estava a traduzir aquilo de
uma forma compulsiva.
Que matéria humana há aqui para fazer despertar todo esse
interesse?
Questionava-me porque motivo um escritor daquela envergadura
estava tão esquecido. Tem uma tradição protestante que é a
minha e outras linhas biográfi cas, como alguém ousar ser
republicano correndo o risco de ser decapitado logo a seguir,
professar coisas como o divórcio, ser um feroz antimonárquico.
Fica cego, a mulher sai de casa pouco depois de ter casado com
ele… Realmente era uma fi gura muito interessante.
Cabe à capacidade criativa do leitor transformar um livro num
objecto vivido?
O Paraíso Perdido é, sem dúvida, uma experiência do leitor que
pede uma constante revisitação. Implica uma dose de expiação
por ter uma hermenêutica tão fechada.
Tem de haver um interior inquieto para se escrever?
A poesia nasce nessa inquietude.
já o é. é um passo que me vai impedir de voltar a ser quem eu era. e
para um escritor também é importante colocar-se no lugar absoluto
do outro. para além do fascínio de entender uma vida diferente da
minha, exerço isso por condenação, porque me afl ige. se alguém
torce um dedo e me aparece à frente a chorar, eu choro, antes de ir
buscar o mercúrio. também me afl igem muito os fi lmes, choro, fi co
incomodado. há fi lmes que me podem alterar substancialmente.
São os que valem a pena…
a vida faz sentido assim, de forma intensa. comecei a escrever
pela perda. costumo dizer que os escritores são profundamente
carentes. criar uma obra de arte é perseguir uma insatisfação.
à pessoa perfeitamente abastada não faz falta um texto ou um
quadro. a arte é a angústia perante algo que não temos. em última
análise, ser artista é poder vivenciar coisas.
A poesia ajuda a salvar a vida?
não é possível viver da poesia, mas é possível morrer da poesia.
pode ser um empolamento das coisas más. se não servir para
uma catarse bem feita, colocar o dedo na ferida pode fazer com
que ela abra mais. mas, a determinada altura, também pode
impedir que a vida acabe, que te atires de uma varanda abaixo. a
fronteira é ténue. pode ajudar a não saltar da varanda, mas não te
põe o pão na mesa, não te traz alguém, não te ajuda mais. pode
impedir o fi m da vida, mas não ta oferece.
Porquê a inclusão da palavra ‘mãe’ no nome?
a energia mais intensa que o ser humano consegue emitir é a
energia da mãe. a coisa mais absoluta que a sensibilidade humana
produz é a maternidade. valter hugo mãe porque a aspiração
máxima de um artista será a de energizar um objecto ao nível
da maternidade. será tanto mais avassalador quanto maior foi a
energia. se pudesse, por um rasgo de um segundo, comparar-se
à energia bruta de uma mãe por um fi lho, a essa sensibilidade
incondicional, a obra seria eterna. inultrapassável. no fundo, o
artista procura ser uma mãe.
valter hugo mãe porque a aspiração
máxima de um artista será a de energizar
um objecto ao nível da maternidade
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Um poeta é um “afundador de diques”, a frase é sua…
Essa frase!!! Hoje não consigo captar a verdadeira brutalidade
dessa frase.
E o mote que dá inicio ao processo de escrita, consegue?
Às vezes é uma dor de alma. Grande parte das vezes é aquela
mentira pessoana, do fi ngidor. Simulo uma ausência. Crio fi cções.
Claro que vamos todos à “arca pessoana”, mas questiono-me da
possibilidade de tudo ser fi cção. Não ter acontecido rigorosamente
nada do que se fala. Impressiona-me o quanto é efabulado...
Terá a ver com uma necessidade nossa de viver outras
histórias… De criar personagens?
De criar personagens… É uma espécie de grande teatro do
mundo na nossa cabeça. Se o dia está cinzento seria muito
melhor escrever sobre um dia de sol, ou uma chuva intensíssima.
Não me interessa o que está, mas sim fazer uma terraplanagem
qualquer ou devolver o que está cá dentro. Se bem que há um
certo limite. No meio da fi cção encontramos muitas verdades.
Como nas referências ao quotidiano, a televisão e o controlo
remoto como “a lareira hertziana para o degelo da alma”?
Isso não é fi cção, é uma meditação sobre ruínas. As nossas ruínas,
a nossa Cartago é o que está à nossa volta.
Há aqui uma necessidade de alerta para a apatia?
Eu sou profundamente apático. Tenho muita necessidade de
rotinas. Custa-me pensar em férias. Gostava de ir para uma
aldeia de pescadores no Brasil, mas é muito difícil. É como se
houvesse uma espécie de defesa, de líquido amniótico. O que
segurei, segurei.
Vai no 3º livro de poesia, houve já quem o considerasse “a maior
revelação da poesia portuguesa nesta década”, ou que é o mais
beckettiano dos nossos poetas recentes (no gosto pelo absurdo).
Terá a ver com a forma como mistura a tradição e a vanguarda?
Consumi muita literatura inglesa e norte-americana. Quanto ao
lado beckettiano, se calhar, há ali um absurdo inglês, nem que
seja a nível de sintaxe. Provavelmente será essa a estranheza.
É do desejo que vem o fôlego para escrever?
Isso foi verdade juntamente com uma dúvida moral e
ética. Sempre tive um comportamento parecido com ideais
protestantes, cristãos (tanto é que fui para o seminário), mas
tinha de me libertar, de pôr dúvidas no papel, e sendo crente, ou
cristão, tenho de vigiar este senhor que está aqui a levantar-se e
a querer escrever coisas um bocadinho … pecaminosas. Houve
uma luta essencial desde o início. A poesia seria uma forma de
promover o desejo do eu profano, contra aquela criatura tutelar
do cristão amestrado. Escrever sobre desejo carnal, incluir um
palavrão, o lado mais profano das coisas, era uma dor de alma. A
opção pelo nome (Daniel Jonas) radica do confl ito entre profetas,
um maior e outro menor, um com uma fé inabalável, o outro que
foge para Tarsis, em vez de ir para Nínive. Foi uma luta quase
titânica entre o poeta e o crente.
Como co-habitam hoje?
Depois de muitas mediações têm uma coexistência pacífi ca.
A minha fé continua a ser difícil de entender. Acredito num
Deus, o mesmo Deus Jeová, e tive muitas formas de provar
a sua inexistência em absoluto. O absurdo disto tudo é que,
persistentemente, este senhor continua a teimar que existe. Não
consigo explicar isto. Se pensarmos que tudo o que fazemos tem
de ser em prole dos outros, ou que não pode chocar, quando
escrevo sobre os mais profundos abismos da minha alma tenho a
convicção de que há leitores que vão fi car chocados. Em termos
éticos isto é muito pesado.
É uma boa forma de se explorar internamente…
É um ping-pong metafísico (risos), mas também é um processo
esquizofrénico (risos). Um combate de forças entre o corpo e o
espírito. É um tópico arrumado. Mais-ou-menos…
Claro que vamos todos à “arca pessoana”,
mas questiono-me da possibilidade
de tudo ser fi cção. Não ter acontecido
rigorosamente nada do que se fala.
Impressiona-me o quanto é efabulado...
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João Pedro da Costa Somos a língua que falamos
Tudo começou com um exercício numa aula de francês. Um Martini e o Mar (Campo das Letras) venceu o Prémio Internacional de Francofonia da Universidade de Metz (2001). Na altura, João Pedro da Costa era também funcionário da FLUP. Tem poucos livros publicados, mas já mereceram distinções do Ministério da Cultura, da Câmara Municipal de Ovar, do Clube Artes & Ideias, entre outros. Criou um blog, As Ruínas Circulares, que também resultou em livro, escreve para a MTV Portugal, para um canal infantil de televisão e tem uma peça de teatro na calha. Nasceu em França, em 1974, e veio para cá 11 anos depois. Capital humano sufi ciente para dizer que a linguagem não serve para traduzir. Serve para apreender.
Em que contexto surge Um Martini e o Mar?
Surge com um exercício, durante uma aula com o realizador
Saguenail (estava, na altura, a tirar o curso de Línguas e
Literaturas Modernas). Entretanto foi ganhando contornos cada
vez maiores e como eu era também funcionário da Faculdade
veio parar-me às mãos o anúncio do Prémio Internacional de
Francofonia (da Universidade de Metz). Concorri, ganhei o
prémio, e a Campo das Letras publicou o livro.
Um dos personagens do romance, o Vendedor de Palavras,
garante a sinceridade do que escreve enquanto reforça
a impossibilidade de recordar sem reinventar. Somos
confrontados com diferentes perspectivas da mesma realidade
e com o recurso a línguas diferentes. É um nítido olhar
contorcionista sobre a mesma realidade…
Tendo como língua materna o francês (só comecei a falar português
a partir dos 11 anos de idade) essa experiência deu-me a entender
que a linguagem não é um fi ltro, não é um meio para chegar a…
É o mundo em si. O que vemos e sentimos é condicionado pela
linguagem. Quando comecei a pensar em português percebi que
era outra realidade que estava perante mim. Cada língua tem a sua
sintaxe, a sua semântica, a sua ginástica própria. As regras gramaticais
da língua portuguesa permitem fazer coisas que a francesa não
permite e vice-versa. Um Martini e o Mar foi escrito em duas línguas,
foi um exercício de estilo ver até que ponto as duas línguas me
poderiam levar por caminhos diferenciados. E de facto levaram. O
Budapeste, do Chico Buarque, aborda isso de uma forma magistral.
A temática é a aprendizagem de uma língua não materna, neste caso
o húngaro. Um escritor brasileiro, um personagem chamado José
Costa (até há uma semelhança entre nome dele e o meu) viaja para
a Hungria e vai mudando à medida que se adapta à língua. Regressa
ao Brasil e muda novamente. É um livro que eu gostaria de ter
escrito. Dizem que a língua é um instrumento, nada disso! Teria de
ser separável e a língua não é separável de quem a utiliza. O processo
cognitivo de apreensão da realidade depende da linguagem.
E a parte da verosimilhança ser mais importante do que a verdade?
É um velho princípio. Aristotélico até. A história deve preocupar-
se com o relato do que aconteceu, a verdade não pertence à
obra literária. A verosimilhança é uma adaptação da verdade ao
contexto da obra. É a forma como os factos estão ordenados em
relação ao mundo que está dentro da obra.
O leitor não pode ser também um Vendedor de Palavras...
ao interpretar?
Toda a gente diz que o leitor tem tanto de autor como o próprio autor.
Em parte é verdade, há um processo de reconstrução, mas não me
parece que qualquer obra possa ter esse vasto leque de possibilidades
interpretativas. Interessa a forma como a obra trabalha a linguagem. É
o seu material. Quando olhamos uma escultura, mais importante do
que as interpretações é como a pedra está trabalhada. No prólogo do
Fervor de Buenos Aires, Borges (Jorge Luís), que é um dos escritores
que mais me marcou, diz que é um mero acaso ser ele o autor
daquelas páginas e outros serem os leitores. No Um Martíni e o Mar o
personagem é a realidade e o Vendedor de Palavras é o autor do livro.
Em qualquer processo de escrita temos um Vendedor de Palavras
dentro de nós. Limitei-me a dar-lhe uma dimensão física.
Sobre Jorge Luís Borges escreveu: “Reconheço-me mais nos
seus livros do que no meu refl exo no espelho ou na duvidosa
ramagem da minha arvore genealógica”… É inevitável a
colagem a alguns autores?
Sem duvida. Porque somos preguiçosos. Se encontramos um
autor que é capaz de ordenar o mundo de uma forma na qual
nos reconhecemos, fi camos ligados a ele. É uma nova forma de
articular a linguagem, que me contaminou e que eu importo
para a minha linguagem. A grande diferença entre a literatura
e qualquer outra forma de arte é que lida com o que há de
mais íntimo e específi co no ser humano que é a linguagem.
Reconheço-me na forma como ele ordena o mundo. É um
processo de esvaziamento, passamos a ser uma sombra do autor.
Depois é preciso “matar o pai”.
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há um Olimpo de deuses a cunhar o currículo que devemos dar.
A visão da literatura não existe como cânone. Não há nenhum
valor seguro. Quando há o ‘bem escrito’ é preciso escrever mal.
Pintar com a mão esquerda. Não se trata de procurar o novo a
todo o custo e considerar que porque é novo já é bom. Trata-se
de estar atento dentro das coisas…
Um caminho intimo e, às vezes, transmissível…
Às vezes. Quando acontece é maior do que nós. Na epígrafe de
Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres, Clarice Lispector diz:
“este livro é maior que eu”. Claro. Quando os livros são a sério são
maiores do que nós. Não sei se todos os meus livros são maiores
do que eu do mesmo modo. Espero que sejam e que isto não seja
presunção. Se for, se calhar, precisamos de presunção para escrever.
O que dá o carácter intemporal a uma obra para que possa ser
objecto de encontro para gerações futuras?
Não é a questão do intemporal, mas o de ser muito temporal.
É bom que Proust seja o autor daquele momento e daquele
universo. Só se transforma em universal quando fala daquela
hora em que antes de dormir espera pelo beijo da mãe. Não quis
falar de todas as mães nem de todos os beijos. Falou daquele.
É preciso ser muito local e esperar que as coisas aconteçam.
Fazer um plano e prever onde o leitor vai chegar é uma ditadura
obscena. Perde-o rapidamente. Não é uma demissão, deve
propor jogos, inventar regras, que não sabe onde vão levar. Eu
ofereço um objecto opaco, resistente e quem passar por aqui vai
estranhar a linguagem, vai achar que está “avariada”. A máquina
já não está a dar os produtos esperados nem se sabe quais vai dar.
E o leitor não se pode também reparar através da leitura?
Sem dúvida. Escrevo porque sou leitor e recebi grandes coisas dos
livros. Encontrei achados do domínio do êxtase que, provavelmente,
o autor nunca pensou ter posto lá. É o tal descontrolo.
Como é que se pensa o corpo quando se escreve para Teatro?
Eu sou tantos corpos… E no teatro, entre os meus corpos e os dos
espectadores, ainda se colocam os corpos dos actores. A peça Antes
dos Lagartos pede ao actor que seja circense, até (nos ensaios um deles
chegou a partir um dedo do pé). Publiquei há pouco um livro de
cinco peças, uma delas chama-se Uma carta a Cassandra e são dois
monólogos onde, vamos fazer de conta, o corpo não é necessário. Isto
para tentar pensar os dois extremos. Há muitas possibilidades.
Pedro Eiras Do conhecimento para a ignorância
Pede o irreversível: que um livro, ou uma peça de teatro o alterem para sempre. Ou não terão valido a pena. Pedro Eiras nasceu no Porto em 1975. Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas, na FLUP, onde é docente e investigador na área da Literatura Portuguesa Contemporânea. Tem obras publicadas na área do ensaio (Esquecer Fausto; A Moral do Vento – Ensaio sobre o Corpo em Gonçalo M. Tavares), teatro (Antes dos Lagartos; Um Forte Cheiro a Maçã; Passagem; Recitativo dos Livros do Deserto e As Sombras), conto (Estiletes), do romance (Anais de Pena Ventosa) e ainda faz crítica literária. Diz que a escrita está sempre primeiro. “É mental. Não me concebo antes de escrever”.
Surge por impulso ou é um exercício que encaixa num
determinado calendário?
Um pouco de tudo. A faceta académica implica a existência de
regras a cumprir e a subverter, a escrita implica obedecer a regras
da maneira mais livre possível. Inventam-se caminhos. Há uma
esquizofrenia benéfi ca a esse nível e algo de incontrolável…
Demónios que escrevem.
Quem escreve vai-se ‘reparando’?
Sim, assiste-se. Quando corre muito bem, há duas ou três horas
em que não existo. Acordo no fi m. Está ali algo que saiu de mim,
mas não me lembro de o fazer. É válido tanto para o ensaio como
para a peça de teatro.
Uma peça de teatro pode ter momentos do domínio do
mágico, que só se explicam em termos emocionais. Será como
o que acontece na escrita quando, por um laivo de genialidade,
se descobre a palavra ou a frase mais efi caz?
O teatro só interessa para atingir um determinado momento
da ordem do incontrolável, qualquer coisa de mágico, ou de
inteligente. No ensaio também, embora de maneira mais solitária
ou mais dual (entre o escritor e o leitor). Está próximo do que
faço nas aulas. Trata-se de dar a ver de outro modo. Na aula, no
teatro, no ensaio, na fi cção, transformar a visão das coisas.
Como gere o cumprimento de um programa original com
a responsabilidade de incentivar o aluno na procura da sua
própria linguagem em vez de se moldar ao que já existe?
Dentro do que estou a dar invento o meu caminho. É uma
imensa sorte e qualquer coisa de absolutamente necessário. Não
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Tudo começa mal no ‘conhece-te a
ti mesmo’. Há aí um singular muito
problemático. Nós não somos os mesmos
entre um minuto e o outro, ou entre
o dormir e o acordar. Mas todos nos
querem obrigar à redução…
A que velocidade bate o coração quando a palavra é interpretada?
Bate muito para lá do razoável. Chega a ser sofrimento. É muito
bom quando a dádiva regressa sob essa forma de um certo…
(pausa) irreversível. Qualquer coisa se alterou. Há um universo
que passa a existir a partir dali. No secundário escrevi uma peça,
chamei os meus colegas e não houve ninguém que não se tivesse
transfi gurado de maneira radical. Mais do que certos actores
que têm anos de experiência (a técnica também pode impedir
a transfi guração). Acho que as nossas doenças (do ocidente)
passam por não integrarmos personagens. Tudo começa mal no
‘conhece-te a ti mesmo’. Há aí um singular muito problemático.
Nós não somos os mesmos entre um minuto e o outro, ou entre o
dormir e o acordar. Mas todos nos querem obrigar à redução…
À coerência…
Sim. E nós não somos coerentes. É uma invenção atroz. A escrita
é uma escavação. Nunca sei o que vai acontecer no fi nal. Ando a
escrever uns textos (que não são literários nem ensaísticos) em
que começo com uma determinada tese que no fi nal do parágrafo
já se quebrou. Se eu for um animal cartesiano apenas posso ir
esclarecendo o que era turvo e caminhando da ignorância para
o conhecimento. E não é nada assim. Caminho de muitos sítios
para muitos sítios contrários, da ignorância para o conhecimento,
mas também, e ninguém fala disto, do conhecimento para a
ignorância. Quantas vezes me sinto mais ignorante e com mais
dúvidas no fi m?! A escrita ultrapassa-nos. É preciso que qualquer
peça, qualquer livro transforme o seu receptor para sempre. É o
mínimo que peço. Se não me transformar radicalmente não valeu
a pena. É como uma revelação religiosa. Eu não penso nestes
termos e há um antropomorfi smo que não me interessa nada,
mas quantos cristãos querem mesmo que Deus lhes apareça?
Vamos substituir Deus pelo livro, eu quero que o livro apareça!
Temos de querer tudo enquanto estamos vivos.
José Emílio-Nelson A poesia do desencanto
Nasceu em Espinho em 1948 e é lá que a casa o coloca “mais facilmente na esfera da fi cção”. Da infância lembra a musicalidade das palavras em grego e em latim do pai (o escritor José Marmelo e Silva) antes de adormecer, e as cores de Goya, Velásquez e Bosch, um fascínio que descobriu nas visitas ao Museu do Prado. Formou-se em Economia, na FEP, porque o apetrechava para “a especulação que a poesia acaba por ser”. Agreste, excessiva, barroca, avessa a qualquer ética da virtude e da moral e a práticas de jardinagem linguística, a poesia de José Emílio-Nelson pretende ser o grito do condenado “que fere quem o condena”. Refém de uma aproximação ao divino, A Alegria do Mal, Quasi Edições, que faz a compilação da sua obra poética de 1979 a 2004, tem um cunho maligno e obsceno. Um universo boschiano que não se esgota na denúncia do bolor sacrossanto. O Pickelporno, da mesma editora, acaba por ser também a afi rmação da animalidade do Homem.
A aposta numa linguagem radical e transgressora é um ponto
de partida obrigatório?
Não é um propósito, nem um panfl eto, apenas pretende exercer
comunicação. Existe a preocupação de dar um vínculo à
realidade. A matéria da poesia pode desenvolver-se no sentido
de um adoçamento… Eu escrevo numa perspectiva do confl ito
do gozo. Alguma coisa que não embale, nem adormeça. A
minha família literária é muito antiga e como dizia Aristóteles,
a comédia é uma espécie de feio. Remetia-se para a periferia
das cidades. Existe uma tendência para falsifi car o que é a
naturalidade. Está a perder-se aquilo que nos afi rma como
humanos com a esterilização obsessiva que serve uma perspectiva
multinacional de imposição de produtos (até a água, agora tem
de ter sabor…). Temos um passado de animalidade que gosto de
afi rmar na poesia. A escrita não é uma idealização. O Homem
não serve só de consumidor e não tem de ter vergonha de si
próprio. Encanta-me que se dê o Homem na sua totalidade.
A tal poesia “do feio e do mal”, como diz Adriano Carlos na
Introdução da Alegria do Mal, advém dessa voracidade de
apreender o objecto em todas as dimensões, incluindo o lado
mais escuro e, às vezes, perverso da condição humana?
Há uma euforia acompanhada de momentos de alguma
melancolia. Vozes que se exaltam pela elevação ou descem à carne.
O desenvolvimento do poema é que traz o texto e revela esses
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aspectos. Solto alguns cavalos. Se a minha poesia já foi excremental
agora é mais espermática. Há um confi nar de pontos e a
conjugação da consciência dos sexos anteriores. Fazer uma síntese
para dar o salto em frente. Sem ter medo de falar do impuro.
Porquê o predomínio do grotesco na aproximação ao divino?
Na iconografi a cristã valorizo o Cristo sofredor. Que se
aproxima do humano. Não divinizado. Há uma afi rmação da
masculinidade na fi gura de Cristo que é também uma fi gura de
dor. A religiosidade do que escrevo não se apaga no dogma. É um
conceito aberto.
Se combate o dogma é porque ele o fascina…
Há uma projecção, mas tenho muito de anti-clerical. Nenhuma
regra pode limitar a especulação e a liberdade humana. Não faz
sentido o espartilho em nome de Deus, quando a existência de
Deus está numa liberdade infi nita. Não faz sentido atribuir regras
àquilo que não tem regras. Só se for para cobrar alguma quota...
Matéria-prima para a escrita?
Não há um limite. Até o sentido do riso é uma observação um
pouco desencantada da solidão do Homem. O poema não se
pode catalogar ou ter sentido de um limite de ideia. Não é por
uma boa ideia que o poema se salva é pela forma como a diz. O
que transmite é algo que nos faz voltar a ele, infi nitamente. Como
na vida amorosa, estamos sempre a repetir a mesma pessoa e ela
é diferente de todas as vezes. Quando não conseguimos regressar,
abandonamos. É um exercício que difi culta a recepção do texto.
E leva a diferentes interpretações...
Essa polissemia! A poesia contemporânea é disseminada e a
sua grandeza está nessa disseminação. Podermos ler algo que
completamos. Temos de voltar ao poema na obstinação de o
encontrar. Ser teimosos com ele. Isto defende e acusa toda a poesia.
A crueza levada ao excesso não é, em si, uma efabulação? Uma
teatralização da escrita?
Quem escreve tem essa capacidade de efabular. A preocupação
está em servir o texto até atingir aquele pequeno segundo de
irreverência num mundo que se está a render à economicidade.
A idade média fascina-me, assim como encontrar a palavra que
se gritava segundos antes da pessoa ser queimada ou enforcada,
a ideia do condenado que grita e fere quem o condena, que
Não é por uma boa ideia que o poema
se salva é pela forma como a diz. O que
transmite é algo que nos faz voltar a ele,
infi nitamente. Como na vida amorosa,
estamos sempre a repetir a mesma pessoa
e ela é diferente de todas as vezes.
vitimiza quem o pretende como vítima. É isso que pretendo para
a poesia, encontrar essa frase, essa incomodidade, esse pequeno
grito que é um protesto contra o perfeito e o plástico. A poesia
do desencanto. Um testemunho acusatório do nosso tempo. Não
trato as palavras como se tivesse um jardim de rosas. Depois
paga-se a factura de não escrever a poesia dominante... A maior
parte das pessoas procura coisas que não as acorde, esse tal
adoçamento. Costumo dizer que se fosse leitor não procuraria a
minha poesia. Não é agradável de ler. Pede muito: que discutam
comigo, que acrescentem ao texto. Escrevo poesia sem ser poeta.
E tenho tudo por fazer.
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24 | Por motivos alheios à sua vontade deixou para trás a varanda que, pela manhãzinha, lhe oferecia a Serra num círculo de nuvens “como nos contos de fadas”. Tinha 9 anos quando trocou Sintra por Leça da Palmeira, onde vive ainda hoje, mas lembra-se de, nos primeiros meses, acordar “com a almofada molhada de lágrimas”. Diga-se que os colegas da escola também não foram grande ajuda: “faziam-me tropelias, lançavam-me ao ar, foi muito complicado adaptar-me ao Norte”. Coleccionou os números todos da revista do Zorro (“estão no sótão da minha mãe”), lia tudo o que conseguia apanhar, incluindo, aos 11 anos, “O Crime do Padre Amaro” que a deixou “cheia de febre”. Já tinha trabalhado em Elizabeth Jennings, Sylvia Plath e Anne Sexton, mas descobre um poema que a fascina e é sobre Emily Dickinson que acaba por fazer o doutoramento. Isto depois da licenciatura em Germânicas, na FLUP, onde lecciona. Poesia Reunida 1990 – 2005 (Quasi Edições) faz a compilação de 15 anos de trabalho que se vai, como diz Irene Ramalho de Sousa Santos, articulando “entre o banal viver e o sublime poetar – ou talvez devêssemos trocar os epítetos: sublime viver e banal poetar”.
Desde o presunto, o arroz e os detergentes até… à luz do sótão
mental, está tudo presente na sua poesia. Quando é que um
instante tem legitimidade para ser poema?
Tudo pode ser objecto de poeticidade. Há esse lado do presente, mas
tenho poesia de uma dimensão muito abstracizante. Tenho os dois
extremos. O temporal e o não-tempo. Do tempo faz parte o amor,
a paixão, que não é perene, nós é que queremos fazer das coisas
imortais, mas só a morte é que tem esse lado radical. Tanto posso
ver o amor dentro da tradição poética portuguesa, exercitando uma
voz lírica que traça essa tradição subvertendo-a, como posso falar de
leite-creme à minha fi lha, que é um poema de amor.
A leitura não acaba por resultar numa personalização do poema?
No meu primeiro livro escrevi “Que o poema promete e
compromete, é fi lho e como fi lho obriga a tanto: ser um fi lho
emprestado a guerra alheia, outra bomba a estalar revoluções na
perigosa ternura de outro olhar”. Já não é o meu olhar. O fogo de
artifício serve todos. É de um céu de mil céus.
Lembra-se de quando começou a escrever?
Desde sempre. Desde que me lembro que faço rimas. Acho
que a poesia é musica e desde pequena que fui capaz de
saber intuitivamente se uma quadra (a tradicional tem sete
sílabas) estava bem ou não. Mas só depois dos trinta é que
decidi publicar. Tinha receio de quebrar uma relação que eu
considerava ser de inocência com o poema. Mostrava os poemas
aos meus amigos, tinha o meu público. Agora, pô-los cá fora,
à solta, dá-los a quem não conhecia, aos críticos com um olhar
autónomo, isso assustava-me. Demorei muito tempo a organizar
um livro para publicação. Foi a Irene Ramalho, que me orientou
a tese de doutoramento, que me incentivou.
E agora?
No segundo livro ainda me preocupei. Depois, não tinha outro
remédio, conformei-me. Há uma inocência no primeiro livro que
não há nos outros.
A escrita obriga a explorar muitos caminhos, memórias,
confortos e desconfortos. Esse encontro com o eu pode ser
terapêutico?
O poema nunca pode ser um grito de alma. É impossível o nosso
olhar ser inocente a isso. Há sempre uma dose de máscara, de
fi ngimento. Tenho muitos poemas que não foram publicados.
Escrevi porque precisava de os escrever. Naquele momento. Às
vezes a poesia salva o indivíduo, ou pode reparar o indivíduo,
mas não signifi ca que o poema tenha valor do ponto de vista
literário. Acredito que a poesia pode defl ectir para o pior ou para
o melhor. Pode criar mundos paralelos, defl ectir o sofrimento,
a dor, coisas que pensamos ser insuperáveis. E é possível, por
exemplo, que a poesia substitua a própria vida e, nesse sentido,
pode ser terapêutica. Também já aconteceu provocar a escrita…
Duas, três da manha, silêncio, sozinha em casa, ponho a folha à
frente e, devagarinho, é uma espécie de visitação. Gosto muito da
noite para trabalhar.
No dia-a-dia, para além das solicitações da escrita tem muitas
outras, inerentes ao facto de ser mãe, de ser docente… Como
é fazer esta transição entre o mundo interior, as viagens da
poesia, e o mundo exterior?
Às vezes posso entrar num estado completamente absorto. É
como se fosse outra, sendo a mesma. Eu pinto aguarelas, mas
não preciso, preciso de escrever. Escrevo por necessidade e
por paixão. O meu outro lado… Detesto avaliar alunos, mas
não há nada mais extraordinário do que, numa aula, outro
ser humano dizer: “Caramba, nunca tinha pensado nisso!” Tal
Ana Luísa Amaral “O poema nunca pode ser um grito de alma”
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Tanto posso ver o amor dentro da tradição
poética portuguesa, exercitando uma voz
lírica que traça essa tradição subvertendo-a,
como posso falar de leite-creme à minha
fi lha, que é um poema de amor.
como aprender. A partilha. Sentirmo-nos parte dos outros.
Articulo por necessidade. As mulheres são desdobráveis... E a
educação e a cultura têm aqui um peso fortíssimo porque, se
fossem ensinados, os homens também seriam capazes. Eu dou
introdução aos Estudos Feministas como cadeira de opção, dou
cadeiras de Estudos Feministas no mestrado, e costumo dizer que
nunca ouvi de um homem: “A minha mulher é óptima, ajuda-me
imenso lá em casa.” Nunca!!! O contrário já. Várias vezes e como
um elogio. Somos treinadas para desempenhar uma série de
tarefas. Habituei-me a isso.
Ainda assim, parece ter havido, ao longo do tempo, um crivo
que não deixa as mulheres sedimentar na história…
Claro, a sociedade e o sistema são patriarcais. No século XVII
não se considerava que as mulheres tivessem alma. Eu ainda
sou do tempo em que a mulher e a fi lha (solteira) tinham de
pedir autorização ao pai, ou ao marido, para sair do país. A
criatividade não está isenta de condições sociais. Não é por acaso
que Virginia Wolf, em 1928, escreve Um Quarto Que seja Seu e
fala na independência económica que conduzirá à autonomia e
auto-confi ança. Durante muito tempo desenvolveu-se a clivagem
público (que pertencia aos homens e do qual faz parte tudo o
que é criação) privado (que pertencia às mulheres). No caso
da poesia, pior ainda. É mais fácil às mulheres implantarem-se
no romance, que aparece como um género novo. Pense por
exemplo, em Inglaterra, na quantidade de mulheres romancistas
do século XVIII, XIX… Depois passa também por políticas de
divulgação. Pegue numa História da Literatura Portuguesa, vá
ao índice, e procure até ao século XX... Encontra as freiras do
período barroco, uma Maria da Felicidade Brown do século XIX,
ultra-romântica, e começa a falar de uma espécie de tradição de
poesia escrita por mulheres com Florbela Espanca e Irene Lisboa.
Será só a partir dos anos 40, com Sophia de Mello Breyner
Andresen, que as mulheres começam a escrever poesia. Há uma
desigualdade no acesso ao poder e a escrita é uma forma de
poder. Quanto mais não seja, simbólica.
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26 | 27 O Centro de Riscos da Universidade do Porto foi criado, recentemente, envolvendo a Universidade e várias entidades com responsabilidades na área dos riscos naturais e tecnológicos. Pretende reforçar a capacidade institucional da região Norte no domínio da relação entre riscos, património e ordenamento do território.
Um conjunto de ocorrências que vão desde os deslizamentos
de terra até à erosão costeira, que ameaça populações do litoral
todos os Invernos e obriga a avultados investimentos anuais da
administração central, é recorrente em Portugal, nomeadamente
nas zonas Norte e Centro. No litoral português, o cenário
agrava-se de ano para ano. Segundo dados recentes: um terço
(28,5 por cento) da orla costeira portuguesa está comprometido,
constata o relatório “Living with Coastal Erosion in Europe:
Sediment and Space for Sustainability” da Comissão Europeia
(que contou com o contributo de Veloso Gomes, professor
da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto), com
recuos já registados de seis metros por ano em certos troços. Este
relatório coloca Portugal em quarto lugar entre os 18 países com
problemas mais graves de erosão costeira.
Serão estes tipos de ocorrências evitáveis, ou pelo menos,
poderão elas ser prevenidas? Um conjunto de investigadores,
que une agora esforços no recém-constituído Centro de Riscos
da Universidade do Porto (CERUP), tem vindo a trabalhar em
riscos naturais ou decorrentes da actividade humana. Esta grande
área de estudo, os riscos naturais ou decorrentes da actividade
humana, (numa outra designação “riscos naturais e tecnológicos”,
dada a difi culdade em estabelecer a fronteira entre os riscos
naturais e os não naturais) tem profundos refl exos na sociedade.
Estima-se que a nível mundial cerca de 90 por cento dos
chamados riscos naturais se relacionem com o tempo, o clima e
a água, mas algumas das maiores catástrofes naturais de sempre,
englobam episódios sísmicos de grande magnitude, como Lisboa
em 1755 ou o que atingiu várias zonas do Oceano Índico em
Dezembro de 2004.
Promover e articular para prevenirPara minimizar as consequências dos acidentes com origem
natural é fundamental, portanto, prevenir tanto quanto possível,
fundamentando as decisões, as estratégias e as actividades
humanas, e ajudando a articular iniciativas de várias entidades
com responsabilidades na prevenção e gestão de áreas de
risco. “A caracterização e a quantifi cação do risco inerente
às actividades produtivas numa dada região é essencial para
desenvolver uma abordagem racional das problemáticas que
lhes estão associadas e permitir melhorar as políticas regionais
e locais, encorajando a cooperação inter-regional para previsão,
prevenção e intervenção, desenvolvendo instrumentos
adequados para responder às necessidades sentidas na região”,
defendem os organizadores de uma conferência internacional
prevista para o início do ano de 2007 sobre a temática “Análise
e Gestão de Riscos nas Actividades Produtivas”, promovida
pelo Centro de Riscos da Universidade do Porto (CERUP).
“O risco refere-se, portanto, à probabilidade de ocorrência
de certos processos no tempo e no espaço, não constantes
e não determinados, constituindo deste modo uma ameaça
física (directa ou indirectamente) para o Homem, para o meio
ambiente e para o património. A ocorrência de fenómenos
violentos, capazes de afectar a actividade humana, raramente
é previsível em tempo sufi ciente, de modo a serem accionados
os devidos e possíveis mecanismos de protecção. Todavia, é
possível procurar uma redução dos danos potenciais recorrendo
a princípios de prevenção, precaução e protecção”, explica-se
no texto de apresentação do CERUP. O Centro, coordenado
actualmente por José Ferreira Lemos, professor e director do
Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia,
foi criado para responder a esta necessidade, sentida por diversas
instituições com responsabilidades nesta área, promovendo,
aplicando e articulando trabalho de investigação que tem
vindo a ser desenvolvido por várias equipas na Universidade
do Porto. Dará especial atenção aos riscos mais evidentes nas
zonas Norte e Centro do país, nomeadamente os riscos sobre
o património/ reabilitação de edifícios; riscos sobre estruturas
associados a fenómenos tectónicos e geológicos em geral
(fenómenos sísmicos e outros acidentes geológicos), riscos
associados à erosão costeira/ dinâmica costeira; risco de cheia;
riscos geomorfológicos associados a vertentes (ravinamento
ou movimentações em massa como desabamentos); riscos
climáticos; riscos de incêndios nas fl orestas; riscos associados aos
Centro articula esforços para prevenir riscos
UPORTO SABER EM MOVIMENTO
AS OBRAS DE CONSOLIDAÇÃO NA ESCARPA DOS GUINDAIS SÃO EXEMPLO DA EXPERIÊNCIA DA U.PORTO
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transportes marítimos. O CERUP envolve para já investigadores
e grupos de investigação da Faculdade de Engenharia (Geotecnia,
Hidráulica, Estruturas e Planeamento do Território), e da
Faculdade de Letras (Geografi a Física do Departamento de
Geografi a). Está também prevista a participação de outras
faculdades e a articulação com áreas complementares,
nomeadamente os riscos associados à saúde pública (Instituto de
Saúde Pública da Universidade do Porto) e ao clima (colaboração
com a Universidade de Barcelona).
Sócios representantes da sociedadeA prevenção, minimização e, em geral, o estudo do risco tem vindo
a desenvolver-se nos últimos anos, impulsionado pela evolução
tecnológica das sociedades que torna cada vez mais abrangente
e complexo o conceito de risco. Por outro lado, “o aparecimento
de comunidades de alta densidade demográfi ca, a pobreza, as
actividades humanas e a degradação ambiental são factores
que fazem aumentar a vulnerabilidade” aos acidentes naturais
e tecnológicos, explica-se num texto sobre “Riscos Naturais e
Tecnológicos” na página web do Serviço Nacional de Bombeiros
e Protecção Civil. E acrescenta-se que, “assim, constantemente,
os efeitos das catástrofes naturais são agravados pelas acções
humanas, pois os comportamentos, muitas vezes inconsequentes
e negligentes, favorecem (…) uma cultura de risco. Os exemplos
são vários: o estabelecimento de uma urbanização num vale que
impermeabiliza o solo, a canalização dos cursos de água ou uma
cultura inadequada que desagrega o terreno são alguns dos factores
que afectam o risco de cheia”, um dos tipos de risco mais evidentes
em todo o território de Portugal Continental. O ordenamento
do território, evitando a edifi cação em áreas de risco, é, portanto,
um dos primeiros passos a percorrer em qualquer estratégia de
prevenção de riscos ditos naturais.
O CERUP que, até agora, conta, entre os seus sócios fundadores, com
o Instituto Nacional da Água (INAG), a Administração do Porto de
Leixões (APDL), o Instituto Português do Património Arquitectónico
(IPPAR), a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional
do Norte (CCDR-N), a Câmara Municipal do Porto (CMP) e
a Associação Florestal de Portugal (FORESTIS), para além da
Universidade do Porto, tem precisamente, por objectivo último,
reforçar a capacidade institucional da região Norte no domínio
da relação entre riscos naturais e tecnológicos, património e
ordenamento do território. Pretende vir a ser o elo de ligação,
promovendo e articulando a investigação entre as equipas de
investigadores e laboratórios, entidades responsáveis, empresas
e a sociedade civil. Fará uso de estudos, trabalhos laboratoriais e
investigação científi ca em áreas como gestão de risco de centros
históricos, preparação de cartas de risco, estudos sobre o litoral e
sobre paisagens atlânticas e mediterrânicas no que lhes está associado
de riscos climáticos e geomorfológicos.
“(...) constantemente, os efeitos das
catástrofes naturais são agravados pelas
acções humanas, pois os comportamentos,
muitas vezes inconsequentes e negligentes,
favorecem uma cultura de risco.”
OFIR: UMA DAS ZONAS MAIS AMEAÇADAS PELA EROSÃO COSTEIRA EM PORTUGAL
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UPORTO SABER EM MOVIMENTO
Experiência acumuladaExiste uma vasta experiência acumulada no seio da Universidade
do Porto em certos domínios. É exemplo disso o Instituto de
Hidráulica de Recursos Hídricos (IHRH) coordenado por
Veloso Gomes, professor da FEUP, em estudos sobre dinâmica
costeira e soluções de defesa da costa e de hidráulica fl uvial.
Um dos projectos, agora em fase inicial no IHRH, é o CoPraNet
(Coastal Practice Network), fi nanciado pelo fundo Europeu
para o Desenvolvimento Regional INTERREG IIIC e liderado
pela EUCC – Th e Coastal Union, sediada na Holanda. O
CoPraNet está a ser desenvolvido como um fórum para troca
de informações sobre boas práticas nas zonas costeiras, que
favorecerá a cooperação entre regiões costeiras e municípios da
União Europeia, no sentido de melhorar a efi cácia das políticas e
instrumentos legislativos aplicáveis à orla costeira.
A experiência acumulada na U.Porto nas áreas da Geomecânica
e da Geotecnia abrangem temas que vão desde a identifi cação e
caracterização dos terrenos, às fundações, às obras de suporte,
aos aterros, às barragens, às obras subterrâneas e a estabilidade de
taludes e outros que têm vindo a ganhar importância crescente,
como o comportamento dos maciços (terrosos ou rochosos)
sob acções sísmicas, o controlo das vibrações provocadas por
explosões, o armazenamento subterrâneo de gases liquefeitos,
o melhoramento e reforço dos solos, a migração e dispersão de
poluentes nos maciços e nos respectivos aquíferos. Refere-se por
exemplo o reforço estrutural da escarpa dos Guindais, um troço
da margem direita do Douro na cidade Porto, onde se registaram
diversos casos de desabamento agravados pela ocupação de
génese ilegal, projecto coordenado por António Campos e Matos
(professor na FEUP). A Carta Geotécnica do Porto elaborada
a pedido da Câmara Municipal do Porto, é um exemplo de
projecto na área da geologia aplicada. Trata-se de um tipo de
registo ainda pouco comum em Portugal, associado a meios
gráfi cos, do subsolo da cidade do Porto, acessível através de meios
informáticos e que pode constituir um meio de informação para
a prevenção e o estudo de riscos geológicos.
Outro exemplo passa pela Faculdade de Letras (FLUP),
mais propriamente pelo Departamento de Geografi a, onde
se lecciona o Curso Integrado de Estudos Pós-Graduados
em Gestão de Riscos Naturais (com acesso aos graus de
mestrado e doutoramento) e se desenvolvem projectos nesta
área, nomeadamente, identifi cação de susceptibilidade do
movimento de vertentes no distrito do Porto, com áreas de
amostra (montanha, colinas, litoral, por exemplo), traduzido
cartografi camente em ambiente de Sistemas de Informação
Geográfi ca. Esta cartografi a está a ser incluída no Sistema
Integrado de Gestão de Emergências do Distrito do Porto,
em preparação, promovido pelo Governo Civil do Porto, e
envolvendo diversas entidades. Vários outros projectos em
curso na Universidade do Porto relacionam-se directa ou
indirectamente com os riscos naturais e tecnológicos. Embora
enquadrado pelos riscos naturais e tecnológicos, o campo de
actuação do CERUP será necessariamente vasto e não fechado,
fazendo uso dos trabalhos de investigação disponíveis e, em
cada momento, mais adequados às necessidades sentidas pela
sociedade, representada nos organismos fundadores.
LABORATÓRIO DE HIDRÁULICA NA FEUP
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PUB
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UPORTO SABER EM MOVIMENTO
O Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO), sediado no pólo de Vairão da Universidade do Porto, é uma das três unidades constituintes da recém-criada Rede de Investigação em Biodiversidade (InBio), entretanto já candidatada a Laboratório Associado. A InBio, a maior rede de investigação nesta área da Biologia, espera vir a constituir-se um parceiro a ter em conta no contexto da reforma dos organismos de investigação em Portugal – um hotspot da biodiversidade europeia.
Num contexto político favorável a novas iniciativas nacionais
e internacionais na área da diversidade biológica, os 110
investigadores do Centro de Investigação em Biodiversidade
e Recursos Genéticos (CIBIO), organismo de investigação da
Universidade do Porto (pólo de Vairão, Vila do Conde), aliam-se,
em rede, a cerca de 200 do Centro de Biologia Ambiental da
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e a 30 do
Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves” do Instituto
Superior de Agronomia (Universidade Técnica de Lisboa). InBio
– Rede de Investigação em Biodiversidade e Biologia Evolutiva é
o nome da nova estrutura que, porventura, passará a ser a maior
estrutura de investigação nesta área em Portugal, englobando
quase 400 investigadores.
A nível internacional, apesar da aprovação da Convenção para
a Diversidade Biológica, no âmbito da Conferência do Rio em
1992, as medidas adoptadas têm sido pouco efi cazes e os dados
apontam para um agravamento da situação, nomeadamente
para a redução do número de espécies, perda da diversidade
genética, redução de habitats e ecossistemas. Há compromissos
assumidos pelos Estados membros da União Europeia no sentido
da redução para metade da perda de biodiversidade na União
Europeia até 2010.
Só recentemente a comunidade científi ca, entendendo o conceito
de biodiversidade centrado sobretudo no número de espécies,
tem conseguido quantifi car e explicitar algumas implicações
da biodiversidade. Assim, para muitos especialistas é cada vez
mais evidente a necessidade de criação de um organismo nesta
área, composto por investigadores e decisores políticos, com
competências equivalentes ao Painel Intergovernamental para
as Alterações Climáticas (IPCC em inglês) que, periodicamente,
produza relatórios sobre a situação mundial e sirva de base
ao estabelecimento de políticas e estratégias nacionais e
internacionais. Ou seja, um organismo com capacidade de
intervenção política que a International Union for Conservation
of Nature and Natural Resources, que publica periodicamente a
Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas, não tem, apesar de esta
constituir um ponto da situação sobre a biodiversidade mundial
baseado em pressupostos científi cos e por isso reconhecido
internacionalmente.
Em Portugal, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino
Superior prevê criar, no âmbito da reforma dos laboratórios do
Estado (em preparação), um consórcio nesta área, o Laboratório
de Recursos Biológicos Nacionais (L-RBN) que, tal como os
restantes três consórcios de I&D previstos, funcionará como
elo de ligação entre laboratórios do Estado, laboratórios
associados, universidades e empresas, na perspectiva de reforçar
a investigação nesta área, fornecer dados essenciais ao país e criar
massa crítica com relevância internacional. Do L-RBN fará parte
o Laboratório Nacional de Investigação Veterinária, que possui
a delegação Norte em Vairão – edifício que recebeu o prémio do
Instituto Americano de Arquitectos em 2001, onde se destaca um
extenso corredor, já considerado “o maior corredor da ciência em
Portugal” – que alberga alguns dos laboratórios do CIBIO.
Uma rede pelo hotspot da biodiversidade europeia
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Boas condiçõesA região Sul da Europa, onde se insere a Península Ibérica, serviu
de refúgio às espécies do continente europeu durante as extremas
mudanças que ocorreram no clima da Terra ao longo dos últimos
dois a três milhões de anos. A maior amenidade climática levou
a que esta zona – e o Sul da Península em particular – se tornasse
uma espécie de refúgio da biodiversidade durante o avanço dos
gelos e, com a regressão destas glaciações (há cerca de 11.000 anos),
as espécies que ali se refugiavam (nos bosques, por exemplo),
começaram a expandir-se de Sul para Norte. A esta condição
histórica particular, adicionam-se os efeitos de uma localização
periférica na Europa, de um atraso na expansão da indústria – e
da economia em geral – em relação aos países do Norte, e de uma
orografi a complexa, para fazer da Península Ibérica um hotspot
da biodiversidade europeia. A importância ecológica desta região
radica no grande número de espécies endémicas (espécies próprias
e exclusivas de uma determinada região).
Actualmente – está em estudo, pelo Instituto de Conservação
da Natureza, uma eventual redução da área abrangida por
certas Áreas Protegidas – mais de 20 por cento do território
português tem estatuto de protecção, ou seja, de Área Protegida
(Parque Nacional, Parque Natural, Reserva Natural ou Paisagem
Protegida) ou Rede Natura 2000. Possuímos 43 por cento das
espécies de vertebrados terrestres existentes na União Europeia,
Noruega e Suíça, somos o quarto país europeu com maior
número de endemismos vegetais (espécies existentes apenas em
Portugal) e o terceiro em espécies ameaçadas (dados de 2003). Na
Península Ibérica, estão identifi cadas mais de 6.000 espécies de
plantas autóctones, enquanto, por exemplo, na Grã-Bretanha este
número não ultrapassa as 2.000.
Estas características tornam a Península Ibérica um potencial
pólo de atracção para os investigadores nesta área. Sinal disso,
considera Nuno Ferrand, coordenador científi co do CIBIO, é a
presença de investigadores de diversas nacionalidades no centro
que coordena, em instalações com excelentes condições logísticas,
incluindo laboratórios, auditório e espaço para conferências,
quartos e piscina, onde decorrem tanto actividades lectivas
como de investigação. No campus científi co-tecnológico de
Vairão, localizado numa zona paisagisticamente privilegiada, de
forte implantação agrícola e alvo de um plano de ordenamento
em elaboração, coordenado por Teresa Andresen (professora
e coordenadora da licenciatura em Arquitectura Paisagista da
Faculdade de Ciências), funcionam diversas valências. Serviços
da Direcção Regional da Agricultura Entre Douro e Minho,
a delegação Norte do Laboratório Nacional de Investigação
Veterinária e valências da Universidade do Porto – CIBIO,
Secção Autónoma de Ciências Agrárias (Faculdade de Ciências)
e parte das aulas de Medicina Veterinária (Instituto de Ciências
Biomédicas Abel Salazar). Esta multiplicidade de valências em
áreas próximas (biologia animal, ciências biológicas aplicadas,
ciências agrárias) e a articulação entre elas – entre o CIBIO, o
LNIV e as ciências agrárias, por exemplo – levam Nuno Ferrand
a ambicionar ver um dia o campus de Vairão com estatuto de
consórcio de investigação e desenvolvimento, ao abrigo da nova
regulamentação já aprovada em Conselho de Ministros que inclui
também a reforma dos Laboratórios do Estado.
Esta multiplicidade de valências em áreas
próximas (...) e a articulação entre elas
(...) levam Nuno Ferrand a ambicionar
ver um dia o campus de Vairão com
estatuto de consórcio de investigação e
desenvolvimento.
© C
IBIO
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UPORTO SABER EM MOVIMENTO
Investigação trípliceO recém-criado InBio, do qual faz parte o CIBIO, entregou
recentemente ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino
Superior a sua candidatura a Laboratório Associado. Ao
Centro de Biologia Ambiental (CBA) da Faculdade de Ciências
(Universidade de Lisboa), dedicado principalmente à ecologia e
conservação dos ambientes terrestres e dulciaquícolas, ao Centro
de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves” (CEABN) do Instituto
Superior de Agronomia (Universidade Técnica de Lisboa),
vocacionado para o estudo e gestão dos recursos naturais
sobretudo no âmbito dos ecossistemas agrícolas e fl orestais,
juntam-se as três áreas fundamentais do CIBIO.
Numa destas três áreas de investigação do CIBIO, a análise
genética de populações naturais, no âmbito da biologia evolutiva,
inserem-se projectos como a determinação do perfi l genético do
lobo ibérico, por exemplo, para apoio a acções de conservação.
Ou outro sobre as duas subespécies silvestres de coelho bravo
– fundamental para a sobrevivência de predadores em risco de
extinção, assim como, um projecto recentemente fi nanciado pela
National Geographic Society sobre a proximidade das populações
da Península Ibérica e Norte de África de lagartixas do género
Acanthodactylus, coordenado por José Carlos Brito.
Uma segunda área do CIBIO envolve o que se designa por
modelação ecológica, numa perspectiva de associação das
populações a várias escalas territoriais, envolvendo o uso de
grandes bases de dados e o trabalho em sistemas de informação
geográfi ca (SIG). A elaboração do Atlas Herpetológico de
Portugal (fi nanciado e coordenado pelo Instituto de Conservação
da Natureza) é um caso típico, tendo decorrido já numa lógica
de articulação entre o CIBIO e o CBA, antes da constituição do
InBio, com uma equipa de cinco investigadores fi xos, a tempo
inteiro e a percorrer o país ao longo de três anos.
Uma terceira área envolve o trabalho em recursos genéticos e
a reconstituição da história evolutiva de espécies domésticas.
Neste âmbito, decorrem a despistagem da scrapie do gado ovino
(detectável através de estudo genético), a determinação do perfi l
genético da raça suína bísara (uma das duas raças características de
Portugal), permitindo a certifi cação de produtos alimentares com
esta origem, assim como um outro envolvendo as raças caninas
portuguesas que depois, ao ser desenvolvido para o Cão de Gado
Transmontano, levou à certifi cação desta espécie. Os estudos
de fi liação biológica de animais que foram iniciados no CIBIO
também se inserem nesta área.
A identifi cação de um canídeo (lobo ou cão) através de vestígios
de sangue num automóvel – um atropelamento ocorrido em área
do Parque Natural da Peneda-Gerês com danos no veículo – que
decorreu recentemente a pedido do Instituto de Conservação
da Natureza, constitui dos serviços típicos que o CIBIO pode
prestar. Apelando à experiência na análise genética, mesmo
a partir dados vestigiais que bastam para os equipamentos
de grande sensibilidade instalados no edifício do LNIV, onde
funciona a maior parte dos laboratórios do CIBIO, conseguiu-se
identifi car que o animal atropelado era um cão e não um lobo,
não havendo portanto lugar a indemnização do Parque Nacional
da Peneda-Gerês.
Este é apenas um exemplo dos serviços que o centro de investigação
da Universidade do Porto pode prestar a organismos públicos e
que, consequentemente, o InBio também poderá vir a prestar. Os
promotores do InBio preconizam-lhe, no entanto, um âmbito de
actuação mais alargado do que é habitual nos centros de investigação
em recursos biológicos, constituindo os centros de investigação
um vértice de um triângulo actuando em articulação com outros
dois: no segundo vértice, os organismos públicos (o Ministério do
Ambiente, Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional
e o Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas)
e empresas e, num terceiro, os museus de história natural, jardins
botânicos e herbários que também podem representar um vasto
campo de colaboração com o InBio.
O LABORATÓRIO NACIONAL DE INVESTIGAÇÃO VETERINÁRIA, EM VAIRÃO, ALBERGA ALGUNS LABORATÓRIOS DO CIBIO (INBIO).
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PUB
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UPORTO PERFIL
José Carlos Marques dos Santos nasceu em Bolama, Guiné-Bissau. Iniciou a escola primária numa aldeia do concelho de Arganil, onde nasceram os seus pais, e, no dia em que fez sete anos, veio para o Porto. Licenciou-se em Engenharia Electrotécnica – Correntes Fortes, na Faculdade de Engenharia (FEUP), em 1971, e, como corolário do seu doutoramento em Manchester, apresentou uma das primeiras teses em microprocessadores. Mais tarde, como director da FEUP, acompanhou a construção do novo edifício no Pólo II (Asprela) e a mudança de instalações. É visto como o grande impulsionador do salto para o reconhecimento internacional que esta unidade orgânica da U.Porto granjeou. Foi vice-reitor durante o último mandato de Novais Barbosa como reitor e o primeiro presidente do Instituto de Recursos e Iniciativas Comuns da Universidade do Porto (IRICUP).Pragmático, grande defensor da transferência de conhecimento e tecnologia e da ligação à sociedade, cita frequentemente o meio empresarial quando fala de gestão universitária e é um fi rme opositor do actual modelo de gestão. Qualidade, exigência, auto-avaliação e responsabilização, cooperação e multidisciplinaridade são termos comuns no seu discurso.
Regressou ao edifício “dos Leões”, passados muitos anos do
início da sua formação em Engenharia… O que o marcou
nesses primeiros anos da licenciatura?
Quando iniciei os estudos superiores, dediquei atenção a muitas
coisas para além dos estudos, de modo que os resultados foram
um tanto desastrosos.
Mais tarde, voltei a prestar a atenção que os estudos exigiam. No
tempo em que frequentava os Preparatórios era quase norma ir fazer
o terceiro ano a Coimbra, porque aqui na Faculdade de Ciências era
muito difícil. Como os meus pais tinham dois fi lhos a estudar e não
tinham possibilidades de me pagar a estadia em Coimbra, mantive-
-me no Porto. Eu e o meu irmão acabámos por fazer o terceiro
ano com uma boa média, tendo em conta o nível exigido. Essa
preparação foi muito importante para a minha vida profi ssional.
Nos primeiros anos de formação pré-graduada, importa que
se demore tempo sufi ciente com conhecimentos básicos que
perdurem, que formatem a mente, o raciocínio, e incentivem a
aprendizagem ao longo da vida.
Que recorda desse período agitado dos anos 70?
Acabei a licenciatura em 1971 e vivi anos de alguma agitação
relacionada, sobretudo, com a contestação à Guerra Colonial.
Não tinha uma vida muito politizada, embora tenha tido
alguma actividade social juvenil. Fui dirigente nacional de
um movimento social, designado “Serviço Missionário dos
Jovens”, constituído por jovens que se encontravam ao fi m-de-
semana e realizavam serviço social. Através dessa actividade
fui percebendo que se vivia algum mal-estar na sociedade.
Nunca tive militância política activa, também não tinha tradição
familiar nesse campo… mas, do ponto de vista social, era uma
pessoa atenta. Pouco depois, em Setembro de 1973, quando já
era assistente de Máquinas Eléctricas (regida pelo Prof. Paiva
Brandão) e de Tracção e Força Motriz (regida pelo Prof. Carlos
Carvalho), fui estudar para Inglaterra, Manchester, para fazer
estudos pós-graduados, e regressei em Janeiro de 1977 com
mestrado e doutoramento concluídos.
O desafi o da qualidade e o apelo da região
Novo reitor lança as linhas estratégicas do mandato
Temos de ser uma universidade muito
mais coesa, cooperar mais uns com os
outros para podermos demonstrar o
nosso real valor
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Um percurso muito rápido…
Sim… Em três anos e três meses, não obstante ter feito estas
pós-graduações numa área diferente da área a licenciatura. Fiz
o mestrado em Electrónica Digital, uma novidade para mim, na
altura. Apenas tinha tido uma cadeira nessa área…
Defende a possibilidade de dar continuação aos estudos em
áreas diferentes das de origem, isso implica, necessariamente,
maior articulação entre unidades orgânicas e entre estas e os
centros de investigação da Universidade do Porto…
Exactamente… E maior fl exibilidade na formação que é a grande
mensagem de Bolonha… Bolonha tem a vantagem de estabelecer
critérios para permitir esta abertura e evitar obstáculos artifi ciais.
Implementa também o sistema de créditos. Uma das minhas grandes
preocupações é convencer a U.Porto de que a formação contínua
é uma oferta fundamental, com centenas de cursos com créditos
que, por acumulação, poderão, eventualmente, vir a contribuir
para a obtenção de um grau. Por outro lado, os cursos têm de ser
acreditados por uma instituição nacional, por sua vez, acreditada por
uma agência internacional, à semelhança do que deverá acontecer
em todos os outros países do espaço de Bolonha. Reconhecimento da
qualidade será essencial para a aceitação automática da mobilidade.
Como se prepara a U.Porto para essa nova realidade?
Estamos a caminhar nesse sentido… Já começámos com a adequação
de alguns cursos, seguiremos a par e passo os resultados para
introduzir eventuais correcções, incentivando a multidisciplinaridade
que é outra das minhas batalhas. Ou seja, que os cursos leccionados
por cada faculdade possam oferecer disciplinas de outras faculdades.
Alguns créditos deviam ser facultativamente – pelo menos numa
primeira fase e, talvez mais tarde, obrigatoriamente – conseguidos
numa faculdade diferente da que confere o grau.
A cooperação interna e externa como factor de criação
de valor tem sido uma das preocupações que refere
frequentemente no seu discurso…
Temos de ser uma universidade muito mais coesa, cooperar
mais uns com os outros para podermos demonstrar o valor que
realmente temos. Acho que temos um potencial capaz de resultados
muito superiores aos que demonstramos. Esse potencial é apenas
parcialmente traduzido em resultados, porque ainda trabalhamos
muito acantonados em faculdades, departamentos ou unidades de
investigação. Pelo menos, devíamos articular-nos em redes.
Criar redesO Instituto de Recursos e Iniciativas Comuns (IRICUP), a que
presidiu antes de ser eleito reitor, lançou a criação de cinco
unidades de investigação interdisciplinar. Penso que apenas
dois estão concretizados. Que evolução terá agora esse esforço?
Esse trabalho enquadra-se precisamente nesta lógica.
Pretendia-se incentivar os investigadores, que trabalham em
áreas próximas, a organizarem-se em rede, a criar estruturas e
massa crítica que possa ter relevância nacional e internacional.
Estão criados o Instituto de Saúde Pública e o Centro de
Ciências Cognitivas, constituído como rede. O Programa de
Nanotecnologias ainda não levantou vôo porque não tem sido
fácil pôr as pessoas a trabalhar em conjunto. Há ainda outros
três em preparação: Conservação de Arte Contemporânea,
Desenvolvimento Sustentável e Estudos Teatrais. Estou convicto
que o IRICUP , agora presidido pelo Prof. Jorge Gonçalves,
continuará este esforço de fomentar a interdisciplinaridade e a
cooperação nas actividades de I&D na nossa Universidade.
Na sua visão, a Universidade deve, portanto, trabalhar em
projectos transversais...
Primeiro interna e depois externamente… Na investigação e
também na formação, evitando visões estreitas da realidade e o
inbreeding (a limitação aos defeitos e virtudes de uma estreita visão
da realidade), tentando abrir a formação a outras áreas científi cas, a
outras culturas e a métodos diferentes dos habituais em cada área.
Penso que já se deram passos interessantes… Aprovaram-
se regras de funcionamento, há abertura para formação
cruzando faculdades … na investigação desenvolve-se
uma atitude favorável à cooperação e à criação de equipas
multidisciplinares… É um esforço de anos! Em tempos li
um livro sobre o percurso de 10 universidades europeias
que conseguiram tornar-se internacionalmente conhecidas.
Havia um conjunto de factores comuns. Um deles, era uma
liderança forte e prolongada. Explicava-se que uma universidade
precisa de, no mínimo, dez anos para mudar. Referia-se ainda
uma universidade coesa, da qual todos se orgulhavam, e a
diversifi cação das fontes de fi nanciamento.
A facilidade na diversifi cação das fontes de fi nanciamento
depende, contudo, das áreas de investigação…
Não digo o contrário… Mas parece-me que em todas as áreas é
possível conseguir verbas próprias. É preciso é ter uma postura
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UPORTO PERFIL
pró-activa, “calçar as galochas” e sair à procura de fi nanciamentos,
falando com pessoas e entidades e apresentando projectos e
propostas concretas que mereçam o interesse. Não podemos fi car
à espera que as verbas venham ter connosco. “O que me move é o
prazer de ver as coisas acontecerem e de constatar que as pessoas
que trabalham connosco se empenharam de modo inacreditável
para atingir os objectivos e gostaram de o fazer!”
Especial atenção aos antigos alunosNo programa eleitoral refere a criação de uma equipa
vocacionada para procu rar fontes de fi nanciamento,
nomeadamente junto dos antigos alunos…Qual estratégia a
seguir?
Queremos envolver os antigos alunos na vida da Universidade de
modo mais sistemático. Como disse, sou também antigo aluno
de Manchester que constituiu, há muitos anos, um gabinete de
apoio ao antigo aluno que promove encontros internacionais,
em Portugal e muitos outros países. Na revista dirigida aos
alumni publica-se informação sobre os encontros em várias
partes do mundo e sobre os sucessos que os antigos alunos vão
tendo. Aproveita-se a revista para distribuir um impresso para
actualização dos dados pessoais, sempre que ocorra alguma
alteração ao nível da profi ssão ou do local de habitação.
Pode haver benefícios (descontos, por exemplo) em termos de
actividades de formação, acesso a bibliotecas…
Estamos a preparar um pacote de regalias a disponibilizar aos
antigos alunos que, entre outros aspectos, inclui acesso a bibliotecas,
ao e-mail, descontos em formação contínua, a possibilidade de
receber a revista dos antigos alunos, entre outros benefícios.
Depois, tentaremos que os antigos alunos também passem a apoiar
fi nanceiramente a sua Universidade. Já lancei a ideia em alguns
grupos e a reacção foi positiva… Não vamos mendigar com um saco
na mão… Vamos apresentar projectos, os respectivos orçamentos
e as contrapartidas que poderemos oferecer. Por exemplo, associar
o nome do patrocinador ao projecto, inscrever o seu nome numa
placa, propor algo que o imortalize dentro da U.Porto e lhe dê
prestígio… Em cooperação, ambas as partes têm de ganhar!
O programa eleitoral fala também na criação de centros de
aproximação aos antigos alunos. Em que consistem?
Para já, pretendemos criar alguns núcleos em zonas do país onde
o número de antigos alunos residentes o justifi que e promover aí
encontros, porque será mais fácil do que trazê-los até ao Porto.
Esses núcleos devem, sobretudo, promover encontros sem
qualquer intenção de recolha de receitas ou fazer merchandising.
Deverão ser encontros de fortalecimento do espírito da U.Porto,
encontros de pessoas actualmente em situações profi ssionais muito
diversas, mas unidas pela circunstância de terem sido antigos
alunos da Universidade. O resto, vem depois, é consequência disso!
…Outra meta do programa eleitoral é a abertura de novos
mercados e captação de novos “clientes”…
Queremos propor ao Ministério uma alteração da legislação
portuguesa no sentido das universidades poderem ter alunos
estrangeiros de pré-graduação e não apenas de pós-graduação
como acontece actualmente. Vamos também desenvolver a
experiência iniciada este ano relativa à oferta de cursos para
alunos seniores (maiores de 55 anos).
Em relação à internacionalização e à captação de novos
“clientes” (alunos), vamos ter cursos em língua estrangeira?
Teremos de evoluir nesse sentido. Penso que é importante termos
cursos leccionados, pelo menos, em língua inglesa. O mesmo
docente poderá leccionar aulas em português e em inglês.
Temos também de apostar mais fortemente no ensino à distância,
com uma componente presencial. Hoje em dia assiste-se, a nível
internacional, a um incremento do esforço dedicado à formação
– graduada! – à distância. Não tem sentido um certo preconceito
em relação ao ensino à distância. Pensa-se, erroneamente, que existe
divórcio entre professor e aluno! Os professores que estão envolvidos
no e-learning sabem que há uma forte interacção aluno-docente.. O
grande factor a ter em atenção é, como sempre, a qualidade!
O que me move é o prazer de ver as coisas
acontecerem e de constatar que as pessoas
que trabalham connosco se empenharam
de modo inacreditável para atingir os
objectivos e gostaram de o fazer!
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Vai ser difícil mudar uma universidade de quase 27.000
alunos, 14 faculdades e uma escola de gestão!... A
transformação de que falamos não será demasiado ambiciosa
para um mandato?…
Não me preocupa quem vai completar a concretização deste
programa! Posso ser eu ou não. É preciso é começar desde já,
chegando tão longe quanto possível!
A Universidade do Porto tem uma dimensão razoável. O
problema é de racionalização dos meios, há uma excessiva
pulverização de esforços, uma multiplicação de meios, muitas e
demasiado pequenas unidades de investigação, o que torna difícil
atingir um nível de massa crítica necessário para a investigação
ter relevância internacional generalizada. É preciso cooperar! No
ensino, na investigação e em todas as áreas!
Hoje, o divórcio entre investigadores e docentes é menor…
Claro! A Universidade do Porto sem investigação não faz
sentido! Queremos ser uma das melhores da Europa…
Gestão profi ssionalizadaEm que consiste o novo plano de qualidade?
Tem de haver uma estrutura institucional que garanta que os
mecanismos que levam à qualidade são verifi cados e se mantêm. A
certifi cação de qualidade nas empresas obriga a criar um plano e a
verifi cação da concretização desse plano, que prevê a padronização de
princípios e processos, obriga a que as boas práticas se mantenham e
actualizem. Se assim não for, as empresas perdem a certifi cação, o que
signifi ca, para muitas delas, quebra de vendas nos produtos.
Na U.Porto, pretendemos criar uma estrutura que crie uma
cultura de auto-avaliação que seja muito fácil de conseguir, quase
tirada automaticamente do sistema de informação através dos
parâmetros que são calculados periodicamente.
Defendo que cada curso deve ter um director e uma coordenação
científi ca. Qualquer equipa necessita de uma liderança para
poder funcionar com efi cácia, alguém que responda por ela
e a mobilize. Em Portugal, os problemas são sobretudo de
organização! Se nos organizássemos, a efi cácia e a produtividade
duplicavam ou triplicavam.
É a favor de uma gestão profi ssionalizada?…
Sim, mas profi ssionalizada no sentido de que, quem a exerce, deve
fazê-lo como actividade principal e deve ser responsabilizado
pelo que faz no âmbito dessa actividade. Presentemente, ao
pedir-se, aos professores, especialmente aos não catedráticos, que
também exerçam cargos de gestão, está-se com muita frequência
a prejudicar a sua vida académica. Muito frequentemente, os
professores que exerceram cargos de gestão são preteridos em
concursos de progressão na carreira, porque, nesses períodos,
não produziram trabalhos científi cos e tomaram atitudes contra
certos interesses instalados. Considero que a nossa sociedade é
extremamente injusta para com os professores universitários!
Exige-lhes tarefas que, depois, não lhes reconhece, antes utiliza
para os os prejudicar. Para mim, um dos maiores problemas do
ensino superior português é o anacronismo do modelo de gestão.
A U.Porto está a preparar uma proposta legislativa de revisão
do modelo de gestão. Em que consiste?
A preparação do documento começou ainda na vigência da
equipa reitoral anterior. Resta burilar essa proposta, discuti-la,
e entregá-la ao Ministério. Julgo que a tutela está convencida da
necessidade de revisão desse modelo, que, no essencial, está em
vigor deste o fi nal da década de 70.
Qualquer modelo de gestão terá de ser claro na atribuição de
confi ança a quem gere, na avaliação e na responsabilização.
Quem gere tem de ter condições e autonomia para exercer
a sua actividade, devendo ser avaliado por quem de direito,
através da verifi cação do cumprimento dos objectivos traçados
e, na sequência disso, reconhecido ou responsabilizado pelos
resultados alcançados. Se houver responsabilização pelo
cumprimento dos objectivos e se o salário e a manutenção da
função for dependente desse cumprimento, difi cilmente haverá
lugar ao compadrio! Nessas condições, só um tolo contrataria
profi ssionais medíocres que iriam concorrer para o mau
resultado da sua actividade!
A proposta que estamos a preparar mantém o Reitor e a Equipa
Reitoral e prevê um Conselho Geral onde têm assento pessoas
de mérito intelectual ou científi co inquestionáveis, conceituadas
A proposta que estamos a preparar
mantém o reitor e a Equipa Reitoral e
prevê um Conselho Geral
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UPORTO PERFIL
publicamente. Esse Conselho elegeria o Reitor, segundo modelos
ainda a defi nir. É uma proposta ainda a afi nar e a discutir.
Entendo que quem gere não pode ser eleito por quem é gerido,
porque quem gere pode ser obrigado a tomar decisões que
podem contrariar os interesses de quem é gerido. É, portanto,
errado gerir em subordinação aos interesses dos geridos. Por
outro lado, se quem é gerido escolher os gestores, a tendência é
para a escolha de um gestor que agrade sempre. Nas empresas,
aliás, por norma, não se pode ser simultaneamente funcionário
e membro do Conselho de Administração. A este nível, os
princípios de gestão nos dois meios, no ensino superior e nas
empresas, devem ser comuns.
Em Portugal, considero que as falhas maiores estão na
organização, na gestão e na exigência – no bom sentido, porque
a sociedade tem direito a exigir bons resultados do investimento
dos seus impostos. Sei que estas afi rmações são polémicas, mas
foi este o discurso que sempre tive e pelo qual fui eleito Reitor.
Participar no desenvolvimento regionalJá defendeu publicamente que a U.Porto deve apostar em
quatro áreas, nomeadamente: saúde, mar e ambiente, energia e
manufactoring (como defi ne este conceito?)…
Quando falo nestes clusters refi ro-me a áreas em que, na minha
opinião, neste momento, com mais facilidade e menos esforço,
conseguiremos níveis de excelência internacional. No entanto,
a defi nição fi nal dos clusters a considerar na U.Porto deve ainda
ser discutida. Para tais clusters seriam dedicados maior atenção e
esforço. Tal, no entanto, não inviabilizaria o desenvolvimento das
outras áreas não escolhidas que poderiam continuar a evoluir até,
eventualmente, chegarem ao nível das primeiras.
É importante que na defi nição destes clusters se tenha em
consideração a grande abrangência da U.Porto, não os reduzindo
apenas às áreas tecnológicas e da saúde e tomando em atenção a
multidisciplinaridade.
Estão previstos programas internos de apoio fi nanceiro a
projectos de I&D de pequena dimensão e de sementeira de
projectos… Como se processarão?
Já estamos a trabalhar para encontrar fi nanciamento para tal, havendo
já perspectivas interessantes.. A ideia é lançar um concurso interno
em áreas alternadas – uma ou duas em cada ano, por exemplo ciências
e tecnologias num ano e artes e humanidades no outro – de modo a
abranger todas as áreas, mas com particular ênfase para as que vierem
a ser defi nidas como clusters prioritários. Um dos programas tem
por objectivo incentivar o aparecimentos de mais coordenadores de
projectos. O outro programa pretende incentivar o aparecimento
de projectos que venham a constituir-se como candidaturas a
programas internacionais, ajudando na identifi cação de programas de
fi nanciamento, na pesquisa de potenciais parceiros e de contactos que
contribuam para encaminhar o projecto – por exemplo, encontrar
condições para, através de um pequeno trabalho, verifi car se uma
ideia tem potencial para se transformar num projecto.
Globalmente, como acha que a Universidade pode ajudar o
Porto e a sua região a superar esta “crise”, segundo muitas
opiniões, de protagonismo?
Acho que nos falta uma estratégia para a região. Parece que
fi nalmente se trabalha nesse sentido. De facto, a CCDR-N tem
vindo a trabalhar na estratégia global Norte 2015 para a qual a
Uporto tem vindo a contribuir. Uma vez defi nida uma estratégia
é essencial que alguém lidere a sua execução e que essa liderança
seja respeitada continuamente, evitando-se o aparecimento
sucessivo de novos aspirantes a protagonistas. Cooperação,
competência, liderança e humildade para aceitar lideranças
reconhecidas são as palavras de ordem. Estamos disponíveis
para participar activamente neste exercício. Pretendemos
apoiar e intervir no desenvolvimento desses planos estratégicos
concertando, na medida do possível o nosso plano estratégico às
necessidades detectadas nesses documentos orientadores para
a região e para cidade. Estamos dispostos a participar activa e
empenhadamente na execução de tais planos, contribuindo para
o progresso da cidade, da sua área metropolitana e da região, se
necessário, assumindo o protagonismo conveniente.
Estamos dispostos a participar activa e
empenhadamente na execução de tais
planos, contribuindo para o progresso
da cidade, da sua área metropolitana e
da região, se necessário, assumindo o
protagonismo conveniente.
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Tem também vindo a defender uma maior intervenção política da
Universidade a nível nacional. No âmbito do CRUP ou fora dele?
Temos tomado atitudes que julgo serem fi rmes com o Ministério
e vamos continuar a fazê-lo, em defesa dos interesses que
consideramos legítimos e a que temos direito.. Não gosto do estilo
“lamechas do Norte”! Temos de lutar pelo que temos direito, mas
mostrando que o merecemos. Temos de saber defi nir projectos
ambiciosos, mostrar competência para os realizar e candidata-
los aos apoios necessários. Depois, com provas e números,
reivindicar um tratamento proporcional. Temos que assumir no
país a necessidade de tratar de modo diferente o que é diferente,
deixando emergir a excelência e não impondo um nivelamento por
baixo. Por isso, a UPorto pode ter que vir a tomar posições que não
mereçam a concordância de algumas outras.
Defende que a U.Porto deve sair do CRUP?
Não! De modo nenhum! Pretendemos, contudo, que o CRUP
tenha um papel activo. Francamente, também acho que não será
fácil, no âmbito do CRUP, encontrar soluções simultaneamente
satisfatórias para todas as universidades que o compõem.
As universidades que demonstrem ser melhores, através dos
parâmetros de avaliação defi nidos, devem ser tratadas como tal
na fórmula de fi nanciamento. Não sou contrário ao tratamento
especial para a interioridade e insularidade!... Mas que a
distinção seja feita usando um fundo diferente do que fi nancia
as universidades, de modo a não penalizar as que tenham direito
a um fi nanciamento superior! Este é um problema que atravessa
toda a sociedade. Se tratarmos de modo igual o que é diferente,
nivelamos sempre por baixo! Esse é outro problema de Portugal e
da Europa (e digo-o sabendo que vou ser polémico e muitos não
concordarão): estamos a tratar mal as nossas elites intelectuais,
ou melhor, não estamos a tratar delas! Perdemos lideranças,
porque nivelamos sempre por baixo! Ou seja, é preciso tratar
de modo diferente quem é diferente e dar oportunidades
proporcionais às capacidades de cada um. Podemos aproveitar
os segundos ciclos, na lógica de Bolonha, para respondermos
também a esta necessidade.
Lançou o desafi o de colocar a UPorto entre as 100 melhores
universidades da Europa até 2011. Se os cerca de 20 por cento
de artigos da UPorto que não referem o nome da instituição
o passarem a fazer, já se consegue um bom contributo para a
subida no ranking!...
É claro que sim! Um exemplo que surgiu já depois de ter sido
eleito Reitor. Recebi um pedido de apoio fi nanceiro de um recém
doutorado numa faculdade da Universidade do Porto para
deslocação a uma conferência no estrangeiro, onde pretendia
apresentar os resultados da sua investigação. O orientador
era dessa mesma faculdade. Fui ler o artigo correspondente à
comunicação que iria apresentar e a Universidade do Porto não
é referida uma única vez! Respondi que não havia verba mas,
mesmo que houvesse, não seria concedido o apoio porque o
nome da Universidade não surge no artigo. As pessoas têm de
começar a perceber que estas coisas têm consequências! É um
trabalho de persuasão, porque todos ganhamos com a referência
ao nome da Universidade.
Recentemente, soube-se que três licenciaturas da Universidade
do Porto deixariam de ser fi nanciadas pela administração central
– Engenharia de Minas e Geoambiente (FEUP); Geologia e
Engenharia Geográfi ca (FCUP) – que vai ser destes cursos?
As Faculdades envolvidas decidiram manter os cursos e,
portanto, suportarão os encargos daí resultantes. A Universidade
do Porto terá de escolher, de entre os cursos com poucos
candidatos, quais os que não deve extinguir por serem
estratégicos para o futuro e, nesses casos, os encargos deverão ser
assumidos pela própria instituição em bloco.
Os casos que referiu, entre outros, devem fazer-nos pensar
em possíveis articulações de esforços entre os organismos que
leccionam os cursos. Porque é preferível ter um curso que resulta
do contributo de duas faculdades - e fi nanciado -, do que dois,
um em cada faculdade, nenhum deles fi nanciado! Deixemos de
querer, cada um de nós, ter o seu quintal, cursos semelhantes
diferindo sobretudo no nome! Mas tenhamos também em
atenção que nestas coisas também há modas. Cursos que hoje
não têm procura, podem ver essa situação alterada dentro de
alguns anos! Mais uma vez, acredito que a melhor maneira de
estar ao abrigo destas modas é pela oferta, sempre que possível,
de cursos da espectro mais alargado resultantes da cooperação de
duas ou mais Faculdades. Deixemos para os segundo e terceiro
ciclos as ofertas mais diferenciadas e especializadas!
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UPORTO IDENTIDADES
Gonçalo Sampaio, nascido na Póvoa do Lanhoso em 1865 e falecido no Porto em 1937, foi uma fi gura cimeira da Botânica, na viragem do século XIX para o século XX. Na Academia Politécnica do Porto, enquanto estudante e a pedido de Amândio Gonçalves, seu professor de Botânica, começou a organizar um herbário. Nomeado em 1901 Naturalista Adjunto de Botânica e encarregado em 1902 de dirigir os trabalhos práticos da disciplina, assume em 1910 a sua regência. Em 1912, já na recém fundada Faculdade de Ciências do Porto, é nomeado professor de Botânica, assumindo, depois, a direcção do “Instituto de Investigações Botânicas”, e mais tarde, em 1935, a do “Instituto de Botânica Dr. Gonçalo Sampaio”. A exposição “Botânica. Gonçalo Sampaio”, que encerra o primeiro ciclo de exposições “Aventureiros, Naturalistas e Coleccionadores”que a Universidade do Porto promoveu dirigido principalmente a um público de estudantes do ensino secundário, está patente até 30 de Setembro no átrio do Departamento de Botânica, sito no palacete Andresen, à Rua do Campo Alegre, encimando o Jardim Botânico do Porto.
Na transição da Academia para a Universidade do Porto, coube a
Gonçalo Sampaio a organização e o desenvolvimento do ensino
prático da Botânica, actualizado pelas técnicas histológicas
aprendidas no estrangeiro. Na investigação distinguiu-se pelo
seu conhecimento sobre plantas vasculares e líquenes, tendo-se
notabilizado como sistemata e nomenclaturista.
A sua obra é ainda hoje uma referência. Especialista incontestado
do género Rubus, que integra as espécies a que vulgarmente
chamamos silvas, a que dedicou uma monografi a, escreveu
um “Manual da Flora Portugueza”, que começou a publicar em
fascículos logo em 1909 (até 1914) e uma “Epítome da Flora
Portuguesa” que se pensa ter sido escrita no Aljube por ocasião
de um encarceramento que se prolongou por vários meses devido
àquele que se considerou ter sido o seu envolvimento nos confl itos
que se sucederam à efémera restauração monárquica de 1919, fl ora
abreviada para ser utilizada no ensino da botânica sistemática,
que não chegou a ser publicada. Jubilado em 1935, ano em que foi
atribuído, em homenagem à sua pessoa, o seu nome ao instituto
de investigação por si criado de raiz. Quando morreu, com 72
anos de idade, deixou manuscrita uma nova versão da fl ora do
nosso país, que intitulou, “Flora Portuguesa”. Este manuscrito foi
Botânica. Gonçalo Sampaio
posteriormente utilizado para a edição póstuma de 46 da
“Flora Portuguesa”, editada por A. Pires de Lima, com uma
contribuição de A. Rozeira. Como nos explica João Paulo Cabral
(professor da Faculdade de Ciências e organizador da exposição),
“Há uma parte que é escrita pelo Prof. Rozeira, que descreve uma
série de géneros dentro das Compostas, de que Gonçalo Sampaio
nunca fez tratamentos taxonómicos” que torna completa esta fl ora.
O Museu do Departamento de Botânica da Faculdade de
Ciências guarda ciosamente o espólio deste investigador:
manuscritos, livros, cadernos vários, registos, correspondência. O
homem, as suas relações, o que reuniu, o que escreveu, consistem
numa peça essencial de um conhecimento científi co que ajudou a
fundar o prestígio de uma Universidade. A Botânica, na viragem
do século XIX para o séc. XX, foi-se autonomizando do domínio
demasiado amplo da História Natural, mais próximo de um
espírito enciclopedista do que do rigor das metodologias e das
práticas científi cas, também aqui, na Universidade do Porto, pelo
seu inestimável contributo.
O registo dos seus contactos no estrangeiro, constante de um
caderno exposto na mostra no terceiro sector, dedicado à sua
geração de botânicos, ajuda a compreender e enquadrar a
sua infl uência: “Gonçalo Sampaio era uma fi gura da Botânica
sistemática mundial”, diz-nos João Paulo Cabral, “correspondia-
se com os melhores botânicos da época. Na mostra expusemos
um livrinho em que conservava o registo dos correspondentes
aberto na página Portugal e Espanha. Os nomes que dele
constam são as fi guras cimeiras da Botânica de então. Temos um
grande núcleo de cartas de todas aquelas pessoas que não está em
exposição. Vê-se pelas cartas como era infl uente e respeitado”.
Hoje a Botânica, como disciplina, no quadro do ensino superior
na área das Ciências Naturais está integrada no domínio amplo
da Biologia.
Encerra ciclo “Aventureiros, naturalistas e coleccionadores”
Museu vivo, o Jardim Botânico
pode bem ser a imagem/ símbolo
desta iniciativa da U.Porto
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AtmosferasAs pequenas salas de trabalho que se dispõem à volta do amplo
átrio da casa Andresen, sede do Departamento de Botânica,
agora ocupado pela discreta mas expressiva exposição dedicada
à Botânica na época de Gonçalo Sampaio, abertas para o jardim
por janelas rasgadas que tornam os espaços permeáveis, como
convém a uma casa que faz do estudo da vida das plantas o seu
leit-motiv, permitem, ainda hoje, sentir o tempo de recolhimento
e a atmosfera de estudo dos fundadores desta ciência na
Academia Politécnica do Porto.
O registo das peças e dos conteúdos expostos revela passo a passo
um processo de descoberta, estudo, classifi cação, e fi nalmente
de transformação em saber dos dados tratados, combinando-se
com o próprio espaço – a casa aberta sobre o Jardim Botânico,
também ele elemento matricial da mostra que encerra o ciclo
“Aventureiros, Naturalistas e Coleccionadores”, através do qual a
Universidade Júnior pretendeu dar a ver alguns dos tesouros que
as colecções da Universidade do Porto abrigam, homenageando
os seus fundadores. Museu vivo, o Jardim Botânico pode bem
ser a imagem/ símbolo desta iniciativa com a qual, convocando
fi guras e momentos do seu passado, a Universidade do Porto o
actualiza ao partilhá-lo com o público.
O núcleo mais íntimo da troca epistolar entre colegas,
refl ectindo o esforço de uma geração, mostra exemplarmente a
amplitude e a riqueza do diálogo “entre pares” do Portugal da
época, acompanhando até o eco que fora do país estes homens
de ciência mereciam, troca de conhecimentos, pedidos de
esclarecimento, estudo comparado das amostras que seguiam
junto com as missivas, numa complexa e viva arquitectura
dum conhecimento que se constrói também na circulação e na
comunicação, numa base de confi ança plena, e que procura as
suas vias de autonomização.
Imaginar o laboratórioEsta exposição, que vai ao encontro da Botânica de há cem
anos, entre a história natural e a biologia, mostrando as fontes
bibliográfi cas com as quais se enformava o ensino (núcleo 1),
os instrumentos e os processos do “laboratório” (núcleo 2)
e, fi nalmente, os agentes, os construtores de conhecimento
científi co, tem ainda o mérito de expor “uma forma de estar”
de uma geração, uma maneira de “fazer ciência”, na cartografi a
que reúne pelo interesse dos seus naturalistas as universidades
de Porto, Coimbra e Lisboa, Gonçalo Sampaio, Júlio Henriques
e D. António Xavier Pereira Coutinho, fi guras destacadas da
Botânica na viragem do século (núcleo 3). No terceiro e último
corpo da mostra está patente a correspondência nada ociosa
através da qual também avançava o conhecimento, a confi ssão
bem nítida das dúvidas, os pedidos de aconselhamento, a fi rmeza
e a contestação de pontos de vista, por vezes sarcástica, a cortesia
entre colegas que laboriosamente procuravam construir as bases
de um conhecimento rigoroso sobre a fl ora portuguesa, através
de meticulosos estudos taxonómicos dos géneros e das espécies
que baptizavam muitas vezes em homenagem a um colega.
«1 de Fevereiro 904
Exmo. Snr.
Recebi a carta de V. Exa. de 30 de Janeiro, que muito agradeço, bem
como a amavel lembrança de V. Exa., dedicando-me o novo Rubus
que estudou. Como digo na Introdução do trabalho ás Rosaceas,
todo aquelle estudo dos Rubus é apenas apresentado como um
prévio desbravamento do caminho, sem base solida, para a qual
nos faltavam, a mim e ao Conde de Ficalha, estudos especialisados,
livros, e exemplares completos. Toda essa parte do nosso trabalho
repousa sobre aproximações apenas; mais ou menos plausíveis.
Acredito que, principalmente no genero Rubus, o exame das
plantas vivaz é de primeira importancia para a classifi cação; e
acho que V. Exa. presta um assignalado serviço á nossa Flora
prosseguindo no estudo de um genero composto de especies tão
criticas e tão confusas.
Muito me obsequeia V. Exa. remettendo os exemplares que tiver
disponiveis das fórmas da nova especie, e peço desde já que se
não esqueça de me enviar um exemplar do seu artigo, que vou
lêr com o maior interesse, e desejo colleccionar ao lado dos outros
documentos da Flora Portugueza, que tenho reunidos.
Como V. Exa. se tem dedicado bastante ao estudo d’este genero
Rubus, tambem muito me obsequeia, quando tiver tempo e
“V. Exa. presta um assignalado serviço á
nossa Flora prosseguindo no estudo de um
genero composto de especies tão criticas e
tão confusas”.
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42 |
UPORTO IDENTIDADES
43 occasião para isso, enviando-me uma lista das especies e variedades
que encontrou até hoje em Portugal e não vêm mencionadas no
meu trabalho e do Conde de Ficalho, e bem assim incluindo as
especies marcadas néste trabalho, e que, segundo a sua opinião,
devem mudar de denominação específi ca.
É claro que se tiver disponivel alguns exemplares das especies alli
não mencionadas, muito as agradeço egualmente, para os incluir
no herbário da Polytechnica.
De V. Exa., com particular estima,
Att. (...) Antonio X. Pereira Coutinho»
(Carta de A. X. Pereira Coutinho para Gonçalo Sampaio)
Os três núcleos da mostra, organizados em fi leiras sóbrias no
átrio quadrado de passagem obrigatória, obrigam a atenção
a fi xar-se na banda preta que acompanha o percurso das
vitrinas, onde a branco se inscrevem notas sobre a evolução e a
modernização da Botânica, os livros, os manuais e os ensaios, os
instrumentos de recolha, o laboratório, o tratamento e análise
científi ca dos espécimes e fi nalmente os homens e a sua obra,
ou a comunicação e troca de ideias entre cientistas, informação
preciosa que esclarece passo a passo o visitante.
Esta articulação é, por vezes, grafi camente tão conseguida
que olhando o microscópio e, sequencialmente a célula que a
branco se desenha no negro, se estabelece uma cumplicidade
entre o procedimento científi co e o visitante, como se na
legenda se projectasse o que subjectivamente o instrumento
amplia e revela. João Paulo Cabral, responsável pela selecção,
organização das peças e produção de textos (tarefa na qual foi
assessorado por Elisa Folhadela), explica-nos que ao pensar a
exposição e colocação dos objectos, não sendo “possível incluir
naquele espaço o laboratório, o texto tenta complementar os
objectos revelando os procedimentos e as técnicas, de forma a
que o visitante possa assim imaginar o que seria o laboratório,
que estaria nas salas que ladeiam o átrio”. Foi sua intenção,
explica-nos, que “o discurso fi zesse o imaginário do laboratório”.
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Estórias da Universidade
No tempo em que os cursos de Engenharia eram constituídos
por seis anos, três na Faculdade de Ciências – situada na Praça
Gomes Teixeira – e três na Faculdade de Engenharia, na Rua
dos Bragas, o Assistente de uma das principais disciplinas
leccionadas na Faculdade de Ciências, ao preleccionar durante
as então chamadas aulas práticas, tinha a tendência de olhar,
disfarçadamente, para as pernas das alunas que nessa época
eram poucas, não atingindo a meia dúzia e que, por norma, se
sentavam na 1ª fi la das carteiras.
Perante este comportamento as nossas colegas decidiram reagir.
Uma primeira vez, levando jornais para as aulas e estendendo-os,
ostensivamente, por baixo das carteiras, sobre os seus joelhos.
Olhares embaraçosos
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Como o sistema não era prático, passaram a adoptar outro
expediente que resultou, ou seja, olhando, todas, insistentemente,
para os pés do Professor durante as aulas, de tal forma que a
determinada altura aquele já não sabia em que posição se devia
situar quando tinha de se levantar para se dirigir ao quadro preto,
a fi m de expor a matéria.
E desta forma, tão simples, acabaram com o inocente hábito do
Professor.
Outros tempos, outros hábitos…
Joaquim Emílio Torcato Barroca
Engenharia Electrotécnica
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Seis Fragmentos
IHá dias em que a terra se enfurece; os homens gritam: O vulcão
acordou! O chão treme!
E dias em que a terra sonha e se dedica ao paciente trabalho da
criação: água corre, brotam árvores e outras crescem, e envelhecem.
Devagar.
IIA árvore sonha acordada, repetindo num murmúrio as três sílabas
da sede: água, água.
III(Digo a palavra árvore – que é feita de aves e vento. Na seiva que a
percorre circula a mais verde consoante.)
IVAs árvores sorvem o ar, bebem o sol – e só na aparência cultivam o
silêncio: as árvores dançam, cantam, não dormem. E as suas raízes
penetram na água dos sonhos.
V(A tília, o choupo, a oliveira. O sobreiro e a cerejeira. Mais o plátano
e o ulmeiro. O cipreste, a nespereira…
Eu, que ainda não conheço o nome de cada árvore, passeio por entre
as sílabas escutando o rumor das folhas, sentindo a seiva correr no
tronco de cada palavra.)
VIEis a resina da infância. A grudar ainda os meus dedos no tronco
rugoso da árvore.
4544 |
UPORTO CRÓNICA
TEXTO DE JOÃO PEDRO MÉSSEDERILUSTRAÇÃO DE JOÃO MACHADO PARA O CARTAZ DO DIA MUNDIAL DA ÁGUA 2004
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46 | 47 Era uma vez… ciência e poesia no reino da fantasiaRegina Gouveia
Esta é a história de um extraterrestre
aventureiro. Com olhos a lembrar faróis
de autocarro. É também a história de uma
gota de orvalho que já foi lago, nevoeiro,
neve e chuva no Inverno. Lutou contra
incêndios, diz que foi um inferno, mas,
acima de tudo, e está sempre a acontecer,
diz que o que não gosta mesmo nada é
de ser lágrima sempre a correr. Antes do
fi m da história entra uma lua vaidosa e
o vento. Que “ora lento, ora agitado, ora
brisa ou ventania”, “não é mais do que ar
em movimento”, a soprar às vezes forte, às
vezes com lixo à mistura, uma diferente
“melodia”. E quem mais se queixa? Quem
é? Com os atropelos ao ambiente? É a
gaivota que fi ca triste e descontente.
Este é o primeiro trabalho de literatura
para crianças de Regina Gouveia.
Licenciada em Físico-Químicas, Mestre
em Supervisão e professora do Ensino
Secundário, tem tido colaborações com
o Departamento de Física da FCUP.
Publicou, na área da poesia, Refl exões e
Interferências e Magnetismo Terrestre, na
da fi cção, Estórias com sabor a Nordeste, e é
ainda autora do livro de didáctica Se eu não
fosse professora de Física. Algumas refl exões
sobre práticas lectivas e do livro de fi cção.
edição: Campo das Letras
preço: 12.60 euros
UPORTO A SABER
Comunicar a Ciência– um guia prático para investigadoresOrg. Sofia Jorge Araújo,
Mónica Bettencourt Dias,
Ana Godinho Coutinho
“A Ciência e a tecnologia fazem parte
do dia-a-dia de todos. Como envolver
o público na ciência e na tecnologia?
Como falar com jornalistas sobre o meu
trabalho? Como debater o meu trabalho
com o público? Como chamar a atenção
para a minha área científi ca?” Estas são
as perguntas, colocadas na boca dos
investigadores, a que o guia “Comunicar
a Ciência” e o projecto em que se insere
pretendem responder. Quem consulta o
guia tem duas abordagens possíveis, de
um lado, teórica, do outro, prática, na
perspectiva de se adaptar a diferentes
necessidades de leitura, mas tentando
constituir-se, no conjunto, como um meio
de consulta útil e rápida destinado a um
público que não tem tempo a perder.
Os conteúdos foram produzidos a
partir do material de apoio apresentado
nos workshops “Comunicar a Ciência”
realizados em 2003 e 2005, com apoio
do Serviço de Ciência da Fundação
Gulbenkian. O projecto “Comunicar
a Ciência” tem o apoio da Fundação
Calouste Gulbenkian e da Associação
Viver a Ciência.
O guia é distribuído gratuitamente e pode
ser pedido através do endereço e-mail
edição: Projecto “Comunicar a Ciência”
preço: gratuito
Uma Revolução na Formação Inicial de ProfessoresAmélia Lopes, Cristina Sousa,
Fátima Pereira, Rafael Tormenta
e Rosália Rocha
A obra considera que a formação
nos períodos revolucionário e “da
normalização” (entre 1974 e 1979),
aparece como a pedagogicamente
mais elaborada e mais consistente
no contexto da formação inicial de
professores do 1º Ciclo do Ensino Básico
nos últimos 30 anos. Para os autores, a
actual organização da formação inicial
destes professores corresponde a uma
evolução bastante positiva no que diz
respeito à sua componente científi ca,
mas também a algumas perdas no que
diz respeito à sua vertente pedagógica,
fenómeno normalmente identifi cado por
“academização” da formação. O livro
Uma Revolução na Formação Inicial de
Professores pretende tornar salientes
as dimensões que caracterizaram a
formação inicial nesse período, com vista
à possível integração de algumas das suas
componentes nos actuais projectos de
formação. Por essa via, o livro contribui
também, indirectamente, para a refl exão
sobre a pedagogia no ensino superior. Os
autores são investigadores do Centro de
Investigação e Intervenção Educativas
(CIIE), a funcionar na esfera da Faculdade
de Psicologia e Ciências da Educação da
Universidade do Porto. Amélia Lopes e
Fátima Pereira são ainda docentes desta
Faculdade.
edição: Profedições
preço: 11 euros
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Da Torre de Babel às Terras Prometidas– Pluralismo Religioso em PortugalHelena Vilaça
A refl exão sobre a evolução do fenómeno
religioso em Portugal abarca aspectos
como a composição religiosa do país, as
principais linhas de força do pensamento
religioso, as relações entre o Estado
e as instituições religiosas e o papel
desempenhado hoje pela religião na
esfera pública. Mas outras dimensões
foram aqui consideradas, como as atitudes
manifestadas quer pela Igreja Católica
quer pelas minorias religiosas perante
as transformações políticas e sociais e
os desafi os éticos e culturais e ainda as
atitudes dos portugueses face à diversidade
religiosa, através da análise dos resultados
de um inquérito realizado à escala europeia
sobre pluralismo religioso e moral.
Procurando uma ideia chave, Liliane Voyé
escreve no Prefácio que a obra mostra que
“a religião possui ainda uma relevância
social” na modernidade, mas sublinha uma
“mudança fundamental que caracteriza
o plano religioso: pluralismo e liberdade
de escolha desafi am a integração social”.
“Temos de gerir a diferença”, afi rma Helena
Vilaça, “particularmente difícil” num
contexto em que a “insegurança, nas suas
diferentes expressões, favorece a procura de
bodes expiatórios”, lembra Liliane Voyé. A
autora do livro, Helena Vilaça, é professora
auxiliar do Departamento de Sociologia da
Faculdade de Letras da U.Porto e coordena
a linha de investigação “Globalização,
valores sociais e políticas públicas”.
edição: Edições Afrontamento
preço: 16 euros
Águasfurtadas, número noveRevista de Literatura, Música
e Artes Visuais
O número nove da águasfurtadas contém
poesia de Emílio Remelhe, António Pedro
Ribeiro e Rui Lage, entre outros. Valério
Romão traduz “Uma novela não-escrita”
de Virgínia Woolf, e Margarida Vale de
Gato traduz “A fenomenologia da ira” de
Adrianne Rich. Júlio Dolbeth, docente
da Faculdade de Belas Artes, tal como
Emílio Remelhe, participa com um conto
desenhado. No teatro, Nuno F. Santos
marca presença com “Os condenados”.
Para além desta presenças, muitas mais
pode o leitor descobrir nesta edição.
No “muro” desta edição, termo usado pelo
editor de artes visuais para designar o
Prefácio, que importa saltar quanto antes
e entrar no conteúdo, Leandro Ribeiro
explica o princípio norteador desta edição:
“procurar e peneirar obras e obreiros que
construíssem, neste número nove, a mais
sólida águasfurtadas que já foi dada à
estampa. É neste número que a fotografi a
encontra no portfólio o único meio
de se apresentar”. O CD áudio contém
composições de Uma Espécie de Trio,
Alexandre Delgado, Ruben Andrade e do
grego, residente em Portugal, Dimitris
Andrikopoulos.
edição: Núcleo de Jornalismo Académico
do Porto/ Jornal Universitário do Porto
(NJAP/JUP)
preço: 12 euros
Lajes Aligeiradas com Vigotas Pré-Tensionadas
«Lajes Aligeiradas com Vigotas Pré-
Tensionadas» de Rui Camposinhos,
investigador da Faculdade de Engenharia
da Universidade do Porto e professor
do Instituto Superior de Engenharia do
Porto, e Afonso Serra Neves, professor da
Faculdade de Engenharia da Universidade
do Porto, resulta de investigações
desenvolvidas pelos autores nos últimos
anos. A obra abarca importantes estudos
que permitem um melhor conhecimento
científi co e uma mais correcta aplicação
dos sistemas de lajes “compósita”
semi-prefabricadas, contendo ainda vários
temas específi cos, manifestamente inéditos.
Os temas são pouco comuns noutros
tratados e, na abordagem adoptada,
desdobra-se com pormenor o conteúdo
técnico e teórico das lajes constituídas
por vigotas pré-esforçado. Este livro
deixa também algumas pistas para
prosseguimento da investigação,
contribuindo para ainda maior potenciação
do valor económico desta técnica.
Esta poderá ser adquirida online (área de
monografi as na página da FEUP Edições),
ou em qualquer livraria do país. O livro
contou com os patrocínios da ANIPC, da
TELHABEL, da MAXIT, da FCT, da CGD e
com os apoios da PAVIMIR e da VIPRAL.
edição: FEUP Edições
preço: 35 euros
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UPORTO TOME NOTA
48 | 6 E 7 DE OUTUBRO MÚSICA E MATEMÁTICAO Centro de Matemática da U.Porto, a Casa da Música e a Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo organizaram este encontro sobre “Música e Matemática”. O seu principal objectivo é o de reunir Matemáticos e Músicos (profi ssionais, investigadores, estudantes ou simples amadores) para divulgar temas comuns e permitir uma aproximação entre áreas que interagem quer a nível da análise musicológica quer a nível das novas tendências na composição musical.O evento tem uma componente generalista e uma componente mais especializada, abordando as relações Matemática/ Música a nível da Composição, Análise e Física do Som. Incluirá ainda uma componente concertante com a colaboração do grupo Remix, e/ ou outros instrumentistas da Casa da Música. INFORMAÇÕES:www.fc.up.pt/cmup/musmat
9 DE OUTUBRO A 17 DE NOVEMBROCURSO DE ESCRITA CRIATIVA E OFICINA DE PERSONAGENSAntiga Reitoria da U.Porto (R. D. Manuel II). Parque gratuito.Organizados pela Reitoria da U.Porto e pela Editora Civilização, o curso e a ofi cina serão orientados por Pedro Sena-Lino, mestre em Literatura Românicas pela UNL, formador em Escrita Criativa e Português para estrangeiros, poeta e crítico de poesia. 9 A 23 OUTUBRO: 21H30 > 23H00Escrita CriativaMódulos: À procura da imaginação; O que é uma imagem; Técnicas em prática; Imaginação e real, divididos por oito sessões de 1 hora e 30 minutos cada.9 A 17 DE NOVEMBRO: 18H00 > 21H00Ofi cina de PersonagensConceitos e técnicas básicas para a construção de uma personagem a partir da leitura de contos e usando a autobiografi a como material de fi cção. A ofi cina vai desenvolver-se em três fases, durante os meses de Outubro e Novembro: de 9 a 12 e de 23 a 26 de Outubro e de 13 a 17 de Novembro. INFORMAÇÕES:Ana Martins: [email protected] + T. 223401549
12 E 13 DE OUTUBROTRACK FOR HIGH-SPEED RAILWAYSFaculdade de Engenharia da Universidade do PortoWorkshop internacional organizado pela Faculdade de Engenharia numa ocasião em que se encontra em vias de implementação no país a rede ferroviária de alta velocidade em articulação com a rede europeia. Este encontro permitirá ouvir especialistas internacionais, oriundos de Espanha, França, Itália, Áustria, Alemanha, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Suécia, que partilharão os seus conhecimentos científi cos e técnicos, cruzar experiências e discutir o comportamento estrutural e a performance das soluções existentes, avançando eventualmente com sugestões de melhoria.As palestras abordarão os tópicos:Materiais e propriedades mecânicas da via férrea; Manutenção da via e monitorização; Dimensionamento e geometria da via; Construção e sistemas de controlo,CUSTOS: 400 Euros (incluem o envio das actas, em livro e em Cd, dois almoços e um jantar)INFORMAÇÕES: Faculdade de Engenharia Engenharia Civil, Clotilde BentoT. 225081944 + F. [email protected]://www.fe.up.pt/HSRTrack
18 DE OUTUBRO A 15 DE DEZEMBROCURSO LIVRE DE DESENHOFaculdade de Arquitectura da U.Porto“Desenhar desenhando” é o título do Curso Livre de Desenho que a Faculdade de Arquitectura oferece entre o próximo mês de Outubro e Junho de 2007, orientado pelos professores José Grade e Luísa Brandão.O curso divide-se em quatro períodos de leccionação: 18 de Outubro a 15 de Dezembro, 3 de Janeiro de 2007 a 28 de Fevereiro, 2 de Março a 27 de Abril e, fi nalmente, 3 de Maio a 29 de Junho. INFORMAÇÕES: www.fa.up.pt
17 DE NOVEMBROHOMENAGEM A UMA FIGURA EMINENTE DA U.PORTO: PROFESSOR AUGUSTO NOBREReitoria da U.Porto, Praça Gomes Teixeira.Depois de Abel Salazar, Marques da Silva e Magalhães Basto, a Universidade homenageia Augusto Nobre.Augusto Nobre, um dos homens que acompanha a viragem da Academia Politécnica para a Universidade, foi um dos pioneiros do estudo da Biologia Marinha em Portugal. Criou um “laboratório marítimo” e um Museu de Zoologia, que hoje está integrado no Museu de História Natural da Faculdade de Ciências. A exposição, comissariada por Jorge Eiras, professor da Faculdade de Ciências e presidente do departamento de Zoologia/Antropologia, estará patente até Janeiro de 2007.
23 E 24 DE NOVEMBROPLURAL BECKETT PLURIELA CENTENARY CELEBRATION. UNE CÉLÉBRATION CENTENAIREFaculdade de Letras da U.Porto, 17H30No centenário de Samuel Beckett, a Faculdade de Letras com o apoio da embaixada da Irlanda e da Fundação para a Ciência e Tecnologia propõe-se refl ectir sobre a pluralidade da escrita deste autor e sobre as consequências artísticas e críticas da sua obra. Beckett nasceu em Dublin, em Abril de 1906 e morreu em Dezembro de 1989 em Paris. A sua obra vastíssima e plural é um marco incontornável do século XX. Beckett escreveu 6 romances, 4 peças longas e muitas peças curtas, histórias e novelas, poesia, ensaios, peças radiofónicas e televisivas, realizou um fi lme, entre muitas outras actividades e interesses. O encontro decorrerá em torno de alguns eixos de trabalho: Beckett e o teatro; Beckett e a Irlanda; Beckett e a fi losofi a; Beckett, a dramaturgia e a fi cção no sec. XX; Beckett, a música e as artes visuais, Beckett e a religião, Beckett, bilinguismo e tradução.O Colóquio é co-organizado pelo Instituto de Estudos Ingleses e pelo Instituto de Estudos de Literatura Comparada Margarida Losa, com o suporte do Departamento de Estudos Anglo-Americanos.INSCRIÇÕES: até 6 de OutubroCUSTO: 75 EurosINFORMAÇÕES: Instituto de Estudos Ingleses:T. 226077183 + [email protected]
PLURAL BECKETT PLURIEL
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