PRODUÇÃO MAIS LIMPA: UM ESTUDO DE...
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PRODUÇÃO MAIS LIMPA: UM ESTUDO
DE CASO NUMA PANIFICADORA
SITUADA NA REGIÃO DE NATAL - RN
Francisco Domingos de Paula Junior (UFRN)
Geraldo Jose Francisco Neto (UFRN)
Moises Pontes Ramos (UFRN)
Arthur Luiz Costa Bandeira (UFRN)
Atilo Carvalho Silva (UFRN)
O ARTIGO ANALISA O CASO DA GERAÇÃO DE RESÍDUOS EM
UMA PANIFICADORA DE PEQUENO PORTE EM NATAL/RN.
BASEANDO-SE NA TÉCNICA DE PRODUÇÃO MAIS LIMPA - P+L -
VISA-SE A REDUÇÃO DESTA GERAÇÃO DE RESÍDUOS NOS TRÊS
NÍVEIS TRATADOS NA P+L. INICIALMENTEE, O ARTIGO
ABORDA UM REFERENCIAL TEÓRICO SOBRE A P+L
NORTEANDO O ESTUDO DE CASO. EM SEGUIDA, MOSTRA-SE
UMA VISÃO DAS EMPRESAS DE PEQUENO PORTE NO BRASIL
ASSIM COMO A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA VIGENTE. EM
SEGUIDA SÃO APRESENTADOS QUALITATIVAMENTE E
QUANTITATIVAMENTE TODAS AS ETAPAS DO PROCESSO DE
PANIFICAÇÃO BEM COMO OS RESÍDUOS GERADOS EM CADA
ETAPA. POR FIM, PROPÕEM- SE A SEGREGAÇÃO DOS
RESÍDUOS NÃO ORGÂNICOS E MOSTRA-SE O SEU VALOR
COMERCIAL A FIM DE OBTER UMA RENTABILIDADE
FINANCEIRA E AO MESMO TEMPO REDUZINDO A DISPOSIÇÃO
DE TAIS MATERIAIS NO MEIO AMBIENTE. A CONCLUSÃO DO
TRABALHO É FEITA MOSTRANDO-SE AS AÇÕES EM CADA
ETAPA DE PRODUÇÃO PARA A REDUÇÃO DA GERAÇÃO DOS
RESÍDUOS.
Palavras-chaves: PRODUÇÃO MAIS LIMPA, IMPACTO
AMBIENTAL, REDUÇÃO DE RESÍDUOS
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
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1. Introdução
As padarias estão deixando de serem apenas estabelecimentos responsáveis pela fabricação
artesanal e venda de pães, biscoitos, bolos, entre outros. Estes estabelecimentos passaram a
serem chamados de panificadoras e confeitarias, por estarem se transformando em centros de
conveniência, gastronomia e serviços. Elas constituem um setor onde não há crise, ao
contrário, seus empresários só falam em crescimento constante. De acordo com estudos
realizados pelo SEBRAE NACIONAL (2009), aproximadamente 63,2 mil panificadoras
compõem o mercado da panificação e confeitaria no Brasil, das quais 60 mil são micros e
pequenas empresas. O setor gera mais de 700 mil empregos diretos, dos quais 245 mil (35%)
concentram-se na produção.
A panificação está entre os 6 (seis) maiores segmentos industriais do país, com participação
de 36% na indústria de produtos alimentares e 6% na indústria de transformação. Cerca de
76% dos brasileiros consomem pães no café da manhã e 98% da população consomem
produtos panificados. Dos pães consumidos no Brasil, 86% são artesanais, destes, 52%
correspondem ao pão francês. O mercado da panificação é tão promissor que passado poucos
meses da grande Crise Mundial, em 2009, o Presidente da Associação Brasileira da Indústria
de Panificação comentou: “Ouso dizer que nosso setor não viu crise; ao contrário, com a
tendência das pessoas ficarem mais em casa, o consumo dos nossos produtos aumentaram”.
Baseando-se no mercado nacional da panificação, o presente trabalho visa discutir o tema da
Produção Mais Limpa objetiva verificar a aplicação do conceito de Produção Mais Limpa em
uma panificadora situada na cidade de Natal/RN, apresentando-lhes alternativas tecnicamente
viáveis para o melhoramento do seu processo produtivo.
2. Referencial teórico
2.1 Produção mais limpa (P+L): origens e conceitos
A metodologia do conceito de P+L foi desenvolvida pela United Nations Industrial
Development Organization (UNIDO) como sendo a base do programa de prevenção proposto
pela própria UNIDO e pela United Nation Environmental Program (UNEP) para nações em
desenvolvimento, com a seguinte abordagem:
“Produção mais Limpa é a aplicação contínua de uma estratégia ambiental preventiva e
integrada, nos processos produtivos, nos produtos e nos serviços, para reduzir os riscos
relevantes aos seres humanos e ao ambiente natural. São ajustes no processo produtivo que
permitem a redução da emissão/geração de resíduos diversos, podendo ser feitas desde
pequenas reparações no modelo existente até a aquisição de novas tecnologias (simples e/ou
complexas)”. (UNEP – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, 2006).
A Produção mais Limpa (P+L) objetiva minimizar e/ou eliminar a geração de resíduos na
fonte provocados pela cadeia de produção. Segundo o Comitê Empresarial Brasileiro de
Desenvolvimento Sustentável (CEBDS, 2005), a P+L adota uma abordagem preventiva, em
resposta à responsabilidade financeira trazida pelos custos de controle da poluição, além de
auxiliar as empresas a adotarem práticas de desenvolvimento sustentável no processo
produtivo e no consumo.
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No Brasil também foi criada a Rede Brasileira de P+L, que difunde o conceito de
ecoeficiência e a metodologia da P+L como instrumento para aumentar a competitividade,
inovação e a responsabilidade ambiental no setor produtivo brasileiro. (BRAGA JUNIOR;
NUNES; BRITO, 2009).
Ainda segundo a UNEP, a P+L é a aplicação contínua de uma estratégia ambiental preventiva
e integrada, utilizada nos processos produtivos, produtos e serviços, para aumentar a
eficiência e reduzir riscos. Já para UNIDO, a P+L consiste em uma estratégia preventiva e
integrativa aplicada a todo ciclo de produção para fazer aumentar a produtividade,
assegurando um uso mais eficiente da matéria-prima, energia e água. Promove também um
melhor desempenho ambiental através da redução de fontes de desperdícios e emissão,
reduzindo o impacto ambiental no ciclo de vida do produto. (PIMENTA; GOUVINHAS,
2007).
A P+L adotada pelas empresas nos diversos estados brasileiros ainda está sendo difundida,
não satisfazendo completamente se compararmos com o avanço da adoção da P+L nas
empresas de países de primeiro mundo, a exemplo dos Estados Unidos.
No Rio Grande do Norte, a P+L iniciou-se com o CNTL (Centro Nacional de Tecnologias
Limpas), que em 2003, em parceria com o SEBRAE-RN, formou a 1° turma de consultores
em P+L. Como consequência desta parceria, 6 (seis) empresas do estado aplicaram a
metodologia da P+L, reduzindo desperdícios na ordem de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta
mil reais), em aproximadamente um ano. Os benefícios ambientais referem-se à redução do
uso de matérias primas, consumo de água, energia além da minimização dos riscos de
contaminação. (PIMENTA et al. 2008 apud PIMENTA; GOUVINHAS, 2007, p. 3).
3. Empresas de pequeno porte no Brasil
Nos últimos anos no Brasil, o crescimento acentuado da economia impulsionado por políticas
de transferência de renda, aumento do emprego formal, salário mínimo, crescimento da massa
salarial e crédito farto para pessoa física/jurídica, têm contribuído para o surgimento de novas
empresas, uma vez que a economia brasileira está consolidada e já não amarga mais
dificuldades econômicas frente a crise mundial de 2009. Para tanto, faz-se necessário
conceituar a legislação brasileira que rege todo controle de novas empresas.
O conceito de microempresa foi criado pela Lei nº 7.256/84 advindo de uma batalha política
para desburocratizar o funcionamento dos pequenos organismos empresariais. Esta lei
concedeu tratamento diferenciado e simplificado às microempresas nos campos
administrativo, tributário, previdenciário, trabalhista, entre outros. Essas empresas têm
conquistado cada vez mais o mercado na indústria brasileira como cita (Raza, 2005 apud
LONGENECKER, 1997), “... as empresas de pequeno porte, além de contribuírem para o
bem estar econômico do país, produzindo bem e serviços, criam empregos enquanto as
grandes diminuem seus quadros de funcionários; auxiliam as grandes empresas,
desempenhando funções da cadeia produtiva com eficiência; diminui a concentração de
mercado, aumentando a distribuição de renda, favorecendo a estabilidade social e política...”.
Segundo os dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE,
no Brasil, em 2008, as micros e pequenas empresas representavam 99,5% de 7,143 milhões
existentes. Já em outubro de 2009, foram responsáveis por empregar 75,1% do total de novos
funcionários no país. Segundo levantamento do SEBRAE (2009), no primeiro semestre
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daquele ano as MPEs representaram 59,8% do total de empresas exportadoras e 1,3% do total
do valor exportado.
3.1 Legislação e classificação das empresas de pequeno porte no Brasil
Atualmente no Brasil, as empresas de pequeno porte são regulamentadas pela Lei Geral das
Micro e Pequenas Empresas – Lei Complementar 123, instituída em 2006, que em descrição
do seu Capítulo II, Art. 3°, define os limites para que a empresa seja considerada de micro ou
pequeno porte a partir da receita bruta de vendas:
Em sua definição, as microempresas ou a ela equiparada, permite-se uma receita bruta igual
ou inferior a R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais), já as empresas de pequeno porte,
podem obter receita bruta a partir de R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais) e não
ultrapassar R$ 2.400.000,00 (dois milhões e quatrocentos mil reais). A receita bruta é definida
como sendo o produto da venda de bens e serviços nas operações de conta própria, o preço
dos serviços prestados e o resultado nas operações em conta alheia, não incluídas as vendas
canceladas e os descontos incondicionais concedidos.
Existe ainda outra classificação utilizada pelo SEBRAE, considerada a mais utilizada no
Brasil, obtida através de estudos realizados com 14 empresas de micro e pequeno porte,
estabelecida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, considerando como
critério válido a quantidade de funcionários legais, conforme segue na tabela:
4. Redução de resíduos nos níveis de produção mais limpa
Na empresa foi analisado os resíduos gerados em todos os três níveis de produção mais limpa
(P+L), buscando-se melhorias através da aplicabilidade da P+L que deve reduzir a geração de
resíduo na linha de produção da empresa, se possível no nível 1. A figura 1, a seguir, mostra o
comportamento dos níveis de produção dentro da técnica de P+L:
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FIGURA 1: Níveis de P+L
A P+L visa primordialmente a redução de resíduos na fonte, nível 1, através de ações
diretamente no processo, produto, recurso ou equipamento que gera o resíduo no fim do ciclo
de produção. É importante frisar que a prevenção da poluição na fonte não vai eliminar
completamente a abordagem de controle na geração de resíduos, mas reduz sua necessidade
visto que boa parte pode ser evitada na fonte. A modificação no produto envolve a alteração
de aspectos nos produtos de forma a reduzir o impacto na geração de resíduos em seguida. O
nível 1, segundo o Centro Nacional de Tecnologias Limpas (SENAI, 2010), trata-se da
prioridade da P+L, evitando a geração de resíduos e emissões. Quando falamos em
modificação no processo podemos dissipar o conceito das boas práticas de P+L entre a
equipe, envolvendo-a em um ambiente que incentive a economia de água, matéria prima e
energia não só no processo de produção, mas também no local de trabalho. É importante que
se tenha um time disposto a aplicar as práticas de P+L e que eles saibam a importância da
redução na fonte, do reuso, da reciclagem e da recuperação energética no processo. A
substituição de matéria prima também envolve modificação de processo, uma vez que as
trocas de itens de matéria prima no processo podem favorecer a redução de resíduos no meio
ambiente, a exemplo da utilização do saco de farinha de 50 kg ao invés de 50 sacos de farinha
de 1 kg.
Por fim, no nível 1, pode-se reduzir na fonte agindo através da modificação tecnológica, que
nesta empresa, baseia-se na substituição do forno à lenha (figura 2) por a gás. Assim
reduziríamos consideravelmente o impacto ambiental causado pela utilização do carvão
mineral enquanto combustível.
Na padaria, o forno é acionado durante 24 horas diárias, significando 24 horas de emissão de
fumaça no ambiente, além da fuligem e do pó do carvão (resíduo decantado no próprio forno)
lançado no meio ambiente.
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FIGURA 2: Forno à lenha
Atualmente, somente os processos de confeitaria e da cozinha do restaurante são movidos a
botijões de gás butano, como mostra a Figura 3. Percebe-se a inadequação do uso deste
produto inflamável, comprometendo a segurança do ambiente, inclusive funcionários e
clientes. O botijão encontra-se no meio do salão da cozinha sem nenhum tipo de proteção,
adequação ou até mesmo disposição de extintores anti-chamas próximos.
FIGURA 3: Chapa a gás
Na empresa em estudo, observou-se a aplicação da teoria explicitada no nível 2 em três fazes
do seu processo produtivo: Massa crua, Pão e Torrada. No caso do pão e da torrada, seus
resíduos são gerados apenas quando não são consumidos por nenhum cliente após certo
tempo.
Já no preparo da massa crua, verificou-se que depois de obtida à quantidade pré-estabelecida
para uma “fornada” (massa para certa quantidade de pães por vez), a sobra da mesma é
reaproveitada na “fornada” seguinte.
Com relação ao pão já pronto, observaram-se duas possibilidades de reintrodução do resíduo
no processo produtivo. A primeira trata do caso do pão francês, onde seu resíduo é utilizado
no preparo de torradas, a segunda trata do resíduo gerado por qualquer outro tipo de pão,
posteriormente será utilizado no preparo de farinha de rosca. Por fim, os resíduos gerados pela
torrada são, também, aproveitados para o preparo da farinha de rosca:
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FIGURA 4: Farinha de rosca
4. Legislação Ambiental
Existe uma preocupação crescente em conciliar um desenvolvimento adequado das empresas
com questões relacionadas ao meio ambiente, tentando promover condições ambientais
básicas que não agridam a comunidade e o local onde tais empreendimentos serão instalados.
Assim, os esforços feitos para promover a melhoria dos níveis de poluição, seja em termos do
ar, água, solo, ruído, etc., tornam-se fundamentais. Os empreendedores, cada vez mais, devem
ter consciência das necessidades locais e responder às suas prioridades e preocupações.
Assim, o Licenciamento Ambiental constitui-se uma ferramenta de fundamental importância,
permitindo ao empreendedor identificar os efeitos ambientais do seu negócio e a forma que
esses efeitos serão gerenciados. Este instrumento busca garantir as medidas preventivas e de
controle adotadas nos empreendimentos sejam compatíveis com o desenvolvimento
sustentável. Ao contrário do que foi dito anteriormente, a empresa em estudo, até o presente
momento, não procurou nenhum tipo de norma ou legislação pertinente à sua área de atuação.
O único procedimento que está sendo tomado pela empresa são correções que foram impostas
pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para que o estabelecimento se
adeque às condições legais de funcionamento.
5. O processo de panificação
O processo de preparo do pão inicia-se com a separação da matéria prima e sua quantidade
necessária estabelecida através da pesagem, em seguida essa matéria prima é colocada na
Mexedeira/Batedeira, aonde vai se unificando até formar uma massa homogênea. Após sair da
Mexedeira, a MP é colocado na máquina chamada Cilindro, tendo a função de homogeneizar
a MP por completo. Em seguida, a massa é colocada na máquina Divisora, para o caso do pão
francês ou senão a massa é colocada na mesa para o caso dos demais pães. Após esse
processo, a massa vai para a Modeladora, onde realiza-se o formato do pão de acordo com a
convenção pré-estabelecida. Saindo da Modeladora, o pão é colocado em armários para que o
processo de fermentação seja realizado e finalizado. Em seguida, decorrido o tempo
necessário para a fermentação, o pão é colocado no forno onde será assado atingindo o padrão
de qualidade necessário e posteriormente encaminhado para o balcão de vendas. Para facilitar
a visualização do sequenciamento do processo, tem-se o fluxograma de processo de
panificação como mostra a Figura 5.
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FIGURA 5: Fluxograma de Processo da panificação
6. Entradas e saídas de cada etapa do processo produtivo da panificação
Todo o processo produtivo deverá ser alimentado pelas entradas (insumos ou matérias
primas), posteriormente processado (bens em transformação) e por último têm-se as saídas
(bens acabados em seu estado de fabricação). Para melhor verificação do processo de
fabricação do pão, levando em conta a P+L, abaixo encontra-se a Tabela 2 explicitando todas
as entradas e saídas de cada etapa do processo produtivo, como já mostrado na Figura 5.
Sendo assim, evidenciaremos como os resíduos das matérias primas utilizadas e/ou insumos
poderão ser dispostos ou reutilizados dependendo das ações durante o processo, evitando-se
que se tornem agressores do meio ambiente.
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Fonte: Do autor
TABELA 2: Entradas, saídas e ações a serem tomadas durante o processo
7. Níveis detectados de Produção mais Limpa na empresa objeto de estudo
A P+L deve ser caracterizada por ações que visem privilegiar o nível 1, como prioritárias,
seguidas do nível 2 e do nível 3, respectivamente. A principal meta é encontrar medidas que
evitem a geração de resíduos na fonte (nível 1). Estas podem incluir modificações no produto
ou processo. As opções de reciclagem só devem serem adotadas depois que as técnicas de
prevenção forem implantadas, pois a P+L não significa maximizar o uso da reciclagem ou de
tecnologias de controle da contaminação, e sim, aproveitar os equipamentos e as tecnologias
existentes, objetivando gerar o menor impacto ambiental (DOMINGUES, 2007). Diante do
exposto, entramos na fase do nível 3 da P+L, no qual compreende a reciclagem externa,
demostrando a necessidade de se causar o menor impacto ambiental possível, primando pela
reutilização do resíduos internamente ou externamente por outros consumidores.
No caso da referida empresa, esta gera vários resíduos que não podem ser inseridos
novamente no processo fabril de panificação, são eles; os sacos de nylon de 50 kg
(acondicionam farinha de trigo), embalagens plásticas diversas (margarina, gordura vegetal,
óleos vegetais, etc.), embalagens de papelão oriundas da panificação e dos processos da
cozinha e confeitaria. Esses resíduos têm possibilidade de serem reaproveitados em outros
setores produtivos ou até mesmo serem enviados para a reciclagem, prática atualmente
desenvolvida na empresa.
Neste caso, os funcionários separam esses materiais num determinado local e de tempos em
tempos os mesmos são vendidos a empresas que reutilizam as embalagens ou reciclam.
Alguns desses materiais valem como moeda de troca e são trocados por descontos na
obtenção de outra matéria prima do processo, a exemplo do saco de nylon da farinha de 50 kg
vale como desconto para adquirir carvão vegetal no fornecedor, de onde já acondiciona
novamente o carvão no objeto de troca e assim vira um ciclo.
A P+L também abrange a minimização dos impactos ambientais causados pela utilização do
forno a carvão que utiliza o carvão vegetal como combustível. Este advém da combustão
incompleta da madeira por um processo rudimentar chamado de carvoenjetamento (madeira
+ calor + gases condensáveis + gases incondensáveis = carvão vegetal).
A madeira, considerada principal matéria prima, por muitas vezes são retiradas de forma
ilegal, causando o desmatamento, realidade encontrada no estado do Rio Grande do Norte,
principalmente nas áreas de caatinga. Além disso, durante a queima do carvão vegetal
utilizado no processo de panificação, causa a liberação de gases tóxicos e a formação da
fuligem. Para que seja atenuada a eliminação desses gases, pode-se inserir um sistema de
filtros que diminuirá boa parte dos elementos nocivos à saúde, mas não conseguirá extinguir
por completo a fuligem depositada no fundo do forno, não podendo nem mesmo ser utilizada
na compostagem por possuir elementos tóxicos.
Inicialmente, a mudança para o forno a gás natural traria benefícios ambientais e a saúde dos
envolvidos no processo por menos nocivo. Para tanto, faz-se necessário um estudo de
viabilidade técnica e econômica, utilizando o modelo simples de “pay-back”, que medirá a
viabilidade financeira do investimento. Devido à dificuldade de acesso aos dados financeiros,
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quantitativos e qualitativos, essa pratica se tornou impossível, pois não obtivemos a permissão
dos proprietários da empresa.
Em si tratando de reciclagem externa, subdividida em ciclos biogênico definido como um
conjunto de transformações sofridas por um resíduo a fim de transformá-lo em um produto
estável para reutiliza-lo como adubo para o solo. No entanto, os resíduos minimamente
gerados pelo processo de panificação, farelo do processo de corte do pão de forma, farelos do
processo de tostagem, somados aos resíduos da cozinha e da confeitaria, são acondicionados
em recipientes plásticos de grande capacidade e posteriormente transformados em alimentos
(lavagem) para porcos.
Quanto à comercialização dos resíduos recicláveis, observou-se que além dos sacos de Nylon
de 50 kg, todos os outros resíduos também poderiam serem comercializados e não somente
descartados, em sua grande parte. Esta prática traria ótimas contribuições para o meio
ambiente por ser P+L, ligada diretamente ao nível 3, onde aborda-se a reciclagem externa
trazendo ganhos.
8. Vantagens ambientais e financeiras para segregação e comercialização dos resíduos
recicláveis não orgânicos
Pode-se reduzir a geração otimizando-se o processo, a operação ou modificando o projeto. Em
alguns casos pode-se eliminar a geração através da modificação de processos, adotando
tecnologias limpas, substituindo matérias primas ou insumos (VALLE, 2002). A reutilização
consiste no aproveitamento do produto ou parte, no mesmo ou em outro, a fim de cumprir
funções idênticas ou similares (WMOAM apud MATOS, 2002). Entretanto, a parte
reaproveitável deve estar em perfeito estado de conservação.
O ato de reciclar segundo Valle (2002) é “... refazer o ciclo permite retomar a origem, na
forma de matérias primas, dos materiais que não se degradam facilmente e que podem ser
reprocessados, mantendo suas características básicas.” É baseado nesses termos que a
reciclagem também contribui na rentabilidade financeira desde que haja um interesse da
empresa em segregar os resíduos inorgânicos e posteriormente comercializá-los. Este ato está
caracterizado na metodologia da P+L, identificando as ações, a segregação e a venda para
reaproveitamento externo, nível 3 da P+L.
A tabela 3 a seguir, mostra os resíduos inorgânicos gerados e a rentabilidade da
comercialização de todos os resíduos reutilizáveis (não orgânicos) envolvidos no processo da
panificação:
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Fonte: Adaptado de (PIMENTA, 2006)
TABELA 3: Receita de comercialização de recicláveis
9. Conclusão
A pesquisa teve como objetivo analisar o processo de gestão ambiental de uma panificadora,
verificando o uso de boas práticas ambientais relacionadas à P+L. Analisou-se também o
processo de gestão ambiental na empresa, verificando sua abrangência juntamente com a
postura ambiental e quais ações hostis e/ou amigáveis ao meio ambiente, além do processo de
transformação industrial da empresa, verificando o grau de implementação da P+ L.
De acordo com os conceitos da P+L, vimos que há certa conscientização quanto ao
reaproveitamento e reciclagem de alguns resíduos gerados a partir da utilização da matéria
prima do processo, podendo ser classificado como reciclagem interna (nível 1) e reciclagem
externa (nível 2) da P+L. Contudo, falta atenção nos processos dos fornecedores, nenhum dos
fornecedores são fiscalizados pelos órgãos competentes, a exemplo da ANVISA, no
processamento de seus produtos. Já no uso da água como agente de limpeza (pias e banheiros)
consegue-se enxergar que a empresa esta distante de um uso ecológico deste bem natural.
A possível substituição do forno à lenha pelo forno a gás com o intuito de reduzir os resíduos
e as emissões, atenderia a priori ao nível 1 da P+L (reduzindo na fonte geradora os
poluentes). O estudo da viabilidade financeira da troca por um forno a gás não foi possível
devido a não autorização pelos proprietários aos dados financeiros da empresa. No entanto,
propomos a segregação dos resíduos inorgânicos envolvidos no processo como todo e
mostramos seus resultados.
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A partir daí conseguimos identificar e mostrar as melhorias ambientais através da redução,
reuso e reciclagem, além de obter uma rentabilidade financeira totalizada em R$ 95,64/mês,
valor que pode ser reinvestido nos processos contínuos de melhorias da produção.
Por fim, conclui-se que o estudo da P+L na empresa objeto de estudo foi baseado nos três
níveis desta referida metodologia, mostrando-se como as ações podem favorecer a redução na
geração de resíduos no meio ambiente.
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