Produção Didático-Pedagógica - Operação de ... · primeiro conto quando tinha apenas treze...
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Produção Didático-Pedagógica
Professor PDE/2011
Título: Contos como estratégia na formação do leitor
Autora Márcia Eloísa Denker Maldonado
Escola de Atuação Colégio Estadual Augusto Morais Rego - EFMP
Município da escola Toledo
Núcleo Regional de
Educação
Toledo
Orientadora Professora Ms. Mirian Schröder
Instituição de Ensino
Superior
UNIOESTE
Disciplina/Área (entrada no
PDE)
Língua Portuguesa
Produção Didático-
pedagógica
Unidade didática
Relação Interdisciplinar
Público-alvo Alunos do 9º ano Ensino Fundamental
Localização Colégio Estadual Luiz Augusto Morais Rego
Rua Almirante Barroso Nº1551 – Centro
CEP 85.900-20 Toledo - Paraná
Apresentação:
O professor, como mediador e formador de leitores, tem
necessidade de encontrar novas formas de promover o
ensino da leitura buscando uma prática pedagógica que
leve o aluno a se interessar pela literatura, indo além de
uma leitura superficial da obra. Por esta razão este
material tem como objetivo geral formular atividades de
ensino que auxiliem o educando na construção de
estratégias adequadas para processar a leitura e
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construir o sentido. Mediante reflexões sobre conceitos e
concepções de como se realiza o ato de ler, tendo em
vista a concepção bakhtiniana de linguagem como
instrumento de interação e que os gêneros discursivos é
que fundam a possibilidade de comunicação/interação
entre os indivíduos; propõe-se um trabalho, em sala de
aula, com o texto em seu funcionamento e seu contexto
de produção/leitura. Para tanto, pretende-se realizar um
trabalho com gêneros textuais/discursivos ensinados a
partir do procedimento criado por Schneuwly e Dolz
denominado Sequência Didática (SD).
Palavras-chave (3 a 5
palavras)
Sequência didática, gênero conto, leitura, ensino.
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SUMÁRIO
1. APRESENTAÇÃO ..................................................................................... 04
2. APRESENTAÇÃO DA SITUAÇÃO DE PRODUÇÃO ................................ 05
3. APRESENTAÇÃO DO GÊNERO ............................................................. 06
3.1 O PRIMEIRO BEIJO ............................................................................ 06
3.2 UNS BRAÇOS ...................................................................................... 11
3.3 EU ESTAVA ALI DEITADO .................................................................. 24
3.4 VENHA VER O PÔR-DO-SOL .............................................................. 28
3.5 UMA HISTÓRIA DE AMOR .................................................................. 33
4. PRODUÇÃO INICIAL ................................................................................ 36
5. REESCRITA ............................................................................................... 38
6. PRODUÇÃO FINAL E CIRCULAÇÃO DO TEXTO.................................... 39
7. REFERÊNCIAS .......................................................................................... 40
8. AVALIAÇÃO .............................................................................................. 42
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Ler é somar-se ao mundo,é iluminar-se com a claridade do já decifrado. Escrever é dividir-se.
Bartolomeu Campos Queirós
1. APRESENTAÇÃO
Esta Unidade Didática apresenta uma proposta de trabalho tomando os
gêneros discursivos como objeto de ensino e o texto como unidade de ensino. A
concepção de linguagem aqui assumida é a sócio-interacionista. Está embasado na
teoria bakhtiniana dos gêneros discursivos e em outras releituras sobre esta teoria.
Ao se propor um trabalho com gêneros discursivos/textuais, abre-se a
possibilidade de focarmos a análise do texto sob várias perspectivas,
compreendendo-o quanto a sua situação de produção, quanto a sua função social,
quanto ao seu gênero e quanto às marcas linguísticas que o constituem.
De acordo com Dolz e Schneuwly (2010), o trabalho com gêneros possibilita a
produção de ações didático-metodológicas de ensino que levam em consideração os
problemas de aprendizagem e as novas etapas pelas quais os alunos necessitem
passar, o que instrumentaliza o professor sobre como e o que trabalhar em níveis e
situações concretas de ensino. Por isso, adotar os gêneros como instrumento para o
trabalho com a linguagem na escola, torna-se importante.
Com o propósito de contribuir na formação do aluno/leitor do 9º ano do Ensino
Fundamental é que se decidiu trabalhar a leitura literária através do gênero
discursivo conto, tendo como base o modelo didático criado por Schneuwly e Dolz
denominado Sequência Didática como forma promover atividades que tornem o ato
de ler um momento de prazer e de aquisição de conhecimento.
Os contos, como textos literários, possuem uma linguagem harmoniosamente
trabalhada, portanto, rica de sentidos. Além de possibilitarem ao leitor viajar por
lugares e épocas distantes no tempo e no espaço, conhecer novas formas de ver e
pertencer ao mundo (PETIT, 2008), também fornecem ao professor a possibilidade
de formular atividades de ensino que auxiliem o educando na construção de
estratégias adequadas para processar a leitura e construir o sentido.
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2. APRESENTAÇÃO DA SITUAÇÃO DE PRODUÇÃO
Aprender mais sobre sua língua pode ser divertido. Não é gostoso quando
você consegue emitir suas opiniões e expressar o que pensa e sente de maneira
coerente e criativa? Nesta unidade propomos um trabalho com gênero textual conto.
Você sabe o que é um conto? Já leu algum?
Os contos são textos nos quais temos a narração de uma história centrada
numa única complicação. A história é breve, com tempo e espaço reduzidos, e as
poucas personagens existem em função de um núcleo. É o relato de uma situação
ocorrida na vida das personagens. O tempo pode ser cronológico ou psicológico, e o
caráter, real ou fantástico. Fácil de ler possui uma linguagem rica em sentidos e
minuciosamente trabalhada pelo autor.
Você já imaginou quantos lugares, épocas e pessoas pode conhecer e
quantas aventuras pode viver lendo um conto? Pois é! Eu convido você a embarcar
nesta viagem. Leia os contos que propomos a seguir. Aprenda mais com eles.
Conheça os autores.
Quem não gosta de ouvir uma boa história? As histórias fazem parte de nossa
de nossa vida. Compartilhamos nossas experiências num encontro com amigos ou
com a família. Todos nós temos histórias para contar, que podem ser contadas
oralmente ou por escrito. Os contos são um gênero escrito dessas histórias e
versam sobre vários temas em diferentes estilos. Vocês lerão contos que falam
sobre o amor, estudarão sobre as características desse tipo de gênero para depois
comporem o seu próprio conto que será divulgado no blog que criaremos para
turma. Além disso, você participará do blog postando comentários a respeito de
cada autor e conto estudado. E também postará uma sinopse das histórias de amor
que descobrirá em suas entrevistas. Sabia que o autor Luiz Vilela escreveu seu
primeiro conto quando tinha apenas treze anos? Você também pode começar a
escrever contos.
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3. APRESENTAÇÃO DO GÊNERO
3.1 O PRIMEIRO BEIJO
Para começar, uma mestra em escrever contos: Clarice Lispector!
http://www.flickr.com/photos/aclbraga/2329915883/sizes/m/in/photostream/
Clarice Lispector é o principal nome de uma tendência intimista da moderna literatura brasileira. Sua obra apresenta como principal eixo o questionamento do ser, o “estar-no-mundo”, o intimismo, a pesquisa do ser humano, resultando no chamado romance introspectivo. “Não tem pessoas que cosem para fora? Eu coso para dentro”, assim explicava a autora o seu ato de escrever.
http://www.algosobre.com.br/resumos-literarios/o-primeiro-beijo-e-outros-contos.html
PROFESSOR: É IMPORTANTE SEMPRE ANTES DA LEITURA ATIVAR CONHECIMENTO
PRÉVIO SOBRE O ASSUNTO, OBSERVAR O CONTEXTO DE PRODUÇÃO E LEVANTAR
HIPÓTESES SOBRE O TEXTO A SER LIDO, TUDO ISSO FACILITA NA COMPREENSÃO DO
TEXTO.
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Preparando para a leitura:
A adolescência é uma fase da vida que experimentamos novas sensações e
emoções. É um período de grandes descobertas. Começamos a olhar para o outro
de maneira especial, a percebê-lo como nunca antes o havíamos percebido. A
querer estar com ele, a respiração ofegante, o coração batendo acelerado, sentir
aquele friozinho na barriga. Quantos de vocês já não passaram por esta
experiência? Já quiseram compartilhar com alguém? Ou alguém já partilhou esta
experiência com você? Você já leu alguma história relatando sobre esta
experiência?
Análise do contexto de produção:
1. O que você sabe sobre Clarice Lispector? Você pode descobrir mais sobre ela no site www.releituras.com.br __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
2. Já leu outros contos ou outras obras que ela escreveu? Quais?______________________________________________________________________________________________________________________
3. Quem a autora tinha em mente como provável leitor de seu conto (público-alvo)?_________________________________________________________
4. Onde os contos geralmente são publicados?
( ) jornais ( ) revistas ( ) livros
Clarice Lispector escreveu um conto intitulado “O primeiro beijo”, no qual ela conta a experiência de um jovem adolescente ao dar o primeiro beijo. Agora faremos uma leitura silenciosa do conto. O conto pode ser lido na íntegra em:
LISPECTOR, Clarice. O primeiro beijo e outros contos. 6. ed São Paulo: Editora
Ática,1992.p.20-22
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5. Quando foi publicado o conto “O primeiro beijo”? O que você sabe sobre esta época? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
6. Qual seria a intenção da autora ao escrever este conto? a) Refletir
b) Compartilhar
c) Divertir
d) Criticar
7. Qual é o tema central do texto?
_________________________________________________________________
Caracterização do gênero:
Avalie o conto de Clarice Lispector que você acaba de ler:
1. O narrador participa da história ou conta simplesmente os fatos observados? Temos um narrador em 1ª ou 3ª pessoa? Retire trechos do texto que comprovem sua afirmação.
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Foco narrativo, ou ponto de vista, é o elemento estrutural da narrativa
que compreende a perspectiva através da qual se conta uma história. É,
basicamente, a posição com a qual o narrador, enquanto instância
narrante ou voz que articula a narração, conta a história. Os pontos de
vista mais conhecidos são dois: Narrador-Observador e Narrador-
Personagem.
O Narrador-Observador é aquele que conta a história através de uma
perspectiva de fora da história, isto é, ele não se confunde com nenhum
dos personagens. Este foco narrativo se dá, predominantemente, em
terceira pessoa.
O Narrador-Personagem é aquele que conta a história através de uma
perspectiva de dentro da história, isto é, ele, de alguma forma participa
do enredo, sendo um dos personagens da história, usando a Primeira
Pessoa (eu ou nós) para contar a história.
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2. Quem são as personagens? Caracterize-as. ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
3. No conto de Clarice Lispector, ao reproduzir as falas das personagens, a autora se utiliza do discurso direto ou indireto? Exemplifique com um trecho do texto.
_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
4. O flash-back é uma técnica narrativa que tem por característica o fato de voltar no tempo. Costuma ocorrer quando a personagem deseja lembrar a outra personagem (ou ao leitor) fatos relevantes que ocorreram em um tempo anterior à narrativa. Indique um trecho que corresponda ao presente e outro que corresponda às lembranças do protagonista.
Presente:________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Lembranças do protagonista:___________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Em uma narrativa, o narrador pode apresentar as falas das personagens através
do discurso direto ou indireto.
No discurso direto, conhecemos a personagem através de suas próprias palavras.
Para construir o discurso direto, usamos o travessão e certos verbos especiais
que chamamos de verbos "de dizer" ou verbos dicendi. São exemplo de verbos
dicendi os verbos falar, dizer, responder, retrucar, indagar, etc...
- Anda condenado do diabo, gritou-lhe o pai. No discurso indireto, o narrador "conta" o que a personagem disse. Conhecemos
suas palavras indiretamente. A passagem mencionada acima ficaria assim:
"O pai gritou-lhe que andasse, chamando-o de condenado do diabo."
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5. Onde e quando se passam os fatos narrados? ____________________________________________________________________________________________________________________________
Atividades de leitura:
1. Ao iniciar a leitura da narrativa podemos perceber como se sentem as personagens. Que sentimento é este? Por que se sentem assim? ______________________________________________________________
2. O que a namorada quer saber sobre o namorado? O que esta revelação provoca nela? ____________________________________________________________________________________________________________________________
3. “O amor com tudo que vem junto: o ciúme”. Você concorda que o ciúme é um sentimento que acompanha o amor? Explique. __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
4. Faça uma relação de outros sentimentos que acompanham o amor. __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
5. O que as ações do protagonista, durante a excursão, revelam sobre sua idade? ______________________________________________________________
6. Transcreva do texto palavras e expressões usadas que caracterizam o protagonista como um animal. ____________________________________________________________________________________________________________________________
7. O que ele sente ao sorver a água? ____________________________________________________________________________________________________________________________
8. O que o protagonista sente ao tomar consciência de que beijara a boca de uma estátua de mulher? ____________________________________________________________________________________________________________________________
9. Por que, em sua opinião, a personagem se assusta e sente orgulho quando descobre que se tornara homem? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
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3.2 UNS BRAÇOS
Com vocês, mais um mestre em transformar palavras em obra de arte: Machado de Assis
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/39/Machado-450.jpg
Um pouco sobre Machado de Assis Um dos maiores escritores da Literatura Brasileira e para alguns estudiosos ele é,
simplesmente , o maior nome da nossa literatura. Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no Rio de Janeiro em 21 de junho de 1839 e morreu na mesma cidade em 1908. Mestiço e de origem humilde (tinha apenas o primário), alcançou alta posição como funcionário público e ganhou respeito e consideração das pessoas numa época difícil (a escravidão no Brasil). Casou-se em 1869 com uma portuguesa chamada Carolina Xavier, que foi sua companheira até a morte e que muito o estimulou na carreira literária. Nunca tiveram filhos e após a morte da esposa, Machado de Assis viveu seus últimos dias mergulhado em tristeza e solidão. Sua esposa inspirou a personagem Dona Carmo de “Memorial de Aires”. Machado foi o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras, inclusive foi um dos fundadores, em 1897. É mais conhecido pelos seus contos e romances, mas também escreveu poesias, peças teatrais, crônicas e críticas literárias.
Machado de Assis, ao analisar psicologicamente as personagens, entra na alma de cada um deles, trazendo todos os defeitos da conduta humana (egoísmo, luxúria, vaidade, etc). As atitudes boas e honestas, no fundo, nada mais são do que uma máscara que esconde as verdadeiras intenções das personagens (orgulho, cobiça, etc), revelando toda a hipocrisia que existe nos seres humanos.
O humor machadiano é repleto de pessimismo e ironia. A vida nada mais é do que um palco onde os homens lutam entre si para realizar seus desejos de riqueza e ostentação e a religião não passa de uma máscara para esconder as podridões das pessoas. Outra característica é não-linearidade da narrativa. Somente a análise da consciência dará sentido aos fatos.
http://www.infoescola.com/literatura/machado-de-assis/
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Preparando para a leitura:
O título cria expectativas sobre o tema? Sobre o que falaríamos num conto
cujo título é “Uns braços”?Liste pelo menos dez ações que você julgue que podem
acontecer neste conto?
Agora que já listamos dez possíveis ações que poderiam acontecer no conto
por meio do título, faremos uma leitura silenciosa do conto.
Uns braços
Inácio estremeceu, ouvindo os gritos do solicitador, recebeu o prato que este
lhe apresentava e tratou de comer, debaixo de uma trovoada de nomes, malandro,
cabeça-de-vento, estúpido, maluco.
- Onde anda que nunca ouve o que lhe digo? Hei de contar tudo a seu pai,
para que lhe sacuda a preguiça do corpo com uma boa vara de marmelo, ou um
pau; sim, ainda pode apanhar, não pense que não. Estúpido! Maluco!
- Olhe que lá fora é isto mesmo que você vê aqui – continuou, voltando-se
para D. Severina, senhora que vivia com ele maritalmente, há anos. – Confunde-me
os papéis todos, erra as casas, vai a um escrivão em vez de ir a outro, troca os
advogados: é o diabo! É o tal sono pesado contínuo. De manhã é o que se vê;
primeiro que acorde é preciso quebrar-lhe os ossos... Deixe; amanhã hei de acordá-
lo a pau de vassoura!
D. Severina tocou-lhe no pé, como pedindo que acabasse. Borges espeitorou
ainda alguns impropérios, e ficou em paz com Deus e os homens.
Não digo que ficou em paz com os meninos, porque nosso Inácio não era
propriamente um menino. Tinha quinze anos feitos e bem feitos. Cabeça inculta,
mas bela, olhos de rapaz que sonha, que adivinha, que indaga, que quer saber e
não acaba de saber nada. Tudo isto posto sobre um corpo não destituído de graça,
ainda que mal vestido. O pai é barbeiro na Cidade Nova, e pô-lo de agente,
escrevente, ou que quer que era, do solicitador Borges, com esperança de vê-lo no
foro, porque lhe parecia que os procuradores de causas ganhavam muito. Passava-
se isto na Rua da Lapa, em 1870.
Durante alguns minutos não se ouvia mais que o tinir dos talheres e o ruído
da mastigação. Borges abarrotava-se de alface e vaca; interrompia-se para virgular
a oração com um gole de vinho e continuava logo calado.
Inácio ia comendo devagarinho, não ousando levantar os olhos do prato, nem
para colocá-los onde eles estavam no momento em que o terrível Borges o
descompôs. Verdade é que seria agora muito arriscado. Nunca ele pôs os olhos nos
braços de D. Severina que se não esquecesse de si e de tudo.
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Também a culpa era antes de D. Severina em trazê-los assim nus,
constantemente. Usava mangas curtas em todos os vestidos de casa, meio palmo
abaixo do ombro; dali em diante ficavam-lhe os braços à mostra. Na verdade, eram
belos e cheios, em harmonia com a dona, que era antes grossa do que fina, e não
perdiam a cor nem a maciez por viverem ao ar; mas é justo explicar que ela não os
trazia assim por faceira, senão porque já gastara todos os vestidos de mangas
compridas. De pé, era muito vistosa; andando, tinha meneios engraçados; ele,
entretanto, quase que só a via à mesa, onde, além dos braços, mal poderia mirar-lhe
o busto. Não se pode dizer que era bonita; mas também não era feia. Nenhum
adorno; o próprio penteado consta de mui pouco; alisou os cabelos, apanho-os,
atou-os e fixou-os no alto da cabeça com o pente de tartaruga que a mãe lhe deixou.
Ao pescoço, um lenço escuro; nas orelhas nada. Tudo isso com vinte e sete anos
floridos e sólidos.
Acabaram de jantar. Borges, vindo o café, tirou quatro charutos da algibeira,
comparou-os, apertou-os entre os dedos, escolheu um e guardou os restantes.
Aceso o charuto, fincou os cotovelos na mesa e falou a D. Severina de trinta mil
coisas que não interessavam nada ao nosso Inácio, mas enquanto falava, não o
descompunha e ele podia devanear à larga.
Inácio demorou o café o mais que pode. Entre um e outro gole, alisava a
toalha, arrancava dos dedos pedacinhos de pele imaginários, ou passava os olhos
pelos quadros da sala de jantar, que eram dois, um S. Pedro e um S. João, registros
trazidos de festas e encaixilhados em casa. Vá que disfarçasse com S. João, cuja
cabeça moça alegra as imaginações católicas; mas com o austero S. Pedro era
demais. A única defesa do moço Inácio é que ele não via nem um nem outro;
passava os olhos por ali como por nada. Via só os braços de D. Severina – ou
porque sorrateiramente olhasse para eles, ou porque andasse com eles impressos
na memória.
- Homem, você não acaba mais? – bradou de repente o solicitador.
Não havia remédio; Inácio bebeu a última gota, já fria, e retirou-se, como de
costume, para o seu quarto, nos fundos da casa. Entrando, fez um gesto de zanga e
desespero e foi depois encostar-se a uma das duas janelas que davam para o mar.
Cinco minutos depois, a vista das águas próximas e das montanhas ao longe
restituía-lhe o sentimento confuso, vago, inquieto, que lhe doía e fazia bem, alguma
coisa que deve sentir a planta, quando abotoa a primeira flor. Tinha vontade e de ir
embora e ficar. Havia cinco semanas que ali morava, e a vida era sempre a mesma,
sair de manhã com o Borges, andar por audiências e cartórios, correndo, levando
papéis ao selo, ao distribuidor, aos escrivães, aos oficiais de justiça. Voltava à tarde,
jantava e recolhia-se ao quarto, até a hora da ceia; ceava e ia dormir. Borges não
lhe dava intimidade na família, que se compunha apenas de D. Severina, nem Inácio
a via mais de três vezes por dia, durante as refeições. Cinco semanas de solidão, de
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trabalho sem gosto, longe da mãe e das irmãs; cinco semanas de silêncio, porque
ele só falava uma vez ou outra na rua; em casa, nada.
“Deixa estar”, pensou ele, “um dia fujo daqui não volto mais”
Não foi; sentiu-se agarrado e acorrentado pelos braços de D. Severina. Nunca
vira outros tão bonitos e tão frescos. A educação que tivera não lhe permitia encará-
los logo abertamente, parece até que a princípio afastava os olhos, vexado.
Encarou-os pouco a pouco, ao ver que eles não tinham outras mangas, e assim os
foi descobrindo, mirando e amando. No fim de três semanas eram eles, moralmente
falando, as suas tendas de repouso. Aguentava toda a trabalheira de fora, toda a
melancolia da solidão e do silêncio, toda a grosseria do patrão, pela única paga de
ver, três vezes por dia, o famoso par de braços.
Naquele dia, enquanto a noite ia caindo e Inácio estirava-se na rede (não
tinha ali outra cama), D. Severina, na sala da frente, recapitulava o episódio do
jantar e, pela primeira vez, desconfiou alguma coisa. Rejeitou a ideia logo, uma
criança! Mas há ideias que são da família das moscas teimosas: por mais que a
gente as sacuda, elas tornam e pousam. Criança? Tinha quinze anos; e ela advertiu
que entre o nariz e a boca do rapaz havia um princípio de rascunho de buço. Que
admira começasse a amar? E não era ela bonita? Esta outra ideia não foi rejeitada,
antes afagada e beijada. E recordou então os modos dele, os esquecimentos, as
distrações, e mais um incidente, e mais outro, tudo eram sintomas, e concluiu que
sim.
- Que é que você tem? – disse-lhe o solicitador, estirado no canapé, ao cabo
de alguns minutos de pausa.
- Não tenho nada.
- Nada? Parece que cá em casa anda tudo dormindo! Deixem estar, que eu
sei de um bom remédio para tirar o sono aos dorminhocos...
E foi por ali, no mesmo tom zangado, fuzilando ameaças, mas realmente
incapaz de as cumprir, pois era antes grosseiro que mau. D. Severina interrompia-o
que não, que era engano, não estava dormindo, estava pensando na comadre
Fortunata. Não a visitavam desde o natal; por que não iriam lá uma daquelas noites?
Borges redarguiu que andava cansado, trabalhava como um negro, não estava para
visitas de parola; e descompôs a comadre, descompôs o compadre, descompôs o
afilhado, que não ia ao colégio, com dez anos! Ele, Borges , com dez anos , já sabia
ler, escrever e contar , não muito bem, é certo, mas sabia. Dez anos! Havia de ter
um bonito fim: - vadio, e o côvado e meio nas costas. A tarimba que havia de ensiná-
lo.
D. Severina apaziguava-o com desculpas, a pobreza da comadre, o
caiporismo do compadre, e fazia-lhe carinhos, a medo, que eles podiam irritá-lo
mais. A noite caíra de todo; ela ouviu o tlic do lampião de gás da rua, que acabavam
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de acender, e viu o clarão dele nas janelas da casa fronteira. Borges, cansado do
dia, pois era realmente um trabalhador de primeira ordem, foi fechando os olhos e
pegando no sono, e deixou-a só na sala, às escuras, consigo e com a descoberta
que acabava de fazer.
Tudo parecia dizer à dama que era verdade; mas essa verdade, desfeita a
impressão do assombro, trouxe-lhe uma complicação moral, que ela só conheceu
pelos efeitos, não achando meio de discernir o que era. Não podia entender-se nem
equilibrar-se, chegou a pensar em dizer tudo ao solicitador, e ele que mandasse
embora o fedelho. Mas que era tudo? Aqui estacou: realmente, não havia mais que
suposição, coincidência e possivelmente ilusão. Não, não, ilusão não era. E logo
recolhia os indícios vagos, as atitudes do mocinho, o acanhamento, as distrações,
para rejeitar a ideia de estar enganada. Daí a pouco, (capciosa natureza!) refletindo
que seria mal acusá-lo sem fundamento, admitiu que se iludisse, para o único fim de
observá-lo melhor e averiguar bem a realidade das coisas.
Já nessa noite, D. Severina mirava por baixo dos olhos os gestos de Inácio;
não chegou a achar nada, porque o tempo do chá era curto e o rapazinho não tirou
os olhos da xícara. No dia seguinte pode observar melhor, e nos outros otimamente.
Percebeu que sim, que era amada e temida, amor adolescente e virgem, retido
pelos liames sociais e por um sentimento de inferioridade que o impedia de
reconhecer-se a si mesmo. D. Severina compreendeu que não havia recear nenhum
desacato, e concluiu que o melhor era não dizer nada ao solicitador, poupava-lhe um
desgosto, e outro à pobre criança. Já se persuadia bem que ele era criança, e
assentou de o tratar tão secamente como até ali, ou ainda mais. E assim fez; Inácio
começou a sentir que ela fugia com os olhos, ou falava áspero, quase tanto quanto o
próprio Borges. De outras vezes, é verdade que o tom da voz saía brando e até
meigo, muito meigo; assim como o olhar, geralmente esquivo, tanto errava por
outras partes , que para descansar, vinha pousar na cabeça dele; mas tudo isso era
curto.
- Vou-me embora – repetia ele na rua como nos primeiros dias.
Chegava a casa e não se ia embora. Os braços de D. Severina fechavam-lhe
um parêntesis no meio do longo e fastidioso período da vida que levava, e essa
oração intercalada trazia uma ideia original e profunda, inventada pelo céu
unicamente para ele. Deixava-se estar e ia andando. Afinal, porém, teve de sair, e
para nunca mais; eis aqui como e porquê.
D. Severina tratava-o desde alguns dias com benignidade. A rudeza da voz
parecia acabada, e havia mais do que brandura, havia desvelo e carinho. Um dia
recomendava-lhe que não apanhasse ar, outro que não bebesse água fria depois do
café quente, conselhos, lembranças, cuidados de amiga e mãe, que lhe lançaram na
alma ainda maior inquietação e confusão. Inácio chegou ao extremo de confiança de
rir um dia à mesa, coisa que jamais fizera; e o solicitador não o tratou mal dessa vez,
porque era ele que contava um caso engraçado e ninguém pune a outro pelo
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aplauso que recebe. Foi então que D. Severina viu que a boca do mocinho, graciosa
estando calada, não o era menos quando ria.
A agitação de Inácio ia crescendo, sem que ele pudesse acalmar-se nem
entender-se. Não estava bem em parte nenhuma. Acordava de noite, pensando em
D. Severina. Na rua, trocava de esquinas, errava as portas, muito mais que dantes,
e não via mulher, ao longe ou ao perto, que lha não trouxesse à memória. Ao entrar
no corredor da casa, voltando do trabalho, sentia sempre algum alvoroço, às vezes
grande, quando dava com ela no topo da escada, olhando pelas grades de pau da
cancela, como tendo acudido a ver quem era.
Um domingo – nunca ele esqueceu esse domingo – estava só no quarto, à
janela, virado para o mar, que lhe falava a mesma linguagem obscura e nova de D.
Severina. Divertia-se em olhar para as gaivotas, que faziam grandes giros no ar, ou
pairavam em cima d‟água, ou avoaçavam somente. O dia estava lindíssimo. Não era
só um domingo cristão; era um imenso domingo universal.
Inácio passava-os todos ali no quarto ou à janela, ou relendo um dos três
folhetos que trouxera consigo, contos de outros tempos, comprados a tostão,
debaixo do passadiço do largo do Paço. Eram duas horas da tarde. Estava cansado,
dormira mal a noite, depois de haver andado muito na véspera; estirou-se na rede,
pegou em um dos folhetos, a Princesa Magalona, e começou a ler. Nunca pode
entender por que é que todas as heroínas dessas velhas histórias tinham a mesma
cara e talhe de D. Severina, mas a verdade é que os tinham. Ao cabo de meia hora,
deixou cair o folheto e pôs os olhos na parede, donde, cinco minutos depois, viu sair
a dama dos seus cuidados. O natural era que se espantasse; mas não se espantou.
Embora com as pálpebras cerradas, viu-a desprender-se de todo, parar, sorrir e
andar para a rede. Era ela mesma; eram os seus mesmos braços.
É certo, porém, que D. Severina, tanto não podia sair da parede, dado que
houvesse ali porta ou rasgão, que estava justamente na sala da frente ouvindo os
passos do solicitador que descia as escadas. Ouviu-o descer; foi à janela vê-lo sair e
só se recolheu quando ele se perdeu ao longe, no caminho da Rua das Mangueiras.
Então entrou e foi sentar-se no canapé. Parecia fora do natural, inquieta, maluca;
levantando-se, foi pegar na jarra que estava em cima do aparador e deixou-a no
mesmo lugar; depois caminhou até à porta, deteve-se e voltou, sem plano. Sentou-
se outra vez, cinco ou dez minutos. De repente lembrou-se que Inácio comera
pouco ao almoço e tinha o ar abatido, e advertiu que podia estar doente; podia ser
até que estivesse muito mal.
Saiu da sala, atravessou rasgadamente o corredor e foi até o quarto do
mocinho, cuja porta achou escancarada. D. Severina parou, espiou, deu com ele na
rede, dormindo, com o braço para fora e o folheto caído no chão. A cabeça
inclinava-se um pouco do lado da porta, deixando os olhos fechados, os cabelos
revoltos e um grande ar de riso e de beatitude.
17
D. Severina sentiu bater-lhe o coração com veemência e recuou. Sonhara de
noite com ele; pode ser que ele estivesse sonhando com ela. Desde madrugada que
a figura do mocinho andava-lhe diante dos olhos como uma tentação diabólica.
Recuou ainda, depois voltou, olhou dois, três, cinco minutos, ou mais. Parece que o
sono dava à adolescência de Inácio uma expressão mais acentuada, quase
feminina, quase pueril. Uma criança! Disse ela a si mesma, naquela língua sem
palavras que todos trazemos conosco. E esta ideia abateu-lhe o alvoroço do sangue
e dissipou-lhe em parte a turvação dos sentidos.
- Uma criança!
E mirou-o lentamente, fartou-se de vê-lo, com a cabeça inclinada, o braço
caído; mas, ao mesmo tempo que o achava criança, achava-o bonito, muito mais
bonito que acordado, e uma dessas ideias corrigia ou corrompia a outra. De repente
estremeceu e recuou assustada: ouvira um ruído ao pé, na saleta do engomado; foi
ver, era um gato que deitara uma tigela ao chão. Voltando devagarinho a espiá-lo,
viu que dormia profundamente. Tinha sono duro a criança! O rumor que a abalara
tanto, não o fez sequer mudar de posição. E ela continuou a vê-lo dormir – dormir e
talvez sonhar.
Que não possamos ver os sonhos uns dos outros! D. Severina ter-se-ia visto
a si mesma na imaginação do rapaz; ter-se-ia visto diante da rede, risonha e parada;
depois inclinar-se, pegar-lhe nas mãos, levá-las ao peito, cruzando ali os braços, os
famosos braços. Inácio, namorado deles, ainda assim ouvia as palavras dela, que
eram lindas, cálidas, principalmente novas – ou, pelo menos, pertenciam a algum
idioma que ele não conhecia, posto que o entendesse. Duas, três e quatro vezes a
figura esvaía-se, para tornar logo, vindo do mar ou de outra parte, entre gaivotas, ou
atravessando o corredor, com toda a graça robusta de que era capaz. E tornando,
inclinava-se, pegava-lhe outra vez das mãos e cruzava ao peito os braços, até que,
inclinando-se, ainda mais, muito mais, abrochou os lábios e deixou-lhe um beijo na
boca.
Aqui o sonho coincidiu com a realidade, e as mesmas bocas uniram-se na
imaginação e fora dela. A diferença é que a visão não recuou, e a pessoa real tão
depressa cumprira o gesto, como fugiu até à porta, vexada e medrosa. Dali passou à
sala da frente, aturdida do que fizera, sem olhar fixamente para nada. Afiava o
ouvido, ia até o fim do corredor, a ver se escutava algum rumor que lhe dissesse que
ele acordara, e só depois de muito tempo é que o medo foi passando. Na verdade a
criança tinha o sono duro; nada lhe abria os olhos, nem os fracassos contíguos, nem
os beijos da verdade. Mas, se o medo foi passando, o vexame ficou e cresceu. D.
Severina não acabava de crer que fizesse aquilo; parece que embrulhara os seus
desejos na ideia de que era uma criança namorada que ali estava, sem consciência
nem imputação; e meia mãe, meia amiga, inclinara-se e beijara-o. Fosse como
fosse, estava confusa, irritada, aborrecida, mal consigo e mal com ele. O medo de
que ele podia estar fingindo que dormia apontou-lhe na alma e deu-lhe um calafrio.
18
Mas a verdade é que dormiu ainda muito, é só acordou para jantar. Sentou-se
à mesa lépido. Conquanto achasse D. Severina calada e severa e o solicitador tão
ríspido como nos outros dias, nem a rispidez de um, nem a severidade da outra
podiam dissipar-lhe a visão graciosa que ainda trazia consigo, ou amortecer-lhe a
sensação do beijo. Não reparou que D. Severina tinha um xale que lhe cobria os
braços; reparou depois, na segunda feira, e na terça-feira, também, e até sábado,
que foi o dia em que Borges mandou dizer ao pai que não podia ficar com ele; e não
o fez zangado, porque o tratou relativamente bem e ainda lhe disse à saída:
- Quando precisar de mim para alguma coisa, procure-me.
- Sim, senhor. A Srª D. Severina...
- Está lá para o quarto, com muita dor de cabeça. Venha amanhã ou depois
despedir-se dela.
Inácio saiu sem entender nada. Não entendia a despedida, nem a completa
mudança de D. Severina, em relação a ele, nem o xale, nem nada. Estava tão bem!
Falava-lhe com tanta amizade! Como é que de repente... Tanto pensou que acabou
supondo de sua parte algum olhar indiscreto, alguma distração que a ofendera; não
era outra coisa; e daqui a cara fechada e o xale que cobria os braços tão bonitos...
Não importa; levava consigo o sabor do sonho. E através dos anos, por meio de
outros amores, mais efetivos e longos, nenhuma sensação achou nunca igual á
daquele domingo, na Rua da Lapa, quando ele tinha quinze anos. Ele mesmo
exclama às vezes, sem saber que se engana:
- E foi um sonho! Um simples sonho!
ASSIS, Machado de. O alienista e outros contos. São Paulo: Moderna, 2005.p.67-
72.
19
Análise do contexto de produção:
1. Você já conhecia o escritor Machado de Assis? O que sabe sobre ele?
Comente.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
2. Já leu ou ouviu falar de outras obras do autor? Comente.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
3. Quando e onde se passa a história narrada? O que você sabe sobre aquela
época?
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
4. Na época de Machado de Assis em qual veículo eram publicados os
contos?________________________________________________________
5. Geralmente os contos são produzidos e se relacionam com alguma temática
em nosso cotidiano. Nesse sentido, com que temática se relaciona o conto
„Uns braços”?
______________________________________________________________
______________________________________________________________
6. Conforme sua organização, podemos dizer que o conto “Uns braços” é um
conto:
a) Realista b) Misterioso c) Religioso
Caracterização do gênero:
1. Quem são as personagens? Transcreva as palavras ou expressões que são usadas para descrevê-las.
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
20
2. Em relação ao enredo, como os fatos estão organizados? No retângulo abaixo de cada item da sequência, escreva os principais fatos que compõem a narrativa.
a) Apresentação / estado de equilíbrio (contexto inicial da história)
b) Problema/fato novo (algo diferente, uma possibilidade não esperada)
A estrutura do enredo
Apresentação: Geralmente coincide com o início da história; é o momento em
que o narrador apresenta os fatos iniciais, as personagens e, às vezes, o tempo
e o espaço.
Problema/fato novo: fato ou elemento que rompe com a harmonia inicial e
direciona a narrativa: dificuldade, problema, fato inesperado.
Ações decorrentes do fato novo: o que acontece devido à intervenção do fato
novo; são as ações das personagens para resolver o problema.
Clímax: Fato/elemento que precipita/determina o desfecho; é o momento
culminante da história, ou seja, aquele de maior tensão, no qual o conflito atinge
seu ponto máximo.
Desfecho: é a solução do conflito, que pode ser surpreendente, trágica, cômica,
etc., e corresponde ao final da história.
Adaptado de:
FONTANA, Niura MariA;PAVIANI, N.M.S;PRESSANTO, I.M.P. Práticas de linguagem: gêneros discursivos e interação. Caxias do Sul, RS: Educs,2009.p.151.
Adaptado de: FONTANA, N. M. A; PAVIANI, N. M. S.; PRESSANTO, I. M. P. Práticas de linguagem: gêneros discursivos e interação. Caxias do Sul, RS: Educs, 2009. p.151.
21
c) Ações decorrentes do fato novo (providências, procedimentos das personagens)
d) Clímax/ponto culminante da história (acontecimento mais importante)
e) Desfecho (conclusão da narrativa)
3. No final da narrativa, a reação da personagem Inácio é compatível com o
contexto?______________________________________________________
4. O narrador do texto “Uns braços” é observador onisciente. É um narrador em
terceira pessoa. Retire do texto palavras (Verbos ou pronomes) que
comprovem essa afirmação.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
22
Atividades de leitura
1. Qual o efeito provocado pelo verbo “estremecer” logo na primeira linha do conto? O que este verbo pode revelar sobre a relação entre as personagens Inácio e o solicitador Borges?
( ) Relação de respeito e admiração
( ) Relação de amor e carinho
( ) Relação de desprezo e indignação
( ) Relação de poder e medo
2. Ao ler o conto quem nos informa sobre os pensamentos e ações das personagens Inácio e Dona Severina é o narrador onisciente . Não há voz ativa de nenhum deles. O que pode significar esse silêncio, essa ausência de voz dessas personagens?
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
3. Com base nas ações, nos pensamentos das personagens e na fala do Solicitador Borges, responda:
a) Qual era a visão que a sociedade da época tinha em relação ao adolescente?
___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
b) Qual o papel da mulher nesta sociedade em relação ao homem? __________________________________________________________________________________________________________________
4. Faça um paralelo levantando as principais características dos adolescentes na época em que o conto foi escrito e nos dias atuais.
1870 2011
23
5. É possível alguém se apaixonar pelos braços de outra pessoa como acontece nessa história? _________________________________________________
6. Inácio tem 15 anos e D.Severina 27. O que representaria uma relação amorosa entre os dois nos dias atuais? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
7. Retire do texto palavras ou expressões que revelam os sentimentos de Inácio em relação à Dona Severina. ____________________________________________________________________________________________________________________________
8. Como se sentia Dona Severina em relação a Inácio? Transcreva do texto palavras ou expressões que comprovem a sua resposta. ____________________________________________________________________________________________________________________________
Atividade de análise linguística
Metonímia
1. Se o título fosse “Dona Severina” ou “Mulher”, o efeito seria o mesmo? Explique.
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
2. Pesquise outros exemplos do emprego de metonímias em que ocorra a substituição da parte pelo todo. Observe outro exemplo e continue.
Os moradores do Rio de Janeiro, depois das enchentes, ficaram sem teto.
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
No título “Uns braços”, o autor empregou um recurso de linguagem chamado metonímia. É o recurso de linguagem que consiste na substituição de um termo por outro por possuírem uma relação de contiguidade. No título nós temos a substituição do todo (corpo, pessoa) pela parte (braços).
24
3.3 EU ESTAVA ALI DEITADO
Vamos lá, mais um conto. Agora é a vez de Luiz Vilela!
http://editora.cosacnaify.com.br/Upload/Participante/4/4/9/luiz_vilela.jpg
Um pouco sobre o autor
Sétimo e último filho de um engenheiro agrônomo e de uma normalista, Luiz Vilela nasceu em Ituiutaba, Minas Gerais. Fez o primário e o ginásio no colégio dos padres estigmatinos de sua cidade. Começou a escrever aos treze anos e publicou alguns contos em jornais locais. Aos 15 anos, foi para Belo Horizonte, onde fez o clássico e se formou em filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Aos 21 anos criou outros jovens escritores, na capital Mineira, uma revista de contos, Estória, e um jornal literário de vanguarda, Texto. Em 1967, aos 24 anos, publicou, com recursos próprios, seu primeiro livro, Tremor de terra , e com ele ganhou o Prêmio Nacional de Ficção , em Brasília . Em 1968, mudou-se para São Paulo, capital, trabalhando como repórter e redator do Jornal da Tarde. No mesmo ano foi premiado no I Concurso Nacional de Contos, do Paraná, o que se repetiria no ano seguinte no II Concurso. Ainda em 1968 foi para os Estados Unidos, participar, como convidado, do International Writing Program. Depois viajou pela Europa e morou por algum tempo na Espanha. Em 1973 criou, em Belo Horizonte, a editora Liberdade e por ela publicou O fim de tudo, que veio a receber o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira de Livros. Seus contos figuram em diversas antologias e já foram publicados em várias línguas. Pai de uma filha, hoje vive em Ituiutaba, dedicando-se a escrever e criar vacas leiteiras em seu sítio.
25
Preparando para a leitura
O que poderia acontecer num conto cujo título é “Eu estava ali deitado”. A que nos
remete este título? Levante suposições a respeito. Por quais motivos alguém poderia
estar ali deitado? O título traz informações suficientes para que possamos descobrir,
de imediato, qual o assunto tratado por Luiz Vilela nesse conto? Justifique a sua
resposta fazendo suposições pertinentes. Do seu ponto de vista, o título deixa
entrever do que se trata ou é enigmático? Justifique sua resposta.
O texto para ser lido se encontra em: VILELA, Luiz. No bar. 2ed. São Paulo:Ática,
1984.p.13-15.
Análise do contexto de produção
1. O título do conto é pertinente em relação às ideias (assunto) apresentadas no texto? Argumente.
____________________________________________________________________________________________________________________________
2. Qual a temática desenvolvida?
____________________________________________________________________________________________________________________________
Caracterização do gênero:
1. Identifique os personagens que participam da narração dos fatos.
____________________________________________________________________________________________________________________________
2. Onde e quando as ações se desenvolvem?
______________________________________________________________
3. O que aconteceu à personagem Carlos?
____________________________________________________________________________________________________________________________
26
4. O que o emprego dos adjetivos fustigadas, quieto, triste, frágeis e assustadas revelam sobre o estado de espírito da personagem Carlos? Por que ele se sentia assim?
_____________________________________________________________
5. O foco narrativo é o ponto de vista assumido pelo autor para contar a história. Observe o foco narrativo do conto “Eu estava ali deitado” e responda:
a) Como o narrador conta o fato? Ele participa das ações ou conta fatos observados sobre outros?_________________________________________
b) Qual a importância da escolha desta perspectiva de narrar para a construção de sentido deste conto?_____________________________ ______________________________________________________________
6. O monólogo interior é a denominação do processo narrativo através do qual é possível perceber os pensamentos, anseios, impressões, obsessões e humanidade das personagens. Com base em elementos do texto pode-se dizer que este recurso foi utilizado? Transcreva do texto trechos que comprovem a sua resposta.
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Atividades de análise linguística
Luiz Vilela é um dos grandes representantes de escritores de contos
contemporâneos. Com seu estilo particular ele rompe com estruturas formais
consagradas criando uma forma peculiar de utilizar os recursos da língua
para criar e recriar a realidade. No conto “Eu estava ali deitado” não poderia
ser diferente. Vejamos.
1. Observe os trechos a seguir:
“... vento zunia lá fora e nas venezianas de meu quarto e de repente cessava
e tudo ficava tão quieto tão triste e de repente recomeçava e as roseiras
frágeis e assustadas irrompiam na vidraça...”
Neste trecho o autor utilizou um recurso de linguagem
denominado polissíndeto. É a figura que consiste em repetir
os conectivos entre orações dispostas em sequência.
27
Retire do texto outro exemplo do uso deste recurso
_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Agora observe este trecho
“...e eu estava ali o tempo todo estava em minha cama com minha blusa de lã as
mãos enfiadas no bolso os braços colados no corpo as pernas juntas estava de
sapatos mamãe não gostava que eu deitasse de sapatos...”
Retire do texto outro exemplo em que se empregou o assíndeto como recurso de linguagem.
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
2. Usando esses recursos, o autor procurou recriar um aspecto observado por ele sobre o momento narrado. Assinale a alternativa correta sobre esta afirmação.
( ) O texto procura representar um “fluxo de consciência”, ou seja, a livre-associação de ideias do narrador-personagem . Demonstrando que o narrador personagem estava suspirando de amores por sua namorada.
( ) O texto procura representar um “fluxo de consciência”, ou seja, a livre-associação de ideias do narrador-personagem. Demonstrando a angústia que ele sentia através de seus pensamentos.
Já neste outro trecho temos o recurso denominado assíndeto. Figura de
construção que consiste na omissão continuada de elementos de ligação
entre palavras, sintagmas ou frases, ao contrário do polissíndeto. O
assíndeto costuma aplicar-se concretamente à supressão da conjunção
coordenativa copulativa "e", que é substituída por uma vírgula ou outro
sinal de pontuação e tem como objetivo conferir dinamismo, vivacidade,
rapidez e ritmo ao discurso.
A falta de pontuação produz no discurso dúvida e truncamento quanto à
certeza das personagens. Pode-se creditar a isso a causa do sentimento
de angústia.
28
Você pode assistir a um vídeo em que Matheus Nachtergaele interpreta o conto “Eu
estava ali deitado” de Luiz Vilela no endereço
http://www.youtube.com/watch?v=Qv0f1H7DnTA
3.4 VENHA VER O PÔR-DO-SOL
Ler contos de Lygia Fagundes Telles é se enfeitiçar pelas frases exatas, pela economia de palavras, pelos finais surpreendentes. É também se deixar seduzir pela narrativa de forte tensão psicológica, à qual se acrescenta humor sutil nos momentos mais inesperados. É imaginar cenários tão bem construídos que se tornam iluminados por cores variadas; neles, as personagens se deslocam com a naturalidade que só uma grande autora é capaz de proporcionar.
http://www.aloartista.com/images/geral/%7B9094A6E5-516A-
4D2F-B236-04C517429D50%7D_lygia-fagundes-telles.jpg
Professor: sugerimos que o aluno só
assista ao vídeo após a leitura e análise
do texto.
29
Você aceitaria um convite para ver o pôr-do-sol? O que esta expressão pôr-do-sol
pode significar? Levante hipóteses sobre que tipo de personagens iremos encontrar,
onde eles estariam e como estariam se sentindo?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Você poderá ler o conto neste site http://saladeestudos.com/material/lygia-fagundes-
telles-venha-ver-o-por-do-sol.pdf
Ou lendo o conto no livro:
TELLES,Lygia Fagundes. Venha ver o pôr-do-sol. São Paulo: Ática, 1997. p.29-39.
Análise do contexto de produção
1. O que você achou desta história? As hipóteses que você levantou sobre o conto se confirmaram? Explique.
_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
http://farm5.static.flickr.com/4133/5191561505_888e759333.jpg
30
2. Pode-se dizer que a época retratada no conto é atual?
___________________________________________________________
Caracterização do gênero:
1. Em relação ao tema, o conto “Venha ver o pôr-do-sol” trata de:
a) Amor possessivo b) Luta do bem contra o mal c) Violência doméstica
2. Pode-se dizer que este conto é: a) De suspense
b) Realista
c) Psicológico
3. Quais são as personagens? Retire do texto palavras que descrevam as personagens.
____________________________________________________________________________________________________________________________
4. O narrador do texto é observador ou personagem? Justifique com palavras do texto.
____________________________________________________________________________________________________________________________
5. Em relação ao enredo, como os fatos estão organizados? No retângulo abaixo de cada item da sequência, escreva os principais fatos que compõem a narrativa.
a) Apresentação / estado de equilíbrio (contexto inicial da história)
b) Problema/fato novo (algo diferente, uma possibilidade não esperada)
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c) Ações decorrentes do fato novo (providências, procedimentos das personagens)
d) Clímax/ponto culminante da história (acontecimento mais importante)
e) Desfecho ( conclusão da narrativa)
6. Pode-se dizer, com certeza, que o desfecho desta história se dá com a morte da personagem Raquel? Argumente.
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
7. Escreva um final diferente para esta história.
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
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Atividades de leitura:
1. O narrador descreve a rua por onde Raquel caminha. A maneira como ela é descrita revela que é uma rua:
a) Simpática, cheia de vida b) Moderna, movimentada c) Afastada, deserta
2. Como Ricardo se sente em relação à separação de Raquel?
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
3. Por que Raquel aceitou o convite de Ricardo?
______________________________________________________________
4. Transcreva do texto palavras que caracterizam o cenário.
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
5. A descrição ajuda a criar um clima de suspense e mistério no conto? Justifique sua resposta.
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
6. Raquel, em algum momento, desconfiou da sinceridade de Ricardo? Comprove.
_____________________________________________________________
7. Em que momento Raquel descobre as verdadeiras intenções de Ricardo?
____________________________________________________________________________________________________________________________
8. Em sua opinião, o que leva as pessoas a irem até as últimas consequências por amor?
____________________________________________________________________________________________________________________________
33
3.5 UMA HISTÓRIA DE AMOR
http://1.bp.blogspot.com/-o5hHFakRJVM/Tbw7n-D_b0I/AAAAAAAAAQk/W5xe6bQgXgg/s1600/pellegrini.jpg
Nascido em Londrina (PR) em 1949, Pellegrini teve seu contato com a
literatura ainda criança. Filho de pioneiros daquela cidade, a mãe dona de
pensão e o pai barbeiro, foi entre esses dois espaços (a pensão e a
barbearia) que frequentemente ouvia com interesse causos e histórias dos
mais variados tipos sociais da época, como peões, caixeiros viajantes,
mascates e camelôs. Muitas de suas histórias, aliás, sugiram das lembranças
desses tantos casos.
Pellegrini em seus contos preza a densidade, a ação e a tensão dramática.
Seus contos são coisas contadas na velha “tradição” literária do começo, meio
e fim. Histórias envolventes cujo universalismo se revela no cotidiano simples,
no lirismo, nas ações de personagens, que se engrandecem no decorrer das
narrativas, nas relações pessoais que apresentam com naturalidade, na
natureza humana que se retrata por meio de uma linguagem clara e direta.
34
Uma história de amor – Domingos Pelligrini
PELLEGRINI, Domingos.Contos antológicos. Org. Leônidas Pellegrini. São Paulo:
Editora Nova Alexandria Ltda, 2006. p.89-102.
Preparando para a leitura
Você acredita na força do amor? Acredita que as pessoas são capazes de superar
preconceitos para viverem uma história de amor? A história do conto a seguir fala
desse tipo de superação. Que tipo de preconceito você acha que nossas
personagens vão superar para viverem essa história de amor?
_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Análise do contexto de produção
1. “Quando Londrina era a capital mundial do café...”. Nesta época a história se
passou. O que sabe sobre esta época?
____________________________________________________________________________________________________________________________
Caracterização do gênero:
1. Quem é o protagonista desta história? O que você sabe sobre ele? ____________________________________________________________________________________________________________________________
2. Onde se passam os fatos narrados? _________________________________
3. Quem narra a história? O narrador é em 1a. ou em 3a. pessoa? Justifique. __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
4. Ordene os fatos do texto. ( ) Vai ao escritório da Companhia de Terras.
( ) Nego-2 estava bêbado no Laura‟s.
( ) Entrega o dinheiro a Seu Domingos.
( ) Briga com policiais na pensão.
( ) Foge com Clara para Maringá.
( ) Chega a Londrina para comprar terra.
( ) Seu Domingos aconselha “-Vê então se fica longe de pinga, jogo e
mulher!”
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Atividades de leitura:
1. “...ele já sabia que malandro e polícia eram um perigo para um peão com
dinheiro”. O que levava Nego-2 a pensar assim?
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
2. O que ele resolveu fazer com todo dinheiro que trazia consigo?
______________________________________________________________
______________________________________________________________
3. Por que Seu Domingos se recusa a ficar com o dinheiro dos peões?
______________________________________________________________
______________________________________________________________
4. O que as ações do protagonista e de seus companheiros revelam sobre eles?
______________________________________________________________
______________________________________________________________
5. O que acontece no Laura‟s?
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
6. “Quando alguém queria tirar uma mulher da zona, ou mesmo quando alguém
ficava perdido de paixão, viraria mania dizer ih, baixou o Nego-2 nesse aí.”
Explique o sentido deste trecho.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
36
4. PRODUÇÃO INICIAL
A imaginação do ser humano é incrivelmente fértil, capaz de criar histórias
extraordinárias. A partir deste momento, você vai exercitar seu potencial imaginativo
para elaborar um conto que tenha como tema o amor.
Entreviste pessoas de sua família, de seu convívio social e descubra as
histórias de amor que eles viveram. Você pode se surpreender com essas histórias.
Selecione uma dessas histórias como fonte de inspiração para produzir seu conto.
Crie uma história envolvente usando sua imaginação. Invente outros nomes para
suas personagens e mãos à obra. Para contar a história, você pode assumir o papel
do narrador-personagem (narrá-la como personagem) ou narrador-observador
(narrando-a apenas como observador dos acontecimentos e não como
personagem). Produza o texto procurando usar criativamente a linguagem de
maneira que o leitor sinta-se atraído pela história de seu conto.
http://3.bp.blogspot.com/_mLjEbrlQvM0/TGpZ134_lWI/AAAAAAAA
ABs/kL6nHqPyQE4/s400/escrevendo.jpg
37
Quando acabar de escrever seu conto, troque com um colega de classe.
Fique atento para as observações que ele fizer. Elas podem auxiliá-lo a melhorar
sua produção.
Para ajudá-lo a avaliar seu conto, você pode usar o quadro abaixo e verificar
se consegue responder afirmativamente as questões:
1. Meu texto é um conto que narra uma história de amor?
2. Organizei bem os elementos e as partes da narrativa (apresentação,
complicação, clímax e desfecho) de modo a construir um todo
harmonioso?
3. Lancei mão de recursos expressivos (flashback, monólogo interior,
metonímia, entre outros recursos) para relatar os fatos e organizar as
ideias?
4. Explorei formas para reproduzir a fala das personagens, como discurso
direto e características da língua para dar mais vivacidade ao conto?
5. De acordo com a escolha do narrador (em 1ª ou 3ª pessoa) fiz a
adequada concordância entre pronomes e verbos?
6. Fiquei atento ao entrelaçar os elementos que vão construir a narrativa e
aos recursos de linguagem usados para ligar palavra a palavra, oração
a oração, parágrafo a parágrafo, ideia a ideia?
7. Realizei uma revisão gramatical para evitar falhas de ortografia,
acentuação, pontuação, conjugação dos verbos, etc?
Adaptado de: CORDEIRO,I. C.; FERREIRA, G.; KASTER,M. A .A. ;MARQUES, M.
Trabalhando com a linguagem. v.9. São Paulo: Quinteto Editorial, 2009. p.25.
Professor: Você pode usar outras formas para inspirar seus
alunos. Mostre a eles fotos, pinturas, apresente notícias,
ouça músicas sobre o tema amor. Use sua criatividade.
38
5. REESCRITA
Escrever uma história requer que o escritor trabalhe seu texto até considerá-lo
compreensível e satisfatório. A reescrita do texto é importante e necessária para que
a produção fique atraente ao leitor.
Orientações para o professor
Os módulos serão criados a partir das dificuldades apresentadas pelos alunos
e têm como objetivo a superação das mesmas.
Ao ler os contos você deve se perguntar: este conto apresenta o tema
solicitado, a estrutura narrativa (apresentação, complicação, clímax, desfecho) e a
linguagem adequada (formal informal). Está adequado ao gênero, ao veículo e ao
leitor? Quais desses fatores precisam ser modificados para atender plenamente aos
objetivos propostos?
Módulo 1
Se um número considerável de alunos não atenderam a temática estipulada é
necessário que se crie um módulo específico para que essa dificuldade seja sanada.
Como sugestão faça a releitura de um dos contos estudados e peça para os
alunos que verifiquem qual a temática do conto e como chegaram a esta conclusão.
Depois peça para verificarem seus contos usando o mesmo critério, se não
tiverem escrito um conto que fale de amor, peça que reescrevam atendendo a
solicitação.
Módulo 2
Se o problema estiver na estrutura da narrativa você pode lançar mão de
várias atividades.
Primeiro sugiro que faça uma revisão do conteúdo utilizando um dos contos
estudados.
39
Você pode exercitar com os alunos entregando a eles um conto em que estas
unidades narrativas estejam fora da sequência e pedir para que eles ordenem na
sequência adequada.
Ou entregar um texto em que esteja faltando uma destas partes e pedir para
que criem a parte que está faltando (apresentação, complicação, clímax ou
desfecho).
Após esta atividade, os discentes voltam aos textos produzidos por eles,
verificam se respeitaram a estrutura da narrativa e arrumam o que for necessário.
Módulo 3
Se o problema for em relação aos elementos linguísticos, utilize trechos dos
textos estudados para exemplificar e volte aos textos dos próprios alunos para fazer
a retomada.
Os problemas apresentados por um número pequeno de alunos devem ser
trabalhados individualmente. Por exemplo: se apenas dois ou três alunos
apresentam dificuldade em relação à manutenção do tema não há necessidade de
se trabalhar com a turma toda. A orientação pode ser individual, através de bilhetes
ou orientação oral. Também se achar necessário elabore atividades para que
resolvam. O importante é que o aluno aprenda.
6. PRODUÇÃO FINAL/CIRCULAÇÃO DO TEXTO
Agora que chegamos à versão final de seu conto, vamos ao laboratório de
informática para que você faça a digitação. Depois postaremos no blog que criamos
para a turma. O blog será alimentado após cada texto estudado com a biografia dos
autores, principais obras, resumo de textos e fóruns em que os alunos participarão.
Professor: você pode propor outras formas de circulação do texto: mostra literária, produção de livro, publicação em jornal, divulgação no painel da escola, concurso
de conto, etc. fica a seu critério e conforme a realidade de sua escola.
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7. REFERÊNCIAS
AGUIAR, V. T.; BORDINI, M. G. Literatura e formação do leitor: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.
ASSIS, Machado de. O alienista e outros contos. São Paulo: Moderna, 2005.
BAKHTIN, Mikhail. A estética da criação verbal. 2.ed. São Paulo : Martins Fontes,1997.
CORDEIRO, I. C.;FERREIRA, G.;KASTER, M. A. A.; MARQUES, M. Trabalhando com a linguagem. v.4. São Paulo: Quinteto Editorial, 2009.
COSTA-HÜBES, Terezinha da Conceição;BAUMGÄRTNER, Carmen Teresinha (organizadoras). Sequência Didática – uma proposta para o ensino da Língua Portuguesa no Ensino Fundamental - anos iniciais. Caderno pedagógico 03. Cascavel: ASSOESTE, 2009.
FONTANA, Niura MariA;PAVIANI, N.M.S;PRESSANTO, I.M.P. Práticas de linguagem: gêneros discursivos e interação. Caxias do Sul, RS: Educs,2009.p.151.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. 46. ed. São Paulo: Cortez,2005.
KLEIMAN, Angela. Oficina de leitura: teoria e prática. 9.ed. Campinas: Pontes, 2002.
KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Desvendando os segredos do texto. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2003.
LISPECTOR, Clarice. O primeiro beijo e outros contos. 6. ed. São Paulo: Editora Ática, 1992.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gênero e compreensão. 2. ed. São Paulo: Parábola, 2008.
MARINHO, Jorge Miguel. O prazer de ser nocauteado por um conto. Na Ponta do Lápis, v.5, n.12, p.32-33, dez.2009.
MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. 12. ed. São Paulo: Brasiliense,1990.
PARANÁ. Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para os anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio. Curitiba: SEED, 2008.
PELLEGRINI, Domingos. Contos antológicos. Org.Leônidas Pellegrini. São Paulo: Editora Nova Alexandria Ltda, 2006.
PETIT, Michéle. Os jovens e a leitura: uma nova perspectiva. São Paulo: Editora 34, 2008.
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SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim. Gêneros orais e escritos na escola. Tradução e organização de Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro. 2.ed. Campinas, SP: Mercado das Letras, 2010.
TELLES, Lygia Fagundes. Venha ver o pôr-do-sol. São Paulo: Ática,1997.
VILELA, Luiz. No bar. 2. ed. São Paulo: Ática , 1984.
Sítios consultados:
http://saladeestudos.com/material/lygia-fagundes-telles-venha-ver-o-por-do-sol.pdf
http://www.youtube.com/watch?v=Qv0f1H7DnTA
http://www.algosobre.com.br/resumos-literarios/o-primeiro-beijo-e-outros-contos.html
www.releituras.com.br
http://www.infoescola.com/literatura/machado-de-assis/
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8. AVALIAÇÃO
Os estudantes serão avaliados durante e ao final do processo de
implementação pedagógica. Esta avaliação terá como base a observação da
participação dos alunos, de maneira concentrada e racional, em todas as atividades
propostas, sendo elas: leitura e análise dos contos, produção inicial, revisão do texto
produzido, módulos conforme os problemas encontrados, reescrita do texto
(produção final), participação do blog.
Também será verificado, pela produção final e sua publicação, o despertar do
interesse do aluno pela leitura do texto literário e o domínio do gênero conto.