Primeira Pauta - Edição - 105

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JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO BOM JESUS/IELUSC - JOINVILLE, OUTUBRO DE 2013 - EDIÇÃO 105 - GRATUITO Para suprir a falta de produtos veganos no mercado, grupos têm produzido alimentos para aqueles que escolheram o veganismo como estilo de vida. A iniciativa também serve como fonte de renda alternativa e um modo de difundir essa filosofia. Venda de produtos veganos proporciona ganho extra Cerca de 4 mil pessoas têm uma renda de R$ 70 por mês em Joinville. De acordo com o governo, elas estão abaixo da linha da pobreza e precisam equilibrar o orçamento para sobreviver Pág 10 A linha que separa os pobres dos miseráveis GERAL | PÁGINA 6 e 7 Plano Nacional de Educação ainda está em discussão no país e prevê que estudantes com deficiência estejam nas salas de aula tradicionais. Pessoas que recebem o apoio e especialistas reconhecem a importância da associoação no cotidiano. Novo PNE discute APAE e inclusão no ensino regular GERAL | PÁGINA 3 Em Joinville, 2,2% da população ainda não sabe ler e escrever. Quase 31 mil pessoas nunca frequentaram uma escola e 156 mil não completaram o Ensino Fundamental. Iniciativa alfabetiza jovens e adultos na cidade. Projeto de alfabetização faz com que cidadãos aprendam o “beabá” EDUCAÇÃO | PÁGINA 4 e 5 Evento realizado em loja localizada no centro da cidade lançou as novidades da cena do hip-hop. Com músicas, clipes, e até mesmo um documentário, artistas aproveitaram o espaço para divulgar seus trabalhos. Sarau especial da Brixton promove a cultura em Joinville GERAL | PÁGINA 11 RENATA BOMFIM JEAN PATRICK

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JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO BOM JESUS/IELUSC - JOINVILLE, OUTUBRO DE 2013 - EDIÇÃO 105 - GRATUITO

Para suprir a falta de produtos veganos no mercado, grupos têm produzido

alimentos para aqueles que escolheram o veganismo como estilo de vida.

A iniciativa também serve como fonte de renda alternativa e um modo de

difundir essa �loso�a.

Venda de produtos veganos proporciona ganho extra

Cerca de 4 mil pessoas têm uma renda de R$ 70 por mês em Joinville. De acordo com o governo, elas estão abaixo da linha da pobreza e precisam equilibrar o orçamento para sobreviver Pág 10

A linha que separa os pobres dos miseráveis

GERAL | PÁGINA 6 e 7

Plano Nacional de Educação ainda está em discussão no país e prevê que estudantes com de�ciência estejam nas salas de aula tradicionais. Pessoas que recebem o apoio e especialistas reconhecem a importância

da associoação no cotidiano.

Novo PNE discute APAE e inclusão no ensino regular

GERAL | PÁGINA 3

Em Joinville, 2,2% da população ainda não sabe ler e escrever. Quase 31 mil pessoas nunca frequentaram uma

escola e 156 mil não completaram o Ensino Fundamental. Iniciativa alfabetiza jovens e adultos na cidade.

Projeto de alfabetização faz com quecidadãos aprendam o “beabá”

EDUCAÇÃO | PÁGINA 4 e 5

Evento realizado em loja localizada no centro da cidade lançou as novidades da cena do hip-hop. Com músicas,

clipes, e até mesmo um documentário, artistas aproveitaram o espaço para divulgar seus trabalhos.

Sarau especial da Brixton promove a cultura em Joinville

GERAL | PÁGINA 11

RENATA BOMFIM

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Joinville - Outubro 2013 PRIMEIRA PAUTA

Diagramação de Samira Hahn | Edição de Daniel Filho

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DIRETOR GERAL DO BOM JESUS/IELUSC | Silvio Iung

DIRETOR DO ENSINO SUPERIOR | Paulo Aires

COORDENADOR DO CURSO | Sílvio Melatti

DISCIPLINA | Jornal Laboratório I

PROFESSORA RESPONSÁVEL | Amanda Miranda

EDITOR-CHEFE | Daniel Filho

EDITORES | Ana Paula Bonin, Juliana Palaoro Velho, Luana Isse de Freitas, Miriã Mews, Nicole Eichenberg, Rodrigo Guilherme Pereira.

FOTÓGRAFOS | Jacson Carvalho, Jean Patrick da Silva, Misael Tibes de Freitas, Renata Bomfim, Sidnei de Souza.

DIAGRAMADORES | Émilin Souza, Gabriela Kugelmeier, Heloísa Jahn, João Pedro Deschamps, Samira Mara Hahn, Vincent Sesering.

REPÓRTERES | Adolfo Lindenberg Bonucci, Ana Paula Ponick, Drika Evarini, Felipe Bello, Gabrielle Dias Figueiredo, Mayara Hoffmann, Milena Amaral,

Priscila Andreza de Souza, Teresa Bichski.

EQUIPE DIGITAL | Andreia Silva, Eluana Mello, Graziele Maiolini, Maiara Carvalho, Joel Martins.

IMPRESSÃO | A Notícia

TIRAGEM | 3 mil exemplares

Contato com a redaçãoEndereço: Rua Princesa Isabel, 438 - Centro CEP 89201-270 | Joinville | Santa Catarina

Telefone: (47) 3026-8000 - Fax: (47) 3026-8090E-mail: [email protected]

Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social - JornalismoAssociação Educacional Luterana Bom Jesus/Ielusc

EDIÇÃO 105 | Outubro 2013

Mais uma vez com as pautas escolhidas pelos próprios repórteres, o Primeira Pauta traz assun-tos que buscam servir à sociedade e cumprir esse propósito do Jornalismo em um ambiente aca-dêmico. Durante o processo, a equipe foi pega de surpresa com alguns imprevistos, como mu-dança de pauta, desistência de repórter, atraso nos prazos e remontagem do boneco, causando uma redistribuição das pautas a serem diagra-madas e editadas. Nada fora do comum em uma redação de jornal impresso, mas tudo isso con-tribui para experimentar o clima da pro�ssão e treinar os estudantes para lidar com as situações do dia a dia de um jornalista.

Duas matérias de destaque têm o gancho de problemas sociais: a extrema pobreza e o anal-fabetismo. Uma mostra como vivem famílias que ganham menos de R$ 70 por pessoa, des-tacando o dia a dia e a maneira de adminis-trar o dinheiro criando filhos. A outra fala de um programa que começou em Joinville e está alfabetizando jovens, adultos e idosos com o objetivo não de simplesmente diminuir os índi-ces o�ciais, mas de mudar a história de pessoas através do processo.

A publicação traz ainda necessidades da in-clusão de pessoas com de�ciência no ensino regular das escolas, como bombeiros conciliam suas atividades voluntária e pro�ssional e até como pessoas ganham dinheiro fazendo comi-da para o público vegano, que também quer ser atendido na oferta de produtos e procura orga-nizar-se cada vez mais nas cidades brasileiras.

O jornal, produzido durante três semanas, impresso em uma noite e que suja as mãos de quem o lê, está como a sociedade: com assuntos negativos e positivos, perspectivas boas e preo-cupações com problemas ainda sem solução.

No jornalismo de precisão, não há meias me-didas. Ou o percentual é exato, ou não traduz a essência do conteúdo que se quer transmitir. Ou a distância é medida ao milímetro, ou deixa margens à dúvida. Assim, também, o cotidiano jornalístico é crivado de desa�os à precisão. Desde a reunião de pauta, passando pela apuração, pela checagem, escri-ta e chegando à edição.

No processo produtivo que é um jornal-labo-ratório, a busca pela exatidão e pelo esclarecimento da reportagem passa pelo conteúdo mas, invariavel-mente, tropeça na forma.

Na edição 104 do jornal Primeira Pauta, é esse o paradoxo que se coloca em suas 12 páginas colo-ridas: modi�cado para melhorar a forma – reduz-se o tamanho para incluir-se a policromia em todas as páginas – seria natural que o projeto visual e até mesmo a diagramação se sobressaíssem em detri-mento do conteúdo. Isso não acontece, uma vez que as cores à disposição não colaboram com a com-preensão das reportagens. Já começando pela capa, em que a diagramação de texto sobre foto esconde o que se escreve, passando pelas páginas internas que pouco ou quase nada apresentam de forma atraente na questão imagem.

Na questão conteúdo, há boa qualidade e perti-

nência jornalística de assuntos que, reiteradas vezes, poderiam ser mais atraentes ao leitor comum e que não são aproveitados como poderiam. Algumas re-portagens, como a que conta a saga da comunidade Juquiá pela legalização dos terrenos e pelos

investimentos em infraestrutura, carece de uma melhor edição. Retrancas, subtítulos, diagramação mais ousada são alguns dos pecados da reportagem. O mesmo pode se falar das páginas de saúde, esporte e cultura. Bom conteúdo, boa pauta, mas falta pro-fundidade para se sair do lugar comum.

Se num jornal-laboratório o exercício do jorna-lismo de precisão é uma realidade distante, pode-se dizer que o sucesso da edição pode ser medido pelo acerto dos detalhes, como a correção gramatical im-pecável, a revisão criteriosa, a padronização das for-mas – o que acaba não acontecendo. Também

algumas pautas recorrem a fontes previsíveis e convenientes, como a professora Valdete Niehues, abrindo mão de novas entrevistas, novos pontos de vista, novos e desconhecidos pensamentos. Abrir os olhos para enxergar mais longe também é um desa-�o que se apresenta para as próximas edições.

O jornal e a sociedade

O detalhe absolve?

Por trás do número

OMBUDSMAN

EDITORIAL OPINIÃO

Amanda Miranda é jornalista e professora responsável pelo Primeira Pauta

Sandro Galarça é jornalista, doutor em literatura e professor de redação jornalística

No final de setembro, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) revelou o crescimento dos índices de analfabetismo no Brasil pela primeira vez em um intervalo de 15 anos. Em números absolutos, isso representa aproximadamente 300 mil pessoas a mais do que o registrado em 2011, com destaque para a taxa entre jovens a partir de 15 anos, que de 8,4% passou de 8,5%.

O crescimento pode parecer pequeno se visto a olho nú, mas é necessário pensar de forma complexa. Nos últimos anos, o governo federal investiu em programas como o Projovem Urbano, criado justamente para atingir os jovens na faixa etária acima mencionada. Em entrevista ao portal G1, a pesquisadora do IBGE Maria Lúcia Vieira disse que havia uma tendência de queda e que o dado pegou a todos de surpresa.

Evidentemente, a análise não pode fechar os olhos para a evasão escolar entre jovens. Por que eles estão deixando a escola antes de serem plenamente alfabetizados? De quem é a responsabilidade por isso? Quais as consequências imediatas para um país que precisa cada vez mais de instrução e de qualificação para garantir um futuro mais digno e com mais justiça social? E entre os idosos? Como atrai-los para um modelo de ensino formal? Não é necessário repensarmos práticas pedagógicas para públicos específicos, com interesses naturalmente específicos?

Em um país que mostrou para o mundo o “Método Paulo Freire”, proposta de alfabetização de jovens e adultos desenvolvida por um dos pensadores mais respeitados da América Latina, é de se preocupar que ainda haja jovens fora das escolas ou mesmo adultos e idosos que não tenham conquistado a plena autonomia por meio da leitura da palavra e, consequentemente, da leitura do mundo. Mais do que saber o motivo é necessário que se pense em soluções.

Acesse as matérias completas e material multimídia no site:

www.primeirapauta.jor.br

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Joinville - Outubro 2013 PRIMEIRA PAUTA 03

EducaçãoDiagramação de Ana Paula Ponick | Edição de Rodrigo Guilherme Pereira

Educação inclusiva pautada no PNE

A Apae oferece atendimento médico e pedagógico para pessoas de todas as idades

RENATA BOMFIM

Meta do novo Plano Nacional de Educação prevê estratégias para a inclusão direta de pessoas com de�ciência entre quatro e 17 anos no ensino regular

Segunda-feira é dia de levantar cedo, arrumar Henrique e levá-lo até

a rua principal, onde o ônibus da Apae passa. O rapaz de 27 anos tem microcefalia, autis-mo, de�ciência visual e alguns problemas decorrentes do mau desenvolvimento do cé-rebro, como a incapacidade de articular palavras e mastigar.

A mãe, Karin Mariane Axt, conta que Henrique frequen-ta a Associação de Pais e Ami-gos dos Excepcionais (Apae) desde pequeno e lá recebe atendimento profissional de fisioterapeuta, fonoaudiólo-go, dentista e médico. Além disso, tem a oportunidade de conviver com pessoas diferen-tes do seu grupo familiar e de, ainda que minimamente e li-mitado por suas dificuldades, participar de suas atividades. “Só o fato de estar junto com outras pessoas já é alguma coisa”, avalia Karin. “E quan-do ele não tem esse convívio, ele sente falta.”

Ainda está em discussão o Plano Nacional de Educação que deve vigorar e nortear a edu-cação no país en-tre 2011 e 2020. Composto por dez diretrizes e 20 metas, o docu-mento de�ne transformações e aprimoramentos ao sistema educacional. A meta 4 desse novo plano prevê, em seu tex-to originalmente divulgado, a inclusão direta de pessoas espe-ciais com idades entre quatro e 17 anos no ensino regular.

Ana Paula [email protected]

O QUE FALTA NO PNESegundo a orientadora da

Apae Joinville, Sandra Ma-ciel de Arruda Voos, o plano não contempla a assistên-cia e orientação dos pais das crianças normais para a efe-tiva inclusão social dos ex-cepcionais. “Preconceito é uma coisa complicada e vem de casa”, aponta. “É aí que o ensino regular peca, pois de-veria tratar mais os pais.”

Karin também conside-ra insuficiente a preparação profissional e da estrutura. Ela conta que enfrentou vá-

Quando Vanderlei de Mo-raes nasceu, ninguém dizia que ele tinha algum tipo de deficiência, nem mesmo os médicos. Até hoje, aquilo que a princípio era um simples atraso no desenvolvimento não foi totalmente explicado aos pais do rapaz, que está com 23 anos. Sonia de Mora-es, a mãe, conta que aos dois anos ele frequentou o jardim de infância na rede regular de ensino. Depois, passou por outras escolas públicas, onde tinha aulas de libras. Mas nunca aprendeu a ler e escre-ver, nem a se comunicar pela linguagem dos sinais. Van-derlei não é surdo nem mudo,

Di�culdades mesmo com o apoio da Apae

Esse texto deu espaço para a compreensão de que associa-ções e ONGs como a Apae não dariam mais o apoio que ofe-recem, pois não teriam como se manter sem os recursos do Fundeb, repassado a elas pelo governo. Também possibilitou a compreensão de que os pais não poderiam mais optar por manter os �lhos exclusivamen-te nas Apaes, sendo obrigados a inclui-los no ensino regular. A Federação Nacional das Apa-es se mobilizou para ressaltar a importância da associação e defender a manutenção do en-vio de recursos, garantindo a assistência aos pacientes e seus familiares.

Em resposta a isso, foi pro-posta uma alteração ao tex-to para que este de�na como meta a universalização do atendimento escolar a alunos especiais de quatro a 17 anos preferencialmente – e não mais exclusivamente, como estava implícito – na rede regular de ensino. Como estratégias para o alcance dessa meta do PNE, estão enumeradas adaptações e capacitações abrangendo os

profissionais, tanto da edu-cação quanto da saúde e da assistência so-cial, a infraes-trutura, desde materiais di-

dáticos até a acessibilidade das instalações e o transporte, e o incentivo a pesquisas relacio-nadas à educação inclusiva.

rias situações de preconceito até mesmo andando na rua com Henrique, quando as pessoas ficavam olhando e, às vezes, faziam comentários ofensivos a eles. “Eles querem inclusão, mas tem que ver até que ponto. Inclusão é não ter preconceito de ver, de estar ao lado”, observa.

Sandra afirma que nunca teve receio de que as Apaes fossem fechadas, pois acredi-ta na sua importância e que nenhuma outra associação poderia substituí-la na assis-tência aos excepcionais. Ela ressalta que existem perfis de doença mental que permitem o convívio social numa escola regular. Não necessariamente a alfabetização, mas a inclusão social do deficiente. Mas tam-bém há perfis que não permi-tem essa inclusão, pois levam o aluno a desenvolver outros problemas que agravam ainda mais suas dificuldades. “Nós avaliamos o perfil do aluno e o encaminhamos ou não ao ensino regular. Temos casos de alunos que foram encami-nhados e retornaram tendo desenvolvido surtos, desvios de conduta, psicoses, entre outros”, revela.

Para a professora e psicó-loga Mariana Datria Schulze, o assunto vai além de capa-citação e infraestrutura. “O início da educação especial é marcado pela exclusão de to-dos os que tinham algum tipo de deficiência, pois acredita-va-se que o melhor era isolar ou esconder os deficientes”, explica. “Agora, apesar das políticas inclusivas, esses pre-ceitos de exclusão permane-cem.” Por isso, ela acredita que a inclusão efetiva dos ex-cepcionais na rede regular de ensino exige uma discussão de conceitos de normalidade e anormalidade, herdados de uma construção social e his-tórica que não são facilmente mudados. “Às vezes, tentan-do respeitar as limitações, acaba-se esquecendo de con-siderar as potencialidades da-quela pessoa”, pontua. “Isso, ao invés de incluí-la, limita ainda mais.”

mas não consegue articular quase nenhuma palavra.

Sendo atendido pela Apae, a associação reco-mendou que ele fosse à Ama (Associação de Amigos do Autista), mas a entidade o encaminhou de volta à Apae. Ele não consegue participar das atividades promovidas lá, mas tem a companhia dos colegas e dos pro�ssionais que tentam inclui-lo. Sonia ob-serva que os alunos da Apae têm di�culdades muito gran-des em tudo, mesmo com o apoio especializado que re-cebem na associação. “Se já é tão difícil para eles na Apae, imagina na escola regular.”Sandra Voos, orientadora da Apae Joinville

RENATA BOMFIM

RENATA BOMFIM

(...) Apesar das políticas inclusivas, os preceitos de exclusão permanecem

Mariana Datria Schulzeprofessora e psicóloga

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Diagramação de Gabriela Kugelmeier | Edição de Nicole Eichenberg

Quando estava prestes a se formar no curso de Publicidade e Pro-

paganda, Tamy Regina de Souza, 48, teve um derrame enquanto comemorava com os amigos o aniversário de 25 anos. “Com o derrame, logo �quei em coma e perdi a memória. Não sabia mais ler e escrever e, de repente, tudo começou de novo”, comenta Tamy, ao lembrar que só foi de-tectado o derrame dois dias após a festa. Desenganada pelos médi-cos, voltou à vida após três sema-nas em coma, com a esperança de recomeçar. Há um ano parti-cipa das aulas do projeto Alvoler, onde tem aprendido novamente a ler e a escrever. Além das aulas e alfabetização, faz tear e outras atividades que a ajudam a desen-volver o processo físico.

Em uma sala espaçosa, a pro-fessora Lígia Maria Florencio Cardoso esforça-se para minis-trar as aulas que são diferentes para cada aluno, já que cada um possui uma di�culdade particu-lar. Para ela, a ideia do projeto é resgatar a cidadania, e não só ensinar a ler e a escrever. É tam-bém conscientizar sobre o meio ambiente e questões culturais. “Cada aluno tem sua história, seu motivo, e eu quero mudar identidades, dar uma nova chan-

Oportunidade na ponta do lápis para quem não sabe ler e escreverPara combater a taxa de 2,2% de analfabetismo de Joinville, o projeto Alvoler ministra aulas voluntárias há 17anos. A inciativa já conta com 700 inscrições

ce a eles”, a�rma. Ela enfatiza a escolha dos alunos pelo projeto, ao invés de uma escola. “Ainda há diferença nas escolas. Muitos professores não têm paciência de ensinar, os alunos são especiais, precisam de certo cuidado.”

Há 17 anos o Instituto Al-voler, Alfabetização Voluntária Ler para Crer, trabalha com o objetivo de ensinar pessoas com mais de 15 anos a ler e a escrever através de aulas ministradas por professores voluntários. Segun-do a coordenadora, Edna Felicio, mesmo com todas as tecnologias disponíveis, ainda existem mui-tas pessoas analfabetas. O moti-

vo, muitas das vezes, é a falta de oportunidade. Com isso, o insti-tuto saiu às ruas de Joinville para pesquisar quantas pessoas deseja-vam ser alfabetizadas. A pesquisa resultou em 700 inscrições para participar das aulas. “Alguns procuram ser alfabetizados para poder alfabetizar pessoas mais próximas que não querem ir à aula, por vergonha ou até mes-mo jovens com problemas espe-ciais que não querem frequentar

Mayara Ho�mannmayaho�[email protected]

“Ainda há diferença nas escolas. Os alunos são especiais, precisam de certo cuidado.”“Ligia Maria Cardoso professora

As aulas ocorrem todas as tardes de segunda-feira, e conta com cinco alunos participantes

Joinville - Outubro 2013PRIMEIRA PAUTA04

Em Joinville, cerca de 2,2% da população é analfabetaA taxa de analfabetismo de 2,2% da po-

pulação joinvilense representa 8.831 pesso-as que não sabem ler e escrever um simples bilhete. Além desse índice, quase 31 mil pessoas nunca frequentaram uma escola e 156 mil não completaram o ensino funda-mental. Os dados são do Censo IBGE de 2010, que também apurou 4,9 mil pessoas frequentando classes de alfabetização.

Segundo os dados do DSCA (Diagnós-tico Social da Criança e Adolescente), a porcentagem de crianças e adolescentes de 10 a 17 anos analfabetas é 0,93%. O bairro Pro�po possui o maior índice - 2,01 - e o Santo Antônio o menor - 0,16.

De acordo com o IBGE, a região Sul da

cidade apresenta a maior porcentagem de jovens que não frequentam a escola, tendo a média maior que a do município geral, resultando em 22,52%. A quantidade de pessoas nessa faixa etária fora das salas de aula nas regiões Norte e Oeste represen-tam menor taxa comparada ao Sul, sendo 17,42%.

Segundo a coordenadora, aumentou a procura de pessoas mais novas, entre 15 e 20 anos, para estudar. “Até uns cinco anos as pessoas que vinham para ser alfabetiza-das eram mais velhas, passando de 60. Di-�cilmente tinha pessoas mais novas, hoje é grande a procura por pessoas mais novas”, comenta.

FOTOS: RENATA BOMFIM

Tamy Regina resolveu voltar a estudar depois de derrame que causou a perda da memória

EducaçãoDiagramação de Gabriela Kugelmeier | Edição de Nicole Eichenberg

a escola”, comenta Edna. A aluna Maria Clarice da

Conceição, 46, comenta que o projeto tem mudado sua vida. “Meu sonho é ler. Ficava triste quando via que todos podiam entender qualquer coisa escrita, mas eu não. Com as aulas eu es-tou aprendendo e logo poderei ler com facilidade.”

Cheia de esperança, Beatriz Martins Maciel, 69, não teve oportunidade de aprender quan-do mais nova. Trabalhava na roça e era impedida de estudar, já que apenas seus irmãos tinham este privilégio. “Depois eu casei e meu marido não deixava, dizia que era tarde demais. Mas hoje, sozinha, tomei a decisão de começar. Co-nheci o Alvoler e há tempo estou participando das aulas.”

O instituto, iniciado pela igreja Assembleia de Deus, ofe-rece a todas as igrejas do estado de Santa Catarina e Sudoeste do Paraná, suporte administrativo e pedagógico, treinamento e mate-rial para prepará-las para alfabeti-zar adultos com mais de 15 anos por meio do voluntariado. Vo-luntários que têm interesse em alfabetizar participarão do pro-cesso de 10 horas de capacitação, com direito a diploma, e também receberão materiais desenvolvi-dos para os alunos. O processo de alfabetização é realizado de acordo com o horário disponível do aluno.

O projeto atende alunos especiais que preferem esse meio para iniciar aprendizado

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Joinville - Outubro 2013 PRIMEIRA PAUTA

Diagramação de Gabriela Kugelmeier | Edição de Nicole Eichenberg

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Oportunidade na ponta do lápis para quem não sabe ler e escrever

Desde o início do semes-tre, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) indicou os acadêmicos Luis Gustavo Va-rela, de Jornalismo, e Samara Soares Pereira, de Nutrição, para representarem a entidade e os interesses dos estudantes na CPA (Comissão Própria de Avaliação). Os posiciona-mentos dos acadêmicos são discutidos nas reuniões de políticas estudantis do DCE, que ocorrem semanalmen-te. Criamos o NAE (Núcleo Acadêmico Estruturante), que reunirá os representan-tes de cursos para discutirem pautas de reivindicações de cada curso, a visão dos aca-dêmicos sobre os rumos dos cursos, assim como grade de ensino e discussões políticas relacionadas a cada categoria e dos estudantes. O DCE tam-bém está presente na Câmara do Ensino Superior, repre-sentado por Eduardo Rodri-gues, estudante de Publicida-de e Propaganda e diretor do DCE, e a acadêmica do curso de Enfermagem e também di-retora, Mábyle Magalhães. As reuniões de políticas estudan-tis são abertas para todos os acadêmicos. Con�ra a agen-da de encontros no portal do DCE. (dceielusc.com.br)

Fala, DCE!Núcleo Acadêmico Estruturante

O DCE, por meio do GT de Cultura e Arte, organizou o primeiro Momento Cultu-ral, no dia 24 de setembro. O evento tem como objetivo integrar e mostrar os dons artísticos dos acadêmicos em um intervalo diferente. Nes-ta edição, tivemos apresenta-ções musicais, exposição de fotogra�as, poemas expostos e recitados. Fique atento para a próxima edição.

A ouvidoria do DCE é uma forma mais e�ciente de registrar as reivindicações dos acadêmicos e, através de um processo elaborado pela Dire-toria de Políticas Estudantis, resolver os problemas pontu-ais dos acadêmicos. Acesse o portal, clique na opção Ouvi-doria e conte conosco.

Educação

Momento Cultural

Ouvidoria

Diagramação de Gabriela Kugelmeier | Edição de Nicole Eichenberg

Ligia Maria Florencio Carodoso é professora voluntária do projeto Alvoler. Ela ministra aulas diferentes para cada aluno, de acordo com a necessidade de aprendizado de cada um

Aprender a ler e a escrever ainda é o sonho de muitas pes-soas, principalmente de idosos que não tiveram a oportunida-de de estudar e que hoje pro-curam cursos de alfabetização. No entanto, não são só adultos que preferem participar desses projetos. Ao invés de escolher a escola, muitos jovens também estão seguindo esse caminho.

Segundo a psicopedagoga Andreza Otto Soubhia, a de-cisão dos adultos de não esco-lherem uma escola é o fato de se sentirem envergonhados e quererem esconder de todos sua di�culdade. “Quando per-cebem que chegou a hora e con-seguem deixar a vergonha de lado, buscam por instituições ou são convidados a partici-par de grupos de alfabetização, onde normalmente são muito bem aceitos”, a�rma.

Para ela, o que impede os jo-vens de terem a mesma rotina de outros é a falta de motiva-ção. Além disso, a pro�ssional aponta a questão cultural. Mui-tos estão em ambientes que não exigem muito conhecimento escolar. Em alguns casos, o jo-vem possui uma disfunção neu-rológica caracterizada por uma dislexia que, não diagnosticada, causa uma rejeição aos estudos. “A família, por não entender o que acontece, não consegue ajudá-lo, tornando esse um dos

fatores também para o jovem desistir de estudar e assim se-rem considerados analfabetos”, a�rma.

RENATA BOMFIM

PROFESSOR DEVE TER FORMAÇÃO

Garantir que a criança ou idoso aprenda a ler é um gran-de desa�o. A psicopedagoga enfatiza que um projeto de al-fabetização tem que ensinar a entender como se dá o proces-so de aprendizagem e ir além do primeiro passo, para não formar analfabetos funcionais, que leem e escrevem, mas não interpretam. “O programa de alfabetização precisa ensinar o aluno a ler, escrever, pensar sobre, entender, interpretar, contextualizar para sua vida”, comenta.

A especialista reforça que o professor deve ter a formação adequada e realizar um curso especí�co de alfabetização para a faixa etária que vai lecionar, além de gostar de trabalhar com pessoas mais velhas e ado-lescentes, pelas limitações que eles apresentam. “O processo com os idosos precisa de uma atenção maior. Com o passar do tempo, os estímulos que o cérebro recebe não é mais o mesmo e não tem mais a mes-ma velocidade de absorver as informações”, explica.

Desa�os do aprendizado

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não adeptos que também compram. “Acaba se tornando uma fonte de ren-da alternativa e faz diferença principalmente no final do mês, já que não utilizo ingre-dientes caros nas receitas”, explica Nicolle.

Sobre a variedade de pro-

Nicolle Plautz, 20 anos, conheceu o veganismo por meio da música e há quatro segue esse estilo de vida. Segundo ela, a tran-sição foi natural. “Deixei de classificar os produtos

Veganismo possibilita ganho extra a partir da venda de alimentos pouco explorados no comércio

Joinville - Outubro 2013 PRIMEIRA PAUTA

Joinville - Outubro 2013 PRIMEIRA PAUTA

Diagramação de Vincent Sesering | Edição de Ana Paula Bonin

06 07 Geral

Gabrielle Dias Figueiredogabrielle�[email protected]

Não comer nenhum tipo de carne e não consumir alimentos

derivados de animais, como leite, queijo e mel, parece impossível para quem não dispensa um bom pedaço de picanha na hora do almoço. De acordo com o censo Mapa Veg - pesquisa que coleta da-dos sobre vegetarianismo e veganismo no Brasil, esse estilo de vida é seguido por 1750 pessoas no país. Um dos problemas enfrentados pelos vegans, como são chamados os adeptos desta filosofia, é a dificuldade de encontrar pro-dutos que possam ser consu-midos sem o trabalho de criar ou adaptar receitas. A neces-sidade de suprir essa falta de produtos veganos, prontos nos comércios e restaurantes, oportuniza a abertura de um novo nicho de mercado, que pode se tornar uma fonte de renda para quem procura um ganho extra.

É o caso de Giovana Bor-din, 25, Tiago Vieira, 23 e Jeane Lescowicz, 30, que pro-duzem alimentos voltados ao

GABRIELLE DIAS FIGUEIREDO

MISAEL TIBES DE FREITAS

público vegano com o obje-tivo de estimular a comer-cialização desses produtos e de incrementar sua fonte de renda.

A empresa Leve e Livre, de Jaraguá do Sul, é adminis-trada pelo trio. Eles vendem pela internet, por meio de uma página de divulgação no Facebook que contabiliza, até o momen-to, 346 cur-tidores. São comercializa-dos alimentos de produção própria, como cookies e pão de queijo ve-getal. Tam-bém são re-vendidos produtos prontos, como a Glutadela (versão da mortadela feita com glúten), hambúrguer vegetal e tofu.

Há três meses no merca-do, os produtos foram vendi-dos para cerca de 200 pesso-as. Além de Jaraguá, clientes de Guaramirim, Blumenau e Balneário Camboriú tam-bém fizeram pedidos. Segun-do Giovana, vegetariana há seis anos, a expectativa é po-

sitiva. “Para a gente é uma vitó-ria apresentar o veganismo para pessoas que muitas vezes nem sabem o que significa”, afirma.

Muitos dos consumidores da Leve e Livre não são vega-nos, mas optam pelos alimen-tos por serem uma opção mais saudável. “Os cookies possuem ingredientes integrais”, ressal-ta Jeane, vegetariana há cinco

anos. Tiago se tornou vegano há dois meses. Antes, era vege-tariano. “Abrir a empresa me trouxe mais conhecimento em relação ao v e g a n i s m o ” , ressalta.

Em Jaraguá, as entregas são feitas de bicicleta, pois a ideia de não poluir o meio ambien-te é algo que o trio também acredita e apoia. O carro só é utilizado quando as encomen-das são para os bairros mais distantes, em outras cidades, ou quando chove. Os pedidos são feitos durante a semana, e a produção e as entregas aconte-cem aos finais de semana. Junto às encomendas, o cliente recebe

uma carta personalizada agra-decendo pela compra e estimu-lando o consumidor a relatar o que achou do produto.

Agora, com a renda inicial das vendas, o grupo está à pro-cura de novos fornecedores e em contato com as empresas para aumentar as opções de produtos. Eles buscam partici-par de cursos para se aperfeiço-ar na produção dos alimentos e na área administrativa.

Segundo Tiago, o desejo de expandir o negócio existe. “Desde o começo pensamos em um restaurante vegan ou em uma loja física, pois é algo que conta com bastante adeptos”, afirma.

Para o nutricionista Lindol-fo Rudnick Junior, 27, vegano há dois anos, a ausência dos produtos finais no mercado é uma realidade. Segundo ele, nos grandes centros, como em São Paulo e Curitiba, encon-trar opções é mais fácil do que em cidades menores. “Uma das dificuldades para quem se tor-na vegano é encontrar um pro-duto que gosta muito na versão vegan. Isso contribui para que as pessoas produzam seu pró-prio alimento”, conclui.

Carência de produtos veganos cria novo nicho de mercado

Da música a um novo estilo de vidaHá quatro anos no mercado e há três servindo

opções vegan em seu cardápio, a Burger Farm, em Jaraguá do Sul, oferece ao público vegano cinco sabores de hambúrguer (batata, berinje-la, tofu, quinoa e falafel). Cinco opções de lan-ches (Mediterrâneo, Oriental, Árabe, The Farm e Da Pizza), pães ciabatas, couve-flor a milanesa e outras porções.

Para o proprietário, Rodrigo Dell ‘ Agnelo, 31, a falta de opções na cidade fez com que ele produzisse os lanches vegans, o que varia seu cardápio. “O objetivo é reunir em um só estabe-lecimento todos os tipos de público”, explica.

Rodrigo morou três anos na Irlanda e apren-deu a cozinhar trabalhando em um restaurante. Hoje, desenvolve novos pratos e testa novas op-ções de alimentos para o público vegan, como o queijo à base de mandioca e anéis de cebola, que estão em processo experimental.

As opções veganas estão em uma área se-parada e possuem um ícone de identificação no cardápio. Segundo Rodrigo, os produtos também são consumidos por pessoas que

não são vegans ou vegetarianas. A Burger Farm está localizada na Rua Bernar-

do Dorbusch, 1250, Baependi. A média de preço dos pratos varia de R$11 a R$20.

Inaugurado há quatro meses, o Stannis Pub, em Jaraguá do Sul, oferece uma opção vegan em seu cardápio. O “Veggie Burger” que contém um hambúrguer vegetal com cogumelos, molho es-pecial da casa, rúcula, alface, pepino e também é acompanhado de batata frita e ketchup. O pra-to custa R$16,90.

Segundo o sócio-proprietário, Denis Torizani, 24, a decisão de incluir a combinação no cardá-pio surgiu da procura por esse tipo de alimento no mercado. “Assim mostramos que apoiamos essa causa e que aqui há espaço para essa co-munidade, pois conseguimos harmonizar a cer-veja Stannis com o prato”, afirma. “Além de pen-sarmos muito na sustentabilidade e no cuidado com os animais, também admiramos as pessoas que vivem dessa maneira”, ressalta Denis.

O Stannis Pub está localizado na Avenida Ma-rechal Deodoro da Fonseca, no Centro.

Em Joinville, o Rádio Burger está com no-vidades para o público vegano. O cardápio da casa terá uma seção separada que facilitará na hora de identificar os pratos vegans. Um novo lanche também foi incluído, totalizando cinco opções. Dentre os ingredientes, o prato contém pão integral, mix de cogumelo shitake, broto de feijão, rúcula e maionese de azeitona.

Segundo a proprietária, Caroline Carstens, 27, no início, mesmo com um lanche vegetariano, alguns clientes pediram opções vegans, o que despertou a importância de abrir um espaço maior no cardápio para esses produtos. “Deve-mos estar atentos a todos os públicos, em suas escolhas e restrições alimentares”, ressalta.

A seção vegan também inclui dois sabo-res de milkshakes, maionese e anéis de ce-bola. Para os celíacos, há opção de pão sem glúten e queijo sem lactose para os intole-rantes.

O Rádio Burger está localizado na Rua Mi-nistro Calógeras, 529, no Centro, e a média de preço dos pratos varia de R$20 a R$27.

Pra gente é uma vitória apresentar o veganismo para pessoas que muitas vezes nem sabem o que significa“

Giovana Bordin

Combo Burger Farm: Hambúguer de berinjela com tomate, alface

e molho especial. Acompanha batatas fritas e refrigerante.

Uma das opções oferecidas pela estudante de História é um bolinho vegano com goiabada

que possuem deriva-dos de animais como alimentos”, ressalta. Em 2012, ela trouxe um palestrante de São Paulo para falar

Nicolle vende coxinhas, pães de queijo vegetal e

quichessobre libertação ani-mal na Universidade da Re-gião de Joinville (Univille).

Há cerca de seis meses, Nicolle começou a vender os produtos que fabrica. No começo, vendia o que sobrava daquilo que produ-zia para amigos, mas depois

expandiu o negócio. A divul-gação dos produtos é feita no Facebook.

As receitas são adaptadas ou retiradas de blogs espe-cializados. Para os consumi-dores, oferece cerca de dez produtos, como coxinha, pão

de queijo vegetal e quiches. A maio-ria do seu públi-co é vegan, mas existem clientes

dutos existentes no mercado, ela ressalta que hoje existem mais opções do que há alguns anos, mas o que ainda está em falta é o produto final. “Se eu tivesse dinheiro e não dependesse de um emprego, me dedicaria totalmente à culinária”, complementa.

Cursando História na Univille, Nicolle está desen-volvendo um projeto sobre a história da criação, venda e consumo de animais em Joinville e região a partir dos anos 80. Ela também criou o grupo “Veganismo/Direito dos Animais Jara-guá do Sul” no Facebook, que facilita a comunicação entre as pessoas que se inte-ressam pelo assunto.

Onde encontrar opções veganas

Page 7: Primeira Pauta - Edição - 105

não adeptos que também compram. “Acaba se tornando uma fonte de ren-da alternativa e faz diferença principalmente no final do mês, já que não utilizo ingre-dientes caros nas receitas”, explica Nicolle.

Sobre a variedade de pro-

Nicolle Plautz, 20 anos, conheceu o veganismo por meio da música e há quatro segue esse estilo de vida. Segundo ela, a tran-sição foi natural. “Deixei de classificar os produtos

Veganismo possibilita ganho extra a partir da venda de alimentos pouco explorados no comércio

Joinville - Outubro 2013 PRIMEIRA PAUTA

Joinville - Outubro 2013 PRIMEIRA PAUTA

Diagramação de Vincent Sesering | Edição de Ana Paula Bonin

06 07 Geral

Gabrielle Dias Figueiredogabrielle�[email protected]

Não comer nenhum tipo de carne e não consumir alimentos

derivados de animais, como leite, queijo e mel, parece impossível para quem não dispensa um bom pedaço de picanha na hora do almoço. De acordo com o censo Mapa Veg - pesquisa que coleta da-dos sobre vegetarianismo e veganismo no Brasil, esse estilo de vida é seguido por 1750 pessoas no país. Um dos problemas enfrentados pelos vegans, como são chamados os adeptos desta filosofia, é a dificuldade de encontrar pro-dutos que possam ser consu-midos sem o trabalho de criar ou adaptar receitas. A neces-sidade de suprir essa falta de produtos veganos, prontos nos comércios e restaurantes, oportuniza a abertura de um novo nicho de mercado, que pode se tornar uma fonte de renda para quem procura um ganho extra.

É o caso de Giovana Bor-din, 25, Tiago Vieira, 23 e Jeane Lescowicz, 30, que pro-duzem alimentos voltados ao

GABRIELLE DIAS FIGUEIREDO

MISAEL TIBES DE FREITAS

público vegano com o obje-tivo de estimular a comer-cialização desses produtos e de incrementar sua fonte de renda.

A empresa Leve e Livre, de Jaraguá do Sul, é adminis-trada pelo trio. Eles vendem pela internet, por meio de uma página de divulgação no Facebook que contabiliza, até o momen-to, 346 cur-tidores. São comercializa-dos alimentos de produção própria, como cookies e pão de queijo ve-getal. Tam-bém são re-vendidos produtos prontos, como a Glutadela (versão da mortadela feita com glúten), hambúrguer vegetal e tofu.

Há três meses no merca-do, os produtos foram vendi-dos para cerca de 200 pesso-as. Além de Jaraguá, clientes de Guaramirim, Blumenau e Balneário Camboriú tam-bém fizeram pedidos. Segun-do Giovana, vegetariana há seis anos, a expectativa é po-

sitiva. “Para a gente é uma vitó-ria apresentar o veganismo para pessoas que muitas vezes nem sabem o que significa”, afirma.

Muitos dos consumidores da Leve e Livre não são vega-nos, mas optam pelos alimen-tos por serem uma opção mais saudável. “Os cookies possuem ingredientes integrais”, ressal-ta Jeane, vegetariana há cinco

anos. Tiago se tornou vegano há dois meses. Antes, era vege-tariano. “Abrir a empresa me trouxe mais conhecimento em relação ao v e g a n i s m o ” , ressalta.

Em Jaraguá, as entregas são feitas de bicicleta, pois a ideia de não poluir o meio ambien-te é algo que o trio também acredita e apoia. O carro só é utilizado quando as encomen-das são para os bairros mais distantes, em outras cidades, ou quando chove. Os pedidos são feitos durante a semana, e a produção e as entregas aconte-cem aos finais de semana. Junto às encomendas, o cliente recebe

uma carta personalizada agra-decendo pela compra e estimu-lando o consumidor a relatar o que achou do produto.

Agora, com a renda inicial das vendas, o grupo está à pro-cura de novos fornecedores e em contato com as empresas para aumentar as opções de produtos. Eles buscam partici-par de cursos para se aperfeiço-ar na produção dos alimentos e na área administrativa.

Segundo Tiago, o desejo de expandir o negócio existe. “Desde o começo pensamos em um restaurante vegan ou em uma loja física, pois é algo que conta com bastante adeptos”, afirma.

Para o nutricionista Lindol-fo Rudnick Junior, 27, vegano há dois anos, a ausência dos produtos finais no mercado é uma realidade. Segundo ele, nos grandes centros, como em São Paulo e Curitiba, encon-trar opções é mais fácil do que em cidades menores. “Uma das dificuldades para quem se tor-na vegano é encontrar um pro-duto que gosta muito na versão vegan. Isso contribui para que as pessoas produzam seu pró-prio alimento”, conclui.

Carência de produtos veganos cria novo nicho de mercado

Da música a um novo estilo de vidaHá quatro anos no mercado e há três servindo

opções vegan em seu cardápio, a Burger Farm, em Jaraguá do Sul, oferece ao público vegano cinco sabores de hambúrguer (batata, berinje-la, tofu, quinoa e falafel). Cinco opções de lan-ches (Mediterrâneo, Oriental, Árabe, The Farm e Da Pizza), pães ciabatas, couve-flor a milanesa e outras porções.

Para o proprietário, Rodrigo Dell ‘ Agnelo, 31, a falta de opções na cidade fez com que ele produzisse os lanches vegans, o que varia seu cardápio. “O objetivo é reunir em um só estabe-lecimento todos os tipos de público”, explica.

Rodrigo morou três anos na Irlanda e apren-deu a cozinhar trabalhando em um restaurante. Hoje, desenvolve novos pratos e testa novas op-ções de alimentos para o público vegan, como o queijo à base de mandioca e anéis de cebola, que estão em processo experimental.

As opções veganas estão em uma área se-parada e possuem um ícone de identificação no cardápio. Segundo Rodrigo, os produtos também são consumidos por pessoas que

não são vegans ou vegetarianas. A Burger Farm está localizada na Rua Bernar-

do Dorbusch, 1250, Baependi. A média de preço dos pratos varia de R$11 a R$20.

Inaugurado há quatro meses, o Stannis Pub, em Jaraguá do Sul, oferece uma opção vegan em seu cardápio. O “Veggie Burger” que contém um hambúrguer vegetal com cogumelos, molho es-pecial da casa, rúcula, alface, pepino e também é acompanhado de batata frita e ketchup. O pra-to custa R$16,90.

Segundo o sócio-proprietário, Denis Torizani, 24, a decisão de incluir a combinação no cardá-pio surgiu da procura por esse tipo de alimento no mercado. “Assim mostramos que apoiamos essa causa e que aqui há espaço para essa co-munidade, pois conseguimos harmonizar a cer-veja Stannis com o prato”, afirma. “Além de pen-sarmos muito na sustentabilidade e no cuidado com os animais, também admiramos as pessoas que vivem dessa maneira”, ressalta Denis.

O Stannis Pub está localizado na Avenida Ma-rechal Deodoro da Fonseca, no Centro.

Em Joinville, o Rádio Burger está com no-vidades para o público vegano. O cardápio da casa terá uma seção separada que facilitará na hora de identificar os pratos vegans. Um novo lanche também foi incluído, totalizando cinco opções. Dentre os ingredientes, o prato contém pão integral, mix de cogumelo shitake, broto de feijão, rúcula e maionese de azeitona.

Segundo a proprietária, Caroline Carstens, 27, no início, mesmo com um lanche vegetariano, alguns clientes pediram opções vegans, o que despertou a importância de abrir um espaço maior no cardápio para esses produtos. “Deve-mos estar atentos a todos os públicos, em suas escolhas e restrições alimentares”, ressalta.

A seção vegan também inclui dois sabo-res de milkshakes, maionese e anéis de ce-bola. Para os celíacos, há opção de pão sem glúten e queijo sem lactose para os intole-rantes.

O Rádio Burger está localizado na Rua Mi-nistro Calógeras, 529, no Centro, e a média de preço dos pratos varia de R$20 a R$27.

Pra gente é uma vitória apresentar o veganismo para pessoas que muitas vezes nem sabem o que significa“

Giovana Bordin

Combo Burger Farm: Hambúguer de berinjela com tomate, alface

e molho especial. Acompanha batatas fritas e refrigerante.

Uma das opções oferecidas pela estudante de História é um bolinho vegano com goiabada

que possuem deriva-dos de animais como alimentos”, ressalta. Em 2012, ela trouxe um palestrante de São Paulo para falar

Nicolle vende coxinhas, pães de queijo vegetal e

quichessobre libertação ani-mal na Universidade da Re-gião de Joinville (Univille).

Há cerca de seis meses, Nicolle começou a vender os produtos que fabrica. No começo, vendia o que sobrava daquilo que produ-zia para amigos, mas depois

expandiu o negócio. A divul-gação dos produtos é feita no Facebook.

As receitas são adaptadas ou retiradas de blogs espe-cializados. Para os consumi-dores, oferece cerca de dez produtos, como coxinha, pão

de queijo vegetal e quiches. A maio-ria do seu públi-co é vegan, mas existem clientes

dutos existentes no mercado, ela ressalta que hoje existem mais opções do que há alguns anos, mas o que ainda está em falta é o produto final. “Se eu tivesse dinheiro e não dependesse de um emprego, me dedicaria totalmente à culinária”, complementa.

Cursando História na Univille, Nicolle está desen-volvendo um projeto sobre a história da criação, venda e consumo de animais em Joinville e região a partir dos anos 80. Ela também criou o grupo “Veganismo/Direito dos Animais Jara-guá do Sul” no Facebook, que facilita a comunicação entre as pessoas que se inte-ressam pelo assunto.

Onde encontrar opções veganas

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Joinville - Outubro 2013PRIMEIRA PAUTA

Diagramação de Heloísa Jahn | Edição de Luana de Freitas

Bombeiros Voluntários são exemplo de dedicação há mais de 120 anosConheça as histórias de quatro profissionais que conciliam suas rotinas diárias com o voluntariado na corporação mais antiga do Brasil

A história da bombeira voluntária Sirlene Fernandes Raulino,

48 anos, começou há dez anos, com a criação da unidade 10, no bairro Aventureiro. Ela é separada, mãe de seis �lhos, e além de trabalhar como voluntária também é costureira. Durante o dia divide o tempo entre os serviços domésticos e a costura. Quando pode e durante os �nais de semana dedica-se ao voluntariado.

Desde menina Sirlene sonhava em ajudar o próximo, no entanto, não sabia como. Ao descobrir que no bairro onde morava seria construído uma unidade do Corpo de Bombeiros, ela decidiu dar início ao curso gratuito. Depois de formada, passou a dedicar cerca de 700 a 800 horas por ano, ao trabalho totalmente voluntário. Ela conta que durante vários �nais de semana chegou a fazer 24h de plantão na corporação e depois ir direto para o serviço. Tanto tempo longe de casa, nunca atrapalhou a relação da Sirlene com a família e a�rma: “Os meus �lhos sentem orgulho do meu serviço. Eles me apoiam muito”.

Hoje a voluntária só encontra uma di�culdade para continuar trabalhando: problemas de saúde. Nesse ano, Sirlene afastou-se da corporação durante um tempo. Aos poucos ela está voltando ao serviço, mas não com tanta frequência como antes. Para bombeira, o fato da saúde não estar 100% não é um empecilho. “Eu pretendo morrer trabalhando nos bombeiros, vou �car aqui até quando aguentar,” garante.

Das tantas histórias que Sirlene já viveu, a mais marcante durante esses dez anos, foi a ocorrência em que a vítima era uma criança de 5 meses. O bebê estava sofrendo de infarto. Ela conta que a mãe desesperada jogou a criança, já sem poder respirar, no colo dela. Depois de receber a massagem

cardiorrespiratória a bebê foi encaminhado passando bem ao hospital. “Poder ajudar assim é algo grati�cante, ao �nal de cada plantão a única coisa que eu faço é agradecer”, conta.

O gosto pelo trabalho é tanto que a voluntária resolveu se especializar como socorrista. Formada em mais dois cursos, além de poder atender no combate a incêndio, ela também pode auxiliar na ambulância, realizando os atendimentos em acidentes e pré-hospitalares. Quando fala dos obstáculos e lutas que já enfrentou para permanecer na corporação, enfatiza: “Está enganado quem pensa que mulher é sexo frágil”.

Assim como ela, quem também sente orgulho em dedicar boa parte da sua vida ao serviço voluntário do Corpo de Bombeiros é o comandante Ademar Marx. Ele tem 70 anos de idade e 51 de trabalho. Sem horário especí�co, passa horas do dia na unidade. Ademar diz que faz tudo isso, porque gosta muito e só aguenta todo o trabalho quem realmente ama essa pro�ssão.

Hoje ele é aposentado, mas durante 32 anos conciliou o trabalho na empresa de fundição com o voluntariado. Ademar conta que ser bombeiro foi um sonho que ele tinha desde criança. Outro fator ao in�uenciá-lo na escolha da pro�ssão foi quando, aos dez anos, presenciou um incêndio na sua casa.

Aos 17 anos o comandante se mudou de Jaraguá para Joinville, onde p r e t e n d i a estudar e trabalhar. Ao começar o curso técnico

o professor da instituição, que na época era bombeiro, insistiu até ele começar os serviços como voluntário. Ademar e mais quatro meninos, que também faziam o técnico, foram morar na corporação. O local era uma espécie de pensão, para poder �car ali eles precisavam pagar o que consumiam e revezar os

Os meus �lhos sentem orgulho do meu serviço. Eles me apóiam muito.“Sirlene RaulinoBombeira voluntária

08

MILENA AMARAL

Geral

Ademar Marques, 70 anos, é comandante da Unidade 10 dos Bombeiros Voluntários de Joinville e atua há 51 anos como voluntário

serviços sempre se dividindo em dupla. Uma das exigências da corporação é que a todo o momento tinha que ter alguém atendendo na corporação.

Atualmente, Ademar é separado e mora sozinho, mas conta que na quando era casado nunca teve problemas com a mulher por causa do tempo em que não passava em casa. Ele teve duas �lhas e na sua família é o único que presta serviços voluntariamente. O Comandante conta que cada ocorrência é uma emoção diferente. O bombeiro também explica que, comparado aquela época, hoje em dia ele atende muito menos ocorrências. Na unidade são registrados cerca de vinte e oito casos por dia.

Ao contrário do Comandante Ademar, José Luis de Oliveira, 30 anos, é bombeiro há apenas há um ano. Mesmo com pouco tempo de serviço, o prazer em servir a corporação é visível. José é natural de Rezende, Rio de Janeiro, e veio para Joinville por causa da família. Na cidade onde morava trabalhava como motorista das forças armadas, quando chegou aqui conheceu os bombeiros voluntários e decidiu virar um membro.

Hoje, José passa 10 horas, nas quintas e sextas-feiras, servindo na unidade 10. Além de ser motorista na corporação,

ele também trabalha como motorista do transporte público da cidade. O bombeiro conta que muitas pessoas não entendem porque ele dedica tanto tempo de trabalho sem receber nada. O voluntário explica que a única coisa que motiva uma pessoa a realizar esse trabalho é o amor.

MAIS DE MEIO SÉCULO DE VOLUNTARIADO

O joinvilense, Romeu Ernesto Dressel entrou na corporação em 1958. Na época trabalhava como mecânico de motonetas. Ele sempre teve o sonho de usar farda, mas jamais tinha cogitado a possibilidade de ser bombeiro, já que odiava o barulho da sirene. De tanto os amigos insistirem, Dressel

ingressou na corporação e logo foi contagiado com o serviço.

O voluntário conta que quando �cava sabendo de um incêndio pegava a lambreta e se dirigia rapidamente até a unidade. O bombeiro já fez partes de muitos cargos dentro da corporação, foi escolhido pelos companheiros para ser chefe de seção e já foi ajudante de ordens dos comandantes. Mas das tantas funções que já desenvolveu, a que mais o atraia era ajudar no combate a incêndios. Hoje, com 74 anos, Romeu se dedica apenas aos trabalhos administrativos da unidade. Na casa do bombeiro estão guardadas as fardas, os bonés, quepes e um capacete utilizado durante esses 55 anos. O aposentado conta com orgulho cada passo da caminhada como voluntário. Casado há 51 anos, a mulher Ires Dressel, que sempre o apoiou.

Milena [email protected]

Page 9: Primeira Pauta - Edição - 105

Joinville | Outubro 2013 PRIMEIRA PAUTA

Diagramação de Émilin Souza| Edição de Miriã Mews

Araquari se prepara para receber BMW, mas ainda tem problemas

Saúde e infraestrutura ficam para trás diante do investimento em profissionalização e hospedagem para trabalhadores de fora do país

Capital catarinen-se do maracujá, Araquari ganha

destaque na agricultura por causa do cultivo da fruta desde 1987. Agora, o mu-nicípio quer ser conhecido como polo industrial. Para chegar neste novo patamar vai precisar de grandes in-vestimentos a longo prazo em infraestrutura, porque a cidade ainda tem de�ciên-cias em setores como saúde, educação e habitação.

Atraídos pelas oportu-nidades de negócios com a instalação da alemã BMW, empresas investem na cons-trução de galpões e outras planejam abrir condomínios residenciais. A cidade até já ganhou o seu primeiro hotel. Essas novidades exigem mu-danças que estão chegando aos poucos ou não têm pre-visão para serem colocadas em prática.

Ainda no papel, o refor-ço no transporte de pessoas e cargas pode vir do alto. A Prefeitura e o Governo do Estado planejam a constru-ção de um aeroporto inter-modal na localidade de Rai-nha, beneficiando também

os portos de São Francisco do Sul, Itajaí e Navegantes.

Uma das áreas que preci-sa de mais recursos é a saúde. A população não dispõe de um hospital e uma unidade que funcione 24 horas. Com 30 mil habitantes, Araqua-ri ainda depende do sistema de saúde de Joinville para atendimentos de emergên-cia. Conforme a chefe de gabinete da Prefeitura, Lu-ciana Corrêa, não há pre-visão e nem projeto para construção de um hospital na cidade. Segundo Luciana, o município ganhou novos postos, que estão espalhados nos bairros, principalmente no Itinga, o mais populoso. De acordo com os dados do Instituto Brasi-leiro do Geogra�a e Estatís-tica (IBGE ), o município cresceu 46,4% desde 2009. Com a instalação de no-vas empresas, mais famílias devem chegar na cidade. A previsão da Prefeitura é de que somente a BMW ofere-ça 3 mil vagas de emprego, mas a maioria dos postos de trabalho deve ser ocupado por pro�ssionais de fora. A quali�cação é outra

área que exige investimentos para atender à demanda de crescimento. Para pro�s-sionalizar principalmente a mão de obra local, uma uni-dade do Senai deve começar a funcionar no ano que vem com os cursos de metal-me-cânica, elétrica e informá-tica. “O governo do Estado também está preocupado em trazer novos cursos para to-das as modalidades”, a�rma o gerente do Sistema Na-cional do Emprego (Sine), Itamar Pedro Mistura. Ele ressalta que o crescimento de uma cidade vai muito além de atrair no-vas indústrias. “É necessário

capacitar as pessoas, quali�-cando-as para se desenvolve-rem e crescerem junto com a cidade”, diz o gerente do Sine. Com o objetivo de amenizar essa falta de capaci-tação, a Prefeitura criou um curso intensivo de inglês básico denominado Welco-me Araquari. Cerca de -500 pessoas devem ser atendidas pelo programa com quatro aulas por semana, com três horas de duração cada uma, durante um mês em quatro escolas municipais. Finan-ciado pelo município, o curso é gratuito.

Apaixonado por Ara-quari, o joinvilense Ludiero

Jasper Junior, construiu o primeiro hotel no centro da cidade.O empresário faz parte do grupo de novos in-vestidores que apostam no crescimento do município. “Sempre acreditei no po-tencial de Araquari por ser situada perto das praias”, afirma Jasper Junior.

Antes mesmo da conclusão das instalações com cinco andares e 55 leitos e ainda sem oferecer café da manhã - o serviço deve começar no mês que vem, o local já abriga hós-pedes, como professores do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) e um engenheiro da BMW.

09Geral

Araquari depende de Joinville, já que a única unidade básica de saúde não atende 24hSIDNEI DE SOUZA

Teresa [email protected]

JAC

SON

CA

RVA

LHO

Ela acorda pela manhã para mais um dia de trabalho. Ao fazer o

café, escuta os latidos e o abanar de rabos. Ela só quer �car quie-ta em um canto, mas ao abrir a porta da cozinha, alguém está à espera. Abana o rabo, late, pula. Ou simplesmente se enrosca nas suas pernas, com um mia-do baixinho. Imaginou a cena? Agora multiplique por 25. Essa cena é rotineira para a aposen-tada, Margarida Fernandes, 67 anos, tutora de 23 cães e 2 ga-tos resgatados das ruas.

O primeiro cão que resga-tou foi uma basset. “A vizinha

havia abandonado no terreno e peguei para cuidar.” Assim co-meçou a trajetória de proteto-ra dos animais, que a�rma que, antes de comprar ou adotar um bicho, é necessário que se pen-se a longo prazo, já que um cachorro vive em média doze anos, e um gato, seis. “As pes-soas gostam de filhotes por-que são pequenos e fofos. Depois que o bicho cresce e dá trabalho, ou fica doente, aí não querem mais.”

Ela conta que com frequên-cia encontra animais deixados na frente do portão da casa. “Quase todo dia recebo li-gações de animais vistos em estados preocupantes, infe-

lizmente não posso cuidar de todos.” Além disso, o gasto somente com a alimentação dos cães fica em torno de R$ 800 por mês, sem somar va-lores com veterinário, tosa, castração e cirurgias, quan-do necessário. “Tenho uma veterinária de confiança que faz alguns descontos para procedimentos cirúrgicos e não cobra as consultas.”

Margarida admite se sentir cansada, mas trabalha para dar uma vida melhor aos animais. “Não posso abandoná-los. Afinal, eles me dão muito mais do que eu dou a eles. Ensinam-me sobre amor in-condicional e amizade.”

Mãe de animais de estimaçãoTutora revela como é grati�cante adotar animais que estão abandonados nas ruas

Priscila Andreza de [email protected]

Margarida Fernandes tem 23 cães e dois gatos de estimação que resgatou das ruas

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GeralJoinville - Outubro 2013 PRIMEIRA PAUTA10

Diagramação de João Pedro Deschamps | Edição de Juliana Palaoro

Joinvilenses lutam pela sobrevivência

Drika [email protected]

Quase quatro mil pessoas da cidade vivem com renda mensal menor que R$ 70

Moradores do bairro Paranaguamirim vivem sem infraestrutura e dividem espaço com o lixo

JEAN PATRICK

Um cachorro solto anuncia a chegada de visitantes na casa

de madeira escorada por palan-ques. É nesse cenário que vive a família Pedroso, no Jardim Edilene, zona Sul de Joinville. Carla, a mãe da família, mostra a madeira oca consumida por cupins e a casa de três cômodos onde vive com mais seis pessoas . A dona de casa cuida dos qua-tro �lhos, de dez, oito, quatro e dois anos. Josué, o pai, sai to-dos os dias às quatro da manhã para começar o trabalho. Aos 57 anos, todos os dias ele pega o carrinho atrás de materiais re-cicláveis, o ganha pão da famí-lia. É graças a esse carrinho e à disposição de Josué que eles so-brevivem com cerca de R$ 400 por mês.

Há quinze anos em Joinvil-le, a família veio de Salto do Lontra, interior do Paraná, sonhando em conquistar uma vida melhor na cidade, que lá era conhecida por ter muitos empregos e suporte para todos os habitantes. Hoje, Carla ad-mite que se pudesse voltar no tempo não teria saído do inte-rior paranaense. “Lá eu tinha meu pai e minha mãe.O traba-lho na roça não era fácil, mas nunca passei fome.”

Na maior cidade do Estado, com o maior produto interno bruto (PIB) de Santa Catarina, e sexto maior crescimento na última década, também existem pessoas que lutam diariamente para sobreviver com menos de cem reais por mês. O Ministé-rio do Desenvolvimento Social estipulou em R$ 70 por pessoa a linha tênue que separa a pobre-za da extrema pobreza e é nessa situação que se encontram qua-se quatro mil joinvilenses, de acordo com dados da Assistên-cia Social de Joinville.

Carla tem uma lista de prio-ridades do mês e não consegue atender a todas as necessidades da família. “Eu compro apenas o necessário, não temos feijão todo dia na mesa, está muito caro e não dá pra fazer mila-

Políticas públicas

gre com esse pouco dinheiro”. Rafael e Gisele, os �lhos mais velhos frequentam a escola, e a mãe recebe o auxílio do Bolsa Família. Segundo ela, esse au-xílio não entra no orçamento da casa. “Essa ajuda é para os meus �lhos estudarem, e é isso que fazemos com esse dinhei-ro, compramos as coisas que eles precisam. Só uma vez eu fui obrigada a gastar isso com comida, porque o Zé adoeceu e quase passamos fome”. As duas crianças mais novas �cam em casa o dia todo. Carla ainda não conseguiu vaga na creche, o que a impede de trabalhar, para ajudar nas contas da casa. A lama que toma conta do terre-no não é consequência somente das chuvas que foram constan-tes nos últimos dias: a família Pedroso ocupou um terreno na comunidade depois de não conseguir mais pagar aluguel e sustentar os quatro �lhos.

AINDA HÁ ESPERANÇA

Um cavalo e uma carro-ça cheia de verduras percorre as ruas de barro do Morro do Amaral. Conhecido na região como o Tião da verdura, Se-bastião Pereira é joinvilense. Nascido em Pirabeiraba, Tião aprendeu com os pais a cul-tivar verduras. Depois que se casou com Neusa, o produtor

de 40 anos, atravessou a cidade e saiu da zona norte para a zona sul, onde morava a família da esposa. Com a morte dos pais, Neusa herdou a casa. Depois do falecimento deles, há cerca de seis anos, a situação �nanceira da família �cou preocupante. Neusa não pode trabalhar: além de um sério problema na colu-na, precisa cuidar do �lho de três anos. A casa deixada pelos pais tem um terreno grande e permite o plantio das verduras, mas o clima de Joinville impede muitas vezes o plantio, prejudi-cando a renda da família.

Para Sebastião, o que mais dói é ver o �lho pedindo ‘Noni-nho’ (Danoninho) e não poder ir ao supermercado comprar. “Muitas vezes, tudo que temos para comer é alface e aipim”. A renda da família é inconstante e varia, mas, segundo Neusa, a média é de R$300, R$400 por mês. “Nunca passei fome por-que temos comida plantada atrás de casa, mas meus remé-dios já faltaram inúmeras vezes e não posso dar o que meu �lho pede, e isso machuca a gente”. Neusa e Tião querem um fu-turo melhor para o �lho, mas a falta de vagas em creches já desanima o casal. “Quero que meu �lho estude e consiga viver melhor quando for maior, não quero que ele passe vontade como passa hoje, tão pequeno”, lamenta Tião.

Responsável pelo serviço de informação dos cadas-tros da Assistência Social de Joinville, Jaciane Geral-do dos Santos relata que as maiores di�culdades apon-tadas pelas famílias em situ-ação de pobreza e extrema pobreza na cidade são o de-semprego, a instabilidade de renda e desestruturação fa-miliar. Para Jaciane, os pro-gramas de prevenção à rup-tura de vínculos familiares e projetos de gera-ção de trabalho e renda, deveriam ser políticas mais presentes junto à comunidade.

Há seis anos na área de Servi-ço Social, Jaciane reforça a necessidade de rein-serção dessas famílias na so-ciedade e nas políticas públi-cas municipais. “Trata-se de famílias sem oportunidade e desorientadas quanto a seus direitos, em situação de vul-nerabilidade social que pre-cisam de orientação, quanto a questão social que viven-ciam. Precisam participar da sociedade para que tenham seus direitos de cidadãos, ga-rantidos através da inserção nas políticas públicas”.

Trabalhando há mais de dois anos na área de prote-ção à família, a psicóloga Fernanda Matheus Pallú acredita no potencial das pessoas e não concorda com

o discurso do Ministério de Desenvolvimento e Comba-te à Fome que vê a cobrança como forma de culpa.

Ações para retirá-los da precariedade habitacional é o primeiro passo para uma solução a curto prazo. “Ofe-recer cursos básicos que te-nham um retorno pro�ssio-nal rápido, como artesanato e auxiliar de pedreiro nos próprios bairros seriam uma solução à curto prazo.

O investimen-to em educação e pro�ssionalização em parceria com o Sistema Nacio-nal de Empre-gos em Joinville (Sine) e empresas,

é a solução que eu vejo para erradicar a pobreza na cida-de a longo prazo”, a�rma Fernanda.

A coordenadora do Serviço de Referência da Proteção Social, Paula Or-tiz Conte, vê na baixa remu-neração, nos empregos in-formais, na falta de moradia, na falta de creche e na violên-cia intrafamiliar alguns dos motivos para a situação de extrema pobreza. “Não exis-te política pública que possa dar conta da questão social, no sistema capitalista sem-pre haverá ricos e pobres”, ressalta. De acordo com Paula, a desigualdade social é conse-quência do sistema capitalista.

Sem vagas nas creches públicas, crianças da periferia passam maior parte do dia na rua

JEAN PATRICK

Jaciane Geraldo dos Santosassistente social

Trata-se de famílias sem oportunidades e desorientadas“JACIANE GERALDO

assistente social

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escola, as crianças precisam ter 11 anos ou mais. “Do início do ano até o festival, ensaiamos quatro vezes por semana com a duração de 2 horas e meia. Agora que o Festival já acabou, os ensaios são duas vezes por semana”, diz Elisiane. A empresa Döhler é a patrocinadora do grupo e todo o custo de participação no festival é paga por ela.

Além do Festival de Dan-ça de Joinville, a coreógrafa conta que também parti-cipam, quando possível, de eventos em que são convida-dos. Participam ainda do Fes-tival de Dança de Salete e do Festival Escolar de Dança.

Grupo de dança da Escola Pedro Ivo Campos faz parte do projeto Dançando na Escola

Escola é hexacampeã do Festival de Dança

Já dizia o poeta Ralph Emerson, “Nada se obtém sem esforço; tudo se pode conseguir com ele”. E foi atra-vés do esforço, da dedicação e de muito ensaio que, mais uma vez, os alunos do projeto Dançando na Escola da E. M. Pedro Ivo Campos conquis-taram o 1º lugar na 31ª edição do Festival de Dança de Join-ville, categoria Danças Popu-lares – Conjunto Júnior.

No colégio, o projeto Dançando na Escola, uma iniciativa do governo munici-pal, iniciou em de 2002 com a professora Elisiane Wiggers,

que é a coreógrafa do grupo atual. Os alunos participam do Festival de Dança des-de 2005 e, ao longo desses anos, o grupo já levou para casa seis vezes o troféu de campeão, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012 e 2013, sempre na categoria Danças Popula-res – Conjunto Júnior.

No ano passado, o colé-gio venceu com a coreogra�a “Maracatu”, sendo também indicada como Revelação do Festival de Dança de Joinvil-le. Neste ano, o grupo venceu com a coreogra�a “Galantes”. A professora Elisiane Wiggers recebeu a indicação de Coreó-grafa Revelação do Festival. Para participar do projeto na

Joinville - Outubro 2013 PRIMEIRA PAUTA 11

Diagramação de Émilin Souza| Edição de Nicole Cristine Eichenberg

Cultura

Miriã [email protected]

O projetoO Dançando na Escola é um projeto da Secretaria de Educação de Joinville,

coordenado por Denise da Silva Gaor e Maria de Fátima Gomes. O principal obje-tivo é oportunizar a dança aos alunos da rede municipal e oferecer uma educação integral, afastando-os de uma situação de risco social, possibilitando, assim, uma vivência mais saudável e segura diante das di�culdades apresentadas pelas co-munidades mais carentes.

O projeto iniciou em Joinville em 1999. Segundo Maria de Fátima, atualmen-te 30 escolas contam com o Dançando na Escola, envolvendo 12 professores e aproximadamente 890 alunos.

Alunos preparando coreogra�a no auditório da escola. O ensaio ocorre três vezes por semana

ANDREIA SILVA

Sarau da Brixton:arte em movimentoCriado há quase dois anos, evento estimula produção cultural em Joinville. A partir de outubro, encontros serão na primeira sexta-feira de cada mês

“Mic Aberto”. A última “atração” destacada no cartaz que promove o

Brix Sarau demonstra bem o caráter do evento, que com-pletou a 12 ª edição no mês de setembro. Idealizado quando a loja Brixton ainda era na rua Pedro Lobo, no Centro de Joinville, a ideia ganhou cor-po na troca de endereço e des-de março de 2012 abre espaço para que os artistas da cidade mostrem seus trabalhos.

Motivados a incentivar a produção artística local, Lucas Vieira e Paulinho Tomaz, só-cios na Brixton, deram início ao evento que virou rotina nas últimas sextas de cada mês em Joinville. Com a intenção de dar lugar não somente ao hip-hop, o sarau tornou-se um encontro cultural dos mais diversos es-tilos. Formado em publicida-de e propaganda, Lucas, que

Abel - Exibição do videoclipe “Jazzabel” O’Jizzy – Clipe: Felicidade não é dinheiro Guilherme e Camila – Documentário: Entre Ritmo e Poesia Três 1 Meia – Música: Tá na casa Les MC e Halley Guedes – Música: O Tempo Voa

Rasantes MC’s – Apresentação do CD KDM – Música : Simples e direto Presságio MC’s – Música: A cada passo 5ª Dose – Música: Minha vida é o rap Acesso Restrito – Música: Come on The Babylon

Os lançamentos da Brix Sarau EspecialHá espaço dentro e fora da loja para cada um mostrar sua arte, misturando estilos e expressão

Felipe [email protected]

JEAN PATRICK

JEAN PATRICK

Evento, que virou rotina, tem a intenção de dar lugar a diferentes manifestações culturais

também é integrante do grupo Versão Original (V.O.), conta que não queria restringir seu trabalho a vender produtos em uma loja. “Eu queria incluir a galera na parada, porque é di-fícil ter espaço. Eu lembro da minha época, quando comecei a fazer rap e a gente não tinha onde cantar.”

Hoje, porém, o cenário é di-ferente. Prova disso foi a última edição, realizada no dia 20 de setembro. Nem mesmo a chuva que deixou o estado em alerta impediu que o público mar-casse presença. A edição, que dessa vez foi na penúltima sexta do mês, era especial. O evento tinha como destaques os lan-çamentos de setembro. Clipes, músicas e até mesmo um docu-mentário foram as apostas do evento que lotou a loja localiza-da na rua Princesa Isabel.

Com a loja cada vez mais cheia a cada evento, os organi-zadores consideram inevitável

levar o Sarau para outro lugar, talvez para alguma praça. Antes disso, o evento trocará de data. A partir de outubro, o sarau será realizado na primeira sexta do mês. Apesar de gratuito, Lu-cas relata que por ser realizado no �nal do mês, muitas pessoas deixam de comparecer por não possuírem sequer o dinheiro para o transporte.

Charles Rodrigo da Silva, 22 anos, o Les Mc, é um dos exem-plos de como a cena do hip-hop Joinville está cada vez mais for-talecida. Junto com o parceiro Halley Guedes, Les foi uma das atrações principais, com o lan-çamento da música “O Tempo Voa”. Charles, que começou a escrever suas rimas em 2008 e participou das edições de 2012 e 2013 do Joinville Hip-Hop Festival, ressalta a importância do Brix Sarau para sua carreira. Além do lançamento da músi-ca, a dupla espera lançar seu pri-meiro CD em março de 2014.

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O grupo Sakura Daiko (acima) faz apresentação de Taiko.Odori (dança tradicional)está presente nos eventos

Foram feitos caminhos com �ores de cervejeiras para os visitantes apreciarem

Moradores da colônia e visitantes japonesesfazem Mochi (bolinho doce de arroz)

O Sakura Matsuri traz demonstrações de artes marciais para cerca de 3 mil visitantes

Diagramação de Heloísa Jahn | Edição de Rodrigo Guilherme Pereira

12 Cultura

Colônia criada em 1963 faz eventos para manter a tradição e a cultura japonesa vivas

Joinville - Outubro 2013 PRIMEIRA PAUTA

Adolfo Lindenberg [email protected]

Pequeno pedaço do Japão no coração da Serra Catarinense

Cerejeiras floridas, mulheres usando quimono feito para ocasiões especiais, pessoas

conversando em japonês, um cardápio constituído por yakisoba (macarrão com legumes e carne), sushi, mochi (doce feito com massa de arroz), manju (doce feito com feijão japonês), grupos fazendo apresentação de taiko (onde os músicos tocam tambores), artes marciais e danças tradicionais. Esta era a visão que o visitante tinha ao entrar no Parque Sakura, localizado no município de Frei Rogério, no meio oeste catarinense. No parque, estava sendo realizado a 16ª Sakura Matsuri, sendo este o principal e o mais prestigiado evento da colônia japonesa. Segundo a presidente da Associação Cultural Brasil Japão, Izumi Honda, cerca de 3 mil pessoas prestigiaram o evento este ano. Conforme os dados do IBGE, a cidade possui 2.474 habitantes.

A colônia, nomeada de Ramos, foi fundada em 28 de janeiro de 1963, mediante a um acordo de colonização entre o governo japonês e o governo do estado. O nome foi uma homenagem ao governador Celso Ramos, mas a comunidade também é conhecida como Associação Cultural Brasil Japão de Núcleo Celso Ramos.

Os primeiros imigrantes chegaram em 1964. Eram oito famílias, no total de 50 pessoas, e seus senhores eram: Kazumi Ogawa, Shingo Sugiyama, Niro Kuwahara, Takao Katsurayama, Koji Katsurayama, Kiyotsugu Kubota, Wataru Ogawa e Fujishige Eguchi.

Durante o ano, a colônia realiza diversos eventos, tais como: Undokai (gincana esportiva), Bom-Odori (é equivalente ao dia de �nados daqui), Gashuku (encontro de praticantes de artes marciais) e o festival Sakura Matsuri.

A cidade ostenta um monumento histórico: o Sino da Paz. No mundo, existem apenas três sinos iguais. Um �ca em Hiroshima e outro está na sede da ONU. Ele é tocado todo dia 6 de agosto, em homenagem às vítimas da bomba nuclear jogada em Hiroshima. É badalado três vezes: uma para lembrar de nunca mais fabricar bombas; a outra para nunca mais comprar bombas e a terceira para nunca mais lançar bombas. Além do sino, existe um museu cercado de tsurus (dobradura de papel no formato de uma garça branca), com uma exposição fotográfica que conta um pouco da história dos japoneses.

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お早う ございますOhayou/Ohayou Gozaimasu (oraiou gossaimasu)! Bom dia! Com “gozaimasu” é bastante formal.

今日は Konnichi wa (coniti ua)!Boa tarde!

今晩はKonban wa (comban ua)!Boa noite!

じゃ ね!Ja ne!(ia né)Tchau, até mais!

お元気 です か?Ogenki desu ka? (ogenqui desu cá)Como você está?

Aprenda um pouco do idioma japonês

A escrita que está sendo usada é o hiragana (ideograma usado para formular palavras próprias do idioma japonês). Abaixo, estão as pronúncias e as traduções, respectivamente.

はい、元気 ですHai, genki desu (rai, genqui desu)Estou bem

はい、元気 ですHai, genki desu (rai, genqui desu)Estou bem

私 は。。。です: Watashi wa...desu (uatashi ua)Eu sou...