Pressuposições Na Interpretação Das Escrituras

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Pressuposições na interpretação das escrituras Introdução A noção de pressuposições desempenha uma função importante na interpretação bíblica. Todos nós mantemos várias crenças que pressupomos ou aceitamos quando deparamos com a tarefa de interpretar as Escrituras. Ninguém é capaz de se aproximar do texto bíblico com uma mente em branco. As pressuposições delimitam as fronteiras dentro das quais a interpretação bíblica pode e deve funcionar devidamente. Também determinam o método e, por meio do método, também influenciam, a um ponto considerável, o resultado de nossa interpretação. Pressuposições são idéias, hipóteses ou fatos que aceitamos ou carregamos conosco antes de iniciar nossa análise de um texto. O bom exegeta procura libertar-se ao máximo deles para que a sua compreensão do texto não seja distorcida pela sua pré-compreensão. Um exemplo prático ajuda a ver a importância das pressuposições. Se um exegeta pressupõe que "milagres não podem acontecer", todo seu estudo dos evangelhos e de Atos vai revelar ceticismo quanto aos fatos narrados e vai procurar explicá-los por meio de causas naturais, ignorância do povo, erro do escritor, etc. As pres- suposições vão guiar nossa capacidade de entender e explicar o texto. Por outro lado, as pressuposições existem e sempre existirão. O que importa é a sua validade. O critério da validade de uma pressuposição é a sua base cristológica, que Jesus Cristo é o filho de Deus. Devemos ler a história do Novo Testamento com a pressuposição cristológica revelada pelos escritores. Esta é uma pressuposição básica para entender o Novo Testamento, e até mesmo o Velho, tomadas as devidas precauções. A pressuposição cristológica é válida para sempre. Quando as nossas pressuposições são iguais às pressuposições dos escritores do Texto Sagrado, temos as melhores condições possíveis para entender o que eles estão falando e escrevendo. Não há um raciocínio em círculo aqui. A fé em Cristo, mantida pelos escritores do Novo Testamento, precedeu a obra escrita que produziram sob a influência do Espírito Santo. Logo, para que possamos acompanhar o pensamento desses homens, precisamos participar da fé que tiveram. Ver o texto como o autor o viu é o nosso alvo. Buscando as pressuposições do autor, não entraremos em choque com ele. Encontrar as pressuposições do escritor pode ser a chave para não introduzir nossas idéias no texto. Cristo é o princípio de unidade e da verdade na interpretação da Bíblia. O desafio hermenêutico Os intérpretes da Bíblia não podem se livrar do seu próprio passado, suas experiências, idéias fixas e noções e opiniões preconcebidas. É um truísmo aceito que neutralidade total, ou absoluta objetividade, não pode ser atingida no ato da interpretação. A exegese e a reflexão teológica sempre ocorrem contra o pano de fundo de

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Quais são as pressuposiçōes básicas e sadias que deve ter um interprete das Sagradas Escrituras.

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Pressuposições na interpretação das escrituras

IntroduçãoA noção de pressuposições desempenha uma função importante na interpretação bíblica. Todos nós mantemos várias crenças que pressupomos ou aceitamos quando deparamos com a tarefa de interpretar as Escrituras. Ninguém é capaz de se aproximar do texto bíblico com uma mente em branco. As pressuposições delimitam as fronteiras dentro das quais a interpretação bíblica pode e deve funcionar devidamente. Também determinam o método e, por meio do método, também influenciam, a um ponto considerável, o resultado de nossa interpretação. Pressuposições são idéias, hipóteses ou fatos que aceitamos ou carregamos conosco antes de iniciar nossa análise de um texto. O bom exegeta procura libertar-se ao máximo deles para que a sua compreensão do texto não seja distorcida pela sua pré-compreensão. Um exemplo prático ajuda a ver a importância das pressuposições. Se um exegeta pressupõe que "milagres não podem acontecer", todo seu estudo dos evangelhos e de Atos vai revelar ceticismo quanto aos fatos narrados e vai procurar explicá-los por meio de causas naturais, ignorância do povo, erro do escritor, etc. As pressuposições vão guiar nossa capacidade de entender e explicar o texto.

Por outro lado, as pressuposições existem e sempre existirão. O que importa é a sua validade. O critério da validade de uma pressuposição é a sua base cristológica, que Jesus Cristo é o filho de Deus. Devemos ler a história do Novo Testamento com a pressuposição cristológica revelada pelos escritores. Esta é uma pressuposição básica para entender o Novo Testamento, e até mesmo o Velho, tomadas as devidas precauções. A pressuposição cristológica é válida para sempre.

Quando as nossas pressuposições são iguais às pressuposições dos escritores do Texto Sagrado, temos as melhores condições possíveis para entender o que eles estão falando e escrevendo. Não há um raciocínio em círculo aqui. A fé em Cristo, mantida pelos escritores do Novo Testamento, precedeu a obra escrita que produziram sob a influência do Espírito Santo. Logo, para que possamos acompanhar o pensamento desses homens, precisamos participar da fé que tiveram. Ver o texto como o autor o viu é o nosso alvo. Buscando as pressuposições do autor, não entraremos em choque com ele. Encontrar as pressuposições do escritor pode ser a chave para não introduzir nossas idéias no texto. Cristo é o princípio de unidade e da verdade na interpretação da Bíblia. O desafio hermenêuticoOs intérpretes da Bíblia não podem se livrar do seu próprio passado, suas experiências, idéias fixas e noções e opiniões preconcebidas. É um truísmo aceito que neutralidade total, ou absoluta objetividade, não pode ser atingida no ato da interpretação. A exegese e a reflexão teológica sempre ocorrem contra o pano de fundo de pressuposições fundamentais acerca da natureza do mundo e da natureza de Deus. Há, inevitavelmente, uma compreensão prévia em torno da qual o intérprete inclinará sua investigação. Mesmo os chamados pesquisadores objetivos ou de ciências exatas agora reconhecem a influência dos valores. A espiral hermenêuticaReconhecemos que, ao objeto sob investigação, deve ser permitida alguma influência na determinação da abordagem apropriada. Uma teologia teocêntrica requer uma metodologia teocêntrica. Qualquer compreensão pessoal prévia, tal como evolução, que questiona ou nega a dimensão sobrenatural da qual as Escrituras claramente testificam, é estranha à Bíblia e não estará à altura do tema da Palavra de Deus. Nossas pressuposições e precompreensões devem ser modificadas e reformadas pelo texto da Sagrada Escritura e permanecer sob o controle da própria Bíblia. O texto bíblico deve ter

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prioridade sobre o intérprete. Se lidamos com a Bíblia, então devemos permitir que a Bíblia determine nossas pressuposições e metodologia em vez da física, matemática ou biologia. O intérprete bíblico deve perceber que a compreensão da Bíblia aumenta por meio da reforma da mente e do coração pela leitura das Escrituras. A sucessiva exposição à Palavra de Deus, por meio da qual o intérprete é capaz de alinhar cada vez mais sua precompreensão com a verdade bíblica, pode ser comparada a uma espiral hermenêutica. Devemos dar lugar à Bíblia para que nos ensine suas próprias categorias essenciais. Isto habilita o intérprete bíblico a pensar cada vez mais com o texto bíblico em vez de simplesmente pensar acerca do texto da Bíblia. Assim, "Deus mesmo, por meio da Bíblia e do Espírito Santo cria no intérprete as pressuposições necessárias e a perspectiva essencial para a compreensão das Escrituras."1 A Bíblia consistentemente demonstra que as pessoas não estão de tal modo cativas à sua compreensão prévia que não possam ser transformadas. Em Tessalônica, por exemplo, Paulo "arrazoou com eles acerca das Escrituras, expondo e demonstrando ter sido necessário que o Cristo padecesse e ressurgisse dentre os mortos" (At 17:2-3). Como resultado "alguns deles foram persuadidos e unidos a Paulo e Silas, bem como numerosa multidão de gregos piedosos e muitas distintas mulheres" (verso 4). Pressuposições bíblicas Um Deus pessoal que fala e ageEm nenhuma parte das Escrituras os escritores bíblicos tentam provar a existência de Deus. Em vez disso, é simplesmente afirmado desde o início (Gn 1:1). No Novo Testamento a mensagem é semelhante: os que se aproximam de Deus devem "crer que Ele existe" (Hb 11:6). Nossa fonte de informação acerca de Deus é a Sua própria revelação pessoal (Hb 1:1-3), fielmente registrada nas Escrituras (Rm 16:26). Embora seja impossível conhecer a Deus completa e exclusivamente, a Bíblia nos provê conhecimento verdadeiro suficiente que nos habilita a entrar em um relacionamento amoroso e salvífico com Ele. O testemunho próprio das Escrituras é de importância decisiva. Quando falamos do "Deus vivo" queremos dizer que Deus é essencialmente pessoal e que ele fez-se conhecido de uma maneira sumamente pessoal, particularmente na encarnação de Cristo. Como o Deus vivo, Ele é um Deus pessoal que fala e age. Um dos Seus atos comunicativos pode ser visto em Sua revelação. As coisas que Deus nos revelou são para que conheçamos (Am 3:7; Dt 29:29). A revelação divina gera as Escrituras (cf. 2Pe 1:19-21). Ao originar as "Sagradas Escrituras" (Rm 1:2), Deus utilizou instrumentalidades humanas. Deus não lhes eliminou a individualidade nem lhes suprimiu a personalidade. E, no entanto, o Espírito Santo conduziu os escritores bíblicos, guiando-lhes a mente e os pensamentos na escolha do que falar e assistindo-os no que escrever para que eles fielmente registrassem em fidedignas e apropriadas palavras as coisas que lhes foram divinamente reveladas. Deste modo, afirmamos que "toda a Escritura é uma indivisível e indistinguível união do divino e o humano."2

 

A humanidade criada para a comunhão com DeusAdão e Eva, criados à imagem divina, eram capazes de corresponder a Deus e de entrar em uma comunhão significativa com seu Criador. Deus, que criou o ser humano com a capacidade de falar e pensar, é retratado nas Escrituras como usando a linguagem humana para comunicar-se com os seres humanos (cf. Gn 1:28; 3:9; Ex 4:11-12,15-16; l Sm 3:2). Os seres humanos são descritos como sendo criados com a capacidade de compreender corretamente a Deus. Portanto, são responsáveis diante de Deus, seu Criador. O poder demolidor do pecadoA entrada do pecado, porém, alterou radicalmente, rompeu e fraturou este inicialmente puro e santo relacionamento com Deus. Apesar de o pecado ter desfigurado e distorcido a imagem de Deus no homem, não a destruiu completamente. De outra forma, o raciocínio e a criatividade

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humana seriam difíceis de sondar, e exemplos genuínos de amor e sacrifício por outros seriam enigmáticos.3

  O pecado é o desejo de cruzar as fronteiras da condição de criatura na tentativa de tornar-se como Deus, um rompimento da relação essencial Criador-criatura, e o desejo de viver uma vida independente, egocêntrica e auto-suficiente sem Deus. Esta separação de Deus tem afetado nossa natureza humana e corrompido todos os aspectos e dimensões de nossa existência, inclusive nossas faculdades de raciocínio e nossa capacidade de compreensão.  Os efeitos do pecado sobre a interpretação das Escrituras É raro nas discussões hermenêuticas encontrar uma descrição dos efeitos do pecado sobre a tarefa da interpretação bíblica.4 Contudo, várias predisposições interiores indicadas nas Escrituras são obstáculos para se atingir uma compreensão mais profunda e correta da verdade bíblica. Não é apenas que nosso sistema de pensamento humano seja empregado para fins pecaminosos; nossa mente e nossos pensamentos tornaram-se corrompidos e, desse modo, fechados à verdade divina. OrgulhoTalvez a principal característica dessa corrupção seja o orgulho. Segundo a Bíblia, o orgulho está na própria raiz e na essência do pecado. Por que os fariseus do tempo de Jesus foram incapazes de reconhecer a Jesus Cristo como o Messias? Jesus os chama de espiritualmente cegos, porque sua orgulhosa pretensão de que "podiam ver" era um obstáculo para reconhecer a auto-revelação de Deus em Jesus (Jo 9:39-41; 12:43). Em 2Tm 3:2-3 o orgulho ocorre em uma lista que descreve as características dos homens ímpios dos últimos dias. Ele conduz a ensinos errôneos e atos pecaminosos (2Tm 4:3-4; cf. lTm 6:3-4).Orgulho é uma atitude para com Deus e Sua Palavra em que a pessoa orgulhosa é caracterizada por uma mentalidade arrogante que se eleva a si mesma acima de Deus e de Sua Palavra e, assim, perde qualquer equilíbrio que poderia originar-se de um reconhecimento da verdadeira posição de alguém em relação a Deus e à Sua Palavra. Deus "resiste aos soberbos, contudo, aos humildes concede a Sua graça" (lPe 5:5). O orgulho leva o intérprete a enfatizar demais a razão humana ou preocupações existenciais como o árbitro final do que alguém deve conhecer, crer e obedecer, e, ao mesmo tempo, deprecia a autoridade divina e a inspiração das Escrituras.5

  Como pecadores, somos inclinados a ouvir apenas aquelas idéias que nos parecem atrativas, mas que não correspondem necessariamente à vontade revelada de Deus. A auto-ilusão é um perigo real, porque "enganoso é o coração, mais do que todas as cousas" (Jr 17:9). Deus nos tem advertido acerca do perigo da auto-ilusão, que leva a uma compreensão errônea da nossa situação (Ap 3:17). A auto-ilusão também afeta a devida compreensão da Palavra escrita de Deus (2Tm 4:3-4; cf. 3:13). O apóstolo Paulo instrui Timóteo e todos os crentes a não se tornarem vítimas dessa auto-ilusão. Devem pregar a Palavra e viver um estilo de vida coerente modelado de acordo com a instrução encontrada na Palavra de Deus (2Tm 4:2, 5).É a Palavra escrita de Deus que constitui uma lâmpada para os nossos pés e uma luz para o nosso caminho (SI 119:105). É o Espírito Santo, operando em nosso coração por intermédio da Palavra de Deus, quem aclara nossa auto-ilusão e ilumina as trevas do nosso entendimento. DúvidaA dúvida é uma experiência dolorosa. Duvidar significa "vacilar na opinião de alguém"; significa "estar indeciso acerca da verdade de alguma coisa" e "questionar a veracidade de uma idéia"; o que duvida está "inclinado a não crer na verdade de uma asserção."6

 A dúvida como parte de uma metodologia crítica abafa a certeza da Palavra de Deus e enfraquece a convicção da fé. Uma abordagem caracterizada pela dúvida "nunca é capaz, por si mesma, de chegar a um conhecimento salvífico e santificador da verdade divina. Precisamente como a fé é a condição para o conhecimento (2Co 4:13), assim a dúvida ou o ceticismo é a condição para permanecer em ignorância da verdade.7

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A incerteza apenas se aprofunda quando uma pessoa duvidosa é confrontada com o testemunho verbal ou escrito da verdade (cf. Jo 5:46-47), "porque tal declaração demanda a transferência de autoridade da própria razão de alguém como o árbitro final para o testemunho que é declarado ser verdadeiro."8 Tem-se salientado que a fonte deste problema "jaz não em uma espécie de evidência apresentada à razão, mas na autônoma postura céptica da razão em face de toda evidência. Quando alguém começa com dúvida, a avaliação do texto nunca levará à certeza." O intérprete que duvida das declarações das Escrituras julga a Palavra de Deus e, desse modo, eleva-se a uma posição em que imagina conhecer o que é aceitável e o que não é. Deus, porém, não pede uma atitude de "crítica" e "dúvida" para se obter uma compreensão de Sua Palavra, mas requer fé. Conquanto as Escrituras nos exortem a ser compassivos com os "que estão na dúvida" (Jd 22), Jesus rejeita a dúvida complacente (Mt 16:1-4). Distância e distorçãoA natureza e conseqüência do pecado humano é descrita em Isaías 59:2 como "separação" entre a humanidade e Deus que esconde de nós o seu rosto. Esta foi a experiência de Adão e Eva no jardim do Eden. Embora Deus ainda procure contato e comunicação com a raça humana, a distância criada pelo pecado leva a uma distorção do nosso conhecimento de Deus. Uma atitude de dissecar criticamente as Escrituras, assim fragmentando e distorcendo sua unidade dada por Deus, é aguçada e estimulada pelo exercício.  “Os homens devem deixar que Deus cuide de Seu próprio Livro, Seus oráculos vivos, como Ele tem feito por séculos. Eles começam a pôr em dúvida algumas partes da revelação, e acham falhas nas aparentes incoerências desta e daquela declaração. Começando em Gênesis, eles rejeitam aquilo que julgam questionável, e sua mente os leva adiante, pois Satanás levará a qualquer extensão a que eles o sigam em sua crítica, e vejam alguma coisa de que duvidar em todas as Escrituras. Suas faculdades de crítica são aguçadas pelo exercício, e não podem repousar em nada com certeza. Em vez de ser capaz de ver unidade nas Escrituras, a Bíblia e suas mensagens são fragmentadas quando a razão humana caída aplica pressuposições estranhas e hostis à tarefa de interpretar as Escrituras, resultando em uma perda da autoridade bíblica. Em tal caso, a autoridade é transferida para o intérprete, que escolhe a que voz ele dará ouvidos entre a pluralidade de vozes. Além disso, a razão humana caída também introduz distorção por meio da interpretação das Escrituras por meio dos "raciocínios falazes" ou "palavras persuasivas" (Cl 2:4; cf. 2Tm 4:3-4; 2Pe 3:16), que, não obstante, enganam. Por exemplo: "A alegação de que não se pode conhecer a verdade absoluta leva à distorção, significando que a verdade das Escrituras será interpretada como informação pessoal em vez de informação concreta que corresponde à realidade."10

 A distorção também pode ocorrer quando as preocupações correntes do intérprete não combinam com o que é atinente ao texto e o intérprete faz indagações que o texto não pode responder ou o texto está dando respostas que o intérprete não está preparado para aceitar. As Escrituras nos dizem que o pecado nos cega quanto à verdade divina (Rm 1; lCo 1-2). Isto significa que o pecado impede o intérprete de reconhecer conclusões autorizadas.  DesobediênciaDesobediência, a indisposição de seguir a vontade revelada de Deus, também afeta negativamente nossa capacidade de compreender corretamente as Escrituras. A desobediência é companheira do orgulho e é pecado. O pecado intencional é de fato uma barreira no conhecimento da verdade divina (SI 66:18). Recusando admitir que precisamos aprender coisas novas da Palavra de Deus, resistimos às verdades espirituais e nos tornamos insensíveis a elas. A oposição persistente e a rejeição da verdade revelada de Deus levam a um ponto em que o desobediente torna-se incapaz de ouvir corretamente e compreender a Palavra de Deus.

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PRESSUPOSICOES GERAIS DA HERMENEUTICA

3.1 O que é uma pressuposição?O filósofo Hilton Japiassu define o termo da seguinte forma: "Algo que se toma como previamente estabelecido, como base ou ponto de partida para um raciocínio ou argumento".Outra definição é: Pressuposição é uma afirmação ou ponto de vista que tomamos como base para um conjunto de argumentos ou teoria que nos propomos a desenvolver.

3.2 Toda ciência tem pressuposiçõesToda teoria científica tem pressuposições. Quando Isac Newton formulou suas teorias, ele formulou três pressuposições, que ficaram popularmente conhecidas como as três leis de Newton. Estas leis físicas foram estabelecidas como a base de toda sua teoria. A teologia também possui pressupostos. Quando estudamos Deus pressupomos que Ele existe. Quando usamos a Bíblia para justificar nossas crenças, pressupomos que ela é um livro que tem autoridade espiritual.

Em muitas circunstâncias da vida humana agimos impulsionados por pressupostos. Se resolvemos ir para um seminário pressupõe-se que o aluno tenha um chamado ou vocação. Ou apenas o interesse de adquirir conhecimento teológico. Quando uma pessoa viaja do Brasil para o Japão pressupõe-se pelo menos que:

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1) A pessoa tem a passagem. 2) A aeronave tem boas condições de viagem. 3) O passageiro possui passaporte. 3) O piloto sabe dirigir o aparelho.No processo de estudo hermenêutico, temos também pressuposições que norteiam as nossas reflexões. Examinaremos algumas pressuposições que utilizaremos em nosso estudo.

4. QUAIS SAO AS PRESSUPOSICOES DA HERMENEUTICA?

4.1 Pressuposição I: A Bíblia tem autoridade espiritual e normativa.Em questões de religião o homem se submete a um dos seguintes tipos de autoridade: A fonte das Instituições e Tradições, A fonte da razão e do raciocínio, A fonte das experiências pessoais, A fonte Bíblica.4.1.1 Fontes de autoridade4.1.2 A fonte das Instituições e Tradições.Pessoas que adotam essa fonte de autoridade às vezes argumentam assim: "Eu creio dessa forma porque aprendi assim na Igreja". Ou ainda: "Agimos assim, porque há anos nossa Igreja faz assim.A autoridade institucional tem seus acertos e erros na história. Portanto, devemos Ter cuidado quando fazemos uso da tradição das instituições para formular conceitos e princípios doutrinários. Um exemplo de erro na autoridade institucional, pode ser constatado na Igreja Católica no que se refere a adoração a Maria, imagens, e santos.O próprio Cristo confrontou a tradição das instituições em Mt. 15. Nesta passagem Jesus contesta a tradição dos Anciãos.

4.1.3 A fonte da Razão.Há pessoas que colocam seu raciocínio lógico em mesmo nível que a Bíblia. Por serem capazes de formular seus pensamentos sobre bases eficientes, acreditam que estes são seus nortes.O racionalismo científico, e movimentos como o humanismo, que polarizam o homem como o centro do universo científico e espiritual, transformaram a razão em instrumento de autoridade normativa para o comportamento humano.4.1.4 A fonte das ExperiênciasHá pessoas que aceitam suas experiências pessoais como fonte de autoridade de fé e prática. A tendência de transformarmos experiências pessoais em regras de fé e prática pode ser perigosa, pois poderemos estar admitindo a existência de princípios de conduta extra-bíblicos. Muitos movimentos heréticos começam ao admitirem que experiências isoladas de indivíduos se transformem em normas guia da coletividade. Em algumas culturas, é muito comum, os indivíduos serem guiados por sonhos e visões. Estas experiências místicas individuais, afetam o comportamento de comunidades inteiras.É um grande erro, admitirmos as experiências pessoais de um indivíduo como regra de fé e prática.

PRINCIPIO DE HERMENEUTICA: Procure interpretar qualquer experiência pessoal a luz da Bíblia, e não o contrario.

4.1.5 As fontes paralelasEm alguns segmentos religiosos existe o que chamamos de autoridade paralela. Temos por exemplo o alcoorão, o livro dos Mormons, etc.... . Uma das características das seitas é a existência de autoridades paralelas.

4.1.6 A fonte BíblicaA Bíblia deve ser fonte única de autoridade e fé. As outras fontes podem falhar. Conforme II Timóteo 3:16, a Bíblia foi inspirada por Deus. Por isso ela é o nosso único instrumento de fé e prática.

4.1.7 Maneiras de avaliarmos a autoridade bíblica em algumas passagens: Uma pessoa age como quem tem autoridade, e a passage explica se o ato é aprovado ou reprovado.Como exemplo temos o relato de Gn. 3:4, onde Satanás fala como se tivesse autoridade. O contexto demonstra a invalidez da autoridade maligna.

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Outro caso, é quanto Natã manda Davi construir o templo, como se tivesse autoridade em II Sm. 7:3. Pelo contexto vemos, que Deus não aprova a atitude do Profeta Natã(vs 4-17). Uma pessoa age com atitude de autoridade, e a passagem não mostra aprovação nem reprovação. Neste caso, a atitude precisa ser julgada com base naquilo que o restante da Bíblia ensina sobre o assunto. Um exemplo desta situação é o caso de David que mente para o Rei Aquis, matando filisteus, mas dizendo para o rei filisteu que iria matar judeus. O que dizer da mentira de Raabe, que trouxe proteção para os espias. Surge neste caso, uma questão da ética: A mentira é justificável em caso desta salvar vidas?

4.2 Pressuposição II: A Bíblia é inspirada

A forma como encaramos a teoria da inspiração, é um fator de influência determinante sobre a nossa interpretação. Se um estudioso é influenciado pelo antisobrenaturalismo, então sua interpretação bíblica elimina quaisquer possibilidades de milagres e intervenção do sobrenatural no natural.

4.3 Pressuposicao III: Ha muitas questoes tratadas na Biblia, que sao explicadas e provadas pela fe, e nao por via racional.Um exemplo desta questão é o fato da Bíblia pressupõe a pressupor a existência de Deus não tratando de prová-la. Na linha inicial da revelação temos: "No princípio criou Deus...". A revelação pressupõe a existência de Deus. Nesta mesma revelação, não temos argumentos lógicos com a finalidade de comprovar a existência de Deus.Inúmeras outras questões explicam-se por meio da fé, como o nascimento virginal de Cristo, os milagres, relatos sobrenaturais como o do mar vermelho, a multiplicação de pães e peixes, mortos que foram ressurretos, as inúmeras profecias bíblicas, etc...Estas e outras questões exigem do leitor da Bíblia uma disposição de intelectual favorável ao exercício da fé em plano superior ao da razão.

4.4 Pressuposição IV: E necessario influencia espiritual para uma correta compreensão das escriturasSerá que uma pessoa sem o Espírito Santo pode entender a revelação? Sim. Porém esse entendimento será orientado em uma direção diferente dos objetivos do criador.Temos visto muitas pessoas revelarem suas interpretações sobre a revelação. Alan Kardec, por exemplo, elaborou os evangelhos segundo o Espiritismo. Temos encontrado interpretações completamente estranhas de livros de natureza profética, como o que foi publicado recentemente por Paiva Neto da LBV. Neste livro ele, se propõe a analise o livro de apocalipse.

INTRODUCÂO DE HERMENEUTICA

Como cristãos e integrantes do povo de Deus, devemos buscar o entendimento dos ensinamentos bíblicos de acordo com seus significados. Devemos aprender a discernir esses significados na variedade de contextos novos ou diferentes dos nossos próprios dias, que é a tarefa da HERMENEUTICA.Os assuntos relevantes de nossa disciplina serão: a história da hermenêutica, as formas de análise, os métodos e os princípios de interpretação bíblica. Portanto, nosso material didático tratará da disciplina Hermenêutica, que é a síntese dos resultados da exegese, tornando-a relevante para todo leitor da Palavra de Deus. 1. DEFINICOESa) Do nome HERMES, deus grego que servia de mensageiro dos deuses, transmitindo einterpretado suas comunicações.b) Do grego HEMENEUO: Interpretar.c) Ciência e Arte de InterpretarCiência: porque tem normas, ou regras, e essas podem ser classificadas num sistema ordenado.Arte: porque a comunicação é flexível. Uma aplicação mecânica e rígida das regras, às vezes distorcerá o verdadeiro sentido de uma comunicação.d) Hermenêutica Bíblica, é o estudo metódico dos princípios e regras de interpretaçãodas Sagradas Escrituras.Diferença entre Interpretar e Aplicar• Interpretar: explicar, traduzir exegeticamente; buscar o espírito do queestá escrito.Aplicar: por em prática, adaptar, adequar.2. A EXEGESE

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Nossa tarefa é dupla: Primeiro, descobrir o que o texto significava originalmente, esta tarefa é chamada exegese. Para nós, exegese é ler e explicar os textos em empatia (e simpatia) com os escritoresbíblicos. O exegeta é primeiramente um historiador que analisa os documentos. Todavia, ele tem de ir além da análise impessoal: é necessário assumir a fé que o escritor possuía para entender seus escritos. A exegese é um trabalho literário-espiritual. Exegese é uma palavra que vem da língua grega, sendo composta da preposição EK (de) e da forma substantiva do verbo HEGEOMAI (ir, guiar, conduzir) e significa "conduzir para fora" o sentido original de um texto. Na exegese procuramos entrar no texto (EIS), e ficar nele (EN), para então sairmos dele (EK) tirando lições para nós.A primeira tarefa do intérprete chama-se exegese. A exegese é o estudo cuidadoso e sistemático da Escritura para descobrir o significado original que foi pretendido. A exegese é basicamente uma tarefa histórica. É a tentativa de escutar a Palavra conforme os destinatários originais devem tê-la ouvido; descobrir qual era a intenção original das palavras da Bíblia. Esta é a tarefa que frequentemente exige a ajuda do "perito," aquela pessoa cujo treinamento a ajudou a conhecer bem o idioma e as circunstâncias dos textos no seu âmbito original. Não é necessário, no entanto, ser um perito para fazer boa exegese.Na realidade, todos são exegetas dalgum tipo. A única questão real é se você vai ser um bom exegeta. Quantas vezes, por exemplo, você ouviu ou disse: "O que Jesus quería dizer com aquilo foi..." "Lá naqueles tempos, tinham o costume de .. ."? São expressões exegéticas. São empregadas mais frequentemente para explicar as diferenças entre "eles" e "nós" — por que não edificamos parapeitos em redor das nossas casas, por exemplo, ou para dar uma razão do nosso uso de um texto de uma maneira nova ou diferente — por que o aperto da mão frequentemente tomou o lugar do "ósculo santo."Até mesmo quando tais ideias não são articuladas, são, na realidade, praticadas o tempo todo de um modo que segue o bom-senso.O problema com boa parte disto, no entanto, é (1) que tal exegese frequentemente é seletiva demais, e (2) que frequentemente as fontes consultadas não são escritas por "peritos verdadeiros," ou seja: são fontes secundárias que também empregam outras fontes secundárias, ao invés das fontes primárias. São necessárias umas poucas palabras acerca de cada um destes problemas:1. Embora todos empreguem exegese nalgumas ocasiões, e embora muito frequentemente semelhante exegese seja bem feita, mesmo assim, tende a ser empregada somente quando há um problema óbvio entre os textos bíblicos e a cultura moderna. Posto que realmente deve ser empregada para tais textos, insistimos que é o primeiro passo ao ler TODO texto. De início, isto não será fácil de fazer, mas aprender apensar exegeticamente pagará ricos dividendos no entendimento, e tornará a leitura, sem mencionar o estudo da Bíblia, uma experiência muito mais emocionante. Note bem, no entanto: Aprender a pensar exegeticamente não é a única tarefa; é simplesmente a primeira tarefa.O problema real com a exegese "seletiva" é que a pessoa frequentemente atribuirá suas próprias ideias, completamente estranhas, a um texto e, assim, fará da Palavra de Deus algo diferente daquilo que Deus realmente disse. Por exemplo, um dos autores deste livro recentemente recebeu uma carta de um evangélico bem conhecido, que argumentou que o autor não deveria comparecer a uma conferência juntamente com outra pessoa bem conhecida, cuja ortodoxia era algo suspeita. A razão bíblica dada paraevitar a conferência foi 1 Tessalonicenses 5.22: "Abstende-vos de toda forma do mal".Se, porém, nosso irmão tivesse aprendido a ler a Bíblia exegeticamente, não teria usado o texto dessa maneira. Ora, 1 Ts. 5:22 foi a palavra final de Paulo num parágrafo aos tessalonicenses a respeito das expressões carismáticas na comunidade. "Não tratem as profecias com desprezo", diz Paulo. "Pelo contrário, testem tudo, e apeguem-se ao que é bom, mas evitem todas as formas malignas." "Evitar o mal" tem a ver com "profecias," que, ao serem testadas, revelam-se não serem do Espírito. Fazer este texto significar alguma coisa que Deus não pretendeu é abusar do texto, não usá-lo. Para evitar errosdeste tipo, devemos, aprender a pensar exegéticamente , ou seja: começar no passado, lá e então, e fazer assim com todos os textos.2. Conforme logo notaremos, não se começa consultando os "peritos." Mas quando for necessário fazê-lo, devemos procurar usar as melhores fontes. Por exemplo, em Marcos 10.23 (Mt. 19.23; Lc 18.24), no término da história do jovem rico, Jesus diz: "Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!" Passa a acrescentar: "É mais fácil passar um

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camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus." Frequentemente se diz que havia uma porta em Jerusalém chamada o "Fundoda Agulha," pela qual os camelos somente poderiam atravessar de joelhos, e com grande dificuldade. A lição desta "interpretação" é que um camelo poderia realmente pasar pelo "Fundo da Agulha." O problema desta "exegese," no entanto, é que simplesmente não é verdadeira. Nunca houve semelhante porta em Jerusalém, em qualquer período da sua história. A primeira "evidência" que se conhece em prol de tal ideia é achada no século XI d.C. (!), num comentário de um eclesiástico grego chamado Teofilacto, que tinha a mesma dificuldade com o texto que nós temos. Afinal das contas, é impossível para um camelo passar pelo fundo de uma agulha, e era exatamente o que Jesus quería ensinar. É impossível para alguém que confia nas riquezas entrar no Reino. É necessário um milagre para uma pessoa rica receber a salvação, o que é certamente a lição das palavras que se seguem: "Para Deus tudo é possível." Devemos aprender a discernir esse mesmo significado na variedade de contextos novos ou diferentes dos nossos próprios dias, esta é a tarefa da HERMENEUTICA. Em definições clássicas a hermenêutica abrange ambas as tarefas, mas em tratados recentes a tendência tem sido separar as duas.Hermenêutica é a síntese dos resultados da exegese, tornando-a relevante para o leitor, ou auditório.• Descrever os vários campos de estudo bíblicos (estudo do cânon, crítica textual, crítica histórica, exegese, teologia bíblica e teologia sistemática). Apresentar a necessidade e a base bíblica da hermenêutica.