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O mos adoecer e quando isto vai
acabar", acrescenta.As consequências vão depender do
que cada ura viveu e irá experimen-tar nos próximos meses. Quem tem
profissões na área da Saúde, perdeuamigos ou familiares ou passou porum internamento corre mais risco de
sofrer de ansiedade, depressão ou
stress pós-traumático. Para alémdisto, as dificuldades financeiras quejá se fazem sentir também vão agra-var a saúde mental - de recordar
que durante a última crise cconómica se registou um aumento de 22,6%de suicídios no País.
Curiosamente, trabalhar em casa éaté um fator protetor da saúde mental, conforme confirma um estudo daUniversidade do Minho. Mas comfilhos pequenos pode ser um drama."Há que aceitar que é impossível ter
a mesmo produtividade que se tinha
antes", avisa Renata Benavente. As
crianças estavam habituadas a rece-ber atenção em casa e agora os progenitores não estão tão disponíveis."A situação piora dependendo das
condições da casa. Se cinco pessoaspartilham duas assoalhadas, o risco
de stress imenso é maior."
O "Nunca estive tanto tempo no
WhatsApp como agora", salienta a
psicóloga social Maria Luísa Lima,autora do livro Nós e os Outros: O
Poder dos Laços Sociais. As redessociais são um dos antídotos contraos efeitos nocivos da quarentena c
os portugueses estão a fazer usodeles. Na primeira semana de
quarentena, o tráfego de Internet
disparou cerca de 70%.Para gerir a ansiedade e ajudar a
focar no esforço coletivo e nos resul-tados positivos, como o decréscimodo número de infetados. Mas limite o
consumo de notícias a uma hora pordia. É uma das primeiras conclusões
apontadas pelo estudo que a Escola
de Medicina da Universidade do
Minho está a realizar sobre os efeitosda quarentena e que contou commais de 2.000 participantes. "Evitar
modos de transmissão da informa-
ção alarmista e bloquear a difusão
de mensagens falsas e sensacionalis-tas ajuda muito a evitar o risco de
desenvolvimento do stress pós-trau-mático", garante Pedro Morgado, umdos autores do estudo.
"Não vale a pena planear projetos
para o fim da quarentena, porquenão há uma perspetiva temporal",recomenda Renata Benavente.E deve estabelecer novas rotinasdiárias que incluam teletrabalho,lazer c exercício físico.
O O isolamento e a ansiedadelevam muitas vezes ao consumo de
alimentos de conforto, como bata-tas fritas e chocolate. Foi o que con-cluiu, em 2015, o professor de Psi-
cologia Jordan D. Troisi, da Universidade de Buffalo, EUA, quandoanalisou os diários de cerca de 200estudantes universitários escritosdurante períodos de solidão e isola-mento. A maioria recorreu a ali-mentos ricos em sal e açúcar parase sentir melhor emocionalmentee não porque tinha fome. refere oestudo Threatened belonging and
preference for comfort food amongthe securely attached (pertençaameaçada e preferência por ali-
EstudosA Ordem dos
Psicólogos está
a apoiar maisde uma dezenade projetos de
investigaçãocientífica rela-cionados com
a pandemia
QUANDO SETRABALHA
EM CASADURANTE APANDEMIA
HÁ QUEACEITARA
DIMINUIÇÃODA PRODUTI-
VIDADE
OMaria Luísa Lima
É licenciada em Psicologia e professoradoutorada (com agregação) no ISCTE-
-lUL. Faz investigação em questõesassociadas è perceção de riscos
ORenata Benavente
Doutorada em Psicologia Clínica
pela Faculdade de Psicologia daUniversidade de Lisboa, especializou-se
em proteção de crianças e menores
mentos de conforto entre quem tem
vinculação segura), publicado na
revista Appetiíe."É uma oportunidade para comer
melhor em casa. assim não saímosda quarentena com um aumento nas
doenças crónicas como a diabetes, aobesidade e a hipertensão", avisa abastonada da Ordem dos Nutricio
nistas, Alexandra Bento. Apesar de
deslizes, a nutricionista acredita quequem tinha bons hábitos alimentaresirá mantê-los. Mas o conceitotambém é verdade para os restantes.
O A bastonãria recomenda a inges-tão de sopa ao almoço e ao (antar.
"Agora temos tempo para a fazer",sublinha. E até cinco peças de fruta
por dia, uma forma de substituir os
alimentos de conforto. Mas deve
pesar se regularmente. "Se há umaumento de peso, deve-se reduzir
as porções de alimentos que se colo-ca no prato", diz a nutricionista. Façaum planeamento das refeições,
privilegiando os hortícolas. Para
quem estava no processo de perder
peso, será mais complicado fazê-lofechado em casa. Deve continuar aser acompanhado pelo nutricionistaatravés de teleconsulta.
A DOR CRÓNICAO A quase ausência de atividadefísica durante a quarentena podeaumentar o número de pessoas comdor crónica que já atinge 40% dos
portugueses. "Estou muito preocu-pado", diz Pedro Morouço. fisiologis-ta do exercício e professor no Institu-to Politécnico de Leiria. "A taxa de
pessoas que faziam exercício físico
em Portugal é de 6%. Uma imensi-dão limitava-se à atividade física darotina diária: correr para o autocarro,subir as escadas no metro. Agoranem isso pode fazer."
Para além de reduzir a ansiedade,o exercício físico é fulcral na preven-ção e na redução da dor crónica.
"Quando os músculos não trabalham
perde se massa muscular, ganha se
massa gorda e as articulações ficam
mais sobrecarregadas", avisa Pedro
Morouço. Mais: as articulações ne-cessitam de movimento para perma-necerem saudáveis, "não as usar
pode levar à sua degeneração".Os efeitos serão mais graves nas
mulheres. Elas têm maior tendência
para sofrer de osteoporose, sobre-tudo após a menopausa e o impac-to nas articulações, conseguidaatravés da atividade física, beneficiaa densidade óssea. Mas o perigonão está apenas aqui. O teletrabalho em cadeiras e mesas que nãoestão adaptadas ao computadorprovoca tensões musculares. "É
muito provável que aumentem os
casos de dores das costas", diz Luís
Miranda, presidente da Sociedade
Portuguesa de Reumatologia.
O médico receia ainda que algunsdoentes reumáticos agravem a sua
situação clínica. Ou por medo de
irem às consultas ou porque os espe-cialistas estão a fazer consultas porvideochamada. "Não estamos a fazer
as primeiras consultas porque paraisso c necessário mexer nos doentes,
avaliar as articulações e isso não é
possível agora."
A AMEAÇA DA DIABETESO Alimentação rica em sal, açúcar e
gorduras e a inatividade física podeconduzir à diabetes tipo 2. A doença,com maior incidência nos homens,afeta 13% dos portugueses mas este
número pode crescer. "Quem já é
pré-diabético pode tornar-se dia-bético depois da quarentena", ad
mire Davide Carvalho, que presideà Sociedade Portuguesa de Endo-
crinologia, Diabetes e Metabolismo.A doença fragiliza o sistema imuni-tário e torna o organismo mais vul-nerável à infeção do novo corona-vírus. Por isso, cerca de 20% dos infetados com Covid-19 são diabéti-cos. "O prognóstico também é maisreservado: a taxa de mortalidade éde 8% para os diabéticos e de 0,9%
para a população em geral", salien-
ta o endocrinologista.A quarentena pode aumentar os
casos de descompensação dos dia-béticos. "É necessário que tenham o
nível de açúcar no sangue o maisnormal possível e para isso é precisojogar com a alimentação, o exercíciofísico e monitorizar para ajustar a
medicação. Não é fácil", admiteDavide Carvalho.
O A ideia é movimentar se o máxi
mo que puder. "Pode-se colocar umalarme de 45 em 45 minutos parafazer movimentos com cada um O
OPedro Morgado
Psiquiatra e vice-presidente da Escolade Medicina da Universidade do Minho,é especialista em estudos sobre stress
e distúrbios obsessivos
OAlexandra Bento
Doutorada em Ciências do ConsumoAlimentar e Nutrição e docente
convidada na Universidade Católica, é abastonária da Ordem dos Nutricionistase assessora de nutrição na ARS do Norte
OPedro Morouço
Doutorado em Ciências do Desportopela Universidade da Beira Interior,
é professor adjunto do InstitutoPolitécnico de Leiria. Já ganhou váriosprémios internacionais de investigação
A ÇUASEAUSÊNCIA DE
ATIVIDADEFÍSICA PODE
AUMENTAR ONÚMERO DE
PESSOASCOM DORCRÓNICA
AbusosA GNR registou
uma diminui-
ção de 26%do denúnciasde violência
doméstica emmarço, o que
pode indicar a
dificuldade de
pedir ajuda dasvítimas fecha-das em casa
ExcessosVários estudos
apontam parauma ligação en-tre a ansiedadee o aumento do
consumo decalorias e deprodutos pro-
cessados, ricosem açúcar c sal
A IDEIA É
MOVIMEN-TAR-SE O
MÁXIMO QUEPUDER. DE45 EM 45MINUTOS
FAÇAAGA-CHAMENTOS
O dos pés, elevando-os, mesmosentado no sofá. Ou fazer agachamentos, apoiado numa cadeira",
explica Pedro Morouço. Quem ]átreinava duas, três vezes por semana deve manter a rotina com meiahora de exercícios mais intensos,
mas é de prever uma quebra física.
"A resistência aeróbica deve diminuir. isto c, vai sentir-se mais can-sado a fazer treinos que antes não
o cansavam", conclui.
OS RISCOS E AS SOLUÇÕESO Estas semanas começaram porser umas férias da Páscoa antecipadas c prolongadas, mas as saudades
dos amigos e o cansaço de estar emcasa podem afetar as crianças. "A
reação à quarentena é mais hetero-
génea neles", explica a psicólogaRaquel Raimundo. A ansiedade dos
pais e o medo são sentidos pelosfilhos. "Aprendemos mais com as
ações dos outros do que com as palavras e quando não há concordân-cia entre os dois seguimos mais as
ações". explica a psicóloga. Os paissão modelos de comportamento e
se estão tristes e ansiosos, devemreconhece Io e explicar o que estão
a sentir aos filhos. "Pode ser umaforma de ensinar a gerir emoções."
Fechados cm casa, é de esperarmais conflitos. "É natural que façammais birras, estejam mais irritáveis e,
em alguns casos, que seja mais difíciladormecerem à noite", enumera a
psicóloga, autora do programa paracrianças Devagar se Vai ao Longe.Para quem tem mais filhos, as dis-cussões entre irmãos vão agudizar-
NAS CRIANÇAS ENOS ADOLESCENTES
-se. "É útil deixá-los tentar resolver
os conflitos sozinhos", esclarece a
psicóloga, mas intervenha se a dis-
cussão se tornar mais física.
FOBIAS E REGRESSÃOO Para a psicóloga, o mais difícil
será regressar à escola. "Poderá
ocorrer um recuo das autonomias
que já tinham adquirido." As crianças
que tinham dificuldade em separar--se dos pais vão voltar a não quererficar na escola. Entre os mais in-fluenciáveis poderão surgir compor-tamentos obsessivos ao perigo daCovid-19. "É preciso estar atento se
as crianças lavam as mãos de forma
exagerada, quando não há essanecessidade."
O Deve-se explicar às crianças queo vírus é invisível, mas não está per-manentemente no ar e que. estando
em casa, não é necessário lavarmuitas vezes as mãos. Evite ter atelevisão ligada o dia inteiro com in
formação perturbadora sobre a pan-demia. Se é prejudicial para a saúdemental dos adultos, c pior para os
mais novos. E defina novas rotinas,com períodos de brincadeira, exer-cício físico c uma pausa para quepossam brincar sozinhos.
Para evitar birras no regresso à
escola, há que estimular o contacto
com os amigos através de video-chamadas e redes sociais. "A rela-
ção com os pares é central no desenvolvimento das crianças. É comas outras crianças que aprendemcompetências físicas, cognitivas e
inter-rclacionais", explicita RaquelRaimundo. Recomenda-se um con-
tacto diário, se for possível. "Os jo-gos onllne com os colegas também
podem ser uma forma de interagi-rem." Para isso estabeleça regras esaliente que o maior acesso aos
gadgets é temporário e será altera-do após o fim da quarentena.
ADOLESCENTES: A SOLIDÃOO "Estão numa fase em que o conflito com os pais c maior porque es-tão a lutar por maior autonomia",
explica Raquel Raimundo. For umlado é natural que se isolem ainda
mais no quarto e é necessário qué os
pais aceitem esse afastamento. "Vaiser difícil para os adolescentes vive-rem este período", confirma Olívia
Ribeiro, professora no ISPA Instltuto Universitário. "Acreditam ser
super-heróis e será até complicadomantê los fechados em casa." Co
mo os adultos, haverá adolescentes
mais vulneráveis â ansiedade e à
depressão. Os sinais são reveladores:demasiado tempo fechado no quartoisolado de todos-, insónias e uma ob-sessão pelas últimas informações so
bre a pandemia. Para os que tinham
poucos amigos, o confinamento vai
agravar a solidão que já sentiam."Durante a quarentena a solidão
social poderá ser colmatada atravésdas redes sociais, mas a solidãoemocional mais íntima, provocadapela dificuldade de expormos as
nossas fragilidades - não. Não é fácil
partilhar intimidade com um ecrã",diz a investigadora na área do isola-
OSCONFLITOS
COM CRIAN-ÇAS TENDEMA AUMENTAR
QUANDOESTAMOS
FECHADOSEM CASA
Luís Cunha MirandaMédico reumatologista, integra o
Colégio de Reumatologia da Ordem dosmédicos e preside à Sociedade Portugue-
sa de Reumatologia. Tem no currículodiversos estudos sobre esta área
ODavide Carvalho
Preside à Sociedade Portuguesa de
Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo.É chefe de departamento do Hospital de
S. João e professor da Faculdade deMedicina da Universidade do Porto
ComidaA alimentação
tem o potencialdo induzir ou
melhorar o
comportamen-to ansioso
mento social nos adolescentes. Nãohá dados em Portugal, mas estima-
-se que o número de adolescentes
que sofrem de solidão seja semelhante ao dos Estados Unidos, cercade 209Í). "Pensava-se que a solidão
era um problema dos idosos, masverificou-se que a prevalência nos
adolescentes é o dobro."
O Permita um maior contacto dosadolescentes com os amigos através das redes sociais, mas estejaatento a mais um risco: o cyberbullyíng. Tristeza, falta de energia e
de apetite e insónias podem ser si-
nais da violência psicológica nas re-des sociais que pode levar à de-pressão e ao suicídio.
NOS IDOSOSOS RISCOS E AS SOLUÇÕESO Nove em cada 10 idosos seguidosnos centros de saúde do Norte admitiam sofrer de solidão, num estudodo CINTESIS - Centro de Investiga-ção em Tecnologias e Serviços de
Saúde, em parceria com a ARS Nor-te, publicado o ano passado na revista científica Family Medicine & Prí
mary Care Review. Para alguns, o
único contacto que tinham com outros era na visita diária à mercearia,
Raquel RaimundoDoutorada em Psicologia da Educação
e mestre em Stress e Bem-Estar,preside à Delegação Regional do Sul
da Ordem dos Psicólogos e éconsultora da Gulbenkian
Olivia RibeiroÉ professora doutorada do Instituto
Universitário de Ciências Psicológicas,Sociais e da Vida CISPA) e investigadora
especialista em isolamento sociale depressão na adolescência
agora nem isso têm. "Penso que é
por essa razão que muitos não es
tão a cumprir a quarentena. Sentemnecessidade de sair de casa", expli-ca a psicóloga Renata Benavente.As redes sociais não são uma alter-nativa. Em 2018, 65,6% dos portugueses com mais de 65 anos nãousavam a Internet, de acordo com aObercom Observatório da Comu
nicaçâo, muitos não têm computa-dores e. se tiverem smartphones.têm dificuldade em usar ferramentas como a videochamada. "Tem de
ser a família mais próxima a tomara iniciativa e a promover o contacto", aconselha Renata Benavente.
Ainda assim, parecem ser os quemelhor estão a lidar com a quarente-na. Cerca de 53% dos homens commais de 60 anos nunca ou quasenunca sentiu tristeza, desespero,ansiedade ou depressão na última
semana, de acordo com o estudo
Diários de uma Pandemia, realizado
pelo instituto de Saúde Pública daUniversidade do Porto e do Institutode Engenharia de Sistemas e Com-
putadores, Tecnologia c Ciência, em
que se entrevistaram 3.432 pessoas.
Já 57.5 % dos inquiridos entre os 16 e
os 39 anos revelaram ter sentido es
sas emoções. Os investigadores justi-ficam a reação com a experiência devida dos mais velhos, que inclui dita
duras e revoluções.
O A psicóloga recomenda que as
famílias planeiem os contactos: demanhã liga um dos filhos, à tarde
outro, e à noite um dos netos, porexemplo. "Ficam com a ideia de queestão atentos ao seu bem-estar."Para que os níveis de stress não se
agudizem, é Importante ter atençãoà despensa e garantir que os bens
essenciais não faltem. Mas comotodos os outros, os idosos poderãover o ponteiro da balança subir. As
doenças crónicas são mais provalentes depois dos 65 anos e é essen-cial manter uma alimentação cquilibrada. Abastonária da Ordem dos
Nutricionistas, Alexandra Bento,telefona aos pais todos os dias parasaber se estão a comer bem. "Temosde os sensibilizar, apesar de não
estarem connosco." O
AS DOENÇASCRÓNICASATACAM
MAIS DEPOISDOS 65 ANOS.É ESSENCIAL
UMA BOAALIMENTA
ÇÃO
NASAVários estudoscom astronau-tas concluíram
qu-3 os
problemaspsicológicos
são inevitáveis
DiáriosEscrever todos
os dias (e várias
vezes ao dia)é uma das
soluções paradiminuir ostress em
quarentenasprolongadas
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