Pregagens
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– 1 –
TRATAMENTO E MELHORAMENTO DE SOLOS UTILIZANDO PREGAGENS
Filomeno Pequicho [email protected]
RESUMO 1
2
Este trabalho pretende abordar o tema sobre a aplicação de 3
pregagens como método de melhoramento “in situ” no 4
comportamento dos solos e utilizado como processo de 5
contenção ou estabilização de maciços quer de terras quer 6
de rocha. Neste âmbito apresenta-se uma breve descrição 7
dos aspectos mais significativos que caracterizam os solos 8
referenciando-se ainda as suas várias técnicas de 9
tratamento e melhoramento. 10
O principal objectivo desta monografia passa pela 11
abordagem descritiva do método de tratamento e 12
melhoramento dos solos por pregagens relevando-se os 13
seus principais aspectos como a aplicabilidade do 14
processo, materiais adequados, métodos de execução, 15
vantagens e desvantagens, controlo de qualidade, ensaios a 16
realizar e dimensionamento. 17
18
PALAVRAS-CHAVE 19
20
Pregagens, solo pregado, melhoramento de solos, 21
estabilização de solos. 22
23
ABSTRACT 24
25
This work aims to address the topic of implementation of 26
soil nailing used as a method of improvement "in situ" in 27
the behavior of soils and also as a containment process or 28
massive stabilization of land or rock. In this context, it 29
presents a brief description of the most significant aspects 30
that characterize the soils is further referencing their 31
various techniques for treatment and improvement. 32
The main objective of this monograph is the descriptive 33
approach of the method of treatment and soil improvement 34
by soil nails up referencing its key aspects such as the 35
applicability of the process, appropriate materials, 36
equipment used, advantages and disadvantages of control 37
quality, further tests and calculations. 38
39
KEYWORDS 40
41
Soil nailing, Soil improvement, Soil stabilization. 42
43
44
1 INTRODUÇÃO 45
46
A necessidade de melhoramento dos solos quer para 47
execução de escavações, estabilização de taludes ou 48
aumento da sua capacidade de carga, constitui, desde 49
sempre, um desafio para a engenharia geotécnica e tem 50
origem maioritariamente quer no fraco comportamento 51
dos solos face às tensões de tracção causadas 52
principalmente quando se alteram as condições de repouso 53
dos maciços de terra ou rocha quer na necessidade do seu 54
carregamento para além da sua capacidade de resistência 55
ou equilíbrio. 56
57
2 PREGAGENS 58
59
A aplicação de pregagens nos maciços geológicos não 60
constitui um melhoramento das características próprias do 61
solo (como acontece com os métodos de tratamento) mas 62
sim um melhoramento do comportamento global do 63
maciço. 64
65
2.1 Enquadramento Histórico 66
67
A utilização de varões passivos na estabilização de 68
maciços geológicos, nomeadamente em solos rochosos, é 69
um processo de construção antigo. 70
A aplicação de pregagens em solos é muito mais recente 71
havendo inclusivamente grande diferença no seu 72
funcionamento. 73
As primeiras obras onde se empregou este processo 74
construtivo datam de 1972 em França (Medio et al, 1983) 75
e 1976 nos Estados Unidos (Shen et al, 1981). Na 76
Alemanha, em 1979, Stocher et al, apresentavam pela 77
primeira vez numa reunião internacional um atrigo sobre a 78
aplicação de pregagens em escavação de solos. 79
O maior programa de investigação sobre pregagens 80
ocorreu na Alemanha entre 1975 e 1981, desenvolvido 81
entre a Universidade de Karlsruhe e a empresa Bauer 82
tendo sido efectuados testes experimentais e apresentado 83
um documento com os primeiros procedimentos a ser 84
utilizados em projectos (Gässler and Gudehus, 1981; 85
Schlosser and Unterreiner, 1991). 86
87
88
Tratamento e melhoramento de solos por pregagens Filomeno Pequicho
– 2 –
2.2 Principais propriedades dos solos 1
2
O solo é um dos mais antigos e complexos materiais 3
utilizados pelo homem. Está presente em quase todos os 4
tipos de construções suportando na maioria das vezes o 5
peso de toda a estrutura. Como tal, é fundamental o 6
conhecimento das características deste material. 7
Os solos podem classificar-se em quatro grandes 8
categorias; Arenosos, argilosos, humosos ou rochosos. 9
As suas principais propriedades são a química e a físico-10
mecânica. Será a esta última que a mecânica dos solos 11
recorre para obter os parâmetros de resistência necessários 12
ao dimensionamento do comportamento dos solos tais 13
como o valor do peso específico, ângulo de atrito interno 14
ou da coesão. Se o ângulo de trito interno mede a 15
resistência do solo ao corte sob o efeito de diferentes 16
tensões normais já a coesão mede a sua resistência ao 17
corte em estado de repouso não sendo contudo uma 18
propriedade presente em todos os solos mas apenas nos 19
solos coesivos. 20
21
2.3 Técnicas de tratamento e melhoramento dos solos 22
23
As características de um dado maciço geológico podem 24
ser melhoradas de dois modos distintos: 25
1. Alterando alguma ou algumas das propriedades 26
intrínsecas do solo; 27
2. Introduzindo determinados elementos resistentes 28
que tornem possível que o maciço suporte 29
solicitações ás quais não está habituado a 30
resistir. 31
Com o objectivo de conferir aos solos melhores 32
desempenhos mecânicos, existem várias técnicas para o 33
seu tratamento e melhoramento entre as quais se destacam, 34
por categorias: 35
1. Densificação: 36
• Pré-carregamento 37
• Compactação “in situ” 38
• Vibrocompactação 39
• Compactação dinâmica e por explosivos 40
• Substituição de solos. 41
2. Térmica: 42
• Congelamento artificial 43
3. Química: 44
• Injecção com poliuretano hidroativado 45
• Injecção com lamas bentoníticas 46
• Injecção com cal 47
• Injecção com caldas de cimento 48
4. Drenagem e impermeabilização: 49
• Valas drenantes 50
• Drenos verticais 51
• Impermeabilização superficial 52
5. Reforço: 53
• Estacas ou microestacas cravadas 54
• Estacas moldadas 55
• Estacas-prancha 56
• Ancoragens 57
• Pregagens 58
• Jet-grouting e Deep Mixing 59
• Terra armada 60
• Gabiões 61
• Muros 62
6. Controlo da Erosão: 63
• Sementeira 64
• Geossintéticos 65
• Geomantas 66
• Geogrelhas 67
• Taludes empedrados 68
• Floreiras 69
70
2.4 As pregagens como sistema de melhoramento dos 71
solos e sua aplicabilidade 72
73
As pregagens podem ser passivas (sem tensionamento, 74
mobilizando a aderência barra/solo) ou activas 75
(tensionadas, ancoradas na extremidade, mobilizando a 76
aderência calda injectada/solo comprimido). Poderão 77
ainda ser do tipo provisório ou definitivo e podem ser 78
realizadas com varões de aço nervurado (Fig. 1), cortadas 79
em bico num dos extremos ou com ponteira de perfuração 80
tendo o outro uma rosca apropriada para receber a placa de 81
ancoragem e uma porca de fixação. Podem igualmente ser 82
realizadas com cabos em aço e injectadas com calda de 83
cimento ou resina sendo pós-tensionadas (Fig. 2) ou ainda 84
ser realizadas com tirantes expansíveis em aço que, após 85
bombagem de ar, aumentam o seu diâmetro dentro do 86
furo, pressionando as paredes do tirante contra as paredes 87
do furo, caso do sistema Swellex (Fig. 3). 88
89
90 Fig. 1 – Barra de aço para pregagem (Fonte: Dywidag). 91
92
93 Fig. 2 – Pregagem com cabo de aço. 94
95
96 Fig. 3 – Tirante expansível Swellex (Fonte: Minova). 97
Tratamento e melhoramento de solos por pregagens Filomeno Pequicho
– 3 –
Este tipo de estruturas pode ser aplicado como sistema de 1
pregagem de estruturas de suporte ou contenção, (ex. 2
cortina pregada, georedes e geogrelhas anti-erosão, betão 3
reforçado projectado) ou poderão ser simplesmente 4
aplicadas funcionando por si só como ancoragem de 5
maciços instáveis de terra ou rocha (Fig. 4). 6
7
8 Fig. 4 – Aplicação das pregagens (Fonte: António J. Silva 9
Cardoso). 10
11
A aplicação das pregagens poderá ser descendente ou 12
ascendente (Fig. 5) e, quanto ao método de fixação 13
poderão ser classificadas por: 14
1. Amarrada mecanicamente – A pregagem é 15
empurrada no furo até que a placa de superfície 16
fique em contacto com a rocha, rodando em 17
seguida a porca até se atingir a tensão prevista. 18
Este tipo de fixação requer que o furo na rocha 19
não seja nem folgado nem apertado de mais pelo 20
que a eficácia deste tipo de pregagem com 21
expansão da manga depende fundamentalmente 22
do aperto da manga contra as paredes do furo. 23
Este tipo de pregagem depende ainda do tipo de 24
rocha e do seu estado de fracturação dado que o 25
varão poderá perder tensão sendo necessário 26
neste caso, ser retensionado. 27
2. Pregagem injectada – São aplicadas no furo e 28
seladas com calda de cimento injectado ou com 29
cartuchos de calda de cimento ou resina. O 30
método por aplicação de cartuchos é mais 31
conveniente e rápido (principalmente em 32
pregagens de furo ascendente) dado que as 33
perdas de calda ou resina são menores uma vez 34
que, em cartucho o selante é mais espesso. 35
Os cartuchos de cimento contêm cimento e 36
aditivos em receptáculo poroso que se embebe 37
em água antes de serem colocados no furo. Nos 38
cartuchos de resina (funcionando como 39
ampolas) será necessário misturar os seus 40
componentes rodando a pregagem contra o 41
cartucho até que esta provoque a rotura da 42
ampola. 43
Após o ganho de presa da calda ou resina na 44
zona de selagem, o tensionamento do varão é 45
obtido por rotação da porca de aperto ou por 46
tracção até se atingir o binário previsto. Em 47
pregagens de carácter definitivo, será sempre 48
necessária a selagem do varão no comprimento 49
livre, com calda de presa lenta para garantir a 50
longo prazo a protecção das armaduras. 51
3. Pregagem de cabo injectada – Este tipo de 52
fixação é em tudo idêntica á descrita para a 53
pregagem injectada sendo que diferem apenas 54
no uso de cartuchos onde, para cabos compridos 55
(superior a 6 m), nunca são utilizados. 56
4. Pregagem amarrada por atrito – Nesta categoria 57
existe dois tipos: 58
• Pregagem de meia cana – Neste tipo 59
o prego é forçado a entrar no furo cujo 60
diâmetro deverá ser um pouco menor 61
que o do prego. Não é aconselhado 62
para rochas muito fracturadas nem 63
para pregagens definitivas dada a falta 64
de protecção da armadura. 65
• Pregagem em Tirante Expansivo – 66
O prego é introduzido facilmente no 67
furo e, por efeito de bombagem de ar, 68
o tirante expande contra as paredes do 69
furo. Também aqui não se aconselha a 70
utilização deste tipo de pregagem em 71
estruturas de carácter definitivo pelas 72
mesmas razões indicadas no ponto 73
anterior. 74
75
76 Fig. 5 – Aplicação de pregagens ascendente / descendente. 77
78
De certo modo, as estruturas de suporte executadas com 79
pregagens funcionam mecanicamente como estruturas de 80
terra armada onde a mobilização do prego é feita por atrito 81
lateral em todo o seu comprimento. 82
83
2.5 Materiais 84
85
As paredes pregadas são basicamente constituídas por três 86
componentes. Pregos, elementos de drenagem e parede 87
estrutural de contenção. 88
As pregagens são executadas com barras ou cabos em aço. 89
As barras poderão ainda ser maciças ou em tubo 90
expansível. 91
Em tudo idêntico às ancoragens, as pregagens tem 92
igualmente um comprimento livre (na zona passiva do 93
solo) e um comprimento de ancoragem (na zona activa do 94
solo) 95
Os pregos em barras maciças tem um módulo de 96
elasticidade de 210GPa e uma tensão de rotura de 520 ou 97
1050MPa e, em geral, são compostos por: 98
• Barra de aço; 99
• Porca de emenda; 100
• Ponteira de perfuração; 101
• Tubo corrugado em polietileno; 102
• Espaçadores; 103
• Tubo de injecção; 104
Tratamento e melhoramento de solos por pregagens Filomeno Pequicho
– 4 –
• Calda ou resina de injecção; 1
• Placa de ancoragem com ou sem pregos de 2
aderência; 3
• Porca de aperto; 4
As barras existem no mercado com os diâmetros de 5
26mm, 32mm, 36mm, 46mm, 57mm, 65mm, 75mm. 6
7
Actualmente no mercado existem diversas marcas a 8
comercializar barras / cabos em aço para a realização de 9
pregagens entre as quais se encontram a Dywidag, VSL, 10
Minova, Williams, Nicholson, Hayward Baker, Ischebeck. 11
12
13 Fig. 6 – Principais componentes de uma pregagem. 14
15
2.6 Dimensionamento 16
17
A verificação das estruturas pregadas ao solo deve 18
considerar três condições de modos de rotura: Verificação 19
externa, interna e estrutural. 20
21
A verificação externa contempla: 22
• Estabilidade global; 23
• Deslizamento do conjunto; 24
25
A verificação interna contempla: 26
• Rotura por arrancamento dos pregos; 27
• Rotura na interacção solo-prego; 28
• Á rotura do prego; 29
30
A rotura estrutural engloba: 31
• Rotura da cortina por flexão; 32
• Rotura da cortina por punçoamento; 33
• Rotura dos pernos nas placas de aperto. 34
35
2.6.1 Verificação externa 36
37
2.6.1.1 Estabilidade global: 38
39
A estabilidade global de um sistema de cortina pregada ao 40
solo acontece quando a superfície de rotura do solo por 41
detrás da parede passa sob a mesma (Fig. 7). 42
43
44 Fig. 7 – Potencial falha de estabilidade durante a construção. 45
46
A estimativa de deformação do solo pode ser obtida por 47
meio de cálculo numérico utilizando, por exemplo, o 48
método dos elementos finitos ou das diferenças finitas, no 49
entanto, estes métodos raramente são aplicados no 50
dimensionamento de cortinas pregadas ao solo. 51
Mais comummente, são utilizados, para estimativa da 52
rotura dos solos, métodos semi-empíricos baseados em 53
experiências anteriores. 54
55
A figura 8 ilustra os elementos de análise à estabilidade 56
global de uma cortina pregada. 57
58
59 Fig. 8 – Elementos de análise à estabilidade global numa cortina 60
pregada. 61
62
onde: 63
α = ângulo do paramento 64
β = ângulo do talude 65
ϕ’ = ângulo de atrito interno efectivo do solo 66
c’ = coesão efectiva do solo 67
ψ = inclinação do plano da falha 68
i = inclinação do prego 69
LF = comprimento do plano da falha 70
W = peso da massa de solo instável 71
QT = sobrecarga 72
TEQ = força equivalente do prego 73
NF = força normal á superfície de escorregamento 74
SF = força de corte na superfície de escorregamento 75
RC = componente da coesão de SF 76
Rϕ = componente do atrito de SF 77
78
O coeficiente de segurança FSG é calculado por: 79
80
Tratamento e melhoramento de solos por pregagens Filomeno Pequicho
– 5 –
5,1≥∑
∑=
−
−
izadorasdesestabilforças
dorasestabilizaforças
GFS (1) 1
2
com: 3
Σforças normais = (W+QT)senψ+TEQsen(ψ-i)-SF=0 (2) 4
5
Σforças tangenciais = (W+QT)cosψ+TEQcos(ψ-i)-NF=0 (3) 6
7
onde: 8
SF=RC+RF=cmLs+NFtanϕm (4) 9
10
tanϕm=tanϕ’/FSG (5) 11
12
cm=c’/FSG (6) 13
14
ϕm, cm = ângulo de atrito mobilizado e a coesão 15
mobilizada respectivamente. 16
17
2.6.1.2 Deslizamento do conjunto: 18
19
O deslizamento de uma cortina pregada ao solo ocorre 20
quando as pressões activas do solo ultrapassam a 21
resistência do sistema ao escorregamento. O sistema é 22
modelado como um bloco rígido ao qual são aplicadas as 23
pressões do solo. 24
25
26 Fig. 9 – Estabilidade ao escorregamento de uma cortina pregada. 27
28
Á semelhança do que foi preconizado para a estabilidade 29
ao deslizamento, teremos: 30
31
5,2≥=∑
∑=
∑∑
−
−
D
RFS
izadorasdesestabilforças
dorasestabilizaforças
Desl 32
(7) 33
34
com: 35
Σforças estabilizadoras = cbBL+ (W+QD+PAsenβ)tanϕb (8) 36
37
Σforças desestabilizadoras = PAcosβ (9) 38
39
onde: 40
PA=0,5γH12KA (10) 41
42
com: 43
H = altura da cortina 44
∆H = acréscimo de altura por inclinação do talude 45
β = ângulo do talude 46
βeq = ângulo equivalente do talude [para taludes 47
quebrados, βeq=tan-1(∆H/H), para taludes infinitos βeq = β] 48
α =inclinação da cortina 49
θ = (π/2)+α 50
cb = força de coesão na base de deslizamento 51
BL = comprimento da base de deslizamento 52
W = peso da massa de solo deslizante 53
QD = valor quase-permanente da sobrecarga 54
ϕ’b = ângulo de atrito ficcional na base de escorregamento 55
ϕ’ = ângulo de atrito interno do solo 56
δ = ângulo de atrito solo-paramento 57
γ = peso volúmico do solo 58
H1 = altura efectiva da cortina [H1=H+(BL+tanα)tanβeq] 59
KA = coeficiente de impulso activo 60
61
2.6.2 Verificação interna 62
63
2.6.2.1 Rotura por arrancamento do prego: 64
65
A rotura por arrancamento do prego é o modo de falha 66
primária interna numa cortina pregada ao solo. Este modo 67
ocorre quando se excede a capacidade de atrito calda-solo 68
ou quando o comprimento do prego é insuficiente. A 69
capacidade de arrancamento do prego Qu por unidade de 70
comprimento, também designada por taxa de transferência 71
de carga, é dada por: 72
73
74 Fig. 10 – Principais componentes de uma pregagem. 75
76
DHuu DqQ ..π= (11) 77
e 78
pu FSqq .= (12) 79
80
81
82
sendo a capacidade de arrancamento do prego Rp: 83
84
Tratamento e melhoramento de solos por pregagens Filomeno Pequicho
– 6 –
P
pu
pFS
LQR
.= (13) 1
2
com: 3
Qu = capacidade de arrancamento por unidade de 4
comprimento 5
q = força de ligação 6
DDH = diâmetro do furo 7
LP = comprimento do prego 8
RP = capacidade de arrancamento 9
FSp = factor de segurança (igual a 2) 10
11
2.6.2.2 Rotura na interacção solo-prego: 12
13
A interacção solo-prego é complexa. As cargas aplicadas 14
ao prego funcionam como que reacções ao movimento de 15
derrube na cortina de betão. O prego, para lá do plano da 16
falha, é puxada para fora do solo e a tensão de contacto 17
varia ao longo do comprimento do prego (Fig. 11). A força 18
de tracção máxima não ocorre necessariamente na zona de 19
intercepção com o plano da falha (Fig. 12 e 13). 20
21
22 Fig. 11 – Mecanismo de transferência de tensões prego-solo. 23
24
25 Fig. 12 – Mecanismo de transferência de tensões prego-solo. 26
27
28 Fig. 13 – Mecanismo de transferência de tensões prego-solo. 29
30
O cálculo da tensão de rotura máxima instalada na 31
interacção solo-prego é função do peso volúmico do solo 32
γ, do espaçamento vertical e horizontal entre pregos SV e 33
SH, da altura da cortina H e do coeficiente de impulso 34
activo Ka. 35
36
Para fins práticos pode considerar-se que a força máxima 37
de tracção no prego é: 38
39
HVamáx SSHKT ×××××= γ75.0 (14) 40
41
2.6.2.3 Rotura do prego: 42
43
A rotura do prego tem lugar quando a força longitudinal 44
na interacção solo-prego, Tmáx, é maior que a capacidade 45
de tracção do prego RT com: 46
47
T
ydS
TFS
fAR
×= (15) 48
com: 49
AS = área da secção do prego 50
fsyd = valor de cálculo da tensão de cedência do prego 51
FST = coeficiente de segurança (min 2,5) 52
53
No caso de pregagens cravadas directamente no maciço é 54
essencial mobilizar o atrito e aderência solo-prego. Neste 55
caso a tensão unitária média na pregagem é determinada, 56
teórica e simplificadamente, por: 57
58
DhfpcT 2..... γα += (16) 59
onde: 60
c = coesão da camada atravessada 61
p = perímetro do prego 62
α = coeficiente de redução, inferior à unidade 63
γ = peso volúmico do solo 64
h = profundidade média do pego 65
D = diâmetro do prego 66
f = coeficiente de atrito solo-prego dado por: 67
68
6/).5,1(5,1 htgf −+= φ para h<=6m (17) 69
70
Tratamento e melhoramento de solos por pregagens Filomeno Pequicho
– 7 –
φtgf = para h>6m (18) 1
2
Φ = ângulo de atrito interno do solo. 3
4
A rotura estrutural, sendo um tema relacionado com 5
estruturas de betão armado, não será abordada nesta 6
monografia por não se enquadrar dentro da matéria da 7
Unidade Curricular de Estruturas de Suporte e 8
Melhoramento de Solos. 9
10
2.7 Vantagens e desvantagens 11
12
Alguns factores têm contribuído para a crescente 13
utilização de pregagens como técnica de melhoramento e 14
suporte de solos. 15
Considerando os 5 principais modelos de pregos, 16
apontam-se, para cada um delas, algumas vantagens e 17
desvantagens: 18
19
Ancoragem Mecânica 20
Vantagens: 21
• Baixo preço; 22
• Atua imediatamente após instalação; 23
• Possibilidade de tensionamento por rotação da 24
cabeça, após colocação; 25
• Fácil aplicação de sistemas para avaliar o 26
tensionamento. 27
Desvantagens: 28
• Uso limitado a rochas duras; 29
• As vibrações provocadas na instalação podem 30
produzir perda de fixação. 31
• Necessidade de rigor no diâmetro do furo. 32
33
Tirantes selados com calda de cimento 34
Vantagens: 35
• Custo moderado; 36
• Grande capacidade de ancoragem; 37
• Não perde tensão com vibrações de montagem; 38
• Simplicidade de instalação; 39
• Grande resistência à corrosão; 40
• Não exige rigor no diâmetro do furo. 41
Desvantagens: 42
• Tempo de cura superior a 2h; 43
• Tempo de estocagem limitado; 44
• Necessidade de armazenamento adequado. 45
46
Tirantes selados com resina 47
Vantagens: 48
• Flexibilidade; 49
• Grande resistência à corrosão; 50
• Alta capacidade de ancoragem. 51
Desvantagens: 52
• Custo relativamente alto; 53
• Necessidade de armazenamento adequado; 54
• Tempo de estocagem limitado. 55
56
Cable bolt 57
Vantagens: 58
• Baixo preço; 59
• Pode ser instalado com grandes comprimentos; 60
• Grande capacidade de suportar cargas elevadas; 61
• Bom comportamento à corrosão. 62
Desvantagens: 63
• Condições especiais de instalação do 64
tensionamento; 65
• O uso de cimento standard para selagem exige 66
vários dias de presa antes da aplicação da carga. 67
68
Tirante expansivo tipo Swellex 69
Vantagens: 70
• Fácil instalação; 71
• Capacidade em serviço imediatamente após 72
instalação; 73
• Adaptável às mais variadas características do 74
terreno; 75
• O processo de instalação causa retracção 76
longitudinal do prego e consequente efectiva 77
tensão sobre a rocha. 78
Desvantagens: 79
• Custo elevado; 80
• Necessidade de protecção elevada contra a 81
corrosão; 82
• Exige equipamento especial. 83
84
2.8 Execução 85
86
São, em geral, sete as etapas para executar uma estrutura 87
de contenção utilizando este processo: 88
89
1. Escavação inicial: 90
Antes de ser iniciada a escavação deverá garantir-se a 91
remoção de qualquer água existente no solo. O corte 92
inicial é feito até uma profundidade de 1 a 2m dependendo 93
da coesão do solo para manter o talude até ao aperto dos 94
pregos. O comprimento da escavação é determinado pela 95
área da superfície do talude que possa ser estabilizada por 96
betão projectado e pela quantidade de equipamento 97
necessário ás diferentes operações. 98
A superfície do talude deverá ser plana para diminuir a 99
quantidade de betão a projectar na parede final. 100
101
2. Execução do furo: 102
Os furos são executados por rotação ou rotopercussão a 103
seco ou utilizando ar ou água, com diâmetros que variam 104
entre 100mm e 300mm e em geral espaçados de 1 a 2m. 105
106
3. Instalação do prego e aplicação da calda: 107
Os pregos são instalados dentro de mangas em PVC 108
corrugado ou PEAD, são aplicados centralizadores para 109
garantir o posicionamento da barra em relação ao furo e é 110
injectada a calda de cimento. 111
112
4. Sistema de drenagem: 113
São colocados tubos drenantes contra a face de escavação 114
de modo a controlar a água de infiltração, caso haja- 115
116
5. Construção da primeira parede em betão: 117
Projecção de betão com espessura constante no projecto 118
(min. 100mm) geralmente reforçado com uma malha 119
electrosoldada em aço e posterior aplicação da placa de 120
apoio ao parafuso (200x250mm2x15mm). Também nesta 121
Tratamento e melhoramento de solos por pregagens Filomeno Pequicho
– 8 –
fase é aplicada a porca de aperto fixando a placa sobre a 1
superfície do betão projectado ainda sem presa. 2
3
6. Escavação das bancadas inferiores: 4
Repetir o procedimento para as camadas de escavação 5
inferiores. Nestas fases o betão projectado e reforçado 6
poderá ser aplicado antes da execução do furo e instalação 7
do prego quando o paramento do talude não oferecer 8
estabilidade suficiente. 9
10
7. Aplicação de pregagens definitivas: 11
Nas pregagens definitivas é executada uma segunda 12
parede em betão armado após a conclusão da escavação 13
final. Nesta solução as placas das cabeças dos preços são 14
dotadas de pernos soldados (Fig. 14) que garantem a 15
aderência desta segunda parede de betão e uniformizam a 16
estrutura. Também é nesta fase que se aplicam, caso 17
existam, as soluções arquitectónicas preconizadas em 18
projecto. 19
20
21 Fig.14 – Placa de aperto com pernos. 22
23
3 CONTROLO DE QUALIDADE E ENSAIOS 24
25
O desempenho a longo prazo do sistema de solos pregados 26
depende da sua capacidade de resistir aos ataques da 27
corrosão. 28
Os métodos mais comuns de protecção dos pregos à 29
corrosão incluem o seu encapsulamento com tubo 30
corrugado em PVC ou PEAD e um posterior 31
preenchimento de 5mm (min.) com argamassa, processo 32
geralmente designada por dupla protecção, ou apenas o 33
envolvimento do prego com argamassa. Os pregos 34
poderão ainda ser fornecidos com uma fina camada e 35
epóxi com 0,3mm (min.). Cada uma destas medidas 36
resulta no isolamento do prego ao meio corrosivo em 37
graus diferentes. 38
As cabeças de ancoragem e porcas de aperto geralmente 39
não são protegidas com pintura epóxi mas são envolvidas 40
por argamassa ou encerrada na parede em betão. 41
42
Os varões deverão ser devidamente centralizados 43
relativamente ao furo ou à bainha de encapsulamento. O 44
controlo da qualidade dos materiais é feito por uma 45
combinação dos seguintes procedimentos: 46
47
• Exame visual para detecção de defeitos ou danos 48
existentes; 49
• Avaliação da conformidade da certificação do 50
material com o especificado em projecto; 51
• Verificação das condições de carga, descarga e 52
estocagem dos materiais; 53
• Testes laboratoriais representativos do material 54
entregue; 55
• Compatibilidade do prego com os restantes 56
acessórios; 57
• Certificação dos materiais para drenagem; 58
• Certificado das argamassas, betões e adjuvantes 59
entregues na obra bem como os posteriores 60
ensaios necessários; 61
62
Os pregos são testados segundo a EN 1537, geralmente, 63
por ensaio de carga e por tracção de modo a verificar a 64
compatibilidade do projecto com as reais condições do 65
solo e consequentemente validar o modelo de cálculo 66
utilizado. Poderão, por este método, ser ainda realizados 67
ensaios de tracção ao solo utilizando pregos-teste antes da 68
execução do projecto. 69
Estes ensaios são executados para um coeficiente de 70
segurança e para um número de pregos a ensaiar 71
dependente da dimensão do projecto e/ou do número de 72
diferentes solos existentes mas nunca inferior 3 ou a 5% 73
dos pregos instalados. 74
75
Geralmente estes testes são executados com recurso a um 76
macaco hidráulico que aplica uma força de tracção na 77
cabeça do prego ensaiando-o ao arrancamento (Fig. 15). 78
79
80 Fig. 15 – Ensaio de carga de uma pregagem. 81
82
Existem ainda outros métodos de ensaio aos pregos 83
nomeadamente testes não destrutivos (NDT) tais como: 84
• Método Eco Sónico; 85
• Método equipotencial Mise-a-la-Masse; 86
• Magnetometria; 87
• Método de Indução Electromagnética; 88
• Reflectrometria no Domínio do Tempo (TDR). 89
90
Após a entrada em funcionamento das pregagens e ao 91
longo da vida útil da obra deverá ser previsto um 92
programa de manutenção e monitorização do 93
comportamento global do sistema. 94
95
5 REFERÊNCIAS 96
97
FHWA – Manual for Design & Construction Monitoring 98
of Soil Nail Walls, October 1998. 99
100
Vítor Bruno B. Santa - Controlo de Qualidade de 101
Ancoragens Passivas e Activa, Dissertação para Obtenção 102
do Grau de Mestre em Engenharia Civil, IST, Setembro 103
2010. 104
105
Tratamento e melhoramento de solos por pregagens Filomeno Pequicho
– 9 –
Carlos A. Lazarte, Victor Elias, David Espinosa, Paul J. 1
Sabatini - Geotechnical Engineering Circular Nº 7 – Soil 2
Nail Walls, Report FHWA0-IF-03-017, March 2003. 3
4
NCHRP, Report 701 – Proposed Specifications for LRFD 5
Soil-Nailing Design and Construction, Washington, D.C. 6
2011. 7
8
António José de M. Silva Cardoso – A Técnica das 9
Pregagens em Solos Aplicada, Dissertação para 10
Doutoramento em Engenharia Civil, FEUP, Setembro 11
1987. 12
13
C. F. Lee, Ove Arup & Partners Hong Kong Ltd – Revuew 14
of Use of Non-Destructive Testing in Quality Control in 15
Soil Nailing Works, Geo Report Nº 219, December 2007. 16
17
FHWA – Soil Nailing Field Inspectors Manual, April 18
1994. 19
20
Thomas J. Tuozzolo – Soil Nailing: Where, When and 21
Why, A Practical Guide, 2003. 22
23
24
25
26
DECLARAÇÃO DE ORIGINALIDADE O autor desta monografia declara que o conteúdo da mesma é da sua autoria e não constituí cópia parcial ou integral de textos de outro(s) autor(es).
(Filomeno Pequicho)