DANÇA NA ESCOLA Conceitos, Propostas e recursos metodológicos.
PRÁTICA EDUCATIVA EM DANÇA: REFLEXÕES SOBRE A AÇÃO NA ESCOLA · Dança para crianças de uma...
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PRÁTICA EDUCATIVA EM DANÇA: REFLEXÕES SOBRE A AÇÃO NA
ESCOLA
O presente artigo se propõe a apresentar os conceitos norteadores e os autores que fundamentam a práxis pedagógica em Dança do Grupo de Pesquisa Dança Estética e Educação (GPDEE). Atuando por meio de projetos de ação cultural, o grupo de pesquisa pretende inserir e efetivar a linguagem artística da dança no ambiente educacional formal. Para tal, inspira-se nas teorias de Rudolf Laban atualizando-as ao contexto escolar brasileiro contemporâneo. A prática educativa do grupo de pesquisa, também fundamenta-se em quatro pilares principais: integração das quatro linguagens artísticas, apreciação estética, improvisação e o jogo. Por meio de ações intencionais, rigorosamente planejadas, discutidas, reformuladas e avaliadas, os pesquisadores oportunizaram às crianças participantes dos projetos Dança Criança na Vida Real (2008) e Movimento e Cultura na Escola: Dança (2009/2010), expressar-se corporalmente sem padrões previamente estabelecidos, ampliar a percepção em relação ao próprio corpo e suas possibilidades de movimentação e dançar no coletivo. Ao final de cada projeto, foi possível verificar que os pressupostos teóricos utilizados pelo GPDEE podem ser usados no ensino de Dança, contribuindo efetivamente para a aproximação da criança com essa linguagem artística. Além disso, houve uma expansão do repertório cultural dos alunos e da comunidade do entorno. No que diz respeito ao grupo de pesquisa, ambos os projetos enriqueceram a formação individual de cada membro e contribuíram para a formação profissional dos alunos graduandos do Instituto de Artes da UNESP que puderam entrar em contato com as demandas concretas da profissão a que aspiram. Os dois projetos resultaram em publicações didáticas em formato de livro digital ilustrados, composto por DVD ROM. Os dois livros possuem ISBN e carregam um registro textual, videográfico e fotográfico de todas as atividades realizadas na escola, embasadas teoricamente. Palavras-chave: Dança, Educação, Práxis Pedagógica, Projeto. Introdução
O Grupo de Pesquisa Dança: Estética e Educação (GPDEE)
UNESP/IA/CNPq, foi criado em 2006, reunindo pesquisadores, alunos, mestres e
doutores oriundos de diversas áreas do conhecimento humano: Arte, Educação,
Psicologia, Educação Física, Dança, Teatro, Música, Artes Visuais, Antropologia e
Filosofia. As discussões e reflexões multidisciplinares do grupo giram em torno de
temas e abordagens advindas da Dança, entre eles processos criativos, experiências
educacionais, corpo, movimento e cultura. (GODOY, 2010).
O GPDEE vincula-se ao Programa de Pós-Graduação em Artes do Instituto
de Artes da UNESP, na área de concentração denominada Arte e Educação. Sua linha
de pesquisa “Processos Artísticos e Experiências Educacionais” dividi-se em outras três
sublinhas: a) Formação, ensino e aprendizagem em Dança, b) Procedimentos e
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Fernanda De Souza Almeida Kathya Maria Ayres De Godoy
processos de criação em Dança e, c) Mediações em Dança: memória e políticas
públicas; todas comprometidas com ações ligadas à produção científica.
Uma das frentes de atuação da sublinha de pesquisa “Formação, ensino e
aprendizagem em Dança” é a investigação das relações entre o ensino e o aprendizado
da Dança. Este estudo muitas vezes se faz por meio de projetos que almejam uma
significativa e efetiva inserção dessa linguagem artística no ambiente escolar. Tais
projetos, segundo Godoy e Antunes (2010), procuram transpor os muros da
universidade, no sentido de atuar junto e em parceria com a sociedade, possibilitando
perceber a realidade social atual e relacioná-las com as produções artística, educativa e
científica do grupo de pesquisa.
Dois destes projetos se destacaram pela intervenção direta no ambiente
escolar, buscando a transformação do ensino por meio de um olhar diferenciado para a
Arte e a Cultura. “Dança Criança na Vida Real” realizado em 2008 e “Movimento e
Cultura na Escola: Dança”, em 2009 e 2010, apresentaram a linguagem artística da
Dança para crianças de uma escola na periferia da zona oeste da cidade de São Paulo.
Essa Dança que chegou à escola pelas mãos do GPDEE possui
peculiaridades, que revelam os pressupostos teóricos do grupo. Autores de diversas
áreas do conhecimento humano estimulam as reflexões sobre qual Dança e como
ensiná-la no contexto educacional formal. Desta forma, este artigo surge com o objetivo
de apresentar os conceitos norteadores e os autores que fundamentam a práxis
pedagógica em Dança do Grupo de Pesquisa Dança Estética e Educação, tendo como
exemplo dois projetos de pesquisa já finalizados.
Desenvolvimento
1. Que Dança é essa?
A dança é a linguagem artística do movimento, por meio da qual o
indivíduo pode sentir-se, perceber-se, conhecer-se e manifestar suas necessidades de
comunicar, criar, compartilhar e interagir na sociedade em que vive (STOKOE &
HARF, 1987). É caracterizada como expressão, comunicação e manifestação humana
tanto individual como coletiva, produto cultural e apreciação estética.
A dança propicia a experimentação, no corpo, das possibilidades
imaginativas do indivíduo, colaborando com o desenvolvimento, aperfeiçoamento e
manutenção da coordenação motora, equilíbrio, atenção, consciência corporal, noções
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de espaço e tempo, lateralidade, musicalidade, expressões corporais e faciais e
ampliação das capacidades comunicativas.
Inserida no ambiente educacional, a dança, pode favorecer no aluno o
desenvolvimento da autoestima, construção de sua imagem corporal, compreensão de
seu corpo e ampliação do repertório motor, despertando a possibilidade de utilização
corporal com maior autonomia, responsabilidade e sensibilidade (GODOY, 2007).
Além disso, essa linguagem contribui para o encontro com o outro, com o
grupo e com a cultura, podendo se tornar um instrumento de efetivação das relações
sociais. Tais aspectos são fundamentais para favorecer aos alunos o respeito mútuo, a
cooperação, compreensão da diversidade e consciência da cidadania, em uma sociedade
em constantes transformações (Idem). Segundo Marques (1999), a dança contribui para
educar sujeitos que sejam capazes de criar, pensando e ressignificando o mundo em
forma de arte, ampliando assim, sua visão de sociedade.
Portanto, a dança na escola tem o propósito de contribuir para o
desenvolvimento integral do aluno (BRASIL, 2000), nos seus aspectos motor, cognitivo
e sócio-afetivo.
Desta forma, é importante que a dança pertença ao cotidiano da educação,
mas que não seja qualquer dança. Uma dança que incentive a criatividade, que respeite a
individualidade e que estimule uma relação mais sensível e consciente do aluno com seu
corpo. Esta dança deve ter como objetivo reforçar as faculdades naturais de expressão
do aluno, preservar a espontaneidade do movimento, fomentar a expressão artística e
integrar o conhecimento intelectual com a habilidade criativa (LABAN, 1990), sem
padrões de movimento ou de corpo.
O Grupo de Pesquisa Dança Estética e Educação defende que a dança na
escola estimule a descoberta e não a padronização, a improvisação e não a repetição e
reprodução de movimentos previamente determinados. Uma dança que não aprisione o
movimento, mas que solte a imaginação, a criatividade e a expressão. Que seja uma
possibilidade de brincar com o corpo, de conhecer-se, de conhecer o outro e o meio que
o cerca, destacando-se como elemento transformador.
Neste contexto, ao ensinar dança o GPDEE parte das formas básicas
universais de movimento (andar, saltar, correr, girar, rolar, entre outras) e, não da
preparação de coreografias, com conjuntos de repertórios prontos. A ênfase está no
processo de construção pessoal e coletiva da linguagem que pode gerar, ou não, um
espetáculo (SGARBI Apud GODOY & ANTUNES, 2008).
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Além disso, o grupo de pesquisa parte de dois princípios: a) o movimento
como forma de expressão e comunicação do aluno e, b) todos nós, que somos corpo,
podemos: criar, aprender, exercitar, reinventar, assistir e refletir sobre as diferentes
danças.
Para tal, inspira-se nos estudos de Rudolf Laban (1879-1956), arquiteto,
coreógrafo, bailarino e idealizador da Arte do Movimento humano e da Dança
Educativa Moderna também conhecida no Brasil como Dança Criativa. Para ele nas
“escolas onde se fomenta a educação artística, o que se procura não é a perfeição ou a
criação e execução de danças sensacionais, mas o efeito benéfico que a atividade
criativa da dança tem sobre o aluno” (LABAN, 1990, p. 18).
Os projetos Dança Criança na Vida Real e Movimento e Cultura na Escola:
Dança vinculam as teorias de Laban (1978, 1990) ao ambiente escolar brasileiro
contemporâneo e às propostas atuais de ensino e aprendizagem em dança, centradas,
não apenas nos alunos, mas na sociedade e nas relações entre ambos (MARQUES,
1999).
2. Quais pressupostos nos guiam?
Na maioria das escolas, o espaço da dança existe. Em muitas, com caráter
extracurricular, de festividade e que investe predominantemente na capacitação física e
no ensino de técnicas codificadas, no qual o aluno pouco participa do processo de
criação e mal compreende seu papel dentro do contexto.
A esse respeito, o GPDEE opta pela realização de seus projetos artísticos
educacionais em horário de aula, para incentivar a inserção e a efetivação da Dança na
grade curricular. Godoy (2010, p. 49) reforça que “o espaço escolar se constitui em uma
possibilidade de favorecer o contato e a aprendizagem da dança porque nele a criança [e
o adolescente] é apresentada a diversos saberes, constrói conhecimento que farão parte
de sua vida e de sua inserção na sociedade”.
Mas, para que essa dança faça sentido para as crianças, as escolhas de
conteúdo do grupo levam em consideração o contexto em que estão inseridas. Antes do
início das atividades na escola é realizado um levantamento prévio de informações
sobre os alunos, seu cotidiano, hábitos e sobre a comunidade, por meio de entrevistas e
conversas informais com professores, alunos, coordenadores e pais.
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Em posse de tais informações as atividades são planejadas em paralelo ao
tema de pesquisa do projeto em andamento, e aplicadas junto aos integrantes do próprio
GPDEE; sofrem modificações e então, são levadas para o contexto escolar. Na escola, a
cada finalização de uma turma e início da seguinte, uma nova reflexão é feita e
necessárias alterações nas vivências são executadas. É um constante movimento de
reflexão e ação, no qual todas as vezes que em se retorna a ação, faz-se de uma maneira
diferenciada incorporando situações adversas, atitudes e procedimentos de forma
criativa (SCHÖN, 2000).
As vivências vão além das teorias de Laban, se alimentam e se ampliam de
autores da dança, do teatro e da atividade infantil, utilizando o lúdico, o jogo, a
improvisação, apreciação estética e a integração das linguagens como pressupostos.
2.1 Integração de linguagens
Devido à inserção do grupo de pesquisa em um Instituto de Artes, as
atividades para os alunos prevêem a integração das quatro linguagens: artes visuais,
teatro, música e dança, pois é almejada a compreensão, por parte do alunado, da arte
como um todo. Trata-se de um movimento de união, de articulação de saberes no qual a
“linguagem mãe” do grupo, a dança, dialoga com as demais.
A integração das linguagens propicia também a educação dos sentidos,
enriquecendo a sensibilidade sobre si e sobre o mundo, despertando um novo olhar para
a realidade.
É possível citar como exemplo, a integração da dança e da música, realizada
em ambos os projetos “Dança Criança na Vida Real” e “Movimento e Cultura na
Escola: Dança”. Um dos autores caros ao GPDEE e que subsidiou essa interação foi
Emile Jaques-Dalcroze (1865-1950).
Dalcroze cunhou um sistema de educação musical que busca “a relação
entre a pessoa e a música, procurando desenvolver uma escuta consciente partindo do
movimento corporal estático ou em deslocamento. Assim, o sistema procura gerar a
compreensão, a fruição, conscientização e expressão musical nas pessoas” (ROSA &
NUNES Apud GODOY & ANTUNES, 2008, p.24).
A efetivação do elo entre as duas linguagens se fez por meio do movimento
corporal ritmado, no qual utilizou-se o movimento expressivo dos estudos do Laban,
para sensibilizar os alunos para o ritmo, a métrica e a sonorização da música. Além do
movimento, as vivências oportunizaram às crianças cantar, tocar instrumentos musicais
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e ouvir músicas que não faziam parte de seu núcleo social, ampliando assim, sua
cultura.
2.2 O Jogo
O historiador holandês, Johan Huizinga (1993) atribui diversas
características para definir o jogo. Em primeiro lugar deve ser uma atividade ou
ocupação humana voluntária, livre, que se imposto, deixa de ser prazeroso. O prazer é
outra qualidade do jogo; haverá sempre um sentimento de alegria que o acompanha, no
qual o sorriso é o seu produto.
A existência de regras em todos os jogos é condição sine qua non para sua
existência. Elas são livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, segundo
Huizinga (1993). Ou seja, o jogo possui sempre uma estrutura com regras, sejam elas
explícitas ou implícitas (KISHIMOTO, 2008).
O jogo também se caracteriza por se diferenciar da vida cotidiana. Ele
integra o mundo imaginário, fictício, dotado de um fim em si mesmo, onde o que
importa é o processo de brincar (Idem).
Finalmente, todo jogo acontece dentro de certos e determinados limites de
tempo e espaço, com uma estrutura sequencial própria: começo, meio e fim. Entretanto,
no jogo, nunca se tem o conhecimento prévio dos rumos da ação do jogador ou
respostas pré-estabelecidas, assim como não há um único padrão de movimentação e de
expressão que deve ser seguido (JESUS, GODOY & SGARBI, 2008). Tudo dependerá
das motivações pessoais ou da conduta de outros parceiros.
O jogo envolve o fazer, a ação e abre espaço para o novo; abriga a totalidade
do ser, nos seus aspectos cognitivo, sensível, expressivo, imaginativo e motor. Além
disso, o jogo é uma forma privilegiada de interação social, no qual a criança aprende a
lidar com regras, tomar decisões, expressar suas opiniões e sentimentos e, se relacionar
e comunicar com o outro por meio de diferentes linguagens (CARNEIRO, 2009).
No caso dos projetos desenvolvidos pelo GPDEE, os jogos envolvem o
corpo e o espaço em relação à dança. Os jogos utilizados estimulam a improvisação e a
investigação de movimentos expressivos, criativos e característicos de cada corpo.
Desta maneira a linguagem se constrói na prática do corpo que dança.
Para a utilização do jogo no ensino da dança destacamos entre outros, os
jogos teatrais de Viola Spolin (2001) que não só se baseiam nos princípios lúdicos como
também nos auxiliam na integração da dança com o teatro.
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Segundo Jesus, Godoy e Sgarbi (2008) Viola Spolin “defini o jogo teatral
como uma atividade executada por um grupo que segue um acordo com regras aceitas
por todos” (p.2). Esses jogos possibilitam a investigação de novas formas de
movimentar o corpo, permitem o desenvolvimento e a percepção da comunicação e da
expressão corporal e facial, por meio dos elementos do teatro e, consequentemente da
dança.
2.3 Improvisação em Dança
Haselbach (1988) afirma que improvisar em Dança significa dar forma
espontânea aos movimentos, sob condições específicas, antecipadas para esse fim, ou
decorrentes de um momento anterior da aula. Em outras palavras, improvisar em dança
é combinar e recombinar de maneira espontânea movimentos, baseados em algum tema,
motivação, objeto, música, parceiro, entre outros. Essa combinação resulta, segundo
Lima (2009) em alguns casos, na criação de novas formas do se movimentar, inéditas e
inusitadas.
Confome Saraiva-Kunz (1994) a improvisação permite o resgate de
movimentos pertencentes ao repertório motor do indivíduo, sejam eles do cotidiano,
aprendido em atividades físicas ou explorado em brincadeira; em um novo espaço e/ou
com diferente estímulo. Assim, o indivíduo tem a possibilidade de escolher seus
movimentos conforme a situação e/ou suas preferências.
A improvisação, além de proporcionar o alargamento do repertório motor,
possibilita a ampliação da consciência corporal e da capacidade de criar, por meio de
uma intensa pesquisa corporal. Pode contribuir também, para autoexpressão e
espontaneidade.
Recomendada por Laban (1990) para a iniciação da criança ao mundo da
dança, a improvisação desvia-se dos tradicionais processos de ensino e aprendizagem,
puramente técnicos e estereotipados, proporcionando o desenvolvimento da
personalidade, na medida em que o indivíduo escolhe seus movimentos e libera
expressão de seus gestos.
A possibilidade da expressão pessoal que a improvisação carrega contribui
para a ampliação das capacidades comunicativas do indivíduo e, compreensão e
sensibilização em relação à expressividade facial e corporal do outro; ações importantes
para a promoção de uma boa relação em grupo, solidariedade e cooperação.
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Haselbach (1989) argumenta que o uso de materiais é uma estratégia
interessante para que cada aluno descubra os movimentos que pode utilizar nas
improvisações, embora seu uso não seja condição necessária.
Uma estrutura frequentemente utilizada nas práticas educativas do GPDEE,
que estimula a improvisação, é a jam sessions.
A expressão jam sessions é inspirada em sessões de improvisação de músicos de jazz. As jams eram uma oportunidade para os músicos tocarem e poderem improvisar juntos, à vontade. Esse mesmo termo foi adotado na área de Dança, para nomear sessões de improvisação corporal (COELHO et al in GODOY & ANTUNES, 2008).
Nos projetos desenvolvidos, as jams aconteciam em formato de roda.
Determinadas regras, para que todos pudessem participar, eram estabelecidas e com um
estímulo de música ou de algum material, cada dois, três, alunos entravam dançando
como quiserem. Tal formato possibilitou a percepção do envolvimento, encantamento e
prazer que as crianças demonstraram ao participar desse jogo, contribuindo para sua
autoexpressão, ampliação do repertório do movimento e liberação do movimento
espontâneo.
2.4 Apreciação estética
Com o objetivo de favorecer a formação de público, a percepção das
relações entre arte e espectador e ampliar o universo cultural dos participantes do
projeto, o GPDEE proporcionou aos alunos a experiência estética da apreciação.
Intencionalmente, os dois grupos que foram convidados, de dança e música,
desenvolvem seus trabalhos de criação e pesquisa artística diferentes dos quais os
alunos estavam acostumados. O Grupo de Dança – IAdança utiliza-se da dança
contemporânea e o Grupo de Músicos do Núcleo de Ensino, do chorinho; ambos os
grupos fazem parte do Instituto de Artes da UNESP.
Tal iniciativa estimulou uma fruição para além do senso comum e
proporcionou “uma visão artística e educacional da dança na escola, contextualizando-
a como manifestação cultural presente na sociedade” (GODOY, 2010, p.50).
As apresentações artísticas integraram o encerramento de ambos os projetos,
que além da apreciação estética, possibilitaram, em determinado momento, a
participação das crianças, que puderam dançar e brincar individualmente e no coletivo,
integrando todas as vivências experimentadas ao longo dos projetos.
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3. Do papel à ação: como foi possível!!
A realização efetiva do Dança Criança na Vida Real e do Movimento e
Cultura na Escola: Dança só se tornou possível diante da proposta de reunir em um
mesmo projeto outros trabalhos em andamento. Assim, o projeto principal abrigou
pesquisas individuais de membros do GPDEE e projetos menores.
Podemos exemplificar com Dança Criança na Vida Real de 2008 que
envolveu o Projeto de Extensão IAdança, Projeto Núcleo de Ensino Dançando na
Escola e pesquisas do grupo de pesquisa, todos coordenados pela Profª Drª Kathya
Maria Ayres de Godoy. Tais iniciativas pertencem ao Instituto de Artes da UNESP e
entrelaçam ensino, pesquisa e extensão (GODOY & ANTUNES, 2008).
A ação de agregar esforços permitiu o trabalho conjunto de pós-
doutorandos, doutores, mestres e graduandos, proporcionando aos projetos um
amadurecimento didático e pedagógico, desde sua concepção à sua finalização.
O encontro de pesquisadores com diferentes experiências acadêmicas
ofereceu ao aluno graduando do Instituto de Artes vivenciar situações relevantes para
sua formação científica e profissional, contribuindo para sua inserção participativa e
crítica no mercado de trabalho, seja como artista, educador ou pesquisador.
Esses alunos atuaram nos projetos, sempre acompanhados de pesquisadores
mais experientes, como bailarinos e/ou proponentes das atividades para as crianças.
Estiveram também, em constante contato com a produção de pesquisa acadêmica,
observando assistematicamente e coletando depoimentos das crianças.
Segundo Antunes (In GODOY & ANTUNES, 2010) na escola, os
universitários se viram diante de uma realidade, até então “desconhecida, inesperada;
o que lhes suscitou atenção a demandas concretas da profissão a que aspiram e maior
interesse e dedicação ao projeto” (p. 24).
“O projeto também serviu como campo de estágio para os alunos do
Instituto de Artes da UNESP, que refletiram sobre a aplicação de práticas educativas e
artísticas no contexto escolar” (GODOY & ANTUNES, 2008 p.13).
Considerações Finais
As múltiplas linguagens ocupam lugar fundamental na educação
contemporânea. Ao cumprir o papel de mediar as relações entre os vários sujeitos de
uma sociedade, as linguagens contribuem para a aquisição dos bens culturais, bem
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como para uma significativa inserção e participação desses indivíduos nas ações sociais
(FARIA & PALHARES, 2007).
A dança, compreendida como uma linguagem artística expressa
criativamente por meio do corpo e no movimento, é considerada uma manifestação
cultural e produto histórico-social. No ambiente educacional, a dança pode favorecer ao
aluno uma compreensão mais sensível e profunda do seu corpo e do corpo do outro;
possibilita a expansão dos seus movimentos, por meio das ações cotidianas como o
correr, saltar, empurrar, balançar, entre outras.
É sob esse ponto de vista que defendemos a presença transformadora desta
linguagem na escola. Mas não nos referimos a qualquer dança; posicionamos-nos a
favor de uma dança que foque o movimento expressivo (GODOY, 2003), que permita o
encontro com o outro, com a cultura e com o entorno e, possibilite a construção da
identidade por meio da pesquisa corporal e de movimentos.
No desejo de inserção e efetivação da dança no contexto escolar, o Grupo de
Pesquisa Dança: Estética e Educação (IA/UNESP), atua com os jovens, dentro das
escolas, por meio de projetos de ação cultual.
Além das teorias de Laban, a prática educativa do grupo de pesquisa,
fundamenta-se em quatro ações principais: integração das quatro linguagens artísticas,
apreciação estética, improvisação e o jogo. A partir dos projetos Dança Criança na
Vida Real e Movimento e Cultura na Escola: Dança, foi possível verificar que esses
pressupostos podem ser usados no ensino de Dança, contribuindo efetivamente para a
aproximação da criança com essa linguagem artística.
Por meio de ações intencionais, rigorosamente planejadas, discutidas,
reformuladas e avaliadas, os pesquisadores oportunizaram às crianças expressar-se
corporalmente sem padrões previamente estabelecidos, ampliar a percepção em relação
ao próprio corpo e suas possibilidades de movimentação e dançar no coletivo. Tais
vivências ampliaram comprovadamente o repertório cultural dos participantes e da
comunidade do entorno.
Ambos os projetos proporcionaram uma mudança significativa para a escola
no que diz respeito à aquisição de uma cultura da dança, que resultaram em publicações
didáticas em formato de livro digital ilustrados, composto por DVD ROM. Os dois
livros possuem ISBN e carregam um registro textual, videográfico e fotográfico de
todas as atividades realizadas na escola, embasadas teoricamente.
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As publicações foram distribuídas gratuitamente em diversas bibliotecas de
escolas e universidades de todo o país. Tal iniciativa buscou facilitar o acesso e a
difusão de uma possibilidade de projeto artístico educacional em Dança, contribuindo
com a prática profissional do professor.
Os projetos também fortaleceram o grupo de pesquisa e enriqueceram a
formação individual de cada participante.
Esta foi nossa contrapartida para uma transformação social.
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