Português fomura questões_variação linguística - acordo ortográfico - interpretação

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CEES – Colégio Estadual Edmundo Silva. Disciplina: Língua Portuguesa.3.ª série do Ensino Médio – Formação de Professores. Professor: Helio de Sant’Anna dos Santos. Aluno(a): ___________________________________ N.º: _____ Turma: _____ Avaliação – 2.º bimestre Texto 1: Fome, sede e vontade de ler O corpo necessita de combustíveis. Se precisamos de água, temos sede. De comida, temos fome. Nunca paramos de respirar. Por que nos falta uma necessidade de ler? Aliás, não há sequer um nome pra isso. Simplesmente “a necessidade de ler”. Algo como a manutenção da intelectualidade, ou da saúde do cérebro. Ler. Ler como quem mata a sede. Como quem avança sobre um prato de comida. Um copo de água bem gelada e uma Clarice. Uma lasanha e um Machado. Para todos os dias, arroz, feijão e Allan Poe. (...) Os jovens - ah, sempre os jovens – não conseguem, ou não querem, enxergar o benefício da leitura. Qualquer leitura. E os jovens crescem, ou já cresceram, subletrados. Daí a pergunta: E se houvesse uma necessidade física? Penso que ainda há o que mudar na estrutura humana. Que tal essa dica? Hein? Na falta de uma terminologia melhor, fica a “fome de leitura”, ou a FOMURA. O menino grita: “Manhêêê, tô com uma fomura danada”. E ela vem correndo com a Ruth Rocha que é pro menino parar de reclamar. O pai, no meio da noite, acorda com o choro do bebê. Dá a mamadeira, troca a fralda e lê o Ziraldo enquanto o neném não consegue sozinho. O casal de namorados vai sair à noite. Jantar, choppinho ou leitura? O rapaz mais afoito sugeriria um João Ubaldo. O divorciado um Nabokov. O mais esperto um Vinícius (sim, elas ainda adoram). E a combinação vinho, massa e Drummond? Irresistível. O sonho enfim se concretizaria com o obeso-literato. Aquele que, de madrugada, assalta a estante. Acha que não faz mal um Parnasianismozinho durante as refeições. Vai ao médico, o letricionista, que lhe passa uma dieta a base de romance. Nada muito pesado. Depois das 20 horas, só Sidney Sheldon. Mas cai em tentação e é flagrado com “Crime e Castigo” nas mãos. A família se preocupa. Tornou-se um livrólatra. Só o L.A. poderá salvá-lo. Nas reuniões com o grupo de viciados em literatura, ele conta sua saga: “Bem, comecei aos 10 anos. Como todo mundo. Fadas, chapéus, narizes que cresciam. Depois eu parti pros livros menores. Mas quando você menos espera, já está devorando um Jorge Amado numa sentada só”. Um “ooh” ecoa na sala. Senhoras comentam entre si. “Tão novinho e tão letrado, né!” Bibliotecas lotadas. Um silêncio ensurdecedor. Filas enormes para entrar. É muita gente morrendo de fomura. Consegue uma mesa, pede o menu. - Por favor, me vê duas Cecílias. E pro menino pode ser um Lobato, que ele adora!! - Senhor! Nossas Cecílias acabaram. - O quê? E o que você sugere? - Nosso Eça é legítimo, senhor! E temos Camões. - É que os portugueses são caros, né? E meu médico me proibiu Camões durante a semana. - Algum Andrade? - Não sei. Não sei. Tô indeciso ainda. Depois de alguns minutos pensando e testando a paciência do rapaz que lhe servia... - Ah, vou de Paulo Coelho mesmo que é só pra matar a fomura. Fonte:CAMBOTA, Fabiano. Fome, sede e vontade de ler. Texto modificado. Disponível em: http://textos_legais.sites.uol.com.br/fome_sede_vontade_ler.htm (acessado em 20/03/2010).

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CEES – Colégio Estadual Edmundo Silva.

Disciplina: Língua Portuguesa.3.ª série do Ensino Médio – Formação de Professores.

Professor: Helio de Sant’Anna dos Santos.

Aluno(a): ___________________________________ N.º: _____ Turma: _____

Avaliação – 2.º bimestre

Texto 1: Fome, sede e vontade de ler

O corpo necessita de combustíveis. Se precisamos de água, temos sede. De

comida, temos fome. Nunca paramos de respirar. Por que nos falta uma

necessidade de ler? Aliás, não há sequer um nome pra isso. Simplesmente “a

necessidade de ler”. Algo como a manutenção da intelectualidade, ou da saúde do

cérebro. Ler. Ler como quem mata a sede. Como quem avança sobre um prato de

comida. Um copo de água bem gelada e uma Clarice. Uma lasanha e um Machado.

Para todos os dias, arroz, feijão e Allan Poe. (...)

Os jovens - ah, sempre os jovens – não conseguem, ou não querem,

enxergar o benefício da leitura. Qualquer leitura. E os jovens crescem, ou já

cresceram, subletrados. Daí a pergunta: E se houvesse uma necessidade física?

Penso que ainda há o que mudar na estrutura humana. Que tal essa dica? Hein? Na

falta de uma terminologia melhor, fica a “fome de leitura”, ou a FOMURA.

O menino grita: “Manhêêê, tô com uma fomura danada”. E ela vem correndo

com a Ruth Rocha que é pro menino parar de reclamar. O pai, no meio da noite,

acorda com o choro do bebê. Dá a mamadeira, troca a fralda e lê o Ziraldo

enquanto o neném não consegue sozinho. O casal de namorados vai sair à noite.

Jantar, choppinho ou leitura? O rapaz mais afoito sugeriria um João Ubaldo. O

divorciado um Nabokov. O mais esperto um Vinícius (sim, elas ainda adoram). E a

combinação vinho, massa e Drummond? Irresistível.

O sonho enfim se concretizaria com o obeso-literato. Aquele que, de

madrugada, assalta a estante. Acha que não faz mal um Parnasianismozinho

durante as refeições. Vai ao médico, o letricionista, que lhe passa uma dieta a base

de romance. Nada muito pesado. Depois das 20 horas, só Sidney Sheldon. Mas cai

em tentação e é flagrado com “Crime e Castigo” nas mãos. A família se preocupa.

Tornou-se um livrólatra. Só o L.A. poderá salvá-lo. Nas reuniões com o grupo de

viciados em literatura, ele conta sua saga: “Bem, comecei aos 10 anos. Como todo

mundo. Fadas, chapéus, narizes que cresciam. Depois eu parti pros livros menores.

Mas quando você menos espera, já está devorando um Jorge Amado numa sentada

só”. Um “ooh” ecoa na sala. Senhoras comentam entre si. “Tão novinho e tão

letrado, né!”

Bibliotecas lotadas. Um silêncio ensurdecedor. Filas enormes para entrar. É

muita gente morrendo de fomura. Consegue uma mesa, pede o menu.

- Por favor, me vê duas Cecílias. E pro menino pode ser um Lobato, que ele

adora!!

- Senhor! Nossas Cecílias acabaram.

- O quê? E o que você sugere?

- Nosso Eça é legítimo, senhor! E temos Camões.

- É que os portugueses são caros, né? E meu médico me proibiu Camões

durante a semana.

- Algum Andrade?

- Não sei. Não sei. Tô indeciso ainda.

Depois de alguns minutos pensando e testando a paciência do rapaz que lhe

servia...

- Ah, vou de Paulo Coelho mesmo que é só pra matar a fomura.

Fonte:CAMBOTA, Fabiano. Fome, sede e vontade de ler. Texto modificado.

Disponível em: http://textos_legais.sites.uol.com.br/fome_sede_vontade_ler.htm

(acessado em 20/03/2010).

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1)Para expressar-se, o autor do texto utiliza uma estratégia bem clara.

Basicamente, que estratégia é essa?

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2)Com suas palavras, explique o sentido do texto.

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3)No texto, no que se refere ao emprego das variantes da língua, há trechos

explicitamente formais e outros informais. Após uma outra releitura de Fome, sede

e vontade de ler, comente a afirmativa.

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4)Em um parágrafo devidamente organizado, expresse sua opinião sobre o tema do

texto. Não deixe de fazer uma revisão atenta.

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5)Justifique a acentuação gráfica:

a)”cérebro”: ________________________________________________________

b)”aliás”: __________________________________________________________

c)”daí”: ____________________________________________________________

d)”já”: ____________________________________________________________

e)”silêncio”: ________________________________________________________

f)”chapéus”: ________________________________________________________

Texto para as questões 6 e 7:

Conforme noticiado pelo jornal O Estado de S. Paulo de 2/5/2009 (p. B5), em

conversa de Luiz Inácio Lula da Silva com diretores da Petrobras num evento

comemorativo “do início da exploração do petróleo abaixo da camada de Sal, na

área de Tupi — maior reserva descoberta no mundo nos últimos 30 anos —“, o

presidente se expressou nos seguintes termos (com destaques nossos): “Gente,

estou aqui falando da nova era que tem início hoje, falando de uma transcendência

incomensurável. (...) Vocês estão acreditando que estou dizendo isso? Nem eu

estou crendo em mim mesmo. Agora há pouco falei concomitantemente, daqui a

pouco vou falar en passant e ainda nem usei o sine qua non. Para quem tomou

posse falando menas laranja tá bom demais.”

6)Sobre os comentários de Lula, assinale a afirmativa incorreta:

a) Numa primeira leitura, tem-se a impressão de que o pronome isso tem como

referência a grande importância do momento histórico que motivou o evento.

b) Numa leitura mais atenta, percebe-se que isso tem como referência a expressão

“transcendência incomensurável”, configurando uso de metalinguagem.

c) O próprio presidente faz humor sobre o grau de sofisticação que alcançou em

matéria de linguagem.

d) Lula faz uma mistura inaceitável de variantes linguísticas, ao juntar a expressão

“menas laranja” com “transcendência incomensurável”.

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e) Entre “concomitantemente”, “en passant” (do francês; “por alto”, “ligeiramente”)

e “sine qua non” (do latim; “indispensável”, “imprescindível”), nota-se uma

gradação ascendente, orientada para o mais sofisticado.

7)Teça considerações sobre a fala de Lula.

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Texto 3:

Retirada de www.miriamsalles.info/wp/wp-

content/uploads/acord

8)Qual é o pressuposto da personagem que defende o acordo ortográfico entre os

países de língua portuguesa? Por que esse pressuposto é inadequado?

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9)Explique como, na tira acima, esse pressuposto é quebrado.

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10)Defina e exemplifique ditongos e encontros consonantais, apoiando-se

nas palavras do texto 1.

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