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PORTFÓLIO

Marta Spínola Aguiar

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Reportagens e Perfil

O país do 36-B

À entrada, um mapa de Portugal. No interior, o som de guitarras portuguesas. Gallassa Café.

É assim que se chama o acolhedor café de gastronomia tradicional portuguesa, situado na

Rua da Trindade 36-B, no Chiado, em Lisboa.

Marta Spínola Aguiar

Cultura e tradição são as palavras-chave que melhor caracterizam o café que se situa ao lado

da casa de Rafael Bordalo Pinheiro, um dos expoentes máximos da beleza e representatividade

dos roteiros turísticos de Lisboa.

“Decidimos trazer para junto do cliente o melhor que o nosso país tem a nível gastronómico”,

afirma Sónia Menezes, uma das donas do café que faz hoje um ano. “No fundo, é trazer a

tradição de Portugal inteiro, ir buscar um bocadinho a cada lado”.

Não podendo ser um restaurante gourmet, pois não tem cozinha mas copa, Sónia encara o

café como um “sítio agradável para passar um bom bocado com os amigos enquanto se

petisca alguma coisa”. O Galo de Barcelos é o símbolo do Gallassa, a provar que no moderno

cabe o tradicional.

De entre queijos e enchidos, o “Tour Gastronómico” é um dos pratos mais requisitados no

Gallassa e que mais faz as delícias dos clientes, segundo Tiago Rocha, um dos funcionários

desta casa portuguesa. Antônio Netto é cliente assíduo do café e afirma “gosto do conceito do

tour. Posso comer todos os doces, enchidos, queijos e beber tudo o que é típico de Portugal”.

Sónia salienta que este prato é apropriado para duas pessoas e traz, também, “uma típica

salada de tomate, batatinhas, azeitonas e ainda frutas como o ananás e as uvas para cortar as

gorduras dos enchidos e permitir que as pessoas comam sem se fartarem”.

A ideia de englobar grande parte da gastronomia num único prato, surgiu no final do ano

passado e veio substituir, no topo das preferências, o prato Gallassa, “que traz os enchidos

com um misto de queijo”. Tiago garante que o “Tour” é o elo de atracção de muitos turistas

que “primeiro começam com um enchido ou uma bebida mais típica e logo que vêem o prato

no menu, ficam com o desejo de experimentar quando voltam.”

Descrito por muitos como “um café inovador”, o nome “Gallassa” surge “na sequência de uma

peça, um assador moderno, com forma de galo que vem substituir o assador de barro do

porquinho”, explica Sónia. A originalidade no nome e nesse assador que vai à mesa para o

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cliente poder assar os enchidos e fazer a espetada de fruta, permite criar uma dinâmica muito

pouco conhecida em Portugal e que cativa quem visita o café.

Tiago salienta que este é um conceito “totalmente novo e atractivo”. Para além disso, “a ideia

de apresentar um visual inovador é interessante, no sentido em que explica um pouco da

história dos produtos apresentados nesta ‘tasca urbana’, como muitos lhe chamam”, comenta.

O mapa de Portugal à entrada do café consegue, desde logo, captar a atenção do cliente e

permite estabelecer uma ligação entre os produtos e as suas terras de origem. Segundo Netto,

“a ideia foi genial. Assim, cada vez que lá vou, posso escolher e provar algo diferente e ainda

saber a história e a tradição que estão por trás”.

Mas a “tasca urbana” fez questão de manter alguns traços característicos das “tascas menos

urbanas”. Simpatia, animação e atendimento personalizado são a fórmula para que o cliente

“se sinta em casa” e o que faz com que a equipa continue “a apostar num conceito minimalista

como este”, esclarece Tiago.

De forma a manter o contacto forte e assíduo com o cliente, o Gallassa aposta em três áreas

de negócio: a descoberta do taste, “em que a pessoa vem cá e experimenta os produtos em

prato normal”, o take, em que “se o cliente gostar muito do queijo da serra, ou dos vinhos, dos

licores, das compotas, pode comprar e levar para casa” e por fim o merchandising, “uma linha

desenhada por nós” e que concede mais vida e cor aos objectos, como é o caso do “porta-

guardanapos e da base para tachos”, explica Sónia.

Fechado apenas à segunda-feira, o Gallassa prima pelo desejo de cativar os clientes das mais

variadas formas. Se de manhã o cheiro a pão quente sai do pequeno café e conquista quem

por lá passa, é nas principais refeições que toda a equipa se esforça por manter uma linha

exigente, criativa e profissional.

Com o peso da responsabilidade de ser um café dinamizador e representante da história de

Portugal, o Gallassa é, para Netto, “mais do que um café, um espaço de cultura e tradição”. E

se para muitos faltam as palavras para descrever o café, os fãs da página oficial no facebook

não hesitam em afirmar que “ser Gallasseiro é ser português”.

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Funmácia: Para acabar de vez com o mal-estar

Intensificadores, desbloqueadores, estimulantes, inibidores. É assim a Funmácia, no centro

de Lisboa, recheada de sonhos doces. Sem receita médica, as tomas diárias não têm hora

marcada e “são os doces que acabam por atrair os clientes”

Marta Spínola Aguiar

Mal se entra na pequena loja, o cheiro doce invade as narinas. Gomas, chocolates e rebuçados

enchem os pequenos boiões colocados em nichos nas paredes.

À entrada as “regras da casa” que orientam os clientes nas suas compras: “usar uma

ferramenta de serviço”; “escolher os recipientes”; “encher até ao topo”; “escolher etiqueta”;

“levar tudo até à caixa” e, por fim, o mais importante, “aproveite o dia e divirta-se”. Foi sob

este lema que o designer Bruno Mendes, 28 anos, e o gestor Ricardo Belchior, 27, decidiram

trazer para Portugal a Funmácia. “Ao fazer este trocadilho, o objectivo foi chamar a atenção

das pessoas, já que o termo farmácia estava muito usado e vinculado ao sofrimento”,

esclarece Ricardo Belchior.

Inspirados no conceito da loja espanhola Happy Pills, a ideia chegou a terras lusas com alguns

retoques nacionais, quer nas embalagens como na própria apresentação da loja. “Achámos o

conceito super interessante e depois de estudá-lo durante o ano, não podíamos deixá-lo num

sítio só [em Barcelona]”, comenta Ricardo Belchior.

“A loja de Barcelona está muito segmentada e nós quisemos abrir mais o leque, começando

pela alusão ao nome”, acrescenta. A preferência por “chamar as coisas como elas são” foi

poder pegar numa ideia e “criar algo da nossa autoria”. Por isso, apostaram numa decoração

simples, que se confunde com uma farmácia tradicional, e num símbolo alusivo às cores dos

doces.

“Reinventar” foi uma das palavras de ordem para estes dois jovens empreendedores. “Se

realmente todos os comprimidos trazem uma descrição, porque não brincar com isso”,

comenta Ricardo Belchior referindo-se aos autocolantes que fazem com que a escolha dos

doces seja ainda mais divertida. “Inibidor de mau feitio”, “estimulador de inteligência”,

“activador de memória”, “desbloqueador de timidez”, “potenciador de amizade” são alguns

dos rótulos que “crmia o lado divertido”. “Quisemos criar uma administração, as

considerações terapêuticas e as contra-indicações”, refere o gestor.

Para clientes como Rita da Nova, 20 anos, a loja portuguesa é melhor que a espanhola.

Considera que “para além dos presentes muito giros, todo o ambiente da loja é divertido”,

para além de salientar a boa disposição dos “funmacêuticos” que se vestem a rigor, com a

típica bata branca.

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Já Gonçalo Simões, 21 anos, gosta do processo de escolha. “Desde os frascos às tabletes a

imitar as de medicamentos com um bocadinho de tudo... e isso só torna o processo mais

divertido. Afinal, estamos apenas a escolher um medicamento que na verdade não o é, mas

que tem um rótulo”. O objectivo de Bruno Mendes e de Ricardo Belchior é claro. “Desde a

nossa abertura [24 de Outubro] que a receptividade tem sido enorme. Tentámos sempre criar

novas coisas para que todas as visitas à loja sejam uma experiência”, sublinha Ricardo Belchior.

“Queremos que o tempo dos clientes seja bem passado”.

Para os proprietários este projecto tem pernas para andar, “porque é divertido”. Pretendem

estender este conceito um pouco por todo o país, já que os pedidos de encomendas tem

crescido na página do facebook. Situada na Avenida António Augusto Aguiar, nº 167, e aberta

de segunda a sábado, esta loja procura a cura lúdica dos mais variados males. Afinal “rir é o

melhor remédio” e esse é o espírito dos administradores.

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Caos controlado

“Caótica”. É assim que Leopoldo Antunes, de 22 anos, descreve a sua arte. Inovação para

alguns, e extravagância para outros, uma forma de pintar que se distancia das ideias fixas.

Chamada “desenho mecânico”, a arte de Leopoldo consiste na adaptação de uma caneta a

um mecanismo de desenho que é controlado por fios, à distância.

Marta Spínola Aguiar

Folha de papel, canetas de ponta grossa ou ponta fina, fios e roldanas. “Os materiais hão-de

ser sempre os mesmos”, afirma Leopoldo Antunes. O que varia é o movimento e o vaguear das

canetas no papel. “Nas mãos tenho fios que estão ligados a uma roldana que por sua vez está

ligada à mola onde está a caneta”, descreve Leopoldo. A caneta cumpre, assim, a função mais

importante em todo o desenho: riscar o suporte que se encontra na vertical.

O produto final traduz-se numa combinação do movimento do artista com os materiais que

usa no processo de criação: “Não me preocupo muito com o resultado, mas sim o todo o

processo de criação». Assim, o produto final traduz-se numa combinação do movimento do

artista com os materiais que usa, materiais esses que são sempre variáveis. Desta forma, neste

tipo de arte, neste caos controlado, nada é estanque.

Leopoldo deu os primeiros passos na arte deste cedo, quando decide ingressar na

Universidade de Évora, mais especificamente na Fábrica dos Leões. Esta é um anexo da

Universidade de Évora que acolhe o Complexo de Arquitectura, Artes Visuais e Artes Cénicas.

Esta é a «primeira casa» de Leopoldo. O seu aspecto antigo, a construção em mau estado e as

condições precárias retratam o caos em que Leopoldo cresceu enquanto artista.

Havia, então, uma essência em cada ranhura daquelas paredes que se transpunham para o

trabalho de Leopoldo. Havia uma vontade imensa de transformar o velho em novo; um caos

organizado e experimentado por todos os que lá passam e transfiguram aquele edifício num

sítio cheio de memórias, vivacidade e com muito para contar.

Quanto ao templo do artista, esse traduz-se numa sala ampla, espelhada e com referência às

artes em todos os cantos. E lá é fácil tropeçar num pincel, num cavalete ou num desenho

inacabado. É fácil cruzar-se com a criatividade de quem passa o dia a soltar imagens do

pensamento e a tatuá-las nas telas. É, então, no meio de ideias a fervilhar, que Leopoldo se

cruza com a arte. E relativamente ao mecanismo, o artista impõe apenas uma condição: “O

suporte tem que ficar ligeiramente à frente em relação às roldanas para haver mais atrito da

caneta para a folha. Depois é só deixar fluir”.

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E se os Leões dispõem uma pontinha de inspiração, foi no seu quarto que o artista começou a

expandir a arte. Caracterizando-o como “naif”, desenvolveu um desenho no quarto que fez

com que a sua inspiração fosse controlada, ou seja, o que era desenhado, dependeria da forma

como os objectos se encontravam espalhados. Essa disposição dependia apenas dele, ao

contrário das inspirações que vai buscar à vida que o circunda.

Adaptando um jogo medieval ao desenho mecânico, Leopoldo encontrou o conceito da sua

arte: “Eu vi aquilo e fez clique”. Assim, o desenho começou a acomodar-se a todas as formas e

pormenores dispostas no momento da pintura e o resultado era sempre “uma simbiose

perfeita”.

Descrito pelo amigo Ricardo Brito, com quem tem um projecto em comum, como sendo um

“engenhoca”, Leopoldo foi desenvolvendo a arte através dos fios, das roldanas e das canetas.

“Uma vez cheguei aqui à escola e vi-o sentado numa cadeira com uma folha gigante à frente e

com duas cordas a fazer uma data de riscos”, conta Ricardo.

Orgulhoso do companheiro com quem partilha escolhas musicais e artísticas, o resultado dessa

«data de riscos» não poderia ter sido melhor. A surpresa era soberana e a pintura, apesar de

abstracta como sempre o faz, soberba. E a cada projecto que desenvolve, o artista não pára de

surpreender, especialmente na forma como “adapta a engenhoca a toda uma forma de

expressar a sua arte”, continua Ricardo.

Pouco diversificado em termos de cor, Leopoldo está “muito agarrado” ao preto e branco.

Contudo, o desenho mecânico pode assumir duas fases, segundo o artista. Na primeira, o

desenho no quarto, na segunda a adaptação de movimentos ao desenho: “Se nesta primeira

parte controlo o movimento, na segunda fase do trabalho o que me preocupou mais foi buscar

movimentos à vida quotidiana, ao vento, às viagens de carrinha…”, explica.

Assim, a inspiração, para além do jogo medieval, agarra-se a particularidades e a

excentricidades das pequenas coisas que circundam o pintor. “Vou buscar inspiração aos

movimentos que estão à minha volta”. É desta forma que “o Huguinho”, como o chama

carinhosamente a amiga Ana Leitão, se arrisca em projectos incertos, variáveis consoante o

que provoca o desenho.

Desde a música, passando pelo drum drawing, que resulta na adaptação dos movimentos da

bateria ao desenho, às viagens de Norte a Sul do país, o produto final é o misto de movimentos

e sonoridades que constroem um abstracto ditado pelo acaso. De todas as experiências feitas

por Leopoldo, o desenho da carrinha deverá ser o mais imprevisível e o mais simples de fazer:

“Na parte de trás da carrinha, estendi uma folha branca e pendurei canetas que nem

marionetas e aquilo que fazia no início da viagem era tirar as tampas das canetas, depois fazia

a minha vida normal e o resultado das viagens estava expresso no desenho. As canetas iam

deambulando no papel consoante o movimento do carro e o resultado era, então, o trajecto”,

declara.

Membro da CAL, uma Comunidade de Artistas Livres criada há cerca de dois anos e meio,

Leopoldo integra-se na secção de Artes Plásticas. A mistura de diversas disciplinas como a arte,

o teatro e a música, fazem com que na CAL, Leopoldo se interligue, sobretudo, com o Teatro,

especialmente a nível cenográfico. «O Leopoldo contribuiu com a imagem e plasticidade do

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espaço em si», comenta Ana Leitão, directora artística da CAL e amiga do artista. Muitas vezes,

o propósito da CAL é «inserir o público dentro do espectáculo e esse trabalho de interacção do

público com a cenografia vem do design plástico. O Leopoldo está sempre ligado a essa parte».

“Instintivo e talentoso”, é assim que Ana Leitão o descreve: «Lançamos uma ideia e ele é super

perspicaz na composição. Capta muito bem a ideia daquilo que queremos mostrar e consegue

compactá-la num cartaz de forma muito eficiente», refere a amiga.

A sua última exposição foi feita no espaço Makala, em Lisboa. Apostando no desenho

mecânico, «foi muito importante para mim e para o Daniel [colega de trabalho e amigo] tirar o

nosso trabalho deste nicho que é Évora, e levá-lo para um espaço maior e com maior

visibilidade, como Lisboa», atesta.

Realizada em Novembro, foi uma exposição que teve as mãos dadas com o Teatro. O desenho

mecânico, nunca antes visto pelo público presente na Rua do Forno do Tijolo nº 48, fez com

que a grandiosidade da obra encolhesse quem lá se encontrava e se espantava a cada

explicação e risco de Leopoldo. E, com uma pequena demonstração, roldanas, fios, tela e

canetas, funcionavam em perfeita harmonia e respondiam à letra a incessante pergunta «o

que é a arte?». Quanto à aceitação do público, esta «foi fantástica», comenta Leopoldo

visivelmente satisfeito.

Bebendo truques e ideias de artistas nacionais e internacionais, como Leonel Moura e Rebbeca

Ann, a viagem a Madrid, há dois anos, embarcou Leopoldo e Daniel numa «overdose de arte»

e quando retornaram a terras lusas «notou-se a influência disso tudo», conta.

Quanto ao futuro, o estudante de Design de Comunicação ambiciona fazer mais trabalhos,

especialmente relacionados com a música e, assim, alargar os seus traços neste conceito ainda

pouco desenvolvido e conhecido em Portugal. Afinal, «quanto maior o afastamento [da tela],

melhor pode ficar o resultado».

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Águas Passadas – Madeira, um ano depois

Marta Spínola Aguiar

O que aconteceu no dia 20 de fevereiro?

A tempestade na Ilha da Madeira, a 20 de fevereiro de 2010, deixou para trás um cenário de

profunda destruição, a nível material e humano. Para além das dezenas de mortos e feridos,

que aumentavam de dia para dia, o número de desalojados rondou os 600 e os danos foram

avaliados em cerca de 1080 milhões de euros.

Muitas foram as inundações e derrocadas que ocorreram em vários pontos da ilha,

especialmente na parte Sul, afetando drasticamente a baixa do Funchal, Câmara de Lobos e

Ribeira Brava. Após várias análises feitas por especialistas, chegou-se à conclusão que o

temporal, originado no arquipélago dos Açores, tomou contornos mais violentos e definidos ao

aproximar-se da ilha da Madeira. A par de uma forte precipitação, os erros de planeamento

urbanístico, como por exemplo a construção ilegal dentro ou até mesmo próximo dos cursos

de água e a acumulação de lixo nos leitos das ribeiras, fizeram com que o dia 20 de fevereiro

ficasse para sempre marcado na memória de todos os madeirenses.

As primeiras medidas tomadas durante e após a tempestade

Aquele sábado de fevereiro começou da pior forma possível. As medidas tomadas pelo

Governo Regional, bem como a ajuda de toda a população, instituições e empresas

madeirenses, apareceram de forma imediata e rápida, o que acabou por evitar que a tragédia

assumisse proporções ainda maiores.

Havia, então, uma primeira questão que tinha que ser resolvida em primeiro lugar: socorrer as

pessoas feridas que se encontravam em vários pontos da ilha, tanto no litoral como no

interior, onde era mais difícil aceder. Simultaneamente, os desalojados representaram,

também, uma preocupação para o Governo Regional que rapidamente tentou arranjar

alojamento provisório, disponibilizando o Regimento de Guarnição nº 3, no Funchal. O

tenente-conorel Perdigão declarou à agência Lusa, no dia da tragédia, que «25 [desalojados]

são crianças, 45 são mulheres e 30 são homens, no total de 30 famílias». O número de vítimas

do mau tempo alojadas neste quartel continuou a aumentar nos dias que se seguiram, tendo

este Regimento chegado a albergar perto de 100 pessoas. Para além disso, no dia em que se

deram as enchentes, o Exército pediu que «todos os militares disponíveis daquele regimento,

mais de 450, se apresentassem de imediato no quartel», como adiantou o tenente-coronel. De

igual forma, solicitou a mobilização de «meios técnicos e equipamentos para restabelecer as

comunicações operacionais no terreno», para assim de recuperar o acesso às redes viárias e

facilitar a ajuda às vítimas que se encontravam sem apoio há algumas horas.

Assim, outra urgência foi o restabelecimento de fornecimento de água e eletricidade à

população, meios fundamentais, que tinham sido cortados devido às enxurradas, como

medida de prevenção e condicionaram a normalização da vida das pessoas no dia da tragédia.

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A população madeirense mostrou-se, também, solidária. E, como «povo unido jamais será

vencido», reuniram-se esforços e um enorme cordão humano mobilizou-se para fornecer

roupas, alimentos e diversos materiais que fossem úteis à reconstrução da ilha e ao bem-estar

das vítimas.

- Medidas económicas

Quanto às ajudas económicas, nem todas se processaram de forma imediata, mas chegaram

dos mais variados meios. Relativamente à ajuda do Governo Central, foi dois meses depois da

catástrofe que José Sócrates, primeiro-ministro português, juntamente com os responsáveis

do Governo Regional e da República, anunciou que «a comissão [constituída por elementos

dos dois executivos] estima que as necessidades de reconstrução, uma estimativa dos

prejuízos fiável, são de 1080 milhões de euros. É esse montante que a comissão nos diz que é

necessário reunir para que se promovam todas as obras de reconstrução da Região Autónoma

da Madeira». Então, baseando-se nesta quantia, a Lei de Meios extraordinários para a

reconstrução da Madeira foi aprovada na Assembleia da República do dia 12 de maio de 2010

e deveria ser dotada para três anos (2010 a 2013). De todos os fundos, o Governo da República

disponibilizou 740 milhões de euros e o Governo Regional suportou 309 milhões. Para além

disso, esta lei previa, e, citando o jornal Público na sua edição online de 29 de abril de 2010, «a

reafetação do Fundo de Coesão com reforço das verbas destinadas à Região Autónoma da

Madeira, na importância de 265 milhões de euros e a reafetação das verbas do PIDDAC

[Programa de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central],

previsto no Orçamento de Estado para intervenções na Região Autónoma da Madeira, no

montante de 25 milhões de euros.» Assim, já era possível «iniciar a reprogramação do nosso

Quadro de Referência Estratégica Nacional», como afirmou José Sócrates e, por meio do

Ministérios das Finanças, contrair um empréstimo de 250 milhões de euros junto ao Banco

Europeu de Investimentos (BEI).

Tais fundos foram essenciais para a ilha da Madeira dar mais um passo para uma reconstrução

profunda, uma vez que já tinha meios para financiar os seus projetos. Do mesmo modo, 31

milhões de euros foram disponibilizados pelo Fundo de Solidariedade da União Europeia.

Contudo, Durão Barroso, em declarações ao jornal Diário de Notícias na edição online de 13 de

março de 2010, não se comprometeu com uma data específica pois «são (exigidos)

procedimentos que não dependem só da Comissão. Se tudo correr bem prevê-se para o

outono [de 2010].». Realçou, ainda, que «o contributo da UE não vai resolver tudo» e solicitou

o apoio do Estado Português, apoio esse que deveria ser feito de «forma inteligente» e

estimulando «a economia regional, a reconstrução de casas, estradas, pontes», disse.

Contudo, e para contrariar o «atraso» verificado na ajuda proveniente do Governo Português e

da União Europeia, no dia da tempestade que devastou a Madeira foram criadas linhas de

crédito para o apoio imediato às pequenas e médias empresas, bem como a criação de fundos

para re-erguer equipamentos suficientes para a reconstrução da ilha. De igual modo, nas redes

sociais foi possível assistir aos pedidos de ajuda com a criação de grupos como «SOS Madeira»,

onde era atualizado, quase de minuto a minuto e com a constante utilização de fotografias,

todos os passos dados pelas autoridades, bem como as derrotas e as vitórias de quem tentava,

a todo o custo, trazer a normalidade à Pérola do Atlântico. Semelhantes às redes sociais foram

as inúmeras galas televisivas, cujo propósito era o de se angariar fundos para ajudar no

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momento difícil que a ilha portuguesa atravessava, galas essas onde foi bastante visível toda a

união e esforços do povo português (e de todo o mundo) para voltar a re-erguer a Madeira.

Mas, como consequência da catástrofe natural que a ilha sofreu e, claro, a urgência em todas

medidas desta natureza, o Orçamento Regional refletiu negativamente todas as ações

tomadas nesse período, uma vez que foi necessário o adiamento das obras previstas para se

poder solucionar os problemas originados pelo temporal e acudir às necessidades da

população.

As reações dos líderes

Alberto João Jardim:

O medo assolava Alberto João Jardim, que, relembrou o Marquês de Pombal aquando do

terramoto de 1775, afirmando que «é preciso sepultar os mortos e cuidar dos vivos». O

Presidente do Governo Regional da Madeira temeu que o número de desaparecidos

rapidamente fizesse aumentar o instável número de mortes, apesar de considerar bastante

plausível existirem cadáveres nos parques de estacionamento dos centros comerciais Dolce

Vita e Anadia Shopping, os mais atingidos pelo temporal.

Contudo, mantinha a esperança sempre viva, insistindo que «eu vou reconstruir isto. Vou

reconstruir isto» e elogiou o trabalho desempenhado pela Igreja: «vocês têm sido

incansáveis», declarou ao D. António Carrilho, bispo do Funchal. Todo o apoio dado por

Portugal Continental e por restantes países, foi também reconhecido pelo presidente do

Governo Regional que pôs de parte as lutas partidárias e acolheu de bom grado a

solidariedade dos portugueses.

«Seria uma calamidade decretar o estado de calamidade». O líder do PSD-Madeira, afirmou

que é importante manter um mercado que garante a sobrevivência da ilha e tal não

aconteceria se declarasse o estado de calamidade pois, «iria afetar as pessoas da Madeira»,

visto que a sua economia estaria comprometida.

Várias foram as vezes em que o Presidente do Governo Regional afirmou que «com a vida das

pessoas não se brinca» e, apesar da quantia monetária necessária para reconstruir a ilha

superar os mil milhões de euros, o seu principal objetivo era «pôr tudo bonitinho», vencer

«uma grande batalha (…) demore o tempo que tiver que demorar».

Mário Soares:

O ex-presidente da República, Mário Soares, admirou toda a solidariedade dos portugueses

perante a catástrofe natural, afirmando que «não houve “cubanos”, como antigamente alguns,

chegaram a rotular os seus irmãos continentais». Apontou, ainda, que muito provavelmente a

causa desta tempestade que abalou a ilha da Madeira deve-se aos «desequilíbrios que têm

vindo a manifestar-se, em todos os Continentes»

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Mário Soares salientou, assim, a importância de todos os apoios para a Madeira e elogiou todo

o trabalho desempenhado pelo Governo português: «o Presidente da República manifestou a

sua preocupação. O primeiro-ministro e o ministro da Administração Interna, voaram para a

Madeira, (…) e prometeram pôr à disposição das autoridades da Região, militares, bombeiros,

médicos, enfermeiros e técnicos diversos do Continente. (…) Cumpriram em tempo recorde – e

bem – o que deles se esperava.»

Ainda na sua declaração de 25 de fevereiro de 2010, Soares relembra que as críticas feitas às

construções legais ou ilegais são supérfluas e toda a reconstrução das zonas mais afetadas «vai

levar tempo». A tarefa que se tinha pela frente não era fácil e «na altura própria devemos,

então sim, aprender com os erros urbanísticos, se é que os houve, e não os cometer agora.

Mas sem recriminações quanto ao passado». A sua mensagem para todos os portugueses

centrou-se na união de todas as pessoas porque «somos todos e tão só Portugal, na riqueza da

nossa diversidade e na reciprocidade do nosso afeto.»

Cavaco Silva:

«Ninguém se pode abater», afirmou convictamente o Presidente da República, Cavaco Silva,

na sua mensagem de esperança à Madeira, no dia 20 de fevereiro. Foi esta a sua primeira

reação: incentivar todos os madeirenses a lutarem pela sua ilha e fazerem com que ela

voltasse a ser o que era. Um projeto complicado de idealizar e, sobretudo de concretizar, uma

vez que, emocionado, descreveu o cenário como «é impressionante o que estamos a ver»,

quando, no dia 24 de fevereiro, quarta-feira, chegou à Madeira com o objetivo de se inteirar

dos danos provocados pela tempestade. Durante a sua visita, o Presidente da República esteve

sempre acompanhado pelo Presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim, e elogiou o

trabalho desempenhado quer pelas autoridades como por toda a população, e atestou que

numa altura tão difícil «não faltará solidariedade».

Ainda na sua mensagem de esperança aos madeirenses, expressou as suas condolências às

famílias que mais ficaram lesadas pelo temporal e «aos que perderam os seus bens, uma

palavra de esperança.»

Durão Barroso, José Luis Zapatero e Nicolas Sarkozy:

Em declarações à agência Lusa, o primeiro-ministro espanhol, José Luis Zapatero, quis

«expressar a (…) máxima solidariedade para com os habitantes da Madeira, com as famílias

que perderam filhos e reitero o nosso compromisso de apoio que já oferecemos ao Governo

do primeiro-ministro Sócrates.».

Zapatero corroborou, a 23 de fevereiro de 2010 que a catástrofe natural na ilha da Madeira,

seria um dos assuntos debatidos na reunião que o governo espanhol teria com a Comissão

Europeia, nesse mesmo dia. Às suas palavras, aliavam-se as de Durão Barroso que afirmou que

«a Comissão Europeia, através do fundo de solidariedade, (…), pode apoiar a reconstrução se

as autoridades portuguesas fizerem um pedido fundamentado, num prazo de dez semanas».

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Assim, seria possível re-erguer a ilha que foi «tão terrivelmente afetada por uma tragédia

desta dimensão.».

Também a França quis mostrar solidariedade com o povo madeirense. Um dia após a tragédia,

o Presidente francês, Nicolas Sarkozy, enviou as suas condolências ao Presidente da República

português, Cavaco Silva: «nesta hora de luto, sofrimento e perda, pela Madeira e por Portugal,

envio-lhe as minhas condolências e expresso a solidariedade do povo francês para com o povo

português.»

Madeira: a reconstrução

Onde estão os fundos monetários?

Ao contrário do que se possa pensar, a reconstrução da ilha da Madeira não mostra fins à

vista. Hoje, um ano depois da tragédia, a Câmara do Funchal ainda só recebeu 915 milhões de

euros para cobrir os danos causados pelo temporal.

Miguel Albuquerque, Presidente da Câmara Municipal do Funchal, afirmou que houve a

«alteração do orçamento [regional], adiando um conjunto de obras para fazer face às

prioritárias» e, para que tal fosse possível, foi investido cerce de 6,1 milhões de euros, no ano

passado, em equipamentos diversificados, trabalhos de limpeza e recuperação de algumas

infraestruturas. Para além disso, Albuquerque prevê gastos muito elevados nos próximos dois

anos, sendo que a estimativa aponta para 5,4 milhões em 2011, 4,2 em 2012 e dois milhões de

euros em 2013.

Mas, o autarca faz um balanço positivo relativamente às ações que tiveram prioridade na

altura do temporal e ao longo dos meses seguintes: «já foram realojadas definitivamente em

novas casas 546 pessoas, o que corresponde a 168 famílias», afirma. Sublinha, ainda, que toda

a solidariedade do povo português foi um passo importantíssimo para re-erguer a Madeira do

seu período mais complicado e negro. Todas as verbas atribuídas destinaram-se, pois, a

«apoios sobretudo às famílias afetadas pela intempérie».

Um ano depois: o que mudou?

Um ano depois e a Madeira está ainda a ser reconstruída. Um ano depois e o dia do temporal

está bem presente na memória de todos os madeirenses. Um ano depois e o «Funchal está

mais vulnerável mas as pessoas estão mais conscientes dessa vulnerabilidade». São estas as

palavras de Miguel Albuquerque, Presidente da Câmara do Funchal, que salienta as

consequências da catástrofe natural e realça a importância de «aprender com os erros» e,

citando o jornal Público na sua edição online de 20 de fevereiro de 2010, «adotar os

procedimentos corretos». Contudo, Hélder Spínola, antigo dirigente do movimento

ambientalista Quercus, aponta alguns erros na reconstrução da ilha da Madeira como por

exemplo a «ocupação dos leitos de cheia das ribeiras». Assim, «os leitos estão novamente a

ser estrangulados».

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Numa das zonas mais atingidas pela tempestade, na Ribeira Brava, ainda hoje se consegue ver

as marcas da catástrofe. Segundo o jornal i, na sua edição online de 18 de fevereiro de 2010,

«parece que o tempo parou.».

Roberto Almada, coordenador regional do Bloco de Esquerda, afirmou esta manhã ao Diário

de Notícias da Madeira que «os governantes desta Região e também deste concelho [Ribeira

Brava] não aprenderam com as lições que o temporal de 20 de fevereiro veio trazer.» Declara

que os depósitos de terra são um dos exemplos das situações que colocam em perigo a

segurança da população, uma vez que esses depósitos situam-se junto às linhas de água.

Uma das estradas que permite a ligação com a zona norte da Ilha, a estrada da Meia Légua à

Serra de Água, viu, faz hoje um ano, as inúmeras casas que lá existiam a serem consumidas

pela água da ribeira, desalojando dezenas de famílias e provocando estragos na estrada,

dificultando a circulação dos meios de socorro. Peter Câmara, em declarações ao jornal i

afirma que, no dia da catástrofe, «não estava em casa. Quando cheguei deparei-me com este

cenário. E aqui continuam as rochas e a lama.».

Tal como Peter está Nuno Gouveia de Jesus, também morador na Serra de Água e que ainda

não recebeu qualquer apoio. «A câmara não tem dinheiro, coitados!» e o Instituto da

Habitação da Madeira (IHM) não aconselha a reconstrução da sua casa na mesma localização

visto que «é perigoso». Mas Nuno de Jesus lamenta que «não tenho mesmo mais nada», e,

por isso, não coloca qualquer objeção em ficar no mesmo lugar.

Peter e Nuno esperam pelo novo apartamento, prometido pelo IHM que, até agora só realojou

168 famílias. Apartamento que nunca mais chega e nada podem fazer quanto a isso. «Nada a

não ser minimizar a dor uns dos outros com palavras».

E se há uma nova tempestade?

Ainda hoje se teme pela fragilidade dos solos. Ainda hoje o pânico acomoda-se na vida das

pessoas sempre que há um dia mais chuvoso. Ainda hoje a população não sabe o que fazer

caso haja uma tempestade idêntica à do dia 20 de fevereiro de 2010.

Prova disso, foram os temporais do dia 20 de outubro e 20 de dezembro. Curiosamente, o dia

20 é um dia funesto. Embora não tenha adquirido contornos tão graves como o de fevereiro,

trouxe ao de cima todos os sentimentos e sensações vividos durante esse período. E

consciencializou a população de que ainda é preciso pôr mãos à obra. Alertou para o perigo

das obras mal construídas e, reforçou a força dos madeirenses para lutarem para uma ilha com

infraestruturas mais estáveis e com condições suficientemente boas para enfrentar mais

desafios da natureza, quando e se os houver.

E essas lutas reforçaram-se hoje. Esta tarde, por volta das 17h00 formou-se um cordão

humano à volta do aterro do Funchal, como forma de contestação e em memória das vítimas

do temporal. O aterro era, até há um ano, uma praia de areia preta situada na baixa da cidade.

Após a tempestade, serviu de local para depositar todo o entulho trazido pelas águas da chuva

e das ribeiras. Hoje, ainda lá está. Assim. Intacto. Transformado num monte de pedras e terra.

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Raimundo Quintal, geógrafo e especialista em ambiente e conhecedor das características da

ilha, assegura, em declarações ao jornal i na sua edição online de 19 de fevereiro de 2010 que

será retirada «uma parte da areia, através do mar, para levar para a praia Formosa [onde a

costa está a recuar]. A restante seria utilizada para construção.». Esta é, segundo o geógrafo,

uma situação ideal uma vez que será menos dispendiosa que a construção de um novo cais -

como o Governo pretende -, visto que se pensa «sempre que tudo pode ser resolvido com

obras de engenharia, infraestruturas essas que, vimos, não resistiram». Mas, o projeto para

essa zona da cidade está atrasado e tem sido alvo de críticas por parte da população e de

especialistas.

O geógrafo preocupa-se, agora, com o que levou às instabilidades das infraestruturas e dos

solos nas cheias de outubro e dezembro. Então, diz que a preocupação do Governo Regional

deveria ser a de um novo planeamento para a cidade para, dessa forma, ser possível recuperar

algum património perdido e (re)construir zonas mais seguras. A zona do Funchal transparece,

em alguns lugares, essa insegurança. «A degradação dos edifícios e estruturas construído nos

últimos 20 anos é um dos dramas da nova Madeira. E não vamos ter dinheiro para os

recuperar, infelizmente». Raimundo teme, pois, o gasto (possivelmente) excessivo da Lei dos

Meios e preocupa-se com a imprevisibilidade da Mãe-Natureza que não é «fácil de domar,

nem com obras de engenharia».

Porém, na sua generalidade, o Ministro da Defesa, Augusto Santos Silva, numa passagem

rápida pela ilha, afirma que a sua reconstrução «no essencial, está feita».

Um ano depois, a Pérola do Atlântico tem motivos para brilhar.

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Rui Santos, entre a rádio e a Televisão

Se tivesse que escolher uma arma, Rui Santos, 43 anos, decerto escolheria a voz. Habituado

às andanças da rádio desde adolescente, não subestima o microfone no estúdio. “A palavra

que sai dali ecoa por todo o lado... é uma adrenalina, é ter muito poder.” Agora, será a nova

voz da RTP Informação e é com o mesmo fascínio da adolescência que, 26 anos depois, usa a

voz, espalhando-a já muito para além da rádio

Marta Spínola Aguiar

Da criança rebelde e mimada, a uma das vozes mais sonantes da Antena 1, Rui gostava de ser

como o seu pai, com o qual tinha uma relação musculada, pois eram muito parecidos, mas que

foi, ainda assim, a sua principal influência. “Mesmo na época se tivesse que escolher entre o

Super-Homem, o Homem Aranha e o meu pai, a resposta seria o meu pai”, relembra,

orgulhoso.

O homem que dá voz às palavras com criatividade e sentido de humor, é visto por todos os

que o rodeiam como um lutador, alguém disponível para aprender e captar a essência do que

lhe é transmitido. Sabe que os seus dias na rádio lhe permitiram chegar ao mais variado tipo

de pessoas e partilhar com elas “sonhos, muitos, e tempo para os conquistar, ainda mais”. A

actual transferência para a RTP Informação abre-lhe “possibilidades múltiplas” e até alguma

“intervenção social”. Valoriza a “criação espontânea e não planeada” bem como “muito

trabalho, ética e respeito pela língua portuguesa”.

Mas tudo começou como uma brincadeira. “Na altura [nos anos 80], gravava-se uma cassete

com a nossa voz a ler um texto em português ou em inglês e enviávamos por correio ou íamos

lá pôr à porta da rádio”, conta, desculpando a sua ambição com o facto de os seus amigos

procederem da mesma forma. Há dez anos, saiu das quatro paredes de um estúdio, onde

estava desde 1984, e encontrou-se perante holofotes e câmaras, sentindo-se “como uma

estrela de cinema”.

“Um feliz acidente”

Sem querer fazer disso a sua vida profissional, Rui Santos tem feito publicidade desde a sua

pequena estreia no grande ecrã em 1997. Admite que a publicidade é “um caminho que se vai

fazendo” e que, quando decorrem os castings, os realizadores estão sempre à caça de

pormenores. “Sabes porque é que te escolhi?”, confessa-lhe o realizador espanhol da

publicidade do Euromilhões, “porque no casting fizeste um determinado movimento com a

boca e eu gostei disso”. E essa pequena expressão facial abriu um horizonte a Rui Santos: o do

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teatro. Descrito pelos amigos como “o homem das artes”, desenvolveu várias formações de

acting for camera, em Barcelona, e expressão dramática com o actor Gonçalo Amorim.

A versatilidade dos actores, que o locutor admite não possuir mas admirar, inspira nele o gosto

pelo sentido de humor e a delicadeza, admirada por amigos, colegas de trabalho e familiares.

Descendente de pais alentejanos, Rui Santos nasceu na Lapa e actualmente vive na Amadora.

“É um percurso inverso à ascensão social”, satiriza. A morte do irmão marca-lhe as memórias

de infância. “Tinha 18 anos e eu tinha 8, portanto isso dividiu a minha família. Tornou-se uma

família muito diferente, mais triste, mais fechada.” “A comunicação era, então, um romper

com as teias da vida pessoal e talvez seja por essa razão que, ao longo da vida, tenha optado

por falar cada vez mais”.

De ouvinte próximo a locutor

Com apenas 17 anos, Rui Santos inicia-se na Rádio Regional da Amadora, uma rádio-pirata

igual a tantas outras que existiam nessa época, com o actual director de informação da RTP,

Nuno Santos. A paixão pela rádio estava criada. Mas o anseio pela mudança e pela

profissionalização fizeram com que, aos 19 anos, e juntamente com Nuno Santos, Jorge

Gabriel e Jorge Alexandre Lopes, criasse, em 1986, uma outra estação, a “Rádio Mais”.

“Fazíamos coisas fantásticas. Íamos para a rua, fazíamos directos, reportagens, oferecíamos o

improvável com grande entusiasmo.”

O grupo acabou por se desmembrar e, em 1988, Rui Santos é convidado para ir trabalhar na

Rádio Comercial onde permanece até 1992, altura em que a rádio foi privatizada. “Mas eu

fiquei na casa-mãe, na RDP, Antena 1, onde tenho desempenhado funções diferentes e hoje

seria um pouco alucinante mudar de empresa porque o mercado da rádio não funciona como

o mercado da televisão onde há transferências milionárias.”

De todas as vivências dos tempos da rádio, Rui Santos refere, com saudade, a liberdade

criativa dos anos 80. Agora as “editoras dominam muito esse espaço das rádios. Joga-se muito

nesta cumplicidade entre o interesse da rádio e os interesses da indústria”. Qualificando o

modelo de hoje como “muito formatado”, o homem da voz possante, misteriosa e fluída,

garante que os momentos onde é possível ser criativo são precisamente quando “se vai para

fora cobrir um concerto ou um outro evento, no terreno. A rádio dentro do estúdio é

tecnicamente mais criativa, mas é emocionalmente mais distante das pessoas”.

“Entrei, entrei, entrei!”

Rui Santos considera que agora vive a terceira fase da sua vida.”O horizonte dos 40 fez-me dar

um balanço na vida e aperfeiçoar aspectos pessoais e, sobretudo, profissionais.” Quando deu

por si, estava em 2008 e a ingressar no curso de Ciências da Comunicação da Faculdade de

Ciências Sociais e Humanas, (FCSH), da Universidade Nova de Lisboa. “Lembro-me de ter

mandado mensagens de grande euforia aos meus amigos dizendo ‘entrei, entrei, entrei’ e um

deles respondeu-me ironicamente, ‘não te preocupes, hás-de conseguir sair’”. E conseguiu. A

“boa disposição deste homem da rádio” é salientada por Carlos Felgueiras, amigo e técnico de

som da Antena1 e por Luma Garbin, colega da FCSH e amiga, que refere “a sua presença e

participação rica nas aulas, devido à sua perspectiva mais experiente”.

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Profissional da rádio exigente consigo próprio, adora açúcar. Quem o revela é Andreia Brito,

colega da Antena 1, que tanto elogia o “à vontade e a voz dele” como sublinha o lado “guloso

de quem não resiste a um bolo ou a uma compota”.

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Notícias e Artigos

Croatas votam adesão à União Europeia

Os dirigentes croatas esforçam-se, apesar da crise, para entrar na União Europeia. Para eles,

esta adesão implicará um ambiente financeiro “mais instável e um sistema jurídico eficaz”

Menos de metade do povo croata votou favoravelmente a adesão do país à União Europeia,

no referendo realizado no passado dia 22. O “sim” venceu com 67 por cento dos votos,

segundo resultados parciais anunciados pela Comissão Eleitoral.

Em Dezembro, a Croácia, situada no norte da Eslovénia e da Hungria, assinou um tratado de

adesão que agora terá que ser ratificado pelos 27 Estados-membros para que o país possa

integrar a UE em Julho de 2013. “É um dia muito importante para a Croácia. E estou aqui muito

feliz porque daqui em diante a Europa será a minha casa”, afirmou Ivo Josipovic, Presidente

croata.

A afluência às urnas foi menor que o esperado, consequência da dívida que alastra pela

Europa. A vontade de uma integração europeia apresentava 80 por cento das opiniões

favoráveis em 2003. Agora, apenas 47 por cento dos eleitores exerceram o seu direito ao voto.

Enquanto para uns o motivo do declínio relaciona-se com a crise europeia e mundial, para os

outros os números da abstenção devem-se a outros motivos. Para o primeiro-ministro, Zoran

Milanovic, a baixa afluência às urnas não é uma consequência da instabilidade económica, mas

da longa duração do processo. “As pessoas estão, obviamente, cansadas. Teria sido melhor

que o comparecimento às urnas fosse maior, mas isto é a realidade”, declara.

Em 1992, 80 por cento da população manifestou-se a favor da independência face à antiga

Jugoslávia. Agora as opiniões dividem-se relativamente à adesão do país à União Europeia.

Zeljko Sacic, ex-comandante de forças especiais do Ministério do Interior, está contra esta

integração, explicando que “a fraca afluência às urnas mostra que a Croácia voltou as costas à

UE. Este referendo é ilegítimo”. A população mais jovem também revela insegurança. Para

Matea Kolenc, estudante de 23 anos, esta entrada da Croácia “não nos vai fazer bem. Ouvi

muitas coisas más sobre a UE, a situação económica e o que ela tem para oferecer”.

Mas Paulo Portas, ministro dos Negócios Estrangeiros, considera esta adesão como algo

positivo. “Isto significa que, mesmo apesar da crise do euro, que preocupa justamente muitas

nações e pessoas, há vários países a quererem entrar na UE e não há notícia de que alguém

queira sair. Esse é um sinal optimista para o futuro”.

A entrada deste país na UE não foi fácil. O legado político marcadamente nacionalista foi uma

das razões que impediu a sua adesão nos últimos alargamentos da União Europeia em 2004 e

2007. Durante sete anos de negociações, os croatas tiveram que cumprir diversos objectivos.

Depois de aprovada a sua adesão, a capital, Zagreb, teve que se submeter a uma vigilância

rigorosa, como por exemplo na política de concorrência bem como melhorar o seu sistema

jurídico, onde a corrupção dominava.

Marta Spínola Aguiar

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Nova Iorque une-se contra Mubarak

Os conflitos contra o regime de Hosni Mubarak estão a provocar reacções em todo o mundo,

especialmente nos EUA. Na noite de ontem, foram centenas os manifestantes que, nas ruas da

Nova Iorque, protestaram contra as revoltas sociais vividas no Egipto e exigiram a saída de

Mubarak, que ocupa o poder há três décadas.

A manifestação começou em Times Square, com 500 pessoas, e encaminhou-se em direcção a

Manhattan, fazendo com que esse número aumentasse ao longo da noite, chegando, assim,

perto dos 60 mil manifestantes, a maioria de origem egípcia e residentes nas áreas de

Connecticut, Nova Jérsia e Nova Iorque.

Os seus “gritos de guerra” impunham-se com a presença de bandeiras egípcias e diversos

cartazes, onde se podia ler, entre outros, “Que Mubarak saia!” ou “Os egípcios unidos jamais

serão vencidos”. Para além disso, angústia, tristeza e desespero, são sentimentos que também

estão bem presentes nestes manifestantes: “Há muita gente que conheço que morreu na

Praça Tahrir. Estou tão triste que vim aqui, dizer a Mubarak que pare (…) Não precisamos de

mais sangue. Por favor, vai-te embora”, confessa uma manifestante egípcia.

Em simultâneo, na Casa Branca discute-se a partida imediata de Hosni Mubarak, através de

negociações secretas com as autoridades do Cairo que possibilitam a resolução destes

conflitos. Fonte segura afirma que “esse é um dos cenários” e no topo está, pois, a demissão

do presidente egípcio, que continua sem ceder à pressão feita pelos EUA e pelo resto do

mundo. Segundo ele, “se eu me demitir (…) vai ser o caos. E pouco me importa o que as

pessoas dizem de mim. Neste momento preocupo-me é com o meu país”. Contudo, o chefe de

Estado norte-americano acredita que Mubarak, apesar de orgulhoso, “também é um patriota”

e, assim, “deve dar atenção à reclamação das pessoas e tomar uma decisão ordenada,

construtiva e séria.”

A mesma fonte oficial afirma que um dos planos seria o presidente egípcio fazer a transição do

poder para um chamado governo de transição, então liderado pelo vice-presidente, Omar

Suleiman, que contaria com a ajuda do exército do país. Mas, esta aparente fácil resolução

provocou especial desagrado pelo próprio vice-presidente que declarou, indignado, que “há

umas quantas formas anormais através das quais países estrangeiros têm interferido”,

contrastando, assim, com os laços que os países mantêm entre si. Como complemento, uma

fonte oficial egípcia também contestou a proposta de Washington, aclarando que essa

possibilidade não é permitida pela Constituição do país e, à semelhança de Suleiman, mostrou

desagrado perante a atitude dos norte-americanos que “devem tratar é dos seus assuntos”.

Marta Spínola Aguiar

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De que lado fica o Ocidente?

A par de todos os confrontos verificados no Egipto, o Ocidente vê-se obrigado a tomar uma

posição marcante para, assim, ajudar a amainar a revolta social vivida nas ruas do Cairo. A

questão fundamental converge, então, num só sentido: de que lado está, afinal, o Ocidente?

Hosni Mubarak, Presidente Egípcio, está no poder há 30 anos e constitui-se como um dos

principais aliados dos EUA. Contudo, esta não foi uma razão suficientemente forte para que

Barack Obama, Presidente dos EUA, não assumisse um discurso rigoroso ao tentar aproximar o

Ocidente do mundo islâmico. “Vim para o Cairo à procura de um novo começo entre os

Estados Unidos e os muçulmanos de todo o mundo, um começo baseado no interesse e no

respeito mútuos”, afirma o Presidente norte-americano. Para além disso, pediu a Mubarak,

principal responsável pelos confrontos, para não se recandidatar em Setembro deste ano e

assumir, publicamente, a sua decisão.

Barack Obama adopta, então, uma atitude que poderá ser vista como inesperada: expressa o

seu apoio aos manifestantes e não ao presidente egípcio, assumindo, pois, um “tom de um

líder de direitos cívicos” e solicitando uma transição política que “tem que começar agora”.

Aquando da conversa telefónica com Obama, esta transição urgente foi reconhecida por parte

de Mubarak, que horas antes, tinha classificado os manifestantes egípcios como “amotinados

violentos», cujas motivações provinham «de uma qualquer força política sinistra”. Porém, toda

a dignidade e luta dos manifestantes, é vista de bom grado por parte do Presidente norte-

americano, anunciando convictamente que “nós estamos a ouvir-vos”, reforçando que eles

são “uma inspiração para o resto do mundo.”.

Do lado dos EUA está também a Europa. Os chefes do Governo alemão, inglês, francês, italiano

e espanhol estão de acordo com a transição urgente do governo egípcio, expressa

anteriormente por Barack Obama, emitindo, então, uma declaração conjunta. Como pano de

fundo desta iniciativa estão os violentos confrontos verificados na madrugada do dia 3 de

Fevereiro na Praça Tahrir, no Cairo, que provocaram dezenas de mortos.

Os chefes europeus condenam a violência de Housin Mubarak que só pretende retirar-se do

poder em Setembro, altura em que o seu mandato fica concluído. Todavia, “apenas uma

transição rápida e pacífica (…) permitirá superar os desafios que o Egipto enfrenta neste

momento”, salientam Angela Merkel, David Cameron, Nicolás Sarkozy, Silvio Berlusconi e José

Zapatero, na declaração comum. Demonstram, também, uma enorme preocupação perante

esta revolta social que só fará com que a crise política que o Egipto atravessa se acentue cada

vez mais.

Marta Spínola Aguiar

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“Os Ridículos” continuam a percorrer o

Arquipélago da Madeira

A peça “Os Ridículos”, do jornalista do Diário de Notícias da Madeira, Filipe Sousa, está a

percorrer os teatros e os centros de arte da ilha da Madeira desde o final de Dezembro do ano

passado.

A história centra-se na gelotofia, ou seja, “no medo que temos de fazer figura de parvo, o

medo de ser ridículo. Levado ao extremo manifesta-se com uma fobia”, confessa um dos

actores e encenadores da peça, Nuno Morna. Assim, esta peça pode ser resumida “num

espectáculo em que o espectador se vai rir, acima de tudo, de si próprio”, afirma.

O nascimento, a entrada na escola, os namoros, a política, o casamento, o acaso e a morte, são

alguns dos ingredientes que Nuno Morna e Paulo Lopes conjugam nos palcos madeirenses e

que têm tornado “Os Ridículos”, um dos espectáculos da Com.Tema (Companhia de Teatro da

Madeira), com “maior sucesso”, estando, até agora, “com uma média de 200 pessoas por

espectáculo”, reitera Nuno Morna.

Para além disso, a temática proposta e criada por Filipe Sousa, jornalista do DN Madeira,

alerta-nos para a excentricidade que podemos adquirir na nossa vida quotidiana e que nem

sempre nos apercebemos. Apesar de ser uma particularidade boa, uma vez que escapa ao

previsível, essa avaliação está sujeita àqueles que nos observam. Assim, o objectivo da peça é

fazer com que o espectador embarque “numa viagem que é a própria vida e as figuras que

fazemos…os papéis que vamos desempenhando”.

Apresentada em vários pontos da ilha como Calheta, Machico, Estreito de Câmara de Lobos e

também no Porto Santo, a peça estará em cena no Centro de Congressos do Casino da

Madeira, no Funchal, no dia 1 de Abril “e não é peta”, garante Morna.

Quanto à hipótese de ser apresentada em Portugal Continental, essa é uma possibilidade que

ainda está em aberto pois, como afirma o actor “esta é uma peça de repertório. Estará em

cena até nos fartarmos dela”.

Marta Spínola Aguiar

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Violino toca no Politeama

A peça Um Violino no Telhado, de Filipe La Féria, está em cena no Teatro Politeama, em Lisboa,

desde o dia 21 de Outubro de 2010 e estender-se-á até ao dia 13 de Março de 2011.

Tradição, tolerância, união e amor. São estas as palavras-chave que fazem com que este

espectáculo, baseado num dos musicais com maior sucesso na Broadway e vencedor de todos

os Tony Awards, em 1965, conquiste o coração dos portugueses. Quando adaptado para a

Sétima Arte, em 1971, obteve nove nomeações da Academia para os Óscares, incluindo o de

“Melhor Filme”.

Tendo a Revolução de Outubro na Rússia como pano de fundo, a peça de La Féria retrata a

vida de um pobre leiteiro, Tevye, (José Raposo) que partilha a educação das cinco filhas com

Golde, (Rita Ribeiro) a sua mulher. Com a ajuda constante do seu Deus, omnipresente e

essencial nas tomadas de decisões, Tevye resolve as questões familiares com humildade e

sensatez, tentando sempre analisar as duas faces dos problemas com base nos princípios da

tradição e cultura judaica.

Mas, as mudanças sociais e políticas sentidas nesta comunidade judaica estão bem expressas

na Revolução Russa e na força suprema dos jovens, que pretendem comutar a tradição e

procurar um futuro e, consequentemente, uma vida melhor. É, pois, imperativo mudar de

rumo e quebrar barreiras.

Gonçalo Simões, de 20 anos, confessa ser “grande admirador e frequentador assíduo dos

musicais» do encenador português e afirma que a peça, Um Violino no Telhado, «está muito

bem feita e capta a atenção de quem a está a ver”, referindo ainda que a visualização do filme

não é fulcral para compreender a história.

Com uma mensagem forte, encenação e coreografia brilhantes, ao verdadeiro estilo de Filipe

La Féria, o espectáculo pode ser visto de terça a sábado às 21h30, havendo também matinés

aos Sábados, Domingos e Feriados às 17h e o preço dos bilhetes varia entre os 10 e os 35€.

Marta Spínola Aguiar

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O homem sem cara

Chama-se Banksy, está nomeado para um Óscar e é um grafitter/artista plástico. Persistente

em manter o seu anonimato, o artista quer acomodar-se a esse mistério até mesmo na

cerimónia dos Óscares da Academia, que se irão realizar amanhã no Kodak Theatre.

Banksy possui uma dimensão infinita de obras que são avaliadas em, pelo menos, 300 mil

euros. Contudo esse não é um motivo suficientemente forte para o grafitter revelar a sua

identidade. Numa das poucas entrevistas que deu, via email, no ano passado, afirma que

“pode parecer marketing, mas o anonimato é vital para o meu trabalho. Sem isso nunca

conseguiria pintar”. Ao esconder-se do mundo, tem mais liberdade para desenhar o que lhe

parecer mais apropriado sem nunca ter que justificar o motivo da sua arte. Talvez seja por isso

que teme as câmaras de vigilância pois, contraria o ditado de “se não fizeste nada de mal, nada

tens a esconder”, atestando que todos têm alguma coisa que não querem revelar. No caso

dele, é a cara.

Felizmente os seus trabalhos estão um pouco por todo o lado e a sua arte alegra a vida da rua,

dando-lhe mais cor. Recusa-se a expor as suas pinturas num museu devido ao ar artificial que

lhe pode conferir, enquanto “na rua, a única concorrência é o pó”, declara.

Toda a sua criatividade está expressa no documentário chamado “Exit Through the Gift Shop”,

pelo qual Banksy é responsável. O filme foca um artista de rua, Thierry Guetta – nome artístico

de Mr. Brainwash - que leva sempre consigo uma câmara para filmar grafitters durante o seu

processo criativo, mas tem uma particularidade diferente da de Banksy: revela a sua

identidade. Nas palavras dele “ele [Thierry] tem potencial de entretenimento”. Todavia, este

documentário não teve grande receptividade por parte dos membros da comunidade do

grafitter anónimo que subvalorizaram o seu trabalho, contrastando com a opinião da

Academia da Sétima Arte que o considerou verdadeiramente bom e nomeou-o para o Óscar de

Melhor Longa-metragem Documental.

Mas, Banksy opõe-se aos clichés que a cerimónia da Sétima Arte exige, apesar de abrir uma

excepção quando se trata de prémios para os quais está nomeado. No entanto, uma barreira

que teima em não ser ultrapassada e essa barreira é colocada pelo próprio artista: Banksy só

irá à cerimónia dos Óscares se puder ir disfarçado com uma máscara de macaco, extravagância

que a Academia não aceita.

Bruce David, director executivo da Academia, em entrevista à Entertainment Week, confessa

que a ideia do grafitter por muito interessante e excêntrica que seja é “preocupante, pois se o

filme ganha e aparecem cinco pessoas com máscaras de macaco no palco a dizer ‘Banksy sou

eu’, a quem é que damos [o prémio]?”.

A dúvida fica então no ar. Os seus trabalhos inspiram-se em temas fortes como o imperialismo,

a guerra e o capitalismo. A sua crítica social é feita a braços com tintas, paredes e imaginação.

E o resultado está bem à vista. Caracterizado como um niilista e anarquista, Banksy é

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conhecido em todo o mundo e as suas pinturas são cobiçadas por vários membros das classes

sociais mais elevadas. Então, posto isto, será que vai desperdiçar a oportunidade de, amanhã à

noite, dar uma cara ao seu já aclamado nome?

Marta Spínola Aguiar

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Central Nuclear em Portugal: porque não?

Devido aos diversos problemas que se têm vivido no Japão, especialmente com as explosões

das centrais nucleares, a preocupação quanto à segurança mundial tem vindo, cada vez mais, à

tona. Todos os dias, os media têm presenteado a população de todo o mundo com imagens e

informação que retratam os perigos que poderão pôr em causa o bem-estar das gerações

vindouras e trazer consequências graves para o desenvolvimento e recuperação das

sociedades que, atualmente, se veem num constante braço de forças com a Natureza.

Em Portugal, o acompanhamento dos acontecimentos no Japão estão a ser seguidos minuto a

minuto. Mas, várias questões ressurgem e debate-se temas que outrora já tinham sido

ponderados e desacreditados. E uma vez mais a grande questão coloca-se: porque não

construir uma central nuclear em Portugal?

Retornando a 2005 e apesar do medo parecer assolar a maior parte dos portugueses, o

empresário Patrick Monteiro de Barros tinha apresentado esta ideia ao governo, justificando

que tal construção prendia-se com o aumento do preço do petróleo que engrandecera

consideravelmente (cerca de 60 dólares por barril, no mercado americano). Garantindo que os

fundos aplicados seriam unicamente os privados, o Patrick insistira em comparar Portugal a

países que tinham efetuado a construção e tinham saído beneficiados disso, como foi o caso

da Finlândia. Assim, a confiança no projeto crescia e, a nível económico, seria possível reforçar

os mercados nacionais que possuiriam mais abastecimentos. Para além disso, Portugal

assumiria uma postura mais independente a nível energético relativamente ao estrangeiro.

Contudo, um projeto que poderia ser inovador e essencial para a economia do país,

rapidamente perdeu a força que tinha quando, ainda em 2005, o ambientalista da Quercus,

Francisco Ferreira, referiu, em declarações à TSF, a existência de “problemas chave que

afastam a energia nuclear de toda esta equação”, acrescentando que a possibilidade de

“consequências de acidente” bem como da existência de “resíduos radioativos” seria uma

dificuldade que teria uma solução muito pouco visível. E tais questões até poderiam ser o

“menor dos problemas”. Segundo o que declarou à estação radiofónica, no ano da proposta,

Francisco Ferreira sublinhou que as centrais nucleares são um ponto elementar na lista dos

atentados terroristas, visto que põem em causa o futuro de qualquer geração. Desta forma, a

segurança do país estaria comprometida.

Seis anos mais tarde, este assunto volta a ser exposto em cima da mesa. Patrick Monteiro de

Barros não mudou a sua opinião quanto ao tema, afirmando que “Portugal tem capacidade

para ter uma ou duas centrai”». Como declarou ao Diário de Notícias no dia de ontem, 15 de

março, o empresário vê na central, uma solução ideal para Portugal ser um “país que exporta”

e, assim, aumentar o seu nível de competitividade com o resto da Europa e do Mundo. O

acesso à energia seria mais barato bem como “mais seguro”, realçou, e as explosões das

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centrais que ocorreram nos últimos dias do Japão, foram provocadas apenas “por um

fenómeno exterior: um dos maiores tremores de terra da história”, justificou.

E mais uma vez, à semelhança do que aconteceu em 2005, são feitas comparações com outros

países que não se deixaram influenciar pelo sucedido no Japão e vão construir seis centrais

nucleares, como é o caso do Brasil. Patrick Monteiro, aclara, pois, que “não há nenhuma razão

que indique que só porque houve este evento no Japão se deva desistir do nuclear”.

O acionista da Petrolus insiste na construção da central em terras lusas, mas a Quercus volta a

intervir e reforça a resposta negativa que já tinha sido dada em 2005: o projeto é

“insustentável não só do ponto de vista ambiental mas também financeiro”. Então, surge um

leque de alternativas que garantem, pelo menos, uma maior segurança a toda a população

portuguesa. Entre elas, está o incentivo à promoção da eficiência energética e também nas

energias renováveis que, cada vez mais, parecem ser o futuro de todo o mundo.

Porém, não será a energia nuclear que vai colmatar os problemas, a nível petrolífero, para a

indústria automóvel, por exemplo, que seria mais facilmente substituída para os transportes

públicos, visto que reduziriam em grande quantidade o número de poluentes emitidos para a

atmosfera. Essa é a solução da Quercus que, prefere adotar uma postura menos radical e

ambiciosa.

Para além dos custos que Portugal não seria capaz de suportar devido à crise económica e

financeira que se está a atravessar, a exploração do urânio (mineral radioativo) ainda não está

consolidada, ou seja, não está enriquecida o suficiente, fazendo com que fosse fundamental

importar o urânio e acentuando, ainda mais, a dependência com o estrangeiro.

Razões não faltam à Quercus para mostrar que a construção de uma central nuclear não é um

projeto seguro e com perspetivas de futuro e refere a importância de “apostar nas áreas que

podem ser de facto fatores de promoção do desenvolvimento sustentável do país”, afirma

Susana Fonseca, a vice-presidente da Quercus. E não se trata apenas de uma questão

monetária. A nível territorial, Portugal não tem capacidade para dirigir um projeto desta

envergadura: os sismos em territórios nacionais, ainda que atingindo baixos níveis na escala,

são uma realidade que não podemos ignorar e não há disponibilidade em termos hídricos para

facilitar o arrefecimento da central. Será, então, a construção de uma central nuclear uma

ideia (ainda) realista?

Marta Spínola Aguiar