Por Uma Anarquia Selvagem

7/26/2019 Por Uma Anarquia Selvagem

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Por uma anarquia selvagem

Dingo

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Aviso aos ces do governo

e zine foi escrito com o propsito de entretenimento e seu contedo no necessariamente reflete a viso do auto

faz uma apologia as prticas mencionadas em suas pginas. Afinal, por que haveria eu de querer destruir um

sistema que me promete uma vida inteira de submisso, mediocridade e alienao?


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Por que anticivilizao?

O anarquismo como filosofia e prtica visa lutar contra todas as formas de dominao impostas

socialmente. Em sua origem, ele identificou duas formas de dominao principais: o capitalismo

e o estado. A medida que o pensamento anarquista se desenvolveu, ele passou a investigarcada vez mais outras formas de dominao mais sutis como por exemplo o gnero, raa e

sexualidade.

Ao fazermos uma leitura da histria da humanidade, possvel observarmos e identificarmos o

surgimento e o desenvolvimento de diferentes formas de dominao, e assim entender quais

so as suas razes e como elas se desenvolveram ao longo do tempo. Podemos por exemplo,

observar como reinos e imprios se tornaram democracias liberais e passaram a dominar por

outros meios sem que o estado tenha perdido a sua essncia como ferramenta de dominao.

Mas poucos se atrevem a procurar as origens da dominao nas prprias origens da civilizao.

Essa negligncia de se esperar em uma sociedade que tem pouco interesse por suas origens,denominando tudo que se passou antes da inveno da escrita como pr-histria.

Assim o estudo da histria passa a ser o estudo das civilizaes. Aprendemos nas aulas e nos

livros de histria sobre a Grcia Antiga, o Imprio Romano e sobre as grandes navegaes, mas

quase nada sobre a histria do homem no-civilizado. Apesar disso, a civilizao uma


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inveno recente, tendo surgido a pouco mais de 10,000 anos, enquanto o ser humano j

caminha pela terra a mais de 200,000 anos.

Me surpreende que a maioria dos anarquistas saiba pouco sobre como o ser humano tem

vivido durante a maior parte da sua histria, assim como ainda vivem muitos povos que ainda

no foram incorporados pela civilizao. Essa falta de conhecimento se torna ainda maissurpreendente pelo fato de que as sociedades mais anrquicas que j existiram e existem na

face da terra so sociedades no-civilizadas.

De fato, acredito que a chave para entender as origens da dominao est nas origens da

civilizao, que tambm a origem da separao do homem e da natureza e da dominao da

natureza pelo homem. No quero implicar aqui que todas as sociedades no-civilizadas so

igualitrias, e nem pintar uma imagem romantizada dessas sociedades to diversas em suas

prticas e costumes. Mas com o surgimento da civilizao foi aberta uma caixa de pandora que

nos levou at essa sociedade doentia na qual vivemos.

A civilizao uma sociedade baseada em cidades, assentamento humanos que utilizam umaquantidade de recursos maior do que a sua biorregio capaz de prover, exigindo a importao

de recursos para se manter. Entre as suas caractersticas tpicas esto o sedentarismo,

agricultura intensiva como forma de suprir as necessidades alimentcias de sua populao,

comunicao simblica, especializao e diviso do trabalho, domesticao de plantas e

animais incluindo o ser humano, acumulao de recursos, complexidade crescente, diviso de

classes e uma economia extrativista e no sustentvel.

Todas essas caractersticas estavam presentes na primeira civilizao: a civilizao Sumria.

Como se isso no bastasse, a qualidade de vida de seus habitantes era muito inferior de seus

antepassados. Evidncia arqueolgica mostra uma queda na expectativa de vida e umadegenerao do corpo marcada por uma reduo no tamanho mdio de seus habitantes e uma

incidncia maior de doenas degenerativas e de fraturas sseas e problemas dentais entre

outras coisas.

Essas descobertas vo de cara contra o mito progressista que v a histria como uma longa

marcha em direo ao progresso na qual as sociedades vo passo a passo superando suas

contradies e abandonando prticas e mentalidades atrasadas.

A verdade que a civilizao sempre se expandiu atravs da guerra e conquista e se sustentou

com base na dominao e destruio ecolgica. Combater em suas razes a dominao do ser

humano e da natureza selvagem significa combater no apenas o estado e o capital, mas

tambm a civilizao. Esse projeto no implica uma tentativa de retornar ao passado ou de

imitar as formas de vida dos nossos ancestrais, e sim um reconhecimento de que enquanto

vivermos de forma civilizada jamais seremos capazes de nos realizarmos plenamente como

seres humanos e de nos livrarmos das correntes da dominao.


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Eu no tenho como saber at onde essa luta nos levar e at que ponto possvel reverter os

efeitos perniciosos de mais de 10,000 anos de civilizao e domesticao, mas acredito vale a

pena nos embrenharmos tanto no debate como nas prticas que surgem da crtica contra a

civilizao. Essa publicao uma tentativa sincera de fazer uma contribuio modesta para

esse debate, fornecer material para reflexo e expor minhas ideias a crticas, alm de encontrar

outros que tenham alguma afinidade com minhas ideias.


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Genocdio, etnocdio, ecocdio e colapso

A histria da civilizao tambm uma histria de colapsos. Por tenderem ao crescimento e

por serem baseadas no uso insustentvel de recursos, todas as civilizaes esto fadadas a umeventual colapso. Muitas civilizaes passadas j foram derrubadas por desastres ecolgicos,

sejam eles naturais, auto infligidos ou uma combinao dos dois.

O imprio Hitita e o Egito dos Faras caram aps um perodo de secas intensas agravado por

mudanas climticas, enquanto o imprio a civilizao que se formou na Ilha da Pscoa viu o

seu fim aps terem consumido os recursos dos quais dependiam para sobreviver. Apesar de

serem destinadas ao colapso, civilizaes podem estender o seu tempo de vida atravs de duas

maneiras.

A primeira atravs da expanso. Se uma civilizao est acabando com os recursos quenecessita para se manter, ela pode se expandir e encontrar mais recursos para explorar. Muitos

pases Europeus j teriam entrado em colapso h muito tempo se no tivessem saqueado as

Amricas, a sia e a frica.

Essa necessidade de expanso j diz muito sobre a verdadeira natureza da civilizao. Entre

uma sociedade civilizada e os recursos que ela necessita para se manter, esto os povos que

vivem nas regies onde se encontram tais recursos, muitos dos quais so comunidades


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tradicionais que vivem da terra (embora esses povos sejam cada vez mais raros). Obviamente,

nenhuma populao vai abandonar a rea que habita, deixar que contaminem e destruam essa

rea ou que extraiam em excesso os recursos dos quais ela dependem para viver, e

pouqussimos povos que vivem da terra esto dispostos a vend-la.

Isso significa que a continuidade da civilizao implica a destruio de culturas inteiras, oassassinato daqueles que lutam para defender as suas terras e a destruio do meio ambiente

para a extrao de recursos. Em outras palavras a continuidade da civilizao implica tambm

um processo de genocdio, etnocdio e ecocdio.

Alm do mais, por maior que seja a capacidade de uma civilizao de se expandir e obter acesso

a novos recursos, ns vivemos em um planeta finito, e uma hora no h mais para onde se

expandir.

A segunda forma de uma civilizao prolongar o seu tempo de vida a inovao tecnolgica.

Novas invenes podem aumentar a produo de alimentos e a eficincia com que recursos so

utilizados. Alm do mais, foi a tecnologia que permitiu a civilizao se tornar uma rede mundialde dominao e de extrao, produo e distribuio. Apesar disso, essas vantagens trazem

tambm uma srie de problemas.

O primeiro que esses aumentos de eficincia tendem a ser negados devido a um fenmeno

observado pela primeira vez no sculo 19 pelo economista ingls William Jevons, que percebeu

que quando uma tecnologia passa a ser mais eficiente, o seu custo tende a diminuir e o seu uso

a aumentar, fazendo aumentar tambm o seu impacto no meio ambiente. Alm do mais, se

uma tecnologia depende de recursos no renovveis, qualquer aumento em sua eficincia s

prolonga o inevitvel.

H tambm a questo da energia. Toda sociedade precisa de energia para funcionar, e quando

ela no consegue mais suprir essa energia se inicia um processo de colapso. As sociedades mais

simples utilizam primariamente a energia guardada no corpo humano em forma de calorias e a

energia liberada atravs da queima de matria orgnica (fogo). No contexto dessas sociedades,

a obteno e utilizao dessas formas de energia pode ser facilmente feita de maneira

sustentvel e dentro dos ciclos fechados da biorregio que essas sociedades habitam, no qual

todos os recursos so reutilizados pela natureza sem que haja desperdcio.

Enquanto mais complexa se torna uma sociedade, mais complexa se torna a questo da

energia. Uma sociedade que depende da tecnologia industrial s consegue suprir a sua energia

a curto prazo e sob um custo humano e ambiental tremendo. Hoje em dia a nossa sociedade

extremamente dependente do petrleo, que um recurso no renovvel e com efeitos

devastadores no meio ambiente.

Apesar de outras formas de energia estarem sendo cada vez mais utilizadas, o petrleo o que

move mais de 90% do nosso transporte. Em um mundo no qual consumimos produtos vindos

de todas as partes do planeta, no preciso dizer que a falta de petrleo provocaria efeitos


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desastrosos. Alm do mais, grande parte dos alimentos que ns comemos hoje em dia so

produzidos pela agricultura industrial, que tambm dependente do petrleo.

Mesmo se a sua utilizao no fosse extremamente prejudicial para o meio ambiente, alm de

ser um dos principais motores do aquecimento global, a produo de petrleo est para atingir

o seu pico a qualquer momento. Aps chegar a esse ponto, ela entrar em declnio at por fimcessar completamente.

Claro que h muitas outras formas de energia, mas nenhuma delas remotamente sustentvel.

Mesmo as energias verdes so insustentveis e tem um impacto ambiental tremendo. Painis

de energia solar e turbinas elicas por exemplo, dependem da minerao no sustentvel para

serem produzidos, sem contar que petrleo utilizado em sua produo e transporte. A

energia nuclear depende da minerao no sustentvel de urnio, e produz lixo nuclear.

Energia geotrmica, hidreltrica, biocombustveis e todas as outras solues apresentadas

tambm esbarram em barreiras instransponveis.

Alm do mais, mesmo que consegussemos encontrar uma soluo, teramos que implement-la. Essa implementao no apenas um verdadeiro pesadelo logstico, como tambm esbarra

em vrios obstculos sociais, econmicos e polticos. Ainda por cima, essa transio levaria um

tempo que no temos, como veremos mais a frente.

Podemos concluir ento que a civilizao industrial global est quase certamente destinada a

um colapso. Mas quais so as implicaes desse colapso? Primeiramente preciso ressaltar que

o colapso no um evento, e sim um processo que se desenrola ao longo de anos, dcadas ou

mesmo sculos.

O final desse processo significa a extino de uma civilizao, sua absoro por uma outra

civilizao (o que no uma possibilidade no nosso caso) ou em sua transformao em uma ou

uma srie de sociedades mais simples. Isso significa que o colapso no implica necessariamente

a extino da civilizao industrial por todo o mundo (infelizmente), embora ela ser quase

certamente drasticamente reduzida. No cabe a mim fazer previses a respeito dos efeitos do

colapso na sociedade a longo prazo devido complexidade da questo e a incompetncia

humana em fazer esse tipo de previso. Apesar disso, mais frente tentarei abordar algumas

perspectivas futuras frente ao colapso sob um vis anarquista.


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Contra a domesticao!

Ns obtemos poder jamais imaginado por nossos ancestrais. Navegamos os oceanos,

exploramos as suas profundezas, voamos pelos cus e chegamos at a lua. Calculamos a

velocidade da luz, dividimos tomos e inventamos a bomba atmica. Nos espalhamos pelo

mundo devastando florestas milenares e construindo cidades para habitarmos. E nessascidades erguemos enormes edifcios e monumentos ao progresso, esse deus implacvel que

jamais se sacia com os sacrifcios feitos em seu nome.

Assim construmos a civilizao, o leviat que esmaga ou engole todos aqueles em seu

caminho. E no centro desse processo est a domesticao do meio ambiente, das plantas e dos

animais, incluindo os prprios seres humanos.

Ns fomos removidos dos ciclos da natureza e domesticados para nos adaptarmos a uma forma

de vida que jamais ser capaz de realizar plenamente as nossas necessidades: a vida civilizada.

E assim passamos a crer que o homem distinto do resto da natureza, e que pode, portanto,

domin-la e us-la a seu bel-prazer. Esse processo se fortaleceu ainda mais durante a revoluo

industrial, reduzindo cada vez mais os seres humanos a meros apndices de uma

megamquina, alienados de si mesmos e do resto do mundo natural e completamente

incapazes de suprir as suas prprias necessidades.

Mas por baixo dessa mscara civilizada ns ainda somos animais com necessidades fsicas e

psicolgicas que evoluram ao longo de milhes de anos e que ainda so as mesmas de nossos


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Faa voc mesmo

Se ns quisermos montar uma resistncia efetiva contra o sistema e criarmos forma de vida

autnomas, essencial no apenas nos organizarmos para conquistar uma autossuficincia

comunitria como tambm desenvolver as habilidades para que consigamos suprir as nossas

necessidades sem depender do sistema e das suas estruturas e tecnologia.

Para aqueles de ns que esto em um grau avanado de domesticao, essa uma tarefa

imensa, pois ns j perdemos quase todas as habilidades necessrias para viver de forma

autnoma. Apesar disso, acredito que esse um desafio possvel de superarmos de forma

coletiva.

A lista de habilidades que precisamos aprender imensa, levando em conta que precisamos ser

capazes de nos alimentar, construir nossas prprias moradas, construir as ferramentas

necessrias para vivermos, prover assistncia mdica uns para os outros, produzir roupas,

aprendermos a nos defendermos e diversas outras coisas.

Com certeza esse no um desafio que podemos superar a curto prazo. Apesar disso, podemos

tambm aprender a nos aproveitarmos do que o sistema produz e dos restos desperdiados

pela produo e o consumo. Ao fazermos isso, porm, devemos tomar cuidado para nodesenvolvermos uma relao de dependncia com o sistema. claro que o que eu estou

propondo no vivel para a maioria no momento, e a realidade de nossas vidas nos faz

dependentes do sistema no presente.

O problema no estar dependente agora, e sim se acomodar em seu patamar atual de

dependncia. Cada passo que tomamos deve ser um passo que nos leve para longe dessa

dependncia e da domesticao, e cada passo tomado nesse sentido nos tornar mais


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autnomos e mais capazes de atacar a civilizao e de sobreviver medida que o sistema se

enfraquece em decorrncia do agravamento da crise socioambiental que enfrentamos no

momento.

No entrarei em detalhes nas habilidades necessrias para nos tornarmos autossuficientes, mas

h vrios recursos e publicaes que se aprofundam nessa questo. Uma dessas publicaes o zine produzido pelo anarquista anticivilizao Autumn Leaves Cascade que apresenta uma

lista compreensiva de habilidades e tcnicas que podem nos ajudar no processo de reverter a

nossa domesticao (https://hastenthedownfall.files.wordpress.com/2015/03/a-rewilding-

community-toolbox-vii-updated-margins3.pdf)


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Tecnologia, alienao e autonomia

Apesar do anarquismo surgir e se definir como uma ideologia que se ope ao sistema e a

ideologia dominante, a mentalidade da maioria dos anarquistas ainda est em muitos aspectos

perfeitamente alinhada com a mentalidade civilizada que mantm o sistema. Um dos pontos

em que esse alinhamento mais evidente na idolatria da tecnologia que se v em quase

todos os radicais.A maioria dos anarquistas ainda v na tecnologia uma ferramenta que desempenhar um papel

essencial na nossa libertao. Embora eles reconheam o papel que a tecnologia desempenha

atualmente no controle social, ainda predomina a viso de que a tecnologia neutra e de que

basta libert-la das garras do capitalismo para que ela se torna uma fora libertadora que nos

conduzir a um admirvel mundo novo.

Formas mais simples de tecnologia certamente tem um potencial libertador, mas qualquer

afirmao de que a tecnologia industrial pode ser uma ferramenta de libertao parte de uma

falta de compreenso sobre sua natureza. Precisamos, portanto, entender quais so os seus

fundamentos.

A tecnologia industrial pressupe uma forma de organizao social com inmeras implicaes.

Uma pequena comunidade por exemplo, seria incapaz de produzir um celular mesmo que ela

tivesse todos os recursos e o conhecimento necessrios para faz-lo ao seu dispor. Para

produzi-lo necessria a existncia de uma rede de produo e distribuio que inclui as


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operaes de extrao de matria prima, as fbricas onde se produz os seus componentes e os

prprios celulares e as distribuidoras que conectam esses diferentes componentes.

E quais so os problemas implcitos nessa rede? Primeiramente temos a destruio do meio

ambiente no processo de extrao, pois no h tecnologia industrial sem a minerao em

massa. Alm do mais, como j mencionado anteriormente, essa destruio requer a remoo afora de povos indgenas e comunidades tradicionais que esto entre a civilizao e os recursos

necessrios para alimentar a tecnologia industrial. Essa remoo destri culturas inteiras,

integrando os seus sobreviventes a fora a civilizao e uniformizando cada vez mais o ser

humano.

Isso sem falar na poluio gerada pelos resduos da indstria, que hoje em dia uma das

maiores responsveis pela destruio da natureza selvagem e pela a reduo na qualidade de

vida e morte de inmeros humanos civilizados e no civilizados. Alm do mais, qualquer

benefcio que a indstria possa trazer apenas um benefcio a curto prazo pelo fato de ela ser

insustentvel.Essa lgica tambm pressupe o trabalho forado, alienante e muitas vezes perigoso. Ou voc

acha que os trabalhadores que esto destruindo os seus corpos trabalhando em minas ou

perdendo os seus dias fazendo um trabalho repetitivo e entediante em uma montadora de

celulares esto l por vontade prpria? Assim o ser humano reduzido a apenas uma pea em

uma mquina, sem conseguir derivar alguma satisfao ou manifestar a sua individualidade

atravs de seu trabalho.

Mesmo em uma sociedade ps-capitalista algum teria que se submeter a esse tipo de trabalho

para manter a produo industrial. H quem diga que a automatizao conseguir superar esse

problema e libertar aqueles que esto submetidos a esse trabalho miservel, mas at agoranunca foi oferecida uma explicao remotamente convincente de como seria possvel

automatizar toda a produo industrial desde a extrao de matria prima at o produto final.

Mesmo se tal automatizao fosse possvel, a tecnologia necessria para torna-la possvel

tambm depende de um extrativismo insustentvel, e seria, portanto, uma soluo fadada ao

fracasso.

Alm do mais, em uma sociedade baseada na tecnologia industrial, as pessoas passam a perder

cada vez mais a sua autonomia como indivduos e se alienarem umas das outras medida que

as relaes humanas passam a ser mediadas atravs da tecnologia. Como mencionado

anteriormente, nenhum aspecto ou produto particular da tecnologia industrial existe por si s,e sim como parte de uma matriz tecnolgica extremamente abrangente e complexa.

O indivduo no tem praticamente nenhuma influncia sobre essa matriz, que por sua vez tem

uma influncia tremenda sobre ele. Mesmo aqueles que tem conhecimento tcnico apenas

conseguem compreender uma pequena parte dessa matriz. Dessa maneira, no so os

indivduos que direcionam a sociedade atravs da tecnologia, e sim tecnologia que usa as

pessoas para se desenvolver de acordo com a sua prpria lgica. E nesse processo as pessoas se


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tornam cada vez mais domesticadas e dependentes da tecnologia para suprir suas

necessidades, sentindo se cada vez mais impotentes e frustradas e medida que elas se afastam

de sua selvageria inata.

Ao desmistificarmos a natureza da tecnologia industrial, torna-se claro que ela

completamente incompatvel com qualquer conceito de autonomia individual e coletiva. E noadianta derrubarmos a burguesia e coletivizarmos os meios de produo. Afinal das contas, que

interesse tenho eu em gerir a minha prpria misria se eu continuo na condio de miservel?

Portanto, a luta contra a tecnologia industrial um dos elementos principais da luta por

autonomia e contra a domesticao, e uma luta necessria para a nossa emancipao.


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Crticas comuns ao pensamento anticivilizao

Eu considero a crtica a civilizao como uma extenso natural do pensamento anarquista.

Apesar disso, mesmo entre os anarquistas mais radicais h uma forte rejeio contra essa

tendncia, que constantemente atacada com falcias e espantalhos que raramente visam

lidar com os pontos apresentados pelo anarquismo anticivilizao.

Essa rejeio de se esperar quando mesmo no meio anarquista a maioria das pessoas ainda

esto completamente domesticadas e maravilhadas com os avanos tecnolgicos produzidos

pela civilizao.

Uma das crticas mais comuns que ns ouvimos e provavelmente a mais pattica a acusao

de que ns somos genocidas. De acordo com os preponentes dessa crtica, no possvel suprir

as necessidades de 7 bilhes de pessoas sem a tecnologia industrial, e que, portanto, ao

advogar o fim da civilizao ns estamos propondo um genocdio.

Primeiramente, essa crtica pressupe que possvel suprir 7 bilhes de pessoas com a

tecnologia industrial. Isso pode ser possvel apenas a curto prazo, pois como j foi abordadonessa publicao, a tecnologia industrial inerentemente insustentvel, e mais cedo ou mais

tarde no conseguir manter uma populao deste tamanho.

Alm do mais, enquanto mais as pessoas perderem o contato com prticas sustentveis para se

tornarem dependentes da tecnologia industrial, maior ser a perda de vidas humanas quando a

nossa civilizao entrar em colapso como todas as outras que a precederam. Vale tambm

lembrar que a cada dia que passa mais recursos naturais so devastados, o que significa que


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quanto mais tarde ocorrer um colapso, menos recursos sobraro para as populaes que

sobreviverem.

Mas a maior ironia dessa crtica que somos acusados de sermos genocidas por aqueles que

defendem a civilizao quando esta justamente a causa do colapso que est por vir. Enquanto

mais demorarmos para aceitar a situao em que nos metemos e procurarmos por falsassolues, maior ser o custo humano do colapso. Ento poupem-me desse moralismo hipcrita.

Outra crtica comum que ns desejamos voltar ao passado, o que seria impossvel. Essa crtica

parte de um pressuposto falso, que a ideia progressista de que viver em uma sociedade mais

simples seria um retorno ao passado. Essa ideia s faz sentido a partir de uma viso da histria

como uma marcha linear rumo a uma direo pr-definida.

Alm do mais, essa crtica facilmente refutada por inmeros exemplos histricos. Quando o

imprio Romano caiu por exemplo, muitos de seus habitantes passaram a viver em

organizaes sociais menos complexas. Assim foi tambm com o fim do Imprio Hitita, do

Imprio Gupta na ndia e das dinastias Han e Tang na China entre muitas outras.

Tambm nos acusam de perpetuar o mito do bom selvagem e visar criar uma utopia baseada

em tal mito. Primeiramente, a nossa inteno no criar uma utopia, pois tal projeto

impossvel ser concretizado. O que ns queremos encarar a vida em seus prprios termos e

com todas as suas contradies e conflitos, mas livres das imposies artificiaisque nos privam

da nossa humanidade e de um sistema que s existe custa da devastao e controle da

natureza selvagem, que o nosso verdadeiro lar.

Alm do mais, evidente que o mito do bom selvagem faz to pouco sentido quanto a ideia

Hobbesiana de que sem a civilizao para controlar os nossos impulsos selvagens estaramos

todos matando uns aos outros. Sabemos que um selvagem pode ser to mesquinho, egosta e

violento quanto um homem civilizado.

Mas conceitos como o bem e o mal pouco tem a ver com a crtica a civilizao. A razo pela

qual queremos nos livrar da civilizao o fato de que o ser humano s se realiza de

plenamente como ser selvagem, e a civilizao e o processo de domesticao roubam a sua

autonomia e provocam a sua degradao fsica e mental, alm de alien-lo profundamente de

si mesmo, dos outros seres vivos e do seu ambiente. Alm do mais, o modo de vida civilizado

insustentvel e fadado ao fracasso, enquanto muitas sociedades no civilizadas conseguiram se

manter por dezenas de milhares de anos. Portanto, pouco nos importam as qualidades

redentoras da civilizao, que de todo o modo, so meras migalhas perto do que ele nos rouba.

Mas a crtica contra o pensamento anticivilizao que eu considero mais vlida o fato de que

o fim da civilizao seria o fim da medicina moderna. De fato, o fim da medicina moderna traria

diversas consequncias difceis de lidar. A maior parte dos problemas de sade podem ser

tratados efetivamente com formas tradicionais de medicina, mas seria impossvel fazer

cirurgias avanadas, transplantes de rgos e curar ou tratar apropriadamente vrias doenas.


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Essas consequncias no devem ser subestimadas, e os benefcios da medicina moderna so de

fato inegveis. Apesar disso, a medicina moderna no existe em um vcuo, e sim como parte da

civilizao e de uma matriz tecno-industrial que traz consigo uma srie de consequncias

negativas.

Antes de tudo vale a pena fazer a pergunta: quantos dos problemas que a medicina civilizadatrata so causados pela prpria civilizao? Em 2015, quase um quarto de todas as mortes

humanas (12,6 milhes) foram causadas diretamente ou indiretamente pela poluio.

Atualmente, 1 em cada trs pessoas que nasce nos Estados Unidos pegar cncer em algum

ponto de sua vida. Doenas cardacas, que so uma das principais causas de morte hoje em dia,

so praticamente ausentes em sociedades no civilizadas. Acidentes de carro tambm esto

entre as principais causas de morte em pases civilizados, sem falar nas mortes e ferimentos

causados pela guerra em grande escala, que tambm um produto da civilizao.

verdade que a medicina moderna conseguiu em muitos pases aumentar a expectativa de

vida a um nvel maior do que o dos nossos antepassados. Mas primeiramente, importanteressaltar que esse aumento no to significativo quanto nos fazem crer os que ainda

perpetuam o mito de que caadores-coletores raramente viviam mais de 30 ou 40 anos. Em sua

anlise da expectativa de vida em sociedades de caadores-coletores

(http://paa2006.princeton.edu/papers/61883), os antroplogos da universidade de Princeton

Michael Gurven e Hillard Kaplan argumentam que uma expectativa de vida de 65-75 anos

frequentemente observada nessas sociedades entre indivduos que sobreviveram a infncia.

Alm do mais, do que adianta ter uma expectativa de vida maior com uma qualidade de vida

altamente reduzida? Embora a medicina moderna possa melhorar a vida de pessoas com

doenas graves ou deficincia fsica, a civilizao aumenta drasticamente o nmero de

deficientes fsicos e de pessoas com doenas degenerativas.

O ndice de miopia em populaes civilizadas por exemplo, mltiplas vezes maior do que o

observado em populaes de caadores-coletores. A diabete tambm uma doena civilizada,

como tambm so a doena de Chrohn, a osteoporose, artrite, cirrose, a sndrome metablica e

uma srie de doenas pulmonares e de doenas relacionadas a nutrio como a obesidade,

alm do desalinhamento da coluna, problemas dentrios e vrios outros problemas. O nosso

sistema imunolgico tambm comprometido na civilizao, tornando-nos mais vulnerveis a

alergias e infeces entre outras coisas.

As doenas epidmicas tambm so um produto da civilizao. Juntar animais domesticadosem um espao provoca epidemias como a gripe aviria, a gripe suna e a doena da vaca louca,

sem contar as doenas trazidas por outros animais que passam a habitar as cidades como ratos

e pombas. E devido alta concentrao de pessoas observada em cidades, as doenas

transmissveis passam com maior facilidade de pessoa para pessoa.

Mas na sade mental do homem civilizado que mais se tornam evidentes os efeitos danosos

da civilizao em nossa qualidade de vida. Doenas como depresso, ansiedade, distrbio


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bipolar e esquizofrenia so quase inexistentes entre caadores-coletores. J entre os povos

civilizados, esses distrbios de tornaram epidmicos, e afetam uma grande parcela da

populao mundial.

De acordo com um estudo recente

(http://www.businesswire.com/news/home/20160420005504/en), 1 em cada 3 jovensEstadunidenses sofre de sintomas de TEPT (Transtorno de Estresse Ps-Traumtico). No Japo e

na Coria do Sul o suicdio est entre as principais causas de morte entre jovens. O que isso nos

tem a dizer sobre o estado mental do homem civilizado? E a cada ano aumentam os ndices de

distrbios mentais pelo mundo, agravando o assalto implacvel sobre a psique humana que

no foi feita para lidar com as condies da vida civilizada

Esses fatores me levam a concluir que apesar de os benefcios da medicina moderna serem

reais e significativos, eles no chegam sequer perto de compensar os efeitos devastadores da

civilizao sobre os seres humanos e a natureza selvagem.


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A misria global

Muitas vezes somos criticados pelo discurso supostamente apocalptico ao falarmos do colapso

que est por vir. Mas a verdade que o apocalipse j est aqui: ele as nossas vidas.

Mais importante do saber a expectativa de vida, os ndices de desigualdade e de analfabetismoem uma sociedade, saber se as pessoas nessa sociedade conseguem satisfazer as suas

necessidades fsicas e psicolgicas, e assim se realizarem como seres humanos.

Ao analisarmos a sociedade sob esse prisma, se torna claro que o avano da modernidade

tambm o avano da misria. E no falo de uma misria que vem da falta de riquezas materiais,

e sim da misria espiritual que vem de uma sociedade que nos priva de todas as oportunidades

de nos realizarmos como seres humanos e nos vende substitutos falsificados em troca de nosso

trabalho, que s contribui para essa misria.

A nossa situao atual anloga a de um animal preso em uma jaula, isolado e privado dos

estmulos sensoriais que o impelem a agir em seu ambiente natural. Nessas condies, o animalcomea a apresentar diversos comportamentos patolgicos, assim como o ser humano

civilizado.

Como j mencionado anteriormente, o capitalismo industrial global apresenta ndices nunca

visto antes de distrbios mentais como a esquizofrenia, ansiedade e a depresso entre outros,

e esses ndices aumentam a cada ano. Alm do mais, esses altos ndices no se observam


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apenas entre aqueles que ocupam uma posio menos privilegiada na sociedade capitalista.

Mesmo entre os pases mais ricos e entre os ricos mais ricos a misria e a pobreza espiritual se

expandem a cada ano como as suas fortunas.

Mesmo entre os que no so diagnosticados com distrbios mentais crnicos, praticamente

todos os habitantes dos desertos industriais apresentam alguma forma de comportamentopatolgico. E a medida que se torna cada vez mais difcil para o ser humano se adaptar as

condies de vida civilizadas, vo surgindo uma srie de fenmenos sociais bizarros.

Os jovens estadunidenses que massacram seus colegas de escola ou cometem chacinas em

ambientes pblicos so um exemplo disso. No Japo h outro fenmeno curioso ocorrendo

com cada vez mais frequencia, medida que surgem jovens conhecidos como Hikikomoris, que

em frente as presses sociais e as suas frustraes, decidem se fechar em suas casas e viver em

completo isolamento, se relacionando apenas pela internet.

Em vista de uma situao to deplorvel, a sobrevivncia do sistema depende de impedir que

as pessoas encarem a sua misria e descubram a sua verdadeira causa. Artifcios para isso oque no faltam. No toa que a cada ano aumenta o nmero de pessoas usando

antidepressivos, antipsicticos e outros remdios que lhes permite ocultar os sintomas de sua

misria ao mesmo tempo que os torna dependentes de uma indstria extremamente lucrativa.

Outra ferramenta do sistema a psicanlise, que opera como uma forma de fazer com que o

indivduo procure as causas para a sua misria exclusivamente em si mesmo e vise trabalhar

suas questes pessoais para que ele possa melhor se ajustar a sociedade ao invs de critic-la e

encontrar a verdadeira fonte de sua misria.

A ideologia predominante do sistema tambm desempenha essa funo perfeitamente,

fazendo o cidado acreditar que se ele est infeliz porque ele no trabalhou duro o suficiente,

apresentando-lhe sempre imagens de uma falsa felicidade para lhe manter correndo como um

burro atrs de uma cenoura.

Mas nem todas essas ferramentas e distraes so impostas ou aplicadas intencionalmente

pelo sistema. A verdade que mesmo sem que o sistema o faa intencionalmente, as pessoas

faro qualquer coisa para se distrair e evitar encarar o imenso vazio existencial que tomou

conta de suas vidas.

E distraes o que no faltam hoje em dia. A indstria do entretenimento cresce a cada dia,

apresentando espetculos cada vez mais fascinantes e permitindo ao cidado moderno pularde distrao a distrao em seus momentos de folga at que eles tenham novamente que

voltar ao trabalho.

Alm do mais, podemos sempre recorrer as drogas lcitas e ilcitas como forma de escapar do

peso esmagador de nossas realidades nem que seja por algumas poucas horas. E de se

surpreender que a dependncia qumica tambm seja uma epidemia hoje em dia?


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Tudo isso porque nos roubaram a nossa plenitude, a nossa felicidade inata. E no falo de uma

felicidade que est atrelada a busca pelo prazer ou a conquista de sonhos grandiosos, e sim de

um contentamento profundo que vem de uma vida simples e em harmonia com o nosso

ambiente e com as nossas necessidades fsicas e psicolgicas como animais. S recuperando a

nossa selvageria e rechaando essa vida civilizada que nos tornou miserveis e dependentes

podemos recuperar essa felicidade que o nosso estado natural, e que o sistema jamais lograr

substituir com as suas tralhas e os seus espetculos.


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O poder da comunidade

A luta individual contra o sistema certamente vlida, mas as possibilidades de autonomia e

resistncia aumentam exponencialmente quando se formam comunidades baseadas em

afinidade e no apoio mtuo. Hoje em dia poucos conhecem o verdadeiro significado da

comunidade, fechados em si mesmos e em suas famlias nucleares.

O que hoje conhecemos por sociedade no e nunca foi algo que possa ser chamado de

comunidade. E como poderia ser quando sequer conhecemos uns aos outros? Somos

administrados por uma matriz tecnolgica e por instituies impessoais sobre as quais temos

pouco ou nenhum controle, e aprendemos a suprir as nossas necessidades atravs de relaes

mediadas pelo dinheiro, por instituies e pela tecnologia, e no de forma direta.

Se voc pretende suprir as suas prprias necessidades sem ter que se prostituir para o sistema

e aumentar a sua capacidade de ataque e defesa, importante formar comunidades. Ao

criarmos comunidades reais e baseada em afinidade e relaes horizontais no mediadas por

instituies, nos encontramos em uma posio melhor para nos realizarmos como indivduos e

para criarmos formas de viver que vo alm de qualquer coisa que o sistema tem a oferecer. E

nessa nova condio nos vemos capazes de atacar a sociedade com fora redobrada.


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Lidando com relaes interpessoais

Como j mencionei, a nossa sociedade atomiza e isola os indivduos, mediando as relaes

entre eles atravs do dinheiro, tecnologia e instituies impessoais. Como resultado, a grande

maioria de ns debilitada quando se trata de nos relacionarmos uns com os outros e de nosexpressarmos de maneira genuna com pessoas que no pertenam a nossa famlia ou crculo

de amizades ntimas.

Essa debilidade muitas vezes um empecilho que reduz seriamente a nossa efetividade como

anarquistas. Por sermos antiautoritrios, ns procuramos nos organizar para a ao coletiva de

forma que respeite o mximo a liberdade individual. Mas quantos espaos anarquistas, projetos

promissores, comunas e tentativas de organizar uma ao no foram derrubadas por brigas

internas?

claro que muitas vezes essas brigas so reflexos de diferenas irreconciliveis, e que,

portanto, so inevitveis. Mas a maioria delas ocorre por no sabermos de fato como lidar comconflitos e com relaes interpessoais da maneira apropriada. Muitos projetos j foram

derrubados por um mero mal-entendido, e vrios anarquistas que tem muito a aprender uns

com os outros j entraram em conflitos por estarem to entrincheirados em suas posies que

ao v-las sendo contestadas partiram para o ataque com sangue nos olhos.


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Em um grupo de afinidade, esse problema pode no ser to evidente pelo fato de esta ser uma

forma de organizao baseada na confiana, intimidade e afinidade. Mas quando se trata de

organizar espaos anarquistas que envolvem um nmero maior de pessoas e com menos

intimidade, ns vemos o mesmo filme se repetindo projeto aps projeto.

Se ns queremos ser efetivos como anarquistas, os nossos espaos devem tambm ser espaosonde essas questes devem ser trabalhadas para que possamos criar relaes genunas e

baseadas na confiana e respeito mtuo. Dessa maneira no apenas veremos mais projetos

darem frutos como tambm aprenderemos no processo a nos relacionarmos uns com os outros

de uma forma verdadeiramente libertria.


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Retomemos os nossos corpos!

To nociva quanto a domesticao de nossas mentes a domesticao de nossos corpos que se

fortalece a cada gerao. O ser humano moderno est altamente desconectado de seu prprio

corpo, que cada vez mais lhe estranho. Passamos longas horas sentados em cubculos

debruados em frente a computadores e expostos a luzes artificiais, nos tornando plidos e

corcundas enquanto a nossa viso definha. A poluio area destri o nosso olfato, enquanto

alimentos altamente processados se encarregam do nosso paladar.

O definhamento de nossos corpos (que tambm provoca o definhamento de nossas mentes)

no apenas uma questo de sade. A medida que nossos movimentos se tornam maislimitados, nossos msculos mais rgidos e os nossos sentidos atrofiados, a nossa capacidade de

perceber e se relacionar com o mundo ao nosso tambm comprometida, e o processo de

alienao do indivduo se aprofunda. Tambm so reduzidas as nossas possibilidades de

experincia, assim como o nosso poder de agir sobre o nosso ambiente e alter-lo.


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Se voc quer conquistar a sua autonomia, reconquiste seu corpo. Ponha-se em movimento e

explore as possibilidades que sua forma lhe propicia. Teste seus limites e trabalhe para expandi-

los. Preste ateno nos sons ao seu redor, e aprenda a diferenciar os cantos dos pssaros que

te circundam e a se deliciar com o farfalhar das folhas balanando ao vento. Observe as formas

e as cores, e comece a perceber os padres presentes por toda a natureza.

Retome o seu corpo e voc rapidamente ver novas possibilidades de ao e resistncia

surgirem no horizonte.


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A nossa relao com a terra

Pouco se fala sobre como ns estamos alienados do nosso ambiente. Hoje em dia, poucas

pessoas se sentem parte do ecossistema onde vivem, e menos ainda criam relaes

significativas com os seres vivos no-humanos e com as foras naturais de onde habitam.

Voc sabe que plantas vivem na sua regio? Em que poca do ano elas nascem e em que tipo

de ambiente elas preferem crescer? Voc conhece os animais que dividem com voc o seu

ambiente? Voc conhece os seus hbitos e preferencias? E quanto aos padres da chuva, do

vento, da lua e do sol?

Saiba ou no as respostas para essas perguntas, voc faz parte de um ambiente que inclui

vrios seres vivos e foras naturais, e voc afeta e afetado por eles. Uma parte essencial do

processo de reverter a domesticao passar a ter uma relao significativa com o seu

ambiente.

primeira vista, essa parece ser uma tarefa difcil, mas ela no apenas mais fcil do queaparenta ser como tambm extremamente prazerosa. Alm do mais, possvel ter uma

relao ntima com o seu ambiente mesmo vivendo em uma cidade grande, pois mesmo no

concreto a vida continua a resistir. Na minha experincia pessoal, eu percebi dois obstculos

principais.

O primeiro a necessidade de uma mudana de mentalidade. A nossa sociedade acelerada

demais, e na correria de nossas vidas paramos de prestar ateno nas coisas ao nosso redor.


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Nas cidades esse problema se agrava, pois alm do ritmo urbano ser extremamente frentico,

h menos elementos naturais nesse tipo de ambiente. Mas isso no quer dizer que eles no

existem.

Alm disso, queremos tudo rpido demais, e somos orientados a valorizar resultados muito

mais do que processos. Desenvolver uma relao ntima com o seu ambiente um processosem fim e que exige uma mentalidade que no esteja focada em objetivos futuros, e sim no que

est a sua volta.

O outro obstculo comear. A partir do ponto que voc cria uma relao com algumas poucas

plantas ou animais, fcil expandir essas relaes e se aprofundar cada vez mais no local onde

voc vive. Eu recomendo que voc comece aprendendo sobre umas 5 ou 6 plantas comestveis

ou medicinais que so comuns na sua regio e se foque nelas no comeo

O fato de a planta ter propriedades que podem ser teis para voc um incentivo extra para

conhece-las, e a sensao de suprir as suas necessidades diretamente atravs da natureza

extremamente empoderadora. Alm do mais, voc estar adquirindo um conhecimentoessencial para o processo de reverter a nossa domesticao. Ao comear a procurar por essas

plantas, voc naturalmente comeara a reparar nas outras plantas ao seu redor, e ao buscar

conhece-las e interagir com elas o processo ganha uma inrcia natural.

Mas algumas coisas devem ser ditas sobre a coleta de plantas para uso prprio. Primeiramente,

voc deve tomar algumas precaues para evitar comer uma planta txica ou que absorveu

produtos qumicos ou metais pesados. No coma uma planta se voc no tiver certeza absoluta

de que ela da espcie correta. Se voc estiver na dvida, consulte algum guia ou mostre a

planta para algum que tenha o conhecimento apropriado para fazer a identificao.

Evite tambm comer plantas que crescem perto de ruas, estradas, esgotos, solo contaminado

ou que estejam em algum lugar que tratado com pesticidas. As plantas absorvem produtos

qumicos que podem afetar a sua sade. Portanto, apenas colete plantas de um lugar que voc

saiba ser apropriado.

Outra coisa a levar em considerao, o cuidado para no prejudicar as espcies que voc est

buscando no processo. A civilizao industrial j abusa tanto da natureza, procuremos no fazer

o mesmo. Procure descobrir se a planta que voc visa coletar ameaada na sua regio. Se

esse for o caso, deixe ela em paz, ou ajude ela a se propagar e ento colete.

Lembre-se tambm de no coletar em excesso. Se voc se deparar com vrias plantas de umamesma espcie, colete um pouco de cada uma para evitar causar estrago a plantas individuais.

Ao coletar, tenha sempre em mente os outros seres vivos que tambm necessitam desta

planta.

Por fim, pergunte-se o que voc pode fazer pela planta, j que ela est fazendo algo por voc.

Uma maneira simples de ajudar uma planta ajud-la a se propagar. Voc tambm pode

retribuir o que a planta fez por voc ao proteger ela e o ambiente em que ela vive de ameaas


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como a poluio, o desmatamento ou o avano de projetos industriais. Essa reciprocidade

certamente fortalecer a sua relao.

H muito mais a falar sobre esse assunto, mas a minha inteno aqui oferecer um ponto de

partida para que voc possa romper a sua alienao do seu prprio ambiente. A partir do ponto

que voc iniciar esse processo, a sua experincia pessoal ser seu guia principal nessa jornada,que alm de te oferecer ferramentas para lutar contra a domesticao tambm te far ver a

sua regio sob uma nova perspectiva que certamente despertar curiosidade, encanto ou at

mesmo reverncia.


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Resistncia indgena

H 10,000 anos a civilizao tem se expandido pelo mundo, e h 10,000 anos povos indgenas

tem resistido a essa expanso. Ao longo desse perodo, muitos no conseguiram resistir as

investidas da civilizao, que com o passar do tempo e o desenvolvimento de novas tecnologias

foi se tornando uma fora cada vez mais formidvel.

Povos inteiros sumiram da face da terra, levando consigo suas lnguas, tradies e

conhecimento de valor incalculvel. Muitos outros foram integrados ao sistema e perderam ocontato com grande parte de suas tradies. Mas muitos ainda resistem, recusando a ordem

imposta pela civilizao que ameaa os seus estilos de vida tradicionais.

Aqueles que resistem se encontram nas mais diversas condies. Alguns conseguiram manter

seus estilos de vida praticamente intactos, enquanto outros so completamente dependentes

da civilizao, apesar de continuarem lutando para manter e/ou resgatar as suas tradies. A

maioria se encontra em algum ponto entre esses dois extremos.

Apoiar a luta desses povos uma parte importante da luta contra a civilizao. Muitos deles

esto na linha de frente dessa luta, e mesmo entre aqueles que j esto civilizados, vrios

retm grande parte de seus conhecimentos tradicionais, cosmoviso e tradies. Mas ao seenvolver nessa luta, algumas coisas devem ser levadas em considerao.

Primeiramente, muitos de ns ainda retm uma viso idlica dos povos indgenas. J ouvi

falaram por exemplo, que indgenas que assistem televiso ou que acessam a internet no so

ndios de verdade. Essa viso preconceituosa no apenas um empecilho para a luta desses


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povos e um desrespeito a eles como tambm um obstculo para o entendimento de uma

realidade complexa.

Como j mencionado anteriormente, muitos povos indgenas ainda vivem fora da civilizao, e

muitos entre eles no tem interesse nenhum no que a civilizao tem a oferecer. Outros esto

lutando pelo seu direito a terra para poder continuar a viver de forma tradicional, mas no tema inteno de abandonar tudo que a civilizao lhes proporciona. Outros ainda lutam pelo

reconhecimento de sua identidade e pelo respeito por suas tradies dentro de um modo de

vida civilizado. No h como apoiar a luta dos povos indgenas de maneira genuna sem

entender e respeitar a particularidade de cada luta.

Outra coisa essencial levar em considerao as necessidades, anseios e desejos dos povos

cuja luta voc pretende apoiar. Antes de criar uma organizao de apoio, veja com eles se eles

desejam seu apoio, de que tipo de apoio eles precisam, ou mesmo se eles tm as suas prprias

organizaes que voc possa apoiar. Antes de planejar uma ao, fale com eles e veja se esse

o tipo de ao da qual a luta necessita. Lembre-se tambm que por mais bem-intencionada queseja uma ao, ela pode trazer repercusses negativas para aqueles que voc pretende apoiar.

A comunicao franca, honesta e o respeito mtuo devem ser a base de qualquer relao que

seja estabelecida nessa luta.

De qualquer forma, acredito que a relao entre anarquistas e os povos indgenas algo que

deve ser trabalhado. H muitos obstculos a serem superados para fortalecer essa relao,

como por exemplo, o fato de grande parte de ns anarquistas pertencermos a culturas

colonizadoras. Apesar disso, juntos podemos superar esses obstculos e enfrentar a

colonizao que ainda segue desenfreada.


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Razo e intuio

O iluminismo provocou mudanas profundas na sociedade e no indivduo, mudanas que se

alastraram pelo mundo como um incndio impelido pelo vento. Um dos produtos dessa

mudana o homem racional, vislumbrado no apenas no intelectual e no cientista, mas

tambm em grande parte dos homens civilizados.

O homem racional aquele que confia apenas na razo e na cincia, olhando com profunda

desconfiana tudo que o seu intelecto no consegue compreender. Para ele, todas as suas

experincias tm que ser apreendidas e interpretadas atravs da sua razo para que elas

tenham alguma validez. Assim ele vive iludido por fantasmas criados pela sua prpria mente e

alheio ao que lhe seria evidente se ele no tivesse desaprendido a ouvir os seus instintos.

No minha inteno descreditar a razo, e nem implicar que devemos nos guiar apenas pela

nossa intuio. A razo e a intuio no so formas de lidar com a realidade que se ope uma a

outra, e sim que se complementam.

A razo uma ferramenta essencial para entendermos o mundo ao nosso redor. Temos muito a

ganhar ao desenvolver nossas faculdades intelectuais e a nossa capacidade de submeter nossas

ideias sobre a realidade a uma anlise crtica. Mas ao mesmo tempo o pensamento racional

extremamente limitado, e ao endeusarmos a razo e ignorarmos os nossos instintos estamos

criando seres humanos mutilados.


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A maior vantagem da razo a sua preciso. Ela permite dissecar a realidade em conceitos

particulares e junt-los em conceitos mais abrangentes. Pelo fato de o pensamento racional

apresentar uma lgica que pode ser analisada em todos os seus componentes, comunicada a

outros e revisada, ela uma ferramenta valiosa.

Por outro lado, nessa mesma preciso est a sua fraqueza. A razo s pode se focar em umacoisa por vez. Alm do mais, s podemos pensar em algo aps simplificar e reduzir esse algo a

um conceito. Por mais complexas que sejam as anlises que criamos ao conectar diferentes

conceitos, o nosso pensamento s consegue criar aproximaes desajeitadas da realidade, que

por mais teis que sejam no conseguem lidar com a complexidade e dinamicidade do mundo

real.

J a intuio, forte onde a razo fraca e fraca onde a razo forte. A intuio no tem a

mesma preciso da racionalidade, por no trabalhar com conceitos isolados. Ao invs disso, ela

processa uma srie de dados e conexes para formar impresses gerais. Apesar de no ser to

precisa, a intuio consegue formar impresses muito mais complexas (envolvendo inmerosfatores e conexes) e em uma velocidade muito maior do que o nosso intelecto.

Alm disso, a intuio tem uma carga evolucionria de milhes de anos, o que significa que ela

parte de uma compreenso de nossas necessidades como animais que o intelecto jamais

alcanar. Seja ao lidar com situaes sociais, com situaes de risco ou ao procurarmos

satisfazer as nossas necessidades fsicas e emocionais, a intuio estar sempre um passo

frente.

claro que a racionalidade tambm tem o seu propsito nessas situaes, mas quantas pessoas

no tentaram em vo procurar uma resposta para seus anseios atravs da razo quando

instintivamente elas j sabiam exatamente do que elas precisavam? A razo tem umacapacidade imensa de nos enganar e nos levar a concluses erradas, enquanto a intuio quase

sempre nos guia de forma apropriada.

E a maioria de ns est to desconectado de seus instintos que j no conseguimos nem mais

diferenciar uma impresso intuitiva de uma falsa sensao. Por isso essencial que qualquer

um de ns que queira se curar das feridas da domesticao e realizar seu potencial como ser

humano reaprenda a ouvir a sua intuio. S assim poderemos entender os nossos anseios

mais profundos e agir com a clareza e lucidez tpica dos animais selvagens.


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Individualismo e coletivismoUma falsa dicotomia

O comunista condena o individualismo da sociedade capitalista, enquanto os apologistas do

capitalismo criticam o coletivismo pregado pelos comunistas. Apontando seus dedos uns para

os outros, deixam de perceber que o individualismo e o coletivismo no esto e nem poderiam

estar em oposio.

Uma sociedade na qual o indivduo valorizado apenas como ser atomizado resulta em

individualidades amputadas e alienadas, pois justamente em sua relao com outros

indivduos (e tambm com o ambiente no qual ele se situa) que o indivduo se realizaplenamente.

Da mesma maneira, uma coletividade que suprime o indivduo em prol do bem comum jamais

ver uma coletividade plena, pois essa s pode ser formada por indivduos livres para

desenvolver a sua individualidade.

Apenas atravs um do outro que o individualismo e o coletivismo se realizam. por isso que

verdadeiro individualismo coletivista, da mesma maneira que o verdadeiro coletivismo

individualista.


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Liberdade aqui e agora

Como filosofia e prtica, o anarquismo deveria acima de tudo ser libertador. Mas para muitos,

ele se torna apenas mais uma priso, como se no bastassem as prises que a sociedade impe

sobre ns. Quantos anarquistas j viram suas vidas passarem lutando por uma revoluo que

nunca chegou e morreram amargurados sem nunca ter bebido do clice da liberdade? Quantos

no se desiludem e desistem de suas convices depois de se desgastar aps anos de ativismo?

O anarquismo deve ser uma prtica que nos liberta aqui e agora, no um sacrifcio por um ideal

que provavelmente nunca veremos se concretizar. Para muitos anarquistas, a revoluo

desempenha o mesmo papel que o paraso para os cristos, tornando-se assim nada mais do

que a imagem idealizada de um futuro que jamais se realizar.

Mas essa uma opinio que provoca a ira de muitos anarquistas, como se ao buscarmos a

liberdade em nossas vidas estivssemos cometendo um sacrilgio contra seu anarquismo

moralista e caduco. J me cansei de ouvir as mesmas crticas vazias sendo repetidas por aqueles

que como o velho Bookchin taxam todo anarquismo que visa ser libertador para o indivduo nopresente de estilismo de vida.

A primeira dessas crticas que no possvel conquistar uma liberdade plena sem destruir o

sistema. Primeiramente, a liberdade plena um ideal, no uma realidade atingvel.O que

existe de fato so diferentes graus (e formas) de liberdade. Mesmo em uma sociedade

anarquista, ser sempre possvel ser mais livre. Alm do mais, por mais dominante que seja o

sistema, ele nunca conseguiu e jamais conseguir ter o mundo todo sob controle. H vrias


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brechas que podem ser exploradas, e muitas maneiras de nos tornarmos mais autnomos e

conquistarmos mais liberdade em nossas vidas aqui e agora.

Outra crtica que sempre surge a acusao de que somos escapistas. Escapismo seria se eu

juntasse um grupo de amigos para viver em uma comuna isolada e deixasse de lutar contra o

sistema para viver uma vida pacata e agradvel.

Mas por acaso morar em uma comuna ou viver de qualquer outra forma alternativa significa

necessariamente abandonar a luta contra o sistema? Muito pelo contrrio! A medida que nos

tornamos menos dependentes do sistema e passamos a ter mais tempo em nossas mos, nos

encontramos em uma posio muito melhor para combate-lo, e ainda aprendemos a suprir as

nossas prprias necessidades e a desenvolver prticas essnciais para que possamos de fato

viver de forma anrquica.


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Contra toda a moral

No basta apenas lutarmos contra as estruturas fsicas que mantm e perpetuam a civilizao.

Temos tambm que confrontar as nossas prises mentais, e matar o policial dentro de nossas

cabeas. Uma dessas prises a moral. No falo apenas da moral Crist, a moral iluminista ou a

moral progressista, e sim toda a moral.

A moral funciona como a lei, criando verdades absolutas sobre o que certo e errado para

guiar o nosso comportamento. O problema que o mundo no preto e branco, e no fazsentido deixarmos as nossas aes serem guiados por ideias fixas sobre o que certo e errado

em um mundo vivo e dinmico que foge a qualquer tentativa de apreende-lo.

Abandonar a moral no quer dizer agir sem considerao pelas outras pessoas e seres vivos, e

sim agir apropriadamente de acordo com o contexto. Muitas vezes a moral nos impede de agir

de tal maneira por entrar em conflito com o que demandado pela situao. Quando uma


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construo mental prevalece sobre necessidades reais ela obstrui a nossa capacidade de agir e

se torna um empecilho em nossas vidas e em nossas relaes uns com os outros e com o nosso

ambiente.


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Distncia, destruio e controle

Em uma sociedade pequena na qual as pessoas se relacionam de forma direta umas com asoutras e com o seu ambiente, elas so foradas a encarar as consequncias de suas aes e de

todos os aspectos de suas vidas de forma direta. Vamos supor por exemplo que uma

comunidade viva primariamente da pesca. Se eles comeam a pescar em um ritmo maior do

que os peixes conseguem se reproduzir eles vero os peixes se tornarem cada vez mais raros, e

sero ento forados a tomarem alguma medida para evitar que os peixes dos quais eles

dependem acabem. Da mesma maneira, se um membro dessa comunidade tomar decises ou

agir de uma forma que afete a vida dos outros membros de forma negativa, ele ter que

responder diretamente a essas pessoas.

J na civilizao industrial global, as decises sobre o rumo da sociedade e a extrao e o

consumo de recursos e produtos so mediados por instituies impessoais, tecnologia

industrial e uma rede gigantesca de produo e distribuio. Dessa maneira ns nem sequer

temos a capacidade de compreender como so tomadas as decises que afetam as nossas vidas

e como feita a extrao e distribuio dos produtos que consumimos em sua totalidade.

Polticos e empresrios que nunca vimos pessoalmente e que nem sequer sabem de nossa

existncia tomam decises que tem um efeito tremendo sobre as nossas vidas. Para suprirmos


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as nossas necessidades, compramos produtos que aparecem como que magicamente para ns

em lojas e supermercados sem jamais questionarmos de onde eles vm e quais so as

implicaes envolvidas em sua produo e distribuio.

Assim podemos comprar um celular que aparenta ser um produto inofensivo sem sequer ter

noo do trabalho forado, escravido infantil e a destruio de ecossistemas que sonecessrios para que o produto final chegue at ns.

Nesse processo, o pensamento simblico a ferramenta que permite que aqueles que esto no

poder e os tcnicos a seu servio controlem e administrem a sociedade. Dessa forma, pessoas

reais, cidades e ecossistemas inteiros se transformam em smbolos, nmeros e estatsticas,

aumentando a distncia entre ns e aqueles que nos controlam e transformando questes que

envolvem a vivncia de incontveis seres vivos em meros problemas tcnicos para serem

resolvidos.

Qualquer soluo que vise superar essa condio tem que romper violentamente com essa

lgica e envolver aes que sejam baseadas em experincia direto e laos reais, e no mediadasatravs de smbolos, tecnologias e instituies que nos alienam uns dos outros e alimentam o

processo de domesticao que a milnios tem sido responsvel por controlar as massas

civilizadas e torna-las subservientes a mesma civilizao que causa sua misria.


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Recuperar o potencial ofensivo do anarquismo

O anarquismo se define como estando em oposio ao sistema, o que nos coloca em uma

constante tenso. Apesar disso, a maioria dos anarquistas tem se limitado a resistir a expanso

do sistema, se opondo a projetos de minerao, acordos de livre comrcio e remoes foradas

de comunidades entre outras coisas.

Mas se nos limitarmos a resistirmos, estamos apenas atrasando o avano do sistema, e no

fazendo algo efetivo para ajudar a destru-lo. Nesse momento, h um contraste gritante entre a

prtica e o discurso anarquista, que diz lutar pela destruio total do sistema.

Transformemos o anarquismo em um punhal direcionado contra esse sistema asqueroso que

destri e domina tudo em seu caminho. No necessrio ser um especialista treinado para


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atac-lo. H muitas aes simples que exigem pouco preparo e podem ser realizadas por quase

qualquer pessoa. Mas lembre-se: atinja onde di.

O sistema forte, mas ele tem pontos fracos. O seu poder no reside naqueles que o dirigem e

nem em seus lacaios, e sim em sua infraestrutura. O seu funcionamento depende de uma

matriz tecno-industrial altamente conectada e interdependente. As vezes a destruio de umasimples fbrica pode interromper a produo de dezenas de outras e causar grande prejuzo.

Um incndio em um laboratrio pode destruir dcadas de pesquisa que seriam usadas para nos

dominar.

Se o sistema insiste em nos atacar, por que no ataca-lo tambm?


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Esperana?

A situao em que nos encontramos atualmente s pode ser descrita como catastrfica. A

civilizao se expandiu por todo o mundo sob a forma de um capitalismo global que parece ser

capaz de se adaptar a qualquer crise e reprimir ou cooptar qualquer forma de resistncia. A

grande maioria da populao mundial se encontra em um estado profundo de domesticao, e

est disposta a defender o sistema do qual so dependentes a qualquer custo. O nosso planeta

est cada vez mais txico, e as pessoa e outros seres vivos cada vez mais miserveis e doentes.

Como se isso no bastasse, a perspectiva de um colapso global iminente.

Os mares esto morrendo. A medida que a acidificao e aquecimento dos oceanos avanam,zonas mortas se expandem cada vez mais. Nas ltimas dcadas, 60% do zoplanctone 40% do

fitoplancton, que so a base da cadeia alimentar do oceano, j desapareceram. A maioria das

reas de pesca no oceano j esto exploradas, e previsto que os estoques globais de peixes

marinhos de pesca acabaro em 2048.


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A maioria dos rios j esto envenenados e suas guas no so prprias para consumo o

humano, e as florestas que ainda no foram devastadas esto sendo desmatadas em um ritmo

estarrecedor. Como se isso no bastasse, a agricultura industrial est rapidamente acabando

com o solo arvel do planeta e contribuindo para a desertificao, alm de estar destruindo

ecossistemas e envenenando seres humanos e no-humanos.

Como j foi abordado antes, a produo de petrleo est prestes a atingir o seu pico, e no h

alternativas viveis para substitui-lo que sejam remotamente sustentveis. Alm do mais,

mesmo se houvessem alternativas viveis, o seu processo de implementao seria longo e

complicado, e incapaz de lidar com a urgncia da situao.

Para piorar as coisas, o aquecimento global agrava todos esses problemas e apresenta uma

srie de outros problemas consigo. Os seus efeitos esto se desenrolando em um ritmo muito

mais rpido do que esperavam as previses feitas no sculo passado, e pouqussimo tem sido

feito para combate-lo apesar das montanhas de estudo demonstrando seu potencial

catastrfico.De qualquer forma, ns estamos para atingir a qualquer momento um ponto a partir do qual o

aquecimento global passar se auto reforar em um ciclo vicioso, tornando impossvel evitar

uma catstrofe global. Muitos especialistas afirmam que j passamos desse ponto, e que no

h mais o que fazer. Mesmo se esse no for o caso, a nica forma de impedir tal cenrio seria

parar quase toda a produo industrial nos prximos anos, um cenrio to improvvel que no

vale a pena ser considerado.

E o que podemos esperar do agravamento do aquecimento global? Alm do agravamento dos

problemas anteriores, os veres se tornaro mais quentes e as secas cada vez mais fortes e

frequentes. Incndios sero cada vez mais comuns e a agricultura sofrer efeitos devastadoresem grande parte do mundo. O nvel dos mares tambm subir de forma significativa, acabando

com muitas cidades costeiras, forando inmeras pessoas a migrarem e causando prejuzo

tremendo.

Tambm podemos esperar um agravamento de desastres naturais como furaces, que

causaro cada vez mais prejuzo humano e econmico. Alm do mais, a desertificao e

aumento de temperatura tornaro vrias reas com grandes densidades populacionais

inabitveis ainda esse sculo, o que junto com outros fatores como o aumento de conflitos (os

efeitos de secas na agricultura na Sria por exemplo, foi um dos principais fatores que

desencadeou o conflito na regio) gerar uma onda de migraes jamais vista antes,aumentando tenses sociais e gerando mais conflitos.

Em meio a esse cenrio, o que podemos fazer? Temos visto uma onde crescente de motins e

revoltas pelo mundo, seja na Grcia, Brasil, Turquia ou na Frana, alm de movimentos de

resistncia indgena como o movimento do Delta da Nigria e a resistncia contra a expanso

de projetos de extrao de petrleo no Canada.


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As grandes cidades podem at servir como um ponto estratgico para fazer uma ao ou obter

certos bens, mas elas no so um local apropriado para se assentar. Primeiramente vale

lembrar que as cidades estaro entre os locais mais afetados pelo colapso por serem

completamente dependentes de redes de distribuio, incapazes de produzir seus prprios

recursos. Qualquer coisa que derrube essas redes ou as afete de maneira significativa deixar

uma cidade rapidamente desprovida de recursos essenciais.

Apesar da falta de recursos naturais para serem utilizados por anarquistas ferais, h no

momento muitos resduos deixados tanto pelas empresas quanto pelos habitantes dos grandes

centros que podem ser aproveitados, como todo bom adepto do freeganismo bem conhece.

Mas a medida que o processo de colapso se agravar e as redes de distribuio forem afetadas,

esses recursos se tornaro cada vez menos frequentes e mais disputados pelos habitantes das

urbes.

Alm do mais, no h ambiente mais ultra domesticado do que as cidades. O contato com a

natureza selvagem essencial para o processo de reverter a domesticao, e a cidade limitaseriamente esse contato, alm de ser um ambiente que afeta negativamente a nossa psique e

os nossos corpos de diversas maneiras.

Ocupemos o campo, as fazendas e as florestas. Assim criaremos zonas autnomas permanentes

e temporrias, e nessas zonas poderemos desenvolver novas formas de vida autossuficientes,

selvagens e sustentveis. Formemos redes de apoio mutuo com outras zonas, para que essas

redes nos permitam suprir nossas necessidades, defender os nossos territrios e atacarmos o

sistema. Criemos uma resistncia selvagem e plural como a dos povos de Zomia contra diversos

imprios ao longo dos sculos.

O agravamento do processo de colapso tambm nos oferecer uma srie de oportunidadestanto para formar essas zonas autnomas como tambm para atacar o sistema medida que

ele se torna cada vez mais instvel e abalado por conflitos. Primeiramente, a migrao humana

nos fornecer diversas oportunidades de autonomia, medida que reas inteiras sero

praticamente abandonas por diversas razes como a perda de solo arvel (que pode ser

recuperado com as tcnicas certas), problemas de infraestrutura e aumento de conflitos.

claro se as pessoas esto abandonando uma rea, h uma razo para isso, e se ns no

tivermos preparo para lidar com o que fez as pessoas sarem de l, no conseguiremos

aproveitar as oportunidades que essa migrao apresenta. Se uma rea est sendo abandonada

pelo fato de seus moradores estarem sofrendo ataques de saqueadores por exemplo, noadianta tentar ocupa-la se ns no temos a capacidade de nos defendermos desses

saqueadores.

O fato de que uma rea est sendo abandonada no significa necessariamente que ela oferece

uma oportunidade pertinente para uma ocupao. No vejo como seria uma boa ideia ocupar,

por exemplo, uma rea que est sendo abandonada devido a uma contaminao radioativa. Em

outros casos, as razes por trs das migraes podem ser extremamente vantajosas para ns.


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Se uma rea se torna abandonada pelo estado em decorrncia da instabilidade poltica e social

que resultar de nossa crise ambiental, de grande vantagem se aproveitar dessa falta de

presena do estado para criar uma zona liberada.

Alm do mais, essa mesma instabilidade nos oferecer diversas oportunidades para atacar o

sistema medida que os governos se tornam cada vez mais enfraquecidos e ocupadosenquanto tentam gerenciar a crise econmica, social e ambiental e lidar com os motins e

insurreies que surgiro inevitavelmente. Muitos governos estaro sobrecarregados demais

para conseguir alocar uma quantidade significativa de recursos para reprimir-nos, e muitos

cairo em decorrncia das guerras e insurreies cuja frequncia e intensidade certamente

aumentaro ao longo do sculo. Mas durante esse processo, importante se lembrar que

governos e corporaes no sero os nossos nicos inimigos.

Muitos desses grupos que se ope a eles tambm representam ameaas em potencial, como

grupos fascistas de extrema direita e grupos criminosos ou de guerrilha que se aproveitaro da

instabilidade social para conquistar poder, avanar os seus interesses e/ou atacar aqueles queesto mais vulnerveis. Durante o perodo de escalao de conflitos, importante termos o

tato necessrio para identificarmos aliados e inimigos em potencial, ou terminaremos

repetindo os mesmos erros cometidos por anarquistas no passado que no tiveram esse tato.

Voltando ao estado, importante ressaltar que o fato de que vrios estados se desestabilizaro

ou mesmo cairo nas prximas dcadas no significa que o estado se tornar uma ameaa

menor ou menos preocupante. Eu diria que o contrrio verdade, pelo menos inicialmente.

Estrategistas militares de diversas potncias mundiais j sabem do potencial que o

aquecimento global tem de agravar crises econmicas e sociais, e j esto se preparando para

conter insurreies. No toa que recentemente diversos pases tm aprovado leis

antiterroristas e aumentado a represso contra a dissidncia poltica.

No futuro essa represso com certeza continuar a aumentar, e aqueles que pretendem se

opor ao sistema de forma sria devem estar preparados para se defender e/ou escapar das

foras do estado sem contar com protees legais. E nesse cenrio e contexto que surgiro as

oportunidades de ataque medida que o processo de colapso for se agravando. Nesse ponto,

eu reforo o meu conselho de evitar se manter nos centros urbanos, pois esse o ambiente

onde o controle estatal mais forte. claro que nesses centros tambm se encontram muito

alvos em potencial, mas qualquer estratgia que envolva ataca-los deve tambm envolver uma

retirada para fora das urbes para evitar se colocar em uma posio vulnervel e se tornar uma

presa fcil para a represso estatal.

Quanto as pessoas em geral, de se esperar que a grande maioria delas continue defendendo a

ordem domesticadora e acreditando que a sada para a crise se dar atravs da tecnologia at

que se torne claro que no h mais sada. A probabilidade de que haja um movimento de

massas e/ou uma revoluo anticivilizao em grande escala pequena, e eu certamente no

contaria com ela.


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Apesar disso, provvel que sentimentos anticivilizao e/ou antitecnologia aumentem a

medida que o fracasso da civilizao industrial se torna cada vez mais evidente. Mas vale

lembrar que anarquistas no so os nicos que apresentam uma crtica a tecnologia e que

pretendem um retorno a sociedades autossuficientes de pequena escala. De fato, h setores da

direita alternativa neofascista que tambm compartilham desse ideal.

Portanto, se quisermos se aproveitar da crescente desiluso com a tecnologia e a civilizao

que provavelmente surgir, devemos apresentar e deixar clara a nossa posio e crtica

antiautoritria ao mesmo tempo que nos opomos aos autoritrios de maneira direta.

Algumas outras consideraes me vm em mente, mas essas so especulativas demais para

que eu sinta que elas possam ter alguma utilidade. Mesmo as ideias que eu apresentei aqui

formam apenas um esboo pouco preciso do que podermos esperar pela frente, apesar de se

basear em grande parte em estudos cientficos e projees futuras de tendncias atuais.

Muitas foras que escapam a minha anlise tambm esto em jogo, e o grau em que as foras

que eu levo em considerao iro operar, alm das diferentes maneiras que elas iro interagircom outras foras, esto alm da minha capacidade de anlise, e eu acredito que da capacidade

de qualquer um. O fato que qualquer projeo futura com essa complexidade e que avance

dcadas a frente em um cenrio de mudanas to drsticas est fadada a ser pouco mais do

que um esboo grosseiro.

Embora essas projees sejam importantes para podermos nos guiar no presente e tomar

decises que nos preparem para o futuro que est por vir, temos que permanecer adaptveis e

estarmos constantemente atentos para novos sinais e fenmenos surgindo no presente.

Quantos tericos do passado j no estiveram to cegos pelas suas projees futuras que no

viram a histria acontecer na sua frente?

De qualquer maneira, espero que a minha anlise seja de alguma utilidade, e que ela possa

fornecer ferramentas que contribuam para as reflexes e a prtica de outros anarquistas.

Espero ter deixado a minha posio clara, e ter mostrado que mesmo em um cenrio de

colapso global que no pode ser evitado por nenhuma revoluo ainda h diversas perspectivas

para a anarquia. Por fim, espero que nos encontremos no nas pginas de meus (ou os seus)

escritos ou nos confins da internet, e sim no mundo vivo e selvagem, para que possamos um

dia construir algo juntos e/ou lutarmos lado a lado.


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Leituras recomendadas

-Annimo: Desertohttp://pt.protopia.at/wiki/Deserto

-Selvage: Da Anarquia a Selvageriahttp://pt.protopia.at/wiki/Selvage_-_da_anarquia_%C3%A0_selvageria

-Thierry Sallantin: O que a ecologia radical -https://kataklysma.noblogs.org/?p=3848

-Seaweed: Terra e liberdade -https://kataklysma.noblogs.org/?p=1621

-Contraciv: Contra o eco-capitalismo -https://contraciv.noblogs.org/files/2016/04/Contra-o-

eco-capitalismo.pdf

-Chellis Glendinning: Vcio tecnolgico -

https://contraciv.noblogs.org/files/2016/04/V%C3%ADcio-tecnol%C3%B3gico.pdf

-John Zerzan: Correndo no Vazio. O fracasso do pensamento simblico -

http://pt.protopia.at/wiki/Correndo_no_vazio._O_fracasso_do_pensamento_simb%C3%B3lico

-John Zerzan: Essa coisa que fazemos - https://contraciv.noblogs.org/files/2016/05/Essa-coisa-

que-fazemos.pdf

-Contraciv: Resposta crtica do Murray Bookchin - https://contraciv.noblogs.org/resposta-a-

critica-de-murray-bookchin/#more-298

-[Ingls]Kevin Tucker: For Wildness and Anarchy (Pela anarquia e selvageria)

http://littleblackcart.com/books/green-anarchist/for-wildness-and-anarchy/(nenhuma versogratuita encontrada)

-[Ingls] Autumn Leaves Cascade: A rewilding community toolbox -

https://hastenthedownfall.files.wordpress.com/2015/03/a-rewilding-community-toolbox-vii-

updated-margins3.pdf

-[Ingls] Annimo: The false promise of green technology (A falsa promessa da tecnologia

verde) -https://theanarchistlibrary.org/library/anonymous-the-false-promise-of-green-

technology.lt.pdf
http://pt.protopia.at/wiki/Selvage_-_da_anarquia_%C3%A0_selvageriahttp://pt.protopia.at/wiki/Selvage_-_da_anarquia_%C3%A0_selvageriahttp://pt.protopia.at/wiki/Selvage_-_da_anarquia_%C3%A0_selvageriahttp://pt.protopia.at/wiki/Selvage_-_da_anarquia_%C3%A0_selvageriahttps://kataklysma.noblogs.org/?p=3848https://kataklysma.noblogs.org/?p=3848https://kataklysma.noblogs.org/?p=3848https://kataklysma.noblogs.org/?p=1621https://kataklysma.noblogs.org/?p=1621https://kataklysma.noblogs.org/?p=1621https://contraciv.noblogs.org/files/2016/04/Contra-o-eco-capitalismo.pdfhttps://contraciv.noblogs.org/files/2016/04/Contra-o-eco-capitalismo.pdfhttps://contraciv.noblogs.org/files/2016/04/Contra-o-eco-capitalismo.pdfhttps://contraciv.noblogs.org/files/2016/04/Contra-o-eco-capitalismo.pdfhttps://contraciv.noblogs.org/files/2016/04/V%C3%ADcio-tecnol%C3%B3gico.pdfhttps://contraciv.noblogs.org/files/2016/04/V%C3%ADcio-tecnol%C3%B3gico.pdfhttp://pt.protopia.at/wiki/Correndo_no_vazio._O_fracasso_do_pensamento_simb%C3%B3licohttp://pt.protopia.at/wiki/Correndo_no_vazio._O_fracasso_do_pensamento_simb%C3%B3licohttp://littleblackcart.com/books/green-anarchist/for-wildness-and-anarchy/http://littleblackcart.com/books/green-anarchist/for-wildness-and-anarchy/https://hastenthedownfall.files.wordpress.com/2015/03/a-rewilding-community-toolbox-vii-updated-margins3.pdfhttps://hastenthedownfall.files.wordpress.com/2015/03/a-rewilding-community-toolbox-vii-updated-margins3.pdfhttps://hastenthedownfall.files.wordpress.com/2015/03/a-rewilding-community-toolbox-vii-updated-margins3.pdfhttps://theanarchistlibrary.org/library/anonymous-the-false-promise-of-green-technology.lt.pdfhttps://theanarchistlibrary.org/library/anonymous-the-false-promise-of-green-technology.lt.pdfhttps://theanarchistlibrary.org/library/anonymous-the-false-promise-of-green-technology.lt.pdfhttps://theanarchistlibrary.org/library/anonymous-the-false-promise-of-green-technology.lt.pdfhttps://theanarchistlibrary.org/library/anonymous-the-false-promise-of-green-technology.lt.pdfhttps://theanarchistlibrary.org/library/anonymous-the-false-promise-of-green-technology.lt.pdfhttps://hastenthedownfall.files.wordpress.com/2015/03/a-rewilding-community-toolbox-vii-updated-margins3.pdfhttps://hastenthedownfall.files.wordpress.com/2015/03/a-rewilding-community-toolbox-vii-updated-margins3.pdfhttp://littleblackcart.com/books/green-anarchist/for-wildness-and-anarchy/http://pt.protopia.at/wiki/Correndo_no_vazio._O_fracasso_do_pensamento_simb%C3%B3licohttps://contraciv.noblogs.org/files/2016/04/V%C3%ADcio-tecnol%C3%B3gico.pdfhttps://contraciv.noblogs.org/files/2016/04/Contra-o-eco-capitalismo.pdfhttps://contraciv.noblogs.org/files/2016/04/Contra-o-eco-capitalismo.pdfhttps://kataklysma.noblogs.org/?p=1621https://kataklysma.noblogs.org/?p=3848http://pt.protopia.at/wiki/Selvage_-_da_anarquia_%C3%A0_selvageriahttp://pt.protopia.at/wiki/Selvage_-_da_anarquia_%C3%A0_selvageria

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