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Ponto de Partida O jornal O Trilho, feito por jornalistas de Santa Teresa, pretende ser o agente catalizador da comunidade em sua luta pela melhoria das condições de vida no bairro. Desde já, O Trilho define-se como um veículo aberto à parti- cipação de todos os jornalistas e colaboradores interessados em mobilizar pessoas para a criação de núcleos empenhados no bem-estar coletivo. O Trilho vai funcionar como o porta-voz das reivindica- ções dos moradores de Santa Teresa que vêm se reunindo quase um ano, tentando solucionar os problemas do bairro. A criação de creches, a melhoria dos transportes, a diminuição do custo de vida, a preservação do meio ambiente, a habitação, a saúde pública e a educação foram consideradas prioridades. O Trilho tem como proposta também, divulgar as ativida- des artísticas e culturais, recuperando os espaços que estão pra- ticamente desativados: o Cineclube, o Centro Cultural, a Biblio- teca Regional, os locais para shows e teatros, etc. Outra preocupação d'0 Trilho é promover torneios desporti- vos e criar melhores condições de lazer para os quase cem mil moradores do bairro. O Trilho se propõe a ser o veículo de entrosamento da popu- lação do nosso morro e a participar a divulgar material de outros jornais e associações de bairro. 0 Trilho, o jornal dos moradres de Santa Teresa precisa da colaboração de todos para que possa ser, efetivamente, "um veí- culo sem ponto final". Conselho Editorial A BATALHA DOS BAIRROS 0 que está sendo feito em outros bairros pela melhoria da qualidade de vida. Em Santa Teresa, falta maior participação dos moradores. Pg. 2 BLITZ A presença da polícia no Curvelo preocupa os moradores. Pg. 2 NOSSO BAIRRO:PROBLEMAS E SOLUÇÕES , As diversas Comissões formadas por moradores do bairro, na tentativa de encon- trar alternativas para a defesa do meio ambiente, diminuição do custo de vida, formação de cooperativas e outras atividades voltadas para o bem-estar coletivo. Pg.2. "Oi... Tentação" A história do show feito pelos músicos de Santa Teresa, que financiou esta edi- ção de "O Trilho". Pg. 4. VEJA NA PÁGINA 5: A INATIVTDADE CULTURAL EM NOSSO BAIRRO, O AMADORISMO, A FESTA DE LANÇAMENTO DO NOVO LIVRO DO ALEX POLARI. Página 6: Uma análise da cisão do bloco oposicionista no Brasil/uma versão do caso Rúsia/Afeganistão/EUA diferente da abordagem feita pela im- prensa burguesa/ A manifestação anti-nuclear em Resende. ENTREVISTA: Anselmo Vasconcellos fala de sua experiência em ser uma "grande cobaia", isto é, ator de cinema, teatro e TV. Pg. 7. Na pg. 8, um pouco da história dos bondes no mundo e no Brasil, as realizações da Sociedade de Amigos de Santa Teresa, um fotopoema de Lize Torok. "ABAIXO-ASSINADO PARA O PREFEITO" A população do nosso bairro, através da Comissão Pró-Melhoramento de Santa Teresa^ enviou ao Prefeito Israel Klabin um abaixo-assinado, com mais de três mil assinaturas, objetivando resolver os problemas de transportes que afligem os moradores. Veja na página 3.

Transcript of Ponto de Partida - cpvsp.org.br filePonto de Partida O jornal O Trilho, feito por jornalistas de...

Ponto de Partida

O jornal O Trilho, feito por jornalistas de Santa Teresa, pretende ser o agente catalizador da comunidade em sua luta pela melhoria das condições de vida no bairro.

Desde já, O Trilho define-se como um veículo aberto à parti- cipação de todos os jornalistas e colaboradores interessados em mobilizar pessoas para a criação de núcleos empenhados no bem-estar coletivo.

O Trilho vai funcionar como o porta-voz das reivindica- ções dos moradores de Santa Teresa que já vêm se reunindo há quase um ano, tentando solucionar os problemas do bairro. A criação de creches, a melhoria dos transportes, a diminuição do custo de vida, a preservação do meio ambiente, a habitação, a saúde pública e a educação foram consideradas prioridades.

O Trilho tem como proposta também, divulgar as ativida- des artísticas e culturais, recuperando os espaços que estão pra- ticamente desativados: o Cineclube, o Centro Cultural, a Biblio- teca Regional, os locais para shows e teatros, etc.

Outra preocupação d'0 Trilho é promover torneios desporti- vos e criar melhores condições de lazer para os quase cem mil moradores do bairro.

O Trilho se propõe a ser o veículo de entrosamento da popu- lação do nosso morro e a participar a divulgar material de outros jornais e associações de bairro.

0 Trilho, o jornal dos moradres de Santa Teresa precisa da colaboração de todos para que possa ser, efetivamente, "um veí- culo sem ponto final".

Conselho Editorial

A BATALHA DOS BAIRROS 0 que está sendo feito em outros bairros pela melhoria da qualidade de vida. Em Santa Teresa, falta maior participação dos moradores. Pg. 2

BLITZ A presença da polícia no Curvelo preocupa os moradores. Pg. 2

NOSSO BAIRRO:PROBLEMAS E SOLUÇÕES , As diversas Comissões formadas por moradores do bairro, na tentativa de encon- trar alternativas para a defesa do meio ambiente, diminuição do custo de vida, formação de cooperativas e outras atividades voltadas para o bem-estar coletivo. Pg.2.

"Oi... Tentação" A história do show feito pelos músicos de Santa Teresa, que financiou esta edi- ção de "O Trilho". Pg. 4.

VEJA NA PÁGINA 5: A INATIVTDADE CULTURAL EM NOSSO BAIRRO, O AMADORISMO, A FESTA DE LANÇAMENTO DO NOVO LIVRO DO ALEX POLARI.

Página 6: Uma análise da cisão do bloco oposicionista no Brasil/uma versão do caso Rúsia/Afeganistão/EUA diferente da abordagem feita pela im- prensa burguesa/ A manifestação anti-nuclear em Resende.

ENTREVISTA: Anselmo Vasconcellos fala de sua experiência em ser uma "grande cobaia", isto é, ator de cinema, teatro e TV. Pg. 7.

Na pg. 8, um pouco da história dos bondes no mundo e no Brasil, as realizações da Sociedade de Amigos de Santa Teresa, um fotopoema de Lize Torok.

"ABAIXO-ASSINADO PARA O PREFEITO"

A população do nosso bairro, através da Comissão Pró-Melhoramento de Santa Teresa^ enviou ao Prefeito Israel Klabin um abaixo-assinado, com mais de três mil assinaturas, objetivando resolver os problemas de transportes que afligem os moradores. Veja na página 3.

Jornal de Santa Tereza - NP 1 - abril de 1980 O Trilho A BATALHA DOS BAIRROS

Santa Teresa: O posto médico do bairro precisa ser reequipado. Há pouco tempo, uma mulher grávida deixou de fazer exame de urina por falta de material no laboratório.

Laranjeiras: A Associação dos Moradores de Laranjeiras botou na rua um abaixo-assi- nado para melhorar o sistema de transporte do baino. O pessoal de lá está se reunindo periodicamente e pensa também em acabar com o monopólio-dos Supermercados Disco, que são os únicos da região. Também lança- ram um jornal, "A Folha das Laranjeiras" (que tem uma marca-símbolo para não dei- xar dúvidas: a própria folha). O primeiro nú- mero já apresenta resultados de uma pesqui- sa feita entre os moradores sobre problemas do baino e até propostas para a solução de alguns deles. Trabalho de comunidade é isso aí: juntar esforços e agir.

Estácio: A Light resolveu brincar com os comerciantes do bairro desligando a luz a qualquer hora'. Não se soube o motivo das interrupções de energia mas, mesmo que te- nha sido para montar a iluminação das ar- quibancadas para o carnaval, que paga o pre- juízo que os comerciantes tiveram com o estrago de suas mercadorias? O inverso não acontece? Não se paga multa quando se atra- sa o pagamento da luz?

Ca te te: O DETRAN inaugurou uma rua, fez até festa mas as calçadas não foram con- sertadas. Parece que o órgão que cuida dos carros não se preocupa com os pedestres.

Copacabana: Os moradores do Bairro Peixoto já criaram a Associação de Morado- res & Amigos do Bairro Peixoto. Já conse- guiram tirar da Praça Edmundo Bittencourt um trenzinho que servia de mictório, ganha- ram iluminação nova e até um esquema de segurança...

Urca: Os moradores conseguiram uma cabine policial com guarda, em comunicação com a 10? Delegacia. E o bairro termina num Forte. Nem assim os assaltantes se in- timidaram. ..

Horto: A área era considerada estrita- mente residencial até que o Instituto de Ma- temática resolveu se instalar lá. As obras es- tão a todo vapor, as ruas sempre bloqueadas por caminhões ou material de construção e os moradores perderam esta batalha...

Jardim Botânico: A Figueira da Rua Faro foi até Brasília para conseguir se man- ter de pé. Mas os moradores continuam preocupados. Será que a Carteira Hipotecá- ria da Aeronáutica, responsável por uma obra que tem o traçado em cima da figueira, vai respeitar a ordem de não-derrubada do IBDF?

Ipanema/Lebion: Moradores da fronteira entre os dois bairros decidiram esclarecer o que está acontecendo com uma das compor- tas do canal do Jardim de Alá, que não fun- ciona há muitos anos. Todas as manhãs, às sete e meia, um trator retira a areia que im- pede a passagem da água do mar. Então a su- jeira acumulada na lagoa Rodrigo de Freitas e no próprio canal vai poluir a praia num trecho considerável. Por que, perguntam os moradores, a desobstrução diária não é fei- ta à noite, dando tempo para que o mar ab- sorva a sujeira?

Grajaú: Os moradores estudam várias alternativas para tirar o ponto final dos ôni- bus da única praça do bairro destinada às crianças...

Osina: Os moradores querem um ter- minal de ônibus no lugar de uma fábrica de- sativada. Pessoas de fora querem construir um prédio comercial. Quem ganha?

Camboatá: O Festival de Música do bair- ro está em fase final. Lá circula um Boletim dos Bairros que divulga tudo sobre proble- mas comunitários.

Charitas: Trezentas famílias estão sendo despejadas de uma área que pertencia à Igre- ja. Havia um contrato de doação do terreno, mas a Igreja alterou uma das cláusulas, ven- deu-o e os novos donos estão derrubando as casas com tratores e desalojando os morado- res. Sabe-se de gente que mora lá há mais de 10 anos. Vergonha para a Prefeitura de Nite- rói, que ainda não intercedeu...

Nova Iguaçu: Os despejos de lá termina- ram. É que nos conjuntos sujeitos a estas anomalias, foram colocadas sirenes na casa do mais antigo morador. Toda vez que o ofi- cial de justiça chega, o morador toca a sirene e grande número de pessoas se coloca dentro da casa onde iria ocorrer o despejo. Deu cer- to. Não tem quem tire nada, com toda a população ali...

Macacu: Os posseiros de Cachoeira de Macacu, perto de Friburgo, foram parar até na cadeia junto com o padre local, por causa de problemas de terra. Mas saíram por ci- ma ...

PORAf

Pará: Até o Governador está dizendo que deseja resolver o problema de posse da terra no Estado do Pará.

Itaici: A Reunião dos Bispos enfocou o tema da falta de terra. A Igreja quer dar o exemplo, entregando os terrenos de sua propriedade para quem trabalha na terra.

Pernambuco: Foi lá que começou o boi- cote das donas-de-casa para baixar o preço da carne. Agora o preço vai ter que chegar a um acordo com os consumidores.

Sindicais: Os líderes sindicais estão mar- cando para o segundo semestre deste ano o CONCLAT - Congresso Nacional das Clas- ses Trabalhadoras.

Federação: Todas as Associações de Bair- ros ou comissões de moradores com proble- mas podem se filiar à Federação das Associa- ções de Moradores de Bairros. É só procurar o César Campos, na ma Major Almeida Cos- ta, NP 24/203. Telefone: 2394605.

BLITZ O tenente Jaime, do 1? Batalhão da Po-

lícia Militar e mais alguns soldados exami- nam os documentos dos passageiros de um bonde parado no Curvelo, que só pode se- guir viagem depois de terminada a revista. Os soldados percebem que um dos passa- geiros, um negro, cheira a bebida, obrigam- nos a descer e começam a conduzi-lo para o camburão estacionado mais adiante. O deti- do mostra que está com seus documentos em ordem, reclama da truculência dos poli- ciais, mais aí o tenente, um sargento e dois soiaaaos altos e fortes colocam o negro na viatura aos socos e pontapés.

A cena aconteceu sexta-feira, dia 8, à noite, diante de mais de 30 pessoas - para- das em frente ao Bar do Adolfo ou sentadas na Praça do Curvelo - algumas espantadas, mas a maioria indignada. É a Operação Pe- neira, nova fórmula de policiamento osten- sivo que a Polícia Militar começou a adotar há menos de um mês em toda a cidade (que consiste em pedir documentos e revistar as pessoas indiscriminadamente), utilizando seus homens do Patrulhamento Tático Mó- vel - Patamo - mais conhecidos da popu- lação como boinas pretas ou Swat.

A inovação, mais uma tentativa da Se- cretaria de Segurança Pública de reduzir a criminalidade no Rio, chegou a Santa Teresa no início de fevereiro, embora todas as sextas-feiras a noite a PM realize bíitz na Rua Barão de. Petrópolis, junto da boca do túnel da Rua Alice.

Na semana que começou no dia 4 a Po- lícia utilizou até um helicóptero da Secreta- ria de Segurança Pública para sobrevoar o Morro dos Prazeres. Enquanto isso, na Rua Almirante Alexandrino, os soldados pediam documentos a quem passasse pelo local, paravam os automóveis, revistavam os mo- toristas e invariavelmente atrapalhavam o trânsito do bairro.

Na quarta-feira, dia 4 e sexta, dia 8, a Operação Peneira passou pelo Largo das Neves, Dois Irmãos e no Curvelo, onde o cortejo policial, composto de dois cam- burões do 19 BPM, dois caminhões condu- zindo mais de 50 soldados armados - che- gou na tarde de quarta e voltou na de sexta- feira. As viaturas estacionadas tomaram di- fícil e tumultuada a circulação dos ônibus, bondes e automóveis, enquanto os soldados armados de metralhadoras se misturavam a mães e babás — que costumam trazer as crianças (algumas ainda de colo) para passear e brincar na-pracinha - procurando possíveis marginais.

Na quarta-feira a noite foi comum a cena de pais que, no último instante, com as via- turas já acelerando para partir, chegavam aflitos para retirarem seus filhos menores de dentro dos camburões, embora a lei que per- mite a prisão cautelar do menor por cinco dias só tenha entrado em vigor na segunda- feira (dia 11).

Houve quem achasse certa a ação da po- lícia: "É preciso limpar o bairro dos margi- nais, bademeiros e maconheiros", disse um comerciante. Outros reagiram com medo e, ao saber que a praça estava ocupada prefe- riram ficar em casa e não se envolver.

Mas, um grande número de moradores considerou a Operação uma violência sem sentido: "Enquanto eles fazem este carnaval com a gente aqui, os verdadeiros bandidos sabem que podem agir a vontade em outros pontos do baino" ou "isto me faz lembrar aqueles filmes da ocupação nazista na Se- gunda Guerra mundial".

Estes moradores permaneceram na praça enquanto durou a ocupação policial, olhan- do com revolta a ação dos PMs e houve até quem discutisse com os oficiais e soldados a eficácia da Operação.

Na sexta-feira a noite, quando se retira- vam com os camburões cheios de pessoas presas os temidos boinas pretas não conse- guiam encarar de frente os olhares de indig- nação dos moradores e o tenente Jaime ain- da tentou amenizar a situação: "Isto não é. nada, daqui a pouco eles serão soltos". Foi o bastante para que a Operação Peneira se retirasse do Curvelo ao som de uma estriden- te vaia, que ressoou por toda a praça.

Alemanha: As mulheres de lá estão com tanta força no Movimento contra a Energia Atômica que até os jardins estão decorados com o slogam do movimento: flores dese- nham no chão a frase "ATOMKRAFT? NEIN, DANKE" (Energia Atônica? Não, obrigada).

O BAIRRO: PROBLEMAS E SOLUÇÕES Há um ano se reunindo, os moradores de Santa Teresa ainda não se decidiram a

formar uma Associação de Moradores. Mas a idéia está lançada e as reuniões para re- solver os problemas do bairro estão com uma boa freqüência e diversas Comissões fo- ram formadas para tratar de questões específicas. No momento, já corre um abaixo- assinado para melhoria dos transportes. Participe.

Falta (Tagua, esgoto, saú^e, educação, creche, transportes, custo de vida e moradia são os principais temas de debates. O que falta é uma participação maior dos demais moradores.

A Comissão do Meio Ambiente está precisando de ajuda para fazer o levantamen- to das encostas do baino. Com as chuvas,' os desmoronamentos são constantes. A si- tuação se agrava.com os desmatamentos, as queimadas e as construções que ferem as características arquitetônicas do baino.

Santa Teresa sempre goi conhecida pelo grande número de artistas que mora aqui. No momento, eles não tem onde se reunir, nem onde apresentar seus trabalhos ao público. Por isso, a Comissão de Educação e Cultura pretende reativar o Centro Cul- tural da ma Monte Alegre, 306.

A Comissão Pró-Melhoramentos do baino, por sua vez, está estudando a criação de uma creche e também de uma cooperativa de alimentos, para que o orçamento doméstico, nesta época de crise, possa render um pouco mais. A Comissão pró-coope- rativa já fez um contato com a Associação de Moradores da rua Lauro Müller, que já vive uma experiência deste tipo, e realizou a primeira compra de produtos a preço de custo no dia 29 último.

Quem mora em Santa Teresa gosta do baino e deseja preservá-lo como ele ê, ao contrário doá que vem de fora com fins lucrativos. Por exemplo: a mudança dos tri- lhos do bonde, ocorrida há pouco tempo, não foi bem feita'do ponto de vista técnico. Abriram-se crateras de mais de um quüômetro e toda vez que chovia a água infiltrava- se e danificava o asfalto. Agora as ruas do baino estão cheias de lombadas. Para que problemas deste tipo não aconteçam mais, a Comissão de Transportes está ativando uma série de providências. Entre elas, tentando a criação de uma linha de raicro-ôni- bus para substituir os monstros azuis que circulam nas mas abalando as estruturas do baino. A ligação de Santa Teresa, por micro-ônibus, com Laranjeiras e Catumbi, é outra idéia que está sendo levada à frente. Também se pensa no congelamento dos preços das passagens de bondes e ônibus e na pronogação do horários de transportes.

Morador, participe das reuniões promovidas por estas Comissões. O seu palpite e a sua contribuição podem ser a saída para muitos dos problemas que afligem os habi- tantes do nosso baino.

O Trilho Jornal de Santa Tereza - NP 1 - abril de 1980

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TRANSPORTES: A LUTA PARA SUBIR O MORRO EM PAZ

Existem ceica de sete a oito bondes pa- rados na oficina próxima ao Laigo do Gui- marães, poi falta de motoi e outras peças substituíveis. Todo dia um bonde recolhe até três vezes. Oito ônibus estão parados nas garagens do Méier e da Penha, por falta de disco de embreagem, caixa de mudança ou mesmo pneus.

Deficiência na manutenção, por parte da Companhia de Transportes Coletivos (CTC), do Governo do Estado do Rio, é essa a con- clusão a que chegou a maioria dos 100 mil moradores do bairro carioca de Santa Tere- sa e a Comissão Pró-Melhoramentos de San- ta Teresa, núcleo formador da Associação do Bairro, que vem mobilizando a opinião deles para estes e outros problemas.

Onde Começa o Problema

Na estação terminal dos bondes, próxi- ma à rua Senador Santas e ao lado do pré- dio da Petrobrás, a única coisa que funciona realmente são as marcas a ferro, indicando as filas correspondentes aos bancos dos bon- des, numeradas de um a oito, que os mora- dores respeitam e os turistas e visitantes pas- sam a compreender.

Só não se entende é uma rotina de horá- rios e um painel luminoso do próximo bon- de a sair, que nunca coincidem com as infor- mações indicadas: o painel indica "Dois Ir- mãos" ou "Paula Mattos' e chega algum fun- cionário da empresa estadual para avisar, "olha. gente, ele vai só até o Largo do Gui- marães" ou ainda, "até o Largo do Fran- ça". Aí é um tal de descer gente, atropelan- do quem já está há algum tempo nas filas. Fora os que já estão acomodados e têm que descer, sob a ordem de "este vai recolher".

Quem mora há algum tempo em Santa Teresa sabe muito bem que existia um tem- po certo do bonde ficar parado na estação e até mesmo, com o tal painel funcionando di- reitinho. Na primeira parada, subindo, logo depois dos Arcos, conhecida como "Porti- nha" -. obrigatória, pois ali se encontra o primeiro fiscal - existia, até uns quatro anos atrás, uma tabela indicando todos os horá- rios, durante a semana, de todas as linhas que servem o bairro. Foi retirada não se sabe por quais motivos.

Saindo da "Portinha", que dá acesso ao bairro da Lapa, o passageiro logo se defron- ta com um tipo de obstáculo comum em nossos dias: a lança, segundos os técnicos da CTC, carretilha, conforme os leigos e curio- 'sos e "chifre" para a maioria dos moradores, que faz contato entre o bonde e os fios, des- prende-se, saltando faíscas e provocando sus- to nos passageiros. Aí são alguns minutos de atraso, normalmente aceitáveis, porque já se tornou rotina, mas que pode envolver outras complicações mais graves, como ocorreu re- centemente, na altura do Largo do Guima- rães.

O tal "chifre" desprendeu-se com tal vio- lência que causou um curto circuito, na rede do bonde e da Light", geladeiras das casas pifaram, relógios de luz ficaram paralisados depois 'de estourarem é até mesmo pessoas sofreram pequenos acidentes.

Issto tudo para evidenciar uma total dis- plicência na manutenção do já precário siste- ma de transporte de bondes, em Santa Tere-

Nas estreitas ruas de Santa Tereza, seria melhor usar micro-ônibus.

Uma boa idéia: novas linhas de ônibus ligando nosso mono a Laranjeiras e Rio Comprido. ■

. Se a população do nosso bairro não tomar providências desde já, os bondes acabarão sendo retirados ae circulação.

Quanto á reposição de peças, contra o ar- gumento de que é impossível, alguns funcio- nários da CTC e até mesmo técnicos de transportes afirmam, sem querer citar seus nomes - "isso só traz problemas para nós" ou "quanto menos falar melhor" - as ofici- nas da empresa estatal têm condições de não só repô-las (tanto que há cerca de dois anos foram todos reformados, inclusive com mo- tores novos) como até fabricar novos ônibus e a diretoria da sede da CTC, em Triagem - rua Bérgamo 320 - sabe disso, e os técnicos das oficinas do Méier e da Penha também.

Nas horas de maior movimento, o cha- mado "rush", períodos que vão das seis às oito da manhã e das cinco da tarde até sete e meia da noite é comum, atualmente, obser- var-se o seguinte: formam-se filas e mais fi- las, principalmehte na parte da tarde, na es- tação terminal, saindo os bondes (os poucos que servem o bairro) superlotados, com ho- rários irregulares.

Na parte da manhã é comum uma longa espera - de 10 minutos a meia hora - até aparecer um bonde, nas estações, para quem se dirige ao centro da cidade.

Quanto aos ônibus, já se tomou habitual, nos pontos terminais do Largo de São Fran- cisco (Linha 206) e da Praça XV (Linha 214) a formação de extensas filas, geralmen- te a partir das cinco da tarde, por falta de carros.

Segundo informações, tanto de motor- neiros de bondes, motoristas de ônibus, con- dutores e trocadores, seus auxiliares, exis- tem, só na garagem da CTC, em Vila Isabel, cerca de 20 carros parados, à espera de disco de embreagem, caixa de mudança e até mes- mo pneus. Na garagem da Penha tem uns 15

' nessas condições. Mas não é só isso que aflige os morado-

res do bairro de Santa Teresa. A questão dos horários de funcionamento das Unhas de bonde e de ônibus, também.

Segundo levantamento feito pelos mem- bros da Comissão Pró-Melhoramentos de Santa Teresa, que pretendem formar a Asso- ciação dos Moradores do Bairro, a situação atual é a seguinte:

- O subsistema de bondes, tradicional ao bairro, está, rapidamente, atingindo um im- passe que poderá torná-lo inviável. Por um lado o número de veículos veiri' sofrendo uma sensível redução: 28 em 1966 e 18 atualmente (dos quais somente seis estão em uso). O preço das passagens dos bondes tem sofrido aumentos similares aos dos ônibus, fato inconcebível para um meio de transpor- te que. se utiliza da eletricidade - fonte energética que sofreu menos acréscimos que os derivados de petróleo.

E mais adiante apresentam algumas su? gestões:

- Quanto ao bondes - mais e melhores bondes; melhoria do sistema de manuten- ção; aumento do número de veículos em cir- culação; bondes funcionando no horário no- turno (atualmente os bondes interrompem sua circulação às 23h30m, então sugerimos que rodem durante a noite, de meia em meia hora, altemando-se nas duas linhas existen-1

tes). - Quanto aos ônibus - alteração de uma

das linhas existentes, a 214, que volte ao seu itinerário original, circular, pelo Rio Com- prido; criação de uma linha que efetue liga- ção entre os lados sul e norte do bairro, su- gerindo-se o trajeto partindo do Largo do Machado, seguindo pelas Laranjeiras, Alice, Júlio Otoni, Almirante Alexandrino, Prefei- to João Felipe, Barão de Petrópolis, Largo do Rio Comprido, com pçmto final próximo

á Brahma, na Presidente Vargas. E concluem: - Também é necessário que os motoris-

tas sejam orientados, no sentido de minorar os transtornos causados pelo excesso de ve- locidade. Ê preciso que o Governo e mora- dores iniciem estudos para criação de linhas de micro-ônibus, que permitem o acesso aos morros do bairro: Coroa, Prazeres, etc.

Sobre a sugestão levantada pela Comis- são, foram ouvidos alguns moradores, sendo unânime a opinião de que não só para acesso aos locais mais difíceis do bairro, bem como nas principais ruas, a utilização de micro- ônibus é apontada como a ideal, pois facilita o tráfego de carros de passeios também, já que os atuais ônibus da CTC encontram difi- culdades nas curvas e nas ultrapassagens, causando transtornos diários no fluxo.

Sobre os bondes, a maioria concorda em que falta mesmo é um sistema permanente de manutenção.

- Ué, eu vivo aqui há 20 anos e nunca imaginei que um dia ia assistir a um espetá- culo desses!

Essa expressão, de uma senhora morado- ra no Largo do Curvelo, que um dia foi visi- tar uma amiga no Silvestre e estava no inte- rior de um bonde que descarrilhou.

Mas, atualmente, tornou-se comum, não só os bondes descarrilharem. como também atingirem os carros estacionados, principal- mente nos trechos de descida, já que os car- ros ficam muito próximos ás passagens dos bondes.

Detalhe importante ocorre com a linhas "Dois Irmãos":

Essa linha faz a ligação da estação termi- nal ao Corpo de Bombeiros. Mas tal não ocorre na realidade, pois sofre interrupção em frente ao número 3226 da Rua Almiran- te Alexandrino. E sobre esse aspecto, existe uma Indicação feita na Assembléia Legislati- va, de 21 de agosto de 1979, solicitando à Secretaria de Transportes a correção e com- plementação dos serviços, realizados ano passado. Serviços cujos vestígios pouco res- tam hoje em dia, se observarmos atentamen- te as ruas Joaquim Murtinho e Almirante Alexandrino.

Outro ponto levantado pelos moradores de Santa Teresa, é a questão do preço das passagens, considerados "exorbitantes" pela maioria, tendo a Comissão Pró-Melhoramen- tos sugerido:

- Congelamento dos preços, pois os su- cessivos aumentos têm elevado a situação a níveis insuportáveis; instituinção da meia- passagem para estudante, já que estes, pela situação do bairro, necessitam tomar muitas vezes, duas conduções até atingirem suas es- colas, sobrecarregando o orçamento fami- liar.

A mesma Comissão, em seu relatório dá conta das características do bairro:

- Santa Teresa é um bairro que, por sua localização e contorno geográfico possui ca- racterísticais peculiares. Antes de ser um baino turístito, é um bairro popular, com um número de moradores girando, atual- mente, em tomo de 100 mil. A parcela ma- joritária de sua população ativa trabalha nas zonas Centro, Norte e Sul da Cidade, e se utiliza das linhas de bonde e ônibus que le- vam ao centro, não só para ir ao trabalho, como ás compras e ao lazer, já que o próprio bairro oferece poucas alternativas.

Jornal de Santa Tereza - NP 1 - abril de 1980 O Trilho

U ~ ^W Oi...Tentação! O show que financiou esta edição de "O Trilho >9

"Oi... Tentação", de Lauro Benevides: "Também sei que de 1900 e Oi... Tentação/ séculos, séculos, séculos além sem modificação/ os ricos sobre os pobres, os fortes sobre os fracos/ o artista, o poeta, a materialização/ na numerologia perdida pelo espaço/ do tempo que se marca uma nova geração..."

Lauro Benevides e Ricardo Pavão. Lauro (ao centro) com o bando da Santa. A Tribo começou o show.

No palco da ABI o Bando da Santa mos- tra o seu trabalho. No camarim Zé Ramalho da Paraíba espera impaciente a hora de se apresentar, reclamando com o diretor Toni- nho Café. Zé argumentava que passara o dia todo gravando, estava cansado e havia pedi- do para se apresentar até as 23h30m. São 23h50m quando Ricardo Pavão, do Bando, percebe a situação, pega o microfone e anuncia que o grupo vai tocar o último nú- mero. Atrás dele o contrabaixista Bida Nas- cimento avisa que ainda faltam dois núme- ros. Zé Ramalho resolve não esperar mais, guarda a sua viola e se retira.

Apesar deste incidente o "Oi... Tenta- ção", show que os músicos e jornalistas de Santa Teresa realizaram na Associação Brasi- leira de Imprensa, dia 1? de fevereiro, para obter fundos para "O Trilho", cumpriu seu objetivo. Cerca de 400 pessoas assistiram o espetáculo que contou também com a pre- sença de Jards Macalé, o grupo Tribo, Toni- nho Café, Aldeone e apresentações da Can- tora Diana, dos compositores e cantores Lauro Benevides e Ricardo Pavão e do per- cussionista Oderfla Almeida.

Wagner Ribeiro, um dos criadores dos Dzi Croquetes, indicado para apresentar os músicos resumiu seu trabalho numa frase: "gente, música eu gosto é de ouvir, não vou ficar aqui falando não". E depois de anun- ciar o grupo Tribo, sentou-se transforman- do-se em mais um espectador.

O grupo Tribo tratou o palco da ABI como se fosse uma praça pública, onde eles preferem se apresentar. Além da conversa di- reta com a platéia, a Tribo trouxe um som de resistência nordestina; estridente, agreste e sofrido.

Em seguida foi a vez de Lauro Benevides e sua viola de 12 cordas. Além da música "Oi.'. . Tentação",que ele criou especialmen- te para o show, Lauro exibiu sua voz poten- te, com uma presença forte e descontraída no palco, interpretando canções críticas e bem humoradas. Sem sair de cena formou uma dupla com Ricardo Pavão, que animou a platéia com rocks e blues. Em algumas mú- sicas o jornalista Oderfla Almeida "deu uma canja" na tumbadora e outros instrumentos de percussão, fazendo sua estréia como o mais novo músico do bairro.

O trabalho mais fortemente influenciado pela música estrangeira foi a do cantor negro Aldeone, que já integrou o conjunto Sarará

•>Miolo. O mais jovem músico do show che- gou a cantar em inglês, para depois passar a versos líricos em português.

. Jards Macalé marcou o fim da primeira metade do show, cantando inicialmente um samba de breque satírico e corrosivo, sobre a facilidade com que um artista ganha di- nheiro e prestígio no Brasil. Em seguida, atendendo a um pedido de Toninho Café cantou uma música que falava de rosas, amor e jardim, dando a nota mais lírica da noite. Terminou por deixar no ar um curio- so e divertido "Bem-te-vi", que ele fez em parceria com Jorge Mautner.

Toninho Café, o produtor e diretor do show, não se apresentou com seus músicos habituais, Aldemir e Roberto. Ele tocou jun- to com Aldeone, Marcelo, Feijão e Oderfla, começando por "Tempo de Colheita", que defendeu como intérprete no último festi- val da música popular na TV Tupi, um tra-

balho que revelou a preocupação do cantor com as raízes brasileiras e ritmos de origem negra. Depois duas composições marcada- mente românticas "Estrela do Silêncio" e "Encruzilhada", feitas em parceria com o Mário Margutti, o idealifcador do jornal "O Trilho"

A presença mais original da noite foi Dia- na, qlie misturou o canto com o expressivo e silencioso trabalho de atriz. Utilizando figu- rinos e elementos de cena, ela foi acompa- nhada pelo Bando da Santa, com arranjos de Bida Nascimento e encerrando na prática o show com uma música que falava do bondi- nho de Santa Teresa.

Apesar das Dificuldades

A idéia de se organizar um show para ar- recadar dinheiro para o jornal de Santa Te- resa partiu do Conselho de Redação de "O Trilho" e foi logo aceita pelo compositor Lauro Benevides. Mas, logo se percebeu uma série de dificuldades, como a falta de dinhei- ro e local adequado, além do pouco tempo para se arregimentar as pessoas (menos de um mês).

O auditório ^da ABI foi obtido pelo alu- guel mínimo graças a uma concessão espe- cial do Presidente da Associação, Barbosa Lima Sobrinho, porque a iniciativa destjna- va-sea possibilitar a criação de mais um ór- gão de imprensa. No entanto, o auditório não dispõe de uma boa acústica para shows musicais. A luz também foi problemática. Os spots da ABI ficam situados distantes do palco e as lâmpadas são fracas.

Os músicos também se ressentiram de um local adequado para ensaio e a produção e direção, a cargo de Toninho Café, teve que cuidar de uma série de outros problemas pa- ralelos, como a Uberação do espetáculo na censura, a regularização da situação dos ar- tistas na Ordem dos Músicos. Houve ainda falta de tempo para divulgar b espetáculo, embora o Jornal do Brasil, a Rádio JB e Rá- dio cidade, a TV Globo, O Globo e outros jornais e emissoras tenha anunciado a reali- zação do show.

Os cartazes de propaganda do show fo- ram inicialmente impressos omitindo os no- mes de Lauro Benevides e Diana, mas corri- gidos a tempo. Optou-se pela venda anteci- pada de ingressos como forma de se obter dinheiro para pagar algumas despesas, como o aluguel da ABI, o q*le precisava ser feito (e foi) antes da realização do espetáculo.

Com todas estas dificuldades o "Oi. . . Tentação" provou que é possível a ação co- munitária em Santa Teresa. Nenhum músi- co, mesmo os nomes mais conhecidos, como o de Macalé e Zé Ramalho (que veio acom- panhado de sua mulher, Amelinha do Reci- fe) recebeu qualquer cachê pelo trabalho. E de todo o público presente, aproximada- mente a metade era moradora do bairro. Moradores que compareceram, pagaram in- gressos, acreditaram na iniciativa e compre- enderam as dificuldades de se realizar um es- petáculo sem dinheiro e tempo, dificuldades que apesar de todos os cuidados acabaram se refletindo no desencontro entre o Bando da Santa e o compositor Zé Ramalho. No dia seguinte a opinião geral foi de que o show valeu. Uma prova disto é o jornal que você está lendo.

Lauro Benevides: batizou o espetáculo, con- vocou músicos, colou cartazes na rua, ven- deu ingressos, soltou a voz no palco.

Algumas Estrelas da Noite

Toninho Café: produziu e cantou

Diana: presença forte e original. Aldeone, um jovem talento.

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Toninho Café tocou pela primeira vez com Odafla, jornalista e ritmista.

O Trilho Jornal de Santa Tereza - NP 1 - abril de 1980

-VENCENDO A OLIMPÍADA Logo depois do espetáculo, na ABI, o Bando da Santa foi até a TV-Tupi, a fim de

participai do OLIMPOP - Olimpíada da Musica Popular Brasileira, organizado pela TV Tupi.

O Bando participou, no total, de três semifinais, vencendo todas, classificando-se entre os cmco melhores grupos musicais do Rio (entre 110 inscritos). A vitória deu ao Bando a gravação de um LP, que começa em março, ao lado de outros dez finalistas.

TORNEIO DE XADREZ

CONTINUA O AMADORISMO MUSICAL EM SANTA TEREZA

"O Trilho" está promovendo um torneio de xadrez. Os moradores que estiverem inte- ressados em participai devem entrar em contato com o Chiquinho jornaleiro, no Cur- velo, para deixar o nome e os horários disponíveis para a disputa das partidas.

O QUE FALTA EM TERMOS CULTURAIS O que será que está faltando em nosso

bairro, em termos de maior divulgação das manifestações culturais, que gira em tomo de expressões artísticas, capaz de integrar a comunidade?

Essa indagação corre através dos bondes, no interior dos butecos, na intimidade das casas e nas poucas consciências de nossa po- pulação de 100 mil habitantes.

Talvez uma das consciências mais preo- cupada com tal tipo de problemas, a de Al- tair Thury, colaborador do Cineclube de Santa Teresa, possa exprimir, da maneira mais simples e objetiva, o que se passa real- mente:

- Está todo mundo disperso, na batalha do dia-a-dia, e está faltando uma consciência das pessoas, para uma integração comunitá- ria, que dizer, dar o que tem de si, em ter- mos culturais e/ou profissionais, no sentido de promover seu bairro, sua comunidade.

De fato, se observarmos na prática, exis- tem dois grupos que. vêm tentando articular o potencial do bairro, nas diversas áreas cul- turais: o Cineclube de Santa-Teresa e o Ban- do da Santa!

Ano passado, por exemplo, o Cineclube, ao comemorar seu quarto ano de atividade, promoveu um dia de festa, no até agora mal utilizado Centro Cultural, um casarão da

táculo musical, sem cobrar cachê, para aju- dai as finanças deste jornal do bairro. Eles também compareceram à festa do Cineclube.

Além disso, o Bando da Santa vem ten- tando ocupar o espaço vago do Centro Cul- tural. Mas, até agora, tudo sem êxito.

As dificuldades são muitas, tanto que, o diretor do Departamento Geral de Cultura, do município do Rio de Janeiro, escritor Rubem Fonseca, diante da máquina buro- crática oficial, mesmo através de mil conta- tos e bate-papos, reconhece sua impotência para tornar aquele espaço, como pertencen- te á comunidade de Santa Teresa.

Existem dificuldades meio subjetivas e até mesmo de cunho social: o Departamento reagiu dè forma negativa à festa promovida pelo Cineclube, com algo assim: "negros e do morro, não dá". 0 próprio Cineclube, que já havia recebido autorização para fun- cionar no Centro Cultural teve vetado o seu acesso, sem maiores explicações.

Ora - acrescenta Thury - o fato é que temos o espaço para desenvolver atividades culturais, pagamos impostos para isso, e no entanto, não podemos utilizá-lo.

Fora esses dois grupos básicos, que atuam em segmentos da própria cultura, um outro vem se integrando, procurando mobi- lizar a opinião pública dos moradores para

Pedro Lázaro, autor desta ilustração, realizou uma exposição de desenhos no Bar do Arnaldo, durante a primeira quinzena de abril Foi um sucesso. O artista vendeu to- dos os trabalhos.

Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, na rua Monte Alegre, destinado à cultura. O nú- m?TO de pessoas que lá compareceu chegou à casa das duas mil, o que só vem a compro- var que os moradores estão ávidos por movi' mentos culturais. E todo mundo que partici- pou era morador do bairro.

Já o Bando da Santa, um grupo musical de intérpretes e compositores, além de um trabalho cultural e artístico constante, deu uma demonstração de sua força, junto a ou- tros segmentos de manifestação artística, co- mo o conjunto "A Tribo", realizou um espe-

os problemas que os afligem, é a Comissão Pró-Melhoramentos de Santa Teresa, estan- do atualmente empenhada na luta por me- lhores condições de transporte, chamando a atenção de todos para um abaixo-assinado, que já conta com aproximadamente três mil assinaturas, a fim de ser encaminhado às au- toridades competentes.

A partir desse trabalho, quem sabe, po- de-se até formar uma entidade realmente re- presentativa da comunidade de Santa Tere- sa, que é a Associação dos Moradores do Bairro de Santa Teresa?!

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Certos músicos do nosso bairro precisam aprender que o coletivismo é melhor que o estrelismo.

É realmente lamentável, que se repita o mesmo erro, por pura falta de profissionalis- mo e muito amadorismo. Dois episódios ser- vem para ilustrar esse amadorismo. No dia 2 de fevereiro, no auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), lá comparece- ram, prestigiando a apresentação de vários grupos, intérpretes e compositores de Santa Teresa, estrelas como Jards Macalé e Zé Ra- malho (acompanhado de sua companheira, que naturalmente também iria se apresentar, Amelinha). Pois bem, por falta de"profissio- naüsmo e de conhecimento em enfrentar platéias e conduzir espetáculos, Zé Ramalho se mandou com sua mulher e sua banda, frustando grande parte do público que lotou (pagando) aquele auditório.

Mas recentemente, no dia 8 de março, houve o espetáculo "Noite do Castelo II", entrada franca e ao ar livre em Santa Teresa, repetindo o mesmo erro do espetáculo da ABI. Ali compareceu uma outra estrela, na- turalmente não tão candente como a de Zé Ramalho, mas outro paraibano tão impor- tante, em termos de trabalho musical - Vi- tal Farias - que, aliás, é morador do bairro.

Chegou com sua humildade natural, sor- riso orelha-a-orelha, cumprimentando a to- dos e ficou esperando -que seu nome fosse anunciado. Cansou de esperar e foi-se embo- ra. Lamentável erro.

E preciso que haja uma consciência pro- fissional de certos grupos e segmentos musi- cais do bairro, que insistem na prática de só se fazer ouvir - apesar do limite de músicas - prejudicando outros apresentadores, des- respeitando o público e músicos importan- tes, com trabalhos musicais já gravados em discos, interpretados por outros músicos im- portantes e tão divulgados nas rádios.

Essa prática desgastante de ultrapassar o limite do tempo de apresentação, com a fa- mosa expressão "é só mais uma" é bem ca- racterística de quem se sente inseguro e não tem a mínima noção de ética e respeito pro- fissional. Puro amadorismo portanto.

Uma auto-crítica que só se comprova na prática, seria bastante salutar, para evitar mal-entendidos e fofocas e o que é mais im- portante: daqui a pouco os movimentos cul- turais e musicais desse tão rico bairro, em valores dessa ordem, natural e lamentavel- mente estarão desacreditados, pois a repeti- ção de erros desse tipo só levam ao desgaste.

"É só mais uma".

É bom lembrar, que o apresentador e muito principalmente o produtor do espetá- culo, têm uma importância vital, para evitar fatos tão desagracEveis. Eles tem o microfo- ne, o tempo de cada um e o limite de músi- cas a serem apresentadas, bem como a noção de quem e quantos estão inscritos. Ora, nada mais fácil, do que chegar para cada grupo ou intérprete e esclarecer esse ponto, para se chegai a um acordo que agrade a eles e ao público.

Então, se um músico, compositor ou in- térprete, ou chefe de um grupo ou banda in- sista em apresentar "só mais uma" é só che- gar para ele e argumentar. Se ele insiste, pe- ga-se o microfone, comunica-se o fato ao pú- blico presente, mostra quantos ainda tem que se apresentai, quem está presente ou convidado especial e submeta à platéia se ele poderá sei ouvido mais uma vez, lembrando que outros serão prejudicados. Aí, sim, esta- la havendo um clima lealmente profissional e proveitoso.

Inclusive, aproveita-se para submeter também à platéia, se deseja ouvir, logo em seguida, ao convidado, ou convidados espe- ciais ou algum nome representativo da nossa música popular. Nada mais simples ^objeti- vo, portanto.

Agora, ficar brigando por trás dos micro- fones, nos bastidores ou nas proximidades é que é puro amadorismo. £ o que temos visto e assistido, infelizmente.

LANÇADO NA PRAÇA O "CAMARIM DE PRISIONEIRO"

Numa verdadeira maratona cultural, a Praça Odilo Costa Neto, foi tomada pelos moradores de Santa Teresa das quatro da tarde à madrugada do sábado 12 de abril. Como a participação do povo nos aconteci- mentos de nosso baino não acontece há muito, e, não se sabe quando vai se repetir, foi preciso juntar num só dia, todas as contribuições das pessoas do bairro.

A princípio, a festa seria para o lança- mento do segundo livro "Camarim de Pri- sioneiro" de Alex Polari, ex-preso político, atualmente morador do baino. Mas todos os setores que participam da vida de Santa Te- resa aproveitaram a ocasião. Desde a Comis- são Pró-Melhoramentos de Santa Teresa, o Núcleo de Formação do PT do bairro até o Comitê de Solidariedade à Greve dos Meta- lúrgicos do ABC, todos ocuparam a praça.

Esta foi mais uma das provas que os mo- radores de Santa Teresa tiveram para consta- tar que a solidariedade dos moradores, a fes- ta, a participação de gente de todas as ida- des, não precisa nem pode contar com a Ad- ministração Regional. Além de não contri- buir com a festa, a RA ignorou a presen- ça do povo na praça e não compareceu, con- trariando as determinações da Prefeitura do Rio que pede que os administradores regio- nais tenham total entro samento com os nú- cleos de formação de Associação de Morado- res que apareçam em seus Itairros.

Adiado do dia 30 de março, desta vez o lançamento do "Camarim de Prisioneiro" de

Alex Polari foi num sábado de sol e anima- ção. Autografando livros, Alex assistiu com seus vizinhos ao filme "Saída de Prisão', além das apresentações dos grupos de teatro infantil" "grupo mexicano" e 'Trinca Lín- gua' , do pessoal do Amir Hadad, do grupo "A fome e a vontade de comer", do show musical Azevedo, Diana StuI e a Banda da Santa, Teca, Robertinho Silva, Luiz Alves, Helvius, Nelson Ângelo entre outros, ao poe- ta Gandaia e seu espetáculo pirotécnico. Nu- vem Cigana e outros, numa apresentação bairrista que há muito não se via.

Na madrugada de domingo, sobraram na praça as faixas e cartazes deixando aquele gosto bom de que mais vezes estes encontros tem que acontecer no nosso baino.

O novo livro do Alex pode ser comprado na rua Ocidental, 16/frente.

Jornal de Santa Tereza - N9 1 - abril de 1980 O Trilho

DE VOLTA Ã UNIDADE?

Renato Guimarães

Muito cedo se decepcionaram os políti- cos do MDB que, na esperança de proveito pessoal, deram ajuda ao governo para a ma- nobra de dispersar a oposição em vários par- tidos.

Esperavam que o governo se mostrasse benevolente e até simpático aos agrupamen- tos que aceitassem separar-se do MDB para formar os novos partidos. Contavam inclusi- ve com uma disposição larga do governo pa- ra tolerar e absorver denotas eleitorais, ate mesmo em pleito para Presidente da Repú- blica, desde que a vitória revertesse em bene- fício de um partido de "oposição confiável", segundo o critério do próprio governo, natu- ralmente.

Tal expectativa era animada por sopros do palácio, onde se encorajava a perspectiva de uma "alternância de governo". A grande imprensa incumbia-se de acender a ambição e os entusiasmos de setores da oposição mais propensos à transigência ou à colaboração com o governo, seja qual for.

Assim, surgiram em penca os candidatos a "oposição confiável", arrancaram-se gros- sas lascas do MDB e com elas deu-se curso à formação de novos partidos de oposição, de modo a que esta ficasse dividida em pelo menos três legendas.

De início, tudo eram flores. O governo criou facilidades legais para a articulação partidária no Congresso e esbanjava promes- sas de boa vontade e jogo limpo com os ad- versários, nos futuros pleitos.

Mas, tão logo foi alcançado o objetivo primordial da reforma partidária, ou seja, a divisão do MDB, a conversa mudou de tom e de tema. De novo fechou-se a carranca ofi- cial para os que não pertencem ao partido que o governo patrocina. Todos os recursos imensos de coação e suborno que o governo federal maneja foram acionados para forçar a arregimentação de políticos dentro do par- tido sucessor da Arena.

Quem age dessa forma, é claro, não está disposto a repartir nem muito menos a en- tregar o poder. Essa é a convicção que se vai formando entre os diversos setores oposicio- nistas. Mesmo os que insistiam em duvidar, já se convencem de que o objetivo do gover- no é montar aqui uma construção de estilo mexicano - um partido oficial largamente majoritário, institucional, através do qual se exerce uma ditadura com ares de democra- cia, devidamente enfeitada por uma multi- dão de pequenos partidos, mas muito bem adotada de "salvaguardas" e outros instru- mentos de força que lhe assegurem estabili- dade e continuidade.

Não podendo mais contar com o bafejo palaciano e, ao contrário, só podendo espe- rar hostilidade desse lado, os líderes dos di- versos partidos não-governamentais ficam com a única alternativa da reconstrução de sua unidade rompida, se de fato aspiram a algum tipo de influência real no exercício do poder político, até que se instaure no país efetivamente um regime democrático.

Essa unidade recomposta da oposição não tomará a forma de associação num úni- co partido, já agora impraticável. Mas tem amplo campo para evoluir e firmar-se na for- ma de esforços coordenados para ações prá- ticas, seja na luta parlamentar, seja na reali- zação de comícios e outras modalidades de ação política.

Depois de um período de predomínio dos fatores de desagregação na área de for- ças democráticas, entramos assim num pe- ríodo em que a luta pela formação da frente democrática, tão difícil entre nós, tem boa possibilidade de avançar.

DISTENSÃO OU GUERRA FRIA?

MANIFESTAÇÃO ANTI-NUCLEAR EM RESENDE

Caravanas do Rio, São Paulo e Espírito Santo começaram a chegar em Resende, na manhã de domingo passado. Eram na maio- ria jovens, que exibiam cartazes e faixas, protestando contra a construção de uma usina de beneficiamento de Urânio às mar- gens do rio Paraíba do Sul, que abastece 80% do Estado.

Solidário ao movimento, o Prefeito de Resende, Noel de Carvalho, viu, naquela mesma noite, parte de sua Prefeitura voar pelos ares com uma bomba colocada na porta. Afirmando que só soube da constru- ção da usina através da imprensa, declam que "continua no mesmo pé" a situação de ilegalidade da obra, sem a autorização du Prefeitura, que aguarda ainda o parecer da FEEMA e do Corpo de Bombeiros, pois está numa área de preservação permanente. Diz que tem "travado uma incansável luta no sentido de convencer as autoridades de que o Rio Paraíba teria que ficar a salvo de qual- quer risco", e fez todo o esforço possível a nível de gabinete, mas "até hoje o resultado foi absolutamente nenhum".

Enquanto o Deputado Federal José Fre- ■ jat salienta a presença de ex-oficiais nazistas por trás do programa nuclear brasileiro, o Senador Evandro Carreira (PMDB-AM)pede ao povo que participe: "venha para a rua e assegure o futuro de seus filhos, repudiando este sonho magalomaníaco e napoleônico de bomba nuclear". O Vereador de Diadema, Fernando Victor, presta solidariedade em nome dos metalúrgicos do ABC paulista, e afirma que o problema deve ser atacado nas suas raízes, que são a corrupção e a ditadura

"de torturadores safados vestidos em polo do cordeiro". E José Ludcs, Deputado l.stadual (RJ), fala pelo PP: "nos colocamos favorá- veis ao direito à vida, e nunca ao direito à morte, nos colocamos radicalmente contra esse projeto absurdo que aumenta a divida externa e só serve para engordar os bolsos dos capitalistas das multinacionais".

João Carlos Ávila, um dos pioneiros da agricultura bio-dinâmica no Brasil, observa que nosso país não assinou o tratado de não- proliferação das armas nucleares, e apela pa- ra a simplicidade, com a redução do consu- mo de energia. Já Luiz Pingelü Rosa, da So- ciedade Brasileira de Físicos, alerta para o problemas do lixo nuclear, mostrando um esquema de funcionamento de uma usina nuclear; e Reinaldo Silva, engenheiro quími- co e ecologista militante, atesta para a neces- sidade de serem feitas pesquisas em energia solar e outras fontes de energia alternativas.

A manifestação deixou saldo positivo, ainda que seu objetivo primordial - alertar a população - tivesse suas falhas: a cami- nho, moradores locais perguntavam "você vai para o show?".

As coisas iam tão bem - ou pareciam ir - que só poderiam mesmo piorar. Na segun- da metade dos anos 70, firmou-se na Finlân- dia a Declaração de Helsinqui, que redefinia em algumas regiões as fronteiras européias e relcassificava determinados conceitos rela- cionados com os direitos humanos. Pouco antes, apagaram-se os fogos no Sudeste Asiá- tico: ali, sobre os escombros de um genocí- dio que traumatizou a opinião pública mun- dial, os vietnamitas desmantelaram a maior máquina de guerra dos tempos modernos. Persistiram, porém, dificuldades e injustiças: as multinacionais continuavam explorando os povos em todos os continentes do plane- ta, mas estes povos se levantavam contra os espoliadores no quadro da luta anticolonial. E os povos subjudados da África se desem- baraçaram do jugo opressor - do néo-salaza- rismo ao opróbrio do secular colonialismo britânico. Restou o racismo da África do Sul, a fome endêmica da índia, o banditis- mo das ditaduras militares sulramericanas e a mentira organizada do sistema capitalis- ta, já agora denunciado por alguns dos seus agentes desiludidos, pelo movimento cres- cente das massas esclarecidas e até pela fac- ção progressista da Igreja. A coexistência pa- cífica, entretanto, se desenvolvia, calando um confronto eventual, embora mantivesse acesa a luta ideológica entre as classes explo- radas e exploradoras.

Há algumas semanas, na aurora dos anos 80, o quadro começou a se modificar. Os norte-americanos, preocupados com seu trânsito no oriente - de onde lhe vêm subs- tanciais suprimentos de petróleo -, passa- ram a montar ali uma gigantesca operação de provocação contra a União Soviética. O primeiro alvo foi o Afeganistão, onde Washington tentou infiltrar seus grupos de agentes provocadores visando à derrubada do governo constituído - na realidade um governo já conompido e que fingia ignorar as manobras internas desencadeadas pelos norte-americanos. Foi dentro desse contexto que as forças patrióticas do Afeganistão ape- laram a Moscou no sentido de esmagar, no nascedouro, a contra-revolução que se esbo- çava. O apelo foi atendido e em pouco tem- po os elementos pró-imperialistas foram ali- jados de seus postos de comando. Alguns rebeldes muçulmanos, armados na fronteira do Paquistão (país por sua vez armado pelo Pentágono), recuaram para as montanhas es- carpadas do Afeganistão e ali tentaram criar um caricato governo autônomo. Ao fim de três ou quatro semanas, esses falsos bolsões de resistência foram pulverizados - e hoje só restam uns bandos de nômades transitan- do entre a fronteira paquistanesa e a cidade

Í PARTICIPE. PRECISAMOS FORMAR

A ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES DE SANTA TEREZA.

afegã de Jalalabad. A frente patriótica, lide- rada por Karmal, impôs seu controle a todo o país. O fulminante contra-golpe desnor- teou o Pentágono e o Presidente Jimmy Carter.

A resposta não demorou. Carter, um próspero vendedor de amendoim, na Geór- gia, mas estadista de notórias falhas política, estava às voltas com as preliminares de sua sucessão. Os acontecimentos do subconti- nente indiano, somados à humilhação de Teerã - onde a revolução islâmica quebrou os dentes da infiltração política e econômica de Washington -, ameaçavam levar ao colap- so as pretensões sucessoriais de Carter. EsiC só teve assim uma saída: para se fortalecer internamente, começou a destruir externa- mente o patrimônio da distensão. Foi lança- da, a nível mundial, uma campanha de misti- ficação e deturpação dos fatos - o apoio soviético a Cabul se transforçou em invasão; preconizou-se o embargo à venda de cereais à União Soviética e, por fim, montou-se o circo do boicote às Olimpíadas de Verão de Moscou, logo desmoralizado pelo próprio Comitê Olímpico Internacional. Mas Carter teve ganhos regionais venceu as consultas in- ternas do Partido Democrata em Ohio e Maine e projetou-se bem para as primárias de New Hampshire.

Carter teve parceiros preciosos. Entre eles, Margaret Thatcher que engajou o pres- tígio do Reino Unido na aventura. Thatcher está, aliás, enfrentando sérias dificuldades em suas funções de Primeiro-Ministro. Suas promessas eleitorais de reviver a iniciativa privada na Grã-Bretanha, cortar as despesas do Estado e tirar o governo das costas do público parecem estar malogrando, como observou recentemente o jornalista Barry James. Menos de dez meses após sua posse, o governo britânico está gastando mais di- nheiro do que nunca, a despeito do progra- ma de austeridade de Downing Street. "A política do governo conduzirá à progressiva deterioração da civilização britânica, medida pelo bem-estar da média dos cidadãos, bem como pela capacidade da nação em produzir armas para sua defesa", afirmou, há dias, alarmado, Lorde Kaldor, um dos conselhei- ros econômicos do governo trabalhista ante- rior a Thatcher.

Outro parceiro inestimável de Washing- ton é Pequim. Em suas manifestações hege- mônicas no mundo socialista, os ex-chineses de Mao Tsé-tung - que apoiaram Pinochet e outros ditadores sul-americanos - são agora o principal instrumento de Washington para o retorno à guerra-fria, Embora tenha esten- dido suas pontes rumo a Pequim, Washing- ton não conseguiu o mesmo êxito no univer- so ocidental. Paris não se alinhou na pers- pectiva da guerra-fria e Bonn tem algumas restrições ao esquema. Carter, no entanto, parece obstinado em alcançar seus objetivos eleitoreiros. Os norte-americanos anunciam que não compareceram mesmo a Moscou — talvez porque suas chances de vitória, ali, não fossem muito amplas, como há quatro anos - e lançam-se a certos gestos menores, como o veto à descida de aparelhos da Aero- flot no Aeroporto de Nova Iorque.

O mundo, entretanto, não respalda a proposição selista. Só a paz construirá os projetos da humanidade nos últimos vinte anos que restam para a virada do milênio. A distensão, apesar do oportunismo eleitoral de Carter, acabará por se reimplantar no consenso das nações. Pois ela - a distenção - é um patrimônio de todos os povos do mundo, cansados de guerras e destruição e interessados numa nova ordem social.

O Trilho Jornal de Santa Tereza - N? 1 - abril de 1980

ANSELMO VASCONCELLOS: UM ATOR ALTERNATIVO

Em teatro, participou de importantes realizações, como "O Último Carro" e os ensaios de "Calabar". Na TV, pa- péis escolhidos a dedo, a maioria de marginais, sem se deixar envolver pela máquina de consumo global Gosta mesmo é de fazer cinema, já tendo participado de 11 curtas e 14 longa-metragens.

"A República dos Assassinos", de Miguel Faria Jr. Gonga-metragem)

s Por este trabalho, Anselmo ganhou o Prêmio Moliére.

O travesti Eloina: "uma sensualidade que tocou muito as pessoas.

O Trilho - Você acredita que, da mesma forma que foi criada uma imprensa nanica, alternativa, foi criado um cinema nanico, al- ternativo?

Anselmo - Eu acho que o cinema, em si, já é uma coisa alternativa, seja ele de longa ou curta-metragem. Porque no Brasil a gente vi- ve um fenômeno que não é coincidente em outras culturas. Aqui a gente tem a TV mo- nopolizando a atenção, o potencial do es- pectador. Na sociedade exicte um grupo que se prepara para receber informações, para re- ceber a veiculação das experiências huma- nas. Esse grupo, normalmente, é a maioria da sociedade. O artista pertence sempre a uma minoria. Então, a maneira como é dis- tribuída a informação está muito monopoli- zada pela TV. Por isso o cinema tem caracte- rísticas de sobrevivência, de produção, de in- terpretação dos fatos, que são muito alterna- tivos. O cinema brasileiro vive de uma parce- la muito pequena do seu próprio mercado. É um cinema inviável. Como empresa, é uma discussão, ainda. Não é um empreendimen- to. Algumas pessoas fazem esse empreendi- mento, mas são poucas. Os cineastas inde- pendentes sofrem derrotas diárias dentro do seu campo de trabalho. Uma lata de negati- vo, por exemplo, custava há 6 meses atrás Cr$ 7.800,00. Agora está custando Cr$ 28.000,00. Só isso já é uma pressão muito forte. E o que é alternativo? É aquilo que tenta reexperimentar a forma de produzir qualquer coisa, sem seguir o modelo oficial. Aqui o modelo oficial é o cinema america- no. Ele serve não só como determinante do tempo que vamos poder exibir nossos fil- mes, como também é um critério de qualida- de, um modelo de qualidade em cima da gente. Quando você faz um filme muito.pes- soal, muito regional ou muito documental, está sendo alternativo, de certa forma. Por- que saiu do padrão oficial, que é o cinema estrangeiro, basicamente dominado pelo ci- nema americano.

O Trilho - Mesmo o curta-metragem, que é protegido por lei e não chega a tomar muito espaço do cinema estrangeiro, é sabotado pelos distribuidores americanos.

Anselmo - Eles sabotaram, isso é definitivo. Para proteger o curta, que é uma das falan- ges do cinema brasileiro, leis não faltam. Há leis que regulamentam os dias obrigatórios da exibição de um filme nacional e outras que garantem ao produto brasileiro uma sé- rie de vantagens sobre o produto estrangei- ro. Há outra lei que garante ao curta uma participação na renda do filme estrangeiro. Mas o que acontece é que as leis não são cumpridas. Porque deve haver interesse, por parte daqueles que são diretamente prejudi- cados por essas leis, em que elas não sejam cumpridas.

O Trilho - £ o medo do cinema nacional crescer e recuperar o espaço perdido.

Anselmo - Porque o mercado é maravilho- so. O que se leva de dinheiro deste país. . .

O Trilho - Agora vamos falar de trabalho de ator. Você, que já fez teatro, televisão, cine- ma, como se sentiu em cada um desses cam- pos?

Anselmo - Eu acho que é uma trajetória só. Eu me formei em uma escola experimen- tal, de vanguarda, uma escola em que o ator precisa ter uma filosofia de trabalho. Come- cei no final da década de 60, início da déca- da de 70. Historicamente, era um momento em que as coisas estavam se arrebentando, muita coisa estava sendo proposta. Uma das propostas era uma forma de teatro em que o ator não era apenas uma pessoa que devia re- presentar um papel em determinada hora. Exigia-se dele um compromisso com o ato de ser ator. Um ato mais social, e também mais mítico. Eu acredito, até hoje, que o ator é um ser que propõe a si mesmo experi- mentar situações, problemas, conflitos. Ele é a grande cobaia. O ator tem uma missão guerrilheira na vida. O Teatro Experimental nunca teve dinheiro, nem nunca terá. Forja suas próprias formas de produção. Tudo is- so ficou bem entranhado comigo. Então, quando saí do teatro e fui conhecer o cinema, vi que o cinema também pede isso. Pede pes- soas generosas. Como é um trabalho alterna- tivo, precisa de pessoas alternativas também. Pessoas que têm necessidade desse tipo de trabalho como forma, talvez, até de se en- tender. Sou ator porque me entendo como ser humano através da minha vivência e do meu trabalho de ator. É o meu referencial no mundo. Então, sou um ator experimental ainda no cinema. Cada trabalho que eu faço, já é sabido, vou buscar uma cara nova, um comportamento novo, vou jogar minhas emoções dentro desse processo. Na TV eu também consegui isso. Há 3 anos que eu te- nho experiência na televisão, sempre em tra- balhos especiais. O primeiro foi um trabalho totalmente experimental, num momento em que a televisão queria caracterizar a interpre- tação e a narrativa de forma nova. Havia um núcleo chamado "Casos Especiais" que con- vidava grupos jovens que de alguma forma se destacaram no teatro. O objetivo era experi- mentar um produto novo, que agora está aí: o seriado nacional de TV. Talvez eu tenha ajudado a fecundar o lance. Então o meu projeto artístico, experimental, se enquadra tanto no teatro, quanto no cinema, como na TV..

O Trilho - Na TV existe muito aquela coisa de estereotipar, massificar a imagem do ator: o mocinho e o vilão. O Toni Ramos talvez tenha que fazer o "bom moço" a vida intei- ra. Você sentiu essa pressão na TV ou deu para romper com o estereótipo?

Anselmo - Acredito que eu tenha rompi- do. Faz parte da minha proposta exatamen- te não ser enquadrado como um tipo. Esse negócio da fixação da imagem de uma pes- soa carismática, conduzindo todos os ele- mentos ideológicos dessa trama, com o obje- tivo de vender produtos, existe desde o pós- guerra. Isso talvez tenha começado com o neo-realismo. O cinema estava na pior, não

tinha dinheiro para pagar a turma, então os diretores saíram pela rua descobrindo novos intérpretes. Na interpretação neo-realista, as próprias pessoas, os próprio tipos, represen- tam a si mesmos. Como toda filosofia, isso foi usado pelo capitalismo. Foi transforma- do em produto de consumo. Hoje a coisa é maniqueísta, tem sempre o bom, tem sem- pre o mal. É uma forma de manter^cesa to- da essa mitologia a respeito do comporta- mento, de como o homem deve ser. Aí as pessoas, de acordo com sua aparência, com aquilo que elas mais expressam, vão se en- quadrar nisso. Os artistas também. Agora, eu procuro, violentamente, romper com isso. Notadamente, meus personagens são violen- tos, marginais em todos os sentidos, porque isso é uma coisa que eu represento bem, co- nheço bem. É um tipo de estigma muito próprio. Mas eu sempre procuro tirar o ma- niqueísmo da coisa. Se pego um personagem violento para representar, minha preocupa- ção não é com a violência dele. Isso vai pin- tar no conjunto da obra. No meu trabalho, eu tento introduzir o outro lado do persona- gem. O cara é violento em uma situação, na outra ele não é. Eu sei que o veiculo televi- são procura estereotipar, marcar. Se houver muita nuance, complica a cabeça das pes- soas. Eu luto contra isso e não é uma luta só minha. É exacerbadamente minha porque eu já cheguei a extremos diante disso. Já trans- formei meu cabelo de todas as formas possí- veis, minha cara muda constantemente. Eu ainda assumo a proposta do teatro experi- mental de 10 anos atrás, continuo desenvol- vendo aquela temática. Quase como um his- toriador. Talvez no futuro eu possa discutir com as pessoas interessadas o que foi a tra- jetória do chamado trabalho de arte experi- mental. Por enquanto eu faço vanguarda porque acho que ainda é uma coisa charmo- sa.

O Trilho - Pelo menos,'é mais estimulante, mais bonito, procurar, aventurar, do que aceitar comodamente o que já existe.

Anselmo - Me satisfaz muito isso. Mé dá ■ um instrumento e um "status" qufe me pro- picia trabalhar dentro disso. A TV, quando me chama, sabe que eu vou discutir até o próprio trabalho que estou fazendo. De uma forma cada vez mais profissional, mas hábil, que é a generosidade. Eu faço tudo isso por generosidade. Eu chego e me dou. Seja na televisão, no teatro ou no cinema, de uma forma ampla.

O Trilho - Você já foi premiado duas ve- zes por um filme que nem sequer entrou no circuito de exibição. Conta aí essa história.

Anselmo - Esse filme é primo-irmão de vá- rios outros que estão na prateleira da Em- brafilme. Ela tem uma política de financiar ou coproduzir o cinema brasileiro. Não só pelo cunho comercial como também pelo cunho artístico e cultural. Existem vários projetos financiados pela Embrafilme que não têm uma resposta comercial. Isso já é sa- bido de antemão. A filosofia empresarial da Embrafilme é uma coisa e a filosofia cultu- ral, vamos dizer assim, é outra. Ela sofre pressões culturais porque as pessoas vão lá e instigam a produção de obras de arte. Então, esse filme que eu fiz é um piloto de série, para a TV. Chama-se "João Jucá Júnior, Um detetive Carioca". Como a série para a TV não foi concretizada, o filme virou um longa metragem. É uma comédia infanto-ju- venil. Na TV, seria um programa para passar de tarde e pegar a rapaziada que sai do co- légio. O filme não encontra distribuição por- que essa área infanto-juvenil está dominada por duas ou três pessoas, muito poderosas, que têm, articulação no esquema de distri- buição. E a Embrafilme não pode, não con- segue ficar brigando para que esses filmes entrem em cartaz. O filme que eu fiz não es- tá censurado, não tem problema nenhum. Só não entra em cartaz.

O Trilho - Provavelmente a Embrafilme se empenhe mais pelos fumes que vão ter uma resposta comercial...

Anselmo - Porque todo mundo acredita que, para dar dinheiro, tem de ser tipo "Os Trapalhões" ou coisa parecida. Mas o grosso mesmo são esses filmes estrangeiros, de luta interplanetária ou esses do Walt Disney, es- ses que passam as férias e levam a grana da gente. Quem determina a jogada, mesmo, é o exibidor. E os exibidores não querem o fil- me de detetive que eu fiz. Então, o que a Embrafilme deve e está tentando fazer, é , criar um sistema de exibição. O meu filme passou no Festival de São Paulo e eu ganhei o prêmio de melhor ator coadjuvante e tam- bém um prêmio de destaque em Recife.

O Trilho - E o travesti Eloína, que você in- terpretou no filme "República dos Assassi- nos", que deu muito o que falar?

Anselmo - De repente, toda a imprensa es- tava aqui na minha casa, querendo saber se eu era bicha ou não. É mais uma faceta des- sa história de que a gente é tipo. A maioria sabia que se tratava de um ator, mas a pró- pria discussão disso é que é interessante, eu curti muito. Dentro do trabalho, eu vivi du- rante muito tempo um comportamento dife- rente: o de um travesti. Eu não vivi um tra- vesti, porque o travesti é uma coisa que eu ainda náo consegui esgotar como ser huma- no. Outro dia eu abri o Jornal do Brasil e o_ crítico de teatro Yan Michalsky dizia que ra- ros são os bons atores brasileiros que não têm no seu currículo uma gloriosa interpre- tação de um homossexual. Outra coisa: no carnaval, muita gente assume o travesti. Me parece que é até uma característica desta terra, essa coisa das pessoas quererem perder suas identidades. País tropical, do carnaval. Tudo isso são festas. Descobri também que, apesar de estar representando uma coisa muito feminina, diferente do que a masculi- nidade causa, esse personagem me deu as- sim, não sei, um "appeal", um estímulo, uma sensualidade que tocou muito as pes- soas. Eu nunca fui agredido por ter feito es- se personagem. Pelo contrário, sempre sou extremamente acariciado por ter feito isso. As mulheres, então, é impressionante. Elas ficaram cúmplices dessa liberação. Acho que elas reconhecem que é uma liberação, elas se sentem menos ameaçadas por essa coisa tão viril que é o homem brasileiro.. .

O Trilho - Acho que no exterior, existe o mesmo desafio para os bons atores. No mí- nimo, se vestir de mulher numa comédia...

Anselmo - De repente, depois de "Repúbli- ca dos Assassinos", começou a pintar muito trabalho desse tipo. Surgiu a Salomé, do Chico Anísio, um personagem que faz suces- so. Aeora mesmo o Gracindo Júnior, que tem toda uma trajetória tipo galã-protago- nista, está fazendo grande sucesso represen- tando um cabeleireiro afeminado. Isso é uma coisa própria da origem do teatro. Hou- ve uma época em que só os homens podiam representar. Então eles faziam os papéis fe- mininos também. Foi um desafio. De qual- quer forma, o tipo de dignidade que eu in- terpretei dentro do homossexual, do traves- ti, desse tipo de marginal, está, cada vez mais, integrando-se na sociedade. Hoje exis- tem grupos de pressão que já chegam a ter grandes vedetes. No Rio de Janeiro, as coisas custam demais a acontecer. Você recebe in- formações de toda parte do mundo e vê que o comportamento das pessoas é cada vez mais tendenciosamente, revolucionariamen- te, no sentido da perda dessa identidade se- cular, que é: você é o macho, eu sou a fê- mea, eu sou isso, você é aquilo, eu sou bom, você é mau. Assim como existe, no micro cosmo, um ator chamado Anselmo Vascon- cellos, existe um grupo de atores que lutam para não serem um tipo, não terem uma identidade. E sim terem a possibilidade de criar uma identidade.

8 Jornal de Santa Tereza - N9 1 - abril de 1980 O Trilho

OS BONDES, NO RIO ANTIGO

Você sabia que o primeiro bonde a trafe- gar no mundo foi em 1832, em Nova Iorque, Estados Unidos, na base de tração animal numa linha que ia para o bairro de Harlem?

Aqui entre nós, brasileiros, o Rio de la- neiro foi o privilegiado, com o primeiro bon- de puxado a burros, numa manhã de domin- go, 30 de janeiro de 1859, pela Companhia de Carris de Ferro da Cidade à Boa Vista, na Tijuca.

Nessa primeira viagem, para experimen- tar a velocidade e segurança dos carros, en- tre a estação central na rua do Conde e o ponto terminal, o percurso foi feito em 45 minutos.

Atualmente, além de Santa Teresa, com um serviço regular (?) desse tipo de transpor- te, somente em São Francisco (Califórnia, EUA), ainda podem ser vistos os bondes.

Então não seria o caso de preservá-los, porque servem a cidades com características topográficas cheias de altos e baixos, como as ruas de São Francisco e do bairro de San- ta Teresa?

No dia 19 de setembro deste ano, a ele- trificação dos bondes de Santa Tereza com- pleta seu 849 aniversário e é muito triste a gente concluir que não há motivo nenhum para comemorações, devido ao completo a- bandono em que se encontram atualmente.

Naquele dia, no ano de 1896, após a ben- ção da estação, ao lado do edifício da Im- prensa Nacional, localizada atrás do chafariz (ambos demolidos), partiram sete bondes e- létricos, em substituição aos de tração animal, passando sobre os Arcos da Carioca, ligando o mono de Santa Teresa ao de Santo Antônio.

Muita gente com medo da travessia sobre os Arcos - a altura e de 18,16 metros - mas a maioria estava é curtindo mesmo, princi- palmente quando vários chapéus de palha voaram das cabeças dos homens. No percur- so, até o Largo do França, final da Unha ele- trificada, os moradores vinham até a janela de suas casas, ou mesmo nas ruas, para a- plaudir, ao ver o bonde passar.

COMISSÃO PRÓ-MELHORAMENTOS DE SANTA TERESA

Um abaixo-assinado com mais de três mil assinaturas para a melhoria dos transportes foi entregue à Prefeitura do Rio'na última terça-feira, oito de abril.

Foi entregue também, um relatório com todos os problemas de trans- porte do bairro. Espera-se uma'rápida solução da Prefeitura carioca e órgãos competentes.

MORADOR PARTICIPE DAS REUNIÕES DO SEU BAIRRO

QUINTAS-FEIRAS - 20 horas IGREJA MATRIZ - Rua Áurea, 71

COMERCIANTES DE SANTA TEREZA: ANUNCIEM NESTE JORNAL

SOCIEDADE DOS AMIGOS DE SANTA TEREZA

Erika Franciska Num dos antigos casarões de Santa Tere-

sa, na rua Joaquim Murtinho, 616, Edgar da Rocha "nascido e criado naquela casa há 63 anos", fala com orgulho da Sociedade dos Amigos de Santa Teresa, da qual é direfor- secretário. Registrada desde meados da déca- da de 50, embora já exista há muito tempo, a Sociedade de Amigos de Santa Teresa, na verdade, não é muito conhecida pela popula- ção do bairro e Edgar aponta a grande razão para isso: "nós da Sociedade evitamos de aparecer, não gostamos de publicidade, em- bora até hoje estejamos presentes em quase todos os movimentos que têm surgido no bairro. Aliás, muitas reivindicações que hoje estão sendo feitas^ já foram bandeiras da nossa Sociedade, como por exemplo, a liga- ção, por ônibus, de Laranjeiras ao Rio Com- prido".

Edgar da Rocha guarda em sua casa do- cumentos que faz questão de mostrar como prova da atuação da Sociedade dos Amigos de Santa Teresa, que hoje se restringe a uma diretoria, da qual o presidente de honra é Pascoal Carlos Magno. Só quando os proble- mas surgem, a Sociedade se reúne. Deveria, ao menos, se reunir no Conselho Comunitá- rio da qual é membro, mas este não se reú- 'ne, segundo Edgar, desde o primeiro gover- no do Sr. Chagas Freitas.

Edgar atribui á Sociedade dos Amigos de Santa Teresa - e mostra sempre os escritos -as obras de recuperação da Unha perma- nente dos bondes, que por sinal receberam críticas da Sociedade depois de concluídas; a construção da estação dos bondes na Ca- rioca. Segundo o diretor-secretário da Socie- dade dos Amigos de Santa Teresa, essa foi uma luta intensa, pois havia um projeto de se construir no local um edifício garagem da Petrobrás. Após uma série de negociações, o teneno foi doado à Petrobrás, desde que a garagem fosse subterrânea, como éhoje'.

Junto com a Sociedade dos Amigos do

Bondinho, a SAST lutou para que os bondes não fossem tirados do bairro. Edgar cita in- clusive o fato de que durante a administra- ção do General Milton Gonçalves, ex-secre- tário de Transportes e ex-diretor da CTC, nove bondes e sete reboques foram destruí- dos desnecessariamente, já que a CTC que- ria apenas manter os ônibus, alegando que os bondes eram obsoletos. "Tudo isso e mui- to mais - diz Edgar - nós fizemos sem fazer divulgação. Agora mesmo, estamos dando to- do nosso apoio àqueles que lutam pela rea- bertura à noite do Centro Cultural, na rua Monte Alegre. É muito importante que o Centro esteja aberto á noite, pois vários gru- pos do bairro precisam se reunir e não tem onde e, um exemplo disso é o movimento de melhoria de Santa Teresa e o próprio Lions". A propósito, o Lions foi fundado pela SAST e para Edgar o clube, no início, prestou grandes serviços a Santa Teresa. Mas, agora, com o passar dos anos, o Lions só pensa em convenções e na política do lionismo como um todo e por isso o próprio Edgar se afas- tou do clube, reconhecendo, no entanto, que até hoje o Lions tem colaborado com a SAST. ,

O ex-professor de matemática do Estado e engenheiro faz questão de dizer que é hora

' de os jovens continuarem a lutar pelas me- lhorias do bairro, pois sempre terão o apoio da SAST podendo, é claro, ter divergências de opinião, como no caso das cooperativas que a SAST acha que devem ser organizadas por ruas e naô pelo bairro como um todo. De qualquer forma Edgar da Rocha é de opi- nião que o movimento de melhoria de Santa Teresa deve ser registrar como associação de bairro para até, quem sabe, suceder à SAST, pois "toda instituição deve-se renovar e não se perpetuar. Mesmo o nome deve ser modi- ficado. As instituições devem ser como as ge- rações, sucederem umas às outras, com exce- ção, é claro, das instituições religiosas".

FOTOPOEMA lize Torok

Pra que esgotos escorrem/ os imaculados pensamentos/ de inovação? De lua, emoção/Pra que lado se abrem/que portas?/Que outras?

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