Poesia e Biodanza | Por Denizis Henriques Assis Trindade
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FACILITADORA: DENIZIS HENRIQUES ASSIS TRINDADE
ORIENTADOR: ANTÔNIO SARPE
AGRADECIMENTOS
à Maria Adela Irigoyen, minha mestra,
e aos grupos do Estácio, de Copacabana,
do Espaço Lilás (facilitados por Maria Adela),
de Formação da Escola de Biodanza do Rio de Janeiro,
ao meu grupo atual, (facilitado por Antonio Sarpe),
ao grupo de alunas do Teatro Glaucio Gill (facilitado por mim e Eliana Ribeiro),
e aos meus alunos do Núcleo 9 – Terapias Integradas
e do Espaço de Construção e da Cultura – Ação da Cidadania.
Aos poetas, à Poesia, à Biodanza,
e a todos aqueles que contribuíram para o meu crescimento.
SUMÁRIO
POESIA E BIODANZA 3
ONDE E COMO SURGIU A POESIA 6
OS POETAS NAS CINCO LINHAS DE VIVÊNCIA 13
OS POETAS E O MODELO TEÓRICO 29
QUANDO, COMO E ONDE SURGIU A BIODANZA 43
BIODANZA E CRIATIVIDADE 48
DEPOIMENTO SOBRE MEU CAMINHO PESSOAL 51
PRIMEIRA EXPERIÊNCIA – TEATRO GLÁUCIO GILL 52
SEGUNDA EXPERIÊNCIA – AÇÃO DA CIDADANIA 53
CONCLUSÃO 57
VÍDEO 59
BIBLIOGRAFIA 60
POESIA E BIODANZA
Escolhi este tema porque apesar de ser ligada ao movimento
poético interpretando poemas de outros poetas e ter sido conside-
rada a musa do II Encontro Internacional de Poesia, em Nova Prata,
eu não escrevia nada há muito tempo.
Quando entrei para a Biodanza, soube que seu criador era
poeta. E me aprofundando na teoria constatei que a linguagem era
poética, por isso me encantou.
Através das vivências, a poeta que estava adormecida em mim
despertou, renascendo como fênix, e passei a escrever. E mais,
muito mais do que isso, vi que a poesia além da escrita e da ora-
lidade é repleta de emoção e sentimento, ela está em cada olhar,
em cada gesto, em cada carícia de cada ser humano.
Rolando Toro diz que ―a Biodanza é a poética do encontro
humano. Que a poesia é o caminho direto entre a palavra e a vivên-
cia e talvez o mais profundo enigma de nossos vínculos; nosso misté-
rio, nossa inspiração. Sem poesia o homem não pode viver, porque
ela é o que dá o significado a cada coisa.‖
Sinto a Biodanza como um espaço mágico, único, onde reapren-
demos, através da vivência, a dançar nossa vida, e em cada ser eu
vejo um poema se fazendo, no universo do Encontro Humano.
E, aqui, eu exponho o meu amor pela Biodanza, porque nela
reencontrei a minha poeta. E me encontrei.
ONDE E QUANDO SURGIU A POESIA
Durante a feitura dessa monografia, entrevistei alguns poetas
consagrados, conhecedores profundos da matéria, sobre onde e
quando surgiu a Poesia. Aqui destaco suas teorias:
Para Leila Míccolis, a Poesia surgiu desde o instante em que
o homem conseguiu erguer o polegar, o que possibilitou seu andar
erecto atual e o início de sua linguagem gestual. Depois, ficou
desenhada/escrita nas paredes das cavernas, a cada nova e ousada
tentativa de comunicação evolutiva. Ampliando a abrangência,
passou para a aréa racional, e também intuitiva das alquímicas
experiências; e hoje habita em cada poro/byte/batida/pulsação
deste nosso intergaláctico coração.
O poeta Affonso Romano de Sant’Anna, em sua conferência,
inédita em livro, ―Canto e Palavra‖, narra como surgiu a Poesia:
Conta-se que Valmiki, o suposto autor do poema hindu ―Ramayana‖, estava contemplando dois airões se amando quando um caçador, com flecha certeira, matou um deles, enquanto o outro se agitava voando e lançando gritos de dor. ―Vivamente comovido, Valmiki deu expressão aos sentimentos de simpatia pelas aves e a irritação contra o caçador, em palavras que logo assumiram, com grande surpresa sua, medida rítmica, que as tornou cantáveis ao som de instrumento músico. Brahma,, o criador de tudo, desceu a visitar o sábio em seu eremitério, mas o pensamento deste de tal modo estava ocupado pelo drama dos airões, que inconscientemente lhe saíram dos lábios as frases rítmicas que ele lhe suscitara. Brahma, sorrindo, revelou ao eremita que os versos lhe tinham vindo aos lábios, para que na medida deles se resolvesse a compor a história de Rama, que hesitava em escrever.
Nei Leandro de Castro diz que segundo Octavio Paz, a poesia
nasce quando as palavras se encontram pela primeira vez. Imagino,
há milhares e milhares de anos, o primeiro encontro harmonioso de
palavras, numa primeira sedução semântica, num primeiro jogo
amoroso, num primeiro poema.
Já para Reynaldo Valinho Alvarez, a Poesia surgiu quando os
homens se reuniam em torno das fogueiras para celebrar o êxito da
caça e da pesca e partiam para uma modulação de voz, um tema
musical, e aí sílabas eram entoadas e os sons e os fonemas que eram
emitidos já eram um princípio de poesia, uma poesia elementar é o
que penso.
Há uma versão de que começou na India a milhares de anos.
Mas são culturas que já escreviam. Nas culturas anteriores, nas
culturas agrafas já havia poesia. E sua poesia está documentada.
No princípio de tudo havia um som não audível (akâska, círculo
zero) que produziu o primeiro e o segundo sons físicos: Ré bemol e
Ré bemol maior (círculos I e II), que foram os primeiros sons
audíveis e a sua oitava superior (4) a palavra surgiria na altura do
quarto ciclo desencadeando o mundo concreto. Aí, como ocorre no
mundo mítico, onde a expressão ―Abre-te Sésamo‖ coisifica um ato,
a palavra é a própria coisa do que fala. Falar é agir, acontecer,
criar. Affonso Romano de Sant’Anna
Philadelfio Menezes nos fala em seu artigo sobre ―A
Oralidade da Poesia‖:
O papel da voz na construção poética, segundo Paul Valéry,
deixa deslizar uma concepção de ―poesia pura‖ que, sendo a
―hesitação entre o som e o sentido‖, nos coloca a questão do vácuo
entre a matéria-prima, voz e o produto, texto escrito.
Se a poesia é a arte das palavras e se palavras são sons, ou
seja, é no som que se encontra o sentido da palavra, está claro que
a escrita da poesia serve para desenhar na página os traços
sonoros, como numa pauta de música, onde a letra morta ganhará
vida sob a batuta do leitor.
A tradição oral, em termos materiais e essenciais, resume-se
em som, respiração, ritmo, pausas e emoção tomando corpo a cada
vez que uma voz se articula numa narrativa.
Lendo as considerações de Valéry sobre a poesia, como
apresentá-la ao público, fornecendo-lhe a chave da leitura,
encontramos a principal tese de Paul Zumthor: o papel da voz, é a
aliança da poesia com a magia estabelecida pelo poder evocatório da
palavra, ou seja, a presença do corpo e da pulsação vital, garantida
pela voz.
Fazer poesia é instigar uma voz.
Durante séculos poetas consagrados definiram, cada um a seu
modo, o que seria a Poesia.
O poeta paranaense Paulo Leminski (1944-1989) compilou as
definições que se seguem em um poema feito de citações ―Limites
ao Léu‖ no livro La Vie Em Close.
words set to music (Dante via Pound)
uma viagem ao desconhecido (Maiakóvski)
cernes e medulas (Ezra Pound)
a fala do infalável (Goethe)
linguagem voltada para a sua própria materialidade (Jákobson)
permanente hesitação entre som e sentido (Paul Valéry)
fundação do ser mediante a palavra (Heidegger)
a religião original da humanidade (Novalis)
as melhores palavras na melhor ordem ( Coleridge)
emoção relembrada na tranquilidade (Wodsworth)
ciência e paixão (Alfred de Vigny)
se faz com palavras, não com idéias (Mallarmé)
música que se faz com idéias (Ricardo Reis- FP)
um fingimento deveras (Fernando Pessoa ele mesmo)
cristicism of life (Mathew Arnold)
palavra coisa (Sartre)
linguagem em estado de pureza selvagem (Octavio Paz)
poetry is to inspire (Bob Dylan)
design de linguagem (Décio Pignatari)
lo imposible hecho posible (Garcia Lorca)
aquilo que se perde na tradução (Robert Frost)
a liberdade da minha linguagem (Paulo Leminski)
Para Rolando Toro no nível símbólico os poetas são os
terapeutas da espécie humana, os visionários plenos de lucidez,
suscitando através da linguagem verbal, o processo de liberação e
conjuro do caos.
OS POETAS NAS CINCO LINHAS DE VIVÊNCIA
Aqui eu exponho Os Poetas nas Cinco Linhas de Vivência,
conforme Rolando Toro.
Destaco um poeta de cada linha, transcrevo seu poema, sua
biografia ou escola a que pertencia e acrescento poemas atuais que
se encaixam nas mesmas linhas de vivência.
E Rolando Toro afirma que a distribuição dos poetas é apenas
aproximativa pois os grandes criadores integram todas as linhas de
vivência.
V I T A L I D A D E
Vitalidade — instinto de conservação. Está associada à saúde, ao
equilíbrio, ao ímpeto de viver à alegria. Ter vitalidade existencial = expressar
nosso SER no mundo.
Poetas da Linha da Vitalidade: Walt Whitman, Pablo de Rocka e Saint
John Perse
Veja a vida.
Não há tempo a perder.
É preciso viver agora!
Não se pode deixar o amor para depois.
O tempo passa e não há forma de segurá-lo
- CARPE DIEM –
colha o dia como quem colhe um fruto delicioso,
pois esse fruto é a dádiva de Deus.
Walt Whitman
Walt Whitman era um poeta beat.
Beats: o primeiro grande movimento pós-modernista.
Os Beat foram inovadores, em primeira instância, por não serem meros
repetidores dos autores que eles apreciavam e com os quais se identificavam,
mas sim por terem criado uma literatura oral, que incorporava a fala de seu
tempo, e que explorava ao máximo as possibilidades dessa fala na produção do
ritmo e da musicalidade do texto, além dessa literatura tratar de temas
contemporâneos, numa linguagem contemporânea, e de corresponder a uma
nova relação entre o poeta e a sociedade.
Os poetas beats encaram o corpo humano, como um objeto de arte. E o
percurso desse objeto de arte pela história pessoal de cada um é um recurso
artístico. Um escritor beat diria: a vida é coisa artística.
V I T A L I D A D E
V I T A L I D A D E
S E X U A L I D A D E
Sexualidade — instinto sexual (perpetuação da espécie). Está associada
ao conceito de Eros (tudo que une e que vincula com a vida). Tânatos (é a
potência que separa; ruptura do vínculo). Eros e Tânatos fazem parte do
processo contínuo da criação e transformação da vida. É a ressacralização do
amor.
Poetas da Linha da Sexualidade: William Burroughs, D.H.Lawrence,
Pierre Louys, Violette Ledouc
Um paranóico é alguém que tem uma vaga noção do que está acontecendo.
William Burroughs
William Burroughs também era poeta beat, o mais escatológico e maluco
de todos os beats.
SEDUÇÃO à Denizis
que barato é encontrar-te frente a frente
ser levado a te levar pra cama
e ver-te nua assim tão de repente
a me encarar tão fundo e desnudar tão lento
que entregues um ao outro tão completamente
até nos perdermos entre os lençóis e as nuvens
e em nossas trocas de abraçosbeijossensações
já nem sabemos mais onde começas tu
onde me acabo eu e nos fundimos nós...
que vertigem que viagem que desbunde
quando meu corpo com teu corpo se confunde...
Cairo de Assis Trindade S E X U A L I D A D E
PAIXÃO EM FOGO
tua pele, teu cheiro, teu toque
me fazem arder em chamas
me incendeiam na cama
e eu — igual a um vulcão —
explodindo de prazer
entro em erupção
Denizis Trindade
RESPOSTA DE COMPUTADOR
homem com mulher
mulher com homem
homem com homem
mulher com mulher
homem com mulher e homem
mulher com homem e mulher
sexo não tem sexo
é quem gosta
com quem quer
Bráulio Tavares
S E X U A L I D A D E
C R I A T I V I D A D E
Criatividade – instinto exploratório. Está associada à nossa capacidade
de sentir profundamente que tudo está em transformação. É o impulso de
estabelecer novas e variadas relações com o mundo, transformar o meio
ambiente, inovar a própria existência.
Poetas da linha da Criatividade: Sthephane Mallarmé, Edith Sitwell,
Ludwig Zeller, André Breton, Vielimir
Khlébnikov.
Um lance de dados jamais abolirá o acaso.
Sthephane Mallarmé
Sthephane Mallarmé era um poeta simbolista.
O simbolismo ―descobriu algo que ainda não havia sido conhecido ou
enfatizado antes: ―A POESIA PURA‖, a poesia que surge do espírito irracional,
não conceitual da linguagem, oposto a toda a interpretação lógica‖.
Mallarmé: a poesia não descritiva, nem narrativa, mas sugestiva, tomada
a palavra sobretudo no seu valor musical; valorização da imagem; a matéria do
poema é uma noção abstrata, emotiva ou intelectual. O verso ―de vários
vocábulos faz uma palavra total, nova, alheia à língua e como encantatória‖. ―O
real é vil: é a cinza do charuto, que se deixa cair para ele arder melhor, imagem
de uma poesia leve e imaterial‖.
C R I A T I V I D A D E
A F E T I V I D A D E
Afetividade – instinto gregário. Está associada à expressão do afeto, no
sentido de conexão com a espécie humana. Ser afetivo é ser solidário. Essa
linha possibilita a formação de vínculo, da confiança e da entrega. Permite
expressar ternura e amor; sentimentos que fazem parte da nossa estrutura
existencial.
Poetas da Linha da Afectividade: Gabriela Mistral, Pablo Neruda e Pedro
Tierra
Saberás que não te amo e que te amo
posto que de dois modos é a vida,
a palavra é uma asa do silêncio,
o fogo tem uma metade de frio.
Eu te amo para começar a amar-te,
para recomeçar o infinito
e para não deixar de amar-te nunca:
por isso não te amo todavia.
Te amo e não te amo como se tivesse
em minhas mãos as chaves da fortuna
e um incerto destino desditoso.
Meu amor tem duas vidas para amar-te.
Por isso te amo quando não te amo
e por isso te amo quando te amo.
Pablo Neruda
Pablo Neruda, foi sem dúvida uma das vozes mais altas da poesia mundial
do nosso tempo. Em 1971 obteve o Prêmio Nobel.
A F E T I V I D A D E