poemas

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Escrevias pela noite fora Escrevias pela noite fora. Olhavate, olhava o que ia ficando nas pausas entre cada sorriso. Por ti mudei a razão das coisas, faz de conta que não sei as coisas que não queres que saiba, acabei por te pensar com crianças à volta. Agora há prédios onde havia laranjeiras e romãs no chão e as palavras nem o sabem dizer, apenas apontam a rua que foi comum, o quarto estreito. Um livro é suficiente neste passeio. Quando não escreves estás a ler e ao lado das árvores o silêncio é maior. Decerto te digo o que penso baixando a cabeça e tu respondes sempre com a cabeça inclinada e o fumo suspenso no ar. As verdades nunca se disseram. Queria prenderte, tornar a perderte, acharte assim por acaso no meu dia livre a meio da semana. Mantêmse as causas iguais das pequenas alegrias, longe da alegria, a rotina dos sorrisos vem de nenhum vício. Este abandono custa. Porque estou contigo e me deixas a tua imagem passa pelas noites sem sono, está aqui a cadeira em que te sentaste a escrever lendo. Pudesse eu proporte vida menos igual, outras iguais obrigações. Havias de rir, sair à rua, comprar o jornal. Helder Moura Pereira Estranho é o sono que não te devolve. Como é estrangeiro o sossego de quem não espera recado. Essa sombra como é a alma de quem já só por dentro se ilumina e surpreende e por fora é apenas peso de ser tarde.Como é amargo não poder guardarte em chão mais próximo do coração. Daniel Faria 34 Não há mais sublime sedução do que saber esperar alguém. Compor o corpo, os objectos em sua função, sejam eles A boca, os olhos, ou os lábios. Treinarse a respirar Florescentemente. Sorrir pelo ângulo da malícia. Aspergir de solução libidinal os corredores e a porta. Velar as janelas com um suspiro próprio. Conceder Às cortinas o dom de sombrear. Pegar então num Objecto contundente e amaciálo com a cor. Rasgar Num livro uma página estrategicamente aberta. Entregarse a espaços vacilantes. Ficar na dureza Firme. Conter. Arrancar ao meu sexo de ler a palavra Que te quer. Soprála para dentro de ti até que a dor alegre recomece. Maria Gabriela Llansol

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  • Escrevias pela noite fora Escrevias pela noite fora. Olhava-te, olhava o que ia ficando nas pausas entre cada sorriso. Por ti mudei a razo das coisas, faz de conta que no sei as coisas que no queres que saiba, acabei por te pensar com crianas volta. Agora h prdios onde havia laranjeiras e roms no cho e as palavras nem o sabem dizer, apenas apontam a rua que foi comum, o quarto estreito. Um livro suficiente neste passeio. Quando no escreves ests a ler e ao lado das rvores o silncio maior. Decerto te digo o que penso baixando a cabea e tu respondes sempre com a cabea inclinada e o fumo suspenso no ar. As verdades nunca se disseram. Queria prender-te, tornar a perder-te, achar-te assim por acaso no meu dia livre a meio da semana. Mantm-se as causas iguais das pequenas alegrias, longe da alegria, a rotina dos sorrisos vem de nenhum vcio. Este abandono custa. Porque estou contigo e me deixas a tua imagem passa pelas noites sem sono, est aqui a cadeira em que te sentaste a escrever lendo. Pudesse eu propor-te vida menos igual, outras iguais obrigaes. Havias de rir, sair rua, comprar o jornal. Helder Moura Pereira Estranho o sono que no te devolve. Como estrangeiro o sossego de quem no espera recado. Essa sombra como a alma de quem j s por dentro se ilumina e surpreende e por fora apenas peso de ser tarde.Como amargo no poder guardar-te em cho mais prximo do corao. Daniel Faria 34 No h mais sublime seduo do que saber esperar algum. Compor o corpo, os objectos em sua funo, sejam eles A boca, os olhos, ou os lbios. Treinar-se a respirar Florescentemente. Sorrir pelo ngulo da malcia. Aspergir de soluo libidinal os corredores e a porta. Velar as janelas com um suspiro prprio. Conceder s cortinas o dom de sombrear. Pegar ento num Objecto contundente e amaci-lo com a cor. Rasgar Num livro uma pgina estrategicamente aberta. Entregar-se a espaos vacilantes. Ficar na dureza Firme. Conter. Arrancar ao meu sexo de ler a palavra Que te quer. Sopr-la para dentro de ti ------------------- ----------------------------- at que a dor alegre recomece. Maria Gabriela Llansol