Pólipos endometriais: Quando ressecar? · principalmente em mulheres assintomáticas e na...
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Pólipos endometriais:
Quando ressecar?
FRANCISCO EDUARDO PROTA
DEPARTAMENTO DE GINECOLOGIA E OBSTETRICIA
FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS
Este documento reflete
emergentes avanços clínicos e
científicos até a data emitida e
está sujeito
a alterações.
As informações não devem ser
interpretadas como normas de
tratamento ou procedimento a
serem seguidas de forma
indiscriminada, mas como
recomendações para as boas
práticas em GO frente a temas
controversos, devendo se
considerar,
em cada caso, todas as variáveis
envolvidas.
Revisor: Prof. Lucia Costa Paiva/UNICAMP
Consultores: Prof. Ilza Monteiro; Prof. Francisco Prota;
Dr. Armando Antunes Júnior; Dra. Daniela Yela Gomes
Diagnóstico e Tratamento
dos pólipos endometriais:
recomendações clinicas
Uso crescente de ultra-sonografia pélvica transvaginal
Maior número de pólipos endometriais diagnosticados
Rotineiramente removidos por histeroscopia cirúrgica.
Não há consenso com respeito à indicação de polipectomia,
principalmente em mulheres assintomáticas e na pré-menopausa.
Alto custo, os riscos cirúrgicos, necessidade de um profissional
treinado e não facilmente disponível na rede pública de saúde.
MAGNITUDE DO PROBLEMA
Avaliar os métodos diagnósticos e a eficácia do
tratamento dos pólipos endometriais para afastar
malignidade, melhorar o sintoma de sangramento e
a infertilidade.
OBJETIVOS DA REVISÃO
Busca bases eletrônicas: MEDLINE, EMBASE, The Cochrane Library
e Scielo publicados em inglês ou português até Julho de 2012. A lista
de referências bibliográficas dos artigos revisados também foi
pesquisada. Priorizou-se evidências obtidas de estudos bem
desenhados e controlados, estudos de revisões sistemáticas e meta-
análises ou de maior casuística.
Palavras chaves : endometrial polyps, combinados com
hysteroscopy, malignancy, abnormal bleeding, Infertility,
Postmenopause, polypectomy, endometrial polyps treatment;
management endometrial polyps.
MÉTODOS
Estratégias para identificação dos estudos
Crescimento de tecido endometrial localizado,
pediculado ou séssil, único ou múltiplo, contendo
distribuição irregular das glândulas endometriais,
com hipercelularidade do estroma e espessamento
da parede dos vasos, recoberto por epitélio pseudo-
estratificado ou plano.
Peterson, 1956; Kim, 2004
DEFINIÇÃO
Histologicamente o arranjo paralelo das glândulas do endométrio
ao longo do eixo do epitélio superficial é uma característica
histológica de pólipos endometriais. Kim, 2004
MICROSCOPIA : PÓLIPOS
Prevalência geral : 7,8 % a 34,9 % das mulheres.
Na pós-menopausa, 56% das mulheres com polipos podem
apresentar sangramento pós-menopausa.
Na premenopausa , 10% a 40% das mulheres que sofrem de
sangramento causando menorragia, menstruações irregulares,
sangramento pós-coito, ou sangramento intermenstrual.
Podem ser diagnosticados em 1 a 12% das mulheres
assintomáticas.
PREVALÊNCIA E SINTOMATOLOGIA
Dresleir, 2009; Anastasiadis, 2000; Lieng, 2010
Estudo populacional (1660 randomizadas): prevalência de pólipos de acordo com idade, estado menopausal , uso de TH ou ACO.
Dresleir et al. Ultrasound Obstet Gynecol. 2009;33: 102–108.
N=amostra populacional, randomização de 1660 , N= 619 , idade 20-74. Prevalência de 7,8%
0,9 %
5,8% 11,8%
2%
25%
Pólipos endometriais malignos
Revisão sistemática Lee et al., 2010
Autor Ano País Pacientes Malignos
Anastasiadis 1999 Grécia 126 8,0%
Rahimi 2009 Itália 694 7,7%
Ben-Aire 2003 Israel 420 6,4%
Dreisler 2008 Dinamarca 48 6,2%
Baiocchi 2009 Itália 1242 4,8%
Domingues 2009 Portugal 481 4,5%
Savelli 2003 Itália 509 3,9%
Antunes 2007 Brasil 475 3,9%
Ferrazi 2009 Itália 1922 3,3%
Martinez 2004 Espanha 1822 0,8%
Total= 10,572 mulheres (377 malignos) 5,42% na pós-menopausa e 1,7% na premenopausa
FATORES DE RISCO PARA MALIGNIDADE
Idade avançada
Sangramento anormal
Estado menopausal e uso da TH
Comorbidades: HAS, DM, Obesidade
Tamoxifeno (STAR)
Tamanho
Runowicz et, 2011, Cohen, 2004; Oguz, 2004; Perrone, 2002
Revisão Cochrane: Riscos de atipia e malignidade de pólipos
20 estudos n=9266 casos 3,1%
Lieng, 2010
Diâmetro do pólipo e risco de malignidade em mulheres
assintomáticas e sintomáticas: estudo multicêntrico
Diâ
met
ro e
m m
m
Ferrazzi, el. 2009
N= 1152 assintomáticas N= 770 sintomáticas,
medida por histerossonografia ou histeroscopia
870 mulheres
4,1% pré-maligno/maligno
IDADE ≥ 60 SANGRAMENTO PÓS-
MENOPAUSA
1,05 (1,01-1,09) 3,67 (1,69-7,97)
Risk of malignancy in endometrial polyps in premenopausal
and postmenopausal women according to clinicopathologic
characteristics Costa-Paiva l; Godoy CE; Antunes A Jr; Caseiro, JD, Arthuso M; Pinto-Neto AM
2011 Sep 15
Lieng, 2010; Hinckley, 2004; Preutthipan, 2003; Perez-Medina, 2005.
Pólipos endometriais e Infertilidade
Alta prevalência em mulheres
programadas para FIV (32%) (Hinckley, 2004)
Infertilidade primária: 3,8 a 38,5%
Infertilidade secundária: 1,8% a 17%
Revisões: maioria estudos não
controlados e retrospectivos
Taxa de gravidez após polipectomia histeroscópica em mulheres inférteis
Polipectomia Controles
Gravidez % n=101 n=103 P valor
SIM 63,% 28,2% <0.001
Não 36,6% 71,8%
Ensaio randomizado, N=215 mulheres , 24 meses em tratamento infertilidade com IIU65% de gravidez espontânea
Perez-Medina et al., 2005
Pólipos endometriais e Infertilidade
Apesar dos bons resultados da polipectomia sobre as
taxas de gravidez, são baseados em estudos
observacionais ou serie de casos. A relação causal
entre pólipo endometrial e infertilidade parece ter sido
confirmada baseada em apenas em um estudo
randomizado.
Bosteels, et al. 2010
MÉTODOS DIAGNÓSTICOS
Ultra-sonografia Transvaginal (USTV)
Histerossonografia
USTV tridimensional- 3D
Dilatação e curetagem uterina
Histeroscopia diagnóstica e cirúrgica
MÉTODOS DIAGNÓSTICOS
Ultra-sonografia Transvaginal (USTV)
Variação da acurácia pela falta de evidencias nível I
Único grande estudo prospectivo :
N=793 mulheres com SUA, prospectivo por 5 anos
Sensibilidade de 86%, Especificidade de 94%,
VPP de 91% e VPN de 90% comparado a histeroscopia.
Investigação inicial do SUA e das alterações uterinas
USTV deve preferencialmente ser realizado na fase folicular.
(Vercellini et al. 1997)
Ultra-sonografia Transvaginal Histerossonografia
3 técnicas tem sensibilidades superiores a 90% para pólipo endometrial
MÉTODOS DIAGNÓSTICOS
Doppler transvaginal
Doppler melhora visualização vascular , dados limitados
sobre capacidade de diferenciar malignidade nos pólipos.
Sensibilidade de 89% e especificidade de 87%
Padrão multivascular do câncer endometrial Padrão vascular único do pólipo endometrial
Dilatação e curetagem uterina
Biópsia às cegas através da curetagem uterina não é apropriada para o diagnóstico. (Svirsky, 2008)
Remoção incompleta em cerca de 50% dos casos (Bettocchi, 2001)
Curetagem podem fragmentar o pólipo e dificultar o diagnóstico histológico.
Referenciar paciente para tratamento histeroscópico.
Histeroscopia diagnóstica e cirúrgica
MÉTODOS DIAGNÓSTICOS
Histeroscopia diagnóstica isolada permite avaliação subjetiva do tamanho, localização e características da lesão
A histeroscopia com exerese da lesão é o padrão ouro para o diagnóstico de pólipo endometrial.
Visualização direta e remoção simultânea
Procedimento ambulatorial: habilidade do cirurgião, equipamento, escolha da paciente.
Utilizar ópticas de 2,7 a 2,9 mm na pós-menopausa.
Diretrizes para o diagnóstico de pólipo endometrial (Advancing Minimally Invasive Worldwide , 2012)
1. USTV fornece informação confiável para a detecção de pólipo endometrial e deve ser o método de escolha para investigação quando disponível (Nível B).
2. A adição do Doppler aumenta a capacidade do USTV para diagnosticar pólipos endometriais (Nível B).
3. A utilização de contraste intra-uterina na histerossonografia (com ou sem imagens 3-D), melhora a capacidade diagnóstica de pólipo endometrial (Nível B).
4. Dilatação e curetagem ou biópsia as cegas não deve ser usado para o diagnóstico de pólipo endometrial (Nível B).
5. Histeroscópica com retirada da lesão continua sendo o padrão ouro para o diagnostico e tratamento (Nível B).
Tratamento Conservador
Tratamento expectante, sem intervenção.
Conhecimento sobre a evolução dos pólipos endometriais sem tratamento é limitado.
2 estudos classe II , 27% dos pólipos endometriais assintomáticos regrediu espontaneamente durante um ano de acompanhamento.
Os pólipos < 10 mm tem maior chance de regredir.
Pacientes assintomáticas, sem fatores de risco.
Discutir riscos e benefícios com paciente e follow-up periódico rigoroso.
Lieng, 2010; Salim, 2011; AAGL; 2012; Steward, 2012
Opções terapêuticas
TratamentoHisteroscopia cirúrgica- Polipectomia
Tratamento ideal dos pólipos- padrão ouro, eficaz e seguro.
Remoção com ressectoscópio apresenta menor taxa de recorrência (15% com outras técnicas).
Taxa de sucesso do tratamento em relação ao sintoma ao redor de 75 a 100% .(Nível C)
Baixa taxa de complicações: 0,28% para histeroscopia diagnóstica e 0,4% para polipectomia- passagem pelo canal cervical, complicações da irrigação ou gasosa, infecções pós-operatória, experiência do cirurgião e tipo de equipamento.
Lieng, 2010; Nathani, 2006; Bradley, 2002.
Eficácia da Polipectomia vs observação sobre o sintoma de sangramento
Único Ensaio clinico n=150 mulheres premenopausa, 6 meses
Lieng, 2010
Opções cirúrgicas radicais
Tratamento
A HISTERECTOMIA é o tratamento definitivo para pólipos
endometriais.
Apesar de garantir não recorrência e afastar malignidade, os
riscos cirúrgicos, custos e implicações sobre a fertilidade são
fatores que requerem uma avaliação cuidadosa e discussão com
o paciente.
Em casos excepcionais quando existe indicação de
histerectomia, deve-se realizar uma avaliação histológica
endometrial prévia para afastar malignidade.
AAGL, 2011; Salim, 2012; Stewart, 2012
Diretrizes para a manejo de pólipos endometriais (Advancing Minimally Invasive Worldwide , 2012)
1.O tratamento conservador é razoável para pólipos pequenos e em mulheres assintomáticas (Nível A).
2.Polipectomia histeroscópica continua sendo o padrão ouro para o tratamento (Nível B).
3. Não parece haver diferenças nos resultados clínicos com as diferentes técnicas de polipectomia histeroscópica (Nível C).
4 Remoção para a avaliação histológica é apropriado em mulheres pós-menopausa com sintomas (Nível B).
5. Remoção histeroscópica é preferível à histerectomia devido à sua natureza menos invasiva, menor custo e menor risco para o paciente ( Nível C).
6. Em pacientes inférteis a polipectomia é recomendada para melhorar as taxas de gravidez espontânea ou de reprodução assistida (nível A).
Diagnóstico: pode ser feito com USTV, histerossonografia ouhisteroscopia diagnostica e/ou cirúrgica.
Mulheres pré-menopausa:
Assintomáticas: pode-se adotar uma conduta expectantenaquelas sem fatores de risco para malignidade. A remoçãopode ser realizada naquelas com: pólipos maiores de 15mm,pólipos múltiplos, e nas com infertilidade para melhorar astaxas de gravidez.
Sintomáticas: a polipectomia é recomendada. O resultado dapolipectomia parece melhorar principalmente o sangramentointermenstrual, entretanto naquelas com sangramentomenstrual muito abundante pode não ser suficiente pararesolução completa do sintoma.
Conclusões e recomendações finais
Mulheres pós-menopausa:
Assintomáticas: o tratamento deve ser individualizado em funçãodo tamanho do pólipo, presença de fatores de risco paramalignidade, estado geral e preocupações da paciente emrelação à malignidade.
Quando a conduta expectante for adotada, deve-se realizar um rigoroso acompanhamento destas pacientes.
Na presença de pólipos de maior tamanho ou de outros indicadores de risco para malignidade, como o uso de tamoxifeno ou obesidade, a polipectomia histeroscópica deve ser realizada.
Sintomáticas: apresentam maior risco de malignidade e os póliposdevem ser removidos para tratamento e para excluirmalignidade.
Conclusões e recomendações finais