PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO PARTICIPATIVO: UM ESTUDO DE...
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PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO
PARTICIPATIVO: UM ESTUDO DE
CASO NO GRUPO MUSICAL ACORDE
Sandra Rufino Santos (UFRN )
Barbara Lorena Macedo de Oliveira (UFRN )
Felipe Ayala Alves de Souza (UFRN )
Rodolfo Luis Almeida de Paiva Dantas (UFRN )
Victor Francisco Sabino Araujo Lima (UFRN )
O Planejamento Estratégico Participativo é a etapa que norteia, em
conjunto, o desenvolvimento de uma organização com a participação
todos os seus membros ou por representação, com vistas à criação de
uma estratégia geral que fortaleça a organização. No caso de coletivos
culturais não é diferente. Existe demanda de estratégias, objetivos e
linhas de ações para que grupos dessa natureza possam se estruturar e
se adaptar ao meio em que estão inseridos, tomando as medidas
pertinentes: organizando seu cronograma de apresentações, ensaios,
logística de cenários, viagens, equipamentos, entre outras decisões. O
objetivo desse artigo é descrever a metodologia, desafios, dificuldades
e resultados iniciais da implantação de um planejamento estratégico
participativo realizado em um grupo musical de Natal/RN - o Grupo
Acorde - existente há 17 anos e que nunca havia vivenciado uma
experiência nesse sentido. A metodologia de estudo implicou na
realização de revisão bibliográfica e da implementação do
planejamento com a ferramenta “mapas mentais”. Com a aplicação
das ferramentas de Engenharia de Produção, diagnosticou-se os
entraves e desafios para um melhor desempenho do grupo musical.
Durante a aplicação da metodologia pode-se perceber resultados
iniciais significativos de reestruturação de estratégias, melhor
elaboração da identidade grupal, estabelecimento de novas condutas e
mecanismos organizativos, que os autores pretendem sistematizar para
que possa ser multiplicado para outras organizações culturais.
Palavras-chaves: Planejamento Estratégico Participativo, Gestão e
Produção Cultural, Grupo Musical
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
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1. Introdução
Desde os primórdios os seres humanos realizam projetos e planos no sentido de buscar
estratégias de sobrevivência, ou seja, formas de se preparar para o futuro. Primeiramente os
projetos estavam vinculados à necessidade de organização visando à sobrevivência, além de
estratégias para proteção das intempéries do tempo. Com o surgimento das organizações
sociais, empresariais ou públicas, o planejamento é instituído com vista a organizar meios
para o crescimento, desenvolvimento e mesmo sobrevivência às diversas oportunidades e
ameaças externas.
Atualmente, com mudanças substanciais no seu modo de organização, com a reestruturação
produtiva, com modos de gestão do trabalho que se alteram, com relações de trabalho
flexíveis, um mundo em constante movimento, o planejamento é mais do que necessário à
manutenção das diferentes organizações. Este planejamento tem se mostrado o método mais
eficiente para enfrentar a competitividade existente, bem como a influência de variáveis
sociais, econômicas, políticas e legais que imprimem situações delicadas às instituições.
A mudança organizacional significa um processo amplo que envolve aspectos culturais,
gerenciais, estratégicos, e tantos outros. Portanto, estamos falando de uma mudança
substantiva, de um processo onde a organização é o principal sujeito e objeto de
transformação.
O contexto atual das organizações culturais requer um planejamento estratégico, através de
ferramentas possíveis, capaz de atender ao público consumidor de cultura, levando em conta a
constante busca de melhoria dentro do contexto social.
O setor cultural é um dos setores que vem recebendo destaque nos últimos anos, devido a
crescente representatividade na economia global e regional, e devido a inegável
responsabilidade social que desempenha.
Cauduro (2003) já apontava há 11 anos que apesar da relevância do setor, pelo seu
crescimento, impactos sociais e culturais e ainda pela significação na sociedade, eram poucas
as produções científicas sobre gestão da área cultural, e mesmo na atualidade essa produção
ainda é restrita.
O gestor cultural deve atuar a partir de um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes
específicas para desenvolver as atividades diárias, ou seja, aos gestores de organizações de
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produção artística requerem-se competências específicas a esta atividade ligadas também a
administração (CAUDURO, 2003).
O grupo de ensino, pesquisa e extensão em Projetos de Engenharia e Gestão Aplicados ao
Desenvolvimento Ambiental e Social (PEGADAS) nasceu da união de professores e alunos
da engenharia e áreas afins (ciência e tecnologia, engenharia de produção, ambiental,
mecânica, materiais e civil) que compartilham da visão de que o trabalho do engenheiro tem
uma função social que vai além da aplicação de técnicas, desenvolvendo-se também em uma
rede de relações e que deve voltar-se à melhoria da qualidade de vida de toda a sociedade.
Assim sendo, está focado no desenvolvimento de conhecimentos e prática profissional de
forma multidisciplinar e integrando o tripé ensino-pesquisa-extensão.
O projeto apoia e fortalece a atividade econômica e a viabilidade (econômica, social, técnica,
ambiental, cultural e política) de organizações sociais e culturais por meio da assessoria e
formação em gestão, inovação e tecnologia social. Desta forma, ao ser contatado, o
PEGADAS desenvolveu uma gestão cultural num grupo musical de Natal/RN existente há 17
anos e que nunca havia vivenciado uma intervenção nesse sentido. Este artigo tem como
objetivo descrever a metodologia, desafios, dificuldades e resultados iniciais da
implementação de um planejamento estratégico participativo realizado com este grupo.
Com base no exposto, para atingir o objetivo do estudo, o trabalho apresenta na primeira
seção o embasamento teórico, contendo o resumo bibliográfico dos principais temas
abordados: planejamento estratégico, planejamento participativo e o mapa mental como
ferramenta de gestão. A seção seguinte explicita as características do grupo musical, a
metodologia com o grupo e como se deu o processo de seu planejamento e organização do
trabalho. Por fim, o item quatro expõe o resultado percebido até o presente momento e as
perspectivas futuras.
2. Considerações Teóricas
2.1 Planejamento estratégico
Cada vez mais as organizações buscam ferramentas e técnicas que as auxiliem em seu
processo gerencial para que possam enfrentar os desafios e ameaças e aproveitarem
oportunidades para desenvolver soluções e seu fortalecimento. O planejamento estratégico
(PE) é uma ferramenta administrativa de apoio à tomada de decisão que pode ser utilizado
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como instrumento de desenvolvimento organizacional para contribuir para uma melhor gestão
dos objetivos de qualquer organização. Apesar da tendência do uso dessa ferramenta pelo
setor privado e público, em organizações culturais essa ferramenta é pouco explorada.
O PE é um processo dinâmico e interativo para determinação de objetivos, políticas e
estratégias (atuais e futuras) das funções empresariais ou organizacionais e dos procedimentos
das organizações. É uma ferramenta com um processo intencional de mudança
organizacional.
Elaborado por meio de processos e técnicas administrativas de análise do ambiente (interno e
externo), das ameaças e oportunidades, dos seus pontos fortes e fracos, que possibilita aos
gestores estabelecer um rumo para as organizações. Define a missão da organização e
determina seus objetivos e metas, bem como as estratégias e meios para alcançá-los num certo
espaço de tempo. Busca a otimização no relacionamento entre a organização e o meio
ambiente que a cerca, formalizado para alcançar os resultados, na forma de integração de
decisões e ações organizacionais (KOTLER, 1998; MINTZBERG; AHLSTRAND;
LAMPEL, 2000; CHIAVENATO; SAPIRO, 2003; OLIVEIRA, 2007; ANSOFF;
McDONNEL, 2009; ALMEIDA, 2010).
O seu uso requer a visão mais ampla dos atores envolvidos e introduz o uso de métodos
analíticos e prospectivos quanto à definição de cenários alternativos, que exige uma mudança
significativa na filosofia e nas práticas gerenciais atuais da organização. Por isso o
planejamento pode ser um importante instrumento de intervenção na realidade que, se bem
utilizado, constitui ferramenta fundamental para o desenvolvimento para qualquer tipo de
organização (público, privado, com ou sem fins lucrativos).
2.2 Planejamento participativo
A origem do planejamento foi no ambiente militar, registram apontam descrições desde IV
a.c. Mas foi com a II grande Guerra na participação intensa das empresas na produção de
artefatos militares que passou a ser difundido e utilizado na gestão das empresas. Essa origem
permitiu o desenvolvimento de uma metodologia hierarquizada e verticalizada, na qual cabe
apenas a alta gerencia pensar no planejamento de longo prazo da organização.
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Entretanto essa metodologia se torna pouco aplicável em grupos em que necessita-se
participação de todos os membros. Como envolver e engajar os membros organizações não
hierarquizadas sem a participação de todos?
O planejamento participativo se firmou no processo democrático na esfera das organizações,
envolvendo as representações dos atores envolvidos com a formulação e implementação de
um programa ou ação com repercussões na vida de comunidades e cidadãos (GANDIN,
2000). Ele permite o envolvimento das pessoas no processo de construção do planejamento,
permitindo que elas sejam responsáveis e comprometidas pelas ações e resultados (SENGE,
1990). O trabalho participativo significa que as pessoas e o grupo estão no processo de
construção de suas ideias e de suas práticas, de tal modo que todos estejam caminhando ao
mesmo rumo. Isto quer dizer que cada um traz suas ideias, sua paixão, seus anseios e suas
dificuldades e todos juntos vão organizando esse tesouro e decidindo sobre ele a cada
momento (GONDIN, 2000, p.53).
O processo de envolvimento vai além da simples comunicação, significa consultar,
individualmente ou em grupo quais são e a solução de problemas. Quem planeja é um ator
social, que segundo Matus (1993), é um sujeito ou organização que controla recursos, e isto
lhe dá capacidade de intervir sobre a realidade de acordo com seus interesses e necessidades,
produzindo seus próprios projetos na situação analisada.
O planejamento estratégico participativo (PEP), adotado como prática social, exerce um forte
poder de aglutinação de pessoas e grupos, os quais passam a compreender e conviver com os
anseios dos outros atores sociais. Tem, portanto, o poder de criar uma nova cultura de
compromisso com a instituição.
2.3 Ferramenta mapa mental
Para grupos populares e que não atuam com ferramentas administrativas e suas estruturas, os
mapas mentais tem sido um meio de introduzir as temáticas de maneira a propiciar aos
participantes uma melhor compreensão e apropriação dos processos.
Os mapas mentais são representações construídas inicialmente tomando por base a percepção
e experiência dos participantes, partindo de sua realidade. Eles representam uma função
natural da mente humana, registrando o pensamento “irradiado” livremente a partir de uma
imagem central, ou de uma palavra-chave, como se fossem ramificações. Os tópicos menos
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importantes também são representados como ramificações ligadas a outras de mais alto nível,
e as ramificações formam uma estrutura nodal conectada (BUZAN; BUZAN, 1994;
ONTORIA; LUQUE; GÓMEZ, 2004). Os participantes podem fazer associações entre seus
conhecimentos, suas representações, suas cognições a partir do ponto gerador. No mapa
mental as associações são completamente livres.
Essa liberdade permite os participantes a interagirem de maneira mais descontraída e flexível.
De posse de um diagrama sintético que permite uma visão holística, tendo sido uma
ferramenta estratégica para a construção de diagnósticos e construção de cenários pelo
coletivo em planejamentos participativos populares.
3. A vivência do grupo musical ACORDE com o planejamento
O Grupo Acorde tinha-se como um grupo vocal (apenas vozes), que se caracteriza por ser um
grupo de cantores distribuídos pelos naipes de suas vozes, que seriam os tipos e estilos
diferentes de cada voz. Um grupo misto, como era o Acorde, compõe-se de quatro naipes:
Baixos, Tenores, Contraltos e Sopranos. Podendo ser incluso vozes intermédias.
No momento definem-se como grupo musical, abrange-se a sua composição, sendo agora uma
união de músicos formada com o intuito de executar arranjos musicais. Portanto, além das
vozes já existentes, agregam-se ao grupo os instrumentos e instrumentistas, que sejam
necessários para a execução do repertório, sejam eles de corda, sopro (subdivididos em metais
e madeiras) ou percussão.
3.1 O histórico e organização do grupo
O Grupo Musical Acorde surgiu a 1997, na cidade de Natal- RN, como um projeto de
extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e vinculado a Escola de
Música da instituição. Inicialmente, o grupo era composto por 16 pessoas, com vozes
femininas em sopranos e contraltos, as masculinas em tenores e baixos e incluindo um diretor
musical. Na atualidade, eles se configuram como um grupo musical masculino, com sete
cantores (dois tenores, três barítonos e dois baixos), um diretor artístico e arranjador e um
preparador vocal, além de colaboradores com parcerias mais pontuais nas áreas de teatro,
dança, arranjos musicais e mais recentemente na gestão e produção cultural com a equipe do
grupo PEGADAS (um professor e quatro bolsistas), formando uma equipe multidisciplinar.
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O Acorde trabalha com a concepção e preparação cênica e de arranjos. O repertório é
composto por músicas de diferentes vertentes de Michael Jackson a Carl Orff, de Reginaldo
Rossi a Luiz Gonzaga, da música “erudita” a “popular”. As apresentações em forma de
esquetes cômicas - peças de curta duração, geralmente cômica, preparadas para o teatro,
televisão, cinema ou rádio - objetivam uma reflexão crítica acerca de questões
comportamentais, políticas e culturais, valorizando a convivência entre estilos musicais
distintos.
Figura 1: Grupo Musical Acorde em ensaio
Fonte: Acervo dos autores, 2014
Assim, a articulação entre esses universos, ratifica a percepção artística do Acorde de expor
acontecimentos, valores e questões sócio-históricas, contemplando a diversidade dos
elementos. Desta forma, com aporte cênico, performático, estético, temático ou de
significação do repertório musical, o grupo se propõe a enveredar, não somente pelo universo
acadêmico da UFRN, como também através de outras instituições de ensino municipais ou
federais, além de contemplar diversos públicos, espalhados pelo RN e pelo Nordeste.
O Acorde trabalha constantemente com a criação e realização de pesquisa musical por grupos
temáticos para a montagem de novas esquetes. Para elaboração de shows e das pequenas
apresentações, o grupo realiza uma produção a partir da discussão livre (brainstorming),
quando são definidos os repertórios com todo o grupo, textos coordenados pelo diretor cênico
e arranjos musicais coordenado pelo diretor musical.
O grupo se reúne duas vezes por semana para preparação vocal e ensaio das canções, com
encontros de duração em média de três horas. Além disso, encontros mensais, aos sábados,
para a criação de novas peças, arranjos, e preparação cênica.
Figura 2 - Grupo Musical Acorde em espetáculo
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Fonte: acervo Grupo Musical Acorde
3.2 Metodologia para implementação do PEP
O presente PEP se desenvolveu a partir do final do ano de 2013, em função das fragilidades e
dificuldades detectadas pelo Grupo, entre elas, por exemplo, a ausência de planejamento que
orientasse a realização de apresentações e dos ensaios; os problemas decorrentes da baixa
frequência aos ensaios por parte de alguns dos membros; a indefinição quanto a
responsabilidades de cada um na gestão do grupo; além da baixa ou instável articulação com a
instituição universitária que os acolhe. O PEGADAS buscou, por meio de análises iniciais,
instrumentalizadas com a ferramenta de mapa mental, colaborar no sentido de que o grupo
encontrasse um norte (missão) que sintetizasse sua identidade e os rumos a serem seguidos
nos próximos períodos.
Desde então, realizaram-se estudos acerca do que seria planejado para o trabalho seguinte.
Foram necessários quatro encontros para a construção do planejamento estratégico
participativo, os quais aconteceram no inicio do ano de 2014 (18/01, 08/02, 22/02 e 08/03). O
primeiro desses encontros foi responsável por sensibilizar e indicar um direcionamento para o
grupo com um plano de trabalho e comprometimento dos membros.
O segundo encontro contou com um primeiro momento de relaxamento para os presentes,
seguido de uma dinâmica de integração, até que se deu início ao planejamento estratégico em
si. Neste dia, com o auxílio da ferramenta do mapa mental (figura 3), foi possível se encontrar
a identidade do grupo, além de se construir uma missão, visão e valores que o orientam.
Circunstâncias como o almoço e o intervalo para o lanche, além de outra dinâmica (figura 4)
realizada durante o decorrer do planejamento, foram importantes para tornarem o encontro
mais integrativo e prazeroso para os participantes. O resultado tornou-se significativo para o
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grupo, novas atitudes e decisões começaram a ser tomadas, o que instigou o grupo por novos
encontros e a continuidade do processo.
Figura 3 - Construção do Mapa Mental
Manual pelos participantes
Figura 4 - Realização de dinâmica de
integração e concentração
Fonte: Acervo dos autores, 2014 Fonte: Acervo dos autores, 2014
O terceiro encontro também foi iniciado com um momento de relaxamento e caracterizou-se
como um dos mais fortes e decisivos para o grupo, pois foram tomadas decisões
significativas. A partir da sistematização de dados colhidos no encontro anterior, deu-se início
a construção da análise SWOT (apresentados a eles como FOFA: pontos Fortes,
Oportunidades, Fracos e Ameaças), conduzida por meio de perguntas aos participantes que
respondiam em tarjetas, as quais foram agrupadas de acordo com sua relação e em seguida
discutidas de acordo com sua importância ou prioridade para o grupo.
O quarto e último encontro iniciou-se com uma dinâmica de integração e foi marcado por um
resumo do planejamento, uma retrospectiva das informações coletadas e sistematizadas até
aquele momento do processo. Assim, procedeu-se à finalização da análise SWOT, como
demonstrado na figura 5, sistematização de objetivos, metas, decisão de responsáveis e
designação de prazos, a fim da construção de um cronograma para o grupo, após o que
seguiu-se à finalização dos trabalhos com uma dinâmica de avaliação entre participantes do
grupo e responsáveis pelo planejamento.
Figura 5 - Resultado do planejamento realizado com o grupo
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Fonte: Acervo dos autores, 2014
Ficou evidente, no decorrer do planejamento proposto, mudanças no comportamento dos
integrantes, os quais passaram a ter mais pontualidade nas atividades, mais maturidade,
concentração e poder de decisão, estavam mais objetivos e decididos quanto ao rumo que o
Grupo tomaria.
Estão planejados para o futuro, encontros semestrais de avaliação do desempenho do grupo e
acompanhamento do PEP, no que diz respeito ao cumprimento das atividades programadas, as
que foram realizadas com sucesso e o que se mostra pendente em relação ao cronograma.
Nos encontros presenciais, as atividades eram realizadas manualmente, utilizando-se folhas
A1 de papel pardo (Kraft), tarjetas, e canetas coloridas, com o objetivo de proporcionar maior
participação e interação do grupo, além de uma visualização das decisões que estavam sendo
tomadas naquele instante. Tal participação é fundamental para o desenvolvimento do hábito
da utilização das metodologias propostas ao grupo. Após os encontros, a equipe do
PEGADAS era responsável pela síntese das informações e do repasse para os membros do
grupo. Para a sistematização, foram utilizados softwares para elaboração de mapas mentais, e
de planilhas eletrônicas para a criação de uma tabela geral com todo o resultado do
planejamento, bem como o seu cronograma de ações.
Figura 6: Sistematização do resultado das reuniões
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Fonte: elaborado pelos autores, 2014
4 Análise e resultados
A realização do PEP possibilitou um olhar para o passado, o cotidiano, para as relações, para
as oportunidades e ameaças, para as fortalezas e fragilidades e mais do que organizar,
permitiu um repensar sobre as ações do grupo e rever seus desejos, prioridades e estratégias.
Com uma compreensão do que são e o que querem de forma mais clara, os membros do grupo
se tornaram mais atentos e responsáveis com os compromissos planejados e traçados por eles.
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Figura 7: Análise SWOT construída pelo grupo
Fonte: elaborado pelos autores, 2014
A análise do ambiente interno permitiu um mapeamento de pontos positivos do grupo e de
cada componente perante ao coletivo. A criatividade, a alegria, a união e o talento de cada
membro caracteriza um grupo irreverente, popular e envolvido com seu público. Em seus
ensaios, o clima de descontração e leveza são elementos notórios, mas sem perder a
responsabilidade e o comprometimento. Consonante a isso, os aspectos negativos também
foram considerados, a fragilidade na produção executiva, conclusão de projetos musicais e
preparação de repertórios antecipadamente prejudicam o desenvolvimento dos espetáculos e
sua logística. Além disso, a dificuldade dos componentes em cumprir horários, em se
concentrarem e de dedicarem outro tempo para estudo se mostravam como obstáculos para o
crescimento do Acorde.
Pensando no externo à organização do grupo foi possível fazer com que a equipe refletisse
quais suas oportunidades para os próximos anos, como editais de incentivo à cultura,
possibilidade de fazer parte de eventos nacionais e crescimento contínuo na internet. No
entanto, não foram apontados fatores que se apresentassem como ameaças pelo grupo, pois
eles optaram por observar os fatores ameaçantes como uma forma de se integrar e se focar no
que podem fazer ao alcance. Com a análise FOFA foi possível que o grupo tivesse uma visão
geral da sua situação atual, interna e externa, refletindo pontos de discussão interessantes para
as diretrizes estratégias futuras, posteriormente destrinchadas no cronograma elaborado de
forma participativa.
Passaram a pensar mais antecipadamente na organização de suas ações e começaram a
implantar um gestão estratégica para acompanhar e avaliar seu plano de ação. Está previsto
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após seis meses de realização do planejamento um reencontro para avaliação e ajuste do plano
se necessário.
Para atender as demandas por organização na estrutura de objetivos e diretrizes estratégicas
futuras, foi elaborado um cronograma, embasado nas áreas de interesse dos músicos. Inseridos
nessas áreas: infraestrutura, comunicação, produção, organização do trabalho, etc. pôde-se
dividir objetivos e ações, assim como seus responsáveis e prazos, para serem realizados a fim
de minimizar as fraquezas e otimizar as forças, buscando aproveitar todas as oportunidades
que futuramente surgirão. Com o uso atual do cronograma pelo grupo musical é possível ter
um panorama de monitoramento e controle visual dos responsáveis, dividido por cores na
legenda (ações contínuas, datas próximas, datas distantes, atividades concluídas) a fim de que
eles saibam quais prazos estão em conformidade, quais não estão, o que está faltando, a quem
recorrer, etc. No cronograma da figura 8 constam cinco áreas de atuação, cerca de dezoito
objetivos divididos nessas áreas e mais de cinquenta tipos de ações diferentes divididas entre
os integrantes do grupos, responsáveis por suas funções especificadas.
Figura 8: Plano de Ação para 2014/2015
Fonte: elaborado pelos autores, 2014
Com o auxílio das ferramentas do PEP e da vivência diferenciada no projeto em conjunto com
o PEGADAS, alguns resultados já se mostram expressivos no grupo musical Acorde. Entre os
resultados já apresentados ao Acorde por meio do PEP, podemos destacar a submissão de uma
proposta para um edital o qual permitiu que o grupo pudesse ser contemplado com 10 bolsas,
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que permitiu a entrada de novos apoios os quais irão contribuir na área musical, produção
cultural, design, cênica e imprensa. Também promoverá a interiorização, permitindo que
façam apresentações em cidades do estado que o grupo ainda não foi, por meio de parcerias
com os Institutos Federais do Rio Grande do Norte, onde a proposta é de que haja a difusão da
cultura, que é uma temática das universidades contemporâneas. Estão previstos para o ano
algumas apresentações bastante significativas para o grupo, dentre as quais podemos citar a
participação no FIFA FanFest, a qual acontecerá durante a Copa do Mundo de 2014 e que
permitirá bastante destaque em meio ao cenário musical local, além de um espetáculo que está
sendo desde já desenvolvido e com previsão para apresentação no final de novembro de 2014,
que se chamará “O Fim do Mundo”. Para todas estas ações, estão sendo planejadas todos os
parâmetros que envolvem o grupo e sua assessoria.
O planejamento estratégico no grupo musical Acorde permitiu o grupo a ter uma identidade
(definiu sua missão) e no entender da equipe do PEGADAS, constituiu-se como o momento
central do trabalho até então realizado, por meio do qual se buscou estimular a produção da
autonomia e da criatividade dos cantores e colaboradores, bem como a definição de projetos
coletivos futuros.
O PEGADAS inicia seus estudos de planejamento estratégico participativo na área cultural
com o Grupo Musical Acorde, sendo este um projeto piloto, porém a partir de resultados
conquistados já se estudam novas metodologias para a realização com outros grupos e
organizações que apresentem temáticas semelhantes. Existem convites e as próximas atuações
devem acontecer em uma banda de música militar e em um grupo de teatro.
REFERÊNCIAS
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