Planejamento e Controle Da Producao - Parte III

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PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUÇÃO PARTE III Conteudista Prof. Dr. SANDERSON CÉSAR M. BARBALHO

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  • PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUO PARTE III

    Conteudista

    Prof. Dr. SANDERSON CSAR M. BARBALHO

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    1 Sistemas de administrao da produo

    As lgicas de gerenciamento do carregamento, do sequenciamento, da programao e

    do controle foram, ao longo do tempo, consolidadas em sistemas de administrao da

    produo que guardam coerncia entre suas partes. Ou seja, o mtodo de

    programao incorpora elementos j previamente pensados em termos de

    carregamento e sequenciamento, e implica em uma determinada forma de controle.

    Esses sistemas coerentes foram denominados de sistemas de administrao da

    produo (CORRA e GIANESI, 1993) sendo basicamente os seguintes: MRP, Just

    in Time, OPT e sistemas orientados a grades de projetos. Como j falamos em Teoria

    das Restries anteriormente, vamos abordar os outros trs sistemas nesse captulo.

    1.1 MRP

    A sigla MRP significa Material Requirements Planning, ou clculo das necessidades

    de material, sendo uma lgica bastante simples e conhecida h muito tempo. Porm,

    sua utilizao na manufatura foi impossvel ou invivel at meados da dcada de 60

    quando se passou a ter capacidade de armazenagem e processamento de dados

    suficiente para tratar o volume de dados necessrios ao MRP em uma situao real.

    Os primeiros sistemas MRP eram basicamente processadores de lista de materiais

    que convertiam um plano de produo de produto final (demanda independente) em

    um plano de compras ou produo de seus itens componentes (demanda

    dependente).

    Itens de demanda independente so aqueles cuja demanda no depende da demanda de

    nenhum outro item. Ou seja, normalmente um produto final ou um item de assistncia tcnica

    (spare parts). Os itens de demanda dependente so exatamente os demais itens de um

    determinado produto, cuja demanda depende da demanda do produto final. A relao entre

    itens de demanda independente e dependente dita relao pai-filho. A demanda do item

    pai determina a demanda do item filho. Portanto, a diferena bsica entre os dois itens (de

    demanda independente e o de demanda dependente) que a demanda do primeiro tem de ser

    prevista com base em determinadas tcnicas de previso da demanda. J o segundo tem sua

    demanda calculada com base na demanda do primeiro.

  • 4

    A lgica bsica do MRP partiu dessa constatao. A lgica antecessora dos sistemas

    MRP apregoava que todos os itens de estoque deveriam ter sua gesto baseada em

    modelos convencionais, tais como o de ponto de reposio ou o lote econmico.

    Nesse modelo, a compra ou produo de determinado item deveria ocorrer, em

    determinada quantidade, chamada lote econmico, no momento em que o estoque

    do item baixasse a determinado nvel chamado ponto de reposio. Nesse ponto,

    uma ordem de ressuprimento do item deveria ser disparada para que o item

    comeasse a ser montado, fabricado ou pedido a um fornecedor. Essa lgica de

    operao tem a tendncia de aumentar o estoque em processo, alm de desbalancear

    a capacidade de produo da empresa, uma vez que privilegia a otimizao do custo

    de cada item, no observando seu impacto no custo global da operao.

    Algumas definies importantes em MRP so: estrutura do produto, lead-times,

    necessidades brutas e lquidas, o processo de exploso e o registro bsico do MRP.

    Estruturas de produto

    As estruturas de produto so tambm denominadas rvores de produto ou listas

    tcnicas. Elas so, basicamente, a inter-relao entre itens pai e itens filho de um

    produto at que se chegue aos seus componentes mais bsicos e matrias-primas.

    Ela pode ser representada atravs de uma rvore ou por meio de listas endentadas,

    conforme ilustrado abaixo. As estruturas do tipo rvores so mais tradicionais,

    entretanto os sistemas de gesto utilizam estruturas indentadas para representar os

    produtos da empresa. A figura abaixo apresenta uma estrutura simplificada para um

    violo. Tente detalh-la at seu nvel mais bsico. Por exemplo, as cordas so feitas

    de fios de nylon. Para cada conjunto de cordas, necessrio 6,2 metros de fio. Qual o

    material e em que quantidade necessrio para que se tenha um corpo, um brao,

    uma cabea e assim sucessivamente?

  • 5

    Figura 1 - Estruturas de produto: formato hierrquico e indentada para um violo

    Diversas informaes podem ser indicadas nas estruturas de produto, as informaes

    mandatrias para permitir o clculo do MRP so: a prpria relao pai-filho e a

    quantidade de itens filhos que vai em cada item pai. importante que a estrutura do

    produto contenha ainda o cdigo do item e que esse cdigo tenha uma composio

    bem conhecida na empresa de maneira a facilitar a comunicao entre os diversos

    departamentos que utilizam as estruturas de produto. Observe que h itens na

    estrutura que so comprados, itens que so fabricados internamente, utilizando

    maquinrio da empresa, como por exemplo, as cordas j que a empresa compra

    nylon para fabric-las; e ainda, h itens que so montados na empresa. No exemplo

    do violo, considere que a cabea, o corpo, o brao e o prprio violo so montados.

    VIOLOV1.000.000

    CORPOV1.001.000

    BRAOV1.002.000

    CABEAV1.003.000

    TARRACHAV1.003.001

    CORDASV1.004.000

    x 6

    x 6

    NYLON 6,2mV1.004.001

    x 1

    V1.000.000 - VIOLO

    V1.001.000 - CORPO

    V1.002.000 - BRAO

    V1.003.000 - CABEA

    V1.003.001 - TARRACHA

    V1.004.000 - CORDAS

    V1.004.001 - NYLON 6,2m

  • 6

    Lead-times ou tempos de ressuprimento

    Os lead-times so os tempos necessrios para o ressuprimento dos itens

    componentes do produto. Se o item comprado, o lead-time o tempo necessrio

    entre a solicitao da compra e a entrega do item na empresa, disponvel para o uso

    no produto. Se o item fabricado, trata-se do tempo necessrio para liberar a ordem

    de produo at a liberao do item para a montagem do produto. Itens fabricados

    demandam matria-prima, a qual pode estar ou no disponvel, e caso negativo,

    exigiro um processo de compra relacionado.

    Considere que os lead-times dos itens necessrios para a montagem do violo

    anteriormente citado sejam os apresentados na figura abaixo.

    Figura 2 Lead-times de produo e compra de itens do violo

    Suponha que estamos no dia 01 e sejam demandados 60 violes para serem

    entregues em 25 dias, calcule o tempo em que as ordens de compra e

    produo deveriam ser liberadas, ou seja, em qual dia cada ordem deve ser

    emitida para atender ao cliente.

    Necessidades brutas e lquidas

    Item Lead-time Unidade

    V1.000.000 - VIOLO 0,25 Para cada 6 unidades

    V1.001.000 - CORPO 0,5 Para cada 6 unidades

    V1.002.000 - BRAO 0,25 Para cada 6 unidades

    V1.003.000 - CABEA 0,25 Para cada 6 unidades

    V1.003.001 TARRAXA 10 Por lote de compra de 50 tarraxas mnimos

    V1.004.000 - CORDAS 0,1 Para cada 6 unidades

    V1.004.001 - NYLON 6,2m 3 Por lote de compra de 1000 m metros

  • 7

    As necessidades brutas so as necessidades de cada produto considerando

    as entregas necessrias. Por exemplo, para o violo, temos para o item de

    demanda independente uma necessidade bruta de 60 no dia 26 a partir da

    data de planejamento (dia 01). Uma questo que se coloca : h uma

    necessidade bruta de corpo do violo para o dia 26? A resposta no! A

    necessidade bruta de 60 corpos de violo para o dia 23, pois a empresa

    tem uma capacidade de fabricar 24 unidades de violo por dia, portanto, 60

    unidades sero fabricadas em 2,5 dias. Assim, se os corpos montados

    chegarem no centro de trabalho de montagem final do violo no dia 23,

    eles estaro prontos no dia 26 para entrega. Tente chegar nesses dados.

    Essa necessidade bruta, entretanto, no leva em considerao que j

    podemos ter partes em estoque. Portanto, pode no ser necessrio termos

    que fabricar os 60 corpos de violo para o dia 23, ou mesmo os 60 violes

    montados. Podemos ter violes em estoque! A necessidade efetiva de cada

    item , em MRP, chamada de necessidade lquida. Considere os dados de

    estoque apresentados abaixo.

    Figura 3 Estoque existente dos itens do violo

    Item Estoque existente

    V1.000.000 - VIOLO 6

    V1.001.000 - CORPO 12

    V1.002.000 - BRAO 12

    V1.003.000 - CABEA 12

    V1.003.001 TARRAXA 12

    V1.004.000 - CORDAS 24

    V1.004.001 - NYLON 6,2m 200m

  • 8

    Calcule as necessidades lquidas, considerando que o pedido de 60

    unidades para o dia 25 o nico a atender at ento, e, sendo assim, todos

    os itens em estoque podem ser utilizados nessa entrega.

    Processo de exploso

    A exploso do produto o clculo bsico realizado pelo MRP no qual

    constam respostas a duas questes logsticas fundamentais dos sistemas de

    produo: o que fabricar/ comprar (informao que consta na estrutura de

    produto) e quanto (informao de quantidades de itens filho para cada item

    pai). A figura abaixo apresenta a exploso do produto violo V1.000.000,

    considerando j as necessidades liquidas.

    Figura 4 Exploso dos itens do violo para atender ao pedido de 60

    unidades

    PA=60 und

    Dia 26Dia 23

    OPvi=54 und

    Violo

    Corpo

    Brao

    Cabea

    Cordas

    OPca=42 undOPbr=42 und

    Tarraxas

    Nylon

    Dia 20Dia 18Dia 17Dia 14Dia 10

    OPco=42 und

    OCny=1000 m

    OCtx=250 und

    ET=6

    ET=12

    ET=12

    ET=12

    ET=24

    OPcd=300 und

    ET=200m

    ET=12

  • 9

    Observe que para termos 60 violes (60 PA) no 26 dia preciso colocar

    uma ordem de produo do violo (OPvi) de 54 violes no dia 23, pois j

    h 06 violes em estoque. Esse tipo de programao dita para trs pois

    parte da data de entrega do pedido. Assim, a atividade mais prxima a

    compra de 250 unidades de tarraxas (OCtx) a ser realizada no dia 10. Tente

    chegar a esses dados. Faa uma programao para frente, conforme

    explicado no eixo anterior.

    Registro bsico do MRP

    O registro bsico do MRP apresenta, alm dos elementos j considerados

    necessidades brutas e estoque atual os seguintes elementos, conforme a

    figura a seguir onde consta o preenchimento do registro para o caso do

    violo: recebimentos programados, estoque projetado, recebimento de

    ordens planejadas e liberao de ordens planejadas, os quais sero

    explicados a seguir.

    Figura 5 Registro bsico do MRP para perodos de 1 semana, item violo

    V1.000.000 -VIOLOLote = 6 (mnimo)LT = 0,25 dia(6 unidades)ES = 0

    Perodos 1 2 3 4 5

    Necessidades brutas 0 0 0 60 0

    Recebimentos programados 0 0 0 0 0

    Estoque projetado disponvel 6 6 6 6 6 0

    Recebimento de ordens planejadas 0 0 0 54 0

    Liberao de ordens planejadas 0 0 0 54 0

  • 10

    O registro bsico do MRP sumariza as informaes de produo de um

    determinado item. esquerda v-se que o violo em questo tem lote

    mnimo de 6 unidades, para os quais o lead-time (LT) 0,25 dia. No h

    estoque de segurana (ES) previsto. O registro est formatado para gerar

    informao semanal. Por conveno, a informao que consta em cada

    perodo a do seu incio. Assim, no incio do planejamento, tem-se 6

    violes em estoque. No incio da semana 4, dia 22, libera-se uma ordem

    planejada de 54 violes, uma vez que o lead-time de montagem final

    inferior a uma semana.

    A linha recebimento programado tem relao com recebimentos de um

    planejamento anterior que iro se concretizar dentro do horizonte de

    planejamento considerado. O estoque projetado disponvel o clculo final

    do estoque do item no incio do perodo, considerando o estoque de

    segurana, o qual, se fosse maior que zero, teria seu valor no incio do

    perodo 5 da programao. A lgica de exploso das necessidades do MRP,

    anteriormente discutida, deve permear todos os registros bsicos dos

    produtos intermedirios do violo, conforme apresentado na figura XXX.

    JIT

    A sigla JIT significa Just In Time, ou justo a tempo, sendo o termo em ingls para

    designar o sistema de produo desenvolvido por Taiichi Ohno na Toyota Motor

    Company. O sistema, segundo seu fundador (OHNO, 1988) orientado reduo de

    custos com base na utilizao do potencial mximo da fora de trabalho. A orientao

    geral do sistema a identificao e eliminao de desperdcios, os quais foram

    inicialmente sistematizados aps uma visita realizada por Ohno e Eidi Toyota Detroit

    no incio dos anos 50. So sete os desperdcios bsicos de um sistema de produo: (1)

    desperdcio de superproduo (2) desperdcio de espera especialmente relativo

    espera em filas; (3) desperdcio de transporte; (4) desperdcio de processamento acima

    do necessrio; (5) desperdcio de movimento; (6) desperdcio de produzir produtos

    defeituosos; e (7) desperdcio de estoques. Algumas das tcnicas do JIT para combater

    tais desperdcios so apresentadas a seguir: sequenciamento e programao da produo

    em JIT e controle Kanban.

  • 11

    Programao e sequenciamento JIT

    Em JIT se d forte nfase ao que denominado nivelamento da produo.

    OHNO (1988) apresenta um exemplo tpico da Toyota abaixo:

    ... suponha que ns fazemos 10000 Coronas em 20 dias por ms. Assuma

    que isto desdobra-se em 5000 sedans, 2500 hardtops e 2500 wagons. Isso

    significa que 250 sedans, 125 hardtops e 250 wagons so feitos

    diariamente. Eles so alocados na linha de produo como segue: um

    sedan, um hardtop, ento um sedan, um wagon e assim por diante.

    (OHNO, 1988, p, 38)

    Essa a idia bsica por trs do conceito de takt time. Vejamos a adaptao

    de um exemplo apresentado por SCHONBERGER (1982) em uma linha de

    montagem de violes. Abaixo apresentada uma linha de produo em que

    a montagem alimentada por uma linha de fabricao do brao do violo

    para cada modelo, considerando que h os modelos A, B e C.

    Figura 6 Linha de montagem de violes (dados baseados em

    SCHONBERGER, 1982)

    A A A A A A A A A A

    A

    A

    C

    C

    C

    C

    C

    C

    Linha de Montagem

    O estoque de segurana de

    braos de violo desprezvel

    B BBBBB

    Linhas de Fabricao

    MontagemSerrariaAjuste manualEsmerilhagemPolimentoFurao

    12 Aspor hora

    6 Bspor hora

    6 Cspor hora

    Capacidade: 64 por dia ou8 por hora (6 Bs ou 6 Cs por hora e 12 Aspor hora)

    Modelos trocam a cada horaTempo de troca desprezvel

  • 12

    Observe que as linhas de fabricao de braos de violo trabalham em

    taxas iguais s de montagem final de cada modelo de violo. Na situao

    ilustrada na figura, apenas a linha da violo do tipo B est trabalhando.

    Percebe-se, portanto, que h um prejuzo na produtividade das linhas, as

    quais ficam duas horas paradas aps uma de produo.

    A figura a seguir apresenta como seria tratado esse sistema de produo

    com nivelamento de produo. Tal sistema tambm pode ser chamado de

    modelos mesclados. Note que, apesar de a produtividade da linha de

    montagem se manter, a linha de fabricao no sofre de horas paradas, pois

    trabalham continuamente, a taxas de produo de um tero daquelas

    requeridas no caso anterior, permitindo melhor utilizao dos equipamentos

    e mo-de-obra. Imaginando que os outros componentes do violo, como

    corpo, cordas e cabea, so programados de acordo com a linha de

    montagem, tem-se uma noo do incremento em produtividade que ocorre

    na fabricao.

    Figura 7 Aplicao de nivelamento de produo na linha de montagem de

    violes (dados baseados em SCHONBERGER, 1982)

    A A A A

    A

    A

    C

    B

    Linha de Montagem

    O estoque de segurana de

    braos de violo desprezvel

    A A

    AA

    B

    B

    C

    C

    Linhas de Fabricao

    4 Aspor hora

    2 Bspor hora

    2 Cspor hora

    Capacidade: 64 por dia ou8 por hora (6 Bs ou 6 Cs por hora e 12 Aspor hora)

    Modelos trocam a cada horaTempo de troca desprezvel

    C B C B

    C

    B

    A

    A

    MontagemSerrariaAjuste manualEsmerilhagemPolimentoFurao

  • 13

    Vamos analisar a linha de montagem de maneira a compreender melhor

    como se d a programao em JIT, utilizando para tal uma adaptao do

    exemplo descrito em CORRA e GIANESI (1993) para o caso dos violes

    aqui analisados. So dois os momentos em que o nivelamento da produo

    ocorre: distribuio equalizada da produo agregada mensal por dia, e

    distribuio equalizada da produo mensal de cada produto por dia.

    Vamos considerar que a empresa produz 3 tipos de violo, A, B e C, com

    ciclo de montagem de 23 minutos, 46 minutos e 46 minutos,

    respectivamente. Suponhamos ainda que o programa de produo seja de

    260 unidades a serem produzidas em um ms de 20 dias. A produo diria

    deve ser ento de 13 violes por dia. Se o mix a ser atendido de 144

    violes do tipo A, 72 B e 43 C, tem-se a situao de carregamento da

    capacidade da linha de montagem ilustrada na figura abaixo:

    Figura 8 Carregamento da linha de montagem de violes. (Adaptado de

    CORRA e GIANESI, 1993)

    Tipo de violo Ciclo (min)Demanda(mensal)

    Demanda (diria) Horas por dia

    A 23 144 7 2,77

    B 46 72 4 2,77

    C 46 43 2 1,66

    Total 260 13 7,20

    80%

  • 14

    O programa exige 80% da capacidade produtiva, considerando um turno de

    9 horas. A inteno de manter uma reserva de capacidade, para poder

    alterar a velocidade da linha na ocorrncia de problemas ou para manter

    uma variao no mix de produtos. Sendo assim, diariamente a linha deve

    entregar 7 violes A, 4 B e 2 C.

    Volte ao esquema ilustrado nas figuras 6 e 7. Observe que as linhas de

    montagem do violo e a de fabricao do brao tem o mesmo tempo de

    ciclo (ver figura 8). Preencha os valores de capacidade diria e horria nas

    figuras 6 e 7 com o caso mais real ilustrado na figura 8. Ento, analise o

    impacto das duas sequncias ilustradas abaixo na linha de fabricao de

    braos. O que seria necessrio fazer para manter as trs linhas de fabricao

    de braos em melhor condio de produtividade?

    Considere agora que haja um pedido adicional de entrega de outras 40

    unidades do violo C. A linha de produo vai estar ocupada em 97%,

    conforme visto abaixo. Essa acomodao levaria a linha para trabalhar

    prximo ao seu limite superior. Analise agora um caso onde o cliente

    cancelasse 35 unidade do violo A, e solicitasse 28 adicionais de B e 7

    adicionais de C. Qual a capacidade ocupada? Que aumento de

    produtividade necessrio para que a capacidade fique em torno de 80%?

    Opo 1 A A B A C A B A C A B A BOpo 2 A A A A A A A B B B B C C

  • 15

    Controle Kanban

    Uma vez estabelecido o plano de produo, o controle no sistema JIT

    realizado por meio do sistema Kanban. O formato mais conhecido do

    Kanban o sistema de dois cartes, o qual ser apresentado abaixo,

    considerando a linha de montagem de violes e a fabricao dos braos.

    So dois os tipos de carto Kanban, portanto: kanban de produo e kanban

    de transporte, conforme ilustrados na figura abaixo.

    O kanban de produo contm: nmero da pea, descrio, tamanho do lote

    a ser produzido e colocado em continer padronizados, centro de produo

    responsvel e local de armazenagem. Nenhuma operao de produo

    executada sem que um kanban de produo a autorize. J o kanban de

    transporte autoriza a movimentao do material pela fbrica, de onde ele

    fabricado para onde ele consumido e vice-versa. As informaes que

    constam nesse carto so: nmero da pea, sua descrio, tamanho do lote

    de movimentao (igual ao do kanban de produo), centro de produo

    que o origina e o seu destino.

    Figura 9 Tipos de kanban: de produo e de transporte

    KP produo

    Nm. da pea: V1.002.000

    Descrio: BRAOLote: 12 peas

    C.P.: Clula B-32Armazm: B-32

    KP transporte

    Nm. da pea: V1.002.000

    Descrio: BRAOLote: 12 peas

    C.P. origem: Clula B-32C.P. destino: Posto V-32

  • 16

    importante salientar tambm que o Kanban demanda haver um painel nos

    centros de trabalho que resuma a programao da produo no centro de

    forma rpida e visual. Voltando ao caso da fbrica de violes,

    consideremos a figura a seguir. Dois operadores realizam a montagem final

    do brao do violo. Nesse local, eles montam os trastes no brao do violo.

    Nele esto armazenadas determinadas quantidades de braos dos trs tipos

    de violes a serem usados quando necessrio. Vamos ento ilustrar a

    sequncia de passos do Kanban.

    Figura 10 Linha fictcia de montagem final do brao do violo

    Container com peas

    Container vazio

    KT-A KT-B KT-B KT-C KT-C

    Para o centro J-32 (produtor do brao tipo C)

    1

    2

  • 17

    1 o operador retira o ltimo brao tipo C de um continer kanban que est

    em seu posto;

    o continer tem preso a ele um kanban de transporte que permite sua

    movimentao at o centro produtivo que finaliza a fabricao de braos

    tipo C;

    os funcionrios de movimentao dirigem-se ao centro de produo de

    finalizao dos braos (B-32), deixam o continer de transporte vazio e

    levam um cheio para a linha de montagem. O kanban de transporte

    acompanha essa movimentao.

    o kanban de produo que estava preso ao continer cheio de rotores

    colocado no painel kanban do centro B-32 indicando que um novo lote de

    braos tipo C precisa ser finalizado.

    o operador do centro B-32 utiliza braos semi-acabados que estavam em

    um continer no estoque de entrada de seu centro de trabalho.

    ele, ento, libera o kanban de transporte que estava preso ao continer de

    braos semi-acabados para que o pessoal de movimentao possa transferir

    um outro lote de braos semi-acabados do centro S-32 para o B-32.

    quando concludo o lote de braos solicitados, conforme indicados no

    painel (4), o operador do centro B-32 prende o kanban de produo que

    estava no painel ao continer e deposita o conjunto no local de estoques de

    sada.

  • 18

    Esse processo continua para trs no processo at que se chegue na matria-

    prima bsica do subconjunto em questo. Dessa forma, o sistema JIT

    garante que a fabricao das etapas anteriores do processo ser puxada pela

    etapas finais. A figura a seguir ilustra o esquema de operaes produtivas,

    estoques de entrada e sada e kanbans de produo e transporte em no

    sistema de produo acima.

    Caso o centro processe peas para mais de um centro consumidor, vrios

    cartes kanbans de produo sero colocados no painel de produo do

    centro, indicando que vrios lotes de diferentes peas devero ser

    executados. O operador dar prioridade ao material que tiver relativamente

    o maior nmero de kanbans no painel, pois isso indica que existe menos

    estoque entre seu centro e o que est mais indicado no painel.

    Figura 11 Esquema de funcionamento da linha de montagem e linhas de

    produo apresentadas

    EE S-32 ES EE B-32 ES EE Linha

    Fluxo de materialFluxo de kanbans de transporteFluxo de kanbans de produo

  • 19

    No sistema kanban, a reduo de estoques perseguida de uma maneira

    bem simples e direta: diminuindo os contineres e, portanto, os kanbans

    entre os dois centros. Sem o kanban de movimentao, simplesmente o

    centro produtor no acionado e sem o kanban de movimentao, material

    no circula entre os centros.

    Gerenciamento de projetos

    O gerenciamento de projetos uma disciplina que no se aplica ao mesmo

    tipo de problema dos sistemas MRP e JIT. Vimos que esses dois sistemas

    se prestam programao e ao controle da produo de um dado volume de

    pedidos em uma produo repetitiva.

    O gerenciamento de projetos, por sua parte, trata de uma situao onde a

    produo no repetitiva. Isso no significa que no existam tarefas

    repetitivas relacionadas entrega prevista para a concluso do projeto. Em

    um projeto , inclusive, possvel e muitas vezes necessrio adotar outras

    tcnicas de gesto da produo para realizar parte suas atividades. Por

    exemplo, se retomarmos a fbrica de violes, imagine haver um pedido

    muito grande de um cliente importante. Um novo modelo de violo, que,

    apesar de ter corpo e cabea totalmente diferentes, contm um brao padro

    utilizado no modelo A, anteriormente mencionado. Ser necessrio realizar

    uma srie de atividades para projetar o novo violo, provavelmente ser

    feito um modelo do violo e apresentado ao cliente. Se esse modelo for

    aprovado, provvel que a linha de produo dos braos do violo A seja

    utilizada. Pode ser necessrio aumentar sua capacidade de produo, mas

    se ela operar utilizando cartes kanban, provavelmente continuar

    operando com os cartes.

    O mesmo raciocnio pode ser aplicado integrao o gerenciamento de

    projetos e os sistemas que utilizam MRP para programar a produo. O

    importante saber que:

  • 20

    ... um projeto caracterizado como um empreendimento temporrio cujo

    resultado nico, com incio e fim bem definido, portanto no se repetindo

    como tal. Adaptado de PROJECT MANAGEMENT INTITUTE, 2008, p.

    5).

    As principais tcnicas de programao e controle de projetos so

    sumarizadas a seguir. Utilizaremos um exemplo simples de atendimento do

    pedido de violes exclusivos, acima mencionado para exemplificar as

    tcnicas.

    Estrutura da diviso do trabalho (EDT)

    A estrutura da diviso do trabalho a principal ferramenta utilizada para

    estabelecer o escopo do projeto, ou seja, o que deve ser feito para atender

    aos requisitos do cliente. Convencionou-se utilizar uma estrutura

    hierrquica para representar a EDT, conforme ilustrado na

    Figura 12.

    A estrutura indica que o violo especial ter seu projeto dividido em

    atividades que dizem respeito ao projeto (design) propriamente dito, ao

    desenvolvimento de novos fornecedores, pois se prev que no possvel

    fabricar todo o lote comprado internamente na empresa, produo e

    entrega do violo e um conjunto de atividades que tm relao com validar

    os requisitos, o projeto, os lotes de produo etc., com o cliente.

    VIOLO ESPECIAL

    PROJETO DO VIOLO

    DESENVOLVI-MENTO DE

    FORNECEDORES

    VALIDAO COM O CLIENTE

    PRODUO

  • 21

  • 22

    Figura 12 Estrutura da diviso do trabalho de um projeto de um pedido

    encomendado de um violo especial

    A etapa seguinte o planejamento do escopo, que seria basicamente

    relacionar as atividades necessrias para cumprir cada elemento da EDT

    elaborada. Essa etapa est dentro do contexto do que se denomina de gesto

    do escopo do projeto.

    Rede de operao, CPM e PERT

    As atividades listadas passam para um processo de gesto de tempo. Nele,

    inicialmente as relaes de precedncia entre as atividades estabelecida

    de maneira a criar uma rede de operaes ou rede de atividades. Para

    cada atividade so feitos os seguintes questionamentos: (1) qual a atividade

    que a antecede? (2) seus resultados vo para qual atividade? Respondendo

    a tais questes e interligando as atividades tem-se a rede de operaes. O

    passo seguinte , ento, estimar a durao de cada atividade. Uma vez

    estimada, tem-se um cronograma inicial do projeto. A figura a seguir

    apresenta um conjunto sucinto de atividades necessrias ao projeto do novo

    violo, com suas estimativas, precedncias e uma rede de atividades que a

    caracteriza.

    Uma vez tendo a rede de atividades e as estimativas de durao, pode-se

    realizar os clculos relativos ao CPM e ao PERT. Iniciaremos com o CPM

    que o mtodo do caminho crtico (Critical Path Method). Seu clculo

    realizado da seguinte forma:

    - o incio da rede designado como tempo 0 (zero). A partir dele soma-se a

    durao das atividades de maneira a termos os valores de incio mais cedo

    possvel de cada atividade.

    - a data de trmino da ltima do projeto a data mais cedo possvel de o

    projeto terminar.

  • 23

    - considerando a data de trmino mais cedo feito o clculo agora do final

    para o comeo. Ou seja, vai-se reduzindo da data de trmino a durao da

    atividade at chegar ao incio da rede.

    Figura 13 Lista de atividades, precedncias, estimativas e rede de

    operaes do projeto do novo violo.

    - a essa altura temos quatro datas representando as atividades da rede: uma

    data de incio mais cedo e uma data de fim mais cedo; e uma data de incio

    e uma data de fim mais tarde.

    - subtraindo as datas de incio ou as datas de fim, teremos a folga da

    atividade. O caminho crtico do projeto aquele em que a folga de suas

    atividades 0 (zero).

    P1.1 P1.2

    IncioP1.3

    P1.5

    P1.4

    P1.6 P1.7 P1.8

    P1.10

    P1.9

    P1.11 P1.12

    Cdigo Atividade Precedncia Estimativa

    P1.1 Levantar requisitos do violo Incio 2

    P1.2 Projetar violo P1.1 15

    P1.3 Validar o projeto do violo P1.2 2

    P1.4 Desenvolver fornecedor do corpo P1.3 20

    P1.5 Elaborar estrutura do produto P1.3 5

    P1.6 Planejar a fabricao do lote piloto P1.5 2

    P1.7 Fabricar lote piloto P1.6 15

    P1.8 Validar lote piloto com o cliente P1.7; P1.4 3

    P1.9 Programar a fabricao do lote final P1.8 2

    P1.10 Fabricao dos corpos de violo P1.4; P1.8 10

    P1.11 Fabricar violes especiais P1.9;P1.10 15

    P1.12 Entregar os violes especiais ao cliente P1.11 5

    Fim

  • 24

    A figura a seguir apresenta graficamente a rede de atividades com as datas

    de cedo e tarde, a durao e folga de cada atividade, assim como seu

    caminho critico. Tente chegar nesses dados.

    Figura 14 Clculo do caminho crtico do projeto do novo violo

    A tcnica PERT (Program Evaluation and Review Technique), muito

    embora tendo sido criada de maneira independente, pode ser entendida

    como uma sofisticao da tcnica CPM, uma vez que ela incorpora a

    importante noo de que, a durao de uma atividade pode no ser fcil de

    determinar, ou incorporar uma incerteza. Assim, no PERT, ao invs de uma

    durao determinada, o planejador apresenta 3 valores para cada durao:

    um mais provvel ( , um otimista ( e um pessimista . Uma vez

    tendo esses dados, deve-se calcular a durao esperada da atividade pela

    seguinte equao:

    P1.1 P1.2

    IncioP1.3

    P1.5

    P1.4

    P1.6 P1.7 P1.8

    P1.10

    P1.9

    P1.11 P1.12

    Fim

    Incio cedo

    Incio tarde

    Fim cedo

    Fim tarde

    Dura-o

    Folga

    0

    0

    2

    2

    2

    0

    2

    2

    17

    17

    15

    0

    17

    17

    19

    19

    2

    0

    19

    19

    24

    24

    5

    0

    19

    21

    39

    41

    20

    2

    24

    24

    26

    26

    2

    0

    26

    26

    41

    41

    15

    0

    41

    41

    44

    44

    3

    0

    44

    44

    54

    54

    10

    0

    44

    52

    46

    54

    2

    8

    54

    54

    69

    69

    15

    0

    69

    69

    74

    74

    5

    0

  • 25

    Onde o tempo esperado da atividade. Obviamente que as estimativas

    realizadas utilizando PERT so mais realistas. H diversas variaes na

    tcnica de clculo de dependendo da distribuio estatstica utilizada.

    Pesquise na internet de que se tratam essas distribuies.

    Enfim, basta dizer que o cronograma do projeto a representao da rede

    de operaes final no formato de grfico de Gantt, discutido no eixo

    anterior desse mdulo.

    Oramento do projeto

    Uma vez tendo um cronograma considerado realista, elabora-se o

    oramento do projeto (budget). Basicamente, o oramento consiste em

    estimar o custo das atividades envolvidas no cronograma, considerando

    todos os recursos nelas envolvidos.

    Um aspecto adicional a se considerar na hora de orar o projeto analisar o

    risco de no-cumprimento de alguma atividade ou de indisponibilidade de

    algum recurso. Por exemplo, no caso considerado, algo crtico pode ser o

    fornecedor a ser desenvolvido para fabricar o corpo do violo. Pode ser um

    fornecedor com tecnologia proprietria e com dificuldades em transfer-la,

    pode ser uma empresa com sistema de produo pouco sistematizado, pode

    haver o risco de um aumento de custo exacerbado no preo de venda do

    corpo etc. usual utilizar um fator de segurana relacionado ao risco de

    cada atividade.

    Linha de base do projeto

    importante que uma vez que o cronograma est definido com as

    atividades necessrias ao projeto, o oramento est fechado, os riscos

    foram analisados e os padres de qualidade do produto a ser entregue

    estejam consolidados, seja congelada uma linha de base (baseline) do

    projeto que vai servir de orientao ao trabalho de execuo do projeto,

    assim como de monitoramento e controle do mesmo.

  • 26

    Monitoramento e controle do projeto

    importante que se entenda que o planejamento de um projeto consiste em

    um preo estabelecido para entregar um determinado escopo dentro de um

    dado prazo a um padro de qualidade pr-definido. Qualquer mudana em

    um desses aspectos implica em mudana em um outro. Ou seja, se o cliente

    desejar introduzir uma funo no seu produto que no est previamente

    acordada (uma mudana de escopo), ela implicar em aumento de prazo e /

    ou custo. comum que se estabeleam critrios para aceite de mudanas

    em projetos aps iniciados e que o impacto de tais mudanas sejam aceitas

    formalmente pelo cliente.

    Enfim, o controle bsico do projeto envolve identificar as alteraes no

    escopo, prazo e custo do projeto ao longo de sua execuo. Basicamente,

    isso feito comparando-se o real com o projetado, para o que, podem ser

    usadas as frmulas apresentadas na figura abaixo.

    Indicador de prazo Indicador de custo Indicador de escopo

    Figura 15 Indicadores de acompanhamento e controle de projetos

    Basicamente, dP o desempenho em prazos, calculado comparando-se os

    prazos realizados com o planejamento original. De forma similar, dC a

    comparao do custo real com o planejado para cada etapa do projeto e dE

    o escopo realizado em cada momento comparado com o escopo planejado

    para o momento considerado. Vale salientar que o escopo real verificado

    considerando as atividades que realmente foram realizadas at o momento

    em relao s planejadas originalmente. Considera-se que a excelncia em

    gesto de projeto ocorre quanto mais prximo da unidade (1) esto os

    indicadores acima.

  • 27

    Esses dados precisam, enfim, ser levantados periodicamente de maneira a

    manter o projeto sob controle, ajustando variaes ou corrigindo o plano

    em funo de sua inviabilidade.