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Planeamento de um Programa de Exercício Físico
Para a População Infantil Obesa
ANA MARGARIDA, Nº1885
LESLEY FERREIRA, Nº1871
PEDRO CLARO, Nº1646
SUSANA ROXO, Nº1854
MÓDULO 14| FISIOTERAPIA NA PROMOÇÃO E PROTEÇÃO DA SAÚDE
UNIDADE CURRICULAR| FISIOTERAPIA NA PROMOÇÃO E PROTEÇÃO DA SAÚDE II
RESPONSÁVEL DO MÓDULO| PROF. MARGARIDA SEQUEIRA
2011/2012
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ÍNDICE
Contextualização ………………………………………………………………………………………………………………………….3
Programa de exercício físico para obesidade infantil …………………………………………………………………..6
a) O que é que se sabe sobre os programas para combate à obesidade infantil? ……………6
b) Definição e justificação da população alvo selecionada para o programa ………………….6
c) Caraterísticas específicas/desenho do programa de exercício físico para a população
alvo selecionada …………………………………………………………………………………………………………..7
d) O que avaliar para uma correta/adequada implementação do programa de exercício
físico para crianças obesas? …………………………………………………………………………………………9
e) Definição de objetivos ………………………………………………………………………………………………….9
f) Caraterização da sessão ……………………………………………………………………………………………….9
g) Caraterização dos princípios de progressão do programa ………………………………………..10
h) Caraterização das qualidades físicas do programa …………………………………………………….11
1) Cardiovascular ……………………………………………………………………………………………………..11
2) Endurance Muscular …………………………………………………………………………………………….12
3) Flexibilidade …………………………………………………………………………………………………………12
Bibliografia ………………………………………………………………………………………………………………………………….13
Apêndices …………………………………………………………………………………………………………………………………..16
a) Como avaliar as qualidades físicas do programa de exercícios ..……………………………..16
b) Tabelas resumo das características do programa de exercícios …….………………………..20
c) Gráfico das qualidades físicas do programa de exercícios .………………………………………22
d) Cronograma do programa …………………………..……………………………………………………………22
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CONTEXTUALIZAÇÃO
As sociedades têm vindo a sofrer modificações significativas nas várias dinâmicas que as
constituem ao longo dos últimos tempos. Paralelamente, várias consequências têm surgido, como
as designadas epidemias mundiais; estas estão cada vez mais presentes no dia-a-dia da população
e acarretam pela sua presença, um conjunto de consequências que colocam em causa a sua saúde
e qualidade de vida. A obesidade é um dos exemplos dos que constituem a vasta gama destas
epidemias e é mesmo considerada por alguns a epidemia do século XXI (Antunes & Moreira,
2011). Esta define-se como um excesso de gordura corporal (Dehghan, Akhtar-Danesh &
Merchant, 2005), tendo etiologia num balanço energético desadequado, em que a energia obtida
através do que é ingerido é superior àquela que é gasta pelo organismo, gerando-se um
desequilíbrio que leva à formação e ao armazenamento de tecido adiposo (Scottish Intercollegiate
Guidelines Network, 2010).
Vários são os fatores que poderão conduzir à obesidade, desde fatores genéticos, fatores
sociais, culturais e comportamentais (Dehghan, Akhtar-Danesh & Merchant, 2005). Sabe-se que
os fatores genéticos - sendo exemplos o Sindrome de Down e de Bardel-Biedle (American
Academy of Pediatrics, 2006) - consistem numa minoria no que diz respeito ao facto de se
apresentarem como fatores que estão na atual prevalência da obesidade e que os últimos três
fatores mencionados se destacam por influenciarem significativamente a ascensão da prevalência
da obesidade em todo o mundo (Dehghan, Akhtar-Danesh & Merchant, 2005). Dentro dos fatores
sociais e comportamentais, é transversal e inter-relacionável o facto da dieta da população se ter
vindo a modificar nos últimos tempos; o conceito de “alimento” mudou de uma necessidade para
uma fonte de prazer, tornando-se um marco importante no estilo de vida (Dehghan, Akhtar-
Danesh & Merchant, 2005). A dieta alimentar também se tem vindo a tornar nutritivamente
pobre e no geral rica em energia (Dehghan, Akhtar-Danesh & Merchant, 2005), influência da
disseminação do conceito de fastfood e do tipo de alimentos que dentro da sua filosofia são
disponibilizados e de fácil acesso à população. Em simultâneo a este facto, hoje a sociedade
possui no geral uma rotina diária que se carateriza por uma grande quantidade de afazeres e
devido ao avanço tecnológico que se tem vindo a verificar nos últimos tempos e ao fácil acesso da
população a grande parte dos materiais desenvolvidos neste âmbito, os comportamentos e
rotinas que constituíam o dia-a-dia da população têm-se vindo a alterar. Vários equipamentos
tecnológicos são parte integrante e fundamental da rotina diária dos indivíduos, como os
computadores, a televisão, os telemóveis e as consolas, conduzindo assim à inatividade e a estilos
de vida sedentários, que afetam todos os grupos etários, géneros, etnias e estratos económicos
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(Antunes & Moreira, 2011). Torna-se assim compreensível, face ao mencionado, que a obesidade
se assuma como um problema de saúde pública e um problema de dimensões consideráveis entre
diferentes faixas etárias, sendo uma das faixas etárias mais afetadas, a das crianças e
adolescentes (Rito, Paixão, Carvalho & Ramos, 2010).
Nas últimas duas décadas a prevalência do excesso de peso e de obesidade na população
juvenil tem vindo a aumentar a um ritmo alarmante, sendo esta a patologia pediátrica mais
comum a nível mundial, em que 155 milhões de crianças na idade escolar (dos 6 aos 9 anos)
apresentam excesso de peso e 30 a 45 milhões de crianças são obesas. Na Europa, a taxa de
crescimento desta epidemia tem vindo a aumentar, especialmente em crianças que se encontram
nos estratos económicos mais desfavoráveis e 4 mil novos casos surgem todos os anos, juntando-
se aos 45 milhões de crianças com excesso de peso já no espaço europeu (Rito et. al. 2010).
Portugal é o 5º país do continente Europeu com maior prevalência de obesidade infantil, sendo
que a prevalência da obesidade na infância e na adolescência está a aumentar de forma
alarmante: segundo a evidência, 31,5% das crianças portuguesas com idades compreendidas
entre os 7 e os 9 anos apresentam excesso de peso e 11% obesidade (Antunes & Moreira, 2011;
Coelho, Sousa, Laranjo, Monteiro, Bragança & Carreiro, 2008; Rito et. al. 2010). A obesidade
infantil está assim associada a uma elevada taxa de morbilidade e mortalidade, produzindo
elevados custos a nível individual, nacional (sendo que representa 2.8% dos gastos anuais
portugueses na área da saúde) e mundial, sendo que existem ainda muitas crianças com excesso
de peso ou obesas que ainda não estão inseridas na estatística mas que já apresentam
sintomatologia (Rito et. al. 2010). Além disso, segundo Stice, Shaw & Marti (2006), apenas 10%
das crianças que são obesas procuram tratamento, facto que torna fundamental a avaliação das
necessidades normativas desta população, bem como o conhecimento dos fatores de risco da
patologia por parte do profissional de saúde, para que se possa direcionar uma intervenção
adequada e capaz de melhorar a saúde e qualidade de vida destas crianças.
Sabe-se também que a obesidade é uma doença com várias consequências, sendo que as
diretas culminam frequentemente no desenvolvimento de condições crónicas tais como diabetes
tipo II, hipertensão arterial, dislipidémia, doenças cardiovasculares e respiratórias, apneia do
sono, incontinência urinária, patologias oncológicas e músculo-esqueléticas, podendo ainda levar
ao surgimento da síndrome metabólica, que aumenta exponencialmente a probabilidade da
criança vir a desenvolver doenças cardiovasculares (Rito et. al. 2010; Stice et. al. 2006; Antunes &
Moreira, 2011; Bushman (ed.), 2011; Canadian Physiotherapy Association, 2007). A fadiga, a
dispneia em esforço, a fraqueza muscular, e dores articulares são assim motivos comuns de
condicionamento para a realização das mais diversas atividades funcionais do dia-a-dia da
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criança/jovem, como caminhar, correr, saltar, subir escadas e brincar com outras crianças,
promovendo a discriminação, o isolamento social e a baixa autoestima, que predispõem a uma
diminuição do sucesso escolar (Rito et. al. 2010; American Academy of Pediatrics, 2006; Canadian
Physiotherapy Association, 2007; Stice et. al. 2006), tornando-se no seu conjunto todas estas
consequências condicionantes ao desenvolvimento psico-motor “normal” de qualquer criança.
Apesar de ser um problema com grandes proporções, a incidência e prevalência da
obesidade pode ser modificada, considerando que a maior parte dos casos tem etiologia em
fatores modificáveis, como no tipo de dieta alimentar o no nível de sedentarismo (Antunes &
Moreira, 2011). Várias são as atuações/estratégias que podem ser implementadas através de uma
equipa multidisciplinar, proporcionando cuidados de saúde efetivos e adequados às necessidades
normativas e expressas das crianças. Nesta equipa, salienta-se o papel do Fisioterapeuta, pois é
fundamental no que diz respeito aos programas de prevenção e/ou promoção da saúde em
crianças com excesso de peso e obesidade com ou sem condições já associadas. Neste âmbito, o
Fisioterapeuta possui conhecimento acerca da fisiologia da patologia, do que lhe está inerente e
do que a carateriza, acerca de métodos de avaliação e ainda competências para realizar
prescrição de exercício, bem como educação/aconselhamento junto da população tendo em
conta as suas caraterísticas. É assim capaz de elaborar programas para a prevenção e promoção
da saúde centrados no(s) indivíduo(s), acompanhando-o(s) ao longo da implementação do
programa e garantindo a avaliação e supervisão do mesmo, bem como das estratégias
selecionadas para este, visando sua efetividade e portanto a manutenção/melhoria da
funcionalidade e da qualidade de vida das crianças (Canadian Physiotherapy Association, 2007;
Benson, Torode & Fiatarone, 2007).
Este trabalho académico visa assim a implementação de um programa de exercícios para
uma população de crianças com obesidade. Segundo Stice, Shaw, & Marti, (2006) programas que
incluem uma abordagem que visa um aumento do nível de atividade física têm mais efeitos na
redução de massa gorda do que os que não incluem, sendo que programas que atuam
diretamente sobre a redução de peso, a pressão arterial e o colesterol, são menos efetivos no
alcance do objetivo a que se propõem.
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PROGRAMA DE EXERCÍCIO FÍSICO PARA OBESIDADE INFANTIL
a) O que é que se sabe sobre os programas para combate à obesidade infantil?
Os programas dirigidos para a população obesa infantil são de grande importância, pois
quando bem desenvolvidos e supervisionados conduzem a uma diminuição de comportamentos
sedentários com resultados benéficos para a saúde, incluindo melhorias na composição corporal,
na aptidão cardiorespiratória, na quantidade de lipídios no sangue, na densidade mineral óssea e
na sensibilidade à insulina, promovendo a diminuição da morbilidade e mortalidade infantil e,
quando em adultos, a melhoria da funcionalidade (Whitlock, O'Connor, Williams, Beil & Lutz,
2010; Benson et. al. 2007; Stice et. al. 2006). Para a aquisição dessas melhorias, os programas que
incluem meramente a componente prática de atividade física demonstram resultados mais
efetivos do que os programas que apresentam somente a componente educacional, contudo há
evidência que mostra que quando existe junção de ambas as componentes, estas produzem
maior efetividade na resolução dos problemas da obesidade infantil a longo prazo, do que quando
meramente isoladas (Heyward, 2010; Gutin et. al. 2002). Além disso, intervenções que assentem
na modificação comportamental, envolvendo educação, prática de atividade física ou exercício,
demonstram ser também mais efetivas do que as intervenções farmacológicas no tratamento da
obesidade infantil e ainda na redução dos fatores de riscos associados (Whitlock et. al. 2010).
Com isto, a componente educacional seria incluída no programa que seria implementado na
população alvo deste trabalho, visando a promoção de hábitos e estilos de vida saudáveis, bem
como da consciencialização da importância de se ter uma alimentação saudável e da prática
regular de atividade física. Quanto à prática de exercício físico, sabe-se que quando realizada de
uma forma regular permite a manutenção do nível de tecido adiposo presente na composição
corporal (World Health Organization (WHO), 2007). Em relação à componente prática de
atividade física, esta passa por manter as crianças obesas ativas, recorrendo a diversas estratégias
dinâmicas, promovendo assim a redução de hábitos e estilos de vida sedentários.
b) Definição e justificação da população alvo selecionada para o programa:
O programa será elaborado e destinado a crianças com idades compreendidas entre os 6 e
os 9 de idade de ambos os géneros, uma vez que se verifica uma maior prevalência de obesidade
nas crianças que integram esta faixa etária (Whitlock et. al. 2010) e que as crianças obesas entre
estas idades têm uma probabilidade entre 60 a 70% de virem a ser adultos obesos (Rito et. al.
2010 e Stice et. al. 2006). Além disso, apesar de estar descrito que os resultados de programas
para a prevenção da obesidade através da atividade física e de uma alimentação saudável são
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positivos no género feminino, estes são efetivos em ambos os géneros (Stice et. al. 2006).
Considerando a realidade Portuguesa em relação a esta temática, sabe-se que em termos
regionais a obesidade infantil toma valores bastante elevados - acima dos 30% - na Região
Autónoma da Madeira (Moreira, 2007). Assim, considera-se como população alvo específica as
crianças obesas (IMC ≥ 30 kg/cm2) de ambos os géneros com idades compreendidas entre os 6 e
os 9 anos que frequentem a Escola do 1º Ciclo do Foro, Jardim da Serra, da Ilha da Madeira. A
faixa etária das crianças dos 6 aos 9 anos de idade carateriza-se ainda por consistir numa
população infantil em que segundo a evidência a alteração de hábitos e estilos de vida ocorre
mais facilmente pois os hábitos sedentários não estão tão “enraizados” e existe uma maior
adesão a este tipo de programas, quando comparada com a população adolescente (Stice et. al.
2006). Segundo a mesma fonte, quando a intervenção é direcionada para crianças com idades
inferiores aos 14 anos, a informação pode não ser integrada de forma efetiva, mesmo quando são
selecionadas estratégias que contemplam as suas idades, pois existe uma dificuldade acrescida
para as crianças em compreenderem todos os conceitos e competências trabalhadas no
programa. Face a isto, surge a necessidade de considerar além das crianças que cumprem os
requisitos mencionados como a população alvo também os seus pais. Segundo a evidência os
programas implementados para controlo/combate da obesidade demonstraram maior
efetividade aquando do envolvimento dos pais, pois este permite que os princípios do programa
possam ser transferidos para o quotidiano das crianças e possa assim ser promovida a alteração
de comportamentos sedentários e uma manutenção a longo prazo de comportamentos
salutogénicos (Whitlock et. al. 2010; Scottish Intercollegiate Guidelines Network, 2010; Stice et.
al. 2006). A evidência também apresenta uma relação negativa quanto à incidência da obesidade
infantil e o nível educacional dos pais, isto é, quanto mais baixo o nível de escolaridade maior será
probabilidade da criança vir a ser obesa, o que aumenta a importância da inclusão dos pais nesta
abordagem (Moreira, 2007).
c) Caraterísticas específicas/desenho do programa de exercício físico para a população
alvo selecionada:
A evidência diverge quanto à duração dos programas de combate à obesidade infantil,
variando num intervalo de tempo de 6 a 12 meses. Numa revisão sistemática (Oude Luttikhuis,
2009), vários são os estudos analisados, sendo que a média da duração das intervenções assenta
em 6 meses. Noutro estudo Whitlock et. al. (2010) comparam a efetividade de programas de
curto prazo (6 meses) e de programas de longo prazo (12 meses), concluindo que ambos são
efetivos, pois existe melhoria das qualidades físicas trabalhadas ao longo do programa
(capacidade aeróbia e endurance), contudo após o follow-up, a intervenção de curto prazo não
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apresentou retenção das melhorias evidenciadas após o término do programa, enquanto que o
follow-up nas crianças e adolescentes que participaram num programa de longa duração,
demonstraram retenção das melhorias apresentadas no final do programa. Numa revisão
sistemática de 2006, que compara estudos relativamente às intervenções direcionadas à
população infantil obesa, para idades inferiores a 12 anos, as intervenções de 6 meses,
apresentaram os mesmo resultados que a baseline, após follow-up (Stice et. al. 2006). Assim,
como uma das considerações da intervenção deve consistir em produzir melhorias que se
prolonguem ao longo do tempo, torna-se evidente a importância de implementar um programa
de longa duração nesta população. Ao olhar-se para a população selecionada – crianças dos 6 aos
9 anos – e fazendo o paralelismo com a duração mais efetiva a nível da retenção de resultados,
optou-se por se implementar um programa cuja duração é de 10 meses. Selecionou-se os 10
meses e não os 12 meses, uma vez que com um período de 12 meses poderão ocorrer mais
desistências face a indisponibilidade e é mais difícil manter a adesão das crianças, porque não se
encontram em contexto escolar – contexto em que será implementado o programa - 12 meses,
mas sim 10 meses, os quais correspondem à duração de um ano letivo.
No que toca à população infantil e, segundo a evidência, as qualidades físicas que
contemplam os programas de exercícios mais efetivos são a capacidade cardiovascular, a
endurance muscular e a flexibilidade. Quanto ao treino da capacidade cardiovascular, este
permite melhorar o condicionamento físico (aumentar o VO2 máx.) e reduzir o tecido adiposo
corporal e visceral, promovendo a redução dos fatores de risco, como a aterosclerose, para
patologias cardiovasculares (Ara, Serrano-sanchez, Dorado & Calbet, 2006; Gutin et al, 2002). A
inserção do treino de endurance muscular num programa de exercício físico para crianças obesas,
demonstra muita efetividade na medida em que o treino desta qualidade permite aumentar a
força muscular, a densidade óssea e reduzir a massa adiposa corporal, sem ter efeitos negativos
na segurança e no crescimento físico das crianças obesas, quando supervisionado e adequado
para esta população (Bushman, 2011; Benson et. al. 2007). Além disso, programas que não
incluem uma intervenção direcionada à melhoria desta qualidade física demonstram menos
efetividade nos parâmetros mencionados anteriormente (Westcott, n.d.). O treino da qualidade
física flexibilidade, não é uma prioridade nos programas, no entanto a mesma é recomendada
para todas as idades de modo a assegurar uma boa qualidade da prática de atividade física e
também porque tendo as crianças um estilo de vida sedentário pode existir algum compromisso
desta qualidade física, na medida em que não é realizada uma correta manutenção da mesma
(Bushman (ed) 2011). Além disso, estudos revelam que existe um declínio na flexibilidade à
medida que as crianças se vão tornando mais velhas (nos rapazes após os 10 anos e as raparigas
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após os 12 anos) o que justifica mais uma vez a sua pertinência num programa de exercício físico
direcionado para crianças obesas (Ehrman et. al. 2009).
d) O que avaliar para uma correta/adequada implementação do programa de exercício
físico para crianças obesas?
- Composição corporal (IMC, Pregas Glúteas e Perímetro Abdominal) – para saber como
avaliar consultar apêndice página 16;
- Capacidade cardiovascular (Teste da Milha) – para saber como avaliar consultar apêndice
página 17;
- Resistência da força (Curl-up e Push-up) – para saber como avaliar consultar apêndice
página 18;
- Flexilibilidade (Back-saver Seat and Reach) – para saber como avaliar consultar apêndice
página 19.
e) Definição de objetivos:
Geral: Reduzir a prevalência da obesidade em pelo menos 80% das crianças da população
alvo no final do programa. Método de avaliação: IMC e pregas glúteas.
Reduzir o perímetro abdominal para valores normativos em pelo menos 80% das crianças
da população alvo no final do programa. Método de avaliação: Perímetro Abdominal.
Aumentar a endurance muscular em 50% das crianças da população alvo no final do
programa. Método de avaliação: Curl-up e Push-up.
Aumentar a capacidade cardiovascular em 80% das crianças da população alvo no final do
programa. Método de avaliação: Teste da Milha.
Aumentar a flexibilidade em 60% das crianças da população alvo no final do programa.
Método de avaliação: Back-saver Seat and Reach.
f) Caraterização da sessão:
A evidência demonstra que a duração da sessão varia entre 60 a 90 minutos, sendo que o
aumento do tempo é realizado de forma gradual, aumentando-se dez minutos aquando do
aumento da intensidade de treino – 5 meses - até se atingir os 90 minutos, sendo que esta
duração não contempla a duração das aulas de educação física (Goldfield 2001 citado pela Oude,
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2009). Segundo Spear et. al. (2007), é recomendado que a duração diária de atividade física para
a população infantil corresponda a pelo menos 60 minutos de intensidade moderada e que 30
minutos dessa atividade ocorra durante as horas que passa na escola (Academia Americana
Pediatrica, citado por Spear, 2007).
A frequência semanal do programa é de 5 vezes por semana, por ser a média de dias que é
recomendado pela literatura, isto é, existe programas onde a frequência é de 2 vezes por semana,
(Graf, 2005; Savoye, 2007; Berry, 2007 citado por Oude, 2009) e outros programas que
recomendam 6 dias (Epstein 2008; Epstein 2005), contudo estes programas contemplam uma ou
duas das qualidades que serão integradas no programa a apresentar e se se pensar nos dias em
que a disponibilidade das crianças é maior, esta consiste nos 5 dias úteis. Ainda, segundo Gutin, et
al (2002), o programa cuja frequência semanal foi de 5 vezes por semana, mostrou benefícios
significativos na resolução da obesidade infantil. Na última semana de cada mês, não há sessão à
sexta para haver no sábado, de modo a proporcionar a possibilidade de realizar competições
desportivas entre as crianças e a possibilidade dos pais estarem presentes. Esta estratégia –
competição - é bastante importante por promover a socialização entre as várias crianças, a
participação dos pais e ainda é um fator que aumenta a motivação das crianças face a prática de
atividade física (Ara et al., 2006).
g) Caraterização dos princípios de progressão do programa:
Com base nos princípios que devem reger a progressão de um treino o programa delineado
deve obedecer aos princípios da sobrecarga, especificidade e periodização (ACSM, 2009).
Considerando o princípio da sobrecarga, a carga necessita de ser aumentada progressivamente,
pois para existir uma melhoria da função do tecido ou órgão, este deve ser exposto a um estímulo
superior àquele a que o organismo está habituado (ACSM, 2009; Hogan, 2006). Através da
variação de parâmetros como número de repetições, duração do treino, número de séries,
número de exercícios, velocidade de execução de exercício, etc., as exigências fisiológicas
impostas ao organismo podem ser aumentadas (ACSM, 2009). Se a quantidade de stress ao qual o
organismo está sujeito se mantiver constante, o corpo irá adaptar-se e como resultado, os níveis
de performance não serão melhorados daí a necessidade de progressão (Hogan, 2006). Em
relação à especificidade, este princípio afirma que os efeitos do treino são específicos do tipo de
exercícios realizados (ACSM, 2009). O conceito de periodização diz respeito à variação de todos
os estímulos que fazem parte do programa, e esta é utilizada como base importante na prevenção
do overtraining. O overtraining refere-se ao momento no qual os participantes do programa de
exercício começam a experienciar um treino que em termos fisiológicos não é adequado e
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desenvolvem adaptações fisiológicas incorretas prejudicando assim o seu desempenho assim, as
indicações apontam para uma relação inversa entre intensidade e volume, sendo que quando a
intensidade é reduzida o volume de treino deve ser elevado e vice-versa (Hogan, 2006).
h) Caraterização das qualidades físicas do programa:
1) Cardiovascular
A qualidade física cardiovascular será melhorada através de um treino aeróbio com
intensidade moderada e durante cinco vezes por semana numa fase inicial, sendo que ao meio do
programa (5 meses) haverá uma redução para 3 dias por semana com intensidade vigorosa
(Westcott, n.d.; Atlantis, Barnes & Fiatarone, 2006; Ehrman, Gordon, Visich & Keteyian,2009). No
início do programa, os exercícios serão realizados com uma frequência cardíaca máxima (FC máx)
de 60 a 75%, aproximadamente 220 batimentos por minuto (bpm) e depois dos 5 meses, com FC
máx entre 75 a 90%. A duração de treino em cada sessão será de 30 minutos inicialmente,
aumentando para 60 minutos após os 5 meses de intervenção (Ehrman et al, 2009). O aumento
dessa duração assenta em 10 minutos a cada 2 semanas, sendo o aumento realizado de forma
contínua e consistente. Os exercícios são direcionados para os grandes grupos musculares e
correspondem a 6 a 12 exercícios, inicialmente e após os 5 meses, respetivamente (Heyward,
2010). Para a intensidade moderada as atividades variantes são caminhar, jogar, dançar, natação
e atividades que não necessitam de equipamentos. Relativamente à intensidade vigorosa as
atividades assentam em correr, corrida curta e jogos coletivos (Watts, Jones, Davis & Green,
2005). Segundo a literatura, estas são as atividades mais efetivas para combater o problema da
obesidade nesta população, sendo esta classificada em grau I de evidência (Scottish
Intercollegiate Guidelines Network, 2010).
1.1) Face ao que foi dito anteriormente os exercícios que foram selecionados para iniciar o
programa foram corrida, jogos ativos/dinâmicos tal como saltar a corda e jogar a bola, estes
exercícios serão realizados num espaço livre, de modo a possibilitar o movimento das crianças em
qualquer direção. Muitos dos exercícios foram realizados em equipa promovendo o dinamismo e
interação entre as crianças (Scottish Intercollegiate Guidelines Network, 2010). No início do
programa o enfoque está na execução dos exercícios e não numa realização coordenada por parte
das crianças, uma vez que o desenvolvimento motor esperado para cada uma das idades
incorporados no programa é diferente (Scottish Intercollegiate Guidelines Network, 2010; Lopes,
Meneguci & Rodrigues, 2011).
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2) Endurance Muscular
O treino desta qualidade física será realizado com intensidade baixa (50% de uma
resistência máxima (1RM)), 3 vezes por semana, com um dia de descanso por semana, numa fase
inicial, sendo que ao meio do programa modificar-se-á para uma intensidade moderada (70% de
1RM), 4 vezes por semana. A duração da sessão será de 20 minutos ao longo de todo o programa
(Watts et al.,2005; Ehrman et al, 2009). O número de exercícios corresponde a 5 até a meio do
programa e 9 no final do programa, sendo que cada exercício terá entre 2 séries com 6 repetições
e a meio da intervenção aumentar-se-á para 3 séries com 15 repetições, realizado com uma
velocidade de 2 para 2 segundos (Westcott, n.d.; Heyward,2010; Scottish Intercollegiate
Guidelines Network, 2010).
2.1) Como descrito na literatura, as atividades que foram integradas no início do programa
são atividades que envolvem peso corporal tais como flexões, saltos, puxar a corda, “carrinho de
mão”, sendo estas atividades que envolvem os grandes grupos musculares, permitindo ainda criar
um maior dinamismo nas sessões (Ehrman et al, 2009). Mais uma vez durante o treino desta
capacidade, o enfoque encontra-se na realização dos exercícios.
3) Flexibilidade
O treino desta qualidade física será realizado todas as sessões durante 15 minutos (ACSM,
2009), com uma intensidade baixa, sendo cada exercício contém 2 series, 15 segundos cada
inicialmente e no meio do programa com uma intensidade moderada, sendo que cada exercício
contem 3 séries, 30 segundos cada. Serão realizados 8 exercícios, sendo que inicialmente os
exercícios são estáticos, modificando-se para exercícios dinâmicos ao meio do programa (ACSM,
2009; Ehrman et. al. 2009).
3.1) No que reporta à flexibilidade, a literatura descreve a necessidade de utilizar exercícios
estáticos para os grupos musculares maiores quando se trata de uma intensidade leve, e por isso,
foram selecionados exercícios para a cervical, tronco, membros superiores (tricípete), membros
inferiores (isquiotibiais e quadricípete) (ACSM, 2009; Ehrman et. al. 2009).
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APÊNDICE
a) O que avaliar e como avaliar para uma correta/adequada implementação do programa
de exercício físico para crianças obesas?
1) Composição corporal:
A avaliação deste parâmetro é fundamental para se caraterizar a população alvo (crianças)
e identificar-se em que ponto se encontram (excesso de peso/obesidade) para que
posteriormente também possa existir uma avaliação da efetividade do programa em termos da
sua composição corporal. Segundo a evidência, a obesidade pode ser diagnosticada através de
vários métodos, sendo exemplos a desitrometria (pesagem subaquática), a análise bioelétrica da
impedância, a ressonância magnética, bem como o perímetro abdominal e o Índice de Massa
Corporal (IMC), sendo este último método um dos mais utilizados na prática clinica, por ser de
aplicação simples e por serem necessários pouco recursos para a sua aplicação (Dehghan, Akhtar-
Danesh & Merchant, 2005).
1.1) Cálculo do IMC:
O IMC mede a corpulência, obtida dividindo o peso do indivíduo (Kg) pela altura (m)
elevada ao quadrado e permite assim classificar o indivíduo quanto ao seu peso consoante o
resultado obtido (Portal da Saúde, 2005). Nas crianças, o diagnóstico de obesidade em função do
IMC não se pode aplicar da mesma forma que no adulto, devido ao processo de crescimento e de
maturação constante que ocorre e que origina - devido à sua velocidade de ocorrência - uma
grande variabilidade inter e intraindividual em ambos os sexos, que impossibilita de definir
exatamente quando é que a criança é pré-obesa ou obesa (Portal da Saúde, 2005). Como forma
de contrariar este problema, o valor do IMC nas crianças deve ser calculado e o resultado obtido
deve ser percentil do e interpretado utilizando-se tabelas de referência, sendo que valores iguais
ou superiores ao percentil 85 e inferiores ao percentil 95 indicam pré-obesidade e valores de IMC
iguais ou superiores ao percentil 95 indicam uma situação de obesidade (Portal da Saúde, 2005).
1.2) Pregas Cutâneas:
Este método de avaliação consiste em medir a espessura das pregas cutâneas dos músculos
tricípete e gémeos para o cálculo da percentagem de gordura corporal, para tal é necessário um
compasso de pregas cutâneas (The Cooper Institute, 2006). A prega cutânea tricipital é medida na
parte de trás do braço sobre o músculo tricípete, a meio da distância que existe entre o cotovelo e
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o acrómio - usar um fio para encontrar o ponto médio pode ser uma estratégia a utilizar (The
Cooper Institute, 2006). Para a sua avaliação, é necessário comprimir a prega ligeiramente acima
do ponto médio para garantir que esta está a ser medida imediatamente sobre o ponto médio
(The Cooper Institute, 2006). A prega dos gémeos é medida do lado de dentro da perna ao nível
da circunferência máxima obtida na região do ventre muscular, sendo que o pé deve ser colocado
sobre uma superfície plana elevada com o joelho fletido a um ângulo de 90º. A prega deve ser
vertical e deve estar imediatamente acima do nível de circunferência máxima para que a medição
ocorra no local de volume máximo dos gêmeos (The Cooper Institute, 2006). A medição deve ser
efetuada 3 vezes e é registado o valor médio (The Cooper Institute, 2006).
1.3) Perímetro Abdominal:
O perímetro abdominal mede-se abaixo do umbigo devendo passar a fita métrica à volta do
abdominal sobre a linha que une as espinhas ilíacas antero-superiores, determinando o nível de
presença de gordura visceral (Fernández, Redden, Pietrobelli & Allison, 2004). Por esse motivo,
deve ser dada uma atenção especial a crianças que apresentem um valor que as coloquem num
percentil entre 75 e 95 pois de acordo com a sua raça e género, estes valores representam um
aumento do risco para várias comorbilidades, incluindo doenças cardiovasculares e diabetes tipo
II (Fernández et. al. 2004). Assim os valores de referência nas crianças devem de ser nos rapazes
de 6 anos entre 59,1 a 64,2 cm;, 7 anos entre 61,7 a 67,6 cm, 8 anos entre 64,3 a 71,0 cm, 9 anos
entre 61,7 a 67,0 cm e raparigas de 6 anos entre 58,8 a 64,0 cm, 7 anos entre 61,1 a 66,8 cm, 8
anos entre 63,4 a 69,7 cm, 9 anos entre 65,7 a 72,6 cm (Valores validados para as crianças
Europeia-Americana) (Fernández et. al. 2004).
2) Capacidade cardiovascular - Teste da Milha:
O teste da milha é um teste submáximo que avalia a capacidade cardiovascular e consiste
em correr uma milha a ritmo confortável, de forma a mantê-lo ao longo de todo o percurso (The
Cooper Institute, 2006). Caso a criança não consiga realizar a distância total do teste, é-lhe
permitido realizá-la a andar. Para que a sua realização seja possível, é necessária uma superfície
de corrida plana (poderá ser uma pista ou uma área medida de um espaço), um cronómetro, uma
caneta e um formulário tipo para colocar os dados do teste (The Cooper Institute, 2006). Nas
crianças entre os 5 e os 9 anos não tem que existir um registo do tempo em que esta demora a
percorrer a distância do teste, uma vez que o seu objetivo para estas consiste apenas em
completar essa distância a um ritmo confortável, pois os valores de referência para se chegar a
um padrão de desempenho nestas idades ainda não foram estabelecidos, existindo problemas de
confiabilidade e validade (The Cooper Institute, 2006). Ao conseguirem fazê-lo, recebem um score
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de 00 minutos e 00 segundos. Contudo quando as crianças têm uma idade de 9 anos ou mais já
deve ser obtido um score em tempo (minutos e segundos), visando o alcance de um padrão de
desempenho, sendo para tal fundamental o tempo que demoram a percorrer a distância do teste
(The Cooper Institute, 2006). Para isso um colega deve monitorizar o tempo que esta demora a
realizar o percurso, sendo que um score de 99 minutos e 99 segundos indica que a criança não
conseguiu completar/realizar o teste (The Cooper Institute, 2006) .
3) Resistência da força - Curl up e Push up:
A resistência da força pode ser avaliada através dos testes “Curl up” e “Push up”. É
importante referir que segundo Kramer & Fleck citado por Ehrman (2009), 6 ou menos repetições
do exercício são suficientes para avaliar a resistência máxima (RM) da força nas crianças. Assim,
segundo os mesmos autores se a criança realizar o máximo de repetições possível a uma
percentagem de resistência específica do seu peso corporal, ou seja, 6RM, é o suficiente para
avaliar a endurance muscular.
3.1) Curl-up:
Segundo a evidência (Ehrman, 2009), a utilização do “Curl-up” minimiza o recrutamento dos
flexores da anca, favorecendo uma posição correta da coluna lombar, revelando-se assim de
utilização adequada nas crianças. O objetivo deste teste consiste em realizar o máximo de
abdominais até 75 a um determinado ritmo. Para que possa ser realizado de forma adequada, é
necessário um tapete de ginástica e uma barra/faixa de medida por cada grupo de duas crianças,
sendo que esta faixa pode ser feita em papelão, borracha, madeira suave, ou qualquer material
semelhante, mas deve fina e plana e deve apresentar entre 76 cm a 89 cm de comprimento e 7
cm de largura, para crianças em teste que apresentem uma idade entre 5 a 9 anos (The Cooper
Institute, 2006). As crianças devem agrupar-se em pares e enquanto uma realiza os abdominais, a
outra fica a contar o nº de realizações e a corrigir possíveis erros.
A criança que realiza o teste deve encontrar-se em decúbito dorsal sobre o tapete, com os joelhos
fletidos a um ângulo de aproximadamente 140° e com os pés apoiados no chão e as pernas
ligeiramente afastadas e os membros superiores devem de estar em extensão e paralelos ao
tronco com as palmas das mãos apoiadas no colchão e os dedos esticados, sendo fundamental
que a cabeça também se encontre em contacto com o colchão (The Cooper Institute, 2006). É
ainda importante mencionar que quem supervisiona a realização deste teste, deve certificar-se
que as crianças têm os pés afastados tanto quanto possível das nádegas, mantendo a postura de
flexão dos joelhos e os pés em contacto com o colchão, pois quanto mais perto das nádegas
estiverem posicionados os pés, mais difícil se torna a realização do movimento pretendido,
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podendo comprometer os resultados que poderão ser obtidos com este teste (The Cooper
Institute, 2006). Uma vez assumida uma posição correta, a contagem do número de repetições é
iniciada, deve colocar a faixa de medida no colchão debaixo das pernas da criança que realiza o
teste de modo a que os seus dedos repousem perto desta (The Cooper Institute, 2006).
Cumpridos os requisitos para que o teste possa ser realizado de forma correta, este deve iniciar-
se: a criança deve realizar lentamente os abdominais mantendo os calcanhares em contato com o
tapete e em simultâneo deslizar os dedos em toda a faixa de medida até alcançar o outro lado
voltando de seguida para baixo até que sua cabeça toque no pedaço de papel sobre o tapete (The
Cooper Institute, 2006). É importante que o movimento seja lento e com uma cadência de cerca
de 20 admonais por minuto (1 a cada 3 segundos). O teste deve terminar após a realização de 75
abdominais, quando é realizada uma segunda correção ou quando a criança não consegue
continuar (Erhman, 2009) e em relação ao seu score, este consiste no nº de abominais realizados
(devem ser contados quando a cabeça da criança volta a tocar no tapete), devendo ser
posteriormente comparado com valores de referência tabelados para a idade da criança que se
encontra em teste, para se obter um padrão de desempenho (The Cooper Institute, 2006).
3.2) Push-up:
O objetivo deste teste consiste em completar o máximo de flexões com 90 ° de flexão dos
cotovelos numa cadência rítmica, que deve ser conseguida sob orientação de uma gravação
previa em cassete, sendo a cadência correta de 20 flexões por minuto (1 flexão a cada 3
segundos) (The Cooper Institute, 2006). Para a realização do teste as crianças devem dividir-se por
pares, e enquanto uma realiza o teste, a outra fica a contar e a ver se a criança que está a realizar
o teste o realiza com 90º de flexão do cotovelo e com os braços paralelos ao chão (The Cooper
Institute, 2006). A criança em teste deve de assumir uma posição de decúbito ventral sob o tapete
e ter as mãos abertas colocadas debaixo dos ombros, mantendo o tronco e os membros inferiores
em extensão e para realizar o teste deve baixar o corpo realizando flexão dos cotovelos até um
ângulo de 90 °, usando os membros superiores (The Cooper Institute, 2006).
O teste deve ser interrompido quando a criança não conseguir continuar ou aquando de uma
segunda correção e o seu score consiste no número de flexões realizadas.
4) Flexibilidade - Back-saver Seat and Reach:
Este teste avalia a qualidade física flexibilidade; para tal, a criança deve ser capaz de atingir
uma determinada distância realizando o teste para ambos os membros (The Cooper Institute,
2006). Para a realização deste teste é necessária uma caixa resistente de aproximadamente 30
centímetros de altura e uma régua, que deve estar colocada no topo da caixa.
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Para realizar o teste é importante que a criança esteja descalça; esta deve sentar-se em frente à
caixa com uma perna completamente em extensão e com a face plantar do pé contra a caixa e o
membro contralateral deve estar com o joelho em flexão e a planta do pé em contacto com o solo
(The Cooper Institute, 2006). O pé que se encontra em contacto com o solo deve estar 5 a 8 cm
afastado do membro em teste. Após posicionada de forma correta, a criança deve realizar
extensão dos membros superiores e impelir-se para a frente com as mãos uma em cima da outra
realizando flexão da anca, mantendo o tronco em extensão e olhando em frente e avançar para a
frente ao longo da régua (The Cooper Institute, 2006). Deve repetir este procedimento quatro
vezes e manter a posição do quarto alcance pelo menos durante 1 segundo (The Cooper Institute,
2006). Repetir para o lado contralateral. Para que a pontuação possa estar na considerada zona
saudável, a criança deve apresentar um score bilateralmente que traduza uma flexibilidade
considerada saudável para a sua idade, tendo em conta valores de referência (The Cooper
Institute, 2006). Durante este teste é importante que quem o supervisiona tenha atenção a outras
estruturas em que possa existir hipermobilidade, enviesando o resultado obtido (The Cooper
Institute, 2006). Para as crianças do sexo masculino dos 6 aos 9 anos, a distância deve ser
aproximadamente 20 cm (nos dois membros) e do sexo feminino dos 6 aos 9 anos,
aproximadamente 23 cm (The Cooper Institute, 2006).
b) Tabelas resumo das características do programa de exercício físico:
Programa
População alvo: crianças obesas (IMC ≥ 30 kg/cm2)
Idade: Idade escolar (6-9 anos)
Duração total: 10 meses
Duração sessão: 60-90 minutos
Intensidade: Moderada –> Vigorosa
Objetivo: Diminuição da obesidade
Frequência: 5x p/ semana
Capacidade Cardiovascular (Início) Capacidade Cardiovascular (Final)
Intensidade: Moderada (60-75% FC máx) Intensidade: Vigorosa (75-90% FC máx) Frequência: 5 x p/ semana Frequência: 3 x p/semana Duração: 30 minutos Duração: 60 minutos Séries: 1 Séries: 1 Duração exercício: 5 minutos Duração exercício: 5 minutos Nº de exercícios: 6 Nº de exercícios: 12
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Endurance (Início) Endurance (Final)
Intensidade: Baixa (50% de 1RM) Intensidade: Moderada (70% de 1RM) Frequência: 3 x p/ semana Frequência: 4 x p/ semana Duração: 20 minutos Duração: 20 minutos Séries: 2 Séries: 3 Repetições: 6 Repetições: 15 Velocidade: 2/2 Velocidade: 2/2 Nº de exercícios: 5 Nº de exercícios: 9
Flexibilidade (Início) Flexibilidade (Final)
Frequência: todas as sessões Frequência: todas as sessões Duração: 15 minutos Duração: 15 minutos Séries: 1 Séries: 1 Repetições: 2 Repetições: 3 Tempo: 15 segundos Tempo: 30 segundos Distribuição: grandes grupos musculares
Distribuição: grandes grupos musculares
Nº de exercícios: 7 Nº de exercícios: 7 Repouso: 30 segundos Repouso: 30 segundos
Início do Programa
Segunda-feira Terça-feira Quarta-feira Quinta-feira Sexta-feira ou Sábado * Cardiovascular Cardiovascular Cardiovascular Cardiovascular Cardiovascular Endurance M. Endurance M. Endurance M. Flexibilidade Flexibilidade Flexibilidade Flexibilidade Flexibilidade
5º Mês do Programa
Segunda-feira Terça-feira Quarta-feira Quinta-feira Sexta-feira ou Sábado * Cardiovascular Cardiovascular Cardiovascular Endurance M. Endurance M. Endurance M. Endurance M. Flexibilidade Flexibilidade Flexibilidade Flexibilidade Flexibilidade
*Na última semana de cada mês são os jogos coletivos que se realizam ao sábado.
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c) Gráfico das qualidades físicas do programa:
d) Cronograma:
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39
Cardiovascular
Endurance Muscular
Flexibilidade