Piómetra em cadela: Variações no valor do pH...
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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO
Piómetra em cadela:
Variações no valor do pH vaginal
Mestrado Integrado em Medicina Veterinária
João Nuno Garganta de Carvalho Lagarto
Orientador: Professora Doutora Rita Maria Payan Martins Pinto Carreira
Co-orientador: Dr. Luís Miguel Fonte Montenegro
VILA REAL, 2015
I
Dedico este trabalho aos meus pais pela perseverança em fazerem de mim aquilo que sou.
“Recomeça… se puderes, sem angústia e sem pressa e os passos que deres, nesse caminho duro do
futuro, dá-os em liberdade, enquanto não alcances não descanses, de nenhum fruto queiras só metade.”
– Miguel Torga
Piómetra em cadela – variação do pH vaginal
II
Resumo
A piómetra é, na cadela, uma das principais doenças envolvendo o útero, originando uma síndrome
clínica grave devido aos sérios efeitos secundários que ameaçam a vida: uma infeção uterina leva ao
aparecimento de uma endotoxemia e a uma progressão para uma síndrome sistémica de resposta
inflamatória (SSRI), ou sépsis. Existem uma série de fatores de risco para a piómetra canina embora a
doença apresente uma etiologia multifactorial. Para além das particularidades reprodutivas das
espécies, outros fatores de risco comuns são a idade, a raça, o padrão da atividade reprodutiva, as
gestações prévias e o intervalo entre gestações, a existência de doenças uterinas ou ováricas
concorrentes e a utilização de contraceção médica. Neste estudo pretendeu-se analisar se a existência
de piómetra induz ou não alterações no pH vaginal. Para isso, recolheram-se amostras de pH vaginal
em 38 cadelas submetidas a ovariohisterectomia, de idades compreendidas entre 6 meses e os 14 anos,
das quais 30 eram saudáveis e 8 tinham diagnóstico clinico de piómetra. As cadelas saudáveis
representavam fêmeas pré e pós-púberes (respetivamente 6 e 24). Em todos os animais foi excluída a
existência de vaginite antes da obtenção do valor de pH vaginal. A mensuração do valor de pH foi
realizada imediatamente antes da cirurgia com recurso a papel indicador. O estadiamento do ciclo
éstrico e a existência de piómetra foram confirmados pela inspeção da morfologia do útero e ovários
e/ou pelo exame histopatológico da peça excisada. O valor do pH vaginal obtido nas cadelas com
piómetra foi comparado com os de cadelas pré- e pós-púberes, e ainda com o de fêmeas nas diferentes
fases do ciclo éstrico. Os resultados não evidenciaram diferenças no que respeita ao valor de pH e o
estatuto reprodutivo das fêmeas, contrariamente ao descrito para outras espécies, apesar de a mediana
para o valor de pH ser mais elevada em fêmeas que se apresentam antes da puberdade (p=0,082). O
valor de pH não varia (p=0,111) nos grupos etários estudados (<1 ano com 10 animais; 1 a <3 anos
com 12 animais; 3 a <6 anos com 8 animais; e 9 anos com 8 animais), mas não pudemos obter dados
sobre a atividade reprodutiva anterior que pudessem esclarecer este ponto. Contrastando com o
descrito anteriormente na cadela, não se obtiveram diferenças no valor de pH vaginal entre as fases de
dominância estrogénica e não-estrogénica (p=0,280), apesar de o pH vaginal em cadelas ser diferente
entre cadelas em anestro e cadelas em proestro (p= 0.0236) ou em diestro (p= 0.0079). O pH vaginal
em cadelas com piómetra foi estatisticamente diferente apenas quando comparado com o de animais
em fase de diestro e de anestro (respetivamente p= 0.0091 e p=0.0241).
Este trabalho apresenta alguns dados preliminares sobre a variação do pH vaginal em situação de
piómetra, mas estes resultados deverão ser confirmados num grupo maior de animais de forma poder
ser determinado a sua utilidade na prática clínica.
Palavras-chave: pH vaginal; Piómetra; Ciclo éstrico; Diagnóstico; Ginecologia; Cadela
Piómetra em cadela – variação do pH vaginal
III
Abstract
In dogs, pyometra is a major uterine disease, leading to a severe clinical syndrome associated to
serious side effects that threaten life: a uterine infection leads to the onset of toxemia, which progress
to a systemic inflammatory response syndrome (SSRI), or sepsis. There are a number of risk factors
for canine pyometra although the disease presents a multifactorial aetiology. In addition to the
reproductive characteristics of species, other common risk factors are age, race, the pattern of
reproductive activity, previous pregnancies and the interval between pregnancies, the existence of
uterine or ovarian diseases competitors and the use of medical contraception. This study aimed to
analyze whether or not the existence of pyometra induces changes in the vaginal pH. In this study the
vaginal pH was collected from 38 female dogs undergoing elective ovariohysterectomy; animals were
aged between 6 months and 14 years old, of whom 30 were healthy and 8 had a clinical diagnosis for
pyometra. Moreover, healthy dogs represented pre and post-pubertal females (6 and 24 respectively).
Vaginitis was excluded in all the animals, before collecting the vaginal pH. Measurement of pH was
carried out immediately before surgery using indicator paper. Staging of estrous cycle or the existence
of pyometra were posteriorly confirmed by inspection of ovaries and from the uterine morphology
and/or by the histopathological examination of the excised piece. The values for the vaginal pH
obtained from bitches with pyometra were compared with those from pre-and post-pubertal female
dogs and with those from healthy females in the different stages of the estrous cycle. The results failed
to evidence a statistical effect of the stage of the cycle over the vaginal pH measurements; similarly,
no differences were found between prepubertal and postpubertal females. Still, the median value for
the vaginal pH tent to be higher in pre-pubertal females than in post-pubertal ones (p = 0.082). The
class of age (<1 year with 10 animals; 1 to <3 years with 12 animals; 3 to <6 years with 8 animals; and
9 years with 8 animals) did not affect the values for the vaginal pH, but in the absence of data on the
previous reproductive history of enrolled animals, no information could be extracted. In contrast to
previous reports in dogs, no changes in the vaginal pH were noticed in the current study between
estrogen associated and the other stages of the canine estrous cycle (p = 0.280); nevertheless,
statistical differences were found between anestrus and proestrus (p= 0.0236) or diestrus (p= 0.0079).
In general, no differences were found in vaginal pH were detected when the stage of the cycle was
disregarded. However, significant differences were found between animals with pyometra and healthy
animals in diestrus and anestrus (p= 0.0091 and p=0.0241, respectively).
This work presents preliminary data on the changes in the value of vaginal pH in female dogs with
pyometra, although these results need to be confirmed in a larger cohort study to establish its
usefulness in the clinical practice.
Keywords: Vaginal pH; Pyometra; Estrous cycle; Diagnosis; Gynaecology; female dog
Piómetra em cadela – variação do pH vaginal
IV
Índice Geral
Resumo .................................................................................................................................................... II
Abstract ..................................................................................................................................................III
Índice Geral ........................................................................................................................................... IV
Índice de Figuras / Tabelas ...................................................................................................................... V
Tabela de abreviaturas ........................................................................................................................... VI
Agradecimentos .................................................................................................................................... VII
Revisão Bibliográfica ...............................................................................................................................1
Introdução ...........................................................................................................................................1
Ciclo éstrico da cadela.........................................................................................................................1
Anestro ................................................................................................................................................2
Proestro ...............................................................................................................................................2
Estro ....................................................................................................................................................4
Diestro .................................................................................................................................................5
Piómetra ..............................................................................................................................................6
Etiopatogenia .......................................................................................................................................7
Fatores de risco ...................................................................................................................................7
Tipologia das piómetras ......................................................................................................................9
Sintomatologia ..................................................................................................................................10
Alterações laboratoriais .....................................................................................................................11
Alterações imagiológicas ..................................................................................................................12
Abordagem ao diagnóstico de piómetra ............................................................................................13
Tratamento ........................................................................................................................................16
Parte Experimental .................................................................................................................................19
Introdução .........................................................................................................................................19
Material e métodos ............................................................................................................................20
Animais e procedimentos ..................................................................................................................20
Análise estatística ..............................................................................................................................21
Resultados e discussão ......................................................................................................................21
Variação do pH vaginal com o estatuto reprodutivo das cadelas ......................................................22
Variação do pH vaginal nos grupos etários considerados .................................................................23
pH relativo em diferentes fases do ciclo ...........................................................................................24
pH vaginal em situação de piómetra .................................................................................................25
Ilações finais ......................................................................................................................................27
Referências ........................................................................................................................................28
Piómetra em cadela – variação do pH vaginal
V
Índice de Figuras e Tabelas
Revisão Bibliográfica
Figura 1 – Representação gráfica do perfil endócrino durante o ciclo éstrico da cadela ....................3
Figura 2 - Representação da concentração sérica média de Estrogénios, Progesterona e LH no
proestro e estro ....................................................................................................................................3
Tabela 1 - Sinais clínicos descritos com mais frequência em cadelas com piómetra .......................11
Tabela 2 - Principais diagnósticos diferenciais descritos em cadelas com piómetra ........................14
Tabela 3 – Resumo do tratamento geral e específico da piómetra ....................................................17
Parte Experimental
Tabela 4 - Quadro resumo da distribuição dos animais em função do estatuto reprodutivo e da fase
do ciclo éstrico ..................................................................................................................................21
Tabela 5 - Quadro resumo da distribuição dos animais saudáveis e doentes ....................................22
Tabela 6 - Variação de pH entre fêmeas pré e pós púberes ..............................................................22
Tabela 7 - Variação de pH entre classes de idade .............................................................................23
Tabela 8 - Variação dos valores de pH ao longo do ciclo éstrico na cadela .....................................24
Tabela 9 - Valores de pH vaginal em cadelas saudáveis e cadelas com piómetra ...........................26
Tabela 10 - Comparação dos valores de pH vaginal em cadelas em diestro e anestro e cadelas com
piómetra ............................................................................................................................................26
Piómetra em cadela – variação do pH vaginal
VI
Tabela de abreviaturas
% - Percentagem
µl – Microlitro
ml – Mililitro
n – Número de casos
ng – Nanograma
p - Significância
cel. – Células
FSH – Hormona Folículo Estimulante
GnRH - Hormona Libertadora de Gonodotrofinas
HQE – Hiperplasia Quística do Endométrio
LH – Hormona Luteinizante
OVH – Ovariohisterectomia
PD – Polidipsia
PU – Poliuria
PGF2α - Prostaglandina F-2-alfa
Piómetra em cadela – variação do pH vaginal
VII
Agradecimentos
Dedico este trabalho aos meus pais, eternos apoiantes que muito sacrificaram para que eu pudesse
estar onde estou.
Aos meus avós que sempre sonharam ver-me formado e tal não lhes foi possível.
Aos meus tios que sem eles o caminho teria sido bem mais tortuoso, para eles o meu muito obrigado
nos tempos mais difíceis.
À minha prima Luísa que sem ela com certeza ainda estaria no primeiro ou segundo ano devido à
minha total inapetência para decorar horários e datas de frequências. Para ti um muito obrigado pelo
esforço e dedicação.
À minha namorada que de conhecida a mulher foi um pequeno passo, que de desconhecida a pilar foi
um ainda menor.
Ao Dr. Luís Montenegro por todo o conhecimento cedido, por todas as vezes que me ensinou e por
tudo o que eu aprendi com ele dentro e fora de um consultório. Por toda a confiança depositada em
mim, o meu mais sincero Obrigado.
À Professora Rita por toda a sua dedicação, empenho, paciência e disponibilidade na elaboração deste
trabalho. O meu muito obrigado.
À Professora Maria que o seu trabalho também possibilitou a realização desta obra. Obrigado
Ao corpo clínico do Hospital de Referência Veterinária Montenegro e da Clínica Veterinária
Montenegro pelos bons momentos que passei nestes meses, e por me ensinarem tanto no nível
profissional como pessoal.
À minha amiga Dr.ª Sandra Couto, que iniciou a minha vida profissional e sempre me incentivou com
o seu “Então miúdo como estás? Já está feito?”. Obrigado
Ao meu bom amigo Dr. Daniel Gonçalves que sem os seus casos por esta hora ainda estaria a pensar
em resolver isto.
Por fim, a todos aqueles que de uma maneira mais próxima e nem sempre preocupada me
acompanharam neste caminho e permitiram que se realizasse um sonho.
Obrigado!
Piómetra em cadela – variação do pH vaginal
1
Parte I – Revisão Bibliográfica
1. Introdução
A fertilidade e o sucesso da vida reprodutiva da fêmea nos cães tem sido um dos principais objetivos
de estudo nos últimos anos, dada a pressão exercida pela necessidade de criar novas ninhadas
selecionadas. Assim a compreensão da normal anatomia do útero e seus estados fisiológicos permitem
que a cadela seja acompanhada mais eficazmente durante toda a sua vida reprodutiva.
A cadela é um animal monoéstrico de características tipicamente não sazonais e de ovulação
espontânea com intervalos normalmente regulares entre raça e indivíduo (Concannon, 2011);
atualmente as fêmeas podem mesmo atingir idades relativamente avançadas e mesmo assim obter
ninhadas moderadamente prolíficas, sendo um importante fator limitante as normativas impostas pelos
clubes da canicultura, que impõem intervalos mínimos entre partos e uma idade máxima para registos
de ninhadas. Contudo, é também reconhecido que com o aumento da seleção de exemplares de
genética elevada, se perdeu em termos de competência imunitária no útero (entre outros orgãos), o que
favorece o desenvolvimento de situações de infertilidade e a ocorrência de alterações uterinas de
origem inflamatória. Assim, com o passar do tempo e por influência da seleção intensificam-se os
problemas reprodutivos nas cadelas (Hagman, Lagerstedt, Hedhammar, & Egenvall, 2011; Jitpean,
Hagman, Holst, Höglund, Pettersson, & Egenvall, 2012). Um dos mais importantes é a piómetra que
consiste numa infeção e inflamação do útero da cadela, normalmente diagnosticada na fase de diestro
(Contri, Gloria, Carluccio, Pantaleo, & Robbe, 2015).
Por ser um problema que evolui nas suas primeiras fases de uma forma silenciosa, a piómetra é muitas
vezes apercebida pelo proprietário do animal numa estadio em que a infeção uterina já generalizou e
está instalada uma septicemia ou toxemia, e a cadela está em risco de vida.
Esta espécie apresenta algumas particularidades no que respeita ao seu ciclo éstrico e que favorecem o
desenvolvimento de processos inflamatórios, justificando a revisão do ciclo éstrico das cadelas na
secção seguinte.
2. Ciclo éstrico da cadela
A cadela é uma espécie monoéstrica não sazonal. Ou seja, evidencia um ciclo completo que se
encontra separado do ciclo subsequente por um período de anestro (Concannon, 2009; Concannon,
2011) ou pausa, determinado por inatividade ovárica. Nos cães, existe uma heterogeneidade individual
muito pronunciada na duração do ciclo e/ou das fases que o constituem, dependendo sobretudo da
genética (raça e linha) do animal. O intervalo interéstrico é em média de 6 meses, podendo contudo
variar entre 4 e 12 meses (Gier, Kooistra, Djajadiningrat-Laanen, Dieleman & Okkens, 2005;
Concannon, 2011). Neste período, a fase que apresenta uma duração relativamente constante é o
diestro, que tem sensivelmente a mesma duração em ciclos com e sem gestação (Concannon, 2011).
Piómetra em cadela – variação do pH vaginal
2
Classicamente, o ciclo éstrico dos animais domésticos comporta 4 fases: o proestro e o estro são, de
modo geral, fases foliculares, com valores crescentes de estrogénios circulantes e que culminam na
ovulação; o metaestro e o diestro são em regra considerados como fases lúteas, o primeiro
correspondendo à fase inicial de aquisição de competência para a síntese de progesterona pelos corpos
hemorrágicos (Hafez & El-Banna, 1972). Em algumas espécies domésticas é difícil separar de forma
clara estas fases, podendo o ciclo ser dividido em fase folicular e fase luteínica ou progestagénica,
como nos caso dos gatos, ou ainda falar-se apenas em estro e diestro, como nos equídeos. No caso
particular das cadelas, são habitualmente consideradas 4 fases: o proestro e o estro (vulgarmente
designadas conjuntamente por cio), o diestro e finalmente o anestro (Concannon, 2011).
2. 1. Anestro
O anestro é um período de pausa aparente no ciclo da cadela. Em ciclos gravídicos esta fase pode ser
definida como o intervalo entre o parto e a lactação e o pro-estro. Em ciclos em que não exista
gravidez, o anestro é o intervalo entre o fim da fase lútea e o início do pro-estro (Simpson, England, &
Harvey, 1998).
O anestro inicia-se quando os valores circulantes de progesterona descem abaixo dos 1-2ng/ml (Figura
1); a transição do diestro para o anestro é gradual (Concannon, 2011). Este é possivelmente a fase com
maior variabilidade individual na cadela, e é a sua duração que determina o intervalo interéstrico
(Feldman & Nelson, 2004). A duração mínima do anestro, desde a quebra na progesterona circulante,
varia de 7 semanas a 10 meses; considera-se que a duração média do anestro num ciclo padrão (para
um intervalo interéstrico de 6 meses) é de 18 a 20 semanas (Concannon, 2011). No entanto, a duração
do anestro pode ser modulada por diversos factores ambientais, entre as quais a convivência com
fêmeas em cio, o que favorece a sincronização espontânea dos ciclos em grupos de cadelas inteiras co-
habitantes (Kutzler, 2007).
2. 2. Proestro
No proestro, em resposta à estimulação da FSH e LH, GnRH-mediada, observa-se o crescimento
exponencial dos folículos ováricos e consequentemente os estrogénios circulantes aumentam
(Concannon, 2009). Em simultâneo, a secreção de inibina pelos folículos pré-ovulatórios aumenta
também, levando ao decréscimo da secreção de FSH. A progesterona mantém-se em níveis basais até
ao final desta fase. Na cadela o pico de concentração de estradiol circulante apresenta-se
Piómetra em cadela – variação do pH vaginal
3
Fig 1. Representação gráfica do perfil endócrino durante o ciclo éstrico da cadela. Adaptado (Lopate, 2012)
aproximadamente um dia antes do pico de LH, no final do proestro (Figura 2); nesta altura observa-se
uma luteinização precoce das células da granulosa murais, qua acompanha o desenvolvimento
folicular máximo (diâmetros entre 9 e 12 mm no início do estro) (Rehm, Stanislaus, & Williams,
2007). O pico pré-ovulatório de LH ocorre no primeiro dia no estro, e acompanha-se do aumento
gradual da progesterona periférica até valores próximos de 0.6 – 1 ng/mL (Feldman & Nelson, 2004;
Concannon, 2009).
Fig 2. Representação da concentração sérica média de Estrogénios (●), Progesterona (∆) e LH (■) no proestro e
estro, segundo (Simpson et al., 1998).
O início do proestro é habitualmente identificado pela ocorrência de um corrimento vaginal
serosanguinolento e pelo edema vulvar, que são os dois sinais principais de cio nesta espécie
Piómetra em cadela – variação do pH vaginal
4
(Concannon, 2011). A evolução do proestro e a transição para o estro podem ser acompanhados por
citologia vaginal, pela evolução do tipo de células epiteliais representadas na lâmina: o número de
células superficiais queratinizadas tende a aumentar à medida que nos aproximamos do pico de LH,
acompanhando-se de um decréscimo do número de eritrócitos.
Associadas ao aumento dos estrogénios em circulação estão também as alterações comportamentais
que caracterizam o cio das cadelas, como a marcação com urina, inquietude e ausência de obediência e
algumas cadelas começam a vaguear de forma a aumentar a atração dos machos (Moxona, Batty,
Irons, & England, 2012). A lordose e a aceitação do macho, contudo, estão associados ao acréscimo da
progesterona circulante, e habitualmente observam-se na transição do proestro para o estro (Feldman
& Nelson, 2004). No entanto, este tipo de comportamento tem intensidades variáveis com o
temperamento da cadela, pelo que em animais menos dominantes não é raro ocorrer aceitação de
monta em fases mais iniciais do cio (Bessa, Pires, & Carreira, 2007).
2. 3. Estro
Como já foi referido, a progesterona aumenta gradualmente até ao pico de LH, que ocorre no primeiro
dia do estro (Concannon, 2011). O pico pré-ovulatório de LH tem uma duração média de 1,5 dias
(podendo variar entre 1 e 5 dias) e é seguido, com uma diferença de 0,5 a 1 dia, por um pico de FSH
(Concannon, 2009). O pico de LH desencadeia a ovulação no espaço de 48 a 60 horas. A ovulação
ocorre por um período de 12 a 36 horas. Durante um período de 3 a 5 dias, coincidente com a
ovulação, em os níveis de progesterona se mantêm sensivelmente constantes, as concentrações
periféricas desta hormona aumentam rapidamente (Figura 1), para valores substancialmente mais
elevados dos que os observado no diestro de outras espécies domésticas (Concannon, 2009;
Concannon, 2011). Após a ovulação observa-se um decréscimo abrupto das concentrações de
estrogénios circulantes (Concannon, 2009).
Na cadela, o produto ovulado é um oócito primário imaturo, que deve completar o seu
desenvolvimento e reiniciar a meiose já nos ovidutos por forma a adquirir competência para fecundar.
Este processo é relativamente demorado, podendo levar até 60 horas para se completar. Os Oócitos
maturos permanecem viáveis nos ovidutos por períodos até 2 dias, embora em alguns casos possam
manter-se viáveis por períodos mais longos (até 6 dias, em algumas cadelas) (Concannon, 2009;
Concannon, 2011).
Nesta fase, os folículos à superfície do ovário atingem a sua maior dimensão (entre 9 e 12 mm) e
mostram uma parede fina onde são visíveis os trajetos dos vasos capilares; na periferia da ovulação
pode observar-se um aumento da espessura da sua parede, mais pronunciado na área interna (inserida
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5
no parênquima ovárico), o que não permite que ocorra colapso do folículo aquando da ovulação
(Rehm et al., 2007; Concannon, 2009; Bergeron, Nykamp, Brisson & Madan, 2013). O número de
folículos é variável, e está relacionado com a taxa de ovulação esperada na raça. Após ovulação, a
cavidade do folículo será preenchida com fluido, eritrócitos e algumas células inflamatórias, e a
camada da granulosa mural vai proliferando gradualmente para preencher o seu interior (Rehm et al.,
2007).
No endométrio, o edema ainda é observado, em particular no início do estro, mas este tende a
desaparecer depois da ovulação. Observa-se um aumento da ramificação das criptas glandulares e
também, embora menos pronunciado, da área glandular basal, pelo que aumenta no geral a
representatividade glandular do endométrio (Rehm et al., 2007). Em regra, observa-se também uma
distensão do lúmen uterino (Rehm et al., 2007).
2. 4. Diestro
O diestro, por vezes também nomeado por alguns autores como metaestro ou pós-estro, caracteriza-se
pela dominância da progesterona circulante. Nos cães, este período perdura por 60 e 80 dias. A
produção de progesterona é assegurada exclusivamente pelos corpos lúteos, quer o ciclo se acompanhe
de gestação ou não (Simpson et al., 1998; Concannon, 2011). Pode ser identificada como dia em que a
cadela recusa a monta, normalmente 6-8 dias após o ínicio do estro, ou 8-10 dias após o pico de LH
pré-ovulatório, ou como o dia em que a citologia vaginal apresenta uma dominância de células
nucleadas redondas e um influxo de leucócitos.
A progesterona aumenta na parte inicial desta fase, atingindo o seu plateau entre os dias 25 e 35 pós-
ovulação; depois disso, e associado a limitações inerentes ao corpo lúteo, os valores periféricos de
progesterona começam a baixar, sendo este decréscimo mais pronunciado a partir do dia 45 pós-
ovulação (Simpson et al., 1998; Concannon, 2009). Os valores circulantes de progesterona do diestro
apresentam variações individuais marcadas, mas são muito semelhantes entre os ciclos com ou sem
gestação (Concannon, 2009). O corpo lúteo mantém-se cavitário até próximo do dia 20 após a
ovulação, apesar de este diminuir gradualmente até que por volta do dia 25 se torna compacto.
A função lútea na cadela está na dependência do estímulo trófico exercido pela LH e pela Prolactina,
estando esta última aumentada do meio do diestro em diante (Gier et al., 2005; Concannon, 2011).
Alguns trabalhos descrevem a existência de pequenos picos inconsistentes de estradiol durante o
diestro, mas o desenvolvimento folicular até à fase de antro é muito limitada durante o diestro.
Contudo, nos ciclos em que ocorre gestação observa-se um aumento dos estrogénios por volta do dia
30 e novamente dois dias antes do parto, que foi associado a uma origem placentária (Concannon,
Piómetra em cadela – variação do pH vaginal
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2009). A transição do diestro para o anestro é gradual. Considera-se que o diestro termina quando as
concentrações de progesterona retornam a valores basais, ou seja, se encontram abaixo de 1ng/mL
(Simpson et al., 1998; Concannon, 2011), o que ocorre por volta do dia 65 pós-ovulação.
Durante o diestro, os corpos lúteos são as estruturas mais evidentes, projetando-se à superfície do
ovário, conferindo a característica forma em mórula. Os corpos lúteros podem apresentar dimensões
entre os 8 e os 13 mm, e são carmins. De meio do diestro em diante, a sua projeção à superfície do
ovário reduz-se e ao corte apresentam-se também mais claros. Histologicamente observa-se uma maior
heterogeneidade das céluas lúteas, começando a observar-se um aumento da vacuolização do
citoplasma das células lúteas e do número de células apoptóticas (Rehm et al., 2007). Respondendo à
estimulação da progesterona, no endométrio observa-se um aumento da ramificação e enrolamento das
glandulas endometriais, que apresentam agora um epitélio colunar alto; a secreção glandular está
também estimulada nesta fase (Rehm et al., 2007).
3. Piómetra
A piómetra é a afeção uterina mais prevalente nos cães. Embora se apresente sob diversas formas
(Feldman, 2004; Fieni, Topie, & Gogny, 2014), é mais frequentemente diagnosticada em animais de
meia-idade, considerando-se que afeta cerca de ¼ de todas as cadelas com menos 10 anos de idade
(Kustritz, 2007; Hagman, 2012). A piómetra é uma doença típica de fêmeas inteiras (Kustritz, 2007)
maioritariamente diagnosticada durante o diestro (Fieni et al., 2014); na maioria das vezes, a piómetra
tem um percurso inicial silencioso que permite um aumento da severidade da infeção aquando do
diagnóstico (Okkens, 1992).
Existem alguns fatores predisponentes à ocorrência de piómetra como a idade, o número de partos e a
genética, que poderão estar associados a diferenças na expressão de alguns fatores locais ou a
alterações na população de células do sistema imunitário no endométrio da cadela durante a fase de
dominância estrogénica do ciclo (Payan-Carreira & Pires, 2015). São ainda fatores predisponentes o
facto de nos cães a fisiologia reprodutiva promover a exposição a períodos de dominância
relativamente prolongados em cada ciclo éstrico (Fieni et al., 2014), o que por si só favorece a
ocorrência de alterações degenerativas do endométrio, como a hiperplasia quística do endométrio
(HQE). Esta, aumentando a secreção de fluido que é retido no útero, favorece a contaminação
ascendente do mesmo aquando de um estro e a persistência infeção (Hagman, 2002; Feldman, 2004).
Os sinais clínicos de piómetra são inespecíficos, e podem apresentar diferenças individuais que na
maior parte das vezes dependem da forma clínica em que a doença evolui (piómetra fechada ou aberta)
Piómetra em cadela – variação do pH vaginal
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ou do tempo decorrido até ao diagnóstico (Smith, 2006; Thompson, 2014) ou ainda estar relacionado
com o agente microbiano envolvido no processo (Hagman, 2002).
3.1. Etiopatogenia
A piómetra desenvolve-se em resultado da interação complexa entre vários fatores etiológicos, entre
os quais sobressaem o ambiente endócrino no útero, a virulência do agente infetante, a capacidade do
sistema imunitário local do animal e a sensibilidade individual da própria cadela ao patogeno e aos
produtos inflamatórios (Hagman, 2004). Reconhece-se atualmente que tanto a evolução como a
severidade da piómetra estão dependentes de vários fatores individuais, dentro dos quais a genética
assume um papel importante.
Os cães estão predispostos ao desenvolvimento desta doença, pela exposição relativamente longa do
endométrio às influências da progesterona, típica dos ciclos espontâneos da cadela (De Bosschere,
Ducatelle, Vermeirsch, & Coryn, 2001; Payan-Carreira & Pires, 2005). A administração de
contracetivos à base de progestagénios são também uma das principais causas predisponentes para a
piómetra (Dhaliwal, England, & Noakes, 1999; Wiebe & Howard, 2009). A progesterona por si só é
capaz de induzir o crescimento do endométrio juntamente com um aumento da secreção glandular,
enquanto por sua vez diminui a atividade contráctil do miométrio e o encerramento da cérvix (que
favorecem a retenção do fluído produzido) (Fieni et al., 2014). Este aumento da secreção ao nível do
endométrio, associada com uma alteração da população de células da linha branca no diestro, com
aparecimento de macrófagos e linfócitos (Payan-Carreira & Pires, 2015) e um decréscimo da sua
eficiência nos mecanismos de defesa imunitária, favorece a proliferação das bactérias, qualquer que
seja a sua origem (Feldman & Nelson, 2004; Smith, 2006).
No caso das piómetras, a bactéria mais vulgarmente isolada é a Escherichia coli, talvez por ser uma
bactéria ubíqua e ter uma grande dispersão no organismo, e que pertence também à flora normal do
sistema reprodutivo (Hagman, 2002). Outras bactérias isoladas de situações de piómetra incluem
Streptococcus spp., Klebsiella spp., Staphylococcus spp., Pasteurella spp., Proteus spp. e
Pseudomonas spp. (Wiebe & Howard, 2009; Agostinho, Souza, Schocken-Iturrino, Beraldo, Borges,
Ávila & Marin, 2014).
3.2. Fatores de risco
São vários os fatores de risco que têm sido associados à piómetra, para além da característica extensão
da fase lútea, já mencionada anteriormente.
O estatuto sexual do animal é um dos principais fatores determinantes da ocorrência da piómetra, pois
é tipicamente uma afeção de fêmeas inteiras. Assim, a ocorrência de piómetra será sempre superior em
países em que não há o hábito de castrar as fêmeas em idades jovens, como acontece na Suécia
Piómetra em cadela – variação do pH vaginal
8
(Hagman, 2004) e em Portugal. Decorrente do estatuto reprodutivo da cadela, existe outro fator de
risco, que é a utilização crónica de contracetivos com progestagénios (Johnson, 1989; Hubler &
Arnold, 2000; Tamada, Kawate, Inaba, & Sawada, 2003) como forma de controlar a atividade
reprodutiva de fêmeas maturas inteiras.
A raça e a idade do animal são dois outros fatores de risco com um peso muito grande na prevalência
de piómetra (Hagman, 2004). As raças identificadas como as mais suscetíveis foram: o Collie (rough-
haired), o Rottweiler, o Cavalier King Charles Spaniel, o Bernois e o Golden Retriever (Egenvall,
Hagman, Bonnett, Hedhammar, Olson, & Lagerstedt, 2001). A evolução genética de algumas raças
veio a torná-las mais suscetíveis à ocorrência de determinadas doenças (Forsberg, Kierczak, Ljungvall,
Merveille, Gouni, & Wiberg, 2015). Um dos fatores envolvidos pode ser a maior homozigotia de
genes que acompanha a perda de diversidade genética observada ao longo dos anos, e que muitas
vezes compromete a eficiência do sistema imunitário, tornando o animal mais suscetível aos processos
inflamatórios e ao desenvolvimento de tumores (Davis & Ostrander, 2014; Salas, Márquez, Diaz, &
Romero, 2015). Contudo é também possível reconhecer nestas raças a existências de linhas com
intervalos entre cios próximos de 4 meses, o que agravaria as influências negativas exercidas pelo
aumento do número de fases lúteas ao longo do ano neste tipo de cadelas (Hagman et al., 2011).
A piómetra é normalmente tida como uma doença de animais maturos a idosos, para o que muito
contribui a sua associação à hiperplasia quística do endométrio, a idade média ao diagnóstico é de 6.4
a 9.5 anos (Hagman, 2012; Gibson, Dean, Yates & Stavisky, 2013). No entanto, observa-se alguma
interação entre o efeito da raça e da idade, o que poderá contribuir para que o risco do fator idade
tenha um peso diferente segundo a raça do animal. Assim, haverá raças em que o risco exercido pela
idade é maior, como no Rottweiler ou no Golden Retriever, podendo reduzir a idade média ao
diagnóstico, enquanto que em algumas raças se observa a ocorrência de piómetras em idades mais
avançadas (Egenvall, 2001; Gibson et al., 2013); a longevidade da raça poderá também influir nesta
afeção, mas não existem dados disponíveis sobre o assunto.
A inexistência de gestação ou parto tem sido referido como um fator de risco da piómetra (Niskanen &
Thrusfield, 1998). Contudo, este é um assunto que se mantém em discussão, pois também é
reconhecido que a piómetra se desenvolve em animais com registo de gestações de termo, podendo a
raça interferir também no grau de proteção associado à gestação (Hagman, 2012).
Outros fatores de risco incluem a existência de doença concomitante no útero, sendo a mais importante
a HQE, de que já falámos anteriormente. A disfunção endometrial associada à acumulação de material
mucóide no lúmen uterino predispõe à sua infeção por microrganismos que ascendem da vagina
quando a cérvix se mantém permeável (Hagman, 2012). Quaisquer situações que promovam a
acumulação de material no lúmen uterino constituem fatores de risco. Alguns autores apontam ainda
as infeções do trato urinário como fatores de risco, por favorecerem a contaminação ascendente da
cavidade uterina por patogenos, particularmente durante o diestro.
Piómetra em cadela – variação do pH vaginal
9
3.3. Tipologia das piómetras
As piómetras podem assumir diferentes tipologias; Do ponto de vista clínico as piómetras podem ser
classificadas como abertas ou fechadas em função da absortividade da cérvix, que permite ou não a
eliminação do material purulento contido na cavidade uterina. Na piómetra fechada, o canal cervical
encontra-se encerrado, pelo que não se observa corrimento vulvar indicativo da situação; por norma,
este tipo de piómetra evolui numa forma insidiosa, favorecendo o agravamento da infeção e
consequentemente a severidade dos sinais clínicos da cadela. Por norma, nestas situações, a distensão
uterina é muito marcada e as paredes do útero mais finas (Linharattanaruska, Srisuwatanasagul,
Ponglowhapan, Khalid, & Chatdarong, 2014).
Em contraste, na piómetra aberta, o material purulento produzido em resultado da infeção uterina
passa através do canal cervical, que se encontra permeável (ou aberto), na forma de um corrimento
relativamente copioso, mucopurulento ou hemorrágico, no geral com um odor fétido (Biddle &
Macintire, 2000). Esta forma de piómetra evolui com sinais menos exuberantes, e de uma forma geral
também se acompanha de uma distensão uterina menos pronunciada e o útero mantém a espessura
normal das suas paredes.
As piómetras podem ocorrer em qualquer momento da vida de uma cadela pós-púbere e inteira. Em
função do momento em que ocorre relativamente a um determinado período do ciclo reprodutivo do
animal, ou da sua associação com a existência de outra doença uterina ou nos ovários [como a
hiperplasia quística do endométrio (HQE) ou os quistos foliculares ováricos, respetivamente] a
piómetra pode assumir uma designação particular (De Bosschere et al., 2001).
A piómetra associada à HQE é a forma mais frequente da piómetra (Schlafer & Miller, 2007) e
observa-se em cadelas de meia-idade ou idosas. Este tipo de piómetra enxerta-se sobre um processo
degenerativo do endométrio – a hiperplasia quística - que se caracteriza pela dilatação quística das
estruturas glandulares do endométrio, progesterona-dependente, e pela produção excessiva de muco,
que nas fases mais avançadas se acumula no lúmen uterino (Payan-Carreira & Pires, 2005). Após um
cio, em que há abertura da cérvix, o muco acumulado favorece a proliferação de agentes patogénicos
provenientes da vagina, convertendo uma situação não séptica numa situação inflamatória. Na
patogenia da hiperplasia quística do endométrio a estimulação prolongada do endométrio pela
progesterona tem um papel fulcral. Uma vez que o ciclo éstrico desta espécie é caracterizado pela
existência de largos períodos de dominância da progesterona, as cadelas encontram-se predispostas ao
desenvolvimento desta afeção. Existe também uma associação marcada entre a administração de
progestagénios exógenos e a ocorrência de hiperplasia do endométrio, o que posteriormente está
associada à piómetra (De Bosschere et al. 2001; Payan-Carreira & Pires, 2005).
Piómetra em cadela – variação do pH vaginal
10
Contudo, a piómetra não é uma afeção exclusiva de animais maduros. Pode também ocorrer em
animais jovens, em regra associados ao primeiro cio (Greer, 2014) - Piómetra juvenil - ou associada à
monta. Nestes casos, a afeção evolui a partir de uma endometrite-metrite, por incapacidade de a fêmea
controlar o processo inflamatório, levando à produção de material seropurulento no lúmen uterino.
Esta forma de piómetra tem uma prevalência menor do que a forma associada à HQE, e por isso é
muitas vezes pouco valorizada em termos clínicos (Feldman & Nelson, 2004; Ros, Holst, & Hagman,
2014).
A piómetra pode ainda ocorrer em cadelas logo após o parto. Trata-se de uma infeção aguda, que tem
sido associada a uma deficiente eliminação de lóquias, cuja acumulação favorece a proliferação
microbiana por invasão ascendente (Feldman & Nelson, 2004). Esta forma é também frequentemente
designada por metrite pós-parto (Bishop & Burgess, 2012).
A piómetra de coto, que tem sido descrita em cadelas castradas, é semelhante na sua essência às outras
formas de piómetra já descritas. Atualmente crê-se que esta forma de piómetra apenas se desenvolve
na presença de esteroides sexuais endógenos (sugerindo uma deficiente excisão das gónadas, ou a
existência de um ovário remanescente) e sempre que os cornos uterinos ou o corpo do útero não é
removido na totalidade (Noakes, Parkinson, & England, 2001).
3.4. Sintomatologia
A sintomatologia associada à piómetra é pouco específica e variável. Isto poderá ser explicado pela
existência de alterações desencadeadas pela inflamação uterina/piómetra em vários sistemas (Dennis
& Hamm, 2012; Hagman, 2012), e que serão abordados separadamente.
Uma cadela com piómetra apresenta-se à consulta habitualmente em diestro e evidenciando vários
sinais clínicos associados ao trato genital ou a doença sistémica. Uma das queixas principais à entrada
na consulta é a depressão, que pode estar ou não associada à existência de um corrimento vaginal
mucopurulento (Smith, 2006; Hagman, 2012) ou purulento-hemorrágico (Biddle & Macintire, 2000;
Payan-Carreira & Pires, 2005). No exame físico é comum encontrarem-se ainda sinais de
desidratação, febre associada à infeção uterina, dor ou desconforto abdominal e eventualmente sinais
de septicemia ou toxemia (Biddle & Macintire, 2000) (Tabela 1). A temperatura rectal pode
apresentar-se normal, aumentada. Na presença de toxemia ou shock normalmente os animais
apresentam-se com taquicardia, tempo de repleção capilar aumentado, pulso femoral fraco e
temperatura diminuída.
O útero pode ser palpável através da parede abdominal, dependendo do volume que atinja e da sua
tensão global, o que por seu lado está relacionado com a permeabilidade da cérvix e o facto de o
processo evoluir na forma de “piómetra aberta” ou “piómetra fechada” (Feldman, 2004).
Piómetra em cadela – variação do pH vaginal
11
Embora estes sinais clínicos sejam referidos menos frequentemente, os animais com piómetra podem
ainda apresentar sinais de fraqueza e claudicação dos membros posteriores e marcha rígida (Jitpean,
Ström-Holst, Emanuelson, Höglund, Pettersson, Alneryd-Bull & Hagman, 2014; Klainbart, Ranen,
Glikman, Kelmer, Bdolah-Abram, & Aroch, 2014). Este tipo de sinais clínicos parecem ocorrer com
maior prevalência em animais com piómetra fechada, podendo estar relacionados com o
desenvolvimento de uma artrite imunomediada ou a deposição de complexos antigénio-anticorpo ao
nível das articulações (Klainbart et al., 2014). Outros sinais que podem estar relacionados são a
relutância na marcha e a dificuldade ao subir e descer planos inclinados ou escadas (Klainbart et al.,
2014), os quais podem também estar relacionados com a dor ou desconforto abdominal associado ao
aumento do volume uterino e à existência de inflamação no abdómen médio-caudal (Payan-Carreira &
Pires, 2005).
Tabela 1. Sinais clínicos descritos com mais frequência em cadelas com piómetra, segundo (Feldman & Nelson,
2004)
Sinal clínico % de Animais
Corrimento vaginal 85
Letargia – Depressão 62
Inapetência / Anorexia 42
PU / PD 28
Nocturia 5
Vómitos 15
Diarreia 5
Distensão Abdominal 5
3.5. Alterações Laboratoriais
Os resultados dos exames laboratoriais em cadelas com piómetra são inespecíficos e refletem
sobretudo a existência de uma inflamação progressiva ou de alterações metabólicas secundárias
(Dennis & Hamm, 2012; Da˛browski, Szczubia, Kostro, Wawron, Ceron, & Tvarijonaviciute, 2014).
Em estadios mais iniciais as análises requeridas podem mesmo não apresentar alterações
representativas, não sendo por isso de grande ajuda.
É frequente a hematologia revelar a existência de uma neutrofilia absoluta (>25000 cel/µl) com desvio
à esquerda, regenerativa; contudo, por vezes é também encontrada uma neutropenia em animais com
endotoxemia, ou não serem evidenciadas alterações, em situações iniciais ou com piómetra aberta
(Feldman & Nelson, 2004; Dennis & Hamm, 2012).
É frequente encontrar-se, em cadelas com piómetra, uma anemia moderada de tipo normocítico
normocrómico, que se crê esteja associado à depressão da medula óssea derivada da inflamação
Piómetra em cadela – variação do pH vaginal
12
uterina e da toxemia que lhe está associada (Biddle & Macintire, 2000). Este efeito reflete-se também
nas alterações descritas em respeito aos neutrófilos, que apresentam imaturidade, e na natureza não
regenerativa da anemia instalada. É de esperar que a anemia se resolva assim que o processo
inflamatório (piómetra) se encontre resolvido (Feldman & Nelson, 2004; Hagman, 2012).
Como resultado da desidratação instalada e da/ou estimulação antigénica do sistema imunitário é
normal instalarem-se a hiperproteinemia e a hiperglobulinemia. A ureia sanguínea pode encontrar-se
aumentada em caso de desidratação ou uremia pré-renal. Ocasionalmente as proteínas hepáticas
também podem estar alteradas encontrando-se ligeiramente aumentadas como resultado de uma lesão
hepatocelular causada pela septicemia ou diminuição da circulação hepática com hipóxia celular
(Feldman, 2004; Hagman, 2012).
No que respeita às alterações da bioquímica clínica, as mais frequentemente referidas são um aumento
da atividade da fosfatase alcalina e da alanina transaminase, bem como o aumento dos valores
circulantes de ureia, creatinina, globulina, e das proteínas totais. Estas alterações têm sido associadas à
endotoxemia e a uma reduzida perfusão hepática, e a uma azotémia pré-renal e a uma eventual
desidratação. Foi também referido que a deposição de complexos imunes contribui para um
agravamento da azotémia e para uma insuficiência renal (Hagman, Kindahl, & Lagerstedt, 2006). A
inflamação crónica e a desidratação contribuem para a hiperglobulinemia e o aumento das proteínas
totais. Apesar de ser menos frequente, tem sido também encontrada hipoglicemia, que tem sido
atribuída à septicemia (Feldman & Nelson, 2004; Dennis & Hamm, 2012).
A urinálise apresenta variações pouco específicas nas situações de piómetra. A gravidade específica da
urina é imprevisível nas cadelas com piómetra devido às inúmeras variáveis que podem afetar o
resultado. Inicialmente a gravidade específica deve ser superior a 1.030 por uma simples reação à
desidratação e uma resposta fisiológica para conservação de fluídos. Com o aparecimento de uma
infeção secundária, normalmente por E. Coli, desenvolve-se a toxemia que interfere com a absorção
do sódio e cloro decorrente da incapacidade de os rins concentrarem urina. Como resultado deste
acontecimento aparece a polidipsia por poliuria. Noutros pacientes, pode encontrar-se isostenuria,
hipostenuria, proteinuria ou bacteriuria (Feldman & Nelson, 2004; Dennis & Hamm, 2012).
3.6. Alterações imagiológicas
A ecografia é o método imagiológico mais frequentemente utilizado no diagnóstico da piómetra, dada
a facilidade com que se realiza a técnica e a proporção de informação que ela nos permite obter
relativamente ao processo, em particular quando comparada com o raio-X.
As alterações imagiológicas típicas de um caso de piómetra ao raio-X é a identificação, no abdómen
ventro-caudal, de uma estrutura mole, tubular, contendo graus variáveis de fluído denso, em regra com
Piómetra em cadela – variação do pH vaginal
13
um diâmetro maior do que o das ansas intestinais, e que desloca as ansas intestinais dorso-
cranialmente. Na avaliação de uma imagem de raio-X deve ainda procurar obter-se informação sobre:
1/ a presença de líquido livre abdominal ou peritonite; e 2/ a existência de rutura uterina ou ainda de
retenção fetal (Pretzer, 2008). A primeira deve ser considerada na existência de perda de definição
entre as estruturas abdominais. Por sua vez, a ausência de visualização de piómetra na imagem de raio-
X não exclui a presença da doença, pois existem outras doenças uterinas que apresentam as mesmas
características radiográficas da piómetra, como por exemplo, a mucómetra e a torção uterina. A
principal desvantagem do raio-X no que respeita ao diagnóstico de piómetra é que este tipo de doença
uterina não pode ser diferenciada de uma gravidez até que ocorra a mineralização fetal (Pretzer, 2008;
Feldman & Nelson, 2004).
Assim, a ecografia mantém-se o método complementar de diagnóstico mais útil, por permitir
visualizar de forma direta o contorno do órgão, determinar a espessura das suas paredes, o grau de
distensão do útero, estimar o tipo de fluido retido e descartar a existência de uma gestação e/ou morte
fetal (Pretzer, 2008; Da˛browski, Hagman, Tvarijonaviciute, Pastor, Kocki, & Turski, 2015). O útero
com piómetra apresenta uma imagem tubular anecogénica, com presença de fluído. As piómetras do
coto podem ser identificadas como lesões heterogéneas a hipo-ecogénicas localizadas dorso-
caudalmente à bexiga (Pretzer, 2008; Feldman & Nelson, 2004).
3.7. Abordagem ao Diagnóstico de piómetra
O diagnóstico de piómetra raramente constitui um desafio, apesar dos sinais clínicos da doença serem
pouco específicos. No entanto, na abordagem diagnóstica há que ter em consideração a possibilidade
de existirem outras doenças que apresentem sinais clínicos similares pelo que o raciocínio clínico
obriga à exclusão de diagnósticos diferenciais.
Os diagnósticos diferenciais devem ser feitos para os diferentes sinais clínicos que acompanham uma
situação de piómetra (Tabela 2). Há ainda que lembrar que sinais mais discretos, como o aumento das
dimensões abdominais, o aumento das dimensões uterinas devem ser sempre distinguidos da
existência de uma gestação (Payan-Carreira & Pires, 2005; Dennis & Hamm, 2012) ou de outras
patologias uterinas não associadas à inflamação (como mucómetra e hidrometra), neoplasias uterinas
ou ainda torção uterina [relativamente à combinação dos sinais de aumento da distensão uterina e
sinais sistémicos de shock (Dennis & Hamm, 2012)].
Piómetra em cadela – variação do pH vaginal
14
Tabela 2. Principais diagnósticos diferenciais descritos em cadelas com piómetra, segundo (Thompson, 2014)
Diagnóstico Diferencial
Dor abdominal Aguda
Sistema Urogenital
Infeção do trato urinário inferior; Obstrução do trato urinário inferior; Cistite não séptica;
Pielonefrite; Neoplasma; Metrite; Piómetra; Rutura uterina; Torsão uterina; Mastite; Distócia;
Quistos ováricos.
Outras causas
Gastroenterite hemorrágica; Intussusceção; Síndrome do colon irritável; Toxinas; Drogas;
Pancreatite; Hipoadrenocorticismo; Peritonite.
Febre de origem
desconhecida Abcesso bacteriano; Piómetra fechada.
Doença do sistema
reprodutor
Doença uterina
Piómetra; Proestro; Tumor; Involução deficiente da placenta.
Doença vaginal
Traumatismo; Neoplasia.
Eliminação inapropriada
Problema endócrino
Hiperadrenocorticismo; Hipoadrenocorticismo; Diabetes insipidus; Diabetes mellitus;
Hipertiroidismo.
Outras causas
Doença renal; Infeção urinária; Urolitíase; Tumores de bexiga; Massa abdominal; Problemas
anatómicos; Problema neurológico; Hipercalcemia; Pielonefrite; Hipocalemia iatrogénica;
Insuficiência hepática pós-obstrução; Polidipsia psicogénica; Glicosúria.
Vómitos
Doença gástrica; Gastrite parasitária; Corpo estranho; Obstrução; Ulceração; Neoplasia;
Dilatação / Vólvulos; Hérnia do hiato; Problemas de motilidade; Estenose pilórica; Hipertrofia
antral da mucosa gástrica; Sibo; Enterite viral; Doença intestinal; Indiscrição alimentar;
Alergia; Drogas.
Diarreia Doenças não gastrointestinais; Doença pancreática; Doença hepática; Doença endócrina;
Doença renal; Infeção sistémica (toxemia devido à piómetra).
Abdómen agudo Doença hepatobiliar
Causas urogenitais: Piómetra; Rutura uterina.
Anemia hemolítica –
causas de anemia
Causas virais; Doença respiratória crónica; Doença gastrointestinal crónica; Doenças
bacterianas; Abcesso; Piómetra; Discoespondilite.
Esplenomegalia Ehrliquiose; Micoplasmose; Enterite limfoplasmocitária; Brucelose; Anaplasmose.
Causas de Sepsis Peritonite; Pielonefrite; Pneumotórax; Piotórax; Gastroenterite; Endocardite; Infeções
nocomiais.
Corrimento vaginal
Proestro; Contaminação normal através da pele; Ovário remanescente; Fonte anormal de
estrogénio; Quisto folicular; Neoplasia; Diestro; Gravidez; Mucómetra; Vaginite; Metrite;
Piómetra; Aborto.
Para a existência de corrimento vaginal, são diagnósticos diferenciais a vaginite, o aborto, e os
tumores vaginais não exteriorizados. Por outro lado, em inúmeras vezes as cadelas apresentam sinais
que são comuns a outras doenças, como por exemplo, a ocorrência de poliúria/polidipsia com aumento
das dimensões abdominais. Estes sinais são típicos de doenças como Diabetes Mellitus, a doença
hepática grave e o hiperadrenocorticismo (Payan-Carreira & Pires, 2005). Alguns animais apresentam
ainda sinais de letargia, depressão, inapetência/anorexia, vómitos e diarreia (Pretzer, 2008). Numa
larga maioria as fêmeas afetadas com uma piómetra fechada apresentam-se desidratadas, com
septicemia e/ou toxemias e em shock. A febre é um dos sinais que pode estar presente, apesar de, de
uma forma mais ou menos constante, a temperatura poder apresentar-se diminuída em animais com
Piómetra em cadela – variação do pH vaginal
15
toxemia (Pretzer, 2008). O diagnóstico diferencial da piómetra é extenso e de tal forma generalizado
que afeta quase todos os sistemas.
A abordagem diagnóstica de um caso de suspeita de piómetra baseia-se muitas vezes na correlação
encontrada entre a sintomatologia clínica e os resultados de vários procedimentos complementares,
sejam imagiológicos, citológicos ou da hematologia e bioquímica clínica. A conjunção de 3 dos sinais
sistémicos (em particular o corrimento vaginal, a poliúria/polidipsia, letargia, e transtornos
gastrointestinais) encontra-se positivamente associado à existência de piómetra (Fransson, Karlstam,
Bergstrom, Lagerstedt, Park, Evans, Ragle, 2004). A história de ocorrência prévia de um cio (há cerca
de 4 a 8 semanas) e os sinais clínicos evidenciados pelo animal, em particular o corrimento vaginal ou
a poliúria/polidipsia associada a depressão, devem a levantar suspeita clínica de piómetra, apesar de a
inexistência de corrimento vaginal dificultar um pouco mais esta associação. A palpação de um útero
aumentado de tamanho e consistência alterada, a distensão abdominal acompanhada de sinais mais ou
menos notórios de dor ou desconforto abdominal durante a palpação focam a atenção do clínico para
as alterações do sistema reprodutor (Biddle & Macintire, 2000; Dennis & Hamm, 2012).
O exame ecográfico (mais do que o radiológico) permite a exclusão de uma gestação ou de morte
fetal, bem como a análise das alterações existentes no útero, permitindo em simultâneo a
caracterização da espessura da parede uterina (que se correlaciona bem com o tipo de piómetra, aberta
de paredes mais espessas, ou fechada de paredes mais finas e fraca definição do contorno uterino), o
volume relativo e tipo de fluido (anecogénico estrito, com focos de ecogenicidade irregular ou reforço
de ecogenicidade junto ao endométrio, traduzindo a existência de diferentes tipos de fluídos) ou a
deteção de uma lesão focal ou difusa (Biddle & Macintire, 2000). Assim, a ecografia é o meio mais
eficaz para o diagnóstico de piómetra.
As alterações hematológicas permitem distinguir entre afeções não infecciosas, como a mucómetra e a
hidrometra, que apresentam também aumento de volume uterino por fluído anecóico mas que em
oposição à piómetra não apresentam alteração nas células da linha branca. Estas duas alterações
também não costumam apresentar as alterações nos parâmetros bioquímicos que geralmente
acompanham as piómetras (Karlsson, Hagman, Johannisson, Wang, Karlstam, & Wernersson, 2012;
Karlsson, Wernersson, Ambrosen, Kindahl, Södersten, Wang & Hagman, 2013). Para distinguir uma
piómetra de uma HQE ou mucómetra podem também pedir-se a mensuração da Proteína C reativa no
sangue periférico, que se encontra aumentada na piómetra (Da˛browski et al., 2014).
Piómetra em cadela – variação do pH vaginal
16
3.8. Tratamento
Nos últimos dez anos têm surgido novas drogas para aplicação no âmbito da reprodução canina. Estas
expandiram o espectro de possibilidades terapêuticas para doenças que anteriormente eram tratadas
cirurgicamente, permitindo um melhor controlo do ciclo éstrico e da fertilidade em geral (Tabela 3)
(Gobello, 2006).
A terapia tradicional para a piómetra é a ovariohisterectomia, que permite a remoção imediata do
conteúdo purulento uterino e suprime a libertação de endotoxinas (Wiebe & Howard, 2009). Contudo,
em algumas situações existe um reconhecido interesse reprodutivo na fêmea, e o proprietário pretende
recuperar a cadela para fazer novas gestações; noutros existem problemas de saúde que contraindicam
a cirurgia.
Assim as indicações para tratamento médico são (Tabela 3):
Cadelas pretendidas para criação
Cadelas com uma condição física muito baixa ou de idade avançada, hipotérmicas em que a
anestesia se torna perigosa
Casos em que os proprietários exigem uma contenção de custos ao máximo
Para melhorar a condição da fêmea antes da cirurgia.
Por sua vez o tratamento médico está contraindicado em cadelas que se apresentem hipotérmicas com
suspeita de peritonite. A eficácia do tratamento depende da apresentação clínica da doença (Fieni et
al., 2014).
As prostaglandinas e antiprogestagéneos são os compostos utilizados para o tratamento de metrites
pós-estro e piómetra.
Prostaglandinas
As propriedades luteolíticas e uterotónicas da prostaglandina-F2-α faz com que seja utilizada no
tratamento da piómetra através da utilização de doses repetidas. A utilização da prostaglandina F2 está
indicada no tratamento de metrite ou piómetra aberta em cadelas de tenra idade, que se apresentem
saudáveis, com função renal e hepática normal e que não apresentem distensão uterina. O uso de
prostaglandinas em casos de piómetra fechada está associado ao risco de peritonite ou rutura da parede
uterina (Fieni et al. 2014).
Piómetra em cadela – variação do pH vaginal
17
Tabela 3. Resumo do tratamento geral e específico da piómetra. (Adaptado de Fieni et al., 2014; Gobello, 2006).
Tratamento Geral
Colar Isabelino Evita a ingestão do conteúdo vulvar
Cobertura antibiótica Previne septicémia
Fluidoterapia Corrige a desidratação e trata shock tóxico
Tratamento específico
Prostaglandinas
Luteolíticas e uterotónicas
Indicada no tratamento de metrite ou piómetra aberta.
Risco de peritonite ou rutura da parede uterina.
Agonistas da Dopamina
Derivados da ergotina
Efeito anti-prolactinérgico.
Bromocriptina e a cabergolina, que têm uma ação direta nos recetores D2-Dopamina
das células lactotróficas da glândula pituitária anterior.
Ideais para casos de supressão do leite durante uma pseudo-gestação ou no período
pós-parto.
Podem ser usadas para suprimir a função da progesterona em condições como
piómetra.
Anti-progestagéneos
Derivado sintético dos esteróides
grande afinidade para os recetores da progesterona.
Afinidade para os recetores dos glucocorticóides.
Mifepristona e Aglepristona são usadas clinicamente como abortivos e maneio da
piómetra.
Aglepristona actua como um verdadeiro antagonista da progesterona ao nível
uterino, sem diminuir inicialmente as concentrações séricas da mesma.
Com a mesma dose de aglepristona e cloprostenol, os parâmetros sanguíneos e o
diâmetro uterino regressam a valores normais independentemente da concentração
inicial de progesterona.
Agonistas da Dopamina
Os agonistas dopaminérgicos são compostos alcalóides derivados da ergotina que apresentam um
efeito anti-prolactinérgico. Dois dos compostos mais usados em cães são a bromocriptina e a
cabergolina, que têm uma ação direta nos recetores D2-Dopamina das células lactotróficas da glândula
pituitária anterior. A capacidade dos agonistas da dopamina para inibirem a secreção de prolactina
torna-os ideais para casos de supressão do leite durante uma pseudo-gestação ou no período pós-parto.
No entanto as anti-prolactinas também podem ser usadas para suprimir a função da Progesterona em
condições como piómetra (Gobello, 2006).
Anti-progestagéneos
Este tipo de composto é um derivado sintético dos esteróides que apresenta grande afinidade para os
recetores da progesterona, evitando assim que a progesterona exiba os seus efeitos biológicos. Alguns
destes compostos também apresentam afinidade para os recetores dos glucocorticóides. Em cães a
Piómetra em cadela – variação do pH vaginal
18
mifepristona e aglepristona são usadas clinicamente como abortivos e maneio da piómetra. A
aglepristona atua como um verdadeiro antagonista da progesterona ao nível uterino, sem diminuir
inicialmente as concentrações séricas da mesma. A combinação da aglepristona e da PGF2
demonstrou bons resultados no tratamento médico do complexo HQE-Piómetra. Noutros estudos com
a mesma dose de aglepristona e cloprostenol verificou-se que os sinais clínicos, os parametros
sanguíneos e o diâmetro uterino regressaram a valores normais independentemente da concentração
inicial de progesterona. De forma a prevenir a recorrência desta doença, as cadelas tratadas
medicamente devem apresentar uma ninhada no ciclo subsequente (Gobello, 2006).
Piómetra em cadela – variação do pH vaginal
19
Parte II – Trabalho experimental
1. Introdução
A reprodução da cadela tem-se tornado ao longo do tempo uma área de interesse para os veterinários e
proprietários em geral, não só pela possível fonte de rendimento que daí pode advir, mas também pelos
crescentes cuidados de saúde e bem-estar prestados aos animais.
Trabalhos recentes revelaram que, em várias espécies (Schilling & Zust, 1968; Beckwith-Cohen,
Koren, Blum, & Elad, 2012; Antonov, Dineva, & Georgiev, 2014) o pH vaginal varia com a fase do
ciclo. Em particular, tende a ser mais baixo nas fases de dominância estrogénica (proestro e estro) do
que nas restantes fases (Brabin, Roberts, Fairbrother, Mandal, Higgins, Chandiok, Wood, Barnard &
Kitchener, 2005; Laurusevičius, Šiugždaitė, & Žilinskas, 2008; Beckwith-Cohen et al., 2012).
O fluido vaginal pode ter apenas as seguintes origens (Cohen, 1969):
1) Secreção mucoide proveniente do útero através da cérvix
2) Transudação através das paredes vaginais
3) Secreções vaginais e/ou vulvares derivadas das glândulas submucosas e glândulas de Bartholin,
e glândulas sebáceas ou sudoríparas, estas últimas de presença variável nas espécies animais.
Existem evidências de que, na mulher, o pH vaginal está alterado em situação de doença (Brabin, et
al., 2005). O pH vaginal pode variar nas seguintes situações: vaginose bacteriana (na mulher) ou
vaginite (na cadela) associada a desequilíbrios na constituição de microbiota vaginal (Maul & Sohn,
2006); por monta ou inseminação devido à alcalinização provocada pelo sémen e por possíveis
contaminantes (Antonov et al., 2014; Nakano, Barros, Leão, & Esteves, 2015); na gestação (Beckwith-
Cohen et al., 2012); associada a uma dieta rica em proteína de elevada digestibilidade, em vacas
(Beckwith-Cohen et al., 2012); e por doenças inflamatórias e degenerativas que possam influenciar as
secreções mucoides que atravessam a cérvix (Nakano et al., 2015).
O trabalho agora apresentado constitui a etapa final de um ano de estágio, que decorreu em ambiente
profissional, e que teve como objetivos gerais completar a formação académica em Medicina
Veterinária, estabelecendo uma ponte para a atividade em ambiente real de trabalho. De forma mais
específica, foram propostos como objetivos particulares para este trabalho verificar se a existência de
uma infeção uterina (piómetra), ao alterar as secreções originárias do útero, poderia determinar
alterações no valor de pH vaginal que pudessem vir a ser utilizadas como método auxiliar de
diagnóstico.
Piómetra em cadela – variação do pH vaginal
20
2. Material e métodos
2.1. Animais e procedimentos
Neste trabalho foram utilizadas trinta e oito (n=38) cadelas, com idades compreendidas entre os seis
meses e os catorze anos. As recolhas de material foram feitas em animais submetidos a
ovariohisterectomia de rotina ou por diagnóstico clínico de piómetra. O estadiamento do ciclo foi
baseado no exame físico (para confirmação da existência de cio) e na avaliação morfológica dos
ovários e útero. Todos os animais foram submetidos a um exame reprodutivo sumário para excluir a
existência de vaginite. A suspeita de piómetra baseava-se na apresentação de sinais clínicos
compatíveis e nas imagens ecográficas, tendo sido executados pelo clínico responsável; o diagnóstico
de piómetra foi posteriormente confirmado no Laboratório de Histologia e Anatomia Patológica da
UTAD (LHAP). Foi neste laboratório que foram feitas também as avaliações necessárias ao
estadiamento do ciclo éstrico das cadelas. As peças cirúrgicas foram utilizadas após cirurgia requerida
pelos proprietários dos animais, com o seu consentimento informado, segundo padrões éticos
internacionais.
De acordo com o estatuto fisiológico, criaram-se os seguintes grupos:
- Cadelas saudáveis (ie, sem sinais clínicos ou histológicos de piómetra; n=30), que comportavam
animais pré-púberes (n=6) e animais maturos (n=24). Foram classificados como pré-púberes os
animais que simultaneamente não tinham registo de cio prévio e a inspeção dos ovários não
comprovou a existência de atividade lútea anterior ou a existência de folículos em desenvolvimento.
- Cadelas com piómetra (n=8) confirmada por exame histopatológico, e que foram ainda distinguidas
segundo a existência de corrimento vulvar em piómetra aberta (n= 2) ou fechada (n=6).
A mensuração do valor de pH foi realizada imediatamente antes da cirurgia. O pH vaginal foi medido
com recurso a papel indicador (Merck Art.º. 9565 – pH 0,5 – 13,0). Os lábios vulvares eram abertos,
com dois dedos, de forma a visualizar-se o interior da vagina. Era então colocada diretamente sobre a
mucosa vaginal a tira de papel indicador, com os dedos enluvados ou uma pinça (em animais de porte
mais pequeno), que se mantinha pressionada contra a parede vaginal durante cerca de 10 a 15
segundos; a cor tomada pela tira era então comparada com a escala de cores e os intervalos cedidos
pelo fornecedor. Todo o procedimento foi inócuo e indolor.
Todo o material enviado para exame histopatológico foi fixado em formol tamponado a 10%, tendo
sido submetidos aos procedimentos de processamento de rotina, para diagnóstico em hematoxilina-
eosina. Os resultados do exame histopatológico foram conjugados com o resultado da medição de pH.
Piómetra em cadela – variação do pH vaginal
21
2.2. Análise estatística
A análise estatística dos dados obtidos foi realizada com o programa informático IBM® SPSS®
Statistics 23 e com o Microsoft Excel® 2010.
Dado o número limitado de animais, e para homogeneizar o número de amostras presentes em cada
grupo, para efeitos de análise estatística dos dados, foram criadas as seguintes classes de idade: < 1
ano (n=10), entre 1 e 3 anos (<3 anos; n=12), entre 3 e 6 (≤ 6 anos; n=8) e com mais de 9 anos (≥9
anos; n=8). Não houve registos de idades para animais entre os 6 (≥6 anos) e os 8 anos. Para esta
homogeneização dos grupos foram tomadas em consideração apenas a idade dos animais (em anos) e a
fase do ciclo em que se encontravam.
Através da utilização da análise de variância (ANOVA) e do teste T para as diferentes categorias
estudadas, foram comparadas a idade, a percentagem de fases, o pH e evolução entre as diferentes
estruturas avaliadas nas diferentes fases do ciclo éstrico e doença.
3. Resultados e discussão
Os dados relativos à idade dos animais do grupo saudável em que foi medido o pH vaginal de acordo
com o seu estatuto reprodutivo e em fases distintas do seu ciclo éstrico, encontram-se sumariados nas
tabelas 4 e 5.
Tabela 4 – Quadro resumo da distribuição dos animais em função do estatuto reprodutivo e da fase do ciclo
éstrico.
Estatuto Fase do ciclo N Idade média
(anos)
Desvio
Padrão Mínimo Máximo
Pré-púbere 6 0,5 0,03 6 meses 7 meses
Pós-púbere
(n=24)
Proestro 3 1,2 1,13 6 meses 2,5 anos
Estro 2 1,0 0 1 ano 1 ano
Diestro 6 4,0 3,43 8 meses 10 anos
Anestro 13 3,9 3,9 7 meses 11 anos
Na tabela 5 sumariam-se as informações relativas à dispersão de idades nos grupos de animais
diagnosticados piómetra, comparativamente aos animais saudáveis.
Piómetra em cadela – variação do pH vaginal
22
Tabela 5 – Quadro resumo da distribuição das idade nos animais agrupados como saudáveis e doentes.
Fase do ciclo n Idade média Desvio
Padrão Mínimo Máximo
Sem doença 30 2,8 anos 3,28 6 meses 10 anos
Com Piómetra
Global 8 7,1 anos 5,0 2 anos 14 anos
Aberta 2 12 anos 33,94 10 anos 14 anos
Fechada 6 5,5 anos 4,51 2 anos 13 anos
3.1. Variação do pH vaginal com o estatuto reprodutivo das cadelas
Incluindo unicamente os dados de animais saudáveis, testou-se a hipótese de existirem diferenças
significativas nos valores de pH em fêmeas pré e pós púberes, já que na mulher tem sido referida a
existência de um pH vaginal mais elevado antes da puberdade (Brabin, et al., 2005).
Na tabela 6 encontra-se um resumo dos resultados obtidos. Em ambos os grupos o valor de pH vaginal
variou de 6,0 até próximo ou igual a 8,0.
Tabela 6 – Variação de pH entre fêmeas pré e pós púberes
De acordo com a informação disponível em humanos e em bovinos, o pH vaginal seria mais elevado
antes da puberdade, sendo mais ácido em resultado da estimulação estrogénica decorrente dos
primeiros ciclos e de uma alteração da microbiota vaginal (Cohen, 1969; Beckwith-Cohen et al.,
2012). Também na cadela, seria de esperar que a existência do ciclo alterasse os valores de pH obtidos
não só pela alteração dos valores hormonais em circulação, como pela existência de uma flora
bacteriana alterada mediante a capacidade imunitária que o útero apresenta mediante a fase do ciclo
em que se encontra (Oliveira, 1991; Laurusevičius et al., 2008). Contudo, neste trabalho não se
observaram diferenças significativas no pH vaginal de cadelas pré e pós púberes, apesar de a mediana
para o valor de pH ser mais elevada no caso de cadelas antes da puberdade do que nas cadelas
sexualmente ativas. Quando comparados os valores obtidos para o pH vaginal em cadelas pré-púberes
Estatuto n Média Mediana Desvio padrão Mínimo Máximo
Pré-púbere 6 6,9 7,0 0,59 6,0 7,5
Pós-púbere 24 6,9 6,5 0,61 6,0 8,0
Total 30 6,9 6,8 0,59 6,0 8,0
Piómetra em cadela – variação do pH vaginal
23
e cadelas em anestro, sendo ambas fases em que os valores das hormonas esteróides se encontram em
valores baixos, também não foram encontradas diferenças significativas (p=0,082).
É possível que o facto de as cadelas pré-púberes tenham sido submetidas a OVH de rotina a idades
próximas daquela em que atingiriam a puberdade, podendo as variações hormonais que antecedem o
primeiro ciclo (Brabin, et al., 2005) fazer aproximar o pH vaginal do espectável em animais maturos.
Por outro lado, o número limitado de animais pode também ter contribuído para este resultado. Um
eventual efeito associado ao método como foi colhido o pH vaginal, embora possível, seria menos
provável. De acordo com os trabalhos de (Heinze, Riedewald, & Saling, 1989), existe uma forte
correlação positiva entre os dados recolhidos com papel indicador e os obtidos com recurso a
microeléctrodo.
3.2 - Variação do pH vaginal nos grupos etários considerados
Se considerarmos o total da amostra (i.e. incluindo todos os animais) é possível verificar que existe
uma variação nos valores de pH com a idade (p=0,015). Contudo, esta diferença deixa de existir se
considerarmos apenas as classes de idade estabelecidas neste trabalho (p=0,111; tabela 7). Tem sido
referido que o valor do pH vaginal varia em função da microbiota vaginal, para além das variações
segundo o ciclo (Brabin, et al., 2005).
Tabela 7 – Variação de pH entre classes de idade
Classes de idade
[anos] n Média Mediana Desvio Padrão Mínimo Máximo
<1 10 7,1 6,5 0,60 6,0 8,0
≥1 a <3 12 7,0 7,0 0,58 6,5 8,0
≥3 a ≤6 8 6,7 6,5 0,70 6,0 7,5
≥9 8 6,4 6,5 0,56 6,0 7,5
Total 38 6,8 7,0 0,64 6,0 8,0
De acordo com a tabela 7, observou-se um pequeno decréscimo nos valores médios de pH vaginal à
medida que a idade aumenta, o que poderá ter ocorrido, como descrito na bibliografia, em
consequência de alterações na microbiota vaginal (Brabin, et al., 2005; Maul & Sohn, 2006). Contudo,
analisando a mediana de idades, esta flutuação não apresenta uma tendência clara. O efeito da idade no
valor de pH vaginal foi também descrito por Antonov e colaboradores (2014) na cadela e por Brabin e
colaboradores (2005) em mulheres. A ocorrência de montas tem sido a causa mais frequentemente
apontada para esta variação nos valores de pH, mas a inexistência de informação sobre o assunto nos
Piómetra em cadela – variação do pH vaginal
24
ficheiros clínicos dos animais em estudo limita-nos a capacidade de fazer tal extrapolação. No entanto,
é possível que a existência de animais com histórias reprodutivas distintas em termos de número de
beneficiações e de eventuais partos, aliado ao número limitado de animais, tenha contribuído para a
falta de efeito da idade sobre os valores de pH vaginal. Para poder concluir de forma assertiva haveria
que ter a oportunidade de fazer um trabalho experimental com uma modelação mais consistente e
independente da casuística de cada Centro de Atendimento Médico Veterinário (CAMV).
3.3. pH relativo em diferentes fases do ciclo
De acordo com a literatura, na cadela observa-se um decréscimo dos valores de pH vaginal no proestro
e estro da cadela, sendo este bastante mais baixo na periferia da ovulação (Antonov et al., 2014).
Contudo, no nosso estudo não se encontraram diferenças significativas entre os valores de pH ao longo
do ciclo éstrico da cadela, para a população abrangida pelo estudo (Tabela 8), apesar de se observar
uma tendência nesse sentido (p= 0,069).
As alterações de pH vaginal reportados para o proestro-estro têm sido associados à dominância dos
estrogénios, o que também foi descrito noutras espécies (Schilling & Zust, 1968; Beckwith-Cohen et
al., 2012). No entanto, a comparação dos valores de pH vaginal entre fases estrogénicas (valor médio
de pH = 7,1±0,80) e não-estrogénicas (valor médio de pH = 6,8±0,62) não aportou significância às
diferenças encontradas (p=0,280).
Quando avaliadas de forma independente, apenas o pH vaginal em cadelas em anestro foi
estatisticamente diferente das cadelas em proestro (p= 0.0236) e em diestro (p= 0.0079), mas não do
de cadelas em estro (p= 0.0792). O pH vaginal foi idêntico entre as restantes fases.
Tabela 8 – Variação dos valores de pH ao longo do ciclo éstrico na cadela.
n Média Mediana Desvio padrão Mínimo Máximo
Anestro 13 6,6 6,5 0,40 6,0 7,5
Proestro 3 7,3 7,0 0,58 7,0 8,0
Estro 2 7,3 7,3 1,06 6,5 8,0
Diestro 6 7,3 7,0 0,61 6,0 7,5
Total 24 6,9 7,0 0,61 6,0 8,0
Piómetra em cadela – variação do pH vaginal
25
De acordo com o descrito, os valores do pH vaginal mantêm-se próximos de 7, 5 durante todo o
proestro, decrescendo de forma acentuada na periferia da ovulação onde atingem valores próximos de
6,6, após o que volta a aumentar gradualmente até valores próximos de 7 no primeiro dia do diestro
(Oliveira, Costa, & Silva, 1998; Antonov et al., 2014). Apesar de aqueles autores não referirem
valores para o pH vaginal no diestro e anestro, mencionam um trabalho de Oliveira et al (1998) em
que estes se encontrariam entre 7 ou 7,8 e 8,5 (respetivamente para o diestro e o anestro) (Oliveira et
al., 1998). No entanto, os valores encontrados nos diferentes estudos não são consensuais. (Ross,
2005) registou flutuações menores nos valores de pH entre as diferentes fases do ciclo da cadela:
anestro – 7,1; proestro – 7,0; estro – 7,1; e diestro – 6,9. Os resultados encontrados por este último
autor encontram-se mais próximos dos registados no trabalho aqui apresentado, em que a média dos
valores encontrados no proestro e estro não diferiu da encontrada no diestro. É possível que o pH
vaginal apresente variações individuais mais pronunciadas do que o desejável para que possa vir a ser
utilizada como ferramenta adicional para identificação do período fértil da cadela, como avançado por
Oliveira et al. (1998; citado por Antonov et al., 2014).
Por outro lado, uma explicação possível para as diferenças encontradas por Antonov et al (2014) e por
Oliveira et al. (1998, citados por Antonov et al., 2014) tenham a ver com uma observação seriada dos
valores de pH vaginal em cadelas que foram seguidas ao longo de duas fases do ciclo, contrariamente
ao registo único e esporádico que ocorreu tanto nos trabalhos de Ross, como no trabalho que agora se
apresenta. Este motivo, associado ao número limitado de animais em proestro e em estro, poderão ter
contribuído para os resultados obtidos.
Por outro lado, os valores de pH registados para a cadela, independentemente da fase do ciclo ou do
seu estatuto reprodutivo foram claramente superiores aos referidos para as vacas (valor mínimo de pH
= 5,58 e máximo de 8.60) (Beckwith-Cohen et al., 2012) e na mulher (valor mínimo de pH = 3,8 e
máximo de 4,5) (Nakano et al., 2015).As grandes diferenças existentes podem estar relacionadas com
o tipo de microbiota existente em cada espécie, o pH do sémen dos machos, de forma a que este
apresente viabilidade no trato feminino e o tipo de ambiente uterino gerado em cada espécie.
3.4. pH vaginal em situação de piómetra
Uma das questões de investigação proposta para este trabalho era a avaliação do efeito exercido pela
existência de uma piómetra sobre os valores de pH vaginal, decorrente em particular da eliminação do
conteúdo uterino através da cérvix. Neste trabalho não se encontraram diferenças significativas entre o
pH vaginal de cadelas com piómetra e cadelas saudáveis (p=0,319) (tabela 9). Este resultado poderá
ser explicado, para além do reduzido número de fêmeas com piómetra encontrados durante o período
de estágio, pelo facto de o PH ser influenciado pela população microbiana encontrada na cavidade
Piómetra em cadela – variação do pH vaginal
26
vaginal e/ou nos exsudados que por ela passam (Maul et al., 2006), e estes poderem ser distintos
dependendo das populações bacterianas que originaram a situação de piómetra. Nos animais seguidos
no presente estudo, não foi possível determinar-se a constituição do microbiota uterino e/ou vaginal
existente, o que limita uma discussão sobre a sua influência no pH vaginal.
Tabela 9 – valores de pH vaginal em cadelas saudáveis e cadelas com piómetra
n Média Mediana Desvio padrão Mínimo Máximo
Animais saudáveis 24 6,9 7,0 0,61 6,0 8,0
Animais doentes 8 6,6 7,0 0,80 6,0 8,0
Total 32 6,8 7,0 0,66 6,0 8,0
Sendo a piómetra uma doença tipicamente detetada no diestro (Contri et al., 2015) procurou avaliar-se
uma potencial diferença entre o pH vaginal das cadelas com piómetra e de cadelas em diestro ou em
anestro (Laurusevičius et al., 2008) (tabela 11). O pH vaginal diferiu significativamente entre cadelas
com piómetra e as cadelas em diestro (p= 0.0091) ou em anestro (p=0.0241). Contudo, este resultado
deverá ser confirmado num estudo envolvendo uma população maior de animais doentes, dado o
número limitado de casos de piómetra abrangidos pelo estudo.
Tabela 10 – Comparação dos valores de pH vaginal em cadelas em diestro e anestro e cadelas com piómetra
Fêmeas n Média Mediana Desvio padrão Mínimo Máximo
Em diestro 6 7,3 7,5 0,61 6,0 7,5
Em anestro 13 6,6 6,5 0,40 6,0 7,5
Com piómetra 3 6,0 6,0 0,00 6,0 6,0
Total 22 6,8 7,0 0,66 6,0 8,0
Piómetra em cadela – variação do pH vaginal
27
4. Ilações finais
Durante este estudo, não foi fácil conseguir um número de animais suficientes em cada um das
parâmetros que pretendíamos inicialmente avaliar, pelo que alguns dos grupos estudados acabaram por
ficar com um número reduzido de animais, como foi o caso do grupo de animais com piómetra. Este
facto poderá ter condicionado os resultados obtidos, além de que limita as conclusões a extrair. Por
outro lado, apenas se fez uma medição pontual e não o seguimento sequencial de um grupo de
animais. Também isto poderá ter determinado alguns dos dados obtido, já que é reconhecido haver
variações individuais do pH vaginal associadas à constituição da microbiota vaginal.
Assim, e contrariamente à informação disponível na literatura, não se encontraram as diferenças
esperadas nos valores de pH vaginal para as fases de proestro e estro; de modo semelhante, não foram
também tão nítidas as diferenças entre animais pré- e pós-púberes.
O pH vaginal foi diferente entre animais saudáveis e com piómetra, mas apenas quando se
consideravam apenas os valores relativos às fases de diestro e anestro, enquanto que não houve
diferenças enquanto se comparou com os valores globais do ciclo. No entanto, é possível que face aos
critérios de identificação do cio, na cadela, este não seja um inconveniente de monta, e permita o
recurso à mensuração do pH em associação à citologia vaginal, como um método complementar de
diagnóstico de fácil execução. No entanto, serão necessários estudos adicionais, abrangendo uma
população maior, para comprovar os dados iniciais obtidos neste estudo.
Piómetra em cadela – variação do pH vaginal
28
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